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Reportagem Maria Clara Vieira Fotos Guto Seixas / Editora Globo “BALA” DE PARA SEU FILHO dormir? É crescente o número de famílias que usam a substância sem prescrição médica na tentativa de fazer as crianças adormecerem. Conheça os riscos dessa prática e entenda tudo sobre o hormônio do sono: como age no organismo, os cuidados necessários e os casos em que a melatonina é realmente necessária Nos Estados Unidos, onde a melatonina é comercializada livremente, um vidro com 30 comprimidos pode custar de US$ 1,80 a US$ 10 53 52 CAPA

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Reportagem Maria Clara Vieira Fotos Guto Seixas / Editora Globo

“BALA” DE

PARA SEU FILHO

dormir?É crescente o número de famílias que usam a

substância sem prescrição médica na tentativa de fazer as crianças adormecerem. Conheça os riscos dessa prática e entenda tudo sobre o hormônio do sono:

como age no organismo, os cuidados necessários e os casos em que a melatonina é realmente necessária

Nos Estados Unidos, onde a melatonina é comercializada livremente, um vidro com 30 comprimidos pode custar de US$ 1,80 a US$ 10

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Você pode nunca ter ouvido falar da melatonina, mas depende dela todas as noites para dormir, assim como o seu filho. Conhecida como hormônio do sono, essa substância é produzida pelo próprio organis-mo, mas também pode ser encon-trada à venda em potinhos, na for-ma de comprimido, gotas, cápsulas ou balas. No Brasil, a comercializa-ção de melatonina é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sa-nitária (Anvisa) mas muitos pais e mães têm adquirido o hormônio em lojas de conveniência e supermerca-dos dos Estados Unidos, onde não há necessidade de receita. Outros compram em lojas virtuais ameri-canas e recebem o produto em casa.

Segundo relatos médicos, cada vez mais famílias brasileiras che-gam ao consultório pediátrico pe-dindo informações sobre a substân-cia, com o objetivo de fazer o filho dormir – seja porque viram na in-ternet ou porque algum conhecido toma. Isso quando não ministram a melatonina para a criança por con-

ta própria, achando que se trata de algo “natural”, e só depois pergun-tam a opinião do pediatra.

Não há dados no Brasil, mas, nos Estados Unidos, onde o pro-duto tem sido obtido, os números são surpreendentes. Um levanta-mento do Nutrition Business Jour-nal revelou que as vendas de me-latonina aumentaram 500% de 2003 a 2014 (de US$ 62 milhões para US$ 378 milhões). Embora esse valor seja do consumo em ge-ral e não especificamente infan-til, o crescimento continua sendo considerável. Mesmo porque, as

prateleiras estão cheias de opções de melatonina com sabores, cores e formatos voltados para as crian-ças. Em lojas virtuais, é possível en-contrar o hormônio produzido por uma infinidade de marcas, em dife-rentes dosagens e por preços varia-dos. Um vidro com 30 comprimidos pode custar de US$ 1,80 a US$ 10.

TODO CUIDADO É POUCO“O uso deve ser feito com muita cautela e sempre sob orientação mé-dica. Existem poucos estudos cien-tíficos sobre o efeito do consumo contínuo da melatonina em crian-ças”, afirma a pediatra Simone Cha-ves Fagondes, presidente do Depar-tamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pe-diatria (SBP). A falta de evidências consistentes é um dos principais fa-tores que trazem dúvidas aos espe-cialistas. Uma revisão de estudos realizada pela Sociedade Canaden-se de Pediatria concluiu que todas as pesquisas feitas não conseguem garantir a plena segurança do uso em crianças saudáveis justamente porque não foram testados os efei-tos e a eficácia da substância no lon-go prazo. Já experimentos com ratos revelam que a melatonina sintética pode alterar o sistema metabólico, cardiovascular e reprodutivo,

COMO FUNCIONA? A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, que fica bem no centro do cérebro. Segundo o médico e pesquisador da Universidade de São Paulo, José Cipolla Neto, cerca de 0,1 mg da substância é liberada no organismo toda noite, quando o ambiente começa a escurecer. Ela sinaliza ao corpo que está chegando a hora de dormir. Apenas em casos específicos e pouco frequentes (como cegueira total, autismo ou lesões neurológicas, entre outros) não acontece a produção desse hormônio e, então, é preciso fazer uso da melatonina sintética de acordo com a indicação médica.

