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Vice-presidente do TRT-17 defende eleições diretas para tribunais, o que seria o primeiro passo para democratizar o Poder Judiciário — para ele, ainda muito conservador e autoritário Jornal da EXCLUSIVO: Carlos Henrique Bezerra Leite em diálogo franco e aberto com a Amatra XV Julho / 2012 Edição 23 Ano 10

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Page 1: EXCLUSIVO: Carlos Henrique Bezerra Leite em diálogo franco ... · Trabalho da 15ª Região (a saber, o seu Órgão Especial Administrativo — art. do RITRT-15—eoseuTribunalPlenoAdminis-trativo

Vice-presidente do TRT-17 defende eleições diretas paratribunais, o que seria o primeiro passo para democratizar o

Poder Judiciário — para ele, ainda muito conservador e autoritário

Jornal da

EXCLUSIVO: Carlos HenriqueBezerra Leite em diálogo franco

e aberto com a Amatra XV

Julho / 2012Edição 23

Ano 10

Page 2: EXCLUSIVO: Carlos Henrique Bezerra Leite em diálogo franco ... · Trabalho da 15ª Região (a saber, o seu Órgão Especial Administrativo — art. do RITRT-15—eoseuTribunalPlenoAdminis-trativo

Editorial

Para mais democraciaA Associação dos Magistrados da Jus-

tiça do Trabalho da 15ª Região – AmatraXV inaugura oficialmente, com o presenteeditorial, a sua modesta campanha insti-tucional para a obtenção regimental deassento e voz nos órgãos deliberativosadministrativos do E. Tribunal Regional doTrabalho da 15ª Região (a saber, o seuÓrgão Especial Administrativo — art. doRITRT-15 — e o seu Tribunal Pleno Adminis-trativo — art. do RITRT-15). A pretensão jáfoi publicamente externada ao Presiden-te do E. Tribunal Regional do Trabalho da15ª Região, Des. Renato Buratto, a quemsolicitamos apoio, e o requerimento seráprotocolizado na primeira semana domês de agosto. Da mesma maneira, a Di-retoria da Amatra XV já tem feito contatosinformais com diversos Desembargado-res, no sentido de sensibilizá-los, esclare-cê-los e/ou convidá-los a se alinhar co-nosco nessa singela — mas importante —reivindicação.

E por que o assento e voz?

Porque a Magistratura nacional — e, éclaro, os tribunais que a abrigam — sãoinstituições permanentes a que a vonta-de popular originária acometeu a missãoconstitucional de preservar e desenvolvero Estado Democrático de Direito, não ape-nas para fazer valer a vontade concretadas maiorias, como também — e sobretu-do — para fazer valer os princípios consti-tucionais estruturantes que animam a de-mocracia republicana, entre os quais osprincípios da representação da partici-epação (J. J. GOMES CANOTILHO), que sãoextensões do próprio princípio democráti-co ociedade fraterna, plura-, inerente à “slista e sem preconceitos” vaticinada noPreâmbulo da Carta Constitucional de1988. Nesse contexto, já não se concebeque os órgãos administrativos soberanosdos tribunais judiciais possam deliberarsem a participação ativa das entidades as-sociativas que representam as magistra-turas, por meio do voto direto e universalde todos os juízes de 1º e 2º graus. Alhu-res já se autorizou até mesmo, às associa-ções, a iniciativa para emendas regimen-tais (TRT da 17ª Região); aqui, por agora, oque se pede é tão-só a oportunidade regi-mental de tomar assento nas sessões ad-ministrativas e ver assegurado o direitode voz nos assuntos de interesse da Asso-ciação e/ou dos juízes que representa,em caráter individual ou coletivo, exer-cendo com plenitude o seu direito consti-tucional de representação legítima, nostermos do art. 5º, XXI, da Constituição daRepública.

Porque tais garantias já estão consoli-dadas em diversas instâncias decisóriasadministrativas, com saudáveis frutos pa-ra a democracia e a consequente constru-ção de um espaço público dialógico legi-timador das respectivas decisões (J. HA-BERMAS). É o que se verifica, hodierna-mente, em diversos conselhos judiciais,

como no Conselho da Justiça Federal (emque tem assento e voz o Presidente daAjufe) e no Conselho Superior da Justiçado Trabalho (em que tem assento e voz oPresidente da Anamatra). É também oque se dá atualmente no Tribunal Regio-nal do Trabalho da 18ª Região, em que orepresentante da Amatra XVIII toma as-sento ao lado do Ministério Público doTrabalho; e o que se dá, com maior oumenor abrangência, em vários outros re-gionais, destacando-se, pelo seu denoda-do espírito democrático, as iniciativas doTRT da 17ª Região (em que inclusive já secogita do ), do TRT da 9ª Re-direito de votogião e do TRT da 4ª Região. Em todos es-ses casos, registre-se, sem qualquer ne-cessidade de concessão paritária a outrasassociações de classe. O Judiciário rege-se por juízes.

Porque a Amatra XV pode efetiva-mente contribuir para um debate maisplural e informado. Ter assento e voz nassessões administrativas do Tribunal Regi-onal do Trabalho da 15ª Região significaráter a oportunidade de esclarecer os de-sembargadores, durante as sessões doÓrgão Especial e do Tribunal Pleno Admi-nistrativo, a respeito de questões e aspec-tos que eventualmente não tenham sidoventilados nas relatorias naturais, ou mes-mo que ainda não sejam do conhecimen-to de todos os pares. Propiciará o melhorensejo institucional para esclarecimentose contemporizações. E, porque não acres-centar, fortalecerá as decisões adminis-trativas daqueles órgãos, naquilo em quese convergir, com o beneplácito de umarepresentação constitucional diretamen-te eleita que alcança toda a Magistraturada 15ª Região, no primeiro e no segundograu de jurisdição.

Porque, enfim, é esse o inexorável fu-turo. Futuro inclusive antecipado, mais oumenos explicitamente, nas falas dos pre-sidentes de ambas as instituições — TRT-15 e Amatra XV —, ao tempo de suas pos-ses. Enquanto os juízes do Trabalho nãovotarem universalmente para as eleiçõesdos dirigentes de seus tribunais, a únicamaneira de torna-los corresponsáveis pe-los destinos do Poder Judiciário é fazê-losfalar, a tempo e modo, pelas associaçõesque os representam. Não para o conflito i-deológico, mas para a construção com-partida e o contraponto lhano e saudável,quando couber. Não para dividir, mas pa-ra somar.

É o que a Amatra XV pede e espera.Para agora, sim, mas menos para hoje —em que as atuais gestões já se findam — emais para o amanhã. Que se faça sobretu-do para o futuro, para as gestões e os juí-zes que virão, e para o orgulho democrá-tico do TRT da 15ª Região. Seremos comodeliberarmos ser.

Guilherme Guimarães FelicianoPresidente da Amatra XV

Expediente

AMATRA XV

Associação dos Magistrados da Justiça do

Trabalho da 15ª Região

R. Riachuelo, 473 - Sala 62Bosque - Campinas - SPFones: (19) 3251-9036www.amatra15.org.br

Presidente

Guilherme Guimarães Feliciano

Vice-Presidente

Alessandro Tristão

Secretária Geral

Alzeni Aparecida de Oliveira Furlan

Diretor Financeiro

Luís Rodrigo Fernandes Braga

Diretora Cultural

Maria da Graça Bonança Barbosa

Diretora Social

Teresa Cristina Pedrasi

Diretor de Comunicação Social

Robson Adilson de Moraes

Diretor de Assuntos Legislativos

Valdomiro Ribeiro Paes Landim

Diretora de Benefícios e Convênios

Antonia Sant’ana

Diretora de Aposentados

Maria Vitória Breda Vieites

Comissão Disciplinar

e de Prerrogativas

Titulares

Samuel Hugo LimaFirmino Alves LimaRogerio Jose PerrudSuplentes

Ana Maria de VasconcellosAndrea Guelfi CunhaFabio Natali Costa

Conselho Fiscal

Maria Madalena de OliveiraRita de Cássia Scagliusi do CarmoMarco Antonio Folegatti de Rezende

Diretores Regionais

Sidney Xavier Rovida (Araçatuba)Paulo Bueno C. de Almeida P. Bauer (Bauru)Marco A. de Souza Branco (Pres. Prudente)Amanda Barbosa (Ribeirão Preto)ConceiçãodePetribu Faria (S. J. do Rio Preto)João Batista de Abreu (S. J. Campos)Ronaldo Oliveira Siandela (Sorocaba)

Jornal da Amatra XV

Tiragem: 4.200 exemplaresPublicação Semestral da Amatra XVConselho Editorial: Guilherme GuimarãesFeliciano, Robson Adilson de Moares eWaldir Pecht Jr.Foto Capa:Textos, Fotos e Jornalista Responsável:Waldir Pecht Jr. (MTb 39.757)Projeto Editorial: Daniel Fatini

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O desembargador Carlos HenriqueBezerra Leite fala sobre o caminhosem volta da democratizaçãointerna nos tribunais

Entrevista

Eleições diretasnos tribunais

Comissão deDireitos Humanos

Juíza Patrícia Maeda acompanhouações com procuradores e auditoresem fazendas de café e construção civil

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Diligências com o MPT

Magistradae maratonista

Veja o exemplo da juíza Conceiçãode Petribu Faria, que largou o

sedentarismo para disputarmaratonas pelo mundo

Toga Sarada

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E também...Tempo e Espírito 4

Homenagem 8

6º Comtres 10

Conematra 11

Curso de Tiro 18

Giro de Notícias 19

Sumário

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Jornal AMATRA XVda4

“Se existiu no mundo um homem, poreducação científica e quase por instintocontrário ao Espiritismo, esse fui eu, que,da tese: Ser toda força uma propriedadeda matéria e a alma emanação do cére-bro, havia feito a preocupação mais tenazda vida, eu que havia zombado por mui-to tempo dos Espíritos das mesinhas ... edas cadeiras! Mas se sempre nutri grandepaixão pelo meu lábaro científico, tive ou-tra ainda mais fervorosa: a adoração daverdade, a constatação do fato. Ora eu,que era assim hostil ao Espiritismo, aoponto de não aquiescer por largo tempoem ao menos assistir a uma experiência ,deveria em 1882 , presenciar na qualida-de de neuropatólogo , fenômenos psíqui-cos singular que não encontram nenhu-ma explicação na ciência .” (Cesare Lom-broso – Livro Hipnotismo e Mediunidade -2ª Edição pág. 70).

“Fé inabalável é somente aquela quepode encarar a razão, face a face, em to-das as épocas da humanidade” (do Livro“O Evangelho Segundo Espiritismo”).

A vida das pessoas aqui na terra se de-senvolve, simultaneamente, em duas di-mensões, a material e a espiritual. O cor-po humano é o veículo do espírito que ohabita e dele se serve para se desenvol-ver na caminhada evolutiva a que está de-terminado a realizar. Quando habita ocorpo material, o espírito é chamado dealma e ao deixar o corpo com a chamadamorte, a alma é denominada espírito. Aesse fenômeno de desligamento da almacom o corpo físico, corpo material, dá-seo nome de desencarnação, ou seja, saiuda carne, e ao nascimento dá-se a deno-minação de encarnação.

Ao deixar o plano espiritual para nas-cer aqui na terra e tomar para si um corpomaterial a fim de cumprir a sua necessáriaevolução, é certo que esse espírito deixano plano imaterial, ou chamado plano es-piritual, inúmeros outros que lhes são a-fins, quer por graus de parentescos, querpor amizades vivenciadas em longoscompromissos reencarnatórios.

Da mesma forma acontece quandohá a desencarnação, ou seja, a morte co-mo é chamada a ruptura entre o corpomaterial e o corpo espiritual, a saída da al-ma que o abandona. O mesmo acontecequando há essa separação do corpo ma-terial com a alma, agora chamada espíri-to. Ela deve ser acolhida nesse mundo es-piritual e, também é certo, que deixa naterra, inúmeras pessoas que sentem tris-tezas, saudades, pelo amor e amizadesque os uniam. O desencarnado tambémleva saudade e lembranças que lhes sãocaras.

Esse fenômeno de nascimento e mor-te não se extingue de vez e em grau abso-luto, pois o liame que havia entre essaspessoas, permanece de varias formas ha-vendo de parte a parte, ou seja, entre osencarnados e os desencarnados, ligaçõesde energia de vários sentimentos, quenão se rompem para sempre. As comuni-cações entre os dois planos continuam, a-través dos sonhos, das lembranças, dassaudades e outras tantas energias, masnão só essas energias de sentimentos ede saudades que atuam na desencarna-ção, porque algumas são de fervorosas o-rações que mantém o fluido de ligaçõesentre os planos de vida, o plano da maté-ria e o plano espiritual. Para amenizar ador da separação, bem imaginadas porqualquer ser humano, foi-nos deixada afaculdade ou o fenômeno de mediação,que faz atenuar o sofrimento, estabele-cendo um liame entre os dois planos, per-mitindo inúmeras comunicações. A pes-soa que serve de interprete das mensa-gens que se recebe do mundo invisível,dá-se o nome de médium. Médio porqueele está no meio, entre o comunicante e ocomunicado, servindo de ponte entre osdois planos de vida, na transferência de u-ma comunicação de um ser para outro.

“O maravilhoso e o sobrenatural: se acrença nos espíritos e nas suas manifesta-ções fosse uma concepção isolada, o pro-duto de um sistema, poderia com certa ra-zão ser suspeito de ilusória. Mas quemnos diria então porque ela se encontratão viva entre todos os povos antigos emodernos, nos livros santos de todas asreligiões conhecidas? Isso, dizem algunscríticos, é porque o homem em todos ostempos, teve amor ao maravilhoso – maso que é o maravilhoso, segundo vós? A-quilo que é sobrenatural – e que enten-deis por sobrenatural? O que é contrarioàs leis da natureza. Então conheceis tãobem essas leis que podeis marcar limitesao poder de Deus?” (”Livro dos Mediuns –O Maravilhoso e o Sobrenatural”).

As comunicações entre os dois mun-dos acontecem de muitas formas, tais co-mo aquelas de efeitos físicos, sensitivos,audientes, falantes, videntes, curadores,psicógrafos, etc.

O médium, para receber as boas co-municações do mundo espiritual, há deter capacidade para tanto, cuidando deforma soberana da sua elevada moral, le-vando vida regrada e exemplar na socie-dade e na família, cumprindo suas obriga-ções no lar, no trabalho e no lugar ondevive, praticando o bem e não fazer de seuministério uma forma de auferir vanta-gens econômicas ou pessoais. Há que o-ferecer de graça o que de graça recebeu,

respeitando e se fazendo respeitar. Con-forme o grau de elevação espiritual domédium, ele poderá receber mensagensde espíritos evoluídos, que muito ajudamos seres da terra. É que no transe entre omédium e o espírito, a faixa vibratória temque se igualar. Se houver desnível entreas duas faixas vibratórias, a comunicaçãonão se consuma, por falta de sintonia.

A comunicação é livre e ela tambémpode se dar entre médiuns e espíritos quenada podem ajudar, porque a capacidadee o saber de ambos é proporcional a suadepuração. Há também os espíritos cha-mados vulgares, não sabem mais do queos homens, ou até menos. Há, também,entre os comunicantes, aqueles chama-dos presunçosos e falsos sábios, que to-mam suas próprias idéias pela verdade enada sabem, são embusteiros sem, es-crúpulos que se escondem atrás de no-mes emprestados para fazer acreditar assuas utopias. É preciso ficar atento paratoda e qualquer comunicação, não as a-ceitar sem o uso da razão pura e do racio-cínio lógico.

