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1. EMENTA, PROGRAMA E FORMAS DE AVALIAÇÃO NA DISCIPLINA
UFABC – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
CCNH – CENTRO DE CIÊNCIA NATURAIS E HUMANAS
BC&H – BACHARELADO EM CIÊNCIAS E HUMANIDADES
BH 0000 CONHECIMENTO E ÉTICA: (4-0-4)
EMENTA:
Ética e Moral. O Problema da Moralidade das Ações e aConstrução de Regras Morais. Os Sistemas de Éticas Deontológicas eÉticas Teleológicas. A Possibilidade do Discurso Ético: Ética eLinguagem. Ética e Racionalidade. A Falácia Naturalista. Controle deSistemas Normativos: Punição e Recompensa. Sistemas de Normas Éticas eSistemas de Normas Legais. Pensamento e Ação. A ResponsabilidadeMoral dos Intelectuais. Conhecimento científico e valores (tantocognitivos quanto sociais e éticos). A questão da neutralidade daciência.
BIBLIOGRAFIA BÁSICAOliveira, Manfredo A. Correntes Fundamentais da Ética Contemporânea,Petrópolis, Vozes, 2ª. Edição.Aristóteles. Ética a Nicômaco, coleção Os Pensadores, Abril Cultural.Bentham, J. Princípios da moral e da legislação, coleção OsPensadores, Abril Cultural.Espinosa, B. Ética, coleção Os Pensadores, Abril Cultural.Habermas, J. Pensamento pós-metafísico, Tempo Brasileiro.Horkheimer, M. e Adorno, Th. Dialética do Esclarecimento, Jorge Zahar Editores.Hume, D. Tratado de la naturaleza humana, Madrid: Tecnos.Kant, I. Crítica da razão prática, Lisboa: Edições 70.Kelsen, H. Teoria Pura do Direito, Martins Fontes.Mill, J. S. A liberdade, Utilitarismo, Martins Fontes.Dagnino, Renato – Neutralidade da ciência e determinismo tecnológico: Umdebate sobre a tecnociência. Ed. Unicamp, 2008.Lacey, Hugh – Valores e atividade científica I. SP: Editora 34 /Scientiae Studia, 2008.Lacey, Hugh – “Existe uma distinção relevante entre valores cognitivos esociais?” Scientiae Studia 1(2)(2003), pp. 121-149.Lacey, Hugh - A controvérsia sobre os transgênicos: Questões científicase éticas. [Trad. por C. R. Tossato, G. Rodrigues Neto, R. A. Rebollo, R. R.Kinouchi e S. G. Garcia.] Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2006.Marcuse, Herbert - Ideologia da sociedade industrial. [Trad. por Giasone
Rebuá.] RJ: Zahar, 1969. [Título original: One-Dimensional Man: Studies inthe Ideology of Advanced Industrial Society.]Weber, Max – “A ciência como vocação”. Em: Ensaios de sociologia, pp.154-183. Trad. por Waltensir Dutra. RJ: Zahar, 1974.Weber, Max – “O sentido da “neutralidade axiológica” nas ciências sociaise econômicas”. [Trad. por A. Wernet.] Em: Metodologia das ciências sociais,Parte 2, pp. 361-398. São Paulo / Campinas, SP: Cortez / Ed. da Unicamp,2001.Moore, G. E.: Principia Ethica, Icone Editora, 1998.Lacey, H.: Valores e atividade científica, Editora 43, 2008.Putnam, H.: O colapso da verdade, Idéias & letras, 2008.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARFeenberg, Andrew – “Marcuse or Habermas: Two critiques of technology”.Inquiry 39(1996), pp. 45-70. Disponível também na Internet, no endereço:http://www-rohan.sdsu.edu/faculty/feenberg/marhab.htmlHabermas, J.– “Técnica e ciência enquanto ‘ideologia’. (Para os 70 anosde Herbert Marcuse, no dia 19-VII-1968)”. Em: Os Pensadores - Benjamin /Adorno / Horkheimer / Habermas, pp. 313-343. São Paulo: Abril Cultural,1980.Heidegger, Martin – “A questão da técnica”. [Tradução e apresentação deLyons, David - As Regras
LUIS ALBERTO PELUSO (UFABC)ÉTICA E EXCELÊNCIA
Todos os seres humanos se consideram indivíduos que agem de forma correta. Agir de forma correta significa praticar o bem, fazer o certo, realizar a ação conforme as razões que definem o que deve ser feito. Entretanto, o que queremos dizer com tudo isso? Não sabemos muito sobre o significado de palavras tais como de agir, praticar o bem, aquilo que deve ser feito. Será que sabemos realmente o que estamos dizendo quando afirmamos que somos seres éticos? O fato é que todos nós concordaríamos que a Ética tem a ver com a realização da "excelência" do humano através de nossas ações. A "excelência" é a perfeição. Ser ético significa agir de forma "excelente", isto é sem erros, de forma perfeita. Ao que tudo indica, a Ética está relacionada com a perfeição do agir humano. Assim, a Ética, da mesma forma como a Arte (Música, Dança, Escultura, Pintura...) e a Literatura (Poesia, Romance, Novela...) está associada à realização de algo perfeito. Não se consegue pensar sobre Ética sem ter a noção de "perfeito". Resta saber o que significam palavras, tais como, perfeição, excelência.
O debate sobre a construção de sistemas de interpretação do significado desses conceitos constitui grande parte daquilo que chamamos Ética. Alguns participantes desse debate tem defendido que a construção de sistemas interpretativos desses conceitos deve ser tentada para ficar evidente que é essa uma tarefa impossível de ser realizada. Assim, as perguntas sobre a bondade e a maldade das ações
humanas são perguntas absurdas, posto que, ao perguntarem sobre o significado de algo que não tem significado, elas formulam falsos problemas. Elas fazem perguntas que não podem ser respondidas. Para esses debatedores, sabemos o que significam ações moralmente corretas, sabemos o que devemos fazer em todas as situações. Trata-se de um conhecimento que não tem relação com nossos esforços para sermos racionais, ou formularmos pensamentos racionais sobre as coisas. Não podemos pensar esse conhecimento através da linguagem natural. Talvez seja possível expressar esse conhecimento de alguma forma. Entretanto, não é através da linguagem natural.
Outros participantes desse debate, entretanto, insistem que existem legítimos problemas relacionados ao significados de termos como perfeição, bondade, maldade. Isto é, há de fato, perguntas que podem ser formuladas e respostas que podem ser dadas, no sentido de construirmos sistemas interpretativos dessas palavras. Assim, através do trabalho de nossa razão, ou inteligência, temos feito avanços e esses conceitos tem se tornado mais claros e seu uso mais preciso em nossa linguagem natural.
