estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · o programa traz muitas vantagens...

21
XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ESTUDO COMPARATIVO DA QUALIDADE DE VIDA DOS PRONAFIANOS DO GRUPO C E DOS NÃO-PRONAFIANOS DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO CARIRI - CE SÂMIA MARIA BRAÚLIO MAIA (1) ; ELIANE PINHEIRO DE SOUSA (2) . 1.UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, CRATO, MG, BRASIL; 2.URCA / UFV, VIÇOSA, MG, BRASIL. [email protected] POSTER AGRICULTURA FAMILIAR Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do grupo C e dos não-pronafianos do município de Santana do Cariri - CE Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar Resumo A agricultura familiar é uma forma de produção que vem ganhando espaço nas políticas e discussões no meio rural ao longo dos anos, através de inovações tecnológicas, investimentos, projetos que viabilizam a modernização da produção agrária, impulsionando o crescimento do setor, bem como da economia, buscando alternativas para melhorar as condições de vida dos agricultores. Neste sentido, este trabalho objetivou descrever o perfil socioeconômico e mensurar a qualidade de vida dos agricultores familiares beneficiários do PRONAF C e dos agricultores não-assistidos pelo PRONAF no município de Santana do Cariri-CE. Para tanto, fez-se uma revisão de literatura e uma pesquisa direta com os agricultores familiares. Para cumprir com os objetivos desta pesquisa, empregou-se análise tabular e descritiva, assim como a mensuração da qualidade de vida por meio da construção do índice de qualidade de vida dos pronafianos (IQVP) e dos não-pronafianos (IQVN), utilizando os seguintes indicadores: educação, saúde, moradia, aspectos sanitários, aspectos econômicos, alimentação, informação/comunicação e lazer. Desses indicadores, constatou-se que moradia, informação/comunicação e educação apresentaram melhores resultados em ambos os grupos de agricultores familiares. Por outro lado, os piores resultados revelados foram os indicadores saúde, aspectos econômicos e alimentação. Os resultados da pesquisa também indicaram que

Upload: dobao

Post on 08-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1

ESTUDO COMPARATIVO DA QUALIDADE DE VIDA DOS PRONAFI ANOS DO GRUPO C E DOS NÃO-PRONAFIANOS DO MUNICÍPIO DE SANTA NA DO CARIRI - CE SÂMIA MARIA BRAÚLIO MAIA (1) ; ELIANE PINHEIRO DE S OUSA (2) . 1.UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, CRATO, MG, BRASI L; 2.URCA / UFV, VIÇOSA, MG, BRASIL. [email protected] POSTER AGRICULTURA FAMILIAR

Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do grupo C e

dos não-pronafianos do município de Santana do Cariri - CE

Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar

Resumo A agricultura familiar é uma forma de produção que vem ganhando espaço nas políticas e discussões no meio rural ao longo dos anos, através de inovações tecnológicas, investimentos, projetos que viabilizam a modernização da produção agrária, impulsionando o crescimento do setor, bem como da economia, buscando alternativas para melhorar as condições de vida dos agricultores. Neste sentido, este trabalho objetivou descrever o perfil socioeconômico e mensurar a qualidade de vida dos agricultores familiares beneficiários do PRONAF C e dos agricultores não-assistidos pelo PRONAF no município de Santana do Cariri-CE. Para tanto, fez-se uma revisão de literatura e uma pesquisa direta com os agricultores familiares. Para cumprir com os objetivos desta pesquisa, empregou-se análise tabular e descritiva, assim como a mensuração da qualidade de vida por meio da construção do índice de qualidade de vida dos pronafianos (IQVP) e dos não-pronafianos (IQVN), utilizando os seguintes indicadores: educação, saúde, moradia, aspectos sanitários, aspectos econômicos, alimentação, informação/comunicação e lazer. Desses indicadores, constatou-se que moradia, informação/comunicação e educação apresentaram melhores resultados em ambos os grupos de agricultores familiares. Por outro lado, os piores resultados revelados foram os indicadores saúde, aspectos econômicos e alimentação. Os resultados da pesquisa também indicaram que

Page 2: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

2

dentro dos parâmetros estabelecidos, o IQVP configurou-se como média qualidade de vida, enquanto o IQVN apresentou baixa qualidade de vida. Portanto, verifica-se que o PRONAF tem contribuído para o desenvolvimento do município, tendo em vista que de certa forma alavanca a qualidade de vida dos agricultores, bem como a economia local. Palavras-chaves: qualidade de vida, PRONAF, Santana do Cariri Abstract

Familiar agriculture is a production way that comes gaining space in the politics and discussions in the rural way throughout the years, through technological innovations, investments, projects that make possible the modernization of the agrarian production, stimulating the growth of the sector, as well as of the economy, searching alternative for improving the conditions of life the agriculturists. In this direction, this work objectived to describe the socioeconomic profile and to measure the quality of life of the beneficiary familiar agriculturists of PRONAF C and the agriculturists not – attended for the PRONAF in the city Santana do Cariri – CE. For in such a way, was done a revision of literature and a direct research with the familiar agriculturists. To fulfill with the objectives of this research, it was used tabular and descriptive analysis as well as the measurement of the quality of life by means of the construction of the indices of life quality of the “pronafianos” (IQVP) and the “não – pronafianos” (IQVN), using the following indicators: education, health, housing, sanitary aspects, economic aspects, feeding, information/communication and leisure. These indicators prove you that housing, information/communication and education had presented better results in both the groups of familiar agriculturists. On the other hand, the worse ones results showed in both the groups health, economic aspects and feeding. The results of the research had also indicated that inside of the established parameters, the IQVP were configured as average quality of life, while the IQVN presented low quality of life. Therefore, the contribution PRONAF is verified that in for the development of the city, in view of that of certain form handspike the quality of life of the agriculturists, as well as the local economy. Key Words: quality of life, PRONAF, Santana do Cariri 1 INTRODUÇÃO

O Governo Federal vem buscando a cada dia desenvolver ações no meio rural brasileiro para permitir a entrada de produtores no mercado atual, a fim de satisfazer a necessidade de elaboração de mecanismos que proporcionem aos agricultores melhores condições para produzir. Uma das maiores preocupações para resolução desse problema foi certamente à expansão e principalmente a diversificação na produção. Assim, mecanismos são desenvolvidos para melhoria na agricultura, em especial na agricultura familiar, concentrando esforços para ampliar e fortalecer o processo produtivo, gerando trabalho e renda aos agricultores familiares e suas organizações.

Para Barbosa e Sousa (2004), a agricultura familiar é a principal influência do desenvolvimento comercial e conseqüentemente, dos serviços nas pequenas e médias cidades do Brasil. Com o estímulo a agricultura, dinamiza-se o aumento nas outras esferas econômicas. Instituir um projeto de desenvolvimento municipal ou mesmo regional,

Page 3: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

3

fundamentado na agricultura familiar sustentável não é uma proposta política para o setor rural, é uma necessidade e uma condição de fortalecimento da economia de um grande número de municípios brasileiros. É o desenvolvimento com distribuição de renda no setor rural que viabiliza e apóia o crescimento do setor urbano (SCHCH,1999 apud GOMES, 2002).

No Ceará, a pobreza ainda é um grave problema deste Estado, já que 77% de sua população da área rural vivem na miséria (NEIVA, 2000 citado por BRITO, 2002).

