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ROSE EMÍLIA MACÊDO DE QUEIROZ Natal/RN 2006 ESTUDOS SOBRE ORÇAMENTO DE ATIVIDADE DO BOTO CINZA (Sotalia guianensis) NO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

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ROSE EMÍLIA MACÊDO DE QUEIROZ

Natal/RN

2006

ESTUDOS SOBRE ORÇAMENTO DE ATIVIDADE DO BOTO CINZA

(Sotalia guianensis) NO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

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ROSE EMÍLIA MACÊDO DE QUEIROZ

ESTUDOS SOBRE ORÇAMENTO DE ATIVIDADES DO BOTO CINZA

(Sotalia guianensis) NO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

Dissertação apresentada à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, para a obtenção do

título de Mestre em Psicobiologia.

Orientadora: Profa. Dra. Renata Gonçalves Ferreira

Natal/RN

2006

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Titulo: Estudos sobre orçamento de atividades do boto cinza (Sotalia guianensis)

no litoral sul do Rio Grande do Norte.

Autor: Rose Emília Macedo de Queiroz

Data: 8 de Dezembro de 2006

Banca Examinadora:

_____________________________________________________________________

Prof. Dr. Artur Andriolo (ICB-UFJF)

_____________________________________________________________________

Prof. Dra. Renata Gonçalves Ferreira (DBEZ/ PRODEMA-UFRN)

_____________________________________________________________________

Prof. Dr. Flávio José de Lima Silva (DECB-UERN)

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A minha mãe (razão do meu viver), por sempre acreditar no meu potencial e a minha amiga Luísa Spinelli.

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AGRADECIMENTOS

O sonho de estudar misticeto continua, apesar das frustrações. Por um longo

tempo pensei em não voltar a fazer pesquisa, mas gosto dessa vida sofrida e cheia de

prazeres que é a de um pesquisador de campo. Este mestrado foi uma PROVAÇÃO na

minha vida, tantos altos e muitos outros baixos até se tornar uma constante. Quando

resolvi que iria voltar a estudar não pensei em desistir no caminho, motivos para isso

não faltaram. Mas não desisti, pois sou boa no que gosto de fazer, então, tinha certeza

de que faria um bom trabalho.

Não quero citar nomes, mas quero que algumas pessoas saibam que tiveram um

destaque maior nesta fase da minha vida. Para não correr o risco de esquecer de

alguém, quero agradecer a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a

realização deste mestrado. Só não posso deixar de citar alguns, a minha mãe, que

apesar da pouca oportunidade de estudar que teve em sua vida ela nunca deixou de

acreditar que com conhecimento se vai longe. MÃE, COMO SEMPRE, OBRIGADA!!

Flávio José de Lima, o que seria de mim se eu não tivesse cruzado contigo no

SBPC, em 98? Talvez nunca tivesse ido tão longe, eu quero te agradecer não por este

trabalho, mas por ter aparecido na minha vida, por sempre mesmo estando ocupado me

reservar alguns minutos do seu tempo.

Chefe Renata, demoramos muito a entrarmos em sintonia, nossas filosofias nem

sempre foram (são) semelhantes, mas chegamos até aqui, conseguimos. Acho que

aprendemos muito uma com a outra, nossas personalidades são fortíssimas, e quando

se cruzam, sai de baixo, mas mostramos que é possível trabalhar com as diferenças.

Obrigada pelos conhecimentos trocados com a minha pessoa, irei levá-los comigo onde

for. Realmente construímos uma dissertação juntas. Espero ter chegado próximo do

“ótimo” tão citado nos seus discursos que muitas vezes me fazia ferver. SUCESSO

PARA NÓS.

Aos meus verdadeiros amigos que me suportaram nas horas estressantes, de

necessidades e de alegrias, obrigado e desculpa por tudo. A todos que compõe o

Projeto Pequenos Cetáceos da UFRN, posso dizer que somos um grupo de resistência,

vamos aos trancos e barrancos, mas estamos seguindo em frente, com trabalhos de

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qualidade, e a alguns professores (em especial) que ajudaram na minha formação como

pesquisadora.

Espero que todos aqueles que me ajudaram e ajudam tenha se sentido

contemplado em meus agradecimentos. Esse é apenas mais um degrau da minha vida

acadêmica, e espero poder contar sempre com as pessoas que acreditam na minha

capacidade de realizações.

Sintam-se todos abraçados.

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação seja animal ou

vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes. (Albert Schweitzer -

Nobel da Paz de 1952)

Blessed Be!!

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SUMÁRIO

RESUMO__________________________________________________________viii

ABSTRACT_________________________________________________________ix

INTRODUÇÃO GERAL________________________________________________1

OBJETIVOS DA PESQUISA ___________________________________________12

ARTIGO I - Comparação de métodos de amostragem para construção de

orçamento de atividades do boto cinza (Sotalia guianensis) no litoral sul do Rio

Grande do Norte ____________________________________________________13

ARTIGO II - Orçamento de atividades do boto cinza (Sotalia guianensis) no litoral

sul do Rio Grande do Norte___________________________________________ 31

CONCLUSÃO GERAL ________________________________________________59

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GERAL (Introdução e Conclusão) ___________61

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RESUMO

Uma análise fundamental da Ecologia Comportamental é a construção do

Orçamento de Atividades que pode ser definida como a quantificação do tempo que

cada animal utiliza em atividades que são importantes para sua sobrevivência e

reprodução. Inicialmente desenvolvida para estudos teóricos sobre Forrageio Ótimo,

recentemente a construção de Orçamentos de Atividades vem sendo empregada para

análises na área da Biologia da Conservação. Entretanto, a mensuração do

comportamento através de uma metodologia adequada e que permita a comparação

entre amostras diferentes é um desafio para os pesquisadores na área de Etologia,

sendo este ainda maior para os estudiosos do comportamento de cetáceos devido à

dificuldade de visualização destes animais. O presente trabalho vem somar esforços

para trabalhar dois aspectos da literatura especializada em Cetologia: i) explorar as

possíveis variações de resultados na quantificação de estados comportamentais

decorrentes da aplicação de diferentes métodos de coleta de dados, e ii) descrever o

orçamento de atividades de uma população de boto cinza, Sotalia guianensis, que

freqüenta as águas costeiras do litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. Os

resultados mostraram que a utilização de diferentes métodos de observação e de

registro resulta em diferenças significativas, mas de pequena magnitude, na

quantificação da freqüência comportamental. O orçamento de atividades do boto cinza

na enseada estudada foi semelhante ao encontrado em outras populações desta espécie

habitando ambientes tipicamente estuarinos. Não foram encontradas variações

decorrentes da influência da maré ou da hora do dia, porém foram verificadas

diferenças significativas a depender da posição dos animais dentro das enseadas. Estes

resultados são discutidos considerando a flexibilidade alimentar e comportamental do

boto cinza, buscando contribuir para ampliação do conhecimento científico da espécie

e oferecer informações que serão úteis em estudos comparativos e para análises na

determinação de áreas de conservação da espécie.

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ABSTRACT

A fundamental analysis on Behavioral Ecology is the construction of Activities

Budget, which can be defined as the quantification of the time that each animal uses in

activities that are important for its survival and reproduction. Initially developed for

theoretical studies about Optimal Foraging, the construction of Activities Budgets has

recently being used for analyses in Conservation Biology. However, the measurement

of behavior through an adequate methodology that allows the comparison between

different samples is a challenge for researchers in the area of Ethology. This problem is

even bigger for the students of cetaceans’ behavior due to the difficulty of visualization

of these animals. The present work deals with two aspects of the specialized literature

on cetaceans: i) it explores possible variations of results in quantification of behavioral

states decurrent of the application of different methods of data collection, and ii) it

describes the activity budget of a population of Sotalia guianensis that inhabits coastal

waters, south Rio Grande do Norte. The results showed that the use different methods

of data collection result in significant differences, but of small scale, in the

quantification of the behavioral frequency. The activity budget of Sotalia in the area

here analyzed was similar to that described for other populations of this species

inhabiting typically estuarine habitats. Tide and day-hour did not influence the

dolphin’s behavior, however, significant differences were found related to the position

of the animals within the area. These results are discussed considering the dietary and

behavioral flexibility of the species, contributing to the scientific knowledge and

offering information that will be useful in comparative studies and for analyses on the

determination of areas for species’ conservation.

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INTRODUÇÃO GERAL

A teoria da seleção natural argumenta que aqueles indivíduos mais adaptados ao

ambiente, em termos de sobrevivência, competição por recursos e sucesso reprodutivo,

deixarão mais descendentes nas gerações futuras. Em sua forma atual uma

conseqüência matemática, não teleológica, da seleção natural é que os genes que

melhor promovam as chances de um indivíduo maximizar sua sobrevivência e sua

reprodução (contribuição gênica para as futuras gerações) irão aumentar em número na

população / espécie no decorrer do tempo.

O sucesso de um indivíduo na sua sobrevivência e reprodução depende

criticamente do seu comportamento. Considerando o componente genético, a seleção

tenderá a “modelar” animais mais eficientes comportamentalmente. Assim, a hipótese

adaptativa argumenta que a maioria dos comportamentos que observamos hoje são

aqueles que apresentaram aos seus portadores alguma vantagem relativa a

sobrevivência e a reprodução (Krebs & Davies 1993).

A Ecologia Comportamental é a área da Biologia que trata da evolução

adaptativa do comportamento, em termos distais, ou da eficiência comportamental,

em termos proximais, em relação às circunstâncias ambientais. Para tanto, uma análise

fundamental da Ecologia Comportamental é a divisão do tempo e da energia

disponível entre as diversas atividades necessárias para a manutenção da vida e

reprodução (Krebs & Davies 1993). A esta análise denominamos de Orçamento de

Atividades .

Podemos definir o Orçamento de Atividades como sendo uma quantificação do

tempo que cada animal utiliza em atividades que são importantes para sua

sobrevivência e reprodução. Um grande número de categorias podem ser utilizadas

para descrever um orçamento de atividade, mas convencionalmente são usadas quatro

categorias básicas: Descanso, Deslocamento, Forrageio e Socialização (Dunbar 1998).

Considerando que os indivíduos não podem exibir dois comportamentos

simultaneamente, pelo menos não tão eficiente do que executando somente um por

vez, as decisões dos animais de como alocar seu tempo e sua energia é o tema central

dos estudos do Orçamento de Atividade e dos modelos de Forrageio Ótimo. A

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premissa básica é que os animais que empregam um tempo e energia maior ou menor

que o necessário em cada atividade estão em desvantagem quando comparados àqueles

que desempenham cada atividade por um tempo (ou energia) “ótimo”. Este ótimo é

variável (máxima caloria por tempo, máxima caloria por risco de predação, mínimo

risco de predação por tempo, etc) e é definido de acordo com o habitat e a constituição

física de cada animal (Krebs & Davis 1997).

O padrão de atividades dos animais representa uma somatória de fatores

individuais e ambientais, que são resultados de um acordo entre o tempo ótimo de

forrageio/alimentação, atividades sociais e variáveis ambientais (Beltran & Delies

1994). O orçamento de atividades reflete o balanço entre custos e benefícios do tempo

e da energia dispendida por cada animal ou grupo para sua sobrevivência em cada tipo

de ambiente.

Fundamentados neste raciocínio, o estudo da alocação do tempo tem sido

realizado em numerosas espécies, fornecendo uma base para uma pesquisa

comparativa (Gostomski & Evers 1998), para compreender a história de vida dos

animais (Bronikowski & Altmann 1996), fornecendo ainda informações sobre como os

organismos estão administrando mudanças ambientais e para medidas de conservação

(Ducan 1985; Boyd 1988).

As variáveis mais analisadas podem ser divididas em ambientais, individuais e

sociais. Entre os fatores ambientais existe as variações circadianas e sazonais,

disponibilidade de alimento e presença de predadores. Os fatores individuais mais

estudados são: sexo, idade dos indivíduos e estado reprodutivo da fêmea. Observa-se

que o dimorfismo corpóreo interfere no orçamento de atividades, seja na comparação

entre machos e fêmeas, seja na comparação entre adultos e filhotes, assim como o

estado reprodutivo: fêmeas lactantes têm orçamento de atividades diferente de fêmeas

não - lactantes. São ainda consideradas variáveis sociais, tais como a organização

social e o sistema de acasalamento (Krebs & Davies 1993, 1997).

Provavelmente devido à facilidade de observação, a maior parte dos estudos de

orçamento de atividades foi realizada em animais endotérmicos, diurnos e terrestres.

