universidade federal de pelotas centro de letras e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Centro de Letras e Comunicação
Curso de Graduação em Jornalismo
Trabalho de Conclusão de Curso
O padrão de aparência na construção do estereótipo da telejornalista
brasileira: um estudo de recepção sobre o perfil das jornalistas da Globo
Mariana Argoud Dias
Pelotas, 2018
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Mariana Argoud Dias
O padrão de aparência na construção do estereótipo da telejornalista
brasileira: um estudo de recepção sobre o perfil das jornalistas da Globo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.
Orientador: Dr. Fábio Souza da Cruz
Pelotas, 2018
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Mariana Argoud Dias
O padrão de aparência na construção do estereótipo da telejornalista brasileira: um
estudo de recepção sobre o perfil das jornalistas da Globo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Jornalismo da
Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Jornalismo.
Data da Defesa:
Banca examinadora:
Prof. Dr. ............................................... (Orientador) Doutor em .........................
........................ pela Universidade ........................................................................
Prof. Dr. ............................................... Doutor em ............................................... pela
Universidade .............................................................................................
Prof. Dr. ............................................... Doutor em ............................................... pela
Universidade .................................................................................................
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Agradecimentos
Agradeço a Deus, por todas as coisas.
Agradeço à minha família. Mãe, pai, Filipe, Eduardo e Natália, pelo apoio e incentivo
incondicional hoje e sempre.
Agradeço ao meu namorado, Estevan, por todo amor, carinho, paciência,
ensinamentos e revisões nesse trabalho.
Agradeço à Mari, por ter dividido esses quatro anos lado a lado comigo, tornando o
caminho da graduação muito melhor, apoiando uma a outra nos momentos de
dificuldade e dividindo, até mesmo, as referências bibliográficas.
Agradeço à Laura, por sempre acreditar em mim e em todo o meu potencial.
Agradeço à Carol, Larissa, Pedro, Gota, Gab, Eduardo e Luís, por tornar a
graduação em jornalismo um lugar muito mais divertido e feliz.
Agradeço ao meu orientador, Fábio Souza da Cruz, por dividir seus conhecimentos
comigo, acreditar na minha pesquisa e me manter calma durante a caminhada
desse último ano.
Agradeço à Antonielle, Camila, Emili, Gabriel, Júlia, Luiza, Mariana e Violetta, por
me ouvirem e torcerem por mim sempre.
Agradeço à equipe da Coordenaria de Comunicação Social do IFSul, por todos os
ensinamentos de profissão e de vida.
Agradeço às minhas entrevistadas, pela colaboração e interesse em participar do
meu trabalho.
Obrigada!
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quero pedir desculpas a todas as mulheres
que descrevi como bonitas
antes de dizer inteligentes ou corajosas
fico triste por ter falado como se
algo tão simples como aquilo que nasceu com você
fosse seu maior orgulho quando seu
espírito já despedaçou montanhas
de agora em diante vou dizer coisas como
você é forte ou você é incrível
não porque eu não te ache bonita
mas porque você é muito mais do que isso.
(Rupi Kaur)
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Resumo
DIAS, Mariana Argoud. O padrão de aparência na construção do estereótipo da
telejornalista brasileira: um estudo de recepção sobre o perfil das jornalistas
da Globo. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Jornalismo).
Centro de Letras e Comunicação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018.
Este trabalho aborda sobre a formação do estereótipo da telejornalista brasileira, a
partir da análise do padrão de aparência das telejornalistas dos três jornais de maior
audiência da Rede Globo – Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional. Buscou-
se constatar a existência ou não de um padrão de aparência das telejornalistas e, se
esse padrão existisse de fato, se ele formaria um estereótipo. Após uma análise
documental sobre as características das telejornalistas que apareceram nos jornais
dos dias 11 a 15 de dezembro de 2017, procurou-se descobrir as percepções de
doze mulheres jornalistas em relação a esse estereótipo. Para contextualizar os
padrões exigidos às mulheres na sociedade, foram utilizados os apontamentos de
Douglas Kellner (2001) e John Thompson (2011), abordando ideologia, e Simone de
Beauvoir (1967), Pierre Bourdieu (2002), Judith Butler (2003) e Naomi Wolf (1992),
tratando de questões de gênero. Para falar de estereótipo, foi utilizado o conceito de
Roland Barthes (2001). Para trazer considerações sobre telejornalismo, foram
utilizados Rezende (2000), Porcello (2008), Maia (2011), Scott (2013) e Contato
(2014). Para realizar o estudo de recepção, foi utilizado o modelo das
multimediações de Guillermo Orozco Gómez (2000). Como resultado, foi obtida a
existência de um padrão de aparência e a formação de um estereótipo da
telejornalista brasileira nos telejornais analisados, além da insatisfação das
jornalistas e estudantes de jornalismo entrevistadas em relação a este estereótipo.
Palavras-chave: telejornalista; estereótipo; recepção; Rede Globo; mulher.
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Abstract
DIAS, Mariana Argoud. The appearance pattern on the formation of the female
TV journalists stereotype: a reception study about the profile of Globo's
journalists. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Jornalismo).
Centro de Letras e Comunicação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018.
This work addresses on the formation of the female Brazilian journalist stereotype,
based on the journalists’ appearance pattern analysis of Rede Globo’s three highest
TV news in number of viewers – Bom Dia Brasil, Jornal Hoje and Jornal Nacional. It
was sought to verify the existence or non-existence of this appearance pattern
among the female TV journalists and, if such pattern existed, if it would form a
stereotype. After a documentary analysis about the reporters who appeared on the
mentioned TV news from December 11th, 2017 to December 15th, 2017, it was
sought to find out the perception of twelve female journalists regarding this pattern. In
order to contextualize the required female patterns in society, the studies from
Douglas Kellner (2001) and John Thompson (2011), concerning ideology, and
Simone de Beauvoir (1967), Pierre Bourdieu (2002), Judith Butler (2003) and Naomi
Wolf (1992), when it comes to gender matter, were used. To talk about stereotypes,
the Roland Barthes’s (2001) concept was utilized. To bring considerations regarding
telejournalism, Rezende (2000), Porcello (2008), Maia (2011), Scott (2013) and
Contato (2014) were observed. In order to perform the reception study, the
multimedia model of Guillermo Orozco Gómez (2000) was used. As a result, the
existence of an appearance and presentation pattern and the formation of a female
telejournalist stereotype on the analyzed TV news were gotten, as well as the
dissatisfaction of newswomen and interviewed students of journalism in relation to
such stereotype.
