experiÊncias digitais aerada...

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58 I ÉPOCA I 3 de agosto de 2015 IDEIAS EXPERIÊNCIAS DIGITAIS Cresce a intolerância nas redes sociais, onde proliferam os “idiotas da aldeia” do escritor Umberto Eco. Como torná-las mais democráticas? Bruno Ferrari e Gabriela Varella COMO O FACEBOOK DECIDE O QUE VOCÊ LÊ Diariamente, mais de 1 bilhão de pessoas acessam a rede social para compartilhar fotos, vídeos, links e dar opiniões. Entenda como o Facebook escolhe que informações chegam a sua página pessoal PARA SABER QUEM É MAIS PRÓXIMO DE VOCÊ, O FACEBOOK ANALISA QUANTAS FOTOS DA PESSOA VOCÊ CURTIU, QU Todo dia, seus amigos po stam , e m m é di a , No enta n to, você só recebe cerca d e 300 delas A era da grosseria EP895p058_062.indd 58 31/07/2015 17:55:34

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58 I ÉPOCA I 3 de agosto de 2015

IDEIASE X P E R I Ê N C I A S

D I G I TA I S

Cresce a intolerância nas redes sociais, ondeproliferam os “idiotas da aldeia” do escritor Umberto

Eco. Como torná-las mais democráticas?Bruno Ferrari e Gabriela Varella

COMOO FACEBOOKDECIDE O QUEVOCÊ LÊDiariamente, maisde 1 bilhão de pessoasacessam a rede socialpara compartilhar fotos,vídeos, links e dar opiniões.Entenda como o Facebookescolhe queinformações chegama sua página pessoal

PARA SABER QUEM É MAIS PRÓXIMO DE VOCÊ, O FACEBOOK ANALISA QUANTAS FOTOS DA PESSOA VOCÊ CURTIU, QU

Todo dia, seus amigos poostamm, eemm mméédiiaa,

No entaannto, você só recebe cerca ddee 300 delas

A era dagrosseria

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em potencial. É a era da polarização, dopensamento binário: ou pensas como euou te tornas um inimigo. Se é a favor doPSDB,você automaticamente é contra asciclovias, a favor da redução da maiori-dade penal e quer o impeachment dapresidente.Se simpatiza com o PT,defen-de a corrupção e o aparelhamento doEstado. Nesse mundo em preto e branco,não há espaço para os tons de cinza.

Esses chatos não são a maioria dosque usam as redes sociais, mas acabamsendo a parcela que mais chama a aten-ção. São os“idiotas da aldeia”, como des-creveu o escritor e filósofo italiano Um-berto Eco ao receber o título de doutorhonoris causa em comunicação e culturana Universidade de Turim, no últimomês de junho. “As redes sociais deramvoz a uma legião de imbecis”, disse.“An-tes, eles falavam apenas em um bar, de-pois de uma taça de vinho, sem prejudi-car a coletividade. Agora, têm o mesmodireito à palavra de um prêmio Nobel.”

Muitos criticaram a opinião de Eco.Lembraram que talvez a grande con-tribuição da internet foi ter dado s

Lá se vai uma década em que as redessociais passaram a fazer parte de nossasvidas. Em muitos aspectos, elas trouxe-ram coisas positivas.Sites como Facebooke Twitter aproximaram pessoas que ja-mais se encontrariam nos tempos off-li-ne.Também serviram de base para novosnegócios. Tornaram nosso trabalho mais

produtivo (o.k., nem todos os trabalhos).Mas o efeito colateral é evidente a qual-quer um que frequente um desses botecosvirtuais: estamos diante da “era da gros-seria”. Em algum momento dos últimosanos, grupos na internet voltaram a secomportar como uma horda de visigodoscom ímpeto para exterminar adversários

arece um duelo do Velho Oeste. No lugar da arma, é o dedo nomouse ou na tela do celular.Navegamos pelas redes sociais comose estivéssemos num filme de bangue-bangue. Aguardamos o

adversário chegar armado para nos surpreender. Ao sinal de ameaça,“pá!”, ou melhor, “clique!”. Assim, compartilhamos textos esdrúxulossem ler porque o título é provocativo. Distribuímos fotomontagensmalfeitas achando que são imagens reais.Assinamos petições on-line semsaber do que se trata. “É golpe militar? Achei que fosse impeachment.”Quem veste camisa da Seleção Brasileira e vai para a rua é “coxinha”.Quem bate panela em discurso de político é “reaça”. E quem não bate?“Petralha”. Queremos protestar contra os religiosos intolerantes. O quefazemos? Enchemos uma rede social voltada ao público evangélico defilmes pornôs. Destruímos relacionamentos que levaram anos para serconstruídos só por causa de um “curtir” ou de um “compartilhar”. Etalvez não estejamos nos dando conta disso.

