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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ÉRIKA DE ARAUJO VALONI Envolvimento das proteínas fosfatases no acúmulo de lipídios em Saccharomyces cerevisiae e síntese em biorreator utilizando glicerina loira como fonte de carbono RIO DE JANEIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ÉRIKA DE ARAUJO VALONI

Envolvimento das proteínas fosfatases no acúmulo de lipídios em Saccharomyces cerevisiae e síntese em biorreator utilizando glicerina loira

como fonte de carbono

RIO DE JANEIRO

2014

ii

ÉRIKA DE ARAUJO VALONI

Envolvimento das proteínas fosfatases no acúmulo de lipídios em Saccharomyces cerevisiae e síntese em biorreator utilizando glicerina loira

como fonte de carbono

RIO DE JANEIRO 2014

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências.

Orientadora s: Profa. Dra Maria Alice Zar ur Coelho Profa. Dra Mônica Montero-Lomeli

iii

ENVOLVIMENTO DAS PROTEÍNAS FOSFATASES NO ACÚMULO D E LIPÍDIOS EM SACCHAROMYCES CEREVISIAE E SÍNTESE EM BIORREATOR

UTILIZANDO GLICERINA LOIRA COMO FONTE DE CARBONO

ÉRIKA DE ARAUJO VALONI

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa Pós-G raduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Esc ola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciênc ias.

Aprovada por:

____________________________________ Maria Alice Zarur Coelho, D.Sc.

____________________________________ Mônica Montero-Lomeli, D.Sc.

____________________________________ Priscilla Filomena Fonseca Amaral, D.Sc.

____________________________________ Eleonora Kurtenbach, D.Sc.

____________________________________ Aline Machado de Castro, D.Sc.

RIO DE JANEIRO 2014

iv

FICHA CATALOGRÁFICA

Valoni, Érika de Araujo

Envolvimento das proteínas fosfatases no acúmulo de lipídios em Saccharomyces cerevisiae e síntese em biorreator utilizando glicerina loira como fonte de carbono/Érika de Araujo Valoni. Rio de Janeiro: UFRJ/EQ, 2014

(Dissertação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, 2014.

Orientador (es): Maria Alice Zarur Coelho e Mônica Montero-Lomeli

1- Lipídios 2. Saccharomyces cerevisiae 3- Glicerina 4- Fosfatases 5- (Mestrado – UFRJ/EQ) 6- Maria Alice Zarur Coelho e Mônica Montero-Lomeli

I - Título

v

"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se dev e aprender a fazer."

Aristóteles

vi

DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação à minha querida mãe, Maria Aparecida. Obrigada por me proporcionar esse momento.

vii

AGRADECIMENTOS

Agradeço às minhas orientadoras Maria Alice Coelho e Mônica Montero pela

contribuição científica para minha carreira profissional.

Um agradecimento especial e carinhoso à minha gerente Gina Vazquez

Sebastian pelo apoio na realização desses estudos e por sempre acreditar na

capacitação de sua equipe.

Aos amigos do Cenpes/Bio me apoiaram ao longo desses meses. À querida

amiga Danielle Altomari pela amizade ao longo desses quase 11 anos. Pelos

conselhos e incentivos que me deram força para seguir em frente, mesmo quando o

cansaço da jornada dupla de trabalho e estudos era grande. À amiga Vanessa

Vólaro, por todos os anos de amizade e pela ajuda crucial na formatação da

dissertação (você é fera!). Ao amigo Bruno Sardinha, pelo companheirismo e por

escutar meus desabafos em nossos almoços no restaurante do Cenpes. Ao querido

amigo Renato Valério (Renatinho), obrigada por poder contar sempre com sua ajuda

e ideias no laboratório. À amiga Adriana Soriano pelo exemplo de profissional e

amiga (você é inspiradora!). Aos amigos que estiveram mais próximos nesses

últimos meses, César, Felipe Matias, Bruno Lacava, vocês não têm ideia da

importância que tiveram nessa reta final. Ao amigo Absai pelas análises de glicerol

no HPLC e pela acolhida tão especial no grupo de trabalho. Às amigas Ana Paula

Torres e Lídia Santa Anna, obrigada por tudo que fizeram por mim nesses últimos

meses, por mostrar que o amor que sentimos por algo que acreditamos fica dentro

da gente (e ninguém vai nos tirar).

Gostaria de agradecer também aos colegas do laboratório Biose,

especialmente a Mariana Miguez e Roseli pelos experimentos no bioreator e por

todo apoio essencial no laboratório. À Fernanda Martins pelas análises no HPLC e

aos amigos que tive o prazer de conviver nas minhas idas e vindas entre Cenpes e

EQ/UFRJ, Gizeli, Caê, Etel, Bernardo e toda a equipe.

Um agradecimento a amiga Tatiana Félix por disponibilizar o bioreator nos

momentos de aperto (que foram vários) e pela torcida para que tudo desse certo.

viii

À amiga Roberta Ribeiro, um presente que recebi do mestrado. Sempre que

precisei estava a um whatsapp de distância, me ajudando no que fosse preciso.

Obrigada pelos momentos de café, vinho e Madonna.

Aos amigos do Laboratório de Biologia Molecular de Leveduras, em especial

ao Bruno Bozaquel-Morais e Juliana Madeira que me acompanharam nos

experimentos de laboratório e contribuiram na discussão dos resultados. Vocês são

uma referência para mim, obrigada. Ao Gabriel, pelas dosagens de glicerol por via

enzimática nos minutos finais dos experimentos de bancada. Ao Cláudio Masuda

pelas trocas de ideias e por sempre estar disposto a ajudar (muito obrigada!).

Não podia deixar de agradecer à responsável por toda minha formação na

área da microbiologia, minha grande mestre Lucy Seldin. Seus ensinamentos foram

essenciais para que eu chegasse até aqui.

Aos amigos que não são do “universo da pesquisa”, mas que se envolveram e

torceram muito para que essa etapa fosse concluída. A amiga e irmã Bianca Noleto,

não tenho palavras para agradecer todos esses anos que estivemos juntas. A amiga

Beatriz Peixoto que nos seus whatsapps, quase que diários, me perguntava como

estavam os preparativos e se tinha algo que poderia ajudar.

Um agradecimento a corrida. Por ter me preparado fisicamente a enfrentar

essa jornada. O corpo e a mente precisam andar juntas para obtermos qualquer

sucesso na vida.

E por fim, mas não menos importante, a minha família. Pelo apoio incodicional

da minha mãe, que esteve sempre ao meu lado. Por ser a pessoa mais importante

em todos os aspectos da minha vida, e principalmente por ter me apontado o valor

da educação.

ix

Resumo da dissertação de mestrado apresentada ao curso de Pós-Graduação em

Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos da Escola de Química/UFRJ,

como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em

Ciências (M.Sc)

ENVOLVIMENTO DAS PROTEÍNAS FOSFATASES NO ACÚMULO DE LIPÍDIOS EM Saccharomyces cerevisiae E SÍNTESE EM BIORREATOR UTILIZANDO

GLICERINA LOIRA COMO FONTE DE CARBONO

ÉRIKA DE ARAUJO VALONI

A utilização de micro-organismos oleaginosos tem se mostrado como uma

tecnologia promissora, alternativa aos óleos vegetais amplamente utilizados para a

produção de biodiesel. Dentre os micro-organismos oleaginosos (aqueles que

acumulam lipídios em mais de 20% p/p, em massa seca de célula), as leveduras

apresentam vantagens sobre os outros micro-organismos em termos de taxa de

crescimento e conteúdo de óleo intracelular. Os principais ácidos graxos

encontrados nas leveduras são principalmente, o ácido mirístico, palmítico,

esteárico, linoleico e linolênico. De acordo com perfil apresentado, estes óleos

poderiam ser empregados como matéria prima para a produção de biodiesel.

Somado à isso, a utilização do glicerol, em substituição à glicose, como substrato no

meio de cultivo, apresenta vantagens ambientais, como o aproveitamento de

resíduos, e vantagens econômicas, reduzindo o custo do processo de obtenção do

óleo microbiano. No presente trabalho, foi possível avaliar o acúmulo de

triacilgliceróis (TAG) nos corpúsculos lipídicos (CL) em cepa selvagem (WT) e cepas

mutantes para os genes que codificam as proteínas fosfatases em levedura

Saccharomyces cerevisiae, cultivadas em meio respiratório, utilizando glicerina loira

como matéria prima. Inicialmente, foi possível determinar a utilização de 5% (p/v) de

glicerina loira como matéria prima no meio de cultivo de produção de corpúsculos

lipídicos. Foram realizados experimentos para avaliação da melhor relação entre o

índice de CL e

crescimento celular. A partir de uma varredura inicial para as 66 mutantes com

deleções para os genes das proteínas fosfatases, foram selecionadas oito cepas

x

para serem avaliadas em frascos com 50 mL de volume de meio de cultivo. Desse

ensaio, a cepa mutante selecionada junto com a cepa WT (cepa controle) foram

avaliadas em biorreator com volume útil de 700 mL. Os resultados obtidos sugerem

que a via de acúmulo de lipídios utilizada pela levedura foi a via ex novo. Também

foi observado nos experimentos em biorreator, que os processos de acúmulo de

lipídios e crescimento celular alcançaram seus valores máximos em 24h, tempo mais

curto que os observados nos ensaios com menor volume (48h). Além disso, não

foram observadas diferenças, no ensaio em biorreator, no acúmulo de lipídeos e

crescimento celular da cepa mutante comparada a cepa controle.

xi

Abstract of a dissertation presented to Curso de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos – EQ/UFRJ as partial fulfillment of the requiremments for the degree of Master of Science

INVOLVMENT OF PHOSPHATASES PROTEINS ON LIPID ACCUMU LATION IN Saccharomyces cerevisiae AND SYNTHESIS IN BIOREACTOR UTILIZING CRUDE

GLYCEROL AS CARBON SOURCE

ÉRIKA DE ARAUJO VALONI

The use of oleaginous microorganisms has been considered a promising technology,

as an alternative to the plant oils which are widely use in the manufacture of

biodiesel. Among the oleaginous microorganisms (these that can accumulate more

than 20% w/w, in their dry cell mass), the yeast shows advantages over the others

microorganisms in terms of growth and intracellular lipid content. The main fatty acids

in yeast oils are myristic, palmitic, stearic, oleic, linoleic and linolenic acids. It has

been reported that such oils can be used as oil feedstock for biodiesel production.

Added to this, the use of glycerol, in substitution of glucose, takes environmental

advantage, as it utilizes an industry residue and economic advantages, reducing the

cost of the microbial oil process. In the present work, it was possible to observe the

accumulation of triacylglicerides (TAG) inside the lipid bodies (LB) in both wild strain

and mutants for the protein-phosphatase genes in Saccharomyces cerevisiae,

cultivated under respiration metabolism, using glycerol as substrate. In an initial

experiment, was possible to determine the use of 5% (w/v) of crude glycerol as

carbon source to be use in the assays. Experiments have been made to evaluate the

best relation between the level of lipid bodies and cellular growth. From the first

screening analyzing the 66 mutant strains with deletion for the protein-phosphatase

genes, eight strains have been selected to be evaluate in flask with 50 mL of

medium. From this, it was selected a mutant strain that together with the wild strain (a

control) were evaluate in a bioreactor using 700 mL of medium. The results suggest

that the pathway utilized for the accumulation of lipids by the strains was the ex novo

pathway. It was also was observed, in the bioreactor experiments, that the processes

of lipid accumulation and cellular growth reached their maximum results in shorter

times than the observed in experiments in lower volumes. Besides this, were not

xii

observed differences, in the bioreactor experiment, in the accumulation and cellular

growth between the mutant and wild strains.

xiii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 3.1: Anatomia de um corpúsculo lipídico: Imagem superior - Uma micrografia eletrônica de um

corpúsculo lipídico (Lipid Droplet) em células cultivadas de hepatoma. Imagem inferior – As

características estruturais de um corpúsculo lipídico. Retirado de: FARESE, JR. e WALTHER, 2009 ...... 9

Figura 3.2: Possível relação entre os corpúsculos lipídicos (aqui representados por LD) e o retículo

endoplasmático (representado por ER). (A) Os LDs e o ER estão frequentemente localizados próximos

e podem fazer contato entre as suas membranas. Mitocôndrias (M) também estão próximas aos LDs.

(B) A figura mostra um grande LD intercalado com a membrana do retículo. As setas indicam os

pontos onde a membrana do retículo endoplasmático é contínua com o corpúsculo lipídico. (C)

Conexão por uma haste da membrana. O brotamento pode ser constituído por ésteres lipídicos entre

o LD e a membrana do retículo. Retirado de: Fujimoto e Parton, 2011. .............................................. 10

Figura 3.3: Visão geral das principais vias metabólicas da síntese de lipídios em Y. lipolytica. A glicose,

através da glicólise entra na mitocôndria como piruvato para ser utilizado no ciclo do TCA; no

entanto, o excesso de acetil-CoA é transportado da mitocôndria para o citosol através do transporte

de citrato. O acetil-CoA no citosol é convertido em malonil-CoA pela acetil-CoA carboxilase (ACC)

sendo a primeira etapa da síntese dos ácidos graxos. Após isso, a síntese de triacilglicerol (TAG) segue

a via de Kennedy, a qual ocorre no retículo endoplasmático (RE) e corpúsculos lipídicos. O acil-CoA é

precursor utilizado para a acilação do esqueleto glicerol-3-fosfato para formar o ácido lisofosfatídico

(LPA), que é então acilado para formar o ácido fosfatídico (PA). PA é desfosforilado para formar o

diacilglicerol (DAG) e então acilado pela última vez através da diacilglicerol aciltransferase (DGA)

para produzir o TAG. OAA oxaloacetato, a-KG alfa-cetoglutarato, PEP fosfoenolpiruvato, G3P

gliceraldeído-3- fosfato, DHAP dihidroxiacetona fosfato, ACL ATP citrato liase, PC piruvato

carboxilase, MDH malato desidrogenase, MAE enzima málica. Retirado de: Tai e Stephanopoulos,

2013. ...................................................................................................................................................... 14

Figura 3.4: Síntese de ésteres de esterol (EEs) e triacilglicerol (TAG). O acetil-CoA gerado a partir de

diferentes substratos é direcionado para a síntese de ácidos graxos pela enzima acetil-CoA-

carboxilase (ACCase) ou para a síntese de esteróis pela 3-hidroxi-3-metil-glutaril-CoA redutase

(HMGR), ambas reguladas pela AMP quinase (AMPK). Os ácidos graxos são convertidos a lipídios

neutros, os TAG e EEs que são estocados nos corpúsculos lipídicos. Os principais reguladores desta

via são: AMPK (AMP quinase), FAS (ácido graxo sintase), DGAT (acil-CoA: diacilglicerol

aciltransferease, LCAT (lecitina:colesterol aciltransferase e ACAT (acil-CoA;colesterol aciltransferase.

