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QU QU QU QU QUAL SERÁ O FUTUR AL SERÁ O FUTUR AL SERÁ O FUTUR AL SERÁ O FUTUR AL SERÁ O FUTURO DA FRA A FRA A FRA A FRA A FRATERNIT TERNIT TERNIT TERNIT TERNITAS AS AS AS AS Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa espiral ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N ANO xi - N.º 41 - oUTUBR .º 41 - oUTUBR .º 41 - oUTUBR .º 41 - oUTUBR .º 41 - oUTUBRO / dEZEMBR O / dEZEMBR O / dEZEMBR O / dEZEMBR O / dEZEMBRO de 2010 O de 2010 O de 2010 O de 2010 O de 2010 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento Passou o Dia de Todos os Santos e seguiu-se a comemoração dos Fiéis Defuntos. Nestas datas, que se repetem todos os anos, dei por mim a reflectir no futuro que nos espera. Muitos dos associados já estão na eternidade, gozando a felicidade dos Santos e contemplando a face de Deus, Pai de misericórdia e do Amor por excelência. A lista já é muito grande e, mais tarde ou mais cedo, lá teremos de partir. A FRATERNITAS FOI CONCEBIDA para unir as pessoas que foram dispensadas do exercício das ordens sacras, que optaram por uma vida de família, através do casamento, e que em determinado tempo andavam cada um para seu lado, num isolamento mais ou menos acentuado, dados os condicionalismos que nos foram impostos. Numa palavra mais agressiva, fomos quase todos marginalizados e em muitos casos abandonados à desgraça de sermos uma espécie de “ralé” na sociedade, que nos ostracizou sem piedade. Houve gente que passou mal, nalguns casos até a fome bateu às suas portas e foi muito dura a adaptação à nova situação. Éramos um rebanho disperso, quase ainda como agora, cada um com os seus espinhos, e longe uns dos outros, sem podermos ajudar-nos numa linha de solidariedade e caridade concreta. Neste aspecto, temos de prestar homenagem ao Padre Filipe de Figueiredo, que se lembrou de nós e começou por nos convocar à medida que ia descobrindo o nosso paradeiro. Com muitos encontros e retiros, fomo-nos juntando por diversas vezes, sempre em Fátima, aos pés de Nossa Senhora, e foi-se criando um grupo cada vez maior, que culminou na Associação Fraternitas Movimento, mais tarde reconhecida pela Conferência Episcopal Portuguesa, caso único no mundo. O ESPIRAL é o órgão oficial desta associação, com periodicidade trimestral, que vai anunciando a quem o lê os nossos anseios e a nossa vida inserida nas comunidades e na pastoral da Igreja. Vamos continuar, enquanto pudermos, nesta linha, dando os nossos testemunhos, vivendo em comunidade e partilha com todos que nos rodeiam e conhecem, vivendo a fé em Jesus. Somos um grupo de pessoas, que, quando nos encontramos, difundimos alegria e paz à nossa volta. Encontramo-nos pelo menos duas vezes ao ano e é sempre o mesmo espectáculo. UMA COISA ME/NOS PREOCUPA: estamos cada vez mais avançados em idade, temos bastantes viúvas e viúvos e não temos recebido gente nova, para continuar a Fraternitas , daqueles que pediram a dispensa das obrigações sacerdotais. Somos uma cela da Igreja actual, com defeitos e virtudes, como todos os outros. Não somos mais nem menos. Somos cristãos, vivemos intensamente e com algum sentido crítico os problemas que existem a todos os níveis, e não vislumbramos o tal sangue novo que possa rejuvenescer o Movimento. Precisamos de gente nova e de novos sócios, para podermos ter a certeza que o grupo não morre, quando desaparecerem os fundadores. Temos contactos de muitos, comunicamos com eles, dialogamos, não somos saudosistas, nem “beatos”, como já alguém nos chamou. Homens e mulheres de fé e dinâmicos em todos os aspectos, queremos contribuir com seriedade para uma Igreja viva e renovada, dentro das linhas do Evangelho. Todos não somos demais para tarefa tão árdua e complexa. Cada um dá o que tem de melhor e mais profundo por esta causa, que depende essencialmente de pessoas conscientes e livres. OS SINAIS DOS TEMPOS são muitos e evidentes demais para não cruzarmos os braços. Temos (CONTINUA NA PÁGINA 2)

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QUQUQUQUQUAL SERÁ O FUTURAL SERÁ O FUTURAL SERÁ O FUTURAL SERÁ O FUTURAL SERÁ O FUTUROOOOODDDDDA FRAA FRAA FRAA FRAA FRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASAS Serafim de SousaSerafim de SousaSerafim de SousaSerafim de SousaSerafim de Sousa

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Passou o Dia de Todos os Santos e seguiu-se acomemoração dos Fiéis Defuntos. Nestas datas, quese repetem todos os anos, dei por mim a reflectir nofuturo que nos espera. Muitos dos associados já estãona eternidade, gozando a felicidade dos Santos econtemplando a face de Deus, Pai de misericórdia edo Amor por excelência. A lista já é muito grande e,mais tarde ou mais cedo, lá teremos de partir.

A FRATERNITAS FOI CONCEBIDA paraunir as pessoas que foram dispensadas do exercíciodas ordens sacras, que optaram por uma vida de família,através do casamento, e que em determinado tempoandavam cada um para seu lado, num isolamento maisou menos acentuado, dados os condicionalismos quenos foram impostos. Numa palavra mais agressiva,fomos quase todos marginalizados e em muitos casosabandonados à desgraça de sermos uma espécie de“ralé” na sociedade, que nos ostracizou sem piedade.

Houve gente que passou mal, nalguns casos até afome bateu às suas portas e foi muito dura a adaptaçãoà nova situação. Éramos um rebanho disperso, quaseainda como agora, cada um com os seus espinhos, elonge uns dos outros, sem podermos ajudar-nos numalinha de solidariedade e caridade concreta. Nesteaspecto, temos de prestar homenagem ao Padre Filipede Figueiredo, que se lembrou de nós e começou pornos convocar à medida que ia descobrindo o nossoparadeiro. Com muitos encontros e retiros, fomo-nosjuntando por diversas vezes, sempre em Fátima, aospés de Nossa Senhora, e foi-se criando um grupo cadavez maior, que culminou na Associação FraternitasMovimento, mais tarde reconhecida pela ConferênciaEpiscopal Portuguesa, caso único no mundo.

O ESPIRAL é o órgão oficial desta associação,com periodicidade trimestral, que vai anunciando a

quem o lê os nossos anseios e a nossa vida inseridanas comunidades e na pastoral da Igreja. Vamoscontinuar, enquanto pudermos, nesta linha, dando osnossos testemunhos, vivendo em comunidade epartilha com todos que nos rodeiam e conhecem,vivendo a fé em Jesus. Somos um grupo de pessoas,que, quando nos encontramos, difundimos alegria epaz à nossa volta. Encontramo-nos pelo menos duasvezes ao ano e é sempre o mesmo espectáculo.

UMA COISA ME/NOS PREOCUPA: estamoscada vez mais avançados em idade, temos bastantesviúvas e viúvos e não temos recebido gente nova, paracontinuar a Fraternitas, daqueles que pediram adispensa das obrigações sacerdotais.

Somos uma cela da Igreja actual, com defeitos evirtudes, como todos os outros. Não somos mais nemmenos. Somos cristãos, vivemos intensamente e comalgum sentido crítico os problemas que existem a todosos níveis, e não vislumbramos o tal sangue novo quepossa rejuvenescer o Movimento. Precisamos de gentenova e de novos sócios, para podermos ter a certezaque o grupo não morre, quando desaparecerem osfundadores. Temos contactos de muitos, comunicamoscom eles, dialogamos, não somos saudosistas, nem“beatos”, como já alguém nos chamou.

Homens e mulheres de fé e dinâmicos em todos osaspectos, queremos contribuir com seriedade para umaIgreja viva e renovada, dentro das linhas do Evangelho.Todos não somos demais para tarefa tão árdua ecomplexa. Cada um dá o que tem de melhor e maisprofundo por esta causa, que depende essencialmentede pessoas conscientes e livres.

OS SINAIS DOS TEMPOS são muitos eevidentes demais para não cruzarmos os braços. Temos

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NOTíCIASNOTíCIASNOTíCIASNOTíCIASNOTíCIAS

plena consciência disso. Há muita coisa que precisade mudar! O nosso Movimento apela à união entretodos os que têm consciência, para que, em cada hora,se procure a santidade dos homens, único caminhoque leva a Deus, que ama sem limites a todos, deu avida por nós, venceu a morte com a Sua ressurreição.Ele vive connosco para sempre, no meio das multidõese no coração de cada um. Vamos dar-nos a Ele semmedo e sem hesitações, pois venceu o mal.

