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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE BIGUAÇU GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ- OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro Acadêmicas: Antonielle Cândido Salum Melo Marsia Iveti Christoff Orientadora: Profa. Tânia Soares Rebello, MSc. Biguaçu (SC) Outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE BIGUAÇU

GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo

Enfermeiro

Acadêmicas: Antonielle Cândido Salum Melo Marsia Iveti Christoff

Orientadora: Profa. Tânia Soares Rebello, MSc.

Biguaçu (SC) Outubro de 2007

1

ANTONIELLE CÂNDIDO SALUM MELO

MARSIA IVETI CHRISTOFF

ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo

Enfermeiro

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Enfermagem.

Orientadora: Profa. Tânia Soares Rebello, MSc.

Biguaçu (SC)

Outubro de 2007

2

ANTONIELLE CÂNDIDO SALUM MELO

MARSIA IVETI CHRISTOFF

ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Enfermeiro e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.

Área de Concentração: Pré-Operatório

Biguaçu, 19 de novembro de 2007.

Profa. Tânia Soares Rebello, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu

Orientadora

Profa. Helga Regina Bresciani, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu

Profa. Maria Patrícia Locks de Mesquisa, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu

3

Dedica-se este trabalho aos pacientes que participaram da pesquisa, por serem eles a razão de nossa preocupação em propiciar um período mais confortável nesta fase tão difícil em que passam no pré-operatório.

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a DEUS, que me deu a vida e o livre arbítrio para

que eu fizesse as minhas escolhas ... e olha que a minha foi abençoada.

Aos meus pais, Malveri e Lourenço, que sempre me deram incentivo para que

eu concluísse meus estudos.

Ao meu marido André, por compreender a minha ausência, e dando-me apoio

nos momentos difíceis.

À orientadora que nos acompanhou, dando suporte sempre que

precisávamos.

À minha amiga Mársia, que, juntas, passamos por todas as dificuldades na

construção da monografia.

Aos responsáveis pela Clínica, onde se realizou a pesquisa, que permitiram a

pesquisa no local, em especial à Enfermeira Anelize, que foi a ponte para que tudo

acontecesse.

Aos membros da banca fechada, composta pelos professores Maria Patrícia

Locks de Mesquita e Helga, por aceitarem nosso convite para dela participarem.

Meu muito obrigada!

Antonielle Cândido Salum Melo

5

AGRADECIMENTOS

Devo agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força, luz, saúde, paciência,

e por todas as oportunidades que tem propiciado em minha vida.

Agradeço, também, à memória do meu pai, Ervino, que foi o esteio principal e

incentivador de toda a minha vida acadêmica.

Agradeço ao meu esposo, Alécio, por todo amor, carinho e paciência.

Agradeço à minha família, por sempre compartilharem o meu sucesso.

Agradeço à orientadora, Profa. Tânia, pelo incentivo e presteza no auxílio às

atividades e discussões sobre o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de

Curso.

Agradeço à Antonielle, pela amizade e por todos os momentos difíceis e

também pelos bons momentos que passamos juntas no desenvolvimento deste

trabalho.

À Equipe responsável pela Clínica, onde se realizou a pesquisa, por permitir a

pesquisa no local.

Incluo a esta lista de agradecimentos a Ana Carolina Severino, que, durante o

período do Curso, esteve sempre me ajudando em tudo o que a ela era solicitado.

Agradeço aos grandes e valorosos amigos conquistados no decorrer da

minha vida acadêmica, os quais estarão sempre dentro de meu coração.

Agradeço, ainda, a todos os professores, pelo carinho, dedicação e

entusiasmo demonstrados ao longo do Curso.

Muito Obrigada a todos vocês!!!

Marsia Iveti Christoff

6

“Temos de fazer o melhor que pudermos. Essa é a nossa sagrada responsabilidade

humana”.

Albert Einstein

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Conduta diante do Paciente Cirúrgico Hospitalizado segundo Pitrez ........34

Figura 2. Tríade de Cuidados Pré-Operatórios, de acordo com Pitrez......................35

Figura 3. Processo de Enfermagem, segundo Laden ...............................................47

Figura 4. Elementos do processo de comunicação, segundo Silva ..........................52

Figura 5. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Sexo.....................................69

Figura 6. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Idade ......................................69

Figura 7. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Estado Civil ..........................70

Figura 8. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Escolaridade ..........................70

Figura 9. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Religião ..................................71

Figura 10. Gráfico sobre se tem conhecimento da cirurgia a que vai se submeter ...72

Figura 11. Gráfico sobre sente-se suficientemente informado sobre a cirurgia ........73

Figura 12. Gráfico sobre se foi informado sobre o preparo para a cirurgia ...............75

Figura 13. Gráfico sobre se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização)

afetam o seu padrão de vida.....................................................................................76

Figura 14. Gráfico sobre se tem sentido medo com a hospitalização .......................78

Figura 15. Gráfico sobre se tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período

pré-operatório............................................................................................................80

Figura 16. Gráfico sobre se a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o

enfrentamento no período pré-operatório..................................................................81

Figura 17. Gráfico sobre se tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de

Enfermagem..............................................................................................................82

Figura 18. Gráfico sobre se as orientações recebidas trouxeram benefícios............84

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Ações na Assistência de Enfermagem no Período Pré-Operatório

segundo McCloskey e Bulechek ...............................................................................50

Quadro 2. Cronograma de Pesquisa de Campo .......................................................68

Quadro 3. Síntese do Perfil dos Pacientes no Pré-Operatório ..................................71

9

RESUMO

MELO, Antonielle Cândido Salum; CHRISTOFF, Marsia Iveti. Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro. 122 f. Monografia do Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, SC, 2007. Este trabalho aborda a temática do enfrentamento vivenciado pelo paciente no pré-operatório, de diversas cirurgias, e foi direcionado pelo objetivo geral de identificar os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande Florianópolis, como também verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o enfrentamento. Com este propósito, o trabalho baseou-se na Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Elizabeth Peplau, sendo adotado o método da Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de Mercedes Trentini e Lygia Paim. Como resultado da pesquisa, ficou claro que a maioria dos pacientes do pré-operatório de diversas cirurgias mostrou-se estressada e na fase de resistência, embora não tenham manifestado isso em suas respostas. A pesquisa apontou, também, que alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas, tais como: a quase-exaustão e a exaustão. Não foi constatado nenhum paciente do pré-operatório que estivesse fazendo uso de algum mecanismo para enfrentar esse período. A partir deste resultado, concluiu-se que a principal estratégia de enfrentamento, mobilizada pelo grupo de pesquisa, foi o fator fuga-esquiva, podendo ser considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping) focalizado na emoção. A PCA possibilitou que se mantivesse, durante todo o seu processo, uma relação estreita com a prática assistencial, cuja intenção foi a de encontrar alternativas para solucionar, ou pelo menos minimizar, os problemas, realizando mudanças e introduzindo inovações na prática. Desse modo, foram transmitidas orientações de enfermagem a estes pacientes. Palavras-chave: enfrentamento, paciente, pré-operatório; orientações de enfermagem.

10

ABSTRACT

MELO, Antonielle Cândido Salum; CHRISTOFF, Marsia Iveti. Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem. 122 f. Monografia do Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, SC, 2007.

The present work addresses the confrontation a patient goes through during the immediate pre-operatorio period from several surgeries. It has as main objectives to identify the feelings of patients hospitalized in a clinic in Florianópolis during this period, and to check what benefits the nursing orientation brings to this confrontation. With that in mind, this work has been based on the Theory of Interpersonal Relations from Hildegard Elizabeth Peplau, and it has adopted the PCA method ( method of Convergent Assistance Research), from Mercedes Trentini and Lygia Paim. As an outcome from the research, it was clear that most patients in immediate pre-operatorio period from several surgeries showed some stress and were experiencing the resistance phase, although they did not espress that in their answers. The research has also pointed out that some were evolving from their stressed condition, which is relevant and indicates they could be moving on to more advanced phases, such as: the nearly exhaustion phase and the exhaustion phase. It was noted that none of the patients from immediate pre-operatorio were using mechanisms to cope during this period. These results led to the conclusion that the main strategy of confrontation, mobilized from the research team, was the leak-elusive factor. This strategy can be considered as a behavior that is associated to coping, and that it is focused on emmotion. The PCA enabled a close relationship with the nursing practice to be kept, during its entire process. The nursing practice aimed to find ways of solving, or at least minimizing problems. It also aimed to accomplish some changes and to introduce some innovation into practice. Therefore, some nursing orientation were forwarded to these patients. Key-words: confrontation, patient, pre-operatorio, nursing orientation.

11

SUMÁRIO

RESUMO.....................................................................................................................9

ABSTRACT...............................................................................................................10

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13

1.1 Contextualização do Tema e do Problema de Pesquisa ................................13

1.2 Relevância e Justificativa..................................................................................15

1.3 Objetivos.............................................................................................................16

1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................16

1.3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................16

1.4 Estrutura do Trabalho........................................................................................16

2 MARCO CONCEITUAL .........................................................................................18

2.1 Aspectos Biográficos de Peplau......................................................................18

2.2 A Teoria das Relações Interpessoais de Peplau e a Utilidade para a Prática

da Enfermagem .......................................................................................................20

2.3 Pressupostos.....................................................................................................26

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................28

3.1 Considerações sobre Ética ..............................................................................28

3.2 Considerações sobre o Período Pré-Operatório ............................................32

3.3 Considerações sobre o Paciente .....................................................................36

3.3.1 O Estresse........................................................................................................37

3.4 Considerações sobre a Internação Hospitalar ...............................................41

3.5 Considerações sobre o Enfrentamento (Coping) ...........................................42

3.6 A Assistência da Equipe de Enfermagem para o Enfrentamento pelo

Paciente no Pré-Operatório ....................................................................................45

3.6.1 A importância da comunicação de enfermagem ..............................................50

4 METODOLOGIA ....................................................................................................56

4.1 Métodos..............................................................................................................56

4.1.1 Pesquisa Convergente Assistencial - PCA.......................................................56

4.1.2 Método de abordagem .....................................................................................57

4.1.3 Método de procedimento..................................................................................58

4.2 Escolha do Espaço Físico da Pesquisa ..........................................................59

4.3 Delimitação do Universo Populacional ...........................................................59

4.4 Técnicas de Coleta de Dados...........................................................................59

12

4.5 Análise e Interpretação dos Dados..................................................................61

4.6 Aspectos Éticos ................................................................................................62

4.7 Conceitos Operacionais ...................................................................................63

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................65

5.1 Caracterização da Clínica .................................................................................65

5.1.1 Aspectos históricos ..........................................................................................65

5.1.2 Corpo Clínico....................................................................................................66

5.2 Etapas da Realização da Pesquisa ..................................................................67

5.3 Perfil dos Pacientes Entrevistados..................................................................69

5.4 Resultados das Perguntas Específicas...........................................................72

5.5 Orientações de Enfermagem Realizadas pelas Pesquisadoras....................85

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................89

REFERÊNCIAS.........................................................................................................94

APÊNDICES ...........................................................................................................100

APÊNDICE 1 - CARTA DE INTENÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ...101

APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PACIENTES CIRÚRGICOS NO

PRÉ-OPERATÓRIO................................................................................................102

APÊNDICE 3 - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...............................104

APÊNDICE 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS

ESCLARECIMENTO................................................................................................105

APÊNDICE 5 - TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO..........................106

ANEXOS .................................................................................................................107

ANEXO 1 - RESOLUÇÃO N. 196/96 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.....108

ANEXO 2 - ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM DADAS PELAS

PESQUISADORAS..................................................................................................117

13

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do Tema e do Problema de Pesquisa

O tema “Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a

contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro” nasce comprometido

com a vivência profissional, e está ancorada numa história de vida dedicada à

profissão, adquirida por meio de uma formação teórica, filosófica e pedagógica. Os

conteúdos reflexivos ministrados nestas disciplinas buscaram despertar as

acadêmicas para a sua condição de ser humano crítico, partícipe de uma nova

trajetória no desenvolvimento do relacionamento interpessoal.

No momento em que uma pessoa precisa se submeter a uma cirurgia, as

circunstâncias em que ocorre este fato são extremamente complexas e variáveis,

suscitando a reformulação de concepções e formatação de novos modelos de

comportamento para lidar com este evento específico, pois se acredita que uma

cirurgia continua sendo considerada como estímulo desencadeador de alterações

emocionais nos indivíduos, quer pela expectativa, pelo medo ou pela dor.

O medo é um sentimento referido como um estado de alerta demonstrado

pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto física

como psicologicamente. O medo pode provocar reações físicas como descarga de

adrenalina, aceleração cardíaca e tremor. Pode provocar atenção exagerada a tudo

o que ocorre ao redor, depressão, pânico, etc. (LAZARUS; MONAT, 1995).

Diante da cirurgia, conhecer as formas de reação do paciente torna-se

interessante e essencial, no sentido de poder ser analisada e fundamentada a

atuação dos profissionais que lidam com ele, dentre eles a equipe de enfermagem,

visando à adaptação das demandas emocionais e fisiológicas do processo cirúrgico,

pois, como relata Kamiyama (apud SILVA, 1987), todos nós, seres humanos, temos

medo e insegurança quanto ao desconhecido.

A esse respeito, Camon et al. (1994, p. 33) salientam que:

[...] o paciente submetido a procedimento cirúrgico apresenta aspectos psicológicos importantes, principalmente com relação ao medo, tem medo da dor, da anestesia, de ficar desfigurado ou incapacitado. Tem medo de demonstrar medo, e medo de mil coisas, sobretudo tem medo de morrer.

14

Assim, a busca de conhecimento do perfil emocional do paciente justifica-se,

social, emocional e cientificamente, por poder favorecer o planejamento de ações

que busquem fomentar estratégias de enfrentamento adaptativas, promovendo,

dessa forma, a redução do estresse causado, por meio da predição de

comportamentos mais adaptativos para uma melhor recuperação no pós-operatório,

que é uma das premissas do papel da equipe de enfermagem junto ao paciente pré-

cirúrgico, estendida aos profissionais de saúde envolvidos com esta área.

O paciente, ao verbalizar suas emoções e dúvidas a respeito do

procedimento, poderá melhorar sua compreensão e minimizar seu estresse. A

enfermagem tem um papel preponderante neste contexto, por ser uma profissão que

busca promover o bem-estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade

e dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no

transcurso de doenças e agravos, e nas incapacidades.

A importância e a responsabilidade da equipe de enfermagem quanto à

observação e atendimento das necessidades psicossomáticas do paciente pré-

cirúrgico devem ser detectadas, uma vez que possui função específica na eficácia

da terapêutica de seus pacientes, pois, dependendo de sua atitude, pode facilitar ou

impedir um programa de recuperação, visto que este paciente é invadido por medo

do desconhecido num ambiente estranho.

Por outro lado, a equipe de enfermagem, no acompanhamento a pacientes

pré-cirúrgicos, tem como uma de suas práticas a compreensão dos comportamentos

e reações que podem favorecer ou comprometer o processo cirúrgico, visando à

adaptação do indivíduo à sua realidade.

Desse modo, como ponto de partida para a presente discussão, pretende-se

situar a problemática do enfrentamento do paciente no pré-operatório dentro do

escopo mais amplo da Equipe de Enfermagem de uma Clínica da Grande

Florianópolis, voltada para a busca permanente do bem-estar do paciente.

De acordo com a necessidade de assistência ao paciente pré-operatório, a

presente pesquisa objetiva, então, conhecer como se dá o enfrentamento do

paciente neste período, buscando também delinear as estratégias de enfrentamento

utilizadas pelos indivíduos em fase pré-operatória. Desse modo, a pergunta de

pesquisa que originou o estudo é: “De que modo o Enfermeiro pode contribuir

para o enfrentamento do paciente no pré-operatório?”

15

1.2 Relevância e Justificativa

Acredita-se que os pacientes no pré-operatório possam ser considerados uma

clientela que exige da equipe de enfermagem cuidados especiais neste período.

Com isto, busca-se, com este trabalho, demonstrar que uma das formas de se

planejar atividades, visando prestar assistência sem traumas aos pacientes no pré-

operatório, é por meio da sistematização da assistência de enfermagem, aliada a

uma rotina de orientações.

Diante disso, o presente estudo, então, justifica-se, pelo fato de se observar,

teoricamente, a presença de vários estressores nos pacientes do pré-operatório,

porém, não verbalizados por eles. Este fato permite inferir que não está havendo

uma percepção e reconhecimento de tais estressores por parte dos pacientes no

pré-operatório, motivo pelo qual se realiza este trabalho.

Além disso, nesta Clínica, não se tem conhecimento de pesquisa com essa

temática. Assim, a aplicação de uma pesquisa, que permita aos pacientes no pré-

operatório identificar os próprios estressores, verbalizando-os, seria oportuna, pois,

por meio deste instrumento, ter-se-ia o desenho dos sentimentos do paciente e de

suas necessidades emergenciais, que muitas vezes podem estar sendo

desconhecidas. Desse modo, poder-se-ia estabelecer atitudes prioritárias nas ações

da Equipe de Enfermagem, que contribuiriam significativamente para o

enfrentamento do paciente no pré-operatório.

Acredita-se, assim, que uma forma de o Enfermeiro prestar assistência

individualizada e humanizada ao paciente no pré-operatório possa ser por meio da

sistematização da assistência e do protocolo fundamentando cientificamente de

orientações de enfermagem, pois são os meios pelos quais o enfermeiro poderia

avaliar o paciente, as circunstâncias em que se encontra, planejar e implementar os

cuidados a serem prestados.

Para isto, utiliza como recurso a assistência sistematizada e a rotina de

orientações de enfermagem, que representam um avanço para a profissão, por

respaldarem o cuidado de enfermagem direcionado ao ser humano, sendo

norteados por princípios científicos, que visam proporcionar uma assistência

individualizada, atendendo, desse modo, às reais necessidades do paciente.

Para melhor compreensão da abordagem, foram elaborados os objetivos,

geral e específicos, conforme expostos a seguir.

16

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório, internados

em uma Clínica da Grande Florianópolis, e verificar quais os benefícios das

orientações de Enfermagem para o enfrentamento.

1.3.2 Objetivos Específicos

• Identificar os problemas sentidos pelos pacientes no pré-operatório;

• Verificar os mecanismos de enfrentamento utilizados pelos pacientes no pré-

operatório;

• Implementar, na prática de enfermagem, mecanismos que ajudem o

enfrentamento do paciente no pré-operatório.

1.4 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho aborda a temática do “Enfrentamento Vivenciado pelo

Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe

de Enfermagem”, e está estruturado em quatro capítulos, a saber:

O primeiro capítulo destina-se ao Marco Conceitual, onde se selecionou, para

alicerçar o estudo, a Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau, cujos

pressupostos podem servir de base em quaisquer situações nas quais os

enfermeiros possam comunicar-se e interagir com os pacientes. Basicamente, uma

das questões principais da teoria refere-se à compreensão da prática da

enfermagem. Em resposta a esse questionamento central, a autora vislumbrou a

enfermagem como um processo interpessoal por meio do qual, enfermeira e

paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoais.

No segundo capítulo, dedicado à Fundamentação Teórica, foram abordados

temas relevantes que completam o tema principal deste trabalho, tecendo-se

considerações: sobre ética, sobre período pré-operatório, sobre o paciente,

estendendo-se este tema ao estudo do estresse, sobre a internação hospitalar, e

sobre o enfrentamento (coping). O capítulo evoluiu, discorrendo-se sobre a

assistência da equipe de enfermagem para o enfrentamento do paciente no pré-

17

operatório, culminando com o estudo da importância da comunicação de

enfermagem.

O terceiro capítulo tratou da definição da metodologia, em que se elegeu,

como método de pesquisa, a Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de

Mercedes Trentini e Lygia Paim, por permitir que o pesquisador se coloque em

compromisso com a construção do conhecimento novo para a renovação das

práticas assistenciais no campo estudado.

Para a coleta de dados, fez-se uso da entrevista semi-estruturada, feita por

meio de questionários com perguntas fechadas e abertas, por se acreditar que esta

modalidade se encaixou melhor aos propósitos deste estudo.

O quarto capítulo foi dedicado aos Resultados e Discussão, momento em que

foi caracterizada a clínica onde foi aplicada a pesquisa, partindo-se para a

apresentação das etapas da realização da pesquisa, bem como o resultado da

aplicação do questionário, tanto do perfil dos pacientes entrevistados quanto dos

resultados das perguntas específicas. Por fim, foram descritas as orientações

realizadas pela equipe de enfermagem.

Nas Considerações Finais, foi elaborado um fechamento das principais

conclusões obtidas no desenvolvimento do trabalho, na intenção de que possam

servir de subsídios para uma nova compreensão do tema.

18

2 MARCO CONCEITUAL

Este trabalho está alicerçado na Teoria das Relações Interpessoais de

Hildegard Peplau (1990), cujos pressupostos podem servir de base em quaisquer

situações nas quais os enfermeiros possam comunicar-se e interagir com os

pacientes.

Com a finalidade de contextualizar o trabalho de Peplau, primeiramente,

cumpre destacar algumas passagens de sua biografia pessoal e profissional, para,

em seguida, apresentar a Teoria das Relações Interpessoais.

2.1 Aspectos Biográficos de Peplau

Hildegard Elizabeth Peplau nasceu em 1º de setembro de 1909, em Reading,

na Pensilvânia, sendo a segunda de seis filhos do casal Gustav e Ottylie Peplau. Na

infância, presenciou a epidemia de gripe ocorrida em 1918, fato que influenciou

sobremaneira em sua compreensão sobre o impacto da enfermidade e da morte

para as famílias (SILLS, 1999; O'TOOLE e WELT, 1996).

Sua carreira na enfermagem teve início em 1931, com seus estudos em um

programa de enfermagem em Pottstown, Pensilvânia. O trabalho em um

acampamento de verão da "New York University" a levaria a exercer atividades

como enfermeira no "Bennington College" onde se graduou em Psicologia

Interpessoal, em 1943. Em Bennington, participou de um estudo experimental com

Erich From e Frida From-Reichmann, no "Chestnut Lodge" (uma instituição

psiquiátrica privada). Ali estudou com Harry Stack Sullivan, eminente psiquiatra da

época, e começou a dedicar sua vida a entender e a desenvolver a teoria

interpessoal de Sullivan com a finalidade de aplicá-la à prática de enfermagem

(SILLS, 1999; GEORGE, 2000).

Entre os anos de 1943 e 1945 compôs o grupo de enfermeiras do Exército

dos Estados Unidos, trabalhando a maior parte desse tempo na Escola Militar de

Neuropsiquiatria da Inglaterra, onde teve a oportunidade de conhecer os psiquiatras

mais importantes do mundo. Obteve seus títulos de Mestre e Doutora no "Teachers

College" da Universidade de Columbia, onde foi instrutora e diretora do programa

avançado de enfermagem psiquiátrica de 1947 a 1953 – período em que formulou

19

sua teoria. No ano de 1948, concluiu o livro "Interpersonal Relations in Nursing", o

qual só foi publicado quatro anos mais tarde, por ser considerado muito

revolucionário para a época, pois não se admitia que uma enfermeira publicasse um

livro sem que houvesse pelo menos um médico como co-autor. Também obteve

formação em psicanálise pelo Instituto William Alanson White de Nova York. (SILLS,

1999; O'TOOLE; WELT, 1996).

No início dos anos cinqüenta, ministrou aulas de enfermagem psiquiátrica no

"Teachers College", nas quais enfatizava a necessidade da experiência clínica com

os pacientes psiquiátricos. Tornou obrigatório para as enfermeiras a entrevista com

os pacientes, o registro das entrevistas realizadas e o estudo acerca dos padrões de

interação. Com base nessas notas e na sua experiência, pôde formular as definições

de ansiedade, conflito e frustração, presentes em sua teoria. De 1954 a 1974,

trabalhou como professora da Faculdade de Enfermagem de Rutgers e ali criou o

primeiro programa de pós-graduação em enfermagem psiquiátrica (O'TOOLE;

WELT, 1996).

Lutou de forma vigorosa para que as enfermeiras tivessem maiores

oportunidades de formação e, assim, pudessem dar um verdadeiro cuidado

terapêutico aos pacientes e não apenas serem guardiãs destes – papel que

prevalecia à época nos hospitais psiquiátricos (SILLS, 1999).

Exerceu atividades como consultora da Organização Mundial de Saúde -

OMS e como professora visitante em universidades da África, América Latina,

Europa e Estados Unidos. Como enfermeira, exerceu os cargos de diretora

executiva e presidenta da Associação de Enfermeiras Americanas - ANA. Também

trabalhou junto ao Conselho Internacional de Enfermagem – CIE, por dois períodos

(SILLS, 1999; GEORGE, 2000).

Faleceu em 17 de março de 1999, aos 89 anos, em sua casa, em Sherman

Oaks, Califórnia, após uma trajetória que influenciou profundamente a enfermagem

a ponto dela ser considerada a "enfermeira do século" e destacada, na área da

psiquiatria, como "a mãe da enfermagem psiquiátrica". A partir do seu trabalho, o

processo interperssoal passou a fazer parte de forma consciente e efetiva do ensino

e da prática da enfermagem. Por isso, considera-se que a vida e o trabalho de

Peplau produziram as maiores mudanças na prática de enfermagem depois de

Florence Nigthingale, tornando-a digna de várias honrarias ao longo de sua vida.

(SILLS, 1999).

20

2.2 A Teoria das Relações Interpessoais de Peplau e a Utilidade para a Prática

da Enfermagem

Com a apresentação de seu livro "Interpersonal Relations in Nursing: a

conceptual frame of reference for psychodinamic nursing", em 1952, Hildegard

Peplau introduziu um novo paradigma para a enfermagem centrado nas relações

interpessoais que se processam entre a enfermeira e o paciente. (PEPLAU, 1990).

Como em geral acontece com os escritores, foi fortemente influenciada pelas

questões debatidas em sua época e, como ela própria reconhece no prefácio de sua

obra, o que escreveu reflete, em alguma medida, as tendências dominantes e os

problemas dos quais a enfermagem se ocupava no início dos anos 50 do século XX.

(PEPLAU, 1990).

Uma das questões referia-se à compreensão do que seria a enfermagem e

em que consistiria a sua prática. Em resposta a esse questionamento central, a

autora vislumbrou a enfermagem como um processo interpessoal por meio do qual,

enfermeira e paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoais.

(PEPLAU, 1990).

Obviamente, os elementos fundamentais da prática da enfermagem são o

paciente, o enfermeiro e os acontecimentos que envolvem ambos durante uma

situação de cuidado. Eis, portanto, a importância fundamental de Peplau ao tentar

"profissionalizar" o que a enfermagem, de certa forma, já realiza quando interage

com o paciente, embora o faça, na grande maioria das vezes, de forma intuitiva.

(O'TOOLE; WELT, 1996; MARTÍ, 1990).

No que tange à Teoria das Relações Interpessoais de Peplau, pode-se dizer

que seus fundamentos são relacionados ao crescimento e desenvolvimento, como

os estudos de Erick Fromm e, sobretudo, a Teoria Interpessoal de Harry Stack

Sullivan. (GEORGE, 2000).

De forma geral, essas teorias adotam, como pressuposto básico, que o

crescimento e o desenvolvimento humanos ocorrem de forma gradual até a

realização do seu potencial máximo. O crescimento é entendido como um aumento

relacionado ao tamanho e formas físicas, ordenado e com tendências regulares em

seu direcionamento, mas que acontece para cada pessoa em um padrão único

influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. O desenvolvimento, por outro

21

lado, refere-se a mudanças funcionais no indivíduo, mais de caráter qualitativo, e

que também recebem influências internas e externas. (LEDDY; PEPPER, 1989).

