monografia eunice matemática 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM MARIA EUNICE MATOS DA SILVA MATEMÁTICA FORMAL E INFORMAL: um estudo com alunos feirantes do 5º ano da Escola Municipal Herculano de Almeida Lima distrito de Igara

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Matemática 2011

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Page 1: Monografia Eunice Matemática 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

MARIA EUNICE MATOS DA SILVA

MATEMÁTICA FORMAL E INFORMAL: um estudo com

alunos feirantes do 5º ano da Escola Municipal Herculano

de Almeida Lima distrito de Igara

Senhor do Bonfim

Março de 2011

Page 2: Monografia Eunice Matemática 2011

MARIA EUNICE MATOS DA SILVA

MATEMÁTICA FORMAL E INFORMAL: um estudo com

alunos feirantes do 5º ano da Escola Municipal Herculano

de Almeida Lima distrito de Igara

Monografia apresentada à Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Departamento de Educação – Campus VII, como pré-requisito parcial à conclusão do curso Licenciatura Plena em Matemática, sob orientação da professora Alayde Ferreira dos Santos.

Senhor do Bonfim

Março de 2011

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Page 3: Monografia Eunice Matemática 2011

MARIA EUNICE MATOS DA SILVA

MATEMÁTICA FORMAL E INFORMAL: um estudo com

alunos feirantes do 5º ano da Escola Municipal Herculano

de Almeida Lima distrito de Igara

Aprovado em: ________________de_________________________de 2011.

______________________________ ______________________________

Profª (Avaliadora) Profª (Avaliadora)

Profª. Alayde Ferreira dos Santos

(Orientadora)

2

Page 4: Monografia Eunice Matemática 2011

Dedico a Deus que na sua infinita bondade permitiu que mais um sonho fosse

edificado.

A minha amada mãe que sempre acreditou em mim me ajudando no que foi

possível.

Ao meu pai, irmãos e amigos que acompanharam a minha caminhada.

A minha família de modo geral que direto ou indiretamente me apoiaram nessa

jornada.

Dedico a todas as pessoas que direto ou indiretamente contribuíram desde o início

do curso à realização deste trabalho final.

3

Page 5: Monografia Eunice Matemática 2011

AGRADECIMENTOS

Aos companheiros de turma especialmente minha amiga Soraia Santana que

participou intensamente da minha história.

A professora Alayde Ferreira dos Santos, minha orientadora, pela significativa

contribuição na produção desse trabalho.

Aos alunos do 5º ano da Escola municipal Herculano de Almeida Lima que

fizeram parte da pesquisa.

A todos os meus professores, desde a alfabetização à conclusão deste

trabalho de graduação. Estes que contribuíram significativamente para minha

aprendizagem.

E por fim, toda comunidade acadêmica do campus VII.

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Page 6: Monografia Eunice Matemática 2011

RESUMO

Sabe-se que a matemática é utilizada diariamente por todos os indivíduos, não só na resolução de problemas numéricos surgidas em fatos do cotidiano, mas diante de fatores sociais e culturais. No entanto, a maioria dos alunos chega à escola e não consegue associar o conhecimento informal já existente com o formal apresentado. Diante disso, essa pesquisa procura conhecer estratégias matemáticas utilizadas pelos alunos na resolução de problemas dado na escola, verificar como é feita a relação do conhecimento matemático escolar com o informal, bem como identificar as dificuldades apresentadas pelos alunos ao associar a matemática escolar com a matemática do cotidiano. A trajetória de estudos ocorreu através de um levantamento bibliográfico preliminar da literatura sobre Etnomatemática, Aprendizagem Significativa e Conhecimento Formal e Informal, no qual destacamos respectivamente, Bicudo (1999), Meksenas (1992), e principalmente D’ Ambrósio (1986, 1990, 1996, 2004, 2005), Ausubel (1968) (apud Moreira 1982), Baraldi (1999). Nessa perspectiva, a base metodológica que deu suporte a essa pesquisa foi qualitativa, baseando-se em observação direta e participante e na aplicação de questionário composto por perguntas abertas e fechadas aos alunos do 5º ano da Escola municipal Herculano de Almeida Lima. Verificamos com os resultados da pesquisa que a principal dificuldade está na interpretação e sistematização da matemática estudada na escola, ora por que a matemática da escola é formal difícil de fazer mentalmente, por isso não utiliza no trabalho, ora por que o professor não aceita resposta não formais feita mentalmente ou com estratégias próprias. Em face ao exposto, ressaltamos a necessidade do professor ampliar os conceitos já conhecidos dano ênfase na realidade sócio-cultural, na qual estão inseridos os alunos. Outro ponto, é admitir outras formas de resolução não se limitando a uma única abordagem.

Palavras-chaves: Etnomatemática, Conhecimento Matemático, e Aprendizagem

Significativa.

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Page 7: Monografia Eunice Matemática 2011

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................7

CAPÍTULO I..............................................................................................................10

PROBLEMATIZAÇÃO..............................................................................................10

CAPITULO II.............................................................................................................15

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................15

2.1 CULTURA E MATEMÁTICA – ETNOMATEMÁTICA......................................15

2.2 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA.................................................................19

2.3 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: FORMAL E INFORMAL...................................23

CAPÍTULO III............................................................................................................27

METODOLOGIA........................................................................................................27

1.1 PESQUISA QUALITATIVA COM ALUNOS QUE TRABALHAM NA FEIRA

LIVRE DE IGARA..................................................................................................27

3.1 SUJEITOS DA PESQUISA..............................................................................29

3.2 LOCAL DA PESQUISA...................................................................................30

IV CAPÍTULO............................................................................................................31

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS.............................................31

4.1 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS..........................32

4.2 ÁNALISE DO QUESTIONÁRIO.......................................................................33

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................48

APÊNDICE – QUESTIONÁRIO.................................................................................51

ANEXO – FOTOS......................................................................................................55

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Page 8: Monografia Eunice Matemática 2011

INTRODUÇÃO

A necessidade da espécie humana de lidar com situações que a realidade

propõe para poder sobreviver está presente em todas as civilizações e sistemas

culturais através dos tempos. Esses conhecimentos são passados de geração em

geração determinando o surgimento de novas idéias e novas formas de representá-

los. Independente da sociedade em que diferentes grupos sociais vivem, o uso da

matemática é imprescindível. A matemática está presente em diversas atividades

concretas diárias do ser humano, a saber, é fundamental no comércio a exemplo da

compra e venda e o conhecimento dos valores monetários, determinando o

desenvolvimento do raciocínio lógico e ampliando a visão critica dos sujeitos.

Percebemos ao longo dos tempos que a Educação Matemática vem sendo

discutida com frequência por várias esferas das sociedades. Em grande parte

dessas discussões é dado ênfase ao desenvolvimento de metodologias de modo

que o conhecimento trazido pelo aluno de sua prática no cotidiano seja

contextualizado ao ensino da matemática escolar, uma forma de ampliá-lo

significativamente para o seu desenvolvimento sócio cultural. Entretanto, o que se

percebe na grande maioria das escolas é a matemática inserida sem estabelecer

vínculos com a realidade do aluno. A forma de apresentação em sala de aula é

dissociada do cotidiano do indivíduo, levando o aluno ao desinteresse pelo estudo

da disciplina. Acredita-se que um dos fatores preocupantes no fracasso do ensino da

matemática, está na utilização mecânica de regras, onde ocorre uma limitação ao

mero uso de fórmulas pré-estabelecidas, o que faz com que o aluno apenas

memorize para realização de avaliações.

Nesse sentido, executou-se essa investigação na perspectiva de trazer uma

reflexão acerca dos saberes matemáticos perceptíveis na prática dos feirantes, bem

como estabelecer um suporte para discussões entre os professores de matemática

em instituições de ensino ao buscarem metodologias mais significativas para o

ensino e aprendizagem da matemática.

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Page 9: Monografia Eunice Matemática 2011

O estudo teve como suporte os alunos da Escola Municipal Herculano de

Almeida Lima Distrito de Igara, onde se encontra com grande ênfase esse saber

matemático na comercialização de produtos e em outras atividades como dos

meninos que pegam carrego.

Esse trabalho foi estruturado em partes que mostram inicialmente, no capítulo

I a problemática, isto é, a questão norteadora e os objetivos que almejamos atingir.

No segundo momento, no capítulo II, A trajetória de estudos que ocorreu através de

um levantamento bibliográfico preliminar da literatura sobre Etnomatemática,

Aprendizagem Significativa e Conhecimento Formal e Informal, no qual destacamos

respectivamente, Bicudo (1999), Meksenas (1992), e principalmente D’ Ambrósio

(1986, 1990, 1996, 2004, 2005), Ausubel (1968) (apud Moreira 1982), Baraldi (1999).

Em seguida o capítulo III que trata dos procedimentos metodológicos usados para

realizar a pesquisa, o campo de pesquisa, os sujeitos envolvidos, os instrumentos

utilizados e como ocorreu a coleta de dados.

No capítulo IV, encontra-se a análise dos dados obtidos através da

observação direta e participante e da aplicação de questionário. Uma discussão

acerca da principal dificuldade encontrada pelos alunos ao associar a matemática

escolar com a matemática do cotidiano, a qual está em interpretar e sistematizar as

questões propostas pela escola, que muitas vezes está fora do seu contexto social,

além de ter que utilizar algumas regas pré-determinadas para resolução de

determinadas questões. Nesse contexto percebemos através da observação e na

aplicação do questionário que eles possuem estratégias próprias de compreensão

matemática, internalizam de acordo com seus conhecimentos prévios, seja originado

do meio em que vivem ou de conhecimentos estudado anteriormente.

Verificou-se também que os alunos sentem dificuldades ao fazer a relação da

matemática do cotidiano com a escolar, ora porque a matemática da escola é

sistematizada, difícil de fazer mentalmente no trabalho, ora porque o professor não

aceita resposta não formais, feita mentalmente ou com estratégias próprias.

Acreditamos, portanto, que muito ainda se tem a fazer no campo investigativo

quanto à valorização através da associação do conhecimento matemático formal e

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Page 10: Monografia Eunice Matemática 2011

do informal intrínseco em cada indivíduo que chega à escola. Além disso,

apontamos para a necessidade do procedimento de novos estudos nessa área,

tendo em vista uma melhor qualidade no processo de ensino-aprendizagem.

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Page 11: Monografia Eunice Matemática 2011

CAPÍTULO I

PROBLEMATIZAÇÃO

O ser humano, ao longo de sua existência, desenvolve atividades que surgem

da percepção e necessidade de construir conhecimento necessário não somente

para garantir sua sobrevivência, mas também para modificar a sua realidade no

contexto natural e social. Todas as atividades exercidas pelo ser humano trazem em

seu contexto uma grande bagagem de conhecimento histórico cultural herdado de

outras gerações e, conseqüentemente são ampliados conforme as necessidades.