Há que controlar com a razão sem ex-ceção, tudo que vem das comunicaçõesespirituais. Toda comunicação em contra-dição com o bem, a lisura, a honestidade,com o bom senso, com a lógica e com to-das as informações que possuímos, deveser rejeitada. Resumindo, as comunica-ções espirituais podem ser muito impor-tantes para a humanidade, e podem nãoservir para nada, dependendo do mé-dium e do espírito comunicante, não es-quecendo o homem encarnado que eletambém detém em seu corpo um espíri-to. Use-o naturalmente.

Quanto ao magistrado: é um ser hu-mano constituído de um corpo material eum corpo fluídico espiritual, que exerce opoder de julgar, por isso investido de au-toridade. O juiz é preparado para bem e-xercer a sua profissão. Examina ele todosos elementos de provas que lhe são ofe-recidos e dentro dos limites da lei, decidea questão que lhe é posta. Como dizia onobre jurista Miguel Reali, cuida o juiz,nos autos, dos fatos que lhe são ofereci-dos, da-lhes o valor que merecem e aplicaa norma exigível aquela solução – fato,valor e norma.

Ao juiz, em principio, é defeso julgarcom elementos fora dos autos, porque es-tão fora daquele mundo controverso su-gerido pela questão posta.

Qualquer comunicação extra-mundocarreada para os autos é certo que, em re-gra, deve ser refutada. Mas há certas co-municações que podem vir a confirmar a-

Mediunidade e magistratura

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Tempo e Espírito

Jornal AMATRA XVda 5

quela prova tênue, mas factível, que estános conformes do assunto debatido e aju-dam ou podem ajudar na convicção docerto e do errado. O mundo espiritual, emregra, não deve participar das questõesjurídicas processuais, porque tais tarefassão deferidas unicamente aos encarna-dos, que exercitam o seu saber nessas so-luções e se prepararam para isso. Para ojuiz, a sua tarefa de julgar é, sem duvida,um instrumento marcante e evolutivo desua existência, porque é através dele queserá apreciada a sua evolução espiritual.O todo do seu trabalho, resumido no con-teúdo dos seus decisórios, são levadosem consideração, tendo na conta soma-da, o estudo que faz das questões ofere-cidas, a maneira de colher as provas, o es-forço, o modo de tratar igualmente oscontendores, a dedicação na procura damelhor verdade, solucionando a querelacom a melhor decisão exigível.

Ao juiz é deferida a nobre tarefa dejulgar e para isso ele se preparou bem, oque também já foi dito, por isso ele serácapaz, certamente, de em bem analisan-do todos os casos que lhes são postos,sem ouvidar a razão crítica, sem esquecera lógica, sem abrir mão da lei e dos seusmaiores conhecimentos, atentar para a-ceitar ou não uma comunicação espiritualenvolvida no caso e, por isso, decidir des-ta ou daquela maneira. A regra é a de ca-da um e cada qual em seu mister, semnunca perder de vista a força da verdade,eis a questão.

Aliás a respeito desse assunto, o exce-lente livro “A Psicografia ante os Tribu-nais”, de autoria de Miguel Timponi (5ªEdição da Federação Espírita Brasileira),informa-nos com detalhes relevantesquestão jurídica posta nos tribunais, queà época assombrou o País , quando a fa-mília do ilustre escritor falecido Humber-to de Campos, representada pela viúva epelos três filhos, propuseram uma açãojudicial declaratorial contra a FederaçãoEspírita Brasileira e o médium Chico Xa-vier , aduzindo ser a “titular dos direitosautorais oriundos da vasta e brilhanteobra literária produzida por seu falecidomarido...”. Com inúmeros livros atribuí-dos ao espírito Humberto de Campos emtrabalho de psicografia, citando as obras“Novas Mensagens”, “Boa Nova”, “Repor-tagens de Além Tumulo”, “Brasil, Coraçãodo Mundo”, “Pátria do Evangelho”, “Crô-nicas de Além Túmulo”, requerendo sepossa “declarar por sentença , se essaobra literária é ou não do espírito de Hum-berto de Campos. No caso negativo, “se,além da apreensão dos exemplares emcirculação, estão os responsáveis pela pu-blicação passíveis da sanção penal – proi-bidor de usar o nome de Humberto deCampos , em qualquer publicação literáriae sujeitos ao pagamento de perdas e da-nos nos termos da Lei Civil”.

Pediu ainda a autora que se ficar pro-

vado que as obras literárias são do espíritode Humberto de Campos, o juízo deverádeclarar se os direitos culturais perten-cem à família ou “ao mundo espírita”. Fazoutros pedidos declaratórios-condenató-rios. A autora da ação aduz não desco-nhecer “as dificuldades de ordem legalcom que terá V.Exa, que se haver para de-cidir o presente pleito, dado o silencio dalei vigente , em relação às hipóteses queos fenômenos mediúnicos farão surgir aoespírito do magistrado , obrigando-o a es-tabelecer normas de caráter excepcionalcomo “se fosse legislador, tendo em vis-ta os direitos tradicionais da família do es-critor, em face dos novos e estranhos a-contecimentos pelas quais a ciência ofici-al tem, até agora, demonstrando indife-rença”. Protesta por demonstrações me-diúnicas.

Em defesa, os suplicados aduzem queo pedido da autora é contrario à lei, já quepede-se “declare, por sentença, a sobrevi-vência ou não do espírito e a possibilida-de ou impossibilidade da sua comunica-ção com os vivos”. Ora, a tese da sobrevi-vência do espírito constitui precisamentea velha controvérsia que divide as doutri-nas religiosas, as escolas filosóficas e ascorrentes cientificas. Como poderão osnossos tribunais dirimir uma contendadessa natureza? Afirmar ou negar a sobre-vivência do espírito seria, em ultima análi-se, decretar a oficialização de um princi-pio religioso, filosófico e cientifico. Seriaisso possível?

A defesa, em preliminar e em resumo,diz que o pedido é ilícito, juridicamenteimpossível, que a petição é inepta e que aação proposta, declaratória, é imprópria.No mérito que as publicações têm porobjeto o “estudo teórico, experimental eprático do Espiritismo e serve para a prati-ca da caridade, moral e espiritual.”

Juntaram documentos e uma dedica-tória da mãe de Humberto de Campos emuma obra do seu próprio filho, que dizia:“Ao prezado Sr. Francisco Xavier, dedica-do intérprete espiritual do meu saudosoHumberto, ofereço com muito afeto estafotografia, como prova de amizade e gra-tidão”. Ao Jornal “O Globo” de 19 de Julhode 1944, a Sra. mãe de Humberto assegu-ra ao redator que o estilo é do seu filho e,em seguida, faz a leitura de uma cartaque lhe foi endereçada, em trabalho depsicografia, por seu filho Humberto.

O livro “A Psicografia ante os Tribu-nais” traz o inteiro teor da carta denomi-nada “Carta à Minha Mãe”. Nela observa-se o estilo inconfundível do autor Hum-berto de Campos e o sentimento elevadode amor que irradia ao mundo e que de-veria ser lida por todos de todos os cantosde todo o mundo. Inúmeras teses e cita-ções foram juntadas ao autor. O Juiz, nodespacho saneador, pois fim à ação, adu-zindo, entre tantos outros argumentos, os

seguintes: “a existência da pessoa naturaltermina com a morte; por conseguinte ,com a morte se extinguem todos os direi-tos, e, bem assim, a capacidade jurídicade os adquirir”. No nosso direito é absolu-to o alcance da máxima “Nors Omnia Sol-vit”. Assim o grande escritor Humberto deCampos, depois de sua morte, não pode-ria ter adquirido direito de espécie algu-ma e, conseqüentemente, nenhum direi-to autoral poderá da pessoa dele ser trans-mitido para seus herdeiros e sucessores.Nossa legislação protege a propriedadeintelectual em favor dos herdeiros, atécerto limite de tempo, após a morte, maiso que considera, para esse fim, como pro-priedade intelectual, são as obras produ-zidas pelo “de cujo” em vida.

O direito a estas é que se transmiteaos herdeiros. “Não pode, portanto, a su-plicante pretender direitos autorais sobresupostas produções literárias atribuídasao espírito do autor”.

“A inicial constitui mera consulta; nãocontém nenhum pedido positivo, certo edeterminado, sobre o qual a justiça se de-va manifestar. O Poder Judiciário não é ór-gão de consulta”.

“Finalizando, isto posto, julgo a supli-cante carecedora da ação proposta e acondeno nas custas. Em Sede de agravo oTribunal de Apelação do Distrito Federalconhece do recurso e nega provimento afim de confirmar a sentença agravada.”

Esta ação teve este resultado. Mas hánotícias, alhures, que alguns magistradostêm dado guarida “às comunicações espí-ritas”.

Antônio Mazzuca é Desembargadoraposentado do TRT-15 e ex-expositor daFederação Espírita do Estado de SP.

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Pela primeira vez deste que foi institu-ída, a coluna “Toga Sarada”, que visa tra-zer elementos para incentivar a prática deatividades físicas por parte dos magistra-dos, traz uma entrevista que é até mais doque um incentivo, é um exemplo a ser se-guido. Atualmente com 51 anos, a juízasubstituta Conceição Rocha de Petribu Fa-ria, que é Diretora Regional da Amatra XVem São José do Rio Preto, conta que deci-diu mudar de vida aos 42 anos, quandocomeçou a participar de corridas. Deixoua vida sedentária para ser maratonista eparticipar das principais provas da modali-dade em todo o mundo.

Como surgiu a sua paixão pelas cor-ridas e pelos exercícios físicos?

Aos quarenta e dois anos decidi queera hora de mudar de vida. Matriculei-meem uma academia e com um personal co-mecei a treinar. Andava na esteira segu-rando as barras laterais. Aos poucos fui ca-minhando, depois trotando e quando per-cebi estava correndo. Comecei a partici-par de corridas de rua e percebi que aque-la prática me dava muito prazer. Eu mesentia feliz, descontraída, e a cada provaeu queria mais. Eu participava de provasde 10 km. Quando fiz minha primeirameia maratona (21 km) vi que era aquiloque queria para mim. Foi paixão à primei-ra vista. Depois de fazer a primeira mara-tona fiquei completamente apaixonada edesde então só faço provas de meia mara-tona e maratona (42 km).

Por quê?

Porque nessas provas o prazer de cor-rer é prolongado. É maravilhosa a sensa-ção de liberdade, de superação e de con-quista que elas nos proporcionam. Quan-do estou correndo uma prova longa eusinto uma felicidade indescritível.

Quantas maratonas você já realizoue qual o melhor tempo?

Já corri cinco maratonas e meu me-lhor tempo foi em Paris, no dia 15 de abril,quando fiz 3h44m. Na meia maratona in-ternacional de São Paulo, no dia 4 de mar-ço, fiz meu melhor tempo: 1h44m.

Como é a sua alimentação?

Minha alimentação é equilibrada. Fa-ço acompanhamento com nutricionista

que me orienta quanto aos alimentos a-dequados para cada refeição. Como pra-tico exercícios diários, preciso me alimen-tar com quantidades razoáveis, mas con-sumindo produtos saudáveis. Como arrozintegral, legumes, verduras, frutas, leite eiogurte desnatado. A atenção é com aperda de gordura corporal e nem tantocom o peso, já que faço muito exercíciode musculação, que naturalmente au-menta o peso.

Como é um treino semanal?

Treino seis dias por semana, de se-gunda-feira a sábado. São três dias demusculação com personal trainer, e seisdias de corrida, divididos em três dias derodagem (corrida leve) de 1h aproximada-mente cada, que faço pela manhã, após amusculação, dois dias de treino de tiros,que faço no fim do dia, e um dia de treinolongo, que realizo aos sábados e pode serde 15k até 38 km. O volume semanal de-pende da prova para a qual estou treinan-do. Para a maratona é de aproximada-mente 70 km semanais e para uma meiamaratona de 50 km semanais.

O que você considera mais diverti-do na corrida?

O contato com as pessoas. Semprefoi, mas há seis meses comecei a treinarcom uma equipe de corrida, de um ex-a-

tleta olímpico, que prepara minhas plani-lhas de treino. Aliás, a melhora do meutempo nas provas se deve ao treinamen-to, que é exaustivo, mas de resultados,que venho fazendo com o Adalberto Gar-cia. Ele dá dicas, prepara planilhas, incen-tiva. É uma pessoa excepcional. O grupo émuito divertido. As histórias de corridas,que são muitas e nem sempre gloriosas,descontraem um fim de dia de trabalhointenso ou dão energia para iniciar umanova jornada. Nos treinos de sábado fica-mos batendo papo descontraidamente a-pós o longão (treino de 38 km).

Você consegue conciliar atividadesfísicas com o trabalho?

Como disse a Dra. Ana Amarylis Vivac-qua de Oliveira Gulla, em formidável pa-lestra no Fórum Trabalhista de São José doRio Preto, com o tema "Vivificando as rela-ções Humanas", é possível conciliar tudo,e para tanto é necessário ter disciplina.No caso, para conciliar atividade física re-gular com trabalho, minha rotina é umtanto rigorosa. Acordo diariamente às4h45 seja para ir à academia, seja paracorrer, seja para trabalhar e chuva e frionão são obstáculos para os treinos, já quea interrupção da atividade resulta em per-da de condicionamento. Carrego marmitapara onde vou, o que inclui almoço e lan-che de frutas, pão integral, ricota e peitode peru. Também carrego sempre um po-

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Juíza e maratonista:um exemplo a ser seguido

Magistrada Conceição de Petribu Faria deixou a vida sedentáriapara participar das principais provas de maratona pelo mundo

Juíza Conceição em uma das maratonas

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tinho com castanhas. Como a cada trêshoras, bebo muita água, e durmo cedo(por volta de 21h). Minhas pencas de ba-nana são famosas. Sempre deixo uma nogabinete, para um lanche rápido, às vezesdurante as audiências, enquanto é feita aqualificação de testemunhas.

Tem alguma maratona que aindapretende fazer?

Muitas. Boston e NY especialmente.

A prática de esportes melhorou suaqualidade de vida? E no trabalho?

Melhorou muito. Sinto-me sempre re-vigorada e com energia para a rotina deaudiências, despachos, julgamentos, etc.No trabalho posso dizer que a disciplinados treinos é aproveitada no cotidiano. A-prendemos com os treinos que é semprepossível vencer os obstáculos e atingir ob-jetivos. O bem estar com a prática regularde exercícios regulares não é só físico,mas também mental. A endorfina que li-beramos nos dá uma sensação maravilho-sa de plenitude. Das provas volto renova-da com a energia positiva dos outros par-ticipantes e também da população das ci-dades, que nas maratonas vai para as ruase permanece no percurso aplaudindo, in-centivando, oferecendo água, isotônico,doces. É muito divertido. E as pessoas en-xergam os corredores como verdadeirosheróis, reconhecendo o esforço que fa-zem para participar das provas, já que ex-cluindo os atletas profissionais, que sãominoria, os demais são pessoas comuns,que trabalham e incluem na rotina diáriaos longos treinos, que para a maratonaduram meses. Em Chicago vi cenas emo-cionantes. Na chegada, famílias inteirasesperavam os corredores com ramalhetesde flores, porque a prática de exercício fí-sico é muito valorizada e as pessoas sededicam à realização das provas, muitastrabalhando como voluntárias. Na marato-na de 2011 havia 12 mil voluntários. Con-seguir cumprir a planilha de treino é um

desafio, mas a sensação de dever cumpri-do é sensacional. Fazer uma prova notempo almejado é indescritível e vale ca-da minuto de treino e suor. Esses senti-mentos nos deixam bem humorados epermitem que a rotina de trabalho não pa-reça tão pesada. Por fim, consegui a ade-são de meu marido, que fazia o papel demotorista. Ele me levava para as corridas eficava esperando. Então eu disse: porquevocê não começa a treinar e correr as pro-vas comigo, já que sempre está presentenos eventos? Ele comprou a ideia, passa-mos a treinar juntos e assim tem sido des-de então. Procuramos encaixar as provasde maratona nos períodos de férias, con-ciliando esporte com turismo. Estamoscorrendo duas maratonas por ano e corri-das de meia entre elas, como treino.