De acordo com Souza (1999) citado por Correia (2003), para diminuir a pobreza no meio rural, não basta redistribuir terras. Assentar colonos é essencial a esse respeito, como o é para aumentar a oferta de alimentos e matérias-primas para o meio urbano, mas não é um mecanismo satisfatório para reduzir a pobreza no campo. Necessita-se de medidas complementares, como crédito, extensão rural e investimentos em infra-estrutura.

Segundo o Banco Mundial (1999) citado por Brito (2002), para reduzir a pobreza, o Estado do Ceará precisa concentrar seus esforços em apoio ao pequeno produtor com projetos que o desenvolvam.

Nesse sentido, destaca-se a relevância do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, que surge com o intuito de propiciar melhor qualidade de vida para a população rural. Com a criação do PRONAF, atendeu-se a uma antiga reivindicação dos trabalhadores do campo, que colocava a necessidade da implementação de políticas de desenvolvimento rural específicas para o segmento numericamente mais importante, porém o mais fragilizado da agricultura brasileira, tanto em termos de habilidade técnica como de inclusão nos mercados agropecuários.

Nessa discussão, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) merece uma atenção especial, sendo um dos acontecimentos mais importantes que marcaram o desenvolvimento das políticas públicas para o meio rural brasileiro. O advento desse Programa vem representar o reconhecimento do Estado com os agricultores familiares que antes eram considerados apenas como produtores de baixa renda e que produziam simplesmente para a sua subsistência.

Em 1996, quando foi criado o Programa, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, apresentou-se como finalidade o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo produtor familiar, de forma a integrá-lo no ramo de agronegócios, proporcionando-lhe aumento de renda e acréscimo no valor do produto e da propriedade, através da modernização no sistema de produção, reconhecimento do produtor rural e a profissionalização dos produtores e de suas famílias.

Assim, o PRONAF é um programa que visa ao apoio do desenvolvimento rural, a partir do fortalecimento da agricultura familiar, de forma a construir um padrão de desenvolvimento sustentável para os agricultores familiares, aumentando e diversificando a produção, proporcionando crescimento dos níveis de renda, bem-estar social e melhores condições de vida.

O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do financiamento com condições adequadas a realidade da agricultura familiar e para o país o PRONAF vem estimular a permanência do agricultor no campo com mais dignidade e qualidade de vida.

O PRONAF apresenta para os agricultores familiares várias modalidades de financiamento para a produção, divididas em seis categorias, que são: Grupo A, Grupo A/C, Grupo B, Grupo C, Grupo D e Grupo E, cada um com seu público - alvo específico, finalidade de financiamento, limite de crédito para o agricultor, enfim, informações necessárias à aquisição do financiamento.

Page 4: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

4

Para este trabalho, escolheu-se o Grupo C, como objeto de pesquisa, por ser atualmente a única modalidade de financiamento da produção ativa na área de estudo, que se refere ao município de Santana do Cariri, no Estado do Ceará. Para fazerem parte deste grupo, os agricultores devem obter renda bruta anual entre R$ 2.000,00 a R$ 14.000,00. Para custeio, o limite de financiamento é de R$ 3.000,00, com uma taxa de juros de 4% ao ano e prazo de pagamento de até dois anos e para investimentos, o limite é de R$ 6.000,00 com prazo de até oito anos para pagar e uma mesma taxa de juros anual (CAZELLA et al., 2004).

A partir dessas informações, é importante destacar que o PRONAF vem conquistando espaço na agricultura familiar do município, e como resultado poderá trazer para os agricultores melhores condições de produção, já que esta é uma das principais fontes de renda do município, fornecendo aos agricultores familiares, alimentos para o próprio consumo familiar e para o mercado. Neste contexto, justifica-se a relevância deste estudo se dedicar à compreensão desta temática e a contribuição para seu aprofundamento com intuito de propiciar melhorias nas condições socioeconômicas dos agricultores familiares e conseqüentemente desenvolvimento para o município.

Sendo assim, este trabalho se propõe fazer um estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do grupo C e dos não-pronafianos do município de Santana do Cariri-CE, ressaltando o perfil socioeconômico e a qualidade de vida desses dois grupos de agricultores familiares. 2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este referencial teórico enfoca aspectos conceituais acerca de qualidade de vida e índice de qualidade de vida. Observa-se que a qualidade de vida vem ao longo dos anos se tornando uma preocupação mundial, embora não exista ainda uma conceituação clara e precisa desta expressão. Segundo Brito (2002):

“Desde os primórdios, o homem já buscava a melhoria da qualidade de vida. Isto pode ser evidenciado pelo fato de o homem primitivo ser nômade e andar sempre em bando à procura de ambiente adequado para satisfazer as suas necessidades. Isto porque a sua maior preocupação era com a sobrevivência. Naquela época, o termo qualidade de vida era sinônimo de subsistência e segurança. Na Idade Média (Idade das Trevas), o homem era submetido aos preceitos ditados pela Igreja, do contrário, era apenado. Naquele período, melhor qualidade de vida estava associada a viver nos feudos, acomodando-se, subjugando-se aos senhores feudais e seguindo as normas da Igreja. No século XVIII, com a Revolução Industrial, a qualidade de vida passou a ser equivalente a viver nas cidades industriais, utilizar máquinas no trabalho nas grandes corporações, de onde o assalariado retira sua renda para satisfazer as suas necessidades e de sua família, No século XX, o conceito de qualidade de vida se transforma em consumo, que passou a ser o símbolo da utopia e padrão de medição de qualidade de vida. Mais recentemente, o conceito de qualidade de vida passou a ser menos o bem-estar conseguido graças ao uso de bens, do que o consumo do próprio bem e uso das máquinas de última geração. O homem percebe que a qualidade de vida como sinônimo de consumo para todos fica impossível”

Page 5: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

5

Para Margarete et al. (2002), a temática da qualidade de vida vem ganhando espaço na discussão sobre os objetivos a serem alcançados ou preservados por políticas públicas. A análise sobre a qualidade de vida envolve perspectivas múltiplas: uma delas seria a possibilidade de sua utilização no planejamento do desenvolvimento econômico, social e urbano; outra seria sua evolução ao longo do tempo e, por fim, a perspectiva de como uma dada comunidade considera e percebe a qualidade de vida. Assim, é um conceito complexo, de conteúdo subjetivo, de caráter qualitativo, exprimindo juízos de valor, caráter ético e político.

Embora não exista uma conceituação definitiva e universal sobre qualidade de vida, de acordo com Mendes Segundo (1998), há, no entanto, um consenso entre os estudiosos com relação ao conceito de qualidade de vida. Primeiramente, quando se refere aos elementos universais do bem-estar humano, que tem como enfoque a satisfação de necessidades básicas por parte do homem, e em segundo, quando se relacionam com os componentes que constituem o índice de qualidade de vida, cuja satisfação pode assumir variadas formas, dependendo, portanto, das experiências e dos valores culturais do grupo social a que se procura aplicá-lo.

Assim, a mensuração e a definição da qualidade de vida referem-se às condições necessárias à família ou comunidade, onde estas sejam satisfatórias aos requisitos básicos a um desenvolvimento do homem em sociedade.