Esses conhecimentos construídos através do tempo são utilizados na criação de

técnicas que simplificam as atividades do cotidiano e permitem ultrapassar as

limitações naturais impostas pelo meio em que vivem. Sobre isso D’ Ambrosio afirma

que:

Dentre as distintas maneiras de fazer e de saber, algumas privilegiam comparar, classificar, quantificar, medir, explicar, generalizar, inferir e, de algum modo avaliar. Falamos então de um saber/ fazer matemática na busca de explicações e de maneiras de lidar com o ambiente imediato e remoto. Obviamente, esse saber/fazer matemática é contextualizado e responde a fatores naturais e sociais. (2005, p. 22).

Desse modo, entende-se que a matemática surge como um processo natural

em todas as civilizações através de suas mais variadas necessidades. O saber

matemático está presente nas diversas atividades do ser humano e na grande

diversidade de culturas, onde cada grupo cultural possui suas técnicas e habilidades

matemáticas próprias. Em suas praticas do cotidiano o homem utiliza métodos e

instrumentos de contagem, medidas, e semelhança de objetos, isto é, desenvolve a

matemática que é útil para realização do seu trabalho.

Os indivíduos, ao realizam atividades surgidas no cotidiano, recorrem a

conhecimentos anteriores construídos ao longo do tempo, adequando-os à realidade

presente. Segundo D’ Ambrosio (1996 p. 32), “ao se deparar com situações novas,

reunimos experiências de situações anteriores, adaptando às novas circunstancias e

assim incorporando à memória, novos fazeres e saberes”. Diante do exposto

percebe-se a interação que existe entre saber matemático existente no aluno,

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Page 12: Monografia Eunice Matemática 2011

resultado de experiências no seu dia-a-dia e a construção do conhecimento

matemático estabelecido nas instituições escolares.

A história nos mostra que em todo o mundo, durante os últimos séculos, o

campo da Educação Matemática desenvolveu-se em função de que matemáticos e

educadores interferem-se constantemente nos sistemas de ensino, colocando sua

atenção principalmente na Matemática que se ensina e que se aprende nas

instituições escolares. Desse modo, compreendemos que a Educação Matemática é

uma área de conhecimento em construção, ou seja, freqüentemente é discutido e

elaborado diretrizes para que a Educação Matemática torne mais significativa e

atual. Segundo Skovmose (2005) (apud Bicudo 2005, p. 53).

A Educação Matemática fornece uma introdução às formas de conhecimento que são parte de muitas tecnologias e técnicas. Não apenas na forma de padrões avançados de design e fabricação, mas para uma variedade de tecnologias e de técnicas da vida cotidiana. É um desafio para Educação promover não apenas acesso a este recurso tecnológico poderoso, mas também conduzir qualquer Matemática em Ação pela reflexão e pela crítica.

Para o autor, os estudos realizados na área da Educação Matemática, não

vem apenas para ajudar os estudantes a aprender certas formas de conhecimento e

de técnicas, mas também convidá-los a refletir sobre como essas formas de

conhecimento e técnicas devem ser trazidas à ação. Desse modo percebe-se que a

aplicação de métodos que contribuam para que a aprendizagem torne-se mais

significativa, isto é, útil e atual, integrada no mundo de hoje é necessária, Skovmose

(2005) (apud Bicudo 2005).

O grande desafio para a Educação Matemática, hoje, é utilizar o

conhecimento matemático trazido pelo aluno de sua prática no cotidiano

contextualizado ao ensino da matemática escolar, uma forma de ampliá-lo

significativamente para o seu desenvolvimento cultural e social. Entretanto o que se

percebe na grande maioria das escolas é a matemática inserida sem estabelecer

vínculos com a realidade do aluno. A forma de apresentação em sala de aula é

dissociada do cotidiano do indivíduo, o que leva ao desinteresse pelo estudo da

disciplina e consequentemente a resultados negativos pela maioria dos alunos. Um

dos fatores preocupantes no fracasso do ensino da matemática, está

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Page 13: Monografia Eunice Matemática 2011

tradicionalmente pautado na utilização mecânica de técnicas operatórias, uma

limitação ao mero uso de fórmulas pré estabelecidas, o que faz com que o aluno

apenas memorize para realização de avaliações. Para Frigotto (1989, p. 40)

O processo educativo, escolar ou não, é reduzido à função de produzir um conjunto de habilidades intelectuais, desenvolvimento de determinadas atitudes, transmissão de um determinado volume de conhecimento que funcionam como geradores de capacidade de trabalho e, consequentemente de produção.

Na maioria das vezes, o processo educativo ocorre através da transmissão do

conhecimento, onde o professor repassa informações limitadas referentes ao

assunto abordado, através de exposição de fórmulas, sem associá-la em nenhum

momento com a realidade do aluno, o que transmite a idéia de que só se caracteriza

como conhecimento matemático, aquele visto nas instituições escolares.

Ao sentir dificuldades de compreensão da disciplina apresentada distante da

sua realidade, o indivíduo perde a motivação pelo seu estudo e sente-se muitas

vezes isolado da esfera social, que impõe o conhecimento formal como o mais

importante. Todavia a matemática utilizada no meio ambiente comercial local e

familiar com o intuito de resolver problemas práticos, não é diferente da matemática

escolar. O que gera essa diferença é a forma como o professor desenvolve esses

conhecimentos, restringindo-se à finalidade de avaliar os alunos, dar notas, aprovar

ou não os mesmos.

Deve-se entender a sala de aula como um local onde se interagem alunos

com conhecimento de senso comum que almejam a aquisição do conhecimento

sistematizado, mas não distintos dos saberes adquiridos na sua comunidade. Para o

aluno aprender a matemática formal de forma significativa é necessário associá-la à

matemática da sua comunidade do grupo social em que o aluno está inserido,

permitir que os conhecimentos existentes da prática do dia-a-dia sejam ampliados e

utilizados como base para construção de novos conhecimentos.

Nessa perspectiva, a importância dessa investigação deve-se ao fato de

trazer uma reflexão acerca da valorização dos saberes matemáticos perceptíveis na

prática dos feirantes, bem como estabelecer um suporte para discussões entre os

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Page 14: Monografia Eunice Matemática 2011

professores de matemática em instituições de ensino ao buscarem metodologias

mais significativas para o ensino e aprendizagem da matemática.

Sabe-se que a matemática é utilizada diariamente por todos os indivíduos,

não só na resolução de problemas numéricos surgidas em fatos do cotidiano, mas

diante de fatores culturais e sociais. Os alunos utilizam números nos

relacionamentos diários, como na compra e venda de produtos, para passarem troco

etc. Entende-se que o conhecimento lógico matemático utilizado na resolução de

problemas diários em diversas situações é o mesmo que deveria ser utilizado na

escola para resolver determinadas operações. No entanto, o que se nota é que o

aluno apresenta dificuldades em aprender e associá-la em seu contexto de vida. A

maioria dos alunos que lidam frequentemente com resolução de problemas no

trabalho, como os alunos feirantes, chega à escola e sentem-se perdidos, isolados,

agem como se a matemática vista na escola é totalmente independente daquela

existente no seu contexto social.

Diante desse fato, surge a necessidade de realizar o presente estudo, o qual

fará a seguinte investigação: Quais são as dificuldades encontradas pelos alunos ao

associar a matemática utilizada no cotidiano, com a matemática estudada na

escola?

Objetivou-se com esta pesquisa:

Conhecer estratégias matemáticas utilizadas pelos alunos na resolução de

problemas dado na escola;

Verificar como é feita a relação do conhecimento matemático escolar com o

informal;

Identificar as dificuldades apresentadas pelos alunos ao associar a

matemática da escolar com a matemática do cotidiano;

Na perspectiva de formar cidadãos capazes de participar e interferir numa

sociedade moderna e complexa, o ensino da matemática deve ser desenvolvido de

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Page 15: Monografia Eunice Matemática 2011

modo inclusivo, no qual todos os alunos, independente do meio social em que

vivem, sintam-se valorizados e conscientes de seus direito e deveres. O ensino da

matemática tem papel fundamental nesse processo de desenvolvimento quando a

aprendizagem acontece de forma significativa e utilitária, ou seja, possibilita a

conscientização e valorização de todos os povos.

Assim, reconhecer o valor da matemática informal desenvolvida por diferentes

grupos sociais e sua relação com a matemática informal é de grande relevância,

pois ao refletir sobre a dimensão dos saberes matemáticos dessa comunidade pode-

se abrir caminhos tanto numa perspectiva cientifica ao oferecer subsídios para a

criação de novas propostas no processo de ensino e aprendizagem para a

Matemática, bem como numa perspectiva social, ao possibilitar ao aluno refletir

sobre sua realidade social.

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Page 16: Monografia Eunice Matemática 2011

CAPITULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A trajetória de estudos ocorreu através de um levantamento bibliográfico

preliminar da literatura sobre Etnomatemática, Aprendizagem Significativa e

conhecimento Formal e Informal, no qual destacamos respectivamente, Bicudo

(1999), Meksenas (1992), e principalmente D’ Ambrosio (1986, 1990, 1996, 2004,

2005), Ausubel (1968) (apud Moreira 1982), Baraldi (1999). Os argumentos

defendidos por esses autores serviram como base para uma reflexão e

compreensão preliminar sobre etnomatemática e a importância da aprendizagem

significativa, bem como, o conhecimento formal e informal. Todas as temáticas serão

abordadas com a finalidade de embasar a pesquisa, na qual trataremos do

conhecimento matemático de alunos feirantes, associado à aprendizagem

matemático escolar.

2.1 CULTURA E MATEMÁTICA – ETNOMATEMÁTICA

Inseridos na discussão sobre cultura, é fundamental esclarecermos,

inicialmente, o que se entende por cultura ou o que estamos querendo dizer ao usar

essa palavra, uma vez que a palavra cultura é diariamente empregada em diferentes

situações e em diversos contextos, sejam naturais ou sociais. Para D’ Ambrosio

(2005, p. 32), “cultura é o conjunto de conhecimentos compartilhados,

comportamentos e compatibilizados”. Conforme o entendimento de Santos (2004)

(apud Ferrete 2006, p. 102) cultura é:

[...] uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por exemplo, poder-se-ia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social como, por exemplo, se poder-se-ia falar da religião. Não se pode dizer que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tem a ver com a realidade onde existe. Entendida dessa forma, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social, e não pode dizer que ela exista em alguns contextos e não em outros.