P

O ALGORITMO APRENDE COM A ROTINADE ACESSO DE CADA USUÁRIO QUE TIPO DECONTEÚDO É MAIS RELEVANTE PARA ELE

O APRENDIZADO É BASEADO EM FATORESMAIS ÓBVIOS, COMO O GRAU DE PROXIMIDADE QUE VOCÊ TEM COM

A PESSOA QUE PUBLICOU O CONTEÚDO

Se você gostamais de clicar

em fotos doque em vídeos,o Facebook vaimostrar mais

amigos quepublicaram fotos

TIU, QUANTAS VEZES PUBLICOU ALGO NA TIMELINE DELA E ATÉ A FREQUÊNCIA COM QUE VOCÊS CONVERSAM NO CHAT

O TIPO DE CONTEÚDOTAMBÉM É IMPORTANTE

Ilustração: Samuel Rodrigues/Espaço ilusório

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oportunidade a pessoas comuns de ter omesmo espaço que um prêmio Nobel.Eco justificou-se, depois das críticas, di-zendo que se referia a um pequeno e ba-rulhento grupo de chatos que se sobre-punham à maioria.É importante ressaltarque apenas publicar opiniões não faz dasredes um espaço democrático.Democra-cia também pressupõe o debate de ideias,que não costuma ocorrer no Facebook.

Além disso,a impressão de Eco faz sen-tido na medida em que as redes sociaisnão são,há muito tempo,uma plataformaem que as informações transitam de for-ma isonômica. Algumas coisas chamammais a atenção que outras.Os sites tendema priorizar essas informações para poderter mais audiência e, assim, gerar maisreceita com publicidade. Pessoas comcomportamento mais agressivo, indepen-dentemente de seu viés político e religioso,repercutem mais.Pode existir a impressãode que elas são a maioria.“As redes sociaisprivilegiam aquilo que é considerado so-cialmente relevante,que vai gerar comen-tários e interação”, diz Raquel Recuero,professora da Universidade Católica de

Pelotas, Rio Grande do Sul.“Temas polê-micos tendem a gerar debate e brigas den-tro da mesma rede, e isso pode produzircomentários agressivos”, diz.

O grande motor dessa forma mais re-cente de como a informação trafega nomundo é o Facebook.O site tem quase 1,5bilhão de usuários cadastrados.Um bilhãoo acessa diariamente. No Brasil, oito emcada dez internautas têm uma conta no“Feice”. São cerca de 90 milhões de brasi-leiros que acessam as redes especialmentepelo telefone celular, segundo dados daconsultoria eMarketer. A forma de orga-nizar todo o conteúdo publicado por essamassa de usuários foi a criação de um al-

goritmo, uma fórmula para distribuir aspostagens entre os usuários. Ele aprendecom a rotina on-line do usuário que tipode conteúdo ele mais acessa. Esse algorit-mo recebeu o nome de News Feed (leia aolongo desta reportagem o quadro sobre comoele funciona). A justificativa do Facebooké que seria impossível para uma pessoaacompanhar tudo o que seus amigos pu-blicam.Diariamente,nossos contatos pos-tam em média 1.500 conteúdos. Mas oFacebook os filtra para nós.Só recebemoscerca de 300 deles.O resto nunca veremos.

O aprendizado do algoritmo é basea-do em fatores óbvios, como o grau deproximidade que você tem com a pessoaque publicou o conteúdo e o tipo de con-teúdo que você mais gosta. Se você clicamais em fotos que em vídeos, o Facebookvai mostrar mais amigos que publicaramfotos. Há também fatores menos óbvios,como a infraestrutura de acesso. Se a redede seu celular está ruim, seu perfil passaa priorizar textos e fotos no lugar de ví-deos mais pesados, que consomem maisconexão. Se alguém comenta“Parabéns”numa publicação, é provável que ela se

DIARIAMENTE, NOSSOSCONTATOS POSTAM,

EM MÉDIA, 1.500CONTEÚDOS. MAS

SÓ RECEBEMOSCERCA DE 300

HÁTAMBÉMFATORESMENOSÓBVIOSO Facebookanalisa ainfraestrutura deacesso. Se o 4Gde seu celularestá ruim, éprovável queseu perfil dêprioridadesa textos emdetrimento devídeos, queconsomem maisconexão