Estudos em primatas dão amplos exemplos de variações comportamentais frente às

diferenças de habitat e disponibilidade de alimento (Adeyenno 1997), pressão de

predação (Schaik, Noordwijk, Deboer & Tonkelaar 1983), como também ao sexo e a

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idade dos animais. Por exemplo, em macacos colobos vermelhos, Colobus badius

rufomitratus, que vivem ao longo do Rio Tana, no Quênia, foi possível observar que as

atividades mais freqüentes foram alimentação e descanso, ocupando aproximadamente

um terço e metade do dia, respectivamente.

Para um grupo de macacos aranhas ou muriquis, Brachyteles arachnoides,

observado na fazenda Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, Strier (1987) mostrou que

os orçamentos de atividade de machos e fêmeas são similares, variando seu orçamento

diurno de acordo com as mudanças sazonais de temperatura. Entretanto, as fêmeas em

circunstâncias reprodutivas diferentes apresentam gastos diferenciados quanto ao

forrageio: as fêmeas lactantes gastam mais tempo com alimentação do que as fêmeas

grávidas e não reprodutivas.

O orçamento de atividade em langurs, Trachypithecus leucocephalus, difere

entre faixa etária e de acordo com a disponibilidade de alimento. Os infantes e os

juvenis gastam aproximadamente 20,3% do tempo em brincadeiras e os adultos

somente 0,2%. Os animais em habitat de alta qualidade utilizam menos tempo na

alimentação e mais tempo em brincadeiras do que grupos que vivem em habitats de

baixa qualidade (Li & Rogers 2004). Porém, langurs que habitam uma outra localidade

apresentam um orçamento de atividade variando de acordo com as estações do ano,

gastam significativamente mais tempo com alimentação e deslocamento no inverno do

que na primavera, verão e outono, e gastam menos tempo com descanso no inverno do

que na primavera, verão e outono (Huang, Wei, Li, Li & Sun 2003).

Muitos estudos também são realizados com ungulados. Nas espécies com

grande dimorfismo sexual é evidente a diferença no orçamento de atividades: o tempo

gasto com a alimentação diminui alometricamente com o aumento do peso corporal

(Mysterud 1998). Assim, os machos despendem mais tempo se deslocando quando

comparado com as fêmeas, enquanto as fêmeas lactantes gastam mais tempo

forrageando do que os machos e fêmeas não-lactantes (Ruckstuhl & Neuhaus 2002).

Da mesma forma, os machos do carneiro selvagem, Ovis canadensis, gastam

geralmente menos tempo em forrageio do que as fêmeas, possivelmente por causa da

diferença da massa corpórea ou por causa das exigências energéticas da lactação

(Pelletier & Festa-Bianchet 2004). Nos bois almiscarados, Ovibos moschatus, foi

encontrado que a composição sexual do grupo interfere na capacidade dos indivíduos

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sincronizarem suas atividades: grupos compostos por animais do mesmo sexo são mais

estáveis que compostos por animais de ambos os sexos. Ou seja, o tipo de grupo e o

sincronismo de atividades interferem na coesão do grupo, através da restrição do

orçamento de atividade de alguns membros, especialmente os machos adultos (Cote,

Schaefer & Messier 1997).

A cabra feral, Capra hircus, gasta a maior parte do dia se alimentando,

especialmente durante o outono e o inverno. Porém, nenhuma diferença significativa

foi encontrada no orçamento geral das atividades entre machos e fêmeas adultas,

apesar dos machos adultos gastarem mais tempo em atividades sociais do que outras

classes de idade-sexo (Shi, Dunbar, Buckland & Miller 2003). Em cangurus,

Macropus agilis, não foram verificadas diferenças sexuais no tempo gasto no

orçamento de atividade (Stirrat 2004). Para Castor fiber, Shaper & Rossel (2003)

concluiram que o orçamento de atividade entre os gêneros chega a ser similar, mas não

idênticos.

Em avestruzes adultos (Struthio camelus), os machos e as fêmeas apresentam

orçamento de atividade distintos: machos se locomovem mais e fêmeas forrageiam e

se alimentam mais. Estas diferenças são atribuídas ao comportamento territorialista

dos machos e ao aumento da demanda metabólica das fêmeas durante a produção dos

ovos ( McKeegan & Deeming 1997; Ross & Deeming 1998). Já em perus não foram

detectados diferenças no orçamento de atividades comportamentais entre os sexos,

mas a idade apresentou um efeito altamente significativo em todas as categorias

comportamentais, exceto beber água e caminhar (Busayi, Channing & Hocking 2005).

Estudos do orçamento de atividade em invertebrados também foram realizados.

Himmelman, Dutil & Gaymer (2005) mostraram que em estrela do mar, o tempo

relativo gasto em diferentes atividades foi similar para duas espécies estudadas:

Leptasterias polaris e Asterias vulgares. A atividade mais frequente foi se mover

sobre o fundo 42-46% do tempo, provavelmente na procura por alimento, a segunda

atividade foi ficar parada 26-27% e a terceira, digestão da presa com 17-20%.

Através do orçamento de atividade foi possível confirmar que Sepia apama

realmente se movimentam relativamente muito pouco, ocorrendo em períodos de

tempo muito curto. O sincronismo da atividade mostra uma variação individual, mas

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coletivamente as sépias são predominantemente ativas durante o dia (Aitken, O´Dor &

Jackson 2005).

Orçamento de Atividades em Habitats Aquáticos

Para aves e mamíferos aquáticos, o problema do balanço custo - benefício é

mais complicado, já que estes animais forrageiam embaixo dágua, sendo o oxigênio

dissolvido na água um fator limitante quando estes animais mergulham. Sendo estes

animais representantes aquáticos de classes majoritariamente terrestes, a análise do

orçamento de atividades é de grande valia, pois estudando a plasticidade do

comportamento das espécies em ambientes variados é possível entender melhor o

processo de adaptação comportamental (Klopfer & McArthur 1960).

De forma geral, os animais marinhos seguem o padrão dos terrestres,

forrageando mais nos períodos ou habitats com menor disponibilidade de alimento.

Lontras marinhas, Enhyra lutris, apresentam diferenças no orçamento de atividade

entre as classes de idade/sexo. Todas as classes de idade/sexo apresentam uma

quantidade de tempo gasto com alimentação similar, mas as fêmeas juvenis se

alimentam significativamente mais do que as outras classes, aproximadamente 50% do

tempo (Ralls & Siniff 1990). Já em machos de focas cinza, Halichoerus grypus, o

orçamento da atividade mostrou que as atividades não sociais prevalecem 90,9%, com

o descanso ocupando uma parte desproporcionalmente grande do tempo 88%. Entre as

atividades sociais a maior parte do tempo é gasta em atividades agressivas (Boness

1984).

Em cetáceos, os trabalhos utilizando a técnica do orçamento de atividades

ajudaram a entender melhor a ecologia destes animais e a definir um padrão

comportamental para algumas espécies. Por exemplo, Neumann (2001) e Hanson &

Defran (1993) mostraram que apesar da diferença de tamanho corpóreo e de habitat,

foi possível observar que o orçamento de atividades de Delphinus delphis é similar ao

encontrado para o Tursiops truncatus da costa do oceano Pacífico: ambas as espécies

gastam 54-63% do tempo diário em locomoção, 17-19% do tempo em alimentação, 7-

15% do tempo socializando e entre 0,4 e 3% do tempo descansando. Bearzi, Politi &

Di Sciara (1999), também utilizou o orçamento de atividade principalmente para

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interpretar o comportamento de mergulho do Tursiops truncatus, em Kvarneric, Mar

Adriático do Norte.

Würsig & Würsig (1980) estudando Lagenorhynchus obscurus verificou que o

forrageio ocorre com maior freqüência e por longos períodos durante a tarde, mas

alguns episódios longos também foram vistos durante a manhã. Karczmarski &

Cockcroff (1999) estudando o comportamento de Sousa chinensis durante a fase clara,

verificou que o padrão comportamental para esta população é dominado pela

alimentação e que existe um padrão regular, provavelmente governado pelo ciclo

diurno da sua presa.

Dificuldades Metodológicas na Análise do Orçamento de Atividades

Os modelos de Forrageio Ótimo acerca da maximização das relações custo-

benefício no orçamento de atividades são elaborações fundamentalmente matemáticas

(Parker & Smith 1990), e devem sua força à coerência lógica com a Teoria de Seleção

Natural em sua forma mais clássica. Entretanto, ainda faltam dados que correlacionem

mais firmemente a coerência lógica e matemática destes modelos e a comprovação

deste possível padrão de seleção comportamental no “mundo real”. Grande parte desta

falta de dados deve-se às dificuldades metodológicas, quais sejam: observar

diretamente as diversas formas animais no seu habitat natural, formular definições e

propor funções para os comportamentos observados, e desenvolver métodos de

amostragem comportamental que permitam a comparabilidade dos resultados entre

populações da mesma espécie e entre espécies diferentes.

Altmann (1974) e Altmann & Altmann (1977) publicaram dois dos artigos mais

influentes acerca de métodos de amostragem para o estudo do comportamento. Entre

vários pontos de interesse, estes artigos destacam a importância da igualdade de

oportunidades para as amostras, ou seja, todos os comportamentos e todos os

indivíduos devem ter iguais oportunidades de serem amostrados, para evitar que

apenas comportamentos ou indivíduos mais evidentes sejam registrados. Após uma

revisão dos métodos de amostragem, os autores defendem procedimentos de

amostragem sistemática àqueles que eles consideram simples anotações de campo ou

amostragem ad libitum.

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A questão da pesquisa irá determinar qual o melhor método de amostragem,

mas a decisão pode ser dividida em duas componentes: quantos indivíduos observar

(“follow protocol”) e como registrar o comportamento observado (“sampling

method”). Observar o comportamento de cada indivíduo (animal focal) oferece uma

estimativa mais refinada da freqüência média (geral ou por classes de sexo e idade) do

que observar o comportamento que a maioria do grupo está fazendo (grupo focal). O

método animal focal evita, ao mesmo tempo: i) o problema da visualização diferencial

de certos indivíduos, e ii) o fato de que cada animal tem um particular orçamento de

atividades que é bastante influenciado pela faixa etária e o sexo. Entretanto, identificar

individualmente cada animal e segui-lo em campo nem sempre é possível, sendo por

vezes o grupo focal a única alternativa.

Da mesma forma, registrar exatamente a duração de cada atividade

(amostragem contínua) oferece uma estimativa mais refinada do que registrar qual

atividade ocorreu em determinado período de tempo (amostragem um - zero para

eventos ou amostragem por varredura para estados comportamentais). Novamente, as

dificuldades inerentes ao trabalho de campo e o tempo necessário para transcrição

deste tipo de dados dificultam o registro continuo dos comportamentos.

Um problema estatístico do método de registro refere-se à dependência

temporal das observações, isto é, a maior probabilidade do indivíduo apresentar o

mesmo comportamento em minutos subseqüentes ao registrado no início da

observação. Exemplificando: se observarmos um animal locomovendo é provável que

ele continue locomovendo por certo período de tempo subseqüente ao início da

observação. Este problema existe tanto para o registro continuo quanto para o registro

em varreduras. No primeiro caso, o problema é minimizado se são realizadas diversas

observações contínuas de forma aleatória. No segundo caso, surge a questão do

espaçamento temporal entre os registros (varreduras): superestimar a freqüência

comportamental (no caso de estados de longa duração relativamente ao intervalo entre

varreduras) ou subestimar a freqüência (no caso de estados de curta duração

relativamente ao intervalo entre as varreduras).

Originalmente dirigidos para o estudo do comportamento social de primatas (ou

animais terrestres), as discussões levantadas por Altmann foram lentamente sendo

incorporadas por pesquisadores de outras espécies. Apenas recentemente esta

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discussão sobre os métodos de amostragem foi dirigida ao estudo do comportamento

de cetáceos (Mann 1999).

Em sua revisão de seis anos de publicações nas revistas Canadian Journal of

Zoology e Marine Mammal Science Mann (1999) verificou que metade dos artigos

sobre comportamento de cetáceos ainda fazia uso do método ad libitum. A autora

discute que a amostragem sistemática de cetáceos é dificultada pelo fato destes

estarem a maior parte do tempo submerso, o que muitas vezes impossibilita sua

visualização e a obtenção de dados confiáveis, além de que o mar deixa poucas marcas

de passagem ou de uso, como trilhas, ninhos e tocas, que os pesquisadores estão

acostumados a usar quando estudam animais terrestres (Mann 1999). Outras

dificuldades apresentadas pela pesquisadora são: a dificuldade de identificação

individual dos animais, a formação de grandes grupos, e a correspondência entre os

comportamentos abaixo e acima da superfície (visto que muitas vezes apenas o

comportamento na superfície é registrado).

