espiral 45

16
fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX espiral ANO xiI - N ANO xiI - N ANO xiI - N ANO xiI - N ANO xiI - N.º 45 - outubrO/dezeMBR .º 45 - outubrO/dezeMBR .º 45 - outubrO/dezeMBR .º 45 - outubrO/dezeMBR .º 45 - outubrO/dezeMBRO de 2011 O de 2011 O de 2011 O de 2011 O de 2011 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento U U Uma his ma his ma his ma his ma hist t tór ór ór ór ória de N ia de N ia de N ia de N ia de NA A AT T TAL AL AL AL AL Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes, Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes, Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes, Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes, Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes, mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. E mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. E mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. E mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. E mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. E um dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magos um dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magos um dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magos um dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magos um dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magos estão de joelhos?” estão de joelhos?” estão de joelhos?” estão de joelhos?” estão de joelhos?” Ela fazia 8 anos. Nasceu a 26 de Dezembro, e, mais uma vez, tinha prendas a dobrar. Mas aquilo de que ela gostava mesmo era de ajudar os pais a fazer o presépio, a colocar as figuras. E, no presépio deles, havia muitas figuras, as tradicionais e outras que a ima- ginação e o contexto dos tempos atuais impunham, tipo can- tores, estrelas de cinema, clérigos, bispos, o Papa, e até políti- cos... Eles lá sabiam o porquê. Os reis magos, sim, os reis magos, eram os mais adapta- dos: um era o Papa, outro era um politico e outro - surpresa - tinha as feições do pai. Ela, um desses dias, olhando para as figuras originais dos reis magos, que não iam montados nos camelos, mas dois estavam de joelhos e um permanecia em pé, caminhando, perguntou aos pais: – Porque é que os reis magos estavam de joelhos? A mãe respondeu: – Porque foram ao presépio para adorar o Menino Jesus. Ela já tinha ouvido dizer que os reis eram pessoas impor- tantes. Ouviu-o nas histórias que a mãe lhe contava. Por isso, mostrou-se perplexa: – Mas, se eram reis, porque estão de joelhos diante de um bebé? O pai retorquiu, docemente: – Bem... Dizemos que eles eram reis, mas, na verdade, não eram. Eram pessoas importantes, sim. Eram estudiosos. Conheciam as estrelas do céu e interpretavam a mensagem que se dizia que os astros tinham. Foi a olhar o céu que desco- briram uma estrela nova e concluíram que ia nascer um meni- no muito importante, um rei. E a mãe explicou de outro modo: – Quando tu nasceste, eu e o teu pai passávamos horas a olhar para ti, muitas vezes de joelhos. Sabes porquê? Porque tu eras a coisinha mais importante para mim e para o teu pai. – Então, os magos ajoelharam-se diante de Jesus porque ele era muito importante para eles? – Foi. Mas quer dizer ainda mais coisas. Quando os magos se ajoelharam diante de Jesus tinham a certeza de que aquele menino era instrumento de Deus, presença de Deus. Por isso adoraram-no. É isso o que significa adorar. O pai prosseguiu: – É por isso que, quando vamos à igreja, nos ajoelhamos: porque estamos na presença de Deus. E olhamos para Ele com muito carinho, com muita ternura. Dizemos-Lhe palavras doces, falamos-Lhe da nossa vida. E a mãe continuou a ensinar a Mariana: – Os magos fizeram uma grande viagem só para se encontrarem com Jesus, porque sabiam que o Menino trazia alegria, paz. Eles, que partiram de um país estrangeiro, sabiam que aquele menino fazia com que todas as pessoas, todos os povos se tratassem por irmãos. E o pai acrescentou: – Isto quer dizer que ajoelhar-se e adorar também signifi- ca servir, ajudar os outros. Mais tarde, quando Jesus tinha 30 anos, também Ele se pôs de joelhos. Antes de comerem a que foi a última ceia, Jesus lavou os pés aos discípulos. E, para isso, ajoelhou-Se diante deles. Ora, os discípulos não eram mais importantes do que Jesus, mas como Ele queria servi- los com todo o coração, tomou essa posição. Jesus gostava tanto deles que, para manifestar esse amor, dispôs-Se a fazer de tudo, até a ajoelhar-se diante deles, para os aliviar do peso do dia, lavando-lhes os pés. E a mãe concluiu: – Ou seja, os magos prostraram-se diante de Jesus por- que O reconheciam como muito importante, porque envia- do por Deus, porque era Deus mesmo. E eles viram Deus naquele bebé pobre, nascido de uma família humilde. E o mais bonito de tudo é que reconheceram Deus onde nin- guém suspeitava que Ele estivesse. Depois, Jesus, ao lavar os pés aos discípulos, mostrou que Deus pode ser aquilo que não imaginamos que podia ser: aquele que serve.Mas o pai ainda acrescentou: – Por isso nós também nos ajoelhamos para ajudar a avó quando quer trocar de sapatos, ou não é capaz de apanhar alguma coisa. Aprendemos com Jesus a servir o próximo.

Upload: fraternitas

Post on 13-Jun-2015

269 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Espiral 45

fERNANDO fÉLIXfERNANDO fÉLIXfERNANDO fÉLIXfERNANDO fÉLIXfERNANDO fÉLIX

espiralANO xiI - NANO xiI - NANO xiI - NANO xiI - NANO xiI - N.º 45 - outubrO/dezeMBR.º 45 - outubrO/dezeMBR.º 45 - outubrO/dezeMBR.º 45 - outubrO/dezeMBR.º 45 - outubrO/dezeMBRO de 2011O de 2011O de 2011O de 2011O de 2011

boletim dboletim dboletim dboletim dboletim da associação fraa associação fraa associação fraa associação fraa associação fraterterterterternitnitnitnitnitas moas moas moas moas movimentvimentvimentvimentvimentooooo

UUUUUma hisma hisma hisma hisma histttttórórórórória de Nia de Nia de Nia de Nia de NAAAAATTTTTALALALALALEla faz anos no Natal. Gosta de receber presentes,Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes,Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes,Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes,Ela faz anos no Natal. Gosta de receber presentes,mas o que a atrai mais são as figuras do presépio. Emas o que a atrai mais são as figuras do presépio. Emas o que a atrai mais são as figuras do presépio. Emas o que a atrai mais são as figuras do presépio. Emas o que a atrai mais são as figuras do presépio. Eum dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magosum dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magosum dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magosum dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magosum dia perguntou aos pais: «Porque é que os Magosestão de joelhos?”estão de joelhos?”estão de joelhos?”estão de joelhos?”estão de joelhos?”

Ela fazia 8 anos. Nasceu a 26 de Dezembro, e, mais umavez, tinha prendas a dobrar.

Mas aquilo de que ela gostava mesmo era de ajudar ospais a fazer o presépio, a colocar as figuras. E, no presépiodeles, havia muitas figuras, as tradicionais e outras que a ima-ginação e o contexto dos tempos atuais impunham, tipo can-tores, estrelas de cinema, clérigos, bispos, o Papa, e até políti-cos...

Eles lá sabiam o porquê.Os reis magos, sim, os reis magos, eram os mais adapta-

dos: um era o Papa, outro era um politico e outro - surpresa- tinha as feições do pai.

Ela, um desses dias, olhando para as figuras originais dosreis magos, que não iam montados nos camelos, mas doisestavam de joelhos e um permanecia em pé, caminhando,perguntou aos pais:

– Porque é que os reis magos estavam de joelhos?A mãe respondeu:– Porque foram ao presépio para adorar o Menino Jesus.Ela já tinha ouvido dizer que os reis eram pessoas impor-

tantes. Ouviu-o nas histórias que a mãe lhe contava. Por isso,mostrou-se perplexa:

– Mas, se eram reis, porque estão de joelhos diante de umbebé?

O pai retorquiu, docemente:– Bem... Dizemos que eles eram reis, mas, na verdade,

não eram. Eram pessoas importantes, sim. Eram estudiosos.Conheciam as estrelas do céu e interpretavam a mensagemque se dizia que os astros tinham. Foi a olhar o céu que desco-briram uma estrela nova e concluíram que ia nascer um meni-no muito importante, um rei.

E a mãe explicou de outro modo:– Quando tu nasceste, eu e o teu pai passávamos horas a

olhar para ti, muitas vezes de joelhos. Sabes porquê? Porquetu eras a coisinha mais importante para mim e para o teu pai.

– Então, os magos ajoelharam-se diante de Jesus porque

ele era muito importante para eles?– Foi. Mas quer dizer ainda mais coisas. Quando os magos

se ajoelharam diante de Jesus tinham a certeza de que aquelemenino era instrumento de Deus, presença de Deus. Por issoadoraram-no. É isso o que significa adorar.

O pai prosseguiu:– É por isso que, quando vamos à igreja, nos ajoelhamos:

porque estamos na presença de Deus. E olhamos para Elecom muito carinho, com muita ternura. Dizemos-Lhe palavrasdoces, falamos-Lhe da nossa vida.

E a mãe continuou a ensinar a Mariana:– Os magos fizeram uma grande viagem só para se

encontrarem com Jesus, porque sabiam que o Menino traziaalegria, paz. Eles, que partiram de um país estrangeiro, sabiamque aquele menino fazia com que todas as pessoas, todos ospovos se tratassem por irmãos.

E o pai acrescentou:– Isto quer dizer que ajoelhar-se e adorar também signifi-

ca servir, ajudar os outros. Mais tarde, quando Jesus tinha 30anos, também Ele se pôs de joelhos. Antes de comerem aque foi a última ceia, Jesus lavou os pés aos discípulos. E, paraisso, ajoelhou-Se diante deles. Ora, os discípulos não erammais importantes do que Jesus, mas como Ele queria servi-los com todo o coração, tomou essa posição. Jesus gostavatanto deles que, para manifestar esse amor, dispôs-Se a fazerde tudo, até a ajoelhar-se diante deles, para os aliviar do pesodo dia, lavando-lhes os pés.

E a mãe concluiu:– Ou seja, os magos prostraram-se diante de Jesus por-

que O reconheciam como muito importante, porque envia-do por Deus, porque era Deus mesmo. E eles viram Deusnaquele bebé pobre, nascido de uma família humilde. E omais bonito de tudo é que reconheceram Deus onde nin-guém suspeitava que Ele estivesse. Depois, Jesus, ao lavar ospés aos discípulos, mostrou que Deus pode ser aquilo quenão imaginamos que podia ser: aquele que serve.Mas o paiainda acrescentou:

– Por isso nós também nos ajoelhamos para ajudar a avóquando quer trocar de sapatos, ou não é capaz de apanharalguma coisa. Aprendemos com Jesus a servir o próximo.

Page 2: Espiral 45

espiral2

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

Mulher(es) na sociedade e na IgrejaO QUE MUDOU? O QUE FALTA MUDAR?