Key-words: telejournalist; stereotype; reception; Rede Globo; women
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Lista de Figuras
Figura 1 - Captura de imagem da apresentadora Ana Paula Araújo - p. 31
Figura 2 - Captura de imagem da apresentadora Giuliana Monrone - p. 31
Figura 3 - Captura de imagem de Heloísa Torres - p. 31
Figura 4 - Captura de imagem de Patrícia Bringel - p. 32
Figura 5 - Captura de imagem de Kátia Petersen - p. 32
Figura 6 - Captura de imagem de Geíza Duarte - p. 32
Figura 7 - Captura de imagem de Fernanda Vieira - p. 32
Figura 8 - Captura de imagem de Tatiana Nascimento - p. 33
Figura 9 - Captura de imagem de Sandra Coutinho - p. 33
Figura 10 - Captura de imagem de Cláudia Gaigher - p. 33
Figura 11 - Captura de imagem de Cristiane Dias - p. 33
Figura 12 - Captura de imagem de Isabela Leite - p. 34
Figura 13 - Captura de imagem de Aline Oliveira - p. 34
Figura 14 - Captura de imagem de Veruska Donato - p. 34
Figura 15 - Captura de imagem de Viviane Possato - p. 34
Figura 16 - Captura de imagem de Mônica Teixeira - p. 35
Figura 17 - Captura de imagem de Ana Tereza - p. 35
Figura 18 - Captura de imagem de Andréa Silva - p. 35
Figura 19 - Captura de imagem de Carolina Cimenti - p. 35
Figura 20 - Captura de imagem de Patrícia Porciúncula - p. 36
Figura 21 - Captura de imagem de Roberta Mércio - p. 36
Figura 22 - Captura de imagem de Gleyce Santos - p. 36
Figura 23 - Captura de imagem de Natália Ariede - p. 36
Figura 24 - Captura de imagem de Thaíse Cavalcante - p. 37
Figura 25 - Captura de imagem da apresentadora Sandra Annenberg - p. 37
Figura 26 - Captura de imagem de Ana Zimmerman - p. 37
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Figura 27 - Captura de imagem de Andréia Sadi - p. 37
Figura 28 - Captura de imagem de Cecilia Malan - p. 38
Figura 29 - Captura de imagem de Flávia Alvarenga - p. 38
Figura 30 - Captura de imagem de Renata Capucci - p. 38
Figura 31 - Captura de imagem de Wanessa Andrade - p. 38
Figura 32 - Captura de imagem de Iana Coimbra - p. 39
Figura 33 - Captura de imagem de Bruna Bachega - p. 39
Figura 34 - Captura de imagem de Camila Bomfim - p. 39
Figura 35 - Captura de imagem de jornalista - p. 39
Figura 36 - Captura de imagem de Larissa Carvalho - p. 40
Figura 37 - Captura de imagem de Marina Franceschini - p. 40
Figura 38 - Captura de imagem de Karine Garcia - p. 40
Figura 39 - Captura de imagem da apresentadora Renata Vasconcellos - p. 41
Figura 40 - Captura de imagem de Alice Bastos Neves - p. 41
Figura 41 - Captura de imagem de Delis Ortiz – p. 41
Figura 42 - Captura de imagem de Graziela Azevedo – p. 42
Figura 43 - Captura de imagem de Neide Duarte – p. 42
Figura 44 - Captura de imagem de Malu Mazza – p. 42
Figura 45 - Captura de imagem de Patrícia Nobre – p. 42
Figura 46 - Captura de imagem de Daniela Branches – p. 43
Figura 47 - Captura de imagem de Zileide Silva – p. 43
Figura 48 - Captura de imagem de Monica Sanches – p. 43
Figura 49 - Captura de imagem de Elaine Bast – p. 44
Figura 50 - Captura de imagem de Lília Teles – p. 44
Figura 51 - Captura de imagem de Flávia Jannuzzi – p. 44
Figura 52 - Captura de imagem de Cláudia Bomtempo – p. 44
Figura 53 - Captura de imagem de Renata Ribeiro – p. 45
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Figura 54 - Captura de imagem de Liliana Junger – p. 45
Figura 55 - Captura de imagem de Isabela Scalabrini – p. 45
Figura 56 - Captura de imagem de Marisol Santos – p. 46
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Sumário
1. Introdução .....................................................................................................12
2. A mulher, a sociedade e os padrões ..........................................................14
2.1. Ideologia .............................................................................................14
2.2. Opressão e papéis de gênero ...........................................................16
3. Estereótipo ....................................................................................................21
3.1. As mitologias de Barthes ..................................................................21
4. A TV e o Telejornalismo ...............................................................................24
4.1. Rede Globo .........................................................................................26
4.1.1. Bom Dia Brasil ..............................................................................27
4.1.2. Jornal Hoje ....................................................................................27
4.1.3. Jornal Nacional .............................................................................28
4.2. A mulher na televisão brasileira – breve histórico .........................28
5. As telejornalistas ..........................................................................................30
5.1. As telejornalistas do Bom Dia Brasil ...............................................31
5.2. As telejornalistas do Jornal Hoje .....................................................37
5.3. As telejornalistas do Jornal Nacional ..............................................41
5.4. Análise da composição da aparência das telejornalistas da
Globo....................................................................................................46
5.5. O padrão de aparência na construção do estereótipo de
telejornalista .......................................................................................47
6. Estudos de recepção ....................................................................................50
6.1. As multimediações de Orozco-Gomez ............................................50
6.2. As entrevistadas ................................................................................52
6.3. O estudo .............................................................................................55
6.4. Análises ..............................................................................................56
6.4.1. Das mediações .............................................................................63
6.4.2. Reflexões sobre a mulher na televisão ......................................64
7. Considerações finais ....................................................................................67
8. Referências ...................................................................................................69
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1. Introdução
A presente pesquisa aborda a criação do estereótipo das telejornalistas
brasileiras a partir de um padrão de aparência. Os objetos de pesquisa foram os três
telejornais com maior audiência da Rede Globo – Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e
Jornal Nacional. Buscamos responder os questionamentos: existe um padrão de
aparência das telejornalistas desses telejornais? Se sim, ele forma um estereótipo?
Após responder essas questões, partimos para uma terceira pergunta: como as
mulheres jornalistas e estudantes de jornalismo se sentem em relação a esse
estereótipo? Para responder essa questão, foi realizado um estudo de recepção com
um grupo de doze mulheres.
Para fundamentar o estereótipo da telejornalista, primeiramente buscamos
abordar sobre a mulher, a sociedade e os padrões exigidos a ela. Abordamos
conceitos de ideologia, com apontamentos de Marilena Chauí (1986), Douglas
Kellner (2001) e John Thompson (2011); e questões de gênero, com reflexões de
Simone de Beauvoir (1967), Pierre Bourdieu (2002), Judith Butler (2003) e Naomi
Wolf (1992).
Na sequência, entrando mais a fundo no tema da pesquisa, trouxemos o
conceito de estereótipo, abordando os mitos de Roland Barthes (2001), com
apontamentos de Roberto Ramos (2001).
Com considerações de Rezende (2000), Porcello (2008), Maia (2011), Scott
(2013) e Contato (2014), foi abordado um breve histórico da televisão brasileira,
desde seu início até os dias atuais. Após, trouxemos um histórico da Rede Globo de
televisão, falando dos principais programas e dos três telejornais analisados – Bom
Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional. Foi abordada brevemente, também, a
história das mulheres na televisão brasileira.
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Para constatar a existência ou não de um padrão de aparência, foi realizada
uma análise documental, analisando as edições dos telejornais durante cinco dias –
de 11 a 15 de dezembro de 2017 –, apresentando uma captura de tela com a
imagem de cada uma das telejornalistas participantes dos jornais nesses dias. Após
a análise, foram elaborados os dados das características de cada uma das
telejornalistas – cor da pele, tamanho e forma do cabelo e composição corporal –
observando se existia um padrão entre as jornalistas apresentadas.
