jÓ - o livro de jó

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O LIVRO DE JÓ 1. Esboço do Livro I. Prólogo: A Crise (1.1—2.13) A. Jó, Sua Retidão e Seu Temor a Deus (1.1-5) B. As Calamidades Sobrevindas a Jó (1.6—2.10) C. Os Três Amigos de Jó (2.11-13) II. Diálogos entre Jó e Seus Amigos: A Busca de Resposta Humanista (3.1— 31.40) A. Primeiro Ciclo de Diálogos: A Justiça de Deus (3.1— 14.22) 1. Jó Lamenta o Dia do Seu Nascimento (3.1-26) 2. Resposta de Elifaz (4.1—5.27) 3. Réplica de Jó (6.1—7.21) 4. Resposta de Bildade (8.1-22) 5. Réplica de Jó (9.1—10.22) 6. Resposta de Zofar (11.1-20) 7. Réplica de Jó (12.1—14.22) B. Segundo Ciclo de Diálogos: O Fim do Ímpio (15.1—21.34) 1. Resposta de Elifaz (15.1-35) 2. Réplica de Jó (16.1—17.16) 3. Resposta de Bildade (18.1-21) 4. Réplica de Jó (19.1-29) 5. Resposta de Zofar (20.1-29) 6. Réplica de Jó (21.1-34) C. Terceiro Ciclo de Diálogos: Jó e o Problema do Pecado (22.1—31.40) 1. Resposta de Elifaz (22.1-30) 2. Réplica de Jó (23.1—24.25) 3. Resposta de Bildade (25.1-6) 4. Réplica de Jó (26.1-14) 5. Jó Resume a Sua Posição (27.1—31.40) Antigo Testamento II – Históricos e Poéticos 3

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Bíblia II - P 3.

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O LIVRO DE J

1. Esboo do Livro

I. Prlogo: A Crise (1.12.13)

A. J, Sua Retido e Seu Temor a Deus (1.1-5)

B. As Calamidades Sobrevindas a J (1.62.10) C. Os Trs Amigos de J (2.11-13)

II. Dilogos entre J e Seus Amigos: A Busca de Resposta Humanista (3.1 31.40)

A. Primeiro Ciclo de Dilogos: A Justia de Deus (3.114.22)1. J Lamenta o Dia do Seu Nascimento (3.1-26)2. Resposta de Elifaz (4.15.27)3. Rplica de J (6.17.21)4. Resposta de Bildade (8.1-22)5. Rplica de J (9.110.22)6. Resposta de Zofar (11.1-20)7. Rplica de J (12.114.22)

B. Segundo Ciclo de Dilogos: O Fim do mpio (15.121.34)1. Resposta de Elifaz (15.1-35)2. Rplica de J (16.117.16)3. Resposta de Bildade (18.1-21)4. Rplica de J (19.1-29)5. Resposta de Zofar (20.1-29)6. Rplica de J (21.1-34)

C. Terceiro Ciclo de Dilogos: J e o Problema do Pecado (22.131.40)1. Resposta de Elifaz (22.1-30)2. Rplica de J (23.124.25)3. Resposta de Bildade (25.1-6)4. Rplica de J (26.1-14)5. J Resume a Sua Posio (27.131.40)

III. Discursos de Eli: O Comeo do Entendimento (32.137.24)

A. Apresentao de Eli (32.1-6a)

B. Primeiro Discurso: Deus Instrui o Ser Humano Atravs da Aflio (32.6b33.33)

C. Segundo Discurso: A Justia de Deus e a Presuno de J (34.1-37)

D. Terceiro Discurso: A Retido Recompensada (35.1-16)

E. Quarto Discurso: A Excelsa Grandeza de Deus e a Ignorncia de J (36.137.24)

IV. O Senhor Responde a J Diretamente (38.142.6)

A. Deus Demonstra a Ignorncia de J (38.140.2)

B. A Humildade de J (40.3-5)

C. Deus Repreende a J por Sua Crtica (40.641.34)

D. J Confessa Sua Ignorncia dos Caminhos de Deus (42.1-6)

V. Eplogo: Desfecho da Prova (42.7-17)

A. J Ora pelos Seus Trs Amigos (42.7-9)

B. A Dupla Bno de J (42.10-17)

2. Introduo do livro de J

As pessoas tm debatido longa e seriamente sobre o problema e o significado do sofrimento humano. O livro de J o mais destacado de todos esses esforos registrados na literatura mundial.A narrativa trata da vida de um homem cujo nome prov o ttulo do livro. O livro abre com um prlogo em prosa que descreve J como um homem rico e reto. Depois de uma srie de calamidades, tudo que ele tem, incluindo seus filhos, lhe tirado. A pergunta levantada no prlogo se J vai conservar sua integridade diante de tamanho sofrimento. Somos informados que ele saiu vitorioso: "Em tudo isto no pecou J com os seus lbios" (2.10).Alm de preparar o terreno para o debate posterior relacionado ao propsito e ao significado do sofrimento, o prlogo tambm apresenta as personagens da trama.Deus o Jav dos hebreus, que Senhor do cu e da terra! Satans aparece no papel de adversrio de J. O heri, J, um cidado rico da terra de Uz. Ele recebe a visita de trs dos seus amigos: Elifaz, o temanita, Bildade, o suta e Zofar, o naamatita. Estes trs homens vm trazer conforto para o seu velho amigo.A maior parte do livro composta de dilogos entre os quatro amigos. Os "confortadores" esto seguros de que o sofrimento de J causado por algum pecado que seu amigo est escondendo. Eles esto certos de que humildade e arrependimento vo resolver a situao. J, por outro lado, insiste em que, embora possua as fraquezas normais da raa humana, no cometeu nenhum pecado que pudesse causar tamanho infortnio pelo qual est passando. Ele no concorda com a opinio de seus amigos de que pecado e sofrimento esto invarivel e diretamente ligados como uma seqncia de causa e efeito. Parece, a essa altura, que o autor pretende mostrar que J deveria ser o vitorioso na argumentao contra seus confortadores.Um jovem espectador chamado Eli est em silncio e no mencionado no incio.Depois de trs rodadas de debates com os outros amigos, ele intervm na discusso.Ele est injuriado com J por sua atitude irreverente em relao providncia de Deus. Ele tambm est igualmente indignado com os trs amigos pela incapacidade deles de convencer J da sua culpa. Por intermdio de quatro discursos, no respondidos por J, Eli expressa sua forte oposio no que tange aos sentimentos de J e discorda dele quanto ao significado do sofrimento. Eli, embora mantenha a posio bsica dos outros conselheiros de J, ressalta a providncia de Deus em todos os eventos humanos e o valor disciplinador do sofrimento. Dessa forma, ele exalta a grandeza de Deus.Diante desse pano de fundo ele afirma que a aflio do homem contribui para a sua instruo. Se J fosse humilde e piedoso, ele perceberia que Deus o estava conduzindo para uma vida melhor.Ento o Senhor se manifesta no meio da tempestade. O pedido insistente de J de que Deus aparea e d significado ao seu sofrimento finalmente atendido. No entanto, Deus no menciona o problema individual de J, nem trata diretamente dos problemas que ele levantou. Em vez disso, Ele deixa claro quem Ele e o relacionamento que J, ou qualquer homem, deveria ter com Ele. Ao ver a glria e o poder de Deus, J desarmado e humilhado. Quando ele v Deus em sua verdadeira luz, arrepende-se das suas palavras e atitudes petulantes.O eplogo descreve de que maneira o arrependido e humilhado J restaurado, duplicando a sua prosperidade anterior. Aps a restaurao dos amigos e da famlia, J viveu uma vida longa e feliz - na verdade, mais 140 anos.Ento ele morreu, "velho e farto de dias" (42.17).