Fonte:Bozaquel-Morais (2010).............................................................................................................. 18

Figura 3.5: A fosfatase Sit4 associada à sua subunidade Sap190p regula a atividade da Snf1p,

controlando sua fosforilação, e consequentemente modulando a atividade da ACC. Além de Sit4p-

Sap190p, Snf1p é desfosforilada por Glc7p-Reg1. Fonte: Bozaquel-Morais (2010) ............................. 20

Figura 4.1: Imagem de microscopia ótica da levedura Saccharomyces cerevisiae em aumento de

1000x utilizando microscópio ótico Nikon, modelo: Eclipse E200. ....................................................... 29

Figura 4.2: Reações enzimáticas envolvidas na quantificação dos triglicerídeos. (Fonte: kit enzimático

para dosagem de triacilglicerídeos. Doles, Brasil)................................................................................. 38

Figura 5.1: Avaliação do glicerol puro (P.A.) (A) e da glicerina loira (B) como fonte de carbono. ........ 40

xiv

Figura 5.2: Curvas de crescimento da cepa selvagem (WT) BY4741 de S. cerevisiae nos meios MM –

2% e MM – 5% (p/v) de glicerol puro (A) e glicerina loira (B) e MM – 5% (p/v) de glicose. ................. 41

Figura 5.3: Acúmulo de lipídios utilizando meios contendo 2% e 5% (p/v) de glicerol puro (A) e

glicerina loira (B). Índice de corpúsculos lipídicos (CL) obtidos pelo ensaio de recuperação de

fluorescência na cepa selvagem BY47421 (WT) de S. cerevisiae com 36h e 108h de ensaio. .............. 43

Figura 5.4: Distribuição das cepas mutantes em síntese de lipídio (A) e mutantes em proteínas

fosfatases (B), de acordo com a relação crescimento celular (medida por absorvância em 600 nm) e

índice de CL no tempo de 48 horas. ...................................................................................................... 46

Figura 5.5: Acúmulo de lipídios pelas cepas mutantes selecionadas em meio com 5% de glicerol em

glicerina loira. ........................................................................................................................................ 53

Figura 5.6: Média do crescimento das cepas mutantes selecionadas. O crescimento das mutantes de

S. cerevisiae foi medido por absorvância no comprimento de onda de 600 nm ao longo da

fermentação (n=3). ............................................................................................................................... 54

Figura 5.7: Acúmulo de lipídios pelas cepa mutante rrd2 e selvagem WT (n=1) .................................. 56

Figura 5.8: Acúmulo de lipídios pelas cepa mutante rrd2 e selvagem WT (n=4). ................................. 56

Figura 5.9: Acúmulo triacilgliceróis (TAG). O percentual de TAG nas cepas de S. cerevisiae selvagem

(WT) mutante RRD2, foram medidos no tempo final de reação em biorreator em 48 horas (n=4). ... 57

Figura 5.10: Crescimento celular das cepa mutante RRD2 e cepa selvagem WT. O crescimento celular

foi medido por absrovância no comprimento de onda de 600 nm (n=4). ............................................ 58

Figura 5.11: Consumo de glicerol no meio de cultivo. O glicerol foi medido por HPLC em amostras do

meio de cultivo contendo 5% de glicerina loira. ................................................................................... 58

Figura 5.12: Consumo de glicerol no meio de cultivo. O glicerol foi medido por kit enzimático (Doles,

Brasil) em amostras do meio de cultivo contendo 5% de glicerina loira. ............................................. 59

xv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 3.1: Conteúdo lipídico e perfil de ácidos graxos de leveduras e fungos filamentosos

selecionadas. A porcentagem lipídica é dada em termos de biomassa seca. ........................................ 8

Tabela 4.1: Reagentes utilizados no preparo dos meios de cultivo e os respectivos fabricantes. ....... 25

Tabela 4.2: Reagentes utilizados nos ensaios analíticos e os respectivos fabricantes ......................... 26

Tabela 4.3: Experimentos preliminares para avaliação da fonte de carbono utilizada. ....................... 32

Tabela 5.1: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletadas para genes de síntese de lipídios e para

subunidades catalíticas e regulatórias não essenciais de fosfatases submetidos a screening pelo

método de recuperação de fluorescência e densidade ótica (DO600 nm) que não apresentaram

crescimento celular satisfatório. ........................................................................................................... 47

Tabela 5.2: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletadas para genes de síntese de lipídios e para

subunidades catalíticas e regulatórias não essenciais de fosfatases submetidos a screening pelo

método de recuperação de fluorescência e densidade ótica (DO600 nm). As cepas destacadas em verde

foram selecionadas como hlc (alto conteúdo lipídico). ........................................................................ 48

Tabela 5.3: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletadas para genes de síntese de lipídios submetidos a

screening pelo método de recuperação de fluorescência e densidade ótica (DO600 nm). ................. 51

Tabela 5.4: Cepas selecionadas de acordo com a média do índice de CL e a média de crescimento

celular, medida por densidade ótica em 600 nm (DO600 nm). ............................................................ 52

xvi

LISTA DE ABREVIATURAS

ACAT Acil-CoA aciltransferase

ACCase Acetil-CoA carboxilase

ACL ATP citrato liase

AMP Adenosina monofosfato

AMPK Adenosina monofosfato quinase

ATP Adenosina trifosfato

Aox Acil-CoA oxidases

BSA Bovine Serum Albumin - Albumina do soro bovino

CL Corpúsculos lipídicos

DAG Diacilglicerol

DGA Diacilglicerol aciltranferases

DGAT2

D.O. Densidade ótica

D.O.600nm Densidade ótica no comprimento de onda 600 nm

EE Éster de esterol

ERF Ensaio de recuperação de fluorescência

FAME Ésteres metílicos de ácidos graxos

FAS Ácido graxo sintase

G3P Glicerol 3-fosfato

hlc High lipid content

HMGR 3-hidroxi-3-metil-glutaril-CoA redutase

HPLC High-Performance Liquid Cromatography – Cromatografia líquida de alta eficiência

ICL Índice de corpúsculos lipídicos

IMP Inosina monofosfato

KAN Kanamicina

LCAT lecitina colesterol aciltransferase

xvii

llc Low lipid content

LPA Ácido lisofosfatídico

MM Meio mínimo

MONG Máteria orgânica não glicerinada

PA Ácido fosfatídico

P.A. Pró-análise

p/v Peso por volume

PP Proteínas fosfatases

PPM Proteínas fosfatases dependente de magnésio

PP2A Proteína fosfatase do tipo 2A

PPP Fosfoproteína fosfatase

PTP Fosfoproteína tirosina fosfatase

RE Retículo endoplasmático

RMN Ressonância magnética nuclear

rpm Rotações por minuto

SCO Single cell oil

Ser Serina

TAG Triacilglicerol

TCA Ácido tri-cloroacético

Thr Treonina

WT Wild Type - Cepa do tipo selvagem

YPD Yeast extract, peptone, dextrose

µ Taxa específica de crescimento (h-1)

xviii

SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................................................... 1

2. Justificativas e Objetivos ................................................................................................................. 4

3. Revisão Bibliográfica ....................................................................................................................... 6

3.1 Micro-organismos oleaginosos ............................................................................................... 6

3.2 Conteúdo lipídico e composição dos ácidos graxos presentes nas leveduras oleaginosas .... 7

3.3 Corpúsculos lipídicos ............................................................................................................... 8

3.4 Vias de acúmulo de lipídios em leveduras ............................................................................ 11

3.5 Síntese e acúmulo de lipídios utilizando substratos hidrofóbicos no meio de cultivo ......... 15

3.5.1 A bioquímica do acúmulo de lipídios através da via ex novo ........................................ 16

3.6 Regulação do metabolismo de lipídios ................................................................................. 17

3.6.1 As proteínas fosfatases na regulação do metabolismo lipídico .................................... 19

3.7 Manipulação genética de leveduras ..................................................................................... 20

3.8 Escalonamento para o desenvolvimento de bioprocessos ................................................... 22

4. Materiais e Métodos ..................................................................................................................... 25

4.1 Materiais ............................................................................................................................... 25

4.2 Equipamentos ....................................................................................................................... 27

4.3 Meios de cultura ................................................................................................................... 28

4.4 Micro-organismos ................................................................................................................. 28

4.4.1 Preservação ................................................................................................................... 29

4.4.2 Obtenção do pré - inoculo ............................................................................................. 29

4.4.3 Curvas de crescimento e cálculo do volume de inóculo ............................................... 30

4.5 Experimentos Preliminares ................................................................................................... 31

4.5.1 Avaliação do crescimento celular e acúmulo de lipídios em concentrações crescentes

de glicerol e glicerina loira. ........................................................................................................... 31

4.5.2 Varredura das cepas de Saccharomyces cerevisiae mutantes para avaliar o índice de

corpúsculos lipídicos, quando cultivadas em glicerina loira 5% ................................................... 32

4.5.3 Avaliação das cepas mutantes para gene fosfatase em meio 5% de glicerina loira ..... 33

4.6 Avaliação do acúmulo de corpúsculos lipídicos em biorreator por Saccharomyces cerevisiae

mutante utilizando como fonte de carbono 5% de glicerina loira .................................................... 34

4.7 Métodos Analíticos................................................................................................................ 35

4.7.1 Determinação de Biomassa ........................................................................................... 35

4.7.2 Ensaio de recuperação de fluorescência (ERF) para determinação do Índice de

Corpúsculos Lipídicos (ICL) ............................................................................................................ 35

xix

4.7.3 Determinação da concentração de glicerol presente no meio de cultivo .................... 36

4.7.4 Dosagem enzimática de triacilglicerol ........................................................................... 36

4.7.5 Determinação de Proteínas Totais ................................................................................ 38

5. Resultados e Discussão ................................................................................................................. 39

5.1 Avaliação de fontes de carbono alternativas no meio de cultivo para acúmulo de lipídios . 39

5.2 Varredura das cepas de Saccharomyces cerevisiae mutantes para escolha da cepa com

maior índice de acúmulo de lipídios crescida em glicerina loira 5% ................................................. 44

5.3 Avaliação das cepas mutantes para os genes fosfatase em meio com 5% de glicerol em

glicerina loira ..................................................................................................................................... 52

5.4 Avaliação do acúmulo de corpúsculos lipídicos na cepa mutante rrd2 de Sacchromyces

cerevisiae em biorreator utilizando glicerina loira como fonte de carbono ..................................... 55

6. Conclusões..................................................................................................................................... 63

7. Perspectivas e trabalhos futuros ................................................................................................... 65

8. Referências Bibliográficas ............................................................................................................. 66

9. Apêndices ...................................................................................................................................... 77

Capítulo 1 – Introdução Valoni, E.A.

1

1. Introdução

O aumento da população mundial e da prosperidade global está causando um

acréscimo significativo na demanda energética global. Para reduzir a dependência

da energia fóssil, metas para incorporação de energia renovável estão sendo

impostas no mundo todo (HEERES et al., 2014).

Segundo dados da Administração de Informação de Energia dos Estados

Unidos (2011), o transporte é o setor que mais cresce, e o segundo maior setor

consumidor de combustíveis nos E.U.A. (28%) depois da energia elétrica (40%).

Alternativas ao petróleo, para combustíveis líquidos e seu uso em transporte, estão

sendo procuradas devido às preocupações globais sobre as mudanças climáticas,

segurança energética e ao esgotamento iminente das reservas de petróleo.

O biodiesel é altamente degradável, não tóxico, renovável e sustentável. Ele

tem propriedades de combustão similares ao diesel de petróleo, é um combustível

de substituição chamado “drop-in”, para veículos a diesel existentes e motores de

caldeiras industriais, além de ser compatível com a infraestrutura atual de

combustível (SITEPU et al., 2014). A produção mundial de biodiesel está

aumentando fortemente para atender a demanda: a produção passou de 15 mil

barris/dia, no ano 2000, para 289.000 em 2008 (ATABANI et al., 2012). O óleo

vegetal compõe a maior parte do custo de produção do biodiesel (MIAO et al., 2006)

e o debate público sobre o tema “comida x combustível”, incentivaram o

desenvolvimento da chamada “segunda geração” de biodiesel não comestível, a

partir de óleos vegetais como o pinhão manso, mamona, além de óleos residuais

domésticos. No entanto, estes óleos podem não ser suficientes para atender às

necessidades globais e apresentar características que não se enquadram nas

especificações de qualidade do biodiesel (SITEPU et al., 2014).

Os óleos microbianos, também chamados de single cell oil (SCO), são

produzidos por alguns micro-organismos oleaginosos como leveduras, fungos

filamentosos, bactérias e microalgas (MA, 2006). Comparado com os óleos vegetais,

o óleo microbiano traz muitas vantagens como, por exemplo, o biodiesel dessa

origem ser capaz de ser produzido durante o ano todo, em terras consideradas

impróprias para a agricultura (não competindo com a produção de alimentos) e com

Capítulo 1 – Introdução Valoni, E.A.

2

taxas de produção acima de 100 vezes às alcançadas pelos óleos vegetais em

litros/hectares/ano (ATABANI et al., 2012). O custo de produção de SCO é

atualmente considerado elevado, por isso, substratos para o cultivo de micro-

organismos oleaginosos com baixo custo de aquisição tem atraído o interesse de

diversos grupos de pesquisa (BELLOU et al., 2012). Nessa perspectiva, o glicerol

bruto (também conhecido como glicerina) é uma matéria prima muito promissora,

porque é um co-produto da fabricação do biodiesel que consiste numa mistura de

glicerol (65-85%, p/p), metanol, sabões e sais minerais ( DA SILVA et al., 2009), que

podem ser valorizados na produção de lipídios.

Uma compreensão dos fatores genéticos que contribuem para o acúmulo de

lipídios é crucial para o desenvolvimento de cepas com essa capacidade de acúmulo

de lipídios. A regulação das vias metabólicas e de produção de enzimas-chave pode

ser manipulada para levar o carbono aos produtos desejados. Sistemas genéticos

foram desenvolvidos para algumas poucas espécies de leveduras, inicialmente S.

cerevisiae e Y. lipolytica. Os genomas dessas espécies de levedura foram

sequenciados para facilitar o desenvolvimento de ferramentas genéticas e

melhoramento de vias metabólicas (BEOPOULOS et al., 2009; 2010). A

manipulação genética tem gerado resultados no desenvolvimento de cepas de

leveduras com aumento ou diminuição da habilidade de formar os corpúsculos

lipídicos.

No trabalho desenvolvido por Bozaquel-Morais (2010), que teve como objetivo

determinar o papel da fosforilação na regulação da dinâmica de formação dos

corpúsculos lipídicos, foram avaliadas cepas mutantes de S. cerevisiae deletadas

para os genes das proteínas-fosfatases. Foram identificadas 13 cepas, das 65 cepas

mutantes testadas, que apresentaram níveis de corpúsculos lipídicos anormais.

Esse estudo foi capaz de identificar o envolvimento das proteínas-fosfatases na

síntese de lipídios em leveduras pela primeira vez na literatura.

Portanto, os óleos microbianos podem se tornar uma das potenciais matérias-

primas para a produção de biodiesel no futuro, embora ainda existam muitos

trabalhos associados com os micro-organismos produtores de óleo que precisam ser

desenvolvidos com maior intensidade (LI et al., 2008).

Capítulo 1 – Introdução Valoni, E.A.

3

Sendo assim, de acordo com a necessidade de contribuir para o avanço das

tecnologias de produção de óleo microbiano, o presente trabalho pretende estudar o

papel das proteínas-fosfatases no metabolismo de acúmulo de lipídios em cepas

geneticamente modificadas de S. cerevisiae cultivadas em escala de biorreator de

1L, em meio contendo como única fonte de carbono a glicerina loira, proveniente da

fabricação do biodiesel.

Capítulo 2 – Justificativas e Objetivos Valoni, E.A.

4

2. Justificativas e Objetivos

O desenvolvimento de plataformas sustentáveis utilizando micro-organismos

para a produção de bioprodutos e biocombustíveis está se tornando cada vez mais

crucial, a medida que as reservas de petróleo são diminuídas e os problemas

ambientais aumentam ao redor do mundo (ABGHARI et al., 2014). Os processos de

de bioconversão baseados nos micro-organismos podem ser utilizados para produzir

uma variedade de produtos, como biocombustíveis, biopolímeros e biossurfactantes,

a partir de uma vasta oferta de biomassa.

Muitas estratégias têm sido exploradas para melhorar a produtividade e a

competitividade de processos baseados nos micro-organismos. Para isso, deve-se

incluir nos estudos a manipulação genética e metabólica, tecnologias de

fermentação, matérias-primas de menor valor e o reuso de subprodutos (KOUTINAS

et al., 2014).

De uma maneira geral, os biolipídios produzidos pelas leveduras

oleaginosas, chamados de Single Cell Oil (SCO) são matéria prima adequada para a

produção de biodiesel (TANIMURA et al., 2014). Vários substratos utilizados para a

sua produção já foram reportados como o glicerol industrial (obtido da produção de

biodiesel ou da saponificação de gorduras) (PAPANIKOLAOU et al., 2002). A

levedura Saccharomyces cerevisiae é uma plataforma popular de engenharia

metabólica, assim como um micro-organismo produtor bastante atraente na

biotecnologia industrial. Esse status é o resultado de fatores como a intensa

experiência com esse micro-organismo em bioprocessos industriais, a facilidade de

realizar manipulações genéticas e sua robustez sob condições de processos

(SWINNEN et al, 2013).

O objetivo geral deste trabalho é aumentar o acúmulo de triacilglicerol, dentro

dos corpúsculos lipídicos, em Saccharomyces cerevisiae, para a futura produção de

biodiesel e aplicação em biocombustíveis. Para isto é importante identificar o papel

das proteínas fosfatases assim como os seus reguladores, no acúmulo de

corpúsculos lipídicos na levedura cultivada em condição respiratória, utilizando

glicerina loira como matéria prima. As modificações genéticas que apresentaram os

Capítulo 2 – Justificativas e Objetivos Valoni, E.A.