Partido dessa percepção entende-se que cultura é algo inerente à vida

humana, independente do contexto no qual estamos inseridos. Recorrendo a história

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Page 17: Monografia Eunice Matemática 2011

visualizamos que desde o princípio da humanidade, cada cultura tem desenvolvido

diferentes idéias e práticas matemáticas de acordo com suas necessidades de

sobrevivência. D’Ambrósio (2005) traz um exemplo desenvolvido pelo primata,

quando escolheu e lascou um pedaço de pedra, com o objetivo de descarnar um

osso, isso revelou uma manifestação da matemática na sua mente. Para selecionar

a pedra, é necessário avaliar suas dimensões, que segundo o autor é uma das

manifestações mais elementares do pensamento matemático. Este fato mostra que

desde a pré história, antes mesmo das primeiras civilizações, quando os seres

humanos desenvolveram muitas habilidades, inventaram técnicas e organismos

certos conhecimentos, próprios de sua capacidade criativa, o ser humano já

praticava matemática.

A utilização da matemática que surge das diversas necessidades do homem e

por diferentes grupos culturais, é o que caracteriza a Etnomatemática. A

Etnomatemática é uma linha de pesquisa que vem desenvolvendo no âmbito da

educação matemática, a qual tem como principal finalidade o resgate dos saberes

matemáticos intrínsecos em cada indivíduo, resultados de suas vivencias do

cotidiano.

O termo Etnomatemática tem como principal mentor o pesquisador brasileiro

Ubiratan D’Ambrosio. Suas pesquisas abordam o estudo da Etnomatemática como

uma vertente interessada em resgatar e valorizar os saberes matemáticos praticado

por diferentes grupos sociais. D’ Ambrosio (2005, p. 17) diz que o objetivo da

Etnomatemática “é procurar entender o saber/fazer matemático ao longo da história

da humanidade, contextualizado em diferentes grupos de interesse, comunidades,

povos e nações”.

Em 1975 propõe-se um estudo mais profundo do termo Etnomatemática: o

prefixo Etno se refere à etnia, isto é, a um grupo de pessoas da mesma cultura,

língua própria, mitos, etc., ou seja, características culturais bem definidas para que

possamos caracterizá-los como grupo diferenciado. Etno, então, refere-se ao

sistema de conhecimento e cognição típicos de uma determinada cultura,

D’Ambrosio (2005).

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Page 18: Monografia Eunice Matemática 2011

Nesse contexto D’ Ambrósio (1990, p. 5) afirma que:

[...] etno é hoje aceitar como algo mais amplo, referente ao contexto cultural e, portanto, incluem considerações com linguagem, jargão, códigos de comportamento, mitos e símbolos; matema é uma raiz difícil que vai na direção de explicar, de conhecer, de entender; ética vem sem dúvida de techme, que é a mesma raiz de arte e de técnica. Assim poderíamos dizer que etnomatemática é arte ou técnica de explicar, de conhecer, de entender-nos diversos contextos culturais.

Para Bicudo (1999), Etnomatemática é a matemática encontrada entre os

grupos culturais identificáveis, tais como, sociedades tribais, grupos obreiros, criança

de certa categoria de idade, classes profissionais, etc. Sua identidade depende

amplamente dos focos de interesse, de motivação e de certos códigos e jargões que

não pertencem ao domínio da matemática acadêmica. E associados a estas, temos

práticas, tais como: O cálculo de contagem, medição, classificação e ordenação,

deduzção modelação, etc. que constituem a Etnomatemática. (Bicudo 1999, p.76)

atribui que:

[...] à ciências e, em particular a matemática, o caráter de uma atividade inerente ao ser humano, praticado com plena espontaneidade, resultante de seu meio-cultural e, conseqüentemente, determinada pela realidade material na qual o indivíduo está inserido.

O homem ao longo da história produz conhecimento pela necessidade de

resolver situações relacionadas ao seu contexto de vida natural, social e cultural.

Dessa forma, cria e desenvolve estratégias para atender suas necessidades de

sobrevivência. E como resposta adquire novos saberes para a vida cotidiana,

inclusive, saberes matemáticos.

Esse processo de construção do conhecimento matemático que ocorre no

dia-a-dia dos indivíduos e a aquisição de saberes é o que se chama de

Etnomatemática. Essa tendência está embasada na valorização dos saberes

existentes nas diferentes culturas, produto de suas práticas do cotidiano, não só nos

aspectos culturais, mas principalmente nos aspectos sociais, uma vez que o homem

vive em constante interação com o meio ambiente natural e social.

As idéias da utilização desse conceito no contexto da educação escolar vêm

sendo desenvolvidas, em vários países e por vários educadores. Para D’Ambrosio

(1990, p. 12). “O ideal da educação de massa, isto é, educação igual e para todos,

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Page 19: Monografia Eunice Matemática 2011

independentes de classe social e econômica, começou a dominar os ideais e

aspirações políticas do país a partir da segunda guerra Mundial”. Diante disso,

percebemos que desde algum tempo atrás, há uma inquietação sobre o processo de

ensino/aprendizagem da matemática nas escolas. Debates referentes à novas

metodologias que possam trazer maior significado á sua aprendizagem, uma vez

que comprovadamente a maioria dos alunos não gostam de estudar matemática.

A matemática que normalmente é ensinada nas escolas não permite que os

alunos utilizem os conhecimentos acumulados originados do seu contexto cultural

para se chegar à matemática sistematizada ensinada na escola. Fato contraditório à

metodologia do programa Etnomatemática que focaliza a geração, organização

intelectual e social, a institucionalização e a difusão do conhecimento, os quais

correspondem ao que usualmente é estudado como cognação, epistemologia,

história e sociologia do conhecimento, incluindo educação, Meksenas (1992).

Desse no modo, para Zaslavsky (1990) (apud Knijnink, 1996, p.6)

[...] os estudantes se conscientizam do papel da matemática em todas as sociedades. Eles tomam consciência de que as praticas matemáticas nascem das reais necessidades e interesses dos povos, os estudantes aprendem a apreciar as contribuições de culturas diferentes das suas e a valorizar sua própria herança cultural, estabelecendo relações entre o estudo da matemática com a história, linguagem, artes e outras disciplinas, todos eles adquirem um maior significado [...].

Perante o exposto, percebemos a necessidade de pensar constantemente

em novas práticas pedagógicas embasadas na valorização ao conhecimento que os

indivíduos possuem, o que trará maior significado e conseqüentemente maior

interesse pelo seu estudo. À medida que essa nova postura for ganhando espaço

nas aulas de matemática, ocorrerá a descentralização do conhecimento e do

formalismo rigoroso e infrutífero para a maioria dos nossos alunos. Concordamos

com D’Ambrósio (2005, p.82) quando diz.

A adoção de uma nova postura educacional, na verdade a busca de um novo paradigma de educação que substitua o já desgastado ensino-aprendizagem, baseado numa obsoleta de causa-efeito, é essencial para o desenvolvimento de criatividades desinibida e conducente a novas formas de relação interculturais, proporcionando o espaço adequado para preservar a diversidade e eliminar a desigualdade numa nova organização da sociedade.

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Page 20: Monografia Eunice Matemática 2011

Portanto, precisa-se colocar em prática uma nova postura didática, adotando

uma maneira de tornar a matemática interessante, atrativa e relevante, inserindo o

aluno com sujeito ativo no processo de aprendizagem. O ensino da matemática com

ênfase a etnomatemática, partindo da valorização de aspectos sociais e culturais do

espaço em que vive o aluno, é a entrada do caminho que deve-se seguir,

proporcionando uma aprendizagem significativa.

2.2 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A aprendizagem torna-se muito mais significativa, à medida que a nova

informação é incorporada aos conhecimentos dos indivíduos já existente, isto é, o

aluno utiliza seu conhecimento prévio, que já é significativo para ele com base para

construção de novos conhecimentos.

Segundo Ausubel (1968) (apud Moreira 1982, p. 7) nos seus estudos sobre

cognitivismo afirma que: “A aprendizagem significativa ocorre quando a nova

informação ancora-se em conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva

de quem aprende”. Enfatiza que o armazenamento de informações no cérebro

humano ocorre de forma organizada, de modo que elementos mais específicos do

conhecimento são assimilados a conceitos mais gerais, mais inclusivos.

Em tornos dos princípios da aprendizagem significativa, Ausubel (1968, p. 37-

41) (apud Moreira 1982, p. 14) aponta que:

A essência do processo de aprendizagem significativa está em que idéias simbolicamente expressa sejam relacionadas de maneira não arbitrária e substantiva ao que o aprendiz já sabe, ou seja, algum aspecto relevante da sua estrutura de conhecimento.

Ainda nesse sentido Ausubel (1968) (apud Moreira 1982, p. 14) pressupõe

que:

a) O material a ser aprendido seja potencialmente significativo para o aprendiz, relacionável a sua estrutura de conhecimento de forma não arbitrária. b) O aprendiz manifesta uma disposição de relacionar o novo material de maneira substantiva e não arbitrária a sua estrutura cognitiva.

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Page 21: Monografia Eunice Matemática 2011

Partindo desse pressuposto, entende-se que uma aprendizagem significativa

decorre do processo de conexão entre o conhecimento que o indivíduo já possui e a

nova situação apresentada, ou seja, a informação recebida torna-se relevante

quando há possibilidade de utilizar aquilo que ele já conhece, como base para a

nova aprendizagem, isto é, na sua bagagem constata um conceito específico, ao

qual a nova informação apresentada deve ser relacionada. Desse modo, percebe-se

que mesmo utilizando símbolos, como os da matemática formal, ao estabelecer uma

relação com o que ele já conhece, o assunto torna-se mais significativo e

consequentemente o aluno terá maior motivação.

Todas as pessoas possuem conhecimentos obtidos da sua realidade, seja

através do convívio com outras pessoas ou da prática do dia-a-dia. Entende-se que

quando esta realidade é levada para o campo formal, ou seja, para a escola,

certamente ele vai romper com a idéia de uma matemática fragmentada, onde a

cada unidade estuda-se um assunto de forma fechada e de conhecimento definitivo.

É preciso entender que a aprendizagem torna-se significativa quando novos

conhecimentos (conceitos, idéias, proposições, modelos, fórmulas) permitam

resgatar os conhecimentos que são importantes para sua vida.

No entender de Baraldi (1999), em toda parte, a educação envolve situações

de aprendizagem informais e formais. Diferentes grupos sociais utilizam

conhecimentos acumulados resultado da transição de gerações, sem que haja um

modelo de ensino formal e atualizado.