3. A Historicidade do Livro

Com freqncia, alguns perguntam: Ser que J um homem real? Ou, ser que o livro de J uma histria real? Estas duas perguntas no precisam receber a mesma resposta.Que houve um J com a reputao de retido fato atestado por uma referncia a ele em Ezequiel 14.14. muito provvel que a narrativa bsica do livro tenha sido fundamentada em uma personagem real com esse nome.No precisamos com isso, no entanto, presumir que o livro de J est descrevendo um acontecimento histrico do comeo ao fim. Somente por meio de revelao especial o autor poderia ter acesso informao concernente s duas cenas no cu descritas nos captulos 1 e 2. Alm disso, evidente que o prlogo prepara o terreno para o debate que o autor tem em mente. O dilogo entre os amigos est em forma potica altamente estilizada, muito diferente de um debate espontneo.Esses e outros fatores tm levado opinio geral de que a narrativa bsica do livro uma histria antiga de um homem real que sofreu imensamente. Um autor annimo usou esse material para discutir o significado do sofrimento humano e o relacionamento de Deus com ele. Esse autor realizou um trabalho esplndido.

4. O Texto

Um dos problemas principais apresentados ao estudioso srio do livro de J a condio do texto original. Em vrias ocasies o significado do texto difcil, se no impossvel, de ser definido e assim, por falta de continuidade, o tradutor forado a fazer algumas emendas conjecturais para que o texto faa sentido. Podemos observar isso ao comparar a variedade de significados dados a algumas divises do livro por tradutores modernos.Tambm se reconhece que o vocabulrio empregado pelo autor desse livro o mais amplo do Antigo Testamento. Inmeras palavras aparecem uma nica vez nesse livro e em nenhum outro lugar na Bblia. A comparao com lnguas de origem semelhante ajuda at certo ponto na descoberta desses significados. As descobertas em Ugarite e de alguns textos antigos tm servido de ajuda na compreenso de alguns desses termos. Mas o problema ainda permanece a tal ponto que esse um dos livros do Antigo Testamento mais difceis de ser traduzidos.

5. A Unidade do Texto

A natureza composta do livro de J geralmente aceita. O prlogo (1.1-2.13), bem como a introduo aos discursos de Eli (32.1-5) e o eplogo (42.7-17) so apresentados em prosa. O restante do texto est em forma potica. Esse fato facilmente reconhecido pelo leitor de uma traduo mais moderna como a de Moffatt ou a RSV em ingls, ou a NVI ou BLH em portugus, que colocam tanto a prosa como a poesia na forma apropriada. Embora essa alternncia de prosa e poesia por si s no prove a natureza composta do texto, ela sugere essa possibilidade. possvel que o autor e poeta tenha usado uma narrativa primitiva em relao a J a fim de prover o cenrio para o debate entre J e seus amigos. Se esse foi o caso, a antiga histria representada pelo prlogo em prosa e talvez pelo eplogo.Acredita-se, de modo geral, que o eplogo no pertena ao argumento principal do livro. J passou a maior parte do tempo negando que a prosperidade material seja a recompensa da retido. Portanto, parece uma incoerncia ver o livro terminando com o Senhor dando a J "o dobro de tudo o que antes possura" (42.10). Quem defende esse ponto de vista, acredita que a mo de um editor posterior tramou esse final para acomodar suas prprias convices em relao s questes levantadas.No entanto, Gray (1921, p. 54) argumenta energicamente que o eplogo pertence ao material original, ao dizer que o propsito real do autor simplesmente afirmar que o homem pode ser bom sem ser recompensado por isso. nesse momento que J se torna vitorioso. Ele aceita tanto o bem como o mal de Deus sem rebelar-se contra Ele, mesmo que pergunte por que e, s vezes, admita de forma amarga que Deus est contra ele, sem justa causa. J no exigiu restaurao da sua prosperidade como uma condio para servir a Deus. O que ele pediu foi uma vindicao do seu carter. Quando isso alcanado, no existe inconsistncia com o propsito e argumento do autor em permitir que a narrativa tenha um final materialmente feliz para J. Os sofrimentos que ele teve de suportar tinham um propsito particular. No havia necessidade para o sofrimento se tornar perptuo depois que o propsito tinha sido alcanado.Uma outra parte do livro, apesar da sua beleza potica e grandiosidade de pensamento, freqentemente rejeitada como parte original do livro. A sua localizao atual encontra-se inserida entre duas partes do discurso de J no qual ele se queixa amargamente da sua sorte. Essa parte do livro um poema de exaltao da sabedoria que constitui o captulo 28. Alm disso, o propsito do poema de sabedoria -se realmente for da autoria de J -, tornaria desnecessrio muito do que Deus diz a ele mais tarde no livro.Os discursos de Eli (32.6-37.24) tambm podem ter sido um acrscimo ao livro original. Em apoio a esse ponto de vista podemos observar que Eli no figura entre os amigos de J no incio da narrativa nem no eplogo. Alm disso, suas observaes acrescentam muito pouco ao debate. Elas so basicamente uma reiterao fervorosa dos mesmos princpios que foram defendidos pelos outros trs amigos. (BRIGGS,1908, p. 162).Uma outra parte do livro que normalmente vista como uma interpolao a descrio de Beemote e Leviat (40.15-41.34). As evidncias apresentadas so que essas descries so muito detalhadas em relao ao restante do discurso e que elas refletem idias a respeito de criaturas tiradas do imaginrio popular (CHARLES, 1954, P.30). O ataque contra essa parte do livro no conclusivo.

