familia e casamento eunice durhan

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    FAMtLIA E CASAMENTO

    Eunice Ribeiro DURHAM (*)

    INTRODU9AO

    o interesse crescente pelo estudo da familia no Brasil,suscitado tanto pelas preocupa~oes do movimento feminista como p~los estudos sobre a reprodu~ao, tern produzido, nos ultimos anos,urn numero crescente de pesquisas.

    A concep~ao classica de famflia patriarcal brasileira,aceita durante tantos anos como fundamento da organiza~ao nao s oda vida familiar, mas da propria sociedade, vern sendo criticadacomo demasiado restrita para abranger 0 conjunto dos seementossociais. Tem-se inclusive colocado em duvida sua validage. mesmopara as classes dominantes. Multiplicaram-se os trabalhos sabreas famllias das classes dominadas, tanto na zona rural como na urbana. Iniciaram-se investiga~oes historicas mais cuidadosas, ba-seadas na utiliza~ao da documenta~ao censitaria, dos arquivos pa-roquiais e eciesiasticos em geral, dos inventarios, etc. (1).

    Ao lado de muito conhecimento positivo, produziu-se, nes-se processo, tambem uma certa confusao: a imprecisao da propriano~ao de famllia; sua confusao com 0 parentesco em geral, a tent~tiva de interpretar a realidade brasileira atraves de urn modelo~e "familia burguesa" construido pelas feministas europeias; apreocupa~ao maior em denunciar as formas de opressao sobre a mu-

    (*) Professor-Adjunto do Departamento de Ciencias Sociais da USP.(1) Vide Bibliografia no final do trabalho.

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    Iher em detrimento da explica~ao do contexto no qual ela se da edos mecanismos atraves dos quais ela opera; tudo isso tern contri-bUldo para confundir algumas questoes.

    A utiliza~ao da abordagem antropologica pode contribuirpara, precisando conceitos, distinguir as problemas e ordenar 0debate.

    Em primeiro lugar, e importante distinguir entre fami-lia, sistema de parentesco, grupo domestico e unidade residen-cial. Familias -sao grupos sociais, estruturados atraves de rela-~oes de afinidade, descendencia e consangliidade que se constituemcomo unidadcs de reprodu~ao humana. 0 parentesco diz respeito aomodo mais amplo de ordena~ao das relaoes de afinidade, descendencia C consangUidade que regula as rela~oes entre familias e dete~mIna as formas de heran~a e succssao. Sendo unidades de reprodu-~ao, as familias se constituem, pelo menos parcialmente, como gr~pas domcsticos e residenciais. Entretanto, nao so esses grupospodem ampliar-se para incluir pcssoas que nao sao, strictu sensu,membros da familia, mas inclusive podem constituir-se como gruposnao familiais.

    No sentido em que 0 empregamos, 0 termo familia defineuma institui~ao. Como tal ele tern uma dupla referencia - de urnlado, diz respeito a grupos sociais concretos, empiricamente delimitaveis e reconhecidos como tal pelos seus membros e peia socie-dade. De outro, refere a regras, padroes, au melhor, modelos cuIturais. Partindo da concep~ao de que a vid~ social e organizadaatraves de regras, os grupos sociais concretos podem ser compree~didos como constru~oes que se utilizam dessas regras au padroespara organ~zar a vida coletiva. Na concep~ao de Geertz, padroesculturais sao, simultaneamente, modelos de e modelos para, istoe, representaoes de ordena~oes presentcs na vida social e instrumentos que modelam a conduta ( GEERTZ, 1973). Neste sentido, a analise da familia se move necessariamente no plano das constru-~oes ideologicas e de seu papel na organiza~ao da vida social.

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    Como modelos, no duplo sentido apresentado acima,as institui~oes sao . em primeiro lugar. mutiveis, e, em segun-do, sao constru~oes sinteticas nas quais a realidade social ja-mais cabe por inteiro. Par isso mesma, a existencia empiricame~te constatada dete, nao pode ser

    inumeras exce~oes ao modelo cultural vigen-imediatamente interpretada como eontesta~ao

    au altera~ao dos padroes culturais; pode representar apenas suaaplica~ao maleavel, para permitir a solu~ao de problemas diver-sos. No que diz respeito aos modelos que regulam a fam[lia, avida sexual e a propria~ao, tenho inclusive a suspeita de que

    a nossa,multo grande

    mas a grandede exce~oes ca-necessidade de acomodar urn numero

    raeteriza -ao apenas maioria das 50-ciedades humanas. Parece que, nesse campo, estamos lidando comcerto tipo de com portament oc;oes sociais.

    particularmente renitente as imposi-

    Qualquer recenseamento de popula~ao ern nossa socieda-de rcvelara necessariarnente que, nB composi~ao das uDidades do-mestieas, as excec;oes podern sercasas que obedecem ao modelo de

    quase tao numerosas quanto osfamIlia vigente. Essas exce-Temos aquelas ern que 0 grupo;oes podem ser de muitos tipos.

    domestico e maior que a familia nuclear, quer incluindo outrosparentes (na maioria das vezes membros da famllia dede urn dos conjuges) quer agregados de diferentes tipos

    origem(afi-lhados, amigos, pensionsitas ou mesmo servi~ais). Ternos tambern

    os casos em que 0 grupo e menor que a famIlia nuclear: casaissem filhos, por exemplo. irmios solteiros sern pais. Mas 0 casomais comum de famllia assim incompleta e formado pel as famlliasmatrifocais, isto e, aquelas formadas basicamente por maes e i -lhos e nas quais a presen~a de urn conjuge-pai tende a ser ternporaria e instavel. Sabemos que esse tipode famIlia e muitomais comurn nas carnadas pobres da popula~ao. H a tambem que considerar os casos, bastante complexos e cada vez mais frequen-tess resultantes da dissolu~ao de casamentos anteriores e ondea rela~ao do casal com seus proprios filhos, filhos dos outroscasamentos de urn ou de ambos os conjuges e a rela~ao entre