Baraldi (1999, p. 34) acredita que:

O ensino constitui-se num caminho para adquirir-se conhecimento, de forma organizada, intencionada por alguém. Essas organização e intenção são direcionadas por objetivos, ou seja, pelo que se pretende que seja aprendido.

Desse modo, para que a educação formal seja essencialmente importante

para os alunos, devem ser criadas situações que contextualize a matemática

didática, com aspectos da realidade social e cultural dos alunos. No entanto, sabe-

se da existência de fatores que muitas vezes impossibilita o desenvolvimento de um

20

Page 22: Monografia Eunice Matemática 2011

trabalho neste sentido. A diversidade encontrada num âmbito escolar é grande, o

que, por exemplo, dificulta na execução de um trabalho baseado no saberes da

prática do dia-a-dia de um grupo de alunos. Isso implica que a temática abordada

será importante para alguns e irrelevante pra outros.

Neste sentido, é necessária antes de tudo que o mediador conheça um pouco

da realidade na qual estão inseridos os indivíduos envolvidos no processo de ensino

aprendizagem. Estrategicamente, o material utilizado para o desenvolvimento seja

potencialmente significativo, ou seja, algo que os possibilite estabelecer relações

entre o que ele já conhece e o assunto abordado.

Nessa perspectiva, Moran (2008) expõe que a escola precisa apoiar

significativamente o professor, visto que para esse processo ocorrer positivamente é

preciso partir de onde aluno está das suas preocupações, necessidades,

curiosidades e construir um currículo que dialogue continuamente com a vida, com o

cotidiano do aluno.

Em contrapartida abordamos nessa discussão a forma como o ensino da

matemática vem sendo trabalhado na maioria das escolas. Geralmente um ensino

dissociado do cotidiano dos alunos, a base de fórmulas padronizadas que dão a

idéia de unicidade. O aluno aprende a fórmula mecânica, muitas vezes sem saber

ao menos a sua origem, apenas para realizar as avaliações de desempenho

exigidas pelo sistema escolar. Ausubel (1968) (apud Moreira 1982, p. 9) define este

tipo de aprendizagem como sendo:

[...] mecânica, sendo as novas informações apresentam pouca ou nenhuma associação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Nesse caso a nova informação é armazenada de maneira insignificante, ou seja, não há interação entre a nova informação e aquela já armazenada.

Para Bicudo (1999) o aprender matemático tem sido visto como emissão de

respostas imediatas seguidas a estímulos, e não como compreensão de um

conhecimento científico que vão sendo atingidos a partir do conhecimento que o

aluno já possui. “[...] ensinar está ligado ao conhecer. E o conhecer, por sua vez,

21

Page 23: Monografia Eunice Matemática 2011

está ligado ao conhecido, pois o conhecido é o passado daquilo que em, um certo

momento, foi o presente do ato de conhecer”, Bicudo (1999 p. 27).

Nesse sentido, novas idéias e informações serão retidas significativamente na

medida em que conceitos importantes e inclusivos sejam abordados de forma clara

e disponível na estrutura cognitiva do indivíduo, ou seja, a exploração de assuntos

contextualizados baseado no que eles já conhecem.

Ainda sobre esse conceito James (1978, p. 87) diz que:

Uma das características distintivas é certamente, a familiaridade: Um conteúdo é significativo na medida em que se relaciona ou está associado com alguma coisa já conhecida e compreendida. Quanto maior for o numero de associações que um dado conteúdo suscitar, mais significativo será ele.

Para Piaget (apud James 1978) o conhecimento não é uma qualidade estática

e sim uma relação dinâmica. A forma de um indivíduo abordar a realidade é sempre

uma forma construtivista e, portanto tem a ver com a sua disposição com o seu

conhecimento anterior e com as características do objeto.

Conhecer o ambiente social de seus alunos faz parte do perfil do verdadeiro

educador, que está disposto a possibilitar de fato, uma aprendizagem significativa.

James (1978) aponta que, o conteúdo a ser aprendido torne-se significativo para ele,

professor; pois a medida que o professor demonstra a relevância do assunto

abordado, transmite para o aluno maior segurança e conseqüentemente maior

motivação para aprendizagem.

Nessa perspectiva, a discussão é ampliada por D’Ambrosio (1986, p. 44),

quando expõe que:

[...] o verdadeiro espírito da Matemática é a capacidade de modelar situações reais, codificá-las adequadamente, de maneira a permitir a utilização das técnicas e resultados conhecido em outro contexto, novo. Isto é, a transferência de aprendizado resultante de uma certa situação para uma situação nova é um ponto crucial do que se poderia chamar aprendizado de Matemática, e talvez o objetivo maior do seu ensino.

22

Page 24: Monografia Eunice Matemática 2011

Diante disso, evidencia-se que a contextualização e a inter-relação dos

conhecimentos formal e informal é peça fundamental para uma aprendizagem

significativa. A conexão desses saberes enriquecendo o processo de ensino, é

extremamente importante, tanto para o professor como principalmente para o aluno.

2.3 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: FORMAL E INFORMAL

Em todas as sociedades existem diferentes formas de educação, entretanto

podemos perceber que nem toda educação é aprendida na escola. Sobre esse

conceito Brandão (2001, p.9) ressalta que:

Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única pratica e o professor profissional não é o seu único praticante.

Praticamente todas as pessoas, realizam atividades em que aplicam

conceitos básicos matemáticos sem muitas vezes darem conta dessa aplicação.

Assim, crianças, jovens e adultos, vivenciam situações práticas que envolvem

matemática. A matemática se faz presente em todas as civilizações e sistemas

culturais através dos tempos, na evolução da humanidade, definindo estratégias de

ação para lidar com o ambiente, criando e desenhando instrumentos para esse fim,

buscando explicações sobre os fatos e fenômenos da natureza, em todas as formas

de fazer e saber, D’ Ambrósio, (2004).

A composição de conceitos próprios, originados da busca de explicações e

na criação de instrumentos e estratégias nas diferentes atividades do cotidiano, gera

uma educação. Esses conhecimentos são transmitidos aos indivíduos, permitindo

um conhecimento informal nos diversos grupos sociais.

A educação informal está relacionada com aquelas informações que

acontecem ocasionalmente, que não estão presas a parâmetros. Desse modo

percebe-se que todo processo de aprendizagem resultado das praticas do cotidiano

dos indivíduos que vão desde informações visuais à orais caracterizam uma

educação informal. Segundo Ferreira (1999 p. 765), a palavra informal é definida

23

Page 25: Monografia Eunice Matemática 2011

como algo destituído de formalidade, isto é, um termo atribuído a algo que acontece

fora dos estabelecimentos de ensino, ou que ocorre sem planejamento. Assim

podemos afirmar que a educação informal transcorre em diversos espaços sociais.

A educação ensinada nas escolas é chamada de educação formal, pois

perpassa por vários momentos de aprendizagem do aluno com o professor e, tem

como objetiva aprendizagem do conteúdo didático pré estabelecido pelas

instituições de ensino.

O conjunto de conhecimentos de cada indivíduo, resultado das suas práticas

do cotidiano, muitas vezes gera dificuldades no seu aprendizado na escola. O aluno

por si só sente dificuldades de relacionar os conhecimentos já trazidos por eles com

os assuntos abordados na escola, que normalmente são apresentados de forma

distante da sua realidade. A exigência no cumprimento de uma grade curricular

padronizada, que independente da realidade contextual de cada indivíduo, em cada

região ou localidade, determina o distanciamento entre o que é vivido pelos alunos

no seu meio social com o que é oferecido no espaço escolar. Para Domingues

(2003, p. 350) “Ao defender esse modelo curricular único, os conhecimentos

culturais e sociais, os anseios dos alunos e a diferença entre eles não são levados

em consideração”.

Desse modo, acredita-se que isso leva o aluno a sentir dificuldades na

aprendizagem da matemática, por não conseguir relacionar o conhecimento que ele

já possui com o imposto pela escola.

Todavia, não se deve considerar o ensino da matemática visto na escola,

como processo irrelevante, o que queremos enfatizar é como esta matemática vem

sendo apresentada para alunos, até que ponto a metodologia utilizada pelo

professor torna o assunto significativo para o aluno.

Para Miguel e Miorim (2005, p. 18):

24

Page 26: Monografia Eunice Matemática 2011

O ensino da matemática na escola elementar é importante porque a maior parte da tecnologia em que se baseiam as formas de decisão, produção, distribuição, consumo e destruição dos bens materiais e culturais das sociedades contemporâneas, está relacionada com os resultados das diversas ciências em geral e particularmente, com a matemática, cujos métodos dão legitimamente a essa ciência. Nesse sentido, ensinar e aprender matemática são um dos meios necessários, ainda que não suficiente, para se poder penetrar nesse “modo de ser” das sociedades contemporâneas e poder interferir, individual e coletivamente, nos seus rumos.

Percebe-se a importância da matemática na nossa vida e a necessidade de

conhecer sua história e seus conceitos relacionados com nosso cotidiano e a sua

contribuição para desenvolvimento da tecnologia e nos resultados nas diversas a

ciências.

O professor precisa conhecer a história de vida de seus alunos, ter clareza

de suas próprias concepções sobre matemática, uma vez que a prática em sala de

aula, as escolhas, a definição de objetos e conteúdos de ensino e as formas de

avaliação estão ligadas a essas concepções, não deixando de considerar o

conhecimento informal trazido pelos alunos.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a matemática

nas séries iniciais do ensino fundamental,

O conhecimento da história dos conceitos matemáticos precisa fazer parte da formação de professores para que tenham elementos que lhe permitam mostrar aos alunos a matemática como ciências que não trata de verdades eternas, infalíveis e intermináveis, mas como ciências dinâmicas, sempre abertas à incorporação de novos conhecimentos [...], (Brasil, 2000, p. 37)

Nesse contexto, a escola é indispensável na vida dos indivíduos, tem a

função contribuir para desenvolvimento da cidadania, estabelecendo conexões e

inter relações entre os diversos campos do saber.

Uma postura pedagógica relevante é aquela que contempla antes de tudo o

contexto sócio-cultural em que o aluno está inserido e busca relacionar essa

bagagem cultural com o conhecimento sistematizado, no sentido de fazê-lo sentir-se

como sujeito da sua própria história e na condição de transformá-la ao seu próprio

benefício.

25

Page 27: Monografia Eunice Matemática 2011

Fonseca (2002, p. 30). Mostra que:

Das experiências que acompanhamos como educadores, leitores, pesquisadores não será difícil recordar em que se estabelece o conflito na relação ensino-aprendizagem: seja porque o aluno se recuse à consideração de uma nova lógica de organizar, classificar, argumentar, registrar que lhe fuga aos padrões que lhe são familiares.

