dissertação fabiane pereira 2013

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dissertação de mestrado

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  • Universidade Federal do Par

    Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento

    Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento

    DISCRIMINAO AUDITIVO-VISUAL EM ADULTOS COM DEFICINCIA

    AUDITIVA PS-LINGUAL E IMPLANTE COCLEAR

    Fabiane da Silva Pereira

    Belm/PA

    2013

  • Universidade Federal do Par

    Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento

    Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento

    DISCRIMINAO AUDITIVO-VISUAL EM ADULTOS COM DEFICINCIA

    AUDITIVA PS-LINGUAL E IMPLANTE COCLEAR

    Fabiane da Silva Pereira

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Teoria e Pesquisa do

    Comportamento como requisito para obteno de

    ttulo de Mestre.

    rea de Concentrao: Psicologia Experimental.

    Orientador: Dr. Olavo de Faria Galvo

    Belm/PA

    Maro de 2013

  • iii

    Universidade Federal do Par

    Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento

    Programa de Ps Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento

    Discriminao auditivo-visual em adultos com deficincia auditiva ps-lingual e implante

    coclear

    Fabiane da Silva Pereira

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Teoria e

    Pesquisa do Comportamento como requisito para

    obteno do Ttulo de Mestre, sob orientao do

    Prof. Dr. Olavo de Faria Galvo.

    Banca Examinadora:

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Olavo de Faria Galvo (Orientador)

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Jos Claudio de Barros Cordeiro - HUBFS (Membro)

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Thais Porlan de Oliveira UFMG (Membro)

    Julgado em: 21.03.2013

    Resultado: APROVADA

  • iv

    Pereira, Fabiane da Silva, 1986-

    Discriminao auditivo-visual em adultos com

    deficincia auditiva e implante coclear /

    Fabiane da Silva Pereira. - 2013.

    Orientador: Olavo de Faria Galvo.

    Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal

    do Par, Ncleo de Teoria e Pesquisa do

    Comportamento, Programa de Ps-Graduao em

    Teoria e Pesquisa do Comportamento, Belm, 2013.

    1. Psicologia experimental. 2. Distrbios da

    audio. 3. Implantes cocleares. 4. Testes de

    equivalncia. I. Ttulo.

    CDD 23. ed. 152.15

    Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Sistema de Bibliotecas da UFPA

  • v

    "Os mtodos da cincia tm tido um

    sucesso enorme onde quer que tenham sido

    experimentados. Apliquemo-los, ento, aos

    assuntos humanos." (Skinner, 1994, p.19).

  • vi

    educao especial.

  • vii

    Agradecimentos

    Este trabalho leva o meu nome como autora, mas no h como negar que foi um

    trabalho de muitas mos e a isso quero agradecer com muita emoo a todos que, direta ou

    indiretamente, contriburam para a sua realizao.

    Agradeo minha famlia, meus lindos pais, Jane e Carlos, que sempre lutaram,

    lutaram e lutaram para que nossos estudos sempre fossem nossa prioridade, e vocs

    conseguiram! Amo vocs! Vocs so o que tenho de mais precioso. Obrigada por todo amor

    e mimo dispensado, por respeitarem e compartilharem dos mesmos sonhos que eu. Aos meus

    manos queridos, Fbio e Fagner, vocs so os companheiros que a vida me deu, e por mais

    que a gente reclame, nosso amor eterno! Amo vocs! Aos meus sobrinhos, Gaby, Enzo e

    Marcos, que foram minhas cobaias em todas as manipulaes desta pesquisa, vocs muito

    me ensinam com tanto amor, tanto carinho, tanta pureza no olhar e no abraar. s minhas

    cunhadas, Luciana e Eliene, vocs deixam nossa famlia mais colorida! Amo vocs! Minha

    famlia o meu bem mais precioso, meu ninho, minha fonte de amor incondicional!

    Agradeo minha av materna, Guiomar Dantas, por todo carinho e orgulho que

    sinto no seu olhar ao ver nosso crescimento. minha av paterna, Dolores Barbosa (em

    memria) e seu companheiro de vida, Raimundo (em memria), por todo o carinho, que

    tanto marcaram minha infncia. Amo voc, vovs!

    Agradeo ao meu orientador, Olavo Galvo, que no foi s um orientador acadmico,

    mas foi um exemplo de cuidado, de renovao, de luta pelos seus ideais, de que a vida pode

    mudar a qualquer momento, e temos que estar prontos pra levantarmos e fazer ainda mais

    bonito. Vou sentir saudades de todos esses sete anos de convivncia diria, por todos os

    abraos e carinhos que foram dispensados, de ver voc tocando sua gaita, contando suas

    piadas...Voc um grande representante da cincia do comportamento no Estado do Par e

    no Brasil, tenho muito orgulho de ter sido sua aluna e poder levar seu nome aonde quer que

    eu v. Voc um grande homem e profissional. Obrigada!

    Agradeo a Escola Experimental de Primatas que me acolheu como pesquisadora

    voluntria, depois como pesquisadora de iniciao cientifica e continuou me acolhendo no

    mestrado. Tantos amigos e colegas passaram pela EEP desde 2006, e agora, cheia de carinhas

    novas, ainda me sinto privilegiada de fazer parte dessa equipe to coesa e to forte. Obrigada

    por todos os ensinamentos, todos os churrascos, passeios, aniversrios, barzinhos,

    casamentos, batizados, etc. Aos colegas que se tornaram amigos, muito obrigada!

    Aos queridos, Ana Leda Brino (Ledoca) e Paulo Goulart! Obrigada por toda a

    amizade desses anos e por terem contribudo para minha formao!

    Agradeo aos atuais colegas de laboratrio: Ryan, Paulo Monteiro, Rodolfo,

    Tamyres, Kenji e Juliana, vocs so lindos! Obrigada por fazerem dos momentos no

    laboratrio mais divertidos, engraados e inesquecveis. Foram tantos bons momentos

    vividos na EEP que me faltam as palavras para expressar o tamanho da minha alegria em

    terminar esse trabalho e ter a certeza que ele de todos, fruto de tantas discusses e desejo

    de ultrapassar as portas do laboratrio sem nunca sair de l! Acho que demos um primeiro

    passo!

    Agradeo Nicole (Nico, Nick, Monalisa, bonequinha) que foi mais do que uma

    companheira de pesquisa, mais que uma amiga, foi a IRM que a vida no me deu pelos

  • viii

    meios tradicionais, mas as contingncias que nos uniu foram to marcantes, que os meios

    tradicionais ficam no chinelo. Obrigada por tudo, tudo e tudo! muito saber que temos uma

    a outra, independente dos problemas, que possvel amar tanto algum como eu amo voc

    e torcer pelo seu sucesso! Agradeo famlia Lobato por me adotarem como filha, de fato,

    minha segunda famlia!

    Agradeo aos alunos da graduao, pesquisadores voluntrios desta pesquisa,

    Jssica, Iris, Jonas e Juliana. Em especial, querida Juliana (Xu), por ter ficado at o fim da

    pesquisa e, que alm de companheira de pesquisa, se tornou uma amiga! Obrigada pelos

    momentos de descontrao nos momentos mais tensos!

    Agradeo ao Rafael Picano por ter atualizado o software especialmente para esse

    trabalho, muito obrigada!

    Ao Eduardo, pelo emprstimo dos equipamentos de som, que foram extremamente

    importantes para a conduo da pesquisa e pelas discusses relevantes sobre o trabalho.

    Aos participantes desta pesquisa, todos queridos, por toda contribuio e

    disponibilidade em participar. Desejo que tenham um futuro cheio de sons.

    Ao Louis, o macaco-prego que foi meu sujeito durante toda a minha graduao,

    enquanto pesquisadora de iniciao cientifica. Meu filho me ensinou mais do que imagina

    (se que imagina rs), foi um prazer trabalhar com voc!

    Ao querido Dida, que sempre me recebeu com o fale Fabi to carinhoso em todos

    os dias ao entrar no laboratrio, por cuidar de todos os animais e pelos papos furados que

    tivemos durante todos esses anos.

    Ao grupo ouvido binico do Bettina, os mdicos Ana Paula e Jos Claudio, por

    abrirem as portas do hospital para a realizao deste trabalho, fonoaudiloga Cintia

    Yamagushi, pelas discusses e apoio na pesquisa. Marcia, secretria do setor, que foi

    muito solicita em todos os momentos que necessitei de informaes, pela simpatia e pela

    competncia no trabalho.

    s minhas amigas de infncia, Eliane (Lili) e Judilene (Ju), pelas alegrias ao longo

    da vida!

    s minhas queridas psi-amigas, Juliane (Juju), Luciana (Lu), Cindy (amgah), Cila

    (Cileita) e Fabiane (xar), obrigada pelos psi-momentos de psi-descontrao, cada psi-

    momento nosso uma renovao de psi-foras. Amo vocs!

    Agradeo professora Alda, por sua valiosa orientao na prtica de ensino e turma

    sou foda pelos momentos de diverso e aprendizado mutuo. Sucesso a todos!

    Aos professores do mestrado, com os quais tive a honra de estudar, Olivia Kato,

    Grauben Assis, Regina Brito, Carlos Barbosa, Romariz Barros e Emmanuel Tourinho. Que

    orgulho pertencer a um programa de ps-graduao com esse nvel de ensino. Muito

    obrigada! A todos que compem a equipe administrativa do PPGPTC, que sempre nos

    atenderam da melhor maneira possvel.

    E por fim, agradeo quele que me faz um bem inexplicvel, Deus! Voc est em

    mim e nunca sair! Obrigada!

  • ix

    PEREIRA, Fabiane da Silva (2013). Discriminao auditivo-visual em adultos com

    deficincia auditiva ps-lingual e implante coclear. Dissertao de Mestrado. Belm:

    Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade

    Federal do Par (106 p.).

    RESUMO

    A expectativa do usurio de implante coclear (IC) recuperar a sensibilidade auditiva e,

    entender a linguagem oral. Considerando-se a reabilitao auditiva como pr-requisito para

    o desenvolvimento das habilidades lingusticas, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito

    do treino do comportamento de ouvinte sobre o de falante nesse grupo. Participaram trs

    adultos, com deficincia auditiva neurossensorial profunda, bilateral, ps-lingual, usurios

    de IC, com tempo de privao auditiva (TPA) que variou de 5 meses a 23 anos. Os dados

    foram coletados com um computador com tela sensvel e aplicativo para a programao das

    rotinas de ensino e testes. O programa de ensino, com sete fases, apresentava questes de

    escolha de acordo com o modelo. Fase 1) Pr-treino: para habituao, com tarefas auditivas-

    visual atravs do fading out; 2) Pr-teste de nomeao de figuras e leitura que avaliou o

    comportamento de falante e selecionou as palavras para ensino; 3) Ensino das relaes entre

    palavras ditadas e figuras e 4) entre palavras ditadas e palavras escritas; 5) Teste de formao

    de classes, relaes que no foram diretamente ensinadas; 6) Teste de generalizao auditiva;

    7) Ps-teste de nomeao e leitura. Dois dos participantes aprenderam as relaes ensinadas

    (Fases 3 e 4), com pseudopalavras e figuras abstratas relacionadas a elas, e demonstraram

    formao de classes (Fase 5) e generalizao (Fase 6). Todos os participantes apresentaram

    melhoras no comportamento de falante se comparado seus desempenhos nos pr e ps-testes

    (Fase 7). A participante com maior TPA apresentou baixo desempenho no ensino (Fase 3).