Você tem alguma dica para que se-dentários vençam a “preguiça inicial”?

A dica é querer. Penso que com umarotina de exercícios hoje estamos pou-pando para o futuro. Ter condicionamen-to para realizarmos na velhice as ativida-des do dia-a-dia é fundamental para umavida plena, porque não basta viver muito,é preciso viver bem, com qualidade, oque somente a prática de exercícios, alia-da a uma alimentação saudável pode pro-porcionar. Embora seja disciplinada como trabalho, os treinos e a alimentação, eunão mão abro de alguns prazeres, comotomar um chopp gelado e comer doces, oque faço nos finais de semana, porque,como disse a Dra. Ana Amarylis, na men-cionada palestra, citando o que lhe foi di-to por uma conhecida, "há alimentos parao corpo e há alimentos para a alma". De-vemos usar o exercício físico para dissipara raiva, a frustração ou qualquer outrosentimento ruim e porque não para per-der peso. Na minha equipe há um colegaque perdeu 35 km em tempo razoável, so-mente com equilíbrio alimentar e exercí-cio físico, sem uso de medicamentos, edevo di-zer que hoje ele é um dos melho-res atletas do grupo.

O descanso dos guerreiros: pares de tênis usados em corridas e treinos

Jornal AMATRA XVda 7

Treinos podem ser de 15 km até 38 km:total pode chegar até 70 km semanais,

dependendo do tipo de prova a ser disputada

Toga Sarada

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Jornal AMATRA XVda8

Casi un año atrás, el 7 de junio de2011, dimos nuestro adiós a Óscar ErmidaUriarte, cuando tan solo contaba 61 añosde edad.

Su trayectoria académica, su compro-miso con el Derecho laboral, el ejerciciode su magisterio y, naturalmente, su con-dición de universitario, imponen que ha-gamos un recuerdo a su memoria a.

Óscar Ermida Uriarte hizo su carrerade Abogacía en la Facultad de Derechode la Universidad de la República. La de-sarrolló siendo simultáneamente emple-ado en un laboratorio, actividad que, na-turalmente, le insumía buena parte de sutiempo. Sin embargo, eso no le impidióavanzar en sus estudios y, con el empeñoy capacidad que sobradamente poseía,logró destacarse como estudiante, obte-niendo el título de abogado en 1976.

Pero, si se me permite la licencia deexpresar una intuición personal, debodecir que tengo para mí, que para aqueljoven Ermida, recibir el título de abogadodebió tener un valor más simbólico quesustantivo. En realidad, Óscar había em-pezado a ser jurista un año antes, en1975, cuando, no por casualidad, se pro-dujo un acontecimiento verdaderamentedeterminante en su vida y que evoco através de la crónica que del mismo reali-zara otro de sus protagonistas, nada me-nos que el Maestro Américo Plá Rodrí-guez.

Recordando el origen del hoy famoso“Grupo de los Miércoles”, decía Plá: “Laconformación del Grupo (todos aboga-dos especializados o con dedicación es-pecial al Derecho del Trabajo) tuvo (…) al-gunos episodios anecdóticos. Uno de el-los reviste interés. Mi esposa se encontróuna tarde con la Sra. Ermida (la madre denuestro colega de hoy), quien le mencio-nó que su hijo tenía una firme vocaciónlaboralista y una gran admiración por elDr. Plá Rodríguez. Como las unía una anti-gua amistad, mi señora le recomendóque le dijera a su hijo que fuera a verme,porque en esos días comenzaría a fun-cionar un grupo de estudio (…) Cuandoya habían transcurrido varias reunionesde los miércoles, alguien propuso otronombre como posible integrante del Gru-po, pero fue observado por mí porqueconstaba que no era abogado y debíadarle preferencia a la terminación de sucarrera. En esas condiciones, con unagran dificultad, el joven Ermida aclaróque él todavía no había terminado su car-rera. Pero la buena impresión que habíacausado en las cuatro reuniones anterio-res era suficiente para justificar la excep-ción”. Seguía Plá: “…un error permitió la

incorporación de ese joven que gracias asus condiciones y dedicación al estudio,logró concretar su especialización paraconvertirse en uno de los laboralistasmás destacados.”

La jugosa anécdota, relatada porquien fuera otro insigne Maestro de labo-ralistas, posee el valor de aproximarnos aaquel Ermida pujante, estudioso, brillan-te, que ya desde muy joven conseguíacaptar la atención de quienes lo escucha-ban, gracias a la prolijidad de sus razona-mientos jurídicos. Pero el recuerdotambién nos demuestra que la condiciónde de Ermida, es inclusojuslaboralistaanterior a que adquiriera la de abogado yque dicha condición era parte de su pro-pio .ADN de jurista

Óscar Ermida solo dedicó unos pocosaños al ejercicio liberal de su profesiónde abogado. En 1986 ingresó como fun-cionario de la OIT y en tal carácter inicióuna etapa de su vida en la que debiómudar su hogar en sucesivas oportuni-dades, para instalarse en diversasciudades de América del Sur. Ese trajinarlo llevó a Lima (1986 – 1992), Montevideo(1992 – 1995), Santiago de Chile (1995 –2000) y nuevamente Montevideo, desde2000 hasta 2006, cuando decidió retirar-se de la OIT.

En cada uno de esos destinos, fue a-compañado por Marisa, su incondicionalcompañera desde la juventud, y por lostres hijos de ambos, Martín, Ana Laura yPaula, por entonces niños y hoy egre-sados universitarios, que hacen honor alapellido que llevan.

Fue distinguido con los más altos car-gos académicos que un laboralista pue-de aspirar a ocupar y con su actuación enellos los prestigió, como solía hacer contodas las tareas que acometía.

Fue Miembro de Número de la Acade-mia Iberoamericana de Derecho delTrabajo y de la Seguridad Social, entidadde la que llegó a ser Vicepresidente. FuePresidente de la Asociación Uruguaya deDerecho del Trabajo y de la SeguridadSocial y en su condición de Catedrático, o-cupó la Dirección del Instituto de Dere-cho del Trabajo y de la Seguridad Socialde la Facultad de Derecho de la Univer-sidad de la República.

En 2006 fue invitado por Héctor-HugoBarbagelata y Américo Plá Rodríguez asumarse a ellos en la Dirección de la re-vista Derecho Laboral, que fuera fundadaen 1948 por Francisco De Ferrari y que ensus más de seis décadas de publicaciónininterrumpida, contiene la síntesis de la

mejor doctrina laboralista que puedeleerse en Uruguay.

Su condición de Profesor pudo ser a-preciada no sólo por varias generacionesde universitarios uruguayos, sino tam-bién por jóvenes de otros varios paísesde América latina y de Europa, en los quedictó clases de grado y de posgrado, des-lumbrando con la estructura rigurosa desus razonamientos jurídicos y con su ora-toria diáfana y atrapante.

Como conferencista era particular-mente brillante. Tenía dotes naturalesque le permitían conducirse con gran co-modidad en el empleo del lenguaje y enel manejo escénico de una exposición enpúblico. Pero además, también tenía lavirtud de jamás descansarse en las facili-dades que podía extraer de su extraordi-nario talento. Por el contrario, asumíacon particular celo y minuciosidad la pre-paración de todas y cada una de las expo-siciones que realizaba. Y no hacía distin-gos, todas eran igualmente importantes.“Nunca se sabe quién puede estar escu-chándote” me dijo en cierta ocasión, ha-ce muchos años, al tiempo que me acon-sejaba que siempre, sin excepciones, ha-bía que procurar alcanzar el mejor rendi-miento personal, ante cualquier audito-rio.

Su obra escrita incluye innumerablesartículos y contribuciones para obras co-lectivas, así como una serie de libros fun-damentales:� Empresas multinacionales y Derecholaboral, que fue su tesis docente y quefuera publicada en 1981;� Apuntes sobre la huelga (1983)� La protección contra los actos antisindi-cales (1987)� Modificación de condiciones de traba-jo por el empleador (1989)� Sindicatos en libertad sindical (1991)� La flexibilidad de la huelga (1999)� La flexibilidad (2000)� La dimensión social del Mercosur(2004)

Incluso, próximamente será publica-do un libro póstumo, que se titulará Críti-ca de la libertad sindical.

Desde luego, el pensamiento y la o-bra de Ermida es de una singular signifi-cación en Uruguay, en América latina yen el mundo.

Todo lo señalado hasta aquí, repre-senta parte del legado intelectual de Er-mida Uriarte. Pero me gustaría destacartres aspectos de su personalidad, porqueconsidero que de ellos se extraen ense-ñanzas que ha dejado para la posteridad.

Óscar Ermida Uriarte:el legado de un Profesor

Mario Garmendia Arigón

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Homenagem

Jornal AMATRA XVda 9

El primero de esos aspectos puede re-sumirse en la expresión COMPROMISO.

No creo estar exagerando si digo queprobablemente, éste fuera el rasgo másprominente de su personalidad.

Óscar Ermida fue una persona pro-fundamente comprometida con sus idea-les, con una visión igualadora del Dere-cho y con una definida concepción delDerecho del trabajo como instrumentoapto para conseguir dicho propósitoequilibrador.

Solía resumir estos conceptos en laidea “El Derecho del trabajo es protector ono es” y reiteradamente encomiaba laactitud de Plá y Barbagelata, de quienesdecía que “En los peores momentos de laofensiva neoliberal contra el Derecho delTrabajo (…) fueron dos pilares que deso-yeron los cantos de sirena que a tantos se-dujeron, sobre todo en el extranjero, loque a la postre reforzó el respeto interna-cional a una doctrina que ellos construye-ron”. Nada menos podría decirse del pro-pio Óscar Ermida, quien, sin lugar a dudasy sin claudicaciones, defendió a tiempocompleto la esencia protectora que im-pregna la disciplina jurídica que abrazó.

Y es de hacer notar que esa visióncomprometida fue sostenida por él, inclu-so en momentos y circunstancias en quehacerlo, podría traer aparejados riesgospersonales.

Para ilustrar lo que acabo de decir, al-canza con traer a colación su libro, Apun-tes sobre la Huelga.

Este libro, breve pero de una enormedensidad conceptual, recoge los apuntestomados por estudiantes que asistieron alcurso que Emida dictó en la Facultad deDerecho, en 1983, cuando nuestro paístodavía sufría una cruenta dictadura, quehabía subyugado las instituciones y quese descargaba con particular rigor sobrecualquier expresión colectiva de los traba-jadores, en especial, contra la huelga.

Cada vez que vuelvo a la lectura de a-quellos “apuntes”, siento admiración porel coraje de aquel joven docente, que sinamilanarse ante las consecuencias quepodía tener su discurso, enseñaba a susestudiantes la jerarquía constitucional y laraigambre democrática de aquel derechode huelga, denostado y prohibido porquienes, de facto, detentaban el poder enUruguay por aquellos años.

El sentido de compromiso también semanifestó a través del magisterio que Os-car Ermida ejerció sobre varias generacio-nes de juristas de varios países de Amé-rica latina.

Allí donde la OIT lo destinara a cum-plir funciones, rápidamente se vinculabacon alguna Universidad y comenzaba aejercer la docencia. Y no se piense quehacía esto como un mero automatismo,

para mantener el músculo entrenado. Er-mida asumía esta actividad de cuerpo y al-ma, y gracias a ello, inmediatamente co-menzaba a dejar su huella en los jóvenesuniversitarios, ávidos por escuchar suslecciones, que siempre tenían la virtud dedejar abierto un margen para la reflexióny que incitaban a continuar explorandoen los senderos, siempre sugerentes, queél, como Maestro, comenzaba a trazar.

Quien desee poner a prueba la pro-fundidad de la incidencia que tuvo Ermidaen aquellos jóvenes, puede escoger acualquiera de los más destacados jusla-boralistas peruanos o chilenos de la ac-tualidad y consultarles a quién identificancomo su Maestro.

Naturalmente, en todo esto tambiénaparece de manera muy fuerte, el sentidode la GENEROSIDAD, que es otra de lasnotas que más resaltaban en la personali-dad de Ermida.

De las diferentes acepciones que enel idioma español tiene esta voz, entien-do que la más adecuada para describir laidea que pretendo transmitir, es la quedefine a la “ ”, como la “generosidad no-bleza eredada de los mayores”. Ermida sesentía parte de una Escuela uruguaya dejuslaboralistas y se inspiraba en el ejem-plo recibido de sus mayores, Plá y Barba-gelata. Refiriéndose a ellos en un acto pú-blico realizado hace algunos años en elParaninfo de la Facultad de Derecho, re-cuerdo que dijo que “todos seríamos unpoco peores si estos Maestros no hubie-ran estado a nuestro lado”. Esa generosi-dad que Ermida heredó de sus mayores,fue ejercida por él de manera intensa, o-rientando a los más jóvenes, alentándolesa continuar, a pesar de las dificultades, a-briéndoles puertas que su prestigio ha-cía, desde luego, mucho menos pesadas.

Me siento beneficiario de esa genero-sidad y la asumo con el compromiso decontinuidad que lleva ínsito.

El tercer rasgo que quiero destacar dela personalidad de Óscar Ermida, resultaun tanto difícil de sintetizar en una únicaexpresión. Creo que la noción más apro-piada podría ser, su SENTIDO DE TRAS-CENDENCIA.

Ermida estaba imbuido de un espírituque, desde su lugar y a partir de su papelde académico, le impulsaba a salir al en-cuentro de los problemas sociales e inten-taba tener alguna incidencia sobre ellos.Hace algún tiempo, mientras estábamosen la ciudad argentina de Santa Fe com-partiendo una agradable cena con algu-nos colegas lugareños, uno de ellos lepreguntó qué balance hacía de su pasajepor la OIT y si le parecía que desde su fun-ción había conseguido algún resultadoconcreto. Con su consabido aplomo, Ós-car le respondió que no tenía certeza a-cerca de cuál habría sido su capacidad deinfluir en la realidad de una América lati-na en la que, por aquellos años, predomi-

naban ampliamente las corrientes flexi-bilizadoras. “Sin embargo –agregó- metranquiliza pensar que, probablemente,sin nuestra labor desde la OIT, las cosaspodrían haber sido, incluso, peores”.

Pero ese sentido de trascendencia alque me refiero, también se manifestabaen otro sentido. El hombre del medioevocomenzaba a colocar las primeras piedrasde una catedral que jamás vería finaliza-da. Pero esa circunstancia no hacía men-guar la intensidad de su devoción haciasu tarea, ni distorsionaba su convicciónde que aquel conjunto de piedras tam-bién sería una parte indispensable del e-dificio que algún día -muchos años des-pués que él abandonara este mundo ter-renal-, elevaría sus agujas hacia el cielo.

Creo que un espíritu similar inspirabaa Óscar Ermida.