Ao se deparar com situações formais impostas pela escola, com assuntos que

são distantes do seu cotidiano com novos conceitos e nova linguagem, o aluno

apresenta menos interesse em aprendê-la. Por isso reforçamos a importância de

resgatar o que ele já possui para que facilite a compressão e passe a contribuir na

formação de indivíduos ajude reflexão de diversos fatores socioculturais.

De acordo com os (PCNs) “a compreensão matemática é essencial para o

cidadão agir como consumidor prudente ou tomar decisões em sua vida pessoal“ ,

(1996, p.250). Portanto a matemática deve contemplar não só conteúdos

conceituais, mas também, procedimentos em cada ação cotidiana. Sendo assim,

pretendemos verificar quais as dificuldades encontradas pelos alunos, ao associar a

escolar com a matemática do seu cotidiano no trabalho na feira livre, a qual

chamamos de informal, com a matemática estudada na escola, ou seja, a

matemática sistematizada chamada formal.

Compreendemos que as construções e representações em torno dos

saberes matemáticos formais, estão inteiramente atreladas aos informais ou do

senso comum. Por isso a importância de se desenvolver um processo de ensino

onde os alunos possam ser produtores de seu conhecimento, tomando decisões e

evitando uma aprendizagem alienada. Com essa forma de praticar matemática,

voltando o olhar para formação de cidadãos autônomos, proporcionaremos, portanto

uma aprendizagem significativa.

26

Page 28: Monografia Eunice Matemática 2011

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

1.1 PESQUISA QUALITATIVA COM ALUNOS QUE TRABALHAM NA FEIRA

LIVRE DE IGARA

Nas atividades rotineiras, muitos indivíduos desenvolvem cálculos

matemáticos, sem, no entanto, possuir conhecimento desta ciência. Desse modo,

esse estudo surge como uma oportunidade de compreender a existência de um

conhecimento não formal e sua aplicação nas negociações na feira livre, fazendo

uma conexão com o conhecimento matemático escolar.

A realização deste trabalho foi motivada, ao observar o domínio apresentado

pelos alunos que trabalham na feira livre de Igara distrito de senhor do Bonfim, ao se

deparar com diferentes situações que exigem raciocínio para se obter o resultado.

Nessa perspectiva, a base metodológica que dará suporte a essa pesquisa se

insere no campo da pesquisa de natureza qualitativa. O objetivo da pesquisa foi

identificar as dificuldades encontradas pelos alunos do 5º ano ao associar a

matemática do cotidiano, ou seja, a matemática utilizada no trabalho na feira livre de

Igara, com a matemática estudada na escola. E posteriormente fazer uma análise

dos dados, evidenciando a importância da matemática informal no contexto da sala

de aula, obtendo assim uma aprendizagem mais significativa.

A pesquisa qualitativa possibilita a compreensão dos acontecimentos das

intenções, vivências, valores, percepções e reação de diferentes grupos sociais.

Nesta os sujeitos investigados responderam de acordo com sua perspectiva

pessoal, expressando-se livremente. Segundo Bogdan e Biklen (1982, p.11) “a

pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos obtidas no contato

direto do pesquisador com a situação estudada”. Para os autores as características

elementares de uma investigação qualitativa na qual estão presentes elementos

como, analisar as práticas crenças e valores culturais de uma comunidade, o

pesquisador é instrumento principal na coleta e posterior analise dos dados, o que

27

Page 29: Monografia Eunice Matemática 2011

possibilita um caráter descritivo da investigação, sendo este processo mais relevante

que os elementos finais dos dados obtidos.

O exposto define a pesquisa qualitativa, a qual deve ser vista acima dos

procedimentos sistemáticos e de quaisquer previsões estatísticas. Explicita o

processo de realização da pesquisa, e a sua potencialidade na obtenção de dados.

No entanto, frisamos sobre a importância da dedicação no processo de coleta de

dados. Para que isso aconteça com eficiência é imprescindível que sejam

observados e cumpridos cuidadosamente todas as etapas referentes à pesquisa, e

desse modo garantir a qualidade do trabalho, o qual envolve o contato direto com a

situação e o sujeito em análise. Nesse contexto Koche (1997, p. 135) expõe que:

Os procedimentos que serão adotados em uma investigação dependerão da natureza do problema investigado, de suas variáveis, de suas definições, das condições e competências do investigador, do estado da arte em que se encontra a área de conhecimento em que se insere o problema investigado, dos recursos financeiros e tempo disponível.

Por ser um processo que envolve a transição de resultados, neste

procedimento não há possibilidade de afirmar antes da observação ou

experimentação. Nesse movimento o observador encontra certa dificuldade em

manter a neutralidade, ou seja, não interferir na situação, o que, caso contrário pode

comprometer a interpretação correta das informações.

Para a investigação foi utilizado como instrumento de coleta de dados, a

observação direta e participante etapa em que se acompanhou o desempenho dos

alunos na sala de aula nas aulas de matemática, bem como a atividade exercida por

esse aluno no local de trabalho em um dado momento da pesquisa. Segundo

Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 107) A observação participante é um tipo de estudo

naturalista onde a coleta de dados é realizada junto aos comportamentos naturais

das pessoas quando essas estão conversando, ouvindo, trabalhando etc.

Para Ludke e André (1986, p. 26),

28

Page 30: Monografia Eunice Matemática 2011

A observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno.

O questionário aplicado como instrumento de pesquisa foi composto de

perguntas abertas e fechadas, denominado questionário Misto. Para Fiorentini e

Lorenzato (2006, p. 116), “no questionário com perguntas mistas, é feito uma

combinação parte com perguntas fechadas e parte com perguntas abertas”. Nessa

técnica, o sujeito além de responder sim ou não irá justificar a sua resposta. Propôs-

se também alguns problemas com situações relacionadas ao trabalho deles na feira,

visando a forma utilizada por eles na resolução. Nesta atividade permitindo-se que

estes resolvessem da forma que achasse melhor. Esse processo ocorreu de forma

coletiva, no qual fomos lendo cada questão separadamente para que eles

compreendessem a finalidade e respondessem com clareza.

Segundo Lakatos e Marconi (2009, p. 203), “questionário é um instrumento

de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem

ser respondidas por escrito”.

3.1 SUJEITOS DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida com feirantes que estudam nas séries iniciais,

onde foram selecionados sete alunos do 5º ano da Escola Municipal Herculano

Almeida Lima, situado na Igara, que trabalham na feira livre deste distrito aos

Domingo e alguns deles vendem nas cidades vizinhas nos dias de feira. Dos sete

alunos que participaram da pesquisa dois pertencem ao sexo feminino e cinco ao

sexo masculino, com idade que variam de 10 e 13 anos. Destes, quatro trabalham

com vendas, dois vendem vassoura uma vende verdura e outros temperos, os três

restantes pegam carrego somente na feira de Igara. O objetivo desse estudo é

identificar as dificuldades que os sujeitos pesquisados encontram em relacionar a

matemática presente em suas práticas diárias com a matemática estudada na

escola.

29

Page 31: Monografia Eunice Matemática 2011

As pessoas selecionadas para participar da pesquisa receberam os devidos

esclarecimentos sobre a sua importância no campo da Educação Matemática. O

primeiro momento se deu com a observação na sala de aula, durante o mês de

novembro, nos dias em que a professora daria aula de matemática, decorreu-se com

atenção especialmente aos sujeitos da pesquisa. Procurou-se estabelecer um clima

de estímulo e aceitação para com os pesquisados para que se sentissem a vontade.

3.2 LOCAL DA PESQUISA

O campo de realização desta pesquisa foi a Escola Municipal Herculano de

Almeida Lima, situado em Igara, distrito de Senhor de Bonfim - Bahia, localizada no

Km 10, entre Andorinha e Senhor do Bonfim. A topografia e relativamente plana na

sede e no interior do distrito. A economia do distrito é movimentada basicamente da

agricultura familiar, tendo como principal cultura a mandioca, com a comercialização

do beiju1. A realização da feira livre aos domingos contribui significativamente na

economia do município. Durante a realização da pesquisa, concluímos que grande

número de alunos que estudam nas escolas do distrito, trabalha na feira livre.

Nessa pesquisa, buscou-se compreender e interferir na realidade, com o

objetivo de identificar e analisar os saberes matemáticos dos alunos feirantes,

associando ao conhecimento matemático escolar. Também se procurou verificar as

dificuldades encontradas pelos alunos ao associar a matemática utilizada no

cotidiano com a matemática estudada na escola.

1 Beiju: Tipo de bolo feito de massa de mandioca enrolando em pequenos cilindros ocos. De origem indígena e típica do Nordeste brasileiro

30

Page 32: Monografia Eunice Matemática 2011

IV CAPÍTULO

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os dados obtidos através da observação, conversas

informais e questionário composto de perguntas abertas e fechadas aplicadas aos

alunos do 5ª ano da Escola Municipal Herculano de Almeida Lima, seguido da

analise dos dados coletados durante a pesquisa, isto servirá de base para obtenção

da resposta em torno da questão de pesquisa, a qual procura identificar as

dificuldades encontradas pelos alunos ao associar a matemática utilizada no

cotidiano, com a matemática estudada na escola.

Os resultados dessa pesquisa serão utilizados como instrumento de reflexão

por parte dos educadores e possíveis adoção na sua prática pedagógica. Além

disso, despertá-los para continuação de trabalhos nessa área e em diversas áreas

do conhecimento matemático informal, visando um melhor significado na matemática

estudada na escola.

O estudo foi realizado com sete alunos feirantes do Ensino Fundamental I,

pertencentes ao 5º ano da Escola Herculano de Almeida Lima no distrito de Igara

Município de Senhor do Bonfim – BA, objetivando analisar o conhecimento

matemático adquirido na escola e sua relação com o conhecimento matemático dos

feirantes, isto é, a matemática informal utilizada no ambiente de trabalho pelos

alunos feirantes.

Durante a realização da pesquisa, foi possível concluir que uns grandes

números de alunos que estudam nas escolas do distrito de Igara, trabalham na feira

livre. As famílias dos alunos envolvidos na pesquisa vivem basicamente da renda

obtida nessa atividade.

A economia do referido distrito é movimentada pela agricultura familiar,

tendo como principal cultura a mandioca, com a comercialização do beiju. A

realização da feira livre aos domingos contribui significativamente na economia do

município.