5

melhores resultados na relação de acúmulo lipídico e crescimento celular na

levedura Saccharomyces cerevisiae foram alvos para modificação na levedura

Yarrowia lipolytica, que é um dos micro-organismos oleaginosos com maior potencial

de aplicação industrial. Para alcançar o objetivo geral do projeto, este foi

segmentado nas seguintes etapas:

1. Avaliar o crescimento da levedura selvagem utilizando diferentes

concentrações de glicerol, visando determinar a melhor concentração de

substrato (% p/v) para a melhor relação entre o índice de corpúsculos

lipídicos (CL) e o crescimento celular de Saccharomyces cerevisiae.

2. Realizar uma varredura das cepas mutantes com deleções simples nos

genes que codificam para proteínas-fosfatases e suas subunidades

quando não essenciais (66 mutantes) e selecionar as cepas mutantes que

apresentem as melhores relações entre o índice de CL e crescimento

celular em meio contendo glicerol como única fonte de carbono.

3. Testar as cepas mutantes para os genes das proteínas-fosfatases que

foram selecionadas na varredura, em volumes de 50 mL de meio mínimo

(MM) contendo glicerol, em frascos do tipo erlenmeyer agitados em

agitador orbital sob temperatura de 30ºC.

4. Avaliar e comparar o comportamento da cepa mutante (selecionada no

ensaio anterior) e selvagem (WT) de Saccharomyces cerevisiae em

relação ao índice de CL e crescimento celular em biorreator de bancada.

5. Medir e avaliar o consumo de glicerol no meio reacional ao longo da

fermentação em biorreator.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

6

3. Revisão Bibliográfica

3.1 Micro-organismos oleaginosos

A utilização de micro-organismos oleaginosos (que podem acumular lipídios

em mais de 20% p/p em seu peso seco), como fonte de óleos e gorduras em

grandes escalas de operação, representa um grande interesse industrial

(PAPANIKOLAOU et al., 2011). Segundo Sitepu et al. (2014), a chamada “3ª.

geração" de biodiesel está sendo desenvolvida utilizando micro-organismos

acumuladores de óleos, tais como microalgas, bactérias, leveduras e outros fungos.

Estudos demonstram que leveduras são mais eficientes que bactérias e

microalgas em termos de acúmulo de lipídios (ENSHAEIEH et al., 2012). Além disso,

a levedura traz vantagens como, não ser influenciada pelo clima, como as

microalgas fotoautotróficas, e poder utilizar diversas fontes de açúcares, como a

xilose, em taxas de crescimento maiores do que as microalgas heterotróficas (CHI et

al., 2011). As leveduras também demonstram maior tolerância aos íons metálicos e

tolerância à baixa disponibilidade de oxigênio, quando comparadas aos fungos

filamentosos. Diferentemente da bactéria E. coli, a levedura possui compartimentos

intracelulares, maior tamanho celular (facilitando a sua separação), maior tolerância

a co-produtos com potenciais inibitórios (como ácidos orgânicos) e alto acúmulo do

produto final (BEOPOULOS et al., 2010; AGEITOS et al., 2011).

Por décadas as leveduras oleaginosas têm sido estudadas como uma fonte

microbiana de óleos para oleoquímicos, incluindo combustíveis, produtos químicos

de plataforma e ingredientes para alimentos e rações (WOODBINE, 1959). Muitas

descobertas foram feitas nas primeiras décadas de trabalho sobre o óleo de

levedura, o que impulsionaram estudos modernos, incluindo a descoberta de

espécies que apresentavam alto acúmulo de óleos, as melhores condições de

cultivo, a conversão de resíduos em lipídios e a produção em escala piloto e

comercial de produtos para o mercado (SITEPU et al., 2014). Uma empresa de

óleos microbianos, com sede na Califórnia, chamada Solazyme, solicitou diversas

patentes para o uso de óleos de leveduras para combustíveis, químicos e

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

7

ingredientes alimentares (FRANKLIN et al., 2011; 2011b), evidenciando um forte

interesse industrial em leveduras oleaginosas.

As leveduras e fungos filamentosos oleaginosos mais conhecidas incluem os

gêneros Candida, Cryptococcus, Rhodotorula, Rhizopus, Trichosporon e Yarrowia.

Em média, estas leveduras acumulam lipídios em um nível correspondente a 40%

de sua biomassa (LI et al., 2008, MENG et al., 2009). Em condições de limitação de

nutrientes, elas podem acumular lipídios para níveis que excedem 70% de sua

biomassa.

3.2 Conteúdo lipídico e composição dos ácidos graxo s presentes nas

leveduras oleaginosas

Os lipídios são moléculas biológicas estruturalmente diversas que são

relativamente insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. Eles incluem

duas categorias básicas: (1) moléculas derivadas de unidades de isopreno, como

esteróis e carotenoides, e (2) ácidos graxos e as moléculas relacionadas de cadeia

longa, como álcoois graxos, alcanos e alcenos (SITEPU et al., 2014).

As leveduras contêm vários tipos de lipídios, incluindo triacilgliceróis (TAG),

diacilgliceróis (DAG), monoacilgliceróis, ácidos graxos, ésteres de esterol, esteróis

livres e outros. Os lipídios são encontrados principalmente sob a forma de lipídios

neutros, glicolipídios, fosfolipídios e ácidos graxos livres (DEY e MAITI, 2013). As

frações de lipídios neutros, em geral, somam mais de 90% dos lipídios totais,

enquanto as frações não neutras representam menos que 10% (HUANG et al.,

2013). As classes de lipídios presentes, assim como a proporção entre lipídios de

membrana e de armazenamento, variam entre as espécies e as estirpes, condições

de cultivo e fase de crescimento da cultura (SITEPU et al., 2014).

Os triacilgliceróis (TAG) e ésteres de esterol são os principais lipídios neutros

e são sintetizados a partir do esterol, glicerol-3-fosfato e acil-CoA. A composição dos

ácidos graxos que formam os TAG intracelulares é variável, e depende da espécie

de levedura, fase de crescimento, condições ambientais e substratos do meio de

cultivo (ABGHARI et al., 2014).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

8

Os ácidos graxos mais comuns nas leveduras são os que apresentam 16 ou 18

átomos de carbono de comprimento (C16 e C18, respectivamente), saturados (sem

duplas ligações, como o C16:0) ou monoinsaturados (uma dupla ligação, como o

C18:1). Sendo que os C18:1 (ácido oleico), C16:0 (ácido palmítico) e C18:0 (ácido

esteárico) são os que aparecem em maiores concentrações, como mostra a Tabela

3.1 (BEOPOULOS et al., 2009).

Estes também são os ácidos graxos principais dos óleos vegetais utilizados

na produção do biodiesel, como o óleo de canola e girassol (AGEITOS et al., 2011).

3.3 Corpúsculos lipídicos

Os ácidos graxos e esteróis são importantes blocos construtores das

membranas celulares, e para manter os níveis celulares balanceados, certas

quantidades são armazenadas na forma de lipídios neutros, principalmente sob a

forma de triacilgliceróis e ésteres de esteróis. Porém, como ambas as moléculas são

insolúveis no citoplasma, elas precisam ser estocadas em compartimentos celulares

que são conhecidos como corpúsculos lipídicos (CL) (CZABANY et al., 2008).

Espécie Principais Ácidos Graxos (% relativa p/p)

Lipídios (%) C16:0 C16:1 C18:0 C18:1 C18:2 C18:3

Cryptococcus curvatus 58 25 Ta 10 57 7 N.D.b

Cryptococcus albidus 65 12 1 3 73 12 0

Candida sp. 107 42 44 5 8 31 9 1

Lipomyces starkeyi 63 34 6 5 51 3 0

Rhodotorula glutinis 72 37 1 3 47 8 0

Rhodotorula graminis 36 30 2 12 36 15 4

Rhizopus arrhizus 57 18 0 6 22 10 12

Trichosporon pullulans 65 15 0 2 57 24 1

Yarrowia lipolytica 36 11 6 1 28 51 1

Tabela 3.1: Conteúdo lipídico e perfil de ácidos graxos de le veduras e fungos filamentosos selecionadas. A porcentagem lipídica é dada em term os de biomassa seca.

Ta: quantidade traço N.D.b: não detectado

Fonte: Beopoulos et al., 2009.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

9

De acordo com MLÍĈKOVÁ et al. (2004), a estrutura desses compartimentos

é similar em todos os tipos de células, sendo bastante simples. Os CL consistem de

um núcleo formado pelos lipídios neutros, que são envolvidos por uma monocamada

de fosfolipídios com algumas proteínas incorporadas (Figura 3.1)

Figura 3.1: Anatomia de um corpúsculo lipídico: Ima gem superior - Uma micrografia eletrônica

de um corpúsculo lipídico ( Lipid Droplet ) em células cultivadas de hepatoma. Imagem inferio r

– As características estruturais de um corpúsculo l ipídico. Retirado de: FARESE, JR. e

WALTHER, 2009

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

10

Diversas hipóteses para explicar o mecanismo de formação dos CL foram

propostas. O modelo mais aceito indica que a biogênese dos CL provavelmente

resulta do brotamento do retículo endoplasmático (RE) (MURPHY et al., 2001), no

qual as enzimas no retículo endoplasmático sintetizam os lipídios neutros que são

depositados entre duas camadas da membrana do RE para formar um pré-

corpúsculo lipídico. Quando essa estrutura atinge certo tamanho, ela brota para

formar um CL maduro, conforme a Figura 3.2. (ZWEYTICK et al., 2000).

Segundo Czabany et al. (2008) e Murphy et al. (2012), algumas espécies de

leveduras podem acumular somente TAG nos corpúsculos lipídicos, enquanto outras

podem acumular somente ésteres de esterol, e ainda existem outras, como S.

cerevisiae, que podem acumular os dois.

Figura 3.2: Possível relação entre os corpúsculos l ipídicos (aqui representados por LD) e o

retículo endoplasmático (representado por ER). (A) Os LDs e o ER estão frequentemente

localizados próximos e podem fazer contato entre as suas membranas. Mitocôndrias (M)

também estão próximas aos LDs. (B) A figura mostra um grande LD intercalado com a

membrana do retículo. As setas indicam os pontos on de a membrana do retículo

endoplasmático é contínua com o corpúsculo lipídico . (C) Conexão por uma haste da

membrana. O brotamento pode ser constituído por ést eres lipídicos entre o LD e a membrana

do retículo. Retirado de: Fujimoto e Parton, 2011.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

11

Uma das principais funções atribuídas aos CL é manter a homeostase celular

de lipídios, entretanto, nos últimos anos os CL têm sido caracterizados não apenas

como armazenadores de lipídios neutros, mas também como estruturas

intracelulares dinâmicas, envolvidas em diversos processos metabólicos (LEBER et

al., 1994).

Em S. cerevisiae, cerca de 40 proteínas estão presentes na superfície dos

corpúsculos lipídicos, e a maioria delas está envolvida com o metabolismo lipídico.

Como exemplo, o CL de S. cerevisiae ancora enzimas da biossíntese do ácido

fosfatídico (ATHENSTAEDT et al., 1999), ativação de ácidos graxos (WATKINS et

al., 1998), biossíntese de esteróis (ZINSER et al. 1993), assim como enzimas para

biossíntese e degradação de TAG (ATHENSTAEDT et al., 2005) e hidrólise de

ésteres de esterol (JANDROSITZ et al. 2005).

Por essas características, os CL encontrados em micro-organismos são

também alvos de muitos estudos para fins biotecnológicos, principalmente em

leveduras oleaginosas, como Yarrowia lipolytica (BEOPOULOS et al., 2009).

3.4 Vias de acúmulo de lipídios em leveduras

Todos os micro-organismos são capazes de sintetizar lipídios, porém,

somente as estirpes oleaginosas podem acumular quantidades significantes dentro

de suas células (PAPANIKOLAOU e AGGELIS, 2011).

Segundo BEOPOLULOS et al. (2012), os lipídios podem ser acumulados

dentro da célula a partir de duas vias diferentes, conforme a seguir.

• Via de síntese de novo: envolvendo a produção de percursores de ácidos

graxos, acetil-CoA e malonil-CoA, e sua integração com a biossíntese

lipídica. Normalmente esta via é utilizada quando o crescimento do micro-

organismo é conduzido utilizando glicose ou glicerol como substrato e com a

limitação de nitrogênio.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

12

• Via de acúmulo ex novo: envolvendo o acúmulo de ácidos graxos, óleos e

TAGs provenientes do meio de cultura e o seu armazenamento, sem

modificações, dentro da célula. Esta via necessita que os ácidos graxos livres

sejam transportados para dentro da célula. A remontagem em frações de

TAGs e ésteres de esterol e o armazenamento são realizados dentro do

corpo lipídico.

Em uma série de estudos, foi demonstrado que os micro-organismos

oleaginosos não possuem um sistema hiperativo de biossíntese de ácidos graxos,

mas eles são capazes de produzir em quantidades significativas, acetil-CoA, a

unidade básica para a biossíntese de ácidos graxos. Dessa forma, a bioquímica da

síntese de novo pode ser dividida em duas partes distintas: o metabolismo celular

intermediário e a biossíntese de TAGs (PAPANIKOLAOU e AGGELIS, 2011).

Durante a síntese pela via de novo, o início do acúmulo de lipídios é induzido

pela exaustão ou limitação de um nutriente essencial do meio de cultura.

Usualmente, o nitrogênio é utilizado com esse propósito, pois a sua adição é fácil de

controlar. Quando o nitrogênio se torna indisponível a divisão celular diminui, pois

ele é crucial pra a síntese de proteínas e ácidos nucleicos. No entanto, o organismo

continua a assimilar a fonte de carbono (açúcares ou glicerol) do meio, que agora é

direcionada para a síntese de lipídios, ocorrendo o acúmulo de TAGs no interior da

célula e a formação de CL.

O acúmulo de lipídios por micro-organismos oleaginosos está relacionado

com a produção de ácido cítrico e a atividade da enzima isocitrato desidrogenase,

pertencente ao conjunto de enzimas presentes no Ciclo de Krebs (CK). A enzima

isocitrato desidrogenase é dependente de adenosina monofosfato (AMP). A AMP

desaminase cliva AMP em IMP (inosina monofosfato), na ausência de nitrogênio

proveniente do meio de cultivo. O grande decréscimo da concentração de AMP

intracelular altera as funções do CK. Com a alteração do ciclo, a isocitrase

desidrogenase, enzima responsável pela transformação do ácido isocítrico em ácido

α-cetoglutárico, perde sua atividade, visto que a mesma é ativada alostericamente

por AMP intracelular. Então, o ácido isocítrico é acumulado dentro da mitocôndria e

encontra-se em equilíbrio com o ácido cítrico (reação catalisada por isocitrato

aconitase). Quando a concentração de ácido cítrico dentro da mitocôndria alcança

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

13

valores críticos, ele é transportado para o citosol através do transporte citrato-malato

e é clivado pela enzima ATP citrato liase (ACL) formando oxaloacetato e acetil-CoA.

O acetil-CoA, unidade básica da biossíntese de ácidos graxos, é o precursor da

síntese lipídica de novo por micro-organismos oleaginosos (PAPANIKOLAOU e

AGGELIS, 2011).

De acordo com Beopoulos et al. (2008), o TAG é sintetizado a partir do acil-

CoA no retículo endoplasmático (RE) ou na membrana do CL através da via de

Kennedy. Esta via consiste em três etapas principais, através das quais, os ácidos

graxos são esterificados no esqueleto de glicerol 3-fosfato (G3P). A primeira

acilação do G3P para ácido lisofosfatídico (LPA) é seguida pela segunda acilação

para ácido fosfatídico (PA). A etapa final da acilação ocorre pelas três classes de

enzimas diacilglicerol aciltransferases (DGA) (ex.: DGAT1, DGAT2 e PDAT) (Zhang

et al., 2012). Um esquema com as principais etapas envolvidas na síntese dos

ácidos graxos e armazenamento de lipídios é apresentada na Figura 3.3.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

14

Figura 3.3: Visão geral das principais vias metaból icas da síntese de lipídios em Y. lipolytica .

