espiral do tempo 34

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A revista de quase todos os relogios.

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15 Grande Plano Voar sobre a águaA Audemars Piguet mantem-se firme na sua ligação ao mundo do mar com o L’Hydroptère.

17 Grande Plano Jenson Button na primeira pessoaEu penso que há muitas semelhanças entre mim e a TAG Heuer. Tenho muito orgulho em tudo o que conquistei na minha carreira mas quero mais.

19 Grande Plano ‘Para siempre’José Carreras e Sara Baras actuaram juntos na festa de celebração do 150º aniversário da Chopard.

20 Editorial, por Hubert de Haro

24 Cúmplices

26 Entrevista de capa Carlos Queiroz numa entrevista conduzida por Hubert de Haro e fotografado por Kenton ThatcherÀ semelhança da personagem de O Alquimista, que regressa à sua aldeia para encontrar o que procurara toda a sua vida numa viagem pelo mundo, Carlos Queiroz transmite uma necessidade quase orgânica de falar sobre África.

33 Reportagem Ser Benfiquista, entrevista conduzida por Hubert de Haro e fotografado por Kenton Thatcher

37 Mar Heróis do mar, por Cesarina Sousa e Miguel SeabraOs relógios de mergulho estão sujeitos a uma enorme pressão e são instrumentos vitais para os mergulhadores. Por esta razão, só podem integrar esta categoria instrumentos com características específicas e que passam os testes definidos pela norma ISO 6425.

42 Editorial de moda Chamem-me IshmaelRealização Ricardo Preto, fotografia Nuno Correia

56 Crónica O amor das nossas vidas, por Miguel Esteves Cardoso

59 História O Caminho da Estrelas, por Cesarina SousaA meridiana da Basílica de Santa Maria degli Angeli

63 Cinema Relógios da Ribalta, por Cesarina SousaNo ano em que se comemoram os 100 anos do primeiro filme gravado em Hollywood, reservamos o palco para os relógios que são estrelas de cinema.

66 História 50 anos de um mergulho históricoEm Janeiro de 1960 um Rolex Oyster desceu 10.900 metros de profundi-dade, amarrado ao batíscafo Trieste. Um recorde até hoje não superado.

69 Submetidos à questãoO mundo da relojoaria nas palavras dos protagonistas

70 Internet Surf’n tell

72 Iniciativa De regresso ao marEntre as embarcações que participam na sexta edição do Panerai Classic Yachts Challenge 2010 encontra-se o Eilean, um veleiro de 1936 restau-rado com o apoio da marca italiana.

74 Crónica Ponteiros da austeridade, por Miguel Seabra

76 Laboratório A.Lange & Söhne Zeitwerk, por Dody Giussani

Em Foco, por Miguel Seabra80 Vacheron Constantin Patrimony Contemporaine Bi-Retrogade82 Porsche Design Cronógrafo Rattrapante P’675084 Audemars Piguet Royal Oak Offshore Grand Prix86 Franck Muller Master Banker88 Jaeger-LeCoultre Master Control Chronograph90 TAG Heuer Estojo Carrera Série S92 Graham Silverstone Stowe GMT Green

94 Entrevista Centenário, por Paulo Costa Dias, fotos de Nuno CorreiaNuno Torres pertence à quarta geração dos descendentes de Anselmo Torres e lidera a Anselmo 1910.

98 Crónica Três domingos na mesma semana, por Fernando Correia de Oliveira

100 Entrevista Português transatlântico, por Paulo Costa Dias, fotos Nuno Correia, Ricardo Monteiro é CEO da agência de publicidade Euro RSCG em Portugal, Espanha, no Brasil e na América Latina.

102 Gadgets

109 Crónica O Sol de Camus, por Rui Cardoso Martins

110 Editorial de moda Tir au but!Realização Ricardo Preto, fotografia Nuno Correia

121 Evento Red CarpetAs passadeiras dos grandes eventos de cinema têm mais brilho com a presença de grandes marcas de relojoaria e joalharia.

121 Editorial de modaCaroline aux pays des merveilles, Animal World by Chopard

135 Entrevista Fazer vinho é uma coisa deliciosa, por Paulo Costa DiasO vinho corre nas veias de Joana Roque do Vale desde que nasceu – salvo seja. Participa em vindimas desde que se lembra.

136 Glamour

142 Editorial de modaSugar FlowersRealização e Fotografia Nuno Correia, pós-produção Miguel Curto

152 Eco atitude Odisseia EcológicaGenebra, Mónaco, Milão, Budapeste, Varsóvia, Moscovo, Nova Deli, Pequim, Xangai, Tóquio, Los Angeles, Miami, Nova Iorque, Londres, Paris. Uma viagem ecológica de 37.000 quilómetros para assinalar os 150 anos da TAG Heuer.

154 Iniciativa Jovens em acçãoForam cinco os laureados da edição de estreia do programa para jovens dos Prémios Rolex para Espíritos Empreendedores.

157 Entrevista Serviço público, por Paulo Costa Dias, fotos de Nuno Cor-reia, Falando com Major Pedro Batista e o Capitão Bruno Torcato, ficámos a saber porque decidiram comemorar as bodas de prata da Esquadra 504 ‘Linces’ com uma edição limitada da Fortis.

160 Livros

161 Internet Do papel para a webO site espiraldotempo.com é uma publicação digital que complementa a Espiral do Tempo.

Sumário Espiral do Tempo 34 Junho 2010

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Carlos Queiroz fotografado por Kenton Thatcher.

www.kentonthatcher.com

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GRAnDE PLAno

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No passado Outono, a Audemars Piguet provou manter-se firme na sua ligação ao mundo do mar: uniu-se à Lombard Odier Darier Hentsch & Cie para patrocinar o L’Hydroptère e a sua equipa. Pouco tempo depois do anúncio da parceria, a manufactura recebeu a notícia de que o trimarã, liderado por Alain Thébault, tinha conquistado o lugar de veleiro mais rápido do planeta. O estabelecimento de um novo recorde mundial de ve-locidade foi apenas o primeiro passo de uma parceria que promete. Quais serão os próximos?Para já, a Audemars Piguet e a Lombard Odier irão patroci-nar o L’Hydroptère.ch, que decorrerá nas águas do Lago Genebra, na Suíça, durante o próximo Verão. Trata-se de uma prova onde o projecto Hydroptère Maxi, cujo objectivo principal é dar a volta do mundo em 40 dias, será testado.Entretanto, o L’Hydroptère surge como referência incon-tornável numa exposição sobre ‘veleiros voadores’ patente na Cité de la Voile Éric Tabarly - um complexo em Lorient (Bretanha - França), dedicado às regatas modernas, que deve o seu nome ao skipper francês.

Voar sobre a água

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GRAnDE PLAno

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Eu penso que há muitas semelhanças entre mim e a TAG Heuer. Tenho muito orgulho em tudo o que conquistei na minha carreira e agora quero mais. Como piloto de com-petição procuro constantemente melhorar a minha perfor-mance e tento manter o meu treino o mais inovador possível para estar à frente dos meus adversários. Tal como a TAG Heuer, tenho um pouco de história! Sinto que cada tempo-rada que completei na Fórmula 1 me beneficiou como piloto e agora estou numa posição em que posso colher os frutos desses benefícios. Finalmente, gosto de me manter fiel ao meu próprio sentido de estilo e à minha personalidade, tanto naquilo que uso, como naquilo que faço.O facto de ter uma agenda tão ocupada faz com que o tempo seja realmente importante para mim, por isso uso sempre relógio – menos quando estou a pilotar, uma vez que no carro tenho de estar o mais leve possível. Na pista é importante seguir uma certa rotina e manter uma certa regu-laridade de planos, então uso sempre o meu TAG Heuer Grand Carrera na pista. Este é um relógio de tal forma racing que acho que funciona perfeitamente como o meu fato de equipa na garagem e a longo do paddock. Ao final da tarde, quando não estou a trabalhar, uso algo uma pouco mais descontraído, mas não deixo de ser uma pessoa ligada ao desporto automóvel, por isso prefiro um TAG Heuer Mona-co LS ou o Silverstone. Finalmente, com voos para apanhar e uma agenda de relações públicas bem preenchida prefiro o TAG Heuer Carrera Calibre 1887.

Jenson Button na primeira pessoa

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GRAnDE PLAno

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Um momento único que fica para sempre...Na noite de 20 de Março, no Teatro Musical de Basileia, na Suíça, a Chopard promoveu uma festa em celebração do seu 150.º aniversário e ofereceu aos convidados um espectáculo memorável que juntou dois grandes nomes da música e da dança: o tenor catalão José Carreras e a dançarina de flamenco Sara Baras actuaram juntos para angariar donativos a favor da fundação do tenor, que tem como objectivo combater a leucemia.Durante o evento, estiveram ainda em exposição diversas criações da nova colecção de alta-joalharia da Chopard, denominada Animal World, inspirada na Natureza. Um evento que fez jus ao glamour e intensidade que caracteri-zam a grande joalharia concebida pale marca genebrina, também conhecida por uma vasta tradição no apoio a causas humanitárias.

‘Para siempre’

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De tributo em comemorações, a relojoaria tenta hoje o difícil exercício de construir o futuro,inspirando-se no passado.

O Salon International de la Haute Horlogerie de Genebra, em Janeiro, já tinha demonstrado este saudosismo da profissão. Uma forma de dar ‘tiros certos’, voltando a produzir antigos sucessos comerciais. Os comentários apontaram, na altura, para um regresso ao classicismo, deixando para trás os anos ‘bling-bling’, anos de todos os excessos. Tendência confirmada no Basel Fair com a apresentação de modelos como, entre muitos outros, o Heuer Silvestone ou o Porsche Design Tribute.

Este novo paradigma não significaria, antes, uma vontade inconsciente de regresso a um tempo no qual não se contava em segundos, mas em minutos? Uma vontade de nos libertar-mos das formas modernas de escravatura ligadas às novas tecnologias, do computador ao e-mail e outros Blackberry?

Neste contexto, adquirir uma peça de alta-relojoaria demonstra implicitamente que se gosta do trabalho intemporal, bem realizado, bem acabado, bem pensado, da sua concepção até ao controle final; de uma peça de arte que, muito para além de indicar horas e minutos, foi elabo-rada com tempo e minúcia.

Por isto e por muitos outros motivos, aconselho, sempre que se possa, a visita a uma grande Manufactura relojoeira na Suíça. Vale mesmo a pena.

E bem a propósito de tributos, comemorações e saudosismos, dá-se a coincidência de, tam-bém em Portugal, ser um ano de importantes celebrações para casas emblemáticas do sector relojoeiro como são a Torres Joalheiros, a Anselmo 1910 e a Machado Joalheiro.

Toda a equipa da Espiral do Tempo junta-se a mim para lhe desejar uma óptima leitura deste número 34 que tanta alegria nos deu. Foram muitos dias e horas de trabalho intenso... sem nunca olhar, nem por um segundo, para o relógio!

Hubert de HaroDirector

Não queria terminar este editorial sem lamentar o desaparecimento de David Rosas, no pas-sado mês de Maio. Esta grande personagem deixa assim o nosso sector um pouco órfão. Conseguiu impôr o seu nome e a sua empresa nos últimos 25 anos, com muita dedicação e trabalho, com o apoio incondicional da família e da marca genebrina Patek Philippe, ao qual ficou associado em Portugal durante estes anos todos. Vou-me lembrar dele como um grande comerciante, no melhor sentido da palavra, sempre capaz de pôr à-vontade os seus mais diversos interlocutores.

Saudosismos

EDIToRIAL

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DirectorHubert de Haro - [email protected]

EditorPaulo Costa Dias - [email protected]

Editor técnicoMiguel Seabra - [email protected]

Design gráficoPaulo Pires - [email protected]

RedacçãoCesarina Sousa - [email protected]

FotografiaKenton Thatcher • Nuno Correia • Ricardo Preto (editoriais de moda)

Colaboraram nesta ediçãoDodi Giussani • Fernando Correia de Oliveira • Miguel Esteves Cardoso • Rui Cardoso Martins

TraduçõesMaria Vieira - [email protected]

ContabilidadeElsa Henriques - [email protected]

Coordenação de publicidade e assinaturas Patrícia Simas: [email protected]

RevisãoLetrário - Serviços de Consultoria e Revisão de Textos

ContactosCorrespondência: Espiral do Tempo, Av. Almirante Reis, 39 -1169-039 Lisboa • Tel: 21 811 08 96 • [email protected]

PropriedadeTodos os artigos, desenhos e fotografias estão sobre a protecção do código de direitos de autor e não podem ser total ou parcialmente reproduzidos sem a permissão prévia por escrito da empresa editora da revista: Company One, Lda sito na Av. Almirante Reis, 39 – 1169-039 Lisboa. Sede da Redacção - Av. Almirante Reis, 39 - 1169-039 LisboaA revista não assume, necessariamente, as opiniões expressas pelos colabo radores.

Distribuição: VASP • Impressão: Peres-Soctip, Indústrias Gráficas, SAEstrada Nacional 10, Km 108,3 2135-114 Samora Correia - Portugal • Periodicidade: Semestral • Tiragem: 20.000 exemplares Registo pessoa colectiva: 502964332 • Registo no ICS: 123890 • Depósito legal Nº 167784/01Registo na ERC - 123890

Fundador: Pedro Torres

ParceirosAir France • Belas Clube de Campo • Beloura Golfe • Casa da Calçada • Casa Velha do Palheiro • Clube de Golf Pinta/Gramacho

Clube de Golfe Miramar • Clube VII • Clube de Golfe de Vilamoura • Estalagem Melo Alvim • Golfe Aroeira • Golfe Montebelo

Golfe Paço do Lumiar • Golfe Ponte de Lima • Golfe Quinta da Barca • Hotel Convento de São Paulo • Hotel Fortaleza do Guincho

Hotel Golfe Quinta da Marinha • Hotéis Heritage Lisboa • Hotel Melia – Gaia • Hotel Méridien Lisboa • Hotel Méridien Porto

Hotel Palácio Estoril • Hotel Quinta das Lágrimas • Hotéis Tivoli • Lisbon Sports Club • Morgado do Reguengo Golfe

Museu do Relógio de Serpa • Palácio Belmonte • Penha Longa Golf Club • Pestana Hotels & Resorts • Portugália Airlines

Quinta do Brinçal, Clube de Golfe • TAP Portugal • Tróia Golf • Vidago Palace Hotel, Conference & Golf Resort

Vila Monte Resort Vintage House • Westin Campo Real

FICHA TéCnICA

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Directora da revista italiana L’Orologio, é também autora de uma das mais conceituadas rubricas de análise técnica de relógios. E é precisamente com os seus artigos técnicos que Dody Giussani tem colaborado para a Espiral do Tempo. Nesta edição, destaque para uma rigorosa análise do modelo Lange Zeitwerk da A. Lange & Söhne.

Dody Giussani

Escreve sobre o que gosta – e considera não haver maior felicidade do que ter as suas duas paixões por profissão. Já percorreu o mundo na cobertura dos maiores torneios de ténis e é um estudioso da relojoaria mecânica contemporânea. «Por mais relógios que tenha, não consigo ganhar tempo», lamenta-se. Licen-ciado em História de Arte, é o editor técnico da Espiral do Tempo.

Miguel Seabra

Com formação em diversas áreas da moda, a sua criatividade exprime-se também das mais variadas formas. Como criador, desenhou colecções de roupa, malas, chapéus e acessórios. A par da criação de colecções, tem trabalhado na área de produção de moda para prestigiadas revistas. Na Espiral do Tempo, Ricardo Preto tem dado asas à sua criatividade, abordando de forma única os mais belos instrumentos do tempo.

Ricardo Preto

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CúMPLICES

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EnTREVISTA DE CAPA

Folga é para descansar.

E foi precisamente o seu dia de folga que Carlos Queiroz,

treinador da Selecção nacional, escolheu para receber a

Espiral do Tempo, na Covilhã, numa quarta-feira de inabitual

calor. A mensagem não podia ser mais clara: não venham

com mais perguntas sobre a titularidade deste ou daquele

jogador, que já chega!

Covilhã, 19 de Maio de 2010Entrevista conduzida por Hubert de Haro, fotos Kenton Thatcher

Confissões de um viajante

Alguns afirmam que gostam de ouvir o ressonar dos leões para adormecer.

Eu não acredito. Até porque é certo e sabido que os leões não dormem (...)

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Alto, com uns olhos azuis arrasadores, a persona-gem nunca se escondeu durante a entrevista. Mais: demonstrou tolerância perante os meus ‘episódicos’, mas valentes, pontapés (!) na gramática portuguesa.

De regresso, após 16 anos de ausência no País, não se esperava outra atitude da parte de um ‘viajante’, como o próprio gosta de se auto-intitular. À semelhança da personagem de O Alquimista, de Paulo Coelho, que regressa à sua aldeia para encontrar o que procurara toda a sua vida numa viagem incessante pelo mundo, o ‘afro-português’ ou o ‘luso-africano’ Carlos Queiroz transmite uma necessidade quase orgânica de falar sobre África e de lá voltar. Confrontado com a ingénua pergunta «Boas recordações de Moçambique?», a resposta funde «todas». Não há margem para dúvidas. O es-paço, o tempo e os cheiros dos seus primeiros vinte anos marcaram-no para toda a vida. Este aspecto parece ser um lugar-comum nas pessoas nascidas em terras luso-africanas. Pois. Mas parece mesmo que é verdade.

Das pressões da imprensa e do público, não falamos. Nem mencionamos o nome de um único jogador. Estamos a menos de um mês do início do campeonato mundial de futebol e a apenas dois dias do agregar dos felizes seleccionados.

Como se nada disto houvesse, conversámos sobre África, sobre a pontualidade e, claro, sobre os relógios suíços. Ouvimos muito. Falámos um pouco. Como era de esperar, aprendemos. Ficámos convic-tos, no entanto, de que a última lição ainda está para ser encontrada pelo próprio ‘professor’. Entre tempo profissional e privado, os minutos passaram a voar. Uma intimidade que poucos sabem criar, num con-texto profissional tão stressante. A ‘nossa’ selecção fica bem entregue. Disto, não tenho dúvida.

PS: Carlos Queiroz demonstrou grande elegância quando aceitou trocar o seu relógio preferido da Hublot que trazia no pulso, por um Audemars Piguet Royal OffShore Safari. Ele gostou da nossa escolha.

Eu não queria começar a entrevista por ‘profes-sor’, porque deve estar cansado de ouvir ser chamado ‘professor’...Ainda ontem estava numa conferência de imprensa e agradeci à primeira pessoa que me chamou pelo nome. Vocês sabem que lá fora não estamos habitu-ados à adjectivação profissional, e eu também vim de uma região portuguesa em que isto não acon-tecia por influência dos sul-africanos e ingleses, em

Moçambique. Lá havia menos ‘esta coisa’ dos dou-tores, do engenheiro, do professor. Tenho vindo a dizer às pessoas para, se possível, me tratarem pelo nome e menos por um título que, ainda por cima, não tenho. Se tivesse esse título, poderia utilizá-lo...

Carlos Manuel Brito Queiroz. 1 de Março de 1953. nampula. Algumas recordações especiais?Todas.

não há nenhuma mais especial?Todas. Sobretudo aquelas que nos ajudaram a crescer e a ser o que somos hoje no espaço e no tempo das memórias. Embora seja uma conjun-tura, para nós euro-africanos, tenho defendido as novas identidades no mundo e tenho feito um apelo porque já não somos minoria, já somos tantos ou mais quanto as identidades primitivas originais que são a europeia, a africana, a asiática. A mestiçagem das identidades é em muito maior número do que a percentagem das originais, mas a nossa conjuntura fez com que fôssemos cortados das nossas raízes... é muito diferente. Uma coisa é um luso-europeu voltar a Borba, outra coisa é um euro-africano, como eu, voltar a Nampula e verificar que as raízes da conjuntura sociopolítica que existia desapareceram completamente. As nossas raízes de ex-colónias assemelham-se à situação das pessoas daquela aldeia que foi submersa por uma barragem. Por mais que se reproduza uma aldeia num outro sítio, algo se perde. O que é que fica? Ficam os sentimentos, fica a memória, ficam as cores, ficam os cheiros que se reproduzem um bocado mais dificilmente no espaço e no tempo. Fazer o culto dessas memórias é man-termos vivos esses aspectos e, sobretudo, é uma forma de pagarmos um tributo aos nossos antepas-sados e às nossas raízes.

Quando se fala da parte Sul de África, fala-se muito de espaço. Será que esta ideia de dimen-são teve alguma influência na sua vontade de ir mais longe, não só no tempo, mas no espaço?Sinto e acredito que teve uma influência decisiva na forma de pensar, na forma de ambicionar. Não defino a grandeza das pessoas ou dos países pela sua di-mensão. Eu acho que, em todos os países, as pes-soas são grandes pelos princípios que defendem e que cultivam. Esses é que não têm limites. Mas que o facto de ter nascido em África me levou a ser uma pessoa por natureza que pensa sempre em grande e

EnTREVISTA DE CAPA

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que vê sempre em grande, disso não tenho dúvidas. Lembro-me de um moço que cresceu comigo, o Alberto, que nunca tinha visto o mar. Era um rapaz do interior. Um dia, tínhamos cerca de 18 anos, conseguimos convencê-lo a ver o mar. Fomos todo o caminho a assustá-lo o máximo possível. Chegá-mos à praia e o mar estava calmo, parecia um vidro. E eu nunca me esqueço: saímos os três, éramos três amigos, estávamos com ele e ele olhou, olhou e disse-me assim: «menino, afinal o mar é a mesma coisa que um rio, só não tem é o lado de lá». Isto mostra o que é esta ideia de espaço e da dimensão do impacto que pode ter nas nossas vidas

Conseguiu voltar a encontrar esse espaço nas suas ‘andanças’ pelo mundo?Estou intimamente ligado a um grupo pequeno de pessoas, desenraizados. Fomos violentamente leva-dos a situações de ruptura com o passado, pois, por razões nobres, na perspectiva de alguns, na pers-pectiva de outros nem tanto. De uma forma violenta e abrupta, mas foram os sinais do tempo. Temos de aceitar essa situação, como o que foi certo para as pessoas. Mas o futebol deu-me a possibilidade e o privilégio de poder estar outra vez intimamente ligado a África. Posso dizer que tenho um pé no mundo e um pé outra vez em África, onde tenho, em Moçam-bique, ligações muito fortes.

Se não tivesse escolhido o caminho do futebol, dada a sua infância, dado o peso (no sentido positivo da palavra) dos cheiros, das cores de África, já pensou no que é que poderia ter feito?Houve muitos momentos da vida em que, devido à conjuntura política, social, à guerra, estive à beira de poder não concretizar esta ligação ao desporto e ao futebol. Foram coisas que aconteceram e que nos ultrapassaram a todos; foram maiores do que nós. O meu pai foi jogador e eu não me consigo imaginar fora desta rota.

Foi um destino certo.Foi um destino certo, concretizado, mas não aquele que poderia ter sido. Infelizmente, no período entre 1974 e 75, por questões de sobrevivência, fui tentado a outros caminhos. O meu sonho de tirar um curso ligado ao futebol e ao desporto naquela altura não era possível, porque o meu pai não tinha condições para me deixar seguir essa carreira. Eu sabia que não havia hipóteses e lembro-me do esforço enorme que fiz para fugir à tropa e à

guerra. De qualquer das maneiras, eu era um tipo que estudava e poderia matricular-me na faculdade. Para mim, qualquer coisa servia e os meus amigos perguntavam: «para onde é que tu vais?» «Vou para engenharia mecânica» «Eu vou também». Queria era estar nesta vida, queria fazer desporto, mas houve uma varinha mágica que adiou a minha vinda e que me ajudou a seguir para o único caminho onde eu me revejo. Poderia ter acontecido ser um peixe fora de água, algo que acontece muitas vezes. O con-ceito de trabalhar nunca existiu, porque, para mim, o trabalho, a realização, o prazer, são a mesma coisa.