Além destes problemas de ordem estatística, outros problemas metodológicos

na observação de comportamentos podem ocorrer, tais como cansaço do observador e

fidedignidade entre observadores. Uma discussão mais detalhada dos métodos de

observação pode ser encontrada em Martin & Bateson (1986) e Lehner (1996). No

Brasil estas discussões foram tratadas nos artigos de Setz & Hoyos (1985), Setz (1991)

e Yamamoto (2002), que abordou estas dificuldades para o estudo em cetáceos.

A partir do exposto acima, o presente trabalho vem somar esforços para

trabalhar dois aspectos (lacunas existentes) da literatura especializada a respeito do

comportamento animal:

1) A utilização de uma metodologia adequada que possibilite a obtenção de dados

precisos sobre os comportamentos a serem registrados e definição de uma

ferramenta confiável para a comparação entre populações ou espécies

diferentes.

2) A pequena quantidade de estudos sobre o comportamento de animais

ectotérmicos, noturnos e aquáticos.

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Espécie em estudo

O boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864), é um mamífero marinho

que ocorre no Atlântico Sub-Tropical e Tropical, desde o estado de Santa Catarina (27º

35’S; 49º, 34’W) (Simões-Lopes 1988), até a Lagoa de Waunta na Nicarágua

(13º40’00’’N; 83º36’40’’W) (Carr & Bonde 2000) tendo, portanto, a maior parte de

sua distribuição geográfica em águas do território brasileiro.

O seu comprimento é de 1,7 ± 0,2 m (Lodi & Capistrano 1990), sendo que para

machos o maior exemplar registrado foi de 2 m (Ramos 1997) e para fêmeas de 2,06 m

(Barros & Teixeira, 1994). Rosas & Monteiro-Filho (2000) estimaram que o

comprimento de maturação sexual de S. guianensis varia de 1,70-1,75 m. Sua

coloração é cinza escuro no dorso e rosada/branco nas porções ventrais (Leatherwwod

& Reeves 1983). Barros, Zanelatto, Oliveira, Rosas & Simões-Lopes (1998) sugerem

que o S. guianensis seja uma espécie de hábitos generalistas, pois análises de conteúdo

estomacal mostram que o Sotalia se alimenta de espécies de peixes pelágicas e

demersais, e os cefalópodes compõem a base de sua dieta.

Recentemente, a espécie Sotalia fluviatilis que apresentava dois ecótipos: um

marinho, popularmente conhecido como boto cinza e um fluvial conhecido como

tucuxi, foi reclassificada. Estudos recentes de Monteiro-Filho, Monteiro & Reis 2002 e

Cunha et al. 2005, comprovaram por análises morfométricas e genéticas que o gênero

Sotalia deve ser desmembrado em duas espécies. A espécie fluvial, Sotalia fluviatilis,

sendo endêmica da bacia do rio Amazonas e a espécie marinha, Sotalia guianensis,

que apresenta uma distribuição tipicamente costeira e contínua na costa atlântica

tropical e subtropical.

Por ser um mamífero marinho de hábitos costeiros, constitui uma fauna atrativa

para o ecoturismo de diversas localidades. Esta proximidade da costa, porém, torna a

espécie vulnerável a fatores antrópicos, tais como tráfego de embarcações (de pesca ou

turismo), pesca com redes, contaminação por poluentes. Apesar de ser conhecida pelo

público em geral, ainda são poucos os estudos científicos acerca da espécie, sendo

classificada pelo IBAMA (2001) como espécie “insuficientemente conhecida” para

efeito da análise de ameaça.

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10

O boto cinza tem sido estudado ao longo do litoral brasileiro, desde a região sul

até a região norte. Entretanto, é possível verificar que a maior parte dos estudos são

realizados em áreas abrigadas, principalmente, dentro de regiões estuarinas e de baías.

Os trabalhos realizados na região sul abrangem diversas linhas de pesquisas como, por

exemplo, o trabalho sobre as interações do boto com a atividade de pesqueira no litoral

do Estado do Paraná, na área de Antonina, Pontal do Paraná e Guaratuba (Przbylski &

Monteiro-Filho 2001); utilização da ferramenta de foto identificação na Baía Norte,

em Santa Catarina (Flores 1999); ecologia comportamental na Baía Norte (Daura-

Jorge, Wedekin, Piacentini & Simões-Lopes 2005, Wedekin, Daura-Jorge & Simões-

Lopes 2004) e na Baía de Babitonga (Cremer, Hardt, Tonello-Jr., Simões-Lopes &

Pires 2004).

Assim como na região sul, a região sudeste também apresenta linhas de trabalho

diversificadas: pesquisa com acústica na Baía de Guanabara (Azevedo & Simão 2002),

no complexo estuarino de Cananéia, em São Paulo (Monteiro-Filho & Monteiro 2001)

e na Baía de Septiba, no Rio de Janeiro (Erber & Simão 2004); Ecologia

Comportamental no litoral de São Paulo (Santos, Rosso, Siciliano, Zerbini, Zampirolli,

Vicente & Alvarenga 2000) e em Cananéia (Geise, Gomes & Cerqueira 1999);

conteúdo estomacal no litoral do Rio de Janeiro (Dibeneditto & Siciliano 2006, Melo,

Ramos & Di Beneditto 2006).

No nordeste, as pesquisas são realizadas em áreas relativamente menos

abrigadas: enseadas em contato direto com mar aberto. Os estudos comportamentais

são mais evidentes nesta região. Na Praia de Iracema podemos destacar o trabalho de

monitoramento do boto cinza (Oliveira, Ávila, Alves Júnior, Furtado Neto & Monteiro

Neto 1995), acústica (Monteiro Neto, Ávila, Alves Júnior, Araújo, Campos, Martins,

Parente, Furtado Neto & Lien 2004), comportamento (Gurjão, Furtado Neto, Santos &

Cascon 2003) e, ainda no Ceará, foram realizados trabalhos com encalhes que

ocorreram ao longo do litoral (Meirellhes, Silva, Campos & Barros 2002). No estado

do Rio Grande do Norte, os trabalhos focam análises comportamentais descritivas e

interações com barcos, tendo realizados nas enseadas da Praia de Pipa, destacamos os

trabalhos de Santos Jr, Pansard, Yamamoto & Chellappa (2006), Spinelli, De Jesus,

Nascimento & Yamamoto (2006), Spinelli, Nascimento & Yamamoto (2002) e

Araújo, Passavante & Souto (2003).

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11

Para a região norte podemos destacar pesquisas realizadas nos rios da bacia

Amazônica, como o estudo do comportamento do boto no Rio Solimões (Magnusson,

Best & Da Silva 1980), preferência de habitat no Rio Amazonas (Martin, Da Silva &

Salmon 2004) e distribuição e abundância dos botos (Vidal, Barlow, Hurtado, Torre,

Cendo´N & Ojeda 1997). Ainda encontramos pesquisas na área de acústica (Rossi-

Santos & Podos 2006) e envolvendo análises morfológicas (Monteiro-Filho, Monteiro

& Reis (2002), Simões-Lopes & Gutstein (2004), Simões-Lopes (2006)), com animais

encontrados ao longo do litoral brasileiro.

Assim sendo, este trabalho destaca-se ainda por apresentar o orçamento de

Atividades de uma população de botos cinza tipicamente marinha, que freqüenta as

águas costeiras do litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. Busca-se contribuir

para o conhecimento científico da espécie, oferecendo informações sobre a dinâmica

comportamental, que serão úteis em estudos comparativos e para análises síntese na

determinação áreas de conservação da espécie.

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12

OBJETIVOS DA PESQUISA

- Objetivo geral

Explorar as possíveis variações de resultados na quantificação de estados

comportamentais decorrentes da aplicação de diferentes métodos de coleta de dados e

descrever um orçamento de atividades de uma população de boto cinza, Sotalia

guianensis, que freqüenta as águas costeiras do litoral sul do estado do Rio Grande do

Norte.

- Objetivos específicos:

Artigo I:

- Analisar a duração das atividades, verificando se existe variação de acordo com

o estado comportamental apresentado.

- Comparar os orçamentos de atividades quando se varia o intervalo de tempo

entre os registros dos comportamentos (diferentes intervalos entre varreduras)

- Comparar os orçamentos de atividades construídos quando se varia a unidade

de registro: animal focal versus grupo focal.

Artigo II

- Descrever o orçamento de atividades dos grupos de boto cinza que freqüentam a

área de Baía Formosa (sul – RN);

- Verificar o tamanho do grupo;

- Verificar se a freqüência dos estados comportamentais e o número de animais

são afetados por variáveis ambientais tais como: área utilizada, hora do dia e estado de

marés;

- Comparar o orçamento de atividades dos grupos de boto cinza que freqüentam a

área de Baía Formosa e enseada do Curral –Pipa (sul – RN)

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13

ARTIGO I

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE AMOSTRAGEM PARA CONSTRUÇÃO

DE ORÇAMENTO DE ATIVIDADES DO BOTO CINZA (Sotalia guianensis)

NO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

Queiroz, R. E. M.¹ & Ferreira, R. G.²

¹ Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Projeto Pequenos Cetáceos da UFRN.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. Email:

[email protected]

² Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Departamento

de Botânica, Ecologia e Zoologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. Email:

[email protected] Fone/Fax: (84) 3215-3189

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COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE AMOSTRAGEM PARA CONSTRUÇÃO

DE ORÇAMENTO DE ATIVIDADES DO BOTO CINZA (Sotalia guianensis)

NO LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

QUEIROZ, R. E. M.

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Projeto Pequenos Cetáceos da UFRN.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. Email:

[email protected]

FERREIRA, R. G.

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Departamento

de Botânica, Ecologia e Zoologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. E-mail:

[email protected] Fone/Fax: (84) 3215-3189

Palavra-Chave: métodos de amostragem, Sotalia guianensis, comportamento,

golfinho, orçamento de atividades.

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RESUMO

Apenas recentemente a discussão sobre os métodos de amostragem foi dirigida

ao estudo do comportamento de cetáceos, na busca de rigidez metodológica e precisão

na medida de dados. Considerando que os comportamentos de todos os indivíduos são

dificilmente observados em estudos realizados em ambiente natural, podemos destacar

que a escolha de um método de coleta de dados comportamentais está estritamente

conectada com regras de amostragem que garantam a igualdade de oportunidades e a

independência das amostras. O método animal-focal é preferível, mas nem sempre é

possível diferenciar individualmente todos os animais do grupo, recorre-se, então, ao

uso do método grupo-focal. A dependência temporal das observações é outro

problema, isto é, a maior probabilidade do indivíduo apresentar o mesmo

comportamento em minutos subseqüentes ao registrado no início da observação. O

objetivo deste trabalho é verificar se existem diferenças significativas nas freqüências

de atividades do boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864), quando são

variados os protocolos de observação e os intervalos entre registros. O estudo foi

realizado em duas localidades diferentes: Praia de Pipa e Praia de Baía Formosa,

ambas localizadas no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. Os resultados

mostram que os comportamentos analisados tiveram duração significativamente

diferente: Descanso apresentou o maior valor modal de duração: 8 minutos, o

Forrageio 6 minutos, o Deslocamento 4 minutos e a Socialização de 2 minutos. As

freqüências comportamentais não apresentaram grandes diferenças significativas

quando calculados utilizando-se diferentes intervalos de tempo, porém foi detectada

uma superestimativa do Forrageio quando o registro é realizado a cada 2 minutos e em

relação ao registro a cada 8 minutos. O padrão inverso tende a ocorrer com o

Deslocamento: subestimativa em registros de 2 minutos e superestimativa em registros

de 8 minutos. Não foram verificadas diferenças significativas quando foi variado o

método de amostragem de grupo ou animal focal, possivelmente devido à ausência de

dimorfismo sexual e à baixa presença de filhotes nas enseadas durante o período de

estudos.