A glicose, através da glicólise entra na mitocôndri a como piruvato para ser utilizado no ciclo

do TCA; no entanto, o excesso de acetil-CoA é tran sportado da mitocôndria para o citosol

através do transporte de citrato. O acetil-CoA no c itosol é convertido em malonil-CoA pela

acetil-CoA carboxilase (ACC) sendo a primeira etapa da síntese dos ácidos graxos. Após isso,

a síntese de triacilglicerol (TAG) segue a via de K ennedy, a qual ocorre no retículo

endoplasmático (RE) e corpúsculos lipídicos. O acil -CoA é precursor utilizado para a acilação

do esqueleto glicerol-3-fosfato para formar o ácido lisofosfatídico (LPA), que é então acilado

para formar o ácido fosfatídico (PA). PA é desfosfo rilado para formar o diacilglicerol (DAG) e

então acilado pela última vez através da diacilgli cerol aciltransferase (DGA) para produzir o

TAG. OAA oxaloacetato, a-KG alfa-cetoglutarato, PEP fosfoenolpiruvato, G3P gliceraldeído-3-

fosfato, DHAP dihidroxiacetona fosfato, ACL ATP cit rato liase, PC piruvato carboxilase, MDH

malato desidrogenase, MAE enzima málica. Retirado d e: Tai e Stephanopoulos, 2013.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

15

O mecanismo geral do acúmulo de lipídios em micro-organismos oleaginosos

ainda não foi totalmente esclarecido (MORIN et al., 2011). O fato de que várias

etapas de síntese são realizadas em diferentes compartimentos celulares cria uma

maior complexidade, já que existe a necessidade de transporte de compostos

intermediários entre esses compartimentos.

O acúmulo de lipídios usualmente não está associado à propriedades

de crescimento (AGEITOS et al., 2011). No entanto, uma porção significativa de

lipídios pode ser obtida durante o início da fase de crescimento (ANDRÉ et al.,

2009). O acúmulo de lipídios pode ocorrer durante a fase exponencial, em resposta

a necessidade de síntese de membrana (SHA, 2013), e geralmente alcança os

níveis máximos no início da fase estacionária, quando as células esgotaram os

nutrientes, mas ainda têm excesso de carbono no meio (TAI e STEPHANOPOULOS,

2013).

3.5 Síntese e acúmulo de lipídios utilizando substr atos hidrofóbicos no meio

de cultivo

A identificação de micro-organismos capazes de crescer e produzir lipídios a

partir de resíduos ou subprodutos do setor agroindustrial (FAKAS et al., 2008;

PAPANIKOLAOU et al., 2009), valorizando esses resíduos junto com a produção de

lipídios, pode aumentar a viabilidade do processo e ser simultaneamente benéfica

para o meio ambiente.

Poucas leveduras foram descritas como capazes de crescer em substratos

hidrofóbicos e ao mesmo tempo acumular quantidades significativas de lipídios

intracelulares. No entanto, é sabido que um maior número de micro-organismos é

capaz de consumir ácidos graxos livres, uma vez que o crescimento nesse material

é realizado independentemente da capacidade lipolítica do micro-organismo

(PAPANIKOLAOU et al., 2011). Em contraste, os micro-organismos que são

capazes de quebrar TAG ou ésteres de ácidos graxos, devem, obrigatoriamente,

possuir um sistema de lipases ativos em seu arsenal enzimático (PAPANIKOLAOU

E AGGELIS, 2010; AGGELIS et al., 1997; AGGELIS et al., 1995).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

16

Um aspecto interessante de ser observado é que quando o crescimento das

leveduras é realizado na presença de substâncias hidrofóbicas (a chamada via de

acúmulo de lipídios ex novo), o lipídio microbiano produzido contém menores

quantidades de TAG comparado com o cultivo em meios baseados em açúcar (a

chamada via de acúmulo de novo) (PAPANIKOLAOU et al., 2001; THORPE e

RATLEDGE, 1972; PAPANIKOLAOU et al., 2002b).

3.5.1 A bioquímica do acúmulo de lipídios através d a via ex novo

Os ácidos graxos livres (presentes como substratos iniciais, ou produzidos

depois da ação das lipases nos TAG ou ésteres de ácidos graxos) são incorporados

na célula através do auxílio do transporte ativo. Os ácidos graxos incorporados são

então divididos para as necessidades de crescimento ou se tornam substratos para

transformações endocelulares (síntese de “novos” perfis de ácidos graxos que não

existiam anteriormente no substrato) (GUO et al., 1999; KINOSHITA et al., 2001;

PAPANIKOLAOU et al., 2002b).

Os ácidos graxos livres vão ser degradados pelo processo da β-oxidação, em

cadeias menores de acil-CoA e acetil-CoA, em reações catalisadas por várias acil-

CoA oxidases (Aox) (FICKERS et al., 2005) fornecendo dessa forma, primeiramente

a energia necessária para o crescimento e manutenção das células e depois a

formação de substâncias orgânicas (metabólitos intermediários) que constituem os

precursores para síntese de materiais celulares.

Uma das principais diferenças entre as sínteses de novo e ex novo, é que no

último caso, o acúmulo de lipídios ocorre simultaneamente com o crescimento

celular, sendo completamente independente do esgotamento de nitrogênio no meio

de cultivo (PAPANIKOLAOU et al., 2002; AGGELIS et al., 1997).

Ainda de acordo com Papanikolaou et al. (2011), quando o material

hidrofóbico é utilizado como única fonte de carbono e energia, não é observada

qualquer síntese pela via de novo a partir do acetil-CoA. Isso ocorre, pois a enzima

ácido graxo sintase (FAS) e a ATP-citrato liase (ACL) são fortemente inibidas pela

presença de cadeias alifáticas exógenas.

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

17

3.6 Regulação do metabolismo de lipídios

A síntese dos lipídios deve ser fortemente regulada, para que sua toxicidade

seja prevenida sem que suas funções celulares sejam prejudicadas. No entanto, os

mecanismos exatos de regulação, que controlam a expressão e a atividade das

enzimas que contribuem para a formação dos CL, não estão ainda completamente

esclarecidos.

A etapa limitante da via de síntese de lipídios é a produção de malonil-CoA e

essa reação é catalisada pela enzima acetil-CoA carboxilase (ACCase). As

leveduras apresentam, assim como os mamíferos, duas isoformas de ACCase. A

deleção dos genes que as codfica, é possível, no entanto, a mutante não é capaz de

crescer em substratos não-fermentativos (HOJA et al., 2004). De acordo com

Munday et al. (1988), a atividade de ACCase é finamente controlada por fosforilação

reversível e quando o estado energético da célula é baixo, a proteína-quinase

ativada por AMP (AMPK), é a responsável por fosforilar diretamente a ACCase no

resíduo Ser e assim inibindo a enzima (Figura 3.4).

Ainda não está claro qual proteína fosfatase é a responsável pela

desfosforilação, e portanto, ativação da ACCase (BOZAQUEL-MORAIS, 2010).

Porém, experimentos da década de 80 apontam que uma proteína-fosfatase do tipo

PP2A seria capaz de desfosforilar uma ACCase in vitro, porém ainda não se sabe a

relevância fisiológica nem se essa fosfatase seria a responsável pela desfosforilação

in vivo (GAUSSIN et al., 1996).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

18

Figura 3.4: Síntese de ésteres de esterol (EEs) e t riacilglicerol (TAG). O acetil-CoA gerado a

partir de diferentes substratos é direcionado para a síntese de ácidos graxos pela enzima

acetil-CoA-carboxilase (ACCase) ou para a síntese d e esteróis pela 3-hidroxi-3-metil-glutaril-

CoA redutase (HMGR), ambas reguladas pela AMP quina se (AMPK). Os ácidos graxos são

convertidos a lipídios neutros, os TAG e EEs que sã o estocados nos corpúsculos lipídicos. Os

principais reguladores desta via são: AMPK (AMP qui nase), FAS (ácido graxo sintase), DGAT

(acil-CoA: diacilglicerol aciltransferease, LCAT (l ecitina:colesterol aciltransferase e ACAT (acil-

CoA;colesterol aciltransferase. Fonte:Bozaquel-Mora is (2010).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

19

3.6.1 As proteínas fosfatases na regulação do metab olismo lipídico

A fosforilação reversível das proteínas é um mecanismo muito utilizado de

regulação bioquímica e fundamental para o controle de diversas funções celulares

(COHEN, 1997). As proteínas quinases e fosfatases apresentam alto grau de

conservação em diversos organismos, e formam redes de sinalização complexas

nas quais promovem fosforilação e desfosforilação respectivamente, de resíduos de

aminoácidos em proteínas tornando possível uma rápida resposta a estímulos

(JOHNSON e BARFORD, 1993).

Através da identificação de fosfatases por técnicas bioquímicas, as Ser/Thr

fosfatases até então chamadas proteínas fosfatases (PPs), puderam ser divididas

em dois tipos (1 e 2) (INGEBRITSEN e COHEN, 1983). Mais recentemente, através

das técnicas de biologia molecular, uma nova classificação foi proposta (COHEN,

1990) e as proteínas fosfatases foram agrupadas em duas famílias, PPP

(fosfoproteína fosfatase) e PPM (fosfoproteína fosfatase dependente de magnésio).

Além dessas duas famílias, existe um terceiro grupo chamado PTP (fosfoproteína

tirosina fosfatase), constituído por proteínas fosfatases capazes de desfosforilar

resíduos de tirosina.

Em relação a regulação por fosforilação das enzimas envolvidas no

metabolismo lipídico, existem poucos exemplos que ainda não foram totalmente

compreendidos. Sabe-se que na levedura S. cerevisiae, a ACCase é regulada por

fosforilação reversível (WITTERS e WATTS, 1990). A proteína-quinase Snf1p/AMPK

é a principal proteína quinase envolvida na fosforilação e inativação da ACCase in

vivo (WOODS et al., 1994). Porém, apesar de ainda não ser conhecida a proteína-

fosfatase responsável pela fosforilação e consequentemente, ativação da ACCase,

já foi identificado em experimentos de larga escala que existe uma interação física

entre a Ser/Thr proteína fosfatase Sit4p e Acc1p (HO et al., 2002).

Bozaquel-Morais et al. (2010) em estudo envolvendo as fosfatases como

possíveis reguladores do metabolismo de lipídios, demonstrou que a proteína

fosfatase Sit4, associada à sua sub-unidade regulatória Sap190p, está envolvida na

regulação da Snf1p. Neste trabalho, foi observado que a cepa mutante, deletada

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

20

para o gene sit4, apresentava menor acúmulo de CL em comparação a cepas

selvagens. Análises posteriores revelaram que as mutantes deletadas para os genes

sit4 e sap190 apresentavam hiperfosforilação da Snf1/AMPK, controlando, assim,

indiretamente a atividade da ACC (Figura 3.5).

Figura 3.5: A fosfatase Sit4 associada à sua subuni dade Sap190p regula a atividade da Snf1p,

controlando sua fosforilação, e consequentemente mo dulando a atividade da ACC. Além de

Sit4p-Sap190p, Snf1p é desfosforilada por Glc7p-Reg 1. Fonte: Bozaquel-Morais (2010)

3.7 Manipulação genética de leveduras

O maior conhecimento sobre as rotas biossintéticas em leveduras (HENRY et

al., 2012) combinado com a expansão de ferramentas para manipulações

bioquímicas e genéticas, tem criado um excelente momento na pesquisa sobre

acúmulo de lipídios em leveduras (KOHLWEIN, 2010; KOHLWEIN et al., 2013).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

21

Apesar disso, poucos modelos foram desenvolvidos para o estudo do

metabolismo lipídico em leveduras. Dentre eles, podemos incluir a levedura

Saccharomyces cerevisiae, que tem sido amplamente utilizada como modelo

genético em estudos que tem melhorado significativamente o entendimento sobre o

metabolismo lipídico (CZABANY et al., 2007). As enzimas envolvidas na biossíntese

de TAG, armazenamento e degradação são muito semelhantes entre as espécies,

particularmente, entre as leveduras (BEOPOULOS et al., 2009).

S. cerevisiae oferece uma série de vantagens sobre as outras espécies de

leveduras oleaginosas como um micro-organismo hospedeiro para a produção de

ácidos graxos e seus derivados (SITEPU, 2014). Ou seja, a levedura S. cerevisiae é

mais facilmente manipulável geneticamente, quando comparada as leveduras

oleaginosas, já que as ferramentas para manipulação genética são mais abundantes

para essa espécie.

Além de S. cerevisiae, a levedura oleaginosa Yarrowia lipolytica tem recebido

destaque nos últimos trabalhos publicados envolvendo abordagens genéticas. O

genoma dessas duas leveduras foi completamente sequenciado, facilitando o

desenvolvimento de ferramentas genéticas e melhoramentos metabólicos

(BEOPOULOS et al., 2009; BEOPOULOS et al., 2010). De acordo com Sitepu et al.

(2014), a manipulação genética em leveduras oleaginosas tem resultado, por

exemplo, no desenvolvimento de cepas com maior ou menor capacidade de formar

os corpúsculos lipídicos.

De uma maneira geral, as abordagens da engenharia genética foram

desenvolvidas com base no potencial das leveduras serem utilizadas como

“fábricas” celulares para a produção de grandes quantidades de óleo, possibilitando

uma composição específica de lipídios e metabólitos de maior valor agregado.

(BEOPOULOS et al., 2009).

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

22

3.8 Escalonamento para o desenvolvimento de bioproc essos

O escalonamento do processo é geralmente a etapa final de qualquer

pesquisa com objetivo de produção industrial em larga escala de produtos por

fermentação (EINSELE, 1978).

Enquanto as abordagens de engenharia metabólica e de sistemas biológicos

são promissoras no desenvolvimento de processos otimizados em escala

laboratorial, eles precisam ser transferidos para escalas maiores sem reduzir a

sensibilidade das características de desempenho. De uma maneira mais direta, as

células que trabalham bem em escala de 1 litro são simplesmente requeridas a

desempenhar igualmente bem entre 5.000 e 10.000 litros (para químicos finos) ou

mais que 100.000 L (para commodities) (TAKORS, 2012).

É importante compreender que os processos de escalonamento de um

sistema de fermentação são frequentemente governados por um número importante

de parâmetros de engenharia, não sendo simplesmente uma questão de aumento

de volume do cultivo ou do vaso fermentador. Observa-se frequentemente que o

rendimento da biomassa e qualquer produto associado ao crescimento são

geralmente diminuídos no escalonamento de processos aeróbios (ENFORS et al.,

2001).

De acordo com Torrado e Matallana (2014), os processos industriais são

tecnologicamente otimizados para o maior rendimento de biomassa, mas pouco

caracterizados, do ponto de vista da adaptação molecular da levedura a condições

adversas de crescimento. No entanto, esse aspecto é crítico para um bom

desempenho do produto final.

As três principais escalas para o desenvolvimento de bioprocessos são: a)

laboratório, b) planta piloto e c) produção (JUNKER, 2002), podendo havere uma

escala demonstrativa. A taxa de escalonamento geralmente aplicada é de cerca de

1:10 para processos biotecnológicos até 100.000 L (VOTRUBA e SOBOTKA, 1992).

Porém, razões menores que 1:5 muitas vezes têm sido utilizadas para aumentar o

nível de segurança, isto é, diminuir o risco de um desempenho inesperado no

escalonamento. A escala de produção para vários produtos provenientes de micro-

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

23

organismos geneticamente modificados geralmente é de cerca de 10.000 L, o que é

mais uma escala piloto para outros tipos de produtos (NAVEH, 1985). A metodologia

exata que deve ser utilizada para o escalonamento depende em grande parte do tipo

e condições de processo, e se existem dados preliminares que mostram que o

procedimento escolhido é aplicável (BANKS, 1979).

Na maioria dos estudos de escalonamento envolvendo micro-organismos, a

otimização passo-a-passo é realizada. Seja a partir de frascos com agitação em

incubadores rotatórios ou em placas de poços múltiplos (possibilidade de avaliar em

paralelo um grande número de condições) para biorreatores. O rendimento do

produto depende de vários fatores que são altamente interligados. As condições do

ambiente rapidamente mudam em sistema de batelada agitado devido ao aumento

exponencial da biomassa, o que provoca muitas variações entre as culturas, um

problema que é extensivamente discutido (SIURKUS et al., 2010).

As exigências de desempenho em larga escala são desafiadoras e de

extrema importância, pois decisões econômicas sobre os investimentos para novos

bioprocessos são normalmente baseadas nos resultados de escala laboratorial. A

diminuição nas quantidades de produto, qualidade e rendimento em maiores

escalas, afeta diretamente os benefícios econômicos esperados.

Consequentemente, a atratividade de novos bioprocessos pode ter sua comparação

prejudicada com alternativas competidoras, ou até mesmo levar a sua interrupção

definitiva (TAKORS, 2012).

Por esses motivos, a elucidação de mecanismos de escalonamento para

prevenção de perdas não é somente um objetivo acadêmico, mas também uma

necessidade econômica (NOORMAN, 2011). Sem dúvidas, a rotina industrial

fornece vários exemplos de sucesso. No entanto, existem outros processos que são

sensíveis a condições de escalonamento e que mesmo fornecendo excelentes

rendimentos técnicos ou econômicos, falham em maior escala simplesmente porque

as expectativas de desempenho não podem ser cumpridas.

