eunice ferreira nunes updt ii · 2017. 2. 22. · consulta a documentos jurídicos é necessária...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP EUNICE FERREIRA NUNES GÊNERO DISCURSIVO PROPAGANDA IMPRESSA: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA SÃO PAULO 2009

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP

    EUNICE FERREIRA NUNES

    GÊNERO DISCURSIVO PROPAGANDA IMPRESSA:

    UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

    MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

    SÃO PAULO 2009

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP

    EUNICE FERREIRA NUNES

    GÊNERO DISCURSIVO PROPAGANDA IMPRESSA:

    UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência Parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob orientação do Prof. Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira

    SÃO PAULO 2009

  • AGRADECIMENTOS

    A meus pais, Gabriel e Eunice, pela paciência e incentivo, sem os quais seria

    praticamente impossível a realização deste trabalho.

    A meus irmãos, sobrinhos e cunhados pela colaboração e incentivo.

    Aos amigos da Escola Estadual Gabriel Prestes, pelas contribuições.

    A amiga Lurdes (Secretária da LPO) pelas preciosas contribuições.

    A todos que contribuíram de alguma forma para que esse trabalho se

    realizasse, em especial:

    Ao meu orientador, João Hilton Sayeg, pela orientação, pelas leituras

    indicadas, pelo estímulo, pela paciência, pelo incentivo e pela confiança.

    A todos os Professores Doutores do Programa de Língua Portuguesa por

    contribuírem com a construção do meu saber.

  • Banca Examinadora

    ______________________________

    ______________________________

    ______________________________

  • RESUMO

    O presente trabalho tem como objeto de pesquisa o estudo do gênero discursivo propaganda impressa, presente em livros didáticos e avaliações da rede pública estadual, como o SARESP e o ENEM. Teve como ponto de partida analisar propagandas impressas e descrever as principais características do gênero, com ênfase na articulação entre as linguagens verbais e visuais, sempre de forma articulada às condições de produção, circulação e recepção dos textos. Para direcionar a trajetória dessa pesquisa, efetuou-se uma análise fundamentando-se nas atuais propostas de ensino que tem nos gêneros discursivos, no sentido bakhtiniano do termo, suas unidades básicas de ensino. O corpus escolhido para essa pesquisa constituiu-se em dez propostas de leitura do gênero discursivo propaganda impressa de escola. A pesquisa mostra que, para se obter uma efetiva leitura do gênero discursivo propaganda impressa presente em nossa vida, é necessário que o aluno conheça e identifique os vários recursos verbais e não-verbais presentes nesse gênero . Essa pesquisa pode fornecer subsídios aos professores, para que possam planejar atividades de trabalho utilizando o gênero propaganda, em sala de aula, de maneira mais abrangente e enriquecedora. Palavras-chave: gênero discursivo, leitura, propaganda impressa.

  • ABSTRACT This dissertation aims as object research the study of discursive gender, print advertising, found in textbooks and assessments of public state, as SARESP and ENEM. Had as a starting point to analyze print advertising and describe the main characteristics of the gender, emphasizing the link between the verbal and visual language, always in articulated way the conditions of production, circulation and reception of texts. To direct the way of this research, was performed an analysis based on current proposals for education that has the in the discursive gender, the Bakhtinian sense of the term, the basic units of education. The corpus chosen for this research consisted of ten proposals for reading of discursive gender print advertising at the school. The research shows that, to obtain an actual reading of the dircursive gender in our life, is necessary that students know and identify the most resources verbal and nonverbal present in this gender. This research may provide grants to teachers, to them can plan work activities using the discursive gender, in the classroom, in a way more complete and enriching. Keywords: discursive gender, reading, print advertising

  • SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

    Capítulo I .................................................................................................................. 10

    1.1. A leitura de gêneros discursivos .................................................................. 10

    1.2. A questão do estilo. Um exemplo: o gênero propaganda. ............................ 18

    1.3. Pressupostos sobre projetos de leitura, organizados por meio de seqüência

    didática ................................................................................................................... 23

    Capítulo 2 ................................................................................................................. 28

    A PROPAGANDA ..................................................................................................... 28

    2.1 Apresentação do capítulo ............................................................................. 28

    2.2 Propaganda e publicidade ............................................................................ 28

    2.2.1 Classificação dos tipos de publicidade ...................................................... 29

    2.2.2 Classificação dos tipos de propaganda ..................................................... 30

    2.3 A propaganda: Definição e função ................................................................... 31

    2.4. A linguagem da propaganda -características composicionais, linguísticas e

    textuais. .................................................................................................................. 33

    2.4.1 Recursos verbais mais comuns nas propagandas impressas ................... 33

    2.4.2. Empréstimos Linguísticos ........................................................................ 35

    2.4.3 Aspectos Fonológicos ............................................................................... 35

    2.4.4 Aspectos Morfológicos .............................................................................. 37

    2.4.5. Aspectos Sintáticos .................................................................................. 40

    2.4.6. Aspectos Semânticos ............................................................................... 41

    2.4.7. Linguagem figurada .................................................................................. 42

    2.4.8. Verbos ...................................................................................................... 42

    2.4.9. Marcadores de pressuposição ................................................................. 43

  • 2.5. Recursos não-verbais mais comuns nas propagandas impressas ................. 45

    2.5.1. Ilustração .................................................................................................. 45

    2.5.2. O emprego da cor .................................................................................... 46

    2.5.3 Tipos de letra ............................................................................................ 48

    2.5.4 Usos e apelos na propaganda .................................................................. 49

    Capítulo 3 ................................................................................................................. 51

    A SITUAÇÃO MOTIVADORA DO ENSINO APRENDIZAGEM DE TEXTOS VERBAIS E NÃO VERBAIS ..................................................................................... 51

    3.1 O desenvolvimento das atividades em sala de aula: ....................................... 52

    3 .1.1 Sensibilização dos alunos: ....................................................................... 52

    3.1.2 Levantamento do grau de conhecimento dos alunos em relação ao gênero

    propaganda: ....................................................................................................... 52

    3.1.3 Leitura de textos pertencentes ao gênero propaganda: ............................ 52

    3.1.4 Levantamento das características do gênero: ........................................... 53

    3.2 Elaboração e criação da propaganda pelos alunos: ........................................ 69

    3.2.1 Elaboração da primeira versão do anúncio: .............................................. 69

    3.2.2 Digitalização e finalização dos trabalhos: .................................................. 70

    3.2.3 Última revisão: .......................................................................................... 70

    3.3 Uma seqüência didática para leitura de propaganda impressa ................... 83

    Considerações Finais ............................................................................................. 85

    REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87

  • 9

    INTRODUÇÃO

    Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Leitura, Escrita e Ensino de

    Língua Portuguesa e tem por objetivo um relato de experiência pedagógica e

    elabora reflexões sobre o processo que ele ocorre. A questão norteadora da

    pesquisa é: o gênero discursivo propaganda impressa.

    Considerando as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e

    a importância desse gênero em nossa prática educativa.

    Fundamentamo-nos, sobretudo, em estudos sobre gêneros do discurso na

    perspectiva bakthiniana, uma vez que tais estudos tem alimentado muitas reflexões

    teóricas e metodológicas sobre produção e compreensão de textos na escola, com

    base na perspectiva central do PCN para ensino de língua portuguesa.

  • 10

    Capítulo I

    1.1. A leitura de gêneros discursivos

    A palavra gênero sempre foi bastante utilizada pela retórica e pela literatura

    com um sentido especificamente literário, identificando os gêneros clássicos – o

    lírico, o épico, o dramático – e os gêneros modernos, como o romance, a novela, o

    conto, o drama, etc. (MARCUSCHI, 2005). De acordo com o autor, Michail Bakhtin,

    um filósofo russo do início do século XX, foi o primeiro a empregar a palavra gênero

    com um sentido mais amplo, referindo-se também aos tipos textuais que

    empregamos nas situações cotidianas de comunicação, tais como os bilhetes e as

    cartas simples, utilizadas somente para se comunicar, e não para seguir um sistema

    ideológico constituído.

    Entende-se por gênero discursivo (gênero textual), a partir das idéias de

    Bakhtin (1992), toda produção de linguagem (enunciado) oral ou escrita, sendo que

    cada gênero discursivo é identificado e nomeado pelos participantes da situação de

    comunicação por seu propósito comunicativo, suas características lingüístico-

    textuais relativamente estáveis (alguns podem apresentar pouca estabilidade), sua

    temática, seu estilo, suas condições de produção e circulação.

    São classificados, segundo Bakhtin (1992), em gêneros primários e

    secundários. Os gêneros primários são gêneros simples, espontâneos, utilizados na

    linguagem oral e escrita do dia-a-dia, como o diálogo.. Os gêneros secundários são

    complexos e aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural de esferas

    sociais mais complexas, como: artística, científica, política, empresarial.

    Podem ser orais e escritos, como:

    Os gêneros primários (simples), de todas as espécies, que se constituíram

    durante uma comunicação verbal espontânea, são absorvidos e transmutados pelos

    gêneros secundários, e conforme Bakhtin (1992), ao se tornarem componentes dos

    gêneros secundários, transformam-se dentro deste e adquirem uma característica

    particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade

    dos enunciados alheios. O autor exemplifica com o romance (vida literária), um

    gênero secundário, que traz dentro de si o diálogo ou a carta (vida cotidiana), que

    são gêneros primários.

  • 11

    Para Bakhtin (1992), a distinção entre gêneros primários e secundários tem

    uma grande importância teórica para que se possa definir a natureza sutil e

    complexa do enunciado, e abranger seus aspectos essenciais. A inter-relação entre

    os dois gêneros é que esclarece a natureza do enunciado e fortalece o vínculo

    existente entre a língua e a vida.