Historicamente, a prática do desporto teve uma influência enorme no desenvolvimento, na inovação tecnológica no mundo da relojoaria mecânica de hoje. no fundo, tem vindo a ajudar a democratizar o mundo dos relógios. Como é que lida com isto no seu dia-a-dia? A medição do tempo é algo de óbvio?Eu lido com isto de várias maneiras porque profis-sionalmente, no que respeita ao treino, já não se trata de medir o tempo hoje. Trata-se de estar à frente no tempo.

E o que é que significa estar à frente no tempo?Significa que se nós não formos capazes de pensar e de decidir, pelo menos, uma fracção de segundos à frente dos nossos adversários, dificilmente po-demos ter sucesso. Isto significa ser capaz de que a minha leitura do tempo, a minha convivência com o tempo se resuma a projectar tudo isso no meu con-ceito de presente. Quando se trata de competição, é fundamental sermos capazes de viver o presente, antecipando aquilo que no futuro poderá ser mais competitivo. Nós, de facto, medimos, avaliamos, comparamos, mas o mais importante é enquadrar isso no conjunto de decisão para que quando os outros decidem, nós já o tenhamos feito. Pensar mais rápido do que os adversários é hoje factor decisivo do sucesso. Temos de levantar pedra sobre pedra tudo o que já foi feito, para sermos capazes de decidir com qualidade e antecipação.

Quando prepara os jogos, os jogadores e toda a equipa, há uma mecânica temporal de olhar para os 90 minutos?Não. Não de uma forma precisa, mas de uma forma estratégica. Nós sabemos que, às vezes, o factor tempo, a evolução do tempo na própria competição, está relacionado com certas tendências das equipas. 29

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Há equipas que são muito fortes na sua precisão e eficiência nos primeiros minutos, mas que vão baixando gradualmente o rendimento ao longo do tempo. As decisões estratégicas da equipa jogam-se com a própria abordagem do adversário e do tempo. No primeiro tempo, talvez abordemos o jogo de uma determinada maneira e, no final, as acções de risco que temos de desenvolver em 15 minutos são total-mente diferentes do que quando se está a ganhar. Há aqui uma densidade de decisões que, muitas vezes, é projectada no tempo. Para pensarmos mais rápido, temos de integrar a nossa experiência e o nosso conhecimento, temos de integrar o futuro, as respostas que vêm do futuro para utilizarmos no pre-sente. Naturalmente difere perante as situações. Se o resultado for zero a zero, ou se estivermos a perder, as próprias acelerações e o ritmo dos jogadores muitas vezes mudam em função destes factores. No factor momento presente, estar um segundo à frente significa que estão integradas estas coisas todas. Está integrado o passado, o futuro e a decisão.

Com estes anos todos de experiência, será que podemos falar em tempos repetitivos, em previsibilidade, como num jogo de xadrez? os anos ensinaram-no, não a controlar o tempo, mas a encará-lo como um assistente que ob-serva porque há tempos que se vão repetir?O que se repete é o perfil, o quadro que se apresen-ta. Depois os elementos mudam. Uma coisa é certa: 15 minutos são sempre 15 minutos que valem por cada um dos 60 seus segundos. Isso é inevitável. Quando se está a ganhar e é preciso manter esse resultado para ganhar três pontos ou quando se está a perder os 15 minutos são diferentes. O que altera esses 15 minutos relativamente ao seu valor? São as emoções. Quanto mais controlado emocionalmente eu estiver, mais precisos são os 15 minutos. Quanto menos eu tiver o controlo, mais longo ou mais curtos se tornam. E eu tenho de fazer isto para mim tam-bém porque eu sou parte desse momento. Tenho de ser capaz de treinar e preparar a minha equipa para saber gerir 15 minutos. Quanto maior é o patamar de qualidade, de controlo técnico de uma equipa, mais os minutos se aproximam do seu verdadeiro valor em tempo. Quanto menos controladas as pessoas estiverem, menos aquilo parece patético e o tempo torna-se mais longo e mais curto. Porquê? Porque o tipo de decisões que se vão fazer nesses três minu-tos acabam por não saber gerir exactamente cada segundo do tempo.

ou seja, há para o Carlos Queiroz um tempo profissional em que a precisão é um dos fac-tores; e há um outro tempo, um tempo mais privado, onde, talvez, a sua infância fala mais alto, onde deixamos de lado toda a pressão...Chamo-me a mim próprio um viajante. Preciso de momentos para me encontrar comigo, em termos de identidade. Para mim, não são duas pessoas, mas uma pessoa que faz uma viagem interior e uma viagem exterior. Acho que a aventura da vida exterior e a aventura de uma descoberta do meu interior tem a ver com os meus sentimentos, as minhas emo-ções, as minha raízes, os meus amigos, as minhas conflitualidades e as minhas inseguranças. Depois vim para Portugal, a vida profissional obrigou--me a ir para o Japão, a China, a Arábia, África do Sul, os Estados Unidos e descobri que havia um mundo à nossa volta. Sabe qual é que eu considero que é um dos problemas maiores na minha leitura das pes-soas? É que eu reconheço que existem muitas pes-soas inteligentes só que pensam que são as únicas. Quando a profissão me obrigou a viajar, nunca me senti diminuído por isso, pelo contrário. Ajudou-me a compreender que há outras pessoas e outras cultu-ras. Foi isso que me levou a uma viagem mais interior. Olhei para o passado e pensei que talvez o nosso problema com os africanos tivesse sido nunca ter tentado compreender a sua natureza. Não é por eu não saber chinês que posso partir do princípio que os chineses são estúpidos. Não acho que eu seja duas pessoas, o das férias e o do futebol. Acho que sou a mesma pessoa, mas uma vez viajo por fora e outra vez viajo por dentro.

Há mais ligação entre a relojoaria, a alta-relo-joaria e o futebol do que meramente a precisão suíça. Podemos afirmar «precisão e emoção tanto nos relógios quanto no futebol»?Acho que são quase a mesma coisa. Só falta criar uma palavra que combine as duas. Hoje há in-teligência emotiva, ou será precisão emotiva, mas sem dúvida acho que essa precisão que se aplica à indústria relojoeira suíça é uma forma de estar na vida. Isso não existe porque algumas pessoas de repente se lembraram de fazer isto. Existe porque é uma forma de estar na vida e de ver a vida. É por isso que, talvez, essa forma de ver a vida se repita na forma de verem o País, a sociedade, a saúde, a educação, o respeito pelos outros povos.

Entrevista completa em www.espiraldotempo.com

EnTREVISTA DE CAPA

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Aos 30 minutos José Águas marca o primeiro golo do Benfica igualando o jogo a uma bola.

O Conquistador S.L. Benfica ostenta no verso o novo símbolo do clube em ano de comemoração.

Aos 32 minutos de jogo Antoni Ramallets, guarda-redes do Barcelona, tem uma intervenção desastrada que resulta no segundo golo do Benfica, passando para a frente no marcador por 2-1.

A equipa campeã nacional e vencedora da Taça dos Clubes Campeões Europeus na época 1960-1961, dando ao Benfica o seu primeiro título europeu.

A primeira equipa do Sport Lisboa e Benfica, em 1904, ano de funda-ção do clube. “E Pluribus Unum” foi o lema escolhido.

O grande capitão Mário Coluna desfez a igualdade aos 55 minutos com um forte remate de fora da área, dando a vitória ao Benfica por 3-2.

PRoJECTo

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Ser Benfiquista

Luís Filipe Vieira visitou a sede da Franck Muller e recebeu o primeiro exemplar da edição limitada

que a marca concebeu para celebrar os 50 anos da conquista da primeira Taça dos Campeões

Europeus. o significado da Suíça para o Benfica não poderia ser mais simbólico. Foi precisamente

neste país que o actual campeão de futebol português derrotou o Barcelona por 3 a 2, na época

entre 1960/61. os minutos 30, 32 e 55 ficaram para a história do clube. Agora, ficam eternizados

no mostrador de um Conquistador com características únicas. Em Watchland, o presidente do

Benfica acompanhou, ainda, os diversos momentos da concepção de um relógio mecânico, e teve

a oportunidade de se encontrar com Franck Muller, o mestre que dá nome à marca.

Entrevista conduzida por Hubert de Haro, fotos Kenton Thatcher - Watchland, Genthod, Suíça

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é a primeira vez que visita uma manufactura de relógios?Luís Filipe Vieira: Sim, é a primeira vez que visito uma manufactura de relógios, e com grande surpresa, com bastante alegria, devido àquilo que vi. Nunca pensei que fazer um relógio fosse tão difícil e que requeresse especialização, para não dizer, bastante especiali-zação. Em relação à marca em si, ao ver esta fábrica, se assim o posso dizer, eu pensava que a Franck Muller era uma marca era centenária. Hoje, com espanto meu, fico a saber que tem 19 anos. É notável a obra que este senhor iniciou e que hoje é uma marca sobejamente credível, com uma notoriedade mundial. Por isso, já lhe dei os parabéns. Vou bastante surpreendido porque construir, em 19 anos, uma marca com esta notoriedade não está ao alcan-ce de qualquer um. É preciso ser-se um génio.

Veio cá visitar a manufactura para ver o seu relógio...Luís Filipe Vieira: Um belo relógio. Mas, atenção: um relógio meu, não. É um relógio do Benfica. Vamos comemorar os 50 anos do nosso primeiro título europeu, e este é um relógio que, de certeza, os nossos benfiquistas irão apreciar bastante...

Está a gostar do resultado, então....Luís Filipe Vieira: É bonito e vai ter certamente um grande sucesso na nossa casa.

Este relógio também tem algo de diferente: vem celebrar os 50 anos de uma forma invulgar.Luís Filipe Vieira: Sim, de uma forma invulgar: além de ter bem visível “Campeão Europeu 60 /61”, tem precisamente os minutos

dos golos que nos deram essa grande vitória, ou seja, os minutos 30, 32 e 55. É algo invulgar, também. Mas é uma particularidade curiosa no relógio, aliás, quando digo relógio, digo Franck Muller Benfica.

Fale-nos um pouco da ligação a este projecto e da visita do presidente...Franck Muller: Foi uma grande honra participar neste projecto e receber agora a visita de um grande presidente, o presidente do Benfica, um clube que tem uma rica história. Tivemos a oportu-nidade de falar da história do Benfica, mas também do projecto do museu que muito nos interessou. Estou maravilhado com o presidente, da mesma forma que ele se revelou maravilhado com o modo como um relógio é concebido. Ele esteve sempre atento a todos os pormenores. Ele ficou maravilhado com a nossa manufactura e eu estou maravilhado com a gentileza e sentido de negócio que ele aqui evocou.

o relógio é um bom resultado...Franck Muller: É um bom resultado, fruto de uma boa colaboração entre o Benfica e os nossos relojoeiros. Estamos muito satisfeitos com o resultado deste trabalho de equipa. Não é um relógio feito por uma só pessoa. Com tal, tem tudo a ver com o futebol. Para se fazer um bom produto, um bom relógio é necessário um bom trabalho de equipa.

Luís Filipe Vieira conclui...Temos uma grande equipa e um grande relógio!

PRoJECTo

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Franck Muller Conquistador S.L. BenficaEdição limitada a 20 exemplaresReferência: 9900CC GPBEN/OVBRMovimento: Cronógrafo mecânico de corda automática com rotor em platina 950 e reserva de corda de 48H.Funções: Horas, minutos, segundos e data.Caixa Ø 48 x 62,7 x 14,6 mm: Titânio e ouro rosa, vidro em safira, estanque até 30 metros. Fundo com a gravação do novo símbolo do Sport Lisboa e Benfica e com o número de série limitada.Bracelete: Exterior em pele de aligator e interior em pele Alcântara cosida à mão com fecho de báscula em titânio.Preço: € 26.500

Franck Muller Conquistador S.L. BenficaEdição limitada a 30 exemplaresReferência: 9900CC GPBEN/ERBRMovimento: Cronógrafo mecânico de corda automática com rotor em platina 950 e reserva de corda de 48H.Funções: Horas, minutos, segundos e data.Caixa Ø 48 x 62,7 x 14,6 mm: Titânio e Ergal (liga hi-tech ultra-leve e resistente, anodizada para melhorar a resistência à corrosão/ /abrasão), vidro em safira, estanque até 30 metros. Fundo com a gravação do novo símbolo do Sport Lisboa e Benfica e com o número de série limitada.Bracelete: Exterior em pele de aligator e interior em pele Alcântara cosida à mão com fecho de báscula em titânio.Preço: € 19.500

(À esquerda) Luís Filipe Vieira, ladeado por Franck Muller e Vartan Sirmakes, exibe o exclusivo Conquistador S. L. Benfica, uma criação da casa suíça.

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Audemars Piguet Royal Oak Diver300 metros

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Heróis do mar

os relógios de mergulho estão sujeitos a uma enorme pressão e são instrumentos vitais para

os próprios mergulhadores. Por esta razão, só podem integrar esta categoria instrumentos

do tempo com características específicas e que passam com distinção os testes definidos

pela norma ISo 6425 .

Por Cesarina Sousa e Miguel Seabra

Grandes, legíveis, viris – as características inerentes aos relógios de mergulho estão patentes nas colecções de quase todas as marcas relojoeiras de qualidade. Sobretudo desde a década de 90, a popu-laridade destes relógios fez com que a sua estética desportiva/casual contribuísse para moldar o estilo do relógio contem-porâneo. A tendência não é nova; os reló-gios clássicos de mergulho acabaram por ser adoptados para o uso diário, algo que começou a notar-se com o Submariner da Rolex, cujo visual foi estabelecido como paradigma do relógio desportivo. Actualmente, os relógios de mergulho são autênticos computadores de pulso, com variadas funções, mas alimentados a pilhas – e o último lugar em que nos devemos preocupar com a duração de pilhas é debaixo de água. Por isso, aficionados da relojoaria e mergulhadores optam por relógios mecânicos porque não quererem correr o risco de ter um relógio que fique sem bateria nas profundezas. No mundo subaquático, os relógios estão sujeitos a enormes pressões e são instrumentos vitais para os próprios mergulhadores: uma

falha mecânica ou uma falha na estanquei-dade pode ter consequências funestas, razão pela qual nem todos podem ser considerados relógios de mergulho. Mas quais são as características que fazem destes relógios instrumentos certificados para fazer mergulho? Um relógio apresentado como ‘water re-sistant’ não significa que seja de mergulho. Aliás, existem duas normas diferentes que regulam esta classificação. A ISO 2281 refere-se a relógios ‘water-resistant’ e a ISO 6425 debruça-se especificamente sobre relógios de mergulho. Segundo esta última, é considerado de mergulho um relógio concebido para suportar profundidades de pelo menos 10 atmosferas (equivalente a 100 metros de profundidade) e que dispõe de um sistema de controlo de tempo. Cada exemplar com estanqueidade supe-rior a 100 metros tem de ser submetido a exigentes controlos de impermeabilidade sob pressão da água e do ar. Os testes de ar implicam uma pressão de 2 atmosferas, enquanto os testes de água incluem a submersão a um profundidade de cerca de 30 centímetros durante 50 horas, a uma

temperatura entre os 18 e os 25 graus. Os testes obrigam também a imersão do reló-gio numa solução de cloreto de sódio (com salinidade comparável à da água do mar) a uma temperatura entre os 18 e os 25 graus durante 24 horas. Caixa e acessórios não devem revelar qualquer alteração após o teste e os elementos móveis deverão man-ter o seu perfeito funcionamento. Segundo a norma, o relógio de mergulho deve ainda ser sujeito a testes de resistência anti-mag-nética - tem de manter uma precisão de +/- 30 seg/ dia em relação à medição feita antes dos testes de exposição a campos magnéticos - e de resistência aos choques - é permitida uma variação na ordem de +/- 60 seg/dia em termos de precisão após o teste. Além dos testes, o relógio deve ser com-plementado com diversos elementos técni-cos e estéticos que assegurem que aquele se adequa à sua função e que contribuem para que cada peça seja infalível debaixo de água. Estas exigências diferem das que são pensadas para relógios de quartzo. Aqui apresentamos apenas as exigências relativas a relógios mecânicos.

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PormenorPara além dos aspectos exigidos pelas normas, surgem outras soluções técnicas que podem contribuir para uma ainda maior funcionalidade do relógio em ambiente subaquático, como o prova o Master Compressor Diving Pro Geographic da Jaeger-LeCoultre, um relógio dotado de pro-fundímetro mecânico, dispositvo que permite medir a profundidade entre os 0 e os 80 metros. O profundímetro funciona graças a uma membrana que se dilata e se contrai em função da pressão exercida pela água e que se vai reflectir no movimento do ponteiro ao longo de uma escala própria.

PressãoAs variações de pressão são dos principais obstáculos que o relógio terá de ultrapassar. Tendo em conta que os átomos de hélio conseguem penetrar no relógio, em ambientes saturados acaba por se formar um ambiente pressurizado no seu interior. Se os átomos de hélio puderem escapar da caixa com facilidade durante a redução da pressão exterior, o hélio não se torna um problema. Caso contrário, o vidro poderá ser projectado. Claro que esta situação deverá ser levada em conta apenas em mergulho de grande profundidade. Para este problema, a válvula de hélio – criada pela Rolex, mas que hoje se encontra nos mais variados modelos como o Graham Chronofighter Oversize Diver Tech Seal – é a solução ideal. Para além da válvula de hélio, a Rolex utiliza também sistema patenteado Ringlock no seu Oyster Sea-Dweller Deep Sea que permite distribuir a pressão a que está sujeito. Trata-se de um anel feito de um metal especialmente tratado com nitrogénio para aguentar a pressão, ao qual são enroscados a luneta e o fundo de titânio que se molda ligeiramente e reverte à forma original. Este ano, a Porsche Design lançou o P’6780 Diver com uma caixa basculante em titânio anexada a uma estrutura protectora. Este modelo dispensa a coroa de rosca e a válvula de hélio em prol de um sistema de junta que estabelece o equilíbrio da pressão. O P’6780 Diver apresenta uma estanqueidade até 1000 metros.

Indicador de funcionamentoÉ obrigatória a existência de um indicador do funcionamento do relógio. De um modo geral, esta tarefa cabe ao ponteiro ou indicação dos segundos. Neste exemplo, pode ver-se o disco dos segundos da linha Master Compressor Diving da Jaeger-LeCoultre.

Jaeger-LeCoultre Master Compressor Diving Pro Geographic300 metros

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Dispositivo de pré-selecção do tempoA norma exige a existência de um disposi-tivo de pré-selecção de tempo que deve ser protegido contra uma eventual manutenção errada ou contra um movimento involun-tário. A luneta rotativa unidireccional, interna ou externa, ou um indicador digital são as soluções mais utilizadas,. No caso da luneta, deverá contemplar uma escala até 60 minutos, sendo que indicações de 5 minutos deverão estar bem visíveis. É fundamental a coordenação entre as marcações da luneta e as do mostrador. No caso do indicador digital, deverá estar bem visível.

Bracelete A norma refere que os anexos, nomeadamente a bracelete, fechos e zonas de fixação, devem resistir a uma força de 200 N sem revelarem alterações. Por isso, algumas marcas adoptam soluções como o aumento da dimensão da fivela, caso do novo Audemars Piguet Diver. Embora a norma não faça referência a materiais obrigatórios, as marcas uti-lizam com frequência o cauchu, o aço ou o titânio. Para adaptação aos fatos de mergulho são concebidos sistemas de extensão e fechos específicos.

Perfeita legibilidadeOs ponteiros das horas e dos minutos, o marcador de tempo e o indicador de funcionamento do relógio devem ser perfeitamente legíveis a uma distância de 25 centímetros no escuro. Tendo em conta o facto de que a água bloqueia a entrada de luz, quanto maior for a profundidade, menor será o espectro de cores visível. Estudos revelam que abaixo dos 30 metros o azul é a única cor visível – razão pela qual a Jaeger-LeCoultre seleccionou a cor azul para as marcações principais da sua linha profissional de mergulho. Por outro lado, também um revestimento luminescente contribui para facilitar a leitura do tempo. Segundo, Andrea Schwartz, no século XIX os relojoeiros já utilizavam uma pintura natural fotoluminescente nos mostradores dos relógios. Mais tarde, os revestimentos à base de rádio – como o utilizado no Radiomir da Panerai em 1910 – ou de trítio – estreado no Panerai Luminor de 1949 – revelaram-se mais eficazes por serem eles próprios emis-soras de luz. Porém, a radioactividade destas matérias levou à criação de um novo revestimento fotoluminescente, sendo o mais conhecido o SuperLuminova.Porsche Design

Performance P’6780 Diver1000 metros

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Calcanhar de AquilesA coroa era considerada o ‘calcanhar de Aquiles’ dos relógios, já que era através dela que as nocivas partículas minavam o mecanis-mo. John Harwood concebeu um modelo sem coroa: a sua solução consistia num sistema em que a corda era dada pela rotação da luneta, mas nunca granjeou a desejada unanimidade. Por sua vez, Hans Wilsdorf, mesmo contrari-ando os seus colaboradores, seguiu outra via na Rolex: complementando a concepção de uma caixa monobloco, resolveu o problema das infiltrações através da coroa idealizando um sistema de rosca: a coroa aparafusada de elevada precisão (a sua feitura exige 35 opera-ções) está dotada de um sistema de seguran-ça dupla baptizado Twinlock – ou Triplock para os modelos de mergulho mais radical.

Travessia simbólicaQuando Mercedes Gleitze se lançou no Canal da Mancha em Outubro de 1927, esse acto representou um pequeno mergulho para uma mulher... mas um passo gigante para a indústria relojoeira. Hans Wilsdorf, o fundador da Rolex, tinha conseguido que a aventureira usasse um relógio de caixa revolucionária apelidada Oyster – que Wilsdorf garantia ser à prova de água. O Rolex Oyster manteve-se intacto, fazendo jus ao seu nome (Oyster sig-nifica ostra, o molusco que se fecha hermetica-mente na sua concha). Ficava definitivamente ultrapassado o estigma da vulnerabilidade dos relógios face à água.

Pioneirismo RolexEm 1935, a Rolex lança uma primeira definição de estanqueidade para os seus relógios: «Impermeáveis à água, ao pó, ao clima tropi-cal, ao gás, ao ar, à neve e fecho hermético assegurado contra qualquer influência exterior nociva ao bom funcionamento». A partir de 1967, o Sea-Dweller permitiu à Rolex apresen-tar um modelo de produção regular capaz de mergulhar ainda mais fundo; o seu segredo residia numa válvula capaz de descarregar uma reserva de hélio dentro do relógio de maneira a permitir, aquando da subida, uma descom-pressão similar àquela que faz o mergulhador.

Os progressos da concorrênciaEm 1911 e sob a chancela da Jaeger-LeCoul-tre, Edmond Jaeger já havia depositado uma patente para uma caixa estanque; em 1939, a manufactura passa a comercializar um relógio com um sistema de fecho patenteado e estanque. Já neste milénio, a Jaeger-LeCoultre lançou uma gama mais desportiva para a sua linha Master Control: a gama Master Compres-sor, cujo nome advém de um original sistema de válvulas com indicador de fecho e desti-nado a impedir qualquer infiltração.