Sem dúvida, estudos sobre os sistemas biológicos são necessários para

entender a complexidade das respostas celulares em reatores em condições de

larga escala (LIDEN, 2002). Somente com esse entendimento holístico das

respostas celulares em múltiplos níveis será possível definir critérios que não sejam

Capítulo 3 – Revisão Bibliográfica Valoni, E.A.

24

determinados por parâmetros físicos (como atualmente) mas levando em conta as

propriedades biológicas intrínsecas. Utilizando esses critérios para os projetos

futuros, pode-se antecipar melhorias para uma bem sucedida transferência

“laboratório-para-produção” sem surpresas desagradáveis em larga escala

(TAKORS, 2012).

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

25

4. Materiais e Métodos

Neste capítulo são apresentados os principais materiais utilizados no estudo,

assim como as respectivas metodologias aplicadas.

4.1 Materiais

Os componentes dos meios de cultivo utilizados neste trabalho encontram-se

listados na Tabela 4.1.

Tabela 4.1: Reagentes utilizados no preparo dos mei os de cultivo e os respectivos fabricantes.

Reagente Fabricante

Extrato de Levedura Fluka

(NH4)2SO4 Vetec

KH2PO4 Vetec

Peptona Vetec

Agar-agar Vetec

Geneticina

Glicose

Glicerol P.A.

Sigma-Aldrich

Merck

Vetec

Os ensaios analíticos foram realizados com o uso dos reagentes

apresentados na Tabela 4.2.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

26

Tabela 4.2: Reagentes utilizados nos ensaios anal íticos e os respectivos fabricantes

Reagente Fabricante

Kit dosagem enzimática de glicerol

Clorofórmio

Metanol

Iodeto de Potássio

Doles Brasil

Vetec

Vetec

Sigma-Aldrich

BODIPY® 493/503 Invitrogen

Formaldeído

Triton-X 100

Tris-HCl

Follin

CuSo4

Glicerol P.A.

BSA

Sigma-Aldrich

Sigma-Aldrich

Sigma-Aldrich

Sigma-Aldrich

Vetec

Vetec

Sigma-Aldrich

A glicerina loira utilizada nos experimentos descritos nesse estudo foi cedida

pela Planta Piloto do CENPES, obtida do processo de produção de biodiesel

utilizando óleo de soja e metanol, através da transesterificação alcalina com KOH.

A pureza em glicerol, caracterizado por cromatografia líquida de alta eficiência

(HPLC) no laboratório BIOSE, foi de 82% (p/v).

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

27

4.2 Equipamentos

Os principais equipamentos utilizados no trabalho foram:

1) Autoclave vertical Prismatec, modelo: CS;

2) Balança Analítica Adventurer;

3) Biorreator Tecnal, modelo: TecBio 1,5

4) Capela de fluxo laminar equipada com luz UV BioFlux, modelo: II A1 90 AC;

5) Centrífugas Eppendorf, modelos: Centrifuge 5804R e 5415R;

6) Centrífuga Thermo, modelo: Megafuge 16R;

7) Centrífuga CELM, modelo: LS-3 Plus;

8) Espectrofotômetro Shimadzu, modelo: UV - 1800

9) Espectrofotômetro Shimadzu, modelo: UV Mini 1240;

10) Estufa Bacteriológica Fisher Scientific, modelo: Isotemp 655D;

11) Incubador com agitação Tecnal, modelo:TE-420;

12) Microscópio ótico Nikon, modelo: Eclipse E200 acoplado a câmera Evolution VF;

13) Ultrafreezer CodLab, modelo: CL120-800;

14) Vórtex IKA, modelo: MS2 Mini agitador orbital;

15) Leitora de Placas Molecular Devices, modelo: SpectraMax 5;

16) Agitador rotatório Barnstead, modelo: Labquake;

17) Capela para exaustão de gases SP Labor;

18) Agitador de placas Boekel Scientific, modelo: The Jitterbug;

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

28

4.3 Meios de cultura

Os meios de cultura utilizados nos experimentos estão listados a seguir:

• YPD ( “Yeast extract, Peptone, Dextrose”) – composição (em p/v):

1% extrato de levedura

2% peptona

2% glicose

• YPD ágar – composição (em p/v):

1% extrato de levedura

2% peptona

2% glicose

2% ágar-ágar

• Meio mínimo de cultivo para acúmulo de óleo (MM – glicerol/glicerina) -

composição (em p/v) (FIEDUREK et al., 2011):

1% extrato de levedura

0,3% (NH4)2SO4

0,1% KH2PO4

0,5%, 2%, 5% ou 15% glicerol P.A/ glicerina loira

4.4 Micro-organismos

As cepas da levedura Saccharomyces cerevisiae utilizadas no presente

estudo foram a BY4741 (MATa his3∆1 leu2∆0 met15∆0 ura3∆0) (Figura 4.1) e cepas

derivadas de BY4741 com deleções simples para genes do metabolismo lipídico (31

mutantes) e genes de todas as proteínas-fosfatases e suas subunidades quando

não essenciais (65 mutantes), de acordo com a anotação do Saccharomyces

cerevisiae genome database (SGD, disponível em www.yeastgenome.org).

As cepas mutantes foram obtidas da biblioteca comercial “Gene Deletion

Library” da Open Biosystems, na qual os genes foram deletados por recombinação

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

29

homóloga, onde o gene deletado é substituído por um gene marcador KAN,

conferindo resistência ao antibiótico geneticina.

Figura 4.1: Imagem de microscopia ótica da levedura Saccharomyces cerevisiae em aumento

de 1000x utilizando microscópio ótico Nikon, modelo : Eclipse E200.

4.4.1 Preservação

As leveduras foram mantidas em placas de meio YPD sólido com colônias

isoladas e estocadas em temperatura de geladeira. No caso das leveduras

mutantes, elas foram mantidas em meio YPD com geneticina (200 µg/mL) e também

estocadas em geladeira.

Além disso, 2 cepas da levedura S. cerevisiae (BY4741 e rrd2) foram

mantidas em 20% de glicerol e estocadas em nitrogênio líquido, em temperatura de

-196ºC.

4.4.2 Obtenção do pré - inoculo

As células, mantidas em meio sólido (conforme descrito no item 4.4.1), foram

inoculadas em meio YPD líquido, até a fase estacionária (48 h) em agitador orbital

numa temperatura média de 30ºC e agitação de 200 rpm. O crescimento das

culturas foi estimado pela leitura da absorção da amostra em espectrofotômetro no

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

30

comprimento de onda de 600 nm (absorvância 600 nm). A turbidez do meio foi

expressa em D.O. (densidade ótica/ 1 mL da amostra em cubeta com 1 cm de

caminho ótico).

4.4.3 Curvas de crescimento e cálculo do volume de inóculo

As leveduras foram inoculadas a baixa densidade (0,25 DO/ml). Para calcular

o volume de pré-inoculo a ser utilizado, uma alíquota deste era amostrada

assepticamente para obtenção da medida de absorvância (AbsInóculo) a 600nm.

Utilizando a Equação 1, obtinha-se o volume de inóculo necessário para obtenção

da absorvância inicial nos cultivos.

Abs Inóculo x VInóculo = Abs Cultivo x VCultivo (1)

Onde:

Abs Inóculo = Medida de absorvância do inóculo;

V Inóculo = Volume de inóculo para se obter absorbância inicial nos cultivos;

Abs Cultivo = Valor de absorbância inicial desejada para os cultivos;

V Cultivo = Volume dos cultivos a serem inoculados;

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

31

4.5 Experimentos Preliminares

4.5.1 Avaliação do crescimento celular e acúmulo de lipídios em

concentrações crescentes de glicerol e glicerina lo ira.

Experimentos preliminares foram realizados com o objetivo de avaliar o

crescimento celular e acúmulo de lipídios de levedura Saccharomyces cerevisiae

utilizando um meio contendo como fonte de carbono glicerol. Dessa forma, foram

selecionados para o estudo o glicerol P.A. e a glicerina loira em concentrações que

variaram entre 2, 5 e 15% de glicerol/volume (Tabela 4.3). É importante destacar

que a concentração de glicerina loira foi corrigida, de acordo com sua pureza de

82%. Os cultivos foram inoculados utilizando um pré-inóculo da cepa S. cerevisiae

BY4741(WT) crescida previamente em YPD até a fase estacionária (48 h). A

concentração inicial de células foi de 0,050 g/L e os cultivos foram realizados em

duplicata em erlenmeyer de 250 mL, contendo 50 mL de meio de cultivo a 30ºC em

agitador orbital a 200 rpm durante 108 horas.

Foram realizadas amostragens nos tempos de 12 h, 22 h, 36 h e 108 h de

fermentação, nos quais foram realizadas leituras de densidade ótica (absorvância

600 nm) para estimação do crescimento celular.

Também foram retirados volumes das amostras contendo uma suspensão

celular em torno de 5 D.O. totais em microtubos, para análise de corpúsculos

lipídicos. Para essa análise, foram adicionados 1/9 do correspondente volume da

amostra coletada de formaldeído (concentração final de aproximadamente 3,7% v/v)

e após homogeneização, os microtubos foram incubados por 15 minutos a

temperatura ambiente. Os microtubos foram centrifugados a 3000 rpm por 5

minutos, o sobrenadante descartado e o precipitado ressuspenso em 1000 uL de

água destilada estéril. Repetiu-se mais uma vez a centrifugação à 3000 rpm por 5

minutos e o precipitado com as células fixadas foi mantido sob refrigeração em torno

de 4ºC em geladeira para posterior leitura do índice de corpúsculos lipídicos.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

32

Tabela 4.3: Experimentos preliminares para avaliaçã o da fonte de carbono utilizada.

Fonte de Carbono Concentração

Glicerol P.A.

(A) 2%

(1)

5%

(2)

15%

(3) Glicerina Loira

(B)

4.5.2 Varredura das cepas de Saccharomyces cerevisiae mutantes para

avaliar o índice de corpúsculos lipídicos, quando c ultivadas em glicerina loira

5%

Para os experimentos de varredura das cepas de S. cerevisiae mutantes

foram utilizadas microplacas de 96 poços, nas quais foram distribuídas cepas que

apresentavam deleções simples para o gene do metabolismo lipídico (31 mutantes)

e deleções para os genes das proteínas-fosfatases e suas subunidades quando não

essenciais (66 mutantes). Além das cepas mutantes, mais 7 clones da cepa

selvagem BY4147 foram distribuídas, como um controle para a comparação,

somando um total de 104 cepas no experimento. A relação com todas as cepas

mutantes utilizadas nesse estudo encontra-se descrita nos Apêndices A, B e C.

Da placa com repique em YPD sólido, foi feito um pré-inóculo em microplaca

de 96 poços contendo 200 µL de meio YPD líquido, utilizando-se um replicador de

96 pinos. As células foram incubadas em estufa microbiológica a 30ºC, por 48 h.

Deste pré-inóculo, novamente com auxílio do replicador, as células foram

inoculadas em meio de cultivo para acúmulo de óleo com 5% de glicerina loira. As

células foram incubadas em incubador próprio para microplacas com agitação na

velocidade máxima estabelecida pelo equipamento e 30ºC por 48 horas.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

33

Após o período de 48 horas, com auxílio de uma micropipeta multicanal, as

culturas foram fixadas para determinação do índice de corpúsculos lipídicos,

adicionando-se 23 µL de formaldeído (concentração final de aproximadamente 3,7%

v/v) e incubadas em temperatura ambiente por 15 minutos. As microplacas foram

centrifugadas a 3000 rpm por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado e as células

lavadas com água destilada e centrifugadas novamente a 3000 rpm por 5 minutos. O

sobrenadante foi descartado e ao final do procedimento, as placas contendo o

precipitado celular foram guardadas em geladeira a temperatura de 8ºC até o

momento do ensaio.

Foram feitos três experimentos em replicata para avaliar o índice de CL no

meio de cultivo contendo 5% de glicerina loira.

4.5.3 Avaliação das cepas mutantes para gene fosfat ase em meio 5% de

glicerina loira

Para essa avaliação foram selecionadas as cepas mutantes para os genes

das proteínas-fosfatases que apresentaram os melhores resultados de crescimento

celular e índice de corpúsculos lipídicos nos experimentos anteriores.

Foram realizados experimentos em triplicata utilizando pré-inóculos das cepas

mutantes selecionadas em meio YPD líquido (para as cepas mutantes foi adicionado

200 µg/mL de geneticina ao meio). Os pré-inóculos foram adicionados numa

concentração inicial de células de 0,105 g/L em 50 mL de meio de cultivo em frascos

erlenmeyers de 250 mL e incubados a 30ºC em agitador orbital em velocidade 200

rpm durante 48 horas.

Foram retiradas amostras nos tempos de 20 h, 26 h e 45 h de fermentação

para leitura do crescimento celular (densidade ótica 600 nm) e também foram

coletadas amostras contendo 5 D.O. de células e fixadas em formaldeído 3,7% (v/v),

conforme descrito anteriormente, para a determinação do índice de corpúsculos

lipídicos.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

34

4.6 Avaliação do acúmulo de corpúsculos lipídicos e m biorreator por

Saccharomyces cerevisiae mutante utilizando como fonte de carbono 5% de

glicerina loira

A partir dos experimentos prévios, foi selecionada uma cepa mutante deletada

para determinado gene regulatório não essencial de fosfatase que apresentou o

melhor resultado determinado para a relação crescimento celular e índice de CL e a

cepa selvagem utilizada como controle do experimento.

Os ensaios para avaliação de corpúsculos lipídicos foram conduzidos em

biorreator instrumentado em fermentação por 48h. Foi utilizado um biorreator

Tecnal® modelo TecBio 1,5 com vaso reacional de capacidade total de 1 L,

contendo 700 mL do meio. Todo o sistema, compreendendo o biorreator foi

previamente esterilizado em autoclave a 0,5 atm por 15 minutos.

Os experimentos foram conduzidos e controlados automaticamente a uma

temperatura de 30ºC e agitação de 200 rpm. A aeração de 1VVM foi feita através da

alimentação contínua de ar comprimido filtrado em filtro estéril com porosidade 0,45

µm.

Durante o período de fermentação, foram coletadas alíquotas nos tempos de

0 hora (logo após a inoculação do meio), 4 horas, 24 horas, 28 horas e 48 horas. As

alíquotas continham aproximadamente 5mL de amostra e foram realizadas com

auxílio de uma seringa, tomando-se o cuidado de desprezar o volume morto contido

na mangueira de amostragem.

As amostras foram coletadas nos tempos determinados, conforme citado

acima, para determinação das densidades óticas (D.O. 600nm), e a determinação do

glicerol presente no meio. Nos tempos 24 horas, 28 horas e 48 horas foram

coletadas amostras para a determinação dos corpúsculos lipídicos. No tempo de 48

horas foi coletada uma amostra para dosagem de triacilglicerol (TAG) nas células

das leveduras.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

35

4.7 Métodos Analíticos

4.7.1 Determinação de Biomassa

Para conversão da densidade ótica em concentração da biomassa, efetuou-

se uma curva de calibração da densidade ótica (600 nm) versus peso seco (g/L)

utilizando-se o fator de conversão obtido pela curva de peso seco. Para isso,

usando-se uma suspensão de células em solução salina (água destilada com 0,9%

(p/v) NaCl), retira-se uma amostra (20 mL), que é filtrada em papel de filtro Millipore

(0,45 µm), seca em luz de infravermelho por 30 minutos e, seca novamente até peso

conatante. Da mesma suspensão são feitas diferentes diluições de modo a se obter

concentrações celulares distintas e, então, o valor de absorvância para cada

concentração é obtida em espectrofotômetro a 600 nm.

4.7.2 Ensaio de recuperação de fluorescência (ERF) para determinação do

Índice de Corpúsculos Lipídicos (ICL)

A determinação de corpúsculos lipídicos nas células de S. cerevisiae foi

realizada pelo método de ERF descrito por Bozaquel-Morais (2010), a partir de uma

suspensão celular em torno de 5 D.O. que foi fixada com formaldeído na

concentração final de 3,7% (v/v) durante 15 minutos a temperatura ambiente. As

células fixadas foram centrifugadas a 3000 rpm durante 5 minutos e o sobrenadante

foi descartado. As células foram lavadas 1x com água destilada e centrifugadas por

mais 5 minutos a 3.000 rpm. O precipitado celular formado foi guardado a 4ºC até a

realização do ensaio.