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16

ABSTRACT

Only recently the discussion about sampling methods was directed to the study

of cetacean behaviour, in the search for methodological rigidity and precision on data

measurement. Considering that the behaviors of all individuals are hardly observed in

studies carried out on natural environment, we can detach that the choice of a method

to collect behavioral data is strictly connected to sampling rules that guarantee the

equality of chances and the independence of samples. The animal-focal method is

preferable, but it is not always possible to individually differentiate all animals in the

group, with group-focal method the only possibility left. The temporal dependence of

observations is another problem, that is, the higher probability of an individual to

present the same behavior in subsequent minutes to that registered at the beginning of

record. The objective of this work was to verify if there occur significant differences in

the frequencies of activities of Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864), when the

protocol of observation and the intervals between registers are varied. The study was

carried out on two different localities: Pipa and Baía Formosa Beach, both located in

the south coast of Rio Grande do Norte. The results show that the duration of

behaviors differed significantly: Rest presented the biggest modal value 8 minutes,

Forage 6 minutes, Travel 4 minutes and Socialization 2 minutes. The behavior’s

frequencies did not differ when calculated using different intervals of time, however, a

over-estimative of Forage was detected in the 2 minutes register in relation to the

register at every 8 minutes. The inverse tends to occur with Travel: under-estimative

on registers of 2 minutes and over-estimate on registers of 8 minutes. Significant

differences were not found when comparing group and focal animal sampling,

possibly due to the absence of sexual dimorphism and to the rare presence of pups in

the areas during the study period.

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INTRODUÇÃO

A refutabilidade de hipóteses e a conseqüente busca por rigidez metodológica e

pela precisão na medida de dados, é defendida como o diferencial do conhecimento

produzido pela ciência (Hessen 2003). Para os estudos do comportamento uma

discussão bastante detalhada sobre métodos de amostragem foi realizada por Altmann

(1974) e Altmann & Altmann (1977). Considerando que todos os comportamentos de

todos os indivíduos são dificilmente observados em estudos naturalísticos, estes

artigos destacam que a escolha de um método de coleta de dados comportamentais está

estritamente conectada com regras de amostragem que garantam a igualdade de

oportunidades e a independência das amostras.

Apenas recentemente esta discussão sobre os métodos de amostragem foi

dirigida ao estudo do comportamento de cetáceos. Mann (1999) faz uma distinção

entre duas componentes básicas do método de amostragem: quantos indivíduos

observar (“follow protocol”) e como registrar o comportamento observado (“sampling

method”). São possíveis dois protocolos de observação: animal-focal e grupo-focal.

No primeiro caso o comportamento de cada indivíduo do grupo é registrado. No

segundo caso, o comportamento apresentado pela maioria dos indivíduos do grupo é

registrado.

O método animal-focal é preferível por diversas razões: i) a seleção natural

opera sobre o indivíduo e não sobre o grupo; ii) a igualdade de oportunidades para as

amostras é garantida, ou seja, todos os comportamentos e todos os indivíduos terão

iguais oportunidades de serem amostrados, evitando-se que apenas comportamentos ou

indivíduos mais evidentes sejam registrados; iii) este método permite uma melhor

estimativa da freqüência média, já que indivíduos de idade e sexo diferentes podem

apresentar diferentes orçamentos de atividades. Entretanto, nem sempre é possível

diferenciar individualmente todos os animais do grupo, seja pela falta de marcas

naturais, coesão dos animais ou pela distância entre observador e o grupo. Neste caso,

recorre-se ao uso do método grupo-focal.

Com relação ao método de registro (“sampling method”), esta pode ser

contínua, ou seja, registra-se exatamente a duração do comportamento, ou pode ser em

intervalos (scans), em que o comportamento apresentado em determinado instante é

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registrado. Assim sendo, existem quatro formas básicas de registrar o comportamento

animal: animal focal-contínuo, animal focal-scan, grupo focal-contínuo, e grupo focal-

scan.

Um problema refere-se à dependência temporal das observações, isto é, a maior

probabilidade do indivíduo apresentar o mesmo comportamento em minutos

subseqüentes ao registrado no início da observação. Este problema existe tanto para o

registro continuo quanto para o registro em varreduras. No primeiro caso, o problema

é minimizado se são realizadas diversas observações contínuas de forma aleatória. No

segundo caso, surge a questão do espaçamento temporal entre os intervalos de registro:

no caso de estados comportamentais de longa duração relativos ao intervalo entre

registros corre-se o risco de superestimar a freqüência comportamental. Inversamente,

no caso de estados de curta duração relativos ao intervalo entre registros corre-se o

risco de subestimar a freqüência comportamental.

Em sua revisão de seis anos de publicações nas revistas Canadian Journal of

Zoology e Marine Mammal Science, Mann (1999) verificou que dos 74 artigos sobre

comportamento de cetáceos analisados, metade ainda fazia uso do método ad libitum.

Ao que parece às críticas e sugestões feitas por Mann (1999) surtiram efeito, pois os

12 artigos por nós analisados e publicados nos anos posteriores (1996 a 2006) já se

preocupavam em utilizar uma amostragem sistemática do comportamento.

Todos os artigos relataram utilizar o método grupo focal, contudo, pode-se

verificar uma grande variação de métodos de registros para objetivos similares. Por

exemplo, em estudo sobre o comportamento de Tursiops truncatus, Bearzi et al.

(1999) utilizou intervalos de 3 minutos para registrar 4 possíveis categorias

comportamentais, mas Bearzi (2005) utilizou intervalos de 5 minutos para registrar 17

possíveis categorias comportamentais. Karczmarski et al. (1999) utilizou intervalos de

10 minutos para registrar o comportamento de Souza chinensis, e Neumann (2001) em

estudo com Delphinus delphis utilizou intervalos de 3 minutos.

Podemos ressaltar que apesar das diferenças nos intervalos de registro (3, 5 e 10

minutos), todos os autores disseram estar seguindo Shane (1990) e Ballance (1992),

que propõem que os dados sejam coletados em curtos intervalos de tempo, dada a

rápida variação no padrão comportamental observado em delfinídeos.

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O objetivo deste trabalho foi verificar se existem diferenças significativas nas

freqüências de atividades do boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864),

quando são variados os intervalos entre registros (2, 4, 6, e 8 minutos) e os protocolos

de observação (grupo vs animal focal). O boto cinza, Sotalia guianensis, é um

mamífero marinho de tamanho corpóreo médio de 1,8m sem dimorfismo sexual

aparente. A espécie ocorre no Atlântico Sub-Tropical e Tropical, desde o estado de

Santa Catarina (27º 35’S; 49º, 34’W), até a Lagoa de Waunta na Nicarágua

(13º40’00’’N; 83º36’40’’W) (Carr & Bonde 2000) tendo, portanto, a maior parte de

sua distribuição geográfica em águas do território brasileiro.

São formuladas as seguintes hipóteses:

1) Se os comportamentos apresentam grande variação em relação à duração média

então não deverão ser encontradas diferenças significativas quando comparados os

comportamentos calculados a partir de diferentes tempos de registro (intervalos entre

registros). Por outro lado, se os comportamentos têm uma duração média constante,

então, as freqüências das atividades calculadas a partir de diferentes intervalos de

registro devem diferir significativamente, dada a influência da dependência temporal.

2) Se ocorrer grande diferença no padrão de atividades entre os indivíduos então o

orçamento de atividades calculado pelos métodos de registro animal focal e grupo

focal devem diferir significativamente. Por outro lado, se os indivíduos têm padrões

comportamentais semelhantes, então o orçamento de atividades calculado pelo método

de registro animal focal e grupo focal não devem diferir significativamente.

Considerando que a espécie em estudo não apresenta dimorfismo sexual e que a

observação de filhotes durante o período de estudos foi rara (nenhum dia em Baia

Formosa, e 19,04% dos dias na praia de Pipa) espera-se que haja poucas diferenças

entre os orçamentos de atividades calculados pelos métodos animal focal e grupo

focal.

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado em duas localidades: Praia de Pipa (06º13’ S; 35º03’W -

Tibau do Sul) e Praia de Baía Formosa (6º 22’ S; 35º 00’ W - Baía Formosa), ambas

localizadas no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. As enseadas apresentam

características físicas semelhantes, sendo rodeadas por falésias (aproximadamente 20

metros de altura), algumas recobertas por dunas, e presença de formações rochosas de

arenito, constituindo enseadas abrigadas de ventos e correntes marinhas. São áreas

bastante influenciadas por variações de marés dada a proximidade com a linha do

Equador, apresentando uma topografia subaquática com declive suave e extenso,

intercalado por um fundo arenoso e rochoso. A profundidade média é de 6 m (Figura

1). Esta região apresenta clima tropical e chuvoso, a temperatura média anual é de

26°C.

Figura 1- Áreas de estudos - Praia de Pipa e Baía Formosa, litoral sul do Rio Grande do Norte.

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Coleta de dados

Os dados utilizados para análise de duração comportamental e para comparação

de tempo entre intervalos de observação foram coletados na praia de Baia Formosa. Os

dados coletados para a comparação dos métodos de registro animal focal e grupo focal

foram coletados na Praia de Pipa.

A definição de grupo utilizada foi espacial, adaptado de Shane (1990), que

estabelece como sendo qualquer grupo de golfinhos observados em aparente

associação, movimentando-se na mesma direção e muitas vezes, mas não sempre,

engajados na mesma atividade. O número de animais foi quantificado através de uma

contagem direta, quando os indivíduos se encontravam na superfície da água, no

momento em que emergiam para respirar.

Para quantificar as atividades comportamentais estabelecemos a categoria de

estado sugerido por Altmann (1974), definida como comportamentos de duração

apreciável. Os estados considerados neste trabalho foram adaptados de diversos

autores, sendo divididos em quatro categorias principais: Forrageio, Socialização,

Deslocamento e Descanso.

1-Forrageio: natação sem direção fixa, sendo periodicamente interrompida por

eventos de perseguição e bote na presa, podendo este ter sucesso ou não (Norris &

Dohl, 1980).

2-Socialização: intensa atividade dos golfinhos, onde estes permanecem mais

tempo na superfície, ocorrendo um intenso contato físico entre os animais, podendo

ocorrer em diferentes contextos (Ballance, 1992).

3-Deslocamento: Quando a natação é caracterizada por apresentar uma direção

definida (Ballance, 1992), sem ser interrompida por eventos de perseguição ou bote.

4-Descanso: Consiste num deslocamento lento, sem direção definida, com

movimentos muito reduzidos (Würsig & Würsig, 1979; Würsig & Würsig, 1980; Scott

et al. 1990).

Em Baia Formosa, o método de amostragem utilizado foi o de grupo focal

sugerido por Altmann (1974). O critério estabelecido para a amostragem do grupo

focal foi de acompanhar os grupos a partir do momento em que eles fossem avistados,

registrando em protocolos específicos o comportamento realizado pela maioria dos

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animais do grupo, em intervalos de 2 minutos. O registro foi realizado de forma

independente quanto ocorriam dois ou mais grupos dentro da enseada, tanto para tipo e

duraçao do estado comportamental quanto para número de indivíduos.

Na praia de Pipa, o método de registro utilizado foi o animal focal-scan com

intervalos de 2 minutos entre os registros. Apesar de não ser possível acompanhar

animais identificados individualmente, foi possível diferenciar o comportamento de

animais distintos dentro da enseada durante os intervalos amostrais. Assim, a cada 2

minutos era registrado o comportamento de cada indivíduo dentro da enseada. Um

orçamento de atividades foi calculado a partir da proporção diária dos comportamentos

por indivíduo.

Em seguida foi realizada a transformação dos dados de indivíduo focal para

grupo focal, verificando-se a cada intervalo de registro em qual estado comportamental

(Deslocamento, Socialização, Descanso e Forrageio) a maior parte dos indivíduos

estava engajada. O valor Um (1) foi atribuído a tal estado e o valor Zero (0) para os

demais. No final de cada dia, somava-se o total de registros de cada estado e dividia-se

este número pelo somatório dos totais de registros das quatro categorias

comportamentais. Desta forma, foi calculado um orçamento de atividades a partir da

média diária de ocorrência de cada estado para o método grupo focal.

Os orçamentos obtidos a partir destes dois métodos foram então comparados

para verificar diferenças nas freqüências comportamentais.

Todas as observações foram realizadas a partir de um ponto fixo situado no

topo da falésia e tiveram duração de 6 horas diárias variando o horário de início, sendo

este distribuído de forma homogênea, começando às 7hs, 8hs, 9hs, 10hs e 11hs. Esta

variação no horário de início ocorreu para abranger todas as horas do dia, mantendo

um número de horas observadas similar ao longo de cada dia.

Análises dos dados

Para analisar a duração com que cada categoria comportamental foi expressa, os

dados foram quantificados de acordo com o número de registros (intervalos de 2

minutos) sucessivos de sua ocorrência. O teste de correlação de Spearman (rs) foi

utilizado para verificar se havia correlação entre a duração do comportamento e o

número de animais.