Com os dados em mãos, partimos para o estudo de recepção, com doze
mulheres, quatro jornalistas formadas e oito estudantes de jornalismo, entre 19 e 26
anos, buscando entender qual a visão delas sobre o padrão constatado na pesquisa
anterior. Para analisar suas respostas, utilizamos o modelo de multimediações de
Guillermo Orozco Gómez (2000).
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2. A mulher, a sociedade e os padrões
Para tratar do assunto do estereótipo da telejornalista brasileira, é preciso,
primeiramente, compreender o que é ideologia e como ela influencia a sociedade e
as representações sociais. Além disso, precisamos observar os papéis e os
estereótipos designados às mulheres dentro da sociedade. Neste capítulo,
utilizaremos os apontamentos de Marilena Chauí (1986), Douglas Kellner (2001) e
John Thompson (2011) para tratar de ideologia, e Simone de Beauvoir (1967), Pierre
Bourdieu (2002), Judith Butler (2003) e Naomi Wolf (1992) para abordar questões de
gênero.
2.1. Ideologia
Antes de tratar de questões relacionadas ao gênero, se faz necessário
entender sobre ideologia, por compreender que os papéis designados para homens
e mulheres são frutos de opressão – o machismo, que trataremos a seguir – em que
a ideologia tem papel fundamental para que esse sistema de poder siga
funcionando. Para compreender as questões sobre ideologia, serão utilizados os
apontamentos de Douglas Kellner (2001) e John B. Thompson (2011).
Primeiramente, para conceituar ideologia, utilizamos a definição feita por
Marilena Chauí, no seu livro O Que É Ideologia (1986).
os homens produzem ideias ou representações pelas quais procuram explicar e compreender sua própria vida individual, social e suas relações com a natureza e com o sobrenatural. Essas ideias ou representações, no entanto, tenderão a esconder dos homens o modo real como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Esse ocultamento da realidade social chama-se ideologia (CHAUÍ, 1986, p. 21).
Para falar sobre esse assunto, Kellner utiliza a definição de autores que
trazem a tona questões de exploração econômica e dominação política, como na
definição de Chauí - Marx e Engels (s.d.), tratavam a ideologia como “as ideias da
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classe dominante que obtêm predominância em determinada era histórica”
(KELLNER, 2001, p. 77). Esse conceito foi usado pelos autores com o intuito de
criticar as ideias que levaram a classe dominante a ser hegemônica. Kellner (2011)
também cita que Lukács, Korsch, Bloch e Gramsci (s.d.) mostravam que a crítica
ideológica era importante para a crítica da dominação. O autor afirma que esses
conceitos sobre ideologia a resumiriam como “defesa de interesses de classe; por
isso, é predominantemente economicista, e nele a ideologia se refere sobretudo [...]
às ideias que legitimam a dominação de classe da classe dominante capitalista.”
(KELLNER, 2001, p. 78)
Esse modelo teria sido desaprovado por vários críticos que acreditavam se
tratar de um conceito reducionista, porque, para eles, a dominação da classe
hegemônica ia além disso - englobava, também, questões de opressão de gênero,
de sexualidade e de raça. Outros críticos, ainda, propuseram que o conceito de
ideologia abrangesse “teorias, ideias, textos e representações que legitimem
interesses de forças dominantes em termos de sexo e raça, bem como de classe.
Dessa perspectiva, fazer crítica da ideologia implica em criticar ideologias sexistas,
heterossexistas e racistas” (KELLNER, 2001, p. 79).
Tendo isso em vista, o autor afirma que criticar as ideologias dominantes
exige entender que não somente a dominação se restringe a classe, sexo e raça no
cotidiano, mas que também se utiliza da cultura da mídia e, portanto, para essa
crítica, é necessário “analisar imagens, símbolos, mitos e narrativas” (KELLNER,
2001, p. 81). Essa análise é importante porque essas imagens e narrativas são a
representação que os indivíduos têm de si mesmos e do mundo. Essas
representações vão ajudar os cidadãos a construírem sua visão de mundo, a
entender questões de identidade e gênero, a buscar ideias de vida, além de
desenvolver pensamentos e ações em relação à sociedade. Essas representações,
então, “transcodificam os discursos políticos e, por sua vez, mobilizam sentimentos,
afeições, percepções e o assentimento a determinadas posições políticas, tal como
a necessidade de os guerreiros masculinos protegerem e redimirem a sociedade”
(KELLNER, 2001, p. 83)
Quando as pessoas aprendem a perceber o modo como a cultura da mídia transmite representações opressivas de classe, raça, sexo, sexualidade, etc. capazes de influenciar pensamentos e comportamentos, são capazes
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de manter uma distância crítica em relação às obras da cultura da mídia e assim adquirir poder sobre a cultura que vivem. (KELLNER, 2001, p. 83)
Já Thompson, em seu livro Ideologia e Cultura Moderna (2011), aborda
diretamente as questões da ideologia dentro da mídia de massa. Ele traz um
histórico dos conceitos de ideologia, tratados por outros pensadores, dividindo em
duas concepções: a primeira, uma concepção “neutra”, trazendo a ideologia como
correntes de pensamento, sistemas de crenças; a segunda é a ideia de abandonar o
conceito de ideologia, por esse ser muito ambíguo. Tendo isso em vista, ele traz a
sua própria posição sobre a ideologia: para ele, não se deve abandonar o conceito,
porque esse é útil para análises sociais e políticas, e também não se deve utilizar ele
como um conceito neutro, mas sim, pensar em uma concepção crítica de ideologia.
(THOMPSON, 2011, p. 15)
Thompson traz esse conceito crítico de ideologia, considerando que ela pode
ser usada para mostrar como alguns sentidos são criados para a manutenção de
sistemas de poder – que ele denomina “relações de dominação”.
Ideologia, falando de uma maneira mais ampla, é sentido a serviço do poder. Consequentemente, o estudo da ideologia exige que investiguemos as maneiras como o sentido é construído e usado pelas formas simbólicas de vários tipos, desde as falas linguísticas cotidianas até às imagens e aos textos complexos (THOMPSON, 2011, p. 16)
Ao tratar de questões sobre ideologia e mídia, Thompson (2011) afirma que
as ações nas mídias de massa têm uma visibilidade que anteriormente não era
possível, ou seja, “a ação (e as pessoas que a praticam) adquirem um novo tipo de
visiblidade” (THOMPSON, 2011, p. 27). Por esse fato, é importante refletir sobre
qual a ideologia que a mídia de massa passa à sociedade e a quais sistemas e
opressões ela reforça. Uma das opressões reforçadas por essa mídia é a opressão
de gênero – o machismo.
2.2. Opressão e papéis de gênero
A sociedade em que vivemos é patriarcal. Isso quer dizer que os papéis
destinados às mulheres e as “obrigações sociais” a elas impostas partem de um
sistema de opressão, no qual os homens determinam o que deve ou não ser feito.