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    e nt re cs s es d if er e nt es fi lh os e n tr e Sl po de d ar or i ge m aar ra nj o s mu it o d iv er s os .

    exat am e nt e a va r ie da de e a a m pl it ud e de ss as exc e~ oe squ e t e rn da d o or ig e m a m u it os pr ob l em as na d ef i ni ~a o da s f or ma s def am il i a q ue s er i am c a ra ct e ri st ic a s d e n o ss a so ci e da de , a le m d ef re qu e nt em e nt e le va n ta r 0 p ro bl em a da de sa g re ga ~a o d a fa mi li a es ua p r og re ss i va d es tr u i\ao e nt r e n os .

    E nt re t an to , e mb or a a di ve r si da de e 0 gr a u d e v ar ia ~ ao dac om p os i~ a o d e f am l li as co n cr et a s se j a u rn pr o bl em a f u nd am e nt al dai nv es t ig a~ a o, a di v er ge n ci a e rn re la ~ ao aa m ad el a c u lt ur a l n aa pa -d e se r ta m ad a di r et am e nt e co mo in di c io de s ua in o pe ra n ci a, fa le n -c ia o u tr a ns fo r ma ~a o .. ~ ne c es sa ri o e m pr i me ir o l ug a r, a na l is arem q ue m ed id a as va r ia ~o es c or re sp o nd em a a da p ta ~o es ou exte ns o esdo m od e lo e a t e qu e p on t o im pl ic a m e m s u a c on t es ta ~a o .

    o q u e q ue ro e nf at iz a r co m e st a o bs e rv a~ ao e qu e 0 c o n c e it o d e f a mi li a, em b or a se re fi ra a g r up os s oc ia i s c on cr et o s, r em e-t e pr io r it ar ia m en tc a o mo d el a cu lt u ra l e a s u a r ep r es en t a~ ao . Aa na l is e, p ar ou tr o l ad o , m ov e- s e s em p re n o c a mp o d a ut i li za ~ ao d omo de l e n a o r ga ni z a~ ao d o s g ru p os s oc i ai s e d o c om po r ta me nt o c ol e -t iv o d en tr o da d in am i ca q ue i nc l ui f re qu en t em en t e a p ro pr i a al t e-r a\a o d os m od el os exis t en te s .

    F in al me n te , e n ec es s ar ia l e mb ra r q ue , n a a n al is e d o p ro -pr io m od e le po de m os d i st in gu i r en tr e a e st ru t ur a f or m al (q u e d ef ine a co m po si ~a o d o g r up o) e a o rg a ni za ~ ao dl S re la ~o e s s o ci ai s ,qu e se d a e m fu n~ ao do s p ad r oe s d e d i vi sa o s exua l ( e e ta ri a ) d otr ab a lh o, um a v ez qu e exi st e u r n ce r to g ra u d e au t on am ia e nt re e s-se s d oi s n i ve is .

    Es sa re fl exa o p ar e ce -m e pa rt i cu la rm e nt e i mp o rt an te n a a-n al is e da s t ra ns f or ma ~o e s po rq u e e s ta pa ss an d o a f a ml 1i a e r n n os s aso ci c da de , t ra ns f or ma ~o e ses s as qu e s e r ef e re m ba s ic am e nt e a a lt era ~o e s d a di vi sa o sexu a l d o t r ab al ho , qu e po de m af et a r e m gr a u di

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    verso a estrutura da institui~ao.

    A FORMAyAO DA FAM!LIA NO BRASIL

    Uma analise da forma~ao da famflia na sociedade brasileira deve levar em considera~ao alguns problemas centrais.

    o primeiro deles refere-se as formas de domina~ao polftica impostas no processo de coloniza~ao. A domina~ao e escraviza~ao das popula~oes indlgenas e a importa~ao de escravos negrosconstitui, para essas popula~oes nao europeias, urn violento pro-cesso de descaracteriza~ao cultural e de destrui~ao das formas desociabilidade que Ihes eram proprias. A coloniza~ao nao apenasdeslegitimou e destruiu as padroes culturais dos dominados, masrealizou urn processo de pauperiza~ao da sociabilidade e da cultu-ra desses grupos, impedindo seu acesso plena as formas considcra-das legltimas pela cultura dominante. Desse modo, produziu-se afenomeno de urn certo divorcio (que persiste ate hoje) entre 0 ap~relho estatal e as classes dominantes, de urn lado, a resto da so-ciedade de outro. Ate a Republica foi a Tgreja, agindo como apa-relho ideologico do Estado, que procurou estabelecer a media~aoentre as determina~oes legais sabre a organiza~ao da vida social(incorporadas no Direito Civil) e as praticas sociais desenvolvi-das pelas diEerentes camadas socials. Deve-se reconhecer, entre-tanto, que a Igreja Eoi rnais eflcaz em deslegitimar e destruirpraticas alternativas do que em impoL a uniformidade cultural.

    IS50 alias, era inevitavel, uma vez que a sociedade es-cravista necessariamente excluia grandes segmentos da popula~aodo acesso aos recursos sociais, ideologicos e po11ticos que. monopolizados pelas classes dominantes, garantiam sua posi~ao de pri-vilegio.