PARECE DOCE, MAS É REMÉDIOÉ comum encontrar potes de melatonina no exterior que trazem a substância na forma de balas mastigáveis, com cores e sabores que atraem as crianças. Até em formato de ursinho existe. Embora isso possa facilitar o momento de ministrar o medicamento, os pais devem lembrar que, apesar da aparência, ela não é uma simples balinha. E as crianças também precisam saber disso. O ideal é optar pela melatonina em formatos que pareçam mais medicamento do que doce – recomendação que, aliás, vale para qualquer remédio. “A criança pode achar que é comida e ingerir o pote inteiro. Isso é um perigo. Remédio é remédio”, alerta Rosana Cardoso Alves, neuropediatra da Associação Brasileira do Sono (ABS).

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conforme mostram estudos de dife-rentes instituições, como a Univer-sidade da Carolina do Norte (EUA) e a Universidade de Genebra (Su-íça). Simone explica que, hoje, o hormônio sintético é considerado relativamente seguro apenas para os casos em que há indicação médi-ca, mas alguns efeitos adversos têm sido descritos (em especial se a do-sagem é elevada), como desconfor-to abdominal, pesadelos, agressivi-dade, perda de apetite e puberdade tardia ou precoce. Por isso, deve-se recorrer ao produto somente em si-tuações bem específicas.

Os pais que ministram melatoni-na aos filhos sem o devido respal-do médico devem entender a gra-vidade do que estão fazendo. “Isso é uma barbaridade. A melatonina é um hormônio e ninguém toma hormônio sem consultar o médico. Será que dariam testosterona ao fi-lho sem indicação? Não é porque a melatonina é vendida nos Estados Unidos sem receita que o uso pode ser indiscriminado. Há uma série de cautelas que o paciente precisa ter, como a dosagem e o horário em que toma”, ressalta José Cipolla Ne-to, médico e pesquisador da mela-tonina há quase 40 anos no Institu-to de Ciências Biomédicas da USP.

POR QUE NÃO VENDE NO BRASIL? Em nota à CRESCER, a Anvisa informou que o comércio da melatonina é proibido no país porque “nenhuma empresa solicitou o registro de um medicamento com esta substância. No entanto, a legislação garante que pacientes que tenham a indicação de uso feita por um profissional médico possam importar, seja via bagagem de mão ou pela internet. As autoridades sanitárias podem solicitar a receita na entrada do produto no país”. Em resumo: não é possível comprar em território nacional, mas tudo bem trazer o produto de fora, desde que você tenha a prescrição de um médico.

UMA FORCINHA PARA DORMIRO fotógrafo Guto Seixas, 42 anos, é adepto da melatonina há mais de um ano. Ele ministra a substância espo-radicamente à filha Anita, 3 anos e 10 meses. “Não é algo regular. Ela só toma quando está muito agitada. Por exemplo, a gente viaja mui-to, geralmente à noite. Às vezes, quando chegamos no destino, de madrugada, ela está pilhada e que-rendo brincar. Então, decidimos buscar uma alternativa. O meu pai toma melatonina para dormir há bastante tempo e eu descobri que tinha versão para criança tam-bém. Pesquisei a menor dose dis-ponível e pedi para uns amigos trazerem dos Estados Unidos. Per-cebi que ela dá um sono gradual. O homeopata da minha filha disse que o ideal é não tomar nada, mas que de vez em quando não tem pro-blema”, conta Seixas.

Segundo o pediatra e neonatolo-gista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da SBP, antes de utili-zar a melatonina é preciso passar por avaliação com um especialis-ta em sono. “Crianças saudáveis e que não apresentam dificulda-de para dormir não devem usar. Muitas vezes, a questão é apenas comportamental e não requer me-

dicamento”, comenta o médico. Ele diz ainda que, antes de recorrer à melatonina, é indicado observar a rotina para corrigir eventuais hábi-tos que possam estar dificultando o sono da criança.