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Patek Philippe Aquanaut120 metros

TAG Heuer Aquaracer 500500 metros

Rolex Sea Dweller1220 metros

Panerai Luminor GMT300 metros

100 METRoS

300 METRoS

500 METRoS

1000 METRoS

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Fotografia: Nuno Correia assistido por Carla CardosoRealização: Ricardo PretoPós-produção: Nuno Machado

* Célebre frase com que Herman Melville inicia o seu livro Moby Dick

Chamem-me Ishmael*

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Jaeger-LeCoultre Master Compressor Diving Pro Geographic navy SEALsSérie limitada a 300 exemplaresMecânico de corda automática JLC 979.Caixa Ø 46,3 mm em ouro rosa 18k estanque até 300 metros.Preço: € 35.000

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Page 45: Espiral do Tempo 34

Graham Chronofighter Oversize Diver/Date Orange SealCronógrafo mecânico de corda automática calibre G1734.Caixa Ø 47 mm em aço estanque até 300 metros.Preço: € 6.350

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Page 47: Espiral do Tempo 34

Rolexoyster Perpetual Sea-Dweller DeepseaCronómetro mecânico de corda automática Caixa Ø 44 mm em açoPreço: € 7.115

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Page 49: Espiral do Tempo 34

Panerai Luminor 1950 Pangaea Sunmersible Depth GaugeEdição limitada a 500 exemplaresCronógrafo mecânico de corda automática Calibre 1137.Caixa Ø 47 mm em titânio.Preço: € 11.600

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Page 51: Espiral do Tempo 34

Audemars Piguet Royal oak offshore Chronograph VolcanoCronógrafo mecânico de corda automática calibre AP 2326/2840.Caixa Ø 42 x 54 mm em aço estanque até 100 metros.Preço: € 16.650

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Page 53: Espiral do Tempo 34

Porsche Design P’6780 DiverMecânico de corda automática ETA 2892-A2.Caixa Ø 46,8 mm basculante em aço acopolada a uma estrutura em titânio, estanque até 1000 metros.Preço: € 6.950

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Vacheron Constantin overseas Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre 1137.Caixa Ø 42 mm com bisel em titânio.Preço: € 13.200

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CRÓnICA MIGuEL ESTEVES CARDoSo

o amor das nossas vidasComeçou, o cancro do meu amor, em Agosto do ano passado. Se Deus quiser, acabou de acabar agora, em Maio de 2010. o tempo passou. os relógios ditaram as ambulâncias e as chegadas;os almoços e os intervalos. Mas, sobretudo, os intervalos. Entre as coisas más e as coisas boas. São curtos; apesar de tudo.

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A vida é mais uma acumulação de intervalos do que de interrup-ções. A doença interrompe. Os tratamentos interrompem. Mas a vida toda que resta está nos intervalos. E é preciosa por causa disso.

Desde que a Maria João adoeceu, tenho andado sempre com um relógio no pulso ou na mala. A Espiral do Tempo, afinal, tem razão. Os telemóveis e iPhones não nos dizem as horas sem as pedirmos. Transformam as horas numa transmissão. Os relógios, em contrapartida, estão sempre a mostrar-nos o tempo; quer queiramos; quer não.

Foi a Maria João que me ensinou a passar o tempo. Antes de casar com ela, andava sempre cheio de pressa; sempre atrasado; sempre ansioso; sempre escondido. Mesmo a minha maneira de amá-la era assim.

Amando-me, ensinou-me com o amor que me deu que eu podia ser eu com ela. A mim, que nem sequer comigo, sozinho, era eu. Sentava-me sempre a um-terço do sofá; envergonhado pela minha própria companhia. Estava sempre a trabalhar, mesmo (e sobretudo) quando me divertia. O trabalho divertia-me mais e o di-vertimento dava-me mais trabalho. Isolei-me para trabalhar menos e divertir-me mais.

Odiava intervalos. Não fazia. Concentrava-me e só parava quando já não podia mais. Achava que os intervalos eram inter-rupções fisicamente necessárias do tempo bem passado. Como as proverbiais necessidades.

A Maria João ensinou-me que os intervalos também são tempo. Não se faz um intervalo para beneficiar uma actividade e um tempo – para descansar; para recuperar forças; para variar. O intervalo em si vale a pena.

Quanto tempo, por exemplo, passamos a olhar para os semá-foros, à espera que fique verde? Ao fim de uma vida, deve ser um Verão inteiro. Porque é que não damos valor à paragem e ao sítio onde estamos, como se estivéssemos de férias, num miradouro peculiar?

Há tantas coisas para ver. É um espectáculo de pormenores e observações. Nenhum dia é igual ao anterior; nenhum momento até.

Em Agosto do ano passado, quando íamos nervosos e angus-tiados para o IPO de Lisboa, sem saber o que nos esperava, era aflitivo ficar parado nos semáforos da Praça de Espanha, com pressa de chegar ao IPO.

Agora, na Primavera deste ano, gosto de parar na Praça de Espanha. Não são só as plantas e os passarinhos. É a luz. São as pessoas a fazer coisas. É o céu; os jardins da Gulbenkian; os edifícios.

Não fomos nós que fizemos aquele intervalo. Mas fazemos como se tivéssemos parado de propósito, para fazer aquele inter-valo. Como se nos tivessem dado o privilégio de parar ali o carro, no meio da Praça de Espanha, só para ver o que se passa à nossa volta. E para conversar. Sem ser sobre a viagem.

Assim como grande parte do tempo que passamos a falar no telemóvel é ocupado com conversas idiotas acerca do próprio telefonema também as conversas enquanto se viaja tendem a ser dominadas pela viagem em si.

É um desperdício discutir rotas; adivinhar trânsitos; prever atra-sos e as respectivas consequências; falar dos outros automobilis-tas; amaldiçoar o azar ou celebrar a sorte que se teve. A não ser que se goste de fazer estas coisas.

Nas viagens que fazíamos ao IPO, aprendemos a conversar um com o outro como se estivéssemos em casa ou a jantar fora. Não foi fácil. Mas a ideia de desperdiçar tempo em que estamos os dois juntos tornou-se tão horrível e ingrata que conseguimos aproveitá-lo para conversar. E rir. E brincar. E descobrir o que pensamos.

O cancro faz lembrar a morte. Faz medo. Mas também faz pensar no tempo. Como é que é se queremos passar o tempo que temos até morrermos? A falar da morte? A morte será assim tão importante que mereça dedicarmos-lhe grandes nacos da nossa vida?

Assim como os intervalos são tão tempo como os valos entre os quais aparecem, o próprio tempo equivale à nossa vida. O nosso tempo acaba quando morremos. Não há nenhum árbitro no céu que vai contabilizar o tempo que perdemos em bichas ou a olhar para semáforo e dar-nos mais uns minutos de jogo.

O que a Maria João me ensinou não é que se tem de aproveitar cada minuto. Esse era o meu erro. Não se aproveita a bicha para fazer telefonemas. Isso tira qualidade aos telefonemas e despro-move o próprio tempo; desrespeita a nossa vida. Faz-se um telefonema como se estivéssemos em casa, com vontade de falar com um amigo.

O pior é que este aproveitamento já deu origem a tantos tele-fonemas de segunda que já não têm salvação. Ouve-se o ruído do motor e pensa-se logo que aquela pessoa só nos está a telefonar para aproveitar um tempo morto.

Não há tempo morto. Nem há falta de tempo. Há o tempo e a ausência de tempo. O tempo é a vida. A ausência de tempo é a morte.

Nós temos um intervalo entre nascer e morrer. Só um. Só um intervalo. Só um tempo. Só uma vida.

Não somos obrigados a abraçá-la. Podemos até não ligar nenhuma. Mas é mais inteligente ser-se egoísta e cobarde e forreta com o tempo, gastando o mínimo possível em coisas que nos incomodam.

Quem ama aprende logo como é pouco o tempo. O cancro da Maria João desenganou-nos e mostrou-nos como o tempo é grande. Não só passamos ainda mais tempo um com o outro – esse tempo é ainda melhor.

Não foi só um tempo difícil e comprido. Foi também o amor das nossas vidas.

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Agradecemos a colaboração do Dr. Luís Tirapicos do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia de Lisboa e do Professor Costantino Sigismondi do International Center for Relativific Astrophysig e Università di Roma “La Sapienza” e I.S.P.EF. Istituto di Studi Pedagogici e Filosofici, Roma.

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Junto dela, duas escalas de números deixam prever que não se trata de um mero elemento decorativo. Estrelas encastradas, elipses e imagens represen-tativas das constelações do zodíaco completam o cenário. Esta intrigante linha, verdadeira obra de arte, é uma das mais belas meridianas construídas em igrejas do Sul da Europa entre o final do século XV e o final do XVIII. Instrumentos astronómicos que tinham como principal função determinar a duração do ano solar e a data da Páscoa, a partir da obser-vação do percurso aparente do Sol.

As meridianas«A história associada às meridianas mostra que a Igreja também foi patrocinadora da Astronomia – sobretudo porque necessitava de um calendário eclesiástico funcional, onde a data da Páscoa se pudesse prever», explica Luís Tirapicos, do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tec-nologia, em Lisboa.

Em 325 d.C., o Concílio de Niceia definiu que a data da festa religiosa passaria a corresponder ao domingo que se segue à primeira Lua cheia depois do Equinócio da Primavera, no dia 21 de Março. Nesta altura, seguia-se o calendário juliano, no qual um ano correspondia a 365 dias e um quarto de dia. Este calendário tinha vindo a ser ajustado ao longo dos anos com dias intercalados, o que

fazia com que o desfasamento entre o ano solar e o calendário civil fosse cada vez maior. Como re-sultado, as estações ocorriam em datas diferentes das que estavam definidas. Esta situação tinha implicações religiosas graves, pelo que se tornou fundamental compatibilizar o calendário com o ano solar e com as estações.

A instauração do calendário gregoriano levou a Igreja a recorrer a astrónomos para projectarem instrumentos que garantissem cálculos exactos na definição do equinócio e, consequentemente, da Páscoa. Começaram a construir-se gigantescas meridianas nos pavimentos das igrejas, os lugares mais indicados pela sua obscuridade e dimensão. Uma dessas linhas foi popularizada pelo livro O Código DaVinci e pode ser apreciada na Igreja de Saint Sulpice, em Paris. Em Portugal, «curiosa-mente, tanto quanto sei», refere Luís Tirapicos, «as duas meridianas que se edificaram no Iluminismo não foram instaladas em igrejas, mas em obser-vatórios astronómicos: no Observatório do Colégio Jesuíta de Santo Antão, em Lisboa, e no Obser-vatório da Universidade, em Coimbra.»

As meridianas cumpriam a sua missão através de pequenas aberturas feitas nos tectos, em pontos estratégicos. Os raios de luz atravessavam o orifício e projectavam uma imagem estonopeica do Sol no pavimento. Este tipo de projecção é actualmente

na Basílica de Santa Maria degli Angeli, em Roma, uma longa faixa de mármore com uma linha

recta de bronze ao centro atravessa o pavimento na direcção Sul-norte.

Por Cesarina Sousa, imagens gentilmente cedidas por Costantino Sigismondi

o caminho das estrelas

HISTÓRIA

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utilizado hoje em dia para se observar um eclipse do Sol com segurança. Quando o Sol atingia a altura máxima no céu – ao meio-dia solar verdadeiro –, a projecção incidia directamente na linha, mas em pontos diferentes ao longo do ano, de acordo com a inclinação do eixo da Terra em relação à sua órbita em torno do astro-rei. Era assim possível calcular, através das meridianas, as datas dos equinócios da Primavera e do Outono, bem como as dos solstícios do Verão e do Inverno.

Santa Maria degli AngeliDelegada pelo Papa Clemente XI e inaugurada a 6 de Outubro de 1702, a meridiana de Santa Maria degli Angeli, em Roma, foi construída por Francesco Bianchini (1662-1729). O astrónomo veronês terá ido buscar inspiração a um instrumento semelhan-te criado por Giandomenico Cassini em 1655 na Basílica de São Petrónio, em Bolonha, mas adaptou-lhe algumas soluções inova-doras. O sistema não incluía uma, mas duas meridianas com funções diferentes numa mesma linha, com 44,89 metros de comprimento: uma austral, para acompanhar o movimento do Sol e a posição das estrelas, e uma boreal, para assinalar a trajectória aparente da Estrela Polar e medir a latitude do lugar com exactidão.

Meridiana australPara a meridiana austral, foi construído um orifício a 20,34 metros de altura na parede Sul da Basílica, pelo qual um feixe de luz entrava todos os dias. É fácil perceber por que razão a meridiana se revelava também como o instrumento perfeito para garantir um acerto exacto da hora dos relógios: precisamente ao meio-dia de todos os dias, o centro do disco solar passava lentamente pela linha, atravessando-a da direita para a esquerda. Ainda hoje esta jornada diária pode ser apreciada no chão da Basílica.

A viagemAo meio-dia do Solstício de Verão, o Sol ocupa uma posição mais elevada na esfera celeste, e, por isso, a imagem estenopeica alcançava o ponto mais meridional da linha, ficando mais próxima do orifício do tecto e, portanto, mais luminosa. Depois, a dança continuava no sentido inverso, ao longo do ano, na direcção Norte, até o disco solar atingir o ponto mais setentrional, equiva-lente ao Solstício de Inverno. Como o Sol está mais baixo nesta altura, a imagem projectava-se mais afastada do orifício, logo mais alongada e ténue. As datas-limite calculadas para a ocorrência da Páscoa (entre 22 de Março e 25 de Abril) foram gravadas, em latim, com grandes letras de bronze: «terminus paschae (limite da Páscoa)».

Mas como era medida a localização do Sol? Através de cálcu-los trigonométricos com recurso às duas escalas que se encon-tram de ambos os lados da meridiana. O astrofísico Costantino Sigismondi apresenta o seguinte exemplo de leitura num dia de

eclipse: «No dia 29 de Março de 2006, o Sol passou no número 78, correspondente a 38 graus da vertical.»

Ao longo da meridiana encontra-se ainda a representação das constelações do zodíaco, pelas quais o Sol passava durante todo o ano. Na extremidade Sul, vê-se a constelação de Caranguejo – à qual o disco se sobrepunha no Solstício do Verão – e, na extremidade Norte, vê-se a constelação de Capricórnio – à qual o disco se sobrepunha no Solstício do Inverno. O Sol começava o seu percurso pela constelação de Carneiro (Equinócio da Prima- vera), seguindo por todas as restantes constelações até iniciar um novo percurso.

Com tantas funções, custa a crer que este instrumento tenha também sido projectado para observar as estrelas de dia e para cronometrar a sua passagem (na meridiana). Para tal, o as-trónomo abria a janela que se encontrava por cima do orifício. Um telescópio alinhado com o orifício determinava o instante do trân-sito da estrela correspondente à altura da estrela no seu trânsito meridiano. É assim possível descobrir hoje em dia no pavimento o nome de algumas estrelas, na localização que tinham em 1702, como Sirius, a estrela mais brilhante observável.

Meridiana borealDirigida para Norte, a meridiana boreal foi concebida para projec-tar a trajectória da Estrela Polar. O astrónomo conseguiu calcular este movimento observando o trânsito superior e inferior da estrela polar, com a ajuda de um telescópio.

No pavimento da Basílica, perto do início da meridiana austral, foram desenhadas 17 elipses correspondentes ao movimento aparente da estrela polar ao longo de 17 anos jubilares – de 1700 a 2500, tendo sempre em conta a alteração de posição originada pela refracção atmosférica. A estrela de bronze incrustada quase no centro das elipses representa o Pólo Norte Celeste, como o prova a inscrição em latim: «Elevatur polus mundi boreus supra horizontem 41º 54’ 30”» (O Pólo Norte do mundo eleva-se sobre o horizonte a 41º 54’ 30).

Quem se aventure pela Basílica de Santa Maria degli Angeli pode não acreditar que a longa linha que atravessa o pavimento se trata de um instrumento astronómico de grandes dimensões. Aqui apenas deixamos uma ideia de alguns dos mistérios que nela se escondem. «As meridianas são parte da história do desen-volvimento dos instrumentos de observação que permitiram, e permitem, estudar o universo com crescente detalhe e rigor. Claro que os modernos meios de observação fazem uso de tecnologias com que os astrónomos e filósofos dos séculos XVII e XVIII nem sequer podiam sonhar», refere Luís Tirapicos. No entanto, não deixa de ser curioso o facto de estas meridianas terem permitido fazer observações astronómicas fundamentais e comprovarem linhas de pensamento como a teoria da órbita elíptica de Kepler – que defendia que as variações da distância entre a Terra e o Sol se deviam à órbita elíptica dos planetas.

HISTÓRIA

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Equinócios e solstíciosEm astronomia, os equinócios são os momentos do ano em que o Sol atravessa o plano do Equador terrestre e os solstícios os momentos em que o Sol atinge a sua declinação máxima a Norte e a Sul. Isto acontece porque a Terra orbita em torno do Sol com uma inclinação de cerca de 23 graus relativamente ao seu eixo, fazendo com que, ao longo do ano, os raios solares não incidam em todas as zonas do Planeta com a mesma intensidade e sob o mesmo ângulo.

A palavra equinócio deriva do latim: aequus (igual) e nox (noite), e significa igualdade dos dias e das noites. Em termos simples, os equinócios correspondem ao momento em que o dia e a noite têm exactamente a mesma duração. A palavra solstício deriva também do latim solstitium, de sol (sol) e sisto (parar). Os solstí-cios correspondem ao dia maior e ao dia menor do ano.

Tanto os equinócios como os solstícios ocorrem duas vezes por ano e assinalam a mudança de estação. No hemisfério norte, a Primavera tem início em Março e o Outono em Setembro. No hemisfério sul, a Primavera inicia-se em Setembro e o Outono em Março. Os solstícios ocorrem nos meses de Junho e Dezembro. Assim, no hemisfério sul, o Verão tem início em Dezembro e o In-verno em Junho, ao contrário do que sucede no hemisfério norte.

Johannes Kepler (1571-1630) Johannes Kepler foi um astrónomo alemão responsável pela definição de três leis fundamentais sobre o movimento dos planetas. A partir das observações do seu mestre Tycho Brahe

(1546-1601), o astrónomo concluiu que os planetas descrevem órbitas elípticas em torno do Sol e que, quando estão mais próxi-mos do Sol, viajam mais rapidamente do que quando estão mais afastados. Foi em 1609 no seu livro Astronomia Nova e em 1619 no seu livro Harmonices Mundi que Kepler apresentou as leis que hoje têm o seu nome:• Os planetas descrevem órbitas elípticas, com o Sol num dos focos e não no centro; (Lei das órbitas)• O raio vector que une um planeta ao Sol percorre áreas iguais em tempos iguais (Lei das áreas);• Os quadrados dos períodos de revolução (T) são proporcio-nais aos cubos das distâncias médias (a) do Sol aos planetas. T^2=ka^3, em que k é uma constante de proporcionalidade. (Lei dos Períodos)

Para saber mais:Costantino Sigismondi (2009): Lo Gonomone Clementinowww.santamariadegliangeliroma.it

Na extremidade Sul, vê-se a conste-lação de Caranguejo – à qual o disco se sobrepunha no Solstício do Verão. O Sol começava o seu percurso pela constelação de Carneiro (Equinócio da Primavera), seguindo por todas as res-tantes constelações até iniciar um novo percurso. Era assim possível determinar a data da Páscoa.

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Não serão as palavras exactas utilizadas no filme, mas a ideia é esta. Os relógios da Jaeger-LeCoultre tiveram um protagonismo especial no segundo capítulo de Homem de Ferro. Mr. Stark, interpretado por Robert Downey Jr., usa, nada mais, nada menos, do que três modelos da Jae-ger-LeCoultre. Mr. Stark é um apaixonado pela inovação e pela tecnologia, pelo que a manufac-tura revelou perspicácia ao associar os seus relógios à imagem do rebelde milionário. A presença da marca foi de tal modo trabalhada que o actor usou um AMVOX 3 na promoção do filme. Mas há mais. Qual é o relógio que Bruce Wayne usa em Batman Begins? Um Reverso, precisamente. Que outro modelo se adequaria melhor a um distinto milionário que tem duas caras?

O aparecimento de relógios na personagem certa, no filme certo, é uma forma subtil de pub-licidade que se tem vindo a revelar cada vez mais sofisticada. Uns instantes bem escolhidos no grande ecrã são suficientes para apresentar novos modelos ou construir uma imagem.

Em 1999, Arnold Schwarzenegger surgiu em End of Days com um Royal Oak Offshore T3. A Audemars Piguet dava, assim, o passo certo para a mudança de paradigma na sua ima-

gem, antes associada a peças de design clássico e pouco arrojado. Desde então, são muitas as longas-metragens nas quais o modelo aparece em pulsos poderosos. O Royal Oak Offshore é a materialização de robustez e resistência extrema, um carácter semelhante ao que a Panerai pretende transmitir quando selecciona para os seus relógios pulsos como os de Sylvester Stalone enquanto John Rambo.

Também há casos em que as marcas fazem verdadeiros acontecimentos de breves instantes, como a TAG Heuer, que descobriu no clássico Le Mans um minuto crucial para a história do seu emblemático Monaco. O momento em que Steve McQueen aperta o seu fato com o cronógrafo no pulso é frequentemente recordado e tornou-se num símbolo da ligação da companhia ao mundo automóvel.

Embora hoje as marcas escolham os filmes que mais se identificam com os seus produtos, há também situações em que a ligação entre filme e produto está, logo à partida, ‘condicionada’, caso do mais famoso agente secreto da actualidade. No primeiro filme da saga 007, Dr. No, James Bond usa um Rolex, o relógio que, na obra original, Ian Fleming tinha escolhido para vestir o pulso da personagem. Seguiram-se anos de uma parceria que ficou para a história da marca. Conhecida é também a relação entre Marlon Brando e a Rolex. Aquele que é considerado por muitos como um do maiores actores de sempre, escolheu usar um GMT Master no filme Apo- calipse Now. Curiosamente, o Rolex de Marlon Brando não tem luneta. Porquê? Alguns avançam com a hipótese de que, despido, o relógio se adequava aos sentimentos da personagem em pleno campo de combate, outros sugerem uma explicação meramente estética, por opção do actor. Um mistério que fica por resolver, pelo menos por enquanto.

O grande ecrã é uma oportunidade única de criar com o público uma empatia que, de outra forma, não seria possível. Descobrir os relógios que os actores usam é um dos passatempos preferidos dos aficionados da relojoaria. Um passatempo quase viciante e, por vezes, ‘doloroso’: quando, em Homem de Ferro II, Mr. Stark troca um Reverso por uma caixa de morangos, quase ficamos à beira de um colapso. Só o desculpamos porque sabemos que está desesperado e tem boas intenções. Além disso, Mr. Stark tem a sorte de poder fazer uma coisa que nem toda a gente pode fazer: comprar o Jaeger-LeCoultre que quiser quando bem lhe apetecer.

No ano em que se comemoram os 100 anos do primeiro filme gravado em

Hollywood, reservamos o palco para os relógios que são estrelas de cinema.

Desta vez, os actores ficam na plateia...

Relógios da ribalta

Que relógio vai levar à sua festa de aniversário, Mr. Stark?Posso levar esse de caixa em ouro e mostrador preto. O Jaeger.