Tenía, por una parte, conciencia de sucapacidad de incidir y de realizar aportesque podrían contribuir a mejorar la reali-dad social. Pero al mismo tiempo, tam-bién parecía ser consciente de que los re-sultados de su contribución no siemprecristalizarían en la realidad de manera in-mediata. Parecía guiarse por el magníficoconsejo de Carnelutti, cuando recomen-daba al jurista no descorazonarse por lalentitud de los resultados de sus prédicasy sentenciaba que “trabajamos para si-glos felices. Siglos lejanos, pero siglosseguros”.

Ese espíritu de trascendencia le per-mitía proyectarse desde el plano acadé-mico hacia la realidad y también hacia elfuturo, que seguramente vislumbraba co-mo un tiempo mejor.

Tengo la convicción de que fue esa ca-pacidad de sentirse trascendente, la quele permitió soportar con estoicismo y ab-negada entereza, la cruel enfermedadque sentenciara el fin de sus días. Esa acti-tud, sencilla y valiente, es una de las ense-ñanzas más valiosas y profundas que nosdejó. Continuó trabajando hasta el últimodía, llenando de dignidad hasta su últimoaliento de vida, dándole contenido con suejemplo, a la idea de que “los profesoresconstituyen los eslabones silenciosos enla cadena que conduce a la humanidadhacia el progreso y la mejora”.

Dimos el adiós a Óscar Ermida Uriarte,pero todos sabemos que él no se ha ido.

Quedan con nosotros, para siempre,sus ideas y sus enseñanzas.

Porque a través de éstas, se hizoinmortal y sigue viviendo en aquellos cu-yos ojos aprendieron a ver el mundo a tra-vés de la magia de su palabra.

Y así, el Profesor no muere nunca.

Mario Garmendia Arigón é Advoga-do e Professor Agregado 4 da Univer-sidad de la Republica del Uruguay.

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6º Comtres

Desembargadoras Maria Madalena de Oliveira e Ana Amarylisparticiparam do encontro em Campos do Jordão

Os juízes Marcelo e Priscila Nunes com ojuiz José Dosualdo e a esposa Patrícia

O presidente da Amatra XV, Guilherme Feliciano, e sua esposaMaria Claudia receberam os participantes do 6º Comtres

O presidente do TRT-2, Nelson Nazar prestigiou o6º Comtres junto com sua esposa Maria Venir Nazar

Os palestrantes Lenio Streck e Alexandre Morais daRosa também levaram as esposas ao 6º Comtres

As juízas Camila Scarabelli, Sofia Dutra e Laura Bendadurante a festa do Congresso de magistrados do Sudeste

Os juízes Júlio Roda e Alexandre Müller foram aoComtres com as respectivas esposas Lucila e Cleiva

Magistrados da 15ª e da 2ª Região reunidos emhappy hour durante o evento em Campos do Jordão

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Os juízes Edilson Pedrini Ramos, da Ejud 17 (ES) eAily Maria Longhi Dangui, da Ejud 24 (MS)

Os juízes Jairo Santana e Isabel Moura Piacentini, da Ejud 14 (RO e AC)com o Vice-Diretor da Ejud 11 (AM), Eduardo Melo de Mesquita

Os juízes e diretores da Amatra XV RobsonAdilson de Moraes e Alzeni de Oliveira Furlan

O desembargador do TRT-15, Samuel Hugo Lima,e a esposa Elenice prestigiaram o jantar no Baracat

Juízes de várias regiões vieram para a reunião do ConselhoNacional das Escolas de Magistratura do Trabalho

A Desa. Flávia Simões Falcão, Diretora da Ejud da 10ª Região (DF),com o Diretor da Ejud 1 (RJ), Alexandre Freitas Bastos Cunha

Os juízes Firmino Lima, Carlos Lontra (do TRT-4, Pres. do Conematra)e Guilherme Feliciano com o Pres. do TRT-15, Des. Renato Buratto

Homenageado no evento em virtude de aposentadoria,o des. José Antônio Pancotti foi com a família ao jantar

Conematra

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Vice-presidente do Tribunal Regionaldo Trabalho da 17ª Região (Espírito Santo),o Desembargador Carlos Henrique Bezer-ra Leite parece não se importar com títu-los. E ele tem muitos. Doutor e Mestre emDireito pela Pontifícia Universidade Cató-lica de São Paulo, Bezerra Leite é profes-sor da Universidade Federal do EspíritoSanto e da Faculdade de Direito de Vitória.Nada obstante, trata-se de um homem dehábitos simples. E é com simplicidade,porém com excelentes argumentos, queo Des. Bezerra Leite defende diuturna-mente uma maior democratização da Jus-tiça. Egresso do Ministério Público do Tra-balho, vê na instituição que o formou umgrande exemplo democrático para a Ma-gistratura, que, segundo ele, ainda é mui-to conservadora e autoritária. Autor daproposta de eleições diretas para os car-gos de direção do TRT-17 – afinal rejeita-da, naquele tribunal, por um único voto –,Bezerra Leite não vai desistir da ideia detornar a eleição acessível a magistradosde primeiro e segundo graus. “É algo es-pantoso essa exclusão, esse receio denão permitir que juízes de primeiro grauparticipem da vida política de seus tribu-nais”, critica ele. “Principalmente porquenós confiamos nos nossos juízes, eles se-rão excelentes eleitores.”

Veja abaixo a íntegra da entrevistacom Bezerra Leite, tangendo ideias tãoprogressistas como a iniciativa inédita dealteração regimental para eleições diretasem tribunais e a atribuição às Amatras dopoder de apresentar propostas de emen-da ao regimento interno dos tribunais; e,para mais, as reflexões do entrevistado arespeito do Conselho Nacional de Justiça,do Supremo Tribunal Federal e do próprioquinto constitucional. Fala também sobreos inexoráveis desafios da Justiça do Tra-balho no século XXI — que estão, para ele,diretamente ligados a uma maior huma-nização dos juízes.

Jornal da Amatra XV – V.Ex.ª encabe-çou recentemente uma proposta de al-teração do regimento do TRT-17, pelaqual a eleição para os cargos de Presi-dente e de Vice-Presidente daquele Re-gional far-se-ia “pelo voto direto, secre-to e facultativo dos magistrados efeti-vos de primeiro e segundo graus”. Ainiciativa é inédita na Justiça do Traba-lho: permitir aos juízes de 1º grau vota-rem para os cargos de direção do TRT.O que o levou a tal proposta?

Desembargador Bezerra Leite – Ini-cialmente, é preciso destacar que desdeque entrei na Magistratura do Trabalho,pelo quinto do Ministério Público do Tra-balho, já havia adquirido a experiência de16 anos como Procurador do Trabalho, eessa experiência me motivou a ampliar oshorizontes democráticos dentro da Ma-gistratura, pois existe uma simetria muitogrande entre as instituições, por conta dea nossa Constituição Federal estabeleceruma série de direitos, deveres e garantiassemelhantes para as duas carreiras. En-tão, recentemente o Conselho Nacionalde Justiça (CNJ) passou a estabelecer van-tagens para magistrados, invocando jus-tamente o princípio da paridade e em ra-zão disso, achei que era um bom momen-to para nós alargarmos a discussão acercada democratização interna da Justiça doTrabalho e do Poder Judiciário como umtodo. Mas a Justiça do Trabalho em parti-cular, por ela ser, historicamente, a maisvoltada para o social, para as aspiraçõesdo povo, com a transparência com a pres-tação jurisdicional célere, então penseique seria um bom momento para iniciar-mos essa discussão.

“Não há como pararo tempo com a mão”

Vice-presidente do TRT-17, desembargador Bezerra Leitedefende eleições diretas para tribunais, o que seria oprimeiro passo para democratizar o Poder Judiciário— para ele, ainda muito conservador e autoritário.

Jornal AMATRA XVda12

“Ele pode ser juiz,

(...) atuando na

vida política do

povo, e ele não

pode escolher os

dirigentes para os

cargos aos quais é

vinculado

diretamente”

Bezerra Leite: Judiciário é conservador porque trabalha com o dogma da segurança jurídica

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Jornal da Amatra XV – A despeitodos seus inegáveis méritos, que resul-taram inclusive em uma “Nota Públicade Elogio” da Amatra XV em 11.04.2012,e da própria intervenção oral do Presi-dente da Anamatra, a proposta restouvencida no tribunal pleno. Ao queV.Ex.ª atribui essa aparente derrota?

Des. Bezerra Leite – A proposta de al-teração do Regimento para que juízes deprimeiro grau também pudessem votar,junto com os desembargadores, nas elei-ções para os cargos de direção do TRT da17ª Região, foi vencida por seis votos aquatro. Na verdade, que há um conserva-dorismo na Magistratura é inegável; real-mente, de todos os Poderes da República,o Judiciário historicamente é o mais con-servador, porque ele trabalha com o dog-ma da segurança jurídica e a segurançajurídica muitas vezes impede os avançosdemocráticos, porque não basta ter umaConstituição, é preciso que as pessoaspratiquem, efetivem a Constituição. Naverdade, nós temos assistido a uma de-sesperança de parcela muito grande daMagistratura que impede esses avançosda hermenêutica constitucional, do senti-mento constitucional, que deve aflorarem todos os domínios do conhecimento.Se um jurista internacional comparecer a-qui em bancas de defesa de mestrado edoutorado, para verificar a pesquisa e adoutrina que vem sendo produzidas, eleficará bem empolgado com os avançosno tocante à nova hermenêutica constitu-cional, à ideia da constituição de direitoshumanos na perspectiva tridimensional,direitos civis, políticos, sociais, culturais edireitos globais, e aí, a própria Democra-cia, que seria um direito humano de ter-ceira dimensão. Então, há essa perspec-tiva acadêmica e essa discussão, que in-clusive está hoje nas escolas da Magistra-tura, do Ministério Público, da Advocacia,mas infelizmente a prática judiciária e ad-ministrativa nos tribunais ainda está mui-to longe dessa perspectiva que estamosvivendo na academia. Mas é uma questãode tempo, porque não há como parar otempo com a mão.

Jornal da Amatra XV – Os críticos daproposta alegam que a politização, ofato de os candidatos a cargos de dire-ção terem que fazer campanha, é pre-judicial à carreira. O que Vossa Excelên-cia acha de tal argumento?

Des. Bezerra Leite – Aristóteles já di-zia que o homem é um animal político e,por isso, ele faz política a todo instante.Viver é fazer política. Mas a política deque estamos falando aqui não se compa-ra com a política partidária. Em um EstadoDemocrático de Direito, quando se falaem democratização, a democracia impli-ca em dois valores importantes: um é agestão compartilhada. Democracia é to-mada de decisões compartilhadas, evitarunitarismo nas decisões, mesmo porquenós vivemos em um pluralismo político,que é um princípio constitucional. Assimcomo é um princípio fundamental a cida-

dania. A cidadania deve ser efetivada emtodos os campos, em todas as situações,em casa, na família, no trabalho, na esco-la, pois ela é inerente à própria condiçãohumana. A cidadania no trabalho, inclusi-ve. A nossa Constituição prevê, no seu ar-tigo 7º, o regime de cogestão das empre-sas privadas, coisa que em um Estado Li-beral é algo reservado apenas ao dono, ea propriedade é vista como um direitonatural. No Estado Democrático de Direi-to, a própria propriedade passa a ter umafunção socioambiental. Isso no âmbitodas relações privadas. Imagine no âmbitodas relações públicas? Um juiz que nãovota para seu presidente, mas que é in-vestido de poderes, dos mais grandiosospoderes da República, poder para retirarpropriedade, liberdade das pessoas — ouseja, lidando com dois direitos funda-mentais —, é um paradoxo. Ele pode serjuiz, inclusive declarando na Justiça Elei-toral a inelegibilidade de candidatos, atu-ando diretamente na vida política do po-vo, e ele não pode escolher os dirigentespara os cargos aos quais é vinculado dire-

tamente. Mesmo porque os juízes de pri-meiro grau, via de regra, são convocadospara atuar no tribunal. É algo espantosoessa exclusão, esse receio de não permi-tir que juízes de primeiro grau participemda vida política de seus tribunais. O que épolítica? Hoje um presidente de tribunal éum gestor financeiro, político-administra-tivo do tribunal. Ele decide sozinho, semter que dar satisfação a ninguém de comoele vai administrar os recursos que ele re-cebe. Recursos polpudos que ele recebedo povo, por meio do Estado, do orça-mento, para ele administrar. Ele pode tercomo prioridades, por exemplo, os gabi-netes dos desembargadores em detri-mento do atendimento à população nasvaras do trabalho, e é isso que a gente ve-rifica. As condições de trabalho nas varasestão infinitamente inferiores às condi-ções que a gente observa nos gabinetesdos desembargadores. Na divisão do bo-lo, a participação dos juízes de primeirograu iria fazer com que houvesse umaparticipação, uma transparência, uma

proposta de governabilidade do tribunal.Porque, na verdade, quando a CF de 88estabelece que “compete privativamenteaos tribunais: ... eleger seus órgãos de di-reção”, a Constituição prestigiou o EstadoDemocrático de Direito, prestigiou o plu-ralismo, prestigiou a participação de to-dos os segmentos envolvidos com aquelainstituição, com aquele setor do Judiciá-rio, porque diz que “compete aos Tribu-nais”. E somente os tribunais é que de-vem internamente promover a autoges-tão, o autogoverno, essa é a autonomiaque a Constituição reserva aos tribunais.E essa autonomia é o quê? Democracia éo quê? Gestão compartilhada com presta-ção de contas; e ela deve ser feita, a meuver, da maneira mais ampla possível. Ouseja, a proposta de governabilidade e aprestação de contas tem que ser compar-tilhada por todos os integrantes do Poder.

Jornal da Amatra XV – Em que medi-da V.Ex.ª acha que essa proposta iriaoxigenar os tribunais em relação à ges-tão, com novas ideias, mesmo sendoos integrantes do 2º grau aqueles quecontinuarão a ser votados?

Des. Bezerra Leite – Essa foi umaproposta possível, mas não é a propostados meus sonhos. Ainda mais após a im-plantação do CNJ, nós podemos observaro seguinte: os administradores dos tribu-nais passaram a ser gestores públicos, ad-ministrativos, portanto eles atuam na es-fera administrativa, com recursos, compolíticas institucionais. Em alguns tribu-nais, sequer vão colocar as mãos em umprocesso, ou seja, a competência dele vaiser só na esfera administrativa. Ele vai seafastar da jurisdição. Mesmo em tribunaispequenos, com oito desembargadores, agente verifica que os presidentes estãodelegando as atividades judiciárias e seconcentrando cada vez mais na gestão. Epenso que é o ideal, porque em um mo-delo desses, com gestão de pessoas, ges-tão de processos, cobrança de metas — etoda hora falam em aperfeiçoamento doJudiciário para ficar em consonância comas diretrizes que vêm do CNJ ou do CSJT —,o presidente de tribunal hoje tem que teruma formação transdisciplinar, ele temque navegar em mares nunca dantes na-vegados, por isso é fundamental o profis-sionalismo. Ele vai ter que dar ênfase emDireito Administrativo, Direito Orçamentá-rio, Planejamento Estratégico, Estatística,além das disciplinas humanas — Psicolo-gia, Sociologia, Ciência Política —, porqueele vai ver que a função é multidisciplinar.Se ele continuar na esfera jurisdicional,ele não vai dar conta, ele não vai ser umbom gestor. Nós estamos vivendo em ummundo da globalização, você tem que terum conhecimento generalista e especia-lista ao mesmo tempo. A ideia da demo-cratização interna, ela é a condição de efi-cácia do próprio Poder Judiciário, porquedemocracia é um direito humano, é fun-damental no nosso ordenamento. Se opoder não se democratiza, ele não tem le-gitimidade para aplicar e efetivar os direi-tos fundamentais. Porque a própria de-

“As condições de

trabalho nas varas

estão infinitamente

inferiores às

condições que a

gente observa nos

gabinetes dos

desembargadores”

Entrevista

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mocracia que ele tem que implementar,ele não está implementando internamen-te. Como que ele vai exigir que uma em-presa seja democrática se não tem demo-cracia interna no tribunal? Democracia daporta para fora, e internamente? Agora,nós temos alguns obstáculos de naturezajurídica, como, por exemplo, o SupremoTribunal Federal, que entendeu em al-guns julgamentos que o artigo 102 da LO-MAN teria sido recepcionado pela Consti-tuição. É interessante, porque hoje exis-tem novas técnicas de interpretação, in-terpretação constitucional e conforme, enão foram ventiladas quaisquer dessastécnicas em nenhuma dessas decisões.