O PADRE FILIPE passou para o Pai há sete anos,mas a sua obra tem de continuar a chamar por todos,a segredar aos corações que «só com Eleencontraremos a paz e a felicidade que desejamos».Ele foi um homem de causas que pareciam perdidas,mas que o não foram graças à sua teimosia,determinação, e ao seu desígnio de entrega aos outros,mesmo que isso obrigasse a grandes sacrifícios.Conseguiu muito com poucos meios, sempre levadopela fé que movia montanhas e ultrapassava osobstáculos. Saibamos honrar a sua memória,caminhando em frente na intransigência da nossaentrega à Fraternitas, que ele nos deixou e pela qualtemos de dar graças a Deus. Unidos venceremos!

Já lá vai o encontro/retiro de Novembro, onde ahomenagem a este Homem culminou com o livro quelhe é dedicado, e que foi superiormente coordenadopelo Dr. Alípio Afonso, onde se lê na capa “uma vida

ao serviço dos outros”. Está de parabéns o autor, estátambém de parabéns a Fraternitas, por ter conseguidouma obra destas em tempo recorde. A dedicação, aentrega a um trabalho desta envergadura, para a pessoaque se pretende homenagear, e tudo feitogratuitamente, não há na terra como pagá-lo. Só Deuspode compensar tal gesto e atitude. Só uma palavra:OBRIGADO, e também à Câmara Municipal deEstarreja, que, em homenagem a um filho da terra,patrocinou esta obra.

Os proventos do livro destinam-se à construçãodo Centro Social N.ª SR.ª do Amparo – EspaçoIntergeracional, na terra do Cónego Filipe, que nosdeixou repentinamente, depois de ter comunicado aum grupo de homens este seu grande sonho. Compremo livro, é uma forma simples de ajudar e se quiserempodem fazer-se sócios da obra como beneméritos,fundadores ou associados. O E-Mail é:[email protected]; telefone: 234086020.

Continuemos a sonhar, acreditemos na ProvidênciaDivina e as coisas boas hão-de acontecer.

(CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1)

Sou um dos muitos co-autores. O meu papel é o dearquitecto final sobre quem recaiu a tarefa de ideali-zar o trabalho, carear os materiais, burilá-los e distri-buí-los pelas diversas áreas do edifício, cujo trabalhofinal, di-lo-ia La Palisse, tem, assim, a matriz do meuADN.

O desejo de fazer-se um Memorial escrito da As-sociação Fraternitas Movimento vem de longe. Partiudo nosso saudoso assistente espiritual – Cónego Fili-pe de Figueiredo.

Luís Gouveia é uma das pedras basilares, na medidaem que foi o primeiro a pôr em prática o desejo doCónego Filipe, mediante recolhas fotográficas, recortesda imprensa e a organização de uma síntese sobre osEncontros em Fátima.

A pedra angular é do nosso actual presidente,Serafim de Sousa, ao decidir, há um ano, implementare, desde logo pôr em prática, a elaboração doMemorial. As dezenas de pedras interligadas queformam o corpo do edifício, na sua maioria, sãosubscritas por muitas e muitos de nós, sócios.

Manuel Filipe é o grande impulsionador, aoassumir-se, em nome da Fundação Cónego Filipe deFigueiredo, os custos da publicação e distribuição.

Eu fui, ainda, o ‘estafeta’, agora chegado à meta.No seu percurso, o peso foi sentido em casal. A

Zélia experimentou-o sempre que precisou de mim eme julgou ausente. Imagino que terá chegado a pensar

Homenagem vivencial da FUma Vida ao Ser

No dia 21 de Novembro, em Fátima, foiapresentada a obra Padre Filipe Figueire-do. Uma vida ao serviço dos outros. To-maram a palavra D. Serafim Ferreira e

Silva, bispo emérito de Leiria-Fátima, queclassifica o Cónego Filipe com quatro «P»:Padre, Professor, Peregrino, Profeta; o Dr.Artur Oliveira, com uma dissertação bíbli-

ca sobre a diferença entre tratar Jesuspelo Seu nome e, portanto, ter uma rela-ção interpessoal, e tratá-Lo pelo conceito«Cristo», que se associa a um estatuto;também Manuel Filipe de Figueiredo,

continuador da obra social pensada peloseu tio, e, por fim, o Dr. Alípio, cujas

palavras reproduzimos.

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Alípio M. AfonsoAlípio M. AfonsoAlípio M. AfonsoAlípio M. AfonsoAlípio M. Afonso

Delicadeza, amor natalício

José SilJosé SilJosé SilJosé SilJosé Silvvvvva Pinta Pinta Pinta Pinta Pintooooo

ReflexãoReflexãoReflexãoReflexãoReflexão

que me perdera de Amores ou de Alzheimer peloscaminhos, quando memantinha em casa, agar-rado ao computador.

Feito um primeiro es-boço com a maioria dosmateriais dispo-níveis,distribuí-o, via e-mail,por seis obreiros, solici-tando-lhes os reparospossíveis. Com as res-postas, recebi váriasanotações, nem todascoincidentes, mas com-plementares no conjun-to. O Luís Cunha foi oanalista mais abrangente.

A Zélia continuou afazer de primeira leitora,atenta à semântica e sin-

taxe de todos os textos, especialmente dos elabora-dos e adaptados por mim.

O Luís, como clássico competente e exigente,prosseguiu a tarefa de passar a pente fino a pontua-ção e semântica finais. Graças a ele foram aqui e alidetectadas e evitadas ligeiras e novas duplicações enovas gralhas. O papel do Luís foi, assim, impres-cindível.

Termino com a seguinte mensagem, porconsiderá-la perfeitamente aplicável à personalidadedo nosso Cónego Filipe de Figueiredo e, de algummodo, a cada um de nós:

«- Aprendi a tirar pedras do caminho para poderavançar. Os heróis são todos os que fazem o que énecessário.

- Aprendi que plantar o próprio jardim é melhorque ficar à espera de alguém que me traga flores.

- Aprendi que a mim pertence apostar nospróprios talentos e realizar os próprios sonhos.

- Aprendi a aceitar os familiares e amigos quenão mostram amar-me muito; que tal não é sinónimode não me amarem muito; que talvez seja o máximoque conseguem e que isto é o mais importante.

- Aprendi, olhando o tempo que passa e não volta,a descruzar os braços, vencer o medo e seguir atrásde novos sonhos.»

encial da Fraternitasida ao Serviço dos Outros

Depois, ou a seguir às qualidades naturais dequalquer ser humano que pretenda viver e conviver empaz e de bem consigo próprio e em sociedade, pareceser a delicadeza - de sentimentos, palavras, acções eomissões - a virtude mais apreciável.

As qualidades naturais estão ao alcance de qualquerum de nós: honestidade, honradez, lealdade, exactidão,recta intensão, por exemplo, e são imprescindíveis aoser humano sociável.

A delicadeza pode ser a educação elevada ao seugrau mais sublime. Poderá ser idêntica a educação subtil,cortesia, urbanidade, afabilidade, ternura, brandura,suavidade, mimosidade, leveza, promorosidade,susceptibilidade simples, atenção às coisas pequenas.É comparável ao amor que S. Paulo define em1Cor 13.

Ao contrário, a falta de delicadeza, ao menosprimária, converte-se em impaciência, maldade, inveja,vaidade, intolerância, orgulho, soberba, inconveniência,egoísmo, desconfiança, deslealdade, injustiça, mentira,arrogância, teimosia, presunção, e outras quepercebemos como nocivas para a vida pessoal, familiare social.

Pode-se ser ateu, laico, agnóstico ou semelhante eser-se delicado.

Pode ir-se a caminho da perfeição humana e/ou cristãe ser-se já delicado em grau quase sumo.

Mas não pode ser-se santo sem ser-se sumamentedelicado. Nunca faltou esta delicadeza a um santo. Muitomenos consta ou se ouviu dizer que algum santo fossegrosseiro ou semelhante.

Ao contrário, jamais um pecador ou transgressorinveterado em qualquer sentido pode ser, algum dia,razoavelmente delicado.

A delicadeza toca, muito de perto, a perfeiçãohumana e/ou cristã.

Um transgressor contumaz, nem de perto, nem delonge, é capaz de tocar, nem minimamente, esta virtudeda delicadeza. São antagónicos, opostos.

A delicadeza verdadeira é mel. A sua falta ouausência é fel.

Sem delicadeza não se vai a lado nenhum.Com delicadeza humana e cristã podem transpor-se

montanhas e conseguir-se, com menos custo, chegar-seonde se deseja ou necessita.