    Discute-se a necessidade de investigaes das variveis relacionadas com a falha no treino

    como o estado de funcionamento do IC, s condies de uso, durao do treino, escolha dos

    estmulos, etc. para estabelecer aprendizagem auditivo-visual em usurios de IC com longo

    tempo de privao auditiva.

    Palavras-chave: deficincia auditiva ps-lingual, equivalncia de estmulos; discriminao

    auditivo-visual; implante coclear.

  • x

    PEREIRA, Fabiane da Silva (2013). Audio-visual discrimination in post-lingual deaf adults

    users of cochlear-implant. Belm: Graduate Program of Theory and Research of Behavior.

    Belm, Federal University of Par (106 p.).

    ABSTRACT

    The expectation of the cochlear implant (CI) user is recovering auditory sensitivity and

    understands spoken language. Considering the auditory rehabilitation as a prerequisite for

    the development of language skills, the aim of this study was to investigate the effect of

    training on the behavior of the listener to speaker in this group, check the emergence of

    relationships and the generalization to indirectly taught voice different frequency.

    Participated of the study three adults with profound, bilateral, neurosensory hearing, loss

    post-lingual, CI users, with time deprivation (TD) ranging from 5 months to 23 years. Data

    were collected with a computer with touch screen and application programming routines for

    the teaching and testing. The teaching program, with seven stages, had choice according to

    the model. Phase 1) Pre-train for habituation, the participant with auditory-visual tasks by

    fading out, 2) Pre-test naming and reading, to select 8 words for training, 3) Training of

    relations between dictated words and figures; 4) Training of relations between dictated

    words and written words; 5) Testing equivalence class, which were not directly taught; 6)

    generalization testing, with the dictated words, with an adult male voice; 7) Post-test of

    picture naming and word reading. Two of the three participants learned the tasks (Phases 3

    and 4), and showed equivalence class (Phase 5) e generalization (Phase 6). All of the

    participants improved their ability of speaking after the study (Phase 7). The performance of

    the participant with 23 years of TD, which presented difficulties in oral language, was low,

    indicating further investigation of the variables due to flaw on the training, or to the IC

    operation, or inappropriate use of the device, etc. More studies are required to evaluate the

    potential of the procedure adopted for the auditory rehabilitation of CI users.

    Keywords: post-lingual deaf, stimulus equivalence, audio-visual discrimination; cochlear

    implant.

  • 10

    Sumrio

    INTRODUO ..................................................................................................................... 9

    Audio e deficincia auditiva ....................................................................................... 9

    Implante Coclear .......................................................................................................... 12

    Audio funcional e linguagem .................................................................................... 15

    O comportamento simblico e o paradigma da equivalncia de estmulos.................. 16

    Estudos com usurios de implante coclear usando o paradigma da equivalncia de

    estmulos ....................................................................................................................... 17

    MTODO ............................................................................................................................ 27

    Participantes ................................................................................................................. 27

    Equipamentos, Materiais e Condies de coleta de dados. .......................................... 30

    Estmulos ...................................................................................................................... 31

    Procedimento ................................................................................................................ 36

    Delineamento geral .............................................................................................................. 36

    Fase 1 Pr-treino ........................................................................................................ 38

    Fase 2 Pr-teste de vocalizaes................................................................................ 41

    Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB) ............................ 44

    Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC) ............. 46

    Fase 5 Teste de formao de classes (BC/CB) .......................................................... 46

    Fase 6 Teste de generalizao de frequncias de estmulos auditivos ...................... 47

    Fase 7 Ps-teste de Vocalizaes .............................................................................. 48

    RESULTADOS ................................................................................................................... 49

    Fase 1 Pr-treino ........................................................................................................ 49

    Fase 2 Pr-teste de vocalizaes................................................................................ 57

    Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB) ............................ 60

    Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC) ............. 74

    Fase 5 Teste de Formao de Classes........................................................................ 74

    Fase 6 Teste de Generalizao de frequncias de estmulos auditivos ..................... 77

    Fase 7 Ps-teste de vocalizaes ............................................................................... 79

    DISCUSSO ....................................................................................................................... 83

    REFERNCIAS .................................................................................................................. 89

    ANEXOS ............................................................................................................................. 95

  • 9

    Audio e deficincia auditiva

    Os seres humanos ouvem quando o som transportado parcial ou totalmente pelo canal

    auditivo externo at a membrana timpnica, atingindo-a e gerando vibraes mecnicas que

    so conduzidas pelos ossculos do ouvido mdio at a cclea. Nela, clulas sensoriais captam

    a vibrao, transformando-a em impulsos aferentes no sistema nervoso que se projetam para

    os ncleos cocleares hemilaterais e da continuam em um complexo caminho com

    ramificaes e realimentaes at o crtex temporal. A Figura 1 mostra um corte

    longitudinal do sistema auditivo perifrico.

    Fonte da imagem: www.shure.com.br/padrao/padrao.php?link=aplicsuport05

    Figura . Sistema auditivo perifrico.

    O sistema auditivo neurolgico um aparato para a conduo e processamento das

    estimulaes advindas do sistema auditivo perifrico, e precisa ser convenientemente

    estimulado para que as habilidades auditivas, como localizao sonora, reconhecimento,

    compreenso, ateno seletiva, ateno dividida e memria auditiva sejam desenvolvidas.

    Limitaes auditivas temporrias ou permanentes, bem como estimulao insuficiente,

    podem prejudicar o desenvolvimento dessas habilidades (Arajo & Arajo, 2006). Testes

    audiomtricos permitem medir os parmetros limiares auditivos e, eventualmente, o grau da

    deficincia (Vieira, Macedo & Goncalves, 2007).

    Uma em cada mil crianas nasce ou se tornar portadora de deficincia auditiva

    profunda ou severa antes que o repertrio verbal seja desenvolvido. Outras 2 a 4 crianas em

  • 10

    cada mil se tornaro portadoras de deficincia auditiva antes da idade adulta (Godinho,

    Keogh & Eavey, 2003).

    Dados brasileiros de 2010 revelam que 347.481 pessoas declararam no conseguir

    ouvir, 1.799.885 declararam ter grande dificuldade em ouvir e 7.574.797 declararam que

    apresentam alguma dificuldade na audio. Na regio norte, o Estado do Par o que

    apresenta a maior incidncia de pessoas que declararam no conseguir ouvir de modo algum,

    totalizando 11.501 dos entrevistados (IBGE, 2010).

    A deficincia auditiva (DA) caracteriza-se como qualquer desordem na percepo de

    estimulao sonora. categorizada pela Classificao Internacional de Doenas (CID 10)

    nas categorias H90 a H90.8, classificada de acordo com a localizao do problema, como

    condutiva, neurossensorial, mista, ou central. O comprometimento auditivo pode apresentar

    vrios graus e atingir um ou ambos os ouvidos. Quanto ao perodo de estabelecimento, a DA

    pode ser classificada como pr-lingual, quando a privao de sons est presente antes da

    aquisio de repertrios verbais, ou como ps-lingual, quando a perda auditiva ocorreu aps

    a aquisio de repertrios verbais (Bevilacqua, 1998; Mondelli & Bevilacqua, 2002;

    Almeida-Verdu et al., 2008).

    As perdas auditivas so categorizadas como discreta, quando os limiares auditivos

    esto na faixa de 15 a 25 dB, leve, quando variam de 26 a 30 dB, moderada quando

    encontram-se entre 31 a 50 dB, severa, quando variam de 51 a 70 dB e, por ltimo, profunda,

    quando estes limiares esto acima de 70db.

    A deficincia auditiva neurossensorial, que atinge quase 90% dos casos congnitos,

    severa ou profunda aquela que decorre de leses nas clulas do rgo de Corti, no ouvido

    interno, e/ou do nervo coclear e pode estar relacionada a causas pr-, peri- e ps-natais.

    Vieira et al. (2007, pg. 45) cita como causas pr-natais: 1) herana gentica, 2) sndromes

    genticas, 3) malformaes do ouvido interno, 4) infeces congnitas pelo vrus da rubola,

  • 11

    citomegalovrus, herpes simples, toxoplasmose, e sfilis, 5) uso gestacional de substncias

    teratognicas - talidomida, lcool, cocana e medicamentos ototxicos, 6) radioterapia no

    primeiro semestre da gestao. Como fatores perinatais: 1) anxia, 2) prematuridade com

    peso abaixo de 1500 gramas, 3) hiperbilirrubinemia, 4) traumatismos cranianos, 5) trauma

    sonoro. E dos fatores ps-natais, os mais frequentes relacionam-se com hipotireoidismo e

    diabetes, infeces virais (rubola, varicela-zoster, influenza, vrus da caxumba,

    citomegalovirus, entre outros), labirintite e meningite bacteriana, encefalite e otite mdia

    crnica.

    Independentemente do grau, a DA causa dificuldades na comunicao de seus

    portadores com a sua comunidade. Na infncia, por exemplo, pode gerar dificuldades

    acadmicas, dficits na linguagem, leitura e outros transtornos comportamentais. Nos casos

    em que a perda auditiva severa ou profunda o indivduo no percebe qualquer som da fala

    em uma conversao padro (Brazorotto, 2008).

    O desenvolvimento da linguagem e fala possui relao estreita com a audio, logo

    a DA pode interferir em todo processo de aprendizagem que se relaciona aos aspectos

    sonoros com os quais o indivduo no pode interagir. Qualquer perda auditiva pode gerar

    prejuzos na percepo dos sons da fala, como pode ser visto na Figura 2. Muitos pacientes

    tm indicao de aparelhos auditivos (AASI Aparelho de Amplificao Sonora

    Individual), cuja funo amplificar os sons. Para pacientes com perdas neurossensoriais

    severas e profundas, que no se beneficiam com esses aparelhos, indicado o uso do

    implante coclear (IC), que permite ao seu usurio a sensao e percepo auditiva da fala

    em todo o espectro de frequncia (propriedade acstica do som medida em Hertz, Hz), faixa

    de frequncia dos sons graves aos agudos (Bevilacqua, 1998; Brazorotto, 2008).