A teoria de Sullivan, particularmente, baseia-se na crença de que o

comportamento e a personalidade dos indivíduos desenvolvem-se a partir das

relações com pessoas consideradas importantes para eles. Embora as etapas do

desenvolvimento possam ser de caráter universal, não existem limites definidos para

cada uma delas, as quais recebem grande influência das diferenças culturais. Para

Sullivan, em cada fase, a satisfação e a segurança derivam do atendimento das

necessidades do indivíduo e dos julgamentos de valores feitos por pessoas que

tenham importância para esse indivíduo. (LEDDY; PEPPER, 1989).

Com base nessas proposições, Peplau traz em sua teoria a noção de

"crescimento pessoal" que é compartilhado pelo enfermeiro e pelo paciente a partir

do relacionamento interpessoal desenvolvido no processo de cuidar. A autora usou o

termo "enfermagem psicodinâmica" para descrever o relacionamento dinâmico entre

enfermeira e paciente. Em seu entendimento, a enfermagem psicodinâmica envolve

reconhecer, esclarecer e construir uma compreensão acerca do que acontece

quando a enfermeira se relaciona de forma útil com o paciente. (O'TOOLE; WELT,

1996).

As etapas da enfermagem psicodinâmica desenvolvem-se tendo como base

dois pressupostos fundamentais, a saber:

1. A postura adotada pela enfermeira interfere diretamente no que o paciente vai

aprender durante o processo de cuidado ao longo de sua experiência como doente.

2. O auxílio ao desenvolvimento da personalidade e ao amadurecimento é uma

função da enfermagem que exige o uso de princípios e métodos que facilitem e

orientem o processo de solução dos problemas ou dificuldades interpessoais

cotidianos. (O'TOOLE; WELT, 1996).

Peplau considera que na medida em que cada enfermeira compreenda sua

própria função tanto mais ela compreenderá a situação do paciente e a forma como

esse a concebe. (O'TOOLE; WELT, 1996).

A primeira parte da teoria oferece ao leitor alguns elementos fundamentais

para prepará-lo a compreender as "influências, tarefas e métodos" que farão parte

da relação entre enfermeira e paciente. A autora afirma inicialmente que, uma vez

que pretende fornecer um marco conceitual para a enfermagem psicodinâmica,

cumpre esclarecer sua concepção de enfermagem. (PEPLAU, 1990).

22

Na acepção apresentada em sua obra, a enfermagem é vista primariamente

como um processo, considerado com base em suas fases e nos diferentes papéis

que a enfermeira pode assumir. (PEPLAU, 1990). Ao assim dizer, a autora entende

que a natureza da enfermagem sistematizada e dirigida a uma meta exige certas

fases, ações, operações e realizações que se produzem entre o indivíduo que

pratica a enfermagem e a pessoa assistida.

É necessário ressaltar que o processo vai muito além das técnicas de

enfermagem, que poderão ser usadas ou não para resolver o problema do paciente,

mas que por si só não o levam a amadurecer.

A enfermagem, na percepção da teórica, é uma relação humana entre uma

pessoa que está enferma ou necessitada de serviços de saúde e uma enfermeira

com uma formação especializada para reconhecer e responder à necessidade de

ajuda. (PEPLAU, 1990).

Mesmo enfatizando na sua teoria os aspectos psicológicos da prática da

enfermagem, a autora reconhece que o cuidado físico do corpo de outro ser humano

é fundamental, pois proporciona um tipo de 'intimidade interpessoal', uma

proximidade de tal forma que, com muita freqüência, induz a mente do paciente a

realizar conexões entre as circunstâncias presentes e suas experiências anteriores

que, de certo modo, são similares. (O'TOOLE; WELT, 1996).

Defende a idéia do que se poderia chamar de "enfermeira psicóloga". Como

ela adverte, em sua teoria não se sugere que a enfermeira deva ser 'onipotente' e,

em conseqüência, capaz de conseguir mudanças psicológicas nos pacientes, em

alguns minutos de interação enfermeira-paciente. O que se sugere não é uma

mudança de personalidade instantânea, e sim a utilização das oportunidades

disponíveis por meio da aplicação da teoria e técnicas conhecidas das relações

interpessoais. (O'TOOLE; WELT, 1996).

O objetivo da assistência de enfermagem é ajudar os indivíduos a produzir

mudanças que influenciem de forma positiva em suas vidas. (O'TOOLE; WELT,

1996). Nesse respeito, vale mencionar que as metas a serem atingidas deverão ser

estabelecidas pela enfermeira e pelo paciente, pois caso os objetivos de ambos

sejam desarmônicos, os resultados também o serão. (RIEHL; ROY, 1980).

Ao incluir nos objetivos as mudanças em âmbito comunitário, Peplau

evidencia que reconhece o papel da família, da sociedade, da cultura e do ambiente

nas mudanças, mesmo que seja o ambiente hospitalar o contexto predominante na

23

teoria. Também aponta que um dos papéis que a enfermeira pode desenvolver é o

de fazer com que os cuidados de saúde possam ser conduzidos do hospital para a

comunidade. (RIEHL; ROY, 1980).

Compreende-se esse objetivo delineado pela teórica quando se analisa as

circunstâncias históricas nas quais a teoria encontra-se inserida. Nos anos 40 do

século XX, as referências da enfermagem à pessoa como um todo foram o resultado

da adição dos estudos psicossociais aos currículos, suplementando a visão

exclusiva de homem biológico que dominara a educação de enfermagem até então.

A mudança de foco nos anos 40 conduziu, na década seguinte, a uma aproximação

holística do paciente, e a uma atuação da enfermagem voltada para atendê-lo em

suas necessidades. (RIEHL; ROY, 1980). Com essa mudança, a ênfase no processo

interpessoal como base para a intervenção de enfermagem emergiu e é nesse

contexto que Hildegard Peplau desenvolve sua teoria.

Em relação ao processo de atuação da enfermagem, cumpre afirmar que

esse representa a parte dinâmica da teoria. O processo ou processos de uma teoria

implicam nas atividades, quer sejam de ordem afetiva, intelectual ou

comportamental, requeridas para implementar uma teoria. Cumpre ainda ressaltar

que diferentes problemas requerem diferentes métodos. Para algumas teóricas, o

processo é reduzido a uma simples atividade. Para outras, numerosas ações estão

envolvidas na execução do processo. (BARNUM, 1998).

Em sua teoria, Peplau (1990) opta por descrever o processo de relação

interpessoal da enfermagem em quatro fases: orientação, identificação, exploração e

resolução. Essas etapas estão superpostas e devem ser consideradas de forma

relacionada. Na fase de orientação, o paciente apresenta uma necessidade e solicita

ajuda profissional. A enfermeira, inicialmente, identifica as necessidades do

paciente, o qual, durante a interação, fornece muitas pistas a respeito de como

visualiza a dificuldade que está experimentando e oferece à enfermeira a

oportunidade de reconhecer suas carências de informação e compreensão acerca

do problema.

Diante das necessidades identificadas, a enfermeira, em colaboração com

outros componentes da equipe de saúde, orienta o paciente sobre o problema e de

suas implicações. A tensão e a ansiedade apresentadas por esse paciente em

decorrência de suas necessidades devem ser levadas em consideração na fase de

24

orientação, pois, caso contrário, não haverá êxito em tentar relacionar a sua

experiência atual com as anteriores. (PEPLAU, 1990).

O ambiente hospitalar é propício para a etapa de orientação, considerando

que as limitações de espaço e liberdade de movimentos impulsionam o paciente ao

seu próprio mundo imaginário e podem suscitar a oportunidade para que, com a

ajuda do profissional, possa esclarecer e explicar o que acontece a sua volta. No

momento da hospitalização, os sentidos do paciente estão bastante aguçados e ele

passa a observar detalhes cada vez menores (PEPLAU, 1990), o que destaca a

importância de, na fase de orientação, estar atento a qualquer necessidade do

paciente mesmo que pareça irrelevante ou de menor importância.

Sobre esse último aspecto, a teórica reconhece que a celeridade, qualidade

tão valorizada nas enfermeiras, na verdade, não estimula a atitude investigativa

diante do paciente. Em sua opinião, toda enfermeira deveria, sempre que possível,

"buscar uma cadeira, sentar com os pacientes e dizer: 'fale-me de você". O que

ocorre muitas vezes, entretanto, é que traduzimos nosso contato com os pacientes

como algo simples demais e os acontecimentos interpessoais importantes passam

despercebidos (O'TOOLE; WELT, 1996). Como explica, não raramente achamos

que nossos pacientes são apenas nosso "público", e deixamos de percebê-los como

figuras essenciais, esquecendo-nos de suas reais necessidades (O'TOOLE; WELT,

1996).

À medida que a relação avança, passa-se à fase de identificação, na qual o

paciente começa a responder seletivamente às pessoas que lhe oferecem a ajuda

de que necessita (PEPLAU, 1990). Nessa fase, a enfermeira, no desempenho das

ações de cuidado, pode levar o paciente a identificá-la como uma figura familiar ou

culturalmente importante em suas lembranças. O paciente poderá responder de três

formas: desenvolvendo ações de caráter participativo e interdependente com a

enfermeira; isolando-se e assumindo uma atitude de independência em relação à

enfermeira ou adotando uma postura de desamparo e dependência em relação a

essa profissional (O'TOOLE; WELT, 1996).

Peplau (1990) comenta que alguns pacientes se identificam tão facilmente

com a enfermeira que esperam que ela atenda a todos os seus desejos,

desconsiderando o fato de que o relacionamento interpessoal pressupõe que haja

uma interação entre ambos.

25

Na etapa de identificação, os esforços da enfermeira devem direcionar-se

para o auxílio do paciente na consecução de uma aprendizagem construtiva, a qual

ocorre quando ele pode centrar-se nos elementos essenciais da situação, mediante

seus próprios esforços, e quando pode desenvolver respostas independentemente

da enfermeira (PEPLAU, 1990).

A terceira fase do processo refere-se à exploração ao máximo da relação

para a obtenção dos melhores benefícios possíveis. O paciente faz pleno uso dos

serviços que lhe são oferecidos, entretanto, quando se inicia a recuperação, pode

experimentar conflitos entre o seu estado de dependência e independência, a um só

tempo. A atuação da enfermeira é continuar a promover a satisfação do paciente em

relação às suas demandas à medida que elas surgem e, conforme avança a

convalescença, deverão ser estabelecidas novas metas - como voltar para casa e ao

trabalho - no intuito de diminuir a identificação do paciente com a pessoa que lhe

prestou ajuda (PEPLAU, 1990).

A última fase denominada de "resolução" é caracterizada mais como um

fenômeno psicológico em que o paciente abandona os laços adquiridos e prepara-se

para retornar para casa. O ideal seria que essa fase coincidisse com a resolução de

seu problema clínico, o que em muitos casos não acontece, pois o paciente mesmo

recuperado não apresenta o desejo real de concluir a enfermidade (PEPLAU, 1990).

Para que a resolução aconteça de forma bem-sucedida, há a necessidade da

liberação gradual da identificação com as pessoas que prestaram ajuda e da criação

e fortalecimento da capacidade de atuar por si mesmo. O paciente consegue lograr

êxito nessa etapa quando as etapas anteriores foram amplamente satisfeitas e

ocorreu um encadeamento adequado entre elas. (PEPLAU, 1990).

Durante todas as fases do processo interpessoal, indica que a enfermeira

pode assumir diferentes papéis. Como "pessoa estranha", a enfermeira estabelece

com o paciente uma interação baseada no respeito e no interesse, na qual o

visualiza como uma pessoa emocionalmente capaz e busca utilizar expressões que

promovam maior conforto psicológico. (PEPLAU, 1990).

Outro papel é o de "pessoa recurso", o qual implica que a enfermeira deve

fornecer reposta às perguntas dos pacientes, sobretudo às questões que envolvem

sentimentos e que estão associados aos maiores problemas enfrentados por eles.

Também pode atuar como "educadora" e "líder", auxiliando o processo de

aprendizagem do paciente à medida que promove a participação ativa do mesmo

26

em suas experiências. Outros papéis que as enfermeiras podem desempenhar,

denominados como "substitutos", desenvolvem a personalidade do paciente a partir

da reativação de suas experiências anteriores, papéis esses que encontram

resistência por parte de algumas delas. (PEPLAU, 1990).

2.3 Pressupostos

Tendo em vista que a Teoria das Relações Interpessoais de Hidelgard

Elizabeth Peplau privilegia o relacionamento enfermeira/paciente, de maneira que

ambos possam interagir no processo saúde/doença, encontrou-se neste marco

conceitual subsídios coerentes para adotá-lo nesta pesquisa, pois acredita-se que

esta interação se torna imprescindível no desenvolvimento das ações educativas de

saúde, de forma que o paciente possa se tornar mais receptivo às informações

recebidas e, com isso, absorvê-las de maneira satisfatória.

Ao relacionar o enfrentamento pessoal da doença pelo paciente e a

enfermagem como parte atuante neste contexto, Peplau (1990) se ampara em

pressupostos, como os descritos a seguir:

• Crescimento e desenvolvimento pessoal que ocorrem de forma gradual até a

realização do seu potencial máximo.

• O crescimento pessoal é compartilhado pelo enfermeiro e pelo paciente a partir

do relacionamento interpessoal desenvolvido no processo de cuidar.

• O comportamento e a personalidade dos indivíduos desenvolvem-se a partir das

relações com pessoas consideradas importantes para eles.

• A enfermagem é considerada psicodinâmica, pois envolve reconhecer,

esclarecer e construir uma compreensão acerca do que acontece quando a

enfermeira se relaciona de forma útil com o paciente.

• As etapas da enfermagem psicodinâmica desenvolvem-se tendo como base dois

pressupostos fundamentais, a saber: a) a postura adotada pela enfermeira interfere

diretamente no que o paciente vai aprender durante o processo de cuidado ao longo

de sua experiência como doente; b) o auxílio ao desenvolvimento da personalidade

e ao amadurecimento é uma função da enfermagem que exige o uso de princípios e

métodos que facilitem e orientem o processo de solução dos problemas ou

dificuldades interpessoais cotidianos.

27

• Na Teoria, o objetivo da assistência de enfermagem é ajudar os indivíduos a

produzir mudanças que influenciem de forma positiva em suas vidas.

Para finalizar, é de se ressaltar que a enfermagem deve lembrar que os

pacientes são seres humanos que se diferenciam entre si e somente precisam da

assistência de pessoas que acreditam ser capazes de ajudá-los a resolver os

problemas de saúde.

28

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo tem por objetivo refletir sobre o tema principal deste trabalho.

Desse modo, primeiramente, num contexto geral, e dada a natureza complexa do

tema, deve-se criar os alicerces mais seguros buscando-se conceitos teóricos que

ajudarão a organizar o conjunto de dados e informações colhidas durante o

processo de pesquisa.

Assim, apresenta-se e discute-se, no presente capítulo, os pressupostos

teóricos acerca do tema, razão pela qual a organização deste capítulo reflete uma

análise em seis etapas: a primeira apresenta considerações sobre Ética, que tem

como objetivos identificar e comparar os problemas éticos vivenciados e os

fundamentos que balizam o equacionamento para a tomada de decisão frente a

problemas éticos; a segunda aborda o período pré-operatório, evidenciando como se

comporta o paciente nesta fase; a terceira procura compreender questões

relacionadas ao paciente, principalmente no que tange ao estresse causado no

período pré-operatório; a quarta etapa desenvolve considerações sobre a internação

hospitalar; a quinta analisa os mecanismos de enfrentamento trazidos pela literatura

utilizada; na sexta etapa, discorrer-se-á sobre a assistência da equipe de

enfermagem para o enfrentamento do paciente no pré-operatório.

Desse modo, tem-se uma visão geral dos assuntos que compõem o tema

principal que este trabalho ora se propõe.

3.1 Considerações sobre Ética

A fim de viabilizar a convivência, a sociedade e/ou os grupos têm traçado, ao

longo da história da humanidade, diferentes balizamentos. A ética é um deles. A

palavra ética, do grego éthos, refere-se aos costumes, à conduta de vida e às regras

de comportamento. Circunscreve-se ao agir humano, aos comportamentos

cotidianos e às opções existenciais. Etimologicamente, significa o mesmo que moral

(do latim mos, moris), sendo usual o emprego destas palavras uma pela outra,

quase como sinônimos. (FORTES, 1998; VÁZQUEZ, 2000).

"A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em

sociedade". (VÁZQUEZ, 2000, p.23). Para o autor, a ética é teoria, investigação ou

29

explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos

homens, o da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e

variedade.

Tratada como um mecanismo de regulação das relações sociais do homem,

com vistas a garantir a coesão social, bem como harmonizar interesses individuais e

coletivos, a discussão de questões éticas tem sido retomada e ampliada nas últimas

décadas nos diversos espaços da sociedade e, particularmente, no campo da

saúde. Fortes (1998, p. 26), por exemplo, alega que, atualmente, os termos ética e

moral se distinguem, levando-se em conta que moral seja o conjunto de princípios,

valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações sociais,

existentes em determinado momento histórico. Moral refere-se principalmente ao

coletivo, coexistindo, na sociedade contemporânea, em um mesmo contexto social,

diferentes morais, fundadas em valores e princípios diferenciados. E a ética implica

opção individual. Está, pois, ligada intrinsecamente à noção de autonomia individual.

Porém, adverte o autor, é preciso manter certa cautela na excessiva utilização

do termo “ética” sem que seja especificado o seu significado, pois, nos dias atuais,

começa a haver uma tendência à banalização da ética, que está sendo empregada

indistintamente, confundindo-se, por vezes, com política, ideologia, entre outros.

Neste sentido, Vasquez (2000, p. 20) salienta que a função fundamental da

ética é a mesma de toda teoria, ou seja, “explicar, esclarecer ou investigar uma

determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes. Por outro lado, a

realidade moral varia historicamente e, com ela, variam os seus princípios e as suas

normas”.

Segundo Durant (1995), a moral ou a ética abrange como campos de ação:

• a pesquisa: entendida como a procura do que é certo, do que é necessário fazer.

É a pesquisa de normas ou de regras de comportamento, a análise dos valores, a

reflexão sobre os fundamentos dos direitos, dos valores e das normas. O que

importa neste campo de abrangência é buscar conhecer e descobrir os valores

para somente então interiorizá-los ou seguir as normas. Esta pesquisa não é

exclusividade de especialistas, constitui responsabilidade de cada pessoa.

Nas últimas décadas, a pesquisa em enfermagem vem se desenvolvendo

visivelmente. O Código de Ética dos profissionais de enfermagem assinala a

necessidade do consentimento informado para a realização de pesquisas em seres

humanos. A pesquisa passou a nascer de esforços e empreendimentos individuais e

30

coletivos, dando origem a diferentes linhas de pesquisas e grupos de estudos que se

constituíram em núcleos de assistência, pesquisa e ensino. A constituição de

projetos integrados de pesquisa, por meio de convênios institucionais, pode ser uma

das vias para que ocorra a articulação universidade- serviços, fundamental para

desencadear um processo de conhecimento desenvolvido coletivamente. (DURANT,

1995).

Desse modo, o aprimoramento constante das normas para pesquisa

envolvendo seres humanos firmou-se como marcante característica do meio

científico brasileiro. Ao lado dos esforços intensos de manter espaços de grande

reconhecimento em nível nacional e internacional, a nossa ciência e tecnologia

revelam grande sensibilidade e compromisso social, com destaque para o respeito

intransigente dos direitos de cidadania dos seres humanos, sujeitos das pesquisas.

Esta explicitação consta das principais resoluções e normas do Conselho Nacional

de Saúde, sobre a Ética nas Pesquisas que Envolvem Seres Humanos, que nos

colocam hoje entre os países mais evoluídos neste nobre campo de atividades.

(DURANT, 1995).

O Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde - CNS-MS editou, em

1988, a Resolução n. 1/886 que, entre diversos itens, estabelece a necessidade do

"consentimento pós-informação" e exige que os protocolos de pesquisa sejam

aprovados por Comitê de Ética independente do pesquisador, sem referência aos

aspectos éticos relacionados à publicação dos resultados das pesquisas em seres

humanos. Todavia, em 1996, o CNS-MS aprovou a Resolução n. 196 (Anexo 1), que

incorpora vários conceitos de ética e mantém o consentimento do indivíduo e a

necessidade de aprovação prévia por Comitê de Ética. (FORTES, 1998).

Em relação à Resolução n. 196/96, o autor acima esclarece que tal

Resolução contém diretrizes e normas regulamentadoras para as pesquisas que

envolvem seres humanos, de forma direta ou indireta, individual ou coletivamente,

sejam elas realizadas por quaisquer categorias profissionais, no campo biológico,

psíquico, educacional, cultural ou social, incluindo o manejo de informações e

materiais. Todavia, no caso das pesquisas realizadas no campo da saúde, são

eticamente movidas pelo princípio da beneficência, objetivando aumentar o bem-

estar do ser humano. (FORTES, 1998).

31

Cumpre informar que os aspectos éticos do presente trabalho encontram-se

dispostos no próximo capítulo, referente à Metodologia, precisamente no tópico 4.6

denominado Aspectos Éticos.

• a sistematização da reflexão: é o resultado da pesquisa, podendo-se entender a

ética ou a moral como um conjunto organizado, sistemático, hierarquizado de

regras ou de valores.

Segundo Freitas (2007), a clara caracterização das pesquisas e,

conseqüentemente, a análise de sua validade e aceitabilidade, embasada em

conhecimentos prévios que apontem para o benefício e o acompanhamento

controlado de seus resultados, de forma sistemática e universal (cobrindo todos os

protocolos), podem trazer ganhos enormes, tais como a diminuição do número de

pessoas desnecessariamente expostas a procedimentos inúteis ou danosos e,

acima de tudo, a clara compreensão da utilidade (relação risco/benefício) de novos

procedimentos propostos. Assim, toda pesquisa envolvendo seres humanos deve

ser submetida a uma reflexão ética no sentido de assegurar o respeito pela

identidade, integridade e dignidade da pessoa humana e a prática da solidariedade e

da justiça social.

• a prática: a experiência concreta do cotidiano, quando ocorre a realização dos

valores, o esforço pessoal para aplicar os princípios e observar as normas.

A tendência humanista que se verifica em todas as áreas da Saúde, tanto na

pesquisa como na prática, torna-se a perspectiva que desencadeia a maioria dos

questionamentos e das mudanças de atitude dos profissionais, originando novos

estudos sobre a maneira de conceber as relações assistenciais, assim como a

busca de fundamentos para essas posturas. (DURANT 1995).

A perspectiva ética aos poucos passa a concorrer com uma visão ética

autonomista que, na prática, significa considerar o usuário dos serviços de saúde

como alguém que deve, legitimamente, participar de sua situação e das decisões

sobre seu estado de saúde. A este ponto, cabe considerar que é comum, mas não

unânime, a distinção entre ética e moral, entendendo a primeira como o estudo dos

fundamentos da segunda. Isto a limita aos dois primeiros campos de ação (o da

pesquisa e sistematização), restando o da prática à moral (DURANT 1995).

Neste sentido, também não se pode esquecer que a vida cotidiana confere às

palavras uma história específica que lhes agrega um sentido próprio. Assim, é

pertinente ponderar que, no Ocidente, a primazia cultural do cristianismo confere à

32

palavra moral uma conotação religiosa, referindo-se a um sistema de princípios

imutáveis e aparentemente definidos. Desta forma, este termo reveste-se de um

sentido fechado e conservador. Dentro deste contexto, o realce para a palavra ética

ocorre na intenção de destacar uma conotação de moral não religiosa, secular. Daí a

preferência em usar ética à moral, mesmo reconhecendo-se a sinonímia dos termos

por sua etimologia (DURANT, 1995).

A ética da saúde ocupa lugar de destaque no conjunto das reflexões éticas,

pois enfoca questões relacionadas à manutenção e à qualidade de vida das

pessoas. Leopoldo e Silva (1998, p. 35) considera a ética da saúde profundamente

enraizada no terreno dos direitos humanos, pois a vida é o primeiro dos direitos.

Segue o autor afirmando que a ética da saúde implica “compromisso com a

realização histórica de valores que encarnem nas condições determinadas de

situações sociais e políticas diferenciadas o direito de que todo ser humano deveria

primordialmente usufruir”.

Tendo apresentado considerações a respeito da ética, cumpre, ainda,

discorrer sobre questões em relação ao período pré-operatório, o que será feito na

próxima seção.

3.2 Considerações sobre o Período Pré-Operatório

Segundo Becker (1968), o termo “cirurgia” provém do latim chirurgia, que o

tomou do grego kheirourgia, de kheír, mão + érgon, trabalho. Etimologicamente,

portanto, cirurgia significa trabalho manual, arte, ofício, no qual se empregam as

mãos para a sua execução. Entende-se, assim, o seu uso em medicina para

designar os procedimentos terapêuticos que exigem trabalho manual.

De acordo com os melhores léxicos, especializados ou não em termos

médicos, define-se cirurgia como o ramo da medicina que se dedica ao tratamento

das doenças, lesões, ou deformidades, por processos manuais denominados

operações ou intervenções cirúrgicas. Verifica-se atualmente o uso, cada vez mais

freqüente, de cirurgia como sinônimo de operação ou intervenção cirúrgica.

(BECKER, 1968).

Dizer que a cirurgia tem por fim a prática de cirurgias, em lugar de operações,

seria o mesmo que dizer que a obstetrícia tem por fim a prática de obstetrícias (em

lugar de partos). Chama-se a isso de tautologia. A prevalecer o uso de cirurgia como

33

sinônimo de operação, é de se prever o aparecimento de um novo verbo - cirurgiar.

Será, então, mais elegante dizer que o doente foi cirurgiado do que operado. A boa

linguagem, tradicional, vernácula, correta, como ensina Becker (1968), em seu livro

“Nomenclatura biomédica no idioma português do Brasil” manda dizer operação,

reservando-se cirurgia para nomear o ramo da medicina que trata os enfermos por

meio de operações.

A partir do exposto, Goffi (1980, p. 267) conceitua e define operação ou

intervenção cirúrgica como:

[...] o conjunto de gestos manuais ou instrumentais que o cirurgião executa para a integral realização de ato cruento com finalidade diagnóstica, terapêutica ou estética. As operações fundamentais (divisão, diérese, hemostasia e síntese) constituem atos cirúrgicos simples, que, associados, permitem a realização de operações complexas.

Uma intervenção cirúrgica é composta por três tempos: pré inicia-se com a

indicação da cirurgia e termina no instante de executá-la. Esse período é variável,

pois depende do tipo de cirurgia, do procedimento desejado e das condições gerais

do paciente; trans compreende o tempo entre a indução anestésica e o término da

intervenção cirúrgica. O trans-operatório compõe-se de vários tempos sucessivos e

proporcionais de acordo com o tipo e tamanho da cirurgia; e pós-operatório é o

período de tempo compreendido entre o término da cirurgia e a plena recuperação

clínica do paciente relativa às alterações determinadas pelo ato cirúrgico em si,

independente da evolução do estado mórbido inicial. (PITREZ, 1987).