Jornal da Amatra XV – V.Ex.ª ou seuscolegas deverão voltar à carga com aproposta? Ainda há esperanças?

Des. Bezerra Leite – Existem trêsPECs. Uma do deputado Vicentinho (PT-SP), que prevê eleições diretas nos tribu-nais em todos os níveis, inclusive com aparticipação de servidores. Eu acho exce-lente essa proposta. Poder Judiciário nãoé monopólio de juiz, é do povo, qualquerpoder é do povo, está no artigo 2º da CF. Aproposta dos meus sonhos era abrir paratodas as funções essenciais da Justiça, co-mo Ministério Público, OAB, servidores,todos com direito de indicar seus repre-sentantes para poder eleger. Por isso, de-fendo o voto proporcional, para impedir amaioria tirânica. O voto proporcional é in-teressante, pois não fere o princípio da i-gualdade. Cada pessoa é um voto? Não.Quando cada pessoa é um voto, você temeleições gerais, quando qualquer pessoapode se candidatar e pode entrar na vidapolítica. Nos votos proporcionais, aconte-ce como nas universidades públicas: sóquem pode ser reitor é professor doutor,que está no topo da carreira. Na universi-dade, como um centro de pesquisa, vocêtem que colocar no topo os pesquisado-res, que vão deixar a qualidade daquelainstituição num patamar mais elevado.

Os candidatos são os professores douto-res, e cada professor tem um voto comouma pessoa, mas também participam osservidores e os alunos. Então, a paridade,para evitar a maioria tirânica. Se fosse umvoto por pessoa com o mesmo peso, osalunos sempre fariam o reitor, o que nãoé razoável. A nossa proposta aqui foi a deque um voto de desembargador equiva-lesse ao voto de cinco juízes de primeirograu. Porque iria dar uma paridade numé-rica proporcional, que evitasse a maioriatirânica do primeiro grau e a dos desem-bargadores também. Então, os candida-tos teriam igualdade de condições de ele-gibilidade. É provável que, com a nomea-ção dos novos dois desembargadores (a-tualmente o TRT-17 tem 10), um de carrei-ra e outro da OAB, nós teremos uma outrarealidade, uma outra circunstância táticae a proposta pode ser novamente apre-sentada. Não há nenhum obstáculo paraque isso aconteça, mas eu ainda vou con-versar com os desembargadores.

Jornal da Amatra XV – Uma das críti-cas mais contundentes à ideia é a deque as eleições amplas e diretas viola-riam o art. 102 da LOMAN, segundo oqual os colégios eleitorais, nos tribu-nais, são compostos apenas pelos juí-zes de 2º grau. Como V.Ex.ª responde aessa crítica?

Des. Bezerra Leite – Realmente, aseleições diretas violam o artigo 102 da LO-MAN, mas violam a Constituição? O quevale mais: o artigo 102 da LOMAN ou aConstituição? É muito importante isso.Dos julgamentos que eu estudei quandoapresentaram essa proposta, me pareceque as decisões do Supremo foram abso-lutamente equivocadas. O único voto queeu senti que tinha sentimento da herme-nêutica constitucional, que o próprio Su-premo apregoa, foi agora nas decisõesdas cotas e da união entre pessoas domesmo sexo, ou seja, o Supremo deu in-terpretação não levando em conta a lite-ralidade da norma constitucional, dandointerpretação sociológica, teleológica e,mais, interpretação conforme. Pela inter-pretação conforme, sabe-se como aquelanorma deve se comportar na interpreta-ção: dentre as interpretações possíveis,opta-se por uma ou mais que se coadu-nem com o espírito da Constituição, anali-sando a Constituição como um bloco deconstitucionalidade. E aí, nessa perspecti-va, se verificou que as decisões que o Su-premo adotou foram lamentáveis do pon-to de vista da nova hermenêutica consti-tucional. Por quê? Realmente na Consti-tuição de 1977, com a Emenda n. 1 de1969, a eleição dos presidentes de tribu-nais era feita da seguinte maneira: “Com-pete aos tribunais [...] eleger os seus ór-gãos de direção observado o disposto naLei Orgânica da Magistratura”. Era assim oregime anterior à Constituição de 1988.Era uma forma da própria CF se sujeitar aoEstatuto da Magistratura. Agora, a nova CFde 88, no seu artigo 96, inciso I, “a”, dis-põe que compete privativamente aos tri-bunais “eleger seus órgãos diretivos e

elaborar seus regimentos internos”. Seráque houve uma mudança aí? Eu pensoque houve uma grande mudança, umamudança substancial. Antes, era como sea própria Constituição reduzisse sua forçanormativa para agradar a posição infra-constitucional de uma Lei Orgânica daMagistratura. Que, diga-se de passagem,foi editada em 1979, um dos períodosmais nebulosos da vida cívica e políticado País, ou seja, foi em plena ditaduraque a LOMAN foi editada. E a LOMAN é ir-mã siamesa da Lei de Imprensa, que o Su-premo declarou praticamente toda in-constitucional, porque é incompatívelcom o Estado Democrático de Direito,com a liberdade de ideias, com a liberda-de de imprensa, com todas as liberdades.E a LOMAN sofre do mesmo mal, é o mes-mo câncer: ela é incompatível com o textoconstitucional. No particular, não tenhodúvidas, porque o STF, nas ações diretasque foram tentadas, entendeu lamenta-velmente que a eleição direta para presi-dente de tribunal dependeria de um novoEstatuto da Magistratura; enquanto nãovier, a LOMAN seria aplicada. Como queeu vou aplicar uma norma infraconstituci-onal, anterior a Constituição, que é abso-lutamente incompatível com o Estado De-mocrático de Direito? Essa a discussãoque eu gostaria que fosse travada. Que omagistrado fosse olho a olho com a popu-lação, que ele explicasse, esclarecesse aopinião pública que eles são contra a de-mocracia interna. Por que é algo inaceitá-vel? Essa democracia interna vai proporci-onar avanços, não hesito em dizer isso.Haverá aproximação de todos os magis-trados nesse processo. Quando dizemque “compete aos tribunais”, é válidolembrar que os tribunais são compostosde todos os magistrados. E é justo os juí-zes de primeiro grau participarem de umaeleição só quando estão terminando suacarreira? E esse modelo leva à pedagogiado oprimido, pois o juiz de primeiro graufica oprimido durante toda a vida da Ma-gistratura e quando assume no tribunalele se torna um opressor pior, esquecetudo o que passou, é impressionante. A-qui, no nosso tribunal, com raras exce-ções, o que se verifica é isso. Não só aqui,mas nos outros tribunais também. Eu te-nho tido muito contato com juízes de pri-meiro grau, participado na vida associati-va e é essa a situação. O juiz substitutonão pode nem escolher o próprio asses-sor. O acesso à Justiça não se faz nos tri-bunais, se faz nas varas. Quem realmentecarrega o fardo pesado não tem participa-ção sobre como vai ser gerido o bolo doorçamento? Não tem nem o direito de es-colher quem vai gerenciar isso?

Jornal da Amatra XV – Na propostaoriginária, o voto dos desembargado-res teria peso cinco, enquanto o votodos juízes de 1º grau teria peso um,provavelmente para compensar a supe-rioridade numérica desses últimos. Poroutro lado, os juízes de 2º grau de todomodo teriam uma representação qua-lificada, na medida em que, por razõesóbvias, apenas um juiz de 2º grau po-

“O presidente de

tribunal hoje tem

que ter uma

formação

transdisciplinar,

ele tem que

navegar em mares

nunca dantes

navegados”

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deria ser presidente ou vice-presiden-te. V.Ex.ª não entende que essa dis-tribuição desproporcional termina fe-rindo uma máxima democrática recor-rente desde os “Probos Pioneiros deRochdale” (1844), que é a ideia do“one man, one vote”?

Des. Bezerra Leite – Se nós fôsse-mos eleger o presidente com um voto pa-ra cada pessoa, no nosso caso, com dezdesembargadores e 53 juízes de primeirograu, iria prevalecer a vontade desses 53em detrimento dos dez, e aí nós teríamosuma discrepância de duas classes da mes-ma carreira, o que poderia gerar uma cri-se administrativa. Quem aprova o próprioregimento não são os juízes de primeirograu, não participam da aprovação dascontas do presidente, das decisões maisimportantes. É uma situação complexa.

Jornal da Amatra XV – V.Ex.ª, como.Vice-Presidente, pode ser eleito Presi-dente nas próximas eleições do TRT-17,isso seguindo a tradição vigente. V.Ex.ªgostaria que fosse já com a participa-ção dos juízes de primeira instância?

Des. Bezerra Leite – Sem dúvidas, é alegitimidade democrática do Judiciário.Eu prefiro ser sufragado por todos os cole-gas, se tiver que cortar eu corto na carne.Não faz sentido, é uma questão de con-vicção. Esse inclusive foi um dos fatoresque contribuíram para eu apresentar aproposta. A democracia tem que partir in-ternamente, por que ficar esperando obeijo do legislador acordar a bela ador-mecida? Não faz sentido. O Supremo, naverdade, está dando a eficácia limitada aoartigo 96 da CF, porque lá não faz nenhu-ma referência à edição de lei. Havia umsonho da Magistratura de primeiro grau,mas ninguém materializava isso por meiode projetos. Nós entendemos que nãoprecisava a fonte normativa por excelên-cia para irradiar efeito, bastava alterar oRegimento Interno.

Jornal da Amatra XV – Uma outraproposta inovadora debatida na mes-ma sessão foi a de conferir à Amatra opoder de apresentar propostas de e-menda ao regimento interno do tribu-

nal. Essa foi inclusive aprovada. Comoela contribui para reduzir o déficit de-mocrático que ainda existe interna-mente nos tribunais?

Des. Bezerra Leite – Essa propostaeu assinei, mas não sou o autor. Quemfez foi o Desembargador José Carlos Rizk,que é do quinto da OAB. Essa alteração noregimento é o primeiro passo da partici-pação dos juízes de primeiro grau na go-vernabilidade dos tribunais. Podem apre-sentar propostas de emenda ao regimen-to 25% juízes de primeiro grau, a Amatraou três desembargadores, outra vez o crit-ério de proporcionalidade. É um passo im-portantíssimo rumo à democratização.

Jornal da Amatra XV – O que V.Ex.ª a-cha da recente conquista da Amatra 18,que conseguiu assento e voz nas ses-sões plenárias do TRT de Goiás? Tam-bém vai na mesma direção das elei-ções amplas e diretas e do poder asso-ciativo de propor emendas? Quais se-riam os prós e os contras?

Des. Bezerra Leite – Sou inteiramen-te a favor, para mim não tem contra. A de-mocracia tem que ser cada vez mais am-pliada. Principalmente porque nós confia-mos nos nossos juízes, eles serão exce-lentes eleitores. São participações de juí-zes sem peso econômico, todos ganhamos mesmos salários. Quem tiver os me-lhores argumentos, convencer os pares,terá boas possibilidades de fazer boasgestões. O risco de errar é menor, pois agestão é compartilhada.

Jornal da Amatra XV – Como desem-bargador oriundo do quinto constitu-cional do Ministério Público, V.Ex.ª con-ta com toda a experiência de uma car-reira exitosa no Parquet trabalhista. Di-ria que, internamente, o Ministério Pú-blico é mais democrático que o PoderJudiciário? Por quê?

Des. Bezerra Leite – Sim, o Ministé-rio Público é tão democrático que está ho-je lutando para democratizar mais ainda.Por que eu digo isso? No Ministério Públi-co do Trabalho, por exemplo, há uma de-manda, uma reivindicação justa e neces-sária no sentido de que os procuradoresdo Trabalho possam concorrer ao cargode Procurador Geral da República, mas háum obstáculo na Lei Orgânica do Ministé-rio Público, que diz que somente Procura-dores da República podem concorrer aocargo de Procurador Geral. E o MinistérioPúblico da União é composto de Ministé-rio Público Federal, Ministério Público doTrabalho, Ministério Público Militar e Mi-nistério Público do Distrito Federal e Terri-tórios, então é importantíssimo que qual-quer um deles possa concorrer ao cargode Procurador Geral da República, que é ogrande gestor do MPU como um todo.Mas a escolha de Procurador Geral do Tra-balho é feita por um colégio eleitoral emque participam todos os procuradores,desde o que está ingressando na carreiraaté o subprocurador, que está no topo da

carreira. E lá já aconteceu, pelo menos u-ma vez, de um procurador regional ser e-leito Procurador Geral do Trabalho; quemestava na carreira intermediária foi guin-dado ao principal cargo. Esse aspecto é in-teressante, porque os candidatos ao car-go de procurador geral se aproximam dosprocuradores que estão começando nacarreira, que, por sua vez, são recebidosde forma bem fraternal. E por que o Minis-tério Público oxigenou bastante? Por essaponte que os candidatos, geralmentesubprocuradores, têm que fazer com oscolegas que estão no início da carreira eque estão em maior número. Por contadisso, a gestão do MP se preocupa muitocom as condições de trabalho de quemestá iniciando a carreira. O que não acon-tece na Magistratura. Então, veja como éimportante a possibilidade de atuaçãopolítica na escolha de seu diretor maior.

Jornal da Amatra XV – Mudando deassunto, V. Ex.ª é conhecido nacional-mente por seus escritos doutrinários,com destaque para o “Curso de DireitoProcessual do Trabalho” (LTr). Recente-mente palestrou no 6º COMTRES (Cam-pos do Jordão) sobre a figura do assé-dio processual. Na sua opinião, o assé-dio processual é um problema na Justi-ça do Trabalho? Em caso positivo, quaisas suas peculiaridades no processo la-boral e como o juiz deve combatê-lo?