ESTRATÉGIA TEMPORÁRIANa casa da nutricionista Patrícia Cruz Smith, 44 anos, a hora de co-locar o filho na cama costumava ser um pequeno caos. Adan, 5, tinha di-ficuldade para aquietar o corpo e a mente antes de dormir. Isso se in-tensificou na fase em que precisou enfrentar a transição da cama com-partilhada com os pais para o so-no sozinho em seu próprio quarto. “Tentamos de tudo, inclusive técni-cas de ioga e medicina chinesa pa-ra relaxar. Eu contava histórias e ele sempre pedia mais uma. Também expliquei a importância do sono, pa-ra ele poder crescer e ter energia pa-ra brincar. Nada funcionava. Então, comecei a pesquisar na internet e en-contrei alguns artigos sobre a mela-tonina”, lembra Patrícia.

Porém, antes de recorrer à subs-tância, a mãe levou a questão das noites mal dormidas à psicóloga. “Ela me disse que o meu filho estava ha-bituado a dormir com a gente e não gostava de ficar sozinho. Então, tive a ideia de usar a melatonina tempo-rariamente, apenas para ele entender a importância do sono e se habituar a dormir no próprio quarto”, relata. Mas o plano só foi colocado em prá-tica com o aval do pediatra. “O médi-co disse que tudo bem, e que o filho dele também usava”, conta. Em uma viagem aos Estados Unidos, no últi-mo mês de novembro, Patrícia optou por comprar a melatonina em forma de comprimido mastigável. “No co-meço, fiquei com medo por estar

É NATURAL?Algumas embalagens de melatonina sintética dizem que o produto é “uma ajuda natural para o sono das crianças”. Mas, não se engane: trata-se de mero marketing para vender mais. Nesses mesmos potes, em letras miúdas, vem escrito que tal sentença não tem o aval do FDA (órgão americano similar à Anvisa). A própria Tired Teddies, uma empresa que fabrica a melatonina na forma de ursinhos mastigáveis, alerta em seu site: “antes de ministrar a substância a qualquer criança, consulte a opinião de um pediatra”. Natural mesmo, para acalmar e ajudar crianças saudáveis a cair no sono, só suco de maracujá ou chá de ervas como camomila, jasmim e erva-doce. Os médicos afirmam que embora isso seja de conhecimento muito mais empírico do que científico, não há problema em oferecer à criança, por não haver efeitos colaterais.

Vivian da Costa, 33 anos, descobriu que o filho Allan, 6, tem uma síndrome rara que impede a produção natural de melatonina. No caso dele, o uso da substância sintética é essencial para dormir

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induzindo o sono do meu filho, mas pareceu espontâneo: depois de usar a melatonina, ele conseguia dormir na metade da história que eu con-tava. Dei o comprimido por uma semana, toda noite. Notei que ele começou a ter mais sonhos e pesa-delos. Então, fomos diminuindo a dose gradualmente até parar. Ago-ra ele consegue dormir sozinho”, re-lata a mãe.

QUANDO É INDISPENSÁVELO uso do hormônio do sono só é realmente indicado pelos médicos para aqueles casos em que o cor-po da criança não produz melato-nina ou produz em pouca quanti-dade. Nessas situações, que não são frequentes, a substância faz toda a diferença na vida das famílias. “A indicação acontece quando a crian-ça tem autismo, cegueira total, le-são neurológica, doença grave ou algum problema cerebral impor-tante”, esclarece Gustavo Antônio Moreira, pediatra especialista em Medicina do Sono e membro da As-sociação Brasileira do Sono (ABS).

Felipe, 3 anos e 9 meses, se encai-xa exatamente em uma dessas situa-ções. Filho da dona de casa Marcela Gomes, 34 anos, o menino passava a noite acordado numa boa. Quan-do dormia, era durante o dia e ape-nas por curtos períodos. “Ele sem-pre passava a noite como se fosse dia. Quando tinha 1 ano e 8 meses, levamos a um neuropediatra. Além de não dormir, o meu filho ainda não sabia dizer mamãe e papai. O diagnóstico do autismo veio logo e uma especialista descobriu que ele não produz melatonina”, relembra Marcela. Hoje, Felipe usa o hormô-nio toda noite na forma de pastilha mastigável e dorme de oito a no-

ve horas consecutivas. “Funcionou muito bem. Foi o que nos salvou”, comemora a mãe.