    Faraco (2003 apud MARCUSCHI, 2005), em sua obra sobre Bakhtin, faz em

    relação aos gêneros primários e secundários a seguinte distinção: “duas esferas da

    criação ideológica: a ideologia do cotidiano e os sistemas ideológicos constituídos”.

    Para o autor, as duas esferas são interdependentes, sendo que a primeira esfera

    compreenderia: A totalidade das atividades sócio-ideológicas centradas na vida cotidiana, desde os mais fortuitos eventos (um acidental pedido de informação na rua) até aqueles que se associam diretamente com os sistemas ideológicos constituídos (a leitura de um romance, por exemplo). (FARACO, 2003, p. 61 apud MARCUSCHI, 2005, p. 21).

    A segunda esfera constitui as práticas ideológicas culturalmente mais

    elaboradas, como as artes, as ciências, o direito, a filosofia, a religião, etc.

    Essas duas esferas dão origem ao que Bakhtin chamou de gêneros do

    discurso, e Faraco (2003 apud MARCUSCHI, 2005) comenta que o autor pensou o

    gênero em suas funções sócio-verbais e ideológicas. Os gêneros são desiguais em

    certas funções e é por isso que eles proliferam para dar conta da variedade de

    atividades desenvolvidas no dia-a-dia. Os inúmeros gêneros discursivos são uma

    forma de atuação social, logo, de acordo com as necessidades da sociedade, alguns

    deixam de ser usados, outros passam por significativas modificações e outros são

    criados.

    De acordo com isso, poderíamos dar como exemplo ao primeiro item, as

    antigas cantigas de amor ou de escárnio, muito usadas na idade média, que tinham

    a função de elogiar ou criticar a sociedade, que na época era composta de pessoas

    que não conheciam as letras e se informavam através da língua falada. Para o

    segundo item, as enciclopédias, volumes numerosos e pesados, que cederam lugar

    a práticos e leves disquetes, CDs e outras inúmeras alternativas da tecnologia

    moderna, e aos gêneros que são criados, os atuais programas de interação, sites de

    relacionamentos e outros tipos de gêneros pertencentes ao mundo tecnológico, e

    que passaram a fazer parte da sociedade.

  • 12

    Os inúmeros gêneros discursivos produzidos por nossa sociedade podem

    ser agrupados segundo vários critérios. Maingueneau (2001) sugere um critério

    baseado nas diversas esferas sociais como: literária, jornalística, publicitária,

    comercial, de divulgação científica, para citar algumas. Em cada uma dessas áreas

    de atuação são produzidas dezenas de gêneros discursivos orais e escritos

    diferentes.

    De acordo com os PCN (BRASIL, 1998), as propostas didáticas de ensino

    de língua portuguesa devem organizar-se tomando o texto (oral ou escrito) como

    unidade básica de ensino, considerando a diversidade de textos que circulam

    socialmente. Através de uma análise crítica dos vários discursos, o aluno pode

    identificar pontos de vista, valores e eventuais preconceitos neles veiculados. Até a

    consulta a documentos jurídicos é necessária ao aprendizado das formas de

    atuação contra discriminações.

    Discutir sobre o que veiculam jornais, revistas, livros, fotos, propagandas ou

    programas de TV trará à tona suas mensagens – implícitas ou explícitas – sobre

    valores e papéis sociais. (BRASIL, 1998).

    Para Marcuschi (2005), as posições defendidas por Bakhtin (1992)

    motivaram muitos autores a tratar a língua “em seus aspectos discursivos e

    enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta visão segue uma noção de

    língua como atividade social, histórica e cognitiva. Nesta perspectiva, os gêneros

    discursivos devem ser vistos na relação com as práticas sociais, os aspectos

    cognitivos, os interesses, as relações de poder, as tecnologias, as atividades

    discursivas e no interior da cultura” (MARCUSCHI, 2005).

    Bakhtin (1992) afirma: Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana [...] O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e sobretudo, por sua construção composicional.

    Os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados (KOCH, 2005),

    marcados sócio-historicamente, visto que estão diretamente relacionados às

    diferentes situações sociais. A competência sócio-comunicativa dos

  • 13

    falantes/ouvintes leva-os à detecção do que é adequado ou inadequado em cada

    uma das práticas sociais, e também à diferenciação dos gêneros de texto, como

    anedotas, poemas, conversa telefônica, etc.

    A autora ainda completa dizendo que sendo as esferas de utilização da

    língua extremamente heterogêneas, também os gêneros apresentam grande

    heterogeneidade, incluindo desde o diálogo cotidiano à tese científica.

    Desta forma, Koch (2005) comenta que, em termos bakhtinianos, um gênero

    pode ser assim caracterizado: são tipos relativamente estáveis de enunciados

    presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição,

    um plano composicional. Além do plano composicional, distinguem-se pelo conteúdo

    temático e pelo estilo. Trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de

    necessidade temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou

    intenção do locutor.

    Maingueneau (2001) explica que um gênero do discurso submete-se a

    certas condições de êxito, como: ter uma finalidade; ter enunciadores em parceria;

    ter lugar e momentos legítimos; e ter uma organização textual, às vezes mais rígida,

    e às vezes com características mais básicas, mas sempre dentro de uma

    organização.

    “Gêneros moldam o pensamento que nós formamos e as comunicações

    pelas quais interagimos. Gêneros são espaços familiares nos quais nós criamos

    ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são guias que usamos para

    explorar o não familiar.” (BAZERMAN, 1997 apud DIONÍSIO, 2005).

    Na perspectiva atual, devemos considerar como parte da organização

    textual não apenas o texto verbal, mas também todos os elementos não-verbais que

    compõem os gêneros discursivos. Os aspectos gráficos e não-verbais característicos

    de cada gênero são social, histórica e culturalmente determinados (LOPES-ROSSI,

    2002). Os elementos composicionais não-verbais dos gêneros discursivos têm

    recebido atenção nos últimos anos a partir dos estudos sobre multimodalidade dos

    gêneros discursivos.

    Dionísio (2005) explica que a multimodalidade está presente nas ações

    sociais, nos gêneros textuais orais e escritos, na nova relação entre o discurso e as

    inovações tecnológicas, e no grau de informatividade visual dos gêneros textuais,

    pois quando falamos ou escrevemos um texto, estamos usando dois modos de

  • 14

    representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens,

    palavras e sorrisos, palavras e animações etc.

    A autora explica que quando usamos linguagem, estamos realizando ações

    individuais e sociais que são manifestações sócio-culturais, materializadas em

    gêneros textuais (discursivos), e ao conceber esses gêneros como multimodais,

    devemos considerar também a própria disposição gráfica do texto no papel ou na

    tela do computador.

    De acordo com Dionísio (2005), o conceito de multimodalidade exige

    inclusive uma atualização do conceito de Letramento. Uma pessoa letrada deve ser

    uma pessoa capaz de atribuir sentidos a mensagens oriundas de múltiplas fontes de

    linguagem, bem como ser capaz de produzir mensagens, incorporando múltiplas

    fontes de linguagem. Imagem e palavra mantêm uma relação cada vez mais

    próxima, mais integrada. Cada vez mais se observa a combinação de material visual

    com a escrita. Representação e imagem são textos especialmente construídos que

    revelam as nossas relações com a sociedade e com o que a sociedade representa.

    O letramento visual está diretamente relacionado com a organização dos

    gêneros discursivos (DIONÍSIO, 2005). Na sociedade contemporânea, a prática de

    letramento da escrita, signo verbal, deve ser incorporada à prática de letramento da

    imagem, do signo visual. Assim, de acordo com Dionísio (2005), essa

    multimodalidade se faz constitutiva do discurso oral e escrito. Isso tem implicações

    diretas ao tema desta pesquisa, uma vez que as propagandas impressas são

    gêneros discursivos altamente multimodais, pois as imagens são elementos

    constitutivos do gênero.

    Os materiais didáticos utilizam cada vez mais essa diversidade multimodal

    dos gêneros, recorrendo a textos publicados em revistas, jornais e a outros tantos

    tipos de textos para fazer com que o aluno aprenda mais, e para que isso ocorra é

    necessário que cada vez mais o professor esteja atento para o seguinte fato: de

    acordo com a sofisticação e a especialização dos gêneros de cada disciplina,

    diferentes especificações de multimodalidades textuais são apresentadas e,

    consequentemente, diferentes letramentos são exigidos (DIONÍSIO, 2005). Essa

    tendência dos materiais didáticos decorre da opção dos PCN por um ensino de

    Língua Portuguesa baseado em gêneros discursivos.

  • 15

    Lopes-Rossi (2002) comenta que Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz,

    Auguste Pasquier e outros pesquisadores da Universidade de Genebra vêm

    desenvolvendo estudos a respeito do ensino de línguas a partir de gêneros.

    Schneuwly compreende o gênero discursivo como uma ferramenta, isto é, um

    instrumento com o qual é possível exercer uma ação lingüística sobre a realidade,

    pois amplia a capacidade individual do usuário e amplia seu conhecimento a

    respeito do objeto sobre o qual a ferramenta é utilizada.

    Os PCN (BRASIL, 1998) adotaram a perspectiva teórica de que o atual

    ensino de Língua Portuguesa deve partir de uma perspectiva sociodiscursiva da

    linguagem e tem nos gêneros discursivos (gêneros textuais), no sentido bakhtiniano

    do termo, suas unidades básicas de ensino, o que tem exigido atualização dos

    professores e mudanças de concepção de ensino e das práticas pedagógicas

    tradicionais (LOPES-ROSSI, 2007).

    Lopes-Rossi (2007) comenta que o ensino orientado por gêneros discursivos

    deve viabilizar a apropriação pelos alunos das condições de produção e de

    circulação, do propósito comunicativo, dos elementos composicionais, da

    organização, do conteúdo temático e do estilo de cada gênero discursivo estudado,

    para a consecução do objetivo geral de ensino de Língua Portuguesa proposto pelos

    PCN: [...] criar situações nas quais o aluno amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania (MARCUSCHI, 2004).