A delicadeza não se conquista nem obtém de um diapara o outro. Exige renúncia, ter o crucifixo na mão eestar no crucifixo. Sem delicadeza, seja bispo, chefe deEstado ou o que for, na verdade, nada sou.

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DOSSIERDOSSIERDOSSIERDOSSIERDOSSIER

Trinta e nove papasforam casados

Sou padre católico romanoSou padre católico romanoSou padre católico romanoSou padre católico romanoSou padre católico romano

casado. Queria falar-vos decasado. Queria falar-vos decasado. Queria falar-vos decasado. Queria falar-vos decasado. Queria falar-vos de

uma crise que atingiu a nossauma crise que atingiu a nossauma crise que atingiu a nossauma crise que atingiu a nossauma crise que atingiu a nossa

Igreja católica romana: há umaIgreja católica romana: há umaIgreja católica romana: há umaIgreja católica romana: há umaIgreja católica romana: há uma

alarmante falta de padresalarmante falta de padresalarmante falta de padresalarmante falta de padresalarmante falta de padres

celibatárioscelibatárioscelibatárioscelibatárioscelibatários11111. Essa falta é tão. Essa falta é tão. Essa falta é tão. Essa falta é tão. Essa falta é tão

grave que muitas paróquiasgrave que muitas paróquiasgrave que muitas paróquiasgrave que muitas paróquiasgrave que muitas paróquias

estão a ser forçadas aestão a ser forçadas aestão a ser forçadas aestão a ser forçadas aestão a ser forçadas a

encerrarencerrarencerrarencerrarencerrar22222. Simultaneamente,. Simultaneamente,. Simultaneamente,. Simultaneamente,. Simultaneamente,

um em cada três padres casou.um em cada três padres casou.um em cada três padres casou.um em cada três padres casou.um em cada três padres casou.

Ou seja, há um grande númeroOu seja, há um grande númeroOu seja, há um grande númeroOu seja, há um grande númeroOu seja, há um grande número

de padres disponíveis parade padres disponíveis parade padres disponíveis parade padres disponíveis parade padres disponíveis para

assumir paróquias.assumir paróquias.assumir paróquias.assumir paróquias.assumir paróquias.

Os padres casados continuama ser padres, mas já não sãoclérigos. Vejamos a diferença entrepadre e clérigo: o padre estácomprometido numa vocação deserviço, que é um chamamentoespiritual de Deus. Clérigo é o queocupa uma posição organizacionalna Igreja institucional.

Quando um padre casa, é-lheretirado o estado clerical. Masmantém a plenitude do sacerdócio.Deve ser designado por “ex-clérigo”. Muitos, erradamente,usam o termo “ex-padre”. É queele foi ordenado para ser padre,não para ser clérigo. A ordenaçãoé permanente, nos termos docânon 290 do Código do DireitoCanónico (CIC).

Há 29 leis eclesiásticas quehabilitam os católicos a recorreraos serviços dos padres casados.Por força do cânon 290 e

PPPPP.....eeeee John Shuster John Shuster John Shuster John Shuster John Shusterwwwwwwwwwwwwwww.rent.rent.rent.rent.rentapriestapriestapriestapriestapriest.c.c.c.c.comomomomomTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João Simão

atendendo à nossa preparaçãoespecífica, à nossa ordenação e adoze séculos de tradição católicaromana, no casamento os padresmantêm o papel de dirigir o povocomo Jesus fez.

Nós, padres casados, NÃOabandonámos a fé. Continuamos aajudar os católicos em necessidadee esperamos a completa reinte-gração logo que seja rescindida alei humana do celibato.

No limiar deste terceiro milénio,30 % de todos os padres estão agoracasados. Sente-se que Deus nosestá a chamar para a nossa tradiçãocatólica primitiva. E, uma vez quea sociedade finalmente reconheceuàs mulheres a igualdade de direitos,é tempo de também a Igreja lhesgarantir igualdade no múnuspastoral. Na realidade, muitospadres casados e esposas ministramcomo casal.

Padres e Clérigos

PPPPPadradradradradreseseseses

casados nacasados nacasados nacasados nacasados na

IgrejaIgrejaIgrejaIgrejaIgreja

prprprprprimitivimitivimitivimitivimitivaaaaa

São muitos os fundamentoshistóricos da existência dosacerdócio casado. Durante osprimeiros 1200 anos da vida daIgreja, padres, bispos e 39 papasforam casados3. O celibato existiuno primeiro século entre oseremitas e os monges, sendoconsiderado como um estilo de vidaopcional, alternativo. Foi a políticamedieval que introduziu adisciplina do celibato obrigatóriopara os padres.

Recordemos as palavras deJesus: «Tu és Pedro e sobre estapedra edificarei a minha Igreja.» S.Pedro, o papa mais próximo deJesus, era casado. No Evangelho hátrês referências à esposa de S. Pedro,à sua sogra e à sua família. Combase na lei e nos costumes judaicos,podemos admitir com toda asegurança que todos os apóstolos,talvez com excepção do jovemJoão, foram casados e tinhamfamília4.

Os padres casados e suasesposas foram os primeirospastores, os primeiros bispos e osprimeiros missionários. Eleslevaram a mensagem de Jesus atodas as culturas, protegendo-a commuitos trabalhos. Guiaram oprimeiro crescimento da jovem efrágil Igreja e ajudaram-na asobreviver a numerosas persegui-ções.

O Papa João Paulo IIreconheceu isto quando em 1993disse publicamente que o celibatonão é essencial ao sacerdócio5. Estadeclaração formal constitui umagrande promessa no sentido deresolver o problema da falta desacerdotes celibatários.

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Influência romanaInfluência romanaInfluência romanaInfluência romanaInfluência romana

na Igrejana Igrejana Igrejana Igrejana Igreja

Igreja

de famíliasA Igreja primitiva era uma malha

de pequenas comunidades ba-seadas em famílias ao longo daregião mediterrânica. A vida eramarcada por um sentido de alegreexpectativa. Jesus disse que voltariae os primeiros cristãos acreditavamque viria em breve. Orientados porpadres casados encontravam-se nascasas uns dos outros para acelebração da Eucaristia. Convi-davam estranhos para a partilha dopão e do vinho. Ninguém eraexcluído da comunhão. Osestranhos rapidamente ficavamamigos, aderiam à nova Igreja etraziam outros para escutarem aBoa Nova de Jesus.

A Sagrada Escritura documentaque, na Igreja primitiva, padres ebispos eram casados. No NovoTestamento, na primeira carta aTimóteo, capítulo 3, versículos 1 a7, S. Paulo analisa as qualidadesnecessárias para ser bispo.Descreve um pai «sóbrio,ponderado», chefe de família quegoverna bem a própria casa. S.Paulo fundou muitas pequenascomunidades deixando-as nas mãosde padres e bispos casados.

A chefia da Igreja era baseadano serviço e era responsávelperante o povo. Todos os membrosda Igreja tinham uma palavra nacomunidade. Tal como lemos nosActos dos Apóstolos, capítulo 15,versículo 22, as decisões de grupoeram tomadas em concordânciacom toda a comunidade. A Igrejaprimitiva é descrita comodemocrática, em que a liderançaescutava a comunidade e respondiaàs suas necessidades.

Como foi que se chegou à grande instituição que hoje temos? O quefoi que aconteceu ao sacerdócio casado?

Tudo começou no ano 313, quando o imperador Constantino legalizouo cristianismo dentro do império romano. Com esta legalização, a Igrejaprimitiva evoluiu de um grupo perseguido de pequenas comunidadespara se tornar a fé oficial duma potência mundial sob o imperadorTeodósio, no ano 380.

As intenções de Constantino ao adoptar o cristianismo não eraminteiramente espirituais6. Sentindo a sua liderança desafiada por grupospolíticos, ele precisava de afirmar o seu poder. Forçando os outrospolíticos a tornarem-se cristãos era um teste à sua lealdade.

Constantino serviu-se da nova religião como um instrumento efectivopara extirpar os seus inimigos. Com isso reforçava o seu poder político.Constantino também se deparava com a necessidade de unificar muitospovos que os seus exércitos tinham subjugado. O cristianismo foi a chavepara estabelecer uma nova identidade romana nos povos conquistados.Na aparência fê-los cristãos para salvarem as suas almas, mas, narealidade, esta nova religião foi o acto final da conquista sobre eles.

Referências1. Commonweal. October 11, 1991.2. The Journal for the Scientific Study of Religions. December 1990.3. Kelly, J. N. D. Oxford Dictionary of Popes. New York, Oxford Press. 1986.4. Padovano, A. Joseph’s Son. National Catholic Reporter. April 12, 1996.5. Time Magazine. July 1993.6. Grant, M. Constantine the Great: The Man and His Times. New York, Charles

Scribner and Sons. 1993.