O autor acrescenta, ainda, um quarto tempo, que é o do acompanhamento

do paciente (follow-up), já que a responsabilidade do cirurgião não cessa com o

término da etapa dos cuidados pós-operatórios complementares. A partir daí, inicia-

se um longo período de controle e observação, feito por meio de revisões periódicas,

com o objetivo de acompanhar a evolução e os resultados tardios do tratamento

cirúrgico instituído. (PITREZ, 1987).

A Figura 1 resume a seqüência lógica da conduta a ser seguida frente a um

paciente cirúrgico desde o momento de sua internação até o final do período pós-

operatório, segundo Pitrez (1987):

34

Figura 1. Conduta diante do Paciente Cirúrgico Hospitalizado segundo Pitrez Fonte: Pitrez (1987, p.18).

Cumpre esclarecer que esta divisão tem apenas finalidade didática, pois

essas etapas estão unidas entre si, separadas apenas no tempo. Todavia, será

considerado, aqui, apenas o período pré-operatório, por ser este tempo o objeto de

estudo deste trabalho.

No pré-operatório, o paciente é observado, recebendo os cuidados

necessários para que, durante a cirurgia, a convalescença apresente-se sem

complicações. O conhecimento e o emprego correto das técnicas cirúrgicas

utilizadas na intervenção permitem melhor evolução no pós-operatório. Torna-se

claro que a execução das técnicas particulares a cada período cirúrgico conduzirá a

um único objetivo, isto é, o êxito da operação. (PITREZ, 1987).

Conforme ilustrado na Figura 1, diante de um paciente candidato à cirurgia,

além do Diagnóstico da enfermidade determinante, impõe-se ao cirurgião a

criteriosa Avaliação pré-operatória de suas condições gerais, bem como o

PRÉ-OPERATÓRIO

BAIXA HOSPITALAR

DIAGNÓSTICO

AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA

PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO

TRANS-OPERATÓRIO CIRURGIA

PÓS-OPERATÓRIO

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS NO PERÍODO DE RECUPERAÇÃO

ALTA HOSPITALAR

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS TARDIOS

SEGUIMENTO (FOLLOW-UP)

35

indispensável Preparo do mesmo, tendo em vista a intervenção cirúrgica proposta.

Estas três etapas clínicas constituem uma “Tríade de Cuidados Pré-Operatórios”,

assim denominada por Pitrez (1987), conforme esquematizada na Figura 2, a seguir:

Figura 2. Tríade de Cuidados Pré-Operatórios, de acordo com Pitrez Fonte: Pitrez (1987, p.19).

No conjunto, a tríade forma a pedra angular da rotina de pré-operatório. O

cumprimento à risca destas três etapas fornece ao cirurgião a certeza de uma

resposta adequada ao trauma imposto pela agressão cirúrgica e de uma evolução

tranqüila no pós-operatório, até a plena recuperação do paciente, sem os percalços

de uma complicação imprevisível. (PITREZ, 1987).

Segundo Araújo (1984), pode-se compreender que o período pré-operatório é

composto por um conjunto de ações que visam à identificação de possíveis

distúrbios no paciente, reduzindo desta maneira os riscos cirúrgicos. O pré-

operatório objetiva aumentar as defesas orgânicas do indivíduo, melhorando assim o

seu estado geral, garantindo o êxito na cirurgia. O trauma cirúrgico, por mais simples

que seja a intervenção, provoca redução na resistência imune do paciente.

Por fim, ainda que, para cada caso em si, as normas habituais de pré-

operatório se particularizem diante das peculiaridades inerentes à própria patologia,

esta seqüência deverá ser rigorosamente obedecida em todos os casos. Nem

mesmo as urgências cirúrgicas, que requerem uma atitude terapêutica mais

imediata, dispensam a aplicação destas normas, diferindo dos casos eletivos apenas

pela rapidez e presteza com que são seguidas. (PITREZ, 1987).

A seguir, far-se-á uma abordagem em relação ao paciente, visto que a

necessidade de tratamento ou procedimento cirúrgico traz diversas conseqüências

DIAGNÓSTICO AVALIAÇÃO

CIRURGIA

PREPARO

36

para ele. Além de reações como ansiedade, medo e angústia, é preciso lembrar as

modificações que ocorrerão para a sua vida diária. A intervenção cirúrgica tem um

significado ímpar para o paciente, pois modificações são realizadas em seu corpo,

sendo necessário que ele se adapte para o retorno à sua vida social, profissional ou

de lazer.

3.3 Considerações sobre o Paciente

A fim de compor este tópico, necessário se faz, primeiramente, que se defina

o termo paciente. Num conceito simplista e generalizado, porém, esclarecedor, Silva

e Silva (2004, p.284) definem o paciente como sendo o indivíduo “doente; pessoa

que está sob cuidados médicos”.

Neste sentido, a doença e seu tratamento cirúrgico podem representar uma

nova realidade, abruptamente imposta, que desestrutura o paciente que se sente

atingido em sua auto-imagem, tem medo do seu estado de saúde e fica à mercê de

profissionais que nem sempre lhe transmitem segurança e empatia. A ameaça à

saúde também provoca ansiedade nessa pessoa já fragilizada pelo seu estado

clínico. (GOMES, 1998; SANTOS e ARAÚJO, 2003).

Nóbrega e Garcia (1994, p.36) conceituam e definem ansiedade como:

[...] o estado subjetivo no qual o indivíduo experimenta um sentimento de incômodo e inquietação, cuja fonte é, freqüentemente, inespecífica ou desconhecida por ele. E o medo é o estado no qual o indivíduo apresenta um sentimento de temor relacionado a uma fonte identificável que ele pode verificar.

A cirurgia é uma situação imposta pela vida, que exige do homem um

enfrentamento. É possível que a antecipação deste evento desencadeie sentimentos

e avaliação cognitiva que, influenciados pelas diferenças individuais, resultarão em

comportamentos peculiares de ajustes, cuja finalidade é enfrentar o estresse

provocado por este evento.

A propósito, de forma genérica, os sentimentos são informações que seres

biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Por exemplo, medo é

uma informação de que há risco, ameaça ou perigo direto para o próprio ser ou para

interesses correlatos. A empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta

informação não resulta necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas

varia, dependendo da competência em lidar com a situação, e como isso se

37

relaciona com experiências passadas e outros fatores. Os sentimentos têm a

finalidade de nos auxiliar a classificar, conhecer, e perceber as coisas do mundo

real. (SILVA, 2002).

É de grande importância a identificação dos sentimentos dos pacientes no

pré-operatório, pois, no âmbito hospitalar, a Equipe de Enfermagem desempenha

um papel abrangente no cuidado da pessoa submetida a um procedimento cirúrgico.

A assistência de enfermagem engloba desde os cuidados pré-operatórios e a

monitorização cuidadosa para detecção precoce de complicações pós-cirúrgicas, até

o apoio emocional e psicológico oferecidos ao doente e seus familiares, durante todo

o período de recuperação pós-cirúrgica (DANTAS, 1999).

Acredita-se que existe uma faixa de ansiedade que deva ser considerada

desejável e que impulsionará o paciente a agir, por exemplo: fazendo perguntas à

equipe, relacionando-se com os familiares e aceitando as restrições impostas pelo

preparo pré-cirúrgico. No entanto, um alto grau de ansiedade pode levar o paciente

a se mostrar apático, o que ocasionaria dificuldades para aprender as orientações

verbais recebidas da equipe e um baixo grau de ansiedade pode denotar uma

ausência de introversão, tendo como conseqüência igual resistência em

compreender e se reafirmar diante da situação vivida (ROMANO, 1994).

Segundo Dubos (1974), nos fatos comuns da vida, o homem reage

fisiologicamente às agressões como há milênios atrás, e sua sobrevivência continua

dependendo da capacidade de mobilização dos mecanismos corporais. A resposta

orgânica frente a um estímulo, com suas implicações bioquímicas hormonais,

sempre foi adaptativa e continua sendo. É por meio dela que o homem está

capacitado a empenhar-se efetivamente em enfrentar as mais variadas situações.

Mas, o homem, por meio de sua subjetividade e socialização, vivencia

processos somáticos e psíquicos, resultados de estímulos que experimenta, e agora,

como no passado, os seres humanos não reagem apenas às características

objetivas de determinada situação, mas, tanto ou mais ainda, aos símbolos que a

mesma representa para eles (DUBOS,1974).

3.3.1 O Estresse

As alterações ocorridas no homem, em decorrência de um estímulo, já

chamavam a atenção de Selye (1959) que, ainda em vida acadêmica, como

38

estudante de Medicina, observou que pacientes com diagnósticos diferentes

apresentavam as mesmas manifestações o que, na época, denominou de "síndrome

de estar doente". Posteriormente, o pesquisador desenvolveu novos estudos,

provocando um estímulo agressor (temperatura, choque elétrico, sangramentos) e

controlando a resposta do organismo de animais por meio de dados clínicos e da

observação pós-autópsia. Concluiu que existia um padrão de resposta biológica

semelhante a estímulos diferentes, que obedeciam a um encadeamento mais ou

menos constante, configurando uma síndrome. Essa resposta biológica, Selye

denominou estresse e, ao encadeamento da resposta, denominou Síndrome de

Adaptação Geral (SAG).

O estresse é conceitualmente entendido como um processo complexo e

multidimensional, em que atuam estressores agudos ou crônicos, criando um estado

de excitação emocional, agradável ou desagradável, que, ao perturbarem a

homeostase, disparam um processo de adaptação que produz diversas reações

sistêmicas, com distúrbios fisiológicos e psicológicos (ARANTES; VIEIRA, 2002;

LIPP, 2000; MARGIS, PICON, COSNER; SILVEIRA, 2003).

As reações ao estresse surgem mediante um processo de etapas, nas quais

a sintomatologia e a forma de manejo são diferenciadas de acordo com a fase

observada. Após várias modificações conceituais, a SAG pode ser descrita da

seguinte maneira: fase de reação de alarme, fase de resistência, fase de quase

exaustão, e fase de exaustão.

Estas fases do estresse se distinguem pela duração da ação do estressor,

aparecimento de sintomas orgânicos e/ou emocionais e pelo resultado dos

mecanismos de enfrentamento.

A fase de reação de alarme é considerada a resposta inicial ante o

estressor, onde é desencadeada uma série de reações para a sobrevivência

orgânica, dentre elas aumento da pressão arterial, tensão muscular, diminuição dos

linfócitos T, etc. (ARANTES; VIEIRA, 2002; LIPP, 1996).

Esta fase é caracterizada por várias reações corporais, decorrente da

exposição do organismo a um estímulo ameaçador. Resulta em mudanças

hormonais, desencadeadas pelo sistema nervoso central e pelo sistema nervoso

autônomo simpático, preparando o corpo para luta ou fuga, por meio da liberação

predominantemente, das catecolaminas acetil colina, ácido gama-aminobutírico

(GABA), dopamina e serotonina (SELYE, 1959; GUYTON, 1989).

39

A rapidez com que esta fase é deflagrada deve-se à descarga adrenérgica da

medula da supra-renal e da noradrenalina, em fibras pós-ganglionares, ocorrendo a

taquicardia, aumento da pressão arterial, alterações respiratórias, sudorese,

aumento do fluxo sanguíneo muscular, diminuição do fluxo sangüíneo da pele,

dilatação pupilar e diminuição da saliva (GUYTON, 1989).

Se esta mobilização do organismo for bem-sucedida ou se os estímulos

desaparecerem, as funções e os órgãos voltam ao seu nível basal de

funcionamento. Mas se estes fatores se mantiverem, o indivíduo enfrentará uma

outra fase do SAG denominada fase de resistência.

A fase da resistência acontece quando há a persistência do estressor,

predominando a reação passiva na busca pela adaptação (SELYE, 1959). Alguns

sintomas desta fase são: hipertensão arterial, dificuldade de cicatrização,

rebaixamento do sistema imunológico, entre outros. (SARDÁ, LEGAL e JABLONSKY

JR., 2004).

Esta fase aparece quando a exposição ao estímulo é prolongada. Os sinais

decorrentes das mudanças hormonais desencadeadas na fase anterior diminuem. A

predominância hormonal agora é mediada pelo hipotálamo, sendo que os hormônios

liberados têm o objetivo de aumentar a capacidade adaptativa às demandas. Nessa

fase, existe um esforço em manter a resistência por um período maior. Os

hormônios predominantes nessa fase são os glicocorticóides e os

mineralocorticóides. (SELYE, 1959; GUYTON, 1989).

A quase exaustão caracteriza-se como o início do enfraquecimento do

organismo diante do estresse, começando a surgir doenças, mas ainda não tão

graves quanto à fase de exaustão.

Esta última fase, a exaustão, que se caracteriza pela não mais possibilidade

de resistência ao estressor e o surgimento de patologias orgânicas e psíquicas

graves, que quando permanecem atuando por um fracasso adaptativo, as

conseqüências do estresse podem levar até a morte. São patologias observadas

nesta fase: doenças cardíacas, auto-imunes, gastrintestinais, depressão, entre

outras (LIPP, 2000).

Trata-se da fase que decorre da falha dos sistemas envolvidos na fase

anterior, ou seja, o organismo perde o poder adaptativo; há diminuição ou

esgotamento dos mecanismos que o envolve podendo surgir patologias localizadas

em órgãos específicos, resultante da falência de órgãos ou de seu

40

comprometimento. Esta fase corresponde à Síndrome de Adaptação Local (SAL). A

exemplo da fase de resistência, a fase de exaustão apenas ocorrerá se o estressor

persistir por um tempo maior do que as possibilidades físicas e psíquicas que o

sujeito tem de conviver com ele. (LIPP, 2000).

A SAG, embora descrita em três fases, não ocorre assim de forma tão linear,

isto é, pode haver simultaneidade entre o surgimento das fases. A característica e a

rapidez de sua evolução dependem em grande parte das peculiaridades sociais,

psíquicas e biológicas do sujeito. (LIPP, 2000).

A teoria que Selye denominou "Stress" teve a importância científica de

descrever as repercussões psico-biológicas de um estímulo ameaçador ou

desafiador no sujeito. A definição de inespecífico para esse autor está ligada ao

estímulo, ou seja, para qualquer estímulo, o organismo biológico apresenta o mesmo

encadeamento de resposta que difere apenas de intensidade. (LIPP, 2000).

O diagnóstico do estresse pode ser feito de diversas formas. Alguns autores

indicam a categorização de grandes eventos vitais, pois estes exigem que a pessoa

utilize uma elevada quantidade de energia adaptativa para poder enfrentar a

situação. Outra forma possível é a medição do nível de catecolaminas no sangue,

hormônios presentes na reação neuroendócrina ao estresse. Ainda há os

pesquisadores que sugerem o diagnóstico fisiológico, por meio de técnicas

eletrodérmicas e medidas cardiovasculares (LIPP, 1996).

Lipp (2000) propõe que o estresse seja diagnosticado por intermédio da soma

dos sintomas que a pessoa apresenta no contato com o estressor. A ocorrência do

estresse, nesta perspectiva, é delineada por meio da sintomatologia física e

psíquica, que o paciente manifesta ao experienciar uma situação estressora, seja

por meio do relato verbal ou da observação clínica.

Mais tarde, Lazarus e Folkman (1984) foram além do modelo bioquímico de

Selye, ampliando o conceito de estresse apresentado, incluindo a importância do

aparelho cognitivo como mediador da intensidade das respostas aos estímulos,

decorrentes das diferentes formas de avaliação feitas pelos indivíduos. Constataram

que o ser humano está muito distante de ser apenas um ser biológico, que obedece

a um padrão mínimo de resposta. É um ser complexo, o qual terá que conviver com

fatores que atuarão na sua estrutura biológica. Isso resultará em demandas

psíquicas, as quais serão administradas com graus de competência e resolutividade

de acordo com o substrato psíquico de cada um, sua maneira de interpretar os

41

problemas, fazer a avaliação cognitiva, desencadeando alterações hormonais

específicas.

3.4 Considerações sobre a Internação Hospitalar

Do ponto de vista médico, o adoecimento é visto como alguma função do

organismo que não está desempenhando bem o seu papel. A visão que a medicina

tradicional possui do homem é de um corpo com uma expectativa previsível de

funcionamento. Já do ponto de vista psicológico, o adoecimento é visto como uma

situação inesperada para a qual não se está preparado, pois ninguém escolhe

adoecer (ROTH, 2002). Com relação ao procedimento cirúrgico, também é isso que

acontece. A cirurgia é uma desconhecida na vida do indivíduo, e como tudo que é

desconhecido, pode causar estresse e despertar fantasias.

De acordo com Mello Filho (1997), o estresse provocado pela possibilidade

de uma intervenção cirúrgica pode afetar o paciente se este sentimento não for

expresso e conscientizado.

Para Silva, Garcia e Farias (1990), a hospitalização é um evento que envolve

uma grande capacidade de adaptação do indivíduo às várias mudanças que

ocorrem no cotidiano. As dificuldades de adaptação acontecem no momento em que

o paciente não é atendido adequadamente em suas necessidades básicas,

agravando com isso as sensações de isolamento e angústia preexistentes. Essas

dificuldades são suficientes para produzirem uma crise acidental que, dependendo

da intensidade, pode desorganizar temporariamente a personalidade do paciente.

Cosmo e Carvalho (2000) também comentam sobre esse assunto, afirmando

que o momento da internação é vivido de forma extremamente dramática, não

importando o tipo de cirurgia à qual o paciente será submetido, mas sim o modo

como o paciente vivencia esse momento. Para eles, o estado emocional no pré-

operatório atua diretamente sobre suas reações, tanto durante a cirurgia quanto no

pós-operatório.

A internação hospitalar pode contribuir para o sentimento de ruptura com a

vida diária e com a perda da autonomia do paciente. A hospitalização pode implicar

uma série de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando o processo de

despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de

internação, pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas

42

que apresenta, e não mais pela sua singularidade enquanto indivíduo. Com relação

a isso, Ruschel, Daut e Santos (2000) afirmam que quando os aspectos psicológicos

não são considerados na situação de tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da

predisposição para complicações emocionais que prejudicam a convalescença,

chegando a intensificar, em algumas situações, a morbidade no período pós-

operatório. Para essas mesmas autoras, a cirurgia é uma experiência de muita

ameaça na vida de qualquer pessoa, pois envolve uma carga emocional

característica. A forma como cada um enfrenta esse tipo de intervenção poderá

facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à vida normal.

Para Romano (1998), as principais fontes de estresse no período pré-

operatório são: 1) Separação de casa, da família, de seu ambiente, de suas coisas;

2) O medo com relação à vida em si e; 3) Ser forçado a assumir o papel de doente e

antecipar questões diretamente relacionadas com o físico, tais como o ato cirúrgico,

a dor e a perda do controle sobre si mesmo.

3.5 Considerações sobre o Enfrentamento (Coping)

Identificar como o paciente enfrenta e lida com a situação de estar

aguardando uma intervenção cirúrgica é um aspecto importante para os

profissionais que o assistem. Conhecer sobre a presença de mecanismos de defesa

e como o paciente responde à situação é importante tanto no pré como no pós-

operatório (ROMANO, 1994).

Uma das diversas linhas que procuram compreender como os pacientes no

pré-operatório enfrentam esta fase é a escola cognitiva, na qual se baseia a teoria

do enfrentamento (GUIDO, 2003).

O enfrentamento (tradução aproximada do termo inglês coping) corresponde

a um processo em que o indivíduo administra as demandas internas ou externas

específicas percebidas como estressantes e as emoções que são geradas

(LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

Estes mesmos estudiosos definem a avaliação cognitiva como "um processo

de categorização de um encontro, com o foco no propósito ou no significado desse

encontro". (LAZARUS; FOLKMAN, 1984, p.22). O significado de encontro para

esses autores refere-se à aproximação de dois elementos, sendo que um deles é o

sujeito e o outro é de natureza diversa e desencadeador do estímulo.

43

Nesse processo de categorização, são possíveis dois tipos de avaliação: a

primária e a secundária. Esses dois tipos de avaliação feitos pelos indivíduos

produzem respostas, desde as mais primitivas até as mais elaboradas, em função

das diferentes áreas cerebrais que foram estimuladas. (LAZARUS; FOLKMAN,

1984).

A avaliação primária ocorre a partir do primeiro contacto do sujeito com o

objeto, desencadeando uma apreciação que visa identificar o estímulo. Neste caso,

a resposta ou reação classificará o estímulo em relevante ou irrelevante. A partir de

então, se for considerado relevante, o homem mobilizar-se-á para a ação.

(LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

O outro tipo de avaliação é a secundária, onde se torna necessária uma ação

para o controle da situação. Envolve uma avaliação sobre o que deve ser feito. É um

processo complexo que considera opções de enfrentamento (coping) disponíveis:

expectativa de que uma dada opção de enfrentamento irá se realizar, expectativa de

se utilizar uma estratégia particular eficaz. (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

O enfrentamento (coping) foi definido por Lazarus e Folkman (1984) como

estratégias desenvolvidas para enfrentar as situações. É um esforço cognitivo e

comportamental realizado para dominar, tolerar ou reduzir as demandas externas e

internas e o conflito entre elas. Os autores partiram do pressuposto de que as

crenças individuais traduzem as idéias e julgamentos sobre a realidade vivenciada e

que as normas fundamentam as condutas servindo de guia na compreensão do

significado da realidade, é possível supor que ambas tenham influência sobre o

enfrentamento e, portanto, estabeleçam estreitas relações com o processo de

avaliação cognitiva.

Entende-se, assim, que o enfrentamento, além de representar os recursos do

indivíduo para superar o problema ou reduzir o estresse, representa também uma

tentativa do indivíduo exercer algum controle sobre o ambiente onde ele se insere,

relacionando-se com ele de forma mais adaptativa.

As estratégias de enfrentamento demonstram as ações, comportamentos

e/ou pensamentos que são usados para lidar com um conjunto de estressores

(ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998). Entendidas como um processo, as

estratégias de enfrentamento podem ser aprendidas, usadas e descartadas, de

acordo com a possibilidade de serem identificadas e reforçadas num dado momento

da experiência do indivíduo (LAZARUS; FOLKMAN, 1984). O contexto emocional

44

nessa concepção é de grande importância, pois o indivíduo, tendo consciência de

sua realidade, busca estratégias que podem fazer frente aos estressores, permitindo

incluir qualquer coisa que seja feita ou pensada, sem considerar este

comportamento como certo ou errado, e sim, sendo avaliado em referência ao nível

de adaptação e as conseqüências imediatas geradas (GIMENEZ, 1997; GUIDO,

2003).

O enfrentamento possui duas funções básicas: o foco no problema e o foco

na emoção. O primeiro busca modificar a relação da pessoa com o meio externo,

enfatizando o contato com o estressor. A focalização no problema pode ser

correspondente, por exemplo, à reestruturação cognitiva ou à busca por informações

acerca do estressor, caracterizando-se pela objetividade do indivíduo diante do

estresse. O foco na emoção enfatiza a resposta emocional ao estressor, visando

reduzir a sensação desagradável do estresse. Cita-se, como exemplo, a ação de

fumar um cigarro, ingerir bebidas ou evitar o contato com o problema a fim de não

elevar a tensão emocional (ANTONIAZZI, DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998;

LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

Quando o estressor se mostra como passível de mudança ou superação,

geralmente o foco no problema é mais utilizado. Por outro lado, quando a situação já

foi avaliada e, mesmo assim, é considerado como tendo poucas possibilidades de

mudança, o foco na emoção é o mais provável de ser mobilizado (LAZARUS, 1999).

Demais autores também sugeriram formas de enfrentamento, destacando o

suporte social e a religiosidade, como meios para lidar com o estresse (GIMENEZ,

1997; SEIDL; ZANNON, 2004). Estes diversos tipos de enfrentamento não são

mutuamente exclusivos, mesclando-se durante o confronto com a situação

estressora. No entanto, geralmente se observa um quadro específico de

pensamentos e comportamentos que caracterizam a prevalência de uma ou outra

forma de responder ao estresse (SAVÓIA, 1999).

O objetivo da mobilização das estratégias de enfrentamento é a de tolerar,

minimizar, aceitar ou ignorar o estressor, sendo um importante mecanismo de

adaptação para a resolução de problemas e manejo do estresse em contextos

particulares. Está na compreensão dos mecanismos de enfrentamento a

possibilidade de conhecer como as pessoas avaliam uma determinada situação para

assim poder manejar o seu estresse, visto que quando o enfrentamento é ineficaz, o

45

estresse é mantido ou incrementado; quando é eficaz, o enfrentamento reduz ou

elimina o estresse (LAZARUS, 1999).

No contexto de uma cirurgia, há a mobilização de um alto volume de energia

psíquica do indivíduo no seu pré-operatório, quando ele estabelece formas de poder

lidar com seus estressores e com o estresse situacional (GODOY, SARMENTO e

ROMANO, 2004). Esta circulação recente de energia gera desgaste emocional que,

em virtude da elevação do estado de ansiedade, pode ocorrer uma queda abrupta

no pós-cirúrgico e essa alteração comprometer a capacidade reativa na adaptação

pós-operatório, que, geralmente, exige algum nível de transformação e participação

ativa no processo de recuperação (SEBASTIANI, 2002).

Segundo Sebastiani e Maia (2005), o procedimento cirúrgico, apesar dos

avanços tecnológicos alcançados, gera diversos tipos de reação emocional, onde o

paciente percebe seu futuro como incerto e variados medos surgem (dor,

incapacitação, morte, entre outros), incrementando a ameaça à integridade física e

psicológica. Para estes autores, quanto maior o estresse e a tensão no pré-cirúrgico,

maiores poderão ser as dificuldades em enfrentar os limites que a cirurgia impôs ao

cotidiano do paciente.

3.6 A Assistência da Equipe de Enfermagem para o Enfrentamento pelo

Paciente no Pré-Operatório

A enfermagem é exercida em uma ampla variedade de ambientes, a exemplo

de instituições prestadoras de serviços de internação hospitalar ou de serviços

ambulatoriais de saúde, escolas, associações comunitárias, fábricas, domicílios,

entre outros. Independentemente do ambiente em que o cuidado de enfermagem é

realizado, os fenômenos de interesse particular para os profissionais da enfermagem

são as respostas dos indivíduos, famílias e coletividades humanas a problemas de

saúde reais ou potenciais. A necessidade de julgar que respostas dessa clientela

demandam o cuidado profissional de enfermagem nos reporta à adoção de uma

metodologia assistencial e, portanto, ao processo de enfermagem.

Compreende-se o processo de enfermagem como um instrumento ou modelo

metodológico de que se lança mão, tanto para favorecer o cuidado, quanto para

organizar as condições necessárias para que o cuidado seja realizado (GARCIA;

NÓBREGA, 2000). Sua aplicação, de modo sistemático, planejado e dinâmico,

46

possibilita identificar, compreender, descrever, explicar e predizer como a clientela

responde aos problemas de saúde ou aos processos vitais, assim como possibilita

determinar que aspectos dessas respostas necessitam do cuidado profissional de

enfermagem, para alcançar resultados pelos quais somos responsáveis.

De acordo com Silva et al. (1995), a assistência de enfermagem prestada ao

paciente submetido a procedimentos cirúrgicos envolve três grandes etapas, que

são: pré-operatória, trans e pós-operatória, já abordadas anteriormente, e cada uma

destas fases exige um conjunto de ações, realizadas com o objetivo de promover

uma assistência de enfermagem sem complicações e com segurança ao paciente

cirúrgico.