6. Autoria

O nome J (heb. 'iyyb) tem sido interpretado de vrias maneiras. Uma sugesto "Onde (est) meu Pai?". Outra leitura deriva o nome da raiz yb, "ser inimigo". possvel entend-lo como uma forma ativa (oponente de Jav) ou como uma forma passiva (algum a quem Jav trata como inimigo). Pode haver um jogo de palavras quando J lamenta ser "inimigo" ('yb) de Deus (13.24). Em todo caso, o nome bem atestado no segundo milnio, aparecendo nas Cartas de Amarna (c. 1350 a.C.) e nos textos de execrao egpcios (c. 2000). Em ambos os casos, ele aplicado a lderes tribais na Palestina e arredores. Essas ocorrncias do fora tese de que o livro registrou a antiga experincia de um sofredor real, cuja histria recebeu a formulao presente das mos de um poeta posterior.Entretanto, o valor da narrativa no repousa numa possvel base histrica. A presena do livro no cnon no tem sido debatida, mas sim sua localizao dentro dele. Nas tradies hebraicas, Salmos, J e Provrbios esto quase sempre ligados, com Salmos em primeiro, e uma variao na ordem de J e Provrbios. As verses gregas diferem muito na colocao de J - um texto o coloca no final do Antigo Testamento, depois de Eclesiastes. As tradues latinas estabeleceram uma ordem que foi seguida por nossas tradies: J, Salmos, Provrbios. Por causa do suposto ambiente patriarcal da histria e da crena de que Moiss seria seu autor, a Bblia siraca o insere entre o Pentateuco e Josu. A incerteza quanto data e ao gnero literrio respondem por essas diferenas de localizao.Quanto sua autoria, estudiosos do Antigo Testamento concordam entre si em que uma busca pelo autor desse livro est fadada ao fracasso. Em nenhuma parte do livro existe qualquer tipo de indicao quanto identidade do homem que criou essa obra de arte literria. O livro no s se mantm calado em relao sua origem, mas tambm no encontramos nenhuma sugesto bblica independente em relao sua autoria. Ezequiel (14.14,20) menciona um homem chamado J, conhecido por sua retido; e Tiago (5.11) o reconhece como modelo de pacincia. Essas duas referncias mencionam um indivduo chamado J. Elas no tratam da identidade do autor do livro.Inmeras sugestes tm sido feitas quanto a possveis autores desse livro. Entre elas esto o prprio J, Moiss e uma variedade de pessoas annimas, que vo desde a poca dos patriarcas at o terceiro sculo a.C.Embora o nome do autor nunca venha a ser conhecido por ns, algumas qualidades desse homem podem ser determinadas por meio do livro que ele escreveu.Quem quer que ele tenha sido, foi uma das maiores figuras literrias do mundo.Qualquer lista de grandes obras-primas na rea da literatura certamente incluir livro de J. Na verdade, muitos a colocariam no topo da lista. Alfred Tennyson descreveu o livro de J como o maior poema dos tempos antigos e modernos e Thomas Carlyle disse que no existe nada dentro ou fora da Bblia com o mesmo valor literrio.Ou o autor de J sofreu grandemente em sua prpria vida ou ele teve uma capacidade incomum de sentir compaixo e empatia por aqueles que sofriam. Junto com essa grande sensibilidade ele foi profundamente religioso. Ele tinha uma percepo fora do comum quanto natureza humana e estava bem inteirado com o mundo no qual vivia o mundo da natureza, das idias e da literatura.No se sabe se o autor era israelita, embora esse ponto seja debatido. Aqueles que acreditam no ser ele judeu apontam para o fato de que o nome do Deus de Israel, Jav, raramente mencionado, exceto no prlogo e eplogo em prosa, enquanto que nos dilogos, em forma de poesia, so usados termos que eram de uso comum entre os povos vizinhos que circundavam Israel. Alm disso, destaca-se o fato de que no livro no se encontra nenhuma instituio ou costume caracteristicamente judaicos e que o cenrio da histria Uz, uma terra do Oriente (1.3). (BEACON, 2005, p. 24).Por outro lado, aqueles que entendem que o autor israelita apontam para o fato de que a histria preservada e canonizada na literatura sagrada de Israel. Alm disso, embora a literatura da "sabedoria" fosse comum nos tempos antigos em todo o Oriente Prximo, as idias teolgicas do livro de J se enquadram melhor no pano de fundo e quadro de referncia bblico do que em qualquer outro lugar.Podemos aceitar que o autor desconhecido do livro tenha usado um homem histrico "de Uz", chamado J, conhecido por todos pelo seu sofrimento e integridade, para ser o heri desse dilogo. Outras perguntas relativas autoria devem permanecer sem soluo.

7. Data da Composio

A poca da composio desse livro permanece um problema to complicado quanto o da autoria. Diversas datas foram sugeridas e elas variam desde o sculo XVIII at o sculo lII a.C.De acordo com a descrio do livro, o homem J mostra um tipo de vida e cultura que mais se aproxima do perodo patriarcal. Por exemplo, o livro afirma que J viveu mais 140 anos depois da restaurao da sua sade e riqueza, alm dos anos que ele tinha vivido antes do seu infortnio (POPE, 1965, p. 135). No h expectativa de vida como essa na narrativa bblica depois do perodo patriarcal. A riqueza de J consistia basicamente em rebanhos e manadas, como ocorria com os patriarcas. O prprio J oferece sacrifcios pela sua famlia, como era o costume dos patriarcas. No entanto, ele parece desconhecer a oferta pelo pecado e outras prticas mosaicas.Esse tipo de considerao faz com que muitos estudiosos acreditem que o prlogo (1.1-3.1) e o eplogo (42.7-16), nos quais aparece essa informao, reflitam um registro mais antigo que serviu de base para o dilogo potico que foi escrito bem mais tarde.No encontramos nenhuma aluso no livro de J que poderia nos ajudar na averiguao da data da sua composio. Portanto, o nico meio de definir uma data segura seria a sua relao literria com outros materiais da mesma poca.Infelizmente, no existe muito material desse tipo para nos ajudar a encontrar essa data. Ezequiel (14.1420) cita um homem com esse nome, mas no se sabe se ele conhecia o livro de J. A maldio de Jeremias em relao ao dia do seu nascimento (20.14) e a de J (3.1-26) so notavelmente semelhantes, mas impossvel dizer qual deles poderia ter a obra do outro em mente. Malaquias 3.13-18 poderia facilmente ter sido escrito com o livro de J em mente. Robert H. Pfeiffer (1941, p.145) argumenta que J foi escrito antes do poema do servo-sofredor de Isaas (52.13-53.12), alegando que o sofrimento vicrio em Isaas teologicamente mais avanado do que a compreenso de J acerca do significado do sofrimento imerecido, mas esse um argumento baseado em uma premissa duvidosa. A descoberta de um Targum de J nas cavernas de Qumr prova que o livro j estava em circulao durante algum tempo antes do primeiro sculo a.C.A data do livro de J permanece uma questo aberta, mas a opinio majoritria que o dilogo ocorreu no sculo VII a.C. (GRAY, op. cit., p. 37).8. Lugar no Cnon

O livro de J faz parte da terceira diviso do cnon hebraico, o Kethubim, os hagigrafos, ou Escritos. A ordem nessa diviso tem variado nas diferentes tradies. Atualmente J colocado entre Provrbios e Cantares de Salomo (Cnticos de Salomo) no cnon hebraico. A Traduo Brasileira coloca J entre Ester e os Salmos, onde J o primeiro dos trs grandes livros poticos. Essa a ordem usada por Jernimo na sua traduo Vulgata e subseqentemente ela foi confirmada no Conclio de Trento (1545-1563) em sua declarao oficial do cnon das Escrituras.

