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WWW.pibrj.org.br Lição 3 – 1T 2012 1 Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro Estudo 3 – Os Amigos acusam – Jó se defende Jó 15 a 21 Elaborado por Solange Livio [email protected] Os diálogos entre Jó e seus três amigos, a respeito do sofrimento humano, foram bem mais longe do que, talvez, eles próprios pudessem imaginar. O tema é inquietante: mexe com receios e temores e, ao mesmo tempo, atrai o interesse das pessoas em geral. É amplo e complexo, pois envolve muitos aspectos que superam a lógica simplista. Devemos lembrar que os amigos de Jó tinham boas intenções quando decidiram visitá-lo, porém mostraram-se presunçosos. Legalistas que eram, permaneceram apegados às suas teorias (corretas em alguns aspectos), de modo que o objetivo da visita se perdeu. Com isso, o primeiro ciclo de discursos resultou insatisfatório. Eles não conseguiram apresentar solução à questão do sofrimento humano, nem ofereceram consolo ao amigo Jó. A esse propósito, Samuel Terrien (1911– 2002), tendo sido pastor presbiteriano e professor de Teologia nos EUA, também autor de vários comentários bíblicos, comentou: “Os discursos dos amigos oferecem um exemplo eloquente da estupidez que usa mal a verdade” (p. 48). A título de aguçar a nossa lembrança, ressaltamos aqui que, em seus pronunciamentos, Jó exaltou a grandeza e a soberania Deus, mostrando-se plenamente consciente da imensurável diferença entre o poder infinito de Deus e a pequenez humana, concordando com seus amigos neste aspecto (9:1-10). Sua e seu amor a Deus estavam preservados, superando em força o sofrimento, por mais penoso que este fosse. No entanto, sem faltar com a devida reverência a Deus, Jó manifestou a sua queixa. Seguiu defendendo a sua integridade e, nisto firmou o ponto de desacordo com a teologia dos amigos. Enquanto eles de forma simples e generalizada sustentavam a tese de que o homem colhe o que semeia e, com base nisto, o acusavam de pecado, Jó afirmava que o sofrimento alcança tanto a justos como a injustos, chegando a dizer: “Para mim tudo é o mesmo, por isso digo: tanto destrói ele o íntegro como o perverso” (9:22). Um comentário deve ser feito, no sentido de tornar claro que Jó não estava atribuindo nenhuma injustiça a Deus. O que estava fazendo era contestar a tese dos amigos e sustentar que devem existir outros motivos para o sofrimento, que não necessariamente o pecado, de modo que os íntegros também enfrentam tribulações. De forma inversa, Jesus confirmou esta mesma verdade ao dizer que Deus “faz nascer o sol sobre maus e bons, e vir chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45). Não sabendo que estava sendo testado por Satanás, Jó atribuía à ação de Deus a calamidade que enfrentava, sem que pudesse saber o motivo. Atônito pela dor aguda do sofrimento, Jó anelava ardentemente encontrar-se com Deus, a quem não conseguia ver (9:11) e, por cujo silêncio, julgava ter se ausentado dele. Reconhecia, no entanto, que mesmo estando certo de sua integridade, ainda assim era impuro, e sem nenhuma possibilidade de autopurificação (9:30), para comparecer à presença de Deus em juízo. Guardando o devido temor, visto

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WWW.pibrj.org.br Lição 3 – 1T 2012 1

Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro Estudo 3 – Os Amigos acusam – Jó se defende Jó 15 a 21

Elaborado por Solange Livio [email protected]