Acredita-se que uma forma de prestar assistência individualizada e

humanizada ao paciente possa ser por meio da sistematização da assistência, pois

é o meio pelo qual o enfermeiro consegue avaliar o paciente, as circunstâncias em

que se encontra, planejar e implementar os cuidados a serem prestados, utilizando

como recurso a assistência sistematizada.

Orlando (1978) define o processo de enfermagem como sendo a interação

entre o comportamento do paciente, reação do enfermeiro frente a esta situação e

as ações de enfermagem a serem realizadas.

O processo de enfermagem, para Stanton, Paul e Reeves (1993), constitui o

elemento principal da prática de enfermagem, o qual direciona de maneira ordenada

o trabalho do enfermeiro, sendo considerado como o “instrumento” e a metodologia

utilizada para auxiliar os enfermeiros nas tomadas de decisões e avaliação das

conseqüências.

Por sua vez, Ladden (1997) descreve o processo de enfermagem como

sistemático e planejado com uma série de passos integrados. Visto enquanto

cuidado ao paciente, torna-se um processo científico que estimula a enfermagem a

atuar num nível ótimo. Em sua forma mais simplificada, o processo de enfermagem

consiste em seis etapas: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem,

identificação dos resultados, planejamento da assistência, prescrição de

enfermagem e avaliação. Ressalta, ainda, que o processo é circular e contínuo,

como pode ser observado na Figura 3, a seguir:

47

Figura 3. Processo de Enfermagem, segundo Laden Fonte: Ladden (1997, p.5).

Ao explicar a Figura 3, Ladden (1997) afirma que o histórico de enfermagem

inclui: a) uma coleção de dados sobre o paciente, os quais podem ser obtidos por

meio de entrevistas pré-operatórias feitas pela enfermagem diretamente com o

paciente; b) revisão do plano de cuidados de enfermagem e do gráfico do paciente;

c) avaliação dos resultados dos exames diagnósticos pré-cirúrgicos; e d) consulta

com o cirurgião e o anestesiologista. Geralmente, inclui os aspectos fisiológicos e

psicossociais do paciente.

Já o diagnóstico de enfermagem, ainda segundo Ladden (1997), trata-se de

um processo de identificação e classificação dos dados coletados no histórico, de

modo que estes sejam colocados em destaque para que os cuidados de

enfermagem possam ser planejados. O outro passo é a identificação dos

resultados, que, de acordo com o autor, oferece a oportunidade de priorizar os

cuidados e direcionar a evolução e a continuidade dos mesmos.

Em relação à prescrição de enfermagem, Ladden (1997) refere que, neste

processo, significa que a enfermagem usa seus conhecimentos e informações sobre

o paciente para preparar o ambiente da sala de cirurgia, checando os equipamentos

e mantendo disponíveis os suprimentos usuais, disponibilizando os instrumentos e

suturas de modo que fiquem à mão para que o procedimento operatório seja

realizado. Já no que diz respeito à implementação, o autor salienta que esta é

desenvolvida quando das intervenções dos cuidados de enfermagem que foram

planejados, e em resposta às alterações previstas na rotina cirúrgica ou nas

emergências, de modo calmo e ordenado. Por fim, a avaliação tem como objetivo a

verificação, observação e a estimativa dos resultados que foram alcançados. Trata-

se de um componente integrante em cada etapa do planejamento e prestação de

HISTÓRICO DE ENFERMAGEM

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM

IDENTIFICAÇÃO DOS

RESULTADOS

PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM

IMPLEMENTAÇÃO

AVALIAÇÃO

PROCESSO DE

ENFERMAGEM

48

cuidados de enfermagem ao paciente. Pode ser realizada pela imediata correção de

deficiências.

Esses elementos – histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem,

identificação dos resultados, planejamento da assistência, prescrição de

enfermagem e avaliação – constituem um modo de fazer e um modo de pensar a

prática da enfermagem que demandam habilidades e capacidades cognitivas

(pensamento, memória, raciocínio), psicomotoras (físicas) e afetivas (emoções,

sentimentos, crenças e valores), além de, segundo Kron e Gray (1994),

conhecimento e perícia no uso das técnicas de resolução de problemas e de

liderança na implantação e execução do plano de intervenção. Essas habilidades,

capacidades, conhecimento e perícia ajudam a determinar o que deve ser feito, por

que deve ser feito, por quem deve ser feito; como deve ser feito e que resultados

são esperados com a execução da ação/intervenção de enfermagem (para que deve

ser feito).

Orlando (1978) enfatiza que o processo de enfermagem é colocado em ação

por um comportamento do paciente que pode indicar uma necessidade de ajuda, e o

enfermeiro reage a esse comportamento, por meio de percepções, pensamentos e

sentimentos. Ele partilha um aspecto de sua reação com o paciente, assegurando

que suas ações verbais e não-verbais são compatíveis com sua reação.

Por outro lado, Leonard e Crane (1993) salientam que o comportamento do

paciente constitui a fase do processo de enfermagem em que se inicia a avaliação,

partindo-se de uma coleta de dados composta apenas por dados relacionados à

necessidade de ajuda imediata ao paciente, e estes são adquiridos de forma verbal

e não-verbal, constituindo um dado só, o que corresponde, no processo de

enfermagem, aos dados objetivos e subjetivos. A reação do enfermeiro, frente ao

comportamento do paciente, está relacionada à fase de análise do processo de

enfermagem, e este se caracteriza pelos diagnósticos de enfermagem, que

correspondem à identificação das necessidades de ajuda.

Para os autores acima citados, a etapa da ação do enfermeiro corresponde

às fases do planejamento do processo de enfermagem, objetivos e decisão com

base na ação adequada do enfermeiro. Orlando (1978) tem como meta avaliar a

necessidade de ajuda do paciente, e o objetivo de beneficiar o comportamento do

paciente, sendo que as decisões são realizadas a partir das necessidades traçadas;

a implementação e a execução da ação planejada do processo de enfermagem são

49

também ações do enfermeiro, levando em consideração que em ambos os

processos o indivíduo deve ser assistido como um ser único.

Segundo Ladeen (1997), o planejamento, determinando as prioridades dos

cuidados, as implementações das intervenções pré-operatórias e avaliação dos

resultados da sistematização da assistência de enfermagem, são fundamentais

para garantir o sucesso do trans-operatório, visto que o paciente pode encontrar-se

mais frágil, muitas vezes deprimido e com baixa auto-estima. Partindo desses

princípios, o enfermeiro possui condições de, juntamente com o paciente, buscar

soluções e traçar medidas para proporcionar conforto físico e psicológico ao

paciente.

Neste contexto, pode-se perceber a importância do enfermeiro estar

sistematizando a assistência, por meio da qual será possível levantar os principais

diagnósticos de enfermagem do paciente e a partir destes traçar os cuidados de

enfermagem a serem realizados no período trans-operatório, considerando que, por

meio da identificação dos diagnósticos de enfermagem, pode-se planejar, prescrever

e implementar ações para proporcionar ao paciente assistência humanizada.

No entendimento de Pitrez (1987), as alterações determinadas pelo ato

operatório são bem toleradas pelo paciente quando o mesmo se encontra

devidamente preparado para enfrentá-las, por meio de respostas orgânicas,

funcionais e psicológicas adequadas. Para o autor, o objetivo do preparo pré-

operatório é justamente o de tornar as condições de homeostase fisiológica

suficientes para suportar o trauma operatório. Por isso, elaborou uma relação de

medidas que devem ser tomadas habitualmente no pré-operatório pela enfermagem.

Corroborando com a relação acima, McCloskey e Bulechek (2004) também

apontam algumas ações na assistência da enfermagem no período pré-operatório,

pois, segundo estes autores, o foco do cuidado de enfermagem neste período é

preparar o paciente física e mentalmente para a intervenção cirúrgica. Para os

autores, os procedimentos no pré-operatório cirúrgico podem facilitar que as

intervenções de enfermagem estejam associadas a menor permanência no hospital,

menor tempo para indução anestésica, menos complicações pós-operatórias e

diminuição do estresse.

As ações relacionadas por McCloskey e Bulechek (2004) constam no Quadro

1, a seguir.

50

Quadro 1. Ações na Assistência de Enfermagem no Período Pré-Operatório segundo McCloskey e Bulechek

• Proporcionar ambiente adequado para que o paciente expresse as suas preocupações e ansiedades. • Compreender como o paciente lida com o estresse que a cirurgia possa causar, e identificar membros

significantes da família ou outros que poderiam fornecer suporte emocional. • O levantamento de dados deve iniciar-se no primeiro encontro com o paciente, onde a enfermagem deve

informar o paciente sobre a data marcada, o horário e o local da cirurgia, bem como sobre o tempo de duração esperado para a cirurgia.

• Avaliar a ansiedade do paciente em relação à cirurgia. • Descrever as rotinas do pré-operatório e pós-operatório (anestesia, dieta, preparo intestinal, transporte à

sala cirúrgica), quando adequado. • Descrever os medicamentos do pré-operatório, seus efeitos no paciente e os fundamentos para o seu uso. • Oferecer informações sobre o que será escutado, inalado, visto ou sentido durante o evento. • Orientar a respeito da técnica de sair da cama, assim como sobre a importância de exercitar as pernas,

acentuar a importância da deambulação precoce. • Orientar sobre a importância e necessidade de permanecer em jejum. • Retirar próteses dentárias, esmaltes nas unhas, e guardar objetos pessoais de valor em segurança. • Preparar a pele da região a ser operada imediatamente antes do transporte para o centro cirúrgico ou, se

possível, na sala de cirurgia. A tricotomia da região deverá ser realizada após fricção com sabão, no mínimo por seis minutos, o que reduz pela metade o número de bactérias e dois terços após 10 minutos em curva logarítmica em intervalo inferior a duas horas da cirurgia.

• Orientar o paciente a esvaziar a bexiga por micção espontânea antes de ir ao centro cirúrgico. • Auxiliar na transferência do paciente da maca para a mesa cirúrgica.

Fonte: McCloskey e Bulechek (2004)

A assistência de enfermagem deve ter como base o período pré-operatório,

visto que a fase crítica do paciente concentra-se neste momento. Com isto, a

atuação da equipe de enfermagem nesta situação objetiva amenizar este quadro,

aumentando a confiança, segurança, auto-estima e aceitação do paciente (URSI;

MACUL apud SILVA et al. 1995).

E a comunicação tem um papel preponderante neste período, pois é o

instrumento básico da assistência de enfermagem ou o processo que torna possível

o relacionamento enfermeiro-paciente. É o denominador comum de todas as ações

de enfermagem e influi decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele

que necessita dos cuidados profissionais do enfermeiro. Eis a razão pela qual, a

seguir, discorrer-se-á sobre o assunto.

3.6.1 A importância da comunicação de enfermagem

Como já foi dito anteriormente, o paciente também deve ser preparado

emocionalmente para a cirurgia. E a necessidade de apoio emocional dispensado a

ele é percebida pela Equipe de Enfermagem por meio da comunicação. A

comunicação é uma habilidade humana que torna possível a manifestação e

exteriorização do que se passa na vida interior. Graças a essa habilidade de

perceber e de comunicar, o homem enriquece o seu referencial de conhecimentos,

51

transmite sentimentos e pensamentos, esclarece, interage e conhece o que os

demais pensam, necessitam e sentem. Desse modo, a Equipe de Enfermagem pode

e deve usar a comunicação para conseguir estabelecer relacionamento efetivo com

o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e informação, bem como despertar

seu sentimento de confiança e de auto-estima.

De acordo com Penteado (1986), a palavra “comunicar” vem do latim

“comunicare”, com a significação de “pôr em comum”.

Na concepção de Silva (2002, p.23), “comunicar é o processo de transmitir e

receber mensagens por meio de signos, sejam eles símbolos ou sinais”. A autora

explica que os signos são estímulos que transmitem uma mensagem, ou seja,

qualquer coisa que faça referência a outra coisa ou idéia. Já os símbolos são signos

que têm uma única decodificação possível. Por sua vez, os sinais são signos que

têm mais de um significado.

Desse modo, comunicação é o instrumento básico da assistência de

enfermagem ou o processo que torna possível o relacionamento enfermeiro-

paciente. É o denominador comum de todas as ações de enfermagem e influi

decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele que necessita dos

cuidados profissionais do enfermeiro (STEFANELLI, 1993).

Neste sentido, Maria Júlia Paes da Silva observa que:

A tarefa do profissional de saúde é decodificar, decifrar e perceber o significado da mensagem que o paciente envia, para só então estabelecer um plano de cuidados adequado e coerente com as suas necessidades. [...] Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente a conceituar seus problemas, enfrentá-los, visualizar sua participação na experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de comportamento. (SILVA, 2002, p.14).

O processo de comunicação envolve vários elementos essenciais: o emissor,

a mensagem, o receptor, o canal e as respostas, que podem ser observadas

esquematicamente na Figura 4, a seguir. Assim, os elementos básicos do processo

de comunicação, segundo Silva (2002), são:

52

Figura 4. Elementos do processo de comunicação, segundo Silva Fonte: Silva (2002, p.24).

Com base na Figura 4, os elementos do processo de comunicação, na visão

de Silva (2002), são assim explicitados:

• Contexto ou Situação: contexto no qual está ocorrendo a interação. É o primeiro

passo para sua interpretação.

• Emissor: o emissor ou a fonte da mensagem é uma pessoa que inicia a

comunicação com o propósito de informar ou transmitir informações a uma ou mais

pessoas.

• Mensagem: são as informações ou idéias que uma pessoa quer transmitir às

demais. As mensagens podem ser transmitidas por meio de expressões, gestos, de

forma oral ou escrita. Assim, cabe ao receptor compreender, da melhor forma, as

informações que estão sendo transmitidas, para que não haja distorção.

• Receptor: é a pessoa ou grupo de pessoas escolhidas pelo emissor para receber

a mensagem a ser transmitida, com o objetivo de obter uma nova resposta.

• Canal: é o meio de transmissão de uma pessoa a outra. É o que conduz uma

mensagem, podendo ser auditivo, audiovisual ou visual. É por meio do canal que se

pode obter a eficiência na comunicação.

CONTEXTO OU SITUAÇÃO

Quem

(emissor/receptor)

Tem algo a transmitir

(mensagem)

Para quem

(receptor/emissor)

De alguma maneira

(canal)

Gerando um efeito

(respostas)

53

• Respostas: trata-se da reação do destinatário à mensagem. Ocorre quando o

receptor expressa, de alguma maneira, a sua reação à mensagem transmitida por

um emissor. Quanto maior o feedback, mais eficaz será o processo de comunicação.

É pela comunicação estabelecida com o paciente que se pode compreendê-lo

em seu todo, em sua visão do mundo, isto é, seu modo de pensar, sentir e agir. Só

assim se poderá identificar os problemas por ele sentidos com base no significado

que ele atribui aos fatos que lhe ocorrem, e tentar ajudá-lo a manter ou recuperar

sua saúde. É por meio da comunicação com o paciente que o enfermeiro pode

realmente efetuar mudanças no comportamento deste. O atendimento de quase

todas as outras necessidades humanas básicas do paciente depende, em várias

circunstâncias, do processo de comunicação que ocorre entre ele e o enfermeiro

(STEFANELLI, 1993).

O enfermeiro pode usar a comunicação para conseguir estabelecer

relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e

informação, e despertar seu sentimento de confiança e auto-estima, bem como lhe

ensinar modos mais adequados de comunicação (STEFANELLI, 1993). A escrita, a

fala, as expressões faciais, a audição e o tato são formas de comunicação

amplamente utilizadas, conscientemente ou não.

Entre todos os profissionais da área de saúde, o enfermeiro, por interagir

diretamente com o paciente, precisa estar mais atento ao uso adequado das

técnicas da comunicação interpessoal. A comunicação representa uma troca de

informação e compreensão entre as pessoas, com objetivo de transmitir fatos,

pensamentos e valores. É um processo humano de emissão e recepção de

mensagens, no qual existem dois meios de transmissão: o verbal e o não-verbal. O

verbal contempla a linguagem falada e escrita, enquanto os gestos, as expressões

corporais e o toque fazem parte da forma não-verbal. (SILVA, 2002).

No entendimento de Silva (2002), a comunicação verbal consiste no uso de

palavras expressas por meio da fala ou da escrita. E a comunicação não-verbal

ocorre por meio de gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal, entre

outras formas.

A comunicação verbal é a base da comunicação cotidiana, por meio da qual

se exercita a capacidade de atribuir o significado das coisas que não são ditas

explicitamente, enriquecendo a compreensão da realidade. O conhecimento dos

mecanismos de comunicação pelos profissionais de saúde, em especial os

54

enfermeiros, facilita o desempenho de suas funções, bem como melhora o

relacionamento entre os sujeitos envolvidos na assistência à saúde (DOBRO et al.,

1998).

O estudo da comunicação não-verbal pode resgatar a capacidade do

profissional de saúde de perceber com maior precisão os sentimentos do paciente,

suas dúvidas e dificuldades de verbalização. Ajuda, ainda, a potencializar sua

própria comunicação, enquanto elemento de transmissão de mensagens. Silva

(2002, p.45) conceitua e define a comunicação não-verbal como:

[...] aquela que ocorre na interação pessoa-pessoa, exceto as palavras por elas mesmas. Também pode ser definida como toda informação obtida por meio de gestos, posturas, expressões faciais, orientações do corpo, singularidades somáticas, naturais ou artificiais, organização dos objetos no espaço e até pela relação de distância mantida entre os indivíduos.

A comunicação precisa ser considerada dentro do seu contexto de

ocorrência, ou seja: onde, como e quando ela ocorre. Caso contrário, seu sentido

pode ser prejudicado, razão pela qual, na assistência à saúde, ela precisa ser

planejada para cada interação e adequada a cada paciente. Nesse sentido, ela é

parte das atividades do enfermeiro, porque é empregada em situações como: na

entrevista, no exame físico, no planejamento da assistência, nas anotações dos

prontuários e nas orientações aos indivíduos, famílias e comunidades. Disso decorre

a importância de o enfermeiro ter consciência da forma como se dá o processo de

comunicação e dos elementos que o compõe.

A comunicação enfermeiro-paciente é denominada comunicação terapêutica,

porque tem a finalidade de identificar e atender às necessidades de saúde do

paciente e contribuir para melhorar a prática de enfermagem, ao criar oportunidades

de aprendizagem e despertar nos pacientes sentimentos de confiança, permitindo

que eles se sintam satisfeitos e seguros (STEFANELLI, 1993; ATKINSON;

MURRAY, 1989).

Um dos objetivos da assistência de enfermagem é levar o paciente a

participar dos esquemas terapêuticos. Esta participação depende dos processos de

comunicação, a partir dos quais se estabelecem as relações de confiança

necessárias para o paciente diminuir o medo, a ansiedade e permitir, à pessoa

fragilizada pela doença, lutar por seu restabelecimento com dignidade. Nesse

sentido, os enfermeiros, além da experiência no uso de tecnologias e do suporte

psicossocial, devem estar atentos ao processo de comunicação para que o paciente

55

possa suportar os efeitos da hospitalização, manter a percepção de si próprio e da

sua realidade (HUDAK; GALLO, 1997).

Ao final deste capítulo, após as considerações acerca das questões que

envolvem os modos pelos quais a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o

enfrentamento do paciente no pré-operatório, acredita-se que foi exposto o conteúdo

teórico necessário para iniciar o próximo capítulo, que tratará da metodologia

adotada para a elaboração deste trabalho.

56

4 METODOLOGIA

Como aborda Severino (1996), a metodologia é a fase em que se deve

explicar o tipo de pesquisa a ser desenvolvida. Metodologia, em grego “caminho”,

nada mais é do que o conjunto de procedimentos pelos quais se torna possível

conhecer determinada realidade. A metodologia leva a identificar a forma pela qual

se alcançam metas e objetivos.

Apresenta-se a seguir o tipo de pesquisa que se pretende adotar neste

estudo, tendo em conta o método, a abordagem e os fins de pesquisa, bem como os

instrumentos de coleta de dados a serem utilizados e os instrumentos de análise e

interpretação dos resultados.

4.1 Métodos

4.1.1 Pesquisa Convergente Assistencial - PCA

O método adotado no trabalho foi a Pesquisa Convergente Assistencial –

PCA, de Mercedes Trentini e Lygia Paim (2004), por permitir que o pesquisador se

coloque em compromisso com a construção do conhecimento novo para a

renovação das práticas assistenciais no campo estudado.

Na PCA, o tema deve emergir da prática profissional cotidiana do pesquisador

e, portanto, está associado à situação do problema da prática. Segundo as autoras,

a PCA é:

[...] aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma estreita relação com a prática assistencial, com a intencionalidade de encontrar alternativas para solucionar ou minimizar problemas, realizar mudança e introduzir inovações na prática; portanto, este tipo de pesquisa está comprometido com a melhoria direta do contexto social pesquisado. (TRENTINI; PAIM, 2004, p.28).

Além disso, a PCA se caracteriza como trabalho de investigação, uma vez

que se propõe a refletir a prática assistencial a partir de fenômenos vivenciados no

seu contexto, o que pode incluir construções conceituais inovadoras. (TRENTINI;

PAIM, 2004).

57

Neste tipo de pesquisa, o profissional enfatiza o “pensar” e o “fazer”, ou seja,

ele esquematiza o que faz, pensando. Desse modo, a pesquisa valoriza o “saber

pensar” e o “saber fazer”. Neste sentido, conforme as palavras das autoras:

[...] a pesquisa e a prática assistencial estão alicerçadas na informação, só que, na pesquisa, esta atividade é rigorosamente sistematizada, pois tem a finalidade de produzir novo conhecimento. Se os profissionais da prática centralizam as atividades no fazer assistencial, os pesquisadores focalizam-nas no pensar o fazer, pois a pesquisa visa a buscar algo novo; portanto, a pesquisa não está direcionada por critérios de procedimentos técnicos padronizados; ela tem flexibilidade para criar a sua adequação ao objeto pesquisado. A pesquisa, portanto, se propõe a construir e reconstruir conhecimentos para orientar a prática. (TRENTINI; PAIM, 2004, p. 32).

Em suma, embora a prática assistencial e a PCA possuam características

próprias, são consideradas convergentes, uma dependendo da outra, já que,

segundo Trentini e Paim (2004, p. 34), “a prática assistencial pode estar baseada

nos resultados da pesquisa que, por sua vez, recebe introvisões insights e feedback

da prática”. Todavia, nada impede que o enfermeiro pesquise um fenômeno e

pratique assistência de enfermagem ao mesmo tempo.

4.1.2 Método de abordagem

Neste estudo, o método de abordagem utilizado foi o qualitativo. Este método

constitui-se em importante contribuição quando se deseja estudar os fenômenos que

envolvem os seres humanos e suas relações sociais. Segundo Minayo (2000, p.21),

a pesquisa qualitativa:

[...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Lazarsfelf (apud HAGUETTE, 1992, p.64) relaciona três situações onde os

indicadores qualitativos se fazem necessários:

a) situações nas quais a evidência qualitativa substitui a simples informação estatística relacionada à épocas passadas; b) situações nas quais a evidência qualitativa é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não facilmente articulados, como atitudes, motivos, pressupostos, quadros de referência, etc.; c) situações nas quais simples observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento complexo de estruturas e organizações complexas que são difíceis de submeter à observação direta. (Grifo nosso).

58

Observa-se que a investigação, que tem em vista a análise qualitativa,

geralmente está inserida em situações complexas e variáveis. Considerando-se as

variáveis analisadas, particularmente o enfrentamento do paciente no pré-operatório,

encontrar-se-á no método qualitativo de pesquisa a fundamentação necessária para

se buscar conhecer e compreender significados que, na maioria das vezes, não têm

oportunidade de serem expressos nos métodos quantitativos.

A abordagem qualitativa foi escolhida como referencial, por oferecer maior

oportunidade de se pesquisar minuciosamente o enfrentamento do paciente no pré-

operatório. Ao permitir uma maior aproximação entre o pesquisador e o entrevistado,

as informações obtidas são mais detalhadas, o que, conseqüentemente, ocasiona

maior validez da pesquisa.

4.1.3 Método de procedimento

Como visto anteriormente, este estudo caracterizou-se como Pesquisa

Convergente Assistencial – PCA. Conforme Triviños (1987), este método de

procedimento não é uma classe de pesquisa típica do modelo positivista, tão

inclinado à quantificação das informações. Por essa razão, apóia-se sua utilização

com a abordagem qualitativa. Seu emprego é compatível com o tema proposto, na

medida em que possibilita a análise intensiva do enfrentamento do paciente no pré-

operatório.

Este método foi empregado num estudo exploratório-descritivo, visto que se

pretendeu obter informações e conhecer este fenômeno por meio da exploração,

para, assim, descrever a realidade sobre o enfrentamento do paciente no pré-

operatório de cirurgias diversas, analisando-se os casos de pacientes nesta fase.

Godoy (1995) esclarece que, quando se adotar um enfoque exploratório-descritivo,

deve-se estar aberto às descobertas. “Mesmo que inicie o trabalho a partir de algum

esquema teórico, deverá se manter alerta aos novos elementos ou dimensões que

poderão surgir no decorrer do trabalho” (GODOY, 1995, p.25).

59

4.2 Escolha do Espaço Físico da Pesquisa

Trentini e Paim (2004, p. 73) definem o espaço físico como “aquele onde

ocorrem as relações sociais inerentes ao propósito da pesquisa. [...] é aquele onde

foi identificado o problema a ser solucionado ou as mudanças a serem feitas”.

Desse modo, o espaço físico considerado, para fins desta pesquisa, foi uma

Clínica de Florianópolis. A Carta de Intenção para a Realização da Pesquisa

encontra-se disposta no Apêndice 1.

4.3 Delimitação do Universo Populacional

De acordo com Trentini e Paim (2004), na PCA, “os participantes não

assumem apenas a condição de informantes, mas constituem parte integrante do

estudo; sua participação ativa pode ter várias maneiras, por exemplo: apresentando

sugestões e críticas, validando e divulgando os resultados de outras formas”.

Integraram este estudo os pacientes em pré-operatório, de diversos tipos de

cirurgia, internados na Clínica onde se realizou o estágio, no período em que

ocorreu a pesquisa. Foram aceitos aqueles que concordaram em participar da

mesma e assinaram o consentimento livre e esclarecido e que tiveram condições de

comunicar-se com as entrevistadoras.

O convite à participação foi realizado por meio de telefonemas e/ou

pessoalmente no dia que antecedeu a cirurgia, com intuito de evitar a abordagem do

doente muito próximo ao ato cirúrgico.

As pesquisadoras tiveram acesso à agenda cirúrgica, para junto a ela

saberem com antecedência quem seriam os possíveis pacientes a serem

submetidos à pesquisa.

4.4 Técnicas de Coleta de Dados

Com relação aos instrumentos para estudar os processos e produtos

utilizados na PCA, Trentini e Paim (2004) apontam: a) a entrevista individual, na

qual o entrevistador interage face a face com o entrevistado; b) a entrevista

coletiva face a face do entrevistador, com um grupo de pessoas; c) entrevista feita

por meio de questionários fechados ou abertos, que consiste em roteiro escrito,

no qual cada questão será seguida da descrição de respostas estabelecidas pelo

60

pesquisador e onde o entrevistado indicará verbalmente ou por sinais gráficos as

respostas que melhor traduzam a sua realidade; d) entrevistas feitas por telefone,

cuja finalidade é utilizada para pesquisas de opinião.