SEALGUÉM

COMENTA“Parabéns” numa

publicação, é provávelque ela seja de alguma

celebração. Como isso geramuitas “curtidas”, o Facebook

tende a promover mais

As páginas que você curtetambém são levadas em

consideração pelo algoritmo.Se a comunidade tem

uma determinada visão política, éprovável que tenha contato com mais

publicações relacionadas ao tema

E X P E R I Ê N C I A S D I G I TA I S

O FACEBOOK DÁ MAIOR ALCANCE AOS POSTS DE CLIENTES QUE PAGAM PARA ISSO. O CLIENTE SELECIONA ESTILOS DE USUÁRIO QUE ELE QUER ATINGIRCOM SUAS POSTAGENS. ESSA É UMA DAS PRINCIPAIS FONTES DE RENDA DA REDE SOCIAL

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acordo com a audiência. No mundo on-line, você acha que sabe com que audiên-cia está falando.Mas alguém que não façaparte desse grupo pode ter acesso àqueleconteúdo, interpretá-lo de uma formadiferente e expor a uma situação de con-flito. É um caso comum em discussõessobre política.O comentário de uma pes-soa com uma visão mais à esquerda podereceber diversas curtidas em seu hábitatno algoritmo. Mas, se um amigo mais àdireita compartilha a mesma opinião emsua página, chovem críticas e ironias. Deum lado, os histéricos de esquerda, quefantasiam, de forma delirante, um novogolpe militar no Brasil. De outro, os his-

trate de alguma celebração. Como issogera muitas“curtidas”, o Facebook tendea promover o post. As páginas que vocêcurte também são levadas em considera-ção pelo algoritmo. Posts de perfis quepagam ao Facebook também têm maischance de chegar a você. E aqui vem oponto central para a“era da grosseria”: sea comunidade tem uma determinadavisão política ou ideológica, é provávelque você tenha contato com mais publi-cações relacionadas ao tema.

O problema, segundo especialistas, éque essa obsessão por oferecer ao usuárioapenas o que ele quer clicar tende a criarilhas de opiniões. As pessoas têm a falsasensação de que o mundo inteiro pensacomo elas, já que o algoritmo não as con-fronta com outras ideias. Como efeitocolateral subsequente, passam a publicarconteúdos que seriam aceitos num deter-minado grupo, e não pelo público emgeral. É o que a pesquisadora americanaDanah Boyd, fundadora do Data & So-ciety Research Institute, chama de audi-ências invisíveis.No mundo off-line, vocêcostuma ajustar o tom de seu discurso de

téricos de direita, com seu indefectívelbordão: “Vá para Cuba!”.

Não é só o Facebook que usa um algo-ritmo desse tipo.Google,Twitter,Amazon,Uber e outras empresas de tecnologia de-senvolveram sistemas com o objetivo defacilitar a vida do usuário numa ponta egerar mais receita na outra.Mas ela se tor-na um problema quando as pessoas nãosabem que estão tendo acesso a um con-teúdo enviesado. Uma pesquisa realizadanos Estados Unidos pela pesquisadoraKarrie Karahalios,da Universidade de Illi-nois, mostrou que 62% dos americanosque usavam o Facebook não sabiam daexistência de filtros pelo algoritmo.“Rece-bi uma série de respostas viscerais quandoexpliquei para as pessoas como o algorit-mo do Facebook funcionava”,disse Karrie,numa entrevista para a revista Time.“Algumas passaram cinco minutos emchoque, pensando sobre aquilo.”

Há pouco mais de um ano,o Facebookdivulgou um estudo realizado em 2012com 700 mil usuários que tinha comoobjetivo entender como funcionavamas reações emocionais das pessoas na s

UMA PESQUISAMOSTROU QUE 62%

DOS AMERICANOS NÃOSABIAM DA EXISTÊNCIA

DO ALGORITMODO FACEBOOK

Segundo especialistas, essa obsessãopor oferecer ao usuário apenas o que ele quer clicar pode criar

ILHAS DE OPINIÕES

Uma pesquisa publicada nosEstados Unidos mostrou que

As pessoas têm a falsasensação de que o mundo

inteiro pensa como elas,já que o algoritmo não as

confronta com outras ideias

dos americanos queusavam o Facebook nãosabiam da existência de

filtros pelo algoritmo

A respostado Facebook veio

no início de julho desteano. Agora, usuários têm

acesso a mais filtrospara poder controlar

as informações

Ilustração: Samuel Rodrigues/Espaço ilusório

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internet.Para isso,a companhia manipu-lou as páginas de metade deles com notí-cias e comentários positivos dos contatos.Os outros 350 mil receberam notícias ecomentários mais tristes. A ideia de en-tender como as emoções contagiavam osusuários virou um escândalo. O cientistaamericano Jaron Lanier, em artigo publi-cado no jornal The New York Times, selembrou dos riscos envolvidos.“A mani-pulação das emoções não é algo pequeno.Cerca de 60% dos suicídios são precedi-dos de algum tipo de distúrbio de humor”,escreveu. Com a repercussão negativa,Sheryl Sandberg, braço direito de MarkZuckerberg, pediu desculpas. Desde en-tão,o Facebook criou políticas mais trans-parentes para seu algoritmo. Além daferramenta“Deixar de seguir”,que já exis-tia e dava mais controle ao que o usuárioacessa em sua página, a empresa imple-mentouo“Vejaprimeiro”,emqueousuáriopode selecionar um grupo de amigos paraacompanhar com prioridade.