Segundo Fernandes (1997), em 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com o objetivo de medir a qualidade de vida e o progresso de determinadas populações, desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tem como fundamentação à importância de desenvolvimento humano. Esse conceito consiste no processo de ampliação da gama de opções e oportunidades das pessoas. Dentro desse aspecto, três alternativas básicas estão presentes em todos os níveis de desenvolvimento e aparecem como condições para as demais: desfrutar de uma vida longa e saudável, adquirir conhecimento e ter acesso aos recursos necessários a um padrão de vida descente.

De acordo com Mendes Segundo (1998), a aplicação do IDH produziu uma classificação em termos de distribuição espacial dos países, relativos à satisfação das necessidades básicas e essenciais (saúde, educação e renda). O IDH verificou que o desenvolvimento econômico não acarreta diretamente em desenvolvimento social. Assim, para avaliar o desenvolvimento seria necessário, além da análise da distribuição de renda, analisar também, os indicadores de caráter social de forma mais individualizada. Utilizando-se da metodologia deste indicador, produziu-se o IDS - Índice de Desenvolvimento Social, classificando por grau de desenvolvimento as regiões brasileiras. Inicialmente o estudo tomou como indicadores: esperança de vida, taxa de alfabetização, número de anos de permanência na escola e o grau de concentração de renda; depois acrescentou o acesso da população a condições de vida adequadas. Verifica-se, assim, que os indicadores selecionados tanto no IDH quanto no IDS estão centrados no indivíduo e expressam a qualidade de vida da população com base na satisfação das necessidades básicas individuais.

Segundo Khan e Passos (2001), apesar de inúmeras críticas voltadas a metodologia do cálculo do IDH, o importante é que este índice gerou na comunidade científica a possibilidade de se construir formas para se medir a qualidade de vida. Neste tocante, muitos trabalhos foram realizados, tomando por base o IDH, com algumas alterações para adaptar a cada trabalho. Dentre estes, podem-se citar: o Índice de Vida - INV e o Índice de

Page 6: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

6

Desenvolvimento Relativo - IDR, desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA (1993).

A partir de então, vêm se construindo índices de qualidade de vida, que são usados como referência para políticas públicas. Diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos no sentido de identificar o nível de qualidade de vida de algumas localidades, tais como o de Fernandes (1997), Brito (2002), Correia (2003) e Fiúza (2005), dentre outros, que buscam mostrar ao setor público a realidade que vive essas famílias que precisam de políticas públicas que sejam destinadas para promover melhores condições de vida.

3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

De acordo com o IPECE1 (2002), o município de Santana do Cariri está localizado

no sul do Ceará, mais precisamente na microrregião do Cariri. Apresenta uma área de 768,77 km² e limita-se ao norte com os municípios de Nova Olinda (CE), Altaneira (CE), Assaré (CE), ao sul com o Estado de Pernambuco, ao leste com Crato (CE) e Nova Olinda (CE) e ao oeste com Potengi (CE) e Araripe (CE). A distância da capital (Fortaleza) é de 579 km. Possui uma população de 16. 847 habitantes, sendo 48,54% residentes na zona urbana e 51,64% na zona rural. Seu clima é semi-árido, semi-árido brando e subúmido, com chuvas de janeiro a maio e sua temperatura média anual é de 25º C. 3.2 Método analítico

A qualidade de vida dos pronafianos do grupo C e dos não-pronafianos foi

mensurada a partir do índice de qualidade de vida, constituído pelos seguintes indicadores: educação; saúde; moradia; aspectos sanitários; aspectos econômicos; alimentação; informação e comunicação; lazer.

Fiúza (2005) descreve que após a definição desses indicadores serão atribuídos escores e pesos, sendo que os escores serão utilizados na escala crescente, atribuindo-lhes valores, os quais irão indicar a posição dos beneficiários no Programa e os pesos serão ponderados através da opinião dos próprios beneficiários, variando de 1 a 3, em que 1 representa baixa satisfação; 2 média satisfação; e 3 alta satisfação. Assim, os beneficiários estarão expressando a importância relativa de cada indicador na formação de sua qualidade de vida.

Desta forma, o Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C – Custeio (IQVP) pode ser expresso matematicamente como:

∑∑

=

=

=

=n

jm

iii

m

i

PE

PijEij

nIQVP

1

1

1

maxmax.

.1

Esta formulação também pode ser utilizada para a mensuração do índice de

qualidade de vida dos não-pronafianos (IQVN).

1 Instituto de Pesquisa Econômica do Ceará.

Page 7: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

7

A contribuição de cada indicador do Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C (IQVP) é obtida da seguinte forma:

=

∑∑

==

=m

iii

n

j

n

Jijij

i

PE

pEC

11

1

maxmax.

.

Onde: IQVP = Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C-Custeio; Eij = escore do i-ésimo indicador, obtido pela j-ésima família; Pij = peso do i-ésimo indicador, definido pela j-ésima família; i = 1, 2, 3, ... , m; j = 1, 2, 3,..., n; Emaxi = escore máximo do i-ésimo indicador; Pmaxi = peso máximo do i-ésimo indicador; Cii = contribuição do indicador i no Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos; n = número de pronafianos do Grupo C, e m = número de indicadores.

Esta expressão algébrica descrita da contribuição do indicador i no Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C (Cii) também pode ser empregada para verificar a contribuição de cada indicador do Índice de Qualidade de Vida dos Não-Pronafianos (IQVN), sendo que neste caso “n” representa o número de não-pronafianos.

O Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C (IQVP) e dos Não-Pronafianos (IQVN) estão compreendidos no intervalo entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de 1, melhor será o nível de qualidade de vida. Portanto, considerando esse intervalo estabelecido, serão adotados os seguintes critérios: a) Baixa qualidade de vida: 0 < IQVP ≤ 0,5 e 0 < IQVN ≤ 0,5 b) Média qualidade de vida: 0,5 < IQVP ≤ 0,8 e 0,5 < IQVN ≤ 0,8 c) Alta qualidade de vida: 0,8 < IQVP ≤ 1,0 e 0,8 < IQVN ≤ 1,0.

Para a medição do Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C

(IQVP) e dos Não Pronafianos (IQVN) foram considerados os seguintes indicadores com seus respectivos escores: i) educação, ii) saúde, iii) moradia, iv) aspectos sanitários, v) aspectos econômicos, vi) alimentação, vii) informação e comunicação, viii) lazer.

i) Indicador Educação: Considera a disponibilidade de serviços educacionais para os pronafianos do grupo C e não-pronafianos e sua família e o quantitativo de analfabetos na família dos agricultores familiares, de acordo com os seguintes escores: i.1) Qual a utilização de serviços educacionais pelas famílias de sua comunidade? (0) para ausência de escolas; (1) para presença de escolas de ensino fundamental e (2) para presença de escolas de ensino médio. i.2) Quantos analfabetos existem em sua família? (0) para mais de 3 familiares; (1) quando houver 1 a 3 familiares e (2) para nenhum familiar.

ii) Indicador Saúde: Verifica a disponibilidade de serviços de saúde do agricultor familiar e de sua família, conforme os escores a seguir: (0) se não houver disponibilidade de nenhum

Page 8: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

8

serviço de saúde; (1) se tiver assistência por agente de saúde e (2) se possuir assistência médica.