    De acordo com Rodrigues (2005), em função da crítica às práticas

    escolarizadas da produção textual e da leitura, ganhou força a concepção de que o

    ensino/aprendizagem dessas práticas como interação verbal e social tenha os

    gêneros do discurso como objeto de ensino, surgindo um novo diálogo, agora tendo

    como foco, além das noções de interação verbal e dialogismo, a dos gêneros do

    discurso. Abre-se, então, lugar para a discussão da concepção de gênero na

    perspectiva dialógica da linguagem.

    Segundo a autora, Bakhtin nos leva a considerar a noção de gêneros do

    discurso a partir das concepções sócio-históricas e ideológicas de linguagem;

    através do caráter sóciohistórico ideológico e semiótico da consciência; e também da

  • 16

    realidade dialógica da linguagem e da consciência. Não se podem dissociar esses

    conceitos, sob risco de reduzir a noção de gêneros discursivos.

    Na própria perspectiva do dialogismo bakhtiniano: o nosso dizer é uma

    reação resposta a outros enunciados. A língua é um fenômeno social de interação

    verbal que se realiza na enunciação.

    Segundo Bakhtin (1992), a língua se constitui num fenômeno concreto de

    relações dialógicas, relações essas que são impossíveis entre os elementos da

    língua (morfemas, palavras, orações etc.), e devem ser objetos de estudo da

    lingüística. É a diferença entre língua-sistema e a língua-discurso. A língua enquanto

    sistema é uma unidade abstrata, do domínio da gramática. Já a língua enquanto

    discurso é única e inserida num contexto, que se concretiza em forma de

    enunciados.

    O enunciado é a unidade da comunicação discursiva, os gêneros discursivos

    já definidos anteriormente, e de acordo com a teoria de Bakhtin, são exemplos de

    enunciados os romances, as cartas, as crônicas, as notícias, as saudações, as

    conversas de salão etc. O texto visto como enunciado tem uma função ideológica

    particular, autor e destinatário mantém relações dialógicas com outros textos

    (RODRIGUES, 2005).

    Para Bakhtin, oração e enunciado são unidades distintas. Ele apresenta

    como características do enunciado: a alternância do sujeito no discurso; a

    expressividade; e a conclusividade, ao contrário da oração, que não se delimita pela

    alternância dos falantes; não tem contato direto com a realidade; nem possui

    plenitude de sentido e capacidade de determinar diretamente a postura de resposta

    do interlocutor. Podemos dizer que, para Bakhtin (apud RODRIGUES, 2005),

    unidade enunciativa é o texto enunciado (texto + situação social de interação =

    enunciado).

    Bakhtin (1992) concebe o texto como um fenômeno sociodiscursivo, o que

    faz com que ele constitua-se num enunciado. Cada enunciado constitui um evento

    único e irrepetível da comunicação discursiva, pois é a “postura ativa do falante

    nesse ou naquele campo do objeto e do sentido” (BAKHTIN, 2003 apud

    RODRIGUES, 2005). Conforme Rodrigues (2005), Bakhtin afirma que o enunciado

    surge de maneira significativa num determinado momento social e histórico, e não

    pode deixar de tocar os milhares de fios dialógicos existentes, tecidos pela

  • 17

    consciência ideológica em torno de um dado objeto de enunciação, não pode deixar

    de ser participante ativo do diálogo social.

    Os enunciados estão vinculados uns aos outros por relações dialógicas, que

    são as relações de sentido, e estão vinculados, também, às situações sociais, que

    são indispensáveis para a compreensão dos seus sentidos.

    Pode-se dizer que o enunciado constitui-se do horizonte espacial e temporal

    (onde e quando do enunciado; espaço e tempo históricos); do horizonte temático

    (objeto e conteúdo temático do enunciado, aquilo de que se fala, a finalidade do

    enunciado); e do horizonte axiológico (a atitude valorativa dos participantes do

    acontecimento, próximos ou distantes). (RODRIGUES, 2005).

    Lopes-Rossi (2005) afirma que, fora dos meios acadêmicos, o trabalho

    pedagógico com gêneros discursivos ainda é bem restrito. Os professores

    manifestam-se muito interessados no assunto, porém, carentes de fundamentação

    teórica e de exemplos práticos.

    A autora comenta que a leitura de qualquer gênero discursivo deve partir de

    um conhecimento prévio sobre os aspectos discursivos do gênero, ou seja, sobre as

    formas de produção e de circulação de um gênero. Essas características,

    geralmente são reveladas com respostas como: Quem escreve (em geral) esse

    gênero discursivo? Com que propósito? Onde? Quando? Com base em que

    informações? Como o redator obtém as informações? Quem escreveu este texto que

    estou lendo? Quem lê esse gênero? Por que o faz? Onde o encontra? Que tipo de

    resposta pode dar ao texto? Que influência pode sofrer devido a essa leitura? Em

    que condições esse gênero pode ser produzido e pode circular na nossa sociedade?

    Esse nível de conhecimento do gênero discursivo permite uma série de

    inferências por parte do leitor no que diz respeito à percepção da realidade entre os

    sujeitos e a linguagem, e a percepção do caráter histórico e social do gênero

    discursivo em estudo.

    Na seqüência, as atividades de leitura também devem levar o aluno a

    perceber: temática desenvolvida pelo gênero discursivo em questão; sua forma de

    organização (distribuição das informações); e sua composição geral (LOPES-

    ROSSI, 2005). O suporte no qual o gênero circula também apresenta características

    que remetem a aspectos das condições de produção e de circulação do gênero.

  • 18

    Além dos elementos verbais que compõem o texto, é necessário considerar

    todos os elementos não-verbais que os compõem, considerando o caráter de

    multimodalidade dos gêneros discursivos.

    A autora comenta que há uma escassez de caracterizações de gêneros

    discursivos interessantes ao ensino. Muitos ainda não foram estudados em seus

    aspectos lingüísticos, textuais, gráficos e discursivos numa profundidade necessária

    a um trabalho que permita ao professor um trabalho de leitura e de produção que

    amplie a capacidade comunicativa dos alunos. Nos livros didáticos, pode-se

    observar que as atividades propostas não atingem as expectativas de um trabalho

    que realmente abordem os gêneros em toda sua dimensão.

    No caso do gênero discursivo propaganda impressa, por exemplo, os livros

    didáticos, em sua maioria, trabalham-no como um suporte para outras atividades de

    ensino, não realizando um trabalho de caracterização propriamente desse gênero.

    São abordados somente em seus componentes lingüísticos-textuais, e deixam de

    lado um ensino orientado para esse gênero discursivo em sua totalidade.

    Se o aluno conhece as características dos gêneros discursivos, é capaz de

    compreender as escolhas dos autores quanto ao vocabulário, ao uso de recursos

    lingüísticos e não-linguísticos, à seleção de informações mais eficientes ao propósito

    do texto, à determinação do tom e do estilo culturalmente esperado, e quanto à

    identificação das condições de êxito para a produção de um gênero. Por isso, as

    atividades de leitura de gêneros discursivos devem abordar todos os níveis de

    constituição dos gêneros, e não apenas os níveis lingüístico e de organização

    textual. (LOPES-ROSSI, 2002).

    De acordo com Lopes-Rossi (2002), cabe ao professor criar condições para

    que os alunos possam apropriar-se de características discursivas e lingüísticas de

    gêneros diversos em condições reais, através de projetos pedagógicos que visem ao

    conhecimento, à leitura, à discussão sobre o uso e as funções sociais dos gêneros

    escolhidos e, quando pertinente, à sua produção escrita e circulação social.

    1.2. A questão do estilo. Um exemplo: o gênero propaganda.

    Embora as três dimensões conteúdo temático, estilo e estrutura

    composicional – se fundam indissoluvelmente no todo do texto/ enunciado, é

  • 19

    possível considerar especificamente cada um deles. Aqui, por exemplo, focalizamos

    o estilo. Segundo Bakhtin (1992:283), o enunciado–oral e escrito, em qualquer

    esfera da comunicação – é individual e por isso pode refletir a individualidade de

    quem fala (ou escreve). No entanto, como aponta o autor, nem todos os gêneros

    refletem essa individualidade. Exemplo de gênero mais propício à manifestação do

    estilo individual seria o literário e os menos propícios seriam aqueles que requerem

    uma forma padronizada, como as receitas.

    Um caso interessante de estilo de forma padronizada encontramos no anúncio do Band-Aid abaixo:

  • 20

    1

    1 Este anúncio, foi retirado da Internet e faz parte de uma campanha realizada pela Agência de Publicidade Mac

    Cann para a marca Band-Aid no ano de 2008.

  • 21

    Esse anúncio faz parte de uma campanha veiculada pela Agência de

    publicidade Mc Cann para Band-Aid no ano de 2008, onde por meio de anúncios

    “não publicitários” associa a imagem do Band-Aid à palavra corte.

    Trata-se de um anunciante, no caso o Band-Aid e seus consumidores que

    ocupam papeis institucionais. Daí a receita, um gênero discursivo de forma

    padronizada em que, segundo Bakhtin (1992:283), só podem refletir-se os aspectos

    superficiais, quase biológicos, da individualidade. Essa forma padronizada propícia,

    muitas vezes, o aparecimento de manuais que orientam a redação do gênero, como

    numa espécie de “legislação oficial” sobre o estilo. Como não é objetivo desse

    trabalho empreender um estudo particular da receita, escolhemos aleatoriamente um

    manual de orientação para redação desse gênero.