9. Lugar, contedo e valor

Como j firmamos acima, pensa-se que a terra de Uz (J 1.1), ficava ao longo dos limites da Palestina com a Arbia, estendendo-se de Edom, pelo Norte e Leste, ao rio Eufrates, e ladeando a rota de caravanas entre a Babilnia e o Egito. O distrito da terra Uz, que a tradio tem dado como ptria de J era Haur, regio ao leste do mar da Galilia, conhecida pela fertilidade do solo e seus cereais, que j foi densamente povoada, hoje pontilhada de runas de 300 cidades.Quatro amigos de J -Elifaz, Bildade, Zofar e Eli - representam tudo que a teologia ortodoxa teria a dizer acerca do significado das calamidades que haviam arrasado a felicidade e a estabilidade de J. Com a possvel exceo de Eli, a sua contribuio gravemente limitada por uma inexorvel interpretao do sofrimento: o sofrimento como conseqncia do pecado pessoal. Se eles se tivessem limitado a estabelecer a solidariedade humana no pecado, J ter-lhe-ia dado a sua imediata aprovao, visto que ele jamais se considera um homem perfeito; mas ao ouvi-los insinuar e depois direta e claramente afirmar que o seu sofrimento era o inevitvel fruto da semente do pecado que ele cometera e de que s Deus era testemunha, J nega veementemente e coerentemente a exatido do seu juzo.O livro de J um livro universal porque se dirige a uma necessidade universal - a agonia do corao humano torturado pela angstia e pelas muitas aflies a que a carne sujeita. Para o afirmar bastar-nos-ia o testemunho de uma mulher que, ao morrer de um cancro, declarava que o livro de J falava sua alma como nenhum outro livro da Bblia. Ao testemunho dos grandes sofredores se tm juntado as vozes de grandes cristos e grandes poetas num coro de admirao pelas verdades que o livro transmite, por vezes, atravs da mais elevada poesia. Lutero afirmava que o livro de J era "magnfico e sublime como nenhum outro das Escrituras".Tennyson chamava-lhe "o maior poema de todos os tempos -antigos e modernos".Qual , ento, a mensagem do livro, como se dirige ele grande necessidade universal?O livro denuncia, de maneira notvel, a insuficincia dos horizontes humanos para uma compreenso adequada do problema do sofrimento. Todas as figuras do drama falam com o desconhecimento absoluto das alegaes de Satans contra a piedade de J, descritas no prlogo, e da conseqente permisso divina - a permisso concedida a Satans, de provar, se puder, a exatido das suas acusaes. Com o prlogo como pano de fundo, os sofrimentos de J aparecem, portanto, no como irrefutvel prova de castigo divino, como pretendiam os amigos, mas como prova de confiana divina no seu carter. Devemos evitar o uso de linguagem que possa fazer supor que um Deus onisciente necessitava de uma demonstrao da integridade do Seu servo para pr termo a uma pequena dvida que surgira na Sua mente; mas podemos encontrar na histria a sugesto daquela verdade de que "agora vemos por espelho, em enigma". J e os seus amigos tentavam resolver um problema para o qual lhes faltavam elementos; era como se procurassem formar a figura de um quebra-cabea sem possurem todas as peas.Conseqentemente, o livro de J um eloqente comentrio insuficincia da mente humana para reduzir a complexidade do problema a frmulas simples e acessveis. um livro em que o homem silencioso, o homem que se cala, realiza mais do que o que discorre e o que discursa (Cfr. 2.13; 13.5). Mas o autor, que recomenda, sem dvida, a humildade perante o sofrimento, jamais advoga o desespero. Ele cr num Deus que pode satisfazer a necessidade humana. O aparecimento dos homens que vm aconselhar J conduz controvrsia, desiluso e ao desespero; a revelao de Deus promove a submisso, a f e a coragem. A palavra do homem impotente para penetrar a escurido da mente de J; a palavra de Deus traz luz e luz eterna. O Deus da teofania no responde a nenhuma das questes to calorosamente debatidas em todo o livro; mas satisfaz a necessidade do corao de J. No explica cada fase da batalha; mas torna J mais do que vencedor nessa batalha.Como os restantes livros do Velho Testamento, J anuncia-nos Cristo. Surgem problemas e ouvem-se grandes soluos de agonia a que s Jesus pode responder. O livro toma o seu lugar no testemunho de todas as idades e de todos os tempos: no corao humano existe um vazio que s Jesus pode preencher.J um dos livros sapienciais e poticos do Antigo Testamento; sapiencial, porque trata profundamente de relevantes assuntos universais da humanidade; potico, porque a quase totalidade do livro est elaborada em estilo potico. Sua poesia, todavia, tem por base um personagem histrico e real (Ez 14.14,20) e um evento histrico e real (Tg 5.11).Victor Hugo disse: O livro de J talvez a maior obra-prima do esprito humano.Thomas Carlyle: Denomino este livro, parte de todas as teorias a seu respeito, uma das maiores coisas que j se escreveram.

10. O livro de J lida com a pergunta dos sculos

Se Deus justo e amoroso, por que permite que um homem realmente justo, tal como J (J 1.1,8) sofra tanto? Sobre esse assunto o livro revela as seguintes verdades:

(a) Satans, como adversrio de Deus, teve permisso para provar a autenticidade da f de um homem justo, por meio da aflio, mas a graa de Deus triunfou sobre o sofrimento, porque J permaneceu firme e constante na f, mesmo quando parecia no haver qualquer proveito em permanecer fiel a Deus.

(b) Deus lida com situaes demais elevadas para a plena compreenso da mente humana (J 37.5). Nesses casos, no vemos as coisas com a amplitude que Deus v e precisamos da sua graciosa autorevelao (J 3841).