31

Page 33: Monografia Eunice Matemática 2011

4.1 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS

Os dados dessa pesquisa foram obtidos a partir da observação direta

realizada durante as aulas de matemática com alunos do 5º ano, com especial

atenção nos sete alunos feirantes sujeitos pesquisados neste trabalho. Além disso,

aplicou-se um questionário formado por questões abertas e fechadas no qual as

abertas tinham como finalidade obter justificativas do aluno sobre a resposta dada

nas questões fechadas. As questões investigadas envolvem o perfil do aluno, o seu

trabalho na feira livre, a importância da matemática na sua vida e a relação existente

entre a matemática utilizada na sala de aula e a utilizada no cotidiano em suas

atividades na feira livre.

A observação direta e participante ocorreu durante a segunda quinzena do

mês de outubro e no decorrer do mês de novembro de 2010, se estendendo ao

início do mês de dezembro, período em que foi aplicado o questionário. No período

de observação procurou-se identificar as dificuldades de aprendizagem e as

estratégias utilizadas pelos alunos, a motivação em aprender a matemática formal,

bem como a metodologia utilizada pelo professor na execução das aulas.

Ao longo da observação notou-se que há uma grande dificuldade por parte

dos alunos no que diz respeito à interpretação, compreensão e sistematização nos

problemas propostos, bem como nas representações matemáticas apresentadas.

Percebemos também que a dificuldade não está somente na falta de

contextualização do conteúdo dado, mas na adaptação de uma linguagem nova,

visto que a matemática possui termos e símbolos próprios. Como afirma Menezes

(1999), aponta no primeiro momento, que estamos perante um meio de

comunicação possuidor de um código próprio, com uma gramática e que é utilizado

por certa comunidade. Esta linguagem tem registros orais e escritos e, como

qualquer linguagem, apresenta diversos níveis de elaboração, consoante a

competência dos interlocutores, ou seja, a linguagem matemática utilizada pelos

"matemáticos profissionais", por traduzir idéias de alto nível, é mais exigente do que

a linguagem utilizada para traduzir idéias numa aula.

32

Page 34: Monografia Eunice Matemática 2011

Ressalta que é necessário à atenção do professor em sua comunicação em

sala de aula. Deve-se necessariamente utilizar a linguagem correta da matemática

formal desde as séries iniciais, evitando dificuldades no processo de aprendizagem,

como nos revelou a observação realizada. No entanto não podemos deixar de

valorizar e respeitar a linguagem matemática própria da comunidade.

4.2 ÁNALISE DO QUESTIONÁRIO

Durante a aplicação dos questionários na sala de aula, com os alunos

participantes da pesquisa, seguiram-se as seguintes etapas: inicialmente foi

realizada a leitura individual de todas as questões para que não houvesse dúvida ao

respondê-las.

As primeiras questões abordadas referiram-se ao perfil do aluno, isto é, a

idade, sexo, e turno em que estuda, bem como sobre o seu trabalho na feira livre,

tais como, a atividade desenvolvida por ele, turno e dias que trabalha. Verificou-se

que todos trabalham no turno oposto ao que estuda, neste caso trabalham pela

manhã. Cinco alunos não trabalham todos os dias apenas aos domingos na feira

livre de Igara e durante alguns dias da semana trabalham nas feiras de algumas

cidades vizinhas. Dois dos alunos pesquisados tem barraca fixa na feira, ficando na

barraca todos os dias. Do total de alunos, três pegam carrego, dois vendem

vassoura e dois trabalham com vendas de verdura e tempero ajudando os pais, no

entanto em alguns momentos ficam comercializando sozinhos.

Em torno do trabalho na feira livre fez-se a seguintes perguntas abertas:

1. No momento da comercialização do produto, alguém lhe ajuda nas contas

(passar troco, medir, pesar etc.)?

Dos sete alunos pesquisados, seis responderam que ninguém lhe ajuda a

fazer contas no momento das negociações. Logo, obteve-se os seguintes

resultados: aproximadamente 85,7 % responderam que ninguém lhe ajuda no

momento das negociações, e apenas 15,3% responde que recebe ajuda dos pais,

caso especifico do aluno que trabalha na barraca com a venda de verduras.

33

Page 35: Monografia Eunice Matemática 2011

2. Como você faz as contas no momento das negociações?

Todos responderam que fazem de “cabeça”, em algumas situações utilizam

os dedos ou parcela mentalmente o valor para facilitar a resolução.

Para verificação da resposta dada, propôs-se uma situação para que eles

resolvessem de cabeça e demonstrasse no papel: “Supomos que você tenha17

vassouras pra vender e sua mãe fez mais 25 durante a semana. Quantas vassouras

você tem agora pra vender?”.

Exemplo: 1

Faço 17 mais 20 que dá 37 e 37 mais 5, dá 42. (ALUNO)

Exemplo: 2

Primeiro somo 10 mais 20, depois 7 mais 5 e junto os dois resultados, ai dá 42. (ALUNO)

A partir desses dados, constatou-se que grande parte dos alunos

pesquisados realiza suas atividades e resolve problemas matemáticos sem

interferência de outras pessoas. Nota-se com isso, que eles possuem um

conhecimento matemático adquirido de suas vivencias no dia-a-dia, o permite que

com facilidade consigam lidar e resolver diferentes situações matemáticas surgidas

na sua prática rotineira.

Em contra partida percebemos no decorrer da pesquisa dificuldades na

aprendizagem da matemática escolar, principalmente no que diz respeito à

interpretação e sistematização de questões propostas pelo professor. Percebemos

também uma distância do conteúdo abordado com a matemática inerente à vida

diária dos sujeitos pesquisados, o que leva crer que a falta de contextualização

contribui significativamente para a não compreensão dos alunos.

Os exemplos e exercícios trazidos pelos livros didáticos, em sua maioria são

embasados e elaborados baseando-se num contexto social e cultural diferente da

nossa realidade, como mostra o exemplo extraído do livro de Imenes e Lellis (1997,

34

Page 36: Monografia Eunice Matemática 2011

p. 64): Uma composição com 23 vagões deve transportar 805 toneladas de minério.

A carga foi distribuída igualmente entre os vagões. Quanto carrega cada um? Nota-

se que há uma distância da situação apresentada com a nossa realidade.

D’ Ambrósio (2002) (apud Ferrete 2004) diz que:

A identificação de técnicas ou habilidades e práticas utilizadas por distintos grupos culturais para conhecer, entender e explicar o mundo que os cerca, a realidade a eles sensível, o manejo dessa realidade em seu benefício e no benefício de seu grupo, nos leva a valorizar o contexto sociocultural, quando necessitamos buscar apoio nesses saberes para ampliar nossas possibilidades metodológicas de ensino. De posse de tais saberes, faz se necessário buscarmos um a fundamentação teórica na qual essas técnicas, habilidades e praticas se apóiam.

Complementa que, o que se almeja é uma aprendizagem matemática com

significado e contextualizada, pois acreditamos que essa maneira de entender a

matemática, mostra a necessidade de confirmar sua existência. D’ Ambrósio (2002)

(apud Ferrete, 2004) expõe que: “Não queremos propor fim da matemática hoje, nas

escolas e universidades, pelo contrário, queremos valorizá-la, dar lhe um significado

para que ela seja apresentada com mais clareza e maturidade”.

Procurando certificar-se do desempenho matemático apresentado pelos alunos

em diversas situações surgidas no seu trabalho de comercialização na feira livre,

fez-se a seguinte pergunta:

3. Sente alguma dificuldade ao fazer as contas no momento da

comercialização?

Seis (06) alunos disseram que não sentem nenhuma dificuldade, um dos

alunos respondeu que:

Com a prática do dia-a-dia fica fácil fazer esses cálculos. (ALUNO)

Além disso, afirmaram utilizam estratégias como, contar nos dedos e fazer

mentalmente, utilizando ou não como base conhecimento matemático adquirido na

escola.

Segundo Fantinato (apud Gentile e Gurgel, 2005) Os primeiros contatos com

o cálculo mental costumam acontecer no convívio com outros adultos, quando as

35

Page 37: Monografia Eunice Matemática 2011

crianças incorporam certas técnicas usadas por eles. Na escola, ele precisa ser

sistematizado e valorizado como uma estratégia eficiente para fazer contas. Essa

forma de calcular exige que se saiba de memória alguns resultados de contas

simples como, o dobro, o triplo, metade e outras adições, subtrações, multiplicações

e divisões.

Do total de aluno apenas um disse que sente dificuldade na hora de passar

troco, quando recebe uma nota alta ,sente alguma dificuldade ao operacionalizar

mentalmente e passar o troco corretamente. Em conversa informal com este aluno,

examinamos que sua principal dificuldade está ao realizar a subtração mentalmente.

No decorrer da pesquisa, através da observação e conversas pessoais sobre como

resolver diferentes situações surgidas, nos foi dado exemplos no qual percebemos a

utilização de estratégias diferente do aluno que afirma sentir dificuldades ao realizar

a conta mentalmente com a forma de resolução utilizada pelos outros alunos

pesquisados. Segue um exemplo e as diferentes formas de resolução (estratégias)

observadas:

Exemplo: Maria vendeu determinado produto por R$ 3,75 centavos e recebeu

uma nota de R$ 20,00 como pagamento.

a) Forma de resolução do aluno que sente dificuldade:

R$ 20,00 que tira R$ 3,75 20 – 3 = 17 17- 50 = 16,50 0,50 – 0,25 =

0,25 16 + 0,25 = R$ 16,25

b) Forma de resolução pelos outros alunos pesquisados:

R$ 3,75 + 0,25 = 4,00 4,00 + 1,00 = 5,005,00+5,00 = 10,0010,00 +

10,00 = R$ 20,00

Notamos que na primeira forma de resolução, o aluno utiliza como base a

subtração para resolver a situação surgida. Apoiando-se na idéia anteriormente

exposta pela autora sobre conta de cabeça, a qual diz que essa forma de calcular

exige que se saiba de memória alguns resultados de contas simples, verificamos

então, que por utilizar a subtração, confessa sentir algumas dificuldades ao lidar com

36

Page 38: Monografia Eunice Matemática 2011

números altos, o que acreditamos faltar conhecimentos básicos como citou a autora.

Na segunda questão verificamos que é utilizada a adição, nessa os alunos sentem

menos dificuldade e resolvem de forma rápida as situações surgidas.

Com o intuito de identificar as dificuldades encontradas pelos alunos na

matemática formal vista na escola, indagou-se o seguinte:

4. Sente dificuldades na aprendizagem da matemática da escolar?

Todos os alunos responderam que gostam da matemática vista na escola. No

entanto consideram mais difícil e sentem dificuldades. Um dos alunos respondeu

que:

Muitas vezes agente não entende a explicação da professora. Ainda tem que obedecer umas regras pra conta dá certo... na matemática do dia-a-dia não precisa disso não...(ALUNO)

Diante desse resultado, verifica-se que apesar dos alunos sentirem

dificuldades na aprendizagem em sala de aula, a maioria afirmou gostar de

matemática. Situação que nos leva a crer que está faltando unir o gostar que eles

possuem da matemática com uma metodologia mais envolvente, na qual consigam

interagir, e conseqüentemente absorver com mais facilidade, visto que a forma

como o assunto é abordado e que possibilitará uma aprendizagem significativa.