    As receitas atendem a característica do tipo injuntivo.

    diz respeito àquele tipo de texto que se caracteriza por organizar informações e instruções ou ordens com a finalidade de orientar determinado comportamento do interlocutor.Também chamado de instrucional, (...). (Val e Barros , 2003, p.135-136)

    Principais características

    Frases curtas;

    Verbos de ação no infinitivo, imperativo ou presente do indicativo;

    Muitos advérbios; ("corte bem", "misture levemente")

    Compartilham função apelativa;

    À luz dessa dissertação que parece corresponder a um conhecimento talvez

    generalizado pelo menos por parte de uma determinada comunidade discursiva do

    que se deve constituir uma receita2, a propaganda do Band-Aid poderia ser

    considerada “desviante” por conta de seu estilo “padronizado”, em que ocorrem,

    entre outras “infrações”, algumas comparações. O reconhecimento da existência de

    qualquer inovação só é possível a partir da aceitação de que as formas discursivas 2 O próprio Bakhtin (1992) autoriza essa idéia quando afirma: “Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (a extensão aproximada do todo discursivo, a dada estrutura composicional, prever-lhe o fim, ou seja, desde o inicio somos sensíveis ao todo discursivo que, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações.” (p.302)

  • 22

    próprias de um gênero, especialmente usadas em contextos institucionalizados, são

    fruto de uma espécie de concordância tácita dos membros de uma comunidade

    discursiva, razão pela qual o rompimento com as convenções genéricas será visto

    como estranho o que evidencia o poder regulador ou limitador quanto ao que pode

    ou não ser admitido pelo gênero.

    Esse exemplo vem mostrar uma importante característica do gênero: a

    convenção. Para cumprir o seu papel, os gêneros necessariamente devem ser

    socialmente convencionados e estáveis (o que não significa “estáticos”). Como

    afirma Bakhtin (1992:302), se tivéssemos de criá-los [os gêneros] pela primeira vez

    no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos comunicados, a

    comunicação verbal seria quase impossível.

    É nessa direção que vai Bhatia (1997) quando assevera que:

    os gêneros se definem essencialmente em termos do uso da linguagem em contextos comunicativos convencionados, que dá origem a conjuntos específicos de propósitos comunicativos para grupos sociais e disciplinares especializados que,por sua vez, estabelecem formas estruturais relativamente estáveis e, até certo ponto, impõem restrições quanto ao emprego de recursos léxico-gramaticais.

    No entanto, devemos apontar uma característica dos gêneros

    aparentemente paradoxal: o gênero é ao mesmo tempo estável e dinâmico. Se, por

    um lado, temos de aceitar que,como membros de comunidades, sabemos

    reconhecer e usar os gêneros nas várias situações interacionais de que

    participamos, o que implica necessariamente atribuir-lhes um caráter de

    estabilidade, uma vez que eles só podem ser reconhecidos após uma

    padronização,por outro, devemos reconhecer que os diversos gêneros não são

    estanques nem encerrados em tipos rígidos, pois eles estão constitutivamente

    atrelados às inúmeras esferas das atividades humanas, o que pressupõe

    heterogeneidade e dinamicidade, uma vez que que as sociedades não se mantêm

    iguais, sofrendo mudanças continuamente por necessidades de várias ordens,

    econômicas, políticas, entre outras. Em suma, a dinâmica da sociedade reflete-se no

    gênero, que se atualiza para atender às modificações impostas pelas variações

    socioculturais.

  • 23

    1.3. Pressupostos sobre projetos de leitura, organizados por meio de seqüência didática

    De acordo com Schneuwly, Dolz e Noverraz (2004), para se ensinar a

    expressão oral e escrita é necessário: que o aluno perceba que, apesar de

    caminharem juntas, possuem dimensões diferentes; que observe que dentro delas

    há um conjunto obrigatório de regras; e que para que possa apreender isso, é

    preciso que tenha várias referências para se inspirar, situação que é favorecida se

    houver a elaboração de um projeto de classe.

    É possível ensinar a escrever textos e a exprimir-se oralmente em situações

    públicas escolares e extra-escolares. Primeiramente, deve se estabelecer uma

    “seqüência didática”, que levará em conta os princípios teóricos subjacentes ao

    procedimento, seu caráter modular, com as várias possibilidades de diferenciação de

    ensino dele decorrentes e a relação com outras dimensões da língua.

    (SCHNEUWLY, DOLZ E NOVERRAZ, 2004).

    Para Schneuwly, Dolz e Noverraz (2004), uma “seqüência didática” é um

    conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de

    um gênero textual oral ou escrito.

    Apesar da situação de comunicação ser repleta de regularidades, há

    diversas modalidades de gêneros, ou seja, diversas formas de comunicação. Textos

    que são escritos com características semelhantes são chamados gêneros de textos.

    Certos gêneros interessam mais à escola, e a “seqüência didática” tem a

    finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe,

    assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de

    comunicação (SCHNEUWLY, DOLZ E NOVERRAZ, 2004).

    O trabalho escolar será realizado, evidentemente, sobre gêneros que o

    aluno não domina, o faz de maneira insuficiente, são dificilmente acessíveis, e sobre

    gêneros públicos e não privados. As seqüências didáticas servem, portanto, para dar

    acesso aos alunos a prática de linguagem novas ou dificilmente domináveis

    (SCHNEUWLY, DOLZ E NOVERRAZ, 2004).

    Um esquema de seqüência didática pode propor, primeiramente, a

    “apresentação da situação”, no qual é descrita de maneira detalhada a tarefa de

    expressão oral ou escrita que os alunos deverão realizar, A seguir, deverá haver os

  • 24

    “módulos”, que se constituem de várias atividades ou exercícios, que dão

    instrumentos necessários para se trabalhar de maneira sistemática os problemas

    colocados pelo gênero. E encerrando, a “produção final”, onde o aluno pode por em

    prática os conhecimentos adquiridos e, com o professor, medir os progressos

    alcançados. A produção final serve, também, para uma avaliação somativa, que

    incidirá sobre os aspectos trabalhados durante a seqüência.

    Detalhando o esquema proposto pela seqüência didática de Schneuwly

    (2004), primeiramente temos a “apresentação da situação”, que visa expor aos

    alunos um projeto de comunicação que será realizado “verdadeiramente” na

    produção final. É nesse momento em que a turma constrói uma apresentação da

    situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser executada. Trata-se,

    portanto, de acordo com o autor, um momento crucial e difícil, no qual podem ser

    distinguidas duas dimensões principais: Apresentar um problema de comunicação

    bem definido; e preparar os conteúdos dos textos que serão produzidos.

    A primeira dimensão é a do projeto coletivo de produção de um gênero oral

    ou escrito, proposto aos alunos de maneira bastante explícita, para que

    compreendam o melhor possível a situação de comunicação no qual devem agir.

    Destacam-se: Qual é o gênero que será abordado?; A quem se dirige a produção?;

    Que forma assumirá a produção?; Quem participará da produção?.

    Na segunda dimensão, os alunos percebem a importância dos conteúdos e

    com quais vão trabalhar. Devem compreender bem a questão colocada e os

    argumentos a favor e contra as diferentes posições. Nessa fase inicial, os alunos

    obtêm todas as informações necessárias para que conheçam o projeto comunicativo

    visado e a aprendizagem de linguagem a que está relacionado. As seqüências

    didáticas devem ser realizadas no âmbito de um projeto de classe.

    A seguir, vêm os módulos. No primeiro, devem-se trabalhar problemas de

    níveis diferentes, que podem ser divididos em quatro: Representação da situação de

    comunicação; Elaboração dos conteúdos; Planejamento do texto; Realização do

    texto. Num segundo módulo, deve haver uma variação de atividades e exercícios, o

    que enriquecerá, consideravelmente, o trabalho em sala de aula, pois o aluno tendo

    acesso às noções e aos instrumentos por diferentes vias, aumentará suas chances

    de sucesso.

  • 25

    Dentro dessa idéia, três grandes categorias de atividades e de exercícios

    podem ser distinguidas: As atividades de observação e de análise de textos; As

    tarefas simplificadas de produção de textos; A elaboração de uma linguagem

    comum.

    No terceiro módulo, devem-se capitalizar as aquisições, ou seja, realizando

    os módulos, os alunos constroem conhecimentos sobre o gênero abordado, o que

    favorece uma atitude reflexiva e um controle do próprio comportamento.

    E finalmente, a seqüência termina com uma produção final, que permite aos

    alunos colocarem em prática o que apreenderam, e permite ao professor realizar

    uma avaliação somativa, ou seja, analisando os progressos do aluno em pontos

    essenciais, supostamente apreendidos ao longo da seqüência.

    Devemos ressaltar que o objetivo dessa pesquisa é a leitura, mas para que

    isso se efetive, é importante que os alunos se apropriem de uma série de

    características do gênero.

    Isso demanda tempo e deve ser planejado pelo professor num projeto de

    classe. Não se consegue a percepção dessas características apenas com a leitura

    de um só texto. Um projeto de leitura de um gênero pressupõe a leitura de vários

    exemplares, a oportunidade de conhecer as diversas características que cercam

    cada gênero, e uma organização por meio de seqüências didáticas adequadas a

    cada objetivo.

    A seqüência didática que exemplificamos anteriormente visa um projeto de

    escrita, e foi detalhada aqui para destacar sua importância para se alcançar uma

    realização final.

    Uma seqüência pré-estabelecida pelo professor oferece oportunidades para

    que o leitor obtenha progressos no decorrer dela, e possa chegar ao seu objetivo

    final: no caso, a leitura do gênero.

    Para o leitor poder compreender o texto deve possuir conhecimentos

    adequados para elaborar uma interpretação sobre ele (SOLÉ, 1998).