Para os apontamentos sobre a opressão sofrida pelas mulheres e os papéis de
gêneros designados a partir dessa, utilizaremos os apontamentos de Pierre
Bourdieu (2002), em seu livro Dominação Masculina, de Simone de Beauvoir (1967),
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nas duas edições do livro O Segundo Sexo, de Judith Butler (2003), no livro
Problemas de gênero e de Naomi Wolf (1992), no livro Mito da Beleza.
Os métodos de dominação masculina são muito sutis – muitas vezes
imperceptíveis aos olhos. Bourdieu (2002) denomina essa dominação como uma
violência simbólica. “Violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas,
que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e
do conhecimento”. (BOURDIEU, 2002, p. 5) A dominação e a violência simbólica
implicam em uma série de imposições, como a feminilidade, que trataremos a seguir.
Uma das justificativas de algumas imposições para as mulheres é a questão
biológica, buscando afirmar que os homens deveriam ser mais brutos e trabalhar
fora por serem mais fortes, e as mulheres deveriam cuidar da casa e dos filhos por
serem mais frágeis. Essa relação está tão afirmada na sociedade que é considerada
a ordem natural das coisas.
A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do trabalho. (O corpo e seus movimentos, matrizes universais que estão submetidos a um trabalho de construção social, não são nem completamente determinados em sua significação, sobretudo sexual, nem totalmente indeterminados, de modo que o simbolismo que lhes é atribuído é, ao mesmo tempo, convencional e “motivado” e assim percebido como quase natural). (BOURDIEU, 2002, p. 18)
Apesar de compreender que a diferença biológica é apenas biológica e que
as imposições às mulheres e aos homens são sociais, Bourdieu (2002) aborda
questões importantes sobre outras formas em que a divisão biológica é usada como
opressão: o órgão sexual masculino simbolicamente representaria a vida, a
virilidade, coisas positivas. Por outro lado, o órgão sexual feminino seria o inverso.
A representação da vagina como falo invertido, que Marie Christine Pouchelle descobriu nos escritos de um cirurgião da Idade Média, obedece às mesmas oposições fundamentais dentre o positivo e o negativo, o direito e o avesso, que se impõem a partir do momento em que o princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas. (BOURDIEU, 2002, p. 21)
Beauvoir (1967), na mesma perspectiva, afirma que “quanto ao papel
respectivo dos dois sexos, trata-se de um ponto acerca do qual as opiniões variaram
muito. Foram, a princípio, desprovidas de fundamento científico, refletiam
unicamente mitos sociais.” (BEAUVOIR, 1967, p. 29).
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O entendimento de que mulher e homem são opostos, no qual a mulher é o
lado negativo, traz a tona uma tentativa de justificativa sobre as imposições sociais.
Se o homem é a razão, a mulher é a sensibilidade. Se o homem é ativo, a mulher é
passiva. Se o homem deve trabalhar fora de casa, a mulher deve trabalhar dentro.
(BOURDIEU, 2002, p. 22).
Para explicar como as opressões e os papéis de gênero são formados,
Beauvoir cita como Engels (s.d.) retratou a história da mulher em A Origem da
Família. Ele traz uma linha do tempo, mostrando como na Idade da Pedra, a divisão
dos trabalhos entre os dois sexos constituía já duas classes, havendo entre elas
igualdade. Enquanto o homem saía para caçar e pescar, a mulher ficava no lar,
cuidando do jardim, produzindo utensílios de cerâmica. Após isso, com a descoberta
dos metais, a agricultura exigiu um trabalho maior de desbravamento de florestas,
para tornar outros campos também produtivos. Nesse momento, os homens
necessitaram usar de outros homens em função do serviço, começando a
escravidão. “A propriedade privada aparece: senhor dos escravos e da terra, o
homem torna-se também proprietário da mulher. Nisso consiste ‘a grande derrota
histórica do sexo feminino’.” (BEAUVOIR, 1967, p. 74)
Apesar da citação dessa explicação da história da mulher, Beauvoir critica a
simplificação da opressão da mulher, resumida apenas a questão da propriedade
privada.
É impossível reduzir a opressão da mulher da propriedade privada. [...] Ele compreendeu muito bem que a fraqueza muscular da mulher só se tornou uma inferioridade concreta na sua relação com a ferramenta de bronze e de ferro, mas não viu que os limites de sua capacidade de trabalho não constituíam em si mesmos uma desvantagem concreta senão dentro de dada perspectiva. (BEAUVOIR, 1967, p. 77).
A autora não chega a uma conclusão específica sobre como esses papéis
foram impostos, porém, ressalta que é de extrema importância entender como essa
opressão reprime as mulheres e como combatê-la.
A felicidade da mulher, devido a esse papel, é baseada na vida familiar. O
casamento e a maternidade não são escolhas - são imposições. “O destino que a
sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento. Em sua maioria, ainda
hoje, as mulheres são casadas, ou o foram, ou se preparam para sê-lo, ou sofrem
por não o ser.” (BEAUVOIR, 1967, p. 165). Uma mulher que não deseja casar ou ter
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filhos é vista com maus olhos pela sociedade, mesmo que trabalhe e seja bem
sucedida - ela é considerada um ser incompleto.
Como afirmado por Beauvoir (1967, p. 9), “Ninguém nasce mulher: torna-se
mulher”. A autora trata, nessa frase, sobre um dos mecanismos importantes da
opressão às mulheres, a feminilidade – citada anteriormente –, que é imposta desde
o nascimento. Essa feminilidade incluiria, entre outros aspectos já citados, o cuidado
com a aparência. Bordieu (2002) e Beauvoir (1967) abordam a mesma perspectiva
sobre as imposições da aparência. “As costas a serem mantidas retas, com as
pernas que não devem ser afastadas etc. e tantas outras posturas que estão
carregadas de uma significação moral [...] Como se a feminilidade se medisse pela
arte de ‘se fazer pequena’”. (BOURDIEU, 2002, p. 37)
Pede-se ao corpo feminino que seja carne, mas discretamente; deve ser esbelto e não empapado de banha; com músculos, flexível e robusto é preciso que indique a transcendência; preferem-no, não branco como uma planta de estufa, mas tendo enfrentado o sol universal, tostado como um torso de trabalhador. Tornando-se prático, o vestido da mulher não a fez parecer assexuada: ao contrário, as saias curtas valorizaram mais do que outrora as pernas e as coxas (BEAUVOIR, 1967, p. 308)
A feminilidade também traz a ideia de que a mulher seria inferior
intelectualmente em relação ao homem; tanto para manter a estrutura de família: o
homem trabalha para manter a casa enquanto a mulher cuida do lar e dos filhos;
quanto pelo fato de que “o papel desse ser puramente afetivo é o de esposa e dona
de casa; ela não poderia entrar em concorrência com o homem” (BEAUVOIR, 1967,
p. 145). Como consequência disso, muitas vezes as mulheres são vistas como
apenas objetos, enfeites, incapazes de serem grandes profissionais.
