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Vivia-se a grande azáfama da vinda de Sua Santidade o Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio. Numa dessas noites, dormia eu bem sossegadinho, tive um sonho: ia na frente do cortejo papal com um grande cartaz, em que se lia em letras gordas: «Santidade Bent «Santidade Bent «Santidade Bent «Santidade Bent «Santidade Bento XVI, por fa o XVI, por fa o XVI, por fa o XVI, por fa o XVI, por favor: or: or: or: or: A A A A Acabe com o celibat cabe com o celibat cabe com o celibat cabe com o celibat cabe com o celibato obrigatório dos padres católicos! o obrigatório dos padres católicos! o obrigatório dos padres católicos! o obrigatório dos padres católicos! o obrigatório dos padres católicos! Abra as por Abra as por Abra as por Abra as por Abra as portas do sacerdócio às mulheres! A tas do sacerdócio às mulheres! A tas do sacerdócio às mulheres! A tas do sacerdócio às mulheres! A tas do sacerdócio às mulheres! Acabe-se cabe-se cabe-se cabe-se cabe-se com a discriminação se com a discriminação se com a discriminação se com a discriminação se com a discriminação sexual de uma v xual de uma v xual de uma v xual de uma v xual de uma vez para sempre!» ez para sempre!» ez para sempre!» ez para sempre!» ez para sempre!» É claro que isto foi um sonho, mas um sonho lindo, que traduz o meu sentimento interior a propósito destes e de muitos outros problemas, que nos últimos tempos muito têm molestado a Igreja de Cristo. Tem-se dito e propagado aos quatro ventos que é necessário reevangelizar, dar novos caminhos de acesso a Deus, que sejam actuais e não estratificados nos moldes medievais, que já pouco dizem às novas gerações. O sonho é a minha linha de pensamento. Acredito plenamente que mais tarde ou mais cedo a Igreja tem de acabar com a obrigatoriedade do celibato católico e admitir o sacerdócio de pleno direito para as mulheres. Se isso tem de acontecer, por que razão não se avança já? Seria uma forma de entrar na Igreja a sensibilidade feminina, que tanta falta aí faz! PROXIMIDADE E AUSÊNCIA Foi interessante ver as multidões que acorreram a saudar o Papa, tentando chegar o mais perto possível de Sua Santidade. Foi extraordinário ver as manifesta- ções de fé nos lugares onde foi celebrada a Eucaristia. Com certeza encheram o coração do Papa de satisfa- ção e muita alegria. Gostei de tudo o que pude obser- var e admirei a serenidade, a determinação e a con- centração do Papa no essencial das suas comunica- ções: Cristo é a Verdade e Ele está sempre connosco. Esta é a verdade principal do Cristianismo. Dela nun- ca poderemos fugir. Cristo é modelo para todos. Re- flecti demorada e profundamente sobre as mensagens. Notei, no entanto, que nas assistências a todos os Tiv iv iv iv ive um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, tal al al al alvez pr ez pr ez pr ez pr ez prof of of of ofético ético ético ético ético Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa actos de culto, e noutras reuniões, a grande maioria dos assistentes eram senhoras e no altar apenas havia homens, com excepção de alguns cantores dos salmos. É preciso abrir as mentes para estas e outras realidades novas, que se impõem com alguma pertinência. DISTÂNCIA E PRESENÇA Não me integrei no cortejo eucarístico, nem fiz qualquer esforço, nem pedi a algum responsável da organização para que tal acontecesse, embora alguém, a quem contei o meu sonho, me tivesse incitado para o fazer. O meu anonimato, os meus princípios de fé, amor e respeito pelas instituições e pela hierarquia não me permitiram que fosse além do Terreiro do Paço, e cá bem atrás, com a vista direccionada para o altar, participei sempre com atenção e o máximo respeito. Dos vários discursos que ouvi, uma ideia ressaltou: «Cristo está no meio de nós e estará até ao fim dos tempos, e a força da fé consegue eliminar todas as barreiras.» Ele está nas artes, na cultura, no serviço da pastoral dos mais pobres e dos mais inteligentes. Ele habita dentro e fora dos corações dos homens e está com eles, mesmo que muitos O rejeitem e esqueçam. espiral ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N.º 39-40 - ABRIL / SETEMBR .º 39-40 - ABRIL / SETEMBR .º 39-40 - ABRIL / SETEMBR .º 39-40 - ABRIL / SETEMBR .º 39-40 - ABRIL / SETEMBRO de 2010 O de 2010 O de 2010 O de 2010 O de 2010 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento VER, LER E INTERPRETAR Os sinais dos tempos são muitos e devem ser ob- servados, lidos e interpretados, e não podemos olhar só para aqueles que nos interessam. Argumentar aqui a favor do celibato dos padres ou do sacerdócio das mulheres - porque os dados são bem conhecidos e quase todos os movimentos já falaram disso - seria repetição desnecessária e fastidiosa, e os fundamenta- listas viriam de imediato em defesa das suas verda- des. Um assunto e o outro, no entanto, carecem urgen- temente de ser resolvidos, para que haja unidade na Igreja e ninguém seja discriminado, como tem acon- tecido até agora. Se isto não ocorrer depressa, para bem de todos e com a lucidez e a transparência de quem manda e sabe olhar em frente, só acontecerá quando a Igreja for forçada a fazê-lo, precipitada e atabalhoadamente... Esperemos que não!

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Vivia-se a grande azáfama da vinda de SuaSantidade o Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14de Maio. Numa dessas noites, dormia eu bemsossegadinho, tive um sonho: ia na frente do cortejopapal com um grande cartaz, em que se lia em letrasgordas:

«Santidade Bent«Santidade Bent«Santidade Bent«Santidade Bent«Santidade Bento XVI, por fao XVI, por fao XVI, por fao XVI, por fao XVI, por favvvvvor:or:or:or:or:

A A A A Acabe com o celibatcabe com o celibatcabe com o celibatcabe com o celibatcabe com o celibato obrigatório dos padres católicos!o obrigatório dos padres católicos!o obrigatório dos padres católicos!o obrigatório dos padres católicos!o obrigatório dos padres católicos!

Abra as porAbra as porAbra as porAbra as porAbra as portas do sacerdócio às mulheres! Atas do sacerdócio às mulheres! Atas do sacerdócio às mulheres! Atas do sacerdócio às mulheres! Atas do sacerdócio às mulheres! Acabe-secabe-secabe-secabe-secabe-se

com a discriminação secom a discriminação secom a discriminação secom a discriminação secom a discriminação sexual de uma vxual de uma vxual de uma vxual de uma vxual de uma vez para sempre!»ez para sempre!»ez para sempre!»ez para sempre!»ez para sempre!»

É claro que isto foi um sonho, mas um sonho lindo,que traduz o meu sentimento interior a propósito destese de muitos outros problemas, que nos últimos temposmuito têm molestado a Igreja de Cristo. Tem-se dito epropagado aos quatro ventos que é necessárioreevangelizar, dar novos caminhos de acesso a Deus,que sejam actuais e não estratificados nos moldesmedievais, que já pouco dizem às novas gerações.

O sonho é a minha linha de pensamento. Acreditoplenamente que mais tarde ou mais cedo a Igreja temde acabar com a obrigatoriedade do celibato católico eadmitir o sacerdócio de pleno direito para as mulheres.Se isso tem de acontecer, por que razão não se avançajá? Seria uma forma de entrar na Igreja a sensibilidadefeminina, que tanta falta aí faz!

PROXIMIDADE E AUSÊNCIAFoi interessante ver as multidões que acorreram a

saudar o Papa, tentando chegar o mais perto possívelde Sua Santidade. Foi extraordinário ver as manifesta-ções de fé nos lugares onde foi celebrada a Eucaristia.Com certeza encheram o coração do Papa de satisfa-ção e muita alegria. Gostei de tudo o que pude obser-var e admirei a serenidade, a determinação e a con-centração do Papa no essencial das suas comunica-ções: Cristo é a Verdade e Ele está sempre connosco.Esta é a verdade principal do Cristianismo. Dela nun-ca poderemos fugir. Cristo é modelo para todos. Re-flecti demorada e profundamente sobre as mensagens.

Notei, no entanto, que nas assistências a todos os

TTTTTivivivivive um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, e um sonho… LINDO, tttttalalalalalvvvvvez prez prez prez prez profofofofoféticoéticoéticoéticoéticoSerafim de SousaSerafim de SousaSerafim de SousaSerafim de SousaSerafim de Sousa

actos de culto, e noutras reuniões, a grande maioriados assistentes eram senhoras e no altar apenas haviahomens, com excepção de alguns cantores dos salmos.É preciso abrir as mentes para estas e outras realidadesnovas, que se impõem com alguma pertinência.

DISTÂNCIA E PRESENÇANão me integrei no cortejo eucarístico, nem fiz

qualquer esforço, nem pedi a algum responsável daorganização para que tal acontecesse, embora alguém,a quem contei o meu sonho, me tivesse incitado parao fazer. O meu anonimato, os meus princípios de fé,amor e respeito pelas instituições e pela hierarquia nãome permitiram que fosse além do Terreiro do Paço, ecá bem atrás, com a vista direccionada para o altar,participei sempre com atenção e o máximo respeito.

Dos vários discursos que ouvi, uma ideia ressaltou:«Cristo está no meio de nós e estará até ao fim dostempos, e a força da fé consegue eliminar todas asbarreiras.» Ele está nas artes, na cultura, no serviço dapastoral dos mais pobres e dos mais inteligentes. Elehabita dentro e fora dos corações dos homens e estácom eles, mesmo que muitos O rejeitem e esqueçam.

espiralANO xi - NANO xi - NANO xi - NANO xi - NANO xi - N.º 39-40 - ABRIL / SETEMBR.º 39-40 - ABRIL / SETEMBR.º 39-40 - ABRIL / SETEMBR.º 39-40 - ABRIL / SETEMBR.º 39-40 - ABRIL / SETEMBRO de 2010O de 2010O de 2010O de 2010O de 2010

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VER, LER E INTERPRETAROs sinais dos tempos são muitos e devem ser ob-

servados, lidos e interpretados, e não podemos olhar

só para aqueles que nos interessam. Argumentar aqui

a favor do celibato dos padres ou do sacerdócio das

mulheres - porque os dados são bem conhecidos e

quase todos os movimentos já falaram disso - seria

repetição desnecessária e fastidiosa, e os fundamenta-

listas viriam de imediato em defesa das suas verda-

des.