  • 12

    Fonte da imagem: http://palavradefonoaudiologa.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html

    Figura 2. Exemplos do espectro de sons em um audiograma padro. A curva sombreada representa a rea a

    qual pertence a maioria dos elementos da linguagem oral e os traos em cores referem-se aos graus de perda

    auditiva. Em verde, perda auditiva leve, em azul, perda moderada, trao laranja representa a perda severa e em

    vermelho, a perda profunda.

    Implante Coclear

    O implante coclear (IC) um dispositivo eletrnico inserido cirurgicamente no

    ouvido interno, que substitui o rgo sensorial da audio localizado dentro da cclea (ver

    Figura 3). Este rgo, conhecido como rgo de Corti, transforma a energia sonora em pulsos

    eltricos conduzidos pelo nervo auditivo no qual o processamento neural da audio se inicia

    (Clark, 1996; Bevilacqua, 1998).

  • 13

    Fonte da imagem: http://www.hospitalflaviosantos.com.br/implante.php?id=319

    Figura 3. Sistema auditivo e Implante coclear. Parte interna e externa do dispositivo.

    O dispositivo tem um microfone que capta os sons do ambiente e um processador

    que os transforma em sinais eltricos anlogos, codificados em ondas sonoras de rdio

    frequncia. Uma antena os transmite para um receptor-estimulador, que fica sob a pele, que

    os recebe, converte em sinais eltricos, e os transmite a filamentos de eletrodos que

    estimulam as fibras nervosas, gerando sensao auditiva (Bevilacqua, 1998).

    O IC tem sido apontado como um importante avano tecnolgico na rea da

    audiologia e da computao, alm de ser considerado a primeira interface entre o crebro

    humano e mquinas para recuperao de uma funo neuropsicolgica (Nicolelis, 2001).

    Tambm tido como possibilitador de aquisio da linguagem oral receptiva e tambm da

    produtiva para os indivduos, medida que eles passam a receber feedback dos sons que

    produzem, facilitando, consequentemente, o estabelecimento de interaes e habilidades

    acadmicas (Almeida-Verdu, 2004; Moret, Costa, & Bevilacqua, 2007).

    O sucesso do IC possibilita ao usurio o acesso aos sons, no entanto, h um nmero

    de condicionantes para o favorecimento da ocorrncia de audio apropriada. Variveis do

    organismo, como a precocidade do implante; a tecnologia de codificao da fala, a

    tecnologia de captao dos sons (Nascimento & Bevilacqua, 2005), o tempo de privao

    auditiva, os procedimentos de reabilitao e ensino das habilidades receptivas e produtivas,

    a interao e manuteno das habilidades de ouvir e falar de forma efetiva podem

    potencializar a sua eficcia (Geers, 2006).

  • 14

    Nascimento e Bevilacqua (2005) realizaram um estudo tipo coorte transversal com

    quarenta adultos deficientes auditivos ps-linguais usurios de IC para avaliar o

    reconhecimento da fala sob diferentes relaes entre sinal e rudo, o grau de dificuldade dos

    usurios de IC em situaes com rudo e comparar os resultados com diferentes tipos de

    implantes cocleares multicanais. Basicamente, os resultados mostraram que os usurios de

    IC apresentaram rara dificuldade nas situaes de silncio e dificuldades ocasionais nas

    situaes com rudo competitivo.

    Bevilacqua, Moret, Costa Filho, Nascimento & Banhara (2003) realizaram outro

    estudo comparando um grupo de 12 crianas com deficincia auditiva neurossensorial

    devido a meningite e um grupo de 51 crianas com deficincia auditiva neurossensorial de

    etiologias diversas, implantadas no perodo pr-lingual, com idade entre 1 a 10 anos. Os

    resultados mostraram que no houve diferena estatisticamente significativa quanto ao

    reconhecimento de palavras e fonemas e nos questionrios de avaliao das habilidades

    auditivas e de linguagem entre os grupos estudados.

    Frederigue e Bevilacqua (2003) realizaram um estudo clnico prospectivo com 7

    adultos com DA ps-lingual usurios de IC Nucleus 24, objetivando promover a otimizao

    da percepo da fala nos participantes atravs de uma avaliao do reconhecimento da fala

    e da preferncia subjetiva em trs diferentes estratgias de codificao, SPEAK, CIS e ACE,

    disponveis no sistema de IC. No foi verificada diferena estatisticamente significante entre

    os diferentes tipos de estratgias de codificao, e, os autores concluram que a utilizao de

    estratgias mltiplas de codificao da fala permite ao profissional clinico individualizar o

    atendimento ao usurio de IC.

    O IC possibilita ao seu usurio a habilidade da deteco, mas faz-se necessrio

    primeiramente treino educacional para o desenvolvimento das habilidades auditivas

    posteriores. O prognstico para os pacientes usurios de IC de que consigam, alm de

  • 15

    escutar, compreender a linguagem oral. Para o desenvolvimento das habilidades lingusticas

    necessrio o desenvolvimento das habilidades auditivas como pr-requisitos para a

    comunicao, isto , antes da compreenso das palavras necessrio que o indivduo possa

    detect-la (Hoshino et al., 2012).

    Audio funcional e linguagem

    A audio a via sensorial imprescindvel para a aquisio normal da linguagem

    oral, para o desenvolvimento da comunicao oral e para o indivduo de forma global. A

    etiologia dos distrbios de linguagem envolve, na maioria das vezes, a interrelao entre

    vrios fatores (Schirmer, Fontoura & Nunes, 2004; Arajo & Matos, 2006).

    A audio funcional ou processamento auditivo um termo utilizado para descrever

    a forma como o Sistema Nervoso Central (SNC) organiza e interpreta as informaes

    acsticas detectadas no ambiente. Ao nascer, o indivduo est apto a escutar, no entanto, a

    audio funcional estabelece-se ao longo de experincias acsticas com significados. Uma

    palavra pode ser detectada pelo ouvinte, mas no interpretada. S possvel estabelecer um

    significado de uma palavra, bola, por exemplo, quando h relao entre a estimulao

    sonora e o objeto concreto bola. A audio funcional deriva de uma complexa sincronia dos

    vrios sistemas biolgicos - cerebral, auditivo, visual, motor, respiratrio, digestivo e outros

    interagindo (Andrade, 1997).

    A linguagem, que proporciona a interao entre os indivduos em um contexto

    social, depende da audio funcional, necessria para permitir a associao entre os sons e

    seus referentes, a consistncia na interao entre os estmulos auditivos e visuais e,

    ultimamente, proporciona acesso simblico a objetos ausentes. Com base na comunicao

    sonora, a linguagem permite que os indivduos se relacionem na maioria dos ambientes sem

    perdas na transmisso da mensagem.

  • 16

    O comportamento simblico e o paradigma da equivalncia de estmulos

    A linguagem como um sistema simblico, composta por redes de relaes entre

    estmulos, em especial, na linguagem falada, de estmulos sonoros.

    Embora o comportamento simblico seja estudado em diversas especialidades, como

    a lingustica, as cincias sociais, a neuropsicologia, cincias do comportamento, da sade,

    etc., ainda no possui uma definio consensual. Alguns autores sugerem que se caracterize

    por relaes entre estmulos arbitrariamente relacionados - smbolos e seus referentes- e

    substituveis entre si - equivalentes. Assim, o smbolo e seu referente podem desempenhar

    igual funo para controlar repertrios comportamentais do indivduo. O comportamento

    simblico se baseia na caracterstica de substituilidade que smbolos e seus referentes

    mantm, apesar de distintos entre si. Palavras, sons e outros smbolos, mantm uma relao

    de substituilidade com os eventos concretos, objetos, etc., aos quais foram arbitrariamente

    relacionados (Bates, 1979; Sidman, 1994; Barros, Galvo, Brino & Goulart, 2005).

    As relaes entre smbolos e referentes so arbitrrias, definidas na histria das

    prticas culturais. Embora smbolo e referente no guardem relaes de semelhana, tornam-

    se equivalentes a partir das relaes sistemticas mantidas entre si e com o comportamento.

    Considere-se um indivduo que atende abrindo a porta e recebe uma visita, por exemplo. O

    som da campainha, um chamado de voz, o som de palmas ou, batidas na porta, embora

    fisicamente diferentes, passam a ter o mesmo significado para o indivduo, tornando-se

    equivalentes (Sidman, 1994).

    O paradigma de equivalncia de estmulos, proposto a partir de Sidman e Tailby

    (1982) demonstra empiricamente a formao das relaes comportamentais simblicas que

    do suporte linguagem. O modelo experimental demonstra que o ensino direto de relaes

    transitivas pode resultar na emergncia de relaes no treinadas diretamente. A

    aprendizagem indireta proporciona a ampliao das relaes entre estmulos, isto , a

  • 17

    formao de classes de estmulos, compostas por smbolos e eventos concretos,

    consistentemente associados entre si.

    Da perspectiva do paradigma da equivalncia no necessrio ensinar todas as

    relaes relevantes. Assim, atravs do procedimento de pareamento ao modelo, o indivduo

    passa a relacionar entre si estmulos sem que sua relao precise ser diretamente ensinada

    (de Rose, 1998; Gomes, Varella & de Souza, 2010).

    A aprendizagem de relaes entre estmulos como base para o surgimento de novas

    relaes simblicas vem sendo objeto de pesquisa emprica por Cumming e Berryman

    (1965), Sidman e Tailby (1982), De Rose, McIlvane, Dube, Galpin, e Stoddard (1988),

    Schusterman e Kastak (1993), Sidman (1994), Catania (1999), Barros et al. (2005), Frank e

    Wasserman (2005) entre outros pesquisadores. O presente trabalho se insere nessa tradio

    de pesquisas da anlise do comportamento.

    Estudos com usurios de implante coclear usando o paradigma da equivalncia de

    estmulos

    Tecnologia comportamental aplicada tem sido usada na pesquisa sobre o

    desenvolvimento da audio funcional em implantados cocleares. O ensino programado de

    relaes entre estmulos, efetuado atravs de procedimentos automatizados de escolha

    condicional ao modelo, com feedback imediato para acertos, permite estabelecer repertrios

    de relaes entre estmulos. Por exemplo, ao ouvir o nome de uma figura o indivduo obtm

    pontos por escolher, dentre outras, a figura correspondente, ou, dentre outras, a palavra

    escrita correspondente.

    O procedimento de pareamento ao modelo ou escolha de acordo com o modelo

    (matching-to-sample - MTS) permite automatizar o ensino de relaes de igualdade,

    categoriais ou arbitrrias entre estmulos de vrias modalidades. Esse procedimento consiste

    na apresentao de um estmulo-modelo (por exemplo, um som, uma figura ou uma palavra

  • 18

    escrita), que fica disponvel at ocorrer uma resposta do observador (por exemplo, um toque

    sobre a tela do computador, pegar o estmulo ou repetir o som); aps a resposta de

    observao, so apresentados estmulos de comparao para escolha. A relao correta,

    definida pelo experimentador, pode ser 1) uma relao de igualdade (o modelo a figura de

    uma ma e a comparao correta tambm a figura de uma ma); 2) uma relao

    categorial (figura ma figura pra, categoria frutas) ou uma relao arbitrria artificial

    ou convencionalmente estabelecida pela comunidade (som ma figura ma).