DOSSIERDOSSIERDOSSIERDOSSIERDOSSIER

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RRRRReformas da Igreja do Impérioeformas da Igreja do Impérioeformas da Igreja do Impérioeformas da Igreja do Impérioeformas da Igreja do Império

Sendo o cristianismo a religião oficial do impérioromano, muitas coisas mudaram rapidamente naIgreja:

- Aos padres das pequenas comunidades foi dadoum estatuto social especial entre os novos amigosromanos. Já não tinham necessidade de se esconderdos soldados romanos, nem de temer pela vida. Pelocontrário, eram pagos pelos serviços que prestavamcomo sacerdotes e gozavam de privilégios especiaisna sociedade romana.

- Aos bispos foi concedida autoridade civil eatribuída jurisdição sobre os povos das suas áreas7.

- Os romanos, que eram membros da elite localdominante, rapidamente se converteram aocristianismo, seguindo as ordens do imperador. Erampessoas treinadas na vida pública e peritos em política8.Fizeram-se ordenar de padres e rapidamenteascenderam a posições de liderança na Igreja.

Agora ordenados, estes políticos romanostrouxeram para a Igreja as atitudes impessoais elegalistas de governo:

- A celebração da Eucaristia passou de pequenasreuniões familiares para o que agora designamos por“missa”, envolvendo grandes assembleias de pessoasem grandes edifícios. A missa transformou-se numritual altamente estruturado à semelhança dascerimónias da corte imperial romana. Foi destainfluência romana que derivaram os actuaisparamentos, as vestes, os ritos de genuflectir e deajoelhar, bem como a estrita formalidade da missa.

- Emergiu uma estrutura eclesial institucional àimagem da do Governo romano. Grandes edifícios,tribunais eclesiásticos, chefes e súbditos começarama substituir as pequenas comunidades de base familiarassistidas por um sacerdócio casado local.

Os novos padres romanos trataram de retirar a

autoridade aos padres casados das pequenascomunidades a fim de consolidarem o poder políticoà sua volta. Com o auxílio do império romano, aliderança da Igreja transformou-se numa hierarquia quese foi afastando das suas origens familiares paraadquirir a mentalidade romana duma classe dominanteque estava acima do homem da rua9.

Outras mudanças aconteceram que deslocaram aênfase do povo para as preferências dos políticosromanos. A Igreja adoptou a prática romana de seremsó os homens os detentores da autoridadeinstitucional. Há sólidas provas históricas de que asmulheres exerceram funções sacerdotais antes destetempo10.

Mulheres sacerdotisasMulheres sacerdotisasMulheres sacerdotisasMulheres sacerdotisasMulheres sacerdotisas

na Igna Igna Igna Igna Igrrrrreja preja preja preja preja primitivimitivimitivimitivimitivaaaaaEm 494, terminava a participação das mulheres na

liderança das pequenas comunidades: o Papa Gelásiodecretou que as mulheres não podiam mais seradmitidas ao sacerdócio11. Esta legislação é talvez aprova mais forte que temos de que as mulheresdesempenharam as funções de líderes espirituais naIgreja primitiva. O papel das mulheres na Igrejadiminuía à medida que papas e bispos marchavam emsintonia com as autoridades romanas.

7. Straus, B. R. The Catholic Church. David and Charles,England. P. 37.

8. Torjesen, K. J. When Women Were Priests. Harper SanFrancisco. 1993. P. 155.

9. Straus, B. R. The Catholic Church. David and Charles,England. P. 34.

10. Torjesen, K. J. When Women Were Priests. Harper SanFrancisco. 1993. P. 34.

11. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecturepresented at Call To Action, Chicago. 1994.

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Celibato obrigatório: ataque às mulheres

e à intimidade

No século XII, a hierarquia da Igreja foi dominadapor uma mentalidade legalista e negativa. Num esforçopara estabelecer uniformidade e controlo, bispos epadres celibatários deram grande ênfase ao pecado eà culpa. Quem sofria com estas tendências era o povo.

Foi durante este período da História da Igreja queo casamento depois do divórcio foi declarado pecado.Os divorciados re-casados não podiam comungar. Atéentão, os casamentos eram julgados em tribunal,consensualmente dissolvidos e os cônjuges ficavamlivres para voltar a casar e podiam comungar16.

Entretanto, outra dinâmica política entrava aquiem jogo. A hierarquia eclesiástica medieval estava emluta pelo poder com várias monarquias e famílias reais

Com o tempo, o celibato assumiu o estatuto de umaespiritualidade especial. A fim de o promover, certasfacções denegriam a santidade do matrimónio e da vidafamiliar. A prática romana da abstenção de relaçõesmaritais para manter a energia antes de uma batalhaou de um evento desportivo entrou na prática litúrgica.Aos padres era ordenado que se abstivessem daintimidade com as esposas na noite antes de celebrarema missa. A mensagem daí decorrente foi a de que asexualidade e o casamento já não eram santos.

O celibato tornou-se ainda outra oportunidadepolítica nas mãos de padres e bispos ambiciosos.Usaram o estilo de vida celibatário como instrumentopolítico para enfraquecer a influência dos padrescasados. Partindo da hierarquia, começou a emergiruma atitude negativa para com as mulheres e asexualidade, atitude essa que estava em forte contrastecom a perspectiva de família saudável, central na Igrejaprimitiva12. Assim se colocava o celibato no grau maiselevado da santidade e se promovia a eventualsupressão do sacerdócio casado.

Por exemplo, em 336 o Papa Dâmaso iniciou oassalto ao sacerdócio casado declarando que os padrespodiam continuar a casar, mas não eram autorizadosa expressar sexualmente o seu amor pelas esposas13.Padres e povo rejeitaram esta lei. No ano de 385, o

Papa Siríaco abandonou a esposa e os filhos paraconseguir ser papa. Decretou imediatamente que ospadres não podiam mais ser casados, mas foi incapazde impor a concordância a esta lei ultrajante14.

Ao longo dos mil anos seguintes, desenvolveu-se,na teologia da Igreja, uma ética sexual não natural.Esta nova preocupação legalista com a sexualidadeera contrária ao relacionamento humano normal edesfasada da ordem natural da vida tal como Deus aprogramou. Continuou a ser muito depreciativa paracom as mulheres.

Em 401, Santo Agostinho escrevia que «nada é tãopoderoso a puxar para baixo o espírito do homem comoas carícias de uma mulher»15. A atitude que daí nascecontra a sexualidade e as mulheres destinava-se acontrolar os aspectos íntimos da vida das pessoas. Estadinâmica continua até hoje.

Por serem homens de família, os padres casadospodiam descobrir a agenda política que estava pordetrás da obsessão da hierarquia relativamente àsexualidade. Os padres casados estavam solidárioscom as pessoas e faziam o seu melhor para quebrar oscontinuados esforços da hierarquia romana para ganharpoder de controlo sobre eles e suas famílias.

europeias. Tendo a capacidade de controlar oscasamentos reais, Roma compreendeu que podiainfluenciar alianças políticas e manipular negócios deEstado17. Em resultado deste novo esforço paracontrolar as alianças reais, com a negação do acesso àcomunhão e aos sacramentos, quem era punidoimediatamente eram as pessoas comuns que sedivorciassem e voltassem a casar. Era-lhes negada aplena participação na vida da Igreja porque nãocondescendiam com o querer das autoridadeseclesiásticas. O estatuto legal substituiu a espiri-tualidade como marca de santidade e de boa reputaçãona Igreja institucional, o que ainda hoje é uma poderosainfluência.

Acaba a Sagrada Comunhão p ara divorciados re-casados

12. Ranke-Heinemann. Eunuchs For The Kingdom Of Heaven. Doubleday. New York. 1990. P. 100 ff; 13. Barstow, A. L.Married Priests and the Reforming Papacy: The Eleventh-Century Debates. The Edward Mellen Press. Lewiston, NY. 1982. P. 21;

14. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecture presented at Call To Action, Chicago. 1994; 15. Padovano, A. Ibid.;16. Mackin, Theodore. Divorce and Remarriage. Paulist Press. 1984. P. 116; 17. Mortimer, R. Angevin England 1154 - 1258.

Blackwell. Oxford, U. K. P. 28.

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Na crescente atmosfera de poder e legalismo, certospapas medievais abusaram da sua autoridade18. No anode 1075, o Papa Gregório VII declarou que ninguém,excepto Deus, pode julgar o papa. Introduzindo oconceito de infalibilidade, foi ele o primeiro papa adecretar que Roma nunca pode errar. Mandou fazerestátuas à sua imagem, colocando-as nas Igrejas detoda a Europa. Insistia que todos deviam obediênciaao papa e que todos os papas são santos mercê da suaassociação a S. Pedro19.