UM CASO RARO Mãe de três meninos, a fisioterapeu-ta Vivian Paola da Costa, 33 anos, não descansou até descobrir o mo-tivo de seu caçula não dormir. “Des-de bebê, o Allan não dormia bem. Conforme ele crescia, tentamos de tudo. Era exaustivo. Ele acordava a noite toda, nunca dormia horas se-guidas. O pediatra chegou a recei-tar doses altas de um remédio que o apagava. Era horrível e já não es-tava fazendo tanto efeito. Foi en-tão que ele fez um exame bastante específico e descobrimos uma sín-drome genética rara, chamada Smi-th-Magenis, que causa alteração de humor, problemas cardíacos, atra-so na fala e na coordenação moto-ra e, principalmente, o distúrbio do sono”, declara ela.

Após consulta com uma neurolo-gista especialista em sono, Vivian compreendeu que a falta de me-latonina era o que causava todo o transtorno na hora de dormir. Ho-je, Allan tem 6 anos e consegue dor-mir à noite graças ao uso contínuo da substância que seu corpo não produz. “Ele já toma há dois anos e não notei efeitos colaterais”, conta Vivian. “Para o meu filho, a melato-nina é uma questão de qualidade de vida. Agora que dorme, ele evoluiu. Progrediu em todos os aspectos.”

Então, fica o recado dos pedia-tras: se a criança não tem nenhum problema específico, ela não preci-sa da melatonina, e sim de mudan-ças de hábito e rotina (além de mui-ta paciência dos pais). A seguir, confira um be-á-bá com dicas para o sono do seu filho.

Especialmente em viagens, alguns pais dão aos filhos um remédio para

evitar enjoos, cujo princípio ativo é o dimenidrinato. Ele pode causar sonolência e, não raro, as famílias ministram a substância justamente

para fazer a criança dormir. Mas tal prática é desaconselhada

pelos médicos. Em primeiro lugar, porque o medicamento deve ser prescrito por um pediatra para

fins específicos. Depois, é preciso lembrar que “o efeito do sono

que ele traz é temporário. Usar o dimenidrinato com essa finalidade não é uma indicação formal e, por

isso, é desaconselhado”, esclarece a neuropediatra Rosana Cardoso Alves,

da Associação Brasileira do Sono. Outra técnica popular são os livros

infantis que prometem fazer a criança adormecer. O mais famoso dos

últimos tempos é O Coelhinho que Queria Dormir, do psicólogo sueco

Carl-Johan Forssén Ehrlin. Traduzida para sete idiomas, a obra tem sido

sucesso de vendas e é recomendada dos 2 aos 8 anos. O truque está na

leitura lenta, repetições de palavras e bocejos pontuais ao longo do enredo, o que ajudaria a criança a relaxar. Se dá certo ou não, cada família é que

deve dizer. A única certeza é que mal não faz, já que a leitura é sempre

muito bem-vinda.

O Coelhinho que Queria Dormir, texto Carl-Johan Forssén Ehrlin e ilustrações de Silvana Rando,

Companhia das Letrinhas,R$ 20. A partir de 2 anos.

OUTRAS TÁTICAS

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Colocar as crianças na cama está sendo um pesadelo? Você se arrepia só de

pensar em enfrentar as mil desculpas que surgem na hora de dormir? Entenda o que mudar na rotina para que toda a

família possa ter uma boa noite de sono

Reportagem Maria Clara Vieira

A ZADISPOSITIVOS ELETRÔNICOSO uso de televisão, smartphone, tablet ou computador deve ser evitado uma hora antes de ir para a cama. “A luz das telas interfere na liberação do hormônio do sono. Além disso, jogos e desenhos

podem ser estimulantes e mantê-lo acordado”, explica Simone Chaves Fagondes, presidente do Departamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP).

COLO “O bebê ficou nove meses no útero materno, que é aconchegante. Por isso, logo que nasce, não entende que deve dormir em um berço onde se sente

desamparado. É uma transição. A mãe tem que sentir os momentos em que pode ir experimentando o berço de forma tranquila”, comenta Deborah Moss, neuropsicóloga e consultora de sono infantil (SP). Aos poucos, o bebê precisa aprender a pegar no sono sem ser embalado para não depender sempre do colo.