    Respostas corretas so seguidas de consequncia para acerto, (pontos, msicas, gifs

    animados, moedas, comida, etc.), e respostas incorretas so seguidas de consequncia para

    erro (repetio da tentativa, tela preta, tela contendo a frase resposta errada, etc.) e um

    intervalo entre tentativas, que pode variar em durao. A Figura 4 ilustra o procedimento de

    escolha de acordo com o modelo realizado atravs do computador.

    Figura 4. Exemplo de tentativa da tarefa de discriminao auditivo-visual. Na primeira tela apresentado um

    som (tartaruga) pelo alto-falante do computador e concomitantemente um quadrado sobre o qual, o participante

    deveria tocar caracterizando observao a estimulao sonora recebida. O toque sobre o quadrado libera a

    apresentao das escolhas. Se o participante emitir a resposta correta, recebe feedback sinalizando acerto.

    Aps a aprendizagem das relaes diretamente ensinadas, ou seja aps um critrio

    de acertos ser atingido, o participante pode ser exposto a teste de formao de classes, que

    consistem em verificar sem feedback a emergncia de relaes entre estmulos que no foram

    diretamente ensinadas. Por exemplo, durante o ensino, foi ensinada a relao entre o som

    tartaruga e a figura tartaruga, e tambm foi ensinada a relao entre o som tartaruga e

  • 19

    a palavra escrita tartaruga. Aprendidas estas relaes, testa-se a emergncia sem treino,

    que quer dizer, sem feedback e dicas, de novas relaes, de equivalncia, figura e palavra

    escrita e palavra escrita e figura.

    Com base em Sidman (1971), o fenmeno da equivalncia foi formalmente descrito

    na matemtica, da seguinte forma: se A = B e A = C, ento B = C. O que Sidman descreveu

    pioneiramente foi aps aprender a escolher B1 e C1 diante de A1, e B2 e C2 diante de A2, a

    relao entre os Bs e os Cs, consistente com as relaes ensinadas emerge sem necessidade

    de ensino direto. Esse fenmeno emprico embasa o paradigma da equivalncia de estmulos

    como um processo bsico de aprendizagem.

    Em um teste de equivalncia verifica-se, por exemplo, se aps o ensino das relaes

    entre a palavra falada tartaruga e a figura de uma tartaruga e a palavra escrita tartaruga,

    a relao entre a figura de uma tartaruga e palavra escrita tartaruga emergiria sem ensino

    direto (Sidman & Tailby, 1982). Esse tipo de procedimento tem sido largamente utilizado

    com sucesso e permite economia e eficincia no ensino e na aprendizagem de novos

    repertrios (Almeida-Verdu & Bevilacqua, no prelo).

    Aplicando-se o paradigma aos estudos com usurios de IC, e relacionando-se mais

    de um estmulo visual ao mesmo estmulo auditivo, pode-se testar a emergncia de relaes

    novas, no ensinadas diretamente, entre os estmulos visuais. O objetivo desses estudos

    garantir que se estabeleam relaes entre o ouvir e o falar, em um modelo simplificado dos

    comportamentos de ouvinte e de falante (Almeida-Verdu & Bevilacqua, no prelo).

    Da Silva (2000) realizou o primeiro estudo com esta tecnologia comportamental com

    implantados para investigar a aquisio de discriminaes condicionais entre estmulos

    auditivos e visuais, e, adicionalmente, verificar se os participantes formariam classes de

    equivalncia que inclussem estmulos auditivos e visuais.

  • 20

    O estudo foi realizado com quatro participantes, duas crianas pr-linguais e dois

    adolescentes ps-linguais, portadores de deficincia auditiva neurossensorial profunda.

    Inicialmente ensinou-se discriminaes condicionais visuais entre trs conjuntos de figuras

    geomtricas no representacionais. Diante de uma figura, o participante deveria selecionar,

    dentre outras, uma figura arbitrariamente relacionada primeira. Todos os participantes

    demonstraram a aquisio das relaes condicionais sem dificuldades, como linha de base

    para testes posteriores. Objetivando investigar se tons gerados diretamente na cclea do

    participante relacionavam-se aos estmulos visuais, um novo estmulo visual foi inserido

    linha de base e realizou-se um teste para verificar a emergncia de novas relaes. A relao

    entre estmulos auditivos (tons gerados por computador e apresentados diretamente na

    cclea) e visuais de um dos trs conjuntos foi estabelecida apenas pelos adolescentes e todos

    os participantes formaram classes de estmulos visuais, demonstrando aprendizagem

    simblica. As crianas mostraram dificuldade em detectar diferentes sons, assim como, em

    relacionar tons a estmulos visuais. Estes dados, entretanto, foram pioneiros ao mostrar a

    aprendizagem relacional entre estmulos visuais e auditivos em pessoas que fazem uso do

    IC.

    Almeida-Verdu (2004) realizou um estudo semelhante ao de da Silva (2000), no

    entanto, utilizou estmulos lingusticos pelo processador da fala e no por pulsos eltricos

    diretamente na cclea. O diferencial foi a adoo de um programa de ensino baseado em um

    currculo (Barros, Galvo & McIlvane, 2003), no qual, iniciou-se com o ensino de tarefas

    mais simples para ento a aquisio de tarefas mais complexas.

    O ensino iniciou com a tarefa de discriminao condicional visual, no qual, era

    apresentado um estmulo modelo composto, figura e som simultaneamente e, gradualmente,

    a figura desaparecia com o emprego do procedimento de esvanecimento gradual, fading out

    (Terrace, 1963) ficando apenas o estmulo auditivo disponvel, que se mostrou eficaz para

  • 21

    produzir um repertrio de discriminao auditivo-visual em quatro crianas com surdez pr-

    e ps-lingual. Uma das crianas com DA pr-lingual s apresentou bom desempenho no

    teste de formao de classes aps mudanas no procedimento e a utilizao de palavras

    conhecidas pela participante como modelo auditivo.

    Huziwara (2006) realizou um estudo adaptado de da Silva (2000) e Almeida-Verdu

    (2004) com seis crianas de 5 a 9 anos e com surdez pr-lingual. Como a da Silva (2000),

    estabeleceram-se primeiramente as discriminaes condicionais e formao de classes com

    estmulos visuais e, posteriormente a insero de estmulos auditivos. O procedimento de

    ensino de fading out para o estabelecimento de discriminaes condicionais auditivo-visuais

    foi realizado como em Almeida-Verdu (2004).

    Inicialmente, como a da Silva (2000), foram ensinadas e testadas relaes

    condicionais entre estmulos visuais. Todas as crianas aprenderam e formaram classes de

    equivalncia de estmulos. Em seguida, foram ensinadas discriminaes auditivo-visuais

    com os estmulos visuais de um dos conjuntos utilizados na primeira fase, ao qual era

    sobreposto um modelo auditivo por estimulao eltrica na cclea. O componente visual do

    modelo era gradualmente esvanecido ao longo de uma srie de tentativas, de modo a deixar

    o participante sob controle apenas do estmulo auditivo apresentado como modelo. As seis

    crianas aprenderam as discriminaes auditivo-visuais e cinco das seis incluram os

    estmulos auditivos nas classes, demonstrando a aquisio de funo simblica com

    estmulos auditivos em indivduos com surdez pr-linguais usurios de IC.

    Gaia (2005), Golfeto (2010), Battaglini (2010) e Anastcio-Pessan (2011) buscaram

    verificar se o ensino de relaes entre estmulos auditivos e visuais e a formao de classes

    entre esses estmulos facilitaria o surgimento da nomeao de figuras e leitura de palavras.

    Esses estudos adotaram um procedimento de ensino por excluso, que consiste no

    aproveitamento de uma caracterstica comportamental, presente tambm em crianas

  • 22

    pequenas, de, diante de um problema de escolha entre duas alternativas para comparao,

    escolher a alternativa nova para resolver o problema que se configura como novo, quando a

    outra alternativa j conhecida j havia sido correta para outro problema. O uso deste

    procedimento, segundo Almeida-Verdu e Bevilacqua (no prelo) tem sido promissor, visto

    que um nmero menor de tarefas tem sido requerido do participante para se obter a

    aprendizagem das relaes entre palavras ditadas, palavras escritas e figuras.

    O estudo de Gaia (2005) objetivou descrever a evoluo do comportamento de ouvir

    em crianas deficientes auditivas pr-linguais usurias de IC nos primeiros 26 meses aps o

    implante. Realizaram-se trs avaliaes com intervalo de cinco meses e a cada avaliao

    realizaram-se tarefas, atravs de um computador com apresentao de estmulos, com

    registros de respostas dos participantes e sem fornecer pistas orofaciais, de reconhecimento

    de palavras, nomeao de figuras e comportamento ecoico. Os resultados mostraram

    aumento gradativo no desempenho das crianas na tarefa de reconhecimento de palavras,

    mas de menor magnitude na nomeao e no comportamento ecoico. Embora os participantes

    no atingissem o critrio absoluto de acertos, houve melhora progressiva nestas ltimas

    tarefas. A autora sugere que os progressos apresentados pelas crianas indicam que iniciaram

    o processo de aprendizagem da linguagem oral aps o IC, contudo, mas tambm sugerem a

    necessidade de interveno educacional direcionada ao aceleramento e aperfeioamento dos

    repertrios lingusticos dos usurios de IC, potencializando os benefcios oferecidos pelo

    dispositivo.

    Em trs estudos, Golfeto (2010) buscou desenvolver e avaliar procedimentos de

    ensino para ampliar a compreenso e a inteligibilidade de comportamento de falante em

    usurios de IC. No primeiro, ensinaram-se relaes condicionais auditivo-visuais dos tipos

    palavras-figuras e palavras-palavras escritas com duas adolescentes com longo perodo de

    privao auditiva. As duas participantes aprenderam as relaes auditivo-visuais e formaram

  • 23

    classes com palavras convencionais e pseudopalavras. No segundo estudo, ensinaram-se as

    mesmas relaes em pr-escolares e crianas em alfabetizao. Cinco dos sete participantes

    aprenderam as relaes e demonstraram emergncia de formao de classes, comportamento

    ecoico e nomeao, com escores mais baixos. E, por fim, no terceiro estudo, foram ensinadas

    relaes entre sentenas ditadas e vdeos. As sentenas eram compostas por sujeito, verbo e

    objeto. Os participantes aprenderam as relaes condicionais e produziram fala

    compreensvel com sentenas. Os resultados indicam o potencial dos procedimentos de

    ensino para a (re) habilitao de usurios de IC.