    Nessa perspectiva, parece-me importante reconhecer que

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    as grandes diferen~as de classe e a enorme diferencia~ao internanos padroes culturais de diferentes segmentos da socicdade se pr~duzem nao apenas sob a egide de uma permanente explora~ao econom~ca mas implicando igualmente num processo permanente de pauperiz~-~ao cultural.

    familia.Essas observa~oes se aplicam de modo muito especlfico aA destrui~ao das formas familiares proprias das cultu-

    ras ncgras e indigenas foi uma preocupa~ao constante da Igreja,do Estado e das classes dominantes, impedindo a emergencia de mo-delos de familia alternativos. 0 Gnico modele legitimo para a s~ciedade foi, assim, aquele que decorreu de transforma~oes dos pa-drocs culturais portugueses. Preservou-se uma forma que privile-gia 0 grupo conjugal como nucleo estrutural da famIlia e manteve-se todo 0 sistema de parentesco hi-lateral. Ao mesma tempo, aconstante presen~a de mulheres escravizadas deve ter contribuidopara fortalecer os pad roes de domina~ao masculina proprios da ci-viliza~ao iberica.

    Esse modelo, entretanto, so conseguiu se realizar plena-mente nas camadas dominantes e aSSlm mesmo, num sentido muito es-peclfico: como forma de regulamentar a procria~ao (e, por isso, asexualidade) das mulheres nessa camada social, legitimando seusfilhos e assegurando uma forma especifica de heran~a e sucess~o.Esse modela naa foi utilizado no sentido de regular a sexualidadcmasculina e implicau em que, para as mulheres das demais class-ses, generalizassem-se formas de concubinato, unioes consensuaisou simples utiliza~ao sexual das mulheres sem a contrapartida devinculos legalmcnte reconhecidos, eximindo as homens da responsa-bilidade para com a prole.

    No que concerne a famflia das classes dominantes, a antiga concep~ao de famflia patriarcal extensa, que tende a confundirfamIlia e parentesco, pode ser substitufda com proveito pela no-~ao de arentela, definida por Maria Isaura P. de Queiroz: "Aparentela brasileira constitui um grupo de parentesco de sangue

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    formado par varias famIlias nucleares e algumas familias grandes(isto e, que ultrapassam 0 grupo pai-mae-filhos). vivendo cadaqual em sua moradia, regra geral economicamente independentes; asfamilias podem se encontrar dispersas a grancies distancias umasdas outras; 0 afastamento geografico nao quebra a vitalidade dosLa cos au das obrLgacoes r ecLp rocas , C ) Quer s eja igua1ita-ria, quer seja estratificada, a parentela apresentara forte soli-dariedade horizontal no primeiro case, vertical e horizontal nosegundo, unindo tanto os individuos da mesma categoria quanta asLn divLduos de niveis socio-economicos diversos" (QUEIROZ, 1975,p. 165).

    A vantagem desse conceito esta em que ressalta um trac;oimportante desse modelo de famllia que consiste na importanciacentral do nucleo conjugal. Com efeito, famllias propriamenteextensas, isto e, com mais de urn grupo conjugal num mesmo domicl-lio e formando um unico grupo domestico parecem ter sido bastan-te raras, pelo menos a partir da lao Republica e provavelmentemesmo antes. 0 que cabe ressaltar, ao contrario, e a importanciada utilizac;ao dos laC;os de parentesco no estabelecimento de rela-~oes entre esses nucleos conjugais e que atuou como importante m~canismo de transmissao e preservac;ao da propriedade e do controledas posiqoes de autoridade na sociedade tradicional. Nesse sentido, 0 que se conhece como processo de redu~ao da famIlia brasi-leira consiste antes na diminui

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    Entretanto, menos que a famrlia, essa concep~ao pareceaplicar-se ao grupo domestico. estruturado em torno da familia.

    A distin~ao entre familia, parentela e grupo domesticopermite. esclarecer melhor as questoes relativas a organi~a~aoda vida familiar nas classes dominantes e, especialmente. ressal-tar a importancia do vinculo conjugal legal como fundamento dessaorganiza~ao.

    No que diz respeito a divisao sexual do trabalho e, por-tanto, a organiza~ao interna da familia, a consenso existente nabibliografia sobre a autoridade paterna parece corresponder a umarealidade indiscutlvel. Entretanto, a analise sobre a posi~ao damulher e algo contraditoria e sobrepoe duas imagens: a da esposatotalmente submissa. ociosa e destituida de iniciativa, de urn la-do; e, de outro, a da energica mae de familia. responsavel pelacomplcxa organiza~ao domestica e, portanto, capaz,inclusive desubstituir 0 marido na sua falta au ausencia temporaria. Talveza propria rigidez da divisao sexual do trabalho associada a domi-na~ao masculina tenha permitido a emergencia dessas duas formascomo modos alternativos de organiza~ao familiar. ~ caracteristi-co dessa divisao sexual do trabalho a atribui~ao da responsabili-dade pela casa e pelas crian~as exclusivamente a mae: nesse sentido, ela favorece a constitui~ao de uma area de atua~ao femininarelativamente autonoma, que tanto pode contrabalan~ar 0 poder pa-terno como ser itegralmente esmagada por ele. Par outro lado, cabe reconhecer que h a elementos estruturais e institucionais quelimitam a domina~ao do esposo: um deles e 0 sistema de parentescobilateral, no qual as parentes do lado materna sao muitas vezestao ou mais importantes que as paternos. Nesse sistema as mulhe-res herdam e embora 0 controle do seu cabedal caiba ao marido. e-las nao deixam, de possuir um peso economico proprio na sociedadeconjugal. Alem do mais, existe a direito i separa~ao, que pade(e foi muitas vezes) requerido pela mulher (SILVA, 1976).