Um assunto e o outro, no entanto, carecem urgen-

temente de ser resolvidos, para que haja unidade na

Igreja e ninguém seja discriminado, como tem acon-

tecido até agora. Se isto não ocorrer depressa, para

bem de todos e com a lucidez e a transparência de

quem manda e sabe olhar em frente, só acontecerá

quando a Igreja for forçada a fazê-lo, precipitada e

atabalhoadamente... Esperemos que não!

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Vinte e oito pessoas, dez casais e oito singulares,assentiram à Fraternitas e reuniram-se em Coimbra, a20 de Março, no Instituto Universitário Justiça e Paz.O convite foi dirigido a todos os associados e nãoassociados, residentes e/ou ordenados nas diocesesda Região Centro, e às suas esposas. Não associadoscompareceram dois: uma familiar e, apenas, um padredispensado. Com o convite para o encontro, foramenviadas 152 cartas pelo correio e três entreguespessoalmente. Os estados de saúde dos próprios,acompanhamento de familiares e outros motivos,como o de Isidro Rodrigues Pedro, anteriormenteresidente em Abrantes, que afirmou ter retomado oexercício de funções, encontrando-se agora na diocesede Beja - justificaram muitas ausências.

O tema da palestra, «Pós-modernidade», proferidopelo P.e Dr. Anselmo Borges, foi muito apreciado. Écom o mesmo deleite que acompanhamos o que elevai escrevendo, e muitos relêem pelo correio electrónicode Nós Somos Igreja (NSI), a cuja rede pertencemos.

NOTÌCIASNOTÌCIASNOTÌCIASNOTÌCIASNOTÌCIAS

De 23 a 25 de Abril, 50 associados participaramno Encontro Nacional da Fraternitas, em Fátima, e naAssembleia Geral. Compareceram, também, dois ca-sais não associados: o casal Marques, residente emMarrazes, e João e Sofia Tavares, ele natural deCarvalhais, S. Pedro do Sul, ela brasileira. João é omoderador do e–grupo [email protected],do Movimento de Padres Casados (MPC), no Brasil.

Joaquim e Raquel Palma, casal missionário da Fra-ternidade Missionária Verbum Dei, orientaram o tema«Relação Familiar», com dicas e dinâmicas muito gra-tificantes para reflexão e oração pessoal e em casal(ver páginas 8 a 12 deste boletim).

No domingo, alegrámo-nos com a presença do ca-sal Cristóvão Manuel e Margarida Isabel, de S. Pedroda Cova, Gondomar, com os dois filhotes, um bebé.

Com o tema «A situação dos padres dispensados»,realizou-se no Centro Nacional de Cultura, em Lis-boa, no dia 27 de Abril, um colóquio promovido pelomovimento Nós Somos Igreja e que teve na mesa doismovimentos congéneres: a Fraternitas e o MPC/Asso-ciação Rumos, do Brasil. A comunicação social fez-sepresente: TSF, JN, DN e um canal de TV da Espanha,que entrevistou o casal Tavares.

O sócio Jorge Ribeiro esteve no programa «Pontosnos is», de Mário Figueiredo, na RTP Memória, no dia8 de Maio. Foi convidado para falar sobre «Celibato».Foi também entrevistado um não-associado.

F.J.S.M, não-associado da Fraternitas, viu a entrevistae comentou: «De registar a serenidade como cada umfalou do seu caso pessoal e actual relação com os bispose colegas em exercício. O jornalista foi bastante cordial,sem evitar as perguntas mais pertinentes. […] Pensoque se tocaram os vários lados do poliedro quanto àdimensão humana e sacerdotal da sexualidade e daconjugalidade, os dois pesos e as duas medidas emrelação aos anglicanos e “as excepções” no todonacional […]. Obrigado pela oportunidade.»

ENCONTRO REGIONAL CENTRO Celibato em debate na TV

ENCONTRO NACIONAL

COLÓQUIO EM LISBOA

NO REGAÇO DE DEUSLucília Amália Rodrigues de Carvalho, esposa

de Manuel Tuna, faleceu no dia 2 de Ju-nho. Nascera em Junho de 1934, na fre-guesia de Fornelos, Vila Real. Cada vezmais debilitada, ia frequentemente ao Por-to, e terminou internada devido à durezado tratamento. Partilha Joaquim Soares: «Apartida de uma pessoa enche-nos semprede emoção. Sabemos que somos peregri-nos, mas é um saber intelectual. A experi-ência de passar pela situação deixa-nos em baixo. AFé é um esteio, a Palavra de Jesus é fundamento, masa nossa sensibilidade também faz parte da natureza.A oração, a solidariedade dos amigos ajuda a atraves-sar esta noite. Acreditamos que só temos acesso à ple-nitude do Reino depois de se desfazer esta moradatemporária. Que o Pai acolha a nossa irmã Lucília nessaplenitude do Amor Maior Absoluto de que o Pai nosquis fazer participantes. Para o Tuna e família, a cer-teza de que estamos com eles, e para nós a fé de queela partiu antes para nos ajudar no caminho.»

Maria Fernanda Leal Gonçalves Serra Simão,esposa de João Simão, faleceu no dia 17 de Agosto,

em Azurva, Aveiro. Nascera em Espi-nhal, Coimbra, em Dezembro de 1928.Ramos Mendes lembra-a com fé: «Cris-to disse: “Quem acredita em mim, ain-da que venha a morrer, viverá para sem-pre.” Assim o acreditamos e anuncia-mos. A nossa irmã Fernanda não dei-xou de viver. Vive, agora, para sempre

a Vida que não tem fim, junto do Pai que nos ama,nos criou e para Ele nos chama.»

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UM ASSOCIADO, em Maio, escreveu: «A grandemissão dos padres casados é terem presente, numaunião à VIDE, aqueles que foram escolhidos pelosacerdócio da Ordem, para testemunharem “pelocoração e pela palavra” que o Amor Salvador actuano meio dos homens”.» […] E passados alguns dias:«Concordo plenamente com uma Igreja desimplicidade […] – a Igreja do Mandamento Novo edo Lava-pés. Eu também sou (…) desse Povo de Deusperegrinante. […] Há sempre nestas mensagens (refe-ria-se às notícias sobre os escândalos no seio da Igrejaem exercício ministerial) um convite pertinente a olharpara mim. Quando o faço, a vergonha torna-se vergo-nha na minha pessoa […]. Um abraço sempre comun-gante do Lúcio (Cuba/Alentejo).»

UM NÃO ASSOCIADO, em 26 de Agosto de2001, partilhou: «(…) É verdade que em criança, porvolta dos 8 anos, senti o apelo de Deus para a vocaçãosacerdotal, mas o handicap de que sofro foi o maiorobstáculo: sofro de paraplegia, consequência de umapoliomielite contraída durante a infância, nosmembros inferiores. […] Resta-me partilhar convos-co que somos muito felizes como casal, apesar de nãotermos tido filhos. E já lá vão 14 anos. F.A.S.C.M.»

No passado 31 de Maio, telefonei. Atendeu aesposa. Estavam de saída para a fisioterapia que omarido faz regularmente. Deixaram saudações cordiais.

NÃO ASSOCIADO, em 11 de Junho(encerramento do Ano Sacerdotal): «Agradecido estoua todos pela imensidão de orações e pelo podergrandioso transmitido por Ele a mim e minha família.Estamos fortes, confiantes que a Carina Ferreira - cujoacidente ocorreu na véspera do Dia da Mãe - levavano carro a prenda que comprara para oferecer à suamãe, e minha irmã, mas creio que ofereceu à nossaMãe do Céu. O funeral esteve lindo. Concelebraram15 padres, um grupo de jovens cantou melodias aoPai do Céu, e uma multidão acompanhou-a à últimamorada, num chegar de raios de sol! Abraço amigo,Manuel Catarino.»

PARA ASSOCIADOS E NÃO ASSOCIADOS,e seus familiares em estado problemático de saúde,assim como para os seus cuidadores, suplicamos aFORÇA de Deus em Jesus e Maria de Nazaré.

Três ecos do Ano Sacerdotal

Urtélia SilvaUrtélia SilvaUrtélia SilvaUrtélia SilvaUrtélia Silva

Maria, que lindo nome! Todos os nomes sãobonitos, embora gostemos e nos soem mais agradáveisuns que outros. Mesmo neste mundo, quando encontroo nome Maria, parece que me soa como um nome maisnobre do que quando é acompanhado ou compostode outros nomes igualmente nobres, bonitos esimbolicamente ricos. Para mim, quando leio ou chamopor simplesmente «Maria», parece que sinto umaespécie de «magia», um encanto, uma sinfonia, um coroalgo especial. Quando encontro simplesmente Maria,logo me soa a Aleluia (com que rima) bem como poesia,Pia, sabedoria, e produz em mim um pequeno estadode contemplação, um sentimento de êxtase, a sensaçãode que nele estão contidos todos os nomes femininos.

Quando me ressoa o celestial nome de Maria, ficoa pensar, na minha mística solidão: será que este nomeMaria é mais luzente que um puro diamante, mais beloque uma pérola colhida do fundo do mar, mais luzidioque qualquer brilhante ou um outro objecto precioso?!

Salvé, Maria, Mãe

MARIA, MÃE DA REDENÇÃOMaria é Mãe de Jesus. Como Jesus é Deus, Ele é

em tudo igual às outras duas Pessoas da Trindade, sóque «encarnou». A Cristo coube ser o «Mediador» entrea Humanidade e Deus. Fez-se Homem para ter umcorpo para morrer e para «ressuscitar»; subiu ao Céuonde «está sentado à direita do Pai»; ensinou àHumanidade o «caminho» para nos salvar: o Amor.

SENHORA DO ROSÁRIO PELA PAZEm Fátima, Maria não só avisou que devemos rezar

como apelou à nossa caridade através dos sacrifícios,a fim de conseguir a paz, conversão dos pecadores e asantificação da Igreja.