    Esta seqüência didática sugerida visa mostrar que para uma completa leitura

    do gênero discursivo propaganda impressa é preciso se estabelecer uma seqüência

    previamente planejada, que vise levar o leitor a acionar mecanismos de leitura que o

    façam reconhecer os seus elementos verbais e não-verbais, seus aspectos sócio-

  • 26

    históricos, seus propósitos comunicativos e outros fatores que possam contribuir

    para uma efetiva leitura desse gênero.

    De acordo com Solé (1998), ler é, sobretudo, uma atividade voluntária e

    prazerosa. As crianças e o professor devem estar motivados para aprender e

    ensinar a ler. É muito difícil que alguém que não sinta prazer com a leitura consiga

    transmiti-lo aos demais. É importante que a leitura seja significativa para as crianças,

    e que corresponda a uma finalidade que elas possam compreender e compartilhar.

    O professor tem de observar a atuação dos alunos e oferecer ajuda adequada para

    que possam superar os desafios que envolvem a atividade de leitura.

    A leitura de um determinado material deve oferecer aos alunos certos

    desafios, e o professor deve identificar o conhecimento prévio que o aluno tem em

    relação ao texto, para que possa construir um significado adequado.

    A motivação para a leitura está intimamente relacionada às relações afetivas

    que os alunos possam ir estabelecendo com a língua escrita (SOLÈ, 1998). Só com

    ajuda e confiança, a leitura poderá se converter em um desafio estimulante.

    Conforme Solé (1998), isso se consegue planejando bem a tarefa de leitura

    e selecionando com critério os materiais que nela serão trabalhados, tomando

    decisões sobre as ajudas prévias de que alguns alunos possam necessitar, evitando

    situações de concorrência entre as crianças e promovendo, sempre que possível,

    aquelas situações que abordem contextos de uso real, que incentivem o gosto pela

    leitura e que deixem o leitor avançar em seu próprio ritmo para ir elaborando sua

    própria interpretação – situações de leitura silenciosa, por exemplo.

    Solé (1998) menciona alguns objetivos gerais da leitura que podem ser

    trabalhados na escola. São eles: ler para obter uma informação precisa; ler para

    seguir instruções; ler para obter uma informação de caráter geral; ler para aprender;

    ler para revisar um escrito próprio; ler por prazer; ler para comunicar um texto a um

    auditório; ler para praticar a leitura em voz alta; e ler para verificar o que se

    compreendeu. Para a autora, sempre é preciso ler com algum propósito e o

    desenvolvimento da habilidade da leitura deve ser relacionado com esse propósito.

    É importante preparar o aluno para a leitura, dando uma idéia geral do que

    será lido, ajudando os alunos a prestar atenção a determinados aspectos do texto

    que podem ativar seu conhecimento prévio, e fazendo com que eles exponham o

    que já conhecem sobre o tema. (SOLÉ, 1998).

  • 27

    Se o aluno for preparado para a leitura, através de uma seqüência didática

    que o leve a produzir inferências sobre os aspectos constitutivos do gênero tira,

    poderá compreender o humor presente nas tiras, e a leitura se efetivará.

    Para Lopes-Rossi (2002), é indiscutível o papel da escola e a

    responsabilidade das aulas de língua portuguesa e de outras disciplinas no

    desenvolvimento dessa competência dos alunos. Cabe ao professor criar condições

    para que os alunos possam apropriar-se de características discursivas e lingüísticas

    de gêneros diversos, em situações de comunicação real, por meio de projetos

    pedagógicos que visem ao conhecimento, à leitura, à discussão sobre o uso e as

    funções sociais dos gêneros escolhidos e, quando pertinente, à sua produção escrita

    e circulação social. As atividades de leitura, por si só, podem constituir-se objetivo de

    um projeto pedagógico.

    No caso da propaganda impressa, as atividades de leitura devem levar o

    aluno a perceber a composição desse gênero em todos os seus aspectos verbais e

    não-verbais, em seus propósitos comunicativos. Isso contribui para a formação de

    um cidadão crítico e participativo na sociedade.

    Para que o professor possa chegar a um objetivo final de escrita ou leitura é

    necessário que elabore um projeto pedagógico. Esse projeto demanda um certo

    tempo, e suas seqüências de atividades devem ser planejadas (LOPES-ROSSI,

    2002).

    Especificamente com relação à leitura, os procedimentos para uma

    abordagem detalhada de um gênero discursivo propostos por Lopes-Rossi (2004)

    são:

    1) ativação do conhecimento prévio antes da leitura – enfoque nas condições de produção e de circulação do gênero, no seu propósito comunicativo e no assunto específico daquele texto –, por meio de leitura global; 2) estabelecimento de objetivo(s) de leitura em função assunto e das características do gênero discursivo a que pertence o texto a ser lido; 3) leitura detalhada do texto verbal e do não-verbal para consecução dos objetivos estabelecidos; 4) reflexão crítica sobre o texto, a partir de critérios pertinentes ao gênero discursivo.

    Encerramos esse item comentando que os PCN (BRASIL, 1998, p.54 e 57)

    consideram a leitura do gênero discursivo propaganda impressa importante, pois

    permite o desenvolvimento de habilidades variadas em diversas esferas sociais.

  • 28

    Capítulo 2

    A PROPAGANDA

    2.1 Apresentação do capítulo

    Este capítulo apresenta o gênero discursivo Propaganda Impressa,

    abordando sua definição, suas características composicionais, linguísticas e textuais,

    bem como suas condições de produção e circulação. Apresenta, também,

    considerações sobre as impressões que a propaganda pode causar no leitor, de

    acordo com as inferências que este constrói a partir de seus conhecimentos prévios.

    Encerra-se com a sugestão de alguns procedimentos de leitura que visam a auxiliar

    o aluno a tornar-se um leitor proficiente do gênero.

    2.2 Propaganda e publicidade

    O gênero discursivo propaganda está voltado para a esfera dos valores

    éticos e socais, e relaciona-se à divulgação de crenças e idéias destinadas a

    influenciar as opiniões, sentimentos e atitudes do público alvo. Segundo Sant'Anna

    (1998), a palavra propaganda deriva do latim propagare, que por sua vez deriva de

    pangere, palavra que significa enterrar, plantar, mergulhar. O termo propaganda foi

    empregado pela primeira vez pelo Papa Clemente VII, em 1597, com a finalidade de

    propagar a fé católica pelo mundo. A propaganda, como o próprio nome permite

    deduzir, "propaga", divulgando de forma planejada: dados, fatos, informações e todo

    e qualquer outro elemento favorável de estímulo ao consumo e de influência à

    decisão de compra do público alvo, do consumidor em potencial que se pretende

    atingir.

    Observa também Sant'Anna (1998) que a palavra publicidade deriva do latim

    publicus e significa o ato de vulgarizar, de tornar público um fato ou uma idéia.

    Segundo o autor, a publicidade é um meio de comunicação com a massa que visa

    tornar conhecido um produto, um serviço ou uma firma e promover vendas. Para

    tanto, a publicidade busca despertar na massa consumidora o desejo pela coisa

    anunciada, sem encobrir o nome ou a intenção anunciante.

  • 29

    O gênero discursivo publicidade, segundo Carvalho (1996), está voltado

    para a esfera comercial e explora o universo dos desejos humanos. Para esse autor,

    a publicidade não tem autoridade para ordenar, ao contrário de propagandas das

    esferas religiosa ou institucional.

    Por isso, o emissor emprega a manipulação disfarçada para convencer e

    seduzir o receptor. Sant'Anna (1998) comenta que para vender é necessário, muitas

    vezes, implantar uma idéia na mente da massa consumidora, e essa necessidade

    estabelece a relação entre os termos publicidade e propaganda. Ressalta Sant'Anna

    (1998) que o termo propaganda é preterido por muitos devido a sua origem

    eclesiástica; porém, atualmente, publicidade e propaganda são palavras usadas

    indistintamente por muitos autores.

    O termo propaganda, segundo Carvalho (1996), é mais abrangente que o

    termo publicidade, uma vez que a propaganda está relacionada às mensagens das

    esferas política, religiosa, institucional e comercial e a publicidade se restringe

    apenas às mensagens da esfera comercial. Apesar de muitas vezes se valerem de

    métodos e recursos semelhantes, diferenciam-se quanto ao universo que exploram.

    2.2.1 Classificação dos tipos de publicidade

    Pinho (1990) define que, conforme os propósitos e as funções que a

    publicidade toma para si, ela pode ser classificada como:

    Publicidade de produto - Tem por objetivo divulgar um produto, levando o consumidor ao conhecimento e compra. O responsável por sua veiculação é o

    produtor, isto é, o fabricante do bem.

    Publicidade de serviços - Procura "vender" serviços, tais como bancos, financiadoras e empresas seguradoras.

    Publicidade de varejo - Os produtos anunciados são patrocinados pelos intermediários (no caso, os varejistas).

    Publicidade comparativa - São feitas alusões aos produtos e serviços dos concorrentes: o anunciante procura evidenciar que as qualidades do seu produto

    são superiores às dos artigos oferecidos pelos seus concorrentes.

  • 30

    Publicidade cooperativa - É o anúncio ou campanha publicitária para a venda de um produto realizada conjuntamente pelo fabricante com um ou mais

    lojistas.

    Publicidade industrial - É a publicidade aplicada no campo de markenting industrial. Sua tarefa não é a de vender o produto, mas facilitar, agilizar, otimizar e

    reduzir custos do processo de venda.

    Publicidade de promoção - É a publicidade de vendas através dos meios massivos: rádio,televisão, cinema, jornal, revista e outdoor.

    2.2.2 Classificação dos tipos de propaganda

    Pinho (1990) define também que a propaganda, presente em todos os

    setores, pode de acordo com a sua natureza, ser classificada como:

    Propaganda ideológica - encarregada da difusão de uma ideologia, é uma técnica ampla de persuasão.

    Propaganda política - Difunde os aspectos ideológicos e políticos, assim como as filosofias partidárias.