    Como vemos, grande parte das questoes referentes ao mode

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    10 de familia e a pratica da vida familiar nas camadas dominantesda sociedade brasileira tradicional giram em tarno da questao dovinculo conjugal. Do mesmo modo, 0 problema referente a restri-~ao desse modelo de familia as camadas dominantes e a existenciade formas alternativas em outros segmentos sociais diz respeito,fundamentalmente a essa mesma questao.

    A bibliografia e as pesquisas existentes atestam a gene-ralidade, se nao a predominancia do concubinato e outras formasde uniao consensual, de dura~ao variavel, nas camadas mais pobresda popula~ao.

    De urn lado, esse tipo de uniao resulta do processo de domina~ao. A presen~a de contingentes indigenas escravizados e aimporta~ao de escravos africanos favoreceu 0 concubinato ou 0 pu-ro abuso sexual das mulheres desses segmentos da popula~ao porparte das brancos dominantes. o estabelecimento de vinculos con-jugais implica num minimo de igualdade social -que nao existia,nessa situa~ao. Par isso mesmo, esse tipo de uniao e a prole ba~tarda que dela se origina dificilmente pode ser concebida comouma forma alternativa de familia. Ela caracteriza antes a exis-tencia de formas de reprodu~ao que se dao fora da famrlia, constituindo maes sem maridos e filhos sem pais que, alem de moralmentediscriminados, estao indubitavelmente numa posi~ao de efetiva desvantagem economica e social.

    Entretanto, a presen~a da escravidao nao afeta apenas asrela~oes entre homens e mulheres de diferentes extratos, mas in-flui naquelas que ocorrem entre os proprios dominados.

    Mostramos como a escravidao estabeleceu poderosos mcca-pismosde destrui~ao de padroes culturais e formas familiais pro-prias das etnias dominadas e efetuamente impediu a ado~ao dos pa-droes caracterrsticos dos dominadores. Certamente, para a popul~~ao escrava, a constitui~ao de famrlias regulares era extremamen-te rara, dependendo quase que exclusivamente do capricho do se-

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    nhor. A sexualidade do escravo se desliga da reprodu~ao e se ma-nifesta quer como uso (e abuso) da mulher pelo homem. quer comoresultado de atra~oes momentaneas - tanto em urn caso como em ou-tro, na o se formam unidades de reprodu~ao organizadas.

    Para a popula~ao livre e pobre, em grande parte de cor(india, preta e mesti~a), 0 efeito desagregador de urn passado es-cravo deve ter dificultado a emergencia de formas estaveis de fa-milia. A analise extremamente rica de Floristan Fernandes sobrea situa~ao do negro em Sao Paulo apos a aboli~ao, embora se refi-ra especiicamente ao momento historico da emergencia da socieda-de de classes, aponta muitos aspectos que devem ter sido comunsas popula~oes urbanas pobres nos periodos anteriores (FERNANDES,1964).

    Conforme mostra Fernandes, a socializa~ao do escravo di-ficultou para 0 liberto 0 aproveitamento das restritas oportunid~des economicas abertas aos homens livres, relegando-o as ocupa-~oes mais desqualificadas, mais incertas e menor remuneradas. Asparcas oportunidades de ganho da popula~ao masculina, associada arejei~ao da disciplina especifica do trabalho livre, impediramque os homens assumissem plenamente 0 papel de provedor do nucleofamiliar, condi~ao para a realiza~ao do modelo de familia vigente.Por outro lado, a adapta~ao a essas condi~oes economicas implicollna valoriza~ao do corpo e da sexualidade como forma de realiza~aopessoal. Nesse sistema. os homens nao assumiram a responsabilid~de pela prole das mulheres, considerando-as como objeto para suasatisfa~ao pessoal e instrumento da auto-valoriza~ao associada avirilidade. g importante reconhecer que esses padroes de compor-tamento permitiram uma ampla libera~ao da sexualidade tanto masculina como feminina em ampla contradi~ao com os padroes dominantesreferentes a familia. Por Dutro lado, acarretaram tambem uma e-norme sobrecarga de trabalho e de responsabilidades para as mulheres com filhos, criando condi~oes extremamente precarias para 0desenvolvimento e socializa~ao das crian~as e cbntribuindo assim,para reproduzir uma posi~ao social inferior. ~ necessario apon-

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    it ~ r t " a , m ' b''iQ q!;l.e a s i!UII:5, if 0, t I : ' m a s d eo :['Ell o ! ! t . c 1 O' iO:a eut , [J I et!L t , : [ '~ e is ; i s , e,::m:;; C s.t 1ver~m ~~$~E'~da~ a um~ p o ~ ~ i b i l i d ~ d ~ constaRte de vigL~~cia n asr~l~~ie$ i n t ~ ~ - r ~ ~ ~ o a i s j ~ . ~ S~ m~nif~~t~ na ~l~~ in~ld~~Qia d~~~tupru, i nc ee ~Q ! e ~~ an e~ me nt Qs e ou~r~~ for~a~ d~ vio[Speia d i ~ ~