Des. Bezerra Leite – Bom, assédioprocessual não é privilégio da Justiça doTrabalho, pois é praticado em todas as ins-tâncias, tanto no setor público como noprivado, é praticado dentro das Forças Ar-madas. Assédio moral e assédio proces-sual, pois esse último é desdobramentodo assédio moral. Pode ter assédio pro-cessual em um processo administrativo,eleitoral, civil e também no processo dotrabalho. É um mal que devemos comba-ter. O assédio processual é uma forma deofensa à dignidade das pessoas e pode

“Se o poder não

se democratiza,

ele não tem

legitimidade para

aplicar e efetivar

os direitos

fundamentais”

Entrevista

Segundo ele, a LOMAN sofre do mesmo mal da Leide Imprensa: é incompatível com a Constituição

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“A prática judiciária e administrativa nos tribunais ainda estámuito longe da perspectiva que estamos vivendo na academia”, diz ele

tanto ser praticado pelas partes, como pe-lo magistrado ou pelo servidor. Pode servertical ou horizontal, ele pode ocorrer dediversas maneiras. O que está em jogo é adignidade da pessoa que está atuando,pode ser inclusive em relação à testemu-nha ou ao perito. É uma prática que englo-ba uma vantagem, que pode ser política,econômica ou social, pode ser jurídica.Normalmente quem pratica assédio pro-cessual é o réu, porque ele quer procrasti-nar o processo, quer desencorajar o autora continuar com a demanda, ele fica pro-telando, até que o autor perca a autoesti-ma e acabe desistindo da ação ou aban-donando a causa.

Jornal da Amatra XV – Isso acontecemuito na Justiça do Trabalho, não?

Des. Bezerra Leite – Acontece. Mes-mo porque temos que levar em conta osfatos episódicos do processo. Por exem-plo, um empregado que precisa de umacarta para obter um novo emprego e esteempregado está demandando em facedo ex-empregador. E ele acaba sucumbin-do, pois o empregador informa que nãovai dar a tal carta para ele. Ele acaba desis-tindo porque foi assediado.

Jornal da Amatra XV – V.Ex.ª é favo-rável à extensão da competência mate-rial da Justiça do Trabalho para lides denatureza penal? Por quê?

Des. Bezerra Leite – Eu penso que épreciso que nós tenhamos uma visãobem racional sobre isso. É preciso saberqual é realmente o papel da Justiça do Tra-balho, seu papel histórico, se é efetivar osdireitos sociais fundamentais, ou se éprender pessoas que praticam crimescontra a organização do Trabalho, quesão coisas diferentes. O sujeito pode serpreso e ao ser preso ele não vai pagar na-da. Eu acho interessante continuar as ins-tâncias judiciárias especializadas em ca-da matéria, mas não sou refratário à ideiade haver uma reestruturação, maior apor-

te de recursos e pessoas para que ela pos-sa dar conta dessa demanda, principal-mente nos crimes contra a organizaçãodo trabalho. Mas tem uma ADIN lá no Su-premo que impediu qualquer entendi-mento que autorize a competência penalda Justiça do Trabalho.

Jornal da Amatra XV – V.Ex.ª é favo-rável à criação de unidades jurisdicio-nais especializadas na Justiça do Traba-lho (acidentes de trabalho, Fazenda Pú-blica etc.)? Por quê?

Des. Bezerra Leite – Nós vivemos emum tempo em que precisamos conhecero mundo globalmente para agir local-mente. A ideia da especialização eu vejocom muitos bons olhos. A forma de atuarda Justiça do Trabalho é diferenciada emalgumas demandas, como as de execu-ção fiscal, por exemplo. Hoje está se dan-do mais enfoque aos aspectos arrecada-tórios da Justiça do Trabalho do que àprestação jurisdicional aos direitos dostrabalhadores; prova disso é que o maiorrecorrente é o INSS e a União, como su-cessora. Ou seja, a Justiça do Trabalho es-tá perdendo sua identidade histórica e is-so me deixa muito preocupado. Segundodados do Ministério do Trabalho e Empre-go, mais de 50% dos empregados do Bra-sil não têm carteira de trabalho anotada.Olha a demanda adormecida, a demandacontida que existe. E são três milhões deprocessos que chegam por ano, em mé-dia, à Justiça do Trabalho. Se fizermos u-ma conta rápida, serão mais ou menosum milhão e meio de processos a mais, is-so porque nem todos os ex-empregadosajuízam ação. É um percentual muito pe-queno, cerca de 20% a 25% só. A cada dezempregados dispensados, e que foramviolados em seus direitos sociais traba-lhistas, apenas dois ou três procuram aJustiça. Por isso que eu sou a favor da co-letivização do processo do trabalho. Por-que o dia em que o trabalhador for substi-tuído processualmente, ele vai poder teracesso à Justiça do Trabalho sem mostrar

a cara. E vai poder fazer isso durante a vi-gência do contrato de trabalho. E, alémdisso, os juízes nas ações individuais têmque ter a sensibilidade de verificar se a-quela prática da relação individual reper-cute no ambiente do trabalho. Se verificarisso, oficia o Ministério Público para queentre com uma ação civil público, e paraque não só os atuais, mas também os fu-turos empregados daquela empresa se-jam protegidos constitucionalmente.

Jornal da Amatra XV – As associa-ções de juízes têm uma posição histori-camente crítica à instituição do quintoconstitucional nos tribunais, notada-mente após a criação do CNJ, que “oxi-genou” o Judiciário por outros cami-nhos. O que V.Ex.ª pensa a respeito?

Des. Bezerra Leite – Eu confesso queem um determinado momento da minhavida eu fui contra o quinto, quando eu eraprocurador do Trabalho. Isso porque ha-via uma cultura dentro do MPT de encami-nhar para a Magistratura aqueles mem-bros do Ministério Público que não ti-nham muita afinidade, que não queriamtrabalhar muito. Eram os chamados “pro-curadores de pijama”. Geralmente não ti-nham vida institucional, faziam aquelespareceres bem mais ou menos. Quer di-zer, não serviam nem para o MinistérioPúblico e eram encaminhados para a Ma-gistratura, o que acabou gerando proble-mas. Mas, historicamente, quem foramos criadores da Justiça do Trabalho ou daprópria CLT? Foram quatro procuradoresdo Trabalho: Arnaldo Süssekind, SegadasViana, Dorval Lacerda e José Rêgo Mon-teiro, isso na época de Getúlio Vargas. Euacho inclusive que tinha que ter integran-tes da Magistratura dentro do MinistérioPúblico, dentro do Conselho Federal daOAB, tinha que ter integrantes do MP noConselho Federal da OAB, porque nessesistema de freios e contrapesos da demo-cracia é muito importante unir a experiên-cia das instituições para você melhorarinternamente. E é importante que tenha-mos responsabilidade para escolhermosos melhores, que realmente vão levar ex-periência para melhorar aquela institui-ção ao qual será vinculado. Tenho plenaconvicção disso. Quando reconhecermosa importância do quinto para realmentemelhorar as instituições, trocar experiên-cias e prestigiar esse diálogo entre asinstituições, todas sairão fortalecidas. OCNJ e o Conselho Nacional do MinistérioPúblico não exercem a função jurisdicio-nal. Então, a meu ver, a existência dessasinstituições não altera em nada o quinto,porque o quinto é justamente para atuarna atividade-fim da Justiça. Os membrosdo MP e da OAB nos tribunais vão ser juí-zes, vão trocar a beca pela toga, como dis-se o Ministro Ayres Britto. Eles passam aintegrar a carreia. Diferente do CNJ e doCNMP, porque lá eles continuam sendointegrantes da sua carreira de origem,não mudam de carreira. Data venia, achoesse argumento totalmente frágil. E nãose sustenta, porque a ideia do quinto éjustamente colocar pessoas nas institui-

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ções para ter os mesmos poderes, mes-mas garantias, mesmos direitos, para quepossa haver realmente a democratizaçãodaquela instituição. E a realidade está de-monstrando isso. Em um congresso,quando ainda era procurador, foi deba-tido se o MPT iria querer continuar noquinto. Chegamos à conclusão de que, seo quinto é uma instituição constitucional,nós não podemos ser contra nem a favor.O constituinte originário entendeu queera uma instituição republicana, impor-tante para a ampliação dos debates de-mocráticos dentro das instituições, inclu-sive sobre o próprio papel delas. Se eufosse pensar só economicamente, jamaisteria deixado o Ministério Público. Eu digosempre que o coração continua sempreno MP, a instituição na qual me originei eque auxiliou na minha formação huma-nística, jurídica e prática, então a tenho namais alta conta. Mas meu cérebro é daMagistratura, eu sou magistrado commuita honra, tenho um novo papel, tro-quei a beca pela toga realmente. Querodar o melhor de mim, para tornar essa ins-tituição mais grandiosa e conceituada.

Jornal da Amatra XV – Como efetivara simetria entre as carreiras?

Des. Bezerra Leite – Isso é um pro-blema político. No MP, por conta da de-mocratização interna, ele conseguiu jun-to aos outros Poderes, Legislativo e Exe-cutivo, a aprovação da sua Lei Comple-mentar n. 75. É interessante que essa leidiz expressamente que, além dos direitosnela previstos para os membros do MP, a-plica-se subsidiariamente o regime dosservidores públicos, no que for mais favo-rável. Por isso, eles têm diversas vanta-gens. Com relação ao Supremo, peço li-cença para divergir. Porque ele diz quenão há direito fora da LOMAN, porque elatem um regime próprio. Isso é uma brin-cadeira. O Supremo, recentemente, emum mandado de injunção sobre greve deservidor público, mesmo a Lei n. 7783/89dispondo que a greve de servidor públicoserá regulada pela lei de que fala a Consti-tuição, mesmo a CF dispondo que o direi-to de greve do servidor público será exer-cido nos termos de lei específica — antesera de lei complementar —, o Supremomandou aplicar ao servidor público a leigeral do trabalhador da iniciativa privada.O que o Supremo fez? Que o Supremonão abra mão da regra do jogo que elevem adotando para interpretar as normasconstitucionais. O STF tem adotado inter-pretação conforme nos casos difíceis,vem avançando em várias matérias, comonos caso das cotas nas universidades, eem outras tem adotado interpretação lite-ral. Aplicar LOMAN para eleições diretas?Data venia! E por que isso? Aí a opiniãopública tem que saber. O sistema que oSupremo adota internamente é assim, é omais antigo quem vai ser o presidente,está no Regimento Interno do Supremo.Chegamos ao absurdo de ter um presi-dente do Supremo, de que eu gosto mui-to e que é o Ministro Ayres Britto, que vaiter só seis meses de mandato, porque é o

mais antigo. Certamente, se tivéssemoseleições diretas, isso não aconteceria,porque é inviável ser presidente só porseis meses. Não vai nem esquentar a ca-deira, não vai conhecer nada da gestãodo tribunal, não vai dar para fazer nada.Seis meses de administração é nada, por-que você demora pelo menos um ano pa-ra conhecer. O STF tem que dar o primei-ro passo para se autodemocratizar; a par-tir daí, vai dar um excelente exemplo. In-felizmente, a gente sabe que o conserva-dorismo e o autoritarismo que ainda exis-te no Judiciário brasileiro é muito grande.

Jornal da Amatra XV – Na sua opini-ão, quais são os grandes desafios daJustiça do Trabalho e do processo dotrabalho para os próximos 50 anos?

Des. Bezerra Leite – Acredito que oprincipal é desenvolver uma sólida forma-ção humanística dos magistrados do tra-balho. Temos uma carência muito grandeno que se refere à humanização dos ma-gistrados do trabalho. Não basta aplicar alei, porque a lei é um subproduto de umaideologia a serviço de uma classe domi-

nante, que é a nossa classe liberal bur-guesa. É preciso que os juízes ajam comum sentimento constitucional. Parafrase-ando o jurista Lenio Streck, o juiz tem quese tornar a boca da Constituição, e nãomais a boca da lei. E ser a boca da Consti-tuição exige uma postura diferenciada, u-ma formação continuada. A única coisaque não pode transitar em julgado para omagistrado é o livro; no momento emque o livro transita em julgado, aí lascou.É essa a necessidade de estudar perma-nentemente, e tem que ser de uma ma-neira transdisciplinar. Se nós temos umaConstituição que consagra o princípiopluralista, o Direito só não é suficiente pa-ra entender e resolver os grandes con-flitos da sociedade. Isso aponta para umaposição importante: as audiências públi-cas que o Supremo vem realizando, o queé um gesto de humildade, o de ouvir a so-ciedade, e de criar a cultura de que é im-portante ouvir a sociedade. Principalmen-te em casos que vão ter repercussões. Eupenso que a Justiça do Tra-balho, em pri-meiro lugar, tem que se humanizar.

Jornal da Amatra XV –Essa humani-zação seria feita de que maneira?

Des. Bezerra Leite – A minha propos-

ta é que essa formação venha desde a fa-culdade. O ideal seria se viesse do ensinofundamental, mas isso é um sonho ainda.Mas a gente tem que começar a trabalharpara mudar isso e já começamos. Um e-xemplo é o “Programa Trabalho, Justiça eCidadania” (Anamatra), em que o magis-trado vai até as escolas da periferia. É mui-to importante despertar na populaçãomais carente a importância da Justiça doTrabalho nas relações trabalhistas, quesão extremamente desiguais. O cidadãoprecisa saber que ele vai encontrar na Jus-tiça do Trabalho uma porta para sua cida-dania. Agora, insisto na formação huma-nística na graduação em Direito. Após lu-tar por 14 anos, na Universidade Federaldo Espírito Santo, pela inclusão da discipli-na de Direitos Humanos – e eu leciono láhá 18 anos –, conseguimos aprovar, em2012, Direitos Humanos como disciplinaoptativa para os alunos da graduação des-ta universidade, que é uma universidadede ponta no ensino do Direito. E é nessepequeno espaço de tempo que eu vejocomo os alunos, por meio de relatos en-viados para mim por e-mail, como elesmudaram a visão que tinham do Direito,pelo viés humanístico.

Jornal da Amatra XV – Há que fugirda visão tecnicista do Direito?

Des. Bezerra Leite – Eu falo para osmeus alunos que há uma “codigomania”.Parece que o Direito está em uma realida-de e a sociedade está em outra. Nessa vi-são, Direito e sociedade são coisas quenão se combinam. E dessa maneira vãoser formadas pessoas que vão reproduziro modelo opressor, com uma visão elitis-ta, com uma supremacia do Direito Civilsobre as outras disciplinas de Direito. Es-tudar os direitos humanos faz com quevocê tenha uma visão interdisciplinar,porque há conteúdos de todas as outrasdisciplinas jurídicas e pode-se transitar naFilosofia, na Sociologia, na Ciência Políti-ca, na Assistência Social. Sem dúvida ne-nhuma, a formação humanística vai darum upgrade na qualidade da prestaçãojurisdicional. E esse comportamento pe-dagógico do juiz muda a cultura das em-presas, porque o diálogo dele vai ser dife-rente com as partes. Aí entra o juiz mal-humorado, com a cobrança de metas emais metas, e ele não está dando contados processos, o que faz com que ele sejaum autômato e fique concentrado em nú-meros. “Conciliar é legal”. Para quem? Po-de ser legal para o Judiciário, que vai se li-vrar dos processos, mas será que vai serlegal para o jurisdicionado? Porque o em-pregador usa a Justiça do Trabalho comouma grande homologadora de renúncias;e você aumenta o abismo entre ricos epobres quando homologa essas renún-cias. E aí eu canto: “Valeu a pena, ê, ê ...”.Vale a pena ser réu. Agora, e se o juiz ofi-cia o Ministério Público quando verificapráticas reiteradas, para que haja acom-panhamento? Ou seja, a postura dele(juiz) vai mudar, porque ele vai pensar lána frente, antes de seu tempo. Um juizhumanista age assim.