Aquilo que chamamos de Ética, está de alguma forma associada àquilo que, na linguagem natural - falada e escrita - pode ser considerado como a perfeição, ou excelência do agir humano nas diferentes situações onde é possível agir. Quando construímos um robot, ou dançamos uma música, ou pensamos sobre a perfeição, estamos agindo. Essa ação pode ser perfeita ou excelente. Como chegamos aos conteúdos informativos que nos convencem que a ação foi perfeita é o que a Ética pretende mostrar.
Ética - introdução
«O que é a ética? A própria palavra é por vezes usada para referir o conjunto de regras, princípios ou modos de pensar que orientam, ou pretendem ter autoridade para orientar, as acções de um grupo particular; e por vezes designa o estudo sistemático do raciocínio sobre o modo como devemos agir. No primeiro destes sentidos, podemos questionar a ética sexual do povo das Ilhas Trobriand, ou falar do modo como a ética médica na Holanda acabou por aceitar a eutanásia voluntária. No segundo sentido, ‘ética’ é o nome de um campo de estudos, e muitas vezes de uma temática ensinada nos departamentos de filosofia das universidades. Normalmente, o contexto torna claro qual o sentido em que a palavra deve ser entendida ... .
Alguns autores usam o termo ‘moral’ para o primeiro sentido, descritivo, em que eu uso o termo ‘ética’. Falam da moral dos ilhéus de Trobriand quando querem descrever o que esses ilhéus consideram correcto right ou incorrecto wrong . Reservam a expressão ‘ética’ (ou, por vezes, ‘filosofia moral’) para o campo de estudos ou temática ensinada nos departamentos de filosofia. Eu não adoptei este uso. Tanto ‘ética’ como ‘moral’ têm as suas raízes em palavras que significam ‘costumes’, sendo a primeira derivada do
termo grego ‘ethos’ e a segunda do termo latino ‘mores’, uma palavra ainda usada por vezes para descrever os costumes de um povo. ‘Moral’ traz hoje consigo uma particular, e por vezes desapropriada, ressonância. Ela sugere um severo conjunto de deveres que requere que subordinemos os nossos desejos naturais - e os nossos desejos sexuais têm aqui um relevo particular - de maneira a obedecer à lei moral. O fracasso em cumprir o nosso dever traz consigo um pesado sentimento de culpa. Muitas vezes, a moral é considerada como tendo uma base religiosa. Estas conotações de ‘moral’ são mais características de uma concepção particular da ética, a que está ligada à tradição judaico-cristã, que uma característica inerente a qualquer sistema moral.
A ética não tem uma conexão necessária com qualquer religião em particular, nem com a religião em geral. ... A ética existe em todas as sociedades humanas, e talvez até entre os nossos parentes mais chegados não-humanos. Não temos necessidade de postular deuses que nos transmitem mandamentos, pois podemos considerar a ética como um fenómeno natural que surge no decurso da evolução de mamíferos de vida longa, sociais e inteligentes, que possuem a capacidade de se reconhecer entre si e de recordar o comportamento anterior dos outros. ...
Se admitirmos que Darwin tinha razão quando afirmou que a ética humana se desenvolveu a partir dos instintos sociais que herdámos dos nossos antepassados não-humanos, podemos pôr de lado a hipótese de uma origem divina para a ética. Surgem então outras questões. Se virmos a ética como parte da nossa herança humana comum, então podemos esperar que haja universais éticos, princípios que, de alguma forma, estejam presentes em todas as sociedades humanas. Esta expectativa contrasta profundamente com a opinião predominante no séc. XIX e princípios do séc. XX, quando uma torrente de dados antropológicos provenientes de todo o mundo transmitiu a impressão dominante de uma interminável diversidade ética. Embora seja óbvio que sociedades distintas apresentam pontos de vista éticos diferentes em relação a muitos aspectos, é agora claro que, em alguns pontos importantes, quase todas as sociedades estão de acordo. Claro que isto não significa que devamos aceitar como correctos os pontos de vista éticos em que as sociedades estão de acordo. Até muito recentemente, um dos pontos em que virtualmente todas as sociedades estavam de acordo era que uma mulher casada deve obedecer ao seu marido; e, se recuarmos ainda mais no tempo, podemos encontrar muitos ‘universais éticos’ igualmente questionáveis. O facto de uma prática ser universal não faz com que essa prática seja correcta ou com que deva ser o mais possível desencorajada, ou até mesmo proibida. Mas, assim como a compreensão da origem da ética nos ajuda a perceber a natureza do fenómeno com que estamos a lidar, assim também a nossa compreensão é aumentada pelo conhecimento dos graus de diversidade e uniformidade dos sistemas éticos entre diferentes sociedades - e mesmo entre
as sociedades humanas e as dos outros animais sociais, especialmente as dos que estão mais próximos de nós, os chimpanzés.
... Fomos sempre relutantes em reconhecer similaridades entre o nosso próprio comportamento e o dos animais não-humanos. Afirmávamos que éramos os únicos animais que usavam instrumentos até se descobrir que outros animais também os usam. Depois, fizémos uma afirmação semelhante acerca da linguagem, apenas para virmos a descobrir que os grandes símios podem aprender a comunicar connosco através de linguagem gestual. Mas, dir-se-á, seguramente que a ética, pelo menos, continua a ser um fenómeno puramente humano. Basta lembrarmo-nos da concepção kantiana do dever, baseada na nossa capacidade de seres racionais para compreender a lei moral. Em que será que a interacção existente num grupo de chimpanzés se assemelha a isso? Comparar o comportamento instintivo ou habitual dos chimpanzés com os conscienciosamente escolhidos padrões éticos dos seres humanos é, dir-se-á, degradar e insultar a nossa própria espécie.
Que há um imenso abismo entre o tipo de ética descrito por Kant 1724-1804 e aquele que é revelado pelo comportamento do chimpanzé intelectualmente mais dotado, isso é inegável; mas da existência desse abismo não se segue que não tenhamos nada a aprender acerca do nosso próprio comportamento observando o dos chimpanzés. As ideias de Kant são estranhas não só para os chimpanzés, como para a maior parte das comunidades humanas. Os sistemas filosóficos éticos são elaborações altamente sofisticadas de conceitos mais comuns que, por sua vez, evoluíram a partir do comportamento social pré-humano. Saber mais acerca das bases pré-humanas da ética será, seguramente, uma ajuda para compreender e ter acesso aos sistemas éticos que se desenvolveram a partir dessas bases; e as melhores pistas para sabermos mais ou menos como terá sido a ética pré-humana virão das observações daqueles animais com os quais partilhamos antepassados comuns relativamente próximos.