Os diálogos entre Jó e seus três amigos, a respeito do sofrimento humano, foram bem mais longe do que, talvez, eles próprios pudessem imaginar. O tema é inquietante: mexe com receios e temores e, ao mesmo tempo, atrai o interesse das pessoas em geral. É amplo e complexo, pois envolve muitos aspectos que superam a lógica simplista. Devemos lembrar que os amigos de Jó tinham boas intenções quando decidiram visitá-lo, porém mostraram-se presunçosos. Legalistas que eram, permaneceram apegados às suas teorias (corretas em alguns aspectos), de modo que o objetivo da visita se perdeu. Com isso, o primeiro ciclo de discursos resultou insatisfatório. Eles não conseguiram apresentar solução à questão do sofrimento humano, nem ofereceram consolo ao amigo Jó. A esse propósito, Samuel Terrien (1911–2002), tendo sido pastor presbiteriano e professor de Teologia nos EUA, também autor de vários comentários bíblicos, comentou: “Os discursos dos amigos oferecem um exemplo eloquente da estupidez que usa mal a verdade” (p. 48). A título de aguçar a nossa lembrança, ressaltamos aqui que, em seus pronunciamentos, Jó exaltou a grandeza e a soberania Deus, mostrando-se plenamente consciente da imensurável diferença entre o poder infinito de Deus e a pequenez humana, concordando com seus amigos neste aspecto (9:1-10). Sua fé e seu amor a Deus estavam preservados, superando em força o sofrimento, por mais penoso que este fosse.

No entanto, sem faltar com a devida reverência a Deus, Jó manifestou a sua queixa. Seguiu defendendo a sua integridade e, nisto firmou o ponto de desacordo com a teologia dos amigos. Enquanto eles de forma simples e generalizada sustentavam a tese de que o homem colhe o que semeia e, com base nisto, o acusavam de pecado, Jó afirmava que o sofrimento alcança tanto a justos como a injustos, chegando a dizer: “Para mim tudo é o mesmo, por isso digo: tanto destrói ele o íntegro como o perverso” (9:22). Um comentário deve ser feito, no sentido de tornar claro que Jó não estava atribuindo nenhuma injustiça a Deus. O que estava fazendo era contestar a tese dos amigos e sustentar que devem existir outros motivos para o sofrimento, que não necessariamente o pecado, de modo que os íntegros também enfrentam tribulações. De forma inversa, Jesus confirmou esta mesma verdade ao dizer que Deus “faz nascer o sol sobre maus e bons, e vir chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45). Não sabendo que estava sendo testado por Satanás, Jó atribuía à ação de Deus a calamidade que enfrentava, sem que pudesse saber o motivo. Atônito pela dor aguda do sofrimento, Jó anelava ardentemente encontrar-se com Deus, a quem não conseguia ver (9:11) e, por cujo silêncio, julgava ter se ausentado dele. Reconhecia, no entanto, que mesmo estando certo de sua integridade, ainda assim era impuro, e sem nenhuma possibilidade de autopurificação (9:30), para comparecer à presença de Deus em juízo. Guardando o devido temor, visto

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que Deus não é homem, sentia a necessidade de um árbitro, no sentido de um mediador (9:33), que pudesse se colocar entre o homem profano e o Deus Santo, promovendo a conciliação entre ambos. Embora não se possa atribuir um sentido profético às palavras de Jó, o anseio por ele revelado tem o seu cumprimento no Novo Testamento, na pessoa de Jesus, o Deus que se fez homem para efetuar a reconciliação do homem impuro com Deus, por meio da sua morte na cruz (II Coríntios 5:18-19). Ao que tudo indica, as respostas veementes de Jó fizeram com que os três amigos se tornassem mais severos. E assim, um segundo ciclo de discursos teve início. Elifaz , que no primeiro momento foi o mais compreensivo e usou de cortesia, mostrou-se mais rude ao recomeçar os discursos, que seguiram a sequência anterior. De forma brusca, desdenhou dos argumentos de Jó, referindo-se a eles como “palavras que de nada servem” (15:3). Continuou se valendo da experiência como fundamento às teorias que prosseguiu defendendo (15:17). Seus argumentos eram escassos, de modo que, por meio de diferentes comparações, repetiu a tese de que o homem colhe o que semeia, afirmando que o perverso é atormentado todos os dias e curta é a vida do opressor (15:20). Em resumo, Elifaz insistiu no ponto de que se Jó fosse tão íntegro quanto afirmava ser, não estaria passando por tamanha tribulação. De modo semelhante, Bildade lançou depreciações às palavras de Jó. Intensificou as acusações, discorrendo sobre o destino dos ímpios por meio de várias ilustrações, pelas quais mencionou exatamente tudo aquilo que Jó perdeu: bens, filhos e saúde (18:12-15). Sem piedade, não poupou insinuações à morte dos filhos de Jó, afirmando que uma das penalidades sofridas pelo homem perverso é a de que “não terá filho nem