Fontana e Frei (1994 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p. 76) definem entrevista

como “uma conversação caracterizada pela arte de fazer perguntas e ouvir o outro”.

Contudo, para Trentini e Paim (2004), embora a entrevista tenha por objetivo a

obtenção de informações, constitui condição social de interação humana, sem a qual

não há ambiente favorável para produzir informações fidedignas.

Quanto à estrutura, a entrevista pode ser classificada em: entrevista semi-

estruturada (geralmente utilizada em pesquisa quantitativa e recomendada como

complemento a outros tipos de métodos), entrevista aberta (nesta estrutura, o

pesquisador procura interagir com o entrevistado sem intencionalidade

preestabelecida, ou seja, o pesquisador apenas estimula a conversação e, a partir

da fala do entrevistado, o pesquisador formula outras perguntas) e entrevista semi-

estruturada (parte de tópicos relacionados ao tema de pesquisa; na medida em que

a interação entre o entrevistador e o entrevistado progride, a conversa vai se

aprofundando e focalizando o assunto de acordo com o tema de pesquisa).

(TRENTINI; PAIM, 2004).

Assim sendo, optou-se, no caso deste trabalho, pela entrevista semi-

estruturada, feita por meio de questionários com perguntas fechadas e abertas

(Apêndice 2), por se acreditar que esta modalidade se encaixou melhor aos

propósitos deste estudo.

Como sugere a PCA, o pesquisador deverá contatar os participantes antes de

iniciar a coleta de informações, para apresentar o propósito do estudo e os métodos,

as vantagens e desvantagens de sua participação, garantindo, também, o respeito

aos desejos dos participantes em relação ao anonimato e ao direito de desistir de

participar da mesma durante o processo, se assim desejarem. (TRENTINI; PAIM,

2004).

Neste sentido, as pesquisadoras contataram os pacientes no dia do seu pré-

operatório. Os questionários foram respondidos pelo paciente com a presença das

pesquisadoras, com o objetivo de sanar eventuais dúvidas. Portanto, a devolução

dos questionários para a validação da entrevista foi feita no momento da mesma.

Utilizou-se, ainda, como instrumento de coleta de dados, a observação

participante, pelo fato de que uma das autoras deste trabalho é funcionária da

61

Clínica onde foi realizada a pesquisa, atuando junto à Equipe de Enfermagem, o que

facilitou o seu contato com os pacientes no pré-operatório. Todavia, cumpre

esclarecer que ambas as autoras deste trabalho atuaram em conjunto fora do

horário de expediente, ou seja, a aplicação da entrevista e o acompanhamento que

se fez necessário posteriormente foram feitos em horários preestabelecidos por

ambas, a fim de que as duas pudessem contribuir igualitariamente para o

desenvolvimento da pesquisa.

De acordo com Minayo et al. (1994 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p. 80), a

observação participante “constitui a parte fundamental da pesquisa de campo, pela

propriedade que possui de captar uma variedade de fenômenos de uma situação

social, os quais não podem ser obtidos unicamente por meio de entrevistas”.

Para Trentini e Paim (2004), o observador participante participa de uma

situação social de maneira consciente e com propósito determinado, o que facilita a

sua percepção, com detalhes, da ocorrência e da maneira como ocorrem os

fenômenos. Além disso, foi feita uma Pesquisa Bibliográfica, a qual, segundo

Trentini e Paim (2004, p.59), serve:

[...] para apoiar pontos de decisão no estudo, para investigar outras dúvidas, para alternativas de posição de diversos autores sobre uma questão, para atualizar conhecimentos sobre a questão em estudo, para reorientar o enunciado de um problema, para encontrar novas metodologias que enriqueçam a aplicação no projeto, para reconhecer a unidade e a diversidade interpretativa já existente no eixo temático em que se insere o problema em estudo, para ampliar, ramificar e refinar a análise interpretativa, para compor as abstrações e sínteses indispensáveis às teorizações que qualquer pesquisa requer.

O levantamento bibliográfico teve por finalidade conhecer as diferentes

formas de contribuição científica que se realizaram sobre o assunto que esta

pesquisa aborda, por meio de livros, artigos, dissertações e sites da Internet.

4.5 Análise e Interpretação dos Dados

Pelo fato de haver interação entre a Pesquisa Convergente Assistencial e a

prática de enfermagem, durante todo o processo de pesquisa, a análise das

informações ocorreu simultaneamente à coleta, o que facilitou a imersão gradativa

das pesquisadoras nos relatos das informações.

Triviños (1987, p.137) corrobora com o acima exposto, ressaltando que:

[...] o processo de pesquisa qualitativa não admite visões isoladas, parceladas, estanques. Ela se desenvolve em interação dinâmica

62

retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que, por exemplo, a coleta de dados num instante deixa de ser tal e é análise de dados, e esta, em seguida, é veículo para nova busca de informações.

Neste sentido, Boyd (1993 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p.92), salienta que:

A simultaneidade da coleta e análise das informações numa pesquisa prática protege o cliente e enfermeira de uma posição desconfortável, como acontece numa pesquisa do tipo tradicional, na qual o pesquisador identifica necessidades e não pode agir, pois tem as mãos atadas pelos critérios da pesquisa.

Por estas razões, a análise e interpretação dos dados não aconteceram numa

etapa distinta, após a coleta. Durante todo o processo de investigação, realizou-se a

análise das informações coletadas. Na fase da análise, foi necessário desenvolver o

processo de apreensão, ou seja, momento em que requer uma organização do

relato das informações, quer provindas das entrevistas, da observação participante

ou das ações implementadas na prática de enfermagem.

Segundo Trentini e Paim (2004, p.94), “as informações assim organizadas

facilitarão a codificação, que significa reconhecer, no relato das informações,

palavras, frases, parágrafos ou temas-chave, que persistem nos relatos dos

participantes”.

4.6 Aspectos Éticos

Como visto no capítulo anterior, foi criado o Parecer 196/96 da Comissão

Nacional de Ética em Pesquisas (Anexo 1), que esclarece a determinação dos

objetivos dos Comitês de Ética em Pesquisas, qual seja, proteger o ser humano na

sua dignidade e integridade, contribuindo, assim, para o desenvolvimento científico.

Sob a ótica do indivíduo e das coletividades, a Resolução 196/96 incorpora os

quatro referenciais básicos da bioética: a autonomia, a não maleficência,

beneficência e a justiça, dentre outros, visando assegurar os direitos e deveres que

se referem à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.

(HOMÓLOGO DA RESOLUÇÃO CNS n. 196, de 1996).

Assim sendo, para o desenvolvimento deste trabalho, foram assegurados aos

sujeitos da pesquisa: o anonimato e o sigilo de suas informações em todas as

etapas do estudo, bem como o direito de desistirem de participar da pesquisa

quando e se assim o desejassem. Por isso, para assegurar a participação

consciente dos sujeitos da pesquisa, foi necessário o esclarecimento dos aspectos

63

éticos entre pesquisador e pesquisado. E, para garantir o respeito ao anonimato do

paciente, foi sugerido a ele que escolhesse um codinome, uma vez que experiências

pessoais poderiam ser relatadas.

Por estas razões, foi elaborado um Termo de Compromisso entre o paciente e

as pesquisadoras (Apêndice 3), para evitar qualquer constrangimento a ambos. No

Termo de Compromisso foi explicitada a Ética Profissional de Enfermagem, a qual

as autoras deste trabalho respeitaram. Por meio da fiscalização do exercício

profissional de Enfermagem, será possível detectar infrações éticas cometidas pelas

pesquisadoras. Essas infrações compreendem qualquer deslize ético, ou seja,

qualquer falha cometida pelas pesquisadoras que infrinja o Código de Ética da

profissão. Além disso, o Termo de Compromisso apresentou os benefícios que tal

pesquisa poderá trazer ao paciente para o enfrentamento do período pré-operatório.

Foi firmado, ainda, entre as partes (paciente e pesquisadoras), o Termo de

Consentimento Livre, após Esclarecimento (Apêndice 4).

Cumpre esclarecer, inclusive, que foi assinado o Termo de Compromisso de

Orientação com a Professora orientadora e as acadêmicas (Apêndice 5).

É importante mencionar que, antes do desenvolvimento deste trabalho, tinha

sido feito o seu Projeto, o qual foi submetido ao Comitê de Ética de Enfermagem

desta Universidade, obtendo-se a sua aprovação.

4.7 Conceitos Operacionais

No decorrer do trabalho, foram adotados conceitos que se tornaram

estratégicos para a compreensão deste estudo, razão pela qual, a seguir, os

mesmos são apresentados:

• Enfermagem: processo interpessoal, por meio do qual enfermeira e paciente

podem obter crescimento e desenvolvimento pessoal. A enfermagem é vista

primariamente como um processo, considerado com base em suas fases e nos

diferentes papéis que a enfermeira pode assumir. Trata-se de uma relação humana

entre uma pessoa que está enferma ou necessitada de serviços de saúde e uma

enfermeira com uma formação especializada para reconhecer e responder à

necessidade de ajuda. (PEPLAU, 1990).

64

• Paciente: “Ser biopsicossocial e mais, como portador de uma trajetória de vida

única e indissociável da história natural de sua saúde ou doença”. (MAGALHÃES

FILHO, 2007).

• Enfrentamento: O enfrentamento (tradução aproximada do termo inglês coping)

corresponde a um processo em que o indivíduo administra as demandas internas ou

externas específicas percebidas como estressantes e as emoções que são geradas.

São estratégias desenvolvidas para enfrentar as situações. É um esforço cognitivo e

comportamental realizado para dominar, tolerar ou reduzir as demandas externas e

internas e o conflito entre elas. (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

• Pré-Operatório: Uma intervenção cirúrgica é composta por três tempos: pré

(inicia-se com a indicação da cirurgia e termina no instante de executá-la. Esse

período é variável, pois depende do tipo de cirurgia, do procedimento desejado e

das condições gerais do paciente); trans (compreende o tempo entre a indução

anestésica e o término da intervenção cirúrgica. O trans-operatório compõe-se de

vários tempos sucessivos e proporcionais de acordo com o tipo e tamanho da

cirurgia); e pós-operatório (é o período de tempo compreendido entre o término da

cirurgia e a plena recuperação clínica do paciente relativa às alterações

determinadas pelo ato cirúrgico em si, independente da evolução do estado mórbido

inicial). (PITREZ, 1987).

65

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente capítulo trata do objeto deste trabalho, qual seja, o

“Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das

orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem”. Neste capítulo, então, a

pesquisa começa a delinear-se. Procurou-se não esquecer a necessidade de buscar

os elementos teóricos necessários, para, a partir do todo, concluir pela legitimidade

dos temas encontrados na Fundamentação Teórica, visando a responder à questão

de pesquisa: “De que modo a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o

enfrentamento do paciente no pré-operatório?” Assim, procede-se à análise dos

dados coletados, tendo como alicerce a Teoria das Relações Interpessoais, de

Hidelgard Peplau, bem como dos vários autores selecionados para este estudo.

Na primeira seção, é apresentada a Clínica aonde a pesquisa foi realizada,

realçando os aspectos históricos e o corpo clínico.

Na segunda seção deste capítulo, são mostradas as várias etapas da

realização da pesquisa, desde o seu planejamento até a aplicação do questionário

com os pacientes do pré-operatório, bem como a etapa das orientações de

enfermagem, finalizando-se com a etapa da análise dos resultados.

Em seguida, é apresentado o resultado obtido com a aplicação do

questionário aos pacientes no período pré-operatório, fazendo a sua relação com o

marco conceitual e com a fundamentação teórica deste trabalho.

Por fim, são apresentadas as orientações transmitidas aos pacientes do pré-

operatório, realizadas pelas pesquisadoras.

5.1 Caracterização da Clínica

5.1.1 Aspectos históricos

A Clínica1, foco deste estudo, é um complexo médico hospitalar que oferece

consultas médicas em diversas especialidades, diagnóstico por imagem, centro

cirúrgico, internações pré e pós-cirúrgicas e plantão 24 horas. Fundado em 1992, o

1 CLINICA. Disponível em: <www.ultralitho.com.br/_ultralitho_corpoclinico.html>. Acesso em: 22 nov. 2007.

66

Centro Médico trabalha com o conceito de Day Hospital, atuando em procedimentos

cirúrgicos que demandam internações curtas, minimizando riscos de infecção

hospitalar e possibilitando uma recuperação rápida do paciente devido à sua

liberação para convalescença em ambiente familiar. Este sistema implica em

atendimento personalizado, menos transtorno para o paciente e expressiva redução

de custos.

Reconhecido por seu pioneirismo e excelência na área de urologia, foi o

primeiro Centro Médico a trazer para Santa Catarina a litotripsia extracorpórea para

tratamento do cálculo renal sem cirurgia. A busca do aperfeiçoamento de técnicas

científicas levou seu corpo clínico a realizar a biópsia de próstata dirigida por ultra-

sonografia, um avanço no diagnóstico precoce do câncer e seu tratamento.

A atitude pioneira desta instituição se comprova mais uma vez pela instalação

do primeiro Centro Integrado de vídeocirurgia do Estado, munido de equipamentos

com tecnologia de ponta, alguns deles disponíveis apenas nos mais avançados

centros médicos do Brasil.

A Clínica está instalada numa área construída de 2000 metros quadrados.

Suas dependências abrigam 10 consultórios médicos, unidade de litotripsia, centro

cirúrgico para intervenções convencionais e vídeocirurgias, 10 apartamentos para

internações pré e pós-cirúrgica e centro de diagnóstico por imagem, incluindo

radiologia simples e contrastada, ultra-sonografia e eletrocardiograma. Tudo isso

vem solidificar a sua missão de “oferecer sempre mais eficiência e tecnologia a

serviço da sua saúde”.

5.1.2 Corpo Clínico

O Centro Médico conta com um corpo clínico composto por reconhecidos

profissionais das seguintes áreas da medicina: clínica médica, urologia, ginecologia,

gastroenterologia, cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia geral, cardiologia,

traumatologia e ortopedia.

Os médicos que atendem nesta instituição são especialistas altamente

qualificados, comprometidos com a qualidade e a excelência nos serviços prestados.

A equipe apresenta habilidades diferenciadas e complementares, proporcionando

aos pacientes um tratamento diferenciado.

67

Quanto à equipe de enfermagem, há, na unidade de internação, um quadro

de profissionais composto por: 1 enfermeira coordenadora da clínica; 6 técnicos de

enfermagem e 1 enfermeira assistencial.

Há no total 10 leitos para internação, sendo que, para cada 5 leitos, há 2

enfermeiros para atender aos pacientes dispostos neles.

O Centro Hospitalar é formado por um moderno centro cirúrgico composto de

duas salas e equipamentos para procedimentos cirúrgicos convencionais ou

vídeocirurgias, de pequeno, médio e grande porte, dentro de todos os critérios de

segurança, em diversas especialidades. Além disso, dispõe de uma completa

unidade de endo-urologia e apartamentos para internações pré e pós-cirúrgicas com

serviço de enfermagem e completo acompanhamento de nutricionista. Por seu

conjunto de equipamentos e serviços oferecidos aos pacientes, a Clínica recebeu o

Prêmio Ciefas 2000 na categoria hospitalar.

Tendo apresentado a instituição onde se realizou o estudo, em que se foi

conhecida a equipe médica, resta, ainda, apresentar o resultado da pesquisa

aplicada aos pacientes em período de pré-operatório, iniciando-se com o resultado

quanto aos perfis dos mesmos.

É oportuno lembrar que foram aplicados 10 (dez) questionários,

correspondentes ao número de leitos da Clínica.

5.2 Etapas da Realização da Pesquisa

A realização da pesquisa deu-se em quatro momentos distintos: o

planejamento, a condução da aplicação do questionário, as orientações realizadas

pela Equipe de Enfermagem, e a análise do resultado.

Na etapa do planejamento, definiu-se o propósito do questionário (analisar

os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório sobre as respectivas

cirurgias), o detalhamento de quem participaria efetivamente da pesquisa (os

pacientes em período pré-operatório que se encontrassem no momento da aplicação

da pesquisa), e quais as questões seriam elaboradas.

Quanto à condução da aplicação do questionário, foi explicado,

primeiramente, sobre o objetivo da pesquisa, reforçando a eles que em momento

algum seriam identificados e que o preenchimento não lhes traria qualquer

desconforto ou constrangimento. Assim, foi solicitado a cada paciente que

68

analisasse as questões e assinalasse com um X a opção correspondente à sua

avaliação, de acordo com o seu grau de concordância sobre cada pergunta.

A condução da pesquisa foi realizada na unidade de internação da Clínica em

forma de aplicação de questionário (Apêndice 2), e teve duração de 7 dias, conforme

pode ser verificado no Cronograma de Pesquisa de Campo, constante no Quadro 2,

a seguir:

Quadro 2. Cronograma de Pesquisa de Campo

10/10 QUARTA

11/10 QUINTA

15/10 SEGUNDA

16/10 TERÇA

17/10 QUARTA

18/10 QUINTA

19/10 SEXTA

UNIDADE

INTERNAÇÃO/ UCM

UNIDADE

INTERNAÇÂO/ UCM

UNIDADE

INTERNAÇÂO/ UCM

UNIDADE

INTERNAÇÃO/ UCM

UNIDADE

INTERNAÇÃO/ UCM

UNIDADE INTERNAÇÃO/

UCM

UNIDADE

INTERNAÇÃO/ UCM

Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Nos dias 10, 11, e 15 de outubro, as acadêmicas estiveram no local da

pesquisa no período das 7h às 12h e nos outros dias, ou seja, 16, 17, 18 e 19, das

13h às 16h.

É oportuno informar que, antes da cirurgia, foram feitas as perguntas de 1 a 8,

deixando as duas últimas perguntas para depois da cirurgia, já que estas se referiam

às orientações recebidas antes da cirurgia, ou seja, se estas foram úteis para o

enfrentamento da cirurgia. Estas duas perguntas foram aplicadas quando o paciente

já se encontrava em condições de respondê-las, após o ato cirúrgico.

Sobre as orientações realizadas pelas pesquisadoras, é de se ressaltar

que estas foram feitas logo após o preenchimento do questionário pelos pacientes

no pré-operatório. As orientações dadas serão descritas logo após a apresentação

do resultado da pesquisa, precisamente, no tópico 5.5.

A etapa da análise do resultado deu-se da seguinte forma: em primeiro

lugar, fez-se a tabulação dos dados constantes nos questionários, manualmente,

para, posteriormente, serem concebidos os gráficos, com o suporte do programa

Excel, que os gerou. Na seqüência, fez-se uma cuidadosa análise das respostas,

verificando-se a sua incidência, o que permitiu assimilar sinais e percepções de

como determinada questão do questionário era sentida pelos pacientes. Foi uma

análise sistemática, focada na questão de interesse e com nível de interpretação

apropriado, uma vez que foram consideradas as questões e seus significados, bem

como a freqüência e a especificidade das respostas.

69

Após essas explicações preliminares, dá-se, a seguir, a descrição e a

respectiva análise do resultado da pesquisa. Serão expostos, primeiramente, os

dados sobre o perfil dos pacientes pesquisados, em relação às variáveis: sexo,

idade, estado civil, escolaridade, e religião. Vale ressaltar que esta descrição

caracteriza a população em estudo, apresentando-se, em percentagem, os dados

mais predominantes deste processo de levantamento.

5.3 Perfil dos Pacientes Entrevistados

As Figuras 5 a 9 têm a finalidade de apresentar o perfil dos pacientes no

período pré-operatório, que participaram desta pesquisa, quanto a: sexo, idade,

estado civil, escolaridade e religião.

Como é possível se perceber pela Figura 5, a distribuição quanto ao sexo dos

pacientes no período pré-operatório que participaram da pesquisa corresponde a

60% ao sexo masculino e 40% ao sexo feminino.

Quanto ao Sexo

60%

40%

Masculino Feminino

Figura 5. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Sexo Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

A Figura 6 traz os percentuais do perfil quanto à idade dos pacientes no

período pré-operatório, que ficaram assim distribuídos: 80% têm acima de 45 anos;

10% têm menos de 25 anos; e 10% têm entre 25 e 45 anos.

Quanto à Idade

10%10%

80%

Menos de 25 Entre 25 e 45 Acima de 45

Figura 6. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Idade Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

70

No que tange ao Estado Civil dos pacientes no pré-operatório, a Figura 7

aponta que 70% desses pacientes são casados, 20% assinalaram a alternativa

“outros”, sem contudo indicarem qual; e 10% são solteiros. As demais alternativas

não foram assinaladas por nenhum paciente.

Quanto ao Estado Civil

70%

20%0%

0%

10% 0%

Solteiro Amasiado

Casado Separado/Divorciado

Viúvo Outros

Figura 7. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Estado Civil Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Quanto à distribuição por Escolaridade, é possível se constatar, na Figura 8,

que 40% dos pacientes no pré-operatório possuem o curso Superior completo, e

40% possuem o Ensino Médio completo, enquanto 10% possuem o Ensino

Fundamental completo e 10% possuem o curso Superior incompleto, do que se

pode concluir que estes últimos ou estão ainda em curso ou trancaram as suas

matrículas. As demais alternativas não foram assinaladas.

Quanto à Escolaridade

40%

10%

40%

0% 0%10%0%

0%0%

Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo

Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo

Superior incompleto Superior completo

Pós-Graduação Mestrado

Doutorado

Figura 8. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Escolaridade Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

No que diz respeito à distribuição por Religião, a Figura 9 aponta que 90%

dos entrevistados pertencem à religião católica e 10% se dizem espíritas. As outras

alternativas constantes no questionário não foram assinaladas.

71

Quanto à Religião

90%

10%

0% 0%

0%

Católica Espírita Evangélica Budista Outras

Figura 9. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Religião Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Sintetizando o que foi exposto, chega-se à conclusão que o perfil dos

pacientes no pré-operatório que responderam à pesquisa é o seguinte: na maioria

são do sexo masculino, com idade acima de 45 anos; na sua maioria, são casados,

com escolaridade Superior completo e Ensino Médio completo, e pertencem à

religião católica. O Quadro 3 apresenta a síntese do perfil da amostra populacional

desta pesquisa.

Quadro 3. Síntese do Perfil dos Pacientes no Pré-Operatório Sexo Masculino 60%

Idade Acima de 45 anos 80%

Estado Civil Casados 70%

Escolaridade Ensino Médio completo

e Curso Superior completo

40%

40% Religião Católica 90%

Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Tendo apresentado o perfil populacional desta pesquisa, cumpre, ainda,

expor a análise estatística descritiva das questões específicas feitas aos pacientes

no pré-operatório, conforme se poderá apreciar a seguir, para, na seqüência, serem

apresentadas as observações feitas pelas pesquisadoras e as respectivas

orientações de enfermagem, também ministradas por estas.

72

5.4 Resultados das Perguntas Específicas

Antes de serem apresentados os resultados das perguntas específicas, é

conveniente lembrar que, logo abaixo de cada questão feita aos pacientes do pré-

operatório, havia uma questão aberta, a fim de que eles se sentissem à vontade

para complementar a resposta anterior. Desse modo, apresentar-se, logo a seguir

do resultado da pergunta, os devidos comentários, caso tenham sido feitos.

O primeiro questionamento feito aos pacientes no pré-cirúrgico foi se eles

tinham conhecimento do tipo de cirurgia a que iam se submeter, obtendo-se as

seguintes respostas: 80% afirmam que têm conhecimento a respeito da cirurgia a

que iam se submeter, enquanto 20% a desconhecem, conforme se poderá constatar

na Figura 10:

Tem conhecimento de qual cirurgia vai se submeter?

80%

0%

20%

sim parcialmente não

Figura 10. Gráfico sobre se tem conhecimento da cirurgia a que vai se submeter Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

O único comentário feito em relação a essa pergunta foi:

“Fazendo a cirurgia, ia passar a dor”.

Acredita-se que o conhecimento prévio ocorre a partir do primeiro contacto do

paciente com o objeto, ou seja, com a sua doença, desencadeando uma apreciação

que visa identificar o estímulo. Neste caso, a resposta ou reação classificará o

estímulo em relevante ou irrelevante. A partir de então, se for considerado relevante,

o homem mobilizar-se-á para a ação.

Parece haver um consenso de que existe uma correlação estreita entre a

percepção sensitiva e cognitiva de uma ameaça, o surgimento da ansiedade e do

estresse e as alterações fisiológicas perceptíveis clinicamente. No que se refere ao

73

ato cirúrgico, supõe-se que a antecipação deste evento desencadeará sentimentos e

avaliação cognitiva que, influenciados pelas diferenças individuais, resultarão em

comportamentos peculiares de ajustes, que têm por finalidade enfrentar o estresse

provocado por este evento. Essas avaliações cognitivas serão mais efetivas, quanto

mais dados da realidade o paciente tiver. Várias são as possibilidades de obtenção

destes dados, desde experiências passadas até a formulação de dúvidas,

questionamentos, hipóteses e associações de idéias relativas à cirurgia e à

anestesia.

Quando foram questionados se se sentiam suficientemente informados sobre

a cirurgia, o resultado da pesquisa apontou que 70% se sentiam suficientemente

informados a respeito da mesma; já 30% não se sentiam bem informados a esse

respeito.

Sente-se suficientemente informado sobre esta cirurgia?

70%

30%

0%

sim parcialmente não

Figura 11. Gráfico sobre sente-se suficientemente informado sobre a cirurgia Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Entende-se a visita pré-operatória como sendo a parte fundamental do

processo de enfermagem, pois é por meio dos dados coletados, da avaliação física,

e das percepções não-verbais, verificadas neste momento, que o enfermeiro possui

subsídios para o desenvolvimento da assistência sistematizada contribuindo com os

aspectos emocionais do paciente, esclarecendo as dúvidas, e com a equipe de

enfermagem repassando as informações necessárias aos períodos trans e pós-

operatórios. Neste sentido, Orlando (1978) relata que é mais fácil planejarmos as

necessidades que possam levar a outros problemas do que cuidarmos depois que

eles já aconteceram.

Tem-se que recorrer à teoria de Peplau (1990), que opta por descrever o

processo de relação interpessoal da enfermagem em quatro fases: orientação,

74

identificação, exploração e resolução. Essas etapas estão superpostas e devem ser

consideradas de forma relacionada. Na fase de orientação, o paciente apresenta

uma necessidade e solicita ajuda profissional. A enfermeira, inicialmente, identifica

as necessidades do paciente, o qual, durante a interação, fornece muitas pistas a

respeito de como visualiza a dificuldade que está experimentando e oferece à

enfermeira a oportunidade de reconhecer suas carências de informação e

compreensão acerca do problema.

Diante das necessidades identificadas, a enfermeira, em colaboração com

outros componentes da equipe de saúde, orienta o paciente sobre o problema e de

suas implicações. A tensão e a ansiedade apresentadas por esse paciente em

decorrência de suas necessidades devem ser levadas em consideração na fase de

orientação, pois, caso contrário, não haverá êxito em tentar relacionar a sua

experiência atual com as anteriores. (PEPLAU, 1990).

Desse modo, a Equipe de Enfermagem pode e deve usar a comunicação

para conseguir estabelecer relacionamento efetivo com o paciente, a fim de

oferecer-lhe apoio, conforto e informação, bem como despertar seu sentimento de

confiança e de auto-estima. Deve-se ter em mente, pois, como enfatizado por

Stefanelli (1993), que comunicação é o instrumento básico da assistência de

enfermagem ou o processo que torna possível o relacionamento enfermeiro-

paciente. É o denominador comum de todas as ações de enfermagem e influi

decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele que necessita dos

cuidados profissionais do enfermeiro.