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CAMBIENTETudo começa com a preparação de um ambiente que contribua com o relaxamento. Televisão com som alto, agitação e barulho de conversa só fazem a criança querer partipar da bagunça. Portanto, tranquilidade é a palavra-chave. A casa deve se silenciar e a intensidade das luzes precisa diminuir conforme a hora de ir para a cama se aproxima. Mantenha o quarto escuro. Caso o seu filho tenha medo, acenda uma lâmpada de tomada ou um abajur com luz fraca (a de cor azul, segundo os médicos, pode ser uma boa opção para pegar no sono).

EXERCÍCIOS Crianças que brincam e fazem atividades físicas durante o dia costumam dormir mais e melhor à noite. Um estudo da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) descobriu que aquelas que se exercitam caem no sono bem antes do que as sedentárias. Mas atenção ao horário! De acordo com os médicos, a atividade deve ser realizada no máximo até as 18 horas. Depois disso, pode haver o efeito contrário, já que o exercício é estimulante.

FRIO Para dormir numa boa, o clima no quarto da criança deve estar agradável – nem frio nem quente demais. Ao vestir o pijama no bebê, pense que ele deve usar

uma camada de roupa a mais do que o adulto. Lembre-se de nunca colocar a coberta muito perto da cabeça para não sufocar (o ideal é posicioná-la embaixo dos bracinhos da criança). Uma alternativa segura para os bebês e recomendada pelos pediatras é o uso de saquinhos de dormir, que evitam a asfixia.

BANHO Quem não gosta de um bom banho antes de deitar? Para as crianças isso também vale. O hábito pode fazer parte da rotina de sono porque o simples fato de interagir com a água ajuda a relaxar.

“No inverno, tem que tomar cuidado para o corpo da criança não esfriar durante a troca. Vale antecipar um pouco a hora do banho para o fim da tarde ou ligar um aquecedor caso a temperatura do ambiente esteja muito baixa”, explica a pediatra Wylma Hossaka, da Beneficência Portuguesa (SP).

GATO, CACHORRO... Quem nunca assistiu na internet um daqueles vídeos fofos em que a criança dorme tranquilamente ao

lado de um gato ou cachorro? Mas, afinal, pode ou não pode? A resposta dos médicos é unânime: não. Ainda que o convívio com bichos de estimação faça muito bem para o desenvolvimento infantil, isso não significa que eles devam dividir a cama ou o berço com a criança. Os animais, por mais limpos que aparentem ser, trazem no corpo micro-organismos que podem causar alergias e infecções diversas.

HISTÓRIASContar histórias (seja lendo um livro ou inventando a narrativa) é muito positivo para o desenvolvimento cognitivo e

contribui com a formação de vínculo entre os cuidadores e a criança. Antes de dormir, o hábito também acalma e prepara para o sono. “Além de ser prazerosa, a prática estimula o gosto pela leitura. Sempre recomendo que a criança ainda esteja acordada quando a narrativa acabar. Se ela dormir no meio da história, pode ser que, caso acorde no meio da noite, fique assustada procurando pelos pais e os chame para descobrir o fim do enredo”, relata a neuropsicóloga Debora Moss.

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INSÔNIA Na infância, a insônia é diferente daquela que

os adultos têm. Entre as crianças, a questão é mais comportamental, ou seja, está relacionada com o fato de acordar no meio da noite, não saber pegar no sono sozinha ou fazer birra como forma de prorrogar o horário de dormir. “O mais comum é a dificuldade de adormecer e se manter dormindo. Isso costuma acontecer quando a criança dorme na cama dos pais, na cadeirinha do carro ou no colo, por exemplo. Então, ao acordar à noite sozinha, ela se assusta e não consegue voltar a dormir porque não encontra a mesma situação em que está habituada a pegar no sono”, ensina a pediatra Simone Fagondes, da SBP.

JANTAR A refeição da noite deve acontecer cerca de duas horas antes de a criança se deitar, para evitar mal-estar. O prato precisa ser saudável e balanceado – evite os alimentos gordurosos e pesados como pizza, fritura e lanches (que além de tudo não são saudáveis!). A combinação de arroz, feijão, legumes cozidos e uma fonte de proteína costuma ser uma boa escolha pela fácil disgestão, assim como as sopas.