A hierarquia via nos padres casados um obstáculoà sua ânsia de controlo total de Igreja, pelo quefocalizou contra eles um ataque em duas frentes. Porum lado, usou o celibato obrigatório para atacar edissolver as famílias sacerdotais influentes em toda aEuropa e no mundo mediterrânico, em particular. Poroutro, reclamava a propriedade das igrejas e das terraspertencentes aos padres casados. Como proprietáriade terras, a hierarquia medieval sabia que conquistariao ambicionado poder político em toda a Europa. Umbenefício adicional da posse de terras era o dinheiro.Teria então a capacidade para cobrar impostos aosfiéis e levar dinheiro pelas indulgências e pelosministérios sacramentais20. Esta prática contribuiumuito para a reforma protestante e para a divisão dacomunidade católica no século XVI.

O ataque ao sacerdócio casado aumentou deintensidade no século XI. Em 1074, o Papa GregórioVII decretou que todo o candidato à ordenação deveprimeiro fazer voto de celibato. Continuou o ataquecontra as mulheres afirmando publicamente que «aIgreja não se pode libertar das garras do laicado a nãoser que primeiro os padres se libertem das garras dasesposas»21. Num espaço de 20 anos as coisas deramuma volta para o pior.

Em 1095, houve uma escalada de força brutalcontra os padres casados e suas famílias. O PapaUrbano II ordenou que aqueles padres casados queignorassem as leis do celibato fossem presos para obem das suas almas. Mandou que as esposas e os filhosdesses padres casados fossem vendidos como escravose o dinheiro revertesse para os cofres da Igreja22.

O esforço da hierarquia medieval para consolidaro poder eclesiástico e se apoderar dos bens dasfamílias dos padres casados teve êxito em 1139. Alegislação que efectivamente pôs fim ao celibatoopcional dos padres veio do II concílio de Latrão, sobo Papa Inocêncio II23. A verdadeira motivação paraestas leis era o desejo de adquirir terras em toda aEuropa a fim de fortalecer a base do poder papal. Asleis que exigem o celibato obrigatório para os padresusavam uma linguagem de pureza e de santidade, masa verdadeira intenção era a de solidificar o controlosobre o baixo clero e eliminar qualquer desafio aosintentos políticos da hierarquia medieval.

Um homem audaz, o bispo italiano de Imola, Ulrico,argumentou que a hierarquia não tinha o direito deproibir a casamento dos padres e aconselhou bispos epadres a não abandonarem a respectivas famílias. Disseque «se o celibato for imposto, os padres cometerãopecados muito piores do que a fornicação»24. [Onúmero de casos recentes, largamente publicitados, depadres envolvidos em abusos sexuais vieram darcrédito ao bom bispo Ulrico. Aparecem cada vez maisprovas científicas de conexão entre o celibatoobrigatório e os abusos sexuais dos padres.]

A respeitável tradição do sacerdócio casado foivirtualmente destruída pelas novas leis do celibato.Com a supressão do sacerdócio casado e com adesvalorização das mulheres na Igreja, ficaram abaladasas saudáveis origens familiares da nossa fé.

Infalibilidade é umconceito humano

Celibato: ataque

aos padres casados

“Os padres irão cometer“Os padres irão cometer“Os padres irão cometer“Os padres irão cometer“Os padres irão cometerpecados muito piores dopecados muito piores dopecados muito piores dopecados muito piores dopecados muito piores do

que a fornicação”que a fornicação”que a fornicação”que a fornicação”que a fornicação”

18. Padovano, A. Power, Sex, and ChurchStructures. A lecture presented at Call To Action,

Chicago. 1994.19. Padovano, A. Ibid.

20. Mortimer, R. Angevin England 1154 - 1258. Blackwell. Oxford,U. K. P. 105-112.

21. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecturepresented at Call To Action, Chicago. 1994.

22. Ranke-Heinemann. Eunuchs For The Kingdom Of Heaven.Doubleday. New York. 1990. P. 110.

23. Celibacy, Canon Law of. The New Catholic Encyclopedia. NewYork. McGraw Hill. 1967.

24. Barstow, A. L. Married Priests and the Reforming Papacy:The Eleventh-Century Debates. The Edward

Mellen Press. Lewiston, NY. 1982. P. 112.25. Gallup Survey of CatholicOpinion, May 15 - 17. 1992.

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Muitos dos problemas com que hoje nos debatemosna Igreja podem ser remetidos ao período da históriamedieval do cristianismo. Mas, no dealbar do séculoXXI, parece que Deus nos chama outra vez para aortodoxia das nossas origens como Igreja. Nos últimos25 anos casaram mais de 100 mil padres católicosromanos em todo o mundo e muitos continuamdiscretamente a exercer o seu sacerdócio. Nos EUA,um em cada três padres católicos romanos é hojepadre casado e continua a crescer o número de padresque se casam.

O casamento abriu a estes padres uma novaperspectiva. Eles exercem o seu sacerdócio com umacompreensão mais profunda das pessoas e dos desafiosa que elas estão sujeitas.

Actuando em casal, os padres casados prestamassistência religiosa nos hospitais quando não hápadres celibatários, assistem os casais que, porqualquer razão, estão deslocados da sua paróquia local.Os padres casados entendem as necessidadesespeciais dos católicos que se divorciaram e desejam

Os padres, para poderem passar do celibato aocasamento, não tiveram outra alternativa senão a deassinar papéis do Vaticano dos quais se inferia queeles realmente nunca tinham tido vocação para osacerdócio, que são psicologicamente instáveis, oumoralmente fracos. Ora é exactamente o contrário queé verdade. Os padres casados agiram guiados peloEspírito Santo e responderam com convicção e amorao seu chamamento abrangente. Muitos católicosamericanos reconheceram formalmente a sua coragem,especialmente aqueles que os contactaram através doprograma Rent-A-Priest. A nível nacional 70 % doscatólicos quer que os padres que casaram retomem oministério como padres casados na Igreja católica ro-mana25. Têm ficado impressionados com a integrida-de dos padres casados e com a compreensão compas-siva que evidenciam para com as pessoas apanhadasem situações difíceis.

Cento e dez mil padres casadosem todo o mundo

contrair um segundo matrimónio. O público tem dadoindicações de que aprecia o seu estilo tranquilo e asua abordagem prática dos problemas da vida.Particularmente as mulheres, não raro, ficamprofundamente sensibilizadas com a honestidade e orespeito que os padres casados demonstram pelasesposas e com a compreensão e o apoio que eles dãoàs questões femininas.

70 %dos Americanos desejampadres casados

Além da afirmação do Papa João Paulo II de que ocelibato não é essencial para o sacerdócio, tem havidono Vaticano outros desenvolvimentos promissores arespeito dos padres católicos casados.

A maior parte dos católicos não se dá conta de queRoma tem vindo a ordenar ministros protestantescasados atribuindo-lhes paróquias aqui nos EUA.Nalguns casos, estes ministros protestantes, agorasacerdotes católicos, substituíram padres forçados adeixar as paróquias por terem casado. Roma permite-lhes que permaneçam casados e providencia apoio àssuas famílias.

Há estudos que mostram que os custos do apoio auma família de um padre casado são, por vezes,menores do que a um celibatário com governanta eoutros auxiliares.

“O celibato não é essencial“O celibato não é essencial“O celibato não é essencial“O celibato não é essencial“O celibato não é essencial

parparparparpara o sacera o sacera o sacera o sacera o sacerdócio”dócio”dócio”dócio”dócio”

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O VATICANO ORDENA MINISTROS PROTESTANTESCASADOS

A maioria dos novos padres católicos casados é deepiscopalianos que deixaram a sua tradição pelo factode a Igreja Anglicana da Inglaterra ser a favor daordenação de mulheres. Ao ordenar ao sacerdócio maisde 100 ministros protestantes casados, o Vaticanorestabeleceu de facto o sacerdócio casado na Igrejacatólica romana. Agiu com base na afirmação do papade que o celibato não é essencial ao sacerdócio. Coma ordenação de ministros protestantes casados oVaticano mudou as regras. Ao fazê-lo, criou umprecedente que é o de que os católicos podem agorater padres casados a celebrar a missa e os sacramentose que há leis eclesiásticas que permitem isso. Pelo seupróprio exemplo, Roma anunciou claramente aomundo uma nova aceitação pública na Igreja de padrescatólicos casados.

Na verdade, o celibato obrigatório é uma leihumana, justamente como a antiga regra que proibiamulheres ao altar. Estas práticas disciplinares não sãonecessárias para a nossa fé como católicos romanos.Tais regras podem ser, e têm sido, alteradas. Deparamo-nos hoje com o encerramento de paróquias por causada lei do celibato. Com um simples golpe de pena o

Vaticano poderia levantar a disciplina do celibatoobrigatório para todos os padres. Fazendo-o, poderiamobilizar mais de 110 mil padres em todo o mundo ereabrir todas as paróquias que foi forçado a encerrar.