Este foi o tema do EncontroEste foi o tema do EncontroEste foi o tema do EncontroEste foi o tema do EncontroEste foi o tema do EncontroNacional da AssociaçãoNacional da AssociaçãoNacional da AssociaçãoNacional da AssociaçãoNacional da AssociaçãoFraternitas Movimento, que seFraternitas Movimento, que seFraternitas Movimento, que seFraternitas Movimento, que seFraternitas Movimento, que serealizou em Fátima, de 30 derealizou em Fátima, de 30 derealizou em Fátima, de 30 derealizou em Fátima, de 30 derealizou em Fátima, de 30 desetembro a 2 de outubro.setembro a 2 de outubro.setembro a 2 de outubro.setembro a 2 de outubro.setembro a 2 de outubro.Conduziu a vertente teórica dasConduziu a vertente teórica dasConduziu a vertente teórica dasConduziu a vertente teórica dasConduziu a vertente teórica daspalestras e os trabalhos empalestras e os trabalhos empalestras e os trabalhos empalestras e os trabalhos empalestras e os trabalhos emgrupo a Drgrupo a Drgrupo a Drgrupo a Drgrupo a Dra Ta Ta Ta Ta Teresa Mareresa Mareresa Mareresa Mareresa MartinhotinhotinhotinhotinhoTTTTToldyoldyoldyoldyoldy, , , , , doutdoutdoutdoutdoutorororororada em Tada em Tada em Tada em Tada em Teologiaeologiaeologiaeologiaeologia(área da T(área da T(área da T(área da T(área da Teologia Feologia Feologia Feologia Feologia Feminiseminiseminiseminiseminista) pelata) pelata) pelata) pelata) pelaPhilosophisch-Philosophisch-Philosophisch-Philosophisch-Philosophisch-TheologischeHochschuleSanktTheologischeHochschuleSanktTheologischeHochschuleSanktTheologischeHochschuleSanktTheologischeHochschuleSanktGeorgen (Frankfurt/Alemanha),Georgen (Frankfurt/Alemanha),Georgen (Frankfurt/Alemanha),Georgen (Frankfurt/Alemanha),Georgen (Frankfurt/Alemanha),MesMesMesMesMestre em Ttre em Ttre em Ttre em Ttre em Teologia (reologia (reologia (reologia (reologia (ramo deamo deamo deamo deamo deTTTTTeologia Siseologia Siseologia Siseologia Siseologia Sistttttemática) pelaemática) pelaemática) pelaemática) pelaemática) pelaUniversidade CatólicaUniversidade CatólicaUniversidade CatólicaUniversidade CatólicaUniversidade CatólicaPortuguesa, Licenciada emPortuguesa, Licenciada emPortuguesa, Licenciada emPortuguesa, Licenciada emPortuguesa, Licenciada emTTTTTeologia pela Univeologia pela Univeologia pela Univeologia pela Univeologia pela UnivererererersidadesidadesidadesidadesidadeCatólica Portuguesa. Pós-Católica Portuguesa. Pós-Católica Portuguesa. Pós-Católica Portuguesa. Pós-Católica Portuguesa. Pós-doutorada pelo Centro de Estudosdoutorada pelo Centro de Estudosdoutorada pelo Centro de Estudosdoutorada pelo Centro de Estudosdoutorada pelo Centro de EstudosSociais da Universidade deSociais da Universidade deSociais da Universidade deSociais da Universidade deSociais da Universidade deCoimbra. Docente em regime deCoimbra. Docente em regime deCoimbra. Docente em regime deCoimbra. Docente em regime deCoimbra. Docente em regime deexclusividade na Universidadeexclusividade na Universidadeexclusividade na Universidadeexclusividade na Universidadeexclusividade na UniversidadeFernando Pessoa (Porto), ondeFernando Pessoa (Porto), ondeFernando Pessoa (Porto), ondeFernando Pessoa (Porto), ondeFernando Pessoa (Porto), ondeensina nas áreas da Ética, dosensina nas áreas da Ética, dosensina nas áreas da Ética, dosensina nas áreas da Ética, dosensina nas áreas da Ética, dosEstudos de Género e daEstudos de Género e daEstudos de Género e daEstudos de Género e daEstudos de Género e daCidadania. Coordenadora doCidadania. Coordenadora doCidadania. Coordenadora doCidadania. Coordenadora doCidadania. Coordenadora doMestrado em Cidadania eMestrado em Cidadania eMestrado em Cidadania eMestrado em Cidadania eMestrado em Cidadania eResponsabilidade Social daResponsabilidade Social daResponsabilidade Social daResponsabilidade Social daResponsabilidade Social daUniversidade Fernando Pessoa.Universidade Fernando Pessoa.Universidade Fernando Pessoa.Universidade Fernando Pessoa.Universidade Fernando Pessoa.Vice-Presidente da Comissão deVice-Presidente da Comissão deVice-Presidente da Comissão deVice-Presidente da Comissão deVice-Presidente da Comissão deÉtica da mesma instituição.Ética da mesma instituição.Ética da mesma instituição.Ética da mesma instituição.Ética da mesma instituição.

UrUrUrUrUrtélia Siltélia Siltélia Siltélia Siltélia Silvvvvvaaaaa

NOTA PRÉVIAO que se segue não são, nem

pretendem ser, apenas as conclusões.Trata-se de um registo trabalhado combase nessas partilhas inter e intragrupais,nos “frutos” - já amadurecidos -distribuídos pelas intervenções da Teresae na altura saboreados, nas “sementes”por si lançadas. Cuidada a sementeiradurante dois meses e buscando outrosfrutos escritos seus, especialmente paraa parte II, e de outros autores para aparte I, deu a colheita que se segue. Estouconsciente de que, tratando deste campocultivado, não cuidei de muitas sementes

A conteceu no sábado 1 deoutubro, no Seminário doVerbo Divino. Este tema

começou por ser trabalhado ao nível dequatro pequenos grupos. Participaram 33pessoas: 29 sócios - 9 casais e 11 singles e4 não associados – 1 casal e 2 singles

(mulheres).Primeiramente, debateu-se: “Quais

foram as mudanças a que assistimos naSOCIEDADE. Como é que isso afetoutanto homens como mulheres, na minhaperspectiva”, seguindo-se o plenário,com a partilha de reflexões sob aorientação magistral desta primeira eúnica teóloga portuguesa. Constituirá aparte I. Depois tratou-se com idênticofigurino pedagógico a temática aplicadaà IGREJA, sendo agora a parte II.

I. MUDANÇAS EM PORTUGALA partir dos anos 1960, há

movimentos de pessoas significativos –para as colónias para outros paíseseuropeus e fluxos migratórios internos,do campo para a cidade. Era uma

sociedade tradicionalista com laivos demodernidade. A partir da revolução de1974, as mudanças acontecem a umritmo acelerado. Neste cenáriomigratório, as mulheres ficam nocontinente e tomam atitudes deprotagonismo e liderança na família, nastarefas fora de casa (campos, …), nosmúltiplos afazeres no espaço público.

Consequências:- (Re)Adaptações do desempenho

do papel de género.- Permuta de ideias, conceitos,

valores entre as sociedades.Mas as mudanças mais significativas

operam-se, de facto, ao nível do papelda mulher. Considerando universos ditosmasculino e feminino e o fluxo para aentrada no universo que, normalmente,não é o seu, as mulheres caminham maisvelozmente que os homens. Eis algunstópicos de/para análise da situação,particularmente em PORTUGAL:

No ENSINO – Na década dos anos1960, há muito mais analfabetas mulheresdo que homens.

Page 3: Espiral 45

espiralllll 3

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

Conquista do 25 de Abril:democratização do acesso àUniversidade, que constitui umimportante progresso. Aeducação, ao nível escolar,permitiu uma ascensão social,ascensão social esta que severificou rapidamente numageração.

Ocorre a massificaçãoescolar que tarda no nosso País,relativamente a outros paíseseuropeus. As mulheres entramem mais elevada percentageme alcançam mais êxitos, poissabem captar os proventos desseprocesso de ensino-aprendizagem.

Grandes mudanças da educação: asrelações de género mudaramradicalmente, havendo uma maioraproximação das “trajetórias”sexuais dehomens e de mulheres.

No ESPAÇO DOMÉSTICO –Considerando as tarefas domésticas, a(maior) utilização de máquinas encorajouos homens para a “lida da casa”. Eouve-se, muitas vezes, por parte dasmulheres: “Ele ajuda”. Ora, se ajuda,não é corresponsável – é um estatutodiferente!...

Na PARENTALIDADE – Houveuma alteração tão grande de valores quea decisão de ter filhos é particular econtinuadamente ponderada. Outrora,

havia uma circulação da roupa e livrosescolares dos irmãos mais velhos paraos irmãos mais novos. Verifica-se agorauma delimitação muito maior, ou atéum estabelecimento de fronteiras dapertença de cada irmão, bem definido,do espaço (quartos, …). Paralelamentevão crescendo certos meios sociais emPortugal de exclusão e de pobreza, ondeas pessoas, homens e mulheres seamontoam …

No MODELO DE CONJUGALI-DADE “ideal” – O homem era o chefede família, a autoridade máxima. Amulher dependia do seu marido. Porex.º, a mulher necessitava de autorizaçãopara sair do país. À mulher associava-se, especificamente, o mundo dos afetos:ao cuidar da casa, dos filhos… O

homem é que ganhava,assegurava o sustento dafamília. Uma margem dilatadade mulheres trabalhava noscampos à frente dasexplorações.

Havia um elevado númerode mães solteiras e de filhosilegítimos.

Nas INTERAÇÕESENTRE AS CLASSESSOCIAIS – Não existiapermeabilidade. As mudançasforam significativas, masatualmente continua a ser

pouco representativa.Nos ASPETOS SOCIAIS que

contribuíram para a EMANCIPAÇÃOda MULHER – Por exemplo, a pílulacontracetiva que começou a sercomercializada em Portugal em 1962. Ataxa de fecundidade começa a baixar.O que é que justifica a procura social,outrora, essencialmente por parte dasmulheres e depois num crescendo porparte dos casais? Famílias de 4 filhosoutrora eram reduzidas, hoje sãoconsideradas numerosas. Até já com 3!...

E fica uma questão: A mulhermoderna é, ou deve ser, polivalente?!...

Sugiro como bibliografia: “Históriada Vida Privada”, último volume dasérie com o mesmo nome, direção deJosé Mattoso.

II. MUDANÇAS NA IGREJAAproveitando o livro “História da

Vida Privada”, acabado de citar, a partirdos anos 1960, a sociedade portuguesacaracterizada de “dualista”, onde haviauma manta tradicional com algunsrasgões de modernidade (que tinham aver com as áreas urbanas), movendo-senum país pobre, pequeno e católico,começa a MUDAR.