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Para análise do padrão comportamental dos animais a área de estudo (Baía

Formosa) foi dividida em: Área 1 - próximo da zona da arrebentação; Área 2 - centro

da enseada; e Área 3 - limite da enseada com o mar aberto. Para verificar a influência

da variável independente da hora do dia, os dados foram separados por intervalos de

horas e agrupados em três blocos: 07:00-09:59, 10:00-12:59 e 13:00-15:59. A última

hora do dia (16 as 16:59) foi descartada devido à não observação de animais neste

horário. Da mesma forma, para analisar a influência dos estados de maré, foram

definidos os seguintes intervalos: seca, vazante, cheia e enchente (cada estado de maré

comportando três horas). A tábua de maré utilizada foi a fornecida pelo Departamento

de Hidrografia da Marinha do Brasil (DHM) para o porto de Natal.

Para proporcionar uma comparabilidade dos valores comportamentais entre os

dias, foi calculada a porcentagem diária para cada categoria (total de pontos amostrais

do estado comportamental / total de pontos amostrais do dia). O número de pontos

amostrais considerados na análise variou de acordo com o intervalo utilizado: de 2 em

2 minutos, 4 em 4, 6 em 6 e de 8 em 8 minutos.

As variáveis dependentes (freqüência comportamental e duração das atividades)

não apresentaram distribuição normal. Foram utilizados os testes não paramétricos de

Frideman (χ²p) e de Wilcoxon (Z). Todas as análises foram realizadas com o auxílio do

software de estatística SPSS 13 e o nível de significância adotado foi de 5% (p ≤ 0,05).

RESULTADOS

Esforço de Campo

Em Baía Formosa foram coletados 3520 pontos amostrais em 40 dias (N = 40)

durante o período de dezembro de 2005 a abril de 2006, e 1205 pontos em 21 dias

entre fevereiro e maio de 2006, em Pipa. O esforço amostral foi de 251 horas com 113

horas de esforço efetivo para Baía Formosa, e 137 horas de esforço amostral e 39

horas de esforço efetivo, em Pipa.

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Duração comportamental

Todos os comportamentos analisados tiveram duração significativamente

diferente tanto na comparação geral (χ²p= 120,19; GL= 3; p<0,001; n= 71), quanto nas

comparações duas a duas (testes de Wilcoxon: p <0,05). Descanso foi a categoria

comportamental com maior valor modal de duração: 8 minutos (4 intervalos de 2

minutos). O comportamento de Forrageio apresentou duração modal de 6 minutos, o

Deslocamento de 4 minutos e a Socialização de 2 minutos (Figura 2). Os valores

médios e medianos, entretanto, resultaram numa ordem diferente de duração

comportamental (Forrageio > Descanso > Deslocamento > Socialização).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

60

50

40

30

20

10

0

Dura

ção

med

iana

(min

utos

)

Figura 2 – Duração mediana de cada categoria comportamental expressa pelos golfinhos (S. guianensis), em Baía Formosa - RN.

As durações dos estados comportamentais não se modificaram de acordo com a

localização dos animais dentro da enseada, com exceção do Deslocamento que tem

duração maior quando executado na Área 2 (χ²p= 35,83; GL= 2; p< 0,001; n= 84).

(Figura 3). Entretanto, cautela também deve ser tomada na interpretação dos resultados

estatísticos do comportamento de Forrageio, pois nenhum episódio foi observado na

Área 3, apenas 4 episódios de Forrageio foram observados na área 2, sendo todo

restante do Forrageio observado na área 1 (mais próxima da Zona de Arrebentação).

*

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25

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

60

50

40

30

20

10

0

Dura

ção

med

iana

(minu

tos)

Área 3Área 2Área 1

Figura 3 – Duração mediana de cada categoria comportamental expressa pelos golfinhos (S. guianensis) por área, em Baía Formosa - RN.

Foi possível verificar que apenas o Deslocamento diferiu significativamente nos

blocos horários, sendo menos duradouro no período das 07:00-09:59 e mais longo

entre 10:00-12:59 (χ²p = 8,68; GL= 2; p= 0,013; Z(MA-ME) = -2,014; p= 0,044). As

diferenças entre as demais categorias durante as horas do dia não foram significativas:

Forrageio (χ²p = 1,56; GL= 2; p= 0,457); Socialização (χ²p = 0,304; GL= 2; p= 0,859) e

Descanso (χ²p = 0,925; GL= 2; p= 0,766) (Figura 4).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

60

50

40

30

20

10

0

Dura

ção

med

iana

(min

utos

)

13:00-15:5910:00-12:5907:00-09:59

Figura 4 – Duração mediana de cada categoria comportamental expressa pelos golfinhos (S. guianensis) por blocos de horas, em Baía Formosa - RN.

*

*

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26

A variação de maré não influenciou a duração dos comportamentos, exceto no

estado comportamental de Descanso que foi mais longo na maré vazante (χ²p = 8,06;

GL= 3; p= 0,045; Z(Ch-Vaz) = -2,435; p= 0,015) (Figura 5). O número máximo de

animais realizando atividades por dia na enseada foi de 15 indivíduos e o número

mínimo de um, sendo o tamanho de grupo mais freqüente de 3 indivíduos. A duração

dos comportamentos não apresentou relação com o número de animais no grupo:

Forrageio (rs= 0,43; p= 0,670), Socialização (rs= -0,12; p= 0,439), Deslocamento (rs= -

0,1; p= 0,278) e Descanso (rs= 0,01; p= 0,343).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

60

50

40

30

20

10

0

Dur

ação

med

iana

(min

utos

)

Vazante

Cheia

Enchente

Seca

Figura 5 - Duração mediana de cada categoria comportamental expressa pelos golfinhos (S. guianensis) de acordo com a variação da maré, em Baía Formosa - RN.

Orçamento de Atividades por intervalo de tempo

As freqüências das categorias comportamentais Deslocamento, Descanso e

Socialização não apresentaram diferenças significativas quando calculados utilizando-

se diferentes intervalos de tempo. O valor médio para o comportamento de Forrageio

variou significativamente (χ²p= 11,848; GL=4, p=0,019), sendo as diferenças

encontradas entre o intervalo de 2 e 8 minutos (Z(2-8) = -2,106; p=0,035) (Figura 6).

Entretanto, as seguintes tendências significativas devem ser destacadas: Forrageio

entre 2-6 min (Z = -1,69; p = 0,091), Forrageio 4-6 min (Z = -1,76; p = 0,078),

*

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27

Forrageio 4-8 min (Z = -1,92; p = 0,055) e Deslocamento 2-8 min (Z = -1,79; p =

0,073).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

100

80

60

40

20

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)

8 minutos6 minutos4 minutos2 minutos

Figura 6 - Orçamentos de Atividades utilizando-se diferentes intervalos de tempo, em Baía Formosa – RN (N=40 dias).

Não foi verificada diferença significativa entre os orçamentos de atividades

quando calculados utilizando-se os métodos animal focal ou grupo focal: Forrageio

(Z(AF-GF) = -0,373; p = 0,709), Deslocamento (Z(AF-GF) = -0,355; p = 0,723) e Descanso

(Z(AG-GF) = -0,524; p= 0,600) (Figura 7).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

100

80

60

40

20

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)

Grupo FocalAnimal Focal

Figura 7 - Orçamentos de Atividades por métodos de amostragem, na enseada do Curral, Pipa - RN. (N= 21 dias)

*

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28

DISCUSSÃO

Duração do comportamento

Nesta população de boto cinza observamos que os comportamentos tiveram

durações diferentes, sendo o Descanso o comportamento mais longo (valor modal 8

minutos) e a Socialização o comportamento que ocorre em surtos mais rápidos (valor

modal 2 minutos). Estes dois resultados devem ser considerados com cautela e à luz

das definições adotadas neste trabalho. Pouco se sabe sobre ambos os comportamentos

em cetáceos, mas Würsig & Würsig (1980), argumentam que Tursiops truncatus

descansa em breves períodos ao longo do dia. Apesar de uma duração longa (em

relação aos outros comportamentos), foram obtidos poucos registros de Descanso em

Baía Formosa.

Isso pode dever-se ao fato de que o comportamento de Descanso é de difícil

reconhecimento, e quando apresentado em surtos mais curtos poder ser confundido

com outros comportamentos (e.g. Deslocamento). De forma similar, o comportamento

de Socialização é definido neste trabalho como contatos físicos visíveis à superfície, o

que desconsidera as interações sociais acústicas ou abaixo da superfície. Desta forma,

assim como discutido por Daura-Jorge et al. (2005) em outro estudo sobre S.

guianensis, o presente trabalho pode estar subestimando as interações sociais destes

animais.

Os resultados indicam um uso estratificado da enseada de Baia Formosa, em

que os animais concentram seus esforços de Forrageio na área mais rasa (Área 1) e

deslocam-se na Área 2 (a região de maior área poligonal) e no período de chegada dos

animais à enseada (a partir das 10 da manhã).

A maré e o número de animais não influenciaram na duração dos

comportamentos. De forma geral, o padrão observado em Baia Formosa pode ser

indicativo de dois fatores. Primeiro, parece estar evidenciando uma diferença entre

ambientes marinhos e os ambientes estuarinos. Os artigos que descrevem a influência

de maré no comportamento do boto cinza foram realizados em ambientes mais

fechados como a Baia de Guanabara – RJ (Geise et al. 1999), Baia de Babitonga – SC

(Cremer et al. 2004), Baia de Norte - SC (Daura-Jorge et al. 2005) e, portanto, mais

suscetíveis a influências periódicas de maré. Segundo, podem indicar uma estratégia

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oportunista de Forrageio, em que um número variável de animais podem ter surtos de

Forrageio (com durações diferentes), quando na presença de cardume de peixes,

alternados com períodos de Deslocamento, Descanso e Socialização.

De relevância direta para a primeira hipótese deste trabalho, a duração média

dos comportamentos não se apresentou de forma constante, sendo caracterizada por

um grande erro padrão nos valores, principalmente para o comportamento de

Forrageio que chegou a 86% do valor médio.

Comparação entre os Métodos de Observação e Registro

De acordo com a grande variação nos valores de duração dos comportamentos

(hipótese 1), as análises dos dados mostraram que maioria das freqüências

comportamentais não diferiu significativamente quando foram utilizados diferentes

intervalos de varredura. Uma exceção importante refere-se ao comportamento de

Forrageio: a freqüência do Forrageio foi maior quando utilizado o intervalo de 2

minutos que o intervalo de 8 minutos

Este resultado indica que pode ocorrer ou uma superestimativa quando o

intervalo de 2 minutos é utilizado ou uma sub-estimativa quando o intervalo de 8

minutos é utilizado. Este padrão é também verificado pela análise dos resultados que

apresentaram tendências à significância estatística nas comparações entre os intervalos

de 2-6 min, 4-6 min e 4-8 min. É possível que estes resultados fossem significativos

caso fossem realizadas mais observações de forma a obter uma distribuição normal nos

dados.

Esta sub-estimativa no Forrageio parece estar acompanhada por uma

superestimativa no comportamento de Deslocamento quando se utilizou intervalo de 8

minutos. Ou seja, pode-se sugerir que ao construir um orçamento de atividades para o

boto cinza utilizando-se registros a intervalos de 2 minutos, superestima-se o Forrageio

e subestima-se o Deslocamento, ocorrendo o contrário quando é empregado intervalo

de 8 minutos. Dado que o Deslocamento está contido em todas as categorias, a

superestimativa do Deslocamento pode dever-se à não diferenciação da função deste

comportamento quando utilizamos longos intervalos entre as varreduras. Apesar de

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significativa, esta diferença foi pequena, da ordem de 2% para o comportamento de

Deslocamento e de 4% para o Forrageio.

Com relação à segunda hipótese, as freqüências comportamentais não diferiram

significativamente quando comparados os resultados obtidos pelos métodos animal

focal e grupo focal. Este resultado pode ter duas explicações. Primeiramente, esta

similaridade pode dever-se à ausência de dimorfismo sexual e à baixa presença de

filhotes nas enseadas durante o período de estudos, fazendo com que a média para o

grupo seja igual à média das somatórias dos indivíduos.

Uma outra explicação refere-se ao método animal-focal aqui utilizado. Apesar

da freqüência comportamental ter sido calculada a partir do comportamento de cada

indivíduo avistado, evitando o viés matemático da média de grupo e permitindo que

atividades menos freqüentes sejam registradas, o método animal-focal aqui empregado

não utilizou animais identificados individualmente, o que pode ter mantido o problema

da maior visualização de alguns poucos animais mais evidentes.