    Propaganda eleitoral - Visa conquistar votos a candidatos de cargos eletivos; de utilização esporádica.

    Propaganda governamental - Busca criar, reforçar ou mudar a imagem de um determinado governo.

    Propaganda institucional - Tem como objetivo principal posicionar empresas, tanto para o público interno quanto para o externo, não visando

    diretamente conceituar um produto ou serviço.

    Propaganda corporativa - Tem como objetivo a divulgação institucional de uma empresa. Objetiva divulgar e informar ao público as políticas, funções e normas

    da companhia; construir uma opinião favorável sobre a companhia.

    Propaganda legal - Surgiu a partir da promulgação da Lei n°6.404/76, que obriga as empresas a publicar seus balanços, atas de convocação e editais no Diário

    Oficial e em pelo menos mais um jornal de grande circulação.

    Propaganda religiosa - Utiliza-se dos meios de comunicação de massa para disseminar sua mensagem evangélica.

  • 31

    Propaganda Social - Todas as campanhas voltadas às causas sociais com o objetivo de prestar esclarecimentos e realizar processos de participação, fazendo

    com que a população compreenda o plano social proposto, participe e se aproprie

    do processo, buscando uma interferência no cotidiano.

    2.3 A propaganda: Definição e função

    A propaganda é um gênero discursivo presente, praticamente, em todos os

    meios de comunicação. Ela impõe valores, mitos e ideais. Segundo Martins (1997), a

    propaganda obedece aos desejos do público e deve primar pelo teor de informação

    e por apelos, a fim de persuadir o destinatário. A propaganda tem por missão

    integrar o esforço promocional, operando no sentido de atingir o subconsciente do

    consumidor com a penetração do apelo, influenciando sua decisão de compra.

    Destaca Martins (1997) que a propaganda é considerada uma das mais

    eficientes formas de comunicação de massa. Para o autor, comunicar significa,

    etimologicamente, trocar idéias, informar. A propaganda atua sobre as defesas

    psíquicas do homem para, mesmo contra sua vontade, despertar nele o desejo de

    possuir cada vez mais bens de conforto material, fazendo com que novas idéias

    sejam aceitas e costumes diferentes se popularizem. A propaganda funciona como

    uma forma de comunicação que, ao transmitir informações, induz a outros

    comportamentos, cumprindo, ainda, um papel de ativadora da economia através do

    aumento do consumo.

    Carvalho (1997) afirma que a propaganda é organizada de forma diversa

    das demais mensagens. Salienta também a autora que a linguagem publicitária tem

    a função de tornar familiar o produto que está vendendo e, ao mesmo tempo,

    valorizá-lo, a fim de destacá-lo dos demais. A propaganda manipula símbolos para

    fazer a mediação entre objetos e pessoas.

    A função persuasiva na linguagem publicitária para Carvalho (1997, p. 19)

    consiste em tentar mudar atitude do receptor. Para isso, ao elaborar o texto o

    publicitário leva em conta o receptor ideal da mensagem, ou seja, o público para o

    qual a mensagem está sendo criada O vocabulário é escolhido no registro referente

    a seus usos. Tomando por base o vazio interior de cada ser humano, a mensagem

    faz ver que falta algo para completar a pessoa: prestígio, amor, sucesso, lazer,

  • 32

    vitória. Para completar esse vazio, utiliza palavras adequadas, que despertam o

    desejo de ser feliz, natural de cada ser. Por meio das palavras, o receptor

    "descobre" o que lhe faltava, embora logo após a compra sinta a frustração de

    permanecer insatisfeito.

    Os diversos recursos empregados nas propagandas têm o poder de

    influenciar e de orientar as percepções e os pensamentos, conciliando o princípio do

    prazer e da realidade, apontando o que deve ser usado ou comprado. Conforme

    Sant'Anna (1998), para que o impacto da propaganda se concretize, todos os tipos

    de apelo, tendências, variações e princípios são usados.

    Os primeiros anúncios publicitários do Brasil surgiram no final do século XIX,

    como aponta Martins (1997). Eram chamados de reclames e a mercadoria que

    apresentavam era, com frequência, os escravos negros. Pinho (1990) ressalta que

    os primeiros anúncios publicados nos jornais, no Brasil, diziam respeito:

    à venda de imóveis ("Quem quiser comprar uma morada de casas de

    sobrado com frente para Santa Rita, fale com Ana Joaquina da Silva..."), a de

    escravos ("Uma Paula que tem 'sapiranga' nos olhos e o ar triste"), aos leilões de

    tecidos ("constando de 64 peças de fustões acolchoados e 50 caixas com vestidos

    de senhoras"), a escravos foragidos ("um Benedito de Pirassununga com marca de

    golpe de faca, dois sinais entre as maminhas, que entende alguma coisa de ofício de

    pedreiro e é um pilantra"), e a solicitação de serviçais para trabalhos nas casas

    senhoriais ("de uma mulher para senhora inglesa, que saiba bem lavar, engomar e

    coser, pagando-se um tanto por mês") (p.17).

    Aponta também Pinho (1990) que esses anúncios-publicados na Gazeta do

    Rio de Janeiro, em 1808-podem ser melhor chamados de reclames, pela extrema

    simplicidade e refletem a existência, na época, de uma sociedade mercantil. A

    preocupação que há é de informar as qualidades dos objetos ou serviços

    anunciados, sem se importar em argumentar e persuadir.

    Com o advento da era industrial, o alto nível de concentração econômica e a

    produção em massa trouxeram como conseqüência a necessidade de aumentar o

    consumo dos bens produzidos. Segundo Pinho (1990), para atender a tal

    necessidade, as técnicas publicitárias foram se aperfeiçoando, passando a

    publicidade a ser mais persuasiva nas suas mensagens e deixando em segundo

    plano o seu sentido inicial, exclusivamente informativo.

  • 33

    Martins (1997) reforça que a linguagem, inicialmente simples, que primava

    pela informação objetiva e bem adjetivada, tornou-se mais requintada. A propaganda

    já começava a firmar-se pela criatividade e pelo linguajar formal, mais apurado e

    persuasivo. Muitos reclames passaram a ser feitos por escritores famosos, como

    Casimiro de Abreu, Hermes Fontes e Olavo Bilac.

    2.4. A linguagem da propaganda -características composicionais, linguísticas e textuais.

    Embasados em Sandmann (2005), Carvalho (1996), Sant'Anna (1998),

    Pinho (1990), Martins (1997) e Martins (2003) destacamos alguns dos recursos

    verbais e não-verbais mais comuns nas propagandas impressas:

    2.4.1 Recursos verbais mais comuns nas propagandas impressas

    Carvalho (1996, p.18) aponta que "a palavra tem poder de criar e destruir, de

    prometer e negar, e a publicidade se vale desse recurso como seu principal

    instrumento".

    A palavra deixa de ser meramente informativa, e é escolhida em função de

    sua força persuasiva, clara ou dissimulada. Seu poder não é simplesmente o de

    vender tal ou qual marca, mas integrar o receptor à sociedade de consumo.

    (CARVALHO, 1996, p.19)

    O estilo e as características gerais de texto propagandístico o distingue de

    outros textos. Geralmente os textos de propaganda não são constituídos por frases

    ou períodos completos e, conforme Sandmann (2005), pode-se dizer que esse é um

    traço estilístico bastante freqüente e típico da linguagem da propaganda. Esclarece

    o autor também que não se entende naturalmente que traço estilístico de texto de

    propaganda seja traço que lhe é inteiramente exclusivo, que outros tipos de textos

    não possam compartilhar tal ou qual traço.

    Segundo Martins (2003), propaganda é, por definição, um ato de persuasão

    e a linguagem coloquial representa exatamente a ferramenta necessária para atingir

    tal objetivo, pois a linguagem coloquial tem o sentido de proximidade.

  • 34

    Carvalho (1996) afirma que é no aspecto lingüístico que se concretiza o

    sentido da potencialidade libertária da imagem, uma vez que cabe ao texto escrito

    transformar o exotismo ou a poesia da imagem em apelo à compra. Destaca que a

    linguagem publicitária se caracteriza pelo reforço do individualismo.

    Ao concentrar o receptor em si próprio, egoisticamente - ou, quando muito,

    nos "seus" -, está dizendo que o que interessa é a sua roupa, sua casa, sua saúde.

    A mensagem quer persuadir o receptor a realizar uma ação predeterminada e para

    isso usa uma linguagem autoritária, na qual se destaca o uso do modo verbal

    imperativo. [...] Toda a estrutura publicitária sustenta uma argumentação icônica-

    lingüística que leva o consumidor a convencer-se consciente ou inconscientemente.

    Tem a forma de diálogo, mas produz uma relação assimétrica, na qual o emissor,

    embora use o imperativo, transmite uma expressão alheia a si própria. O verdadeiro

    emissor permanece ausente ao circuito da fala; o receptor, contudo, é atingido pela

    atenção desse emissor em relação ao objeto. (p.13)

    Os anúncios para Martins (2003), embora valham-se de texto e arte, não são

    obras artísticas a priori; são peças construídas em função de uma expectativa de

    vendas. Daí, a necessidade da simplicidade, o que não nos desobriga do bom gosto

    e dos argumentos inteligentes. Enfatiza também o autor o caráter informativo que o

    anúncio deve ter sobre as características e virtudes do produto. Clareza e conteúdo

    na informação é metade do sucesso garantido.

    Em Sandmann (2005), observamos a predominância do tom coloquial, uso

    excessivo de gírias e emprego de pronomes de tratamento não-cerimoniosos, com

    freqüência - o você.

    Ressalta o autor que a predominância de desvios da norma culta ou padrão

    como do uso ou da norma lingüística em geral não devem ser gratuitos, mas ter um

    especial interesse comunicativo, de chocar, de chamar a atenção do interlocutor. Só

    esse especial interesse comunicativo os justificará ou lhes dará legitimidade.