As associações culturais entre mente e masculinidade, por um lado, e corpo e feminilidade, por outro, são bem documentadas nos campos da filosofia e do feminismo. Resulta que qualquer reprodução acrítica da distinção corpo/mente deve ser repensada em termos da hierarquia de gênero (BUTLER, 2003, p. 32)
Hoje em dia, tendo em vista a evolução dos movimentos feministas, as
mulheres têm mais liberdade para estudar, entrar no mercado de trabalho,
quebrando parte dessa imagem de “objeto”. Porém, elas não devem negar o que é
esperado delas. A sociedade espera, “pelo menos, que ela seja também uma
mulher, que não perca sua feminilidade”. (BEAUVOIR, 1967, p. 23)
20
Uma importante leitura sobre a feminilidade exigida para as mulheres, feita
tendo em vista a modificação das opressões nos dias atuais, é o livro O Mito da
Beleza, de Naomi Wolf (1992). Nele, a autora aborda como as imagens de beleza
são usadas contra as mulheres, e como esse novo tipo de opressão é usado
partindo do principio de que, agora, as mulheres são livres em relação a diversas
outras questões de opressão, como as tratadas por Beauvoir (1967) e Bourdieu
(2002).
Um maior número de mulheres dispõe de mais dinheiro, poder, maior campo de ação e reconhecimento legal do que antes. No entanto, em termos de como nos sentimos do ponto de vista físico, podemos realmente estar em pior situação do que nossas avós não liberadas. (WOLF, 1992, p. 12)
A autora considera que, apesar do feminismo ter libertado a mulher de muitas
amarras, a necessidade de ser bela e a feminilidade ainda as prendem. Wolf (1992)
denomina a busca pela beleza de “mito da beleza”. Mesmo livre das opressões
“tradicionais”, o mito da beleza é uma violência simbólica, que não tem a ver com
evolução, sexo, gênero ou estética: “ele diz respeito às instituições masculinas e ao
poder institucional dos homens” (WOLF, 1992, p. 17). As citadas instituições
masculinas têm poder de influenciar como as mulheres se enxergam, de acordo com
esse mito de beleza, utilizando-se da ampla divulgação de imagens de mulheres
consideradas belas, fazendo com que a opressão se encontre, também, nas
representações1 que elas têm de si mesmas na mídia.
Entender sobre o papel da mulher na sociedade e como funciona essa
opressão é de extrema importância para o assunto tratado a seguir. É impossível
separar o que é exigido de uma mulher no telejornalismo do que é exigido de uma
mulher na sociedade – há modificações no que é pedido delas, mas o sistema de
opressão segue basicamente o mesmo.
1 Como abordado no capítulo 2.1.
21
3. Estereótipo
Para compreender se o padrão de aparência constrói o estereótipo da
telejornalista brasileira, utilizaremos o conceito de estereótipo – mito –, de Roland
Barthes (2001).
3.1. As mitologias de Barthes
No livro Mitologias, Barthes (2001), traz diversos estereótipos conhecidos ao
redor do mundo, que ele denomina de “mitos”. Esses mitos são construções da
sociedade, um resumo de determinado grupo ou objeto, uma criação de sentido.
Os estereótipos agem, portanto, como uma espécie de barreira ao tentar tolher avanços na sociedade. Recheando o cotidiano com clichês datados, reduzem todas as características de um objeto a uma coisa só, repelindo tudo aquilo que é diferente (BARTHES, 1993 apud CRUZ, GARCIA e RAMOS, 2016, p. 768).
Barthes afirma que “o mito é uma fala despolitizada” (BARTHES, 2001, p.
162). Esse mito - estereótipo - é a reprodução de um conceito já criado por outra
pessoa, uma simplificação. Isso faz com que a população não pense criticamente
sobre aquele objeto, grupo ou pessoa, e ignore a complexidade do todo. “Organiza
um mundo sem contradições, porque sem profundeza, um mundo plano que se
ostenta em sua evidência, cria uma clareza feliz: as coisas parecem significar
sozinhas, por elas próprias. (BARTHES, 2001, p. 162-163)
Os estereótipos, por serem reproduções de um conceito previamente criado,
são rasos de conteúdo e partem do senso comum, como afirmado por Roberto
Ramos (2001)
Na prospecção de uma ficcional árvore genealógica do estereótipo, podem ser encontradas as raízes no senso comum. Este aparece translúcido, envolto na maximização das águas do empirismo, que lhe mata a sede e lhe embriaga, como aguardente, que borra a visibilidade do real. (RAMOS, 2001, p. 121)
22
É uma construção de sentido, que “prefere trabalhar com imagens pobres,
incompletas, onde o sentido está já diminuído, disponível para uma significação”.
(BARTHES, 2001, p. 148). Essa é feita, mantida e reproduzida pela sociedade,
muitas vezes por questões ideológicas. A reprodução é feita, também, nas mídias de
massa, como forma de simplificação das informações.
O que observamos [na mídia de massa] é uma substituição do discurso noticioso por uma espécie de discurso publicitário, que tem a pretensão de homogeneizar identidades, é estereotipado e mercadológico, a-histórico e sem aprofundamento. Por isso, é desprovido de elementos que levem os receptores à reflexão. (CRUZ e RAMOS, 2015 p. 107)
Apesar da afirmação de que o estereótipo é uma fala despolitizada, o autor
busca especificar como funcionam os mitos dentro da esquerda e da direita2.
Para Barthes, “estatisticamente, o mito localiza-se na direita. Aí, ele é
essencial.” (BARTHES, 2001, p. 168). Diferentemente da esquerda, a direita
necessitaria dos estereótipos, utilizando-os como estratégia de poder. Por outro
lado, “o mito da esquerda é inessencial.” (BARTHES, 2001, p. 167), já que a
linguagem da esquerda, além de ser politizada, também seria revolucionária.
Eis a razão porque a linguagem propriamente revolucionária não pode ser uma linguagem mítica. A revolução define-se como um ato catártico, destinado a revelar a carga política do mundo: ela faz o mundo, e a sua linguagem, é absorvida funcionalmente nesse “fazer”. É por produzir uma fala plenamente, isto é, inicialmente e finalmente política, e não, como o mito, uma fala inicialmente política e finalmente natural, que a revolução exclui o mito. (BARTHES, 2001, p. 166)
Barthes considera, também, que o mito está dentro da direita exatamente
porque, naquela época - e ainda nos dias de hoje - essa é a posição política
hegemônica3, a posição de quem tem poder. Dentro dessa estrutura, a direita seria
“o opressor”. Considerando isso, ele afirma que “o oprimido não é coisa nenhuma,
possui apenas uma fala, a de sua emancipação, o opressor é tudo, a sua fala é rica,
multiforme, maleável, dispõe de todos os graus possíveis de dignidade.” (BARTHES,
2001, p. 196).
É importante compreender que “a mulher é exclusivamente definida em
relação ao homem.” (BEAUVOIR, 1967, p. 183), ou seja, os estereótipos e papéis
2 Entende-se, aqui, direita como um conjunto de pensamentos neoliberais em relação a economia e conservadores em relação a questões sociais; e esquerda como pensamentos socialistas/comunistas em relação a economia e progressista em relação a questões sociais. 3 Considerando o conceito gramsciano de hegêmonia cultural, que trata do domínio cultural-ideológico de uma determinada classe sobre as outras (SCHLESENER, 2017).