Foi preparado um meio de leitura, que consiste em uma solução de

BODIPY®493/503 5 µM e iodeto de potássio 500 mM. Alíquotas de 200 µL do meio

de leitura foram distribuídas nos poços de uma microplaca de 96 poços (pretas com

fundo transparente) e incubadas por 5 minutos a 30º C ao abrigo da luz para

estabilização do meio.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

36

Em seguida, as amostras de células foram analisadas 4 vezes, mediante

sucessivas adições de alíquotas de 5 µL da suspensão celular a cada poço. Após

cada adição, é medida a fluorescência em excitação de 485 nm com emissão a 510

nm, cutoff de 495 nm, através de um leitor de placas. Uma leitura de absorvância é

também realizada para cada poço no comprimento de onda de 600 nm. A qualidade

dos dados obtidos foi avaliada através da análise da linearidade das medidas

comparadas a densidade ótica do poço. A partir dessa curva, obtém-se o índice de

corpúsculos lipídicos, denominado ICL, que trata-se da fluorescência relativa obtida

por unidade de densidade ótica de uma cultura de leveduras. Em caso de R2 menor

que 0,9 para a curva de uma amostra, a medida deve ser descartada e repetir uma

nova medição.

4.7.3 Determinação da concentração de glicerol pres ente no meio de cultivo

As amostras coletadas durante a fermentação nos tempos 0 hora, 4 horas, 24

horas, 28 horas e 48 horas, foram centrifugadas a 3.000 rpm durante 5 minutos para

separar o meio de cultivo das células, que formaram o precipitado celular. O meio de

cultivo sem as células foi guardado a -20ºC até o momento da análise.

As amostras coletadas foram analisadas por cromatografia líquida de alta

eficiência (HPLC).

4.7.4 Dosagem enzimática de triacilglicerol

Foram retiradas amostras contendo células crescidas no meio usado para

fermentação no biorreator após 48 h de cultivo. Foi coletado um volume equivalente

a 30 D.O. de células. As células recolhidas foram centrifugadas a 3.000 rpm por 5

minutos a temperatura ambiente. O sobrenadante foi descartado e o precipitado

guardado em ultrafreezer a -80ºC até o momento da análise.

As células foram ressuspensas em 300 µL de tampão Tris-HCl 50 mM, pH 7,5

e Triton-X 100 a 0,3% v/v. O conteúdo foi transferido para um tubo de ensaio de

vidro e adicionadas pérolas de vidro para promover o rompimento das células por

agitação, com o auxílio do vórtex por 5 ciclos de 30 segundos intercalados com

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

37

incubações por 30 segundos em banho de gelo. O homogeneizado foi coletado entre

as pérolas de vidro e transferido para outro tubo. Em seguida, foi adicionado mais

300 µL do mesmo tampão para lavar as pérolas e coletar novamente o

homogeneizado, centrifugando por mais 10 minutos a 3.000 rpm e transferindo o

sobrenadante coletado para um tubo de vidro de fundo cônico.

Em seguida, foi realizada uma extração de lipídeos neutros, de acordo com o

protocolo adaptado de Bligh & Dyer (BLIGH & DYER, 1959), no qual, foi adicionada

ao sobrenadante uma proporção de metanol e clorofórmio de 2:1 numa relação

máxima de água na mistura de solventes de 0,8 (água:metanol:clorofórmio). Essa

mistura foi agitada com auxílio de vórtex por dois minutos e centrifugada durante 15

minutos a 3.000 rpm, observando a formação de um precipitado e de uma única fase

sobrenadante. Todo o sobrenadante foi coletado e transferido para outro tubo de

vidro de fundo cônico, onde foi adicionado clorofórmio e água na proporção de

0,5:0,5. Após rápida agitação, os tubos foram centrifugados por 15 minutos a 3.000

rpm. A fase orgânica foi coletada com auxílio de uma pipeta Pasteur e transferida

para outro tubo de vidro de fundo cônico. A fase orgânica coletada foi seca sob fluxo

de nitrogênio e auxílio de um bloco de aquecimento. Os lipídios neutros foram

ressuspensos em 200 µL de tampão Tris-HCl 50 mM, pH 7,5 e Triton X 100.

Com os extratos lipídicos obtidos, os triacilgliceróis foram dosados como

previamente descrito por Bozaquel-Morais (2010), utilizando-se um kit clínico para

dosagem de TAG de acordo com as instruções do fabricante. O kit baseia-se em

reações enzimáticas, onde o triacilglicerol é primeiramente hidrolisado por uma

lipase gerando ácidos graxos e glicerol, e este último é dosado mediante a ação da

enzima glicerolquinase acoplada a reação da glicerol-fosfato oxidase. Nesta reação

ocorre a produção de peróxido de hidrogênio o qual é dosado mediante a oxidação

do substrato 4-aminoantipirina pela ação da enzima peroxidase, conforme as

reações descritas na figura 4.2. O substrato oxidado apresenta coloração rosada,

que foi medida no espectrofotômetro no comprimento de onda de 510 nm. Como

padrão utilizou-se uma solução de glicerol padrão na concentração de 0,1 mg/mL.

Capítulo 4 – Materiais e Métodos Valoni, E.A.

38

Figura 4.2: Reações enzimáticas envolvidas na quant ificação dos triglicerídeos. (Fonte: kit

enzimático para dosagem de triacilglicerídeos. Dole s, Brasil)

4.7.5 Determinação de Proteínas Totais

Para a dosagem de proteínas totais, foi utilizado o método de quantificação

colorimétrico de Folin – Lowry (LOWRY et al., 1951) no qual foi separada uma

alíquota de 50 µl da fase única obtida da centrifugação do homogeneizado com

mistura dos solventes metanol:clorofórmio na proporção 2:1. Foram adicionados

12% de ácido tri-cloroacético (TCA) para precipitação em banho de gelo por 10

minutos. Em seguida, as amostras foram centrifugadas em velocidade máxima por

10 minutos a 4ºC e todo sobrenadante, contendo o TCA, foi retirado com auxílio de

uma pipeta. O precipitado foi ressuspendido em 100 µL de solução alcalina.

Uma solução constituída por 98% de solução alcalina, 1% de CuSO4 e 1% de

tartarato de sódio e potássio, chamada de solução D, foi adicionada as amostras e

estas incubadas em temperatura ambiente por 10 minutos. Após esse procedimento,

foi adicionado com agitação imediata o reagente de Folin Ciocateau 1N e as

amostras protegidas da luz foram incubadas por 20 minutos em bancada. A leitura

foi medida no espectrofotômetro em comprimento de onda de 660 nm. Como padrão

utilizou-se uma solução de BSA.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

39

5. Resultados e Discussão

Seguindo os objetivos da dissertação em questão, neste capítulo serão

apresentados os resultados da avaliação da cepa de levedura Saccharomyces

cerevisiae selvagem (WT) e da cepa mutante para genes que codificam proteínas

fosfatases e seus reguladores, crescidas em meio contendo o glicerol como única

fonte de carbono.

5.1 Avaliação de fontes de carbono alternativas no meio de cultivo para

acúmulo de lipídios

A maioria dos estudos de produção de lipídios a partir de micro-organismos

oleaginosos, como microalgas e leveduras, é realizado utilizando glicose como única

fonte de carbono (PAPANIKOLAOU et al., 2010). O alto custo da produção de

biodiesel a partir de micro-organismos oleaginosos tem como principal vilão o alto

custo da glicose, o qual é estimado ser 80% do custo total do meio (TSIGIE et al.,

2011). No entanto, diversos esforços têm sido realizados com a intenção de

minimizar o custo da fonte de carbono, pesquisando fontes alternativas de carbono

como o uso do glicerol (PAPANIKOLAOU et al., 2003) .

Nesse estudo, foi primeiramente avaliado o crescimento em glicerol

proveniente do glicerol puro (P.A.) e da glicerina loira, subproduto do processo de

obtenção do biodiesel. O meio utilizado foi um meio mínimo (FIEDUREK et al.,

2011), de baixo custo que poderia ser utilizado na indústria, contendo 2%, 5% e

15% (p/v) de glicerol puro (P.A.). Para a glicerina loira as mesmas concentrações

foram ajustadas de acordo com a sua pureza (82% p/v) para que todos os meios

apresentassem a mesma concentração em glicerol. A cepa de S. cerevisiae usada

para avaliação do crescimento celular foi a cepa selvagem BY4741 (WT).

Conforme podemos observar na Figura 5.1, a cepa BY4741 tem um

crescimento comparável em 2 e 5% de glicerol puro ou glicerina loira (Figura 5.1),

sendo que em 15% de glicerol puro a absorvância máxima foi duas vezes menor

que em 2 e 5% de glicerol. Quando comparado com concentrações de 2% e 5% de

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

40

glicerina loira, podemos observar também que o crescimento não foi diferente entre

eles.

Figura 5.1: Avaliação do glicerol puro (P.A.) (A) e da glicerina loira (B) como fonte de carbono.

Depois de avaliar o crescimento em glicerol, comparou-se este com o

crescimento em glicose, como pode ser observado na Figura 5.2, a diferença

principal entre estes dois é que a levedura utiliza um metabolismo respiratório

quando crescida em glicerol e um fermentativo quando crescida em glicose. Foi

possível observar que o crescimento da cepa WT em glicerol e glicerina loira ainda

apresenta uma fase inicial de adaptação do crescimento, também chamada de fase

lag, em 10 horas de crescimento, enquanto em meio MM com glicose em 10 h já

está na fase estacionária.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

41

Em glicerol puro 2% e 5% e em glicerina loira 2% a fase exponencial de

crescimento teve início somente em 12 horas de cultivo (Figura 5.2 A e B). Esses

resultados estão de acordo com estudos anteriores que revelam que em S.

cerevisiae o consumo de glicerol, comparado ao consumo apresentado pela glicose,

é menos eficiente, com tempo de duplicação da massa celular em torno de 4 horas

(BEOPOULOS et al., 2009).

Figura 5.2: Curvas de crescimento da cepa selvagem (WT) BY4741 de S. cerevisiae nos meios MM – 2% e MM – 5% (p/v) de glicerol puro (A) e glicerina loira (B) e MM – 5% (p/v) de glicose .

A

B

C

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

42

Em estudo realizado por Swinnen et al. (2013), o mesmo efeito descrito foi

observado quando foram testadas diversas estirpes de S. cerevisiae em meio

sintético contendo glicerol, e a fase lag foi extremamente longa para todos os

isolados testados, até mesmo naqueles onde as cepas mostraram uma taxa

relativamente alta de crescimento após entrarem na fase exponencial de

crescimento.

O efeito que foi observado em condições de crescimento em glicerol era

esperado, pois S. cerevisiae é uma levedura que preferencialmente opta pela via

fermentativa quando na presença de glicose em concentrações a partir de 2% (p/v).

Já utilizando glicerol como única fonte de carbono, nas mesmas concentrações,

essa levedura tem como única opção realizar o metabolismo respiratório, tendo

como resultado um reflexo negativo nas taxas de crescimento celular.

Foram determinados os índices de CLs para a cepa WT crescida em meio

mínimo (MM) com glicerol puro e glicerina loira a 2% ou 5%, nos tempos de 36 horas

e 108 horas (tempo final do ensaio). Os índices de CL foram determinados pelo

ensaio de recuperação de fluorescência (ERF) (Figura 5.3 A e B). Comparando o

índice de CL entre os diferentes meios, é possível notar que os maiores índices de

CL foram alcançados quando 5% de glicerina loira foi utilizada como fonte de

carbono.

Os resultados também evidenciaram outra característica conhecida no

comportamento de acúmulo de lipídios pelas leveduras, na qual a síntese de CL tem

início na fase exponencial um pouco tardia, com seu índice máximo de acúmulo ao

longo da fase de desaceleração e início da fase estacionária de crescimento

(SANDAGER et al., 2002).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

43

Figura 5.3: Acúmulo de lipídios utilizando meios co ntendo 2% e 5% (p/v) de glicerol puro (A) e

glicerina loira (B). Índice de corpúsculos lipídico s (CL) obtidos pelo ensaio de recuperação de

fluorescência na cepa selvagem BY47421 (WT) de S. cerevisiae com 36h e 108h de ensaio.

Analisando os resultados de crescimento e índice de CL, optou-se por utilizar

como fonte de carbono no meio, 5% de glicerol contido na glicerina loira. Esta

concentração foi escolhida já que foi a que mostrou um índice de CL maior e

alcançou um crescimento igual ao 2% de glicerol, mantendo uma boa relação entre

o crescimento celular e o índice de CL.

Para esta escolha também foi levado em consideração que a utilização da

glicerina loira na produção de lipídios microbianos representa uma estratégia

promissora pois permite uma valiosa reutilização de um dos maiores resíduos

produzidos pela indústria do biodiesel (RAIMONDI et al., 2014).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

44

5.2 Varredura das cepas de Saccharomyces cerevisiae mutantes para

escolha da cepa com maior índice de acúmulo de lipí dios crescida em glicerina

loira 5%

Em estudo anterior realizado por Bozaquel-Morais (2010) foi avaliado o

envolvimento das proteínas fosfatases no metabolismo lipídico de S. cerevisiae.

Como estratégia foram medidos os índices de CL para as cepas deletadas para

todos os genes fosfatases e seus reguladores conhecidos presentes na levedura. A

varredura foi realizada crescendo as leveduras em meio rico (YPD) contendo 2% de

glicose como fonte de carbono até a fase exponencial. As cepas com maior ou

menor índice de CL que a cepa WT foram selecionadas e classificadas como llc e

hlc (baixo e alto conteúdo de CL, respectivamente). Nesta varredura foi possível

descobrir novos reguladores da síntese de CL.

A partir destas observações avaliou-se o comportamento e envolvimento das

proteínas fosfatases e seus reguladores na síntese de CL quando crescidas em

glicerol. Avaliou-se também o envolvimento no metabolismo respiratório, já que no

presente estudo a única fonte de carbono utilizada é o glicerol.

Foram testadas 104 cepas, divididas em dois grupos. O primeiro grupo, que

atuou como um grupo referência, é composto de 30 cepas deletadas para genes que

codificam enzimas associadas a corpúsculos lipídicos e/ou enzimas envolvidas no

metabolismo de esterol, triacilgliceróis e ceramida (Apêndice C) (Natter et al., 2005).

O segundo grupo, chamado de grupo das fosfatases, é o grupo alvo de interesse

para o estudo do envolvimento no metabolismo lipídico, e contém 67 mutantes

deletadas para as proteína-fosfatases e respectivas subunidades regulatórias

conhecidas (Apêndice B) (BOZAQUEL-MORAIS, 2010), de acordo com anotação na

base de dados online do genoma de Saccharomyces cerevisiae

(www.yeastgenome.org). Além das 97 cepas mutantes, foram incluídos 7 clones

independentes da respectiva cepa selvagem (WT) BY4741 de S. cerevisiae.

As cepas tiveram seus índices de corpúsculos lipídicos medidos através do

ensaio de recuperação de fluorescência no tempo final do ensaio, em 48 horas.

Também foram feitas medidas de absorvância no comprimento de onda 600 nm

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

45

para avaliar o crescimento celular. Os valores obtidos foram normalizados pela

média obtida em cada experimento e classificados do maior para o menor valor para

média de ICL obtido.

Os valores da média do índice de CL normalizados variaram entre 4,70 e

0,629. No entanto, levando-se em consideração o crescimento celular, podemos

observar que houve um comportamento muito semelhante para as cepas mutantes

dos dois grupos analisados. As cepas que apresentaram maiores índices de CL

foram as que apresentaram valores menores de crescimento celular. Assim como o

contrário também foi observado, as cepas mutantes que menos acumularam lipídios

foram as que tiveram melhor crescimento no meio contendo glicerol (Figura 5.4).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

46

Figura 5.4: Distribuição das cepas mutantes em sínt ese de lipídio (A) e mutantes em proteínas

fosfatases (B), de acordo com a relação crescimento celular (medida por absorvância em 600

nm) e índice de CL no tempo de 48 horas.

A

B

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

47

A utilização da glicerina loira traz em sua composição diversos contaminantes

e impurezas (em particular álcoois, sabões e metais) que são conhecidos por afetar

negativamente ou até mesmo inibir o crescimento microbiano (SAMUL et al., 2014).

As cepas que, apesar de apresentarem um alto índice de CL, apresentaram

um crescimento muito baixo nos meios com glicerina loira, não foram selecionadas

para os experimentos seguintes (Tabela 5.1). Considerou-se importante para o

estudo ter cepas que além de apresentar índice de CL elevado também tivessem

crescimento satisfatório no meio proposto utilizando a glicerina loira.