Maria é o nome mais comum, historicamentede há séculos, em todo o mundo. A composição ouanexação com outros nomes, em Portugal, é infinita,como primeiro ou segundo nome. O dicionárioantropológico diz que «Maria é uma mulher hábil eafectiva, terna, criativa e agradável. Maria é a expressãoda feminilidade; alegre, simples, sabe armar uma rodade amigos, recebê-los quase ritualmente, entendê-los… pondo-os a gravitar ao seu redor. Ela tem sentidoprático e infatigável; tem êxito nos pequenos (egrandes) empreendimentos. É uma boa esposa emelhor mãe».

José Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva Pinto

ReflexãoReflexãoReflexãoReflexãoReflexão

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A palestra: 1.ª voz - DignidadeFundamental

Fundamentou-se o palestrante,além de passagens bíblicas, em trêsdocumentos do Concílio Vaticanoll - «Lumen Gentium», «Gaudiumet Spes» e «Presbyterorum Ordinis»- para desenvolver ideias fundamen-tais acerca da criação do Homemno Éden e do Novo Homem (Cris-to), evidenciando a dignidade radi-cal da pessoa humana, quer no pri-meiro momento (o da Criação),quer no segundo (o da Restaura-ção): «O Homem, por natureza, noplano da criação, é Sacerdote, temo dom de […] sacralizar […] a cria-tura, a começar por si próprio. […]Agora, o Homem em Jesus Cristo,assume, com toda a propriedade, asua natural condição de mediador.[…] A natureza sacerdotal do Ho-mem é restaurada, elevada paraalém dos limites da primitiva cria-ção.» É que «pelo Batismoconfiguramo-nos com Cristo» - orevolucionário do Amor, o que lava

os pés aos apóstolos, acrescentoeu; e o palestrante – «fermento doNovo Reino, do Novo Povo».

Nesta ordem de ideias, continuacom vários tópicos: “IgrejaComunidade Sacerdotal”, “OsLeigos – Sacerdócio Comum”, “OPovo Santo de Deus GuardaInfalível da Fé e dos Costumes”,“O Matrimónio, Restauração doPlano Criador de Deus”, “OSacramento da Ordem, Sacramentoda Hierarquização da ComunidadeEclesial”, “O Episcopado –Colégio dos Bispos e Concílio Ecu-

Celibato Sacerdotal, hoje:

2.ª voz – O CelibatoAntónio Moreira relaciona o decreto conciliar «Presbyterorum Ordinis»,

promulgado por Paulo VI, com a encíclica «Sacerdotalis Caelibatus», domesmo papa, e o último «Código de Direito Canónico», promulgado porJoão Paulo II. Perante as incoerências constatadas entre a «liberdade radi-cal pela Criação e Restauração e a liberdade pela lei», aponta, com algu-ma ironia, «os perigos da perfeita imperfeição», a propósito da condutapor parte do sacerdote e, sobretudo, no concernente ao celibato. «Estarecomendação [proposta do celibato] insere-se no apelo feito a todos oscrentes no âmbito dos conselhos evangélicos», mas «a proposta mobiliza,a imposição quebra toda a iniciativa e […] facilmente a rotiniza e lhecorta toda a frescura, tornando-se um contra-testemunho do tal Reino deDeus». Não será difícil entender que tal assunto mal tenha sido afloradono Concílio (aberto ao Espírito Santo?!...), porque «tratava-se de satisfa-zer um compromisso» tomado por carta de Paulo VI ao cardeal Tisserant.

Será de questionar, quanto às «dolorosas deserções», «aqueles infelizes»,«desgraçadamente infiéis às obrigações contraídas», se estas expressõesofensivas contidas na encíclica estiveram implícitas no corajoso pedidode perdão, de João Paulo ll, para os pecados da Igreja. Incluiria ainda,neste pedido, a também infeliz expressão «redução ao estado laical»,inconsequente para os visados e ofensiva até para os leigos, o que foicorrigido, no novo Código, para «perda do estado clerical», mas aindainconsequente, se, de facto, o Sacerdócio imprime carácter? Nestaconvicção, o subscritor destas linhas já deu a absolvição penitencial…Entretanto, o palestrante foca a incongruência que é o ter de pedir a “graça”da dispensa do exercício do ministério ordenado até para aceder a umsacramento, o Matrimónio. Pergunta, então, a propósito do Cânone 976,(que encerra «o dilema existencial do sacerdote: ter a obrigação demanifestar o que é, mas de tal ser proibido por uma lei administrativa», ou“ditadura”): «Será uma lei justa?»

ménico”, “O Presbiterado e o Epis-copado – Corpo Sacerdotal”.

Sob este último título, destaco,por muito oportuna, a conclusão:«Daí que será uma traição qualquerdistanciamento ou menos apreçoefectivo, ou afectivo, de todos osmembros entre si e de um modomuito particular entre os detentoresdo Sacerdócio Ordenado e doSacerdócio Comum: terão deescutar-se! Para que haja um sóRebanho e um só Pastor, JesusCristo. A mesma raiz – Jesus Cristo,o mesmo fruto – o Reino de Deus.»

Motiva este artigo e nela seMotiva este artigo e nela seMotiva este artigo e nela seMotiva este artigo e nela seMotiva este artigo e nela se

fundamenta, a erudita palestrafundamenta, a erudita palestrafundamenta, a erudita palestrafundamenta, a erudita palestrafundamenta, a erudita palestra

intitulada “O Sacerdócio à Luz dointitulada “O Sacerdócio à Luz dointitulada “O Sacerdócio à Luz dointitulada “O Sacerdócio à Luz dointitulada “O Sacerdócio à Luz do

Concílio Vaticano ll,Concílio Vaticano ll,Concílio Vaticano ll,Concílio Vaticano ll,Concílio Vaticano ll,

«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo«Sacerdotalis Caelibatus» (Paulo

VI) e o «Codex Iuris Canonici»”,VI) e o «Codex Iuris Canonici»”,VI) e o «Codex Iuris Canonici»”,VI) e o «Codex Iuris Canonici»”,VI) e o «Codex Iuris Canonici»”,

que António Moreira pronunciouque António Moreira pronunciouque António Moreira pronunciouque António Moreira pronunciouque António Moreira pronunciou

no 2.º Encontro, promovido porno 2.º Encontro, promovido porno 2.º Encontro, promovido porno 2.º Encontro, promovido porno 2.º Encontro, promovido por

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu,

para padres dispensados dopara padres dispensados dopara padres dispensados dopara padres dispensados dopara padres dispensados do

exercício do ministérioexercício do ministérioexercício do ministérioexercício do ministérioexercício do ministério

ordenado, em que participavamordenado, em que participavamordenado, em que participavamordenado, em que participavamordenado, em que participavam

também alguns padres emtambém alguns padres emtambém alguns padres emtambém alguns padres emtambém alguns padres em

exercício, palestra que o seuexercício, palestra que o seuexercício, palestra que o seuexercício, palestra que o seuexercício, palestra que o seu

autor facultou à Associaçãoautor facultou à Associaçãoautor facultou à Associaçãoautor facultou à Associaçãoautor facultou à Associação

Fraternitas Movimento eFraternitas Movimento eFraternitas Movimento eFraternitas Movimento eFraternitas Movimento e

autorizou a difundirautorizou a difundirautorizou a difundirautorizou a difundirautorizou a difundir

integralmente entre os seusintegralmente entre os seusintegralmente entre os seusintegralmente entre os seusintegralmente entre os seus

associados, o que foi feito viaassociados, o que foi feito viaassociados, o que foi feito viaassociados, o que foi feito viaassociados, o que foi feito via

Internet. O encontro estáInternet. O encontro estáInternet. O encontro estáInternet. O encontro estáInternet. O encontro está

relatado, neste boletim, narelatado, neste boletim, narelatado, neste boletim, narelatado, neste boletim, narelatado, neste boletim, na

página 16.página 16.página 16.página 16.página 16.

Luís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís Cunha

ReflexãoReflexãoReflexãoReflexãoReflexão

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«jóia da coroa» ou pechisbeque

D. Ilídio Leandro, após referiro contributo do conferencista,convidou os participantes a umareflexão e a partilhá-la, alertandoque «o que alguém pensa sobre aorganização da Igreja não éinfalível» e, sagazmente, advertiu:«Opção pelo casamento…,fidelidade dos celibatários… nãoé fácil a uns e a outros.» O diálogo,as achegas foram aparecendo, umavez que está em causa a verdade,possivelmente com algumasubjectividade, e a felicidade quasenunca está na facilidade. Um padreno activo reconhece que o Povo deDeus aceita os padres casados. Umpadre casado refere a «vida dupla,senão tripla, de muitos que não dãotestemunho sacerdotal verdadeirocom um celibato autêntico», o queele quis evitar em si e casou.

Jóia da coroa é como Paulo Vl,na «Sacerdotalis Caelibatus», vê ocelibato sacerdotal na Igreja.Comentou-se: «Sim, “jóia” quandoo celibato for opcional, sem sercondição para nada, fonte defelicidade para quem quer e podeseguir o conselho evangélico; decontrário, celibato obrigatório, comtanta mentira, encobrimento edescrédito, não é “ jóia”, maspechisbeque; com a generaliza-ção consequente, todos sofremcom o ridículo do falso adorno.»

A espera «no amor» e «nador» evocou a figura bíblica das“dores de parto”. Daí, o regozijode que a situação crítica que aIgreja enfrenta seja de «dores departo», indício de aproximação devida nova, como os sinaisprecursores da destruição do

templo de Jerusalém e vinda deCristo (Mt 24, 8); da própria criaçãoque geme (Rm 8,22); de Paulo, per-plexo (Gl 4,19); Sião, a Mulher e oMenino, o Messias, a Igreja (Ap 12).De maneira nenhuma terá de ser sóo Papa a suportar tamanho solavan-co e a senti-las, mas também sem odoentio unanimismo (se Paulo nãotivesse contrariado Pedro, hoje to-dos os homens cristãos seríamoscircuncidados).