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Actor: Robert Downey Jr.Iron Man 2

Jaeger-LeCoultre AMVOX3 Tourbillon GMTPreço: € 59.000

Jaeger-LeCoultre Grande Reverso 986 DuodatePreço: € 12.600

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Actor: Arnold SchwarzeneggerTerminator 3

TAG Heuer Monaco Sixty NinePreço: € 5.780

Audemars Piguet Royal Oak T3Preço: Não disponível

Actor: Djimon HounsouThe Island

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Actor: Tom CruiseTropic Thunder

Actor: Nicolas Cagenational Treasure

Rolex SubmarinerPreço: € 4.625

Panerai Panerai PAM 63 GMTPreço: Não disponível

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Em Janeiro de 1960 um Rolex oyster desceu 10 900 metros de profundidade, amarrado ao batíscafo Trieste. um recorde até hoje não superado.

50 anos de um mergulho histórico

AVEnTuRA

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A 23 de Janeiro de 1960, a Rolex e o batíscafo Trieste fizeram história quando o Tenente da Marinha americana Don Walsh e o oceanógrafo suíço Jacques Piccard mergulharam no aparelho até 10.900 me- tros de profundidade, em Challenger Depp, a zona do oceano mais profunda que se conhece: Challenger Deep, localizada a cerca de 200 milhas das Ilhas Guam, no Oceano Pacífico. Para este feito, a Rolex desenvolvera um protótipo Oyster Deep Sea Special, preparado-o para resistir às mais elevadas pressões. O relógio foi amar-rado ao exterior do aparelho.

Quando o Tieste regressou à superfície, após oito horas e meia de mergulho, o reló-gio encontrava-se em perfeitas condições. Jacques Piccard escreveu mesmo um telegrama a anunciar à marca o sucesso do desafio: «Feliz por anunciar que o vosso relógio funciona tão bem a 11,000 metros como à superfície».

A descida a Challenger Deep não só estabeleceu um recorde que nunca foi batido, como também constitui um marco na exploração e conhecimento do mundo submarino: um ambiente pouco conhecido na altura.

Os tripulantes do Trieste testemunharam, pela primeira vez, elementos da vida ma- rinha no fundo do oceano, desmistificando a ideia de que a ausência de luz e os altos níveis de pressão não permitiam a existên-cia de vida em tais ambientes. Este feito, veio chamar a atenção para a necessidade de preservação dos oceanos, tema cada vez mais debatido nos dias que correm.

Ao testar o seu modelo numa circuns-tância única, a Rolex consolidou a sua imagem enquanto marca de referência para a comunidade de mergulhadores.

Recorde-se que o lançamento do primeiro Oyster em 1926 já surpreendera o mundo: o primeiro relógio à prova de água que chegou a acompanhar Mercedes Gleitze na sua travessia do canal da Mancha em 1927. Seguiram-se outros marcos que ficaram para a história. Em 1953, foi apre-sentado o Submariner, originalmente com uma estanqueidade até 100 metros e hoje até 300 metros; o Sea-Dweller, em 1967, com uma estanqueidade até 610 metros e que incluia uma vávula de hélio para protecção em mergulhos profundos; o Sea Dweller 4000 de 1978 era estanque até 1220 metros; o Rolex Deepsea de 2008, com uma impressionante estanqueidade até 3900 metros.

Nos anos após o mergulho histórico com o batíscafo Trieste, os relógios Rolex foram escolhidos para os mais diferentes desa-fios, entre os quais a equipa de mergulho de profundidade da US Naval School e o programa US Navy’s SEA-LAB.

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ANGELO BONATICEO da Panerainovidades 2010?Trabalhamos de dois modos: por um lado, continuamos a desenvolver os nossos próprios movimentos e, por outro lado, tra-balhamos em novos materiais. O Radiomir Composite tem uma caixa concebida por meio de um processo químico que mistura o alumínio e o oxigénio, resultando numa superfície muito dura e inovadora. Um ex clusivo da Panerai que nos permite ap-resentar o relógio Radiomir com um visual militar, muito particular. Podemos dizer que os nossos representantes aceitaram e receberam muito bem as novidades o que nos deixa muito orgulhosos e muito felizes.

ExCLuSIVo

PATRICK KuRy Director técnico da Porsche DesignP’6780 Diver?O relógio é mais estanque quanto maior é a profundidade que atinge. Se descer-mos muito e mergulharmos durante muito tempo, o hélio passa a junta e aloja-se na caixa, o que é normal. Isto acontece com qualquer sistema de junta. Mas quando damos corda pode começar a formar-se um ambiente pressurizado no interior da estrutura. Muitos relógios de mergulho estão equipados com uma válvula de hélio que serve justamente para permitir que a pressão escape até ao nível da superfície. Com este relógio da Porsche Design, isso não é necessário devido a um sistema de junta que se encontra sob pressão. É um sistema desenvolvido e patenteado pela Eterna para a Porsche Design.

OLIVIER BERNHEIM CEO da Raymond Weilnovidades 2010?O ponto forte da marca é em matéria de preços; o design que conhecemos, a qualidade que conhecemos e temos uma segmentação de preços que vai dos 800 aos 4000 euros. O nosso primeiro preço é a linha Tradition, em quartzo, cronógrafo. É uma peça muito bela e relativamente muito plana, é a escolha de algo clássico, algo de intemporal. O Nabucco Va Piensero é uma peça em titânio, com mostra-dor também em titânio. Apresenta um acabamento de pulverização de areia, de maneira que fica com um tom mate, com um aspecto lunar. É uma gama reduzida, muito forte e muito poderosa mas que permite ao retalhista e ao consumidor de encontrarem um produto de excepção com toda a facilidade dentro do nosso nível de preço.

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OCTAVIO GARCIADesigner da Audemars PiguetRo offshore Grand Prix?O mostrador do Royal Oak Offshore Grande Prix foi inspirado graficamente por alguns dos instrumentos que encontramos nos carros de alta-performance. É com-posto por cinco diferentes elementos e um dos aspectos inovadores do mostrador é um disco central no qual usámos alumínio. O alumínio é fantástico porque é fácil de manusear e dar forma e também oferece um grande potencial em termos de cores. Temos uma palete alargada de cores que nos permite combinar os mostradores com alguns elementos exteriores.

ANTONy DE HAASDirector técnico da A. Lange & SöhneLange 1 Daymatic?O Lange 1 tem agora um movimento automático. Chama-se Lange 1 Daymatic. É um movimento completamente novo automático, não tem nada que ver com o movimento antigo, sem tambor duplo, sem reserva de corda. Em vez da reserva de corda, optámos por uma indicação retrógada do dia, mas, além disso, o design é o mesmo, excepto o facto de termos espelhado o design do Lange 1, ou seja, o mostrador dos minutos e das horas descentrado está no Lange 1 original do lado esquerdo, e nós mudámo-lo para o lado direito. Está tudo espelhado.

JACK HEuERPresidente honorário da TAG Heuer150 anos?Considero que a principal inovação dos últimos 150 anos talvez tenha sido quando o meu avô, de repente, tornou possível a medição do 1/100 do segundo. Até então, só se podia medir o 1/5. Podem imaginar a importância disto para a ciên-cia, pesquisa, química, desporto. Assim, a nossa reputação começou a alargar-se porque o meu avô deciciu não vender o produto sem a marca Heuer no mostrador. Isto aconteceu há exactamente 50 anos mantendo-se até 1976, quando surgiu a electrónica que veio permitir as medições com cronógrafos digitais. Há 50 anos um produto mecânico e o meu avô é que o inventou. Acho que é a principal invenção dos nossos 150 anos.

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Com apenas alguns cliques descobrem-se novidades e

espaços realmente interessantes. uma breve recolha de

curiosidades que nos chamaram a atenção pelo modo

como descobrem a relojoaria.

Snapped by GrahamOs modelos da Graham são inconfundíveis, independentemente da linha a que pertencem. Mas os modelos da Graham são também sofisticados e irreveren-tes, pelo que nem toda a gente se atreve a usar um relógio da marca anglo- -suíça no pulso. Por isso mesmo, é sempre um exercício interessante descobrir quem são os corajosos que os escolhem sem problemas. O site da Graham revela-se como o espaço certo. Didler Drogba foi ‘apanhado’ com um Silver-stone Woodcote... E o português André Villas-Boas, alguém sabe?

watchblog.dkTropeçámos no WATCHBLOG.DK quando procurávamos uma imagem de Ricky Gervais a usar um TAG Heuer Monaco. Em vez do humorista britânico encontrámos um leque impressionante de fotos de celebridades que mostram o seu gosto de pulso. Mas encontrá-mos também uma grande e impressionante diversidade de infor-mação sobre o mundo da relojoaria em geral, não fosse este um blogue da autoria de um verdadeiro apaixonado por relógios e por fotografia. A explorar todos os dias, sem excepção.

www.hodinkee.comO Hodinkee é um blogue com histórias e curiosi-dades sobre relógios vintage. E mesmo que este tipo de instrumentos do tempo possa não estar na lista de preferências de muitos, a verdade é que quem lá passa uma vez, acaba por lá regressar todos os dias. Quer conhecer relógios que foram concebidos para os militares Nazi? E um Porsche Design/IWC com uma bússola que aponta para Meca, em vez de apontar para o Norte? Vídeos, fotos, comentários, fórum: uma paragem obrigatória para aficionados, coleccionadores ou apenas curiosos.

InTERnET

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AVEnTuRA

Entre as embarcações que participam na sexta edição do Panerai Classic Yachts Challenge 2010 encontra-se o Eilean, um veleiro de 1936 restaurado com o apoio da marca italiana.

Há quem defenda que os barcos têm alma. Quem sabe do assunto, terá os seus

motivos para acreditar que sim. A verdade é que um barco abandonado acaba

por ser uma imagem que não passa despercebida aos olhos de muitos. Que o

diga a Panerai, responsável pela nova vida do Eilean, um veleiro resgatado de

Antigua em completo estado de degradação.

Desenhado e construído em 1936 pelo estaleiro Fife of Farlie, o Eilean renas-

ceu em 2009, após três anos de restauro. O respeito pelas suas formas e

características originais foi uma das prioridades do projecto levado a cabo pela

equipa de técnicos do estaleiro Francesco Del Carlo, situado em Viareggio.

O Eilean é um iate com muitas histórias. No seu longo currículo, contam-se 36

travessias do Atlântico e o futuro revela-se promissor. Com linhas belas e harmo-

niosas e dois poderosos mastros que suportam velas triangulares, não foi conce-

bido inicialmente para participar em competições. «Ainda hoje a sua verdadeira

alma e elegância estão perfeitamente representadas nos seus aspectos funcio-

nais», comenta a marca italiana. Mas com o restauro muda também o fado deste

veleiro: o Eilean é uma das centenas de embarcações que participam na sexta

edição do Panerai Classic Yachts Challenge. Uma estreia prestigiada no século

XXI, já que 2010 é um ano de grandes novidades no importante circuito interna-

cional de regatas exclusivo para veleiros vintage e clássicos. A competição conta

pela primeira vez com dois históricos centros de regata: o British Classic Yacht

Club Cowes Regatta (Isle of Wight, Grã-Bretanha) e o Corinthian Classic Yacht

Regatta (Marblehead, EUA).

Com a renovação do patrocínio do Classic Yachts Challenge e com o restauro

do Eilean, a Panerai mantém-se fiel ao seu compromisso de salvaguarda e pro-

moção do mundo dos iates clássicos.

www.panerai.com

De regresso ao mar

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Ponteiros da austeridadeDepois de se verem sinais

de retoma nos principais

certames de relojoaria de

2010 (o Salão Internacional

da Alta-Relojoaria e Basel-

world), a Europa ficou

novamente ensombrada

pela recessão económica

e financeira. E a relojoaria

procura acertar as agulhas –

enquanto, paradoxalmente,

se batem recordes em

leilões.

Não sou homem de números, mas até um convicto artesão da palavra consegue fazer as contas e constatar que há recordes que estão a ser batidos – não propriamente os do valor do IVA em Portugal, mas os da venda de relógios, arte, automóveis ou propriedades à escala mun-dial. O que significa que a omnipresente crise parece não entrar na rarefeita estratos-fera do mais alto luxo, tendo em conta os 330 milhões desembolsados na aquisição de alguns dos mais cobiçados bens à face da terra numa cavalgada leiloeira ocorrida de 3 a 14 de Maio: 5,6 milhões por um cronógrafo Patek Philippe, 30 a 40 milhões por um Bugatti de 1936, 106,5 milhões por um Picasso, 50 milhões por uma mansão em Bel-Air e outras aquisições multi-milionárias comprovaram uma vez mais que o que é ultra-exclusivo constitui sempre um bom investimento.

Não é fácil perceber o imbróglio económico-financeiro actual e é difícil explicar as razões da recessão a qualquer leigo, mas torna-se evidente constatar que há sempre alguém que parece ganhar com a crise – ao mesmo tempo que inte- ressa reflectir sobre o impacto de tão nefasta conjuntura sobre o universo relojoeiro. Por en-quanto, tirando os anos anormais da chamada

‘bolha relojoeira’ de 2007 e 2008 (em que nasce-ram muitas marcas e as existentes tentaram al-candorar-se a patamares superiores), os números actuais têm andado perto da normalidade vigente até à tal corrida ao Eldorado.

Resta saber como é que a desvalorização do Euro face ao franco suíço irá afectar a indústria num futuro próximo, mas as perspectivas são preocupantes.

Pode parecer obsceno pensar em adquirir reló-gios que podem custar desde a soma de dez or-denados mínimos até ao equivalente a uma casa de três andares. Mas não é tão escandaloso se for constatado que qualquer relógio de qualidade comercializado a um preço justificado, qualquer que seja esse preço, representa a manutenção de empregos – desde quem os faz até quem os vende. E mesmo em tempo de crise ninguém deixará de apreciar artigos de prestígio ou um estilo de vida mais sofisticado: pelo contrário, a apetência até se torna maior.

A imprensa generalista tem contribuído para a falta de confiança ao martirizar o público com injecções diárias de crise que podem perpetuar o ciclo vicioso. Portugal apresenta um historial de dificuldades, mas convém não esquecer que, na Inglaterra da Segunda Guerra Mundial – e apesar

CRÓnICA MIGuEL SEABRA

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da racionalização do papel e dos cupões para a roupa – o governo incentivou a publicação da revista Vogue porque levantava o moral… porque é nos tempos mais duros que as pessoas mais apreciam o que é belo, glamoroso e luxuoso. Há quem aprecie de longe com a noção de não poder ter, mas continuarão a existir aqueles que têm dinheiro para comprar o que quer que seja a qualquer preço: querem ter sempre o melhor, embora sejam mais exigentes com a qualidade e mais discretos com a aquisição.

Mal ou bem, a sociedade moderna assenta nos simples actos da compra e da venda, havendo governos que consideram reduções de impostos para facilitar a economia e não deixar estagnar as finanças: sabem que é preciso que as pessoas continuem a gastar porque um comércio activo representa a manutenção de empregos privados e contribui com impostos para as finanças públicas. Claro que em tempo de austeridade, a ostentação tende a desapare- cer e a ser intolerada; há mesmo clientes do luxo a transportarem as compras em sacos incógnitos para não provocar animosidade. Mas o luxo (o genuíno) sempre foi um conceito que teve uma conotação parcialmente pejorativa quando essencialmente se trata de querer fazer

o melhor para vender o melhor – a alta qualidade requer elevada especialização.

A relojoaria de qualidade é uma indústria alta-mente especializada e as marcas mais luxuosas representam valores que estão acima da crise – como a integridade, a confiança e a intempo-ralidade. Aparentemente, serão as marcas de luxo mais acessíveis que vão estar mais expostas à recessão e o modo como vão lidar com a crise dependerá da maneira como irão trabalhar os mercados emergentes e equilibrar vendas menos significativas em determinadas áreas geográficas com maior sucesso noutras.

O certo é que, em fase de recessão, o tempo parece ter ainda mais importância e o relógio per-manece como o objecto de culto mais desejado. É sintomático que o suplemento de luxo «How to Spend It», do Financial Times, tenha conduzido um inquérito sobre os temas que os leitores gos-tariam de ver melhor tratados nas suas páginas – e que das 20 categorias, desde a moda até aos vinhos finos passando pela tecnologia e viagens, a resposta mais popular tenha sido… os relógios.

Da minha parte, vou-me apegar ainda mais aos meus relógios durante a recessão – e desejar que, pelo menos por agora, os ponteiros andem mais depressa.

Mas o luxo (o genuíno) sempre foi um conceito que teve uma conotação parcialmente pejorativa quando essencialmente se trata de querer fazer o melhor para vender o melhor – a alta qualidade requer elevada especialização.

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A A. Lange & Söhne tem uma das histórias mais singulares do panorama relojoeiro. A empresa alemã foi a primeira a recuperar o importante legado de manufactura da cidade relojoeira de Glashütte, na Alemanha Oriental, partilhando-a com outras marcas da zona, como, por exemplo, a Glashütte Original e a Nomos. Actualmente, pode conhecer-se a história antiga e moderna no interessante Museu de Relojoaria da cidade.

A 7 de Dezembro de 1990, apenas um ano depois da queda do Muro de Berlim e a cerca de sessenta dias da unificação da Alemanha, no registo comercial de Dresden, apareceu, depois de quase meio século de obscurantismo, o nome Lange Uhren GmbH, Glashütte: Walter Lange assumia a direcção e recolhia corajosamente a herança cultural da família. O objectivo, que foi imediatamente dado a conhecer, era o de construir relógios de altíssima qualidade, tão perfeitos que pudessem competir com os melhores relógios da Suíça. Um projecto ambicioso, difícil de realizar, mas seguramente estimulante. A Casa de Glashütte escolheu, desde o primeiro dia, o caminho da excelência. Para tal, apoiou-se nos trabalhadores qualificados locais, bem como, obviamente, no importante contributo prestado por engenheiros da Suíça e na visão de Gunter Blümlein, um dos gurus da relo-joaria contemporânea, director da LMH. A LMH era composta pela Lange, pela IWC e pela Jaeger-LeCoultre, que pertenceu primeiro à Mannesmann alemã e, agora, à Richemont. Blümlein é conhe-cido, entre muitos outros aspectos, por ter sido o único, na IWC, a defender o desenvolvimento e a produção do cronógrafo Da Vinci com calendário perpétuo (uma das complicações de maior suc-esso na história da relojoaria moderna). Inesquecível co-fundador da nova A. Lange & Söhne (prematuramente desaparecido, em 2001, a Casa dedicou-lhe um monumento de bronze dentro da manufactura), Blümlein também é definido como «o homem que conduziu com sucesso a IWC para fora da crise dos anos 1970».

Esta crise estrutural, bem diferente e muito mais grave daquela que estamos a viver, levou, há pouco menos de quarenta anos, ao encerramento de várias manufacturas e à perda de know-how de uma inteira indústria de relojoaria mecânica, em prol da produção de relógios digitais de proveniência oriental. Curiosa-mente, até a invenção do relógio com indicação digital se pode relacionar com a IWC: um modelo de bolso com horas e minutos numa janela, criado em 1884 pelo engenheiro austríaco Joseph Pallweber (ligado contratualmente à IWC). O relógio é referido no livro Grande Complication (1991), de Manfred Fritz, publicado com direitos de autor da IWC, onde se afirma com indisfarçável orgulho que a indicação digital «não vem destronar a clássica indicação analógica com ponteiros. Um negócio, aliás, que não conseguiu ser completamente bem-sucedido junto de outros fabricantes de produtos relojoeiros de quartzo com indicador de cristais líquidos. Neste período, a IWC deixou para trás a moda digital». Como entender hoje, então, a opção da A. Lange & Sohne, que, a 125 anos do relógio digital de Pallweber e a quase quarenta anos dos relógios de cristais líquidos da Casio, Seiko e Timex (que estão de novo na moda), propõe este Zeitwerk, com indicação das horas e minutos numa janela?

Trata-se, sem qualquer dúvida, de um exercício de estilo de sucesso e inegavelmente atraente, muito interessante sobretudo do ponto de vista técnico e relojoeiro. A opção de ser uma produção não-limitada (apesar de ser modesta a causa da sua complexidade construtiva intrínseca), com excepção da versão em platina, que terá apenas 200 exemplares, é corajosa. Segura-mente, o Zeitwerk não procura alterar a ordem natural das coisas, suplantando a indicação analógica da hora (por ponteiros), mas, como já escrevemos no número 178 da L’Orologio, trata-se de um óptimo investimento para coleccionadores. Vamos agora analisar o coração deste audacioso relógio: o movimento calibre Lange L043.1 de manufactura, de remontagem manual com indicação digital das horas e dos minutos. A característica técnica mais im-portante e revolucionária deste movimento diz respeito à dimensão das janelas de indicação digital, semelhante à célebre janela Lange da data. Apesar da dimensão deste indicador e, por conseguinte, dos discos que a proporcionam, a relojoaria e a engenharia da Lange conseguiram projectar um sistema que permite o avanço instantâneo, a cada sessenta segundos, do disco digital dos minu-tos. Vejamos como.

LABoRATÓRIo

Por Dody Giussani, directora da revista L’Orologio

A análise de alguns aspectos técnicos e funcionais de especial

interesse, no estudo de relógios mais emblemáticos.

A. Lange & Söhne

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Janela dos minutos com disco duplo: um para as dezenas (0 a 5) e um para as unidades (0 a 9).

Rolamento em rubi, ao qual são afixados os dois discos dos minutos, concêntricos, mas sobrepostos.

O calibre Lange L043.1 é um movimento mecânico de corda manual, regulado em cinco posições com sistema de raqueta com mola de retenção; platina a três quartos em prata alemã; ponte do balanço gravada à mão; salto instantâneo dos minutos. As dimensões são: diâmetro de 33,6 milímetros; espessura de 9,3 milímetros. O movimento é composto por 388 componentes, 66 rubis e dois chatons em ouro aparafusados. O balanço em Glucydur oscila a uma frequência de 18.000 alternâncias/hora e é dotado de uma espiral de manufactura Lange. Tem escapamento de âncora.

O disco das unidades dos minutos (de 0 a 9). A indicação dos minutos é dada em separado, através de dois discos concêntricos que se encontram em planos diferentes. Este sistema assemelha-se ao utilizado na tradicional janela Lange da data, mas sem a moldura que disfarça a separação entre os dois discos.

O disco das dezenas para indicação dos minutos. As dezenas são apresentadas de 0 a 5, uma vez que a indicação dos minutos vai de 00 a 59.

O disco das horas apresenta números de 1 a 12 e é colocado na periferia do movimento, a posição normal da função da data.

Coroa de corda e regula-ção. Encontra-se às duas horas por motivos pura-mente técnicos. O seu con-trolo não é óptimo, devido à proximidade da asa. Por este motivo, foi concebida em forma de cone e dotada de ranhuras para facilitar o manuseamento.

Parafuso de fixação da moldura da janela de indicação da hora.

Indicação da reserva de corda (36 horas).

A versão em platina do Zeitwerk é a única em edição limitada (200 exemplares). O preço da versão em ouro rosa, não-limitada, é de € 43.200.

Ponteiro dos segundos.

Janela das horas (de 1 a 12).

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8. Dedo de avanço da hora. Ligado ao eixo do disco das dezenas (13), a cada volta completa deste último (cada sessenta minu-tos), faz avançar, de uma vez, o disco das horas (15), que funciona como uma data. O dedo (8) engrena com uma roda de quatro dentes (9), ligada a uma roda intermediária das horas (10), com a qual forma uma engre-nagem do tipo cruz de Malta.