Kant e os seus seguidores poderão replicar a tudo isto que, uma vez que a lei moral é baseada na razão, quaisquer paralelismos aparentes entre a nossa ética e a dos animais não-humanos é uma coincidência meramente superficial. O comportamento dos animais tem tanto a ver com a ética quanto uma teia de aranha com uma obra de arte. Mas, neste ponto, a tradição filosófica começa a divergir. Kant representa apenas um dos lados no debate acerca do papel que a razão pode desempenhar na nossa vida prática e nas nossas decisões éticas. Se, por exemplo, aceitarmos a tese de David Hume 1711-1776 de que a base da ética deve ser encontrada nas nossas emoções ou, como ele lhes chama, paixões, então a razão torna-se muito menos significativa na ética, e os paralelismos entre a nossa ética e a dos animais não-humanos tornam-se, em correspondência, mais próximos. Deste modo, negar a possibilidade de uma ‘ética dos primatas’ por causa do papel desempenhado pela razão é assumir
que é Kant, e não Hume, quem está correcto acerca deste ponto. Ora, esta pode muito bem ser uma suposição errada.
O debate entre Hume e Kant acerca do papel da razão na ética enquadra a temática ... que nos leva ao coração da mais fundamental das questões que podem ser levantadas acerca da natureza da ética: saber se a ética é objectiva ou subjectiva. Têm sido usados diferentes termos para tratar esta questão, mas por detrás disso jaz sempre a divisão entre, por um lado, os que sustentam que, de algum modo, há uma resposta verdadeira, correcta ou mais justificada para a questão ‘O que devo fazer’, independentemente de quem faz a pergunta; e, por outro, os que sustentam que, se diferentes indivíduos ou diferentes sociedades estão em desacordo em relação a problemas éticos, então é porque não existe um padrão por meio do qual seja possível julgar uma resposta como sendo melhor do que outra.
Os filósofos nem sempre viram que este debate entre objectivistas éticos e subjectivistas éticos é, no fundo, uma questão acerca do papel que a razão desempenha na ética. A asserção kantiana de que a lei moral é uma lei da razão baseava-se na sua metafísica particular. Ele via a natureza humana como eternamente dividida. Por um lado, temos o nosso eu self natural ou físico, enredado no mundo dos desejos. Por outro, temos o nosso eu intelectual ou espiritual, o qual participa do mundo da razão de que deriva a lei moral. Aqueles filósofos que querem defender a objectividade da ética, mas não aceitam o sistema filosófico de Kant, precisam de mostrar que pode haver outra maneira de conhecer o que é objectivamente correcto. Durante muito tempo, alguns defensores da objectividade ética argumentaram que os nossos juízos éticos derivavam de uma compreensão intelectual imediata de uma verdade evidente por si mesma. Deste modo, pensavam, podemos conhecer intuitivamente que uma acção é correcta, de uma forma parecida como sabemos, sem termos de pensar nisso, que um mais um é igual a dois. Por outro lado, os que argumentavam que a ética é subjectiva afirmavam - como Hume - que a ética se baseia no sentimento ou na emoção, e não em nada de objectivo ou presente algures out there no universo.
Mas será que podemos conhecer alguma coisa através da intuição consciência imediata da verdade ou falsidade de uma dada proposição ? Os defensores do intuicionismo ético argumentaram que havia aqui um paralelismo com o modo como conhecemos, ou podemos imediatamente compreender, as verdades básicas da matemática: por exemplo, a de que um mais um é igual a dois. Este argumento sofreu um grande abalo quando foi mostrado que a evidência self-evidencedas verdades básicas da matemática pode ser explicada de uma maneira diferente e mais parcimoniosa, vendo a matemática como um sistema de tautologias, cujos elementos básicos são verdadeiros em virtude do significado dos termos usados. Deste ponto de vista, agora largamente, se não mesmo universalmente, aceite, não se requer
nenhuma intuição especial para estabelecer que um mais um é igual a dois - trata-se de uma verdade lógica, a qual é verdadeira em virtude do significado que atribuímos aos números inteiros ‘um’ e ‘dois’, assim como a ‘mais’ e ‘igual’.Assim, a ideia de que a intuição nos fornece algum tipo substantivo de conhecimento do que é certo e errado perde a sua única analogia.
Mas pode dar-se o caso de que a intuição ética, de um modo excepcional em relação a outras formas de intuição, seja uma fonte de conhecimento genuíno. No entanto, há outro e mais sério problema que se levanta à defesa da objectividade da ética por esta via. O problema reside no facto de que os juízos éticos são supostos levarem à acção. Porque se conhecer o que é correcto não implicar a tendência para nos motivar a fazer o que é correcto, então parece que a ética perde a sua razão de ser. A ética seria então um sistema de conduta, algo como hoje é a etiqueta para a maior parte das pessoas. Eu posso saber que não é delicado começar a comer antes de todos os outros convidados terem sido servidos, mas se não me importar com o que os outros consideram ser boas maneiras, e preferir a minha comida bem quentinha, então não tenho nenhuma razão para esperar. Os que defendem que os juízos éticos são um tipo especial de intuição não pretendem relegar a ética para o estatuto da etiqueta. Pretendem dizer que, se eu souber que alguma coisa é errada, tenho uma razão para não a fazer, quer me preocupe ou não com a ética. Sendo assim, têm de mostrar que o conhecimento obtido através da intuição nos dá uma razão que nos pode motivar a fazer o que vemos ser correcto.
Todavia, há algo de obscuro acerca de como pode, por si só, qualquer tipo de conhecimento motivar-nos necessariamente a agir. Claro que se alguém me disser que há um formigueiro no sítio onde estou prestes a sentar-me, isso habitualmente dá-me uma boa razão para escolher outro local para o meu piquenique. Podemos pressupor que nenhuma pessoa normal prefere ser mordida por formigas, e assim esta informação fornece a qualquer pessoa normal uma razão para agir; mas só funciona como uma razão porque é relevante para as nossas preferências. Se, depois de ter considerado cuidadosamente todas as consequências, decidir que, apesar de tudo, prefiro ser mordido a sentar-me noutro lugar, o conhecimento da localização das formigas deixa de ser uma razão para eu alterar os meus planos.