Como D. Ilídio reconheceu ementrevista ao «Jornal de Notícias»,em 8 de Maio de 2009, há o funda-mentalismo de muitos a dificultaras reformas.

A mentalidade em Portugalacerca do celibato evoluiu, éfavorável ao casamento dos padres,a cuja causa a nossa AssociaçãoFraternitas Movimento tem dadoalgum contributo. Sem quebrar aunidade com Roma, parece-nosque a Conferência EpiscopalPortuguesa, única no mundo queaprovou – julga-se – os Estatutosde uma associação de padrescasados, que tanto tem sidoapoiada pela quase totalidade dosseus bispos e secretários (ou nãofosse ela da iniciativa de um“santo” cónego Filipe deFigueiredo), deve continuarexemplar (seria porta aberta paraoutras conferências episcopaisprocederem de igual modo) e nãopode deixar de assumir também as“dores de parto”, para, no seucampo jurisdicional, abolir ocelibato obrigatório e fazer nascera nova criatura, bela e refulgente,do celibato opcional, com verdade,a autêntica «jóia da coroa».

3.ª voz – Eagora (EcclesiaHac Hora)

Nesta pós-modernidade, em queconvivemos na globalização, a prá-tica do celibato e os seus proble-mas deixaram de ser tabus e de po-derem ser manipulados. Se a fé nãoalicerçasse a nossa esperança, tal-vez julgássemos que a Igreja nãoultrapassará esta geração, como, nopassado, outros julgaram, porém,em tantos séculos e tantas crises, aIgreja sobreviveu. O «Eu estareisempre convosco» de Jesus, garan-tindo a presença salvífica nos por-tadores da Boa Nova, não falha.

Como as leis desumanas e anti--evangélicas - mesmo da Igreja - sãode homens caminhantes e de bar-ro, sujeitos a muitas armadilhas,podem e devem mudar quando sedescobre a sua malignidade ou faltade qualidade, como têm mudado oscódigos de direito canónico eoutras normas disciplinares.Ficamos à espera, com «desinteres-se, egoísmo, falta de responsabi-lidade cívico-eclesial? Não seráuma desobediência aos princípiosda racionalidade, da corresponsa-bilidade, da liberdade? Queremosa Igreja presente nesta Hora?» Oconferencista interroga e, com olharabrangente, vê os milhares deenamorados da Igreja, «que um diaos fascinou e fascina e que nem osamores do tempo presente fazesquecer. Esperam. E se é umaespera no amor, também o é nador». António Moreira, padredispensado, e a maior parte dospresentes, reconhecendo em si avocação sacerdotal, concluiramque não foram vocacionados parao celibato como condição para aOrdem, mas «a dor está presente».

Celibato opcional é joiaCelibato opcional é joiaCelibato opcional é joiaCelibato opcional é joiaCelibato opcional é joia

ReflexãoReflexãoReflexãoReflexãoReflexão

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Assim, a Bíblia de Jerusalém, no seu original francês,apresenta o seguinte texto: «N’avons-nous pas le droitd’emmener avec nous une épouse croyante, comme les autresapôtres, et les frères du Seigneur, et Céphas?/Não temos nós(Paulo e Barnabé) o direito de levar connosco uma esposacrente, como os outros apóstolos, e os irmãos do Senhor, eCéphas?» (Estes e os próximos sublinhados são nossos.)

A edição brasileira da Bíblia de Jerusalém é fiel natradução, utilizando também a palavra esposa.

Os Capuchinhos, nas últimas edições da DifusoraBíblica, traduzem de forma literal (uma mulher cristã)mas, em nota de rodapé, dizem que, gramaticalmente(?!), se deve entender como esposa cristã. Cada um quefaça os comentários que quiser ao gramaticalmente!

A Holy Bible, Dove of Peace, Catholic Edition da

New American Bible (NAB), com Imprimatur de 11de Outubro de 1991, apresenta o texto seguinte: «Dowe not have de right to take along a Christian wife, as do therest of the apostles, and the brothers of the Lord, andKephas?/Não temos nós (Paulo e Barnabé) o direito delevar connosco uma esposa cristã, como fazem os restantesapóstolos, e os irmãos do Senhor, e Kephas?»

A Bíblia Sagrada, traduzida da Vulgata e anotadapelo P.e Matos Soares, primeira edição de 1933, e quepode ser considerada como a primeira Bíblia populardos católicos romanos de Portugal, apresenta umatradução literal do citado versículo de 1 Cor 9:«Porventura não temos nós direito de levar por toda a parteuma mulher irmã, como também os outros Apóstolos, e osirmãos do Senhor, e Cefas?»

Curioso é que, servindo este capítulo também comojustificação para o direito do ministro ordenadoreceber, da comunidade que serve, a côngruasustentação (no dizer de S. Paulo, esse direito eramesmo extensivo à esposa que acompanhava oapóstolo), ele seja dos muito poucos que nãomereceram qualquer anotação a este tradutor.

Porquê? Talvez para ser honesto e não faltar àverdade. E, assim, terá achado preferível omitir e nãodizer aquilo que seria chocante para a comunidadecrente, no contexto eclesial absolutamente tridentinoem que, então, ainda se vivia.

Outra atitude tiveram - como já foi dito - os autoresdo compêndio, com todas as aprovações canónicas eadoptado por alguns Seminários na década de 1960,que interpretam do seguinte modo 1 Cor 9,5: «Unamujer hermana: una cristiana. Mujer...: puede tomarseen sentido próprio de esposa o de mujer en general.En el contexto cuadra mejor el primer sentido. Paulopodria haberse casado y llevar consigo su mujer…»(LEAL, Juan e outros, La Sagrada Escritura, Nuevotestamento II. Hechos de los Apóstoles y Cartas de S. Pablo,p. 405, segunda edicion, B.A.C. Madrid 1965).

São, pois, estes autores da opinião de que todos osapóstolos não só eram casados, mas até de que viviame eram acompanhados pelas suas esposas.

E entende-se bem por quê. É que, se não seentender a mulher irmã/cristã como a própria esposaque acompanhava cada apóstolo, ficaria, moralmen-te, uma bota para descalçar. Efectivamente, para amentalidade semítica, seria totalmente escandaloso um

Celibato e MatrimónioCelibato e MatrimónioCelibato e MatrimónioCelibato e MatrimónioCelibato e MatrimónioNo número anterior do «Espiral», o n.º 38,No número anterior do «Espiral», o n.º 38,No número anterior do «Espiral», o n.º 38,No número anterior do «Espiral», o n.º 38,No número anterior do «Espiral», o n.º 38,

Fernando Neves analisa os textos bíblicos em queFernando Neves analisa os textos bíblicos em queFernando Neves analisa os textos bíblicos em queFernando Neves analisa os textos bíblicos em queFernando Neves analisa os textos bíblicos em que

se fundamenta a Igreja para defender o celibatose fundamenta a Igreja para defender o celibatose fundamenta a Igreja para defender o celibatose fundamenta a Igreja para defender o celibatose fundamenta a Igreja para defender o celibato

dos padres. Continua a reflexão neste número.dos padres. Continua a reflexão neste número.dos padres. Continua a reflexão neste número.dos padres. Continua a reflexão neste número.dos padres. Continua a reflexão neste número.

CORRECÇÃO: O «Espiral» pede desculpa pelasincorrecções de pontuação e pela referência à traduçãoda Vulgata por Ambrósio quando, na verdade, comotodos sabemos, foi por Jerónimo. Deparámo-nos comuma primeira versão e não com a definitiva, em que játinham sido introduzidas as referidas correcções.

S. Jerónimo e Santo Ambrósio, Padres e Doutoresda Igreja, coexistindo temporalmente em grande parteda sua vida, tinham a paixão pelas Sagradas Escrituras:Ambrósio, conhecendo-a e comentando-a, a partir doseu mestre Orígenes; Jerónimo, refugiado na sua“tebaida”, fazendo esse trabalho ciclópico da traduçãoda mesma, dos originais grego ou hebraico, para alíngua latina, a pedido do papa Dâmaso I, santo. Foi,talvez, a primeira grande tentativa de tornar acessívele dar a conhecer ao maior número possível desacerdotes e pessoas a Palavra de Deus contida nasEscrituras Sagradas. Daí o nome de Vulgata, ou sejauma tradução para divulgar a Palavra de Deus, nalíngua vulgar, então, de maior uso, no ocidente: o latim.

Em Fátima, numa das suas livrarias, demo-nos aotrabalho de ver como estava traduzido 1 Cor 9,5, emBíblias católicas, com aprovação eclesiástica: “Nihilobstat”, “Imprimi potest” e “Imprimatur”. Tivemosalgumas surpresas, confirmando a traduçãoapresentada no «Espiral» n.º 38.

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homem ser acompanhado, dia e noite, por uma mu-lher qualquer, embora irmã, entenda-se cristã. Acom-panhado pela esposa já seria uma situação de norma-lidade. De resto, isto não será novidade, pelas quali-dades a ter em conta na escolha dos bispos, presbíterose diáconos, para as primeiras comunidades cristãs,onde segundo S. Paulo, em 1 Tm 3 e Tt 1, se recomen-da para todos eles que sejam casados e homens de umasó esposa.

A TENTAÇÃO DO CARREIRISMOBento XVI, na homilia da ordenação de presbíteros,

em Roma, no passado mês de Junho, referiu-se àpossível queda em tentação de alguns ministrosordenados se exibirem para conseguir fazer carreiraeclesiástica. E uma das coisas que condenou foi quealguém, para ser considerado e promovido, pratique aadulação ou tenha de dizer aquilo que os seussuperiores querem e gostam de ouvir (!).

Ora, na realidade, muita da hierarquia eclesialrevela ainda alguma falta de poder de encaixe paratemas candentes e vitais, mesmo que não ligados aodogma mas só a puras práticas disciplinares,ocasionais, como é, por exemplo, o caso da ainda actualexigência do celibato obrigatório sacerdotal.

Que nem sempre assim foi revelam-no, à saciedade,os Evangelhos (Jesus cura a sogra de Pedro), as referidasCartas de S. Paulo, a História da Igreja e mesmo a dopróprio papado.