Considerando o grupo das fosfatases como grupo alvo do estudo, foram

classificadas as cepas que acumularam mais lipídios e selecionadas as oito cepas

mutantes com os maiores valores da média de ICL (Tabela 5.2).

Tabela 5.1: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletadas para genes de síntese de lipídio s e para subunidades catalíticas e regulatórias não ess enciais de fosfatases submetidos a screening pelo método de recuperação de fluorescência e dens idade ótica (DO 600 nm) que não apresentaram crescimento celular satisfatório.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

48

Nome Processo Biológico Média

ICL D.P.

Media DO600 nm

D.P.

pph3 Fosfatase tipo 2A 1,826 0,750 0,559 0,413

cna1 Subunidade de calcineurina, fosfatase tipo 2B 1,600 0,874 0,750 0,579

oca1 Tirosina fosfatase 1,527 0,820 0,793 0,480

bni4 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 1,428 0,238 0,527 0,175

pph22 Fosfatase tipo 2A 1,374 0,300 0,848 0,353

oca2 Tirosina fosfatase 1,364 0,181 0,650 0,309

yvh1 Tirosina fosfatase 1,335 0,919 1,041 0,747

rrd2 Ativador da atividade tirosina fosfatase de PP2A 1,311 0,154 0,780 0,232

nem1 Provável subunidade catalítica do complexo Nem1p-Spo7p

1,310 0,039 0,444 0,320

cnb1 Subunidade de calcineurina, fosfatase tipo 2B 1,305 0,439 0,712 0,409

ptp2 Tirosina fosfatase 1,203 0,306 0,922 0,452

ptc7 Fosfatase do tipo 2C 1,179 0,085 0,870 0,167

tip41 Interage fisicamente com Tap42p, regula Sit4p 1,161 0,242 0,892 0,123

pam1 Proteína de função desconhecida 1,087 0,134 1,149 0,414

msg5 Fosfatase dual 1,084 0,208 0,969 0,043

sap4 Subunidade regulatória da fosfatase Sit4p 1,074 0,067 0,827 0,169

ppq1 Ser/Thr fosfatase 1,074 0,270 0,943 0,078

sap155 Subunidade regulatória da fosfatase Sit4p 1,069 0,359 1,346 0,574

psr2 Fosfatase envolvida em resposta geral a estresse 1,048 0,054 1,089 0,368

sap185 Subunidade regulatória da fosfatase Sit4p 1,047 0,328 1,028 0,346

ppg1 Ser/Thr fosfatase 0,996 0,326 1,610 1,034

rts1 Subunidade regullatória da fosfatase tipo 2A 0,979 0,276 1,413 0,075

gip1 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,917 0,033 1,154 0,251

ptc4 Fosfatase do tipo 2C 0,896 0,265 1,252 0,459

mih1 Tirosina fosfatase 0,896 0,266 1,105 0,654

sdp1 MAP quinase fosfatase 0,885 0,169 1,159 0,354

pps1 Fosfatase com atividade para resíduos ser, thr e tyr 0,882 0,062 1,116 0,395

YGR203W Similar a Cdc25p, Arr2p e Mih1p 0,877 0,322 1,662 0,773

Tabela 5.2: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletadas para genes de síntese de lipídio s e para subunidades catalíticas e regulatórias não essencia is de fosfatases submetidos a screening pelo método de recuperação de fluorescência e densidade ótica (DO 600 nm). As cepas destacadas em verde foram selecionadas como hlc (alto conteúdo lipídico).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

49

YNL010W Similar a serina fosfatase 0,869 0,164 1,845 0,196

reg2 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,866 0,240 1,203 0,247

ptc6 Fosfatase do tipo 2C 0,864 0,186 1,081 0,416

ppz2 Fosfatase do tipo 1 0,853 0,200 1,388 0,431

rts3 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 2A 0,842 0,066 1,713 0,409

sis2 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Ppz1p 0,835 0,308 1,293 0,567

pho13 Fosfatase alcalina com atividade proteína fosfatase

0,830 0,212 1,295 0,200

psy4 Subunidade regulatória da fosfatade tipo 2A Pph3p 0,823 0,258 1,554 0,764

gip2 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,817 0,044 1,490 0,420

YBR051W ORF dúbio, parcialmente sobrepõe REG2 0,815 0,247 1,793 0,722

YER121W Proteína putativa de função desconhecida 0,809 0,248 1,784 0,010

ptc2 Fosfatase do tipo 2C 0,801 0,150 1,474 0,203

ptp1 Tirosina fosfatase 0,800 0,371 1,360 0,676

ptc3 Fosfatase do tipo 2C 0,798 0,211 1,746 0,222

ptc5 Fosfatase do tipo 2C 0,793 0,175 1,422 0,330

ltp1 Tirosina fosfatase 0,785 0,253 1,772 0,681

psr1 Fosfatase envolvida em resposta geral a estresse 0,779 0,236 1,610 0,327

sap190 Subunidade reguladora da fosfatase Sit4p 0,763 0,235 1,253 0,322

ppz1 Fosfatase tipo 1 0,742 0,250 1,892 0,821

reg1 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,718 0,091 1,360 0,191

pph21 Fosfatase tipo 2A 0,696 0,206 1,494 0,379

vhs3 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Ppz1p 0,693 0,210 2,294 0,821

cmp2 Subunidade de calcineurina, fosfatase tipo 2B 0,688 0,223 1,732 0,191

siw14 Tirosina fosfatase 0,688 0,206 2,221 0,379

ptp3 Tirosina fosfatase 0,664 0,210 1,542 0,287

ppt1 Ser/Thr fosfatase similar a PP5 humana 0,662 0,187 1,468 0,473

sip5 Interage com Reg1p/Glc7p 0,642 0,141 2,165 0,250

pig2 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,639 0,178 1,885 0,220

pig1 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 0,634 0,140 1,989 0,530

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

50

Analisando o grupo de metabolismo lipídico (Tabela 5.3), alguns resultados

corroboram com resultados anteriormente descritos na literatura para as leveduras

realizando metabolismo fermentativo. A mutante erg4, deficiente numa enzima

relacionada a via de ergosterol, já tinha sido reportada como uma cepa com alto

conteúdo de corpúsculos lipídicos (FEI et al., 2008). Nesse estudo, apesar da cepa

mutante erg4 apresentar uma média de índice de CL alta (2,037 ± 1,02), seu

crescimento em meio contendo glicerol como fonte de carbono não foi expressivo

(0,56 ± 0,39). Outros resultados obtidos para o grupo das cepas mutantes deletadas

para genes de subunidades catalíticas e regulatórias não essenciais de fosfatases

não tiveram relação com o descrito na literatura. A cepa mutante para o gene sit4

(Apêndice A), que codifica uma Ser/Thr proteína-fosfatase e que tem papel essencial

na regulação do metabolismo de ácido graxo, apresentou altos valores de índice de

CL contrário ao já descrito. Porém, também já foi descrito que esta cepa apresenta

baixo crescimento celular em meios respiratórios (COOPER et al., 2000).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

51

Nome Processo Biológico Média

ICL D.P.

Média DO600 nm

D.P.

erg3 Síntese de Esteróis 3,380 2,657 0,369 0,559

yeh2 Hidrolase (EE) 1,644 0,991 0,765 0,603

slc1 Síntese de Triacilgliceróis 1,607 0,362 0,391 0,328

csg2 Síntese de Ceramida 1,459 0,647 0,811 0,580

hmg1 Síntese de Esteróis 1,416 0,285 0,775 0,174

lac1 Síntese de Ceramida 1,349 0,366 0,734 0,342

sur2 Síntese de Ceramida 1,282 0,457 0,856 0,437

ipt1 Síntese de Ceramida 1,248 0,217 0,741 0,287

dga1 Síntese de Triacilgliceróis 1,190 0,709 1,038 0,656

sur1 Síntese de Ceramida 1,180 0,067 0,736 0,176

yeh1 Hidrolase (EE) 1,163 0,136 0,885 0,296

dpp1 Síntese de Triacilgliceróis 1,144 0,164 0,721 0,111

scs7 Síntese de Ceramida 1,103 0,430 1,263 0,805

gpt2 Síntese de Triacilgliceróis 1,082 0,117 0,740 0,085

hmg2 Síntese de Esteróis 1,077 0,175 0,898 0,248

lro1 Síntese de Triacilgliceróis 1,060 0,211 1,045 0,060

tgl3 Lipase (TAG) 1,043 0,213 1,328 0,070

tgl1 Hidrolase (EE) 1,023 0,131 0,879 0,326

are1 Síntese de Ésteres de Esterol 1,018 0,287 1,197 0,243

tgl5 Lipase (TAG) 0,989 0,168 1,060 0,181

lpp1 Síntese de Triacilgliceróis 0,955 0,347 1,248 0,445

ayr1 Síntese de Triacilgliceróis 0,945 0,161 1,095 0,289

sct1 Síntese de Triacilgliceróis 0,931 0,044 1,222 0,491

erg2 Síntese de Esteróis 0,794 0,233 1,798 0,114

erg24 Síntese de Esteróis 0,769 0,284 2,069 0,252

tgl4 Lipase (TAG) e Hidrolase (EE) 0,760 0,217 1,890 0,665

erg6 Síntese de Esteróis 0,743 0,285 1,851 0,477

lag1 Síntese de Ceramida 0,680 0,218 2,092 0,900

are2 Síntese de Ésteres de Esterol 0,674 0,181 1,724 0,246

erg5 Síntese de Esteróis 0,629 0,132 1,858 0,488

Tabela 5.3: Cepas de S. cerevisiae mutantes deletad as para genes de síntese de lipídios submetidos a screening pelo método de recuperação de fluorescê ncia e densidade ótica (DO600 nm).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

52

Dessa forma, utilizando os critérios descritos acima, 8 cepas de S. cerevisiae

mutantes deletadas para genes de subunidades catalíticas e regulatórias não

essenciais de fosfatases foram selecionadas para os próximos experimentos (Tabela

5.4). Dessas cepas, somente a mutante deletada para o gene bni4, relacionado a

proteína fosfatase do tipo 1A, já tinha sido reportada no estudo anterior de Bozaquel-

Morais (2010) como uma cepa mutante deletada para o gene fosfatase que também

apresentava alto conteúdo lipídico.

Cepas Região Deletada Média

ICL

Desvio

Padrão

Media

DO600 nm

Desvio

Padrão

pph3 Fosfatase tipo 2A 1,826 0,750 0,559 0,413

cna1 Subunidade de calcineurina, fosfatase tipo 2B 1,600 0,874 0,750 0,579

oca1 Tirosina fosfatase 1,527 0,820 0,793 0,480

bni4 Subunidade regulatória da fosfatase tipo 1 Glc7p 1,428 0,238 0,527 0,175

pph22 Fosfatase tipo 2A 1,374 0,300 0,848 0,353

oca2 Tirosina fosfatase 1,364 0,181 0,650 0,309

yvh1 Tirosina fosfatase 1,335 0,919 1,041 0,747

rrd2 Ativador da atividade tirosina fosfatase de PP2A 1,311 0,154 0,780 0,232

5.3 Avaliação das cepas mutantes para os genes fosf atase em meio com 5%

de glicerol em glicerina loira

As cepas mutantes deletadas para os genes de subunidades catalíticas e

regulatórias não essenciais de fosfatases, selecionadas pela varredura do ensaio

anterior, foram avaliadas frente a um volume maior de fermentação, já que os

ensaios anteriores foram realizados em 0,2 ml. Foi realizado um ensaio utilizando-se

50 mL do meio mínimo (MM), com 5% de glicerina loira em frascos do tipo

Tabela 5.4: Cepas selecionadas de acordo com a médi a do índice de CL e a média de crescimento celular, medida por densidade ótica em 600 nm (DO60 0 nm).

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

53

erlenmeyer de 250 mL de capacidade sob agitação em agitador orbital e

temperatura constante de 30ºC.

Foram avaliados os índices de CL e crescimento celular no período total de

48 horas de reação, em duplicata de experimentos.

Os índices de CL obtidos pelas cepas mutantes foram avaliados nos tempos

de 20, 26 e 48 horas. Podemos observar (Figura 5.5) que o perfil de acúmulo de

lipídios tende a apresentar um perfil similar de aumento gradativo do índice de CL

com valor máximo de acúmulo em 48 horas. As cepas pph3 e cna1 além de não

apresentarem esse tipo de perfil, também apresentaram um valor de desvio padrão

muito alto comparado às outras cepas.

Dentre as mutantes que mostraram comportamento de aumento no índice de

CL ao longo do tempo, as cepas oca1, bni4 e rrd2 foram as que apresentaram

maiores valores de índice de CL ao longo do tempo (Figura 5.5).

Figura 5.5: Acúmulo de lipídios pelas cepas mutante s selecionadas em meio com 5% de

glicerol em glicerina loira.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

54

Ao avaliar o crescimento das cepas em glicerina loira (Figura 5.6), a mutante

bni4 não apresentou bom resultado de crescimento, assim como a mutante oca1.

Para esse estudo, optou-se por selecionar uma cepa mutante que apresentasse alto

valor de índice de acúmulo de CL e um bom crescimento (mesmo não sendo o maior

crescimento apresentado) no meio contendo glicerol. Sendo assim, a cepa rrd2 foi

selecionada para avaliar seu comportamento no experimento seguinte em biorreator.

Figura 5.6: Média do crescimento das cepas mutantes selecionadas. O crescimento das

mutantes de S. cerevisiae foi medido por absorvância no comprimento de onda de 600 nm ao

longo da fermentação (n=3).

O gene rrd2 codifica para um regulador de proteínas fosfatases do tipo

treonina-serina fosfatase PP2A. Ela é um ativador da proteína fosfatase sit4 que

regula o ciclo celular e também a síntese de lipídios (FELLNER et al., 2003).No

estudo anterior realizado por Bozaquel-Morais (2010), a cepa rrd2 não apresentou

alteração no metabolismo de acúmulo de lipídios quando cultivada em glicose. No

presente estudo, no entanto, foi possível observar que frente ao glicerol como fonte

de carbono, ou seja, quando a levedura utiliza a via respiratória, a deleção desse

gene apresentou uma alteração positiva para o acúmulo de lipídios.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

55

5.4 Avaliação do acúmulo de corpúsculos lipídicos n a cepa mutante rrd2 de

Sacchromyces cerevisiae em biorreator utilizando glicerina loira como font e de

carbono

Para a etapa do estudo em biorreator, os resultados dos experimentos

realizados anteriormente foram cruciais para a seleção de uma cepa, dentre as 108

mutantes testadas inicialmente. Nessa etapa do estudo, a cepa poderá ser avaliada

em condições de volumes maiores, em um equipamento com controle mais preciso

de variáveis importantes para um bioprocesso, como por exemplo, temperatura,

agitação e aeração.

Os cultivos foram conduzidos em biorreator em fermentação por 48h em 4

replicatas. Além da cepa mutante rrd2, também foram realizados os mesmos

ensaios para a cepa selvagem (WT) como um controle dos estudos.

A concentração inicial de células inoculadas em 700 mL de meio foi de 0,25

D.O./mL, utilizando o fator obtido pela curva de peso seco, tem-se os valores de

0,101 g/L para a cepa WT e de 0,090 g/L para a cepa mutante rrd2.

Foram realizadas amostragens para determinação do índice CL e crescimento

celular nos tempos de 20, 24 e 48h. Também foram coletadas amostras do meio

reacional nos tempos 0, 8, 20, 24, 28 e 48 horas para verificação do consumo de

glicerol no meio. Além dessas amostras, ao final do ensaio, foi coletada uma

amostra para determinação de triacilglicerídios totais nas células crescidas por 48

horas. De acordo com os resultados obtidos no primeiro ensaio para a cepa mutante

rrd2 e para a cepa WT (Figura 5.7) pode-se observar que o índice de CL tem seu

valor máximo atingido em 24 horas de cultivo. Depois disso, observamos um

decréscimo nos tempos 28 e 48 horas.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

56

Figura 5.7: Acúmulo de lipídios pelas cepa mutante rrd2 e selvagem WT (n=1)

Além disso, é possível observar para este experimento ( n=1 ) que no tempo

de 24 horas, onde ambas as cepas apresentam o índice máximo de CL, o valor

obtido para a cepa selvagem WT foi maior que o obtido para a cepa mutante rrd2.

Mas ao realizar outros três experimentos (Figura 5.8), observa-se que a média do

índice de CL obtida pela cepa mutante rrd2 é maior que a cepa selvagem, quando

determinada depois de 24 h de crescimento.