Kant referiu-se aos imperativos dependentes dos desejos dos indivíduos como sendo ‘imperativos hipotéticos’. ‘Se não quiseres ser mordido senta-te noutro sítio’ é um exemplo de um imperativo hipotético. A discussão entre Hume e Kant pode então ser enquadrada pela pergunta acerca de se todos os imperativos serão hipotéticos. Haverá alguns imperativos que sejam, como Kant os chamou, ‘categóricos’ - isto é, imperativos válidos para todos os seres racionais, independentemente dos seus desejos? Kant pensava que se a ética não é uma ilusão deve haver imperativos categóricos - pois não será verdade
que a moralidade nos diz que devemos fazer o que está certo, independentemente dos nossos desejos? Para os intuicionistas conseguirem mostrar que obtemos conhecimento de verdades éticas objectivas através da intuição, têm de mostrar que esse conhecimento dá origem a imperativos categóricos. Eis porque a questão crucial entre os intuicionistas e os seus oponentes subjectivistas acaba por ser a mesma que entre Hume e Kant: haverá razões objectivas para a acção, independentes dos nossos desejos?
A este respeito, os dois séculos que passaram depois de Hume e Kant não resolveram a disputa entre estas duas posições básicas que eles estabeleceram. ...No entanto, embora a disputa não tenha sido resolvida, entendemos agora os problemas melhor que anteriormente, e até há alguns sinais de convergência. Os objectivistas já não procuram estranhos factos morais conhecidos unicamente através da intuição, mas tentam antes estabelecer as razões para agir que aceitaríamos se raciocinássemos sob certas condições ideais - por exemplo, se estivéssemos completamente informados, não influenciados pelos nossos interesses, e pudéssemos imaginar como seria estar na posição de todos os outros que fossem afectados pela nossa acção. Os subjectivistas já raramente mantêm que a ética é inteiramente uma questão de sentimentos ou desejos; reconhecendo a necessidade de conceder um espaço para o desacordo e para a argumentação racional acerca da ética. Assim, embora continuem a defender o ponto de vista de que os nossos juízos éticos se baseiam nos nossos desejos, não defendem que qualquer desejo pode formar essa base. Pelo contrário, concedem que, para serem considerados éticos, os desejos devem passar por uma filtragem que exclua aqueles que não satisfaçam determinadas condições de imparcialidade e razoabilidade. Por conseguinte, o debate actual ganhou outra precisão, nomeadamente a respeito do tipo de limites que devemos estabelecer para os desejos que podem ser considerados éticos, e da possibilidade desses limites nos permitirem chegar - em princípio, se não na prática - a um acordo acerca do que devemos fazer.»
SINGER, Peter (ed.), Ethics, "Introduction", Oxford University Press, 1994, pp. 4-10 (tradução minha
Tipos principais de teorias
Há duas grandes classes de teorias éticas — consequencialistas e deontológicas — que têm dado forma ao entendimento que a maior parte das pessoas tem da ética. Os consequencialistas defendem que devemos escolher a ação disponível que têm as melhores consequências globais, ao passo que os deontologistas defendem que devemos agir de modos circunscritos por regras e direitos morais e que estas regras ou direitos se definem (pelo menos em parte) independentemente das consequências. Vejamos cada uma das teorias separadamente.
1Consequencialismo
Os consequencialistas defendem que temos a obrigação de agir de forma a produzir as melhores consequências. Não é difícil ver por que razão se trata de uma teoria muito apelativa. Em primeiro lugar, apoia-se no mesmo estilo de raciocínio que usamos ao tomar decisões puramente prudenciais. Se estamos a tentar escolher a universidade a que nos vamos candidatar, iremos ter em consideração as opções disponíveis, iremos prever os resultados prováveis de cada uma delas e tentaremos determinar o seu valor relativo. Feito isto, escolhemos a universidade que oferecer o melhor resultado previsto.
O consequencialismo usa o mesmo quadro de referência, mas inclui os interesses dos outros na "equação". Quando enfrentamos uma decisão moral, devemos considerar as acções alternativas disponíveis, traçar as consequências morais prováveis de cada uma delas, e depois seleccionar a alternativa com as melhores consequências para todos os envolvidos. Quando descrita desta forma vaga, o consequencialismo é claramente uma teoria apelativa. Afinal de contas, parece difícil negar que alcançar o melhor resultado possível seria bom. O problema, claro, é decidir que consequências devemos ter em consideração e o peso que devemos dar a cada uma delas. Pois sem sabermos isso não podemos saber como raciocinar sobre a moralidade.
1.2.O utilitarismo, a forma mais comum de consequencialismo, tem uma resposta. Os utilitaristas afirmam que devemos escolher a opção que maximiza "a maior felicidade para o maior número". Defendem igualmente a completa igualdade: "cada qual conta como um e não mais de um". Claro que podemos discordar sobre o que significa exactamente a maximização da maior felicidade do maior número; e podemos ter dúvidas sobre como se alcança tal coisa. Os utilitaristas dos actos defendem que determinamos a correcção de uma acção se podemos decidir que acção, nessas circunstâncias, teria mais probabilidades de promover a maior felicidade para o maior número. Os utilitaristas das regras, contudo, rejeitam a ideia de que as decisões morais devam ser decididas caso a caso. Segundo eles, não devemos decidir se é provável que uma acção particular promova a maior felicidade para o maior número, mas se um tipo particular de acção iria promover, se fosse seguida pela maior parte das pessoas, a maior felicidade para o maior número.
Assim, parece que um utilitarista dos actos poderia decidir que uma mentira, num caso particular, se justifica porque maximiza a felicidade de todos os envolvidos, ao passo que o utilitarista das regras poderia defender que, uma vez que se toda a gente mentisse, isso diminuiria a felicidade, seria melhor adoptar uma regra forte contra a mentira. Devemos obedecer a esta regra
ainda que, num caso particular, mentir possa parecer promover melhor a maior felicidade do maior número.
2.Deontologia
As teorias deontológicas contrastam na sua maior parte com as teorias consequencialistas. Ao passo que os consequencialistas defendem que devemos sempre procurar promover as melhores consequências, os deontologistas defendem que as nossas obrigações morais — sejam elas quais forem — são de algum modo e em certo grau independentes das consequências. Assim, se eu tenho a obrigação de não matar, roubar ou mentir, estas obrigações estão justificadas não apenas porque seguir tais regras produz sempre as melhores consequências.