posteridade entre o seu povo, nem sobrevivente algum ficará nas suas moradas” (18:19). Esquecido do propósito de levar consolo ao amigo Jó, Bildade acabou por lançar farpas em quem já estava ferido. Zofar , usando de outras palavras, repetiu o pensamento dos dois primeiros. Sua afirmação foi a de que a “alegria dos ímpios é momentânea” (20:5), de modo que o castigo é inevitável e logo vem. Impetuoso no falar, Zofar mencionou também as perdas sofridas por Jó - bens e saúde (20:11 e 22) - como exemplo do castigo imposto ao ímpio. Ao concluir o seu discurso dizendo que “tal é da parte de Deus, a sorte do homem perverso” (20:29), estava afirmando que o sofrimento de Jó era um castigo imputado por Deus. Até aqui os três amigos revelaram falta de tato, de empatia e de misericórdia. Revelaram também uma teologia limitada que só percebe o sofrimento na estreita relação de causa e efeito com o pecado. Corretos em certos aspectos, porque são muitas as afirmações bíblicas a respeito das consequências desastrosas que aguardam os ímpios, eles não conseguiam compreender o sofrimento para além desta visão. Diante das insistentes acusações recebidas, Jó respondeu aos amigos começando por dizer-lhes que eles não passavam de “consoladores molestos” (16:2), o que significa dizer que, em vez de levar consolo, só faziam por aumentar a aflição de quem já muito sofria. Em vez de consoladores, na verdade não passavam de molestadores. Propôs que considerassem pensar numa troca de posições. Se fossem eles os sofredores, como se sentiriam se Jó falasse do mesmo modo que eles? Mas, disse Jó: “poderia fortalecer-vos com as minhas palavras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a vossa dor” (16:5). Jó poderia levar um consolo genuíno.

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Contudo, na situação em que se encontrava, sentia as suas forças se exaurindo (16:7), julgando ainda ser isto ação de Deus, embora não soubesse o motivo (16:7-9). Estava cercado de zombadores (16:20; 17:9). A sua fé em Deus, no entanto, permanecia inabalável e lhe permitia afirmar: “Já agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas alturas quem advoga a minha causa” (16:19). Levou a sua confiança ainda mais adiante e apelou a Deus por um parecer vindo do próprio Deus ante as provocações que sofria: “Dá-me, pois, um penhor, sê o meu fiador para contigo mesmo; quem mais haverá que se possa comprometer comigo?” (17:3). Diante das acusações que não cessavam, Jó passou a expressar a sua dor listando os aspectos cruéis de seu sofrimento, que ele desejava fossem escritos e gravados em livro. Esse desejo era resultante da sua fé. Guardava no coração a certeza de que havia um futuro quando ele se reencontraria com Deus, de quem sentia saudade a ponto de desfalecer-lhe o coração. Tal reencontro se daria com ele ainda em vida, de modo que os seus próprios olhos O veriam. Nesse momento, Deus mesmo seria o juiz de sua causa e o seu advogado, razão pela qual os seus amigos deveriam

temer pelas acusações injustas que lhe faziam (19:29). Esta certeza de fé Jó expressou num dos mais apreciados e citados versos de todo o livro, para não dizer de toda a Bíblia: “Eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim” (19:25-27). O encontro de Jó com o Senhor se dará no capítulo 38, a ser estudado nas próximas lições. Contudo, prezado leitor, é preciso que se anuncie agora, neste momento, que o Redentor de toda a humanidade vive e já veio. É Jesus. Ele veio para redimir e dar a vida eterna a todos quantos queiram recebê-lo como Senhor e Salvador pessoal (João 3:16). Se você ainda não teve o seu encontro pessoal com Jesus Cristo, não espere mais. Receba-o agora mesmo. Você terá o perdão para os pecados, estará reconciliado com Deus e poderá dizer como Jó: “Eu sei que o meu Redentor vive!”. Que o Senhor a todos abençoe!

Consulta Bibliográfica TERRIEN, Samuel. Jó – Grande Comentário Bíblico São Paulo: Paulus, 1994.