“A única coisa que

não pode transitar

em julgado para

o magistrado

é o livro”

Entrevista

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Curso de Tiro

Quando os colegas de Sorocaba men-cionaram sobre a realização de um cursode tiro e defesa na Polícia Militar pensei,inicialmente, não iria, detesto armas, te-nho muito receio delas, já atirei, mas nãogosto mesmo. Tenho particular descon-forto com armas de fogo, especialmentearmas automáticas em face dos seus aci-dentes fatais. A princípio, recusei, mas de-pois fui convencido a participar. O cursoseria ministrado pela PM, em alto nível, eis-so me despertou alguma curiosidade,não tanto pelas armas, mas sim, pelo am-biente a ser visitado. Criei coragem e acei-tei, com muito receio de manejar uma pis-tola, sabia que teria que usá-la.

Tínhamos que nos encontrar na fren-te do Fórum Trabalhista de Sorocaba as7:15 da manhã de 11 de maio, ou seja, pa-ra quem vem de mais longe, saímos decasa ainda escuro. Isso deu um ar meiomilitar, de certo modo foi estimulante.

Após uma cerimônia de hasteamentode bandeiras, que ocorrem todas as sex-tas-feiras no quartel, iniciamos nossa ins-trução preliminar em uma sala de aulas.Fomos apresentados a um revólver 38 cro-mado, o que me causou uma certa apre-ensão. Meu pai tinha revólver, assim co-mo outras armas, mas ele nunca deixoueu atirar com elas. Sabendo que aqueleinstrumento poderia eliminar uma vida,mexer com aquela coisa não foi nada con-fortável. Porém nada mais foi assustador emacabro que receber em mãos uma pis-tola Taurus calibre .40, algo realmente im-pressionante e assustador. Minhas mãossuavam frio, ainda que totalmente descar-regada. Armas automáticas parecem serperigosas por ocultar projéteis ou dispa-rar facilmente. Eu fiquei assustado com a-quilo. Quando alguém parecia apontarpara o meu lado, ficava bastante assusta-do. Com a instrução metódica e pacientedo Capitão PM Vanderson Alcoléia, passeia tomar contato com aquele perigoso ins-trumento utilizado pela corporação e,gradativamente, fui perdendo o temor da-quele instrumento.

Com todas as explicações e o treina-mento de carregamento com muniçãofalsa, começamos a manter um contatocom aquela máquina que pode matar, e aperspectiva tão sombria daquele instru-mento revelou-se ainda perigoso, porémum pouco mais familiar. Descemos para aárea de tiro, cada qual com a sua pistolano cinturão da PM, além de coletes à pro-va de balas, onde pudemos colocar emprática todas nossas lições sobre os cuida-dos com a arma. Pela primeira vez andavacom uma arma na cintura. Confesso quetinha medo em disparar a arma, hesiteiem ser um dos primeiros, mas vi que teriaque enfrentar aquele temor. O estouro dodisparo impressionava, mesmo que dis-tante, um estampido muito forte. No pri-meiro disparo minha mão não tremia, sa-bia que tinha que ter a mão firme, mastranspirava demais. Depois foi mais um, eoutro, mais um sem mirar com um só o-lho, e outro, no final do primeiro dia fo-ram 10 disparos. Confesso que não sentiao mesmo temor da primeira vez. Mas ain-da não era algo confortável.

No segundo dia, na sexta-feira se-guinte, estava curioso com as lições queseriam ministradas, sabia que iria dar mui-tos disparos ainda. Recebemos a instru-ção do nosso paciente Capitão instrutorpara tiros com barricadas de treinamento,do lado direito, esquerdo e de uma pe-quena janela. Sempre atirávamos median-te a ordem “DEFENDA!”, não esqueço deseu comando. Nosso treinamento sem-pre era defensivo, mas aprendemos quequalquer pessoa que aponte arma contraum policial permite que este abra fogoem defesa própria. E daí fomos acostu-mando a atirar do lado direito, do lado es-querdo (bem mais difícil) pela falta de ân-gulo, em caminhada, ajoelhado e mesmocom cada uma das mãos. Sempre em doisdisparos próximos. Nunca imaginei quefosse atirar com uma arma tão potentecom a mão esquerda. No final, um teste,adentrar a uma casa com supostas pes-soas (do bem e do mal, em imagens depapel), onde devíamos atirar nos inimi-

gos (aqueles que nos apontassem ar-mas), me senti com confiança para fazeraquilo e efetuei 12 disparos com 11 alvosatingidos, 5 pessoas do mal atingidas empontos provavelmente letais. Ainda tive-mos experiência de atirar com uma espin-garda 12 e uma metralhadora.

Um treinamento bem ministrado den-tro do método Giroldi, foram 110 disparosdeflagrados, mas antes de tudo uma vitó-ria particular. Não passei a ser um aficcio-nado por armas, mas perdi parte do medode lidar com elas. Não perdi o respeito,que continua o mesmo, sei que conti-nuam sendo perigosas se não forem res-peitadas as regras de uso. Mas conhecen-do-as, posso afirmar que estou preparadopara tomar nas mãos aquele tipo de arma.Nunca sabemos sobre o nosso futuro, enão espero que algum dia precise usar u-ma pistola automática, mas se precisar u-sar, não terei tanto receio como tinha an-tes do curso. Também aprendi bastantesobre técnicas de defesa e coisas que ja-mais imaginei fazer, como entrar em umacasa e interpelar pessoas como se fossepolicial, se apontasse uma arma, deveriaatirar. Não é algo agradável nem atraente.Uma experiência que me ensinou algu-mas coisas, principalmente a dificuldadede ser um policial militar nos dias atuais,onde um mínimo erro de percepção podesignificar o fim da vida dele mesmo ou deum inocente. A superação do medo me-lhorou minha auto-estima, pois venci omedo que tinha.

Continuo contrário ao porte de qual-quer tipo de arma, não prezo a violência,mas podemos conhecer seus riscos e osseus limites. Agradeço à Amatra XV por es-ta importante experiência de vida, que foimarcante. E agora temos a possibilidadede realizar outros cursos, o importante éaprender e superar novos desafios.

Firmino Alves Lima é Juiz Titular daVara do Trabalho de Sorocaba e ex-presi-dente da Amatra XV.

Uma experiência em duas manhãs

Juízes da 15ª Região que participaram do Curso de Tiro emSorocaba, promovido pela Amatra XV e a Polícia Militar

O juiz Firmino Lima em ação durante o Curso de Tiro: disparoscom pistola, espingarda calibre 12 e metralhadora

Jornal AMATRA XVda18

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Jornal AMATRA XVda 19

Giro de Notícias

Os juízes do Trabalho reunidos no 6ºCongresso Nacional dos Magistrados doTrabalho da Região Sudeste, realizado en-tre os dias 22 e 24 de março, em Camposdo Jordão, divulgaram no dia 23 de marçouma carta aberta à sociedade civil, desti-nada a ressignificar o papel do juiz do Tra-balho na sociedade pós-contemporânea,evitando clichês que imponham uma cos-movisão de mercado que reduza as uni-dades jurisdicionais a células de produ-ção em massa de sentenças, com risco deprejuízo aos seus conteúdos de justiça.

A carta foi subscrita por representan-tes das Amatras 1 (Rio de Janeiro), 2 (SãoPaulo), 3 (Minas Gerais), 15 (Campinas einterior de SP) e 17 (ES).

Segue a íntegra da carta:

CARTA DE CAMPOS DE JORDÃO

Os Juízes do Trabalho presentes no 6°Congresso de Magistrados do Trabalho daRegião Sudeste, realizado entre 22 e 24 demarço de 2012, na cidade de Campos deJordão-SP, vêm a público externar apresente Carta Aberta aos Tribunais e asociedade civil. Reunidos, por aclamação,ponderam o quanto segue.

1- A pós-modernidade, da fragmenta-ção das grandes narrativas e da entropiados valores, representa para o magistradoa possibilidade de construir uma jurispru-dência mais humanista, a partir de umalógica de princípios, sem condescender,com a tentação ao voluntarismo: os valo-

res constitucionais devem ser o norteaxiológico de qualquer teoria da decisão.

2- No mundo atual, o “espaço da cida-dania” vem sendo hostilizado pelo “espa-ço do mercado”, traduzindo a tensão en-tre “emancipação social” e “colonialis-mo”. A vocação ideológica do Direito doTrabalho contemporâneo é a preservaçãoe a promoção do primeiro, o que se deverefletir tanto na atuação quanto na admi-nistração do Poder Judiciário trabalhista.

3- Nesse contexto, questiona-se o sur-gimento de modelos gerenciais influen-ciados por uma racionalidade fordista-tay-lorista, de metas cegas de produção, comameaça ao papel político-social constitu-cionalmente atribuído à magistratura e aoJudiciário. Repulsa a razoabilidade, p.ex.,que as tutelas de interesses coletivos se-jam igualadas, para fins de produtividade,às tutelas de interesses individuais.

4- O escopo e a essência da função ju-risdicional são desvirtuados a partir do es-tabelecimento de metas de produtivida-de puramente quantitativas. Preocupa-nos, em última análise, a perda de sen-tido da atividade judicante, com o pro-gressivo deslocamento do julgador à con-dição de mero gestor, sob uma ótica eco-nômico-monetista.

5- A justiça que resulta em efetiva sa-tisfação dos direitos das partes, e que to-ca a alma, não se mede por estatísticas.

Campos do Jordão, março de 2012.

O Conselho Nacional das Escolas deMagistratura do Trabalho (Conematra) sereuniu nos dias 12 e 13 de abril na sede doTribunal Regional do Trabalho da 15ª Regi-ão, em Campinas, para a realização desua Assembleia Geral Extraordinária e reu-niões de trabalho. O presidente da Ama-tra XV, Juiz Guilherme Guimarães Felicia-no, participou do evento e foi lembradopelo presidente do Conematra, Juiz Car-los Alberto Zogbi Lontra, da 4ª Região(RS), por estar à frente da instalação da Es-cola Associativa dos Magistrados do Tra-balho da 15ª Região (Esmat 15).

A reunião de trabalho contou com apresença de dirigentes de escolas judici-ais e associativas de todo o País, tendo co-mo tema central “O Papel das Escolas naFormação Continuada de Magistrados -Resolução 09/2011 da Enamat”, com apre-sentação de experiências, proposições,debates e conclusões.

Ao término da reunião, foi feita umahomenagem ao Desembargador José An-tônio Pancotti, diretor da Escola Judicialdo TRT-15, que participou pela última vez

de uma reunião do Conematra.

Durante a reunião de trabalho, o pre-sidente da Amatra XV pontuou, a respeitoda recente Resolução 09/2011 da Enamat,que o efetivo aproveitamento dos progra-mas de formação inicial e continuada pa-ra magistrados encontra óbice em três as-pectos não resolvidos por aquela norma-tiva, a saber: (1) o fato de que as 40 ho-ras/aulas semestrais (reduzidas para 20horas/aulas em relação ao 2º semestre de2012) podem se tornar um compromissoinsuportável no dia-a-dia da jurisdicão, senão houver dispensa para esse fim; (2) ofato de que a realização de cursos presen-ciais nas grandes regiões, com valor obje-tivo para efeito de promoções, prejudica-rá juízes designados para as unidadesmais remotas, se não houver contraparti-da estrutural e financeira para os desloca-mentos e estadias; e (3) o fato de que aspróprias escolas judiciais terão dificulda-des em o-ferecer 60 horas/aulas semes-trais para os juízes, se não contarem coma atuação complementar das escolas as-sociativas, sendo imprescindível, nesseparticular, assegurar às primeiras autono-

mia administrativa para certificar os cur-sos oferecidos pelas últimas.

No dia seguinte, os assessores partici-pam de oficinas para operacionalizar asproposições da véspera sobre o tema cen-tral e dar continuidade aos trabalhos de-senvolvidos na rede de escolas. Enquantoisso, os magistrados participam da As-sembleia Geral Extraordinária, que trarácomo pauta as proposições acerca da re-visão da Resolução nº 126 do ConselhoNacional de Justiça e acerca da própria Re-solução Enamat nº 09, a deliberação so-bre os relatórios dos grupos de estudos,aprovação da ata anterior e escolha do lo-cal, data e tema do próximo encontro.

Entre as autoridades presentes, esta-vam o presidente do TRT-15, Desembarga-dor Renato Buratto, o Desembargador Sa-muel Hugo Lima, Vice-Diretor da EJUD, osecretário-geral do Conematra, Juiz FlávioLuiz da Costa, da 19ª Região (AL), e os di-retores do Conselho, Desembargadora Li-lian Gonçalves, do 2ª Região (SP), e De-sembargador James Magno Araújo Farias,da 16ª Região (MA).

6° Comtres tem carta à sociedade

Conematra faz reunião na 15ª Região

Dando seguimento à Carta-Programada diretoria, especificamente na questãode segurança institucional, os colegas daCircunscrição de Sorocaba frequentaramo "Curso de tiro defensivo na preservaçãoda vida - Método Giraldi", módulo básicopara autoridades civis, nos dias 11 e 18 demaio, em Sorocaba.

O curso foi realizado no quartel doCPI-7 (Comando de Policiamento do Inte-rior Sete), ministrado pelo instrutor Capi-tão Alcoléia, sendo utilizadas pistolas se-mi-automáticas .40 S&W. Os magistradostambém manusearam armas de maiorcalibre, como escopetas e metralhadoras.

Participaram os colegas Ronaldo Oli-veira Siandela (Diretor Regional), MarceloSchmidt Simões (Representante da Co-missão de Segurança Institucional), Firmi-no Alves Lima, Mauro César Luna Rossi,Valdir Rinaldi Silva, Vinicius Magalhães Ca-sagrande, Alexandre Chedid Rossi, AnaMaria Eduardo da Silva, Luciano Brisola eTony Everson Simão Carmona.

Todos receberam certificados habili-tando-os como usuários.

A Amatra XV já está sendo organizan-do a continuação do curso, agora no mó-dulo avançado.

Juízes fazemCurso de Tiroem Sorocaba

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Jornal AMATRA XVda20

O presidente da Amatra XV, juiz Gui-lherme Guimarães Feliciano, representoua Anamatra na 3ª Conferência Nacionaldas Carreiras Típicas de Estado, realizadanos dias 15 e 16 de maio, no Centro deConvenções Ulysses Guimarães, em Bra-sília. Na ocasião, o magistrado criticou alei sancionada pela presidenta DilmaRousseff em maio que criou a Fundaçãode Previdência Complementar do Servi-dor Público Federal (Funpresp) para osservidores públicos da União. A lei 12.618/12 vale para servidores que ingressam nofuncionalismo público, que não terão agarantia de aposentadoria integral.

Com a nova lei, o indivíduo que in-gressar no serviço público após a vigênciadas novas regras terá contribuição previ-denciária limitada a 11% do teto do Regi-me Geral de Previdência Social (RGPS),hoje fixado em R$ 3.916,20. Para ter apo-sentadoria maior, o servidor poderá con-tribuir com o fundo de previdência com-plementar do Poder em que trabalha –Executivo, Legislativo ou Judiciário. Se fi-zer essa opção, a complementação dorespectivo fundo.

Para o presidente da Amatra XV, a leitem inconstitucionalidades e inconsistên-cias. O juiz afirmou que as “funpresps”têm personalidade jurídica de direito pri-vado, enquanto, não obstante, são de na-tureza pública. “Não é assim que funcio-na. Há de haver um estatuto jurídico dedireito público”, analisou. “Ser públicoimplica suscitar interesse público e, por-tanto, responsabilidade pública dosentes”, disse ele.

O juiz também ponderou: “Passa ha-ver uma cisão das carreiras típicas de esta-do. Com a implementação da Funpresp,passam a ter os servidores que ingressa-ram antes e depois no serviço público,em situação amplamente distintas. Passa-mos, assim, a ter duas carreiras de estado,uma subclasse. Podíamos ficar calados,pois nós, que já somos servidores, não se-remos muito afetados. Há, sim, preocupa-ção com futuro de serviço público doPaís”, observou ele.