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    C e ~ t ~ m e n t ~ h i u~~ b Q ~ do~e d ~ ~gage~o ne~ea afi~m~~~ot 'i .o !)!.ibun ,gBn.t '. IBl1.tre taut.o , alt. l 'ci;1,:h.o ,qll,le. ela e e rr e 5 .~Q IHl.e ~. i3'i.tU!~ 8.0 ,m e ~ [ " a t~ . r l I (l; , a i r l ' . l p '1 '0:0: fje . , ~ , m , E !llt ( : 1 : 5 : ; i I l , r l , pO !p"I, l. l a ,~ ; ' 1 ; 1 < Ill! ['D.Ii. i li I i! L m a i . s P"i;i, i j):r I I ! ! :1 0c. :Spee i!!.~'!DiI![J;t il!j .~. , 1 l I . , ! 3 o 'r:!,ge:_ e S(:1I.".!I;VSi l!i Q ' rt;jj, ente :i:l!I.di ca . um it;end e;n~cia q~~ ~~ manif~~Eou 8~mp~~ ~~ e as co~di~;~~de $ob~~i v~n~l a ~eIt . (Ii![" E li a r s - e . : i ' ! : t. : r . e ! ! f l e r f l l , e iiitI! ! P 1 . " , e G ~ d. a s ~ Talmo~!;J! a e E i . ; : . loll:g 1ti , Q ~ f ii l E la : rq~e os R!rra nj 6S 4omi~tieo~ p T B ~ ~ r i o s q~e ea~a~t~ri~~~ a po~ula~iDneSBa .lt~a;io~~~ liga~;~s i~~ tivgi $ ni~ ~~fistituem ~~QP[i~mefiteum ~od~lQ altarn~t(~ d e f 4~[l ia j mas ~ r e~ l~ ~g iD p rc ~i ri ~~ E f41enta~~ ou d~ fOfmada d~ m~d ~o v i g e~ t e~ C o m BUa. v~ loriz a;iQ do

    v[~~~IQ e o n j ~ ~ ~ l ,

    E s Ela~ 4fl:r.w,.t1i'90u: p.!l:reCil!i:ilJ~1ii:e '1i,-et'iI;: i,e l 1 l i l : l I ! ! o : ; I E 1 i ' D ' qiiJIiil: d J i ~ :t:'e:s,-p ~ ' t o a~ c l a 8 s ~ ~ infe~iore~ da p ~ p u J a ~ i ~ _rb~ ~~~ Quan~ ~: popnJa; i o yu r ~l j ~ ~ p e ~ i ~ l m ~ ~ t c ~ q ~ e l ~ f o ~ m a d a ~or pc ~ue~os p ~~ p r ie t i-~iQSi p a r ~ ~ i r o , ~ ~t e~ado~ ~ ~ ~s ~e i~ o~ ~ ~ ~~ ec e ter~~ ~ e d ~s e~ YQ 1-vido f~rtes ~re$~Qe. n o s~nlido ~e e~ta~e e~~~ wnt;cs lieg~i~ ouc e n ~ ~ n s ~ a i a ~~tiv~i~ e ~ r u ~ o s ~ u m 6 ~ t i ~ ~ ~ o~@~~iza~o~ ~ o r ~S~~$v r f i c t l l o ~ ~ D~ve ter ~Dntribtli~Q para i~~o 0 f~to de que ua ag ri-~ ~ltuta~ e$p~~ialm; ~~e ~ d ~ ~M b e ia ~ in ~ i a~ ~ fa f l i a cOR~tittliu a unl~~de ~e produ~;o bi~ie~j que ~ e f D r t ~ l ~ ~ Q ~om ~ 3 u m ~ ~ t o

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    do numero de filhos e 0 controle de sua or~a de trabalho.pelopai. Toda a tradi~a~ de presErva~io da honra feminina. tio desenvolfida na sociedade rural tradicional, mesmo nas camadas mais p~bres, po de ser entendida como mecanismo que atua no sentido de favorecer a constitui~ao de famflias e grupos domesticos estaveis.Os fatores de instabilidade, entretanto, estao igualmente presen-tes e se maniestam, como na zona urbana, na freqUencia de sedu-~oes, raptds, estupros, incesto e concubinagem que parecem ter sido causa e consequencia da violencia endemica que caracteriza avida rural tradicional e, especialmente, as rela~oes entre clas-ses. Embora 0 fenomeno nao se restrinja a esse aspecto, indubitavelmente 0 sistema de domina~ao polrtica e economica vigente pe~mitiu 0 abuso sexual das mulheres das classes inferiores por par-te dos grandes proprietarios, que constituiuuma amea~a permanentea estabilidade das famflias mais pobres.

    H a ainda uma outra questao a ser mencionada: a da eX1S-tencia simultanea de grupos conjugais estaveis legalizados e pur~mente consensuais.

    Entre as dificuldades existentes na sociedade brasileirapara 0 estabelecimento de familias organizadas nos estratos maispobres da popula~ao deve-se contar os impecilhos relativos i leg~liza~ao das uni~es. Em primeiro lugar, 0 alto custo do procedime~to, que sempre dificultou sua utiliza~ao pela popula~ao pobre,mesmo no caso do casamento religioso (SILVA, 1976). Depois, asimpedimentos de ordem canonica que exigiam dispensas especiaissempre dificeis de obter para gente sem recursos e sem influen-cia. A cria~ao do casamento civil, em substitui~ao ou em adi~aoao religioso, longe de remover esses obstaculos, aumentou-os. A-lem do custo do processo, que se mantem elevado, ha que conside-rar a dificuldade, especialmente para a popula~ao rural, em acei-tar uma inova~ao imposta pelo Estado sem correspondencia nos seuspadr~es culturais. Por outr~ lado, ha as dificuldades e mesmoa impossibilidade de atender as exigencias burocraticas que in-cluem 0 deslocamento ate os cartorios e a posse de documentos.