23
impostos às mulheres são feitos a partir da visão de homens, o opressor
considerando a estrutura da sociedade patriarcal em que vivemos.
24
4. Telejornalismo no Brasil
Para compreender a estrutura em que se insere a telejornalista brasileira, é
necessário fazer um breve histórico de como surgiu a televisão e o telejornalismo no
Brasil. Para isso, serão usados os apontamentos de Rezende (2000), Porcello
(2008), Maia (2011), Scott (2013) e Contato (2014).
A televisão é o meio de comunicação mais utilizado pelos brasileiros.
Segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (PBM 2015), divulgada pela
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), 95% dos
brasileiros assistem TV regularmente, enquanto 74% dizem assistir todos os dias.
Esses dados mostram como o telejornalismo é importante para a população - para
grande parte, é a principal forma de se informar sobre as notícias do país e do
mundo.
No Brasil, a televisão surge em 18 de setembro de 1950, com a TV Tupi,
fundada por Assis Chateaubriand. Dois dias depois, no dia 20, nascia o
telejornalismo brasileiro com o lançamento do primeiro jornal da TV Tupi, o Imagens
do Dia. A partir daí, a emissora traz mais dois telejornais: o Telenotícias Panair e o
Repórter Esso, sendo o último parte da programação da Tupi por muitos anos.
Nos primeiros anos da TV no Brasil, a programação era baseada
principalmente na fala, com poucas imagens. Nos anos 60, o telejornalismo
brasileiro avançava, principalmente, porque “entrava numa fase de grande
criatividade e expansão intelectual” (BARBOSA LIMA apud REZENDE, 2000, p.
107). Esse avanço foi demonstrado com a conquista do prêmio Ondas de melhor
telejornal do mundo para um telejornal brasileiro (Jornal de Vanguarda, da TV
Excelsior). Essa década também foi marcada pela intensa censura, devido ao
regime militar vigente, e pelo fato de que, nesse momento, o telejornalismo brasileiro
assume “de vez o modelo norte-americano como inspiração” (REZENDE, 2000, p.
25
108). Em 69 surge o Jornal Nacional, ainda hoje no ar, o primeiro jornal exibido em
rede nacional no Brasil.
Nos anos 70, a televisão brasileira “caracterizou-se mesmo pelo
desenvolvimento técnico. Quem mais se aproveitou disso foi a Rede Globo, com o
aperfeiçoamento da qualidade de suas produções traduzido pela expressão ‘padrão
global’.” (REZENDE, 2000, p. 112) Nessa década, surgem programas de
reportagem, como o Globo Repórter e de jornalismo especializado, como o Globo
Rural.
Nos anos 80, a Rede Globo ganhava novos concorrentes: o Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT) e a Rede Manchete. Na mesma década, a TV Tupi
teve sua concessão cassada. Ainda nos anos 80, surge o problema da autocensura,
consequência dos anos de Ditadura Militar. Nesse cenário, os jornalistas tiveram que
aprender a tratar de assuntos mais controversos.
Nos anos 90, o telejornalismo passa por uma crise: jornais com os conteúdos
e formatos muito semelhantes, recebendo críticas da população. “As TVs abertas,
de modo geral, apresentavam telejornais diários, mas sem profundidade, blocando
editorias de modo superficial e adotando o famoso ‘happyending’” (CONTATO, 2014,
p. 9) Essas críticas exigiram uma busca pela audiência, fazendo com que muitos
telejornais apelassem para o sensacionalismo e o entretenimento.
Os anos 2000 são marcados pela vinda da Internet para o Brasil, fazendo
com que, mesmo que a televisão ainda fosse o meio de comunicação hegemônico,
as pessoas pudessem também buscar por outras fontes de informação. Em 2000
surge o primeiro portal de televisão brasileiro, o globo.com. Nessa década surgem
programas como o Profissão Repórter (2008), da Rede Globo e o híbrido de
informação e entretenimento, CQC (2008), da Rede Bandeirantes.
Nos anos 2010, o telejornalismo buscou maior proximidade com o
telespectador, se baseando na interatividade – com a utilização das redes sociais - e
modificando sua linguagem, trocando a bancada pela apresentação de pé. A Rede
Globo
tem sido uma das pioneiras em se aventurar pela busca de uma nova linguagem, uma nova forma de dar as notícias envolvendo e conclamando o telespectador [...]. É possível observar nos telejornais da emissora, inclusive
26
no JN, a aposta no jornalismo mais coloquial, informal, produzido quase que em parceria com o público (que envia imagens, sugestões de pautas, etc.) (MAIA, 2011, p. 9)
Para essa pesquisa, a escolha de focar na Rede Globo foi, principalmente,
por essa ser a emissora com maior audiência em nosso país, tendo maior contato e
influência sobre a população.
4.1. Rede Globo
Adentrando no objeto de estudo da pesquisa, trazemos um breve histórico da
Rede Globo. Após 15 anos da chegada da televisão no Brasil, em 1965, surge a TV
Globo, canal 4 do Rio de Janeiro, devido a um acordo de cooperação técnica e
financeira com o grupo americano Time-Life – desrespeitando a legislação brasileira.
O acordo fora assinado em 1962, mas, depois do golpe militar de 1964, apesar dos resultados de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que comprovou a irregularidade na medida, nada foi feito para evitá-lo. Em 1968, o General Costa e Silva encerrou o caso, apesar da evidência de operação ilícita. Aí começava uma relação muito próxima entre a Rede Globo e o poder militar. (PORCELLO, 2008, p. 53)
Após o encerramento do processo, a Globo tinha a concessão de TV em três
estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Nos anos seguintes, se instalou
em Brasília e Recife. No ano de 1986, o número de afiliadas chegava a 36. Em
1975, a TV Globo consolida o conceito de rede, exibindo sua programação
simultaneamente para todo Brasil.
A emissora foi também a pioneira na transmissão a cores. Depois de dois
anos de experimentação, em 1972, foi feito o primeiro teste oficial de transmissão ao
vivo em cores, transmitindo a abertura da Festa da Uva, em Caxias do Sul, Rio
Grande do Sul.
Em relação ao jornalismo na programação, podem ser destacados o Jornal da
Globo (1967), Jornal Nacional (1969), Jornal Hoje (1971), Globo Repórter (1973),
Fantástico (1973) e Profissão Repórter (2008). Todos estão no ar até hoje.
A TV Globo foi a que mais se desenvolveu tecnicamente ao passar dos anos,
sendo até hoje modelo para as demais emissoras. Hoje a Globo possui cinco
27
emissoras próprias e 119 afiliadas no Brasil, chegando a grande parte dos
municípios brasileiros4”.
Nessa pesquisa, analisaremos as telejornalistas dos três telejornais com
maior audiência da emissora – Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional (níveis
de audiência de 12, 15.1 e 32.8 pontos, respectivamente)5.