O Papa João Paulo II trabalhou outra iniciativa queenvolve padres casados. Existem cerca de 20 ritosdiferentes na Igreja universal: a Igreja católicabizantina, a de rito caldeu, a do rito copta, só paracitar alguns exemplos. Nem todos estes ritos estão emcomunhão com Roma, mas João Paulo II fez tentativaspara unificar todos os ritos numa família eclesial. Nasua maior parte, os ritos orientais têm vindo a manterao longo dos séculos a tradição do sacerdócio casadoe desejam continuar com essa tradição em qualquernova aliança.

A declaração de João Paulo II de que o celibatonão é essencial para o sacerdócio tem a dupla vantagemde resolver a carência de clero na nossa tradiçãoromana e de estabelecer os fundamentos de umacompreensiva e agradável unidade eclesial em todo omundo. O futuro da Igreja contém muitosdesenvolvimentos promissores em cuja implementaçãoos padres casados desempenharão um papel chave.

Leis canónicas: o público tem de fazer a petição

Cada uma das leis da Igreja tem a denominação decânon. O corpo das leis eclesiásticas - Código deDireito Canónico (CIC) - formou-se logo após aimposição do celibato obrigatório. Parece que o santomonge Graciano, que foi quem formulou a lei canónica,estava consciente da perseguição injusta de queestavam a ser alvo os padres casados e suas famílias.Talvez por isso ele tenha introduzido no códigocânones que os poderiam proteger e permitir que osacerdócio casado se venha a restaurar um dia.

Há 21 cânones que permitem aos fiéis recorrer aospadres casados. Gostaria de tocar em dois destescânones para explicar como qualquer pessoa podeestar à vontade para recorrer à ajuda de padres casados.

O cânon 290 é muito especial26. Fala dapermanência da ordenação sacerdotal. Cito: «A sagradaordenação, uma vez recebida validamente, nunca seanula.»

Este cânon confirma que os padres católicoscasados continuam a ser padres válidos em boaposição. Os sacramentos que administrem sãosacramentos válidos. Muita gente pensa que um padrequando casa fica excomungado e deixa de ser padre.Mas o cânon 290 diz-nos que isso não é verdade. Éno espírito deste cânon que nós nos designamos por“padres católicos romanos casados”.

Deverá ter ouvido dizer que os sacramentosadministrados por padres casados são válidos, mas nãolícitos. Isso é tecnicamente correcto, mas eu gostariade aduzir um exemplo para explicar a distinção entreos termos “válido” e “lícito”. Vou servir-me dumaanalogia médica. Imagine que um médico do NovoMéxico toma o avião para Chicago para umaconferência. Aterra no aeroporto internacional deO’Hare, aluga um taxi e, no caminho para o hotel,depara com um acidente de viação. Há uma pessoa

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O cânon 1752 é conhecido como “a regra de ouro”do direito canónico. Estabelece que «a salvação dasalmas é sempre a lei suprema da Igreja». Parece queeste cânon torna muito claro que tudo no direitocanónico e nos esforços da Igreja existe para servir asnecessidades espirituais do Povo de Deus. Todas asdeterminações que forem contra este objectivoprimordial são efectivamente contraproducentes e, porconseguinte, de validade questionável. Se a lei humanado celibato dos padres impede alguém de receber ossacramentos, então essa lei está contra a missão

O Cânon de OuroO Cânon de OuroO Cânon de OuroO Cânon de OuroO Cânon de Ouro

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primária da Igreja. Este entendimento do cânon deouro do direito canónico coloca o sacerdócio casadonuma luz inteiramente nova. Também permite quecada fiel partilhe da nossa comum autoridade eresponsabilidade pelo futuro da Igreja.

Do ponto de vista do direito canónico nós estamoshoje num estado de emergência, porque a falta depadres celibatários está a provocar o encerramento deparóquias e a ameaçar a disponibilização da missa edos sacramentos, que são as actividades essenciais daIgreja27. É muito improvável que, no futuro, haja umareversão desta falta de padres celibatários. De facto,todos os estudos que têm sido feitos, incluindo os queforam patrocinados pela nossa Conferência Episcopaldos EUA, indicam que a crise só piorará nos anos queaí vêm. Os padres celibatários serão cada vez menose mais velhos para dar assistência aos católicos emnúmero cada vez maior.

Enveredar pelo encerramento de paróquias não éresposta aceitável para esta crise. O programa Rent-A-Priest é uma iniciativa inovadora à disposição doscatólicos que foram apanhados nesta crise crescente.Muitas comunidades paroquiais sentem que areintegração de 20 mil padres casados aqui nos EUAé uma solução boa e efectiva porque tem umprecedente histórico e teológico sólido claramentefornecido pelo código do direito canónico.

que foi projectada da viatura em que seguia e tem umaferida que sangra abundantemente. O médico acorreem auxílio do ferido, estanca a hemorragia e estabilizao paciente até chegar a ambulância. A ajuda do médiconesta emergência é “válida” porque ele é médicoadequadamente preparado, tem um grau académicoconferido por uma faculdade de medicina. No entanto,a ajuda do médico à vítima não é “lícita”, porque elenão tem autorização para exercer medicina no Estadode Illinois. Esta é a diferença entre um acto válido eum acto lícito. Pode estar certo de que a vítima doacidente ficou muito contente com a ajuda “válida”do médico que a socorreu quando ela precisavaurgentemente.

Ora é com esta mesma compreensão da validade

dos actos segundo a lei canónica que os católicos,quando não podem encontrar um padre acessível oudisponível, recorrem a padres católicos casados. Ospadres casados são pessoas que receberam de Deus avocação para o sacerdócio. Completaram com êxitoos anos de formação no seminário e foramvalidamente ordenados por bispos católicos romanos.Têm graus académicos em teologia e noutras matériasafins.

Por força do cânon 290 pode-se ter a certeza deque os sacramentos ministrados pelos padres casadossão tão válidos como os ministrados pelos padrescelibatários em qualquer paróquia católica. As pessoasque procuram os serviços dos padres casados acreditamque o seu sacerdócio é válido aos olhos de Deus.

26. Coriden, et. Al. The Code of Canon Law. Paulist Press. 1985.27. Smolinski, D. Canonical Reflections on Pastoral Emergency and the Use of Married Priests in the Catholic Church. Catholic

Resource Center. Framingham, MA. 1995.

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Os nossos bispos americanos lidam todos os diascom a falta de padres. Um em cada quatro bispos disseoff the record que está pronto a receber de braços abertosos padres casados. Os bispos da América são bonslíderes que querem o melhor para o seu povo. Sabemque, em média, há 400 padres casados por cadaEstado. Trabalhando em conjunto, padres casados epadres celibatários podem parar o encerramento deparóquias. Juntos, poderiam melhorar especta-cularmente a disponibilização da missa e dossacramentos.

Muitos bispos americanos querem deixar dedesperdiçar o saber e a experiência que os padrescasados têm para oferecer à Igreja. Todos os bisposforam informados do programa Rent-A-Priest. Algunsencorajaram-nos a que continuemos a promover osacerdócio casado, já que é uma tradição eclesial quea prática se transforma em costume e o costume setransforma em lei. Isto já está a ser feito com aadmissão ao sacerdócio dos ministros protestantescasados e pela declaração do Papa João Paulo II deque o celibato não é necessário para o sacerdócio. Opróximo passo será que as pessoas comecem a pedirpadres casados para o serviço pastoral.

Nem toda a gente poderá estar informada de que

A nossa mensagem é simples e directa. Comocatólico romano qualquer pessoa tem o direito arecorrer a padres católicos casados para a missa e ossacramentos. O programa Rent-A-Priest é umministério pastoral dos padres católicos romanoscasados. Nós oferecemos o nosso sacerdócio para irao encontro das necessidades espirituais dos católicosde hoje. Partilhamos os mesmos objectivos dos nossosbispos, que são os de garantir que todos os católicostenham pleno acesso à missa e aos sacramentos etrabalhar para que todos os católicos experimentem aplenitude da nossa tradição católica. São estas asactividades primárias e essenciais da Igreja. QuandoRoma reintegrar formalmente os padres católicoscasados na plena participação eclesial, trabalharemosem coordenação com os nossos bispos e os nossosirmãos sacerdotes celibatários que precisarem da nossaajuda. Até que esse dia chegue, servir-nos-emos dasprovisões pastorais para os padres casados garantidaspelo cânon 21 do CIC para servir os católicos quepedirem a nossa ajuda. Através do programa Rent-A-Priest, os padres católicos casados levam a missa e ossacramentos às casas dos católicos em todo o país.