11. Rolamento do eixo do disco das uni-dades: é o rubi visível sobre o mostrador do Zeitwerk.

3. A roda de transição do disco das uni-dades (14) engrena com a roda (4) que atravessa o eixo (5) e liga-se à engrena-gem (6) para o avanço das dezenas (13). Em cada volta do disco das unidades (cada dez minutos), a engrenagem do tipo cruz de Malta – formato da engrenagem 6 e 7 (dedo e estrela de seis pontas) – faz avançar o disco das dezenas (13), de um sexto de volta para 60 graus e uma décima. A conformação da engrenagem do tipo cruz de Malta (6 e 7) impede o disco das dezenas (13) de se mover inadvertidamente (por motivos de choque ou vibração), entre um avanço e outro.

12. Moldura da janela das horas e dos minutos em prata alemã.

13. Disco das dezenas

14. Disco das unidades

2. Carrete de avanço dos minutos.

1. Roda de avanço da indicação dos minutos (sobre dois discos para as dezenas e para as unidades).

6. Roda de um dente, ligada à engrenagem do tipo cruz de Malta para o avanço das dezenas (13).

7. Estrela de seis pontas das dezenas.

16. Roda com dentes internos à qual é fixado o disco das horas.

9. Disco de quatro dentes ligado à engre-nagem do tipo cruz de Malta para avanço da hora. A cruz de Malta mantém o disco das horas (15) imóvel entre um avanço e outro.

10. Roda intermediária das horas. Engrena directamente com o disco das horas (15) através da grande roda com dentes internos (16).

15. Disco das horas

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1. A mola espiral em tensão é carregada pela energia do tambor e transfere uma força con-stante ao escape. Ao mesmo tempo, a mola fornece energia, em intervalos regulares, ao sistema de avanço instantâneo do disco dos minutos, a cada 60 segundos.

6. Disco de bloqueio. Este disco é composto por um entalhe, no qual vai encaixar a palheta em rubi à direita da alavanca de comando (7), quando a esquerda bloqueia o dedo (5). Só quando o botão do disco (13) de accionamento (8) abandona a forquilha da alavanca (7) e a alavanca retorna à posição inicial sob pressão da mola de posição (9), é que o dente da roda (rosa) fica livre para girar juntamente com o seu carrete de comando, libertando a roda média condutora (2). Todo o sistema é libertado do bloqueio: a roda média condutora (2) recarrega a mola de torque (1), enquanto o carrete de comando da esquerda (4) transmite a energia necessária ao mecanismo de avanço dos discos, que dá um passo em frente, actualizando a indicação dos minutos instantaneamente. A energia cinética em excesso é absorvida por um disco (12) ligado ao disco de bloqueio (6).

4. Carrete de comando. E um segundo perfeitamente simé-trico. Os dois carretes seguram e liberam o movimento da roda média condutora (2).

9. Mola de posição.

12. Volante de asa. Análogo ao presente nos relógios de mesa com sonnerie.

5. Dedo de bloqueio. Poucos segundos antes do disparo dos minutos, a cavilha em rubi (13), colocada sobre o disco de accionamento (8), encaixa na forquilha da alavanca de comando e faz com que ela se mova, elevando a alavanca em rubi do dedo de bloqueio (5), contra a resistência da posição da mola (9).

3. Roda média conduzida. Esta roda é movida directamente pela energia da tensão da mola e engrena com o car-rete comum à roda dos segundos (11), transmitindo energia ao escape, e ao disco de accionamento (8) da alavanca de comando (7). O disco (8) efectua, de seguida, uma rotação completa em 60 segundos.

2. Roda média condutora. No Zeitwerk, a roda média é dupla e está dividida em condutora (em baixo) e conduzida (em cima).

13. Botão do disco de accionamento.

8. Disco de accionamento. É munido de uma cavilha em rubi (13) e completa uma volta em 60 segundos, solidariamente à roda dos segundos abaixo.

7. Alavanca de comando. De forma em Y e é dotada de duas palhetas em rubi e de uma forquilha (como a âncora do escape).

10. Roda de escape 11. Roda dos segundos

LABoRATÓRIo

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A Vacheron Constantin é uma secular manufactura que se manteve intransigente na concepção de modelos clássicos e elegantes, com maiores ou menores complicações mecânicas adicionais. A colecção Patrimony encarna esses valores fundamentais, tanto na linha Traditionnelle como na Contemporaine. O modelo Patrimony Contemporaine Bi-Retrograde Dia e Data personifica a utilização de padrões estéticos essenciais com um toque de irreverência proporcionado pelos indicadores analógicos retrógrados da data e do dia da semana: trata-se de um conceito diferente que transforma a lógica habitual do tempo e lhe dá um toque mais extravagante! Tanto no final da se-mana quanto no final do mês, os respectivos ponteiros saltam para trás e retomam a sua caminhada por etapas para a frente, até se dar um novo retorno. Todos os restantes pormenores representam um tributo à intemporalidade dos objectos de culto; o Patrimony Contem-poraine Bi-Retrograde está vocacionado para um público sofisticado que deseja estar imune às tendências passageiras.

Eterno retorno

EM FoCo

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Referência: 86020/000R-9239

Movimento: Mecânico de corda automática Calibre 2460 R31 R7 certificado com o Punção de Genève.

Funções: Horas, minutos, data e dia da semana retrógados.

Caixa Ø 42,5 mm: ouro rosa 18 ct; vidro e fundo em safira; estanque até 30 metros.

Bracelete: pele de jacaré com fivela em ouro rosa.

Preço: € 28.900

Ficha técnica Vacheron Constantin Patrimony Contemporaine Bi-Retrograde

Função retrógradaOs ponteiros retrógrados apresentam-se como uma alternativa à noção circular do tempo: a sua trajectória é como que sectorial e dispõe de princípio, meio e fim – por oposição ao contínuo movimento em círculo das horas e dos minutos. A decomposição do calendário através do sistema retrógrado abre uma diferente dimensão de cada dia que passa e apresenta uma leitura intuitiva relativamente ao início, meio e fim da semana ou do mês.

Qualidade mecânicaA disposição do tempo através de ponteiros de calendário dotados de um sistema de retorno instantâneo (flyback) exige apuro, já que o mecanismo – neste caso, o calibre 2460 R31 R7 – está constantemente a funcionar como uma mola que se vai apertando… até que a indicação chega ao final da escala e se liberta violentamente. Quando a mola se solta, o ponteiro salta para trás de modo a recomeçar o seu trajecto.

Proporções canónicasUma caixa em ouro rosa elegante, mas com proporções contemporâneas: o diâmetro de 42,5 mm para 10 mm de espessura adequa-se aos pulsos moder-nos e faz-se acompanhar de uma fivela desdobrável. Lá dentro o calibre 2460 R31 R7, de corda automática, bate a 28.800 alternâncias/hora e ostenta uma reserva de corda de 40 horas – sendo distinguido com o lendário Punção de Genève. Pode ser apreciado através do fundo transparente em vidro de safira.

O Patrimony Contemporaine Bi-Retrograde está cer-tificado pelo Punção de Genève, um selo de elevada qualidade técnica/estética criado em 1886 e emitido pelo cantão de Genebra para atestar exemplares de alta-relojoaria exclusivamente montados na zona – e que têm de ter calibres mecânicos criteriosamente decorados à mão, com ângulos polidos e compos-tos por peças aprovadas pela comissão.

Contemplar o regresso dos ponteiros de indicação da data e do dia da semana ao seu ponto de partida poderá ser considera do como o momento chave desta obra de arte da Vacheron Constantin. Tudo no mostrador parece estar pensado para destacar estas funções: os dias do mês dispostos em semi--círculo na parte superior do mostrador; os dias da semana também em semi-circulo na parte inferior. A sua aparência simples oculta um movimento de grande complexidade mecânica, meticulo samente decorado e certificado pelo Punção de Genève.

José FariaRelojoaria Faria

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O atelier Porsche Design tem-se especializado na transformação de sonhos em objectos de culto, e o revolucionário Indicator é o mais emblemático de todos os modelos integrantes da sua colecção relojoeira. Trata-se de um autêntico bólide para o pulso que faz jus à histórica herança motorizada da marca, com prestações dignas de um Carrera GT e preço superior ao de um Boxster – um super-cronógrafo de grandes dimensões e dotado de uma estética muito peculiar que alberga um poderoso mecanismo capaz de activar os totalizadores digitais que medem espaços de tempo. Esse visual único surge agora replicado no novo P’6920, um cronógrafo rattrapante que mantém elementos de estilo característicos do Indicator e que apresenta um tamanho viril (45 mm de diâmetro por 15,5 mm de espessura) mas não tão grande como o do seu ‘mentor’ e a um preço bem mais acessível, embora se trate de um relógio nada comum: está limitado a 200 exemplares numa edição em titânio revestido de PVD e a 50 exemplares numa declinação em titânio/ouro rosa!

Exercício de estilo

EM FoCo

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Referência: 6920.6943.201 (Edição limitada a 50 exemplares)

Movimento: Mecânico cronógrafo rattrapante de corda automática calibre Valjoux 7750 AR2.

Funções: Horas, minutos, segundos e cronógrafo.

Caixa Ø 45mm: Luneta e fundo em ouro rosa 18 ct., titânio com tratamento PVD preto, vidro

e fundo em safira, coroa de rosca em ouro rosa 18 ct, estanque até 50 metros.

Bracelete: Cauchu com fecho de báscula em titânio com tratamento PVD preto e verso

personalizado com o perfil dos pneus do Porsche Carrera GT.

Preço: € 24.940

Ficha técnica Porsche Design Cronógrafo Rattrapante P’6750

Herdeiro à alturaA arquitectura da caixa é a mesma da do ‘Indicator’ e o mostrador é igualmente alveolado. Se os elementos de estilo são aparentados, o resto está também à altura da herança, já que o interior alberga um fiável mecanismo cronográfico dotado de um ponteiro suplementar de recuperação (rattrapante). O calibre do P’6920 tem mesmo a sua fiabilidade certificada pelo COSC (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres).

ADn automobilístico A coroa parece um pneu em miniatura com a característica jante; os botões estriados do cronógrafo são modelados à imagem dos pedais; o rotor do calibre automático, que pode ser admirado através de um fundo transparente, também é semelhante às jantes radiais; a bracelete em borracha vulcanizada apresenta uma textura interior igual à dos pneus. E o ‘painel de instrumentos’ – o mostrador – impressiona pela tecnicidade: para evitar os erros de paralaxe, a minuteria está impressa no rebordo da face interior do vidro de safira; o logótipo e o nome do modelo figuram no perímetro para não afectarem a geometria do conjunto.

Bandeira nacionalNo mostrador alveolado, sobressaem quatro submostradores – com a data analógica situada às três horas, os segundos contínuos às nove horas e os totalizadores às 12 horas (horas) e às seis horas (minutos). Os ponteiros principais parcialmente esqueletizados e os algarismos são pigmentados com material lumi-nescente SuperLumiNova; o inopinado espírito lusitano é fornecido com o recurso ao vermelho e ao verde: o ponteiro cronográfico dos segundos e o ponteiro rat-trapante apresentam as cores nacionais.

Na contagem cronográfica, os dois ponteiros arrancam em simultâneo e podem ser separados – ao carregar num botão suplementar (do lado es-querdo), o ponteiro rattrapante de ponta verde pára para se determinar um tempo intermédio, enquanto o tradicional ponteiro cronográfico dos segundos, de ponta vermelha, prossegue a sua marcha. Voltando a pressionar o mesmo botão, o ponteiro que parou recupera instantaneamente a sua posição inicial colada ao outro ponteiro, prosseguindo ambos a contagem. Outra possibilidade de uso da função rattrapante consiste em, após se ter parado um primeiro ponteiro e feito uma primeira contagem, travar o segundo ponteiro e então calcular a diferen-ça de tempo entre ambos.

Um exemplar que une um design poderoso ao requinte do ouro rosa. O Porsche Design Rattrapante com caixa em titânio e luneta em ouro rosa caracteriza-se pelas linhas incon-fundíveis da linha Indicator, mas foi enrique-cido com a função de rattrapante que permite a contagem precisa de intervalos de tempo. A funcionalidade, ponto forte da marca, revela-se entre outros aspectos na facilidade de leitura proporcionada pelos números sobredimensionados,contrastantes com o mostrador preto “favos de mel” e respectivos ponteiros, numa simbiose de cores que o tornam irresitivelmente desportivo.

José TeixeiraOurivesaria Camanga

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A emblemática linha Royal Oak foi apresentada há já quase 40 anos e desde logo se tornou numa trave mestra da colecção da Audemars Piguet, sendo acompanhada, desde há quase duas décadas, pela mais desportiva declinação Royal Oak Offshore, que também tem conhecido um enorme sucesso. Mas a prestigiada manufactura não descansa sobre os seus louros e acaba de colocar no mercado mais uma variante em edição limitada: a linha Royal Oak Offshore Grand Prix, que potencia as características dos modelos Royal Oak Offshore através de um formato maior e uma estética ainda mais agressiva. O exercício estilístico é reminiscente do universo do desporto motoriza-do, juntando a parte estética a uma construção assente em materiais high-tech e a uma mecânica de elevada qualidade. O produto final revela-se um instrumento do tempo que puxa os limites e faz as delícias dos muitos aficionados dos Royal Oak Offshore… mas não está ao alcance de todos: a produção é selectiva e confinada a um total de 2475 exemplares entre as três versões.

Potenciar um ícone

EM FoCo

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Referência: 26290I0.00.A001VE.01 (Edição limitada a 1750 exemplares)

Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática calibre AP 2326/2840.

Funções: Horas, minutos, segundos, cronógrafo, data e escala taquimétrica.

Mostrador: Anel exclusivo ao centro em alumínio anodizado com decoração Mega Tapisserie.

Caixa Ø 44mm: Caixa e luneta em carbono forjado e cerâmica negra, vidro em safira com tratamento anti-

-reflexos; fundo gravado com a inscrição ‘Royal Oak Offshore Grand Prix’; Estanque até 100 metros.

Bracelete: Calfe com inserções Alcantara com fecho de báscula

Preço: € 28.800

Ficha técnica Audemars Piguet Royal oak offshore Grand Prix

Três variantesO Royal Oak Offshore Grand Prix apresenta três luxuosas interpretações: uma primeira em caixa de carbono forjado com uma luneta igualmente em carbono forjado assente num anel de cerâmica negra e mostrador predominantemente vermelho; a segunda assenta numa caixa em ouro rosa que estabelece um forte contraste com as partes escurecidas em carbono forjado acopladas e o preto do mostrador; a terceira numa caixa em platina 950, com a luneta de centro azulado. A técnica do carbono forjado é uma exclusividade da Audemars Piguet.

Mostradores com raçaA carrosseria desportiva é realçada por mostradores particularmente desporti-vos, graças ao destaque gráfico dado à escala taquimétrica em alumínio e ao contraste entre os totalizadores (minutos, horas, pequenos segundos) e à parte central do mostrador com decoração Mega Tapisserie em relevo. Os índexes das horas aplicados são em ouro branco com revestimento luminescente. Os pon-teiros esqueletizados e com revestimento luminescente são igualmente concebi-dos em ouro (branco ou rosa segundo o modelo).

Alto rendimentoO mecanismo que alimenta o cronógrafo de excelentes prestações assenta no calibre automático 3126/3840, composto por 365 peças (59 rubis) e com reserva de corda optimizada de 60 horas, 21.600 vibrações/hora, balanço de inércia variável com oito masselottes, rotor em ouro de 22 quilates personalizado e parcialmente enegrecido, decoração profusa de todas as componentes segundo os elevados padrões decorativos da alta relojoaria (perlage, anglage, rhodiage, diamantage e côtes de Genève).

As três variantes distribuem-se numa edição limitada de 1750 exemplares em carbono forjado, 650 em ouro rosa e 75 em platina. A tiragem selectiva surge indelevelmente gravada no fundo da imponente caixa (de 44 milímetros de diâmetro por 15,65 milímetros de espessura e estanque a 100 metros de profundidade) com a inscrição «Royal Oak Offshore Grand Prix – Limited Edition».

Tributo à relação da Audemars Piguet com o mundo automóvel, o Royal Oak Offshore Grand Prix é uma peça de forte carácter que não passa despercebida. E não se trata apenas das suas dimensões, mas da combinação única de materiais normalmente usados em relojoaria com o carbono forjado. O mostrador com padrão Mega Tapisserie destaca-se pela presença de um área central em alumínio anodizado de cores vivas, pelos submostradores e pelos indexes originais. Refiro ainda a escala taquimétrica, ideal para complementar o pulso dos amantes da velocidade.

Pedro RosasDavid Rosas

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A caminho de celebrar uma década e meia de vida, o Master Banker entra na sua terceira geração e confirma ser um modelo incon-tornável na colecção Franck Muller. A sua génese remonta a 1996 – quando um banqueiro londrino solicitou ao ‘Mestre das Complica-ções’ que lhe concebesse um original relógio com três fusos de leitura simples e que permitisse visualizar, em simultâneo, os horários das bolsas de Londres (FTSE), Nova Iorque (Dow Jones) e Tóquio (Nikkei). Franck Muller gostou tanto do resultado final que o protótipo acabaria posteriormente por integrar a colecção regular sob a designação de Master Banker, com um elegante mostrador dotado de dois pequenos submostradores adicionais. Quase uma década depois, surgiu o Master Banker Lune com uma disposição horizontal e um submostrador suplementar para a indicação analógica da data que incluía uma janela para as fases da Lua. A última versão recupera os submostradores verticais do original, mas faz-se acompanhar de uma janela para a data e surge num formato maior.

Tempo continua a ser dinheiro

EM FoCo

Page 87: Espiral do Tempo 34

Referência: 8880 MB SCDT

Movimento: Mecânico de corda automática.

Funções: Horas, minutos, segundos, data, triplo fuso horário.

Caixa: Aço, vidro em safira e estanque até 30 metros.

Bracelete: Pele de crocodilo com fivela em aço.

Preço: € 15.750

Ficha técnica Franck Muller Master Banker

Porque saber as horas em viagem não tem de ser um exercício complicado, Franck Muller propõe mais um elegante modelo na sua linha de sucesso Master Banker. A localização dos submostradores dos fusos horários, às doze e às seis horas, bem como o estilo de números utilizado para esta função, complementam as funções de forma simples, prática e eficaz. Para não haver qualquer dúvida na leitura, os algarismos adoptam a forma característica da marca. Uma peça fundamental para as exigências dos nossos tempos.

António MachadoMachado Joalheiros

Opulência contemporâneaNum relógio dedicado à alta finança que prova que o tempo é mais precioso com a prestigiada assinatura de Franck Muller, a opulência é transmitida através das generosas formas da emblemática caixa Cintrée Curvex e da elevada qualidade dos seus componentes – desde o mostrador à mecânica interior. Actualmente, e para além das versões em ouro e aço, o Master Banker está também declinado com submostradores de cores contrastantes e até em caixas com tratamento negro em PVD que lhe dão sofisticação contemporânea.

ovo de ColomboUma solução simples mas engenhosa: o segredo do Master Banker reside num módulo patenteado acoplado ao mecanismo e no qual os dois fusos horários suplementares estão sincronizados com a hora central. Os ajustes são efectua-dos através de uma única coroa, e os ponteiros dos minutos avançam de meia em meia hora para fazer face a algumas bizarrias na distribuição de alguns fusos horários – como, por exemplo, o tempo oficial do Irão e da Índia, que diferem meia hora relativamente aos meridianos ‘normais’.

Mecânica modularO mecanismo automático de base, com rotor de platina 950 de grande den-sidade para optimizar a circulação, recebeu uma placa com o sistema Master Banker dos múltiplos fusos horários que permite um acerto horizontal no com-plexo trem de rodagem. A outra complicação adicional é o disco da data, visível através de uma abertura no mostrador que marca a diferença relativamente ao modelo original.

um rosto atraente, quaisquer que sejam as com-binações de cores: o vidro em safira convexo é de complicada concepção e incrementa a tridimensio nalidade do emblemático formato Cintrée Curvex, a par do sofisticado mostrador – que tem nuances em guilloché frappé soleil, contrastes de cores, ponteiros azulados ou luminescentes e algarismos estilizados. O visual do novo Master Banker recupera o pendor vertical do original, com os submostrado res dos dois fusos horários adicionais colocados em cima e em baixo no mostrador.

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Numa era em que os relógios dotados de complicações mais desportivas (como os cronógrafos) são geralmente declinados num formato sobredimensionado e com estética vanguardista, algumas das mais tradicionais casas relojoeiras suscitaram um movimento de reacção já sentido desde 2009: o da criação de modelos simples ou cronógrafos de menor dimensão, dotados de um classicismo absoluto como contraponto à chamada ‘tecnorelojoaria’. O exemplo dado pela secular manufactura Jaeger-LeCoultre é personificado pelo belo Master Chronograph – que vem finalmente dotar a linha Master Control, caracterizada por modelos elegantes e redondos, de um modelo cro-nográfico de estética classicamente pura. Tal como sucede nos já lendários Master Geographic, Master Calendar ou Master Réserve de Marche, é fácil constatar que no Master Chronograph a legibilidade está ao serviço da funcionalidade num impecável relógio que fica bem em qualquer pulso e em qualquer circunstância!

Impecável classicismo

EM FoCo

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Referência: Q1538420

Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática com roda de colunas Calibre 75 Ia/I

Funções: Horas, minutos, pequenos segundos, cronógrafo, data, escala pulsométrica.

Caixa Ø 40mm: Caixa em aço, vidro em safira com tratamento anti-reflexos, logótipo

“Master Control” gravado no fundo. Estanque até 50 metros.

Bracelete: Pele de crocodilo.

Preço: € 7.150

Ficha técnica Jaeger-LeCoultre Master Control Chronograph

Dimensão canónica Disponível em ouro rosa ou em aço, a caixa de 40 milímetros de diâmetro e 12,6 de espessura é reminiscente dos grandes clássicos da década de 50 e 60. Todos os detalhes arquitecturais foram pensados para exaltar a elegância, desde a alternância no tratamento da superfície (escovada ou polida) até à opção pelos botões de forma para activação da função cronográfica.

Qualidade mecânicaO cronógrafo é uma das complicações mais populares e úteis na relojoaria; o Master Chronograph está equipado com o Calibre 751 a/1 – um movimento cronográfico de corda automática com roda de colunas cuja embraiagem vertical torna a função start/stop mais precisa. Para a robustez e fiabilidade do mecanis-mo de 277 peças contribuem também um rotor assente em rolamentos de esferas em cerâmica, um balanço de inércia variável com elevada frequência (28.800 alternâncias/hora) e reserva de corda de 65 horas.

Mostrador depuradoA disposição tricompax do depurado mostrador é simétrica: os totalizadores (das horas e dos minutos) do cronógrafo estão posicionados às nove e às três horas, com o submostrador dos segundos contínuos às seis horas; a única nota irreverente é a janela para a data descentrada entre as quatro e as cinco horas. A superfície prateada é embelezada com padrão em soleillage; os índexes aplica-dos, tal como os algarismos do 12, e os ponteiros (que são azulados para as funções cronográficas) contribuem para a pureza estética do conjunto.detalhe muito importante: em vez da escala taquimétrica para cálculo de vertigi-nosas velocidades, o Master Chronograph dispõe de uma escala pulsométrica para medir pulsações – como os antigos cronógrafos para médicos.

Tal como todos os modelos com a chancela Master Control, o Master Chronograph é testado exausti-vamente durante 1000 horas (choques, alterações de temperatura, precisão em várias posições) para garantir o máximo de fiabilidade do produto final.O logótipo Master Control surge gravado no fundo da caixa.