E, com tudo isto, quem sofre é o Povo de Deus,pois o número de ministros ordenados não é suficientepara acorrer às suas necessidades.

Não diz o Vaticano II que o sacrifício eucarístico deCristo é fonte e centro da vida cristã? (LG 11) Porquê, pois,devido à simples norma disciplinar do celibatoeclesiástico, privar uma grande parte dos fiéis do seudireito de haurirem das riquezas desta fonte? Não seráque o Espírito, que sempre faz tudo de novo, esteja aquerer dizer algo de muito vital para a Igreja-Povo deDeus, mas que a hierarquia, por carreirismo, se recusaa receber e concretizar, porque não gosta de ouvir?

O NOSSO ESPÍRITO«É “um coração que vê”. Este coração vê onde há necessidade

de amor e actua em consequência»

No passado 13 de Maio, o Papa Bento XVIencontrou-se com representantes da Pastoral Socialde Portugal, na igreja da Santíssima Trindade. Foi ummomento cheio de vivacidade, humanidade e de afecto.O espaço estava repleto com mais de 9000 pessoasligadas aos diversos organismos e serviços que a Igrejadisponibiliza para o serviço aos que mais precisam.E, enquanto aguardávamos o papa, fomospresenteados com um concerto pelo grupo “FigoMaduro” (mãe e quatro filhos!) e com a apresentaçãodos bispos diocesanos e auxiliares ligados a esta área.

A exortação de Bento XVI foi profundíssima etransbordante de “sumo”. O papa partiu do texto doEvangelho proclamado imediatamente antes, aparábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), e inicioua sua reflexão desta forma: «Ouvistes Jesus dizer: “Vaie faz o mesmo.” Recomenda-nos que façamos nossoo estilo do bom samaritano, ao aproximar-nos dassituações carentes de ajuda fraterna.» E desenvolveuo seu pensamento concentrando-nos no “distintivo”,a marca do agir cristão, nomeadamente dos que servemos seus irmãos, em nome do Senhor Jesus, em serviços,organizações, instituições eclesiais da pastoral social.

Da homilia, cheia de grande densidade eprofundidade e, simultaneamente, de uma cristalinaclareza, permito-me sublinhar um parágrafo: «No meiode tantas instituições sociais que servem o bemcomum, próximas de populações carenciadas, contam--se as da Igreja Católica. Importa que seja clara a suaorientação de modo a assumirem uma identidade bempatente: na inspiração dos seus objectivos, na escolhados seus recursos humanos, nos métodos de actuação,na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficazdos meios. A firmeza da identidade das instituições éum serviço real, com grandes vantagens para os quedele beneficiam. Passo fundamental, além daidentidade e unido a ela, é conceder à actividadecaritativa cristã autonomia e independência da políticae das ideologias, ainda que em cooperação comorganismos do Estado para atingir fins comuns.»

Eis um programa para a nossa actuação, uma marcaque se nos pede: que tenhamos “um coração que vê”.

AlberAlberAlberAlberAlberttttto Osórioo Osórioo Osórioo Osórioo Osório

ReflexãoReflexãoReflexãoReflexãoReflexão

Sogra de Pedro

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«Há festa no Céu! Não há nada melhor para os pais do que

ter os seus filhos em casa, do que estarmos na casa do Pai.

Estamos com Deus com todo o nosso passado e com todo o

nosso presente, para parar, para nos encontrarmos, para

nos re-situarmos.» Foi com estas e muitas outras palavras

que o casal Joaquim e Raquel Palma ajudaram os

membros da «Fraternitas» a rezar, reflectir e crescer na

«Relação Familiar», nos dias 23 e 24 de Abril, em Fátima.

1.º REFLEXÃO da manhã do dia 24: Quandonos retiramos com Deus, não vamos para nosevadirmos da vida mais ou menos complicada quecada um tem, nem para esquecer, mas para olhar defrente, para olhar acompanhados, para olharprofundamente, para olhar a partir dos olhos de Deus– que é Pai Bom, que é Misericórdia, que vêpossibilidades onde nós só vemos entraves, que vêLuz onde nós só vemos trevas, que tem o poder defazer nascer a Vida onde nós só encontramos morte.

Deus não nos convida a situarmo-nos como“espectadores que já viram o filme”, mas chama-nosa agarrar a oportunidade de, mais uma vez,ressuscitarmos com Ele. De olhar com Ele para asnossas mortes, para os túmulos da nossa vida, daquelesa quem amamos, e de deixar que Jesus retire a “pedra”que nos impede de viver.

De facto, estamos mortos quando não amamos!Estamos mortos quando não vivemos aquilo para

que fomos criados.

Estamos mortos quando não amamos. Desde sem-pre fomos chamados ao Amor, a um amor com quali-dade divina. E o problema é que muitas vezes vive-mos esta chamada não como uma ALEGRIA, umaBOA NOVA, mas como um peso, um fardo, uma mánotícia. Porquê?

Não será porque assumimos esta chamada comofuncionários de Deus e não como amigos, como fi-lhos?

Qual é a diferença?O funcionário conta com as suas forças, muitas

vezes não entende o valor, o significado das ordensque lhe são dadas, não comunga com elas…

O filho, ao contrário do funcionário, deixa-se amar,acolhe esse amor e deixa que o “amor derramado” noseu coração transborde para os que vivem ao seuredor.

Qual é a BOA NOVA do Evangelho de Jesus? DaSua Vida?

Podemos tentar encontrar a resposta no lema queescolhemos para o encontro: «Aspirai, porém aosmelhores dons… Se não tiver amor, nada sou».

Poder Amar é um DOM; não é uma conquistapessoal. Às vezes gastamos tantos esforços em tentaramar… e são necessários. Mas, a ênfase deve ser pos-ta em DEIXAR-ME AMAR PRIMEIRO.

Chamados à Vida,

Nos primeiros capítulos dos Génesis expressa-semuito bem aquilo para que Deus nos criou, a essênciada existência humana, o seu sentido e os seus dramas:

a) Fomos criados para a COMUNHÃO (Gn 1 eGn 2):

- para uma vida de comunhão com Deus, deamizade, de familiaridade;

- para uma vida de comunhão com os irmãos, deentreajuda, de caminhar juntos, de caminhar com…;

- em harmonia com a Natureza e com todos osbens da Terra.

Os capítulos 1 e 2 do Génesis mostram-nos queestamos no Paraíso quando vivemos em comunhão,quando há harmonia nas nossas relações.

b) Fomos criados para viver com a CONFIANÇA,

com a CERTEZA, desde o princípio, de que o nossoDeus e Criador: - tem o poder de simplificar o que écomplexo em nós;

- tem o poder de ordenar o que em nós édesordenado e caótico;

- tem o poder de separar a luz das trevas e de nosajudar a ver o que convém e não convém, o que nosfaz viver e nos dá a morte (Gn 1, 1-4; Gn 2, 16-18).

c) O nosso drama existencial, o nosso maior pecado,se assim lhe quisermos chamar, é-nos relatado nocapítulo 3, é a SOBERBA - a não aceitação darealidade de ser criatura e não Deus. Como Eva,gostávamos de ser “deuses”, perfeitos, acabados. Edava-nos tanto jeito que os outros à nossa voltatambém o fossem! (cf. Gn 3, 2-6).

Certezas e drama

rararararaqqqqquel puel puel puel puel palmaalmaalmaalmaalma

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ao AmorHOJE É O DIA DA NOSSA SALVAÇÃO.

Somos convidados a ressuscitar. Somos convidados afazer a experiência de que a vida, a morte e aressurreição de Jesus vencem aquilo que mais nos matacomo ser humanos, aquilo que mais compromete anossa felicidade, que mais compromete a qualidadedas nossas relações - a SOBERBA:

- a não aceitação da realidade de ser criatura e nãoDeus;

- a não aceitação da fragilidade pessoal e do outro,dos limites;

- a não aceitação da realidade de filhos, porque nãose confia, porque não se quer ser dependentes.

Jesus, ao encarnar, assume a condição humana emostra-nos que não há que ter medo de ser criaturas,mostra-nos que como criaturas também temos umagrandeza: fomos criados à imagem e semelhança deDeus (Gn 1, 26-27), somos amados e temos em nósuma semente de Deus, do Seu ser divino, do Seu Amor;temos em nós a capacidade de amar com umaqualidade de amor divino e não apenas humano.

Jesus, com a Sua vida, morte e ressurreição, mos-tra-nos que, mais do que criaturas, somos FILHOSAMADOS do Pai e ensina-nos a confiar naSABEDORIA do Pai, ensina-nos a acreditar, adescobrir que a Sua obra está bem feita e a viver agra-decidos em vez de zangados! (cf. Gn 1,31).

Que cada um pegue numa das leituras sugeridas e peça odom de se deixar amar hoje, na circunstância real em que está,na etapa concreta da vida, tal como está, com as feridas quetem.

Hoje somos convidados a deixar que o Senhor nosfaça renovar a experiência que temos do Seu amor,que nos faça saborear, que nos faça conhecer… Comopoderei amar com um amor de qualidade divina setodas as experiências de amor que faço ao longo davida são pequenas e limitadas? Como posso exigir aooutro um amor perfeito, se, como eu, é limitado? JáSanta Teresa dizia: «Mendigamos amor em casa degente pobre.»

Hoje, agora, neste tempo de silêncio: pedir o domde deixar-me amar por um amor que é:

- prestável, que não busca o seu interesse... 1 Cor13, 4-8;

- incondicional - Sl 103(102);- poderoso, faz impossíveis - Mt 9, 20-22

(hemorroíssa) e Jo 11 (ressurreição de Lázaro);- esbanjador, exagerado no dar, que vê muito mais

além - Mt 26,6-10 (unção de Betânia); Jo 13 (lava-pés);

- que não condena - Jo 8, 1-11 (mulher adúltera).