iii) Indicador Moradia: Mostra o tipo de construção do domicílio e o tipo de iluminação da residência do agricultor familiar e de sua família, como segue: iii.1) Qual o tipo de construção do seu domicílio? (0) para casa de taipa; (1) para casa de tijolo, sem reboco e (2) para casa de tijolo, com reboco. iii.2) Qual o tipo de iluminação de sua residência? (0) para lampião a querosene ou lamparina; (1) para energia com gerador / bateria e (2) para energia elétrica.

iv) Indicador Aspectos Sanitários: Compreende as seguintes variáveis: disponibilidade de água para o consumo humano e destino dos resíduos sólidos domiciliares, de acordo com os seguintes escores: iv.1) Qual a sua disponibilidade de água para o consumo humano? (0) para água proveniente dos rios, açudes, poços, cacimbas e outros; (1) para água fervida ou filtrada e (2) para água mineral. iv.2) Qual o destino dos resíduos sólidos domiciliares? (0) para lixo jogado nos rios, canais ou na superfície; (1) para lixo enterrado ou queimado e (2) para lixo recolhido pelos carros da Prefeitura.

v) Indicador Aspectos Econômicos: Verifica a renda média mensal e os bens duráveis dos agricultores familiares e de sua família, como se segue: v.1) Qual a sua renda média mensal familiar? (0) possui renda menor do que 1 salário mínimo; (1) possui renda entre 1 a 2 salários mínimos e (2) possui renda maior do que 2 salários mínimos. v.2) Na sua residência, você possui: (0) para nenhum bem durável ; (1) se possuir Rádio, televisão, ferro de passar, liquidificador, fogão a gás, bicicleta e / ou outros bens necessários e (2)se além dos bens necessários, possuir também antena parabólica, DVD, celular, computador, carro e / ou outros bens de luxo.

vi) Indicador Alimentação: Revela a opinião dos agricultores familiares sobre o seu consumo de alimentos, de acordo com os seguintes escores: vi.1) Você considera que seu consumo de alimentos e de sua família é: (0) se considerar insuficiente (menos do que o mínimo recomendado pela FAO/OMS); (1) se considerar suficiente (igual ao mínimo recomendado pela FAO/OMS) e (2) se considerar mais do que suficiente (excede o mínimo recomendado pela FAO/OMS). vi.2) Com que freqüência você e sua família consomem frutas e verduras? (0) para nunca; (1) para raramente (uma vez por semana ou menos de uma vez por semana) e (2) para freqüentemente (todos os dias ou algumas vezes na semana).

vii) Indicador Informação e Comunicação: Mostram a freqüência que utiliza o rádio, a televisão e o acesso a telefone público. vii.1) Com que freqüência você e sua família ouvem rádio e assistem televisão? (0) para nunca; (1) para raramente (uma vez por semana ou menos de uma vez por semana) e (2) para freqüentemente (todos os dias ou algumas vezes na semana). vii.2) Quantos é a distância do telefone público mais próximo em relação à sua casa? (0) para mais de 2 km; (1) para menos de 2 km e (2) se tiver telefone em casa.

Page 9: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

9

viii) Indicador Lazer: Retrata a disponibilidade de lazer do agricultor e de sua família e o tipo de lazer praticado, como a seguir: viii.1) Qual a disponibilidade de atividades de lazer você e sua família possuem? (0) se não tiver nenhuma atividade de lazer; (1) se possuir atividade de lazer raramente e (2) se possuir atividade de lazer freqüentemente. viii.2) Qual o tipo de lazer que você e sua família praticam? (0) para nenhum tipo de lazer; (1) se ficar em casa conversando com familiares e assistindo televisão e (2) se for à igreja, praça, visitar familiares e outro tipo de lazer . 3.3 Fonte dos dados

Esta pesquisa utilizou dados de natureza primária, obtidos a partir da pesquisa de

campo, realizada com os agricultores familiares assistidos e não-assistidos pelo PRONAF C – Custeio do município de Santana do Cariri - Ceará, que foram aplicados durante o período de 10 de maio a 10 de julho de 2006 e também dados de natureza secundária.

3.4 Tamanho da amostra

A amostra do estudo foi obtida pelo processo da amostragem probabilística do tipo

aleatória simples, sendo constituída por dois grupos de agricultores familiares: os que são assistidos e os que não são assistidos pelo PRONAF C - Custeio em Santana do Cariri-CE.

Nesse sentido, utilizou-se a fórmula proposta por Fonseca e Martins (1996) empregada em populações finitas:

qpd

qpnZN

NZ

..)1.(

...

22

2

+−=

Onde: n = tamanho da amostra; z = abscissa da normal padrão; p = estimativa da proporção da característica pesquisada no universo; q = 1 – p; N = nº total de agricultores familiares de cada grupo; d = erro amostral.

Para determinação do tamanho da amostra de cada grupo de agricultores familiares, considerou-se um nível de confiança de 90%, com valor crítico z = 1,64; um erro de estimação de 10% (d = 0,10) e p = q= 0,50 (na hipótese de se admitir o maior tamanho da amostra, já que não se conhecem as proporções estudadas).

De acordo com dados do Banco do Brasil (2005), existem 84 agricultores familiares que são beneficiários do PRONAF C - Custeio no município de Santana do Cariri - CE desde sua implantação (2002). Sendo assim, obteve-se uma amostra de 38 agricultores familiares assistidos pelo Programa desde seu surgimento no município. É importante frisar que os agricultores que passaram a ser beneficiários do PRONAF C - Custeio mais recentemente não foram levados em consideração, tendo em vista que não houve tempo hábil suficiente para captar efeito expressivo do PRONAF C – Custeio sobre a qualidade de vida dos agricultores familiares.

Por outro lado, o município supracitado contém 840 agricultores familiares não - assistidos pelo PRONAF, com renda bruta anual entre R$ 2.000,00 a R$ 14.000,00, segundo a EMATERCE (Santana do Cariri-CE, 2006). Portanto, a amostra foi formada por 63 agricultores familiares, que não são beneficiários do PRONAF, mas que possuem a mesma faixa de renda dos agricultores assistidos pelo PRONAF C - Custeio.

Page 10: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

10

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Características Socioeconômicas dos pronafianos do grupo C e dos não-pronafianos do município de Santana do Cariri – Ceará

4.1.1 Faixa Etária

As informações sobre a faixa etária dos pronafianos e não-pronafianos estão

expressas na tabela 1, que mostra uma maior incidência de pronafianos com idade entre 25 a 45 anos (65,79%). Resultado semelhante a esse foi encontrado no trabalho de Barbosa e Sousa (2004), verificando-se uma maior incidência de beneficiários entrevistados com idade até 50 anos, caracterizando assim uma população de pessoas adultas e em plena idade produtiva.