Os totalizadores do cronógrafo destacam-se dos pequenos segundos pelo cromatismo dos ponteiros e pela diferença de tamanho. Esta solução clássica privilegia uma melhor legibilidade.

Com o Master Chronograph, a Jaeger- -LeCoultre surpreende ao englobar em linhas elegantes e clássicas um movimento crono-gráfico automático de alto desempenho. A nova dimensão da caixa, 40 milímetros, foi pensada para se adaptar a qualquer pulso. Já o modo como as funções estão distribuídas no mostrador garantem exce-lente legibilidade. Considero que esta peça responde às necessidades de quem aprecia um cronógrafo de pulso sem ser forçado a recorrer a linhas desportivas, geralmente conotadas com este tipo de função.

Paulo TorresTorres Joalheiros

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Nos últimos tempos, a TAG Heuer tem apresentado alguns interessantes conjuntos que têm feito as delícias dos aficionados – e o curioso é que as séries internacionais de estojos em edição limitada têm tido a sua génese em Portugal, através da iniciativa da entidade que rep-resenta a marca em território luso (a Torres Distribuição). Depois do conjunto Hi-Tech (Grand Carrera Calibre 17 RS2 e telemóvel Meridiist) e do luxuoso coffret com a assinatura Fred Pinel (Grand Carrera Calibre 17 RS2 e telemóvel Meridiist numa fabulosa caixa de pele), é a vez do estojo Série S: trata-se de uma edição comemorativa dos 150 anos da TAG Heuer (1860-2010) que inclui um cronógrafo de pulso Carrera Calibre 16 Tachymeter Day-Date, um cronógrafo de mão Heuer com rattrapante e um par de luvas de pele Heuer Racing – tudo acomodado num atraente estojo de madeira que coloca em destaque a assinatura de Jack Heuer, o homem que deu um significativo elã à marca na década de 60 através da criação de modelos míticos e inovadores patrocínios no universo do desporto automóvel.

Conjunto para recordar

EM FoCo

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Série limitada a 150 Coffrets Relógio + StopWatch + Luvas Heuer - Referência: CV2A11.SERIE.S

Carrera Chronograph Day-Date

Movimento: Mecânico de corda automática calibre 16 – Funções: Horas, minutos, segundos,

data e dia da semana – Caixa Ø 43 mm: Aço estanque até 100 metros – Bracelete: Pele de aligator

com fecho de báscula em aço.

StopWatch: Cronógrafo mecânico de corda manual – Caixa Ø 55 mm, fundo gravado com número

de edição limitada + Luvas Heuer Racing em pele.

Preço: € 4.750

Ficha técnica TAG Heuer Estojo Carrera Série S

Clássico modernoO modelo escolhido para integrar o estojo comemorativo foi o cronógrafo au-tomático Carrera Calibre 16 Tachymeter Day-Date, um clássico moderno em aço que associa elementos estilísticos de antigas edições do mítico Carrera a uma construção contemporânea: trata-se do maior Carrera jamais feito (43 milímetros de diâmetro, 16 de espessura) e o primeiro da nova geração com janelas para o dia e para a data. A personalização inclui uma correia diferente (castanha, de crocodilo).

Instrumento saudosistaA ponte para o período épico do automobilismo é feita através do par de luvas de conduzir e, sobretudo, do cronógrafo de mão – um belo stop-watch em aço que recupera o logótipo Heuer da era pré-TAG Heuer. Trata-se de um instru-mento de medição com mecanismo de corda manual dotado de sistema de protecção do balanço e ponteiro suplementar de recuperação (rattrapante) para uma cronometragem mais completa. A personalização é feita no verso assinado e numerado.

Caixinha de surpresasO estojo em madeira de excelente qualidade contribui para o pendor histórico do conjunto e alberga perfeitamente os diversos itens que compõem a Série S, recuperando o espírito vintage com o logótipo Heuer e a iconografia utilizada na lendária corrida mexicana Carrera Panamericana que inspirou Jack Heuer a lançar o cronógrafo Carrera em 1964.

A edição de 150 exemplares à escala mundial está bem presente – até esgotar! – no mercado nacional, já que o conceito do coffret Série S (de Sport, de Stop-Watch, de Swiss Made) foi idealizado em Portugal.

Actual presidente honorário da TAG Heuer e antigo CEO da marca, Jack Heuer valoriza o conjunto com a sua emblemática assinatura no forro do estojo.

Os 150 anos da TAG Heuer celebrados da melhor forma. A série limitada Carrera Série S é como um tesouro que conta a história da marca suíça. Nele, o passado e o presente unem-se através de duas peças intimamente associadas ao ADN racing da TAG Heuer: o cronógrafo automático Carrera Calibre 16 Tachymeter Day-Date e um stop-watch personalizado em aço evocativo da ligação à competição automóvel. A assinatura de Jack Heuer, figura incontornável do espírito TAG Heuer, acrescenta ainda mais valor a este tributo, já de si inestimável.

Rui neves Marcolino Relojoeiro

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O Silverstone Stowe GMT é mais um instrumento de grande personalidade com a chancela da Graham – associando propositadamente a mestria contemporânea da relojoaria helvética à tradição automobilística britânica num concentrado relojoeiro equipado com as funções mais úteis para o dia-a-dia: cronógrafo com função flyback, segundo fuso horário e data grande. A Graham tornou-se conhecida pelo seu design de ruptura nas linhas Chronofighter e Swordfish, mas não há dúvida de que a gama Silverstone permanece extremamente popular, sobretudo junto dos adeptos do desporto motorizado. Afinal de contas, o circuito de Silverstone é uma catedral do automobilismo e o seu traçado inclui a célebre curva apertada de ângulo recto denominada precisamente Stowe Corner. Como sucede com vários modelos da linha Silverstone, o Stowe GMT surge declinado numa edição limitada e caracteriza-se pelo seu espírito de corrida: a conjugação de cores entre o preto e o vermelho ou o verde oferece o contraste ideal para quem gosta de emoções fortes… até no pulso!

Para grandes curvas

EM FoCo

Page 93: Espiral do Tempo 34

Edição Limitada a 250 exemplares evocando a célebre curva denominada Stowe Corner, em Silverstone.

Referência: 2BLCB.B07A.K56N (Silverstone Stowe GMT Green) - 2BLCB.B10A.K60N (Silverstone Stowe GMT Red)

Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática calibre G1721.

Funções: Horas, minutos, segundos, data grande, segundo fuso horário e cronógrafo com função flyback.

Caixa Ø 48mm: Aço com tratamento PVD preto, vidro e fundo em safira com tratamento ainti-reflexos,

luneta em carbono e estanque até 100 metros.

Bracelete: Cauchu com fivela em cerâmica negra.

Preço: € 7.425

Ficha técnica Graham Silverstone Stowe GMT

Motor & chassisA base do Silverstone Stowe GMT é uma pujante caixa em aço com uma cober-tura negra em PVD que parece sobredimensionada com os seus 48 milímetros de diâmetro, mas cuja construção ergonómica lhe permite abraçar confortavel-mente até os pulsos mais pequenos; afigura-se estanque a 100 metros e tem por complemento um vidro de safira com tratamento anti-reflexo de ambos os lados. No seu interior, o calibre G1721 de corda automática, preparado nas oficinas da manufactura de mecanismos La Joux-Perret, bate a 28.800 alternâncias/hora com 42 horas de reserva de marcha e está decorado com Vagas de Genève, perlage e parafusos azulados.

Velocidade & adrenalinaUm exercício de estilo inspirado no universo motorizado: mostrador em fibra de carbono evocativa dos painéis de instrumentos com escala taquimétrica no perímetro para cálculos de velocidade, botões ovais do cronógrafo em forma de pedal com superfície picotada para especial aderência, coroa estilizada com for-mato de porca hexagonal, luneta em carbono forjado a ladear uma escala de 24 horas para o segundo fuso horário, bracelete em borracha vulcanizada ao estilo de pneus de elevado rendimento!

Mostrador com fibraAssociando a dureza mecânica a uma beleza especialmente técnica, a fibra de carbono é um material muito utilizado nos desportos automobilísticos e foi esco- lhido para adornar o mostrador e a parte exterior da luneta do Silverstone Stowe GMT. Para obter resistência e rigidez, entrelaçam-se as fibras de carbono e depois são laminadas com uma resina transparente – após a secagem, o material torna-se muito duro, leve e resistente às mudanças de temperatura.

As cores contrastantes e o grafismo desportivo acentua a legibilidade do Silverstone Stowe GMT (Red ou Green) com grandes algarismos árabes, volumosos ponteiros luminescentes, totalizador de 30 minutos bem delineado às três horas, pequenos segundos contínuos às nove horas, ponteiro suplementar ao centro para indicação de uma segunda zona horária (escala de 24 horas na luneta) e data grande apresentada numa janela dupla às seis horas.

O mundo automóvel no pulso é possível com esta edição limitada proposta pela Graham. Para mim, o design do Silverstone Stowe GMT Red e o do Silverstone Stowe GMT Green resulta de forma ainda mais genial se tivermos noção de como cada pormenor se relaciona directamente com detalhes motori-zados: mostrador inspirado no painel de ins-trumentos, botões em forma de pedal, coroa em formato de porca, bracelete personalizada com o perfil de pneus. Quanto às funções, saliento a função de retorno instantâneo, perfeita para uma melhor funcionalidade.

João LobatoVanvaco

Page 94: Espiral do Tempo 34

Anselmo dos Santos Torres foi um

herói. Não figurativamente. Foi um

verdadeiro herói, daqueles cuja vida

poderia preencher, e preencheu, a

imaginação de miúdos e graúdos.

Agraciado pela Rainha D. Amélia em

1893, pouco antes de fazer 20 anos,

teve direito, aquando do seu funeral,

em 1959, a uma salva de 21 tiros e

a ter a urna envolta pela bandeira

nacional. Foi herói nacional das cam-

panhas de África onde, sob as ordens

de Mouzinho de Albuquerque, com-

bateu e assistiu à rendição do Rei dos

Vátuas, Gungunhana, o Leão de Gaza.

Mas foi justamente a República, que

agora também se celebra, que impul-

sionou o nascimento do negócio de

ourivesaria de Anselmo dos Santos

Torres. é com o negócio da troca

de moeda da Monarquia por moeda

da República, feita por cambistas e

ourives, que se firma, em definitivo, a

vocação para este ramo do comércio.

na crise do regime, Anselmo Torres

descobriu a oportunidade para lançar

um negócio que, para já, se tornou

centenário. nuno Torres pertence

à quarta geração dos seus descen-

dentes e lidera a Anselmo 1910.

CentenárioPerguntas Paulo Costa Dias,foto Nuno Correia

EnTREVISTA

Page 95: Espiral do Tempo 34

Como é isso de representar um nome com tão provecta idade?Em primeiro lugar, é um orgulho enorme e é um enorme privilégio ser um dos descendentes de Anselmo dos Santos Torres. Depois, é uma responsabilidade, claro. A de manter a tradição e o bom-nome.

E vantagens, não há?Vantagens há, sem dúvida. Sendo a confiança fundamental em qualquer área de negócio, nesta é-o por maioria de razão. Ter um nome centenário no mercado faz com que sejamos olhados com confiança, o que é uma vantagem nada despicienda. Esta idade nos negócios atinge-se quando há valores e se continua a honrar e a transmitir esses valores, de geração em geração. Costumo dizer que um dos nossos maiores orgulhos não é apenas representarmos a quarta gera-ção da família à frente do negócio, mas também termos clientes de várias gerações. Isso é que é, sem dúvida, fantástico. Acontece dizerem-nos coisas como «a minha avó já era vossa cliente. Olhe esta peça num estojo Anselmo dos Santos Torres com mais de 80 anos que ela deixou à minha mãe, que por sua vez deixou-a a mim». Isto é extraordinário e enche-nos de orgulho. Cada um destes clientes tem episódios para contar, muitos deles desconhecidos para nós, mas que perduram, em muitos lares portugueses. É a nossa própria história que se cruza com a história de muitas famílias, muitas vezes em momentos excepcionais das suas vidas. Isto cria laços de confiança com os consumidores.

Em 100 anos, passaram por muitas crises. Aliás, nasceram com a queda da Monarquia. Isso ajuda a perspectivar o momento actual? Todas as crises são diferentes e as crises têm sido da conjuntura, não tanto nossas. Desde o famoso crash de 1929, até às duas guerras mundiais. Essas foram épocas difíceis.

nomeadamente a II Grande Guerra, que acabou por ser um período áureo para a Anselmo Torres…(risos) Pois, é verdade. A II Grande Guerra e a febre do volfrâmio provocou o enriquecimento ace- lerado de muita gente, e nós beneficiámos com isso. Por isso digo que as crises são diferentes

Page 96: Espiral do Tempo 34

e não deixam de ser momentos únicos de oportunidades. A experiência ajuda-nos a perspectivar as coisas e ajuda-nos, sobretudo, a andar para a frente. Esta crise, comparada com as que referi, não nos desmotiva. Se há coisa que o passado nos ensina é que temos de ultrapassar as adversidades e que somos capazes de o fazer.

Como é que vão celebrar o centenário? Além das várias actividades que decorrerão ao longo do ano, tive-mos um evento que foi o nosso grande momento de celebração. Durante dois dias, nas antigas cavalariças do Pestana Palace, estivemos com as nossas principais representadas, em espaços próprios, e imensos clientes e amigos. Tivemos dois workshops que correram muito bem e foram muito interessantes, um apre-sentado pelo Mestre Américo Henriques sobre alta-relojoaria e outro pelo Dr. Rui Galopim de Carvalho, ilustre gemólogo, sobre alta-joalharia, além de um Master Class da Jaeger LeCoultre com a presença do Mestre Christian Laurent. Numa parceria com o importador dos automóveis Porsche, as-sistimos também à apresentação do novo Cayenne, tendo havido test-drives e uma série de outras iniciativas.Ao longo do ano, haverá, ainda, colecções próprias de joalharia que apelidaremos de ‘colecções centenário’, bem como algumas iniciativas mais restritas. Este foi o grande evento e correu maravi- lhosamente bem, felizmente.

Ainda sente viva a ‘chama imensa’ pelo negócio?(risos) Cada vez mais, é engraçado. A dinâmica das marcas na última década tem sido muito viva, muito ágil, mesmo mantendo os valores intrínsecos da alta-relojoaria. Esta combinação de trabalhar marcas com produtos de altíssima qualidade e rigor que, ao mesmo tempo, apresentam novidades todos os anos, muitas delas deslumbrantes ou tecnicamente muito desenvolvidas, man-tém viva, e até estimula a ‘chama imensa’.

Mesmo se estivermos a falar de marcas com muita tradição, que são, sobretudo, aquelas que vocês tra-balham?Isso acontece justamente com essas marcas. Estamos a falar de marcas com mais de 100 anos que continuam a ter uma vivaci-dade imensa. Há marcas que serão sempre ‘as’ marcas, e é por aí que nos guiamos. Nunca fomos uma empresa que apostasse em marcas que vão e vêm. Houve sempre o cuidado de ter valores seguros, mais do que o luxo. Hoje temos de falar, cada vez mais, em quali-dade. O luxo tornou-se uma coisa um pouco… incómoda, mas a qualidade é cada vez mais perseguida.

A família continua agregada ao projecto?Sem dúvida nenhuma. Mantém-se um negócio familiar.

EnTREVISTA

Page 97: Espiral do Tempo 34

Curiosamente, do tronco Torres emana uma outra empresa com expressão no mercado. Dão-se bem, fazem panelinha, detestam-se? Como funciona?(Risos) Muito bem, muito bem. É uma relação muito importante para mim e para o resto da família, estou seguro, apesar de as empresas serem completamente autónomas. Mas é uma curiosi-dade, sem dúvida, no mesmo ramo, e a funcionarmos ao fim de 100 anos.

Como vê o mercado em Portugal, actualmente?(pausa) De um modo geral, todos temos a sensação de que há aqui um problema com a classe média. Há um problema com produtos de preço médio. Ou as empresas estão vocacionadas para o médio baixo e a mercadoria continua a rodar, ou então têm de se posicionar lá em cima. E quando falamos de estar lá em cima, falamos de marcas importantes e que têm preços considera dos médios altos. É o que funciona.

Há espaço para newcomers neste negócio? ou a tradição, o nome no mercado, o conhecimento profundo dos consu-midores acabam por ter um peso determinante? Há sempre espaço para newcomers, desde que venham a par com a qualidade. Cada vez mais temos de apostar na qualidade do produto e do serviço. O consumidor é inteligente e está mais bem informado; sabe reconhecer a qualidade seja quem for a apresentar-lha. Não é como há uns anos em que havia gente a aparecer, alguns com qualidade, outros com muito pouca, que tiveram um sucesso efémero. Foi uma altura em que quase tudo tinha sucesso, mas esse tempo acabou, definitivamente.Quem aparece de novo tem de apresentar algo de diferente. Não me sinto à vontade para dizer ‘não, isto está tudo tomado’. Hoje existem muitos conceitos novos, as lojas monomarca, que têm sucesso, e as próprias marcas estão a apostar muito em lojas próprias. E há ainda a Internet, onde grandes revoluções se esperam, embora mais relativamente à comunicação. Não acredito que neste ramo a Internet possa vencer sem espaços físi-cos, porque estamos a falar de um produto de grande qualidade e muito precioso.Mas penso que o mercado português sofre de um problema de falta de dimensão, o que complica um pouco mais as coisas para quem apareça de novo.

EnTREVISTA

Page 98: Espiral do Tempo 34

na crónica utopia Mecânica da edição anterior, escrevi sobre A Volta ao Mundo em 80 Dias e

sobre como Júlio Verne usou, em 1873, a convenção dos fusos horários para dar um desfecho

inesperado à obra. Mas Júlio Verne não terá sido o primeiro a introduzir este tema na ficção.

Se não, atentemos num pequeno conto de Edgar Allan Poe, publicado, pela primeira vez em

1840, num jornal da Filadélfia.

utopia mecânica

Três domingos na mesma semana

A história é banal: um jovem órfão vive com o tio-avô, Rumgudgeon, um sovina rabugento que tem uma filha encantadora. O herói, Bobby, e a prima, Kate, estão apaixonados um pelo outro. O problema é conseguirem o consentimento de Rumgudgeon. Perante o atrevimento de Bobby de pedir a mão de Kate, o velho dispara: « Hoje é domingo – podes casar com ela quando uma semana tiver três domin-gos». E bebeu de um só gole um cálice de Porto.

Acontece que há coincidências inesperadas. Bobby conhecia dois lobos-do-mar que tinham aca-bado de chegar a terra. Na companhia dos dois cavalheiros e da prima, Bobby entra em casa, onde Rumgudgeon os esperava. Estamos num domingo, três semanas depois da decisão que tinha atirado para as calendas as esperanças do casal. Depois de meia hora de conversa, Pratt e Smitherton – as-sim se chamavam os cavalheiros – levam o diálogo para o terreno das datas.

«Lembra-se, Sr. Rumgudgeon, foi há precisamente um ano, num domingo, que vim despedir-me de si», diz Pratt. «E não é que Smitherton também esteve ausente exactamente um ano?»

Smitherton corrobora e diz que também veio despedir-se de Rumgudgeon: «faz hoje exactamente um ano».

O velho não sabe a intenção dos amigos, mas começa a desconfiar de que ali há marosca. «Sim, lembro-me».

Como quem não quer a coisa, Kate atira, na sua voz inocente: «Sabe, papá, há nisto algo de estra-nho, pois Pratt e Smitherton não foram juntos. Pratt foi pela rota do Cabo Horn e Smitherton pela do Cabo da Boa Esperança».

O pai deixa-se cair na armadilha: «Sim, um foi para leste e o outro para oeste, e deram os dois uma volta ao mundo».

Bobby propôs que regressassem no dia seguinte, para contar as peripécias das viagens.Pratt responde que não pode, pois no dia seguinte é domingo. Kate diz que aquele dia é que era

domingo. Para completar, Smitherton afiança que domingo tinha sido no dia anterior.A confusão aumenta, até que Kate, dirigindo-se ao pai, diz que tudo é fácil de explicar. Domingo foi

ontem, é hoje e será amanhã, fazendo com que haja três domingos numa semana.Smitherton, perante o espanto de Rumgudgeon, dá a explicação científica: «A Terra gira à volta do

seu eixo, na direcção oeste-leste, 24 mil milhas, em precisamente 24 horas, ao ritmo de mil milhas por hora. Agora, suponha que eu navego, desta posição, mil milhas para este. Antecipo o nascer do Sol em relação a Londres em exactamente uma hora. Prosseguindo mais mil milhas na mesma direcção, antecipo-o em duas horas. E assim por diante, até ter dado a volta ao globo e regressado ao ponto de partida. Tendo andado 24 mil milhas para leste, antecipei-me ao nascer do Sol em Londres em 24 horas, logo estou um dia adiantado em relação a si.»

Rumgudgeon diz que sim, começando a perceber o destino da conversa.«Já o capitão Pratt» – prossegue – « quando viajou mil milhas para ocidente estava uma hora

atrasado em relação ao nascer do Sol, e quando viajou 24 mil milhas para ocidente estava 24 horas atrasado em relação ao tempo de Londres. Assim, para mim, ontem foi domingo; hoje é domingo para vocês; para Pratt, só amanhã será domingo».

O tio rende-se à evidência da convenção dos fusos horários. A ciência ajuda ao enlace do casal. E o texto de Allan Poe terá sido o primeiro a utilizar a nova realidade do tempo universal coordenado em ficção. Se Bobby e Kate foram felizes para sempre, isso já é assunto para lá da ciência.

CRÓnICA FERnAnDo CoRREIA DE oLIVEIRA

Page 99: Espiral do Tempo 34
Page 100: Espiral do Tempo 34

Ricardo Monteiro é CEO da agência de

publicidade Euro RSCG em Portugal,

Espanha, no Brasil e na América Latina.

é, portanto, um gestor internacional-

mente conceituado, um português

‘com mundo’ e um assumido cidadão

da pátria que é a língua portuguesa.

Circunstâncias que lhe permitem

‘ganhar altura’ e falar dos tempos

que correm, como poucas vezes

ouvimos da boca de um português:

com esperança.

Português transatlântico Perguntas Paulo Costa Dias,foto Nuno Correia

EnTREVISTA

Page 101: Espiral do Tempo 34

o que é que mudou na publicidade nos últimos 20 anos?

Não mudou nada na sua essência. A publicidade continua a ser

um exercício comercial que visa acrescentar valor às marcas

através de uma personalidade que lhes cria. Isso não mudou nem

nos últimos 20, nem nos últimos 50, nem nos últimos 100 anos.

Mudaram, porém, os veículos e as formas de que a publicidade se

serve para chegar aos consumidores. Já houve homens-cartaz,

passou a usar-se os jornais, houve a rádio, a televisão, e hoje

temos a Internet.

E em Portugal, o que mudou nos últimos 20 anos relativa-

mente à publicidade?

Houve uma enorme profissionalização da actividade. Também

se passou, se quiser, da idade romântica da publicidade – que

estava nas mãos de criativos, o publicitário louco de carro exótico,

e de pessoas que se viam como sendo da comunicação e não,

necessariamente, como homens de negócios – para as mãos de

profissionais cuja principal preocupação é servir os objectivos co-

merciais dos seus clientes. Hoje, a publicidade é uma profissão

vista como instrumental na consolidação dos objectivos comerciais

dos clientes.