4.1.1. Bom Dia Brasil
O Bom Dia Brasil estreou no dia 3 de janeiro de 1983. Com duração de 30
minutos, o jornal era apresentado de Brasília pelo jornalista Carlos Monforte, e tinha
o foco em notícias sobre política e economia. Em 1996, passa a ter uma hora de
duração e tratar de assuntos mais diversos, como moda, culinária e cultura, e a ser
apresentado diretamente do Rio de Janeiro. Em 2006, o então âncora Renato
Machado passa a dividir a bancada com Renata Vasconcellos, contando com
participações de comentaristas como Miriam Leitão e Alexandre Garcia, além de
informações direto de Brasília, feitas por Zileide Silva. Atualmente, o jornal é
apresentado por Ana Paula Araújo e co-âncorado por Giuliana Morrone.6
4.1.2. Jornal Hoje
O Jornal Hoje estreou na televisão em 21 de abril de 1971 como um noticiário
local do Rio de Janeiro. Era veículado de segunda a sexta-feira, com duração de 30
minutos e tinha como alvo o público feminino. A partir de 3 de junho de 1974, o
jornal passou a ser veículado em todo Brasil, contando com repórteres de Belo
Horizonte, São Paulo, Brasília e Recife. A partir dessa data, passou a contar,
também, com uma edição aos sábados. A partir dos anos 2000, com a entrada de
Sandra Annemberg – apresentadora até os dias atuais – e Evaristo Costa, o
programa recebeu a reformulação e passou a ser um telejornal-revista, com
linguagem coloquial e interação com os telespectadores. O foco de público passa a
englobar, também, os adolescentes. O Jornal Hoje foi um dos pioneiros no uso da
internet – começando a ter sua página já em 1997. A partir desse momento, o
4 Disponível em <http://grupoglobo.globo.com/tv_globo.php>. Acesso em 25 jan 2018. 5 Segundo dados de 2017. Disponível em < https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/audiencia-da-tv/2017/08/audiencia-da-tv-1508-sbt-brasil-e-o-jornal-mais-visto-fora-da-globo>. Acesso 26 jan 2018. 6 Disponível em <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/04/conheca-historia-do-bom-dia-brasil-desde-estreia.html>. Acesso em 29 jan 2018.
28
público pode participar mandando sugestões e material diretamente pela página na
web, trazendo a sensação de total interatividade com o Jornal.7
4.1.3. Jornal Nacional
Como abordado no capítulo 3, o Jornal Nacional surge em 1969 como o
primeiro programa a ser exibido em rede nacional. Em pouco tempo, se tornou um
dos principais programas da televisão brasileira, alcançando altos indíces de
audiência – conquistados ainda hoje. Inicialmente foi apresentado por Cid Moreira e
Hilton Gomes – que logo foi substituido por Sérgio Chapelin. Em 1977, Glória Maria
é a primeira repórter a entrar ao vivo no ar. Ela mostrou para o Brasil inteiro, na
estreia dos equipamentos portáteis de geração de imagens, o movimento de saída
de carros do Rio de Janeiro no fim de semana. A partir de 1996, William Bonner faz
parte da bancada do jornal, dividindo primeiro com Lillian Witte Fibe, logo após com
Fátima Bernardes e, após alguns anos, Patrícia Poeta e Renata Vasconcellos
(atualmente). Em 2000, o estúdio se muda para dentro da redação, mostrando os
bastidores da notícia e, assim, trazendo mais proximidade entre jornal e
telespectador. Em 2001, surge o site do Jornal Nacional, abrindo a oportunidade
para a interatividade. 8
4.2. A mulher na televisão brasileira – breve histórico
A história da mulher na televisão do Brasil começa pela publicidade: “as
“garotas propaganda” dominaram os intervalos comerciais brasileiros” (SCOTT,
2013, p. 35). Após isso, os postos das mulheres no meio televisivo foram de
dançarinas, assistentes de palco e atrizes de telenovela.
Além de aparecerem nas funções ditas anteriormente, a televisão também
trouxe as mulheres na sua programação em forma de programas. Nos anos 1950, a
TV Tupi produzia os programas Revista Feminina e No Mundo Feminino. Nos anos
1980, a TV Globo de São Paulo trazia ao ar o TV Mulher.
7 Disponível em <http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/telejornais/jornal-hoje.htm>. Acesso em 30 jan 2018. 8 Disponível em <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/04/confira-historia-do-jn.html>. Acesso em 30 jan 2018.
29
“Apesar de inicialmente estarem em menor número que os homens, as
mulheres fizeram parte da hisória da televisão desde seu início. No telejornalismo,
porém, a inserção do sexo feminino deu-se através de um processo lento” (SCOTT,
2013, p. 36). Apenas em 1956, a repórter Maria Edith Mendes cobriu o grande
prêmio do Jóquei Clube de São Paulo, pela TV Tupi, sendo a primeira mulher a sair
para cobrir uma reportagem na rua no Brasil.
Já como apresentadora de telejornal, a pioneira foi Vera Rossi, que era
também atriz e redatora, no Informativo Panair da TV Rio. Em 1966, Natália Timberg
apresentou, ao lado de Hilton Gomes, o Ultra Notícias, da Rede Globo. Em 1969, Íris
Lettieri foi a primeira mulher a ler notícias sobre futebol no telejornal Perspectiva.
O Jornal Nacional (JN) foi apresentado pela primeira vez por uma mulher em
1971: Sônia Maria esteve na frente da bancada apenas para um acontecimento
específico. Em 1990, o JN conquistava uma apresentadora fixa, porém, apenas
como “mulher do tempo” - Sandra Annemberg. A primeira âncora fixa do JN foi
Valéria Monteiro, que ocupava a bancada aos sábados. Fizeram parte do Jornal
Nacional, ainda, Glória Maria, Ana Paula Padrão, Fátima Bernardes, Patrícia Poeta e
Renata Vasconcellos.
30
5. As telejornalistas
Buscando observar se existe um padrão de aparência dentro dos telejornais
da Rede Globo, foi realizada uma análise documental, analisando as edições9 dos
três telejornais de maior audiência da emissora durante cinco dias (do dia 11 ao dia
15 de dezembro de 2017). Após assistir cada edição na íntegra dos jornais Bom Dia
Brasil10, Jornal Hoje11 e Jornal Nacional12, foram anotadas as características de cada
telejornalista13 que aparecia, além de capturada uma imagem de cada uma delas, a
fim de documentar e quantificar as características analisadas.
As características observadas nessa pesquisa foram a cor da pele, o tamanho
do cabelo, a forma do cabelo e a estrutura corporal. Para cor da pele, foi
considerada branco e negro (considerando negras mulheres pretas e pardas,
conforrme a classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)14). Para tamanho de cabelo, foi utilizado curto, quando o cabelo estiver acima
dos ombros; médio, na altura dos ombros até acima do peito; e longo, abaixo da
linha do peito. Quanto às formas dos cabelos, foram classificadas em liso, ondulado
e cacheado. Para estrutura corporal foi considerado magra, com rosto e pescoço
fino, bochechas marcadas para dentro, ossos aparentes e corpo longilíneo; corpo
médio, com bochechas cheias, ombros largos, porém sem barriga marcada; acima
9 Apesar das edições terem sido assistidas pela internet, foram transmitidas, em um primeiro momento, na televisão. Optamos, então, por não abordar o conceito de Cultura da Convergência, por não ser o foco do presente trabalho. 10 Edições na íntegra do telejornal Bom Dia Brasil assistidas pelo site do programa <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/videos/>. 11 Edições na íntegra do telejornal Jornal Hoje assistidas pelo site do programa <http://g1.globo.com/jornal-hoje/edicoes/>. 12 Edições na íntegra do telejornal Jornal Nacional assistidas pelo site do programa <http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/>. 13 Considerando apresentadoras, repórteres de rua e apresentadoras de quadros. Não foram consideradas as apresentadoras do tempo. 14 Disponível em < https://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 25 jan 2018.