Foi perguntado aos pacientes do pré-operatório se eles tinham sido

informados sobre o preparo para a cirurgia à qual iam se submeter, obtendo-se as

seguintes respostas: 50% não tinham sido informados sobre este preparo, enquanto

30% dos pacientes responderam sim e 20% apenas parcialmente. Os dados desta

questão encontram-se dispostos na Figura 12.

75

Foi informado sobre o preparo para esta cirurgia?

30%

20%

50%

sim parcialmente não

Figura 12. Gráfico sobre se foi informado sobre o preparo para a cirurgia Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Em relação a esta questão, dois pacientes fizeram as seguintes observações:

“Sim, pelo médico e anestesista. Não pelo hospital”.

“Não, porque a explicação foi suficiente”.

Pela fala dos pacientes, é possível se perceber que o paciente também deve

ser preparado emocionalmente para a cirurgia. E a necessidade de apoio emocional

dispensado a ele é percebida pela Equipe de Enfermagem por meio da

comunicação. A comunicação é uma habilidade humana que torna possível a

manifestação e exteriorização do que se passa na vida interior. Graças a essa

habilidade de perceber e de comunicar, o homem enriquece o seu referencial de

conhecimentos, transmite sentimentos e pensamentos, esclarece, interage e

conhece o que os demais pensam, necessitam e sentem. Desse modo, a Equipe de

Enfermagem pode e deve usar a comunicação para conseguir estabelecer

relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e

informação, bem como despertar seu sentimento de confiança e de auto-estima.

Para comentar esta questão, é necessário nos reportar aos ensinamentos de

Stefanelli (1993), que afirma ser pela comunicação estabelecida com o paciente que

se pode compreendê-lo em seu todo, em sua visão do mundo, isto é, seu modo de

pensar, sentir e agir. Só assim se poderá identificar os problemas por ele sentidos

com base no significado que ele atribui aos fatos que lhe ocorrem, e tentar ajudá-lo a

manter ou recuperar sua saúde. É por meio da comunicação com o paciente que o

enfermeiro pode realmente efetuar mudanças no comportamento deste. O

atendimento de quase todas as outras necessidades humanas básicas do paciente

76

depende, em várias circunstâncias, do processo de comunicação que ocorre entre

ele e o enfermeiro.

O enfermeiro pode usar a comunicação para conseguir estabelecer

relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e

informação, e despertar seu sentimento de confiança e auto-estima, bem como lhe

ensinar modos mais adequados de comunicação (STEFANELLI, 1993). A escrita, a

fala, as expressões faciais, a audição e o tato são formas de comunicação

amplamente utilizadas, conscientemente ou não.

Entre todos os profissionais da área de saúde, o enfermeiro, por interagir

diretamente com o paciente, precisa estar mais atento ao uso adequado das

técnicas da comunicação interpessoal. A comunicação representa uma troca de

informação e compreensão entre as pessoas, com objetivo de transmitir fatos,

pensamentos e valores. (SILVA, 2002).

Em suma, como salienta Peplau (1990) em sua teoria, a enfermagem, na

percepção da teórica, é uma relação humana entre uma pessoa que está enferma

ou necessitada de serviços de saúde e uma enfermeira com uma formação

especializada para reconhecer e responder à necessidade de ajuda.

Quando questionados se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização)

afetam o seu padrão de vida habitual, 50% alegaram que não; já 30% afirmaram sim

e 30% que os afeta parcialmente, conforme Figura 13.

As atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida

habitual?

20%

50%

30%

sim parcialmente não

Figura 13. Gráfico sobre se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Os comentários feitos nesta questão foram:

“Não, a questão da dor vai melhorar, já sofre a dor com a pedra na

vesícula”.

77

“Sim, comentou sobre estresse dos diagnósticos”.

“Auto-estima baixou, questão da liberdade”.

“Saiu da rotina normal”.

Para esta questão, é importante se observar que a necessidade do

tratamento cirúrgico no paciente acaba por interromper o seu estilo de vida,

prejudicam muitas vezes sua adaptação às mudanças, alterando sua auto-imagem,

assim como sua interação social.

No processo de hospitalização, o paciente torna-se vulnerável, perde seu

poder decisório, mesmo quando de coisas simples. Acredita-se, assim, que a equipe

de enfermagem é responsável por zelar pela privacidade do paciente e, sempre que

possível, envolvê-lo nos processos decisórios. Em relação à conservação da

integridade social, entende-se que todo indivíduo vive em sociedade, e o seu modo

de vida e comportamento estão diretamente relacionados com os grupos de

convívio.

Na presença do processo de doença, o paciente sente-se solitário, retornando

o pensamento para seus familiares e amigos. As pessoas, particularmente as mais

próximas, são muito importantes para o restabelecimento do paciente. E a equipe de

enfermagem tem um papel preponderante por ser uma profissão que busca

promover o bem-estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade e

dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no

transcurso de doenças e agravos.

Peplau evidencia que reconhece o papel da família, da sociedade, da cultura

e do ambiente nas mudanças, mesmo que seja o ambiente hospitalar o contexto

predominante na teoria. (RIEHL; ROY, 1980).

No entanto, o ambiente hospitalar é propício para a etapa de orientação,

considerando que as limitações de espaço e liberdade de movimentos impulsionam

o paciente ao seu próprio mundo imaginário e podem suscitar a oportunidade para

que, com a ajuda do profissional, possa esclarecer e explicar o que acontece à sua

volta (PEPLAU, 1990).

No momento da hospitalização, os sentidos do paciente estão bastante

aguçados e ele passa a observar detalhes cada vez menores (PEPLAU, 1990), o

que destaca a importância de, na fase de orientação, estar atento a qualquer

necessidade do paciente mesmo que pareça irrelevante ou de menor importância.

78

Foi perguntado a eles se tinham sentido medo com a hospitalização, obtendo-

se as seguintes respostas: 50% disseram que não estavam sentindo medo em

relação a esta questão, enquanto 30% responderam sim e 20% parcialmente. Os

dados da pergunta foram dispostos na Figura 14.

Você tem sentido medo com a hospitalização?

30%

20%

50%

sim parcialmente não

Figura 14. Gráfico sobre se tem sentido medo com a hospitalização Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Houve um único comentário acerca da questão acima, conforme transcrito a

seguir:

“Leio muito sobre saúde”.

Embora os entrevistados não tenham demonstrado que vivenciam a ida ao

hospital como um abandono sentimental do lar, que é sentido como um rompimento

dos laços que indicavam segurança, mesmo assim, surge a necessidade de levar

algum acompanhante ao hospital, na tentativa de diminuir a sensação de abandono -

tanto de abandonar quanto de ser abandonado

Desse modo, pode-se dizer que o modo como se manifestam as intensas

mudanças na rotina do paciente e sua família, o ambiente hospitalar, e, muitas

vezes, o prolongado e doloroso tratamento realizado, precipitam uma série de

conseqüências nos pacientes que por si só já influenciam na dinâmica psíquica dos

mesmos, tornando-os mais suscetíveis a conflitos e instabilidades,

independentemente do histórico de vida de cada um.

É de se lembrar que a hospitalização é um evento que envolve uma grande

capacidade de adaptação do indivíduo às várias mudanças que ocorrem no

cotidiano. As dificuldades de adaptação acontecem no momento em que o paciente

79

não é atendido adequadamente em suas necessidades básicas, agravando com isso

as sensações de isolamento e angústia preexistentes. Essas dificuldades são

suficientes para produzirem uma crise acidental que, dependendo da intensidade,

pode desorganizar temporariamente a personalidade do paciente.

A pessoa que adoece e é hospitalizada sofre uma mudança, e esta

representa um elemento concreto de desconforto e insegurança. Esta mudança é

determinada pela troca da situação de indivíduo sadio à dependência da atuação

dos profissionais na resolução de seus problemas. A doença é uma situação de

alterações das funções normais da pessoa, que pode se manifestar por meio de

sinais típicos e particulares que se pode chamar de sintomas. É de fundamental

importância observar que a alteração física ou mental do indivíduo depende da

gravidade da enfermidade, do equilíbrio emocional de cada um e também dos

fatores ambientais, principalmente do ponto de vista familiar.

Desse modo, como observado por Ruschel, Daut e Santos (2000), a

internação hospitalar pode contribuir para o sentimento de ruptura com a vida diária

e com a perda da autonomia do paciente. A hospitalização pode implicar uma série

de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando o processo de

despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de

internação, pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas

que apresenta, e não mais pela sua singularidade enquanto indivíduo.

Quando os aspectos psicológicos não são considerados na situação de

tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da predisposição para complicações

emocionais que prejudicam a convalescença, chegando a intensificar, em algumas

situações, a morbidade no período pós-operatório. Para essas mesmas autoras, a

cirurgia é uma experiência de muita ameaça na vida de qualquer pessoa, pois

envolve uma carga emocional característica. A forma como cada um enfrenta esse

tipo de intervenção poderá facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à

vida normal. (RUSCHEL; DAUT; SANTOS, 2000).

Foi-lhes perguntado ainda se utilizavam algum mecanismo para enfrentar o

período pré-operatório. Suas respostas foram: 60% afirmaram que não utilizavam

nenhum mecanismo de enfrentamento e 40% disseram que sim. Os dados da

questão constam na Figura 15.

80

Tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório imediato?

40%

60%0%

sim parcialmente não

Figura 15. Gráfico sobre se tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Para essa questão, apenas dois breves comentários foram feitos:

“Foi trabalhado”

“Sabia o que iria passar (cirúrgico)”.

Pelo resultado desta questão, pode-se inferir que a principal estratégia de

enfrentamento mobilizada pelo grupo de pesquisa foi o fator fuga-esquiva, podendo

ser considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping)

focalizado na emoção, conforme observado por Guido (2003).

Já para Lazarus e Folkman (1984), as pessoas utilizam o enfrentamento

focalizado na emoção como forma de manter a esperança e o otimismo frente à

adversidade, porém esta atitude é tomada evitando-se pensar ou agir sobre o

problema. Os mesmo autores ainda citaram que o foco na emoção geralmente surge

quando, ao fazer uma reavaliação acerca do estressor, o indivíduo não se percebe

competente para enfrentar a situação, cabendo-lhe suportar a tensão, por meio de

regulações afetivas diversas.

Desse modo, sugere-se que os pacientes cirúrgicos, ao mobilizarem a fuga-

esquiva, iniciaram a tentativa de administrar o estresse causado pela necessidade

de submeter-se à cirurgia através do distanciamento do foco estressor. Entretanto,

esta ação, que pode ser tanto cognitiva como comportamental, não demonstrou

eficácia diante do estresse cirúrgico, pois prevaleceu a fase de resistência.

Na seqüência, foi perguntado se a Equipe de Enfermagem poderia contribuir

para o seu enfrentamento do período pré-operatório, obtendo-se as respostas: 80%

responderam que sim; já 20% não, conforme se pode constatar na Figura 16.

81

A Equipe de Enfermagem pode contribuir para o seu enfrentamento para o período pré-

operatório imediato?

80%

20%

0%

sim parcialmente não

Figura 16. Gráfico sobre se a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o enfrentamento no período pré-operatório Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Os seguintes comentários foram registrados para a questão acima:

“Orientações ao paciente diz ser através de conversa”.

“Demais”.

“Toda a explicação ao paciente é salutar”.

“É o que eu mais espero”.

Como visto no capítulo destinado à Fundamentação Teórica deste trabalho,

uma das funções da Equipe de Enfermagem é a de auxiliar o paciente, identificando

as suas necessidades de forma imediata, tendo como instrumento básico a

observação, considerando que esta pode ser realizada de forma direta, decorrentes

da experiência do próprio enfermeiro com o paciente, e as indiretas, que são

aquelas advindas de outros profissionais, prontuário do paciente e visitas de

enfermagem.

Desse modo, como enfatizado por Leonard e Crane (1993), as ações da

Equipe de Enfermagem concentram-se em avaliação do paciente no momento em

que ele é admitido, verificando as necessidades de ajuda, educação do paciente

diante de uma necessidade encontrada e orientações ao paciente durante o pré-

operatório.

Por isso, o comportamento do paciente necessita ser observado pela Equipe

de Enfermagem, por meio de uma interação imediata enfermeiro/paciente,

utilizando-se de percepções não-verbais demonstradas por atividades motoras

como: caminhar, comer, contrair-se; alterações fisiológicas como: urinar, defecar,

pressão arterial, e outras; manifestações sonoras, como: choro, gemido, tosse, grito,

respiração difícil, etc. O comportamento verbal do paciente também necessita ser

82

observado, pois, por meio deste, é possível se identificar as reais necessidades do

paciente. Entretanto, compreende-se que o comportamento verbal e o não-verbal

complementam-se na análise das necessidades de ajuda, com isto devem ser

observados concomitantemente, assim, todo comportamento manifestado pelo

paciente de forma verbal ou não-verbal, necessita ser entendido como um pedido de

ajuda até que se prove ao contrário.

Afinal, como observado por Stanton, Paul e Reeves (1993), o processo de

enfermagem constitui o elemento principal da prática de enfermagem, o qual

direciona de maneira ordenada o trabalho do enfermeiro, sendo considerado como

o “instrumento” de metodologia utilizada para auxiliar os enfermeiros nas tomadas

de decisões e avaliação das conseqüências.

Acredita-se que, por questões culturais e de crenças, ou pela própria

personalidade, cada pessoa pode expressar de forma diferente a dor, a doença, o

estresse e o medo, considerando que muitas vezes pode omitir seus sentimentos, e

somente por meio da observação de seu comportamento, somado às manifestações

verbais, a Equipe de Enfermagem pode prestar uma assistência completa ao

paciente, advindo daí a sua contribuição.

Por fim, quando perguntado se eles tinham receio de dizer alguma coisa à

Equipe de Enfermagem, os mesmos assim se distribuíram em suas respostas: 70%

alegaram que não tinham este receio, enquanto 20% tinham receio e 10%

parcialmente.

Tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de Enfermagem?

20%

10%70%

sim parcialmente não

Figura 17. Gráfico sobre se tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de Enfermagem Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

83

Sobre os comentários, um único paciente do pré-operatório assim se

posicionou:

“Gosto de saber o que vai se proceder. Minha mente armazena as orientações”.

Permitir ao paciente a fala como uma possibilidade de canalização de sua

ansiedade, tendo uma escuta clínica que possa dirimir suas dúvidas e atenuar o seu

estresse quanto às incertezas do processo cirúrgico, possivelmente trará a redução

da desagradável sensação de perigo e ameaça à sua integridade.

Enfim, o conhecimento do estresse, desde o seu delineamento, até às

estratégias de enfrentamento, é essencial para o embasamento de intervenções

voltadas para o acompanhamento e tratamento dos pacientes que vão submeter-se

a uma cirurgia, visto que a repercussão emocional pode gerar comorbidades que

tanto dificultam a realização do procedimento cirúrgico, como comprometer a

adaptação e recuperação no pós-operatório.

Entende-se, assim, que a meta seria apreender como as pessoas avaliam os

estressores (LAZARUS; FOLKMAN, 1984). Isso facilita a expressão de sentimentos,

minimizando fantasias distorcidas e incentivando o uso de estratégias de

enfrentamento mais eficazes na redução do estresse (SANTOS; ARAÚJO 2003;

SEBASTIANI; MAIA, 2005).

Como enfatizado anteriormente, as duas últimas questões do questionário

foram aplicadas aos pacientes do pré-cirúrgico, quando estes já tinham passado a

intervenção cirúrgica, e quando se encontravam em condições de respondê-las.

Entenda-se que as questões foram aplicadas depois, inclusive, das orientações de

enfermagem dadas pelas pesquisadoras. Desse modo, essas orientações de

enfermagem serão objeto da análise a seguir.

Foi perguntado aos pacientes se as orientações recebidas lhes trouxeram

algum benefício e qual, obtendo-se 100% das respostas positivas, conforme se pode

constatar pela Figura 18.

84

As orientações trouxeram benefícios?

100%

0% 0%

sim parcialmente não

Figura 18. Gráfico sobre se as orientações recebidas trouxeram benefícios Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)

Quanto aos tipos de benefícios, os pacientes assim se manifestaram:

“Para mim foi interessante e importante. Assim, fui melhor informado, também tive a presença de uma pessoa ao meu lado, que, além de me orientar, me deu forças para enfrentar a cirurgia”. “Todas as explicações foram precisas e importantes”. “Me senti mais seguro [...]”. “Sim, porque sei o que vou passar até o retorno ao meu quarto”. “Sem dúvida nenhuma, quando são feitas de modo equilibrado, com jeito”. “Sim, fiquei mais tranqüila e calma”. “Sim, porque deram uma preliminar de como seria a cirurgia”. “Sim, para entender o que está se passando durante os procedimentos e me tranqüilizar”.

Como é de se notar, na sua totalidade, os pacientes remeteram ao fato de se

sentirem mais tranqüilos com as orientações recebidas, uma vez que ficaram

sabendo o que poderia lhes acontecer no ato cirúrgico, bem como no período do

pós-operatório, o que leva a acreditar que as orientações fornecidas pela Equipe de

Enfermagem são imprescindíveis para que o paciente no pré-operatório ganhe

confiança e consiga enfrentar melhor esta situação, eliminando, ou pelo menos

minimizando, o estresse comum deste período, contribuindo na recuperação no

período pós-operatório.

Como última questão, foi perguntado aos pacientes se eles teriam alguma

sugestão a fornecer no sentido de melhor enfrentar o período pré-operatório. Suas

respostas foram:

“O que sabia foi suficiente”

85

“Creio que como foi esclarecido foi suficiente” “Continue com as explicações, pois são fundamentais para o paciente” “Mais orientação da equipe de enfermagem, sobre os prós e contras da recuperação” “Continuar fazendo o trabalho de pré-operatório por um profissional de saúde” “Não tenho nada a acrescentar”

A contar pelas respostas dos pacientes entrevistados, é possível se constatar

que as orientações de enfermagem dadas pelas pesquisadoras aos pacientes no

pré-operatório foram de grande valia, permitindo que eles acompanhassem todos os

passos do procedimento cirúrgico, trazendo-lhes a tranqüilidade necessária para que

enfrentassem esse estágio com serenidade e confiança. Afinal, como explica Peplau

(1990), pela interação enfermeiro-paciente, por meio de ações educativas, estas

poderão trazer grandes influências em seu comportamento, participação,

compreensão e reabilitação do processo cirúrgico.

Após ter-se apresentado as respostas dos pacientes do pré-operatório que

participaram da pesquisa, passa-se, a seguir, à explanação das orientações de

enfermagem realizadas pelas pesquisadoras.

5.5 Orientações de Enfermagem Realizadas pelas Pesquisadoras

Das observações feitas pelas pesquisadoras, antes da aplicação do

questionário, foi possível se constatar que a maioria dos pacientes do pré-cirúrgico

de diversas cirurgias mostrou-se estressada e na fase de resistência.

A resistência, como discorrido no capítulo destinado à Fundamentação

Teórica deste trabalho, é uma fase onde o indivíduo busca o reequilíbrio por meio da

utilização de suas reservas de energia adaptativa, procurando resistir a um estressor

que não foi assimilado de forma salutar ou que continua causando-lhe desconforto

físico e/ou psíquico (LIPP, 1996).

Durante a resistência, cognitivamente, a pessoa não apresenta maiores

conseqüências em relação ao estresse, mantendo uma pseudo-adaptação que

caracteriza a expectativa de que o estressor se extinga ou passe a não mais

incomodar. São as alterações fisiológicas que sinalizam a incapacidade do

organismo lidar com a experiência estressante, incitando o aparecimento de

86

respostas orgânicas inadaptadas e que comprometem o funcionamento geral do

corpo (LIPP, 1996).

De acordo com o exposto, o fato de os pacientes estarem sofrendo as

conseqüências da fase de resistência chama atenção para os problemas que podem

se somar ao processo cirúrgico. Além de estarem se submetendo a uma cirurgia,

com suas próprias demandas psico-fisiológicas, podem padecer de diversos agravos

à sua saúde pela dificuldade de lidar com o estresse, criando a necessidade de um

acompanhamento profissional que prime não somente pelo procedimento cirúrgico

em si, mas também intervenha junto à forma de enfrentar a cirurgia.

Os profissionais da Equipe de Enfermagem, com a premissa da compreensão

biopsicossocial do paciente no pré-operatório, seriam os capazes de atuar junto à

demanda emocional desse paciente, permitindo-lhe a elaboração do sofrimento

gerado pela cirurgia e possibilitando a criação de formas mais saudáveis de lidar

com este momento.

Afinal, como observado por Orlando (1978), a reação do enfermeiro é a

maneira pela qual o profissional observa o comportamento do paciente;

compreende este comportamento e suas percepções pessoais e sentimentos em

face desta situação, levando em consideração que cada indivíduo pode interpretar

diferentemente um mesmo acontecimento.

Sendo assim, cada enfermeiro pode perceber de maneira distinta um mesmo

comportamento, e mais importante que perceber ou pensar sobre o comportamento

do paciente, é agir em beneficio das necessidades encontradas a partir deste

comportamento. Entretanto, cada ação deve ser avaliada quanto à precisão dos

seus resultados, visto que cada enfermeiro poderá executar ações de enfermagem

distintas partindo-se de um mesmo comportamento do paciente. Por isto, o

enfermeiro pode formular questões para o paciente responder verbalmente

auxiliando a confirmar suas percepções sobre o mesmo. (ORLANDO, 1978).

Foi observado, ainda, pelas pesquisadoras, que, dentre os pacientes do pré-

cirúrgico, alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto

relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas,

tais como a quase-exaustão e a exaustão.

Na quase-exaustão haveria o início do surgimento de patologias graves,

mostrando que o organismo não mais consegue resistir à ação contínua do

estressor, dando espaço para que a fase de exaustão fosse instalada (LIPP, 2000).

87

Nesta última, em vista da sobrecarga dos estressores, os indivíduos já se encontram

sofrendo de sérias patologias decorrentes do estresse. Dentre as que podem afetar

diretamente o processo cirúrgico, destacam-se a hipertensão arterial e a depressão

(LIPP, 2000; SELYE, 1959).

Segundo estes achados, é de se ressaltar a relevância do acompanhamento

da Equipe de Enfermagem a pacientes que vão submeter-se a uma cirurgia, haja

vista que, entre os pesquisados, estes se encontravam estressados, alguns em uma

fase avançada do estresse e com possibilidade de agravamento de seu estado de

saúde. Destaca-se, também, ser importante o conhecimento das estratégias de

enfrentamento utilizadas para lidar com o estressor, a fim de possibilitar a sua

função de reduzir ou eliminar o estresse.

Diante disso, foram realizadas as orientações de enfermagem pelas

pesquisadoras, pois, para um cliente cirúrgico, não existe cirurgia simples, é sempre

um desafio a ser enfrentado. A cirurgia pode ser a resolução de um problema ou

mesmo uma ameaça para sua vida. Por esta razão, é importante que a Equipe de

Enfermagem faça um bom planejamento das orientações pré-operatórias, avaliando

os riscos cirúrgicos, objetivando deixar o paciente no período pré-cirúrgico ciente do

processo cirúrgico do qual vai se submeter e assim repercutir em uma recuperação

ideal.

Por meio da interação enfermeiro-paciente, através de ações educativas,

estas poderão trazer grandes influências em seu comportamento, participação,

compreensão e reabilitação do processo cirúrgico, como bem explanou Hidelgard

Elizabeth Peplau (1990), em sua Teoria das Relações Interpessoais.

É na fase pré-operatória que se iniciam as orientações de um cuidadoso

preparo, com o objetivo de promover o melhor estado físico e psicológico do

paciente, visando a evitar complicações no período pós-cirúrgico. Assim sendo,

foram transmitidas, pelas pesquisadoras, as orientações de enfermagem, tendo

como base as que são comumente utilizadas em um Hospital-Escola de

Florianópolis, conforme poderão ser apreciadas no Anexo 2, ao final deste trabalho.

Estas foram as orientações gerais dadas e explicadas ao paciente pré-

operatório, respondente da pesquisa, que serviram como estratégias de

enfrentamento.

O objetivo da mobilização das estratégias de enfrentamento foi a de tolerar,

minimizar, aceitar ou ignorar o estressor, sendo um importante mecanismo de

88

adaptação para a resolução de problemas e manejo do estresse em contextos

particulares. Está na compreensão dos mecanismos de enfrentamento a

possibilidade de conhecer como as pessoas avaliam uma determinada situação para

assim poder manejar o seu estresse, visto que quando o enfrentamento é ineficaz, o

estresse é mantido ou incrementado; quando é eficaz, o enfrentamento reduz ou

elimina o estresse, como bem enfatizou Lazarus (1999).

Conhecer o que está influenciando os comportamentos de uma pessoa, a fim

de que seja percebido e manejado o seu estresse, visa promover um melhor inter-

relacionamento entre equipe de enfermagem e paciente, gerando uma melhor

qualidade de vida no pré e pós-operatórios. Defende-se que quanto melhor for

administrado o estresse do período pré-operatório, mais provável será o adequado

restabelecimento da saúde no pós-cirúrgico e mais breve o retorno às atividades

cotidianas.

89

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se inicia um trabalho de pesquisa, busca-se sua relevância social e

científica, a ponto de se considerar que, a partir dele, poderá ocorrer alguma

mudança. À medida que o trabalho de pesquisa vai se delineando, descobre-se que

os objetivos propostos possuem tamanho alcance no vasto mundo acadêmico. Uma

certeza, porém, permeia o trabalho de pesquisa, ele nasce de uma necessidade, de

um valor, de uma história de vida, da nossa própria história.

Tendo finalizado o trabalho, cumpre, ainda, elaborar as considerações finais.

Referidas considerações foram feitas com base nas conclusões de cada capítulo

deste trabalho, buscando fornecer ao leitor uma visão geral do assunto.

Para responder ao objetivo geral, aqui relembrado, “Identificar os sentimentos

dos pacientes no período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande

Florianópolis, e verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o

enfrentamento”, o estudo propiciou um panorama detalhado acerca das relações

interpessoais entre enfermeiro e paciente. Para tanto, o trabalho esteve alicerçado

na Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Elizabeth Peplau, que visualiza o

fenômeno de enfermagem como um processo interpessoal cujo foco principal está

centralizado na enfermeira e no paciente e, em sua teoria, pretende identificar

conceitos e princípios que dêem suporte às relações interpessoais que se

processam na prática da enfermagem de modo que as situações de cuidado possam

ser transformadas em experiências de aprendizagem e crescimento pessoal.

Assim sendo, pela pesquisa realizada, ficou evidenciado que o arcabouço

teórico apresentado na teoria de Peplau reflete sua preocupação com a

compreensão da natureza da enfermagem. Nesse sentido, foi possível identificar

que a enfermagem é vista, sobretudo, como uma forma de interagir com o paciente

e, por meio desta relação, fazer do adoecer uma oportunidade para o crescimento e

o amadurecimento pessoal de ambos.

Para este fim, Peplau enfoca as fases de orientação, identificação, exploração

e resolução, na qual a enfermeira assume diferentes papéis para auxiliar o paciente

no desenvolvimento de suas necessidades, até que este esteja pronto a assumir

uma atuação independente da enfermeira.