    Sant'Anna (1998) afirma que o estilo literário desvia a atenção do assunto, portanto

    não deve ser usado na linguagem da propaganda. A linguagem deve ser simples, na

    língua que o seu público usa ou conversa todos os dias. Deve-se priorizar palavras

    curtas, parágrafos curtos e textos altamente pessoais. Uma boa propaganda tem a

    necessidade de ser imediatamente compreensível e diretamente comovente.

  • 35

    Para Martins (1997), atualmente a propaganda busca uma linguagem

    voltada ao ritmo de vida urbano contemporâneo e aos diferentes estilos que ele

    apresenta. As mensagens adaptam-se às tendências da moda, dos costumes, das

    tecnologias e dos produtos consumidos.

    2.4.2. Empréstimos Linguísticos

    Afirma Sandmann (2005) que é fato muito frequente no português de hoje a

    incorporação de empréstimos linguísticos, sendo os de origem inglesa os mais

    numerosos. No entanto, na linguagem da propaganda contata-se facilmente que o

    francês ainda é a língua que exerce a maior influência, principalmente quando o

    texto de propaganda está preocupado em expressar requinte, bom gosto, esmero,

    apuro, o chique, ou se inserir no campo do erotismo.

    O autor comenta que o inglês ocorre mais na linguagem da propaganda em

    áreas relacionadas com roupas, calçados esportivos, esporte, comidas, uísques, etc.

    Observa também Sandmann (2005) que sob o aspecto da gramática

    normativa, na linguagem da propaganda há muitos empréstimos lingüísticos

    viciosos, porque são empregados em lugar de termos vernáculos, sendo

    desnecessários. O autor cita como exemplo o uso de griffe no lugar de marca.

    Percebe-se que para vender o produto ou o serviço, os publicitários usam os meios

    considerados mais adequados, os que mais eficientemente atingem o alvo. Se griffe

    é mais chique, mais requintado, mais exótico do que marca, griffe vai ser usado.

    Sandmann (2005) atribuí à influência estrangeira, principalmente do inglês, o

    uso de letras ou de combinações de letras que chamamos de exóticas ou de

    estranhas, porque não fazem parte do nosso sistema ortográfico comum. Para ele os

    aspectos gráficos são acima de tudo uma imitação de modelos estrangeiros.

    2.4.3 Aspectos Fonológicos

    Os aspectos fonológicos se inserem na função poética ou estética da

    linguagem, chamando a atenção do leitor para o conteúdo da mensagem,

    despertando o prazer estético e estimulando a memorização. Destaca Sandmann

    (2005) que o prazer que o ritmo desperta em nós é que faz com que memorizemos a

  • 36

    mensagem mais facilmente. O autor acrescenta uma outra função a linguagem da

    propaganda, que é levar o interlocutor à ação, principalmente ao consumo de um

    produto ou ao uso de um serviço. O que vale é chamar a atenção para o conteúdo

    da mensagem e levar a interlocução à ação.

    Para Sandmann (2005), a rima, a aliteração e a paronomásia são, de acordo

    com o autor, muito utilizados e são definidos a seguir.

    A rima é a repetição de um som, ou melhor, de uma sílaba ou sílabas. Pode

    ser apresentada no meio ou no final de frases, versos ou períodos. Exemplifica

    Sandmann (2005):

    "Mercearia do Povo. Barato vende. Melhor atende", " No Condor comprou,

    girou, ganhou."

    Segundo Carvalho (1996), o ritmo é percebido em nível do inconsciente,

    tornando mais agradável a frase e dando maior musicalidade aos seus contornos

    fonéticos. Afirma aautora que quando se trata de fixar na memória do receptor o

    nome de uma marca ou umslogan, associados a qualidades do produto que se

    deseja vender, todos os meios de insistência são considerados legítimos.

    De acordo com Martins (1997), a aliteração tem por finalidade intensificar o

    ritmo e a musicalidade do verso ou da frase, provocando harmonia, estabelecendo

    correspondência agradável dos sons e dos efeitos fônicos com as idéias expressas

    na mensagem. Esse recurso sonoro objetiva, ainda, despertar a atenção do leitor

    para a mensagem e favorecer a sua memorização.

    Sandmann (2005) destaca que a aliteração é a repetição de um ou mais

    sons, no início,no meio ou no fim de vocábulos próximos e destaca vários exemplos

    de propaganda em que as aliterações criam um efeito de riqueza formal, através de

    combinação rítmica, rimada e melodiosa, tais como: "Moda moldes. Tudo na moda.

    Tudo com moldes. A moda que você faz e usa.", "Culinária com Arno e Arte", Pense

    forte. Pense Ford." E "Vá e venha pela Penha.".O autor define a paronomásia como

    um esquema fonológico forte e interessante, é uma confrontação semântica de

    palavras similares do ponto de vista fônico, independente de conexão etimológica.

    Assim como a rima, a aliteração e o ritmo, a paronomásia é um recurso que busca

    chamar e prender atenção do leitor, a fim de levá-lo à ação. O autor destaca que no

    caso da linguagem da propaganda há um jogo com os sons, com a parte auditiva ou

    o significante do signo, para chamar a atenção do leitor ou ouvinte no referente ou

  • 37

    conteúdo da mensagem. Sandmann (2005) exemplifica um título de jornal como

    exemplo de paronomásia:

    "Força ou farça multilateral?", além desse exemplo cita outros tais quais: " O

    importante é comparar antes de comprar" (Propaganda das Lojas Americanas),

    "Nota fiscal. "Se você não pede o Paraná perde" (de outdoor do Governo Roberto

    requião), "O Cartão Nacional Visa avisa: (...)".

    2.4.4 Aspectos Morfológicos

    A morfologia tem como objeto o estudo da palavra: suas flexões, seus

    sufixos e a diferença entre estes e aqueles; os tipos de estrutura, classificação e

    formação das palavras,como observa Sandmann (2005). No entanto, para a

    linguagem da propaganda só alguns itens serão destacados, devido a sua

    singularidade, como: as formações mais criativas, de caráter estilístico ou em certo

    sentido à margem da produtividade da língua padrão.

    Sobressaem os cruzamentos vocabulares, as prefixações intensivas, as

    sufixações com morfemas de grau e ressegmentações de palavras complexas.

    Modelos de produtividade lexical típicos da língua padrão, por exemplo, os prefixos

    re- e sub- e os sufixos -ismo e -ista, são inexpressivos em textos de propaganda, eis

    que os mesmos não privilegiam a variante coloquial. (2005, p.62)

    2.4.4.1 O jogo com a palavra complexa

    Para Sandmann (2005), palavra complexa é a palavra formada por mais de

    um morfema lexical, quer composta quer derivada. Há um grande número de textos

    de propaganda em que se manifesta a consciência que o usuário tem dessa

    complexidade, dando destaque a ela ou usando-a em jogo que visa prender a

    atenção do leitor. Vejamos alguns exemplos citados pelo autor: "No mundo pós-

    moderno vence quem tem pós-graduação." (Folha, 30/11/89: propaganda do Centro

    de Estudos de Pó-Graduação - CEPG), "Vendem-se casa impopulares, para

    construir casas populares." (Veja, 18/4/90). Um texto técnico apresentaria com

    certeza "casas não-populares", que nesse contexto seria o antônimo de (casas)

  • 38

    "populares", isto é, "simples, baratas" e não "famosas, conhecidas", mas em texto de

    propaganda o conotativo impopulares vai muito bem.

    2.4.4.2. Prefixação

    Sandmann (2005) comenta que para realçar a excelência de um produto ou

    de um serviço prestam-se, além dos sufixos de grau, os prefixos chamados

    intensivos: "Ela é multidata, multidia, multinoite, multieletrônica. Poupança Multidata

    Itaú." (Folha, 1/5/91).

    Comenta o autor que é difícil atribuir um sentido preciso a multidia e

    multinoite, o que não vem ao caso em texto publicitário.

    2.4.4.3. Sufixação

    Aponta Sandmann (2005) que em textos de propaganda o objetivo é

    naturalmente exaltar a excelência do bem de consumo ou do serviço. Do ponto de

    vista do português padrão e mesmo do ponto de vista da linguagem usual comum

    temos, sem dúvida, desvios nessas formações, mas elas têm hora e vez nos

    contextos em que são usadas. Comenta o autor que as sufixações com os morfemas

    de grau são bem mais freqüentes e em diversas formações

    são em certo sentido marginais ou desvios. O português é uma língua rica

    particularmente em morfemas de grau, quer aumentativos, quer diminutivos, com a

    função de indicar objetivamente o grande e o pequeno ou com a função emotiva de

    indicar apreço ou desapreço ou, ainda, o abrandamento de uma situação

    desagradável ou inoportuna.

    Alguns exemplos citado pelo autor:

    Conquiste o seu carrão dirigindo um carrinho. Real, o seu super de todos os

    dias." (outdoor do supermercado Real) em que temos também abreviação

    expressiva super por supermercado.

    [...] No português padrão o sufixo de superlativo-íssimo se une a adjetivos

    (belíssimo) e advérbios (pertíssimo). Em textos de propaganda encontramos

    substantivos com esse sufixo:

  • 39

    "Todo dia é dia de ofertíssima Pão de Açúcar." (Folha, 29/8/90).

    [...] O sufixo-ésimo, dos numerais ordinais (vigésimo, centésimo) assume

    função superlativa em Chikésima, nome de loja em Curitiba.

    O uso do sufixo de aumentativo-ão, que se une a substantivos masculinos, é

    freqüentemente unido também a substantivos femininos: "Semanão dos preços mais

    baixos Carrefour." (Folha, 21/4/91).