Feliciano ainda elencou, por fim, suaspreocupações perante a nova lei: o servi-ço público passa a se tornar menos inte-

ressante; os bancos oferecerão serviçosabertos de previdência privada, e estes,talvez sejam mais vantajosos; quebra-se opacto histórico de valorização do serviçopúblico, ferindo, inclusive, as recomenda-ções da OCDE. “Haverá, ainda, maior ro-tatividade nos cargos de funções públicase, claro, queda da qualidade técnica doservidor público médio”, finalizou ele.

Previdência complementar criarácisão nas carreiras, diz Feliciano

A realização de eventos esportivosem nível nacional era um anseio dos asso-ciados. A ideia seria promover um encon-tro destinado a estimular a prática saudá-vel de atividades físicas, propiciando umevento de congraçamento e lazer. Surgi-ram, então, os Jogos Nacionais da Anama-tra. A primeira edição dos Jogos Nacionaisocorreu em 2005, na cidade de Goiânia,época em que havia apenas as modalida-des futebol society e tênis. A Amatra XVparticipou das partidas de futebol e dosjogos de tênis de quadra.

No ano de 2006, o evento foi em Flo-rianópolis, e as modalidades corrida rústi-ca e xadrez foram acrescentadas. A equi-pe de corrida estava animada e foi com-posta por Guilherme Feliciano, ManoelPenido, Luiz Rodrigo Braga, Marcus Bar-berino e José Antonio Dosualdo.

Em 2007, os Jogos foram em Salvadore, pela primeira vez, com 8 modalidades:além do futebol, corrida, tênis e xadrez,também houve disputas de tênis de me-sa, dominó, natação e vôlei de areia.

O Rio de Janeiro recebeu a 4ª edição

dos Jogos Nacionais, em 2008, e o timede futebol da Amatra XV realizou campa-nha histórica, sagrando-se vice-campeão,perdendo apenas a final para os anfitri-ões nos pênaltis.

A Amatra XV também conseguiu suaprimeira medalha de ouro, na corrida de10 km, com José Antonio Dosualdo, na ca-tegoria até 35anos.

A Associação também conseguiu aprimeira medalha no feminino: a de pra-ta, na corrida de 10 km, com Andréa Guel-fi Cunha, na categoria entre 35 e 43 anos.

Em 2009, os Jogos ocorreram em Bo-nito/MS e o nadador Carlos Augusto Es-canfella obteve medalha de ouro na nata-ção, nos 50 m nado livre, na categoria aci-ma de 40 anos.

O biribol entrou como novidade nes-sa edição e a equipe da Amatra XV, com-posta por Carlos Augusto Escanfella, Fir-mino Alves Lima e Valtair Noschang con-quistou a medalha de bronze.

A edição de 2010 aconteceu em Bento

Gonçalves no Rio Grande do Sul e o des-taque ficou por conta do enxadrista Ale-xandre Klimas, que ganhou a medalha deouro no xadrez.

No ano passado, a Amatra XV realizousua melhor campanha na história dos Jo-gos: obteve a expressiva 3º colocação noquadro geral de medalhas, com destaquepara Regina Rodrigues Urbano, que arre-batou nada menos que 04 medalhas deouro na natação e uma medalha de pratana corrida 5 km, e o magistrado José Anto-nio Dosualdo, que faturou as medalhasde ouro nas cor-ridas de 5 km e 10 km, ca-tegoria até 40 anos.

Este ano a edição dos Jogos promete:será em Foz do Iguaçu/PR, entre os dias01 a 04 de novembro de 2012, onde certa-mente teremos momentos inesquecíveis.

A Amatra XV, através da sua Comissãode Esportes, está multiplicando esforçospara que a participação dos associadosno evento esportivo nacional continuecrescendo, pois sabemos que a prática deesportes é requisito fundamental para al-cançar qualidade de vida.

Histórico da Amatra XV nosJogos Nacionais da Anamatra

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Jornal AMATRA XVda 21

Giro de Notícias

A Juíza Substituta Patrícia Maeda,membro da Comissão de Direitos Huma-nos da Amatra XV, acompanhou como ob-servadora duas diligências do MinistérioPúblico do Trabalho da 15ª Região feitasem conjunto com o Ministério do Traba-lho e Emprego. Na primeira, a magistradaparticipou de uma inspeção na constru-ção da nova fábrica da indústria automo-bilística Hyundai, em Piracicaba, em de-zembro do ano passado. A segunda dili-gência, nos dias 15 e 16 de maio, foi na re-gião de São João da Boa Vista, quando no-ve fazendas de café foram alvo de fiscali-zação. Na oportunidade foram flagradasirregularidades graves, como o trabalhode menores na colheita de café, aloja-mentos em condições precárias e deze-nas de pessoas sem registro em carteira.

Na ação do final de 2011, a represen-tante da Comissão de Direitos Humanosda Amatra acompanhou os ProcuradoresAlex Duboc Garbellini e Maria Stela deMartin, além de auditores do MTE e servi-dores do Centro de Referência em Saúdedo Trabalhador de Piracicaba.

De acordo com a juíza, em reuniãocom representantes da empresa foramdebatidas diversas questões sobre as con-dições de trabalho dos "terceiros" naconstrução civil, notadamente quanto àSegurança e à Medicina do Trabalho.“Cumpre relevar que à época havia maisde trinta empresas atuando no local e ca-da qual com sua própria estrutura de re-feitórios, vestiários etc. Além disso, já ha-via no local cerca de 300 empregadoscontratados diretamente pela multinacio-

nal”, afirma Patrícia.

Diante dos pontos discutidos na reu-nião, ficou nítida a diferença de condi-ções de trabalho entre empregados daHyundai e terceirizados. Ao final, a Hyun-dai se prontificou a encaminhar todas assolicitações dos órgãos ali presentes aosseus prestadores de serviços. Comprome-teu-se ainda a estudar a possibilidade defornecer a mesma estrutura de "apoio evivência" (refeitórios, vestiários, local dedescanso) aos empregados das empresasprestadoras de serviços.

Colhedores de café

Comandada pela procuradora-chefeda PRT-15, Catarina Von Zuben, a diligên-cia realizada em maio de 2012 em novefazendas de café da região de São João daBoa Vista também foram observadas pelamagistrada da 15ª Região. Nos dois dias,foram encontrados quase 200 trabalhado-res rurais sem registro em carteira, entreeles quatro menores de idades, além demuitos migrantes de Minas Gerais trazi-dos irregularmente para realizar a colhei-ta, sem a certidão liberatória para trans-porte de trabalhadores. Além disso, todasas propriedades apresentaram irregulari-dades graves em relação às condições detrabalho como falta de áreas de vivência,como refeitório e abrigo contra intempé-ries, alojamentos sem condições míni-mas de higiene, falta de sanitários, faltade equipamentos de proteção (luvas ebotinas, principalmente) e transporte ina-dequado (caminhão baú e kombis combancos de madeira).

Na área industrial de uma proprieda-de em Águas da Prata, onde era feita a la-vagem e secagem dos grãos, as autorida-des identificaram falta de proteção contraquedas e de guarda-corpos, escadas emsituação perigosa e máquinas com partesperigosas expostas. A caldeira estava há 8anos sem inspeção e com partes deterio-radas, o que resultou na sua interdição.

Os trabalhadores não recebiam o pa-gamento salarial de acordo com a normacoletiva da categoria, que prevê o paga-mento por produtividade; eles recebiamdiárias fixas. As horas in itinere não esta-vam sendo quitadas. E as carteiras de tra-balho estavam retidas pelo empregador.

Após as diligências, empresas com-pareceram ao Ministério do Trabalho deSão João da Boa Vista para entregar os do-cumentos relativos à fiscalização, comocomprovação de registro, folhas de pon-to, ficha de entrega de equipamentos, en-tre outros. O MPT propôs Termos de Ajus-tamento de Conduta (TACs) às fazendasque se encontravam irregulares, na tenta-tiva de solucionar as questões trabalhis-tas extrajudicialmente. Todas as fazendasforão multadas pelos fiscais do MTE.

A participação da Comissão de Direi-tos Humanos da Amatra XV como obser-vadora em diligências realizadas peloMinistério Público do Trabalho busca amelhor interação entre os atores do Direi-to do Trabalho, bem como uma melhorcompreensão da realidade das relaçõesde trabalho. (Com informa-ções do Setorde Imprensa do PRT-15)

Comissão de Direitos Humanosacompanha diligências do MPT

Juíza Patrícia Maeda em fazenda de café: parceria com MPT e MTE Trabalhador colhe café de chinelo e sem nenhum EPI

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O magistrado Benjamin Flávio de Al-meida Ferreira se aposentou em junho de2005 e em fevereiro do ano seguinte vol-tou para Avaré, cidade onde nasceu e vi-veu até mudar-se para São José do RioPreto em 1998. O Albergue Noturno “OBom Samaritano”, que havia sido funda-do em 1958 por um grupo de espíritas,dentre os quais o pai do juiz, Antonio Fer-reira Inocêncio, estava fechado desde2003. Mas já havia Albergue Municipalatendendo aos necessitados.

Em reunião com os amigos da entida-de, Benjamin decidiu reabri-la. Fez-se as-sembleia, elegeu-se diretoria e foi aprova-do novo estatuto. O antigo Albergue pas-sou a denominar-se Associação Espírita“O Bom Samaritano”. Suas finalidades so-ciais passaram a ser atender pessoas apartir de 16 anos (atualmente a partir dos14), em situação de risco pessoal e social,prestando-lhes assistência e orientaçãomoral, educacional e profissional.

Teve peso nessa decisão não só o ge-neralizado despreparo para o mercado detrabalho, mas também divulgação pelamídia do desemprego que ameaçava oscortadores de cana com a implantaçãocompulsória do corte mecanizado das la-vouras. “Eram milhares na região. O queseria deles, se sequer eram alfabetizadosem informática?”, indagou o juiz.

O único prédio que a entidade possu-ía desde 1958 passou por reforma e adap-

tação para funcionar como escola de cur-sos livres profissionalizantes e de infor-mática, todos gratuitos. Os cursos, quecomeçaram em junho de 2006, em poucotempo estavam lotados. Até mesmo o

INSS passou a encaminhar pessoas, inclu-sive de outras cidades, para qualificaçãodestinada à reabilitação profissional.

Como esse imóvel se localiza próximoao centro da cidade, logo foi constatadoque a população mais necessitada tinhadificuldade de frequentar a casa, por resi-dir em bairros mais distantes. Sensível aoproblema, uma empresa da cidade doouao Samaritano terreno com 4.200 m2 emavenida de fácil acesso e próxima a bair-ros com população predominantementede baixa renda. Foi então edificada a 2ªUnidade, concluída em abril de 2010. Éum prédio com formato escolar, com 482m2 de área construída, vizinho a váriosbairros desprovidos dos benefícios ofe-recidos pelo Samaritano.

Nas duas unidades os cursos são va-riados e totalmente gratuitos : informática(também para a 3ª idade), secretariado eassistente administrativo, atendimento evendas, telemarketing, garçom, manicu-re, auxiliar de cabeleireira, corte e costu-ra e artesanato (tricô, crochê, bordado,

Jornal AMATRA XVda22

Juiz aposentado dirigeentidade em Avaré

Benjamin Flávio de Almeida Ferreira é diretor-presidenteda Associação Espírita “O Bom Samaritano” de Avaré

Adolescentes atendidos na associação “O Bom Samaritano”: qualificação profissional gratuita

Segunda unidade da associação: mais de 400 jovens atendidos

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Jornal AMATRA XVda 23

ponto cruz, fuxico, pintura de tecidos, pat-chwork). Há cursos em parceria com o Se-nac, como o PET (Programa de Educaçãopara o Trabalho), já concluídos, e o do A-prendiz, em andamento.

Há também cursos de apoio escolar(português, inglês, espanhol, italiano,matemática), de alfabetização de adultose até de Vida Saudável (ginástica).

A partir do 2º semestre, em recém-concluído galpão com área de 305 m2,serão realizados cursos em parceria como Senai na área da indústria (costura in-dustrial e torneiro mecânico) e de cons-trução civil (encanador, eletricista resi-dencial, pintor e pedreiro).

O Samaritano também promove reu-niões mensais com famílias de alunos a-bordando a necessidade de integração econvivência familiar. Nessas ocasiões háexposições e debates de temas relaciona-dos à saúde, à cidadania, ao trabalho. Asúltimas deste ano versaram sobre a pre-venção ao câncer de mama e depres-são/ansiedade, apresentadas em carátervoluntário por profissionais das áreas. Apróxima abordará a questão da alimenta-ção equilibrada.

O Samaritano possui cinco funcioná-rios: uma atendente em cada unidade etrês professores, um deles de Informáti-ca. “As pessoas perguntam como é possí-vel tanta atividade com tão poucos em-pregados. Simples: a entidade conta comcerca de 90 voluntários. São professoresem atividade ou aposentados que minis-tram os cursos nos dias e horários compa-tíveis com os seus outros compromissos.São cabeleireiras, manicures, costureirasque vão transmitir o que sabem e já há ex-alunas que se tornaram monitoras. Hápessoas de todas as idades que se dedi-cam ao cadastro de notas e cupons fiscais

para o programa da Nota Fiscal Paulista,gerador de receita para a instituição. Háos que auxiliam nas atividades de secre-taria, na Banca Espírita, na biblioteca. Vá-rias turmas de Informática são atendidaspor voluntários”, informa Benjamin.

Os recursos para a manutenção pro-vem de repasse da Prefeitura (R$ 3.500,00por mês), do Programa da Nota Fiscal Pau-lista e contribuições e donativos de asso-ciados e de amigos da instituição. A quan-tidade de alunos é crescente. Em abril últi-mo estavam inscritos 492 alunos da uni-dade I e 408 na unidade II. O número ele-vado se explica porque muitos alunos fa-zem mais de um curso.

“Problemas? Há sim: evasão de alu-nos, frequência irregular, limitações fi-nanceiras e atrasos dos repasses da Pre-feitura. Mas todos os que se empenham

nas atividades de ensino e orientação sesentem imensamente retribuídos pela sa-tisfação do dever cumprido, na conheci-da fórmula evangélica, o dever de fazerpelo próximo o que gostaria que este lhefizesse”, afirma o magistrado.

O Samaritano tem reuniões diárias deestudo, de oração e de atividades de as-sistência espiritual e de divulgação do E-vangelho e da Doutr ina Espír i ta.

Endereços da entidade :

Unidade I: Rua Bahia, 426, Centro –Fones: (14) 3732-5390 e (14) 9803-8632

Unidade II: Av. Salim A. Curiati, 1591,Jardim Brasil – Telefone: (14) 3732-9826

E-mail: [email protected]

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Doutor, seu cliente cravouum machado na cabeça davítima quando ela dormia!

Como é que querinocentá-lo?!

“Excelência, vejabem: é que o

Direito...”

“... não socorre aosque dormem!”

Juiz aposentado Benjamin Ferreira comanda a entidade: trabalho voluntário traz satisfação

Trabalho Voluntário

Page 24: EXCLUSIVO: Carlos Henrique Bezerra Leite em diálogo franco ... · Trabalho da 15ª Região (a saber, o seu Órgão Especial Administrativo — art. do RITRT-15—eoseuTribunalPlenoAdminis-trativo

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