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Tranquilamente,os bispos aplaudem

muitas mudanças verificadas na Igreja católica acon-teceram através do povo de baixo para cima e não decima para baixo. As jovens acólitas são um exemplorecente. Muitas paróquias tinham cursos de prepara-ção de acólitos que eram frequentados por rapazes eraparigas. Em 1987, o Vaticano emitiu uma nota aproibir as raparigas ao altar. Mas como em todo omundo esta ordem não foi acatada e se continuou ater raparigas como acólitas, o Vaticano abrandou ecedeu. A prática transformou-se em costume e o cos-tume em lei.

À medida que mais e mais católicos recorrem apadres casados para a administração dos sacramen-tos, esta prática levará à reintegração plena dos pa-dres católicos casados, ao fim do encerramento deparóquias e a um melhor atendimento sacramental detodos os católicos.

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REPENSAR JUNTOS A PASTORAL DA IGREJA

IGREJAIGREJAIGREJAIGREJAIGREJA

PREÂMBULOAplaude-se com entusiasmo a iniciativa de

auscultar a Igreja em Portugal. Discorda-se daobservação do Instrumento de Trabalho (II) de quea acção da Igreja “vive dispersa”, sem “ligação entresi”.

MAIS VALIA DA SITUAÇÃO ACTUALConsidera-se que o Espírito Santo (como não

poderia deixar de ser da sua parte, porém com agenerosa resposta dos fiéis à acção da sua graça) temestado particularmente activo na Igreja em Portugal,e no mundo em geral, através da adesão dedicada,por vezes até heróica de inúmeros fiéis de todos osextractos etários e sociais a movimentos, encontros,eventos, projectos da Igreja ou não, que revelam que,nas populações, o Espírito toca cada um e cada umae muitos respondem ao seu chamamento à oração, àsolidariedade, a simples encontros de comunhão, àprofunda vida sacramental.

APELOSApela-se a que a Igreja hierárquica comunique

eficazmente aos fiéis, como uma mãe o faz com osseus filhos, que os compromissos apostólicos ousimplesmente solidários (voluntariados, etc.) em queeles se empenham são carinhosamente respeitadose apoiados por ela.

Apela-se a que a Igreja hierárquica monitorizerigorosamente o seu empenhamento efectivo comas margens da sociedade, não se limitando a delegá-lo mas experimentando-o como uma mãe o faz comum filho que está doente.

FranciscFranciscFranciscFranciscFrancisco Sousa Monteiro Sousa Monteiro Sousa Monteiro Sousa Monteiro Sousa Monteirooooo

1. Passando 50 anos sobre o Vaticano II, é urgenterever a pastoral à luz dos documentos concilares,que ainda são novidade. A CEP tem documentos querevelam o estado da prática religiosa. Pode ser o pontode partida para uma revisão de vida, objectiva, prática,ordenada à vida.

2. A situação religiosa é grave. O povo tem basesculturais muito limitadas. Há que fomentar umconhecimento mais aprofundado da SagradaEscritura, História da Igreja, Liturgia, Moral,Espiritualidade laica, Canto Litúrgico…

3. Rever corajosamente as práticas tradicionaisde manifestações religiosas: peregrinações,concentrações, santas missões, desobrigas, festas aosoragos, outras manifestações pomposas, exteriores,grandiosas, espectaculares.

4. Os leigos ocupem o seu lugar de direito,participem nos centros de decisão e administraçãoparoquiais, vicariais, supravicariais, diocesanos…

O «Espiral» convidou os membros da AssociaçãoFraternitas

Movimento a partilhar comentários e propostas que ajudem a

Igreja portuguesa a repensar a sua pastoral. Estas ideias

recolhidas, se achadas oportunas, podem ser endereçadas pela

Direcção à Conferência Episcopal Portuguesa, e/ou outras que não

estão aqui.

Comentários

Propostas1. Que não sejam ouvidos ou questionados apenas

a elite dos católicos, os tradicionais, os frequentadoresdas igrejas e capelas, os membros das confrarias, osprofessores da UCP, etc. Ouça-se a voz dosmarginalizados, dos que não têm voz, de tantosespezinhados pelo poder eclesiástico.

2. Os bispos, ou aqueles que os representam, nãose fechem nas sacristias, nos paços episcopais, nemnas residências paroquiais, nem observem o mundo eas suas questões através das janelas e varandas dosseus espaços reservados e privilegiados.

3. Leiam com inteligência as estatísticas queapresentam a frequência dominical, o número debaptismos pedidos, os casamentos católicos, osfunerais católicos, as vocações dos chamados ao

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IGREJAIGREJAIGREJAIGREJAIGREJA

exercício das ordens no ministério, do número dosconsagrados na vida religiosa, os divórcios decasamentos realizados na igreja.

4. Interpretem corajosamente esses dados esuperem a lamúria da falta de vocações, dalaicização da sociedade. Fujamos duma Igrejaacomodada ao mundo ao qual ela se dirige com umamensagem de salvação – ela é sal.

5. Promovam-se os leigos a serem activos naadministração das paróquias - não sejam apenasleitores, acólitos, cantores, promotores das festasparoquiais.

6. A formação dos leigos seja mais promovida. Acultura religiosa do povo cristão é muito deficiente.Estimule-se a formação teológica, moral, sacramental,bíblica, litúrgica. Promova-se uma catequese paraadultos, catecumenal, pelas vigararias, para facilitar afrequência do maior número de pessoas.

7. Durante muitos anos promoveu-se a recitaçãodo terço, a participação em peregrinações eprocissões... Estas práticas, estes hábitos sãoimportantes. Embora possam e devam continuar napastoral, todavia centre-se a vida religiosa em Jesus –o único mediador entre Deus e os homens.

8. Encontrem-se, fomentem-se a criatividade einovação na prática religiosa dos cristãos. Não paraaderir a modernismos e outras aberrações, mas parasermos fiéis ao Espírito Santo que constantementeestimula os cristãos à abertura a novas iniciativas.Parece que as grandes celebrações, nas quais osparticipantes são anónimos, tiveram a sua época. Abra-se caminho a celebrações mais individualizadas,conferindo-lhes também o valor da celebraçãodominical.

9. Libertemos a Igreja da pompa, da exterioridadeexcessiva, do espectáculo, da grandiosidade, daimponência, que deslumbra os olhos, abre às emoções,mas não leva à conversão. A Igreja, nos seus bispos epadres, tem uma linguagem de pobreza, de atençãoaos pobres e marginalizados, mas na prática manobra-se muito bem e deixa-se atravessar pelas linhas dainfluência, da riqueza, da tranquilidade e bem-estar.Será que os pobres, os anónimos, os marginalizados,

os sem-tecto, se sentem bem nas nossas igrejas?Sentem-se bem-vindos às nossas celebrações? Sãovistos pelos cristãos instalados como irmãos?

10. A Igreja já se libertou de muitos privilégiosfinanceiros, sociais, culturais… A Igreja tornou-semais autêntica, ganhou credibilidade. Mais temos apercorrer! Temos de abandonar o fausto. Devemoscultivar o respeito e a apreciação das obras de arteque enchem as nossas igrejas e testemunham uma fépopular, que na arquitectura, pintura, escultura, traduz,em forma mais inteligível, os mistérios mais profundosda nossa Fé.

11. Hoje a Igreja tem de ser solidária com o povo,descobrir formas novas de cooperação edesenvolvimento. A Igreja tem de abrir-se ao EspíritoSanto, acolher formas novas de testemunhar a Fé,proclamar a Boa Nova com coragem, determinação,criatividade e inovação. Tem de abandonar formastradicionais, que a fecham e empobrecem a mensagemda Boa-Nova.

12. Os bispos, os padres, os cristãos devemencontrar formas simples de testemunhar a Fé. Há

em que se move a sociedade contemporânea, cadavez mais laica, vejo na Igreja livre e libertadora a únicaLUZ capaz de iluminar um CAMINHO DEESPERANÇA para o mundo. Para tal, deverá a Igrejalibertar-se de todas as formas de autoritarismo nacondução de grupos e comunidades.

Há que ouvir mais e mais os leigos,responsabilizando-os nas decisões a tomar. Mas, parahaver responsabilização, urge insistir muito mais naformação para uma fé esclarecida, que não seconfunda com a mera crença espontânea vinda depais e avós.

A formação é, por conseguinte, o caminhonecessário e urgente para revitalizar as nossascomunidades.