É por isso que tantas pessoas acham que as teorias deontológicas são tão atraentes. Por exemplo, a maior parte de nós ficaria ofendida se alguém nos mentisse, ainda que essa mentira produzisse a maior felicidade para o maior número. Eu ficaria sem dúvida ofendido se alguém me matasse, ainda que a minha morte pudesse produzir a maior felicidade para o maior número (usando os meus rins para salvar a vida de duas pessoas, o meu coração para salvar uma terceira, etc.). Assim, o que há de errado ou certo em mentir ou matar não pode ser explicado, defendem os deontologistas, unicamente por causa das suas consequências. Claro que há muito desacordo entre os deontologistas sobre quais regras são verdadeiras. Também discordam sobre como se determina que regras são essas. Alguns deontologistas afirmam que a razão abstracta nos mostra como devemos agir (Kant). Outros (McNaughton) afirmam que as intuições são o nosso guia. Outros ainda falam de descobrir princípios que se justificam por um equilíbrio reflexivo (Rawls, por exemplo), ao passo que alguns defendem que devemos procurar princípios que poderiam ser adotados por um observador ideal (Arthur).
3.Alternativas
Há várias alternativas a estas teorias. Chamar-lhes "alternativas" não significa que sejam inferiores, mas apenas que não têm desempenhado um papel tão significativo na formação do pensamento ético contemporâneo. Vale a pena mencionar em especial duas delas, porque se tornaram muitíssimo influentes nas últimas duas décadas.
3.1Teoria das virtudes A teoria das virtudes não tem sido tão influente quanto a deontologia ou o consequencialismo na formação do pensamento ético moderno. Contudo, é anterior a essas duas teorias, pelo menos enquanto teoria formal. Foi a teoria dominante dos gregos antigos, alcançando a sua
expressão mais clara na obra de Aristóteles, Ética a Nicómaco. Durante muitos séculos, não foi nem discutida nem advogada enquanto alternativa séria. Mas por volta dos finais da década de 1950 começou a reaparecer na bibliografia filosófica (a história deste reemergir é apresentada nos ensaios reimpressos em Crisp e Slote, 1997).
Grande parte do apelo da teoria das virtudes deriva das falhas encontradas nas alternativas canónicas. A deontologia e o consequencialismo, defendem os partidários da teoria das virtudes, dão uma ênfase desadequada (ou nenhuma) ao agente — ao que o agente deve ser, aos tipos decarácter que o agente deve desenvolver. Não dão igualmente um âmbito apropriado ao juízo pessoal e dão demasiada ênfase à ideia de seguir regras (sejam deontológicas sejam consequencialistas).
Sem dúvida que, ao ler alguns deontologistas e consequencialistas, dá ideia que eles pensam que uma decisão moral é a aplicação acéfala de uma regra moral. A regra diz "Sê honesto"; logo, devemos ser honestos. A regra diz "Age sempre de modo a promover a maior felicidade para o maior número"; logo, temos apenas de descobrir que acção tem as consequências mais desejáveis, e depois fazer isso. Assim, a ética faz lembrar a matemática. Os cálculos podem exigir paciência e cuidado, mas não depende do juízo.
Muitos partidários das teorias canónicas acham que estas objecções dos que defendem a teoria das virtudes são significativas e, ao longo das últimas duas décadas, modificaram as suas teorias para, em parte, as acomodar. O resultado, afirma Rosalind Hursthouse, é que "as linhas de demarcação entre estas três abordagens se têm diluído […] A deontologia e o utilitarismo já não se caracterizam claramente por darem ênfase às regras ou consequências por oposição ao carácter" (Hursthouse 1999: 4). As duas teorias dão maior ênfase ao juízo e ao carácter. Por exemplo, Hill, apesar de ser um deontologista, descreve a atitude apropriada relativamente ao meio ambiente de um modo que dá ênfase à excelência ou ao carácter, e Strikwerda e May, que de forma geral não aceitam a teoria das virtudes, dão ênfase à necessidade de os homens sentirem vergonha pela sua cumplicidade na violação de mulheres. Contudo, apesar de o juízo e o carácter poderem desempenhar papéis cada vez mas importantes nas versões contemporâneas da deontologia ou do consequencialismo, nenhum desempenha o papel central que desempenha na teoria das virtudes. […]
3.2.Teoria feminista Historicamente, a maior parte dos filósofos têm sido homens, homens com a perspectiva sexista das suas culturas. Assim, não é surpreendente que os interesses das mulheres, e quaisquer perspectivas que elas possam ter, não tenham desempenhado qualquer papel real no
desenvolvimento das teorias éticas canónicas. A questão é: que nos diz isso sobre tais teorias? Poderemos, por exemplo, limitar-nos a tirar as partes sexistas da teoria de Aristóteles e ficar mesmo assim com uma teoria aristotélica que seja adequada para uma época menos sexista? Podemos eliminar as partes sexistas da ética de Kant e ficar com uma deontologia não sexista mas viável?
Nos primeiros anos do feminismo, muitos pensadores pareciam pensar que sim. Afirmavam que a ênfase, nas teorias éticas canónicas, na justiça, igualdade e equidade poderia dar às mulheres todas as munições de que precisavam para reivindicar o seu lugar de direito no mundo público.
Outros não estavam assim tão certos disso. Por exemplo, Carol Gilligan (1982) argumentou que as mulheres têm experiências morais diferentes e um raciocínio moral diferente, e que estas diferenças devem fazer parte de qualquer tratamento adequado da moralidade. Subsequentemente, advogou uma "ética do cuidado", que ela pensava que exemplificava melhor a experiência e o pensamento das mulheres.
Muitas feministas posteriores aplaudiram as críticas que a ética do cuidado dirigiu às teorias éticas mais canónicas, nomeadamente por não dar atenção, ou ignorar intencionalmente, as experiências e o raciocínio das mulheres. Contudo, algumas destas feministas pensam que essas teorias mais tradicionais, especialmente se forem expandidas tendo uma atenção cuidadosa às questões relacionadas com os sexos e com o desenvolvimento das capacidades caracteristicamente humanas das pessoas, podem ir longe em direcção a uma teoria ética adequada. No mínimo, contudo, as críticas feministas forçaram os filósofos a reavaliar as suas teorias, e mesmo a repensar exactamente o que é uma teoria ética e o que se espera que alcance (Jaggar, 2000).
Hugh LaFollette
Leitura complementar
Crisp, R e Slote, M. A. (orgs) 1997: Virtue Ethics. Oxford: Oxford University Press.
Gilligan, C. 1982: In a Different Voice: Psychological Theory and Women's Development.Cambridge, MA: Harvard University Press.
Hursthouse, R. 1999: On Virtue Ethics. Oxford: Oxford University Press.
Jaggar, A. M. 2000: Feminist Ethics. In H. LaFollette (org.), The Blackwell Guide to Ethical Theory. Oxford: Blackwell, pp. 348-74.