(c) A verdadeira base da f acha-se, no nas bnos de Deus, nem em circunstncias pessoais, nem em teses formuladas pelo intelecto, mas na revelao do prprio Deus.

(d) Deus, s vezes, permite que Satans prove os justos mediante contratempos, a fim de purificar a sua f e vida, assim como o ouro refinado pelo fogo (J 23.10; confronte 1Pe 1.6,7). Tal provao resulta numa maior integridade espiritual e humildade do seu povo (J 42.1-10).

(e) Embora os mtodos de Deus agir, s vezes, paream contraditrios e cruis (conforme o prprio J pensava), ver-se-, no fim, que Ele plenamente compassivo e misericordioso (J 42.7-17; confronte Tg 5.11).

11. O livro de J e seu cumprimento no Novo Testamento

O Redentor a quem J confessa (J 19.25-27), o Mediador por quem ele anseia (J 9.32,33) e as respostas s suas perguntas e necessidades mais profundas, todos tm em Jesus Cristo o seu cumprimento. Jesus identificou-se inteiramente com o sofrimento humano (confronte Hb 4.15,16; 5.8), ao ser enviado pelo Pai como Redentor, mediador, sabedoria, cura, luz e vida. A profecia da parte do Esprito sobre a vinda de Cristo, temo-la mais claramente em J 19.25-27. Meno explcita de J, temos duas vezes no Novo Testamento:(a) Uma citao (J 5.13, em 1Co 3.19).(b) Uma referncia perseverana de J na aflio e o resultado misericordioso da maneira de Deus lidar com ele (Tg 5.11).J ilustra muito bem a verdade neotestamentria de que quando o crente experimenta perseguio ou algum outro severo sofrimento, deve perseverar firme na f e continuar a confiar naquele que julga corretamente, assim como fez o prprio Jesus quando aqui sofreu (1Pe 2.23). J 1.62.10 o mais detalhado quadro do nosso adversrio, juntamente com 1Pe 5.8,9.

12. A Contribuio Teolgica

Todos os livros da Bblia devem ser estudados como um todo, com suas partes vistas em relao ao propsito geral do autor. Isso merece ateno especial em J.Suas partes no devem ser arrancadas do todo, e suas nfases principais no devem ser cristalizados em princpios rgidos nem calibrados em proposies estreitas.

12.1. A Liberdade Divina

Para os portadores da sabedoria convencional, o livro apresenta um Deus livre para realizar suas surpresas, corrigir distores humanas e revisar os livros escritos a seu respeito. Deus livre para entrar no teste de Satans e no dizer nada a respeito disso aos participantes do teste. Ele estabelece o momento de sua interveno e determina sua agenda. Deus livre para no responder s perguntas provocativas de J e para no concordar com as doutrinas pretensiosas dos amigos. Acima de tudo, ele livre para preocupar-se suficientemente a fim de confrontar J e perdoar os amigos.Assim como toda a Escritura, o autor de J retrata um Deus no obrigado pelos interesses humanos nem limitado pelos conceitos humanos a seu respeito. O que Deus faz brota livremente da prpria vontade dele. No h diretrizes a que precise conformar-se. Ele optou por criar e manter o universo, optou por inaugurar e governar a marcha da histria. Deus pode agir de acordo com a ordem e o padro anunciado em Deuteronmio e Provrbios ou transcender esses limites em J.Uma lio nisso que as pessoas s encontram a liberdade medida que reconhecem a liberdade divina. Nada mais frustrante e limitador que estabelecer regras para Deus e depois ficar querendo saber por que ele no obedece a elas.

12.2. A Provao de Satans

Uma das primeiras referncias do Antigo Testamento a esse adversrio seu aparecimento no prlogo (cf. 1Cr 21.1; Zc 3.1). Satans tem acesso presena de Jav, mas governado pela soberania dele. Nada d a entender que Satans seja mais que criatura de Deus; a doutrina bblica da criao bane toda forma real de dualismo. Mas tudo d a entender que as intenes de Satans so nocivas.Ele representa o conflito e a inimizade. Seus propsitos so contrrios aos alvos de Deus e hostis ao bem-estar de J.A ausncia de Satans no eplogo no deve ser "lamentada como uma falha na harmonia entre o prlogo e o eplogo". (ROBERT e FEUILLET, p. 425, s.d.). Trata-se de um fator deliberado na mensagem do livro. Deus, no Satans, soberano. O teste foi vencido. A histria aponta para o futuro de J, no seu passado. Satans no passa de um intruso no relacionamento entre Deus e J, conforme descrito no incio e no fim do livro.A funo de Satans em J anuncia sua funo no restante da Bblia. Ele uma criatura de Deus, mas um inimigo da vontade de Deus (cf. Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). Ele procura perturbar o povo de Deus fsica (2Co 12.7) e espiritualmente (11.14). Ele foi derrotado pela obedincia de Cristo e desaparecer da histria no final (Ap 20.2,7, 10).O centro da estratgia de Satans no era induzir J a cometer pecados tais como imoralidade, desonestidade ou violncia, mas tent-lo para que cometesse o pecado - ser desleal a Deus. A lealdade, a confiana e a fidelidade so a essncia da piedade bblica, as razes de onde brotam todos os frutos da justia.Satans, seguindo seu padro de sempre, buscou a raiz do problema: o relacionamento de J com Deus. J passou pelo teste de lealdade e conquistou notas mximas, apesar de seus protestos e contestaes.

12.3. Retribuio e Justia

A mensagem de J reformula o entendimento da doutrina da retribuio divina.O padro geral de justa retribuio permanece operante: bons atos beneficiam, maus atos prejudicam. Esse princpio, porm, no absoluto. Foras e poderes, celestiais e terrenos, interrompem a seqncia de causa e efeito. Alguns perversos podem prosperar e ter vida longa; alguns justos podem sofrer agonia crnica (caps. 21; 24.1-17). S o julgamento final de Deus trar justia a todos.Alm disso, a histria de J alerta contra a aplicao desse princpio a todas as situaes. Desde que o justo pode sofrer e o perverso, prosperar, perigoso rotular o sofredor de culpado de algum pecado secreto ou louvar o prspero, considerando-o justo. O desgnio moral do universo por demais complexo para prestar-se a esse princpio simples. A dor, as dificuldades e a tragdia no requerem dos que tm servido fielmente a Deus que se sintam culpados ou duvidem de seu relacionamento com Deus.Os discursos de Jav ensinam que Deus restringe o movimento dos perversos e promove o bem geral de cada dimenso da criao -o deserto e o osis, o selvagem e o domesticado. Deus busca o equilbrio e a liberdade dentro da criao, no s a aplicao da retribuio. Em seu governo h graa e tolerncia. Deus promove o bem-estar dos que o buscam com sinceridade, ainda que escolha o momento e o lugar. A prosperidade abundante de J aps seu encontro com Deus era em princpio um dom da graa de Deus. No era um prmio conquistado por ele ter enfrentado o sofrimento.A experincia de J demonstra que a pessoa pode servir resoluta a Deus na adversidade e na riqueza. A maior virtude humana ver a Deus, como J confessou em sua resposta ao segundo discurso de Jav (42.5). A presena e a aceitao de Deus muito excedem o peso de qualquer sofrimento temporal, mesmo da pior situao possvel.J apegou-se prpria f e integridade durante toda a sua provao.Prevaleceu sobre o sofrimento imerecido e abriu caminho para o retrato do servo sofredor pintado por Isaas, o qual, ainda que justo, sofre em favor dos outros (49.1-7; 50.4-9; 52.13-53.12). A dura sorte de J torna possvel crer que Jesus, o Messias, era de fato justo, ainda que tenha sofrido uma morte martirizante entre criminosos.