KIT BERÇOMuitos acham que as almofadas decorativas que cercam o berço oferecem conforto e segurança, mas é o contrário. Como o bebê não tem os mesmos reflexos de um adulto, ele pode encostar a face na almofada e morrer por sufocamento. Por esse motivo, a recomendação oficial dos pediatras é que a criança durma em uma superfície plana e livre, para conseguir respirar. Paninhos, bichos de pelúcia, travesseiros e almofadas são altamente desaconselháveis.

LEITE Tudo bem oferecer leite um tempo após o jantar, antes de a criança dormir. Mas cuidado para não extrapolar o volume

que ela está acostumada a tomar normalmente. Sempre que possível, espere o bebê arrotar para diminuir o risco de regurgitar durante o sono. E nada de engrossar a mamadeira com farinhas. Açúcar e achocolatado também são proibidos pelos pediatras. Além de não serem saudáveis e contribuírem para a obesidade infantil, esses aditivos deixam a criança desperta, pois dão energia. Cuide sempre de fazer a higiene bucal para evitar o aparecimento de cáries.

MÚSICACantar antes de a criança dormir, quando ela já está na cama, pode fazer

parte de uma rotina saudável do sono. Outra opção relaxante é cantar enquanto faz uma massagem no bebê após o banho. Em todo caso, assegure-se de parar enquanto a criança ainda está acordada. Assim, ela não irá se assustar caso desperte à noite e não ouça sua voz. Música clássica também pode ser usada para acalmar as mais ansiosas. Alguns pediatras, no entanto, afirmam que não é necessário recorrer a esse tipo de artifício. Fica a critério da família.

NOITE PELO DIAMuitos pais se queixam que o bebê recém-nascido não dorme a noite inteira. É assim mesmo: nos três primeiros meses, os padrões de sono-vigília ainda estão

se acertando. No sexto mês, o sono costuma estar mais concentrado durante a noite. “Quando a troca acontece com crianças maiores, pode ser que ela durma mal durante a noite e tente compensar de dia, e aí vira uma bola de neve. É preciso estabelecer uma rotina”, explica Debora Moss.

OLHOS SEMIABERTOS Sabe quando a pálpebra não fecha completamente e dá para ver uma frestinha do olho durante o sono? Não precisa se preocupar, porque isso é comum e não afeta o

descanso da criança. “Isso pode desidratar um pouco o olho, então os pais podem completar a oclusão”, aconselha a pediatra Wylma.

POSIÇÃOÉ quase impossível a criança acordar na mesma posição em que dormiu. Especialmente as maiores costumam se movimentar muito durante a noite. Mas, para os bebês, os pediatras têm uma recomendação clara: dormir de barriga para cima é o melhor em termos de segurança. De lado, a capacidade respiratória fica comprometida. Colocar de bruços é a pior escolha, pois a criança fica vulnerável a engasgar caso regurgite e aumentam as chances de morte súbita. Caso seu bebê se vire, o ideal é reposicioná-lo da maneira correta para minimizar os riscos. Vale lembrar que o colchão do berço pode ser inclinado em até 40 graus para evitar regurgitações.

QUARTO Deixar seu filho ajudar na escolha de roupa de cama e dos acessórios de decoração pode ser um incentivo a mais para gostar de dormir – além de contribuir com a transição do berço para a cama. Mas o fundamental mesmo são

as condições de conservação: o quarto deve ser livre de poeira, ácaros e mofo, que podem prejudicar a respiração e, consequentemente, o sono. Outra dica válida, da Academia Americana de Pediatria, é que o cômodo não tenha TV. A medida ajuda a criança a dormir mais e melhor.

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ZZZZ... Silêncio? Paz? Ele está dormindo bem. Então, relaxe e curta uma boa noite de sono você também!

ROTINAEla é fundamental para a criança dormir bem. O seu filho deve saber que ele e toda a família

têm hora para ir para a cama e para levantar. Cabe aos pais estabelecer isso. Mas a rotina vai além do relógio: ela também engloba a repetição de hábitos positivos, como um jantar apropriado e interações relaxantes antes de dormir (contar histórias, conversar sobre o dia da criança etc.).