E no País, o que mudou nos últimos 20 anos?

Mudou muita coisa e mudou muita coisa para melhor. É com muita

mágoa que vejo o País mergulhar numa espécie de tristeza colec-

tiva quando, na realidade, o País fez e faz muitas e boas coisas.

Portugal é um país irreconhecível, se compararmos com a nossa

realidade de há 20 anos. Eu nasci na Covilhã e tive a sorte de

estudar numa escola particular, mas recordo que muitos dos meus

coleguinhas da altura que iam para a escola pública faziam-no de

pés descalços! Isto foi há 40 anos.

O País abraçou a Internet; o País abraçou as telecomunicações

móveis; alterou-se a forma como as pessoas se relacionam com a

economia e com o consumo. E de uma forma positiva!

É verdade que o País vive acima das suas possibilidades, mas

é porque as pessoas já não olham para o consumo como um

pecado. Repare, eu sou do tempo em que qualquer gasto era

visto como um desperdício, um tempo em que o pior que se podia

dizer de uma senhora era que passava a vida nas compras. Há

uma alteração da relação das pessoas com os produtos e com o

usufruto da própria vida. O País não ia de férias, sequer. Quando

muito, os privilegiados iam à Figueira da Foz. Hoje, faz-se férias no

estrangeiro.

Lidera uma empresa que, no seu caso, está em dois merca-

dos completamente distintos em múltiplos aspectos, menos

na língua – Portugal e Brasil. Em qual deles se sente mais

confortável?

É uma pergunta interessante porque me sinto mais confortável

ora num, ora noutro, consoante as circunstâncias. Pelo espírito

de conquista, pela alegria, pela vontade de crescer, de realizar,

sobretudo pela esperança que as suas gentes denotam, sinto-me

melhor no Brasil. Pela temperança, pela entrega, pela honestidade,

pela reserva, prefiro Portugal. Na realidade, tenho pena de que não

sejamos mais como o Brasil em muitas matérias, sobretudo na

alegria e na esperança que têm no futuro, e que o Brasil não seja

mais como Portugal na procura de equilíbrios sociais, valores de

honestidade e de afinco ao trabalho.

O que há em si de reconhecidamente português?

(risos) Além de ser baixo, careca e moreno…

A que se referem os seus colegas brasileiros quando dizem,

‘oh, cara, isso é mesmo de português’?

(risos) A prudência, o português é prudente. No Brasil, o estereó-

tipo do italiano é que está sempre tudo bem. Ele tem um carro

espampanante, uma casa enorme, roupas fantásticas, mas,

basicamente, está falido. O português queixa-se de tudo, tem uma

casinha humilde, vive com a sua mulher, os seus filhos… e tem

uma fortuna no banco.

Eu acho que o que me caracteriza como português na gestão dos

negócios, não tanto na vida privada, é ser uma pessoa muito pru-

dente e que se prepara sempre para o pior, embora fazendo tudo

para que as coisas corram bem.

E a língua portuguesa, é o tempo dela?

Ai, a língua portuguesa... É o tempo dela, sim. As pessoas

esquecem-se com demasiada facilidade de que o português é a

terceira língua mais falada do hemisfério ocidental, depois do inglês

e do espanhol. Fala-se muito mais português que francês, italiano

ou alemão. E não se esqueça de que há quatro BRIC, e um deles

fala português.

O português é uma língua maravilhosa, uma língua de poetas, mas

é também uma língua de negócios numa das economias emer-

gentes do mundo. O português é a língua que unifica Angola, ou

Moçambique, uma língua que até no Oriente deixou resquícios.

Estamos hoje, mais do que nunca, no tempo da língua portuguesa.

É claro que isto reflecte a importância do Brasil na sua vizinhança,

mas a verdade é que o português tornou-se na língua franca dos

negócios na América do Sul. Qualquer chileno ou argentino, se

quiser aprender uma segunda língua, vai aprender o português.

É a hora da língua portuguesa, sim.

Entrevista completa em www.espiraldotempo.com

Page 102: Espiral do Tempo 34

Leica M9A Leica apresenta a nova Leica M9, a primeira câmara telemétrica do mundo com um sensor de imagem de formato completo 24 x 36 mm. Fiel à herança lendária do sistema de câmaras Leica Rangefinder Digital, combina 50 anos de melhorias técnicas contínuas no sistema M9, com a tecnologia digital mais sofisticada. As objectivas intermutáveis Leica M asseguram a distância focal, já a tampa de vidro no sensor evita a necessidade de montar filtros UV / IR. 18 Mpx de resolução, obturador silencioso e Adobe Photoshop Lightroom como aplicação de origem para processa-mento são mais algumas das novidades desta ‘varinha de condão da fotografia’.www.leica.comwww.adobe.com

GADGETS

Page 103: Espiral do Tempo 34

Lavazza Modo MioO melhor café italiano em casa é o resultado da parceria entre a Lavazza e a Saeco. Para além de um design único de formas inspiradas nos anos 70, as máquinas de café Modo Mio integram um inovador processo de infusão que recria a alta pressão típica das máquinas profissionais, garantindo sempre um espresso cremoso e encorpado. Estão disponíveis dois modelos: Saeco Extra (manual), num estilo prático para o ritual do café; e Saeco Premium (automática), num estilo hi-tech para um café inesquecível. Ambos estão equipados com um tubo de vapor que permite confec-cionar cafés gourmet, como capuccino ou latte machiato.www.lavazzamodomio.pt

Page 104: Espiral do Tempo 34

TAG Heuer Meridiist 150 anosPara celebrar o seu 150º aniversário, a TAG Heuer lançou um coffret de luxo, assinado Pinel & Pinel, com duas peças vanguardistas: o Grand Carrera Calibre 17 RS2 e o telemóvel MERIDIIST, ambos recriados em preto, mas personalizados com detalhes em laranja vibrante. Com um design inspirado no mundo relojoeiro da TAG Heuer, o MERIDIIST apresenta um ecrã duplo em cristal de safira, com um prolongamento OLED superior que permite uma leitura discreta das horas. O Grand Carrera Calibre 17 RS 2 destaca-se pelos sistemas rotativos no mostrador e pela caixa ultra-leve em titânio. No elegante estojo foi concebido um espaço que permite que as peças carreguem em simultâneo. A combinação de cores é exclusiva para esta dupla que está disponível apenas em 150 exemplares em todo o mundo. Preço: € 16.500www.torresdistrib.com

GADGETS

Page 105: Espiral do Tempo 34

BeoLab 4000Como todas as colunas activas da colecção Bang & Olufsen, a BeoLab 4000 garante a melhor qualidade de som independentemente da sua loca- lização. Um design de topo pensado para assegurar uma ideal transferência de calor ao qual se uniu uma construção em peça única de alumínio. Esta-mos perante uma peça leve e robusta, sem problemas de dissonância que possam advir por cantos e junções. A BeoLab 4000 está disponível com acabamento de caixa de atraentes cores e pode ser complementada com um suporte de coluna de chão em alumínio.www.bang-olufsen.com

Page 106: Espiral do Tempo 34

Samsung Full HD 3D LED TVAgora não é necessário sair do sofá para assistir a toda a magia de um filme 3D, basta desco-brir a nova gama de televisores Full HD 3D LED da Samsung, alguns já disponíveis em Portugal. Para aguçar o apetite: com um design sofisticado e garantia de poupança energética, todos os modelos integram a ligação Ethernet, compatibilidade com ligação sem fios e Internet@TV que, segundo a marca, oferece acesso à primeira aplicação store para HDTV’s no mundo; os produtos 3D da Samsung integram o processador 3D proprietário da marca compatibilizado com múlti- plos standards incluindo formatos de resolução half e full HD, bem como o standard Blu-ray 3D aprovado pela Blue-ray Disc Association; uma tecnologia de auto-conversão permite transformar conteúdos 2D em 3D em tempo real. O lançamento global contou com a presença de James Cameron, nome sonante na realização de conteúdos 3D. www.samsung.com/pt

Page 107: Espiral do Tempo 34

Apple iPadA Apple lançou o iPad e agitou as águas das novas tecnologias. O tablet táctil de 0,68 kg de peso, baseado no sistema operativo do bem-sucedido i Phone, suscita dúvidas a uns e é considerado revo-lucionário por outros, mas há características dignas de registo que ninguém lhe pode tirar. O écran IPS de alta resolução com retroiluminação LED Multi-Touch de grandes dimensões é a característica chave que permite uma utilização cómoda e funcional das várias aplicações em qualquer lugar. Com o iPAD nas mãos é possível consultar páginas da Internet tanto na vertical como na horizontal, aceder ao email de forma rápida e intuitiva, descobrir novos modos de organizar as fotografias e de explorar o mundo do vídeo e da música. Estão disponíveis na App Store mais de 150.00 aplicações quase todas compatíveis com o novo dispositivo da Apple. www.apple.com/pt/ipad

GADGETS

Page 108: Espiral do Tempo 34

CRÓnICA RuI CARDoSo MARTInS

é muito difícil iluminar os lados todos de Albert Camus.

Fico-me pelo problema do sol n’ O Estrangeiro. uma frase

curiosa porque foi longe do local onde escrevo, esta manhã,

com as persianas descidas para não queimar os olhos, foi

no estrangeiro que encontrei a luz de Lisboa como ela é nos

meus sonhos: Argel.

o sol de Camus

Page 109: Espiral do Tempo 34

A capital argelina tem a mesma luz branca que

cai do azul do céu, se reflecte na baía, atravessa

as ruas da Casbah alegremente, como o faz em

Alfama e no Castelo, mas fica implacável ao aque-

cer, pela hora de almoço.

Um dos enigmas da literatura e de Camus, morto

num desastre há 50 anos, é a explicação do nar-

rador Mersault para o homicídio de um árabe na

praia:

Por causa do sol.

É a melhor resposta que o jovem dá à polícia e ao

tribunal. Absurda, mas coerente, como iremos ver,

porque é pelo poder do sol que Mersault dá pistas

para um crime evitável, sem grandes estados de

alma, mas que cometeu nos dias seguintes ao

desgosto (e ao alívio...) com que abre o livro: «Hoje,

a mamã morreu.»

Comprei na Librairie du 3ème Monde, na praça

Emir Abdelkader, diante da estátua equestre do

herói e sultão, um estudo sobre O Estrangeiro,

de Bernard Pingaud, no qual se defende que o

romance pertence inteiramente à Argélia, apesar de

escrito em Paris. E ainda hoje, naquela loja onde

Camus comprava livros e aprendia com eles a

pensar, e também na rua onde o escritor viveu com

a mãe (hoje há um cartaz de pizas nas persianas

do prédio), senti que O Estrangeiro pertence ao

mundo todo, mas continua a ser de Argel. É obra

do sol mediterrânico, mesmo depois de o mundo

ter mudado, de uma terrível guerra de independên-

cia contra a França, de anos de socialismo falhado,

seguidos da brutal guerra civil contra os integris-

tas islâmicos. Épocas em que passou de bastião

contra o colonialismo europeu, de pátria de exílios

(a rádio onde falava Manuel Alegre contra o sala-

zarismo, a presença habitual de Mário Soares), a

um estranho mundo controlado por barragens da

polícia, violento, escuro à noite, muitas mulheres

de véu, rapazes a esfregar as costas nos muros,

pouca comida para os habitantes e o medo dos

atentados à bomba. Muitos ainda se lembram

da reacção dos fundamentalistas ao boicote do

Governo às eleições, quando se percebeu que os

partidos islâmicos iam ganhar: viram-se pessoas

penduradas nos candeeiros de rua, degoladas,

com a cabeça a olhar o seu próprio corpo.

Camus é um escritor complexo, de posições políti-

cas e poéticas fortes, um defensor da liberdade

contra a injustiça, lembro algumas frases: «Um

romance não é mais do que uma filosofia posta em

imagens»; «Revolto-me, logo somos»; «A lucidez

trágica não proíbe a exigência de humanidade»;

«Cresci no mar e a pobreza era-me faustosa,

depois perdi o mar e todos os luxos me pareceram

cinzentos, a miséria intolerável».

Mas n’ O Estrangeiro falas mais simples, despo-

jadas, e, por assim dizer, frias como o seu nar-

rador (que gostava de nadar, como Camus), têm a

mesma força, iluminadas pelo astro: «Era o mesmo

sol do dia em que a minha mãe fora a enterrar e,

como então, doía-me a testa.»; «Sabia que era

estúpido, que não me iria desembaraçar do sol

simplesmente por dar um passo em frente»; «...o

árabe tirou a navalha da algibeira e mostrou-ma ao

sol. A luz reflectiu-se no aço e era como uma longa

lâmina faiscante que me atingia a testa.» Depois,

Mersault sacode «o sal e o sol da testa» e dá um

tiro no árabe e depois mais três. «Compreendi que

destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excepcional

de uma praia onde havia sido feliz.» E por isso será

guilhotinado, por isso e por «ter assistido ao enterro

da mãe com um coração de criminoso».

O sol de Lisboa entra-me pelas persianas, ainda

calmo, generoso nos primeiros dias da enorme

crise que assalta Portugal. Quando for à praia, não

faço mal a ninguém.

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Page 111: Espiral do Tempo 34

TAG Heuer Grand Carrera Calibre 17 RS ChronographCronógrafo mecânico de corda automática Calibre 17 com certificado C.O.S.C.Caixa Ø 43 mm em titânio preto com luneta em ouro rosa 18k, estanque até 100 metros.Preço: € 8.500

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I’ve got a feelingRealização: Ricardo Preto assistido por Mariana Arnaut Fotografia: Nuno Correia assistido por Carla CardosoPós-produção: Pedro FilipeCabelos: Nuno GomesMaquilhagem: Nana Benjamin assistida por Carina Quintiliano e Anne Sophie CostaModelo: Bruno Rosendo @ L’Agence

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Audemars Piguet Millenary ChronographCronógrafo mecânico de corda automática calibre AP 2385.Caixa Ø 47x42mm em ouro rosa 18k, vidro e fundo em safira estanque até 20 metros.Preço: € 27.630

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Jaeger-LeCoultre Master Compressor Diving Chronograph GMT navy SealsCronógrafo mecânico de corda automática JLC 757.Caixa Ø 46,3 mm em ouro rosa 18 ct, luneta especial de mergulho, estanque até 300 metros.Preço: € 19.500

Calções, Pepe JeansCamisa, Hackett LondonMalha, Tommy HilfigerBlazer e gravata, GantTénis, nikeColares, pulseiras e pelo, da produção

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GrahamChronofighter RAC Trigger Black in BlackEdição limitada a 100 exemplaresCronógrafo mecânico rattrapante de corda automática Calibre G1742.Caixa Ø 46 mm em aço PVD negro, vidro frente e verso, em safira e estanque até 50 metros.Preço: € 9.990

Camisas e colete, H. E. MangoLaço, Hackett LondonCinto, LeeCalções, GantChapéu e pelo, da produção

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Porsche Design P’6920 RattrapanteCronógrafo mecânico rattrapante de corda automática calibre Valjoux 7750 AR2.Caixa Ø 45 mm, luneta e fundo em ouro rosa 18 ct., titânio com tratamento PVD preto, coroa de rosca em ouro rosa 18 ct, estanque até 50 metros.Preço: € 24.940

Blazer e Camisa, Ermenegildo ZegnaColete, InsightGravatas, SacoorCintos, Pepe Jeans by Andy Warhol e Massimo DuttiCalças e chapéu, Hackett LondonBotas, MangoSaco, penas e estola, da produção

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Audemars Piguet Royal oak offshore ChronographCronógrafo mecânico de corda automática calibre AP 2326/2840.Caixa Ø 44 mm em ouro rosa 18k, vidro em safira e estanque até 100 metros.Preço: € 16.350

Blazer e calças, Henry Cotton’sCamisa, Hackett LondonLaço, GantPano Massai, mala e puseira da produção

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Franck MullerCintrée Curvex ChronographMecânico de corda automáticaCaixa em ouro rosa 18k, vidro safira, estanque até 30 metros.Preço: € 27.000

Fato, Miguel VieiraCamisa, SacoorGravata, GantCintos, Mango e Gerard DarelTénis, nikeLenço, Hackett LondonPulseira, H. E. Mango

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Raymond Weil nabucco RivoluzioneCronógrafo mecânico de corda automática.Caixa Ø 46 mm em titânio com tratamento em PVD e fibra de carbono, vidro e fundo em safira, estanque até 200 metros.Preço: € 4.250

Blazer, GantCamisa, DieselChapéu, Pepe JeansGravata e lenço, Hackett LondonÓculos, Chilly BeansColar e pano Massai, da produção

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A cerimónia dos Óscares e o célebre Festival de Cannes são reconhecidos como grandes eventos do cinema. Já os desfiles que antecedem os espectáculos revelam-se como ver-dadeiros momentos de glamour. É na passadeira vermelha que as estrelas revelam as suas preferências num verdadeiro desfile que, por si só, se torna num acontecimento de moda digno de registo.

Num cenário como este, prestigiadas marcas de relojoaria e de joalharia fazem questão de estar presentes todos os anos. Como o provam a Jaeger-LeCoultre e a Chopard, cada cerimónia é uma oportunidade única para apresentar as suas criações junto de personali-dades internacionalmente reconhecidas.

Este ano, a Grande Maison da relojoaria suíça anunciou a continuação da sua parceria com o Festival Internacional de Cinema de Veneza, na qualidade de patrocinadora oficial. Entretanto, a sua ligação ao mundo do cinema fez-se sentir de forma bem evidente na 63.ª edição do Festival de Cinema de Cannes. Diversos actores e actrizes usaram peças Jaeger-LeCoultre no pulso. Além disso, a manufactura patrocinou uma exposição de fotografias de grandes estrelas, da autoria de Lorenzo Agius.

Também a Chopard teve destaque em Cannes ao ver as suas peças serem usadas por diversos artistas. Em Março, a casa suíça tinha brilhado na 18.ª edição da Festa dos Óscares da Academia, um badalado evento que tem como principal objectivo a angariação de fundos em benefício da Fundação Elton John para a SIDA.

As passadeiras dos grandes eventos de cinema têm mais brilho com a presença de grandes marcas de relojoaria e joalharia.

Red carpet

EVEnTo

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Animal World by ChopardCaroline aux pays des merveilles*

* Caroline Gruosi-Scheufele é vice-presidente da Chopard e mentora do projecto Animal World

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Frog RingAnel em forma de sapo em ouro cravejado com esmeraldas (3cts), diamantes pretos e brancos, que segura uma coroa que ostenta um diamante amarelo de corte brilhante (3cts) inteiramente rodeado por diamantes amarelos.

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Clownfish Plastron NecklaceColar com peixes palhaço em ouro branco cravejado com pedras lua (105cts), águas-marinhas (38cts), safiras azuis (21cts), safiras em azul pastel, topázios azuis (18cts), quartzo (15cts), turmalina Paraíba (14cts), diamantes (2cts), ametistas (8cts), apatitas (8cts), calcedónias (3cts) e tsavoritas (1ct).

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Storks EaringsBrincos em forma de cegonhas em ouro branco e ouro vermelho cravejado com duas kunzitas de corte briollett totalizando 51 ct, bem como diamantes (3cts), diamantes pretos (2cts) e diamantes amarelos.

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Sardine BraceletPulseira decorada com sardinhas em ouro branco com diamantes (4cts) e safiras (11cts).

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Turtle RingAnel em forma de tartaruga em ouro rosa, composta por um magnífico diamante amarelo em corte de pêra (11cts) rodeado por diamantes castanhos (3cts), diamantes em tons de cognac e diamantes amarelos (2cts).

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Monkey PendantGargantilha pendente em ouro branco cravejado com diamantes castanhos (5cts) e tsavoritas (5cts), num colar em ouro branco cravejado com rubelitas em corte briollett (16cts).

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Fazer vinho é uma coisa deliciosa

o vinho corre-lhe nas veias desde que nasceu – salvo seja. Participa em vindimas

desde que se lembra; o pai é fundador da Roquevale; a mãe foi Presidente da

CVRA durante 12 anos. Era difícil fugir ao destino, convenhamos. Joana Roque

do Vale ainda esboçou alguma resistência em seguir as pegadas familiares até

compreender o que queria realmente fazer: vinho. Como enóloga. não por causa

dos pais, mas apesar deles.

Perguntas Paulo Costa Dias

EnTREVISTA

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Qual era o objectivo inicial do projecto Roquevale? O objectivo inicial, que se mantém, é produzir vinhos de qualidade a um preço não especulativo. Começámos com marcas de gama média – Terras de Xisto, por exemplo – e, mais tarde, evoluímos para outro tipo de vinhos, que se inserem na gama média-alta e alta, como, por exemplo, o Roquevale e o Tinto da Talha Grande Escolha.

No que respeita à quantidade, começámos por produzir trezen-tos mil litros. Actualmente, comercializamos três milhões de garra fas e exportamos 15% da produção. Neste momento, já não apostamos na quantidade, mas na qualidade. Os últimos grandes investimentos da empresa, em 2003, visaram as áreas do engarra-famento e estágio de vinhos. Porquê insistir na valorização do carácter do vinho alen- tejano?É uma estratégia como outra qualquer. Acho que Portugal tem muita coisa que pode ser valorizada e, se queremos ser competi-tivos nos mercados externos, porque não apostar na diferença? Todos os países produtores têm as castas francesas. Nós temos de valorizar o nosso terroir e apostar num produto que é nosso, do Alentejo, que nos diferencia. Não somos piores que os outros; somos, com certeza, diferentes. E é esta diferença que temos de conseguir divulgar lá fora. Foi difícil conquistar o mercado assim, através da diferença?Não tem sido fácil. Tanto mais que, em certos mercados, Portu-gal, às vezes, não é sequer conhecido. Hoje, nota-se que, depois de alguns anos de trabalho, se começa a passar a imagem de Portugal como um país produtor de vinhos e também de vinhos de qualidade. E o Alentejo? A produção de vinhos no Alentejo é uma reali-dade completamente diferente, desde o início da Roquevale.Sim, o Alentejo provavelmente quadruplicou a produção de vinho desde essa altura. Relativamente ao número de produtores, então, a diferença é abissal. Além das adegas cooperativas, have-ria cerca de oito produtores. Hoje há mais de 200! Claro que com dimensões muito diferentes: uns grandes, outros pequenos; mas, de qualquer forma, a oferta é enorme.

O Alentejo é uma região que se tem afirmado muito bem no que respeita ao produto e ao marketing. Devido ao terroir, os nossos vinhos são, de modo geral, mais fáceis de beber, mais macios, com um excelente padrão de qualidade e preço. Só assim se justifica que, actualmente, mais de 45 % dos vinhos engarrafados consumidos em Portugal sejam do Alentejo. A Joana está rendida ao Alentejo…Eu sinto-me alentejana, apesar de ter nascido em Torres Vedras. Mas este país é pequeno, e hoje já se circula com facilidade. Estou há pouco tempo a viver no Douro e desloco-me ao Alentejo sema-nalmente, quer por causa do meu trabalho, quer pela família, e vir

do Douro para aqui é um pulinho. É um tempo para pensar, para organizar as ideias.