No tocante aos agricultores que não foram assistidos pelo PRONAF, observa-se que a predominância é de agricultores que pertencem à faixa etária de 45 a 65 anos (61,90%). Tabela 1 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a faixa

etária, no município de Santana do Cariri - CE, 2006 Pronafianos Não-pronafianos

Faixa Etária (em anos) n % n %

15—| 25 01 2,63 01 1,59 25 —| 35 13 34,21 05 7,94 35 —| 45 12 31,58 15 23,81 45 —| 55 07 18,42 22 34,92 55 —| 65 05 13,16 17 26,98

65 - - 03 4,76 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa. 4.1.2 Nível de Instrução

De acordo com a tabela 2, observa-se que as maiores freqüências relativas são de

agricultores que têm ensino fundamental incompleto (26,32%) e que lêem e escrevem (21,05%), enquanto o menor percentual (2,63%) de agricultores desse grupo são os que apenas assinam o nome, demonstrando que apesar desses agricultores estarem concentrados na zona rural, onde o acesso à escolaridade é menor, os pronafianos se encontram em sua maioria alfabetizados.

Por outro lado, os não-pronafianos apresentaram um nível de escolaridade menor quando se compara com o grupo dos agricultores que foram assistidos pelo PRONAF C, já que os dados evidenciam que a maioria apenas lê e escreve (36,51%).

Tabela 2 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo o nível de

instrução, no município de Santana do Cariri - CE, 2006 Nível de instrução Pronafianos Não-pronafianos

Page 11: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

11

n % n % Assina o nome 01 2,63 10 15,87 Lê e escreve 08 21,05 23 36,51

Ensino fundamental incompleto 10 26,32 21 33,33 Ensino fundamental completo 06 15,79 07 11,11

Ensino médio incompleto 06 15,79 01 1,59 Ensino médio completo 07 18,42 01 1,59

TOTAL 38 100,00 63 100,00 Fonte: Dados da pesquisa. 4.1.3 Renda média mensal proveniente da agricultura

Com base nos dados mostrados na tabela 3, percebe-se que a renda média mensal

advinda da agricultura, que predomina no grupo dos pronafianos da modalidade C (50,00%) é a faixa entre 1,0 a 1,5 salários mínimos, enquanto para os não-pronafianos, a renda média é mais baixa, concentrada em sua maior parte entre 0,5 a 1,0 salário mínimo, o que significa que esse valor é muito baixo para atender as necessidades fundamentais de uma família que têm entre 3 a 4 membros.

Tabela 3 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a renda média mensal proveniente da agricultura, no município de Santana do Cariri-CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Renda média mensal proveniente da agricultura

(em salários mínimos) n % n %

< 0,5 02 5,26 02 3,18 0,5├ 1,0 17 44,74 39 61,90 1,0├ 1,5 19 50,00 22 34,92 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir desses dados, observa-se que este programa tem contribuído positivamente para a geração de renda no município. Essa constatação também é confirmada no trabalho de Fiúza (2005) quando compara o rendimento mensal dos beneficiários do PRONAF B antes e depois de serem assistidos por esse programa, revelando que a maioria dos beneficiários (61,7%) teve aumento da renda após o PRONAF. 4.1.4 Opinião dos agricultores sobre o PRONAF

Os agricultores familiares que têm o financiamento do PRONAF responderam que

o programa traz muitas vantagens para quem é beneficiário, sendo que a vantagem mais destacada por eles diz respeito à melhoria nas condições de vida de toda a família (57,90%). De acordo com Barbosa e Sousa (2004), os principais fatores de sucesso do PRONAF, apontados pelos beneficiários do PRONAF C Crédito Custeio, foram: a concessão do crédito a juros inexistentes, a flexibilidade e dinamismo do PRONAF e o financiamento e incentivo às atividades agrícolas, fazendo com que o pequeno agricultor se fixe no campo.

Page 12: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

12

Os não-pronafianos, em sua maioria (65,08%) não opinaram sobre o programa. No entanto, dos que responderam a maior freqüência relativa (19,05%) de agricultores mencionou que o PRONAF fornece um grande apoio para os agricultores.

Tabela 4 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a opinião

sobre o PRONAF, no município de Santana do Cariri - CE, 2006 Pronafianos Não-pronafianos

Opinião sobre o PRONAF n % n %

Apoio para o agricultor 09 23,69 12 19,05 Melhores condições de vida 22 57,90 04 6,35 Fortalecimento da produção 06 15,78 06 9,52

Não opinou 01 2,63 41 65,08 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa. 4.2 Qualidade de Vida dos pronafianos e não-pronafianos no município de Santana do Cariri - Ceará

Neste tópico serão apresentados os indicadores que foram selecionados para a

formação do índice de qualidade de vida bem como a participação de cada um desses indicadores na composição do índice de qualidade de vida dos pronafianos e dos não-pronafianos.

4.2.1 Considerações sobre os indicadores escolhidos para a mensuração do Índice de Qualidade de Vida dos pronafianos e não-pronafianos Quanto ao indicador educação, observa-se a partir dos dados da tabela 5 que a maioria dos pronafianos (65,79%) afirma dispor de escolas de ensino médio, enquanto os agricultores não-pronafianos, em sua maior parte, dispõem de escolas de ensino fundamental, porém 41,27% destes utilizam-se também de escolas de ensino médio, através de transportes escolares. De acordo com esses agricultores não-pronafianos, apesar das dificuldades, eles priorizam bastante a educação, em especial a dos filhos e julgam estarem satisfeitos com a disponibilidade desses serviços. Tabela 5 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a

disponibilidade de serviços educacionais no município de Santana do Cariri - CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Disponibilidade de serviços educacionais n % n %

Ausência de escolas 01 2,63 03 4,76 Escolas de ensino fundamental 02 31,58 34 53,97

Escolas de ensino médio 25 65,79 26 41,27 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação ao indicador saúde, constata-se que a maior parte dos pronafianos afirma receber assistência médica que é oferecida pelo Programa de Saúde da Família - PSF (65,79%) de acordo com os dados apresentados na tabela 6. Esse dado é semelhante

Page 13: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

13

ao obtido por Brito (2002), o qual apontou que 63,33% dos associados são atendidos por médicos, sendo reflexo do Programa Saúde da Família, implementado pelo Governo estadual, para melhorar, principalmente, a saúde daquele povo que reside distante das cidades e não têm condições de se deslocar para os grandes centros em busca de atendimento.

Os pronafianos também contam com a assistência de agentes de saúde. No entanto, apesar da disponibilidade desses serviços de saúde, é importante destacar que as condições de saúde para a população em geral são bastante precárias, pois o município dispõe de apenas um hospital e os casos que necessitam de maiores cuidados e urgência são encaminhados às cidades mais próximas.

No que se refere aos não-pronafianos, observa-se que eles também são contemplados com a disponibilidade de assistência médica e assistência por agente de saúde, sendo que esse último item é mais freqüente, já que dos 63 agricultores entrevistados, 36 responderam que dispõe de assistência por agentes de saúde, que fazem o atendimento a essas famílias em suas comunidades, fornecendo orientação sobre prevenção de doenças.

Mesmo com a limitação das condições de saúde oferecidas no município, os agricultores familiares se mostraram satisfeitos com relação à disponibilidade de serviços de saúde, pois para aqueles que residem na zona rural à presença do PSF é suficiente para atendê-los e os residentes na Sede, julgam estar satisfeitos com o atendimento prestado pelo hospital municipal. Tabela 6 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a

disponibilidade de serviços de saúde, no município de Santana do Cariri - CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Disponibilidade de serviços de saúde n % n %

Não dispõe de serviço de saúde - - - - Assistência por agente de saúde 13 34,21 36 57,14

Possui assistência médica 25 65,79 27 42,86 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa.