Do Encontro - Não registando todasas respostas/afirmações nas partilhas,redundaram nesta tentativa de síntese:

- Presença/ausência da mulher naIgreja (hierárquica), na Palavra, nosMinistérios (inclusive o ordenado), na

função litúrgica e pastoral, no exercíciodo poder e tomada de decisões.

- Há carismas específicos nasmulheres.

- Discursos/palavras da Bíblia e dahierarquia da Igreja que subjugam asmulheres, de poder.

Das palavras ditas por nós sobre estatemática do Encontro:

O que mudou na Igreja?Ser um espaço de liberdade (enorme)

embora com bloqueios…Sinais de mudança, que devem ser

reconhecidos e valorizados… Mas, setudo isso deva constituir um facto asalientar, não podemos esquecer que a

experiência feminina tem recebido umacerta interpretação masculina

O que falta mudar na Igreja?A situação da mulher na Igreja que

tem uma história complexa e que incluitanto a discriminação quanto apromoção… A situação demarginalização da mulher na Igreja queé inadmissível, é um “escândalo”...

É preciso denunciar que, entre oscargos/quadros na hierarquia/igrejainstitucionalizada há uma ausência(absoluta) de representação das mulhe-res, que devem ser entendidos comoSERVIÇOS…

Page 4: Espiral 45

espiral4

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

E no plenário, as achegas daorientadora foram esclarecedoras,resultando para mim, numa tramacomplexa. A utilização da suaterminologia específica e adequadalevou-me a n rascunhos para esteapontamento escrito, optando então pelabusca e consulta de bibliografia/artigosseus, que divulgo:

- “DEUS E A PALAVRA DEDEUS NA TEOLOGIAFEMINISTA” (1998), Lisboa: EdPaulinas, [14x 21, 472 pp,14,50•].

(“ Obra pioneira e que revela grandecoragem …”);

- “A VIOLÊNCIA E O PODERDA(S) PALAVRA(S): ARELIGIÃO CRISTÃ E ASMULHERES”– Revista Críticade Ciências Socias (do CES), 89,Junho de 2010: 171-183.

Decidi então partilharexcertos deste artigocujos cortesestão traduzidos por (…),estando à disposição de quemmo solicitar na íntegra.

Na súmula: “(…) Falaremosde discursos de poder. Mastambém da possibilidade deoutros discursos, de formas deempowerment «subalternas», apartir dos «sem poder». Nestesegundo aspecto, dar-se-áparticularmente relevância aopensamento e teóloga feministaElisabeth ShüsslerFiorenza”, quereferenciou várias vezes no plenário e queno texto aparecerá apenas comoFiorenza.

Palavras – chave: antropologiateológica; hermenêutica feminista;mulheres; religião cristã; teologiafeminista.

1. Violência e cânoneFiorenza chama a atenção para aquilo

que ela considera ser a produção de umaideologia religiosa baseada numadominação masculina estrutural, isto é,política, de raça e de classe, que se traduznuma opressão global, isto é, numsistema kyriocêntrico, numa pirâmide de

múltiplas opressões (1992). Os textosbíblicos e as interpretações a que osmesmos foram sujeitos ao longo dosséculos constituíram uma peçaimportante do «discurso kyriárquico»,para utilizar a expressão de Fiorenza(1994). Parece existir, realmente, um«cânone da opressão», que, nas religiõesmonoteístas, passa pelos livros sagradose pelas suas interpretações ereinterpretações por parte das instânciasemissoras dos discursos oficiais (sempremasculinas!). O patriarcado não écompreendido nos termos de umsistema sexual binário, mas sim comouma complexa estrutura piramidal de

domínio político e de subordinação,estratificada segundo taxonomias desexo, raça, classe, religião e cultura.

Mas o cânone também pode ser lidonuma outra perspectiva. É sabido que alibertação dos véus impostos pelatradição androcêntrica cristã conheceuum momento decisivo nas lutas pelaabolição da escravatura, por exemplo.Ora o cânone bíblico desempenhou umpapel decisivo nessa luta, ainda que sepossa dizer, simultaneamente, que aforça mais poderosa na manutenção dasubmissão da mulher era a religião. Asmemórias inspiradoras desse percursode libertação desempenham um papeldecisivo na reconstrução da identidadefeminina, mais, são mesmo invocadascom «texto sagrado» (…)

2. Interpretações canónicas esilenciamento das mulheres – aviolência das palavras

Seria longa a lista de textos bíblicosque descrevem actos de violência sobremulheres. Mas tão ou mais relevantes doque os textos bíblicos que descrevemactos violentos sobre as mulheres foramos textos que foram utilizados ao longodos séculos (e continuam a ser) paralegitimar o silenciamento (frequente-mente violento) das mulheres, invocandoa sua pretensa inferioridade em relaçãoao homem, inferioridade essaestabelecida pela própria criação,portanto «natural», já que não pode ser

o «corpo» - a mulher- acomandar a «cabeça» - ohomem. O que está emcausa é a hierarquização,inspirada na 1ª Carta de S.Paulo os Coríntios (11, 3),onde se diz que a «a cabeçade todo o homem é Cristo,a cabeça da mulher é ohomem, e a cabeça deCristo é Deus.»

Está criada aquela queserá a matriz da exclusão dasmulheres. De facto, elaresulta de uma teologia quefoi desenvolvendo pro-gressivamente toda uma

reflexão antropológica centrada natemática da imagem e semelhança comDeus e do pecado original. Estacontribui decisivamente para uma visãoda mulher com ser inferior e tentadora,á semelhança de Eva. Associada a umabiologia e estratificação social aristo-télicas, esta cosmovisão «empurrou» amaioria das mulheres para o domíniodo privado, do lar, e para os papéissociais relacionados com ele, universoúnico onde seria possível manter o seuespírito e o seu corpo «inferiores epecaminosos» resguardados da perdição(para si e para os outros).”

[(…): corte das páginas 174 até parteda 177 “correspondente à reflexãoteológica mencionada, começando,precisamente, pela figura de Eva”,

Page 5: Espiral 45

espiralllll 5

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

embora com interesse, mas por esteassunto não ter sido analisado noencontro.]

“Ora, os documentos eclesiais, pelomenos, a partir de João XXIII (1958-1963), insistem na igual dignidade dohomem e da mulher, baseada numateologia de ambos à imagem esemelhança de Deus, procurando, assim,ultrapassar definitivamente o modelodesigual, proveniente de uma intromissãoda filosofia dualista na antropologiacristã.

Porém, nestes documentos verifica-se sempre a necessidade de acrescentarmais qualquer coisa para definir asmulheres: elas são mães e esposas,essencialmente. 1/ Deus assim odeterminou, dadas as característicasbiológicas com que as modelou. Estasditam a sua psicologia e, inclusivamente,as suas tarefas sociais. 2/ (Note-se que,na teologia católica, não existe umareflexão paralela sobre os homens comopais e esposos. Nem se caracteriza a suadimensão social como uma «macro -paternidade» …).

A tendência, diria mais, a opção poruma reflexão antropológica que recorreconstantemente a definições essencialistasda mulher, baseadas, fundamentalmente,na sua biologia, introduz umacontradição no discurso eclesial actual,que alterna entre uma antropologiagenérica igualitária e uma antropologiaespecífica de desigualdade. De facto,enquanto na teologia se afirmouprogramaticamente que a mulher é umhomem falhado, como o fez S. Tomásde Aquino (…), não se insistia,evidentemente, numa antropologia quereconhecesse a igualdade entre os sexos.Por isso, a subalternização era coerentecom o discurso antropológico. Agora,que a igualdade entre os sexos édefendida explicitamente, o discurso daIgreja entra em contradição consigomesmo, ao insistir num antropologiaespecífica (isto é , numa reflexão concretasobre a mulher) que fundamenteexclusões, nomeadamente, da vidapública – sempre que esta entrar em

choque com a maternidade, «papelnatural da mulher» 3/ - mas também decertas funções eclesiais.

3. Para uma hermenêuticafeminista da libertação ou a(s)palavra(s) entregue(s) às mulheres.

Haverá possibilidade de fazer outrasleituras do cânone bíblico? A questão nãoé tanto saber se esteé conciliável com ofeminismo, mas, sobretudo, se é possívelfazer uma leitura feminista dosdocumentos, que mais afectam asmulheres, no Ocidente, isto é, da Bíblia.Estes textos serviram, ao longo dahistória, para legitimar a submissão dasmulheres, mas foi igualmente com baseneles que muitas mulheres reagiramcontra esta submissão. A Bíblia, constitui,portanto, uma «arma contra as mulheres»(1998) mas é também a sua «herança».Na primeira obra de relevo - In Memory

of Her – Fiorenza declara que a herançadas mulheres constitui a fonte do seupoder (1988a). 4/Os textos que deixamtransparecer uma luta contra opatriarcalismo constituem uma fonte, umreservatório no qual as mulheresencontram alimento para o processo dasua libertação (cf, ibidem). Contudo, é aexperiência das mulheres e não os textosem si, que constitui a referência últimada hermenêutica feminista. Estaprocederá em vários passos.

O primeiro é o da hermenêuticadasuspeita, que procede identificando o

carácter e a dinâmica androcêntrico –patriarcal do texto e da sua interpretação(cf. Fiorenza,1988a). O seu objectivo éretomar os fios perdidos do tecido davida das mulheres, que os textos nãoretratam, antes, ocultam. Mas, estarevisão da história não é um processotanto histórico-crítico, teológico oufilosófico, quanto um processo poético– o seu objectivo não é tanto areconstituição quanto a reformulaçãoretórica do lugar das mulheres nos textos,resultante da sua leitura e interpretaçãopelas próprias mulheres.

O segundo passo é constituído pelahermenêutica darecordação(cf. Fiorenza,1988a; 1998). Esta etapa procura ir maislonge, buscando as raízes profundas davida e da luta das mulheres na igrejaprimitiva, portanto o contexto históricodo texto. Implica a identificação dos«interesses» (…) subjacentes ao texto e oseu objectivo último é reconstruir ahistória do cristianismo primitivo comoa história de homens e mulheres, comoa memória e a herança da igreja dasmulheres (cf. Fiorenza, 1992), de formaa poder legitimar a prática feministaactual numa tradição de libertaçãoininterrupta, apesar de silenciada pelaversão triunfante.