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    De certo modo, pode-se dizer que, no Brasil, 0 Estado agiu no sentido de restringir 0 acesso as formas legais de familia aos seto-res mais privilegiados da popula~ao.

    De modo geral, parece-me necessario reconhecer que, naconstitui~ao da sociedade brasileira, estiveram sempre presentesduas tendencias contraditorias: uma no sentido de fortalecer 0vInculo conjugal como unico instrumento reconhecido de constitui-~ao de familias estaveis e que se manifesta privilegiadamente nasclasses dominantes; outra no sentido de dificultar ou dissolverunioes reconhecidas e estaveis, tanto legais como consensuais eque afeta principalmente os setores mais pobres e oprimidos, esp~cialmente nas areas urbanas.

    Nas diferen~as que se manifestam formas de organiza~ao familiar em diferentes segmentos da sociedade, ha, entretanto, as-pectos comuns. as padroes de divisao sexual do trabalho que atribuem a mulher as tareas domesticas e 0cui dado com as crian~asassim como a rela~ao de domina~ao do hornem sobre a muIher parecemter sido extremamente uniformes no Brasil e marcaram profundamen-te todas as formas, instaveis ou estaveis, de organiza~ao famili-ar. A participa~ao da muIher em atividades produtivas fora doambito da casa nao parece afetar esse padrao.

    Nas familias de trabalhadores rurais, a muIher pade par-ticipar com os ilhos das tarefas agr1colas, acrescidas ao traba-Iho domestico e submetida ao contrale do chee de familia. Naszonas urbanas, entretanto, a questao sempre fai mais diferencia-da.

    A precariedade das oportunidades de emprego e de ganhopara a popula~ao masculina pobre impediu, como mostramos, 0 desempenho pelo hornem do papel socialrnente reconhecida de provedor dafamilia. Desse modo, 0 trabalho feminino remunerado. temporarioau permanente. juntamente com 0 trabalho infantil, sempre foi urnfator irnportante na manuten~ao dos grupos domesticos das classes

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    subalternas, mesmo nos casos detanto, a necessidade do trabalho

    unioes conjugais estaveis. Entreremunerado da mulher nao foi ne-

    cessariamente acompanhada de uma maior autoridade feminina, masfrequentemente contrabalan~ada pela utiliza~ao da violencia porparte do homem para manter sua posi~ao dominante nos grupos do-mesticos.

    Transforma~oes desses padroes sao relativamente recentes-e serao analisadas a seguir.

    AS TRANSFORMAgOES DA FAM!LIA

    As transforma~oes sociais concomitantes a generaliza~aodo trabalho livre certamente afetaram a institui~ao familiar e asformas de regulamenta~ao da procria~ao.

    No suI do pais, onde essa transforma~ao implicou na pre-sen~a de contingentes crescentes de imigrantes estxangeiros, hou-ve uma mudan~a profunda na constitui~ao enos padroes culturaisda popula~ao trabalhadora. Com efeito, 0$ imigrantes, quer euro-peus, quer do oriente proximo, utilizaram intensamente a solida-riedade familial propria de suas culturas de origem como instru-mentos de ascensao social e de explora~ao de oportunidades novasabertas pela expansao economica (FERNANDES, 1964).

    Por outro lado, como mostramos anteriormente, a limita-~ao do mercado de trabalho para 0 homem livre e sem posses, difi-culta au impede que ele exer~a 0 papel de provedor da famtlia.constituindo poderoso fator de instabilidade das unioes conju-gais. Inversarnente, podemos supor que a amplia~ao do mercadoce trabalho, permitindo a setores mais amplos da popula~ao urn ern-prego relativarnente estavel e bern remunerado. deve ter contribut-do no sentido de favorecer 0 estabelecimento de grupos domesticosorganizados e estaveis (DURHAM, 1980).

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    Dentro qessas tenciencias de fortalecirnento dos gruposconjugais nao apenas estaveis, mas inclusive legalizados, ha queconsiderar 0 efeito, possivelmente em sentido contrario, das rni-gra~oes internas. Com efeito, sabemos todos que 0 desenvolvi-menta mais recente do capitalismo no Brasil provocou urn aceleradoprocesso de urbaniza~ao alimentado por correntes cada vez maisintensas de migra~oes regionais e inter-regionais. Mostrei, emoutro trabalho (DURHAM, 1968) como esse processo migratorio acar-reta a fragmenta~ao dos nucleos familiais de origem. Apesar dastendencias demonstradas no mesmo trabalho, para a recornposi~ao dafamilia no decorrer do processo, ele certamente provoca, muitofrequentemente, a dissolu~ao de vfnculos matrimonais legais ou deunioes consensuais anteriores. Ao mesmo tempo, favorece, para os

    de origem, 0estabelccimcntodultos separados de suas faml1iasde novos vfnculos conjugais mais ou menos permanentes, mas neces-sariarnente consensuais (quer, ate recentemente, pela inexistenciado divorcio, quer, atualmente, pelo seu elevado custo financeiroe complexidade burocratica). Urn intenso processo migratorio podeprovocar portanto, tanto 0 aumento do numero de famflias sem pai(especialmente nas zonas de emigra~ao) como a dispersao da mulhere dos filhos par outras famf1ias de parentes (aumentando 0 numerode familias mais amplas que 0 simples grupo conjugal), alem de ampliar 0 numero de unioes consensuais nas zonas de imigra~ao.