PPPPPARA A ORAÇÃO PESSOARA A ORAÇÃO PESSOARA A ORAÇÃO PESSOARA A ORAÇÃO PESSOARA A ORAÇÃO PESSOALALALALALE EM FE EM FE EM FE EM FE EM FAMÍLIAAMÍLIAAMÍLIAAMÍLIAAMÍLIA

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2.º REFLEXÃO da manhã do dia 24: O Senhorfez-me entender que a nossa natureza humana é vivernesta tensão: procuramos abraçar inúmeras tarefas,sentimo-nos criados/feitos para desejar muito, paraprocurar o eterno, o infinito, o perfeito, mas esbarra-mos nos nossos limites, na nossa imperfeição, nosassuntos imediatos. Experimentamos constantemen-te esta contradição na nossa vida:

- Somos corpo e somos alma.- Somos interioridade e exterioridade.- Experimentamos a infinitude e os limites,a tensão entre amar e ser amados, ser e fazer,presente e passado, o absoluto e o relativo que cer-

tas coisas são.- Experimentamos a contradição entre os ideais e

a realidade, a nossa inteligência e os sentidos,entre o que queremos fazer e o que fazemos,entre a vida que queremos e a que se vai...E a contradição mais radical é entre a vida e a morte,

entre as muitas vidas e as mortes que experimentamos;e o que ainda é mais difícil é que não experimentamosisto só uma vez, mas muitas, desde que nascemos.

Viver nesta contradição é a nossa natureza - Deusfez Adão do pó e sobre ele soprou o Seu Espírito.

Esquecer que somos esta contradição- pó e Espírito de Deus -

é o pecado de Adão e Eva;é romper a relação com DEUS,não aceitar que Deus é Deus

e não aceitar que somos criaturas.Em relação a estas contradições que

experimentamos, e muitas outras que cada um podeencontrar na sua vida, a nossa atitude não deve ser deperder a esperança, porque é próprio da nossa naturezaviver nesta tensão entre Homem novo e Homemvelho.

A atitude construtora é a que Jesus propõe aNicodemos (Jo 3) – voltar a nascer para uma vidanova: «O que nasceu da carne é carne, o que nasceudo Espírito é Espírito, quem não nascer da água e doEspírito não pode entrar no Reino de Deus.»

Ao preparar estas pistas para o momento de oração, pedia

ajuda a Deus para saber viver tantos papéis e tantas tare-

fas que desempenhamos. Papéis que são essenciais: ser

pai, ser marido, ser bom profissional, ser cristão, ser casal

apostólico, caritativo, líder...

Jesus também propõe que uma vida nova nãoseja colocada nos mesmos moldes da vida velha: Vi-nho novo em odres novos (Mc 2, 21-22).

Nesta vida nova que queremos acolher, o primeirofruto é o Amor – por isso a primeira análise quetemos de fazer é ao estado do nosso Amor, à qua-lidade do Amor com que amamos.

É muito importante conhecer como amamos. Senão amo no Amor de Deus, o meu amor é limitado,dependente de todas as minhas contradições, procuramais o meu bem-estar que o do outro, não «suportatudo, não é sempre paciente, etc. (cf. 1 Cor 13). Omeu amor humano é pequeno e não constrói a pessoaa quem digo que amo: Se eu não tiver amor, eu nada sou.

E qual é a melhor forma de eu conhecer a qua-lidade do meu Amor? É pelo exame do meu amorao próximo. Não existe forma mais simples e efi-caz que perguntar a quem está ao meu ladoCOMO ESTOU A AMAR?

E o outro, com toda a certeza, não deixará de nosajudar a ver como é a qualidade do nosso amor.

A qualidade com que amamos tem a ver com aquiloque pretendemos quando estamos com o outro, como que procuramos e oferecemos quando amamos.

Uma leitura que nos pode ajudar a verificar o estadodo nosso amor é esta checklist de características do amor:de 1 Cor 13.

DETALHES da RELAÇÃO F AMILIAR

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JoJoJoJoJoaaaaaqqqqquim Puim Puim Puim Puim Palmaalmaalmaalmaalma

PRESTAR ATENÇÃO AOS DETALHESÉ no âmbito das relações familiares que, de facto,

se identifica a qualidade de amor com que amamos.A nossa realidade é que não sabemos amar ou

amamos muito pouco o outro, e sobretudo os que es-tão próximos, mais próximos - a esposa, a companhei-ra, os filhos, os pais, etc. E o normal é que não o sai-bamos fazer - por isso a atitude fundamental é reco-nhecer que precisamos aprender.

Na relação de Jesus com os seus discípulos, ve-mos como Ele utiliza uma pedagogia muito cuidado-sa e uma atenção muito especial a aspectos muito hu-manos. Jesus:

- dedica muito tempo aos seus amigos, e está aten-to a que comam, a que durmam, a que tenham tem-pos só para eles sem estarem sempre no meio da mul-tidão;

- ressuscitado, não se cansa de repetir e de recordaro que já havia dito em vida;

- não se cansa de voltar por causa de Tomé;- vai ao encontro dos apóstolos quando voltam à

pesca, come com eles, etc.Ou seja, Jesus sabe que nós precisamos de tempo,

que precisamos de sinais, que precisamos de repetição,que precisamos de momentos fortes...

Por vezes, nas relações mais importantes es-quecemos disto.

Não nos podemos esquecer que precisamos decuidar dos detalhes, dos tempos de encontro e, de umaforma muito particular, do diálogo. A relação nãosobrevive sem o diálogo - mas as palavras podemaproximar ou afastar o coração, consoante o modo e otom com que se digam, o momento em que se digam,etc. É vital ouvir o outro, dizer o que se gosta e não segosta, conhecer o que o outro está a viver e como estáa viver, e actualizar o conhecimento que temosdo outro, porque nós mudamos e se não dialogamosdeixamos de conhecer as pessoas que estão connosco.

Não podemos é esquecer que dialogar é uma arte(e constantemente esquecemos isto), não éespontânea, precisa de ser aprendida, trabalhada.

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Algumas atitudes que constroem a amizadeNa história de Saint–Exupéry, no encontro do

principezinho com a raposa, constrói-se uma amiza-de, em que são importantes pequenos detalhes:

- O local onde se encontram. A raposa associa ocampo de trigo no local onde se encontram com a cordos cabelos do principezinho e assim o próprio localevoca a presença do amigo.

- O tempo que se “gasta” a cuidar a preparação doencontro e os rituais em redor desse encontro são muitoimportantes. A raposa pede ao seu amigo para quechegue sempre à mesma hora, para que o seu coraçãose comece a preparar antes do encontro.

Alguns aspectos a cuidar podem ser estes: qual é omelhor momento para dialogar, como começar odialogo e como acabar, onde dialogar - em casa, norestaurante, no jardim, parados ou a andar...? E hojepode ser de uma forma e daqui a 10 anos pode sermelhor de outra forma. Para isso precisamos semprede actualizar o conhecimento que temos do outro.

Depois, como somos humanos, precisamos de es-tar atentos às necessidades humanas individuais de:

Tempo - para pensar e assimilar antes de falar; paradescansar, dormir, comer - muitas vezes colocamosmuito stress na vida diária por não cuidarmos das ne-cessidades físicas e psicológicas de descanso, comida,sono, silêncio...

Espaço - reservado, individual, pois, por mais pró-ximos que estejamos, existe um espaço em nós queninguém consegue preencher. Esse lugar solitário quetemos também precisa de ser cuidado. E precisamosdeixar Deus entrar nesses pensamentos reservados (osoutros nunca conseguirão entrar aí). No livro «OProfeta», Khalil-Gibran tem um poema sobre o casa-mento em que diz que precisamos cultivar um espaçoafastado entre os dois, pois as colunas do templo cres-cem afastadas para melhor suportar o peso dele.

Uma vida a dois, a três, a quatro..., próxima, intensa,diária, não pode apenas ser stress, trabalho,organização, rigidez... Ninguém aguenta isso. Aspróprias empresas reconhecem a necessidade deespaços lúdicos para fortalecer o trabalho em equipa.

Em casal, é importante avaliar o tempo e ocuidado que temos dado às relações dentro dafamília - à relação conjugal, aos filhos, etc. Porexemplo, avaliar quando foi a última vez que planea-ram uma saída só a dois, de todos, quando foi a últimavez que houve tempo para sentar e dialogar...

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Acreditamos que a Palavra de Deus é um dosalimentos mais adequados para a caminhada, longa,complexa, que é a nossa vida.

Hoje, como no tempo de Elias, o convite forte queDeus nos faz é: «Levanta-te e come, pois tens aindaum longo caminho a percorrer.»

O contacto com a Palavra de Deus, a oração coma Palavra, é um dos meios privilegiados através doqual Deus vem ao nosso encontro e nos alimentano caminho, e nos capacita para amar, amar comgozo profundo, amar totalmente convencidos de quevai valer a pena, de que a seu tempo dará fruto!

Onde está a força da Palavra? Onde está a suamagia, o seu poder? Como é que actua em nós? Quala experiência de Maria, de Jesus, dos Apóstolos?

A Palavra não é morta, é «viva e eficaz». Deus nãosó está vivo na Palavra, com Se dá a Si mesmo atra-vés da Palavra. Precisamos, por isso, de renovar cadadia a esperança! Precisamos de renovar cada dia a fé.E a confiança no Amor, que é o método do Deus deJesus. Se não o fizermos, facilmente vivemos com alógica do mundo e não com a de Deus - como Pedro- a quem Jesus chegou a dizer: «Afasta-te de Mim Sa-tanás, porque os teus critérios não são os de Deus.»

Deus oferece-se na Sua Palavra diária – liturgia decada dia, em que podemos pegar e parar nem que seja10 minutos apenas, como alimento diário para:

- discernir nas encruzilhadas da vida;- fortalecer nas opções tomadas;- aceitar fragilidades e fracassos, pessoais e sociais;- renovar esperança e convicções;- recomeçar: «Amas-Me? Apascenta!» (Jo 21)

A ESTÓRIA E AS NOSSAS VIDASO Sr. Luís não conhecia os tempos e os modos/

sinais de crescimento do que semeou. Eles sãodiferentes para cada caso. É preciso não ver só asaparências; é preciso estar atentos e procurar sinaisda mudança que está a ocorrer. É preciso acreditar namudança, na fecundidade das entregas, nos frutos dadedicação, do cuidar. Se não se acredita, pode não sefacilitar o nascimento ou, pior ainda, pode ocorrer ejá não estarmos para ver. E é também importantecuidar, regar, preparar-se para colher… O pássarocolheu e alegrou-se!