O terceiro momento é o da avaliaçãoou proclamação(Fiorenza, 1992; 1988a).depois de identificados os sinais centraisde androcentrismo revelados no texto,assim como a sua contextualização nasestruturas patriarcais e na lutas dasmulheres contra elas, procura-se avaliaro alcance do texto para a libertação dasmulheres. Se o texto lhe era contrário,não deve ser considerado Palavra deDeus: uma hermenêutica daproclamação deve insistir para que osteógos não revistam um texto patriarcalcom autoridade divina, proclamando-oPalavra de Deus (cf.Fiorenza, 1992). Nãoquer dizer que um texto deste tipo nãopossa ser utilizado pela Igreja. Mas, nessecaso, deve ser lido criticamente, isto é deforma a ficar claro o seu carácter e a suafunção opressora. Este passohermenêutico deve avaliar, igualmente,

Page 6: Espiral 45

espiral6

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

o contexto sociopolíticoem que o texto bíblico élido e recebido,actualmente. Resumindo,uma hermenêutica daavaliação e proclamação éaquela que pondera asimplicações de umdeterminado texto parauma leitura feminista, paraa pregação, o aconselhamento e o estudoindividual da Bíblia (cfFiorenza, ibidem).

Por último, uma hermenêuticafeminista crítica que procura reconstituira história das mulheres, supõe,igualmente, uma hermenêutica daimaginação (cf.Fiorenza,1988b). Estaprocura fazer uma nova interpretaçãodos textos bíblicos, uma interpretaçãonão - androcêntrica, criativa, de formaa recriar o texto. O contexto destareinterpretação ou recriação é a igrejadas mulheres, para a qual é transferida aautoridade da interpretação dos textos.

Numa das suas últimas obras,Fiorenza situa este discipulado de iguaisno horizonte de uma hermenêutica dodesejo (cf.1998), isto é, que procura umareconstituição dos textos, ou melhor, docontexto dos mesmos, que não estápreocupada com a apresentação dosfactos dos primórdios igualitários docristianismo ou com a legitimaçãoteológica das origens cristãs, mas simcom reconstituição dos primórdios docristianismo que deram origem a visõescristãs e a movimentos igualitários, aolongo dos tempos. Sendo assim, odiscipulado de iguais já é e ainda não é.

Segundo Fiorenza, para que umahermenêutica do desejo não caia naarmadilha de se tornar uma forma deleitura fundamentalista ou positivista, temque ser acompanhada de umahermenêutica de indeterminação(cf.Fiorenza,1998), isto é, umahermenêutica que tenha em conta ofacto de a possibilidade deinterpretações plurais do texto apelar auma hermenêutica de interpretaçãocrítica, ou seja, uma interpretação queconsidere o texto como um lugar de luta

pelo significado. O objectivofinal é provar que a questãonão é o da busca de umainterpretação “correcta” , dainterpretação exacta, mas simda exploração dosparadigmas subjacentes acada interpretação(cf.Fiorenza,1998).

No entanto, para queeste passo hermenêutico não se torne umjogo infindável de interpretações, no qualtodas as leituras têm validade, é precisovalidar uma escala de valores e de visões,em ordem a julgar a indeterminação dotexto e dos seus significados. Fiorenzaapresenta então, o último passo, queconsiste numa «hermenêutica datransformação radicalmentedemocrática» (cf.Fiorenza,1998). Asinterpretações devem ser avaliadas, parase saber se favorecem ou advogamvalores kyriocêntricos ou libertadores.Estes critérios de avaliação e esta escalade valores não podem ser estáticos: olugar da decisão e enunciação dosmesmos tem que ser a ekklesiaofwo/men como realidade e como visãopolítico-cultural e teológica: a primeiratarefa teológica de uma hermenêuticacrítica libertadora consiste em fazer umescrutínio e em assinalar até que pontodeterminados textos bíblicos edeterminadas interpretações promovemum ethoskyriarcal e uma visão religiosadesumanizante, que legitima a injustiça ea opressão.

KwokPui-lan comenta este percursodo seguinte modo:

«(…) Se a Bíblia foi o ‘grandecódigo´ subjacente à civilização ocidental[… ], as mulheres em todo o mundoreclamam, agora, o poder e a autoridadepara re- contar, reescrever e reinterpretareste importante documento. (Pui- lan,2005 )”

[“Referências bibliográficas” (…):corte das páginas 181 à 183.]

1/ -Mulierisdignitatem (1988).2/– Para uma análise mais detalhada

da antropologia subjacente aosdocumentos oficiais da Igreja católica

sobre as mulheres, cfToldy (1998:27-77).3/ A este propósito, cf, por exemplo,

Sacra Congregatio Pro DoctrinaFidei(1974…);Paulo VI (1971…);João PauloII (1981…, 1889…, 1992,…); Ratzinger(5/04/1991).

4/ A expressão provémoriginalmente de Judy Chicago, que autiliza na sua obra TheDinnerParty(1979).”.

Não é fácil debruçarmo-nos sobreeste tema com um otimismoconfortável, ainda que a espera emEsperança nunca nos deva faltar. Éconsolador termos presente que oEspírito de Jesus Cristo e o EspíritoSanto continuam a animar a Sua Igreja ea conduzi-la à novidade da “nova terrae novos céus”...

“As mulheres católicas esperam destaIgreja que amam em grau variado e àqual pertencem de pleno direito emrazão do seu baptismo, pelo qualcomungam no múnus profético,sacerdotal e real de Jesus Cristo, é queahierarquia se alicerce mais na práxis deJesus e no testemunho da Igreja nascenteque dava prioridade à FRATERNI-DADEe vivia na nova ordem radicaldos sexos, e, tendo em conta a evoluçãocultural das sociedades atuais, oiça osclamores das mulheres que pedem a suainclusão na Igreja de pleno direito, comopessoas adultas, livres e responsáveis. (…)

Page 7: Espiral 45

espiralllll 7

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

“De facto, “no princípio era a práticade Jesus. Nela estava a vida, e dela todase todos nós recebemos, por igual, graçae verdade. Começa assim um novomundo.” Tem continuado?!...

Como estaria a disposição originalda Oração que se segue, eu não sei.Encontrei-o em “texto corrido” earticulei-o assim:

“Senhor da minha alma,quando peregrinavas cá em baixo

sobre a terra não desprezastes asmulheres.

Mas pelo contrário, sempre asfavorecestes com muita benevolência

e encontrastes nelas tanto amor e atémais fé que nos homens.

No mundo Tu as honravas.Parece-me incrível não podermos

fazer publicamente algo de válido paraTi.

Que não ousemos dizer algumasverdades que choramos em segredo.

Que não devas escutar-nos quandoTe dirigimos um pedido justo.

Eu não creio, Senhor, porque confiona Tua bondade e justiça.

Vejo perspectivarem-se temposem que já não haverá razões para

subavaliar ânimos valiosos e fortespelos simples facto de serem

mulheres. “ Teresa d´Ávila, Caminho da Perfeição

“ Voltei para Nazaré (*), para aminha pequena casa, e percorri todos osseus caminhos, sentei-me em todas aspedras conhecidas … Voltei aos cenáriosdas nossas paisagens e às horas dasminhas alegrias e das minhas lágrimas.Porque o meu filho, é certo, iluminou-nos a todos com a sua vida e as suaspalavras. Mas para mim o melhorcontinua e há-de continuar a ser operfume concentrado daquelas vivas edoces recordações, as palavras caladas,que guardo com infinita ternura e quetodos os dias medito no meu coração.”( Maria de Nazaré)

Lamet, Pedro Miguel, As PalavrasCaladas, Diário de Maria de Nazaré(2005), Tenacitas, p. 281

Jesus era feminista. Isto é umanacronismo. Mas a afirmação éverdadeira, dizem estas mulheres. MariaJulieta Dias, freira das Religiosas doCoração de Maria, é uma dasparticipantes do Colóquio Internacionalde Teologia Feminista, iniciativafundadora da Associação Portuguesa deTeólogas Feministas, que hoje e amanhãdecorre em Lisboa. Nele irá defender a“afirmação anacrónica verdadeira” deque “Jesus era feminista”.

“No tempo de Jesus, o conceito defeminismo não existia”, diz Julieta Diasao P2. “Mas, se olharmos para a atitudede Jesus perante as mulheres, quando elastomam a iniciativa ou quando Jesus sedirige a elas, ele é um verdadeirofeminista, no sentido de reconhecer àmulher a mesma dignidade do homem.”E para Jesus, recorda, citando São Paulona Carta aos Gálatas, “não há judeu nemgrego, não há escravo nem livre, não háhomem nem mulher, pois são todosiguais em dignidade”.

Julieta Dias vai mais além: “Sealguma coisa há de diferente, é que, comas mulheres, Jesus se sente maisreconhecido e dá mesmo saltosqualitativos na inteligência da sua missão.”E guia-nos por episódios bíblicos paraconfirmar o que pretende dizer. Nodiálogo com a samaritana, que fazia partede um povo que não se dava com osjudeus, o judeu Jesus começa porentabular conversa e acaba a dizer-lheque é o messias. Uma revelação

surpreendente, contada no Evangelho deSão João. É que, por contraste, explicaJulieta Dias, em outros textosequivalentes, quando os discípulos lhedizem que é ele o messias, Jesus ordena-lhes que se calem.

Perante uma cananeia, estrangeira queprocura ajuda para a filha “cruelmenteatormentada por um demónio”, Jesusnão responde no primeiro momento echega mesmo a ser “antipático”,acrescenta a irmã Julieta. Depois dainsistência da mulher, ele acaba porceder, percebendo que a sua missão“não é confinada ao judaísmo, mas sedestina a todo o mundo”.

A Bíblia foi o ponto de partida dateologia feminista. Alguns dos trabalhospioneiros começaram por corrigir astraduções que enviesavam os textos coma terminologia masculina acerca de Deus,explica Teresa Toldy, autora do primeirolivro em português sobre o tema: Deus

Jesus era feminista,

dizem elasHá linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar aHá linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar aHá linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar aHá linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar aHá linguagens sobre Deus que moldam modos de ver e de configurar a

realidade, diziam as primeiras teologias feministas.realidade, diziam as primeiras teologias feministas.realidade, diziam as primeiras teologias feministas.realidade, diziam as primeiras teologias feministas.realidade, diziam as primeiras teologias feministas.Hoje, Portugal deixa de ser o único país da Europa a não ter umaHoje, Portugal deixa de ser o único país da Europa a não ter umaHoje, Portugal deixa de ser o único país da Europa a não ter umaHoje, Portugal deixa de ser o único país da Europa a não ter umaHoje, Portugal deixa de ser o único país da Europa a não ter uma

associação de teólogas feministas. Elas não querem ser padres. Antesassociação de teólogas feministas. Elas não querem ser padres. Antesassociação de teólogas feministas. Elas não querem ser padres. Antesassociação de teólogas feministas. Elas não querem ser padres. Antesassociação de teólogas feministas. Elas não querem ser padres. Antesajudar a reler imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja.ajudar a reler imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja.ajudar a reler imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja.ajudar a reler imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja.ajudar a reler imagens de Deus e o papel da mulher na Igreja.