No tocante ao indicador moradia, levou-se em consideração o tipo de construção do domicílio e o tipo de iluminação utilizada. Com relação ao tipo de construção do domicílio, observou-se por meio da pesquisa de campo que a maioria (86,84%) dos pronafianos possui casa de tijolo com reboco e nenhum possui casa de taipa. Eles afirmaram estarem satisfeitos com o tipo de construção da casa em que residem. Por outro lado, a maior parte dos não-pronafianos (65,08%) reside em casa de tijolo sem reboco, tendo 3 agricultores pertencentes a esse grupo que moram com suas famílias em casa de taipa, indicando que as condições de moradia desses agricultores são piores do que dos agricultores beneficiários do PRONAF.

Quanto a esse aspecto, Fiúza (2005) comparando a qualidade de vida dos agricultores antes e depois de serem beneficiários do PRONAF, observou que a presença de casa de taipa desapareceu com o PRONAF. Isto mostra que esse programa está contribuindo positivamente na melhoria das condições de moradia e conseqüentemente refletindo em maior qualidade de vida.

Page 14: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

14

No que diz respeito à fonte de iluminação utilizada, presenciou-se através da aplicação do questionário com os agricultores familiares que a maioria possui energia elétrica em suas residências.

O indicador aspectos sanitários foi constituído pelas seguintes variáveis: disponibilidade de água para o consumo humano e destino dos resíduos sólidos domiciliares. Com relação à primeira variável, observou-se a partir da pesquisa de campo uma predominância do uso de água fervida ou filtrada tanto por parte dos pronafianos (84,21%) quanto dos não-pronafianos (53,97%), sendo que esses agricultores que não são beneficiários do PRONAF também consomem com bastante freqüência (46,03%) água proveniente de rios / poços, que não recebem o tratamento adequado. Esse tipo de água também é consumido pelos agricultores pronafianos, porém numa freqüência relativa bem menor (15,79%), evidenciando que esses agricultores são mais esclarecidos sobre a importância da água que bebem para a saúde. No que concerne à segunda variável, constatou-se também através da pesquisa de campo que 78,64% dos agricultores familiares sejam eles pronafianos ou não, tem o lixo recolhido pelos carros da prefeitura, mesmo aqueles que moram na zona rural.

A renda média mensal familiar e o acesso a bens duráveis foram considerados para compor o indicador aspectos econômicos. Segundo Tabosa et al. (2005) espera-se que a comunidade com melhor renda e mais e melhores bens duráveis terá melhor qualidade de vida.

Os dados referentes à renda média mensal familiar dos agricultores foram descritos na tabela 7, onde se percebe que a renda predominante nos dois grupos de agricultores familiares é a faixa entre 1 a 2 salários mínimos. A maior parte dos pronafianos julga que essa faixa salarial é suficiente para o sustento da família. Apesar dessa faixa de renda ter sido praticamente idêntica entre os dois grupos analisados, observa-se que os agricultores não-pronafianos apresentam condições financeiras mais restritas, tendo em vista que 14,29% desses agricultores recebem menos de 1 salário mínimo. Dessa forma, nota-se que os agricultores pronafianos percebem uma renda média mensal familiar mais elevada do que a dos não-pronafianos.

Filgueiras et al. (2006) destacam que a variável renda da família merece atenção, pois permite o acesso dos membros a bens que propiciam conforto, bem-estar e saúde influenciando diretamente na qualidade de vida. A ausência dessa renda gera carências que se refletem no estado nutricional, na ocorrência de doenças de países pobres, nas condições de moradia, no nível de instrução e, principalmente, nas carências sociais como lazer, cultura, organização social etc. Tabela 7 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo a renda média mensal familiar, no município de Santana do Cariri - CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Renda média mensal familiar (em salários mínimos) n % n %

< 1,0 - - 09 14,29 1,0├ 2,0 29 76,32 49 77,77

> 2,0 09 23,68 05 7,94 TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 15: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

15

A tabela 8 apresenta dados concernentes ao acesso a bens duráveis pelos agricultores familiares, apontando que a maior parte dos pronafianos (84,21%) afirma possuir bens necessários como rádio, televisão, liquidificador, fogão a gás e outros. Além desses bens necessários, 15,79% desses agricultores também têm acesso a alguns bens de luxo, tais como: celular, antena parabólica, dentre outros. Como os não pronafianos dispõem de um orçamento mais limitado, a maioria (92,07%) só tem acesso a bens necessários.

Tabela 8 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo ao acesso a bens duráveis, no município de Santana do Cariri - CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Acesso a bens duráveis

n % n % Nenhum bem durável - - 02 3,17

Bens necessários 32 84,21 58 92,07 Bens necessários e de luxo 06 15,79 03 4,76

TOTAL 38 100,00 63 100,00 Fonte: Dados da pesquisa.

No que se refere ao indicador alimentação, os dados da tabela 9 indicam que a maior parte dos pronafianos (86,85%) e dos não-pronafianos (77,78%) consideram que o consumo de alimentos pela família é suficiente. Segundo esses agricultores familiares, apesar das dificuldades que enfrentam, produzem não somente para a comercialização, como também para o próprio consumo, fator este que contribui para a redução nos gastos da família. No entanto, 22,22% dos agricultores que não são beneficiários do PRONAF consideram que seu consumo alimentício não é suficiente para satisfazer ao mínimo recomendado pela FAO/ OMS.

De acordo com Valente Júnior et al. (2005), os problemas de insegurança alimentar e nutricional afetam, sobretudo, os segmentos sociais, cujo acesso aos alimentos é precário, seja por insuficiência de renda ou incapacidade de produção para o auto-consumo. Significa que, de modo geral, a pobreza é a principal causa do acesso insuficiente aos alimentos. Tabela 9 - Distribuição absoluta e relativa dos agricultores familiares, segundo o consumo de alimentos, no município de Santana do Cariri - CE, 2006

Pronafianos Não-pronafianos Consumo de alimentos

n % n % Insuficiente 03 7,89 14 22,22 Suficiente 33 86,85 49 77,78

Mais do que suficiente 02 5,26 - - TOTAL 38 100,00 63 100,00

Fonte: Dados da pesquisa

No tocante à freqüência de consumo de frutas e verduras pelos agricultores e suas famílias, a pesquisa de campo indicou que na classe dos pronafianos, 34,21% desses agricultores afirmaram que consomem freqüentemente, sendo que no grupo dos não-pronafianos, apenas 11,11% desses agricultores incluem em sua dieta frutas e verduras freqüentemente.

Page 16: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

16

Quanto ao indicador informação e comunicação, levou-se em conta a freqüência em que os agricultores assistem televisão e escutam rádio, bem como a distância da residência ao telefone público mais próximo, com o intuito de verificar de que forma esses agricultores estão informados. Com relação à assiduidade que ouvem rádio e assistem televisão, a maioria (87,00%) dos agricultores sejam eles pronafianos ou não-pronafianos afirmaram que o fazem freqüentemente e mostraram-se satisfeitos.

Para a comunicação por meio de serviço de telefonia, dos 101 agricultores familiares entrevistados, apenas 9 agricultores possuem telefone em casa, devendo ser ressaltado que este se trata de aparelho celular e que todos esses são pronafianos. Os agricultores que não possuem telefone em sua residência, afirmaram que o telefone público fica próximo de suas casas, correspondendo a um total de 91,09% dos agricultores.