12.4. Fora no Sofrimento

Nem todas as vidas sofrero aflies da magnitude das de J. Ainda assim, sofrimentos intensos e prolongados sero um fardo de praticamente todos os seres humanos. Com certeza um dos propsitos de J ajudar-nos a enfrentar tais adversidades.O livro faz isso preparando o leitor para aceitar a liberdade divina. J esmaga os dolos da mente das pessoas e deixa um quadro realista de Deus. A viso do Deus livre abre as pessoas para propsitos misteriosos, para alvos justos no sofrimento por ele permitido. Deus visto como algum poderoso, mas no mesquinho; vitorioso, mas no vingativo. O leitor pode crer que Deus trar o bem por meio do sofrimento, mesmo que o justo odeie cada frao da dor.J tambm ensina a importncia da amizade no sofrimento. Especialmente condenados so a admoestao simplista, o conselho ingnuo e o falso consolo. Eles causam dano, mesmo quando motivados pelo desejo de defender Deus diante de palavras custicas proferidas por algum que esteja sofrendo. A maior tragdia do livro pode ser a do fracasso da amizade agravado por uma teologia plausvel mal-aplicada.J no sofreu em silncio, mas discutiu com seus amigos e reclamou com Deus.No fim, Deus rechaou essas reclamaes, mas no julgou J por elas.Independentemente do que possa estar includo num relacionamento bblico com Deus, com certeza h espao para uma confiana em Deus construda com honestidade e para a segurana de seu amor. Alguns dos mais nobres personagens da Bblia - Jeremias, os salmistas, Habacuque e at Jesus Cristo (Mc 14.36; 15.34) - queixaram-se de sua condio e assim encontraram alvio no sofrimento.Uma ltima lio sobre como lidar com o sofrimento vem do senso de lealdade a Deus demonstrado por J. A conscincia de J estava limpa. Sua dor, ainda que lancinante, no era agravada pelo peso da culpa. A rebelio aberta, a deslealdade flagrante e a recusa do perdo podem, todas, tornar insuportvel o sofrimento de qualquer pessoa. dor, elas acrescentam o medo da culpa. Mas J sabia que seu compromisso com Deus estava ntegro e confiou nesse compromisso como sustentao at a morte e depois dela (19.23-29). (STEELY, 1980, p. 245)."Observaste o meu servo J?" (1.8; 2.3) uma pergunta que serve para todos. Tiago usou J como exemplo dos que aprendem a felicidade na escola do sofrimento: "Eis que temos por felizes os que perseveram firmes. Tendes ouvido da perseverana de J e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor cheio de terna misericrdia e compassivo" (Tg 5.11). Haveria resumo melhor da mensagem do livro -um sofredor perseverante mantido nos braos de um Deus determinado e compassivo? (LASOR, 1999, p. 541).

13. Pontos Salientes

A. O Sofrimento dos Justos

J 2.7,8: Ento, saiu Satans da presena do SENHOR e feriu a J de uma chaga maligna, desde a planta do p at ao alto da cabea. E J, tomando um pedao de telha para raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza.A fidelidade a Deus no garantia de que o crente no passar por aflies, dores e sofrimentos nesta vida (At 28.16). Na realidade, Jesus ensinou que tais coisas podero acontecer ao crente (Jo 16.1-4,33; 2Tm 3.12). A Bblia contm numerosos exemplos de santos que passaram por grandes sofrimentos, por diversas razes e.g., Jos, Davi, J, Jeremias e Paulo.

13.1. Por que os crentes sofrem?

So diversas as razes por que os crentes sofrem.O crente experimenta sofrimento como uma decorrncia da queda de Ado e Eva.Quando o pecado entrou no mundo, entrou tambm a dor, a tristeza, o conflito e, finalmente, a morte sobre o ser humano (Gn 3.16-19). A Bblia afirma o seguinte: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim tambm a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram (Rm 5.12). Realmente, a totalidade da criao geme sob os efeitos do pecado, e anseia por um novo cu e nova terra (Rm 8.20-23; 2Pe 3.10-13). nosso dever sempre recorrermos graa, fortaleza e consolo divinos (1Co 10.13).Certos crentes sofrem pela mesma razo que os descrentes sofrem, i.e., conseqncia de seus prprios atos. A lei bblica Tudo o que o homem semear, isso tambm ceifar (Gl 6.7) aplica-se a todos de modo geral. Se guiarmos com imprudncia o nosso automvel, poderemos sofrer graves danos. Se no formos comedidos em nossos hbitos alimentares, certamente vamos ter graves problemas de sade. nosso dever sempre proceder com sabedoria e de acordo com a Palavra de Deus e evitar tudo o que nos privaria do cuidado providente de Deus.O crente tambm sofre, pelo menos no seu esprito, por habitar num mundo pecaminoso e corrompido. Por toda parte ao nosso redor esto os efeitos do pecado.Sentimos aflio e angstia ao vermos o domnio da iniqidade sobre tantas vidas (Ez 9.4; At 17.16; 2Pe 2.8). nosso dever orar a Deus para que Ele suplante vitoriosamente o poder do pecado.

13.2. Os crentes enfrentam ataques do diabo

(a) As Escrituras claramente mostram que Satans, como o deus deste sculo (2Co 4.4), controla o presente sculo mau (1Jo 5.19; Gl 1.4; Hb 2.14). Ele recebe permisso para afligir crentes de vrias maneiras (1Pe 5.8,9). J, um homem reto e temente a Deus, foi atormentado por Satans por permisso de Deus (ver principalmente J 12). Jesus afirmou que uma das mulheres por Ele curada estava presa por Satans h dezoito anos (cf. Lc 13.11,16). Paulo reconhecia que o seu espinho na carne era um mensageiro de Satans, para me esbofetear (2Co 12.7). Na medida em que travamos guerra espiritual contra os prncipes das trevas deste sculo (Ef 6.12), inevitvel a ocorrncia de adversidades. Por isso, Deus nos proveu de armadura espiritual (Ef 6.10-18; 6.11) e armas espirituais (2Co 10.3-6). nosso dever revestir-nos de toda armadura de Deus e orar (Ef 6.10-18), decididos a permanecer fiis ao Senhor, segundo a fora que Ele nos d.