Deve-se salientar, entretanto, uma tendência à significância no comportamento

de Socialização, em que este apresentou freqüências mais altas quando empregado o

método animal-focal que o método grupo-focal. Isto provavelmente se deve ao fato de

que as interações sociais (tais como definidas neste trabalho) envolvem poucos

indivíduos sendo, portanto, subestimadas quando se emprega o método grupo-focal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha de um método de coleta de dados comportamentais é muito

importante e está estritamente conectada com as regras de aleatoriedade das amostras e

da independência das amostras (Altmann, 1974 e Altmann & Altmann, 1977). O

presente trabalho buscou explorar duas críticas recorrentes aos métodos de coleta de

dados: que intervalo de tempo utilizar e quantos indivíduos observar. O boto cinza foi

aqui utilizado como exemplo para estudos de pequenos cetáceos.

Os resultados indicam que, quando não há grande dimorfismo sexual entre os

indivíduos e quando são observados apenas animais adultos, as freqüências obtidas

pelo método grupo-focal servem de estimativa apropriada para o comportamento

médio dos indivíduos da espécie, com exceção do comportamento de Socialização. Os

resultados também mostram que cada categoria comportamental é expressa em

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intervalos de tempo diferentes, e que diferentes intervalos de registro podem alterar a

freqüência final computada. Sugere-se que: i) nos casos dos estudos voltados à apenas

um comportamento, o intervalo de varredura seja adequado à duração média da

atividade, para evitar a dependência temporal sem a necessidade de descarte de dados

(cf. Neumann, 2001); ii) a análise de vários comportamentos simultaneamente deve ser

precedida por um teste piloto para verificar onde pode estar ocorrendo super ou

subetimativas, e a magnitude das mesmas.

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34

ARTIGO II

ORÇAMENTO DE ATIVIDADES DO BOTO CINZA (Sotalia guianensis) NO

LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

Queiroz, R. E. M.¹ & Ferreira, R..

¹ Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia.

Projeto Pequenos Cetáceos da UFRN.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. E-mail:

[email protected]

² Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Departamento

de Botânica, Ecologia e Zoologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. E-mail:

[email protected] Fone/Fax: (84) 3215-3189

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ORÇAMENTO DE ATIVIDADES DO BOTO CINZA(Sotalia guianensis) NO

LITORAL SUL DO RIO GRANDE DO NORTE.

QUEIROZ, R. E. M.

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia. Projeto

Pequenos Cetáceos da UFRN.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. E-mail:

[email protected]

FERREIRA, R. G.

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Departamento

de Botânica, Ecologia e Zoologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal/RN – Brasil. E-mail:

[email protected]. Fone/Fax: (84) 3215-3189

Palavra-Chave: orçamento, atividade, Sotalia guianensis, comportamento, ecologia.

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RESUMO

Estudos sobre a ecologia de cetáceos geralmente abordam questões acerca da

área de concentração dos animais, no intuito de detectar áreas prioritárias para a

conservação e sobrevivência das espécies. Apenas recentemente a construção de

Orçamentos de Atividades vem sendo empregada para análises na área da biologia da

conservação. O orçamento de atividade é uma técnica utilizada para quantificação do

comportamento do animal, verificando como cada animal distribui seu tempo

disponível em atividades que são importantes para sua sobrevivência e reprodução. O

boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864), é um mamífero marinho que

ocorre no Atlântico Sub-Tropical e Tropical, sendo a maior parte de sua distribuição

geográfica em águas do território brasileiro. Por ser um mamífero marinho de hábitos

costeiros constitui uma fauna atrativa para o eco turismo de diversas localidades. O

objetivo deste trabalho é apresentar o orçamento de atividades de uma população de

botos cinza tipicamente marinha, que freqüenta as águas costeiras do litoral sul do

estado do Rio Grande do Norte. Quatro categorias comportamentias foram

quantificadas através do método grupo-focal com registros em intervalos de 2 minutos.

O Deslocamento representou 49,58% das atividades registradas, o Forrageio e

Descanso juntos representaram 41,48%, sendo a Socialização o comportamento menos

apresentado: 2,13% . A proximidade com a costa influencia o tipo de comportamento

apresentado e o número de animais presentes no grupo. O número de animais variou

significativamente de acordo com o tipo de atividade, sendo menor o número de

animais em Forrageio do que em outras atividades. As análises indicaram que o

número de animais e a freqüência dos comportamentos não apresentaram diferenças

significativas. Um maior número de animais e de comportamentos foi verificado no

período entre 10:00 e 15:59h. A flexibilidade comportamental dos animais se relaciona

ao uso de áreas com diferentes fisionomias, e remetem à necessidade da realização de

mais estudos para a definição das áreas de conservação.

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37

ABSTRACT

Studies on Cetacean’s ecology generally focus on questions about area of

concentration, in the intent to detect priority areas for conservation and survival of

species. Only recently analyses for Conservation Biology started to use the

construction of animals’ Activity Budget. The activity budget is a technique used for

quantification of behavior, verifying how each animal distributes its available time in

activities that are important for its survival and reproduction. Sotalia guianensis (Van

Bénéden 1864), is a marine mammal that occurs in the Subtropical and Tropical

Atlantic, having most of its geographic distribution Brazilian waters. Being a marine

mammal of coastal habits, it constitutes an attractive fauna for eco-tourism on diverse

localities. The objective of this work is to present the activity budget of a typically

marine population that frequents coastal waters on the south of Rio Grande do Norte.

Four behavioral categories were quantified using group-focal method with registers at

intervals of 2 minutes. Travel represented 49,58% of the registered activities, Forage

and Rest together represented 41,48%, and Socialization was the lest common

behavior represented in only 2,13% of registers. Proximity to the coast influences the

type of behavior exhibited and the number of animals present in the group. The

number of animal per group also varied significantly in accordance to the type of

activity, with less animals in Forage than in other activities. Analyses indicated that

the frequency of behaviour and number of animal per group also does not varied

significantly in accordance to the type of tide .Number of animals and, therefore,

behavioral frequency was higher in the period between 10:00 and 15:59 h. The

behavioral flexibility of the animals relates to the use of areas with different

physiognomies, and points to the necessity of more studies for the definition of

conservation areas.

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INTRODUÇÃO

Estudos sobre a ecologia de Cetáceos geralmente abordam questões acerca da

área de concentração dos animais, no intuito de detectar áreas prioritárias para a

conservação e sobrevivência das espécies. Nos últimos anos a construção de

Orçamentos de Atividades vem sendo empregada para análises na área da Biologia da

Conservação. O orçamento de atividade é uma técnica utilizada para quantificação do

comportamento do animal, verificando como cada animal distribui seu tempo

disponível em atividades que são importantes para sua sobrevivência e reprodução. As

informações contidas no orçamento de atividades podem mostrar como uma população

esta sendo afetada por alguma mudança ambiental, contribuindo para melhor entender

a espécie (Neumann 2001).

Desta forma, além da importância para o campo teórico da Biologia Evolutiva e

modelos de Forrageio Ótimo (Krebs & Davies 1993), atualmente reconhece-se que,

para promover a conservação de uma dada espécie e/ou população, é fundamental

conhecer sua dinâmica comportamental (variações individuais, estrutura social e

padrões de acasalamento), no intuito de verificar a amplitude de suas aptidões

comportamentais e biológicas dentro do ambiente, e como uma forma a fundamentar

ações de manejo e conservação (Beissinger 1997). Em cetáceos, cresce o número de

estudos que têm utilizado o orçamento de atividades para definir padrões

comportamentais (Neumann 2001; Shane 1990; Hanson & Defran 1993; Bearzi et al.

1999), tamanho de grupo (Bearzi et al. 1999), variação sazonal (Karczmarski &

Cockcroft 1999) e impactos ambientais (Lusseau 2003).

O boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden 1864), é um mamífero marinho

que ocorre no Atlântico Sub-Tropical e Tropical, desde o estado de Santa Catarina (27º

35’S; 49º, 34’W), até a Lagoa de Waunta na Nicarágua (13º40’00’’N; 83º36’40’’W)

(Carr & Bonde 2000) tendo, portanto, a maior parte de sua distribuição geográfica em

águas do território brasileiro. Por ser um mamífero marinho de hábitos costeiros,

constitui uma fauna atrativa para o ecoturismo de diversas localidades. Esta

proximidade da costa, porém, torna a espécie vulnerável a fatores antrópicos, tais

como tráfego de embarcações (de pesca ou turismo), pesca com redes, contaminação

por poluentes.

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Apesar de ser conhecida pelo público em geral, ainda são poucos os estudos

científicos acerca da espécie, sendo classificada pelo IBAMA (2001) como espécie

“insuficientemente conhecida” para efeito da análise de ameaça.

Até o momento, os poucos estudos existentes descrevem o orçamento de

atividades de populações de boto cinza que habitam estuários ou baias protegidas

(Geise et al. 1999; Cremer et al. 2004; Daura-Jorge et al. 2005). Assim sendo, o

objetivo deste trabalho é apresentar o Orçamento de Atividades de uma população de

botos cinza tipicamente marinha, que freqüenta as águas costeiras do litoral sul do

estado do Rio Grande do Norte. Busca-se contribuir para o conhecimento científico da

espécie, oferecendo informações sobre a dinâmica comportamental, que serão úteis em

estudos comparativos e para análises síntese na determinação de áreas de conservação

da espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado em duas localidades: Praia de Pipa (06º13’ S; 35º03’W -

Tibau do Sul) e Praia de Baía Formosa (6º 22’ S; 35º 00’ W - Baía Formosa) ambas

localizadas no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. As enseadas apresentam

características físicas semelhantes, sendo rodeadas por falésias (aproximadamente 20

metros de altura), algumas recobertas por dunas, e presença de formações rochosas de

arenito, constituindo enseadas abrigadas de ventos e correntes marinhas. São áreas

bastante influenciadas por variações de marés, apresentando uma topografia

subaquática com declives suaves e extensos, intercalados por um fundo arenoso e

rochoso. A profundidade média é de 6 m (Figura 1). Esta região apresenta clima

tropical e chuvoso, a temperatura média anual é de 26°C.

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40

Figura 1- Áreas de estudo - Praia de Pipa e Baía Formosa, litoral sul do Rio Grande do Norte.

Coleta de dados

As observações persistiam por 6 horas diárias variando o horário de início, a

partir de um ponto fixo situado no topo da falésia. O método de amostragem utilizado

foi o grupo focal (Altmann 1974). O critério estabelecido foi de acompanhar os grupos

e registrar, em protocolos específicos, o comportamento realizado pela maioria dos

animais do grupo em intervalos de 2 minutos.

A definição de grupo utilizada foi espacial, adaptado de Shane (1990), que

estabelece como sendo qualquer grupo de golfinhos observados em aparente

associação, movimentando-se na mesma direção e muitas vezes, mas não sempre,

engajados na mesma atividade. Para evitar a perda de pontos amostrais se aceitou o

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41

intervalo de 2 minutos entre registros, cientes de que este método pode incluir a uma

superestimativa do comportamento de Forrageio e uma subestimativa do

comportamento de Deslocamento (ver artigo 1 desta Dissertação).

Para quantificar as atividades comportamentais foi estabelecida a categoria de

estado (Altmann 1974), definida como comportamentos de duração apreciável. Os

estados considerados neste trabalho foram adaptados de diversos autores, sendo

divididos em quatro categorias principais: Forrageio, Socialização, Deslocamento e

Descanso.

1-Forrageio: natação sem direção fixa, sendo periodicamente interrompida por

eventos de perseguição e bote, podendo este ter sucesso ou não (Norris & Dohl

1980).

2-Socialização: alto nível de atividade dos golfinhos, onde estes permanecem

mais tempo na superfície, ocorrendo um intenso contato físico entre os animais

(Ballance 1992).

3-Deslocamento: Quando a natação é caracterizada por apresentar uma direção

definida (Ballance 1992), sem ser interrompida por eventos de perseguição ou bote.

4-Descanso: Consiste num deslocamento lento, sem direção definida, com

movimentos muito reduzidos (Würsig & Würsig 1979; 1980; Scott et al. 1990).

O número de animais foi quantificado através de uma contagem direta, quando

os indivíduos se encontravam na superfície da água, no momento em que emergiam

para respirar. Todos os indivíduos foram classificados como adultos, já que não foi

avistado nenhum filhote para fazer uma comparação etária.

Análises dos dados

Para proporcionar uma comparabilidade dos valores comportamentais entre os

dias, foi calculada a porcentagem diária para cada categoria (total de pontos amostrais

do estado comportamental / total de pontos amostrais do dia).