Por António MarPor António MarPor António MarPor António MarPor António MarujoujoujoujoujoPúblicPúblicPúblicPúblicPúblicooooo, 18/11/2011, 18/11/2011, 18/11/2011, 18/11/2011, 18/11/2011

Page 8: Espiral 45

espiral8

página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspot.com * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected]

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

e a Palavra de Deus na TeologiaFeminista (ed. Paulinas), publicado em1998.

Não se trata apenas de passar a usaruma linguagem politicamente correcta,

diz Teresa Toldy, que é teóloga eprofessora universitária. “Só por isso, nãoadianta fazer teologia feminista. Mas ofacto de a linguagem mudar pode terum impacto directo na forma como aspessoas estabelecem a sua relação comDeus.”

Toldy cita os trabalhos pioneiros deElisabeth Schüssler Fiorenza nos EstadosUnidos. “Fez uma revisão da linguagemmachista das traduções bíblicas. Mas,como estava ligada a sociedadesantiesclavagistas, reconheceu, nalinguagem dessas traduções, formas desubmissão e escravidão da mulher.”

Há um terceiro episódio citado porJulieta Dias: quando Jesus visita umafamília de amigos, Marta censura a irmã,Maria, por se ter sentado a escutá-lo, emvez de a ajudar na lide de casa. Arepreensão reflecte a opinião de que asmulheres deviam tratar da casa, cabendoaos homens as tarefas públicas. Mas Jesus“não só aceita a iniciativa de Maria comoa louva por ela ter escolhido a atitudeda verdadeira sabedoria”. Porque escutaro mestre é a atitude do discípulo, notaJulieta Dias.

O lugar da mulherSeguidoras eram também várias

outras mulheres, acrescenta esta religiosa,

que diz ter chegado à teologia feministatambém depois de se pôr a estudar aBíblia. Os evangelhos contam que váriasmulheres acompanhavam Jesus, tendoalgumas colocado os seus bens ao

serviço do grupo, recorda.“Foram elas que tomarama iniciativa de aderir aomovimento de Jesus e elenão as rejeitou.” E, depoisda ressurreição, recorda, éàs mulheres que ele pedeque congreguem de novoos seguidores.

Portugal será, talvez, oúltimo país da Europa a teruma associação de teólogasfeministas, diz Teresa Toldy.Incluindo nesta afirmaçãoos países do Leste. Só emEspanha, são vários os

grupos, associações e cursosuniversitários nesta área.

Roser Solé Besteiros, formada emFilosofia, do Colectiu de Dones enl’Església, da Catalunha, que participatambém no colóquio de Lisboa, diz aoP2 que o objectivo da sua associação é“manter a atitude crítica em relação aosistema patriarcal em todas as suasdimensões”. E ajudar tambéma “mudar as estruturaspatriarcais da Igreja”. OColectivo de Mulheres naIgreja tem uma dimensãointerconfessional, não selimitando ao catolicismo, masa sua aposta fundamental é naformação na base, ajudandoa que as mulheres possaminteriorizar o seu lugarpróprio, explica.

“A teologia pretende dizerDeus a partir do lugar que seocupa”, diz Maria CarlosRamos, licenciada emTeologia pela Universidade CatólicaPortuguesa e que integra o Graal,movimento internacional de mulherescatólicas. O ser mulher é também umponto de partida, diz, e a Teologia comoárea do saber “tem cada vez mais

expressão e originalidade”. Umaassociação pode também estimular aspessoas interessadas a investigar nestaárea.

A teologia feminista, que se inicia nadécada de 1960, “continua a fazersentido no interior do catolicismo”, dizTeresa Toldy. Por causa das imagens“androcêntricas de Deus” e pela“insistência na masculinidade de Jesuscomo argumento para excluir asmulheres”.

Também está em causa, claro, o lugardas mulheres no interior da IgrejaCatólica e a possibilidade de acesso aosministérios – à ordenação como padres.Mas essa não é a questão fundamental,insistem todas. “Não gostamos que nosdigam que queremos ser padres. Aintenção não é repetir um modelo deIgreja que não nos agrada, mas contribuirpara um serviço onde caberiam tambémpessoas casadas”, diz Roser Solé. Etambém, por exemplo, definindo se oPapa é aquele que manda ou se é umprimus inter pares.

Roser admite que as igrejasprotestantes com mulheres pastoras ebispos não resolveram o problema doparadigma. “Não é uma mudança

rápida, é um processo lento e não setrata de fazer ascender a mulher a lugaresda hierarquia.” Cita o caso de Inglaterra,onde muitas pessoas recusam recebermulheres negras como pastoras, paradizer: “Há que reinventar a ecclesia, a

Page 9: Espiral 45

espiralllll 9

página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspot.com * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected]

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

Igreja, como comunidade aoserviço dos outros.”

As teologias feministas – o maisexacto é falar no plural, tendo emconta as diferentes correntes queexistem – vão desde as quepropõem uma linguagem igualitáriaàs que recuperam o discurso dadiferença, embora não paraestabelecer hierarquias, explicaTeresa Toldy.

Há também as que discutem aessência do cristianismo, na linha dateologia da libertação partindo daperspectiva dos mais pobres. Ou,ainda, as que analisam apermanência dos factores docolonialismo nas mentalidades.

Há as teologias que procuramencontrar o Jesus feminista e há asque dizem que o que importa é o sentidogeral do texto bíblico e da relação que,com ele, as pessoas vão estabelecendoao longo da história.

Se a Bíblia foi o ponto de partida, asteologias feministas afirmaram-se,depois, no estudo de um conjunto deáreas temáticas: desde logo a história daIgreja, recuperando fi guras de mulheresrelevantes, mesmo do ponto de vistateológico. Maria Madalena, ainda notempo de Jesus, várias líderes dascomunidades fundadas por São Paulo,abadessas e místicas como Hildegardade Bingen, Juliana de Norwich ou Teresad’Ávila são apenas alguns dos nomes deum largo panteão, cita Teresa Toldy. Nocaso de Teresa d’Ávila, diz a teóloga, ograu de complexidade dos seus escritos“é semelhante ao dos textos de São Joãoda Cruz”. Mas, como as mulheres nãopodiam ser teólogas, Teresa d’Ávila foidesignada como mística. Em 1970, oPapa Paulo VI acabaria por proclamá-la como “doutora da Igreja” – mas, deforma perversa, o documento doVaticano que diz que a Igreja não podemudar a prática de apenas ordenarhomens foi assinado, em 1976, no diada festa de Santa Teresa d’Ávila, a 15 deOutubro.

Hildegarda de Bingen, além de

compositora, médica e escritora,aconselhou e afrontou Papas e bispos edescreve visões com mulheres no altar,no lugar do padre. “É uma grandeerudita”, comenta Teresa Toldy.

A linguagem acerca de Deus,predominantemente masculina, podelegitimar uma ordem social patriarcal, dizTeresa Toldy. “Quando se fala dapaternidade de Deus, o que interessa éfalar da relação. Por isso, Deus pode servisto como pai, mas também comomãe.” E acrescenta: são metáforas, masas metáforas configuram tambémmodos de ver e de fazer. Julieta Dias vaià Bíblia buscar outro exemplo para dizero mesmo. No Evangelho de São Lucas,Jesus conta três parábolas sobre o amorde Deus, usando as imagens de umpastor, uma mulher e um pai. A do meiofala de uma mulher que

perde uma dracma e não descansaenquanto não a encontra. Em todas astrês há “a mesma dedicação e a mesmavontade de fazer festa” depois de seencontrar o que se perdera. O que,recorda, vem no seguimento dasimagens do livro de Isaías, no AntigoTestamento: “Sereis amamentados, sereislevados ao colo e acariciados sobre osjoelhos. Como a mãe consola o seu filho,assim Eu vos consolarei.”

O Espírito surpreende-nos!Inexplicável, contra todas as expectativas.Mexe connosco, com nossos hábitos,até estruturas tradicionalmentereconhecidas e assumidas, desinstala-nos, sentimo-nos na ‘corda bamba”…Provoca! Até nós duvidamos, se defacto é o Espírito que está presente enos estimula.

1. Despreocupado, caiu-medebaixo dos olhos, uma comunicaçãodo Cardeal Gianfrano Ravasi, feita noInstituto Francês – Centro São Luís –em Roma. Já há muito andava inquieto,insatisfeito, com muitas celebrações emque ocasionalmente participo. Homiliasacadémicas, teóricas, abstratas,desincarnadas. Sempre saía, arrependidodo tempo ali vivido. Perdido? Não. AFé ou os hábitos infundidos garantiam-me que Deus consegue sempre os seusobjetivos. Por isso, não há motivo paraalarmismos! “A Fé remove montanhase supera todos os obstáculos” – dizia-me... Vencido, não convencido! O Sr.Cardeal rotula muitos “sermões” como“incolores, inodoros e sem sabor”. Sinto nestaspalavras uma lufada de ar fresco. Ilusão?

Necessariamente, penso nas causas.Se um pastor preside a eucaristias emsérie, corre que corre, falta-lhe tempo,novidade, alegria, paz interior, liberdade.

Senhor, dai-nos pastores que nosajudem pela Tua palavra, saboreada.Ajudai os responsáveis da tua Igreja adiscernir e a atuar nas causas dosproblemas.

2. Onofre Tavares é um padrecasado, de Campinas, no Brasil. Vive osacerdócio entre o ideal que lhe foiimpedido e a realidade humana da suaopção. Como tantos de nós! E sonhaem servir, na sua condição deconsagrado. Um bispo amigo abriucaminho de esperança: “Vocês – os

NovosNovosNovosNovosNovosRRRRRumos!umos!umos!umos!umos!

Page 10: Espiral 45

espiral10

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

padres casados - não devem perguntar à

Igreja o que devem fazer, pois nesse assunto e no

tempo atual, ela não tem essa experiência. Vocês

devem ir fazendo. Com a atenção de vocês é que

ela vai aprendendo e conclui o que fazer nos

tempos atuais”. Palavras sábias? Não. Eudigo: palavras inspiradas. Longe de mimacicatar os amigos à indisciplina ourebeldia. Só um apelo de amigo! Vamosabrir-nos ao Espírito. Percamos o medode “mal comportadinhos” earrisquemos. “Há caminhos nãoandados” que esperam palavras decompreensão, de estímulo, deencorajamento, de bênção e perdão. Acaminhada que fizemos, fez muito bemà Igreja. Precisamos de ir mais além.Corajosos, alegres, afoitos! Para a nossarealização sacerdotal não precisamos deregressar às paróquias. São estruturaspesadas, entorpecidas. Libertemo-nos.

Entremos em grupos, formemo-los,pequenos, com dimensão humana, degente inquieta que busca a Verdade…Caminhemos por vias novas. “Não sedeita vinho novo em odres velhos…”Já reparaste nos horizontes, vastos, quese abrem mesmo nas tuas barbas? Nãoé fácil. Temos o peso da estrutura, danossa formação, do deixa correr. Maso tempo urge. O Espírito interpela enão se cala! Não esperes. Segue oimpulso do Espírito.