    Buscando verificar se implantados cocleares pr-linguais aprenderiam relaes

    condicionais auditivo-visuais, entre palavras ditadas e figuras, e entre figuras e palavras

    escritas, Battaglini (2010) aplicou um teste de formao de classes, verificando se os

    participantes relacionariam palavras escritas com figuras, e figuras com palavras escritas.

    Em seguida, realizou um teste da nomeao de figuras e leitura de palavras. Por fim,

    verificou a generalizao da aprendizagem, testando o pareamento auditivo-visual treinado

    com voz feminina adulta, com voz masculina adulta e infantil. Duas das trs participantes

    aprenderam as relaes condicionais palavras ditadas-figuras e figuras-palavras escritas, e

    tambm apresentaram desempenho de formao de classes e generalizao da aprendizagem

    para outras vozes de intensidades e frequncias diferentes. Uma delas apresentou

    vocalizaes com correspondncia total palavra correta e a outra participante emitiu

    vocalizaes sem nenhuma correspondncia (Experimento 1).

    No Experimento 2, Battaglini (2010) programou consequncias diferenciais para as

    respostas nas tentativas de excluso, que compem o ensino por excluso anteriormente

    descrito. Participaram seis crianas com idades entre 5 e 9 anos, com surdez pr-lingual.

    Com exceo de uma participante, todos aprenderam as relaes e mostraram a formao de

    classes com os estmulos relacionados entre si direta ou indiretamente. No teste de

  • 24

    generalizao, uma participante no demonstrou responder generalizado com voz masculina

    de adulto. No teste de nomeao, a maioria dos participantes emitiu vocalizaes com

    correspondncia parcial palavra correta.

    Com o objetivo de verificar os efeitos de um programa sistemtico de fortalecimento

    de repertrio de comportamento de ouvinte sobre o comportamento de falante, Anastcio-

    Pessan (2011) estudou seis crianas com idade entre 11 e 14 anos, com deficincia auditiva

    neurossensorial profunda bilateral pr-lingual usurias de IC, que foram expostas a um pr-

    treino, seguido de um pr-teste que avaliou a percepo auditiva e o repertrio lingustico.

    A diferena entre este estudo e os anteriores est na insero de ps-teste de nomeao e

    leitura de palavras aps a concluso de cada tarefa. Os participantes foram capazes de

    relacionar estmulos auditivos, palavras ditadas, com estmulos visuais, figuras com

    palavras, e atestaram a formao de classes. Nos testes de nomeao e leitura, os dados

    mostram variabilidade entre os participantes, no entanto, constatou-se melhora gradual ao

    longo dos sucessivos ps-testes.

    Com o objetivo de caracterizar os desempenhos envolvidos na leitura e na escrita de

    crianas com DA nas sries iniciais do ensino fundamental, usurias de IC e AASI, Santos

    (2012) realizou um estudo com 20 crianas de 6 a 12 anos, 12 usurias de IC e 8 usurias de

    AASI. Foi utilizado o software ProgLeit para avaliao e ensino de leitura com trs tipos de

    tarefas: seleo, composio e vocalizao. Os resultados mostraram que o grupo de usurios

    de IC apresentou maior dificuldade, principalmente na realizao das tarefas de composio.

    Ambos os grupos apresentaram maior facilidade nas tarefas de seleo de estmulos.

    Citando um ltimo estudo que buscou verificar o efeito do ensino do comportamento

    ecoico sobre a nomeao de figuras em quatro crianas deficientes auditivas pr-linguais

    usurias de IC, Souza, Almeida-Verdu e Bevilacqua (no prelo) ensinou relaes

    condicionais auditivo-visuais com palavras convencionais disslabas, e ensino do

  • 25

    comportamento ecoico com pistas orofaciais. Em um pr-teste verificou-se que os

    participantes apresentavam baixas porcentagens de acertos em nomeao e ecoico, contudo

    todos os participantes aprenderam as relaes auditivo-visuais. Para dois participantes, a

    melhora no desempenho de nomeao ocorreu aps o treino auditivo-visual e para outros

    dois, somente depois do treino ecoico.

    No Par, foi iniciado um programa de IC em 2010, com o Hospital Universitrio

    Bettina Ferro de Souza (HUBFS) da Universidade Federal do Par sendo o primeiro hospital

    da regio norte do Brasil a ser credenciado pelo Ministrio da Sade para realizar o

    procedimento pelo Sistema nico de Sade (SUS). At o momento, aproximadamente 40

    pacientes ps-linguais e pr-linguais beneficiaram-se da tecnologia.

    A Escola Experimental de primatas (EEP) vinculada ao Ncleo de Teoria e Pesquisa

    do Comportamento (NTPC) da UFPA, ao longo das ltimas dcadas vem estudando

    processos comportamentais no desenvolvimento de repertrios complexos, que envolvem

    relaes arbitrrias entre estmulos caractersticas do comportamento simblico. A EEP tem

    buscado investigar e elaborar procedimentos de ensino gradual e facilitadores de repertrio

    simblico envolvendo estmulos visuais e auditivos em primatas no humanos (Galvo,

    Barros, Rocha, Mendona & Goulart, 2002) para gerar compreenso cientfica e tecnologia

    de ensino eventualmente aplicvel a humanos com alguma atipicidade no desenvolvimento.

    Este estudo surgiu como uma possibilidade de transladar os conhecimentos de

    processos e tecnologia comportamental obtidos com as pesquisas com no humanos tambm

    na EEP, para demandas humanas. Trata-se de uma pesquisa translacional, relacionando as

    demandas sociais com os procedimentos descobertos no laboratrio. Sendo pioneira no

    Estado do Par, ao longo da sua realizao o estudo esteve sempre sob avaliao, e

    modificaes nos procedimentos adotados foram gradualmente inseridas para melhor

    alcanar os objetivos.

  • 26

    O presente estudo se contextualiza no mbito das pesquisas com interface

    educacional, como as anteriormente descritas, na tentativa de busca de melhoria a qualidade

    lingustica dos implantados cocleares.

    Buscou-se investigar os processos envolvidos na aprendizagem comportamental de

    ouvir em implantados cocleares ps-linguais e possivelmente gerar tecnologia

    comportamental para a reabilitao da funo auditiva e a aquisio de linguagem nessa

    populao. Mais especificamente, o objetivo deste estudo foi avaliar as variveis de

    procedimento envolvidas no treino de discriminaes auditivo-visuais com relaes

    condicionais entre palavras ditadas, figuras e palavras escritas e verificar se o treino

    facilitaria a emergncia de vocalizaes com correspondncia total e generalizaes para

    outras frequncias de sons em deficientes auditivos ps-linguais usurios de IC.

  • 27

    MTODO

    Participantes

    Participaram deste estudo trs adultos com DA ps-lingual usurios de IC. O

    modelo do IC no foi uma varivel controlada neste estudo. Informaes mais detalhadas

    sobre os participantes sero fornecidas na Tabela 1.

    Claudio, nascido em 19/06/1967, 45 anos, ensino fundamental, adquiriu surdez

    neurossensorial grave no ouvido esquerdo e severa no ouvido direito atravs de meningite

    bacteriana em julho de 2011, no dia 07 de novembro do mesmo ano, submeteu-se a cirurgia

    do IC e um ms depois, teve o dispositivo ativado, totalizando cinco meses de privao

    auditiva. Este participante tambm faz uso de AASI.

    Ana, nascida em 27/06/1967, 45 anos, ensino fundamental, perdeu a audio do

    ouvido direito por causa desconhecida no ano de 2002 e cinco anos depois perdeu a audio

    no ouvido esquerdo. Submeteu-se cirurgia do IC em 17 de agosto de 2011, tendo o

    dispositivo ativado em outubro do mesmo ano, totalizando 9 anos de privao auditiva. Esta

    participante tambm faz uso de AASI.

    Rose, nascida em 25/04/1975, 36 anos, ensino fundamental, perdeu a audio aos

    13 anos de idade depois de uma febre alta e convulso. Rose foi a primeira paciente mulher

    submetida cirurgia do IC do HUBFS da UFPA. A participante submeteu-se cirurgia no

    dia 26 de janeiro de 2011, totalizando 23 anos de privao auditiva. Esta participante deveria

    fazer uso de AASI, mas relatou sentir fortes dores de cabea ao us-lo, e por isso, durante o

    estudo no usou o aparelho de amplificao sonora.

  • 28

    Obteno de consentimento

    O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa com Seres

    Humanos do Instituto de Cincias da Sade da Universidade Federal do Par, sob o CAEE

    0268. 0. 073. 000-12 e parecer 039/12 (Anexo 1). Foi realizado um contato inicial com os

    coordenadores do projeto ouvido binico do HUBFS, para apresentao do projeto e

    autorizao da visita ao Hospital para coleta de dados, alm de dados dos pronturios dos

    participantes, formalizada por meio do Termo de consentimento da Instituio. Os

    participantes foram indicados pela fonoaudiloga responsvel pelo projeto ouvido binico

    do HUBFS.

    Aps a seleo dos participantes, estes receberam as informaes sobre o projeto,

    alm da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para formalizar o

    aceite atravs da assinatura no documento (Anexo 2).

  • 29

    Tabela 1. Caractersticas dos participantes: nome (fictcio), gnero, data de nascimento, tipo de deficincia auditiva, etiologia da surdez, tempo de privao auditiva (da surdez

    at a ativao do implante), data da cirurgia do implante, idade auditiva (so mostradas duas datas: da ativao do implante at o momento inicial e final do estudo) e modelo

    do implante coclear.

    Nome Sexo D.N Tipo de DA Etiologia

    Tempo de

    Privao

    auditiva

    Data da

    cirurgia

    Idade

    auditiva

    Modelo do

    IC

    Rose F 25/04/75 Neurosenssorial

    profunda Convulso 23 anos 26/01/11

    1a3m

    1a9m

    Freedom

    Claudio M 19/06/67

    Neurosenssorial

    grave/severa

    bilateral

    Meningite

    Bacteriana 5 meses 07/11/11

    4m

    1a2m Nucleus 24

    Ana F 27/06/67 Neurosenssorial

    bilateral Gradual 9 anos 17/08/11

    8m

    1a3m Med el

  • 30

    Equipamentos, Materiais e Condies de coleta de dados.

    Foi utilizado um computador MSI Wind Top AE1900 com sistema operacional

    Windows XP Home Edition, processador Intel Atom 230, monitor de 18,5 Polegadas,

    Touch Screen, memria de 1GB DDR1 para apresentao dos estmulos visuais.

    Para a programao das tarefas e registro das respostas dos participantes foi

    utilizado o software EAM V. 4.0.04, desenvolvido por Druzio Capobianco, modificado

    por Rafael Picano, que permitia ao experimentador programar as tarefas que requeria

    dos participantes, assim como edit-las e reprogram-las de acordo com os objetivos de

    cada fase do ensino.