Para análise do padrão comportamental dos animais a área de estudo (Baía

Formosa) foi dividida em: Área 1 - próximo da zona da arrebentação; Área 2 - centro

da enseada; e Área 3 - limite da enseada com o mar aberto. Para analisar a freqüência

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42

horária dos comportamentos, os registros foram agrupados em três intervalos de

tempo: 07:00-09:59 (MA), 10:00-12:59 (ME) e 13:00-15:59 (TA). Da mesma forma,

para analisar a variável ambiental maré os registros comportamentais foram

distribuídos em: seca, vazante, cheia e enchente (cada estado de maré comportando

três horas). A tábua de maré utilizada foi a fornecida pelo Departamento de

Hidrografia da Marinha do Brasil (DHM) para o porto de Natal. Para estimar o

tamanho dos grupos de animais foi calculada a moda diária por área, por horário do

dia, ou por maré.

Por não apresentaram uma distribuição normal, as variáveis dependentes

(frequencia comportamental e número de animais) foram analisadas através dos testes

não paramétricos. Os testes de Frideman (χ²p) e de Wilcoxon (Z) foram utilizados para

comparar amostras dependentes, e o teste U de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para

as amostras independentes (comparação entre os municípios). Todas as análises foram

realizadas com o auxílio do software de estatística SPSS 13 e o nível de significância

adotado foi de 5% (p ≤ 0,05).

RESULTADOS

Esforço de Campo

Em Baía Formosa foram coletados 3520 pontos amostrais em 40 dias (N = 40)

durante o período de dezembro de 2005 a abril de 2006, e 1205 pontos em 21 dias

entre fevereiro e maio de 2006, em Pipa. O esforço amostral foi de 251 horas com 113

horas de esforço efetivo para Baía Formosa, e 137 horas de esforço amostral e 39

horas de esforço efetivo, em Pipa.

Orçamento de Atividades

O estado comportamental mais freqüentemente apresentado pelos golfinhos na

área de Baia Formosa foi o Deslocamento com 49,58% dos registros. Forrageio e

Descanso, junto representou 41,48% dos registros, sendo a Socialização o

comportamento menos apresentado: 2,13% (Figura 2). Estas freqüências foram

significativamente diferentes tanto na comparação geral entre as categorias, (χ²p=

75,89; GL= 3; n= 40, p< 0,001) quanto nas comparações duas a duas (testes de

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Wilcoxon: p< 0,001). As análises de correlação mostraram que o Forrageio se

correlaciona negativamente com o Deslocamento e Descanso, enquanto estes dois se

correlacionam positivamente. Não houve correlação entre o Forrageio e a Socialização

(Tabela 1).

DeslocamentoForrageioDescansoSocialização

60

50

40

30

20

10

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)

Figura 2 - Orçamento de atividades com valores medianos para Sotalia guianensis, em Baía Formosa - RN. (N=40 dias)

Tabela 1 - Correlação entre as categorias comportamentais observadas para Sotalia guianensis, em Baía Formosa – RN.

FORRAGEIO SOCIALIZAÇÃO DESLOCAMENTO DESCANSO

Forrageio Coef. de Correlação

1,000

p

Socialização Coef. de Correlação

0,094 1,000

p 0,283

Deslocamento Coef. de Correlação

-0,814(**) -0,272(*) 1,000

p 0,001 0,045

Descanso Coef. de Correlação -0,524(**) -0,124 0,058 1,000

p 0,001 0,223 0,362

**Correlação significativa com p≤ 0,01 *Correlação significativa com p≤ 0,05.

*

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44

O número máximo de animais realizando atividades por dia na enseada foi de

15 indivíduos e o número mínimo de um. O tamanho médio dos grupos foi de 4,41

animais, sendo o grupo mais freqüente (moda) constituído por 3 indivíduos. O número

de animais variou significativamente de acordo com o tipo de atividade (χ²p= 8; GL=

3; p< 0,046). Esta diferença deveu-se apenas ao número de animais em Forrageio, que

foi menor que o número de animais engajados em outras atividades (Figura 3).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

14

12

10

8

6

4

2

0

Núm

ero

de a

nim

ais

(med

iana

)

Figura 3 – Número mediano de golfinhos de acordo com o comportamento realizado em Baía Formosa

– RN.

De acordo com a localização dos animais dentro da enseada a freqüência com

que cada comportamento se expressou foi diferente (Figura 4). Foi observado que a

ocorrência do comportamento de Forrageio está concentrada na Área 1, sendo rara na

Área 2 e ausente na Área 3. Os comportamentos de Socialização e Deslocamento

ocorreram significativamente mais vezes na Área 2 que nas outras duas Áreas. O

Descanso ocorreu com maior freqüência na Área 3 e mais raramente na Área 1, não

apresentando diferença significativa entre as Áreas 2 e 3 (Tabela 2).

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DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

100

80

60

40

20

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)Área 3

Área 2

Área 1

Figura 4 - Orçamento de atividades com valores medianos para Sotalia guianensis, por área em Baía Formosa - RN.

Tabela 2 – Comparação dos escores das quatro categorias comportamentais entre as três áreas, em Baía Formosa, RN. Teste de Wilcoxon (5%). Área 1-Área 2 Área 1-Área 3 Área 2-Área 3

Z P Z P Z p

Forrageio -5.24 < 0.001 -5.24 < 0.001 -1.00 0.317

Socialização -3.74 <0.001 -1.60 0.109 -3.14 0.002

Deslocamento -5.44 < 0.001 -2.94 0.003 -4.70 <0.001

Descanso -4.70 <0.001 -4.01 < 0.001 -0.70 0.483

Observamos que o tamanho do grupo variou significativamente entre as Áreas,

sendo menor na Área 1 que nas Áreas 2 ou 3 (Z(A1 x A2)= -3,33; p= 0,001; Z (A1 x A3)= -

3,69; p< 0,001) (Figura 5). As análises indicaram que a freqüência dos

comportamentos não apresentou diferença significativa quando comparado com os

estados de maré, exceto no estado comportamental de Deslocamento que foi mais

freqüente na maré enchente (χ²p= 9,98; p= 0,019; Z(Ench-Seca) = -2,22; p= 0, 026, Z(Ench-

Cheia) = -2,09; p= 0,037, Z(Ench-Vaza) = -2,10; p= 0,035). O número de animais na área

também não demonstrou variação quando comparado com os estados de maré (χ²p=

2,648; p= 0,449 - Figuras 6, 7).

*

*

* *

*

* *

*

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46

Área 3Área 2Área 1

15

12

9

6

3

0

Núm

ero

de a

nim

ais

(med

iana

)

Figura 5 – Tamanho mediano do grupo de golfinhos por área dentro da enseada, em Baía Formosa - RN.

DeslocamentoForrageioDescansoSocialização

40

30

20

10

0

Freq

uenc

ia m

edian

a(%

)

VazanteCheiaEnchenteSeca

Figura 6 – Freqüência comportamental exibida pelo Sotalia guianensis de acordo com o estado de maré, em Baía Formosa-RN.

* *

*

*

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VazanteCheiaEnchenteSeca

15

12

9

6

3

0

Núm

ero

de a

nim

ais

(med

iana

)

Figura 7 – Número mediano de golfinhos presente na enseada durante os diferentes estados de maré, em Baía Formosa - RN.

O orçamento de atividades relacionado com as horas do dia mostrou que o

maior número de comportamentos foi apresentado no período entre 10:00 e 15:59h,

sendo as atividades pouco freqüentes no início da manhã (Figura 8). Porém, no

período entre 10:00 e 15:59 foi encontrado um maior número de animais e durante o

período das 07:00 as 09:59, verificou uma menor ocorrência de animais (Figura 9).

Figura 8 - Categorias comportamentais em porcentagem relacionada com período do dia, em Baía Formosa - RN.

Deslocamento

01530456075

7-9:59 10-12:59 13-15:59

Forrageio

01530456075

7-9:59 10-12:59 13-15:59

Socialização

01530456075

7-9:59 10-12:59 13-15:59

Descanso

01530456075

7-9:59 10-12:59 13-15:59

Área 1

Área 2

Área 3

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13:00-15:5910:00-12:5907:00-09:59

30

25

20

15

10

5

0

Núm

ero

de a

nim

ais

(med

iana

)

Figura 9 - Número mediano de golfinhos, Sotalia guianensis, por intervalos de horas, em Baía Formosa – RN.

Quando foram analisados apenas os intervalos com presença de animais nos

diferentes blocos horários, (MA= 07:00-09:59; ME= -10:00-12:59; TA= 13:00-15:59),

foi possível verificar que apenas o Descanso (χ²p = 7,96; p= 0,019; GL=2) diferiu

significativamente, sendo menos freqüente no período da manha e mais freqüente à

tarde (z(MA-TA) = -2,90; p= 0,004). As diferenças entre as demais categorias durante as

horas dia não foram significativas: Forrageio (χ²p = 2,79; p= 0,247; GL= 2);

Socialização (χ²p = 3,72; p= 0,156; GL= 2) e Deslocamento (χ²p = 0,533; p= 0,766;

GL= 2) (Figura 10).

DescansoDeslocamentoSocializaçãoForrageio

50

40

30

20

10

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)

13:00-15:59

10:00-12:59

07:00-09:59

Figura 10 – Freqüência comportamental do Sotalia guianensis de acordo com as horas do dia, em Baía Formosa - RN.

*

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49

Comparando as atividades apresentadas pelos botos em Baía Formosa, com as

apresentadas pelos botos que freqüentam a enseada do Curral, em Pipa, cujo

comportamento foi observado na mesma época de nossa pesquisa por outro

pesquisador. Verificamos diferença significativa apenas entre as categorias

comportamentais de Forrageio e Descanso: Forrageio mais freqüente na enseada do

Curral do que em Baia Formosa (U=118; Z= -2,58; p=0,01); e Descanso mais

freqüente em Baia Formosa (U= 63,5; Z= -4,11; p< 0,001). As diferenças observadas

entre Socialização (maior em Pipa) e Deslocamento (maior em Baia Formosa) não

foram estatisticamente significativas (U= 170,5; Z= -1,38; p= 0,17; U= 207; Z= -0,34;

p= 0, 73, respectivamente) (Figura 11).

Posteriormente, comparamos as três áreas de Baía Formosa com a enseada do

Curral, permitindo verificar que a Área 1 diferiu significativamente da enseada do

Curral em todas as categorias, exceto no Descanso. Os comportamentos apresentados

na Área 2 diferiram dos apresentados no Curral em todas as categorias. Já na Área 3

apenas o Forrageio e o Descanso diferiram significativamente do Curral (Tabela3).

DeslocamentoForrageioDescansoSocialização

70

60

50

40

30

20

10

0

Freq

uenc

ia m

edia

na (%

)

(Curral)Baía Formosa

Figura 11 – Orçamento de atividades com valores medianos para Sotalia guianensis, em Baía Formosa e na Praia de Pipa (enseada do Curral) – RN.

*

*

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Tabela 3 – Comparação entre os comportamentos apresentados na área de Baía Formosa (de forma estratificada) com a praia de Pipa (enseada do Curral) - RN

Área 1 - Curral Área 2 - Curral Área 3 – Curral

U Z p U Z p U Z P

Forrageio 14 -5.20 < 0.001 14 -5.55 < 0.001 10.5 -5.71 < 0.001

Socialização 117 -3.18 0.001 137 -2.15 0.032 181 -1.12 0.263

Deslocamento 32 -4.75 < 0.001 122.5 -2.47 0.014 170 -1.27 0.204

Descanso 172.5 -1.77 0.078 55.5 -4.3 < 0.001 40 -4.70 < 0.001

DISCUSSÃO

A ocorrência de cetáceos em diferentes áreas tem sido relacionada a muitas

variáveis ambientais, inclusive com o relevo submarino (Hui 1979). Na área da

Ecologia Comportamental são inúmeros os estudos mostrando que a distribuição dos

recursos alimentares e a estrutura do hábitat são fatores ecológicos que determinam e

influenciam as estratégias comportamentais, a organização social e a composição e o

tamanho dos grupos (Krebs & Davies 1997; Sterck et al. 1997, Würsig & Würsig

1980; Shane 1990; Wells et al. 1980).

Os botos cinza que freqüentam Baía Formosa apresentaram um orçamento de

atividades bastante semelhante ao descrito por Geise et al. (1999) para uma outra

população de boto cinza observada em Cananéia. Em ambos os casos, metade do

tempo é empregada em Deslocamento (49,58% em BF e 46,8% em Cananéia), um

terço do tempo em Forrageio (26,92% em BF e 33,9% em Cananéia), e o restante do

tempo sendo ocupado por Descanso (14,56%) e Socialização (2,13%). Por outro lado,

foi verificada diferença na utilização de subáreas dentro de enseada de Baia Formosa,

assim como nas freqüências das atividades apresentadas entre duas enseadas próximas

(Baia Formosa e Curral).