Para muitos, o acesso a informações através de televisão ainda é mais importante do que qualquer outro meio de comunicação e julga não ser muito necessária a aquisição de telefone em casa, já que a maioria dispõe de telefones públicos próximos que os mantém em comunicação com os familiares distantes, isso ocorre mesmo para aqueles que residem mais afastados da zona urbana.

Por fim, incluiu-se o indicador lazer, considerando a disponibilidade de atividades de lazer e o tipo de lazer praticado pelos agricultores familiares. Para Filgueiras et al. (2006), a qualidade de vida das pessoas está bastante associada às horas de lazer, como essas as desfrutam e aproveitam do que a localidade tem disponível.

No que diz respeito à disponibilidade de atividades de lazer que os agricultores possuem, os dados colhidos durante a pesquisa de campo revelaram que a maioria (60,53%) dos agricultores beneficiários do PRONAF C dispõe apenas raramente dessas atividades, enquanto os demais (31,58%) afirmaram que dispõe freqüentemente, pois apesar do trabalho na agricultura exigir muito esforço, não abre mão de usufruir alguma atividade de lazer. Com relação aos agricultores não-pronafianos, observou-se que apenas 12,70% gozam freqüentemente de atividades de lazer e que 20,63% não dispõem de nenhuma atividade de lazer. Isso pode ser atribuído ao baixo nível de renda disponível dessas famílias, a qual é destinada essencialmente para suprir as necessidades básicas como alimentação e vestuário. Ademais, os agricultores pronafianos relataram em sua maioria (57,89%) que nas horas de folga costumam ir à igreja, à praça, bem como outras opções de lazer, já os não-pronafianos preferem principalmente ficar em casa conversando com seus familiares ou assistindo televisão e se consideram satisfeitos com esse tipo de lazer, pois passam o dia no trabalho e quando chegam em casa ficam descansando para compensar o tempo que ficaram trabalhando.

4.2.2 Análise do Índice de Qualidade de Vida dos Agricultores

Os resultados apresentados na tabela 10 indicam as contribuições absolutas e

relativas dos indicadores que compõem o índice de qualidade de vida dos agricultores familiares beneficiários do PRONAF C e dos não-assistidos pelo PRONAF, bem como o índice de qualidade de vida para cada indicador.

De acordo com esses dados descritos, verifica-se que os indicadores que apresentaram melhores resultados no grupo dos pronafianos, em ordem decrescente são: moradia (18,06%), informação/comunicação (15,62%) e educação (15,62%). Essa mesma ordem prevalece no grupo dos não-pronafianos e é confirmada pelo índice de qualidade de vida desses indicadores.

Page 17: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

17

Por outro lado, os piores resultados revelados foram os indicadores saúde, aspectos econômicos e alimentação, sendo que apresentaram participações bem próximas em ambos os grupos de agricultores familiares, com exceção do indicador aspectos econômicos, em que o grupo dos pronafianos (9,34%) apresentou melhor desempenho do que o grupo dos não-pronafianos (6,85%).

Conforme já definido, o índice de qualidade de vida pertencente ao intervalo entre 0 a 0,5 indica baixa qualidade de vida, de 0,5 a 0,8 média qualidade de vida e 0,8 a 1,0 alta qualidade de vida. O resultado encontrado para o IQVP foi 0,5857, configurando-se como média qualidade de vida, enquanto o IQVN foi de 0,3811, caracterizando assim baixa qualidade de vida, ou seja, os agricultores familiares beneficiários do PRONAF C apresentam melhor qualidade de vida do que os agricultores não assistidos pelo PRONAF conforme retrata os índices de qualidade de vida.

Considerando a análise por indicador e utilizando esses intervalos estabelecidos, constata-se que os indicadores saúde, aspectos econômicos e alimentação se configuraram como baixa qualidade de vida; os indicadores educação, aspectos sanitários, informação/comunicação e lazer se enquadraram em média qualidade de vida, enquanto o indicador moradia apresentou alta qualidade de vida para os pronafianos do grupo C. Com relação ao grupo dos não-pronafianos, observa-se que apenas os indicadores moradia e informação/comunicação apresentaram média qualidade de vida, enquanto todos os demais pertencem ao intervalo de baixa qualidade de vida conforme retrata a tabela 10.

Tabela 10 - Participação dos indicadores na composição do índice de qualidade de vida dos

agricultores familiares assistidos e não-assistidos pelo PRONAF no município de Santana do Cariri - CE, 2006

IQVP (*) IQVN (**) Indicador Valores

absolutos Valores relativos

IQVi (***)

Valores absolutos

Valores relativos

IQVi (***)

Educação 0,0915 15,62 0,7320 0,0603 15,82 0,4824 Saúde 0,0395 6,75 0,3160 0,0254 6,67 0,2032 Moradia 0,1058 18,06 0,8464 0,0710 18,63 0,5680 Aspectos sanitários 0,0749 12,79 0,5992 0,0490 12,86 0,3920 Aspectos econômicos 0,0547 9,34 0,4376 0,0261 6,85 0,2088 Alimentação 0,0591 10,09 0,4728 0,0406 10,65 0,3248 Informação/Comunicação 0,0915 15,62 0,7320 0,0660 17,32 0,5280 Lazer 0,0687 11,73 0,5496 0,0427 11,20 0,3416

Total 0,5857 100,00 0,5857 0,3811 100,00 0,3811 Fonte: Dados da Pesquisa. (*) Índice de Qualidade de Vida dos Pronafianos do Grupo C – Custeio (**) Índice de Qualidade de Vida dos Não-Pronafianos. (***) Índice de Qualidade de Vida para cada indicador.

A tabela 11 apresenta a distribuição do nível de qualidade de vida dos agricultores familiares de acordo com o índice proposto anteriormente. Sendo assim, verifica-se que 63,16% dos pronafianos estão enquadrados no intervalo de média qualidade de vida, já com relação aos não-pronafianos, constata-se que a amostra total pesquisada se encontra

Page 18: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

18

no intervalo de baixa qualidade de vida e que nenhum agricultor familiar entrevistado possui alta qualidade de vida. Tabela 11 - Freqüência absoluta e relativa do nível de qualidade de vida dos agricultores

no município de Santana do Cariri / Ce, 2006 Pronafianos Não-pronafianos Qualidade de Vida fi fr (%) fi fr (%)

Baixa 14 36,84 63 100,00 Média 24 63,16 - - Alta - - - - TOTAL 38 100,00 63 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa. No entanto, é relevante ressaltar que essa diferenciação entre os índices de

qualidade de vida entre os dois grupos, não pode ser atribuída exclusivamente à atuação do PRONAF, ou seja, não se pode justificar que o grupo dos pronafianos possui um índice de qualidade de vida melhor do que os não-pronafianos apenas em virtude dos benefícios do PRONAF concedidos ao primeiro grupo, mas também é proveniente das próprias condições socioeconômicas distintas entre esses grupos, o que contribui para a distinção de oportunidades e condições de vida entre os grupos de agricultores familiares entrevistados.