Sobre isso Piaget (1987) (apud Sayegh 2007) expõe que:

O professor enquanto organizador permanece indispensável no sentido de criar as situações e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os problemas significativos à criança. Em segundo lugar, ele é necessário para proporcionar contraexemplos que forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápidas. O que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em transmitir soluções prontas; o seu papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a iniciativa e a pesquisa.

Portanto, compreende-se que o papel do professor é o de facilitador, criador

de possibilidades para que o aluno desenvolva a criticidade e construa seu próprio

conhecimento.

37

Page 39: Monografia Eunice Matemática 2011

Buscando conhecer à visão do aluno sobre a aprendizagem da matemática e

seu interesse em aprendê-la, fez-se a seguinte indagação:

5. Pra você é importante estudar matemática?

Nessa pergunta todos os alunos participantes da pesquisa responderam que

sim. No entanto houve diversas respostas justificando a afirmação dada, como:

É importante estudar matemática, pois quando saio pra vender fico mais esperto, sinto mais facilidade pra fazer a conta. (A 1)2

Agente aprende de outra forma. (A 2)Eu gosto mais porque a gente faz mais divisão e vezes e na feira não ver. (A 3)É importante para o trabalho futuramente. (A 4)Pra aprender a contar. (A 5)Por que é muito bom estudar. (A 6)É importante porque agente aprende a contar, ajuda na hora de vender e também pra passar de ano. (A 7)

Os dados apresentados representam 100 % da aprovação em relação à

importância do estudo da matemática formal, oferecida nas instituições escolares.

Essa informação é extremamente relevante, pois evidência mais uma vez que as

dificuldades apresentadas pelos alunos estão na maneira como a matemática vem

sendo desenvolvida em sala de aula, seja na metodologia utilizada para desenvolver

o conteúdo ou na falta de inclusão desses alunos no processo de aprendizagem.

Fazer o aluno enxergar o conhecimento matemático escolar, como algo

inerente na sua vida social e não somente como uma matéria dissociada de sua vida

e que deve ser cumprida no decorrer do ano letivo. É importante que o mediador,

isto é, o professor esteja consciente do seu papel como colaborador na vida social

desses indivíduos. Em relação a isso Sebastiani (2001, p. 5) ressalta que:

[...] escola hoje não tem somente responsabilidade de formar seus alunos no saber-fazer, mas também no saber-ser. Formar o cidadão é um atributo da escola. Ter consciência disso, leva o professor a se interessar pelos os paradigmas educacionais que propiciem essa formação.,. Eu acredito que isso possa ser feito independente do meio onde a escola esteja inserida.

2 Em vista de manutenção do anonimato dos entrevistados atribuímos-lhes um código (A) acrescido de algarismos arábicos (1, 2, 3...)

38

Page 40: Monografia Eunice Matemática 2011

Sobre esse assunto Freire (1996, p. 24) traz uma reflexão ao ressaltar que:

“Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar – aprender

participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica,

pedagógica, estética e ética”.

O que observamos na essência das respostas dada é que todos eles

defendem a relevância de adquirir conhecimento matemático, seja para o seu

trabalho como feirante no momento ou com perspectivas para o futuro como bem

respondeu o aluno A 4 mostrado anteriormente. A resposta dada mostra que o aluno

possui uma visão ampla sobre a importância desse conhecimento para sua vida

social e cultural.

A construção do conhecimento através de uma abordagem a Etnomatemática

é de suma importante, visto que a matemática está presente no cotidiano dos

diversos grupos culturais e sendo indispensável à sua sobrevivência. Além da

valorização dos diversos saberes, a Etnomatemática tem por objetivo a ampliação e

o aprimoramento do conhecimento matemático que estes possuem.

As duas últimas questões referem-se sobre a utilização do conhecimento

matemático existente tanto no espaço escolar quanto nas atividades do dia-a-dia,

procura-se entender como esses saberes interferem na resolução de problemas na

escola, bem como na resolução de diferentes situações surgidas durante as suas

atividades na feira livre.

6. A matemática que você utiliza na feira ajuda na resolução de problemas

matemáticos na escola?

Nessa pergunta, obtiveram-se os seguintes resultados: 03 alunos o que

corresponde a aproximadamente 43% responderam não e 04 o correspondente a

57% dos alunos responderam que sim.

39

Page 41: Monografia Eunice Matemática 2011

Dos alunos participantes da pesquisa que responderam positivamente (57%)

do total, responderam que aplicam as estratégias (contar nos dedos, calculo mental,

etc.) em grande parte das atividades matemáticas propostas pelo professor. Para

estes alunos esse conhecimento ajuda na hora de responder as contas. Uma das

alunas respondeu que:

Tem professores que considera a forma como agente responde, aí ajuda, mas têm outros que não. (ALUNO)

Evidenciou-se ao longo da pesquisa que os alunos utilizaram estratégias para

resolver determinados problemas matemáticos. Quando são apresentadas questões

relacionadas com o cotidiano dos indivíduos eles conseguem utilizar com mais

facilidade esses saberes para resolução e compreensão do conteúdo abordado. O

processo de ensino e aprendizagem ocorrendo dessa forma torna-se envolvente e

significativo, uma vez que esse processo gera um aperfeiçoamento da matemática

informal, tornando-se útil.

Percebe-se que os alunos trazem para escola conhecimentos, idéias

construídas através das experiências vivenciadas no grupo o qual pertence. Estes

chegam a sala de aula com diferentes ferramentas básicas como, classificar,

quantificar, ordenar, qualificar e medir.

Segundo Santos (2003) (apud Ferrete 2006) As necessidades cotidianas

fazem com que os alunos desenvolvam uma inteligência essencialmente prática,

que permita reconhecer problemas, buscar e selecionar informações, tomar

decisões e, portanto, desenvolver uma ampla capacidade para lidar com atividade

matemática. Quando essa capacidade é potencializada pela escola a aprendizagem

apresenta melhor resultado.

Dos 43% (03 alunos) que responderam negativamente declaram que as

atividades propostas pela escola são diferentes das situações vivenciadas por eles

nas suas atividades na feira livre. Ressaltaram que na matemática estudada na

escola é preciso deixar os cálculos, além de ter que interpretar as situações dos

problemas dado.

40

Page 42: Monografia Eunice Matemática 2011

Essa conclusão mostra que a distância de alguns conteúdos abordados com

realidade dos alunos dificulta sua aprendizagem. Para Domingos (2003) para maior

parte das crianças, os conceitos vistos na escola são tão distantes das suas

vivencias, que não se sentem motivados em aprender os conteúdos ou, quando os

aprendem, é apenas para tirar nota nas avaliações, de modo que esse

conhecimento será esquecido por que não tem significado para o aluno, por que não

tem importância, não tem sentido para ele.

Em complemento, Carraher et. al (2001) considera que quando ela é

aprendida na vida, muitas vezes é mais significativa e útil do que a repassada pela

escola. Há muitas situações matemáticas que podem ser impróprias para a vida,

pode não ter nenhuma utilidade se o aluno não conseguir relacioná-la com a

matemática e seu significado.

Na seguinte pergunta procura-se analisar a contribuição da escolarização

formal e sua contribuição no trabalho diário realizados pelos alunos que trabalham

na feira livre de Igara distrito de Senhor do Bonfim.

7. O conhecimento matemático que você adquire na escola, é utilizado (ajuda)

na feira no momento das vendas?

Dos sete alunos pesquisados, 06 responderam que sim e apenas 01 disse

que não. O que corresponde respectivamente à (85,7%) e (15,3%) das respostas

obtidas.

Obteve-se as seguintes respostas:

Não, por que não precisa. (A 1)Na hora que estou fazendo a conta de cabeça, ajuda. (A 2)A gente lembra das contas que vê na escola, ai ajuda. (A 3)Ajuda para passar troco e fazer conta. (A 4)Ajuda no momento de passar o troco. (A 5)

Com isso, nota-se que embora eles não saibam descrever como eles utilizam

o conhecimento matemático adquirido na escola no seu trabalho na feira livre,

41

Page 43: Monografia Eunice Matemática 2011

deixam claro que ajuda quando buscam solução para determinadas situações

surgidas no trabalho.

Referente a este assunto Carraher (2001 p. 82 -83) enfatiza que:

[...] a aprendizagem de matemática e a resolução de problemas, se não estão diretamente relacionados com a solução de problemas práticos, não são facilmente transferidas para a prática. Uma primeira sugestão que surge é então a de oferecer ao aluno oportunidades de resolver problemas em contextos práticos.

Acreditamos, portanto que ao apoderar-se de situações em que a matemática

é utilizada no cotidiano para o ensino da matemática, pode fazer com que o aluno

estabeleça uma relação, a partir de algo conhecido para atingir um novo saber que

poderá ser utilizado em outras situações. Com essa forma ver a matemática,

pressupõe-se que professor realize algumas reflexões criticas sobre o currículo

escolar, muitas vezes impostos aos alunos sem se levar em consideração seus

anseios e o contexto político, social e cultural em que estão inseridos.

8. Quando você resolve na escola uma questão que aborda uma

situação do cotidiano facilita a aprendizagem?

Todos responderam que sim. Segundo eles facilita a compreensão, pois a

interpretação torna-se mais fácil, uma vez que podem associar a situação dada com

o que é comum para eles.

Para verificação da resposta dada, elaboraram-se alguns problemas de

situações vivenciadas por eles no trabalho na feira livre.

No primeiro momento a professora regente leu a questão individualmente

deixando-os livre para responder. Nesta ação os alunos utilizaram estratégias

próprias, como mostra alguns exemplos a seguir:

Maria colheu em sua fazenda 85 laranjas. Ela deverá colocar em saquinhos

para vender na sua barraca. Sabendo que em cada saquinho cabe 5 laranjas,

quantas saquinhos Maria irá utilizar?

42

Page 44: Monografia Eunice Matemática 2011

||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| ||||| |||||. (A 4)

O aluno representou a quantidade total por tracinhos, neste caso 85, e

agrupou em quantidade de 5. Em outras palavras, dispôs-se a quantidade de

laranjas, colocando 5 em cada saquinho. Logo, Maria vai utilizar 17 saquinhos.