Independentes dos procedimentos metodológicos, diferenças nos orçamentos de

atividades são esperadas quando comparadas populações em habitats e de tamanho

diferentes, uma vez que para cada população em cada ambiente haverá uma proporção

hipotética de Forrageio Ótimo. Por exemplo, esta variação é encontrada nos estudos

com Tursiops em que o Forrageio varia de 15 - 36% em populações diferentes, o

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Deslocamento varia entre 48 - 65%, o Descanso varia entre 3 - 14% e a Socialização

entre 5 - 17% (Bearzi et al. 1999).

Duas explicações não mutuamente exclusivas para esta similaridade de

resultados nos orçamentos de atividades das duas áreas (Baia Formosa e Cananéia) são

possíveis. Primeiro: é possível que estas pequenas diferenças percentuais entre as áreas

tenham grande significado ecológico e comportamental para os animais em estudo e,

portanto, estejam de acordo com as expectativas das teorias da Ecologia

comportamental. Segundo: é possível que o orçamento de atividades construído a

partir de médias (e medianas) gerais de diferentes subáreas dentro de um mesmo

habitat (como diferentes subáreas dentro da mesma enseada ou baia) não reflitam

variações de estratégias alimentar e de comportamento dos animais que permitam

comparações entre áreas muito distantes. Este sugestão é corroborada pela verificação

de que ocorreu uma estratificação na realização de determinados estados

comportamentais na área de estudo, tornando visível um padrão de atividade em cada

uma delas.

Em conjunto, estas comparações de orçamentos de atividades em diferentes

áreas, evidencia tanto a flexibilidade comportamental dos animais quanto a

necessidade de áreas com diferentes fisionomias para população, e remetem à

necessidade da realização de mais estudos para a definição das áreas de conservação

Quanto ao padrão de atividades observado em Baia Formosa, a grande

freqüência de Deslocamento pode ser explicada pelo fato dos animais aquáticos

precisarem estar em constante movimento devido a flutuabilidade do ambiente. Outra

possibilidade relaciona-se à descrição deste comportamento adotada neste trabalho,

sendo possível que uma parte do “deslocamento” observado, seja na verdade

componente de uma outra categoria comportamental, como Descanso. Entretanto, a

resolução deste impasse só seria possível com a categorização de diversos tipos de

Deslocamento (Rápido, Médio, Lento etc), o que não foi objetivo deste trabalho.

A população de boto cinza de Baía Formosa apresentou uma maior freqüência

para o Descanso (14,56%) do que para a Socialização (2,13%). Pouco se sabe sobre o

comportamento de repouso para cetáceos, mas segundo Würsig & Würsig (1980),

Tursiops truncatus descansa em breves períodos ao longo do dia. Norris & Dohl

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(1980) afirmam que os animais mantêm um intenso ritmo de atividade à noite

semelhante ao longo do dia.

Assim como o padrão comportamental, o tamanho de grupo também variou de

acordo a localização espacial dos animais dentro da enseada e com tipo de atividade. O

comportamento de Forrageio ocorreu com maior freqüência próximo à zona de

arrebentação (Área 1), e nesta área os animais se encontravam de forma dispersa com

uma moda de dois animais. Grupos compostos por menos animais durante atividades

relacionadas à alimentação também foram observados em Tursiops truncatus por

Bearzi et al. (1999).

É provável que o comportamento de Forrageio do boto cinza ocorra com maior

freqüência na Área 1 devido a uma melhor otimização na captura da presa. Através de

uma estratégia de pesca em que um cardume é levado em direção à praia diminuindo

assim sua rota de fuga, associado aos fatores oceanográficos e topográficos da região.

O menor tamanho dos grupos de alimentação pode indicar que nesta área está

ocorrendo uma baixa disponibilidade de alimento.

Grupos de seis animais em Deslocamento e Socialização foram mais freqüentes

no meio da Enseada e grupos de seis animais em Descanso mais freqüente na área

mais profunda. Esta escolha de determinadas áreas para a realização de

comportamentos específicos é uma característica comum do Sotalia. Cremer (2004)

sugeriu que S. guianensis na Baía da Babitonga, SC, seleciona positivamente áreas

com maior número de isóbatas heterogêneos. Daura-Jorge et al. (2005) verificaram

que o boto cinza na Baía Norte - SC utiliza diferentes áreas para a realização de

comportamentos distintos, assim como visto por Flores & Bazzalo (2004) na mesma

localidade. Este padrão do Sotalia assemelha-se ao descrito por Wilson et al. (1997)

para o Tursiops truncatus. Os autores sugerem que áreas grande variação topográfica

são preferidas pelos animais.

Ao longo de todo o trabalho foram observados de 1 a 3 grupos,

simultaneamente, utilizando a enseada em diferentes áreas. Os tamanhos de grupos

mais freqüentes na área de estudo foram de 3 e 6 animais, semelhante ao verificado em

outros estudos com a mesma espécie, confirmando a tendência desta espécie para a

formação de pequenos grupos sociais (Hetzel & Lodi 1993). O tamanho médio de

grupo encontrado em Cananéia e na Baía de Guanabara foi de 2 animais, (Geise 1991;

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Geise et al. 1999). Azevedo et al. (2005) verificaram que grupos compostos por 2 a 10

animais eram mais comumente observados na Baia de Guanabara, e Edwards &

Schnell (2001), registraram uma média de 3 animais em estudo com a mesma espécie,

na Nicarágua.

A ausência de filhotes na composição dos grupos não permitiu uma

classificação etária em adultos e imaturos. A disponibilidade de alimento pode estar

afetando a composição do grupo, já que a área é propícia para a incidência de filhotes:

enseada rasa e abrigada. Lodi (2003) sugere que grandes grupos fornecem uma maior

proteção para recém-nascidos e aumentam as oportunidades para o desenvolvimento

de processos de aprendizagem. Em Baía Formosa, a ausência ou não visualização de

filhotes pode ser uma justificativa para o tamanho de grupo não apresentar um grande

número de animais.

Sotalia guianensis em Baía Formosa apresenta um padrão comportamental

relacionado ao número de animais presentes em cada hora do dia. Nas primeiras horas

da manhã existe uma menor presença de animais na enseada, podendo ser este o

período em que os golfinhos iniciam a sua entrada na área. Depois no inicio da tarde,

começam a deixar à área, verificando-se uma baixa freqüência dos golfinhos

principalmente nas últimas horas do dia. Este padrão é similar ao descrito para outros

grupos avistados em Cananéia (Geise et al. 1999) e na Baía de Guanabara (Geise

1991), sendo observados poucos animais e, conseqüentemente, poucos

comportamentos, no início do dia. Os Lagenorhynchus obscurus, também são mais

ativos durante tarde, ao mover-se para o mar aberto (Würsig & Würsig 1980). Stone et

al. (1995) estudando Cephalorhynchus hectori constataram que os golfinhos

apresentaram um movimento de entrada e saída da área de estudo, na Baía de Akaroa,

onde os animais tendiam a nadar para o interior da baía pela manhã e para fora desta

no decorrer da tarde.

Würsig & Würsig (1980) e Shane (1986) discutem que esta variação diária do

comportamento pode ser influenciada pelo foto-período ou pode estar relacionada

indiretamente com a presa. Entretanto, os resultados deste trabalho mostram que,

quando presentes no início da manhã, os animais apresentam um padrão

comportamental semelhante ao dos outros períodos do dia, exceto pelo Descanso que é

menos freqüente. Assim, sugere-se que esta variação diária observada nos diversos

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estudos de Sotalia deva-se simplesmente ao horário de chegada dos animais às áreas

de observação, ao regressarem de seu local de dormida, e não a algum padrão

cronobiológico relacionado ao foto-período.

Uma vez que os trabalhos relacionam a influência da maré ao comportamento

alimentar do animal, seja pela disponibilidade de presas, seja através de estratégias de

captura de presas, a ausência de influência do estado de maré no comportamento dos

animais em Baía Formosa é intrigante. Pode-se sugerir que a não influência da maré

relaciona-se à disponibilidade de alimento no local. Deve-se salientar que, apesar da

proporção do comportamento de Forrageio nesta área ser semelhante à descrita para

outras áreas, isto não significa que o sucesso no Forrageio seja o mesmo.

Diferentemente das outras, a área deste estudo não é estuarina e relatos de pescadores

indicam um decréscimo no número de peixes no local devido ao aporte de um esgoto

no local. É possível que esta baixa disponibilidade alimentar force a apresentação de

comportamentos de Forrageio em diferentes estados de maré, e que o uso da área de

Baia Formosa seja para a apresentação de Deslocamento cuja função (Social ou

Descanso) não tenha sido detectada neste estudo.

Por fim, as análises de correlação mostraram que os golfinhos estão

experimentando o mesmo trade-off comportamental que os descrito pela literatura para

mamíferos terrestres: o Forrageio correlacionou negativamente com o Deslocamento e

com o Descanso. Em outras palavras, quanto maior o tempo empregado em Forrageio,

menor o tempo despendido em Deslocamento e Descanso. Não houve, entretanto,

correlação negativa entre o Forrageio e a Socialização, o que completaria o padrão

mamífero terrestre. Esta ausência de correlação pode dever-se à definição de

Socialização adotada, que considerou apenas estados de superfície com contatos

físicos.

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55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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59

CONCLUSÃO GERAL

Trinta anos depois da publicação dos artigos de Altmann (1974) e Altmann &

Altmann (1977), a mensuração do comportamento através de uma metodologia

adequada que possibilite uma estimativa sobre os comportamentos registrados e que

forneça uma ferramenta confiável para a comparação entre amostras de populações

diferentes, ainda é um desafio para os pesquisadores na área de Etologia. Praticamente

todos os trabalhos envolvendo o estudo do comportamento animal enfrentam

dificuldades de ordem metodológica, e este desafio é ainda maior para os estudiosos

do comportamento de cetáceos.

A revisão de Mann (1999) e suas recomendações para utilização de métodos de

amostragem sistemática para os estudos de cetáceos parecem ter surtido efeito, e

atualmente trabalhos em cetologia já se preocupam em explicitar com mais precisão

seus métodos de coleta e análises de dados. Restam ainda refinamentos a serem feitos,

especialmente em metodologias que permitam comparabilidade de dados, permitindo

com que eventuais diferenças nos padrões comportamentais observados possam ser

analisadas de acordo com fatores ambientais e não confundidas devido a imprecisões

nas medidas.

Os dois trabalhos aqui apresentados oferecem contribuições para o

conhecimento científico da espécie Sotalia guianensis em dois níveis: explora

possíveis metodologias para coleta de dados comportamentais e discute o orçamento

de atividades de uma população que ocupa um ambiente marinho, em contraposição

aos ambientes estuarinos típicos das populações até então estudadas.

- Descanso foi a categoria comportamental com maior valor modal de duração: 8

minutos (i.e. 4 intervalos de 2 minutos). O comportamento de Forrageio apresentou

duração modal de 6 minutos, o Deslocamento de 4 minutos e a Socialização de 2

minutos. Porém, foi observado grande desvio-padrão na duração dos

comportamentos.

- A localização dentro da enseada, o horário do dia, a maré e o número de animais no

grupo tiveram mínima influência na duração dos comportamentos.

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- Os dois resultados acima sugerem um padrão oportunista de uso da área pelos

botos, possivelmente devido às características de distribuição e padrão de atividade

de presas em ambientes marinhos.

- As freqüências comportamentais não diferiram significativamente quando

comparados os resultados obtidos pelos métodos animal focal e grupo focal,

possivelmente devido à ausência de dimorfismo sexual e à baixa presença de

filhotes nas enseadas durante o período de estudos.

- Os tamanhos de grupos mais freqüentes foram de 3 a 6 animais. Semelhante ao

verificado em outros estudos com a mesma espécie, confirmando a tendência desta

espécie para a formação de pequenos grupos sociais. Grupos de Forrageio foram

menores que grupos realizando outras atividades.

- Nas primeiras horas da manhã existiu uma menor presença de animais na enseada,

porém quando presentes no início da manhã, os animais apresentaram um padrão

comportamental semelhante ao dos outros períodos do dia.

- Dentro da área de estudo (Baía Formosa) ocorreu uma estratificação na realização

de estados comportamentais, sendo o Forrageio mais freqüente na área próxima à

zona de arrebentação; Deslocamento e Socialização foram mais freqüentes no meio

da Enseada; Descanso mais freqüente na área mais profunda. Da mesma forma,

houve diferença na freqüência comportamental quando comparadas duas enseadas

distando apenas 10 km.

- As análises de correlação mostraram que os golfinhos estão experimentando o

mesmo trade-off comportamental que os descrito pela literatura para mamíferos

terrestres.

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