    No que diz respeito aos padroes de divisao sexual do trabalho nas classes traba1hadoras, as pesquisas mais recentes naoindicam tendencias sensfveis de transforma~ao radical, apesar doaumento do ingresso da mu1her no mercado de trabalho (MACEDO,1979; BILAC, 1978). Ao contrario, preserva-se a atribui~ao dastarefas domesticas a mulher com a consequente imposi~ao da duplajornada de trabalho; simultaneamente, mantem-se a domina~ao mas-culina do pai no grupo domestico, inclusive pelo usa da violenciafIsica. Desse modo, a transforma~ao do mercado de trabalho com aindustrializa~ao. nao parece ter afetado os padroes tradicionaisde divisao sexual do trabalho nas familias dos trabalhadores, em-bora provavelmente venham a faze-lo mais a longo prazo. 0 que de

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    v e i n f l u ir d e c is i v a m en t e n u m a t r a n s fo r m a ~ a o d e s s e t ip o e 0 a c e s s oa t e c n i ca s d e c o n tr a l e da na t a l i d ad e e a c o n s e qu e n t e p o s s i bi l i d a -d e d e di v o r c ia r a s exu a li d a d e d a r e pr o d u ~ ao , c o m o oc a r r e n i t i d a-m en t e n as c l a s s es me d i a s u r ba n a s .

    Co m e f e it o , e n tr e as a s s a l ar i a d o s n a o m a n u ai s q u e c o n s tit ue n , a s n ov a s c l a ss e s me d i a s , a tr a n s f o rm a 9 a a do m e r c a do d e t ra b ~I ho p a r e ce es t a r a f e ta n d o d e m o d o m a is i m ed i a t o as pa d r o e s d e d i -vi s a o s exu a l d o t r ab a 1 h o , as r e l a90e s d e d o mi n a 980 e a pr o p r i om od e l a d e fa m i l i a l e g a l me n t e ca n s t i t ui d a .

    P ar e c e - m e q u e e n e ss a po p u l a 9 ao q u e se m a n i f es t a m d e mo -d o m al S i m e d i at o e m ai s c l ar o as t e nd e n c i as d e d e se n v o l vi m e n t o d oi g u al i t a r is m o i n d iv i d u a li s t a p r o pr i o da s o c i ed a d e i n d u s tr i a l . E ssa s t en d e n c i as af e t a m d i r e t am e n t e 0 m o d el o d e f a mi l i a , p r o m ov e n d oa c o n t es t a ~ a o d as r e l a~ o e s d e d o mi n a 9 a o- s u b o rd i n a ~ a o en t r e h o me me m u l he r , 0 c on t r o l e da s exu a l i d ad e f e m i n in a e , p o r t a nt o , a p ro -p r i a f or m a d o v i n cu l o c o n j u ga l . N e s se ca s o , a l ib e r t a 9a o s exu a le a ac e i t a 9a o o u p r e fe r e n c ia p e l a mu I h e r de u n i o e s c o ns e n s u ai se sp o r a d i ca s o u p e rm a n e n te s p a r e c e e s ta r c o n d ic i o n a da p o r d oi s f a -to r e s i m p or t a n t es : a p o ss i b i l id a d e d e i n d e p en d e n c ia e c o n om i c a p e -1a p a r ti c i p a 9a o n o m e r c a do de tr a b a 1 h o e m p o si 90e s r e l a ti v a - m en t eb e r n re m u n e ra d a s e 0 a c es s o a te c n i c a s e f ic a z e s d e c o n t ro 1 e d a n a -t a l i d a d e .

    C O N C L U S O E S

    o q ue t e n ta m o s d e m on s t r a r ne s s e tr a b a l h o f o i a g e n e r al i -d ad e e i m p or t a n c ia , n o B r a si l , de u r n m o d el e d e f a mi l i a c e n t r ad on a r e 1 a 98o co n j u g al , q u e te r n ra i z e s p r o fu n d a s n o p a s sa d o c o l o n i-a l . 0 s i s te m a d e d om i n a 9 a o d a s o ci e d a d e b r as i l e i ra t r a d ic i o n a l.se n ao p er m i t i u a g en e r a l i za 9 a o c o mp l e t a d e s s e m o de l e n a s c l a s s ess ub a l t e rn a s , e f e ti v a m e nt e i m p ed i u a e m er g e n c ia d e m o d e l os al t e r n at i v o s . 0 q u e s e g en e r a l i zo u e n t r e a p o p ul a 9 a o m a i s p o b r e f o i u m a

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    f o r m a e m p o b r e c i d a , d e f o r m a d a o u m u t i l a d a d o m e s m o m o d e l o b a s i c o ,q u e a t e s t a a s c o n d i ~ o e s extr e m a m e n t e d e s f a v o r a v e i s e m q u e s e p r o -c e s s a v a a r e p r o d u ~ a o d a s c l a s s e s s u b a l t e r n a s .

    A i m p o s i ~ a o d e u r n u n i c o m o d e l o d e f a m i l i a n a o s i g n i f i c o up o r t a n t o , u m a u n i f o r m i z a ~ a o d o s g r u p o s f a m i l i a i s n e m d a s f o r m a sd e c o n t r o l e d a r e p r o d u ~ a o . T e n d e n c i a s a n t a g o n i c a s d e f o r t a l e c i -m e n t o o u e n f r a q u e c i m e n t o d a r e l a ~ a o c o n j u g a l i n c i d e m d e m o d o d i -v e r s o n a s d i f e r e n t e s c l a s s e s s o c i a i s e d a o o r i g e m a a r r a n j o s d o -m e s t i c o s d i s t i n t o s e f r e q u e n t e m e n t e p r e c a r i o s .