3. Parece que houve um inquéritoa alguns padres que desconheciam osmandamentos. Isto passou-se noVaticano. Mas podia ser entre nós. Nãome admiro, nem estranho. Memorizarverdades fundamentais da nossa Fé, nãosignifica viver a Fé. Não desculpo aignorância, mas não lhe atribuo um valorabsoluto. Não vai longe o tempo em

que se obrigavam as crianças, àmemorização, como condição a seremadmitidas à Profissão Solene... Houvemelhoria na prática religiosa destascrianças, dos seus pais e até da vida daparóquia? Tudo isto são partes de umproblema mais profundo que nos custaenfrentar. Temos medo de tomarconsciência! Ora é melhor viveradormecidos, na ilusão de que tudo estábem. Eis a questão: que opções – a nívelpessoal e de grupo - temos de fazer paravivermos Jesus, morto e ressuscitado?

O presente é cinzento. O Espírito estáconnosco. Precisamos ouvi-lo, e discerni-lo. Fala pelos diversos meios de quedispõe. Estejamos nós atentos edispostos a ouvir, melhor, dispostos aarriscar, vivendo Aquele em quemacreditamos.

JoJoJoJoJoaaaaaqqqqquim Souim Souim Souim Souim Soaresaresaresaresares

A associação de Antigos Alunosdo Seminário Diocesano do

Funchal celebrou o seu Dia Anual, nodia 4 do mês corrente, comemorandoao mesmo tempo os vinte e sete anosda sua criação. O encontro serviutambém para antecipar o convíviotradicional das festas natalícias.

Cerca de três dezenas de antigosalunos, certamente dos mais antigos,«mataram» as saudades de antigoscolegas, recordando vivências eepisódios da sua juventude nos espaçosdo Seminário que, apesar de tudo,marcaram definitivamente a sua vidacultural, religiosa, social e até familiar.

Como foi antecipadamenteinformado, veio de Leiria o vice-presidente da Associação de AntigosAlunos dos Seminários Portugueses,«UASP», recentemente criada, Dr.António Agostinho dos Santos Pereira,quem explanou, de forma acessível e

clara, os caminhos percorridos para asua criação.

Com efeito, segundo o orador, tudocomeçou com a realização doCongresso dos Antigos Alunos dosSeminários, em Fátima, em Abril de2009, em que tomaram parte cerca de350 congressistas. Um númeroconsiderável, mas muito aquém doscerca de cem mil alunos que nos últimoscinquenta anos frequentaram osSeminários, dos quais só uma pequenapercentagem ficou a fazer parte dos«escolhidos».

Cabe salientar que muitos dos outros,que foram «chamados mas nãoescolhidos», embora alimentem aindaum certo grau de gratidão ao Seminário,também conservam o negativismo daexclusão. Alguns até ostentam nacamisola a palavra «excluídos». Umaexclusão que sentem continuar pelostempos além, mas injustificável nos diaspós-conciliares. E essa foi uma dasconclusões do mesmo Congresso:contribuir para maior aproximação entreos antigos alunos, entre os chamados e

os escolhidos, e terminar de uma vezpor todas com a distância que os temseparado no tempo.

Segundo o António Agostinho, essetempo aproxima-se, e para tal deverácontribuir decididamente a «UASP»recentemente criada.

Um dos objectivos da UASPtambém ressaltado pelo orador, é aconsciencialização do antigo aluno doSeminário, como testemunho de vida nasociedade, portador dos valoresevangélicos apreendidos nos Seminários,de honradez, justiça, amor, paz,confraternização, equilíbrio entre o ter eo ser, para além da sua formação culturale intelectual, que os habilita a serem leigosresponsáveis na vida e acção pastoral damesma Igreja. Um potencial por vezesignorado, esquecido, desprezado ou atépropositadamente excluído!

Foi uma noite de «matar saudades»,de alegria, confraternização e reflexão,onde também fez gala a gastronomiaregional.

Recordando um passado em ordem ao futuro

Manuel GamaManuel GamaManuel GamaManuel GamaManuel GamaJorJorJorJorJornnnnnal dal dal dal dal da Madeiraa Madeiraa Madeiraa Madeiraa Madeira

AssociaçãoAssociaçãoAssociaçãoAssociaçãoAssociaçãode Antigos Alunos do Funchalde Antigos Alunos do Funchalde Antigos Alunos do Funchalde Antigos Alunos do Funchalde Antigos Alunos do Funchal

celebrou Dia Anualcelebrou Dia Anualcelebrou Dia Anualcelebrou Dia Anualcelebrou Dia Anual

Page 11: Espiral 45

espiralllll 11

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

No Encontro, numa tertúlia,vieram à baila os cânones do

Direito Canónico em vigor, desde 27/11/1983, promulgado por João PauloII, que passaram a constar nos rescritosenviados aos sacerdotes que pedem adispensa do exercício do MinistérioOrdenado, cujos cânones se transcrevem:c. 976 – Qualquer sacerdote, ainda que careça

da faculdade de ouvir confissões, absolve válida e

licitamente quaisquer penitentes que se encontrem

em perigo de morte, de todas as censuras e

pecados, ainda que esteja presente um sacerdote

aprovado; c. 986 § 2 – Em caso de necessidade

urgente, qualquer confessor tem obrigação de ouvir

as confissões dos fiéis; e em perigo de morte,

qualquer sacerdote.

Estes cânones transcritos do C.D.C.de 1983, que contém 1752 cc., pouco

diferem dos anteriormente referidos nosrescritos enviados aos sacerdotespeticionários da dispensa, cc. 882 e 892§ 2 do C.D.C. de 1917, que continha2414 cc. Houve redução significativa daquantidade de cc. no C.D.C. de 1983,tendo incluído no último (c. 1752) : […]tendo-se sempre diante dos olhos a salvação das

almas, que deve ser sempre a lei suprema na

Igreja. De qualquer maneira, ultrapassammuito os 613 preceitos contidos noslivros sagrados, com múltiplasinterpretações dos rabinos, que osfariseus bem conheciam. Tantas leis doshomens, que tanto se esquecem do tãofundamental mandamento do Amor!Foi a resposta à pergunta do doutor daLei: Qual o maior mandamento da Lei? Jesus,o Mestre, responde que é o amor a Deus,

No coração da Fraternit as, como no de Jesus,têm lugar privilegiado

os(as) marginalizados(as) e os Sinais dos T emposLuís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís CunhaLuís Cunha

F ez parte integrante do 30.ºEncontro Nacional daFraternitas uma Assembleia Geral

Extraordinária, na qual era ponto forte:“Discussão e deliberação quanto à viabilidadeda abertura da FRATERNITAS aconsagradas e consagrados não ordenados”.

Na discussão, foram ponderados: aidentidade e os objetivos que constamnos Estatutos da Fraternitas aprovadospela Conferência Episcopal Portuguesa;o respeito e profundo apreço devidosao genial e “santo” fundador já falecido,Cón. Filipe de Figueiredo; a conveniênciade aumentar o número cada vez mais

exíguo de sócios; a desvirtuação queadviria para a Associação se os Estatutosfossem alterados no sentido de admitircomo sócios pessoas que aí se nãoenquadram, no caso, consagrados(as) nãoordenados(as) desvinculados(as) dos seusvotos. Por tudo isto, da votação daproposta resultou um não aprovada por

maioria.

Outra viabilidade de abertura,porém, se apresentou, não a dosEstatutos, mas a do coração, ao jeito deJesus e também de acordo com o desejoe espírito do fundador, apóstolodestacado dos marginalizados. Quase

desde o início, em 1996, os Encontrosforam abertos a pessoas, mesmo nãosendo sócios, mas interessadas nos temasque sempre são desenvolvidos. Sempretender, de maneira nenhuma, desviar,quer sacerdotes, quer consagrados(as),apostarão, pois, na linha de comunhão,no acolhimento, também, das pessoasreferidas.

Os(as) consagrados(as) têm índole edinâmica próprias, especiais e únicas.Podem contar com a ajuda da Fraternitasaté para fundar as suas associações, seassim o pretenderem, ou até formaruma federação/união de associações.

FFFFFaculdade e obrigação canónicas deaculdade e obrigação canónicas deaculdade e obrigação canónicas deaculdade e obrigação canónicas deaculdade e obrigação canónicas deos sacerdotes dispensados do exercícioos sacerdotes dispensados do exercícioos sacerdotes dispensados do exercícioos sacerdotes dispensados do exercícioos sacerdotes dispensados do exercício

absolverem “em perigo de morte”absolverem “em perigo de morte”absolverem “em perigo de morte”absolverem “em perigo de morte”absolverem “em perigo de morte”a que junta oimprescindívele concomitan-te, sem falar emalmas, e amarás o

próximo como a ti

mesmo.

Parece nãocaber na dou-trina da Igreja,muito menosnas palavras re-feridas de Jesus, o desprezo e amarginalização de quem quer que seja.Tem sido feita caminhada, sim, mas comque lentidão (e às vezes insensatez)! 66anos distam do C.D.C. de 1917 para ode 1983, da correção (incorreta!) de“redução ao estado laical”, com que

Page 12: Espiral 45

espiral12

reflexãoreflexãoreflexãoreflexãoreflexão

julgaram ofender os leigos, para “perdado estado clerical” (cc. 290-293). Padres,sim ou não?! Resposta dada por muitos:“Nim”! E o caráter indelével dosacramento da Ordem? Os fiéis católicosdesertam… Não compreendem, porexemplo, embora todos irmãos, o todosao molho em: tanto quem pediu adispensa do exercício da Ordem eobteve essa graça com a de poderreceber outro sacramento (Matrimónio),como os penalizados, punidos,autodispensados, degradados,demitidos…

Voltando à tertúlia, foi lembrado queo grande Papa João XXIII, em 1959,anunciou ter decidido a reforma doCódigo de Direito Canónico de 1917,juntamente com a intenção de realizar oSínodo de Roma e de convocar oConcílio Ecuménico Vaticano II. Dadasas implicações daqueles cc., os presentesna tertúlia fizeram algumas constataçõese comentários:

a) No Código de Direito Canónico

Anotado – Edições Theológicas, Braga,1984 –, donde foram extraídos oscânones transcritos, diz-se que o novoCódigo foi promulgado a fim de que anova legislação se tornasse um meio eficaz para

que a Igreja possa aperfeiçoar-se, de acordo com

o espírito do Vaticano II, e cada dia esteja em

melhores condições de realizar a sua missão de

salvação neste mundo. Causa perplexidadeo facto de a esmagadora maioria dosfiéis desconhecer o disposto naquelescânones. Sabendo da corrente opinativa/decisória contra o disposto nosdocumentos do Concílio referido e queas diversas comissões que intervieram naelaboração do Código supostamente os

procuraram ter em conta, não sabem dequem (não) tem interesse nestadivulgação/ocultação.

b) Numa anotação do mesmo livroao c. 986 § 2, é referido o dom doperdão no Sacramento da Penitênciacomo uma acção graciosa da misericórdia

divina, mas que à Hierarquia foi conferidopor Cristo este dom salvífico, donde secita: Aqui é onde surge o direito do fiel, e o

correlativo dever de Bispos e sacerdotes de tornar

possível o exercício daquele direito. Portanto,

são claros o direito dos fiéis à absolvição,a faculdade e a obrigação de o padrecasado/dispensado/auto-dispensado/marginalizado do exercício das Ordensatender aqueles fiéis, e o correlativodever de a Hierarquia o tornar possível.Isto tem sido letra morta, pouco disto écumprido, o que é grave, sobretudo,neste tempo de míngua de proclamaçãoda Palavra salvífica de Deus. Mais grave,ainda que esporadicamente, o tempodestinado, na liturgia, à Palavra, oumisturado com ela, ser para palavrasperversas contra os padres dispensados/casados, e tantas vezes a fé no caráterindelével do sacramento da Ordem, queseria automaticamente afirmado ecompreendido, sai aniquilada com talpregação.

c) Reconheceram a importância dotema, motivador, por amor à Igreja/Povo de Deus, de uma proposta, depoisapresentada na Assembleia Geralreferida: Discussão e decisão quanto àfaculdade e obrigação canónicas deadministração do sacramento daPenitência em perigo de vida, por todosos sacerdotes.