Kant, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70.
LaFollette, H. 1991: "The Truth in Ethical Relativism". Journal of Social Philosophy 20: 146-54.
LaFollette, H. (org.) 2000: The Blackwell Guide to Ethical Theory. Oxford: Blackwell.
McNaughton, D. 1998: Moral Vision. Oxford: Blackwell. Mill, J. 1861/1979: Utilitarianism. Indianapolis: Hackett. Rachels, J. 2004: Elementos de Filosofia Moral. Lisboa,
Gradiva. Scheffler, S. 1992: Human Morality. Oxford: Oxford
University Press. Singer, P. (org.) 1990: A Companion to Ethics. Oxford:
Blackwell.
Haverá provas em ética?James Rachels
Se o subjectivismo ético não é verdadeiro, por que razão se sentem algumas pessoas atraídas por ele? Uma das razões tem a ver com o facto de a ciência fornecer o nosso paradigma de objectividade, e quando comparamos a ética à ciência, à ética parecem faltar as características que tornam a ciência tão irresistível. Por exemplo, a inexistência de provas em ética parece uma grande deficiência. Podemos provar que o mundo é redondo, que não existe o maior número primo, e que os dinossauros viveram antes dos seres humanos. Mas poderemos provar que o aborto é certo ou errado?
A ideia general de que os juízos morais não se podem provar é apelativa. Qualquer pessoa que já tenha debatido um tema como o aborto sabe como pode ser frustrante tentar "provar" que o seu ponto de vista é correcto. No entanto, se examinarmos esta ideia mais de perto, revela-se dúbia.
Suponha-se que examinamos um assunto muito mais simples que o aborto. Um aluno considera injusto um determinado
teste aplicado por um professor. Trata-se, claramente, de um juízo moral — a justiça é um valor moral essencial. Este juízo pode ser provado? O estudante poderia referir que o teste abrangia em pormenor assuntos sem importância, ignorando outros que o professor tinha considerado importantes. O teste incluía ainda perguntas sobre alguns assuntos que não tinham sido tratados nem nas aulas teóricas nem nas práticas. Além disso, o teste era tão longo que nem os melhores alunos podiam terminá-lo no tempo permitido (e foi cotado partindo do princípio que deveria ser feito até ao fim).
Suponha-se que tudo isto é verdade. E suponha-se ainda que o professor, quando lhe são pedidas explicações, não tem argumentos para se defender. Na verdade, o professor, que é muito inexperiente, parece confuso com toda a situação e não parece ter uma ideia clara do que estava a fazer. Assim sendo, não terá o aluno provado que o teste foi injusto? Que mais poderíamos desejar a título de prova? É fácil imaginar outros exemplos para estabelecer a mesma coisa:
Jones é um homem mau. Tem o hábito de mentir; manipula as pessoas; engana-as quando pensa poder fazê-lo sem ser descoberto; é cruel para os outros; e assim por diante.
O Dr. Smith é irresponsável. Baseia os seus diagnósticos em avaliações superficiais; bebe antes de executar cirurgias delicadas; recusa ouvir os conselhos de outros médicos; e assim por diante.
Uma determinada vendedora de automóveis é desonesta. Esconde os defeitos dos automóveis; aproveita-se de pessoas sem recursos pressionando-as a pagar preços exorbitantes por automóveis que sabe terem problemas; coloca anúncios publicitários enganadores em qualquer jornal que aceite publicá-los; e assim por diante.
O processo de apresentar razões pode ainda ser levado um passo mais adiante. Se uma das nossas razões para afirmar que Jones é um homem mau é ele mentir habitualmente, podemos prosseguir e explicar por que motivo mentir é mau. Mentir é mau, primeiro, porque prejudica as pessoas. Se alguém dá uma falsa informação a outra pessoa e essa pessoa confiar nela, as coisas podem correr mal de diversas
maneiras. Segundo, mentir é mau por ser uma violação da confiança. Confiar noutra pessoa significa ficarmos vulneráveis e desprotegidos. Quando se confia em alguém, acredita-se simplesmente no que essa pessoa diz, sem tomar precauções; e quando essa pessoa mente, aproveita-se da nossa confiança. É por isso que ser enganado constitui uma ofensa tão íntima e pessoal. Por fim, a regra exigindo que não se minta é necessária para a sociedade poder existir — se não pudéssemos partir do princípio que as outras pessoas dirão a verdade, a comunicação tornar-se-ia impossível e, se a comunicação fosse impossível, a sociedade seria impossível.
Portanto, podemos apoiar os nossos juízos em boas razões, e podemos oferecer explicações do porquê de essas razões terem importância. Se podemos fazer tudo isto, e ainda mostrar que nada de semelhante pode ser feito pelo lado contrário, que mais "provas" poderia alguém desejar? É absurdo afirmar, perante tudo isto, que os juízos éticos não podem ser mais que "meras opiniões".
No entanto, a impressão de que os juízos morais são "insusceptíveis de prova" é extraordinariamente persistente. Por que motivo acreditam as pessoas nisto? Podem mencionar-se três pontos.
Primeiro, quando se exige provas as pessoas têm muitas vezes em mente um padrão inadequado. Estão a pensar em observações e experiências científicas; e se não há observações e experiências similares em ética, concluem que não há provas. Mas em ética o pensamento racional consiste em fornecer razões, analisar argumentos, estabelecer e justificar princípios, e outras coisas que tais. O facto de o raciocínio ético ser diferente do raciocínio científico não o torna deficiente.
Segundo, quando pensamos em "provar a correcção das nossas opiniões éticas", tendemos a pensar automaticamente nas questões mais difíceis. A questão do aborto, por exemplo, é muito complicada e difícil. Se pensarmos apenas em questões como esta torna-se fácil acreditar que as "provas" em ética são impossíveis. Mas poderia dizer-se o mesmo das ciências. Há matérias complicadas sobre as quais os físicos não conseguem chegar a acordo; se nos concentrássemos
apenas nelas poderíamos concluir que não há provas em física. Mas, é claro, há muitos assuntos mais simples sobre os quais todos os físicos competentes estão de acordo. De modo semelhante, em ética há muitos assuntos mais simples sobre os quais todas as pessoas razoáveis estão de acordo.
Por fim, é fácil misturar duas coisas que são na realidade muito diferentes:
1. Provar a correcção de uma ideia.2. Persuadir alguém a aceitar as nossas provas.
Podemos ter um argumento exemplar que alguém recusa aceitar. Mas isso não significa que tenha de estar alguma coisa errada com o argumento ou que a "prova" seja, de alguma forma, inatingível. Pode apenas significar que alguém está a ser teimoso. Quando isto acontece não deveria surpreender-nos. Em ética é de esperar que as pessoas por vezes recusem dar ouvidos à razão. Afinal de contas, a ética pode exigir a realização de coisas que não queremos fazer, sendo, pois, muito previsível que tentemos evitar ouvir as suas exigências.