(b) Satans e seus seguidores se comprazem em perseguir os crentes. Os que amam ao Senhor Jesus e seguem os seus princpios de verdade e retido sero perseguidos por causa da sua f. Evidentemente, esse sofrimento por causa da justia pode ser uma indicao da nossa fiel devoo a Cristo (Mt 5.10). nosso dever, uma vez que todos os crentes tambm so chamados a sofrer perseguio e desprezo por causa da justia, continuar firmes, confiando naquele que julga com justia (Mt 5.10,11; 1Co 15.58; 1Pe 2.21-23).De um ponto de vista essencialmente bblico, o crente tambm sofre porque ns temos a mente de Cristo (1Co 2.16). Ser cristo significa estar em Cristo, estar em unio com Ele; nisso, compartilhamos dos seus sofrimentos (1Pe2.21). Por exemplo, assim como Cristo chorou em agonia por causa da cidade mpia de Jerusalm, cujos habitantes se recusavam a arrepender-se e a aceitar a salvao (Lc 19.41), tambm devemos chorar pela pecaminosidade e condio perdida da raa humana. Paulo incluiu na lista de seus sofrimentos por amor a Cristo (2Co 11.23-32; 11.23) a sua preocupao diria pelas igrejas que fundara: quem enfraquece, que eu tambm no enfraquea? Quem se escandaliza, que eu no me abrase? (2Co 11.29). Semelhante angstia mental por causa daqueles que amamos em Cristo deve ser uma parte natural da nossa vida: chorai com os que choram (Rm 12.15). Realmente, compartilhar dos sofrimentos de Cristo uma condio para sermos glorificados com Cristo (Rm 8.17). nosso dever dar graas a Deus, pois, assim como os sofrimentos de Cristo so nossos, assim tambm nosso o seu consolo (2Co 1.5).

13.3. Deus pode usar o sofrimento como catalisador para o nosso crescimento ou melhoramento espiritual

(a) Freqentemente, Ele emprega o sofrimento a fim de chamar a si o seu povo desgarrado, para arrependimento dos seus pecados e renovao espiritual. nosso dever confessar nossos pecados conhecidos e examinar nossa vida para ver se h alguma coisa que desagrada o Esprito Santo.

(b) Deus, s vezes, usa o sofrimento para testar a nossa f, para ver se permanecemos fiis a Ele. A Bblia diz que as provaes que enfrentamos so a prova da vossa f (Tg 1.3; 1.2); elas so um meio de aperfeioamento da nossa f em Cristo (Dt 8.3; 1Pe 1.7). nosso dever reconhecer que uma f autntica resultar em louvor, e honra, e glria na revelao de Jesus Cristo (1Pe 1.7).

(c) Deus emprega o sofrimento, no somente para fortalecer a nossa f, mas tambm para nos ajudar no desenvolvimento do carter cristo e da retido. Segundo vemos nas cartas de Paulo e Tiago, Deus quer que aprendamos a ser pacientes mediante o sofrimento (Rm 5.3-5; Tg 1.3). No sofrimento, aprendemos a depender menos de ns mesmos e mais de Deus e da sua graa (Rm 5.3; 2Co 12.9). nosso dever estar afinados com aquilo que Deus quer que aprendamos atravs do sofrimento.

(d) Deus tambm pode permitir que soframos dor e aflio para que possamos melhor consolar e animar outros que esto a sofrer (2Co 1.4). nosso dever usar nossa experincia advinda do sofrimento para encorajar e fortalecer outros crentes.Finalmente, Deus pode usar, e usa mesmo, o sofrimento dos justos para propagar o seu reino e seu plano redentor. Por exemplo: toda injustia por que Jos passou nas mos dos seus irmos e dos egpcios faziam parte do plano de Deus para conservar vossa sucesso na terra e para guardar-vos em vida por um grande livramento. O principal exemplo, aqui, o sofrimento de Cristo, o Santo e o Justo (At 3.14), que experimentou perseguio, agonia e morte para que o plano divino da salvao fosse plenamente cumprido. Isso no exime da iniqidade aqueles que o crucificaram (At 2.23), mas indica, sim, como Deus pode usar o sofrimento dos justos pelos pecadores, para seus prprios propsitos e sua prpria glria.

13.4. O Relacionamento de Deus com o sofrimento do crente

O primeiro fato a ser lembrado este: Deus acompanha o nosso sofrer. Satans o deus deste sculo, mas ele s pode afligir um filho de Deus pela vontade permissiva de Deus (cf. 12). Deus promete na sua Palavra que Ele no permitir sermos tentados alm do que podemos suportar (1Co 10.13).Temos tambm de Deus a promessa que Ele converter em bem todos os sofrimentos e perseguies daqueles que o amam e obedecem aos seus mandamentos (Rm 8.28). Jos verificou esta verdade na sua prpria vida de sofrimento (Gn 50.20), e o autor de Hebreus demonstra como Deus usa os tempos de apertos da nossa vida para nosso prprio crescimento e benefcio (Hb 12.5).Alm disso, Deus promete que ficar conosco na hora da dor; que andar conosco pelo vale da sombra da morte (Sl 23.4; cf. Is 43.2).

13.5. Vitria sobre o sofrimento pessoal

Se voc est sob provaes e aflies, que deve fazer para triunfar sobre tal situao?Primeiro: examinar as vrias razes por que o ser humano sofre (ver seo 1, supra) e ver em que sentido o sofrimento concerne a voc. Uma vez identificada a razo especfica, voc deve proceder conforme o contido em nosso dever.Creia que Deus se importa sobremaneira com voc, independente da severidade das suas circunstncias (Rm 8.36; 2Co 1.8-10; Tg 5.11; 1Pe 5.7). O sofrimento nunca deve fazer voc concluir que Deus no lhe ama, nem rejeit-locomo seu Senhor e Salvador.Recorra a Deus em orao sincera e busque a sua face. Espere nEle at que liberte voc da sua aflio (Sl 27.8-14; 40.1-3; 130).Confie que Deus lhe dar a graa para suportar a aflio at chegar o livramento (1Co 10.13; 2Co 12.7-10). Convm lembrar de que sempre somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou (Rm 8.37; Jo 16.33). A f crist no consiste na remoo de fraquezas e sofrimento, mas na manifestao do poder divino atravs da fraqueza humana (2Co 4.7).Leia a Palavra de Deus, principalmente os salmos de conforto em tempos de lutas (e.g., Sl 11; 16; 23; 27; 40; 46; 61; 91; 121; 125; 138).Busque revelao e discernimento da parte de Deus referente sua situao especfica mediante a orao, as Escrituras, a iluminao do Esprito Santo ou o conselho de um santo e experiente irmo.No sofrimento, lembre-se da predio de Cristo, de que voc ter aflies na sua vida como crente (Jo 16.33). Aguarde com alegria aquele ditoso tempo quando Deus limpar de seus olhos toda lgrima, e no haver mais morte, nem pranto, nem clamor (Ap 21.4).