    [...] sufixações muito criativas, geradoras de homônimos heterógrafos,

    oferecem-nos: "Antes do feriado de Nossa Senhora Aparecida, dê uma aparecida lá

    na Zacarias." (Folha, 6/10/89, propaganda da Rede Zacarias de pneus)

    [...] sufixações incomuns temos nas formações verbais, coppertonar, usado

    pronominalmente ("neste verão coppertone-se.": de outdoor). (p. 64-65)

    2.4.4.4 Cruzamento Vocabular

    Para Sandmann (2005, p. 65), o cruzamento vocabular é, no fundo, um tipo

    de composição, pois são unidas palavras, normalmente duas, para formar uma nova

    unidade,sendo que a diferença está em que no cruzamento vocabular os dois

    elementos ou ao menos um reduzido em seu corpo fônico. PARECE QUE FALTA

    ALGUMA PALAVRA NESSE PEDAÇO "E é justamente essa redução, que depende

    da escolha de quem forma a nova unidade, que é especialmente criativa." Nas

    criações lexicais em textos de propaganda, os cruzamentos vocabulares competem

    em produtividade com as formações com sufixos de grau. Alguns exemplos que o

    autor cita para ilustrar a força chamativa dessas formações:

    Só existe uma coisa mais bonita que um sutiã Triumph. Outro sutiã Triumph.

    Triumph, o showtiã." (Desfile, setembro de 1990); "A intelligentisia brasileira finge

    que não lê 'O Globo'. O que é uma tremenda 'burritsia'." (veja, 13/7/88). O autor

    considera interessantes esses cruzamentos vocabulares showtiã e burritsia. (p.66)

    2.4.4.5. Ressegmentação e desopacificação

    Segundo Sandmann (2005) os jogos criativos com unidades lexicais mais

    longas ou complexas, que chamamos de ressegmentação e desopacificação.

  • 40

    Na ressegmentação o prefixo re-, como em remodelar, repensar e

    reconsiderar une aqui o significado "de novo" com o de "diferentemente" é feita uma

    segmentação diferente de uma palavra, sem substituição ou acréscimo. É o caso,

    por exemplo, de nome de bar em Curitiba:

    "Bar baridade" [...] O nome indígena parati, nome de carro da Volkswagem e

    de supermercados de Curitiba, prestou-se a (res) segmentações, com simultânea

    desopacificação:

    "Morumbi Shopping é Parati, mamãe." (Folha, 9/5/91, do texto, publicado na

    época do Dia das Mães, fazia parte a imagem do carro Parati, que era sorteado);

    "Parati, do jeito que você gosta." (propaganda do Supermercado Parati).

    [...] Um cartaz em uma universidade convidava para palestra sobre

    alfabetização, destacando, mediante outra cor, a parte final ação da palavra

    alfabetização, o que é também uma segmentação diferente. Aliás, esse jogo que

    chamamos de "desopacificação" é também um cruzamento vocabular e formação

    lexical. (p.67)

    2.4.5. Aspectos Sintáticos

    Um dos aspectos lingüísticos que, possivelmente, mais distingue o gênero

    discursivo propaganda é a simplicidade estrutural. É comum, de acordo com

    Sandmann (2005), o nome comercial ou do produto estar no começo de

    propagandas sem apresentar elementos lingüísticos de coesão: "Arapuã. Vem que

    tem", ou um período composto sem conectivo:

    "Pensou cerveja, pediu Brahma." Sant'Anna (1998) afirma que o estilo

    literário desvia a atenção do assunto. Segundo ele, a linguagem da propaganda não

    deve ser obscura, ao contrário, deve ser simples, com palavras curtas, parágrafos

    curtos e textos altamente pessoais. Um bom anúncio, nas palavras do autor, deve

    ser "imediatamente compreensível e diretamente comovente".

    Carvalho (1996) cita que a publicitária Adriana Falcão, em uma entrevista,

    comenta que o peso das palavras na mensagem publicitária é muito grande. Esse

    tipo de mensagem é curto (obrigatoriamente), para ser decodificado com rapidez.

    Portanto, o vocabulário não pode ser estranho ao público-alvo. Deve ser um

    vocabulário familiar que permita, no entanto, significações múltiplas, que abrigue o

  • 41

    jogo de palavras. A publicitária comenta também que os adjetivos, na elaboração do

    texto, são falsos amigos. Na realidade, eles assumem o estatuto de um julgamento

    pessoal que é muito fácil de ser negado ou contrariado. Assim, o substantivo

    abstrato que indique qualidade: "a pureza da água Indaiá" parece preferível a "a

    água Indaiá é pura". (1996:31)

    Outro aspecto sintático observado no gênero discursivo propaganda é o

    paralelismo.

    Em Sandmann (2005), entendemos por paralelismo um esquema formal com

    repetição da mesma estrutura sintática, empregado a fim de se alcançar empatia,

    identificação e simplicidade na propaganda. O autor destaca, como por exemplo, a

    propaganda de uma agência de turismo: "DN Turismo. Você leva a vida. A gente

    leva você.", em que vemos a repetição da construção: Sujeito/predicado/objeto

    direto, nas frases "Você leva a vida", "A gente leva você". Essa construção constitui

    um paralelismo e tem como objetivo conquistar seu público-alvo através de efeito

    comunicativo.

    2.4.6. Aspectos Semânticos

    O texto de propaganda atinge muito bem sua finalidade, se for polissêmico,

    se explorar a homonímia ou se contiver ambigüidades. Sandmann (2005) comenta

    que quando nos referimos a um objeto ou à qualidade de um objeto de modo

    objetivo, falamos de denotação ou forma denotativa de expressão. Se

    acrescentarmos aspectos subjetivos, temos a conotação ou forma conotativa de

    expressão. O exemplo que o autor destaca é o sentido denotativo de "Semana

    Santa", como a seqüência de importantes datas do cristianismo e compara-o ao

    emprego conotativo destas palavras na propaganda: "Santa Semana. Aproveite para

    pagar suas promessas de amor. Studio A Motel". Destaca o autor que o adjetivo

    colocado antes do substantivo, não é neutro ou é marcado, isto é, presta-se à

    manifestação de aspectos emotivos.

    Carvalho (1996) afirma que a propaganda pode se apoiar no sentido

    denotativo ou no sentido conotativo. No primeiro caso, o sentido se concentrará no

    referencial, dando ênfase ao nome e à informação. O pólo denotativo apóia-se em

    uma retórica lógica, centrada no vreferente, com argumentação baseada no conjunto

  • 42

    de provas intrínsecas ao objeto, visando, principalmente, à transmissão de

    informação. No segundo caso, a propaganda se sustentará no implicativo, dando

    ênfase ao caráter, à analogia, mais do que à informação. O pólo conotativo apóia-se

    no receptor e emprega uma forma de argumentação baseada na persuasão,

    extrínseca ao objeto. Conforme Carvalho (1996, p. 20) "enquanto a denotação

    transmite a informação, a conotação permite uma abertura em leque do significado".

    2.4.7. Linguagem figurada

    As figuras de linguagem são formas de expressão que fogem da linguagem

    comum e são muito freqüentes na linguagem do gênero discursivo propaganda,

    dando à mensagem maior vivacidade, vigor e criatividade.

    Sandmann (2005) destaca o uso da metáfora e da personificação como

    elementos de atração e persuasão na linguagem publicitária. Na metáfora há uma

    transferência de significante com base na semelhança, isto é, um significante de

    signo passa a referir-se a outro objeto ou fato. Exemplifica o autor que o léxico

    "chuvisco" tem seu significado original - chuva fina - transformado na propaganda da

    empresa Toshiba: "Previsão dos nossos japoneses: fim de semana sem chuviscos.

    Novo Cine 4 Toshiba". A palavra "chuviscos" é empregada em sentido metafórico e

    passa a significar que, sem chuviscos, a imagem será clara, sem interferências.

    A personificação é a atribuição de características humanas a seres de outras

    espéciesanimais, objetos. Sandmann (2005) exemplifica a utilização dessa figura de

    linguagem com uma propaganda da empresa Maggi: "Para a carne que adora dar

    uma de durona", é atribuído um traço de personalidade, ou seja, uma característica

    humana, a um alimento.

    Define o autor que a personificação de um artigo de marketing tem, como é

    fácil de observar, também a função de causar estranhamento, de prender o leitor.

    2.4.8. Verbos

    Para Carvalho (1996), no texto publicitário o elemento verbal que representa

    a ordem ou o convite constitui um imperativo revestido de roupagens que camuflam

    as intenções do texto. Como no exemplo: Wellaton. Ponha isso na sua cabeça.

  • 43

    Comenta o autor que em muitas mensagens publicitárias, o verbo não está no

    imperativo, mas no futuro composto, em forma de promessa. Nesses casos o

    pronome Você é explorado como recurso para envolver o receptor. Assim como

    nessa propaganda: A Azaléia que você vê é a Azaléia que você sente.

    Na linguagem publicitária os verbos auxiliam a sustentar a argumentação

    que leva o consumidor a convencer-se, consciente ou inconscientemente. O modo

    imperativo, característico de uma linguagem autoritária e geralmente substituída por

    formas eufemísticas no cotidiano, aparece com freqüência nas mensagens.

    2.4.9. Marcadores de pressuposição

    Os marcadores de pressuposição constituem um recurso interessante na

    propaganda porque permitem que o leitor construa outros significados, além dos

    explícitos no anúncio.

    Essas mensagens implícitas, em geral, apresentam elementos persuasivos,

    que auxiliam a seduzir o público-alvo.

    Lopes-Rossi (2003c) comenta que a pressuposição é uma forma de

    "verdade implícita" restrita por certas condições de verdade das sentenças. Ilari e

    Geraldi (1985) destacam que pressuposto básico refere-se a um conteúdo implícito,

    ligado ao sentido de uma oração, que, por sua vez, só pode ser consider