2) Ética Cristã
04 créditos - 1.º Semestre / - 2002
Prof.º Pr. Walter Meleschco Carvalho
EMENTA: Campo e Atuação da Ética, apresentado-a em suas diversas formas: Normativa, Filosófica e Teológica. Análise dos Fundamentos Bíblicos da Ética Cristã e das diversas questões éticas contemporâneas.
OBJETIVOS GERAIS: Definir os conceitos: Ética, moral, moralidade e Ética Cristã. Identificar a importância da Ética Cristã. Compreender os
valores éticos, fundamentados nos princípios bíblicos (cristãos) e científicos da Ética. Saber aplicar os princípios éticos em dilemas e dificuldades comportamentais e sociais do seu cotidiano.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
UNIDADE I - INTRODUÇÃO À ÉTICA CRISTÃ
1. Conceito de ética, moral, moralidade e ética cristã.
2. Ética como Estudo Crítico da Moralidade.
3. Ética e Ciências Sociais.
4. O Campo da Ética Cristã.
5. Ética Normativa.
6. Ética Filosófica e Ética Teológica.
UNIDADE II - FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ÉTICA CRISTÃ
I. O Antigo Testamento Como Base.
1. Antigo Testamento em relação ao Novo Testamento.
2. Características da Moralidade Hebraica.
3. O Código da Aliança.
4. A Ética nos Profetas (do Oitavo ao Sexto Séculos).
5. Outros desenvolvimentos Importantes. II. A Ética de Jesus Cristo: Jesus e o Reino de Deus.
1. Conceitos herdados do Reino.
2. Importância do Reino no Ensino de Jesus.
3. Condições de Entrada no Reino.
4. Relação de Jesus com o Reino.
5. O Lugar da Escatologia no Ensino Ético de Jesus
6. A Ética Cristã e o Reino de Deus.
7. A Ética do Decálogo X Sermão do Monte (A Ética e a Consciência. A Ética na Igreja).
III. Ética Cristã em Paulo.
1. Ética de Liberdade como Resultado da Presença Interna do Espírito.
2. Ética de Fé expressando-se em amor.
3. Ética baseada no Ágape como fonte e norma da conduta cristã.
UNIDADE III - A DECISÃO E O DEVER.
A Decisão e o Dever (Certo ou Errado).
UNIDADE IV - QUESTÕES ÉTICAS
1. A Ética Cristã e a cultura.2. A Ética Ecológica.3. A Ética Sexual e de Família.4. A Ética de Trabalho e de Negócios.5. A Ética e A Guerra.6. A Bioética.
Bibliografia básica:
BURNS, Bárbara. et. al Costumes e culturas: uma introdução à antropologia missionária. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1995
FORELL, G. W. Ética da decisão. São Leopoldo-RS: Editora Sinodal 1980.
GARDNER, E. C. Fé bíblica e ética social. São Paulo, ASTE/ Rio de Janeiro, JUERP. (1982).
GEISLER, N. L. Ética cristã. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova 1991.
HEINZ-DIETRICH WENDLAND, Ética do novo testamento. 2.ª ed. São Leopoldo - RS Editora Sinodal. 1981
MASTON, T. Certo ou errado? 3. Ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1980
STEWART, D. H. Ética cristã. Apostila. Local desconhecido. s. d.
Outros Livros para consulta:
FOSTER, R. J. Dinheiro, sexo & poder. São Paulo: Editora Mundo Cristão 1988.
GILES, J. Bases bíblicas de la ética. Buenos Aires, Casa Bautista de Publicaciones. 1977.
GOMES, Isaltino C A Ética do profeta. Série descubra agora Exodus
LANGSTON, A. B. Notas sobre ética prática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1954.
MATOS, L. R. A. Organizadora. Turma 1996/CEDU do STBSB Caderno Pedagógico. Ética do educador. Rio de Janeiro. 1996
REGA, Lourenço Stélio. Dando um jeito no jeitinho. Como ser ético sem deixar de ser brasileiro. São Paulo. Mundo Cristão. 2000
RUDNICK, M. L. Ética cristã para hoje. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira. 1988
SPINSANTI, S. Ética biomédica. São Paulo: Edições Paulinas. 1990.
Ética cristã
RESPONSÁVEIS
Itamar L. Magalhães
Walter dos Santos
EMENTA
UNIDADE 1 – Introdução
1.1 Definição do termo
1.2 Ética e Teoria
1.3 Ética Evangélica
1.3.1 Cristocentrismo
1.3.2 Fundamentada na Bíblia
1.3.3 Diversidade
1.3.4 Mantendo a perspectiva
1.4 Moralidade e Prática
1.5 Tendências
1.5.1 O Fato da Mudança Ética
1.5.2 A Revolução Ética Atual
1.5.3 A Contra Revolução
1.5.4 A Busca de Direções
1.5.5 Respostas ou Perguntas.
(RUDNICK,Milton L. Ética
Cristã para Hoje: Uma Perspectiva
Evangélica. Rio de Janeiro : Juerp,
1988-págs 13 – 20)
UNIDADE 2 – Diversos
Conceitos Sobre Ética Cristã
2.1- A meta ou
preocupação máxima da Ética Cristã:
a vontade de Deus
2.2- A vontade de Deus, o
Soberano bem
2.3- A vontade de Deus é
inclusiva
2.4- Campo da Ética
Cristã
2.4.1 Ética Cristã e outras
disciplinas
2.4.1.1 Ética Cristã e a
Teologia
2.4.1.2 Ética Cristã e a
Psicologia
2.4.1.3 Ética Cristã e a
Sociologia
2.4.1.4 Ética Cristã e a
Filosofia
(SILVA, Paulo Wailler da. Ética Cristã.
Rio de Janeiro: Juerp,1987. Págs 11-
15
UNIDADE 3 – Métodos de se estudar
Ética Cristã
3.1 – Através de exegese
Biblica
3.2 - Ética Geral ou
Básica
3.3 - Ética Específica ou
Aplicada
3.4 - Através de Estudos
de Tema – Temas Relacionados com a
Ética Geral
ou Básica.