B. A Morte

J 19.25,26: Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantar sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus.Todo ser humano, tanto crente quanto incrdulo, est sujeito morte. A palavra morte tem, porm, mais de um sentido na Bblia. importante para o crente compreender os vrios sentidos do termo morte.

13.6. A morte como resultado do pecado

Gnesis 23 ensina que a morte penetrou no mundo por causa do pecado. Nossos primeiros pais foram criados capazes de viverem para sempre. Ao desobedecerem o mandamento de Deus, tornaram-se sujeitos penalidade do pecado, que a morte.Ado e Eva ficaram agora sujeitos morte fsica. Deus colocara a rvore da vida no jardim do den para que, ao comer continuamente dela, o ser humano nunca morresse (Gn 2.9). Mas, depois de Ado e Eva comerem do fruto da rvore do bem e do mal, Deus pronunciou estas palavras: s p e em p te tornars (Gn 3.19).Eles no morreram fisicamente no dia em que comeram, mas ficaram sujeitos lei da morte como resultado da maldio divina.Ado e Eva tambm morreram no sentido moral, Deus advertia Ado que se comesse do fruto proibido, ele certamente morreria (Gn 2.17). Ado e sua esposa no morreram fisicamente naquele dia, mas moralmente, sim, i.e., a sua natureza tornou-se pecaminosa. A partir de Ado e Eva, todos nasceram com uma natureza pecaminosa (Rm 8.5-8), i.e., uma tendncia inata de seguir seu prprio caminho egosta, alheio a Deus e ao prximo (Gn 3.6; Rm 3.10-18; Ef 2.3; Cl 2.13).Ado e Eva tambm morreram espiritualmente quando desobedeceram a Deus, pois isso destruiu o relacionamento ntimo que tinham antes com Deus (Gn 3.6). J no anelavam caminhar e conversar com Deus no jardim; pelo contrrio, esconderam-se da sua presena (Gn 3.8). A Bblia tambm ensina que, parte de Cristo, todos esto alienados de Deus e da vida nEle (Ef 4.17,18); i.e., esto espiritualmente mortos.Finalmente, a morte, como resultado do pecado, importa em morte eterna. A vida eterna viria pela obedincia de Ado e Eva (cf. Gn 3.22); ao invs disso, a lei da morte eterna entrou em operao. A morte eterna a eterna condenao e separao de Deus como resultado da desobedincia do homem para com Deus.A nica maneira de o ser humano escapar da morte em todos os seus aspectos atravs de Jesus Cristo, que aboliu a morte e trouxe luz a vida e a incorrupo (2Tm 1.10). Ele, mediante a sua morte, reconciliou-nos com Deus, e, assim, desfez a separao e alienao espirituais resultantes do pecado (Gn 3.24; 2Co 5.18). Pela sua ressurreio Ele venceu e aboliu o poder de Satans, do pecado e da morte fsica (Gn 3.15; Rm 6.10; cf. Rm 5.18,19; 1Co 15.12-28; 1Jo 3.8).

13.7. A morte fsica do crente

Embora o crente em Cristo tenha a certeza da vida ressurreta, no deixar de experimentar a morte fsica. O crente, porm, encara a morte de modo diferente do incrdulo.A morte, para os salvos, no o fim da vida, mas um novo comeo. Neste caso, ela no um terror (1Co 15.55-57), mas um meio de transio para uma vida mais plena. Para o salvo, morrer ser liberto das aflies deste mundo (2Co 4.17) e do corpo terreno, para ser revestido da vida e glria celestiais (2Co 5.1-5). Paulo se refere morte como sono (1Co 15.6,18,20; 1Ts 4.13-15), o que d a entender que morrer descansar do labor e das lutas terrenas (cf. Ap 14.13).A Bblia refere-se morte do crente em termos consoladores. Por exemplo, ela afirma que a morte do santo Preciosa vista do SENHOR (Sl 116.15). a entrada na paz (Is 57.1,2) e na glria (Sl 73.24); ser levado pelos anjos para o seio de Abrao (Lc 16.22); ir ao Paraso (Lc 23.43); ir casa de nosso Pai, onde h muitas moradas (Jo 14.2); uma partida bem aventurada para estar com Cristo (Fp 1.23); ir habitar com o Senhor (2Co 5.8); um dormir em Cristo (1Co 15.18; cf. Jo 11.11; 1Ts 4.13); ganho... ainda muito melhor (Fp 1.21,23), a ocasio de receber a coroa da justia (2Tm 4.8).Quanto ao estado dos salvos, entre sua morte e a ressurreio do corpo, as Escrituras ensinam o seguinte:(a) No momento da morte, o crente conduzido presena de Cristo (2Co 5.8; Fp 1.23).(b) Permanece em plena conscincia (Lc 16.19-31) e desfruta de alegria diante da bondade e amor de Deus.(c) O cu como um lar, i.e., um maravilhoso lugar de repouso e segurana (Ap 6.11) e de convvio e comunho com os santos (Jo 14.2).(d) O viver no cu incluir a adorao e o louvor a Deus (Sl 87; Ap 14.2,3; 15.3).(e) Os salvos nos cu, at o dia da ressurreio do corpo, no so espritos incorpreos e invisveis, mas seres dotados de uma forma corprea celestial temporria (Lc 9.30-32; 2Co 5.1-4).(f) No cu, os crentes conservam sua identidade individual (Mt 8.11; Lc 9.30-32).(g) Os crentes que passam para o cu continuam a almejar que os propsitos de Deus na terra se cumpram (Ap 6.9-11).Embora o salvo tenha grande esperana e alegria ao morrer, os demais crentes que ficam no deixam de lamentar a morte de um ente querido. Quando Jac faleceu, por exemplo, Jos lamentou profundamente a perda de seu pai. O que se deu com Jos ante a morte de seu pai semelhante ao que acontece a todos os crentes, quando falece um seu ente querido (Gn 50.1).

Antigo Testamento II Histricos e Poticos 18