SONAMBULISMO Trata-se de um transtorno do despertar frequente entre as crianças e costuma ser hereditário. Pesquisas mostram que se um dos pais já teve episódios de sonambulismo, a chance de

que o filho tenha é grande. Quando ambos os pais apresentam o histórico, então aumenta mais ainda o risco de que a criança também desenvolva o transtorno. Apesar de poder assustar os pais, o sonambulismo não traz grandes problemas e tende a diminuir conforme a criança cresce. O que mais preocupa é o riso de quedas e machucados que podem acontecer enquanto ela anda pela casa. Como não está consciente, tudo oferece potencial risco. É por isso que os médicos recomendam trancar portas e colocar grades ou redes nas janelas como medida de segurança.

VIAGEMTente manter a rotina e nada de ir para a cama tarde demais. Se no destino não tiver berço, leve um portátil (certificado pelo Inmetro). Para as crianças maiores que já usam cama, é suficiente levar uma manta, travesseiro ou naninha, para que ela tenha algo familiar caso estranhe o ambiente. No carro, seu filho nunca pode dormir deitado no banco – há risco de se ferir nas frenagens. Deixe-o na cadeirinha e apoie o pescoço em um travesseiro. Em aviões, bebês de até 10 quilos podem dormir em berços oferecidos pela companhia aérea (cheque a disponibilidade do serviço com antecedência).

WI-FIOs roteadores de internet sem fio

emitem ondas eletromagnéticas. Será que isso atrapalha o sono? A resposta dos médicos é: não. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não há indícios convincentes de que o Wi-Fi cause efeitos adversos à saúde. “Não há evidência científica de que essas ondas interfiram no sono. A questão é muito mais o uso desmedido que se faz dos eletrônicos antes de dormir”, diz o neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

XIXI Apesar de atrapalhar o sono (porque a criança acaba acordan-do), o escape noturno é comum e não traz maiores problemas. Para evitar a situação, respeite a fisiologia de seu filho e não

antecipe etapas. “A criança tem até três ou quatro anos para fazer o desfralde noturno. É preciso observar se ela está madura. O processo só pode acontecer quando o desfralde do dia está bem sedimentado”, afirma Farias. Se o xixi escapar, não brigue com a criança. Isso pode complicar a situação. Caso persista além dos 6 anos, procure a opinião de um pediatra.

Y OU X Se você acha que o sexo da criança faz ela ser mais ou me-nos dorminhoca, saiba que está enganado. Os cromossomos sexuais (X e Y) não estão relacionados às horas de descanso.

O que manda é a idade. Conforme ela cresce, precisa de menos tempo de sono por dia. Confira a tabela de tempo de sono recomendado pela organiza-ção americana National Sleep Foundation para um período de 24 horas:

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TERROR NOTURNO Esse transtorno do despertar é bem

diferente do pesadelo, que não passa de um sonho ruim. A criança que tem terror noturno se senta na cama no meio da noite enquanto grita, chora e diz coisas incompre-ensíveis. Os batimentos cardíacos se aceleram e respiração fica ofegante. Parece assustador, não? É daí que vem o nome. Mas pode ficar tranquilo. Apesar de a situação impressionar os pais, a criança não costuma se lembrar de nada, pois não está consciente no episódio. A recomendação é acolher o seu filho sem acordá-lo, até que ele se deite novamente. Segundo o Instituto Brasileiro do Sono, 3% das crianças têm terror noturno em algum momento da vida, principal-mente entre 5 e 7 anos.

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0 a 3 meses:

4 a 11 meses:

1 a 2 anos:

3 a 5 anos:

6 a 13 anos:

11 a 19 horas

10 a 18 horas

9 a 16 horas

8 a 14 horas

7 a 12 horas

ÚTEROSe as cólicas e os desconfortos dos primeiros meses

de vida estão tirando o sono do seu recém-nascido, talvez ele precise lembrar do aconchego que havia no útero materno. Nesses casos, é válido tentar um método simples e embasado em evidências científicas: quando o bebê estiver com dor, use um balde com água morna para fazer um tipo de ofurô e coloque-o lá dentro. Segure a cabeça dele para fora de forma segura. O objetivo é criar um ambiente parecido com a vida intraútero. A sensação será parecida com a bolsa cheia de líquido amniótico e o fará relaxar. Enquanto o seu filho curte o ofurô, converse suavemente, da mesma forma que fazia quando ele ainda estava na barriga.

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No site A importância do sono para o aprendizado e prós e contras da cama compartilhada.

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