3.4.1 – O Conceito de
Pacto
3.4.2 - Santidade
3.4.3 - Retidão
3.4.4 - Justiça
3.4.5 - Amor
3.4.6 - Perfeição
3.4.7 - Liberdade ou
Libertação
3.4.8 - Vontade de Deus
3.4.9 - A Obra do
Espírito Santo
3.4.10 – A Cruz e a
Renúncia Pessoal
3.4.11 - O Caminho do
Senhor
3.4.12 – Escatologia
3.4.13 – Relação entre
Indivíduo e a Comunidade
3.4.14 – Koinonia
( koivovía) Comunhão, Fraternidade
(SILVA, Paulo Wailler da. Ética Cristã.
Rio de Janeiro: Juerp,1987. Págs. 15-
17)
UNIDADE 4 – Temas
Relacionados com a Ética Social
Aplicada
4.1 – O Indivíduo e seu
valor
4.2 - O Corpo e a Saúde
4.3 - Imparcialidade no
tratamento para com as pessoas
4.4 - Viúvas, órfãos e
desprivilegiados em geral
4.5 - Motivação no viver
cristão
4.6 - Casamento e
divisão
4.7 - Relacionamento no
lar
4.8- Sexo e ética sexual
4.9- Alcoolismo
4.10 - A vida econômica
e suas relações
4.11 - Através do estudo
de um ou mais livros da Bíblia
UNIDADE 5- Você e seus colegas de
trabalho
5.1 – A abordagem de
Paulo sobre o trabalho em
equipe
5.2 - A ação em
conjunto no ambiente de
trabalho
5.3 – Um bom
trabalhador em equipe
5.4 – Comportamentos
que devem ser evitados
5.5 – Crítica
5.6 - Contenda
5.7 - Rancores
5.8 - Vingança
5.9 - Mentira
5.10 - Fofoca
5.11 - Conversa
excessiva
5.12 - Inveja
5.13 - Outros
comportamentos
5.14 - Auto-avaliação
UNIDADE 6- A Relevância da Ética
Cristã
6.1- A Ética da situação
6.2- A posição e a defesa
da Ética Situacionista
6.3- Uma avaliação do
situacionismo
6.4- A posição e a defesa
do absolutismo moral
(SILVA, Paulo Wailler da. Ética Cristã.
Rio de Janeiro : Juerp,1987. Págs. 17-
27)
UNIDADE 7- Abordagens e
alternativas Éticas Básicas
7.1- As alternativas
básicas na Ética
Normativa
7.2- Mentir – certo ou
errado?
7.3- Mentira e as normas
universais
7.4- Mentir ás vezes é
certo?
7.5- Mentir sempre é
errado.
7.6- Mentir nunca é certo :
Há muitas normas
conflitantes
7.7- As abordagens
básicas : normas éticas ou
fins éticos?
7.8- Porque uma
abordagem normativa?
(GEISLER ,Norman L. Ética Cristã. 1ª
ed. São Paulo: Vida Nova , 2000. Págs.
11-23)
UNIDADE 8- O antinomismo: não há
normas
8.1- O antinomismo
explicado
8.2- A avaliação do
antinomismo
8.3- O individual religioso
sobre o universal ético
8.4- A suspensão teológica
do ético
8.5- A “Inversão” religiosa
das normas éticas
8.6- Nietzche :
transvalorizando a Ética
8.7- Sartre: A rejeição do
ético
(GEISLER,Norman L. Ética Cristã. 1ª
ed. São Paulo: Vida Nova, 2000.Págs
24-37)
UNIDADE 9- O situciacionismo: Há
uma norma universal
9.1 – O situciacionismo
Explicado
9.2 - Evitando dois
extremos: o legalismo e o
antinomismo
9.3 - O legalismo : a lei
sobre o amor
9.4 - O antinomismo :
nenhuma lei e nenhum
amor
9.5 - O situacionismo : o
amor acima da lei
9.6 - O Amor – A norma
predominante da decisão
Cristã
9.7 - O Situacionismo
avaliado
(GEISLER, Norman L. Ética Cristã. 1ª
ed. São Paulo: Vida Nova, 2000 Págs.
52-65
UNIDADE 10- O Absolutismo Ideal :
Há muitas normas universais
conflitantes
10.1 – O absolutismo ideal
explicado
10.2 - Doutrinas básicas
do absolutismo ideal
10.3 -Há muitas normas
absolutas
10.4- É errado quebrar
qualquer norma absoluta
10.5 – Fazer o menor de
dois males é desculpável
10.6 – Amor materno
versos o Amor conjugal
10.7 – A fornicação em
prol da Pátria
10.8 – O absolutismo ideal
avaliado
10.9 – Alguma luz lançada
sobre a natureza de
responsabilidade e da
graça
10.10 – A tendência do
legalismo
10.11 – Um atendimento
errôneo da
responsabilidade moral
10.12 – Um problema
cristológico sério
(GEISLER, Norman L. Ética Cristã. 1ª
ed. São Paulo: Vida Nova, 2000
Págs.84-96)
UNIDADE 11 – O Cristão e a Guerra
11.1- O Cristão e a
responsabilidade Social
11.2 – O Cristão e o sexo
11.3 - O Cristão, o
controle de natalidade e o
aborto
11.4 – O Cristão e a
eutanásia, o suicídio e a
pena de morte.
11.5 – O Cristão e a
Ecologia
11.6 – O Cristão e o
terrorismo
11.7 - O Cristão e o
seqüestro
11.8 - O Cristão e
Ética dos Dez
Mandamentos
11.9 – O Cristão e o
Governo Civil
11.10- O Cristão e os
grupos marginalizados
11.11- O Cristão e o Clone
(Clonagem)
11.12- O Cristão e a
Família
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - GEISLER,Norman
L. Ética
Cristã: Alternativas e
Questões
Contemporâneas. 7ª
Reimp. São Paulo : Vida
Nova , 2000. 227
2 - SILVA,Paulo
Wailler da Ética
Cristã São Paulo : Juerp,
1987. 129p
3 - SALE JR , Frederick;
RIBAS JUNIOR,Degmar
Tradutor , Você e Deus no
Trabalho 1ª ed. Rio de
Janeiro : CPAD , 2001.
191P.
4 - RUDNICK,Milton L.
Ética Cristã para Hoje –
Uma Perspectiva
Evangélica. Rio de Janeiro
: Juerp, 1988. 136 p.
5 - MEER , Antônio
Leonora Vander,
Ética Bíblica no Contexto
Africano, Luanda:
Didaquê, 1995. 48 p.
6 - CHAMPLIN , Russel
Norman; BENTES, João
Marques. Enciclopédia de
Bíblia
Teologia e Filosofia.
São Paulo : Candeia, 1991.
Volume 2.