90

Quanto à utilidade da teoria, entendeu-se que, de fato, vale a pena continuar

investindo nos pressupostos teóricos de Peplau, pois estes, em última análise,

resgatam o sentido humano na atuação da enfermagem. Os pressupostos teóricos

são operacionalizáveis na prática de enfermagem e podem servir como base para

atuação dos enfermeiros em quaisquer situações onde estes possam comunicar-se,

interagir com seus pacientes.

Nesse sentido, porém, chama-se a atenção de que, para um relacionamento

interpessoal satisfatório, faz-se necessário que os enfermeiros estejam atentos às

suas próprias necessidades e desenvolvam um processo de auto-conhecimento,

pois é difícil interagir com o outro sem sermos capazes de compreendermos a nós

mesmos.

Entende-se, adicionalmente, que um dos primeiros passos para aplicar uma

teoria é conhecê-la e, dessa forma, acredita-se que este trabalho possa trazer uma

contribuição significativa, fomentando o interesse pela Teoria das Relações

Interpessoais de Peplau. Portanto, sugere-se que outros estudos possam ser

realizados para avaliar, em diferentes situações de cuidado, a utilidade, não apenas

dos pressupostos dessa autora, mas também os de outras teóricas de Enfermagem.

Somente por esse caminho conseguiremos desmistificar o uso de teorias de

Enfermagem como algo fora de nossa realidade.

Os resultados aqui expostos vêm apontar no sentido de que as relações de

reciprocidade entre enfermagem e paciente são passíveis de serem estabelecidas,

pois são altamente desejáveis e devem ser consideradas como prioritárias na prática

de enfermagem.

Quanto ao primeiro objetivo específico: “Identificar os problemas sentidos

pelos pacientes no pré-operatório”, foi conseguido pelas observações das

pesquisadoras, no momento da aplicação do questionário, cujo resultado foi

reforçado pelos pensamentos dos autores selecionados para este estudo, restando

claro que a maioria dos pacientes do pré-operatório de diversas cirurgias mostrou-se

estressada e na fase de resistência, embora não tenham manifestado isso em suas

respostas. Todavia, esse fato chama atenção para os problemas que podem se

somar ao processo cirúrgico. Além de estarem se submetendo a uma cirurgia, com

suas próprias demandas psico-fisiológicas, podem padecer de diversos agravos à

sua saúde pela dificuldade de lidar com o estresse, criando a necessidade de um

91

acompanhamento profissional que prime não somente pelo procedimento cirúrgico

em si, mas também intervenha junto à forma de enfrentar a cirurgia.

Os profissionais da Equipe de Enfermagem, com a premissa da compreensão

biopsicossocial do paciente no pré-operatório, seriam os capazes de atuar junto à

demanda emocional desse paciente, permitindo-lhe a elaboração do sofrimento

gerado pela cirurgia e possibilitando a criação de formas mais saudáveis de lidar

com este momento.

Foi observado, ainda, pelas pesquisadoras, que, dentre os pacientes do pré-

operatório, alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto

relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas,

tais como: a quase-exaustão (onde haveria o início do surgimento de patologias

graves), e a exaustão (em vista da sobrecarga dos estressores, os indivíduos já se

encontram sofrendo de sérias patologias decorrentes do estresse).

O segundo objetivo específico relacionou-se a “Verificar os mecanismos de

enfrentamento utilizados pelos pacientes no pré-operatório”. De acordo com as

respostas dos pacientes no pré-operatório, que participaram da pesquisa, a maioria

(60% das respostas) não estava utilizando nenhum mecanismo para enfrentar o

período pré-operatório. E os que afirmaram que estavam se servindo de algum

mecanismo de enfrentamento, porém, não o mencionaram na pesquisa. A partir

destes resultados, concluiu-se que a principal estratégia e enfrentamento,

mobilizada pelo grupo de pesquisa, foi o fator fuga-esquiva, podendo ser

considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping)

focalizado na emoção, conforme observado por Guido (2003).

No que diz respeito ao terceiro objetivo específico: “Implementar, na prática

de enfermagem, mecanismos que ajudem o enfrentamento do paciente no pré-

operatório”, isso foi realizado com base na metodologia adotada neste trabalho, qual

seja, a Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de Mercedes Trentini e Lygia

Paim, por permitir que o pesquisador se coloque em compromisso com a construção

do conhecimento novo para a renovação das práticas assistenciais no campo

estudado.

A PCA possibilitou que se mantivesse, durante todo o seu processo, uma

relação estreita com a prática assistencial, cuja intenção foi a de encontrar

alternativas para solucionar, ou pelo menos minimizar, os problemas, realizando

92

mudanças e introduzindo inovações na prática. Foi desse modo que se partiu para

as orientações de enfermagem, fornecidas aos pacientes do pré-operatório.

Diante do exposto, pode-se afirmar, então, que tanto o objetivo geral quanto

os objetivos específicos foram alcançados, acreditando-se que o trabalho venha a

servir de importante instrumento para que as práticas de enfermagem continuem

implementando ações que objetivem ao bem-estar total do paciente, seja ele do pré,

do trans ou do pós-operatório.

Isto posto, cumpre, ainda, responder à questão de pesquisa, que originou o

estudo: “De que modo a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o

enfrentamento do paciente no pré-operatório?”

Uma das maneiras encontradas de a Equipe de Enfermagem contribuir para o

enfrentamento do paciente do pré-operatório é por meio do processo, que visa à

dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, com vistas à assistência ao

ser humano. A sistematização da assistência de enfermagem tem sido proposta em

cinco fases: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento,

implementação e avaliação do cuidado prestado ao paciente, pois é por meio destas

fases que a enfermagem pode definir seu verdadeiro papel no contexto da

assistência à saúde.

A relevância da elaboração da sistematização da assistência de enfermagem

está no fato de que se trata de um dos meios que o enfermeiro dispõe para aplicar

seus conhecimentos técnico-científicos e humanos na assistência ao paciente e

caracterizar sua prática profissional, colaborando na definição do seu papel. Por

isso, é importante que as instituições da área da saúde elaborem protocolos ou

rotinas de orientações de enfermagem, para que o paciente enfrente as etapas da

cirurgia com tranqüilidade e confiança.

Assim é que a prática da enfermagem procura promover a interação

sincrônica entre o homem e o ambiente, fortalecer a coerência e a integridade do

corpo humano, e dirigir e redigir a padronização dos campos humanos e ambientais

para a realização máxima do potencial de saúde. Por isso, deve ser criativa e

imaginativa, devendo estar fundamentada, principalmente, na compaixão humana2.

2 Entende-se por compaixão, colocar-se incondicionalmente ao lado do outro, sem qualquer tipo de julgamento quanto à situação que ele está vivenciando, sem nenhum outro sentimento que não seja o de propiciar alívio à situação na qual aquele ser se encontra.

93

Ao concluir essa etapa final do trabalho, enfatiza-se que a experiência

adquirida por meio de leituras, aplicação dos instrumentos escolhidos e da análise

do resultado, proporcionou um grande desafio às acadêmicas, que poderá produzir

bons frutos para aqueles que se propuserem a dar continuidade a uma pesquisa

com o referencial teórico e os instrumentos aqui utilizados.

Na condição de acadêmicas, após realizar as atividades no campo estudado

e estar em contato com o cotidiano e singularidade de uma clínica hospitalar de

Florianópolis, é de se ressaltar que a pesquisa proporcionou a ligação entre teoria e

prática, uma vez que o conhecimento científico desenvolvido nas salas da

Universidade extrapolou sua mera verificação e produção de conhecimentos. Mas,

realizada por meio de uma práxis, comprometida com a realidade, colocou as

acadêmicas em uma posição desafiadora, construindo e participando do processo

de aprendizagem. Por isso, considera-se que a experiência adquirida, ao elaborar

este trabalho, marca um ponto de partida para vivenciar, com mais base teórica e

motivação renovada, outras experiências no campo profissional, as quais poderão

render inúmeros benefícios, tanto para as acadêmicas quanto, e especialmente,

para as pessoas que se encontrarem na condição de pacientes do pré-operatório.

94

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100

APÊNDICES

101

APÊNDICE 1 - CARTA DE INTENÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Biguaçu,12 de setembro de 2007

Prezada Senhora Anelize Cardoso Borges.

Como acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu, temos a intenção de desenvolver a pesquisa intitulada “ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pela equipe de enfermagem”. Para tanto, solicitamos a autorização para a realização da pesquisa junto aos pacientes que serão submetidos ao ato cirúrgico na clínica Ultralitho Centro Médico, sob a sua coordenação.

A atividade de coleta de dados, previstas em nosso projeto de trabalho de conclusão de curso, prevê entrevista por meio de um questionário. Assumimos o compromisso ético de manter o anonimato dos participantes, sigilo das informações e respeito à confidencialidade dos dados. Contando com a sua compreensão, agradecemos antecipadamente.

Atenciosamente,

Acadêmica de Enfermagem Acadêmica de Enfermagem UNIVALI UNIVALI

Orientadora UNIVALI

102

APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PACIENTES CIRÚRGICOS NO PRÉ-OPERATÓRIO

Prezado (a) Paciente:

Estamos desenvolvendo um Trabalho de Conclusão do Curso de

Enfermagem, da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, cujo tema é o

“Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição

das orientações realizadas pela equipe de enfermagem”. Desse modo, a fim de

conhecer o perfil e as opiniões dos pacientes do pré-operatório, em relação às

perguntas apresentadas, contamos com a sua contribuição para o preenchimento

deste questionário.

A sua resposta é muito importante, uma vez que, analisada, poderá

proporcionar relevantes informações sobre os seus sentimentos em relação à

cirurgia, objetivando sistematizar as orientações da Equipe de Enfermagem.

Reafirmamos que, em momento algum, nenhum procedimento lhe trará

qualquer desconforto ou risco à sua vida. Nem tampouco o seu nome aparecerá em

qualquer momento do estudo, pois você será identificado por meio de um codinome

(apelido).

I – PERFIL DO PACIENTE 1 Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino 2 Idade ( ) menos de 25 ( ) entre 25 e 45 ( ) acima de 45 3 Estado Civil ( ) Solteiro ( ) Amasiado ( ) Casado ( ) Separado/divorciado ( ) Viúvo ( ) Outros 4 Escolaridade ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ( ) Pós-Graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado 5 Religião ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( ) Budista ( ) Outras ...... Qual? ___________________

103

II – PERGUNTAS ESPECÍFICAS

Assinale com um “X” a opção que melhor retrata o teu sentimento em relação às perguntas

feitas. Em seguida a cada pergunta, há um espaço, caso você queira fazer algum comentário em

relação à pergunta.

SIM PARCIALMENTE NÃO

☺ � 1. Você sabe qual cirurgia você vai se submeter?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

2. voce se sente suficientemente informado sobre esta cirurgia?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

3 Você foi informado sobre o preparo para esta cirurgia ?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

4 As atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida habitual?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

5 Você tem sentido medo com a hospitalização ?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

6 Tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

7 A equipe de enfermagem pode contribuir para o seu enfrentamento para o período pré-operatório?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

8 Tem tido receio de dizer alguma coisa à equipe de enfermagem?

Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?

9. Você acha que as orientações recebidas da Equipe de Enfermagem lhe trouxeram algum benefício? Qual? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Você tem alguma sugestão para que possa enfrentar melhor o período pré-operatório? Escreva aqui: __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________

Muito Obrigada!

104

APÊNDICE 3 - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Somos acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI / Campus Biguaçu. Estamos

desenvolvendo uma pesquisa sobre o “Enfrentamento vivenciado pelo paciente

no pré-operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de

Enfermagem”. E, tem como objetivo identificar os sentimentos dos pacientes no

período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande Florianópolis, e

verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o enfrentamento.

Neste sentido, gostaríamos de contar com a sua participação, por meio de

questionários auto-aplicáveis, entregues pessoalmente pelas acadêmicas ao

paciente. Não será realizado nenhum procedimento que lhe traga qualquer

desconforto ou risco à sua vida.

Caso apresente alguma dúvida em relação à pesquisa, durante o

desenvolvimento da mesma, ou desistir de fazer parte deste estudo, poderá retirar

seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo para o seu atendimento. Pela

sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá

a garantia de que toda e qualquer despesa necessária para a realização da

pesquisa não será de sua responsabilidade. Seu nome não aparecerá em qualquer

momento do estudo, pois você será identificado por meio de um codinome.

Antonielle Cândido Salum Melo Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

Marsia Iveti Christoff Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

Profa. MSc. Tânia Soares Rebello

Orientadora -UNIVALI

105

APÊNDICE 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO

Eu,........................................................................................................, li e ouvi

o esclarecimento sobre a pesquisa “Enfrentamento vivenciado pelo paciente no

pré-operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de

Enfermagem” e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento a que

serei submetido. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo.

Eu entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento,

sem justificar minha decisão e que isso não afetará meu tratamento. Sei que meu

nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro por

participar do estudo.

Eu concordo em participar do estudo.

Florianópolis, _____ de ________________ de 2007.

________________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa (ou responsável legal)

_____________________ Número do documento de identidade

________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora Responsável Assinatura da Pesquisadora Responsável

__________________________ Assinatura do Pesquisador Orientador

Telefones de contato dos pesquisadores

___ ______________ ___ _______________ Telefones de contato dos pesquisadores

Em caso de dúvida quanto a esse documento, você pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI, pelo telefone (047) 3241-7738

106

APÊNDICE 5 - TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ- UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - CAMPUS BIGUAÇU

Termo de Compromisso de Orientação

Eu, _____________________________, docente da disciplina de

______________________ do Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu, comprometo-me e concordo em

orientar a Pesquisa para efetivação do Trabalho de Conclusão de Curso das

acadêmicas __________________________ e __________________________ ,

sob a temática “Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a

contribuição das orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem”. As

orientandas estão cientes das Normas para elaboração de Trabalho Monográfico de

Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, bem como do calendário de

Atividade proposto.

Biguaçu, de de 2007.

Profª Orientadora

Acadêmica de Enfermagem UNIVALI

Acadêmica de Enfermagem UNIVALI

107

ANEXOS

108

ANEXO 1 - RESOLUÇÃO N. 196/96 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

RESOLUÇÃO Nº 196, de 10 de outubro de 19963

O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Qüinquagésima Nona Reunião Ordinária, realizada nos dias 09 e 10 de outubro de 1996, no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, RESOLVE:

Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo

seres humanos: I - PREÂMBULO A presente Resolução fundamenta-se nos principais documentos internacionais que

emanaram declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos: o Código de Nuremberg (1947), a Declaração dos Direitos do Homem (1948), a Declaração de Helsinque (1964 e suas versões posteriores de 1975, 1983 e 1989), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966, aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1992), as Propostas de Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993) e as Diretrizes Internacionais para Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos (CIOMS, 1991). Cumpre as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação brasileira correlata: Código de Direitos do Consumidor, Código Civil e Código Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 19/09/90 (dispõe sobre as condições de atenção à saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes), Lei 8.142, de 28/12/90 (participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde), Decreto 99.438, de 07/08/90 (organização e atribuições do Conselho Nacional de Saúde), Decreto 98.830, de 15/01/90 (coleta por estrangeiros de dados e materiais científicos no Brasil), Lei 8.489, de 18/11/92, e Decreto 879, de 22/07/93 (dispõem sobre retirada de tecidos, órgãos e outras partes do corpo humano com fins humanitários e científicos), Lei 8.501, de 30/11/92 (utilização de cadáver), Lei 8.974, de 05/01/95 (uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados), Lei 9.279, de 14/05/96 (regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial), e outras.

Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.

O caráter contextual das considerações aqui desenvolvidas implica em revisões periódicas desta Resolução, conforme necessidades nas áreas tecnocientífica e ética.

Ressalta-se, ainda, que cada área temática de investigação e cada modalidade de pesquisa, além de respeitar os princípios emanados deste texto, deve cumprir com as exigências setoriais e regulamentações específicas.

II - TERMOS E DEFINIÇÕES A presente Resolução, adota no seu âmbito as seguintes definições: II.1 - Pesquisa - classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o

conhecimento generalizável. O conhecimento generalizável consiste em teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de informações sobre as quais estão baseados, que possam ser corroborados por métodos científicos aceitos de observação e inferência.

II.2 - Pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais.

II.3 - Protocolo de Pesquisa - Documento contemplando a descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais, informações relativas ao sujeito da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e à todas as instâncias responsáveis.

II.4 - Pesquisador responsável - pessoa responsável pela coordenação e realização da pesquisa e pela integridade e bem-estar dos sujeitos da pesquisa.

3 CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Disponível

em: <http://www.conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc>. Acesso em: 20 ago. 2007.

109

II.5 - Instituição de pesquisa - organização, pública ou privada, legitimamente constituída e habilitada na qual são realizadas investigações científicas.

II.6 - Promotor - indivíduo ou instituição, responsável pela promoção da pesquisa. II.7 - Patrocinador - pessoa física ou jurídica que apoia financeiramente a pesquisa. II.8 - Risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral,

intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.

II.9 - Dano associado ou decorrente da pesquisa - agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.

II.10 - Sujeito da pesquisa - é o(a) participante pesquisado(a), individual ou coletivamente, de caráter voluntário, vedada qualquer forma de remuneração.

II.11 - Consentimento livre e esclarecido - anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.

II.12 - Indenização - cobertura material, em reparação a dano imediato ou tardio, causado pela pesquisa ao ser humano a ela submetida.

II.13 - Ressarcimento - cobertura, em compensação, exclusiva de despesas decorrentes da participação do sujeito na pesquisa.

II.14 - Comitês de Ética em Pesquisa-CEP - colegiados interdisciplinares e independentes, com “munus público”, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.

II.15 - Vulnerabilidade - refere-se a estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida, sobretudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido.

II.16 - Incapacidade - Refere-se ao possível sujeito da pesquisa que não tenha capacidade civil para dar o seu consentimento livre e esclarecido, devendo ser assistido ou representado, de acordo com a legislação brasileira vigente.

III - ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas

fundamentais. III.1 - A eticidade da pesquisa implica em: a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis

e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade;

b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos;

c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa

e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade).

III.2- Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deverá obedecer às diretrizes da presente Resolução. Os procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza instrumental, ambiental, nutricional, educacional, sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam eles farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica.

III.3 - A pesquisa em qualquer área do conhecimento, envolvendo seres humanos deverá observar as seguintes exigências:

a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas;

b) estar fundamentada na experimentação prévia realizada em laboratórios, animais ou em outros fatos científicos;

110

c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por outro meio;

d) prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis;

e) obedecer a metodologia adequada. Se houver necessidade de distribuição aleatória dos sujeitos da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro através de revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos;

f) ter plenamente justificada, quando for o caso, a utilização de placebo, em termos de não maleficência e de necessidade metodológica;

g) contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou seu representante legal;

h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do sujeito da pesquisa, devendo ainda haver adequação entre a competência do pesquisador e o projeto proposto;

i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico - financeiro;

j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser sujeitos de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida através de sujeitos com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis. Nestes casos, o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser assegurado, desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade legalmente definida;

l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas envolverem comunidades;

m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças presentes entre eles, explicitando como será assegurado o respeito às mesmas;

n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades;

o) comunicar às autoridades sanitárias os resultados da pesquisa, sempre que os mesmos puderem contribuir para a melhoria das condições de saúde da coletividade, preservando, porém, a imagem e assegurando que os sujeitos da pesquisa não sejam estigmatizados ou percam a auto-estima;

p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa;

q)assegurar aos sujeitos da pesquisa as condições de acompanhamento, tratamento ou de orientação, conforme o caso, nas pesquisas de rastreamento; demonstrar a preponderância de benefícios sobre riscos e custos;

r) assegurar a inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa ou patrocinador do projeto;

s) comprovar, nas pesquisas conduzidas do exterior ou com cooperação estrangeira, os compromissos e as vantagens, para os sujeitos das pesquisas e para o Brasil, decorrentes de sua realização. Nestes casos deve ser identificado o pesquisador e a instituição nacionais co-responsáveis pela pesquisa. O protocolo deverá observar as exigências da Declaração de Helsinque e incluir documento de aprovação, no país de origem, entre os apresentados para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição brasileira, que exigirá o cumprimento de seus próprios referenciais éticos. Os estudos patrocinados do exterior também devem responder às necessidades de treinamento de pessoal no Brasil, para que o país possa desenvolver projetos similares de forma independente;

t) utilizar o material biológico e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a finalidade prevista no seu protocolo;

111

u) levar em conta, nas pesquisas realizadas em mulheres em idade fértil ou em mulheres grávidas, a avaliação de riscos e benefícios e as eventuais interferências sobre a fertilidade, a gravidez, o embrião ou o feto, o trabalho de parto, o puerpério, a lactação e o recém-nascido;

v) considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem, ser precedidas de pesquisas em mulheres fora do período gestacional, exceto quando a gravidez for o objetivo fundamental da pesquisa;

x) propiciar, nos estudos multicêntricos, a participação dos pesquisadores que desenvolverão a pesquisa na elaboração do delineamento geral do projeto; e

z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que a aprovou.

IV - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após

consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.

IV.1 - Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em linguagem acessível e que inclua necessariamente os seguintes aspectos:

a) a justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa; b) os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados; c) os métodos alternativos existentes; d) a forma de acompanhamento e assistência, assim como seus responsáveis; e) a garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a

metodologia, informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou placebo; f) a liberdade do sujeito se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer

fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado; g) a garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados

confidenciais envolvidos na pesquisa; h) as formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participação na pesquisa; e i) as formas de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa. IV.2 - O termo de consentimento livre e esclarecido obedecerá aos seguintes requisitos: a) ser elaborado pelo pesquisador responsável, expressando o cumprimento de cada uma

das exigências acima; b) ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que referenda a investigação; c) ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos

sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais; e d) ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa ou por seu

representante legal e uma arquivada pelo pesquisador. IV.3 - Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou ao esclarecimento

necessários para o adequado consentimento, deve-se ainda observar: a) em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, portadores de perturbação ou

doença mental e sujeitos em situação de substancial diminuição em suas capacidades de consentimento, deverá haver justificação clara da escolha dos sujeitos da pesquisa, especificada no protocolo, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, e cumprir as exigências do consentimento livre e esclarecido, através dos representantes legais dos referidos sujeitos, sem suspensão do direito de informação do indivíduo, no limite de sua capacidade;

b) a liberdade do consentimento deverá ser particularmente garantida para aqueles sujeitos que, embora adultos e capazes, estejam expostos a condicionamentos específicos ou à influência de autoridade, especialmente estudantes, militares, empregados, presidiários, internos em centros de readaptação, casas-abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, assegurando-lhes a inteira liberdade de participar ou não da pesquisa, sem quaisquer represálias;

c) nos casos em que seja impossível registrar o consentimento livre e esclarecido, tal fato deve ser devidamente documentado, com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do Comitê de Ética em Pesquisa;

d) as pesquisas em pessoas com o diagnóstico de morte encefálica só podem ser realizadas desde que estejam preenchidas as seguintes condições:

- documento comprobatório da morte encefálica (atestado de óbito); - consentimento explícito dos familiares e/ou do responsável legal, ou manifestação prévia

da vontade da pessoa; - respeito total à dignidade do ser humano sem mutilação ou violação do corpo; - sem ônus econômico financeiro adicional à família; - sem prejuízo para outros pacientes aguardando internação ou tratamento;

112

- possibilidade de obter conhecimento científico relevante, novo e que não possa ser obtido de outra maneira;

e) em comunidades culturalmente diferenciadas, inclusive indígenas, deve-se contar com a anuência antecipada da comunidade através dos seus próprios líderes, não se dispensando, porém, esforços no sentido de obtenção do consentimento individual;

f) quando o mérito da pesquisa depender de alguma restrição de informações aos sujeitos, tal fato deve ser devidamente explicitado e justificado pelo pesquisador e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados obtidos a partir dos sujeitos da pesquisa não poderão ser usados para outros fins que os não previstos no protocolo e/ou no consentimento.

V - RISCOS E BENEFÍCIOS Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. O dano

eventual poderá ser imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a coletividade. V.1 - Não obstante os riscos potenciais, as pesquisas envolvendo seres humanos serão

admissíveis quando: a) oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender, prevenir ou

aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros indivíduos; b) o risco se justifique pela importância do benefício esperado; c) o benefício seja maior, ou no mínimo igual, a outras alternativas já estabelecidas para a

prevenção, o diagnóstico e o tratamento. V.2 - As pesquisas sem benefício direto ao indivíduo devem prever condições de serem

bem suportadas pelos sujeitos da pesquisa, considerando sua situação física, psicológica, social e educacional.

V.3 - O pesquisador responsável é obrigado a suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do sujeito participante da pesquisa, conseqüente à mesma, não previsto no termo de consentimento. Do mesmo modo, tão logo constatada a superioridade de um método em estudo sobre outro, o projeto deverá ser suspenso, oferecendo-se a todos os sujeitos os benefícios do melhor regime.

V.4 - O Comitê de Ética em Pesquisa da instituição deverá ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo.

V.5 - O pesquisador, o patrocinador e a instituição devem assumir a responsabilidade de dar assistência integral às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos.

V.6 - Os sujeitos da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano previsto ou não no termo de consentimento e resultante de sua participação, além do direito à assistência integral, têm direito à indenização.

V.7 - Jamais poderá ser exigido do sujeito da pesquisa, sob qualquer argumento, renúncia ao direito à indenização por dano. O formulário do consentimento livre e esclarecido não deve conter nenhuma ressalva que afaste essa responsabilidade ou que implique ao sujeito da pesquisa abrir mão de seus direitos legais, incluindo o direito de procurar obter indenização por danos eventuais.

VI - PROTOCOLO DE PESQUISA O protocolo a ser submetido à revisão ética somente poderá ser apreciado se estiver

instruído com os seguintes documentos, em português: VI.1 - folha de rosto: título do projeto, nome, número da carteira de identidade, CPF,

telefone e endereço para correspondência do pesquisador responsável e do patrocinador, nome e assinaturas dos dirigentes da instituição e/ou organização;

VI.2 - descrição da pesquisa, compreendendo os seguintes itens: a) descrição dos propósitos e das hipóteses a serem testadas; b) antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa. Se o propósito for testar

um novo produto ou dispositivo para a saúde, de procedência estrangeira ou não, deverá ser indicada a situação atual de registro junto a agências regulatórias do país de origem;

c) descrição detalhada e ordenada do projeto de pesquisa (material e métodos, casuística, resultados esperados e bibliografia);

d) análise crítica de riscos e benefícios; e) duração total da pesquisa, a partir da aprovação; f) explicitação das responsabilidades do pesquisador, da instituição, do promotor e do

patrocinador; g) explicitação de critérios para suspender ou encerrar a pesquisa; h) local da pesquisa: detalhar as instalações dos serviços, centros, comunidades e

instituições nas quais se processarão as várias etapas da pesquisa;

113

i) demonstrativo da existência de infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais problemas dela resultantes, com a concordância documentada da instituição;

j) orçamento financeiro detalhado da pesquisa: recursos, fontes e destinação, bem como a forma e o valor da remuneração do pesquisador;

l) explicitação de acordo preexistente quanto à propriedade das informações geradas, demonstrando a inexistência de qualquer cláusula restritiva quanto à divulgação pública dos resultados, a menos que se trate de caso de obtenção de patenteamento; neste caso, os resultados devem se tornar públicos, tão logo se encerre a etapa de patenteamento;

m) declaração de que os resultados da pesquisa serão tornados públicos, sejam eles favoráveis ou não; e

n) declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados coletados. VI.3 - informações relativas ao sujeito da pesquisa: a) descrever as características da população a estudar: tamanho, faixa etária, sexo, cor

(classificação do IBGE), estado geral de saúde, classes e grupos sociais, etc. Expor as razões para a utilização de grupos vulneráveis;

b) descrever os métodos que afetem diretamente os sujeitos da pesquisa; c) identificar as fontes de material de pesquisa, tais como espécimens, registros e dados a

serem obtidos de seres humanos. Indicar se esse material será obtido especificamente para os propósitos da pesquisa ou se será usado para outros fins;

d) descrever os planos para o recrutamento de indivíduos e os procedimentos a serem seguidos. Fornecer critérios de inclusão e exclusão;

e) apresentar o formulário ou termo de consentimento, específico para a pesquisa, para a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, incluindo informações sobre as circunstâncias sob as quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtê-lo e a natureza da informação a ser fornecida aos sujeitos da pesquisa;

f) descrever qualquer risco, avaliando sua possibilidade e gravidade; g) descrever as medidas para proteção ou minimização de qualquer risco eventual.