EspecialEspecialEspecialEspecialEspecial

A VOCAÇÃO ao AMORO chamamento a amar ao longo da vida não só assume

muitas formas (casal, pais, avós…), cada uma com os

seus desafios e dificuldades, como nem sempre é um

“mar de rosas”. Muitas vezes a opção pelo amor não é o

caminho imediato mais fácil, ainda que compense a

longo prazo.

ESPERAR O QUE NÃO SE VÊO Sr. Luís fez uma cova na terra, depositou uma

semente e regou.Voltou no dia seguinte, e não havia sinais da planta.Lá no interior da terra, o caule saía da semente.O Sr. Luís voltou ao segundo dia. Ainda não havia

nenhuma pontinha verde da planta.Lá na terra, o caule rasgava o solo.Ao terceiro dia, o Sr. Luís desconfiou que nenhuma

planta iria nascer.Mas a planta estava prestes a germinar.Ao quarto dia, o Sr. Luís não foi ver a terra que

plantou. Mas a planta germinou. E um pássaroobservou.

Ao quinto dia, a planta deu uma flor, e o pássarocolheu-a.

Diante da complexidade da vida, do facto de tantasvezes não vermos quaisquer frutos da nossa entre-ga... de semearmos e nada... como o Sr Luís da histó-ria, apetece-nos desistir e ir por outras vias que não ado Amor, mas da impaciência, da falta de esperança...

Apetece-nos dizer “Basta, Senhor!”, como Elias(1 Rs 19). rararararaqqqqquel E JOuel E JOuel E JOuel E JOuel E JOAAAAAQQQQQUIM pUIM pUIM pUIM pUIM palmaalmaalmaalmaalma

REFLEXÃO da tarde do dia 24: É diferente:- Amar na saúde e na doença.- Amar o lado positivo ou o lado frágil do outro.- Amar quando me sinto cheio de forças ou quando

estou no limite.- Amar “quando tenho razão de queixa” ou quando

surge em resposta ao amor do outro.

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Os movimentos na Igreja podem ler-se e interpre-tar--se à luz do capítulo 12 da 1.ª Carta de S. Pauloaos Coríntios. Procedem do Espírito Santo; orientam-se para o bem da Igreja; estão na Igreja como os mem-bros no corpo humano. Estes são critérios que aju-dam ao seu discernimento - missão dos pastores nascomunidades cristãs. Aliás, o Papa Bento XVI, aquan-do da sua visita a Portugal, no dia 13 de Maio passa-do, aponta aos bispos uma nota importantíssima: «Osportadores de um carisma particular devem sentir-sefundamentalmente responsáveis pela comunhão, pelafé comum da Igreja e devem submeter-se à guia dospastores. São estes que devem garantir a eclesialidadedos movimentos. Os pastores não são apenas pessoasque ocupam um cargo, mas eles próprios sãocarismáticos, são responsáveis pela abertura da Igrejaà acção do Espírito Santo».

Todos, de alguma forma, sabíamos isto: os bispose os responsáveis e seguidores de um movimento.Penso que, nem uns nem outros temos tido coragem econsciência para reconhecer e, sobretudo, actuar deque é nesta abertura, nesta clareza e nesta confiançaque, para bem e fidelidade ao Espírito e à Igreja deve-mos agir. Tudo isto, numa docilidade, simples e obe-diente, ao Espírito Santo.

Bento XVI dizia: «Graças aos carismas, aradicalidade do Evangelho, o conteúdo objectivo dafé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persu-asivamente e são acolhidos como experiência pesso-al, como adesão da liberdade ao evento presente deCristo.» Está aqui, no meu entendimento, a doutrinafundamental sobre a importância, o lugar e a missãodos movimentos na Igreja. Creio firmemente que,enquanto manifestação do Espírito em cada tem-po, os movimentos são indispensáveis à vida daIgreja e têm um lugar insubstituível na iniciaçãocristã de muitos baptizados, levando-os ao encon-tro pessoal com Jesus Cristo.

João Paulo II já falava da necessidade que a Igrejatem de «grandes correntes, movimentos e testemunhosde santidade entre os fiéis», sobretudo nos meios hu-manos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo,atraindo para a graça de Cristo dando testemunhod’Ele.

No presente caminho de «repensar a Igreja em Por-tugal», os movimentos e as novas comunidades ecle-siais têm um lugar muito importante.

REPENSAR JUNTOS

A PASTORAL DA IGREJA

A Conferência Episcopal Portuguesa está apromover um caminho para «repensar a pastoral daIgreja em Portugal», de modo a adequá-la melhor aomandato recebido de Jesus e às circunstâncias actuais.Foi elaborado o documento «Formação para a missão– formação na missão». Nele se aponta este objectivo:«Encontrar uma compreensão comum a todas asIgrejas de Portugal dos caminhos da missão e enunciarprioridades de opções e dinâmicas de acção com asquais todas as dioceses se comprometam.» E refere-se como método a leitura dos “sinais dos tempos”,segundo a perspectiva do Concílio Vaticano II (cf. GS4 e 11). Recentemente, foi apresentado um instrumen-to de trabalho que dá continuidade prática ao citadodocumento, em ordem a determinar o caminho e osmodos de a Igreja em Portugal cumprir de modo maisfrutuoso a sua missão.

Neste esforço para repensar a pastoral, pretende-se envolver num caminho sinodal, em comunhão ecolaboração, a nível diocesano e nacional, os múltiplosagentes pastorais (bispos, sacerdotes, religiosos ereligiosas, movimentos, associações de fiéis e outrasobras eclesiais). O itinerário percorrerá várias etapas.

1.º - A Assembleia Plenária da ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP) apreciou o instrumentode trabalho (Abril de 2010).

2.º - Nas Jornadas Pastorais do Episcopado, a CEPreviu experiências e ouviu o contributo de peritos emteologia e pastoral e de figuras da sociedade civil e dacultura (Junho de 2010).

3.º Entre Julho de 2010 e Março de 2011, nasdioceses (conselhos pastorais ou outrasinstâncias), nas conferências ou direcçõesnacionais dos institutos de vida consagrada e dosmovimentos e associações de fiéis far-se-á otrabalho de discernimento pastoral.

4.º - O resultado deste trabalho é recolhido esintetizado no Gabinete de Estudos Pastorais da CEP.

5. As conclusões recolhidas são depois reflectidaspelo grupo representativo das dioceses, congregaçõese movimentos e devolvidas à CEP. (Maio de 2011).

6. Nas jornadas pastorais, estudam-se as formasde pôr em prática as orientações comuns nas diocesese nas diferentes instâncias da Igreja (Junho de 2011).

7. A CEP define as orientações pastorais comunspara a Igreja em Portugal (Novembro de 2011).

Com os Movimentos na IgrejaDDDDD. Ilídio Leandr. Ilídio Leandr. Ilídio Leandr. Ilídio Leandr. Ilídio Leandrooooo, Bispo de Viseu, Bispo de Viseu, Bispo de Viseu, Bispo de Viseu, Bispo de Viseu

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Já ninguém tem dúvidas de que os semináriosdesempenharam um papel absolutamente relevante,diremos fundamental, no ensino e na transformaçãoda sociedade do século passado. Foi reconhecido queo trabalho realizado e a investigação efectuada noâmbito do 1.º Congresso Nacional dos Antigos Alunosdos Seminários Portugueses teria de ter continuação eradicar-se com uma estrutura permanente depolarização, de difusão de ideias, de representação, depromoção de actividades e valores, radicados nofundamento da educação e dos princípios emanadosdesta riquíssima experiência de formação num dosmuitos seminários em Portugal.

Com este objectivo, constituiu-se um núcleo detrabalho de âmbito nacional, sediado no SeminárioDiocesano de Leiria, por razões de centralidade, dasexcelentes condições oferecidas e do incondicionalapoio dos seus responsáveis. Aqui se deram osprimeiros passos para a formação de uma “União dasAssociações dos Antigos Alunos dos SemináriosPortugueses – UASP”, sendo concebida pelas diversasassociações intervenientes como uma estruturapolarizadora e de representação, que não intervirá nadinâmica interna das diversas associações que aconstituem. Este grupo de trabalho criou, com reflexãoe discussão, os estatutos da UASP, que forampublicamente apresentados em 12 de Junho passado.

A sessão de apresentação rodeou-se de um bemrecheado programa, que desde já é augúrio do elevadonível que os responsáveis pretendem dar a todas asrealizações deste organismo nascente. Nela propôs-sereflectir genericamente sobre «ética e responsabilidadena gestão do bem comum». É um assunto sério eemergente, não só em Portugal, mas em todo o mundo,considerando a actual conjuntura económica, social etécnico-científica. Realizaram-se duas conferências,uma de manhã, pelo professor Doutor João César dasNeves, outra de tarde, pela Dr.a. Marta Brites.

Este riquíssimo evento contou ainda com a Euca-ristia presidida por D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e um almoço convívio entre os participantes.

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Antigos alunos dos seminários voltam à cena

Há cerca de um ano, realizou-se o 1.º Congresso Nacional

dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses.

Este ano criou-se a União das Associações dos Antigos

Alunos dos Seminários Portugueses – UASP.

A Dr.a Marta Brites, investigadora do Instituto deBioética da UCP – Porto, desenvolveu o tema das “Pos-sibilidades e limites das tecnologias no cuidar da vidahumana”, contextualizando esta nova e fundamentaldisciplina da Bioética no contexto da moralização edos princípios, nos limites das tecnologias aplicadas àvida humana. A massificação, o afrouxamento dos prin-cípios morais e éticos das sociedades contemporâne-as, a fácil cedência ao utilitarismo, conjugado com oespantoso desenvolvimento dos conhecimentos cien-tíficos e tecnológicos, podem levar à instrumentaliza-ção destes por aqueles, situação inaceitável e de altorisco para o nosso presente e para as sociedades futu-ras. A Bioética coloca-se neste meio como moderado-ra do cada vez mais complicado diálogo entre estasduas partes.