Nesta Assembleia GeralExtraordinária, por falta de tempo, nãopôde ser cumprido esse desiderato doponto introduzido na Ordem deTrabalhos, mas ficou mais arreigada aconvicção de que é dever de todoscontribuir para que a credibilidadehumana da Hierarquia aumente e de queé urgente reconhecer e ler, atuandoseguidamente com coerência, os Sinaisdos Tempos em que Deus também Semanifesta, como, com frequência, referiaJoão XXIII.

Manuel Sousa Gonçalves abraçouem definitivo o Pai, em 20 denovembro de 2011, domingo,Solenidade de Cristo Rei

Nasceu em 20 de Maio de 1930, emS. Gens, concelho de Fafe (Braga).

Foi ordenado presbítero em 15 deagosto de 1954, em Braga. Exerceu a

profissão de professor. Residia emBagunte, Vila do Conde.

Era casado com Felisbela AzevedoLopes Sousa Gonçalves. Tiveram doisfilhos - Paulo Alexandre e Sónia Dulce.

O casal - sócio fundador nº25 -participou nos seguintes encontros:

*N a c i o n a i s ,Fátima, em1996 (no 2º),e 1998 (5º);

*Regionais noSameiro em1996 e 1997.

O AO AO AO AO Abrbrbrbrbraço do Paço do Paço do Paço do Paço do Paiaiaiaiai

Page 13: Espiral 45

espiralllll 13

notíciasnotíciasnotíciasnotíciasnotícias

Respondendo a um pedidodo mosso Presidente,acompanhei a nossa Secretá-

ria ao Seminário dos Missionários daBoa Nova, em Cucujães, para, a convitedo Superior Geral daquela Instituição,darmos o nosso contributo numareunião, a primeira, dos membros daSociedade Missionária da Boa Nova quedecidiram abandonar o exercício doministério.

No convite do Superior Geral aesses padres e irmãos leigos falava-seem reconciliação. É claro que umareconciliação pressupõe um exercício deboa vontade das duas partes: daInstituição e dos membros que seafastaram. A boa vontade da instituiçãoestava lá – era o convite do Superior. Ada outra parte também lá estava –naqueles que vieram.

Como o tempo aplana muitosescolhos, as mentalidades mudam, ospróprios indivíduos amadurecem.Então vai-se atenuando a agudeza dosagravos e o passar dos anos ensina areconhecer o justo alcance daquelesincidentes que outrora foram causa dedesentendimento.

Este novo Superior Geral estavapreocupado, falava em reconciliação.Não podendo juridicamente fazerreverter o afastamento acontecido, deuum sinal de que a Instituição pensatambém naqueles irmãos que seafastaram, começando por lhes dar umaprimeira ajuda afectiva: és um amigo.

Do outro lado está alguém queachou que fez o que devia ser feito, queconsiderou o casamento como umaopção legítima e respeitável. Se issoimplica a cessação do exercício doministério, então que seja, fica leigo. Mas,em termos práticos, a instituição Igreja

nem sequer o atributo de leigo lhesreconhece, pois recusa atribuir-lhestarefas que permite aos leigos.

Quando o nosso Presidente daFraternitas me pediu para acompanhara nossa Secretária a essa reunião parafalarmos da nossa experiência dasprimeiras reuniões da nossa associação,não pude recusar.

A meu ver, aquela reunião correubem. Apareceram vários elementos queforam da SMBN, alguns com asrespectivas esposas. Sentámo-nos todosno mesmo plano formando um largocírculo.

O Presidente/Superior Geralcomeçou por saudar todos os presentes,agradecendo-lhes a comparência. Emseguida deu a palavra ao primeiro acontar da esquerda.

Um a um, todos foram descrevendoa traços largos o seu caso. Tal comoacontecia nos nossos primeirosencontros da Fraternitas. No que diziamnotava-se que havia mágoa pelo nãoreconhecimento do trabalho realizadoenquanto estiveram ao serviço daInstituição, por alguma arbitrariedade naforma como foram tratados e,sobretudo, pelo ostracismo a que foramvotados. Depois, agradeciam o convitepara estarem ali. Vivendo sós, uns, ecasados, outros, faltava-lhes o contactodaqueles com quem haviam crescido epartilhado o mesmo ideal. Por issoexprimiam satisfação por voltarem denovo à casa onde se formaram e ondepassaram anos felizes.

Pela Fraternitas foi dito que nosrevíamos naquela reunião, historiámosum pouco o que tem sido o nossodesenvolvimento e pusemo-nos àdisposição para o que for necessário.

O Superior, jovem ainda, afável e

compreensivo, soube escutar e entendera situação de cada um e manifestouinteresse pelos seus problemas. Mesmonão tendo a possibilidade de mudar asituação jurídica da cada um, porque nãodepende dele, fez-lhes sentir que podemcontar com a SMBN. E, sobretudo,restabeleceu os laços de afectividadecom estes irmãos. Porque a Instituiçãofaz parte integrante do percurso da vidade cada um deles, este convite foi umreatar da conexão ao ideal que osformou, cujos valores cultivarão portoda a vida na situação concreta em quese encontram.

Este encontro de irmãos desavindoscom a sua Instituição terá sido o iníciode um novo relacionamento, novo porcomeçar agora e novo por ser diferente.Agora assenta em premissas decompreensão e de aproximação, que,embora nada mudando no terreno,mudou tudo em termos deentendimento. A alma serenou, a alegriavoltou. Mesmo ficando tudo na mesmaem termos legais.

Aquela fotografia do conjunto, tiradano claustro junto do monumento deNossa Senhora, será bem o sinal de quealgo de novo começou ali.

REUNIÃO NO SEMINÁRIO DE CUCUJÃES,

DA SOCIEDADE MISSIONÁRIA DA BOA NOVAJoão SimãoJoão SimãoJoão SimãoJoão SimãoJoão Simão

Page 14: Espiral 45

espiral14

notíciasnotíciasnotíciasnotíciasnotícias

Foi a FRATERNITAS convidada aparticipar num Encontro com os “Ex-Membros (Padres e Irmãos) “ daSMBN, em Cucujães, no passado dia 15de outubro, através de uma palestra oumesa redonda. O objetivo desteencontro foi o de “reunir os ex-membros da SMBN numa jornada dereflexão e confraternização”. Assim senos dirigiu o Pe. Albino dos Anjos,Superior Geral: “Move-nos o desejo derefletir convosco sobre as relações queexistem entre cada um de vós e estaInstituição e, se possível, aprofundar eincrementar os laços existentes, os quaisexprimem o compromisso de serviço àIgreja e à Missão.

A SMBN vive este ano pastoral soba luz da “reconciliação”. Acredito ecelebro esta expressão da fé cristã, comocontínua fonte da nossa redenção. Juntode si gostaria de a testemunhar comoirmão em Cristo. A nossa missão visaconcretizar a redenção na vida dohomem nas suas múltiplas formas deexpressão. (…)”. Noutro momento,reafirmou-nos ser importante terpresente: “ Motivar a reconciliaçãoonde há corações feridos: não apagaro carisma que está em nós, nos quese afastaram. Como ser ou comosomos pedras vivas na Igreja?” E anós especificamente, a questão:

“Como é que a FRATERNITASpromove a reconciliação dos membrosconsigo mesmos, com a Igreja, com asua Diocese e/ou Instituto, com Deus?”

Estiveram presentes da nossa parteo primeiro presidente da direção, a atualsecretária e o casal Reis. Da SMBN, 15membros acrescidos de 4 esposas e ofilho de um dos membros.

Sendo o seu primeiro encontro,em tudo foi semelhante às primeirasreuniões da Fraternitas. O nossoalinhamento previsto foi assim alteradoe adaptado às circunstâncias, ao tempo

e ao momento. Para começar colocámosum texto à consideração da“assembleia”, magistralmente todoscolocados em círculo, sobrereconciliação pensando em I Pedro 2,23-24 e Isaías 5, 37: “Ao sofrer, nãoameaçava, antes, punha a sua causa nasmãos d´Aquele que julga com justiça…Por Suas feridas fomos curados.”Reproduzo tal texto do irmão Roger(Comunidade de Taizé,1989), comvários cortes, após pedidos da suadivulgação: “Tu que, sem olhar para trás,queres seguir o Cristo, prepara-te comuma vida cheia de simplicidade, paralutar com um coração reconciliado. Nolugar que te cabe, não receies a luta (…).A palavra por si só, pode transformar-se numa droga. Custe o que custar,prepara-te também para a luta dentrode ti mesmo, para que te encontrem fiela Cristo até à morte. Com estacontinuidade de uma existência inteira,constrói-se em ti uma unidade interiorque permite transpor todos osobstáculos. Lutar com um coraçãoreconciliado supõe manter-se firme nomeio das mais fortes tensões. Longe deabafar as tuas energias, uma luta assimconvida-te a concentrar todas as tuasforças vivas. Talvez tuas intenções sejam

mal interpretadas. Se recusares perdoar,se recusares a reconciliação, onde estará,em ti, o reflexo de Cristo? Em umaoração para o opositor, quanta treva emti! Se perderes a misericórdia, terásperdido tudo. Sozinho, não podes fazermuita coisa em favor do outro. (…) Oque caracteriza aqueles que buscam areconciliação é que, seguindo a Cristo,desejam mais cumprir que abolir,compreender do que exortar. Mantêm-se no interior, até que as própriasfragilidades da Igreja se transfigurem.Ao invés de acender fogos de palha, dáa tua vida até ao fim, ela se tornará, diaapós dia, criação com Deus.”