    O sistema de udio utilizado inicialmente foram caixas acsticas Philips com

    blindagem magntica, conector 3,5 mm, som estreo, alimentao via USB, acopladas ao

    computador para a emisso dos estmulos auditivos (Fase 1). Posteriormente, as caixas

    acsticas foram substitudas por um monitor de referncia utilizado em estdios

    profissionais, visto que possui alta fidelidade na reproduo de sons, com dimenso do

    gabinete de 15,0 x 8,5 x 10,0 cm, com blindagem magntica. A resposta de frequncia

    era de 45 Hz a 18 kHz, com sensibilidade de 88 dB, e frequncia de crossover de 2,5 kHz

    (a partir da Fase 3).

    Algumas sesses foram filmadas pela webcam do computador com um

    microfone conectado, para registro das vocalizaes dos participantes.

    As sesses experimentais das Fases 1 e 2 foram realizadas em uma das salas do

    Hospital universitrio, especialmente destinada para esta finalidade, com autorizao do

    setor de IC. A partir da Fase 3, as sesses experimentais foram realizadas em uma das

    salas da Escola Experimental de Primatas (EEP).

  • 31

    Figura 5. Sala de coleta de dados: 1) Monitor de referncia de udio utilizado no estudo; 2) Teclado, mouse

    e Monitor do computador utilizado no experimento.

    Estmulos

    Foram utilizados estmulos auditivos e visuais. Os estmulos auditivos eram

    palavras faladas, e os estmulos visuais, figuras e palavras escritas. Os estmulos auditivos

    foram previamente gravados em voz feminina adulta, em portugus, armazenados em

    formato WAV e eram apresentados atravs de caixas de som ou monitor de referncia de

    udio. Os estmulos visuais eram figuras disponveis on line e utilizadas no formato

    JPEG. As palavras escritas foram apresentadas em letras maisculas, fonte Arial, tamanho

    40, em formato JPEG. Os estmulos visuais eram apresentados em janelas quadradas

    com cerca de cinco centmetros de lado, localizadas em nove possveis posies de uma

    matriz 3 x 3, na tela de um monitor.

    Na Fase 1 - pr-treino - eram apresentados alternadamente quatro estmulos

    auditivos (Conjunto X: x1, x2, x3, x4), relacionados a quatro figuras (Conjunto Y: y1, y2,

    y3, y4), e quatro palavras escritas (Conjunto Z: z1, z2, z3, z4) com alta probabilidade de

    serem familiares ao participante (ver Tabela 2) facilmente discriminveis, e foram

    utilizados somente nesta fase do treino.

    Nas Fases 2 e 7 pr e ps-teste de vocalizao foram apresentados apenas

    estmulos visuais, figuras e palavras escritas, para o participante vocalizar. Foram

    apresentadas 32 figuras e 32 palavras escritas, sendo oito figuras e palavras escritas de

    1

    2

  • 32

    cada categoria silbica, isto , oito polisslabas, oito trisslabas, oito disslabas e oito

    monosslabas (Tabela 3).

    Nas Fases 3, 4 e 5, o Conjunto A reunia os estmulos auditivos, e tinha oito

    elementos: a1, a2, a3, a4, a5, a6, a7, a8. O Conjunto B dos estmulos visuais figuras,

    tambm composto por oito elementos: b1, b2, b3, b4, b5, b6, b7, b8, assim como o

    Conjunto C, dos estmulos visuais palavras escritas: c1, c2, c3, c4, c5, c6, c7, c8. Os

    estmulos utilizados com os participantes nestas fases podem ser vistos na Tabela 4, estes

    estmulos foram escolhidos com base no desempenho de cada participante na Fase 2. Na

    Fase 6 - teste de generalizao - utilizou-se os estmulos visuais das fases de ensino,

    contudo, os estmulos auditivos foram apresentados na voz masculina adulta, Conjunto

    A (a1, a2, a3, a4a5, a6, a7, a8) e os estmulos visuais, figuras e palavras escritas

    correspondentes.

  • 33

    Tabela 2. Conjuntos de estmulos utilizados no pr-treino para cada participante.

    Participantes

    Estmulos do pr-treino (disslabas)

    Auditivo Figura Escrito

    Claudio, Ana

    e Rose

    /bola/ (X1)

    (Y1)

    BOLA (Z1)

    /fogo/ (X2) (Y2)

    FOGO (Z2)

    /sino/ (X3) (Y3)

    SINO (Z3)

    /casa/ (X4) (Y4)

    CASA (Z4)

    Estmulos do pr-treino (polisslabas)

    Rose

    (Fase 1.2)

    /abacaxi/ (X1)

    (Y1)

    ABACAXI (Z1)

    /borboleta/ (X2) (Y2)

    BORBOLETA (Z2)

    /elefante/ (X3) (Y3)

    ELEFANTE (Z3)

    /tartaruga/ (X4) (Y4)

    TARTARUGA (Z4)

    A Tabela 3 mostra os estmulos que compuseram o pr-teste

  • 34

    Tabela 3. Conjuntos de estmulos utilizados durante o pr-teste de nomeao de figuras e leitura de palavras.

    Estmulos dos Testes de nomeao e leitura

    POLISSILABAS TRISSILABAS DISSILABAS MONOSSILABAS

    BICICLETA

    JACAR

    BOMBOM

    FLOR

    ABACAXI

    BONECA

    BON

    LUA

    RELGIO

    CANETA

    CARRO

    TREM

    COMPUTADOR

    CAVALO

    FACA

    MO

    TELEFONE

    MACACO

    LIXO

    BOI

    TARTARUGA

    MARTELO

    SAPO

    PO

    BORBOLETA

    BALANO

    SOF

    CRUZ

    ELEFANTE

    SORVETE

    SUCO

    SOL

  • 35

    A Tabela 4 mostra os estmulos que compuseram as Fases 3 e 4 e testes

    subsequentes, escolhidos com base nos desempenhos dos participantes no pr-teste de

    vocalizaes.

    Tabela 4. Conjuntos de estmulos utilizados durante as rotinas de ensino e testes com cada participante.

    Estmulos de linha de base Estmulos indefinidos

    Auditivo

    (A)

    Figura

    (B)

    Escrito

    (C)

    Auditivo

    (A)

    Figura

    (B)

    Escrito

    (C)

    Cla

    udio

    1 /mo/

    MO 5 /pafe/

    PAFE

    2 /carro/

    CARRO 6 /duca/

    DUCA

    3 /cavalo/

    CAVALO 7 /tiba/

    TIBA

    4 /abacaxi/

    ABACAXI 8 /zigo/

    ZIGO

    Ana

    e C

    laudio

    1 /mo/

    MO 5 /pafe/

    PAFE

    2 /carro/

    CARRO 6 /duca/

    DUCA

    3 /cavalo/

    CAVALO 7 /tiba/

    TIBA

    4 /abacaxi/ ABACAXI 8 /zigo/ ZIGO

    Rose

    1 /sol/

    SOL 5 */mo/

    MO

    2 */faca/

    FACA 6 /sof/

    SOF

    3 /elefante/

    ELEFANTE 7 /sorvete/

    SORVETE

    4 /relgio/

    RELGIO 8 /bicicleta/

    BICICLETA

    2 /cavalo/

    CAVALO 5 /abacaxi/

    ABACAXI

    * estes estmulos (faca e mo) foram modificados por cavalo e abacaxi.

  • 36

    Os conjuntos de estmulos de Linha de Base e de Indefinidos foram selecionados

    com base no desempenho dos participantes na Fase 2, Pr-teste de vocalizaes. Os

    estmulos A5 (duca), A6 (pafe), A7 (tiba) e A8 (zigo) foram selecionados para

    pertencerem ao conjunto de estmulos indefinidos, nomeados com base nos estudos de

    Anastcio-Pessan (2011), no entanto, as correspondncias pictricas dos estmulos foram

    elaboradas exclusivamente para este estudo.

    Procedimento

    Delineamento geral

    O delineamento deste estudo foi baseado nos estudos de Almeida-Verdu (2004),

    Battaglini (2010) e Anastcio-Pessan (2011). Os participantes foram expostos a uma

    sequncia de tarefas que pode ser vista na Tabela 5.

    Tabela 5. Sequncia geral do procedimento.

    Sequncia Tarefas

    1 Pr-treino

    2 Pr-teste de vocalizaes

    3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB)

    4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas

    (AC)

    5 Teste de formao de classes (BC/CB)

    6 Teste de generalizao (AB/ AC)

    7 Ps-teste de vocalizaes

    Procedimento geral

    O procedimento geral foi o de pareamento ao modelo. O participante deveria

    selecionar dentre estmulos de comparao o correspondente ao estmulo modelo. A

  • 37

    Figura 6 ilustra as relaes a serem ensinadas e testadas. Os detalhes de cada fase sero

    descritos a seguir.

    Figura 6. Diagrama das relaes ensinadas e testadas neste estudo. As setas em preto indicam relaes

    ensinadas. As setas em cinza indicam as relaes testadas.

    O programa de ensino pretendia fortalecer as habilidades auditivas dos

    participantes expondo-os a tarefas nas quais deveriam atentar aos estmulos sonoros e

    escolher a figura ou palavra escrita correspondente. Posteriormente, seriam expostos a

    testes de relaes derivadas das ensinadas, e ainda serem testados em suas habilidades de

    falantes em tarefas de nomeao e leitura.

    A Tabela 6 mostra, de maneira geral, a tarefa do participante em cada fase do

    programa de ensino, o tipo de resposta exigida e o critrio para passagem de fase.

    Consequncias para as respostas

    Nas Fases 1, 3 e 4 foram apresentadas consequncias diferenciais (feedback)

    para acerto e erro a cada tentativa. Em uma tentativa, se o participante emitisse a resposta

    programada como correta, era apresentada uma figura com a frase voc acertou por trs

    segundos e uma nova tentativa. Se o participante apresentasse resposta incoerente com a

    programada, uma tela preta com a palavra Errado seguia sua resposta por trs segundos

    e uma nova tentativa era apresentada. O critrio para passagem de fase foi manipulado ao

    longo do treino, e as mudanas sero descritas ao longo da descrio do procedimento.

  • 38

    Nas Fases 2, 5, 6 e 7 no foram apresentadas consequncias diferenciais para as respostas

    do participante.

    Tabela 6. Tarefas realizadas em cada fase do ensino, tipo de resposta requerida e o critrio em porcentagem

    de acertos para passagem de fase.

    Fase Tarefa Resposta Critrio

    1 Pr-treino

    Relacionar figuras, palavras

    escritas e relacionar

    palavras ditadas a figuras e

    a palavras escritas.

    Auditiva-

    visual 90%

    2 Pr-teste Nomear e ler Vocal -

    3 Ensino AB Relacionar palavras ditadas

    a figuras

    Auditiva-

    visual 90%

    4 Ensino AC Relacionar palavras ditadas

    a palavras escritas

    Auditiva-

    visual 90%

    5

    Teste de

    Formao de

    Classes

    Relacionar figuras a

    palavras escritas e palavras

    escritas a figuras.