Não há um consenso sobre a relaçãode causa-efeito entre a tecnologia usadapelas redes sociais e uma eventual mu-dança de comportamento de seus usuá-rios. Nas últimas semanas, ÉPOCA con-versou com uma dezena de especialistasem comportamento, sociólogos e estu-diosos da internet, e a maioria acreditaque os algoritmos são apenas uma ferra-menta na mão de uma sociedade que hátempos carece de ponderação na discus-são de ideias. Leonardo Lazarte,professorde internet e sociedade na Universidadede Brasília (UnB), lembra que o ambien-te em algumas dessas comunidades nasredes sociais é muito semelhante ao vistoem gangues. A pessoa entra no grupo eprecisa passar por provas para ganhar aconfiança dos outros. “A diferença é queisso é amplificado no mundo virtual”,diz.

De acordo com dados da SaferNet,ONG dedicada à defesa de direitos nainternet, o Facebook domina hoje quase50% das denúncias de páginas e perfisdedicados ao ódio e à intolerância. Entre2013 e 2014, o número de denúncias depáginas e perfis no Facebook saltou de16.600 para 26.800. Os destaques nega-tivos ficaram para as denúncias relacio-nadas a racismo (de 6.800 para 12 mildenúncias) e xenofobia (de 336 para4.500). Segundo Rodrigo Nejm, diretor

da SaferNet, o número reflete também aexistência de novos canais para registraros crimes. “O discurso de ódio sempreexistiu, mas é um novo ambiente social.Isso reflete a postura das pessoas usandoessas ferramentas”, diz. “É fundamentalque as pessoas tenham noções de cida-dania desde os primeiros cliques. Tam-bém é preciso incorporar políticas pú-blicas para tratar de direitos humanos eliberdade de expressão.”O Facebook dizque criou mecanismos para receber de-núncias de ódio, racismo e intolerância.“Queremos promover uma plataformalivre, aberta e segura para as pessoas”, dizBruno Magrani, diretor de políticas pú-blicas do Facebook Brasil. Falta pensarem algo que promova o debate de ideiasque caracteriza um espaço genuinamen-te democrático.

O Brasil sofre de um problema crô-nico de educação virtual. Somos ima-turos. A sensação de segurança mistura-se a uma falsa ideia sobre a liberdade deexpressão. Sérgio Ferreira do Amaral,professor do Departamento de CiênciasSociais na Educação da Unicamp, ex-plica que a ideia de estar livre para dis-seminar comentários maldosos acon-tece porque a pessoa acredita que nãoserá encontrada, já que a internet é umaplataforma recente.

Além disso, a sociedade precisa apren-der a se reorganizar em rede. Para o cien-tista social Marco Aurélio Nogueira, daUniversidade de São Paulo, a internet sepopularizou em meio ao enfraquecimen-to de instituições que tradicionalmenteajudavam a organizar comunidades. Aescola, a igreja, a família, os sindicatos eos partidos estão perdendo a influência.As pessoas estão buscando as respostasna internet. “A cultura brasileira, tradi-cionalmente, nunca incorporou o confli-to e a divergência, algo inerente ao am-biente de internet”, diz Nogueira. “Acultura de rede ainda não se fixou emtermos éticos na vida brasileira. Não te-mos uma cultura de boas maneiras. Agente nem sequer sabe o que queremosda vida em rede.” Precisamos repensar opapel social das redes sociais. Caso con-trário, a internet, que cresceu e se desen-volveu como uma poderosa ferramentademocrática, corre o risco de alimentar oódio, a intolerância e o autoritarismo. u

E X P E R I Ê N C I A S D I G I TA I S

Número de denúnciasde páginas no Facebook

A ESCALADA DAINTOLERÂNCIA

Dados da ONG SaferNetmostram como a intolerânciacresce no Facebook. Racismoe xenofobia avançaram mais

Participação do Facebook nasdenúncias de redes sociais

Fonte: SaferNet

2013

16.672

2014

26.883

2013 2014

Racismo

Xenofobia

HomofobiaIntolerância religiosa

Neonazismo

Apologia e incitaçãoa crimes contra a vida

31,5% 49,2%

2013 2014

4.587

3.322

624420312

12.041OS ALVOSO crescimentodas denúnciaspor tipo deconteúdo. Apenashomofobia caiu

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