Como corolário, diria que nós, elementos daFraternitas, dispomos aqui (no campo da formação)de uma área privilegiada onde poderíamos pôr arender, ao serviço das nossas comunidades, ascompetências bíblico-teológicas que recebemos nonosso percurso académico. PPPPPaaaaaulululululo Eufrásioo Eufrásioo Eufrásioo Eufrásioo Eufrásio

NA NOITE...NA NOITE...NA NOITE...NA NOITE...NA NOITE...

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REFLEXÃOREFLEXÃOREFLEXÃOREFLEXÃOREFLEXÃO

«Deus é desnecessário«Deus é desnecessário«Deus é desnecessário«Deus é desnecessário«Deus é desnecessáriopara explicar a criação»para explicar a criação»para explicar a criação»para explicar a criação»para explicar a criação»

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vestes e símbolos que nada dizem ao homem doséculo XXI. Vestes aberrantes que não se coadunamcom o tempo de hoje. Que dizer de grandesconstruções, megalómanas? Como justificar os grandesinvestimentos? Mitras, báculos, solidéus - podem sersímbolos muito queridos e até podem traduzirhumildade de quem os usa - são resquícios de uma erapassada e exprimem poder passado, símbolos de umpoderio e triunfalismo que nada dizem no presente.

13. Que fazer? Tudo mal? Nada se aproveita?Romper com o passado? O passado da Igrejacorresponde a um testemunho. Não se pode ignorá-lo; não pode ser apagado. Assumimos esse passado,essa história, esse testemunho. Errado é vivermosagarrados a ele. O passado não é dogma de Fé.

14. Preparemos um sínodo representativo do Povode Deus. Não como a Missão em curso na diocese doPorto. Um sínodo que vá às raízes, às fontes da Fé, àTradição Apostólica. Perscrutem-se os verdadeirosproblemas económicos, financeiros, culturais, sociais,religiosos – humanos. Busquem-se as causas. Digamosnão à superficialidade, ao banal. Não pretendemosarrastar multidões. Analisem-se os problemas à luz daPalavra de Deus. Dêem-se respostas pastoraisadequadas. Não queremos respostas académicas ouproblemas equacionados com teses de mestrado edoutoramento – queremos Vida religiosa, que leve àmaturidade na Fé, que nos leve a viver Jesus Cristo,Palavra do Pai. Pretendemos compromisso pessoal,conscientemente assumido.

15. A CEP escolha psicólogos, sociólogos, analistas,teólogos, pastoralistas, liturgistas, militantes da AcçãoCatólica, militantes de outros movimentos deapostolado, outros… que venham para o terreno,ouçam as pessoas – cristãos comprometidos, osdissidentes, os praticantes convictos, os nãopraticantes, os indiferentes, ateus… Interroguem,recolham depoimentos, testemunhos. Analisem essesconteúdos. Proponham reflexões, alargadas. Aceitemsugestões. Ninguém tenha medo do presente nem dofuturo.

16. O Espírito de Jesus está com a Igreja. OEspírito assiste-a e governa-a. Tenha o Povo de Deusa coragem de ouvir esse Espírito e de seguir as suasdecisões.

Hawking é um prestigiado cientista. A suaespecialidade é a Física. Ensinou com brilhantismoexcepcional em Cambridge. Recentemente publicouThe Grand Design («O Grande Projecto»), que foi escritoem parceria com o físico norte-americano LeonardMlodinov. Tem outras obras de merecidoreconhecimento cultural.

Este autor explica o aparecimento do universo porgeração espontânea. Segundo ele, a lei da gravidade,aliada a outras forças da Natureza, terianecessariamente esta consequência.

É evidente que The Grand Design exige uma leituraatenta, não se pode ficar pela rama. A Ciência investigasobre dados conhecidos, desenvolve teorias, explicaos resultados das experiências laboratoriais, desdobraos componentes até chegar aos elementos primeiros,mais ínfimos… mas trabalha sempre com a matériapositiva, real, extensiva – matéria segunda – dizem osfilósofos.

Esta é a frase bombástica de Hawking.Esta é a frase bombástica de Hawking.Esta é a frase bombástica de Hawking.Esta é a frase bombástica de Hawking.Esta é a frase bombástica de Hawking.

Não passa disso.Não passa disso.Não passa disso.Não passa disso.Não passa disso.

O erro de HawkingA conclusão de Hawking enferma de um erro

crasso! Qual é o erro de Hawking? Podemos falar deerro? Em que sentido? Um cientista pode errar?

A Ciência nunca erra. A Ciência tem leis rígidas,muito exigentes que respeitam sempre a Natureza.

(CONTINUA NA PÁGINA 16)

Page 16: Espiral 41

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Erram os cientistas, quando extrapolam da sua esferapara outros domínios do conhecimento ou tiramconclusões mais alargadas do que a experiência lhespermite.

Que se passou de facto? À Física compete explicaros fenómenos científicos que engendra, ou osfenómenos que constatamos no Universo. E nisso hámérito do cientista que vai avançando nas suasexperiências analisando e decompondo os fenómenos,esmiuçando-os. Errado será passar do mundo físico,matéria extensiva, misturando análises positivas como domínio da Filosofia e Teologia. É evidente que aCiência nada pode sobre estes domínios. Já no séculoIV, Santo Agostinho advertia que o imanente não abrecaminho ao transcendente. Isto para dizer que osapateiro não vai além da chinela. Compete aocientista conter-se na sua área e aí apresentar a sua

experiência e conclusões. Assim contribui para o beme progresso da humanidade.

Há mérito em HawkingSem dúvida! Sobretudo ajuda a purificar o conceito

de Deus. Vemos que há uma progressão nesseconhecimento. No Génesis, Deus aparece-nos comum trabalhador, forma o homem de um pouco debarro. No Êxodo, Moisés já nos dá uma ideia detranscendência: a sarça arde sem se consumir. Osprofetas vão purificando este conceito até Jesus nosdar a verdadeira noção, ou pelo menos, a maisaproximada e compreensível, do nosso Deus.Concluímos: de facto Deus não é um artesão. Ele é acausa primeira: uma presença ausente. Será possívelcompreendermos esta dimensão?

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A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.

Maria, como boa judia, conhecia as profecias sobrea vinda do Messias. Israel esperava um Messiastriunfador, um grande libertador que vingasse aignomínia a que Israel estava votado. Maria pensavaassim? Ou terá descoberto, contra esta correntetradicional, características verdadeiramenteinovadoras, sobre o Messias? O princípio das suasdúvidas: ela estaria certa? E a tradição? Os estudiososestariam errados? E os conhecedores dos segredos deDeus que pensariam? – Uma loucura!

Maria, na linha dos profetas, acreditava que Deusintervém na vida dos homens por outros homens emulheres. Como é que Maria descobriu que erachamada para intervir de forma objectiva,participando neste plano de Deus? E logo ela!

Estava Maria indecisa para dar a sua adesão a esteplano. Hesitava. Ela, uma jovem, ignorada, comopodia dar o seu contributo? Seria possível?

O Anjo, com nome próprio Gabriel, intervém.Confirma que as suas dúvidas eram seguras.Garante-lhe que Deus quer que ela intervenha.Disse-lhe que Deus tem vindo a prepará-La: é“cheia de graça”.

Quem será este Anjo? É um mensageiro divino.Mas será de facto um ser espiritual? Ou alguém desseresto de Israel que esperava o Reino no silêncio, nadiscrição, na humildade, longe dos centros dedecisão?… Nesta conversa com a Virgem, revelamuitos pormenores sobre o procedimento de Maria eda sua relação com Deus. É evidente que Deus podeter enviado um Anjo…

Assim Maria começou a preparar a vinda de Jesus,no silêncio, na rotina de todos os dias, na simplicidadeda vida doméstica, no seu coração… Grandetransformação de Maria! O seu ventre, um Templo!O seu coração, um tabernáculo!

E assim Deus realiza o Seu plano: a salvação doshomens concretiza-se.

E hoje como preparas a comemoração destenascimento? Jesus continua a ter necessidade denascer. Precisa de ti para incarnar as situações deinjustiça, de pecado. Que te propões? Não desanimes!Não desistas! Fazes parte daquele Resto que espera,contra todas as evidências, que venha até nós esseReino de justiça, de verdade, de paz, de amor… quejá está no meio de nós. Ele quer vir. Mas contacontigo: a tua vontade, o teu trabalho, o teucompromisso. Sem ti, nada! Mistério da Fé!

Maria encoraja-nos. Temo-la diante dos olhos.Procedamos como Ela.

JJJJJ. So. So. So. So. Soaresaresaresaresares

(CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 15)

PPPPPaz e Alegaz e Alegaz e Alegaz e Alegaz e Alegrrrrria naia naia naia naia na

TTTTTerererererrrrrra qa qa qa qa que Deus ama!ue Deus ama!ue Deus ama!ue Deus ama!ue Deus ama!