    Visual 90%

    6 Teste de

    generalizao

    Relacionar palavras ditadas

    a figuras e palavras escritas

    em voz masculina adulta

    Auditiva-

    visual -

    7 Ps-teste Nomear e ler Vocal -

    Fase 1 Pr-treino

    O pr-treino teve como objetivo familiarizar o participante ao ambiente

    experimental, ao computador de tela sensvel ao toque, s tarefas, e criar o repertrio de

    relacionar estmulos auditivos a visuais para a realizao das tarefas futuras. Esse

    repertrio se constituiu na linha de base a partir da qual foi possvel o ensino de

    discriminaes condicionais auditivo-visuais envolvendo outros conjuntos de estmulos

    visuais (figuras e palavras escritas) e conjuntos de estmulos auditivos.

  • 39

    A Fase 1 foi composta por quatro blocos, totalizando 96 tentativas de pr-treino

    como pode ser visto na Tabela 7. E a descrio de cada bloco feita a seguir.

    Tabela 7. Sequncia de blocos e composio das tentativas durante o Pr-treino.

    Bloco

    Tipo

    de

    Tentativa

    N de

    tentativas Relaes

    Destino

    de

    Acertos

    Destino

    de

    Erros

    Critrio

    1 PMI

    visual 24 y1, y2, y3, y4,

    z1, z2, z3, z4

    Bloco 2 Bloco 2

    90% em

    todos os

    blocos

    2

    Auditivo-

    visual

    com

    fading out

    24 x1y1, x2y2, x3y3,

    x4y4, x1z1, x2z2,

    x3z3, x4z4

    Bloco 3 Bloco 3

    3 Visual-

    visual 24

    y1z1, z2y2, y3z3,

    y4z4, z1y1, z2y2,

    z3y3, z4y4

    Bloco 4 Bloco 4

    4 Auditivo-

    visual 24

    x1y1, x2y2, x3y3,

    x4y4, x1z1, x2z2,

    x3z3, x4z4

    Fase 2 Bloco 1

    Bloco 1 Pareamento ao modelo por identidade (PMI): No incio do bloco era

    apresentada na tela do computador uma instruo ao participante: Ol! Seja bem-vindo

    (a). Sua tarefa inicial ser escolher as figuras idnticas. Use o mouse ou toque sobre a

    figura. Bom trabalho! Neste bloco foram apresentadas trs tentativas para cada figura e

    trs tentativas para cada palavra escrita, totalizando 24 tentativas no bloco.

    Bloco 2 - Pareamento auditivo-visual com esvanecimento (Fading out) do modelo

    visual: O seguinte comando iniciava o bloco: Parabns! Voc completou a 1 fase.

    Agora voc ouvir um nome e ver uma figura juntos, a figura desaparecer

    gradualmente, preste ateno ao som. Bom trabalho!. Ento, era apresentado um

    estmulo-modelo visual (figura ou palavra escrita) em uma das posies da tela do

    computador e concomitantemente era apresentado o estmulo-modelo auditivo pelo alto-

    falante de maneira que a palavra ditada era sobreposta ao modelo visual, o que denomina-

  • 40

    se modelo composto, pela apresentao conjunta de dois estmulos diferentes, no caso,

    um visual e um auditivo, como modelo.

    Cada estmulo era apresentado em uma sequncia de trs tentativas, o

    componente visual era gradualmente esmaecido pelo procedimento de fading out (ver

    Figura 7), que comeava na primeira tentativa de cada estmulo e gradativamente

    transformando-se em um quadrado laranja, at a terceira tentativa. O procedimento de

    fading out foi utilizado com o objetivo de facilitar o controle do estmulo auditivo sobre

    a resposta de seleo do estmulo visual (Terrace, 1963; Almeida-Verdu, 2004).

    A Figura 7 ilustra o procedimento de esvanecimento atravs do Fading out.

    Figura 7. Ilustrao do procedimento Fading out do componente visual do modelo. Na primeira sequncia

    esquerda da ilustrao, observa-se o componente visual do modelo apresentado em 100% de nitidez,

    simultaneamente ao componente auditivo, som casa, representado no balo; no segundo quadrante, o

    componente visual est parcialmente esmaecido; e, por fim no ltimo quadrante, apresentado somente o

    quadrado laranja e o componente auditivo do modelo.

    Bloco 3 Pareamento entre palavras escritas e figuras: O bloco era iniciado com o

    seguinte comando: Parabns! Voc completou a 2 fase. Vamos para a prxima fase.

    Agora voc deve relacionar uma figura a uma palavra escrita e vice-versa. Continue

  • 41

    prestando ateno. Bom trabalho! Aps a leitura do comando, eram apresentados dois

    tipos de tentativas: 1) figura palavra escrita: uma figura era apresentada como estmulo-

    modelo e o participante deveria selecionar a palavra escrita correspondente; 2) palavra

    escrita figura: uma palavra escrita era apresentada como estmulo-modelo e o

    participante deveria selecionar a figura correspondente.

    Bloco 4- Pareamento auditivo-visual: O comando inicial do bloco era: Parabns!

    Voc completou a 3 fase. Voc chegou ltima fase. Agora, ouvir um som e dever

    escolher a figura ou palavra correta. Tenha ateno! Neste bloco, as tentativas eram

    compostas por relaes puramente auditivo-visuais, isto , era apresentado um estmulo

    auditivo e o participante deveria selecionar a figura ou palavra escrita correspondente.

    Independentemente do nmero de acertos, o participante era exposto Fase 2,

    pr-teste de vocalizaes. No entanto, para que o participante fosse exposto Fase 3,

    ensino entre palavras ditadas e figuras, era necessrio que apresentasse um desempenho

    de no mnimo de 90% de acertos. Caso no apresentasse, o participante era exposto ao

    pr-treino novamente por at trs vezes, com alteraes nas posies e ordem de

    apresentao dos estmulos. Se ocorresse do participante no atingir o critrio de

    aprendizagem requerido depois das trs repeties, as estratgias de ensino para incluso

    do participante nas tarefas seguintes seriam analisadas com base em avaliao do

    desempenho apresentado. As estratgias de ensino adotadas nos casos que foram

    necessrios sero descritas mais adiante.

    Fase 2 Pr-teste de vocalizaes

    O objetivo desta fase foi de avaliar o desempenho do comportamento de falante

    dos participantes e selecionar oito palavras para comporem as rotinas seguintes, sendo

    quatro palavras cujas vocalizaes tenham sido categorizadas como correspondncia total

    e outras quatro que as vocalizaes tenham apresentado distores. Para aqueles

  • 42

    participantes cujas todas as vocalizaes foram categorizadas como correspondncia

    total, foram empregas pseudopalavras para comporem as rotinas de ensino e testes futuros

    O pr-teste foi apresentado em dois blocos, um de nomeao de figuras e outro

    de leitura de palavras. O desempenho vocal dos participantes foi gravado atravs de um

    microfone. Foram apresentadas 32 figuras e 32 palavras escritas, sendo oito figuras para

    cada diviso silbica, ou seja, oito polisslabas, oito trisslabas, oito disslabas e oito

    monosslabas. O cuidado em subdividir os estmulos em categorias por nmero de slabas

    do nome do estmulo recomendado porque estudos em audiologia mostraram que

    usurios de IC possuem mais facilidades em discriminar e nomear palavras longas por

    apresentarem mais dicas verbais para compreenso do significado (Spinelli, Fvero-

    Breuel & Silva, 2001).

    Cada figura ou palavra escrita ficava disponvel na tela por 5 segundos e o

    intervalo de apresentao foi de 2 segundos. No houve consequncia para as

    vocalizaes do participante. A descrio dos blocos feita a seguir.

    Bloco 1 - Nomeao: O participante recebia o comando escrito na tela do computador:

    Voc ver uma figura. Diga o nome da figura assim que ela aparecer da tela do

    computador.. Ento, no centro da tela do computador, aparecia uma figura, que deveria

    ser nomeada pelo participante.

    Bloco 2 - Leitura: O participante recebia o seguinte comando pelo computador: Voc

    ver uma palavra escrita. Quando estiver pronto, leia a palavra, por favor.. No centro

    da tela do computador, a qual deveria ser lida pelo participante.

    Avaliao das vocalizaes

    As vocalizaes foram avaliadas por dois observadores, a prpria pesquisadora

    e um observador independente e foram reavaliadas as discordncias at obter-se um

    ndice de concordncia de 90%.

  • 43

    O acordo entre os observadores foi baseado em Delgado e Bevilacqua (1999),

    no qual, uma porcentagem das vocalizaes dos participantes era transcrita por um

    observador independente para ser confrontada com a transcrio da experimentadora.

    Kazdin (1982) sugere que a porcentagem mnima de vocalizaes transcrita pelo

    observador independente seja de 25%, dessa porcentagem, o total de acordos ser

    dividido pela soma dos acordos e desacordos, o resultado ser multiplicado por 100, este

    clculo resultar na porcentagem de acordo entre os observadores. No mnimo 70% de

    acordo necessrio para que a observao seja considerada fidedigna. Para assegurar uma

    maior confiabilidade nos dados, o observador independente transcreveu todas as

    vocalizaes.

    O observador independente foi instrudo a ouvir a vocalizao e anotar cada

    emisso vocal do participante, da maneira que compreender, podendo ouvir a mesma

    vocalizao quantas vezes achasse necessrio. A frmula do clculo de fidedignidade,

    segundo Kazdin (1982), pode ser vista na Figura 8.

    F=acordos

    acordos + desacordos 100

    Figura 8. Clculo de fidedignidade entre observadores segundo Kazdin (1982).

    Para avaliao das vocalizaes dos participantes, baseou-se em Anastcio-Pessan

    (2011), e utilizaram-se quatro categorias: correspondncia total, correspondncia parcial,

    emisso sem correspondncia e omisses:

    a) Correspondncia total: as vocalizaes emitidas com correspondncia

    ponto-a-ponto com o uso convencionado pela comunidade.

    b) Correspondncia parcial: palavras vocalizadas com trocas fonmicas ou

    quando o participante emitia todos os fonemas, contudo alterava o som de algum dos

    fonemas em nasalao ou tonicidade.

  • 44

    c) Sem correspondncia: vocalizaes de outra palavra que no possua

    nenhum fonema em comum com a convencionada pela comunidade. Quando, por

    exemplo, diante da figura de uma lua, o participante vocalizava sol.

    d) Omisses: quando o participante no emitia nenhuma vocalizao aps a

    apresentao da figura ou palavra escrita.

    Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB)

    O objetivo desta fase era, alm de avaliar o comportamento de ouvinte dos

    participantes, ensinar novas relaes condicionais entre palavras ditadas e figuras. Foi

    realizado com a tarefa de escolha de acordo com o modelo, auditivo-visual, isto , quando

    da apresentao de uma palavra falada, era requerida a seleo de uma figura

    correspondente.