5 CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos com esta pesquisa, constatou-se que os agricultores

familiares beneficiários do PRONAF C são mais jovens, possui maior nível de instrução, apesar desse nível de escolaridade ser baixo, já que a maioria desses agricultores não chegou a concluir o ensino fundamental e percebem um maior rendimento médio mensal proveniente da agricultura do que os agricultores familiares não-assistidos pelo PRONAF.

No tocante ao indicador educação, observa-se que enquanto a maioria dos agricultores beneficiários do PRONAF C dispunha de escolas de ensino médio, os agricultores não-pronafianos, em sua maior parte, dispunha de escolas de ensino fundamental.

Com relação ao indicador saúde, o que se observou é que ambos os grupos de agricultores familiares entrevistados recebem assistência médica e de agentes de saúde, sendo que assistência médica é mais presente no grupo dos pronafianos e assistência por agente de saúde apresenta uma maior concentração no grupo dos não-pronafianos.

No que diz respeito ao indicador moradia, percebeu-se que as condições de habitação dos agricultores familiares assistidos pelo PRONAF C são melhores do que aquele grupo de agricultores que não recebeu nenhum benefício do PRONAF.

Quanto ao indicador aspectos sanitários, é relevante destacar que a disponibilidade de água para o consumo humano predominante em ambos os grupos de agricultores familiares é a água fervida ou filtrada e no que diz respeito ao destino dado aos resíduos sólidos domiciliares, verificou-se que a maioria dos agricultores familiares seja pronafianos ou não, possui o lixo recolhido pelos carros da prefeitura.

Para compor o indicador econômico, levou-se em conta a renda média mensal familiar e o acesso a bens duráveis, ressaltando que os agricultores pronafianos

Page 19: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

19

apresentaram melhores condições financeiras e conseqüentemente tiveram mais acesso a bens duráveis do que os agricultores não-assistidos pelo PRONAF.

O indicador alimentação indicou que ambos os grupos de agricultores familiares consideram seu consumo de alimentos suficiente. No entanto, com relação ao consumo de frutas e verduras, a maioria afirmou que só consomem raramente.

No que tange ao indicador informação e comunicação, presenciou-se que a maioria escuta rádio e assiste televisão freqüentemente e que apesar de não dispor de telefone em sua casa, possui telefone público próximo de sua residência, já o indicador lazer revelou que a maior parte dos agricultores familiares entrevistados só dispõe de atividades de lazer raramente, sendo que o tipo de lazer predominante para os pronafianos foi ir a igreja, praça ou outra modalidade de lazer, enquanto os não-pronafianos, em sua maior parte, preferem ficar em casa com familiares.

Desses indicadores analisados, constatou-se que os indicadores moradia, informação/comunicação e educação apresentaram melhores resultados em ambos os grupos de agricultores familiares. Por outro lado, os piores resultados revelados foram os indicadores saúde, aspectos econômicos e alimentação, constituindo um fato preocupante tendo em vista que a saúde é de suma importância para uma boa qualidade de vida para os seres humanos, além dos indicadores aspectos econômicos e alimentação que influenciam demais o nível de qualidade de vida.

Com base nesses indicadores de qualidade de vida, verificou-se que dentro dos parâmetros estabelecidos, o IQVP foi 0,5857, configurando-se como média qualidade de vida, enquanto o IQVN foi de 0,3811, caracterizando assim baixa qualidade de vida.

No entanto, essa distinção não é resultante apenas da atuação do PRONAF, mas o perfil socioeconômico também é responsável pela diferenciação entre os grupos.

O programa tem importante participação no desenvolvimento do município, já que a agricultura é uma das principais fontes de renda, bem como torna possível o crescimento do agricultor no meio rural. Dessa forma, a presença do PRONAF no município representa um instrumento de crescimento, já que de certa forma alavanca a qualidade de vida dos agricultores, bem como a economia local.

6 REFERÊNCIAS BARBOSA, K. M. L; SOUSA, E. P. de. Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar no município de Mauriti – Cear á. In: Anais do XLII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL - SOBER, Cuiabá - MT, 2004. BRITO. J. W. G. de. Gerente do Banco do Brasil: Santana do Cariri, 2005 (Comunicação Oral).

BRITO, M. A. de. Qualidade de Vida e Satisfação dos Associados à Cooperativa Agroindustrial de Brejo Santo – LTDA – COOPABS, no Estado do Ceará. 2002. 91f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Universidade Federal do Ceará – Fortaleza, CE. CAVALCANTI, S. L. de. Técnico da EMATERCE : Santana do Cariri, 2005 (Comunicação Oral).

Page 20: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

20

CAZELLA, Ademir Antônio; MATTEI, Lauro; SCHNEIDER, Sergio. Histórico Caracterização e Dinâmica Recente do PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar . In Anais do XLII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL - SOBER, Cuiabá - MT, 2004. CORREIA, A. S. Avaliação Socioeconômica e Satisfação dos Beneficiários do PRONAF: um Estudo de Caso. 2003. 63f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Universidade Regional do Cariri – Crato, CE.

FERNANDES, A. V. Qualidade de Vida Rural com Sustentabilidade na Amazônia: o caso da Reserva Extrativista do Rio Cajari no Estado do Amapá. 1997.93f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Universidade Federal do Ceará – Fortaleza, CE. FILGUEIRAS, A. P. A; CARVALHO, R. M; CASIMIRO FILHO, F. Análise da qualidade de vida e do desenvolvimento humano das famílias das bordadeiras de Itapajé – Ce. In Anais do XLIV CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL - SOBER, Fortaleza - CE, 2006.

FIUZA, M. I. L. Perfil Socioeconômico e Qualidade de Vida dos Beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF no município de Várzea Alegre – CE. 2005. 79f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Universidade Regional do Cariri – Crato, CE. FONSECA, J. S. da; MARTINS, G. de A. Curso de Estatística – 6. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 320 p.

IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – Perfil Básico Municipal – 2002. Disponível em: www.ipece.ce.gov.br. Acesso em 17/10/2005.

KHAN, A. S; PASSOS, A. T. B. Reforma Agrária Solidária e Qualidade de Vida dos Beneficiários no Estado do Ceará. Revista de Economia e Sociologia Rural. Vol. 39, n. 04- Brasília, 2001. MARGARETE, T; KEINERT, M; KARRUZ, A. P. Qualidade de Vida. São Paulo - Annablume: Fapesp, 2002. 208p. MENDES SEGUNDO, D. M. das. Qualidade de Vida e Perspectivas dos Irrigantes do Projeto Jaguaribe - Apodi, CE. 1998. 139f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Universidade Federal do Ceará – Fortaleza, CE. TABOSA, F. J. S; MAYORGA, R. D; AMARAL FILHO, J. do; Estoque de Capital Social e Qualidade de Vida da população do município de Itarema, Estado do Ceará. In: Anais do XLIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL - SOBER, Ribeirão Preto - SP, 2005.

Page 21: Estudo comparativo da qualidade de vida dos pronafianos do ... · O Programa traz muitas vantagens para o produtor, como a obtenção do ... Na Idade Média (Idade das Trevas), o

XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

21

VALENTE JUNIOR, A. S. et al. Fome Zero no Nordeste do Brasil: Construindo uma Linha de Base para a Avaliação do Programa. Apresentado no Fórum BNB de Desenvolvimento e X Encontro Regional de Economia. Fortaleza – CE: BNB, 2005.