    A t r a n s f o r m a ~ a o d a s o c i e d a d e a s s o c i a d a a e m e r g c n c i a d ot r a b a l h o l i v r e e a o d e s e n v o l v i m e n t o d o c a p i t a l i s m o i n d u s t r i a l p r ~m O V e U , p r o v a v e l m e n t e , a a m p l i a ~ a o d o n u m e r o d e f a m i l i a s e s t a v e i se l e g a l m e n t e c o n s t i t u i d a s e n t r e a s c l a s s e s t r a b a l h a d o r a s . P o r o ut r o l a d o , p r o v o c o u t a m b e m u r n e n f r a q u e c i m e n t o d a s r e l a ~ o c s d e p a -r e n t e s c o , i s o l a n d o 0 g r u p o c o n j u g a l d a p a r e n t e l a , a o m e s m o t e m p oe r n q u e r e s t r i g i a ( s e m e l i m i n a r ) a d o m i n a ~ a o p a t e r n a . M a n t e v e - s ee n t r e t a n t o e s e a c e n t u o u a c e n t r a l i d a d e d o v i n c u l o c o n j u g a l n ac o n s t i t u i ~ a o d a s f a m i l i a s , p r e s e r v a n d o a s u b m i s s a o d a e s p o s a a om a r i d o a t r a v e s d a d i v i s a o s exua l d o t r a b a l h o .

    A p e n a s m u i t o r e c e n t e m e n t e e e m s e g m e n t o s r e s t r i t o s d a p ~p u l a ~ a o u r b a n a 0 m o d e l o b a s i c o d e f a m i l i a , c o m e ~ a a s e r c o n t e s t a -d o p e l a p r o p o s t a d e a l t e r a ~ a o d a n a t u r e z a d o v i n c u l o c o n j u g a l a s -s o c i a d a a d i v i s a o s exua l d o t r a b a l h o .

    V a r i a ~ o e s n a f r e q i l e n c i a d e u n i o e ~ c o n s e n s u a i s , d e f a m i -l i a s i n c o m p l e t a s o u a m p l i a d a s s a o r e s u l t a d o s d e f a t o r e s q u e i n c i -d e m d e m o d o d i v e r s o s o b r e o s d i f e r e n t e s s e g m e n t o s d a s o c i e d a c l e .P o r i s s o m e s m o , c l a s s e s o c i a l , c o r e m o v i m e n t o s m i g r a t o r i o s c o n s -t i t u e m v a r i a v e i s f u n d a m e n t a i s n a i n t e r p r e t a ~ a o d o s c l a d o s q u a n t i t ~t i v o s , s e m a s q u a i s t e n d e n c i a s d i v e r g e n t e s p o d e m s e r m a s c a t a d a ss o b e f e i t o s s e m e l h a n t e s .

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    B I B L I O G R A F I A

    B lU C, E l i z a b e t h D . F a m l l i a s d e t ra b a l h a d o r e s : e s t r a t e g i a d e s o b r e v i v e n c i a .S a o P a ul o , S i m b o lo , 1 9 6 8

    C A N D I D O , A n t o n i o . O s p a r c e i r o s d o R i o B o n i t o . S a o P a u l o , D u a s C i d a d e s , 1 9 6 4 .

    , A n t o n i o . " T h e B r a z i l i a n F a mi l y " . I n : S M I 1 1 I , T . L y n n e M A R C H A N T ,---A l e x a n d e r B r a z " . 1 , p o r t r a i t o f h a l f a c o n t i n e n t . N e w Y o r k , D r y d e rP r e s s , 1951.

    C O R R E A , M a ri z a . " R e p e n s a n d o a fami l i a p a t r i a r c a l b r a s i l e i r a ". I n : A F a m l l i ae r n q u e s t a o . C a de r n o s d e P e s q u i s a d a F u n d a ~a o C a rl o s C h a g a s, n 9 3 7 , m a i o1981.

    D U R H A M , E u n i c e R . A c a m i n h o d a c i d a d e S a o P a u l o , P e s p e c ti v ~, 1 9 68 .

    _ _ _ , E u n i c e R . " A f a m i l i a operar i a : conscienc i a e i d e o l o g i a " . I n : D a d o s ,v o l . 2 3 , n 9 2 , 1 9 8 0 .

    F E R N A N D E S , F l o r e s t a n A i n t e g r a ~ a o d o n e g r o a s o c i e d a d e d e c la s s e s . S a o P a u -l o , F a c u l d a d e d e F i l o s o f i a , C i e n c i a s e L e t r a s d a U S P , 1 9 6 4 .

    F U K U I , L i a G . S e r t a o e b a i r r o r u r a l : p a r e n t e s c o e f a m i l i a e n t r e s i t i a n t e st r a d i c i o na i s . S a o P a u l o , A t i c a , 1 9 7 9 .

    H E R 2 D I A , B e a t r i z M . A . A m o r a d a d a v i d a : t r a b a l h o f a m i l i a r d e p e q u e n o s p r o -d u t o r e s d o n o r d e s t e d o B r a s i l . R i o d e J a n e ~ r o , P a z e T e r r a , 1 9 7 9 .

    L O P E S , S e r g i o L e o u t r o s . M u d a n ) a s o c i a l n o n o r d e s t e : a r e p r o d u s a o d a s u b o r -d i n a ) a o . R i o d e J a n e i r o , P a z e T e r r a , 1 9 7 9 .

    M A C E D O , C a r m e m C . A r e p r o d u S a o d a d e s i g u a l d a d e . S a o P a u l o , H U C l T E C , 1 9 7 9 .

    S I L V A , M a ri a B e a t r i z M . da, " S i s t e m a d e c a s a m e n t o n o B r a s i l c o l o n i a l " I n :

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