    O estmulo auditivo era repetido com um intervalo de 1,5 segundos at que o

    participante selecionasse o quadrado laranja e, caso o participante no emitisse a resposta

    de observao, a tentativa era encerrada manualmente pela experimentadora, registrada

    como erro e uma nova tentativa era iniciada. Os estmulos de comparao eram

    apresentados simultaneamente em posies aleatrias na tela. O treino auditivo-visual

    entre palavras ditadas e figuras teve quatro diferentes Blocos de tentativas:

    Bloco 1 - Linha de base: Neste bloco, foram treinadas as relaes com estmulos de LB

    isto , aqueles em que o participante apresentou correspondncia total no pr-teste de

    vocalizaes (a1b1, a2b2, a3b3, a4b4). Foram apresentadas doze tentativas com essas

    relaes, sendo trs tentativas para cada relao.

    Bloco 2 - Sondas de excluso: Neste bloco, foram apresentadas quatro relaes

    condicionais indefinidas (a5b5, a6b6, a7b7, a8b8). As tentativas eram compostas de um

  • 45

    estmulo auditivo indefinido como modelo (A8, por exemplo) e de quatro estmulos-

    comparao, trs estmulos de linha de base e um estmulo indefinido correspondente ao

    modelo (B8, no caso do exemplo). Nesta condio, o participante poderia selecionar o

    estmulo de comparao indefinido por meio de excluso das comparaes conhecidas ou

    estabelecer uma relao direta entre os estmulos indefinidos. Foram apresentadas doze

    tentativas, sendo trs tentativas para cada relao treinada.

    Bloco 3 - Controle por novidade: As relaes de controle foram as mesmas do bloco de

    LB (a1b1, a2b2, a3b3, a4b4). O estmulo-modelo sempre era pertencente linha de base

    e os estmulos-comparao incluram trs figuras indefinidas e uma figura de linha de

    base. Nessa situao, o participante deveria escolher a figura correspondente ao modelo,

    rejeitando as figuras indefinidas. A escolha da figura de linha de base diante do modelo

    de linha de base indicaria a manuteno da LB e permitiria descartar um possvel controle

    pela novidade que pudesse ter sido estabelecido nas tentativas de sondas de excluso.

    Foram apresentadas doze tentativas, sendo trs tentativas para cada relao treinada.

    Bloco 4 - Aprendizagem: Neste bloco, o estmulo-modelo sempre era do conjunto de

    indefinidos e os estmulos de comparao tambm. Foram apresentadas doze tentativas,

    sendo trs tentativas para cada relao.

    A Fase 3 foi composta por 48 tentativas de relaes condicionais auditivo-

    visuais entre palavras ditadas e figuras (AB).

    Os blocos de tentativas eram apresentados sucessivamente, independentes do

    nmero de acertos, isto , no foi programado critrio para mudana de blocos. Caso o

    participante apresentasse 100% de acertos nos Blocos 1, 2 e 3 e no apresentasse bom

    desempenho no Bloco 4, o que era esperado nas primeiras sesses, as sesses seguintes

    seriam compostas apenas de 24 tentativas das relaes indefinidas, sendo seis tentativas

    para cada relao indefinida.

  • 46

    O critrio de aprendizagem era de 90% de acertos em todos os blocos de

    tentativas. A Tabela 8 mostra a sequncia dos blocos da Fase 3.

    Tabela 8. Blocos de tentativas da Fase 3.

    Bloco de

    tentativa

    N de

    tentativas

    Relaes

    treinadas

    Estmulos

    modelo

    Estmulos de

    comparao

    Linha de Base 12 A1B1; A2B2

    A3B3, A4B4 LB Todos de LB

    Sondas de

    Excluso 12

    A5B5, A6B6

    A7B7, A8B8 Indefinido

    Um Indefinido

    e trs de LB

    Controle por

    novidade 12

    A1B1, A2B2

    A3B3, A4B4 LB

    Um de LB e

    trs indefinido

    Aprendizagem 12 A5B5, A6B6

    A7B7, A8B8 Indefinido

    Todos

    indefinidos

    Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC)

    O objetivo desta fase foi ensinar a relao entre palavras ditadas (A) e palavras

    escritas (C). A tarefa dos participantes era selecionar dentre quatro palavras escritas a

    correspondente ditada anteriormente. Os blocos e nmero de tentativas, esquema de

    reforamento e critrio de passagem de fase foram os mesmos da fase anterior.

    Fase 5 Teste de formao de classes (BC/CB)

    Objetivo da fase foi avaliar se a extenso das funes discriminativas se

    estenderia para as figuras e palavras escritas, isto , avaliar se o participante aps

    selecionar uma figura e uma palavra escrita quando uma mesma palavra falada era

    apresentada, relacionaria a figura e a palavra escrita sem treino direto.

    Os estmulos utilizados foram os pertencentes ao conjunto de indefinidos, que

    aps as fases de ensino, foram incorporados linha de base. Nos blocos de linha de base

  • 47

    haviam consequncias programadas para as respostas e nos blocos de teste no haviam

    consequncias programada. Foram apresentadas 40 tentativas, sendo 24 tentativas de teste

    e 16 tentativas de linha de base em quatro blocos de tentativas. A Tabela 9 apresenta a

    composio da sesso de teste de formao de classes.

    Tabela 9. Composio dos blocos de tentativas durante o teste de formao de classes.

    Blocos de

    tentativas

    N de

    tentativas Relaes

    Esquema de

    reforamento Critrio

    1. LB AB 8 A5B5; A6B6

    A7B7; A8B8

    CRF

    90% em

    todos os

    blocos

    2. Teste BC 12

    B5C5; B6C6

    B7C7; B8C8

    Sem

    consequncia

    3. LB AC 8

    A5B5; A6B6

    A7B7; A8B8

    CRF

    4. Teste CB 12

    C5B5; C6B6

    C7B7; C8B8

    Sem

    consequncia

    Fase 6 Teste de generalizao de frequncias de estmulos auditivos

    O objetivo desta fase foi verificar a extenso do controle da aprendizagem

    auditiva para outras frequncias do estmulo auditivo (voz masculina de adulto).

    Utilizaram-se como estmulos auditivos as palavras pertencentes ao conjunto de

    indefinidos durante o ensino, contudo, enunciadas com voz masculina de adulto,

    denominado Conjunto A': a5; a6; a7 e a8. Para a realizao deste teste, a sesso

    experimental foi apresentada em blocos. A Tabela 10 mostra as relaes testadas em cada

    bloco.

  • 48

    Tabela 10. Composio dos blocos de tentativas durante o teste de generalizao.

    Blocos N de

    tentativas Relaes testadas

    Esquema de

    reforamento Critrio

    LB AB 4 A5B5; A6B6; A7B7; A8B8

    Sem

    consequncia

    diferencial em

    todos os

    blocos

    Sem critrio

    para

    passagem

    de fase

    TESTE

    AB 12 A5B5; A6B6; A7B7; A8B8

    LB AC 4 A5C5; A6C6; A7C7; A8C8

    TESTE

    AC 12 A5C5; A6C6; A7C7; A8C8

    Foram apresentadas 32 tentativas, oito de linha de base e 24 de teste.

    Independentemente do nmero de acertos, o participante era exposto fase seguinte.

    Fase 7 Ps-teste de Vocalizaes

    O objetivo do ps-teste foi verificar se aps a longa exposio aos estmulos

    auditivos, os participantes apresentariam melhoras no desempenho de nomeao de

    figuras e leitura de palavras. Apresentaram-se as mesmas 32 figuras e 32 palavras do pr-

    teste com a mesma configurao. A avaliao das vocalizaes ocorreu da mesma forma

    do pr-teste.

  • 49

    RESULTADOS

    Os resultados sero apresentados por fase e por participante. Os desempenhos

    gerais dos participantes em cada fase realizada, sero apresentados na Figura 8, que ilustra

    o desempenho dos participantes nas trs modalidades de respostas exigidas: vocais,

    visuais e auditivo-visuais ao longo das fases.

    De modo geral, todos os participantes apresentaram altos ndices de acertos nas

    tarefas que exigiam apenas respostas visuais, de pareamento ao modelo por identidade

    com os estmulos visuais.

    Nas tarefas de vocalizaes, pr e ps-testes, os participantes Claudio e Ana

    apresentaram alta correspondncia com a comunidade verbal, apresentando algumas

    omisses, e, a participante Rose apresentou baixa correspondncia com a comunidade

    verbal, especialmente, apresentou distores fonmicas e tnicas, contudo, seu

    desempenho elevou-se no ps-teste.

    Nas tarefas de discriminao condicional auditivo-visual com modelo composto

    e esmaecimento do componente visual (Fading out), Claudio e Ana atingiram o critrio

    de aprendizagem em uma sesso, enquanto que a participante Rose necessitou de mais

    exposies, com desempenhos crescentes.

    E, nas tarefas puramente auditiva-visuais, os participantes Claudio e Ana no

    apresentaram grandes dificuldades em atingir o critrio de aprendizagem, tanto com os

    estmulos convencionados quanto as pseudopalavras, contudo, a participante Rose

    apresentou desempenho abaixo do critrio em muitas exposies fase, e por isso,

    diversas modificaes procedimentais foram realizadas com o objetivo de estabelecer

    condies facilitadoras de aprendizagem. Os detalhes sero descritos a seguir.

  • 50

    Figura 8. Porcentagem mdia de acertos dos participantes em cada fase do estudo. As barras brancas correspondem a tarefas que exigiam respostas vocais de nomear e ler. As

    barras em cinza a tarefas de pareamento ao modelo por identidade com estmulos visuais, e as barras pretas a tarefas envolvendo relaes auditivo-visuais.

  • 51

    Fase 1 Pr-treino

    A Figura 9 apresenta o desempenho geral dos participantes por bloco realizado

    no pr-treino.

    Figura 9. Porcentagem de acertos dos participantes ao longo dos blocos durante a fase do pr-treino. As

    barras identificadas por PMI correspondem ao Bloco 1, pareamento ao modelo por identidade. As barras

    identificadas por Fading out correspondem ao Bloco 2, de pareamento de identidade com modelo composto

    e fading out do componente visual. As barras identificadas por PE-F/F-PE, indicam o Bloco 3, pareamento

    entre palavras escritas e figuras e figuras e palavras escritas. E as barras identificadas como Au-Vi, indicam

    o Bloco 4, pareamento auditivo-visual.

    Participantes Claudio e Ana

    Os participantes Claudio e Ana realizaram a Fase 1, Pr-treino, em uma sesso,

    apresentando desempenho geral de 95,8% e 97,9% de acertos, respectivamente.

    Aprenderam a tarefa de pareamento ao modelo por identidade e a tarefa de pareamento

    ao modelo composto e o procedimento de fading out, alm disso, aprenderam a escolher

    uma figura ou uma palavra escrita na