O professorCésar das Neves abordou o tema“Um novo sentido de responsabi-lidade para o desenvolvimento so-cioeconómico” sob duas perspec-tivas principais: uma visão sobreo actual cenário do mundo naquestão económica – de crise –e o impacto social que ela acar-reta, colocando-lhe contudouma visão e perspectiva posi-tiva e de esperança, con-victo de que o mun-do teve outras crisesparecidas, pioresaté, e que sempreforam superadas.Crê que as crises sãotambém uma grande oportuni-dade de repensar os processos,de os ajustar para o futuro. De-pois, pegou na encíclica papal«Caritas in Veritate» eescalpelizou o fundamento da sua posição, dizendoque já quase tudo está ali expresso, e que o pensamen-to e o papel da Igreja são fundamentais para encarar ofuturo com esperança, para cada pessoa e para a Hu-manidade.

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Capítulos 6, 7 e 8 do Génesis. Impressionante estetexto! Deslumbram os pormenores da Arca, ameticulosidade das dimensões, os cuidados com a suavedação, a atenção de Noé sobre os pormenores dasua construção, o cuidado na selecção dos animais edas aves. Há de facto uma preocupação destapersonagem em corresponder à vontade de Deus.

Todavia, sente-se a frustração do autor da narrativa:o Homem não corresponde aos objectivos do Criador.

.Profissão de féA doutrina da Igreja e a sua interpretação é assunto

que não se questiona. A presente reflexão vai na linhade encontrar um fio condutor que se ajuste ao tempopresente. Terá esta passagem algo a dizer ao homemdo século XXI? Poderemos transpor para o presente apersonagem Noé? Será actual esta personagem?

Partimos do texto: a corrupção estendeu-se por todaa Terra, sob as mais diversas formas. O Senhorarrependeu-Se de ter criado o homem e o Seu coraçãosofreu amargamente. Noé, homem justo e perfeito,encontrou graça diante do Senhor. O Senhor comuni-ca a Noé a Sua decisão de exterminar os homens e aTerra. O Senhor faz o convite da construção da arca.

Este texto é muito belo. Seria abuso considerá-loultrapassado.

Se Noé fosse dos nossos diasComparemos as circunstâncias: a corrupção ganhou

dimensão que a todos surpreende; a exploração dohomem; o desemprego forjado; salários em atraso; aavidez insaciável de lucro; a guerra; a violência; amentira; as conveniências; o jogo do poder; a políticasuja… um nunca mais acabar.

Noé, um resistente! Não cede ao facilitismo, nãose vende ao consumismo. Resiste! Insatisfeito com oque observa, considera que o seu Deus não podeconcordar com esta situação. Que pode fazer? Sente--se impotente para enfrentar os grandes deste mundo.

Hoje, a realidade é idêntica. Admira-se que os maisesclarecidos, os mais conscientes dos cidadãosembarquem adormecidos e colaborem nesta farsa: ospobres e os idosos são esquecidos, os simples e os

analfabetos espezinhados, os famintos abundam portodos os lados, os explorados não param de crescer. Eos responsáveis e entendidos entretêm-se com cimeirase outras reuniões de altos desígnios, infindáveis, queservem para elogios mútuos, mas adiam as soluções.A desilusão, a frustração... Os povos vivem umaesperança que não vêem concretizada.

Que solução se pode esperarNoé não tem solução. Será que o homem aprendeu

alguma coisa com a sua experiência? Apenas lhe surgecomo solução para uma sociedade justa a aniquilaçãoda Humanidade e o seu recomeço em parâmetrosnovos, valores novos - fazer tudo de novo!

Temos ouvido muitas vezes a gente simples dizer:«Deus não pode com tanto!», fazer uma novaHumanidade em que os homens sejam irmãos, serespeitem nas diferenças, superem as dificuldades…Outros, mais radicais, talvez garantam que só umabomba… A resposta de Noé foi construir uma arcagrandiosa. Lá abrigou alguns animais e a sua família.Assim começou o repovoamento do mundo, cujos ho-mens e mulheres seriam a Humanidade nova.

Erro de NoéNoé imaginou que só uma destruição, o

aniquilamento, dos homens e dos animais existentesacabaria com o mal, toda a espécie de mal que o afligia.

Noé vem a descobrir que foi erro. Como é que eledescobriu essa verdade, não sabemos. Mas o autor põena boca de Deus palavras claras (vv. 8, 21 e 22) quan-to ao futuro da Humanidade.

AliançaA aliança com Noé é cosmológica: Noé, os

descendentes e os demais seres vivos… E será Deusque, ao ver o arco-íris nas nuvens, Se recordará destaaliança, e o dilúvio não voltará a acontecer.

Noé foi, no seu tempo, um salvador daHumanidade. Poderemos concluir que a salvação devários está dependente do esforço de alguns. E, emJesus Cristo, pela Aliança no Seu Sangue, Deus recon-cilia o Homem consigo mesmo. Admirável!

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O «Dilúvio” foi tema de estudo na Universidade Sénior de Castelo de Paiva. O orientador desafiouos participantes a apreciarem o texto e a descobrirem uma interpretação. Joaquim Soares partilha-o.

O dilúvio, a Aliança, a reconciliação universalO dilúvio, a Aliança, a reconciliação universalO dilúvio, a Aliança, a reconciliação universalO dilúvio, a Aliança, a reconciliação universalO dilúvio, a Aliança, a reconciliação universal

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A convite do bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro,como previsto, realizou-se o 2.º Encontro dos padresdispensados do exercício do ministério ordenado, que,por sua vez, tinham convidado alguns sacerdotes noexercício desse ministério. Foi acontecimentomarcante no dia 28 de Maio passado, prolongado porumas sete horas, com o almoço incluído, tudo noCentro Sócio-Pastoral da diocese. Compareceram 14padres dispensados (um deles vindo do Brasil, comsua esposa, João Tavares e Sofia, única senhorapresente por deferência de D. Ilídio) e 7 padres noexercício. Assinale-se que a teóloga Sofia, no seutestemunho, referiu que, nos primeiros encontros depadres casados no Brasil, sobressaía o saudosismo;«hoje, estão felizes com o seu estado de vida».Pessoalmente, dedica-se «ao anúncio da Palavra, atornar Jesus Cristo conhecido».

Em redor do bispo D. IlídioEm redor do bispo D. IlídioEm redor do bispo D. IlídioEm redor do bispo D. IlídioEm redor do bispo D. Ilídio

Luís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís Cunha

Tema: Como caminhar com Cristo e com a Igreja,num mundo que tenta afastar-se da fé.

Orientador: P.e Rocha Monteiro (salesiano)Data: de 26 (jantar) a 28 (almoço) de NovembroLocal: Casa Nossa Senhora do Carmo, em FátimaPreço: INSCRIÇÃO: Sócios: gratuitaNão Sócios: 5 euros/por pessoa.Diária por pessoa:- 35 euros (quarto individual/duplo ou triplo)- Gratuito – até aos 3 anos (exclusive)- Meia diária (17,50 euros) – 3 aos 12 anos

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RETIRO/ENCONTRO FRATERNITAS em FÁTIMA

O pagamento far-se-á durante a estadia aotesoureiro, Luís Cunha.

Que ninguém deixe de participar pordificuldades financeiras.

- Refeição – Almoço ou jantar: 10 euros; na meia-diária: 5,50 euros.

- 1 dormida com pequeno-almoço: 17,50 euros;na meia-diária: 10,50 euros.

Informações e inscrições - Secretariado:Urtélia Silva | Telemóvel: 914 754 706Telefone: 239 001 605E-Mail: [email protected] limite de inscrições: 15 de Novembro

D. Ilídio começou por referir os ausentes, um quetinha falecido na Suíça e outros que haviamjustificado, seguindo-se a apresentação dos restantes.

Foi evidenciada ao nosso querido bispo a satisfaçãopor esta sua iniciativa de congregar ao seu redorelementos dos dois estados no sacerdócio, em que asrelações nem sempre foram as mais fraternas. Um padreno exercício considerou-a como um «desafio»,passando-se a sugestões: abertura mútua em encontros

O próximo Encontro - o terceiro - ficou

marcado para 4 de Dezembro, e será

aberto às esposas dos padres

dispensados e a todos os sacerdotes da

diocese que queiram participar. Terá

como tema

as obras de misericórdia/obras sociais

normais de formação; os padres casados falarem dada sua experiência aos padres em exercício; criar umacomissão ou secretariado composto por padres doConselho Presbiteral e padres casados, para aprofun-damento de temas de mútuo interesse; o bispo ou osseus órgãos representativos convidarem os padrescasados a participar na vida da diocese, quando o en-tenderem, bem como na oração de uma das Horas(talvez Vésperas) do Ofício Divino, possivelmente àquinta-feira…

O próximo Encontro - o terceiro - ficou marcadopara 4 de Dezembro, aberto às esposas dos sacerdorescasados e a todos os sacerdotes da diocese que quei-ram participar. Questionados quanto ao tema a tratar,sugeriram-se tópicos: a prática das obras de miseri-córdia/obras sociais, tendo ficado encarregados de ofazer Fernando Vale (padre casado) e Ricardo Cardo-so (padre em exercício). Antes ainda, D. Ilídio irá con-vidar os padres dispensados do exercício do ministé-rio ordenado residentes na diocese, a fim de, em Se-tembro, tratarem do sínodo diocesano que, então, seiniciará, porque, repete o que já dissera no 1.º Encon-tro: «Gostaria de contar muito convosco no sínododiocesano. Vamos acordar quais as participações a ter.»

António Moreira, do grupo dos padres casados, jáconhecido da Fraternitas Movimento, pois participoucom sua esposa num dos Encontros da Associação,em Fátima, tinha-se incumbido de preparar o temaque apresentou, intitulado «O Sacerdócio à Luz doVaticano II, ‘Sacerdotalis Caelibatus’ (Paulo VI) e o‘Codex Iuris Canonici’». Acerca da sua magistral eoportuna dissertação e diálogo que se seguiu, ver oartigo «Celibato Sacerdotal, hoje: “jóia da coroa” oupechisbeque», nas páginas 4 e 5 deste boletim.