5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; 5 + 5 = 10; + 510 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 5 = 85 (A 8)

Na operação o aluno dispôs aleatoriamente em grupos de 5 e seguida

somando de dois em dois até obter a quantidade total dado no problema, no caso

85. A quantidade de vezes que o número cinco foi utilizado representa o número de

saquinhos a ser utilizado.

10 2; 10 2; 10 2; 10 2; 10 2; 10 2; 10 2; 10 2; 5 12 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 1 = 17 (A 9)

O aluno utilizou o processo de desmembramento no total de elementos,

parcelando em quantidades de 10. Em cada grupo de 10 é possível encher dois

saquinhos de laranja. Logo, somando os saquinhos de dois em dois teremos 17

saquinhos.

Nessa atividade, a maioria dos alunos utilizou como estratégia os tracinhos

para resolver a questão proposta. No entanto outros alunos buscaram outras formas

de resolver o problema como apresentamos acima.

Percebemos que foram poucos os alunos que utilizaram o método

sistematizado da escola. Verificou-se que eles optam por estratégias próprias,

mesmo sendo embasado em conhecimento visto na escola. Quanto à motivação por

parte dos alunos verificou-se que quando as questões apresentam alguma coisa que

tenham relação com a vivência deles, sentem-se mais entusiasmado. Na aplicação

da atividade, na qual permitimos liberdade de resposta, todos participarão

ativamente e com dedicação.

43

Page 45: Monografia Eunice Matemática 2011

Neste sentido, Magina et al (2008) diz que na escola deve-se propor problemas

que requeiram diversos raciocínios por parte do aluno, permitindo dessa forma que

ocorra uma expansão do raciocínio envolvendo diversas operações, visto que

sabemos que existem inúmeros caminhos para se chegar a resposta à determinado

problema matemático. Magina et al (2008, p.62) Diz que é função do professor:

Discutir os procedimentos que os alunos utilizam para chegar a essa resposta, isto é, a escolha de estratégias para resolver o problema, porque é nesse momento que ele poderá identificar as concepções dos alunos e propor situações – problemas que contribuam eficazmente com o processo de aprendizagem de seus alunos.

Em face ao exposto, é fundamental que o professor pense sobre a forma mais

adequada para trabalhar os problemas em sala de aula, além disso, analisar e

discutir as diferentes formas que os alunos resolvem os problemas propostos.

44

Page 46: Monografia Eunice Matemática 2011

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desejo de realização deste trabalho surgiu a partir da identificação de

crianças de diversas idades que trabalham na feira livre, desenvolvendo com

praticidade cálculos mentais, tem noção de medidas e peso, passam troco etc. No

entanto, quando chegam à escola apresentam dificuldades na aprendizagem da

matemática, agem como se a matemática vista na escola é totalmente independente

daquela utilizada no cotidiano em diversas situações.

Na perspectiva de identificar essas dificuldades e entender por que os alunos

não conseguem relacioná-la com o cotidiano, surgiu a nossa pergunta investigativa:

Quais são as dificuldades encontradas pelos alunos ao associar a matemática

escolar com a utilizada no cotidiano?

No decorrer da pesquisa, percebemos através da observação e na aplicação

do questionário que eles possuem estratégias próprias de compreensão matemática,

internalizam de acordo com seus conhecimentos prévios, sejam originados do meio

em que vive ou de conhecimentos estudado anteriormente, como bem mostra

Fantinato apud Gentile e Gurgel (2005) quando diz que forma de calcular exige que

se saiba de memória alguns resultados de contas simples como, o dobro, o triplo,

metade e outras adições, subtrações, multiplicações e divisões. Quando permitidos

utilizam esses métodos para resolver problemas matemáticos formais, o que

ameniza as dificuldades, pois sistematizam da forma como está internalizado na sua

estrutura de conhecimento.

Diante dessa constatação, ressaltamos a importância do professor admitir

outras formas de resolução não se limitando a uma única forma de resolução. Para

tanto, visualiza-se a necessidade por parte do professor de ampliar os conceitos já

conhecidos dando-lhes novos significados com ênfase na realidade sócio cultural

dos feirantes.

A aprendizagem mecânica, pautada na repetição de métodos

preestabelecidos, desprovido de elos entre o que é ensinado e o contexto social no

45

Page 47: Monografia Eunice Matemática 2011

qual o individuo está inserido, não possibilita a construção do conhecimento, e sim

uma informação transmitida que será utilizada apenas para realização de

avaliações. Para Freire (1996, p. 26)

Ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educados, criadores, investigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.

Nesse sentido, evidencia-se a responsabilidade no educador na busca de

informações, criando novos conceitos e possibilitando a construção do

conhecimento de forma significativa e ampla.

A partir dos dados obtidos na pesquisa, notamos que os alunos feirantes que

estudam na Escola Municipal Herculano de Almeida Lima, trabalham usando os

saberes matemáticos adquiridos na sua pratica como feirante e em outras situações

desenvolvida no seu grupo cultural. Entretanto, reconhecem que a matemática

sistematizada é importante para o desenvolvimento das atividades diárias, embora

sintam dificuldades na sua aprendizagem, não discordam do seu significado para a

realização profissional futura, que por meio dela terão acesso a melhores condições

de igualdade.

Quando questionados sobre a aplicabilidade de conhecimentos matemáticos

adquiridos na prática do dia-a-dia, evidenciou-se que metade dos alunos

pesquisados sente dificuldades, uma vez que para eles as atividades propostas pela

escola são diferentes das situações vivenciadas, além de terem que interpretá-la, é

necessário sistematizá-la. Em conversa informal com estes alunos em um dado

momento da pesquisa, notou-se que esta opinião predominou em quase 100% dos

sujeitos participantes.

Partindo dessas declarações e de notificações feitas durante a observação

concluímos a falta de associação entre o que é apresentado em sala de aula e o

contexto social no qual eles vivem, o que contribui de fato, para que o aluno sinta

dificuldade na sua aprendizagem. Além da linguagem que muitas vezes é diferente

da que costumamos ouvir, a desmotivação ao estudar um conteúdo não significativo,

46

Page 48: Monografia Eunice Matemática 2011

isto é, um conhecimento que o aluno não sabe onde irá utilizar. Domingues (2003

p. 18) “Os novos conhecimentos tornam-se mais significativos para o aprendiz cada

vez que há uma incorporação do novo por meio do já conhecido a ponto de

promover modificação”.

Relembramos a afirmação de Ausubel (1968) (apud Moreira 1982) quando diz

que quando são apresentadas informações com pouca ou nenhuma associação com

conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva, a informação é armazenada

de maneira insignificante, ou seja, não há interação entre a nova informação e

aquela já armazenada.

Em face aos objetivos da pesquisa acreditamos ter atingido, visto que ao

longo da análise das questões propostas, reforçadas pela observação ocorrida

durante algumas aulas de matemática, evidenciam as dificuldades encontradas

pelos alunos ao associar a matemática do cotidiano com a matemática escolar,

conhecemos algumas estratégias matemáticas utilizadas na resolução de problemas

na escola como mostramos as diferentes formas de resolução na questão proposta

anteriormente.

Outro objetivo que conseguimos atingir foi verificar a relação do conhecimento

matemático estudado na escola com o informal. Neste objetivo, notamos que

embora a maioria afirma que o conhecimento matemático escolar ajuda na

resolução de problema da escola e vice e versa, verificou-se que sentem

dificuldades ao fazer a relação, ora por que a matemática da escola é sistematizada

difícil de fazer mentalmente no trabalho, hora por que o professor não aceita

resposta não formais. No entanto de modo geral tenham consciência que ela

contribui para um melhor desempenho nos cálculos realizado mentalmente.

Diante dos resultados alcançados neste estudo, concluímos que muito ainda

se tem a fazer no campo investigativo quanto à contextualização dos conhecimentos

matemáticos, formal e informal, ou seja, a matemática da escola e a matemática

surgida das necessidades do cotidiano. Desse modo apontamos para a necessidade

do procedimento de novos estudos nesse tema, tendo em vista uma melhor

qualidade no processo de ensino-aprendizagem.

47

Page 49: Monografia Eunice Matemática 2011

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50

Page 52: Monografia Eunice Matemática 2011

APÊNDICE – QUESTIONÁRIO

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Page 53: Monografia Eunice Matemática 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CAMPUS VII – SENHOR DO BONFIM

Solicitamos a sua colaboração na participação da presente pesquisa, respondendo

as questões aqui contidas. Asseguramos o anonimato das declarações dadas.

QUESTIONÁRIO

1 - PERFIL DO ALUNO

a) Sexo : Masculino ( ) Feminino ( )

b) Idade: ____________

c) Turno que estuda: Vespertino ( ) Matutino ( )

d) Qual sua atividade na feira livre?

Vendedor ( ) Pega carrego ( )

e) O que vende na feira? (Somente para os que trabalham com vendas)

2- No momento da comercialização do produto, alguém lhe ajuda nas contas (passar

troco, medir pesar, etc.)

SIM ( ) NÃO( )

2.1 Como você faz as contas no momento das negociações?

_______________________________________________________________

3 - Sente alguma dificuldade ao fazer as contas no momento da comercialização?

SIM ( ) NÃO( )

3.1 Justifique por quê:

4 - Sente dificuldades na aprendizagem da matemática da escolar?

SIM ( ) NÃO( )

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Page 54: Monografia Eunice Matemática 2011

4.1 Justifique por quê:

5 - Pra você é importante estudar matemática?

SIM ( ) NÃO( )

5.1 Justifique a sua resposta.

6 - A matemática que você utiliza na feira ajuda na resolução de problemas

matemáticos na escola?

SIM ( ) NÃO( )

6.1 Justifique a sua resposta.

7 - O conhecimento matemático que você adquire na escola, é utilizado (ajuda) na

feira no momento das vendas?

SIM ( ) NÃO( )

7.1 Justifique a sua resposta.

8 - Quando você resolve na escola uma questão que aborda uma situação do

cotidiano facilita a aprendizagem?

SIM ( ) NÃO( )

8.1 Justifique a sua resposta.

9 – Resolva a questão seguinte da forma que achar melhor:

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9.1 Maria colheu em sua fazenda 85 laranjas. Ela deverá colocar em saquinhos para

vender na sua barraca. Sabendo que em cada saquinho cabe 5 laranjas, quantas

saquinhos Maria irá utilizar?

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Page 56: Monografia Eunice Matemática 2011

ANEXO – FOTOS

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Alunos em sala de aula Foto de: Acervo próprio

Alunos que responderam o questionário Foto de: Acervo próprio

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Alunos em sala de aula Foto de: Acervo próprio

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Page 59: Monografia Eunice Matemática 2011

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