“(…) não apagar o carisma queestá em nós, nos que se afastaram.(…)”

Ora se um carisma for como umarco-íris, ele está lá… Se corrermos paraele - está mais lá! Nessa corrida afastamo-nos de facto de algo, que deixámos paratrás, mas aproximamo-nos de outroalgo, mais além, que queremos alcançar!...Qual é, onde está a meta?!

Se os objetivos foram alcançados departe a parte? Para tal início da caminhadaou corrida, cremos que sim. Esperemosem Esperança que sejam para continuar.Este tipo de encontros poderiacontinuar, tendo o atual Superior Geralencetado tal caminhada ou corrida.

O arco-íris também está em nós.Como presença do Espírito Santo, domgratuito oferecido tanto aos movimentoscomo aos cristãos, para que uns e outrostestemunhem e “façam” Igreja noMundo e santidade no coração.

E tal como os outros aFRATERNITAS recebeu 2 livros:“Missionários da Boa Nova – 75 anosde memória (1930 – 2005)”, maio de2007, 587 páginas e - “SociedadeMissionária da Boa Nova-1930-2005-Documentos da Fundação eOrientação”, 2007, 183 páginas, ambosde Pe. Manuel Castro Afonso.

«O seu primeiro encontro, em tudo, foi semelhante às

primeiras reuniões da Fraternitas.»UrUrUrUrUrtélia Siltélia Siltélia Siltélia Siltélia Silvvvvvaaaaa

«Sinto-me profundamente emcomunhão com vosso sentido depresença e amor à Igreja o qual nosfaz a todos moldar nossa vida deacordo com jesus Cristo.

Alegro-me de ter dado um singelocontributo na construção da Igreja.

Agradeço vossa presença, vossaspalavras e partilha connosco.

De minha parte, guardarei em meucoração, em lugar bem quentinho, amemória deste encontro. Portodos,em oraçao, vos recordareidiante de Deus Pai

P.e Albino dos Anjios, SMBN

Page 15: Espiral 45

espiralllll 15

frafrafrafrafraternitternitternitternitternitasasasasas

O Bento XVI propôs asvirtudes da família comoexemplo para resolver a

crise económica, ao receber osparticipantes da jornada “Família,empresa: superar a crise com novasformas de solidariedade”,organizada pela FundaçãoCentesimus Annus.

Durante a audiência, o papadestacou que o mundo do trabalho,da economia e da empresa têm quese guiar pela cáritas, pelo amor,porque “o modelo familiar dalógica do amor, da gratuidade e dadoação tem uma dimensãouniversal”.

O pontífice explicou que ajustiça comutativa e a distributivanão são suficientes na convivênciasocial: “Para a verdadeira justiça, énecessária a gratuidade e asolidariedade.”

“A solidariedade é todos sesentirem responsáveis por todos;por isso ela não pode ser deixadasó nas mãos do Estado.”

“Antes, pensava-se que a justiçavinha primeiro e a gratuidadedepois, como um complemento,mas hoje é necessário dizer que sema gratuidade não se consegue nemsequer a justiça.”

O papa indicou que “não édever da Igreja definir as vias paraencarar a crise actual”. “Porém”,prosseguiu, “os cristãos têm o dever dedenunciar os males, testemunhar e mantervivos os valores em que se fundamenta adignidade da pessoa, e promover asformas de solidariedade que favorecemo bem comum, para que a humanidadese torne a família de Deus”.

O presidente da Fundação

«Virtudes da família, exemplo para

resolver crise», afirma Bento XVI

Centesimus Annus, DomingoSugranyes, explicou que “mesmo nasgravíssimas tensões e incertezas queenfrentamos em nosso trabalhoempresarial”, a Fundação tentacontribuir com a “nova

evangelização de que o mundomoderno precisa urgentemente”.

Por isso, anunciou o lançamentode um curso virtual de doutrina socialda Igreja, organizado em estreitacolaboração com a UniversidadePontifícia Lateranense.

Na segunda jornada daconferência de dois dias, em 14 de

outubro, os debates se desenvolveram demaneira especialmente viva, comexperiências pessoais sobre temas comoo assistencialismo, benefícios sociais,mercado, produtividade, solidariedade,empresas sociais, sempre cotejados com

a doutrina social da Igreja.O reitor de Ciências Políticas da

Universidade Católica de Milão,Alberto Quadrio Curzio, explicou aZENIT que “às vezes há equívocosporque cada um de nós tem umaexperiência pessal de vida concreta”.“O aluno tende a exagerar o que faz,e nem sempre se dá conta de que avida cotidiana é mais complexa. Oempresário, por sua vez, insiste no seupróprio negócio”.

Devem-se focar “os valorescomuns, que devemos não só viver,mas aprender a comunicar partindoda nossa experiência”.

Para o reconhecido economista,o ápice do congresso foi “a naturezapolivalente da solidariedade: dentroda família, também quando ela seenfraquece, podemos reconstruí-laparticipando em comunidades maisamplas de solidariedade, em formasassociativas”.

O congresso destacou aCentesimus Annus, que vê a empresacomo uma comunidade e acomunidade familiar como modelopara a empresa.Os participantes apontaram que os

bens económicos devem ficar em funçãodo trabalho e da pessoa, visão que aencíclica Caritas in veritate aprofunda,propondo a lógica da gratuidade e dodom, não como filantropia, mas comorelação de responsabilidade esolidariedade em que todos devemsentir-se responsáveis por todos.

Z e n i tZ e n i tZ e n i tZ e n i tZ e n i t

Page 16: Espiral 45

Continuamos em alegree ativa esperança

espi

ral

Bo

letim

d

e Fr

ater

nit

as

Mo

vim

en

to

|

Tr

imest

ra

l |

Bo

letim

d

e Fr

ater

nit

as

Mo

vim

en

to

|

Tr

imest

ra

l |

Bo

letim

d

e Fr

ater

nit

as

Mo

vim

en

to

|

Tr

imest

ra

l |

Bo

letim

d

e Fr

ater

nit

as

Mo

vim

en

to

|

Tr

imest

ra

l |

Bo

letim

d

e Fr

ater

nit

as

Mo

vim

en

to

|

Tr

imest

ra

l |

Red

acçã

o:

Fer

na

nd

o Félix

|

PR

ed

acçã

o:

Fer

na

nd

o Félix

|

PR

ed

acçã

o:

Fer

na

nd

o Félix

|

PR

ed

acçã

o:

Fer

na

nd

o Félix

|

PR

ed

acçã

o:

Fer

na

nd

o Félix

|

P .Ta

M

alm

eq

uer

es,

4 -

3.º

Esq

|

2745-8

16 Q

UEL

.Ta

M

alm

eq

uer

es,

4 -

3.º

Esq

|

2745-8

16 Q

UEL

.Ta

M

alm

eq

uer

es,

4 -

3.º

Esq

|

2745-8

16 Q

UEL

.Ta

M

alm

eq

uer

es,

4 -

3.º

Esq

|

2745-8

16 Q

UEL

.Ta

M

alm

eq

uer

es,

4 -

3.º

Esq

|

2745-8

16 Q

UEL UUUU U

Z |

E-m

ail

: fer

nfelix

@gm

ail

.co

mZ |

E-m

ail

: fer

nfelix

@gm

ail

.co

mZ |

E-m

ail

: fer

nfelix

@gm

ail

.co

mZ |

E-m

ail

: fer

nfelix

@gm

ail

.co

mZ |

E-m

ail

: fer

nfelix

@gm

ail

.co

m

«NATALMais uma vez, cá vimos

Festejar o teu novo nascimento,Nós, que, parece, nos desiludimos

Do teu advento!Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!

Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,Festejar-te, - do fundoDa miséria que somos.

Os que à chegadaTe vimos esperar com palmas, frutos, hinos,

Somos - não uma vez, mas cada -Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;

Mas por trinta moedas te entregamos;E por temor, negamos o teu nome.

Sob escárnios e ultrajes,Ao vulgo te exibimos, que te aclame;

Te rojamos nas lajes;Te cravejamos numa cruz infame.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,Como um farol de salvação,

Sobre as cidades em que ferve extremosA nossa corrupção.

Os que em leilão a arrematamosComo sagrada peça única,

Somos os que jogamos,

Para comércio, a tua túnica.Tais somos, os que, por costume,

Vimos, mais uma vez,Aquecer-nos ao lume

Que do teu frio e solidão nos dês.Como é que ainda tens a infinita paciência

Continuamos à espera.Continuamos à espera.Continuamos à espera.Continuamos à espera.Continuamos à espera.É isso mesmo o que é o Advento, os quatro domingos de espera até ao dia em que Deus Se fez menino eÉ isso mesmo o que é o Advento, os quatro domingos de espera até ao dia em que Deus Se fez menino eÉ isso mesmo o que é o Advento, os quatro domingos de espera até ao dia em que Deus Se fez menino eÉ isso mesmo o que é o Advento, os quatro domingos de espera até ao dia em que Deus Se fez menino eÉ isso mesmo o que é o Advento, os quatro domingos de espera até ao dia em que Deus Se fez menino e

veio viver entre nós, e o advento de todos os dias, em que rezamos: «Vem, Senhor Jesus!»veio viver entre nós, e o advento de todos os dias, em que rezamos: «Vem, Senhor Jesus!»veio viver entre nós, e o advento de todos os dias, em que rezamos: «Vem, Senhor Jesus!»veio viver entre nós, e o advento de todos os dias, em que rezamos: «Vem, Senhor Jesus!»veio viver entre nós, e o advento de todos os dias, em que rezamos: «Vem, Senhor Jesus!»sem esta esperança que renasce, sem esta visita do amor que se faz vida, andariamos inquietos.sem esta esperança que renasce, sem esta visita do amor que se faz vida, andariamos inquietos.sem esta esperança que renasce, sem esta visita do amor que se faz vida, andariamos inquietos.sem esta esperança que renasce, sem esta visita do amor que se faz vida, andariamos inquietos.sem esta esperança que renasce, sem esta visita do amor que se faz vida, andariamos inquietos.

José RégioJosé RégioJosé RégioJosé RégioJosé Régio

De voltar, - e te esquecesDe que a nossa indigência

Recusa Tudo que lhe ofereces?Mas, se um ano tu deixas de nascer,

Se de vez se nos cala a tua voz,Se enfim por nós desistes de morrer,Jesus recém-nascido! o que será de

nós?!»

A todosA todosA todosA todosA todos

Um SantoUm SantoUm SantoUm SantoUm Santo

e Fe Fe Fe Fe Felizelizelizelizeliz

NNNNNatatatatatalalalalal