Agora tenho outro projecto, aqui no Alentejo. Em 2003, o meu pai, eu e um amigo constituímos uma empresa em Pias, o Monte da Capela. Apesar de termos entrado no mercado no início da crise económica, não nos podemos queixar. As coisas estão a cor-rer bem, sobretudo nos mercados externos. Mas o princípio é o mesmo, ou é um vinho mais para nichos?Não. A filosofia é a mesma, a da boa relação entre qualidade e preço, embora tenhamos diversificado mais. Ali faço vinhos para mercados específicos e até faço sangria, o que foi bastante criti-cado. Não sei se haverá muitos mais enólogos a fazerem sangria… (risos) Sangria feita por uma enóloga? Isso tem que se lhe diga…Uma enóloga não faz sangria, supostamente, mas eu faço sangria e é um sucesso! (risos)

Todos os enólogos, e eu não sou excepção, têm a aspiração de fazer qualquer coisa de fantástico. Esse dia, espero, há-de vir. Já fiz vários vinhos de que me orgulho, mas ainda espero fazer melhor. Tendo crescido neste ambiente, podia gostar de vinho, apreciar a sua cultura, mas não se dedicar a fazê-lo. Isto aconteceu naturalmente, foi uma epifania? Como foi?Quando fui para a universidade, escolhi a área das indústrias alimentares. Rapidamente percebi que o que me cativava era a enologia.

Além disto, gosto sinceramente do projecto Roquevale porque é muito desafiante. Temos muitas marcas de vinho, vinhos para diferentes consumidores, para diferentes momentos. Fazer vinho é uma coisa deliciosa, porque não se consegue fazer duas vezes o mesmo vinho. No vinho não há receitas e os ingredientes não são sempre iguais, são apenas parecidos. É um desafio permanente. Isso da enologia é coisa de homens?Não. Nunca senti discriminação por ser mulher, nem o seu con-trário.

Entrevista completa em www.espiraldotempo.com

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Vida SelvagemPor ocasião do seu 150º aniversário a Chopard anunciou o início de uma parceria de três anos com a WWF, conceituada organização de conservação da natureza, num projecto de protecção dos tigres selvagens. Mas este ano, a Natureza foi também a musa inspiradora da casa suíça e o resultado é fascinante: uma colecção de 150 peças exclusivas de alta-joalharia inspiradas precisamente no mundo animal. Da mesma temática nasceu ainda um um conjunto de lenços de seda que convida a uma viagem exótica inesquecível. São três lenços com três ambientes diferentes - a selva, a savana e o mundo das aves – onde animais, plantas e cores convivem harmoniosamente.Preço: € 214

Sofisticação italianaEm todas as criações da Versace, a originalidade e a sofisticação são imagem de marca, de tal forma que a casa italiana conquistou o pleno direito de surpreender e ousar sempre e cada vez mais. Reflexo disto mesmo é a colecção de alta-joalharia. A marca complementou a sua linha Elegance com novas e requintadas peças. Anéis, colares e pulseiras surpreendem por serem donos de um original efeito de cores derivado do encontro entre os tons quentes de pedras semi-preciosas, como o quartzo, a ametista ou a opala, e a elegância do ouro rosa, amarelo ou branco. Todo o espírito Versace em peças irresistíveis.Anel em ouro branco de 18 k com quartzo azul: € 4.490Anel em ouro amarelo 18K com citrino: € 3.950

GLAMouR

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Força e elegânciaA linha de joalharia Audemars Piguet Royal Oak inclui pendentes, anéis e braceletes, com a assinatura da colecção. O anel e o pendente inspiram-se na indis-sociável forma octogonal, requintada com parafu-sos hexagonais; as pulseiras revelam-se como um prolongamento do exclusivo motivo Méga Tapisserie do mostrador dos cronógrafos Royal Oak Offshore. Na relação entre o cauchu e o aço sobressai o estilo moderno e desportivo da pulseira. O pendente e o anel apresentam-se em diversas versões: ou com um perfil completo e parafusos em aço polido ou com oito diamantes que destacam a forma circular.Pendentes em ouro rosa com diamantes desde: € 3.610

Licença para brilharA Audemars Piguet complementou a colecção de joalharia Royal Oak Offshore com novos anéis que prometem. Seguindo o espírito dos modelos anteriores, o grande segredo reside na união de um carácter desportivo e um toque de elegância. Por um lado, a majestosa forma octogonal, os característicos parafusos e o motivo Mega Tapisserie evocam toda a força da linha relojoeira em que se inspiram; por outro lado, os delicados diamantes expressam toda a beleza e elegância femininas. O resultado é fascinante: peças versáteis, perfeitas para tornar cada ocasião um momento único.Anel Royal Oak Offshore em ouro rosa com diamantes: € 7.770Anel Royal Oak Offshore em ouro branco com diamantes: € 5.850Anel Royal Oak Offshore em ouro branco com diamantes: € 3.760

GLAMouR

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Deslumbrar a pulsoA Louis Vuitton apresentou uma colecção de pulseiras concebidas em materiais no mínimo curiosos. Desta vez, a incontornável marca de luxo pegou em canos de metal para criar peças de grande volume, que fazem lembrar microfones, personalizadas com tachas Louis Vuitton. O design futurista das pulseiras, para o qual contribuem os tons metálicos, contrasta com a gravação da assinatura em estilo clássico da marca. O fecho tem um sistema magnético de utilização. Disponível em versões rosa e laranja.Pulseira em metal: € 900

Chuva de VerãoUm relógio aparentemente simples, mas que reúne um meticuloso trabalho de decoração. A linha Perpetuelle integra as novidades de relojoaria feminina da Versace, com diferentes modelos de forte per-sonalidade. No modelo apresentado, a caixa redonda em plaqué rosa cravejada com 233 brilhantes alberga um precioso mostrador de dois rostos no qual um disco em madrepérola abrilhantado por uma chuva de brilhantes surge rodeado por uma zona decorada com um efeito raio de sol. Disponível com bracelete em pele de aligator.Versace Perpetuelle: € 4.990

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Tempo é MulherIrreverente e atrevida: a colecção Infinity da Franck Muller foi pensada para o pulso das mulheres contemporâneas, que apreciam a agitação da noite. Lançada na versão Curvex ou Ellipse, apresenta o mostrador como verdadeiro protagonista, devido aos números árabes sobredimensionados, cuidadosa-mente pintados à mão. A originalidade e o luxo são características essenciais da linha, já que todos os modelos surgem com caixa e mostrador cravejados de requintados diamantes. Infinity não é apenas uma colecção de relojoaria. É também uma colecção de alta-joalharia.Franck Muller Infinity: € 40.350

GLAMouR

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Sem regressoDe mala aos ombros, atrás das costas ou na mão, partir sem regresso marcado parece uma proposta descabida. Mas as temperaturas quentes fazem-nos pensar assim. A questão é ganhar coragem e descobrir o mundo sempre com os olhos de uma primeira vez. A colecção Primavera/Verão 2010 de Marc Jacobs para a Louis Vuitton foi pensada para a vida em viagem que pede peças práticas, mas que não dispensam um toque de luxo. Na linha de acessórios um neo-saco de marinheiro disponível em dois tamanhos em pele fluorescente e muitas asas para ser transportado de formas diferentes revela-se o companheiro ideal para a tal viagem...Saco em pele e tela: € 2.450

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Fotografia e Realização: Nuno Correia assistido por Carla CardosoFlores em açúcar: Alexandra Soares de AlbergariaPós-produção: Miguel Curto

Sugar Flowers

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Franck Muller Color Dreams Long IslandMovimento mecânico de corda automática.Caixa em aço, vidro em safira e estanque até 30 metros.Bracelete em pele de crocodilo com fivela em aço.Preço: € 11.100

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ChopardAnel em ouro branco com diamantes móveisPreço: € 3.580

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ChopardBrincos em ouro branco com diamantes móveisPreço: € 7.510

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TAG Heuer Formula 1 CeramicMovimento de quartzo Caixa Ø 37mm em aço, luneta com cerâmica branca e 60 diamantes Wesselton (Ø 1,10mm e 0.35ct), vidro em safira, estanque até 200 metros.Bracelete em aço com cerâmica branca e novo fecho de báscula butterfly.Preço: € 1.490

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Audemars Piguet Lady Millenary Ciel étoiléRelógio mecânico de corda automática.Caixa em ouro rosa 18k, luneta decorada com 112 brilhantes de 1,05 ct., vidro em safira e estanque até 20 metros.Bracelete em cetim com fecho de báscula em ouro rosa 18k.Preço: € 31.660

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VersaceEleganceAnel em ouro branco 18k com quartzo azul.Preço: € 4.490

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Jaeger-LeCoultre Reverso Squadra Lady DuettoRelógio mecânico de corda automática JLC 968.Caixa Ø 28,8x42x10,75mm: Aço, 73 diamantes 12ct, vidro em safira, estanque até 50 metros.Bracelete em aço articulado com fecho de báscula em aço.Preço: € 8.550

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Que os 150 anos da TAG Heuer seriam celebrados de forma surpreendente já todos sabíamos. Mas, ainda assim, a marca suíça consegue ultrapassar todas as expectativas com a sucessiva apresentação de novidades. Peças arrebatadoras, como o revolucionário Pendulum Concept, ou peças de espírito vintage, como o virtuoso Silverstone, eventos grandiosos, como a cerimónia dos 150 anos que aconte-ceu em Basileia, ou parcerias inesperadas, como a associação à Tesla Motors, ilustram a dinâmica de uma marca que cresce indiscutivelmente a cada ano que passa.

A vontade de defender a sua posição enquanto referência da relojoaria suíça faz com que a TAG Heuer continue a traçar um percurso invejável, sempre com uma energia contagiante. Com a associ-ação a Leonardo DiCaprio, a faceta ecologicamente responsável surgiu como prioridade no seu campo de acção. Seguiu-se a já referida parceria com a Tesla Motors, prestigiada fabricante de automóveis eléctricos, que deu origem a um exclusivo TAG Heuer Tesla Roadster.

Genebra, Mónaco, Milão, Budapeste, Varsóvia, Moscovo,

nova Deli, Pequim, xangai, Tóquio, Los Angeles, Miami,

nova Iorque, Londres, Paris. uma viagem ecológica de

37.000 quilómetros assinalando os 150 anos da TAG Heuer.

odisseia Ecológica

Jean-Christophe Babin com a equipa da TESLA Motors na apresentação do roadster durante o Salão Automóvel de Genebra.

Cidades visitadas

Cidades por visitar

InICIATIVA

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Em Baselworld e com LeonardoDi Caprio foi apresentada ainiciativa Odisseia dos Pioneiros.

Em Varsóvia, milhares de visitantes puderam observar 150 anos de história relojoeira.

Em plena Praça Vermelha foicumprida mais uma etapa daOdisseia dos Pioneiros.

O Príncipe Alberto do Mónaco foivisitado também pelo roadsterTAG/TESLA.

Em Milão, o convidado de honra foi Ivan Origone campeão mundial de ski.

Em Budapeste com a lindíssima Zsuzsanna Budai, miss Universo/Hungria 2009.

Na Índia, Jean-Christophe Babin e Karun Chandok numa visita ao Forte Ambert.

O veículo sem emissão de gases poluentes «incorpora o espírito de inovação das duas compan-hias», segundo a marca suíça, e anda, neste preciso momento, a percorrer o mundo na exposição Odisseia dos Pioneiros, que teve início precisamente na Basel 2010, em Genebra.

O novo membro da parceria TAG Heuer / Tesla Motors estará presente em 15 cidades, onde se poderão apreciar as suas linhas vanguardistas e potencialidades técnicas. Em cada paragem, será inaugurada uma exposição de 16 peças relojoeiras que fizeram os 150 anos de história que a marca tem para contar: do Time of Trip (1911) ao Pendulum Concept, passando pelo Mareograph, pelo Auta-via, pelo Carrera, pelo Monaco, pelo Microtimer, entre outros.

Estão previstos 37.000 quilómetros de viagem pela mão de pilotos profissionais da Tesla. A TAG Heuer compara o Tesla Roadster a um atleta que leva na mão a chama olímpica. Mais um desafio à altura da marca.

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«Acredito que milhares, se não mesmo milhões, de vidas podem ser salvas todos os anos através de programas educacionais de mass média direccionados para a saúde pública». Bruktawit TIGABu (28) Etiópia

«Eu considero que é vital que nós desenvolvamos entre os jovens profissionais a cultura do voluntariado de serviço público que o nosso país tanto precisa». Piyush TEWARI (29) Índia

Bruktawit Tigabu quer reduzir as taxas de mortalidade infantil na Etiópia, através de um programa de televisão centrado em questões de saúde. Já foram criados 26 episódios, estimando-se que cada um terá sido assistido por cerca de 2.6 milhões de crianças. Produzir novos episódios faz parte dos planos futuros. Além disso, en-contra-se em desenvolvimento uma versão para rádio para uma potencial audiência de 40 milhões de crianças. A realização de um estudo sobre a mudança de hábitos permitirá avaliar eventuais descidas na taxa de mortalidade infantil.

Lutar contra o elevado número de vítimas mortais de acidentes rodoviários que ocor-rem nas estradas de Déli é o objectivo de Piyush Tewari. Para isso, a sua fundação iniciou um projecto de formação em primeiros-socorros destinado a polícias e cidadãos. O jovem pretende garantir as-sistência médica local a 90% das vítimas. No próximo ano, está prevista a inaugu-ração de um call centre que localizará os assistentes mais próximos dos locais dos acidentes para providenciarem assistência imediata.

Foram cinco os laureados da edição de estreia do programa para jovens dos Prémios Rolex para Espíritos Empreen-dores. O processo de descoberta dos candidatos passa por várias etapas, envol-vendo um leque alargado de instituições. Num primeiro momento são apresentados projectos de todo o mundo. Cada um é ex-aminado e seleccionado de acordo com as suas potencialidades e viabilidade. Um júri composto por responsáveis da Rolex e por um dos Laureados de uma das edições regulares dos Prémios Rolex para Espíritos Empreendedores entrevista os candidatos seleccionados. Por fim, um júri constituído por 10 especialistas de diferen tes áreas decide os vencedores.

A cada laureado é atribuído um prémio de US$50,000 para um período de dois anos, mas, o valor não é totalmente atribuído logo no primeiro ano. «A Rolex dá aos jovens tempo para amadurecer. Penso que a preparação é importante. Acho que foi por isso que se passaram 10 anos antes de ter escalado o Evereste», explica o explorador Khoo Swee Chiow. Os $25,000 do primeiro ano têm como objectivo incen-tivar o planeamento e a reflexão, a restante quantia servirá para a concretização dos projectos.

http://young.rolexawards.com

InICIATIVA

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«O meu projecto não serve apenas para criar meios de subsistência e rendimento, mas também para criar produtos eco-éticos e sustentáveis». Reese FERnAnDEZ (25) Filipinas

«O meu objectivo é aumentar os meios de subsistência de milhões de agricul-tores pobres. As ondas chegam onde os veículos de quatro rodas não». nnaemeka IKEGWuonu (27) nigéria

«Nós visonamos um mundo no qual uns poucos minutos de tempo se podem traduzir num extraordinário impacto social». Jacob CoLKER (27) Estados unidos

Fazer tapetes à base de desperdícios é o meio de sobrevivência de muitas mulheres que vivem na zona de despejos de Manila Payatas. No entanto, muitas vendiam os seus produtos a intermediários por baixo custo e foi contra esta situação que Reese Fernandez quis lutar ao co-fundar a Rags2Riches. A empresa ajuda as mulhe-res a transformarem os seus tapetes em produtos de moda e a vendê-los directa-mente aos retalhistas. Fernandez pretende expandir o projecto através do estabeleci-mento de um Centro de Empreendedoris-mo Inovador e Social (RISE).

Nmaemeka Ikegwuonu é mentor de uma rádio que neste momento alcança 250,000 ouvintes em cerca de 10 horas diárias de transmissão. O objectivo principal do pojecto é levar informação actualizada que permite a muitos agricultores evoluir nas suas técnicas e lutar contra a pobreza em que vivem. Com a distinção da Rolex, Ikegwuonu pretende alargar a rede de comunicação a 3,5 milhões de agricultores na região de Imo State, no sudoeste da Nigéria.

O projecto de Jacob Colker permite que voluntários dediquem curtos períodos de tempo a apoiar organizações através dos seus telemóveis. Ajudar a Nasa a identificar galáxias enquanto se espera pelo autocarro e traduzir currículos de imigrantes na pausa do almoço são alguns exemplos. Cerca de 30.000 pessoas já se inscreveram neste projecto baseado nas mais avançadas tecnologias, mas com a distinção dos Rolex Awards, Colker pretende «encorajar milhões de pessoas a aderirem ao volun-tariado».

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Serviço público

Fruto da crescente necessidade sentida pelas entidades

portuguesas de viajar com dignidade, segurança e rapidez,

foi criada a Esquadra 504 ‘Linces’ da Força Aérea Portu-

guesa. Mas o transporte de VIP é apenas uma das missões

desta esquadra. Cada vez mais dedica-se a outro tipo de

operações de transporte, como sejam a evacuação sanitá-

ria e o transporte de órgãos para transplante que, aliás,

reforçam o sentimento de serviço público que emana dos

‘Linces’. Falando com o Major Pedro Batista e o Capitão

Bruno Torcato ficámos também a saber porque decidiram

comemorar as bodas de prata da Esquadra com a edição

limitada de um B-42 official Cosmonauts GMT 3 Time

Zones, da Fortis.

Perguntas Paulo Costa Dias, fotografias Nuno Correia

EnTREVISTA

Quando foi formada a esquadra Linces e com que objec-tivo?Foi formada a 12 de Janeiro de 1985 com o objectivo de colmatar uma lacuna da Força Aérea relativamente à execução de missões de carácter maioritariamente civil. Pretendeu-se obter uma solução de transporte, de forma maneira rápida e digna, dos nossos go- vernantes e das altas entidades do Estado.

Mas já transportaram muitas individualidades além das nacionais.Sim, além de altas individualidades portuguesas, já transportámos individualidades estrangeiras, nomeadamente os reis de Espanha, presidentes estrangeiros, mais do que um secretário-geral da NATO e da ONU, bem como três prémios Nobel de língua portu-guesa – Saramago, Ximenes Belo e Ramos Horta, entre outras.

São pessoas difíceis? São circunstâncias difíceis, nomeada-mente quando se dirigem para reuniões importantes para o Estado português?São pessoas normais e que estão muito habituadas a estas coi-sas. Não há registo de situações invulgares, apenas a memória de um primeiro-ministro que ia à pressa para uma reunião importante em Bruxelas e se esqueceu de que lá estava bem mais fresco do que cá. Estávamos para descolar, quando alguém o alertou para o

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facto, e lá se conseguiu arranjar uma camisola para emprestar ao senhor primeiro-ministro. Alguém da manutenção foi buscar um dos nossos pullovers da farda e emprestou-lho…

Mesmo assim, transportar as mais altas figuras do Estado é uma enorme responsabilidade, não? Para nós, é o normal, é apenas uma das nossas missões. Cada vez mais temos missões deste tipo mais longe de Portugal porque a área de influência diplomática portuguesa é crescente. No início da Esquadra, voávamos sobretudo para a Europa, mas hoje em dia, com a estratégia de diplomacia económica que tem vindo a ser adoptada, voamos para todo o mundo, se necessário.

Mas não se cingem a estas missões, de transporte de VIP.Exacto. O Falcon 50 permite-nos um raio de acção muito vasto. Além de ser mais espaçoso que o anterior avião que equipava a Esquadra, atinge mais velocidade, tem mais autonomia e permite vários tipos de missão, nomeadamente evacuações sanitárias de áreas tão distantes como Cabul, de onde já evacuámos vários militares portugueses. No transporte aéreo especial está também incluindo o transporte de órgãos para transplante.

Esta disponibilidade para transportar órgãos para trans-plante é recente?Sempre se fez, mas, mais frequentemente, desde há cerca de três anos. O ano passado fizemos cerca de 100 horas de voo com es-tas missões, foram 23 ou 24 missões deste género. São missões especialmente gratificantes para nós e é uma valência geralmente, desconhecida. Os próprios hospitais ignoravam esta nossa capacidade, mas agora aproveitam a nossa total disponibilidade, como militares, para activar o meio e, a qualquer hora do dia ou da noite, vamos buscar quem esteja aflito ou vamos buscar vários órgãos para transplantar. Honra-nos o reconhecimento que temos recebido fruto desta sua acção, da parte dos hospitais.

Numa emergência, qual o vosso grau de prontidão?Depende. Para uma missão de transporte de órgãos, já aconteceu estarmos prontos no espaço de uma hora, desde o momento em que a tripulação, que estava em casa, foi contactada, até termos os motores a trabalharem à espera da equipa médica. Se for uma evacuação médica, demora mais algum tempo, pois o avião tem de ser reconfigurado e tem de haver um briefing médico para intei-rar a tripulação da especificidade e das restrições do voo indicadas de acordo com o doente a transportar.

Que tipo de avião é este Falcon 50?É um excelente avião que se pode considerar de longo curso dada a sua autonomia. Eram, em 1989, na época em que foram adquiridos, o último grito de tecnologia. Hoje, mantêm tudo o que é necessário, pois têm vindo a ser actualizados no que respeita à segurança de voo. Costumamos dizer que para substituir um Falcon, só outro Falcon. Já antes dos actuais Falcon 50, tivemos os Falcon 20, que foram os aviões iniciais da Esquadra.

Mas é notória a ausência de luxos na cabina, de extras, até. não é o que imaginamos num avião que transporta as mais altas figuras do Estado.Sim, não tem nada disso.

Porque é que a Esquadra adoptou o nome ‘Linces’?Tem a ver com o facto de os elementos presentes na Esquadra na altura da mudança de emblema. Estes tinham vindo de outras esquadras com felinos, como ‘Jaguares’ e ‘Tigres’, e tentaram manter uma tradição de esquadras ‘tiger’.

Como é que surge a ligação à Fortis?Queríamos fazer um relógio comemorativo dos 25 anos da Es-quadra, e a Fortis encaixa-se no nosso espírito. A sua ligação ao universo da aeronáutica civil, militar e espacial teve obviamente peso na escolha desta marca. A experiência de que goza, o perfil dos seus modelos e a qualidade dos mesmos foram determi-nantes na escolha, claro.

Entrevista completa em www.espiraldotempo.com

Major Pedro Batista

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Depois do célebre livro La Maîtrise du Temps, a TAG Heuer volta a lançar a sua história em livro. Entre protagonistas e peças relojoeiras emblemáticas, passando por momentos cruciais, são 216 páginas com imagens únicas que celebram o 150º aniversário da TAG Heuer. A marca suíça sempre procurou medir o tempo na sua mais ínfima expressão. Esse tornou-se o seu principal objectivo, de tal forma que a sua história sempre esteve intima- mente ligada ao mundo do desporto e, em particular, ao mundo da competição automóvel. A TAG Heuer é actualmente reconhecida como uma referência dos relógios desportivos, procurando inovar e surpreender, sem nunca esquecer a sua ligação ao passado.

A ligação da Panerai ao Classic Yachts Challenge desde 2005 está na base do lançamento de um livro no qual o confronto entre o mar e o ser humano se revela em imagens extraordinárias. Mare Uomini Pas-sioni revela a paixão da marca italiana pelo mundo da vela e pelas semelhanças entre a mestria da arte de fabricar iates clássicos e a alta-relojoaria, uma paixão que a leva a estar associada a projectos de restauro de embarcações, como o ketch bermudiano Eilean. «É com imenso prazer que eu re-cebo a publicação deste livro, um docu-mento cujas imagens revelam uma série de sonhos miraculosamente realizados e, graças aos quais, mesmo no canto de uma secretária podemos levar a nossa imagina-ção até às origens de magníficos veleiros.»

TAG Heuer 150 anosThe book

PaneraiMare uomini Passioni

LIVRoS

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