Quando apropriado, descrever as medidas para assegurar os necessários cuidados à saúde, no caso de danos aos indivíduos. Descrever também os procedimentos para monitoramento da coleta de dados para prover a segurança dos indivíduos, incluindo as medidas de proteção à confidencialidade; e

h) apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da pesquisa. A importância referente não poderá ser de tal monta que possa interferir na autonomia da decisão do indivíduo ou responsável de participar ou não da pesquisa.

VI.4 - qualificação dos pesquisadores: “Curriculum vitae” do pesquisador responsável e dos demais participantes.

VI.5 - termo de compromisso do pesquisador responsável e da instituição de cumprir os termos desta Resolução.

VII - COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA-CEP Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um

Comitê de Ética em Pesquisa. VII.1 - As instituições nas quais se realizem pesquisas envolvendo seres humanos deverão

constituir um ou mais de um Comitê de Ética em Pesquisa- CEP, conforme suas necessidades. VII.2 - Na impossibilidade de se constituir CEP, a instituição ou o pesquisador responsável

deverá submeter o projeto à apreciação do CEP de outra instituição, preferencialmente dentre os indicados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS).

VII.3 - Organização - A organização e criação do CEP será da competência da instituição, respeitadas as normas desta Resolução, assim como o provimento de condições adequadas para o seu funcionamento.

VII.4 - Composição - O CEP deverá ser constituído por colegiado com número não inferior a 7 (sete) membros. Sua constituição deverá incluir a participação de profissionais da área de saúde, das ciências exatas, sociais e humanas, incluindo, por exemplo, juristas, teólogos, sociólogos, filósofos, bioeticistas e, pelo menos, um membro da sociedade representando os usuários da instituição. Poderá variar na sua composição, dependendo das especificidades da instituição e das linhas de pesquisa a serem analisadas.

VII.5 - Terá sempre caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais que metade de seus membros pertencentes à mesma categoria profissional, participando pessoas dos dois sexos. Poderá ainda contar com consultores “ad hoc”, pessoas pertencentes ou não à instituição, com a finalidade de fornecer subsídios técnicos.

114

VII.6 - No caso de pesquisas em grupos vulneráveis, comunidades e coletividades, deverá ser convidado um representante, como membro “ad hoc” do CEP, para participar da análise do projeto específico.

VII.7 - Nas pesquisas em população indígena deverá participar um consultor familiarizado com os costumes e tradições da comunidade.

VII.8 - Os membros do CEP deverão se isentar de tomada de decisão, quando diretamente envolvidos na pesquisa em análise.

VII.9 - Mandato e escolha dos membros - A composição de cada CEP deverá ser definida a critério da instituição, sendo pelo menos metade dos membros com experiência em pesquisa, eleitos pelos seus pares. A escolha da coordenação de cada Comitê deverá ser feita pelos membros que compõem o colegiado, durante a primeira reunião de trabalho. Será de três anos a duração do mandato, sendo permitida recondução.

VII.10 - Remuneração - Os membros do CEP não poderão ser remunerados no desempenho desta tarefa, sendo recomendável, porém, que sejam dispensados nos horários de trabalho do Comitê das outras obrigações nas instituições às quais prestam serviço, podendo receber ressarcimento de despesas efetuadas com transporte, hospedagem e alimentação.

VII.11 - Arquivo - O CEP deverá manter em arquivo o projeto, o protocolo e os relatórios correspondentes, por 5 (cinco) anos após o encerramento do estudo.

VII.12 - Liberdade de trabalho - Os membros dos CEPs deverão ter total independência na tomada das decisões no exercício das suas funções, mantendo sob caráter confidencial as informações recebidas. Deste modo, não podem sofrer qualquer tipo de pressão por parte de superiores hierárquicos ou pelos interessados em determinada pesquisa, devem isentar-se de envolvimento financeiro e não devem estar submetidos a conflito de interesse.

VII.13 - Atribuições do CEP: a) revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive os

multicêntricos, cabendo-lhe a responsabilidade primária pelas decisões sobre a ética da pesquisa a ser desenvolvida na instituição, de modo a garantir e resguardar a integridade e os direitos dos voluntários participantes nas referidas pesquisas;

b) emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, identificando com clareza o ensaio, documentos estudados e data de revisão. A revisão de cada protocolo culminará com seu enquadramento em uma das seguintes categorias:

• aprovado; • com pendência: quando o Comitê considera o protocolo como aceitável, porém identifica

determinados problemas no protocolo, no formulário do consentimento ou em ambos, e recomenda uma revisão específica ou solicita uma modificação ou informação relevante, que deverá ser atendida em 60 (sessenta) dias pelos pesquisadores;

• retirado: quando, transcorrido o prazo, o protocolo permanece pendente; • não aprovado; e • aprovado e encaminhado, com o devido parecer, para apreciação pela Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa -CONEP/MS, nos casos previstos no capítulo VIII, item 4.c. c) manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos na execução de sua tarefa e

arquivamento do protocolo completo, que ficará à disposição das autoridades sanitárias; d) acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos

pesquisadores; e) desempenhar papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão em torno da ética na

ciência; f) receber dos sujeitos da pesquisa ou de qualquer outra parte denúncias de abusos ou

notificação sobre fatos adversos que possam alterar o curso normal do estudo, decidindo pela continuidade, modificação ou suspensão da pesquisa, devendo, se necessário, adequar o termo de consentimento. Considera-se como anti-ética a pesquisa descontinuada sem justificativa aceita pelo CEP que a aprovou;

g) requerer instauração de sindicância à direção da instituição em caso de denúncias de irregularidades de natureza ética nas pesquisas e, em havendo comprovação, comunicar à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa-CONEP/MS e, no que couber, a outras instâncias; e

h) manter comunicação regular e permanente com a CONEP/MS. VII.14 - Atuação do CEP: a) A revisão ética de toda e qualquer proposta de pesquisa envolvendo seres humanos não

poderá ser dissociada da sua análise científica. Pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protocolo não deve ser analisada pelo Comitê.

115

b) Cada CEP deverá elaborar suas normas de funcionamento, contendo metodologia de trabalho, a exemplo de: elaboração das atas; planejamento anual de suas atividades; periodicidade de reuniões; número mínimo de presentes para início das reuniões; prazos para emissão de pareceres; critérios para solicitação de consultas de experts na área em que se desejam informações técnicas; modelo de tomada de decisão, etc.

VIII - COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA (CONEP/MS) A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/MS é uma instância colegiada, de

natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.

O Ministério da Saúde adotará as medidas necessárias para o funcionamento pleno da Comissão e de sua Secretaria Executiva.

VIII.1 - Composição: A CONEP terá composição multi e transdiciplinar, com pessoas de ambos os sexos e deverá ser composta por 13 (treze) membros titulares e seus respectivos suplentes, sendo 05 (cinco) deles personalidades destacadas no campo da ética na pesquisa e na saúde e 08 (oito) personalidades com destacada atuação nos campos teológico, jurídico e outros, assegurando-se que pelo menos um seja da área de gestão da saúde. Os membros serão selecionados, a partir de listas indicativas elaboradas pelas instituições que possuem CEP registrados na CONEP, sendo que 07 (sete) serão escolhidos pelo Conselho Nacional de Saúde e 06 (seis) serão definidos por sorteio. Poderá contar também com consultores e membros “ad hoc”, assegurada a representação dos usuários.

VIII.2 - Cada CEP poderá indicar duas personalidades. VIII.3 - O mandato dos membros da CONEP será de quatro anos com renovação alternada

a cada dois anos, de sete ou seis de seus membros. VIII.4 - Atribuições da CONEP - Compete à CONEP o exame dos aspectos éticos da

pesquisa envolvendo seres humanos, bem como a adequação e atualização das normas atinentes. A CONEP consultará a sociedade sempre que julgar necessário, cabendo-lhe, entre outras, as seguintes atribuições:

a) estimular a criação de CEPs institucionais e de outras instâncias; b) registrar os CEPs institucionais e de outras instâncias; c) aprovar, no prazo de 60 dias, e acompanhar os protocolos de pesquisa em áreas

temáticas especiais tais como: 1- genética humana; 2- reprodução humana; 3- farmácos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos novos (fases I, II e III) ou não

registrados no país (ainda que fase IV), ou quando a pesquisa for referente a seu uso com modalidades, indicações, doses ou vias de administração diferentes daquelas estabelecidas, incluindo seu emprego em combinações;

4- equipamentos, insumos e dispositivos para a saúde novos, ou não registrados no país; 5- novos procedimentos ainda não consagrados na literatura; 6- populações indígenas; 7- projetos que envolvam aspectos de biossegurança; 8- pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que

envolvam remessa de material biológico para o exterior; e 9- projetos que, a critério do CEP, devidamente justificado, sejam julgados merecedores de

análise pela CONEP; d) prover normas específicas no campo da ética em pesquisa, inclusive nas áreas

temáticas especiais, bem como recomendações para aplicação das mesmas; e) funcionar como instância final de recursos, a partir de informações fornecidas

sistematicamente, em caráter ex-ofício ou a partir de denúncias ou de solicitação de partes interessadas, devendo manifestar-se em um prazo não superior a 60 (sessenta) dias;

f) rever responsabilidades, proibir ou interromper pesquisas, definitiva ou temporariamente, podendo requisitar protocolos para revisão ética inclusive, os já aprovados pelo CEP;

g) constituir um sistema de informação e acompanhamento dos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos em todo o território nacional, mantendo atualizados os bancos de dados;

h) informar e assessorar o MS, o CNS e outras instâncias do SUS, bem como do governo e da sociedade, sobre questões éticas relativas à pesquisa em seres humanos;

i) divulgar esta e outras normas relativas à ética em pesquisa envolvendo seres humanos; j) a CONEP juntamente com outros setores do Ministério da Saúde, estabelecerá normas

e critérios para o credenciamento de Centros de Pesquisa. Este credenciamento deverá ser proposto

116

pelos setores do Ministério da Saúde, de acordo com suas necessidades, e aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde; e

l) estabelecer suas próprias normas de funcionamento. VIII.5 - A CONEP submeterá ao CNS para sua deliberação: a) propostas de normas gerais a serem aplicadas às pesquisas envolvendo seres

humanos, inclusive modificações desta norma; b) plano de trabalho anual; c) relatório anual de suas atividades, incluindo sumário dos CEP estabelecidos e dos

projetos analisados. IX - OPERACIONALIZAÇÃO IX.1 - Todo e qualquer projeto de pesquisa envolvendo seres humanos deverá obedecer às

recomendações desta Resolução e dos documentos endossados em seu preâmbulo. A responsabilidade do pesquisador é indelegável, indeclinável e compreende os aspectos éticos e legais.

IX.2 - Ao pesquisador cabe: a) apresentar o protocolo, devidamente instruído ao CEP, aguardando o pronunciamento

deste, antes de iniciar a pesquisa; b) desenvolver o projeto conforme delineado; c) elaborar e apresentar os relatórios parciais e final; d) apresentar dados solicitados pelo CEP, a qualquer momento; e) manter em arquivo, sob sua guarda, por 5 anos, os dados da pesquisa, contendo fichas

individuais e todos os demais documentos recomendados pelo CEP; f) encaminhar os resultados para publicação, com os devidos créditos aos pesquisadores

associados e ao pessoal técnico participante do projeto; g) justificar, perante o CEP, interrupção do projeto ou a não publicação dos resultados. IX.3 - O Comitê de Ética em Pesquisa institucional deverá estar registrado junto à

CONEP/MS. IX.4 - Uma vez aprovado o projeto, o CEP passa a ser co-responsável no que se refere aos

aspectos éticos da pesquisa. IX.5 - Consideram-se autorizados para execução, os projetos aprovados pelo CEP, exceto

os que se enquadrarem nas áreas temáticas especiais, os quais, após aprovação pelo CEP institucional deverão ser enviados à CONEP/MS, que dará o devido encaminhamento.

IX.6 - Pesquisas com novos medicamentos, vacinas, testes diagnósticos, equipamentos e dispositivos para a saúde deverão ser encaminhados do CEP à CONEP/MS e desta, após parecer, à Secretaria de Vigilância Sanitária.

IX.7 - As agências de fomento à pesquisa e o corpo editorial das revistas científicas deverão exigir documentação comprobatória de aprovação do projeto pelo CEP e/ou CONEP, quando for o caso.

IX.8 - Os CEP institucionais deverão encaminhar trimestralmente à CONEP/MS a relação dos projetos de pesquisa analisados, aprovados e concluídos, bem como dos projetos em andamento e, imediatamente, aqueles suspensos.

X. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS X.1 - O Grupo Executivo de Trabalho - GET, constituído através da Resolução CNS

170/95, assumirá as atribuições da CONEP até a sua constituição, responsabilizando-se por: a) tomar as medidas necessárias ao processo de criação da CONEP/MS; b) estabelecer normas para registro dos CEP institucionais; X.2 - O GET terá 180 dias para finalizar as suas tarefas. X.3 - Os CEP das instituições devem proceder, no prazo de 90 (noventa) dias, ao

levantamento e análise, se for o caso, dos projetos de pesquisa em seres humanos já em andamento, devendo encaminhar à CONEP/MS, a relação dos mesmos.

X4 - Fica revogada a Resolução 01/88.

ADIB D. JATENE Presidente do Conselho Nacional de Saúde

Homologo a Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996, nos termos do Decreto de

Delegação de Competência de 12 de novembro de 1991.

ADIB D. JATENE Ministro de Estado da Saúde

117

ANEXO 2 - ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM DADAS PELAS PESQUISADORAS

• Quanto ao momento para informações e esclarecimento de dúvidas

(preocupações, visitas, acompanhantes, anestesia, cirurgia e outros)

Foi explicado aos pacientes, individualmente, que a Equipe de Enfermagem

poderia possibilitar a diminuição do medo, da angústia e da insegurança que eles,

porventura, apresentassem nos momentos que antecedia a cirurgia, por meio de

uma assistência individualizada e diferenciada.

Foi dito que estas informações visavam acrescentar, à assistência de

enfermagem, medidas preventivas para evitar os agentes estressores que poderiam

acometer cada um deles no período pré-operatório, podendo proporcionar-lhes um

desequilíbrio pelo estresse estabelecido.

Feito isto, foi explicado que seus familiares e amigos poderiam visitá-los após

a cirurgia. Acredita-se que esta explicação beneficia o paciente, fazendo com que

ele se tranqüilize. Além do que, ao saber antecipadamente dos sintomas que

poderiam apresentar após a cirurgia ou sobre a presença de equipamentos ou tubos

de drenagens, ajudaria na aceitação e adaptação destes dispositivos no pós-

operatório.

Esta explicação tem como propósito acrescentar na rotina pré-operatória

imediata estas informações educativas, com objetivo de minimizar os níveis de

estresse que poderiam acometer o paciente durante o período pré-operatório.

• Quanto às estratégias de enfrentamento ao estresse

Foi orientado que as estratégias de enfrentamento devem oportunizar o

esclarecimento, por meio de orientações adequadas e com uma linguagem que se

aproxime do nível de compreensão do paciente.

Foi explicado aos pacientes do pré-operatório que as formas de aliviar a

tensão podem ser úteis para superar a ansiedade e obter o relaxamento, podendo

ser feitas por meio da: imaginação, concentrando-se em experiências agradáveis e

cenas tranqüilas; distração, encorajada a pensar em uma história agradável ou em

recitar um poema; auto-recitação otimista, tendo pensamentos otimistas

118

• Quanto aos exercícios respiratórios, circulatórios e deambulação

Ao nos referirmos sobre os exercícios respiratórios e circulatórios, foi

explanado que os mesmos são utilizados na prevenção de complicações pós-

operatórias, tais como: a atelectasia pulmonar, pneumonia, trombose venosa

profunda e outras.

Foi dito que a respiração profunda é uma técnica de relaxamento eficaz, pois,

além de evitar a atelectasia, a tosse advinda promove a retirada de secreções do

tórax. Da mesma forma, as mudanças de decúbito estimulam a circulação,

incentivam uma respiração mais profunda e aliviam as zonas de compressão. Os

exercícios de pernas e pés melhoram a circulação e o tônus muscular.

A deambulação precoce aumenta a eliminação de gases, melhora a

expectoração, diminui a dor na área cirúrgica, facilita a circulação, previne

complicações respiratórias, circulatórias e a distensão abdominal.

• Quanto aos momentos cirúrgicos

Foi explicado que, para a realização de uma cirurgia, é necessária uma série

de preparos e rotinas, que iriam auxiliá-los e facilitar nos procedimentos, evitando

possíveis complicações, como por exemplo:

- Encaminhamento para o centro cirúrgico: feito pelo maqueiro que leva o

paciente, juntamente com o prontuário e os exames, até a entrada do Centro

Cirúrgico.

- Entrada no centro cirúrgico: a enfermeira recebe o paciente ao chegar na

entrada do Centro Cirúrgico e o encaminha para a sala cirúrgica. Esta atividade tem

o propósito de familiarizar o paciente ao ambiente ao qual está sendo inserido,

assim como para iniciar os procedimentos do Centro Cirúrgico.

- Sala de cirurgia: a enfermeira deve manter diálogo com o paciente e orientá-

lo a cada passo do procedimento, procurando acalmá-lo, deixando que expresse

suas ansiedades.

- Passagem para a mesa de cirurgia: momento em que o paciente deve ser

informado sobre a transferência da maca, na qual foi transportado, para a mesa

cirúrgica.

- Posicionamento na sala de cirurgia: o paciente é auxiliado na transferência

para a mesa cirúrgica e colocado em posição de decúbito dorsal, confortável, com

os braços abertos, para facilitar o manuseio do acesso venoso e o controle de

119

pressão arterial. Foi explicado que ele permaneceria coberto, e que, neste momento,

receberia a punção venosa, necessária para administração de medicações do tipo

analgésicas e sedativas, entre outras que se fizerem necessárias. Além disso, foi

explicado sobre a colocação de eletrodos, para a monitorização cardíaca, bem como

sobre a anti-sepsia da área cirúrgica e a sua finalidade. Foi explicado, ainda, que

seria colocada uma divisória de tecido entre o anestesista e o cirurgião, logo após

estar anestesiado, com o objetivo de não haver contaminação entre o anestesista e

a cirurgia propriamente dita.

- Ato cirúrgico: momento em que a equipe cirúrgica está devidamente

paramentada e se inicia a cirurgia. Foi explicado o motivo do uso destas vestes e

acessórios. Foi dito aos pacientes que, durante o ato cirúrgico, na maioria dos

casos, eles são mantidos sedados, mesmo em anestesias locais e bloqueios. Além

do que o paciente não conseguiria visualizar o ato cirúrgico, devido à colocação da

divisória de tecido, já mencionada anteriormente.

- Tipos de drenos (Tubular com sucção, Penrose e Kherr): os pacientes foram

informados que os drenos poderiam ser colocados nas seguintes situações: nos

grandes deslocamentos de tela subcutânea é feito o uso de drenos de aspiração

fechada (tubular com sucção). Dreno de penrose é um tubo achatado, maleável e

elástico, que tem por objetivo drenar secreções anormais por mecanismos de

gravidade e diferença de pressão. Os usos são os mais variados, desde drenagem

de pequenos abscessos até grandes incisões. Já o dreno de Kherr (dreno em T) é

usado em cirurgias de vias biliares e é colocado no colédoco para drenar secreções

no período pós-operatório. Esta drenagem é feita por meio de um sistema simples

por gravidade e coletada em frasco ao nível do chão.

- Sala de recuperação pós-anestésica – SRPA: os pacientes foram orientados

que o pós-operatório tem seu início na sala de recuperação pós-anestésica, para

onde são levados após a operação, ainda sob o efeito da anestesia. Lá, eles

recebem acompanhamento direto e depois da estabilização de seu estado, têm alta

dessa unidade e são levados para o seu leito de origem.

O acompanhamento durante a recuperação pós-anestésica tem como

objetivo prestar ao paciente todos os cuidados necessários até a recuperação de

seus reflexos e estabilização dos sinais vitais.

120

Os pacientes foram informados, também, que, quando estivessem acordados,

corados, apresentando melhor resposta motora, quadro respiratório e circulatório

adequado, estariam aptos a retornar para o leito de origem.

• Sobre possíveis desconfortos no pós-operatório

- Náuseas e vômitos: estas são reações bastante comuns, podendo ser

atribuídos ao efeito da anestesia, assim como no ato cirúrgico com deglutição de

sangue, muco e saliva, no período de inconsciência. Podem ser ocasionadas,

também, pela não observância do jejum pré-operatório.

- Sede: a maioria dos pacientes apresenta este desconforto no pós-

operatório, podendo ser, geralmente, devido ao uso de anestésicos, medicamentos

e perda de líquidos durante a operação.

- Retenção urinária: trata-se da incapacidade de urinar, apesar da vontade,

pode ser causada pelo uso de medicamentos que contenham opióides. São de

ocorrência comum em cirurgias onde a analgesia é feita por bloqueios

(raquianestesia, epidural sacra ou peridural baixa). A dor, pós-operatório, pode ser

um agravante neste momento, já que o paciente tem receio de fazer esforço,

dificultando o estímulo para a micção.

- Dor: é uma experiência subjetiva e pode ou não ser verbalizada. Por isso,

deve ser acompanhada de perto, muitas vezes sendo necessária a administração de

analgésicos mais fortes nas primeiras 24 horas. A sedação para a dor deve ser

proporcional às queixas, com esta medida, obtém-se melhor cooperação do

paciente, tanto psicológica como fisicamente. Esta medida permite a movimentação

e a deambulação precoce, além de uma fisioterapia respiratória adequada.

- Alterações do SNC: o paciente pode estar desorientado, sonolento, confuso

ou delirante. A causa pode variar de efeito residual da anestesia à dor e ansiedade.

• Pré-operatório das 24 horas que antecedem a cirurgia

- Permissão operatória (Termo de Consentimento): trata-se do documento

pelo qual o paciente ou responsável autoriza a realização da cirurgia. Esse

documento protege o paciente contra uma cirurgia não sancionada e protege o

médico e o hospital contra a reclamação de uma cirurgia não autorizada. Deverá ser

assinado pelo paciente ou responsável. A enfermeira do turno que antecede a da

cirurgia deverá checar se este documento está assinado e constando do prontuário,

não podendo ser realizado depois da medicação pré-anestésica.

121

- Visita do anestesista: o anestesista visita o paciente nas 24 horas que

antecedem a cirurgia, com o objetivo de identificar problemas que possam interferir

na escolha do anestésico para a realização da cirurgia. Para isso, é feito um exame

físico, revisão de antecedentes médicos correntes e pertinentes, o estado mental e

físico do paciente são determinados. Além disso, o médico analisa os dados do

prontuário, bem como os exames.

- Retirada de esmalte das unhas, se necessário: as unhas pintadas,

principalmente com esmalte não transparente, dificultam a visualização da perfusão

capilar periférica.

- Encaminhar ou fazer a tricotomia facial (sexo masculino) e axilar (feminino),

levando em consideração valores culturais: a tricotomia dos pelos das axilas nas

mulheres e facial dos homens contribui para uma boa higiene corporal, diminuindo a

quantidade de agentes microbianos que possam ser contaminantes. Este

procedimento deve ser realizado durante o banho geral antes da cirurgia.

- Jejum conforme prescrito: tem por objetivo manter o estômago livre dos

alimentos, prevenindo a ocorrência de vômito com possível aspiração durante a

anestesia. Geralmente, o anestesista prescreve dez a doze horas de jejum antes da

cirurgia.

- Lavagem intestinal, se necessário: é a remoção do conteúdo intestinal, por

meio de lavagem mecânica (água morna mais glicerina), com o objetivo de evitar o

esvaziamento involuntário pelo efeito anestésico e de prevenir o trauma ao intestino

ou a contaminação acidental do peritônio pelas fezes. Este procedimento só será

realizado quando solicitado pelo médico, pois é indicado somente para algumas

cirurgias.

- Tricotomia da área cirúrgica, se necessário: é a remoção dos pelos na

região a ser operada, quando necessário, a fim de facilitar o procedimento cirúrgico

e a fixação do curativo. É realizada com aparelho de barbear e degermante pelo

menos duas horas antes do procedimento. Deve constar no impresso de cuidados

pré-operatórios.

- Banho, preparo da pele e higiene oral: o banho e o preparo da pele têm por

objetivo tornar a pele, tanto quanto possível, livre de microorganismos, com

degermante, sem prejudicar sua integridade física e fisiológica. A higiene oral

oportuniza a remoção de microorganismos que poderão interferir no controle de

infecção, além do conforto para o paciente.

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- Camisola aberta: vestimenta usada por todo paciente que será encaminhado

ao centro cirúrgico, para facilitar o processo da cirurgia, devendo, o paciente, despir-

se das roupas íntimas. Ela deverá ser fornecida para ser vestida após o banho geral.

- Esvaziamento vesical, antes do pré-anestésico: para evitar que o conteúdo

da bexiga seja liberado involuntariamente sob efeito anestésico. Em algumas

cirurgias abdominais, por exemplo, poderá ocorrer acidentalmente a lesão da bexiga

se estiver distendida. É importante que o paciente seja orientado para esvaziar a

bexiga antes do pré-anestésico.

- Retirada de próteses, jóias e adereços: as próteses são retiradas para evitar

lesões na hora da entubação. Atualmente, fica a critério do anestesista a retirada

das mesmas no centro cirúrgico. Os objetos metálicos, como jóias e adereços,

interferem no uso da placa de bisturi usada em todas as cirurgias. Devem ser

retiradas antes do pré-anestésico, para que o paciente ou acompanhante os guarde

em segurança.

- Medicação pré-anestésica: o principal objetivo desta medicação é reduzir a

ansiedade do paciente de modo que a indução e manutenção da anestesia, no

centro cirúrgico, sejam mais fáceis. Ela é prescrita conforme a necessidade

individual de cada paciente, sendo ministrada e checada pelo funcionário da equipe

de enfermagem conforme prescrito pelo anestesista.

- Verificar sinais vitais antes e após o pré-anestésico: a pressão arterial (PA),

o pulso (P), a respiração (R) e a temperatura (T), devem ser verificados uma hora

antes e uma hora após a administração do pré-anestésico por via oral (VO). No caso

de endovenoso (EV) ou intramuscular (IM), verifica-se quinze minutos após. Estes

dados devem ser registrados no impresso de controle pré-operatório, e caso ocorra

qualquer anormalidade, deve ser comunicada.