Figura 5.8: Acúmulo de lipídios pelas cepa mutante rrd2 e selvagem WT (n=4).

Alíquotas de células da cepa S. cerevisiae selvagem (WT) e mutante rrd2

foram coletadas no tempo final de fermentação no biorreator em 48 horas. Os

lipídios totais foram extraídos pelo método adaptado de Bligh & Dyer, conforme

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

57

descrito anteriormente. Os níveis de triacilgliceróis (TAG) foram dosados

enzimaticamente com kit clínico comercial (Doles, Brasil) (Figura 5.9), que determina

a quantidade de glicerol incorporado em TAG.

Figura 5.9: Acúmulo triacilgliceróis (TAG). O perce ntual de TAG nas cepas de S. cerevisiae

selvagem (WT) mutante RRD2, foram medidos no tempo final de reação em biorrea tor em 48

horas (n=4).

Em relação aos resultados podemos observar que a quantidade de TAG por

grama de proteína acumulada pelas cepas de S. cerevisiae WT e mutantes, foi

similar em ambas as cepas.

Os dados de crescimento celular foram obtidos ao longo do período de

fermentação em biorreator (Figura 5.10). Podemos observar que em 48 horas as

células ainda encontravam-se em fase exponencial de crescimento. Além disso, as

duas cepas tiveram crescimento similares.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

58

Figura 5.10: Crescimento celular das cepa mutante RRD2 e cepa selvagem WT. O crescimento

celular foi medido por absrovância no comprimento d e onda de 600 nm (n=4).

O consumo de glicerol foi obtido através das medidas das concentrações de

glicerol nas amostras do meio reacional nos tempos inicial (0 hora), 4 horas, 24

horas e 48 horas. As medidas foram realizadas em HPLC (Figura 5.11) e pelo

método enzimático (Figura 5.12).

Figura 5.11: Consumo de glicerol no meio de cultivo . O glicerol foi medido por HPLC em

amostras do meio de cultivo contendo 5% de glicerin a loira.

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

59

Figura 5.12: Consumo de glicerol no meio de cultivo . O glicerol foi medido por kit enzimático

(Doles, Brasil) em amostras do meio de cultivo cont endo 5% de glicerina loira.

Ao comparar os resultados de concentração de glicerol obtidos por HPLC e

pelo método enzimático, é possível observar uma diferença nas medidas que pode

ser justificada em relação a sensibilidade inerente a cada metodologia. Porém, de

uma maneira geral, podemos observar que a concentração de glicerol ao longo das

48 horas de experimento não sofreu variações expressivas, chegando a um

consumo de no máximo 17% (p/v) de glicerol na cepa WT e 13% (p/v) na cepa

mutante rrd2.

Os resultados obtidos para o consumo de glicerol não estavam de acordo

com os valores esperados, já que foi observado o crescimento celular (D.O. 600 nm).

Portanto, realizou-se uma análise mais criteriosa sobre qual fonte de carbono

disponível no meio de cultivo contendo 5% de glicerol em glicerina loira que estaria

sendo usada para o crescimento celular e para o acúmulo de lipídios nas cepas

testadas nesse estudo.

Até o momento, somente tinha sido considerado o glicerol presente na

glicerina loira como única fonte de carbono do meio usado para acúmulo de lipídios,

já que se tratava de um meio mínimo composto apenas por extrato de levedura (1%

p/v), (NH4)2SO4 (0,3% p/v), KH2PO4 (0,1% p/v) e glicerol (5% p/v proveniente da

glicerina loira). Porém, como o glicerol nos ensaios era proveniente de uma glicerina

loira obtida dos processos de produção do biodiesel sem qualquer tipo de tratamento

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

60

para remoção de impurezas ou contaminantes, analisou-se melhor os possíveis

componentes que estariam presentes em sua composição.

Uma caracterização química realizada no ano de 2013 para essa glicerina

loira, que foi cedida pelo CENPES (a íntegra das informações contidas nessa

caracterização não puderam ser divulgadas nesse estudo), constatou-se que do total

de sua composição, 3,49% (p/p) são compostos denominados matéria orgânica não

glicerinada (MONG). Através de uma caracterização qualitativa por cromatografia

líquida foram identificados entre os compostos do tipo MONG, a presença de ésteres

metílicos de ácidos graxos, ácidos graxos livres e monoacilgliceróis. Além disso,

uma análise de ressonância magnética nuclear (RMN) sugere que os ésteres

metílicos de ácidos graxos, os ácidos graxos e os monoacilgliceróis (identificados

por cromatografia líquida) possuem a distribuição típica dos constituintes do óleo de

soja. CLEMENTE et al. (2009) descrevem em seu estudo que o óleo de soja é

composto de 5 tipos de ácidos graxo: ácido palmítico (16:0), ácido esteárico (18:0),

ácido oleico (18:1), ácido linoleico (18:2) e ácido linolênico (18:3). Com percentuais

médios de 10%, 4%, 18%, 55% e 13%, respectivamente.

Sendo assim, reunindo as informações levantadas e os resultados obtidos

nos experimentos desse estudo, podemos presumir que as cepas da levedura S.

cerevisiae, tanto selvagem quanto mutante estejam utilizando como fonte de

carbono para o crescimento celular e acúmulo de lipídios os ácidos graxos presentes

na glicerina loira.

Partindo desse pressuposto, também foi possível fazer uma análise em

relação ao acúmulo de lipídios das cepas WT e mutante rrd2. Os resultados obtidos

nos 4 experimentos em replicatas não apresentaram uma diferença expressiva em

relação ao acúmulo de lipídios para a cepa selvagem e para a mutante rrd2, que foi

selecionada nos experimentos anteriores por apresentar um índice de CL maior

comparado as outra cepas testadas, inclusive a própria cepa selvagem.

O que poderia ser discutido, através dos resultados obtidos até o momento

nesse estudo, é que como o cultivo das cepas de levedura S. cerevisiae foi realizado

na presença de substâncias hidrofóbicas, estas substâncias foram utilizadas como

substratos e dessa forma, o acúmulo de lipídios observado se dá através da via ex

novo (BEOPOULOS et al., 2009). Como o consumo de glicerol no meio reacional

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

61

não é observado de forma expressiva nos experimentos realizados em 48 horas, e a

glicerina loira utilizada como fonte de carbono conter ácidos graxos livres, estes

compostos seriam incorporados diretamente nos CL através da via ex novo. O lipídio

microbiano produzido por essa via contém menores quantidades de TAGs

comparados com o crescimento realizado em substratos baseados em açúcares,

que utiliza a via de novo para o acúmulo de lipídios (PAPANIKOLAOU et al., 2011).

Uma grande variedade de micro-organismos é capaz de utilizar ácidos

graxos livres como única fonte de carbono e energia, independente das suas

capacidades lipolíticas (TACCARI et al., 2012).

No experimento em biorreator, ao final das 48 horas do ensaio, a

concentração de glicerol se manteve próxima das concentrações iniciais (Figura 5.11

e 5.12) e as cepas de levedura ainda se encontravam na fase exponencial de

crescimento (Figura 5.10). Com esse resultado, o estudo também pode evidenciar

que num meio contendo glicerol e lipídios neutros (ésteres metílicos de ácidos

graxos, ácidos graxos e monoacilgliceróis) a levedura S. cerevisiae

preferencialmente consumiu os ácidos graxos livres presentes. Caso o experimento

não fosse interrompido em 48 horas talvez poderia ser verificado nas horas

seguintes, o consumo do glicerol quando os ácidos graxos livres presentes na

glicerina loira tivessem sido esgotados do meio. Alguns estudos fazem referência a

fraca utilização de ácidos graxos pela levedura S cerevisiae (BEOPOULOS et al.,

2009) mas não foram encontrados estudos que fizessem referência ao consumo

preferencial de ácidos graxos frente ao glicerol como fonte de carbono.

Resumindo, foi observado nesse estudo que a levedura Saccharomyces

cerevisiae pode crescer em meio de cultivo com 5% de glicerol em glicerina loira e

acumular lipídios utilizando os ácidos graxos livres presentes na glicerina loira

através da via ex novo. Nessas condições, a deleção para o gene fosfatase rrd2 na

cepa mutante não teve influencia para o acúmulo de lipídios.

Ao comparar os resultados de índice de CL da cepa mutante rrd2 obtidos em

biorreator e nos ensaios realizados com volumes de 50 mL em frascos do tipo

erlenmeyer agitados em agitador orbital, podemos observar que o máximo para o

índice de CL que nos frascos eram obtidos em 48 horas de reação foram

antecipados para 24 horas em biorreator. Da mesma forma, observou-se que a

Capítulo 5 – Resultados e Discussão Valoni, E.A.

62

concentração média de células da cepa mutante rrd2 que era alcançada em frascos

erlenmeyer em 45 horas (4,34 D.O.) no biorreator foi alcançada entre 24 e 28 horas.

Esse é um comportamento comumente observado nas etapas de aumento de

volumes de reação, já que em biorreator é promovida uma melhor transferência de

massa, a aeração é mais eficiente e consequentemente temos os processos

acelerados. É esperado que o tempo total de batelada diminua quando se transfere

o processo para um biorreator.

Quando os resultados, tanto da cepa selvagem quanto da cepa mutante, para

cada escala de volume são comparados, observamos que os valores dos índices de

CL diminuem a medida que os volumes de reação aumentam. A cepa mutante, que

em escala de volume na ordem de µL apresenta os maiores resultados para o

acúmulo de lipídio, quando comparada a cepa selvagem sem mutação, é a que

apresenta as maiores quedas nos índices de CL quando levada para volumes de

reação próximos a 1 litro. Os processos industriais são tecnologicamente otimizados

para o maior rendimento de biomassa, porém pouco caracterizados do ponto de

vista da adaptação molecular da levedura para condições adversas de crescimento.

No entanto, esse aspecto é crítico, e deve ser estudado mais aprofundadamente,

para se obter uma boa performance do produto final (PÉREZ-TORRADO et al.,

2014).

Capítulo 6 – Conclusões Valoni, E.A.

63

6. Conclusões

Com base nos resultados obtidos neste trabalho pode-se concluir que:

� A levedura Saccharomyces cerevisiae foi capaz de crescer e acumular lipídios

quando crescida em glicerol puro (P.A.) e glicerina loira, nas concentrações de

2% ou 5%.

� A glicerina loira a 5% (p/v) foi a concentração de glicerol no meio de cultivo

mínimo que forneceu a melhor relação entre índice de CL e crescimento celular

para a levedura S. cerevisiae WT

� As cepas deletadas para o genes que codificam as proteínas fosfatases ou seus

reguladores pph3, cna1, oca1, bni4, pph22, oca2, yvh1 e rrd2 apresentaram a

melhor relação entre o índice de CL e crescimento celular e foram consideradas

para os ensaios seguintes .

� No ensaio realizado com as cepas mutantes de proteínas fosfatases e seus

reguladores, em volumes de 50 mL em frascos agitados em agitador orbital, o

melhor tempo para acúmulo de CL foi alcançado em 48 horas de reação e a

cepa mutante que apresentou a melhor relação entre maior índice de CL e

crescimento celular foi a rrd2.

� No experimento em biorreator foi possível observar que em 48 horas o consumo

de glicerol foi muito baixo, chegando ao valor máximo de 17% (p/v) para a cepa

WT e de 13% (p/v) para a cepa mutante rrd2.

� Com a caracterização da glicerina loira, foi possível concluir que o glicerol não

era a única fonte de carbono presente no meio, e que a matéria orgânica não

glicerinada (MONG) era composta por ácidos graxos livres que possivelmente

foram preferencialmente utilizados pelas cepas WT e mutante de S. cerevisiae

para o crescimento celular e acúmulo de lipídios.

Capítulo 6 – Conclusões Valoni, E.A.

64

� A via de síntese de lipídios utilizada pelas cepas de S. cerevisiae, tanto

selvagem quanto mutante, num meio contendo ácidos graxos livres

possivelmente utilizada num primeiro momento (nas primeiras 48h) foi a via ex

novo.

� Quando o experimento foi transferido para uma escala maior de volume em

biorreator (700 mL), os processos de acúmulo de lipídios e crescimento celular

foram antecipados para tempos menores de reação (índice de CL máximo

passou de 48 horas para 24 horas).

� Em biorreator a deleção do gene rrd2 não apresentou diferenças para um maior

acúmulo de lipídios, conforme o esperado pelos experimentos realizados

previamente em menores escalas de volume de reação.

Resumindo-se, foi possível concluir que a levedura Saccharomyces cerevisiae é,

muito possivelmente, capaz de utilizar os ácidos graxos livres, presentes na glicerina

loira, preferencialmente ao glicerol, acumulando lipídios nos corpúsculos lipídicos

intracelulares. Com base na utilização dos ácidos graxos livres, a via utilizada para a

síntese e acúmulo dos lipídios possivelmente foi a via ex novo, que é menos citada

na literatura. O envolvimento das proteínas fosfatases, avaliada nesse estudo pela

deleção do gene rrd2, nessa via de síntese não é muito forte, já que os resultados

de índice de CL não foram muito diferentes entre a cepa mutante e a cepa

selvagem.

Capítulo 7– Perspectivas e Trabalhos Futuros Valoni, E.A.

65

7. Perspectivas e trabalhos futuros

• Realizar um ensaio em biorreator com a cepa de Saccharomyces cerevisiae

selvagem e mutante rrd2 no mesmo meio de cultivo com 5% de glicerina loira

porém, em tempo superior a 48 horas e avaliando o consumo de ácido oleico

(C18:0) e de glicerol.

• Realizar um ensaio em biorreator com meio de cultivo contendo 5% de

glicerol puro (P.A.) com a mutante deletada para o gene das fosfatases, com

objetivo de avaliar o envolvimento da deleção no gene rrd2 acúmulo de

lipídios pela via de novo em metabolismo respiratório.

• Verificar se o ácido oleico na presença de glicerol é tóxico para as células, o

que poderia justificar o baixo crescimento celular quando os maiores índices

de CL são obtidos.

• Verificar por cromatografia em camada fina, qual o principal lipídio acumulado

nos corpúsculos lipídicos em meio contendo glicerina loira.

• Sabendo-se que os processos em biorreatores tem seus tempos de acúmulo

de CL e crescimento celular antecipados, iniciar o processo com uma

concentração de células maior do que a que foi empregada nesse estudo.

Capítulo 8 – Referências Bibliográficas Valoni, E.A.

66

8. Referências Bibliográficas

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77

9. Apêndices

78

APÊNDICE A – Curvas de calibração para obtenção do fator de conversão das medidas de absorvância em comprimento de onda de 600 nm para concentração celular em massa seca [g.l-1] para cepa de Saccharomyces cerevisiae selvagem BY4741

y = 2,3701xR² = 0,9991

f= 1/a= 0,42192

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16

Ab

sorv

ân

cia

60

0 n

m

Concentração (g/L)

Curva peso seco x absorvância -

Cepa WT

y = 2,7771xR² = 0,9956

f = 1/a= 0,3601

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

Ab

sorv

ân

cia

60

0 n

m

Concentração (g/L)

Curva peso seco x absorvância -

Cepa WT

Figura 9.1: Curva de peso seco para quantificação do crescimento celular da cepa S. cerevisiae selvagem BY4741 através de medidas de absorvância em espectrofotômetro Shimadzu UV-1800.

Figura 9.2: Curva de peso seco para quantificação do crescimento celular da cepa S. cerevisiae selvagem BY4741 através de medidas de absorvância em espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240.

79

APÊNDICE B – Curva de calibração para obtenção dos fator de conversão das medidas de absorvância em comprimento de onda de 600 nm para concentração celular em massa seca [g.l-1] para cepa de Saccharomyces cerevisiae mutante RRD2

y = 2,3303xR² = 0,9919

f=1/a=0,42913

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Ab

sorv

ân

cia

60

0 n

m

Concentração (g/L)

Curva peso seco x absorvância Cepa

RRD2

y = 3,4503xR² = 0,9936

f = 1/a = 0,2893

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

Ab

sorv

ân

cia

60

0 n

m

Concentração (g/L)

Curva peso seco x absorvância

Cepa RRD2

Figura 9.3: Curva de peso seco para quantificação do crescimento celular da cepa S. cerevisiae mutante RRD2 através de medidas de absorvância em espectrofotômetro Shimadzu UV-1800.

Figura 9.4: Curva de peso seco para quantificação do crescimento celular da cepa S. cerevisiae mutante RRD2 através de medidas de absorvância em espectrofotômetro Shimadzu UV-1800.