31
do peso, mulheres com rostos cheios, braços cheios, barrigas marcadas, corpo
amplo.
Durante o período analisado, apareceram nos três telejornais 56 jornalistas
mulheres – não contabilizando quando apareciam as mesmas telejornalistas em
edições diferentes. Abaixo, estão as imagens de cada telejornalista analisada
separada por jornal em que apareceu, sem separação de edição.
5.1. As telejornalistas do Bom Dia Brasil
Figura 1 – Captura de imagem da apresentadora Ana Paula Araújo: branca, cabelos médios e
ondulados, magra. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil.
Figura 2 – Captura de imagem da apresentadora Giuliana Monrone: branca, cabelos médios e lisos,
magra. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
32
Figura 3 - Captura de imagem de Heloísa Torres: branca, cabelos longos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 4 - Captura de imagem de Patrícia Bringel: branca, cabelos médios e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 5 - Captura de imagem de Kátia Petersen: branca, cabelos médios e lisos, acima do peso.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 6 - Captura de imagem de Geíza Duarte: branca, cabelos longos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 7 - Captura de imagem de Fernanda Vieira: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
33
Figura 8 - Captura de imagem de Tatiana Nascimento: branca, cabelos médios e ondulados,
magra. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 9 - Captura de imagem de Sandra Coutinho: branca, cabelos médios e lisos, magra.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 10 - Captura de imagem de Cláudia Gaigher: branca, cabelos longos e lisos, acima do
peso. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 11 - Captura de imagem de Cristiane Dias: branca, cabelos médios e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Bom Dia Brasil
34
Figura 12 - Captura de imagem de Isabela Leite: branca, cabelos longos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 13 - Captura de imagem de Aline Oliveira: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 14 - Captura de imagem de Veruska Donato: branca, cabelos médios e ondulados, magra.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 15 - Captura de imagem de Viviane Possato: branca, cabelos médios e lisos, magra.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
35
Figura 16 - Captura de imagem de Mônica Teixeira: branca, cabelos longos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 17 - Captura de imagem de Ana Tereza: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 18 - Captura de imagem de Andréa Silva: branca, cabelos médios e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 19 - Captura de imagem de Carolina Cimenti: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
36
Figura 20 - Captura de imagem de Patrícia Porciúncula: branca, cabelos médios e lisos, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 21 - Captura de imagem de Roberta Mércio: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 22 - Captura de imagem de Gleyce Santos: branca, cabelos longos e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
Figura 23 - Captura de imagem de Natália Ariede: branca, cabelos curtos e ondulados, magra.
Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
37
Figura 24 - Captura de imagem de Thaíse Cavalcante: branca, cabelos médios e lisos, acima do
peso. Fonte: Íntegra do Bom Dia Brasil
5.2. Telejornalistas do Jornal Hoje
Figura 25 - Captura de imagem da apresentadora Sandra Annenberg: branca, cabelo curto e liso,
magra. Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 26 - Captura de imagem de Ana Zimmerman: branca, cabelos médios e lisos, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
38
Figura 27 - Captura de imagem de Andréia Sadi: branca, cabelo longo e ondulado, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Hoje
Figura 28 - Captura de imagem de Cecilia Malan: branca, cabelo curto e ondulado, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 29 - Captura de imagem de Flávia Alvarenga: branca, cabelo médio e liso, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 30 - Captura de imagem de Renata Capucci: branca, cabelo curto e ondulado, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
39
Figura 31 - Captura de imagem de Wanessa Andrade: branca, cabelo curto e liso, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Hoje
Figura 32 - Captura de imagem de Iana Coimbra: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio. Fonte:
Íntegra do Jornal Hoje
Figura 33 - Captura de imagem de Bruna Bachega: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 34 - Captura de imagem de Camila Bomfim: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
40
Figura 35 - Captura de imagem de jornalista15: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio. Fonte:
Íntegra do Jornal Hoje
Figura 36 - Captura de imagem de Larissa Carvalho: branca, cabelos médios e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 37 - Captura de imagem de Marina Franceschini: branca, cabelos médios e lisos, magra.
Fonte: Íntegra do Jornal Hoje
Figura 38 - Captura de imagem de Karine Garcia: negra, cabelos longos e lisos, magra. Fonte: Íntegra
do Jornal Hoje
15 Durante o telejornal, esta jornalista não foi creditada quando surgiu durante na reportagem (padrão), nem no início ou final da reportagem.
41
5.3. As telejornalistas do Jornal Nacional
Figura 39 - Captura de imagem da apresentadora Renata Vasconcellos: branca, cabelos médios e
lisos, magra. Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 40 - Captura de imagem de Alice Bastos Neves: branca, cabelos longos e ondulados, magra.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 41 - Captura de imagem de Delis Ortiz: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
42
Figura 42 - Captura de imagem de Graziela Azevedo: branca, cabelos longos e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 43 - Captura de imagem de Neide Duarte: branca, cabelos curtos e ondulados, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 44 - Captura de imagem de Malu Mazza: branca, cabelos médios e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
43
Figura 45 - Captura de imagem de Patrícia Nobre: branca, cabelos curtos e lisos, corpo médio. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
Figura 46 - Captura de imagem de Daniela Branches: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 47 - Captura de imagem de Zileide Silva: negra, cabelos curtos e cacheados, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
Figura 48 - Captura de imagem de Monica Sanches: branca, cabelos longos e ondulados, corpo
médio. Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
44
Figura 49 - Captura de imagem de Elaine Bast: branca, cabelos médios e lisos, magra. Fonte: Íntegra
do Jornal Nacional
Figura 50 - Captura de imagem de Lília Teles: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
Figura 51 - Captura de imagem de Flávia Jannuzzi: branca, cabelos curtos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
45
Figura 52 - Captura de imagem de Cláudia Bomtempo: branca, cabelos longos e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 53 - Captura de imagem de Renata Ribeiro: branca, cabelos longos e ondulados, magra.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
Figura 54 - Captura de imagem de Liliana Junger: branca, cabelos longos e lisos, magra. Fonte:
Íntegra do Jornal Nacional
Figura 55 - Captura de imagem de Isabela Scalabrini: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
46
Figura 56 - Captura de imagem de Marisol Santos: branca, cabelos médios e lisos, corpo médio.
Fonte: Íntegra do Jornal Nacional
5.4. Análise da composição da aparência das telejornalistas da Globo
Os dados da análise estão separados quanto às características analisadas:
cor da pele, tamanho do cabelo, forma do cabelo e estrutura corporal.
Cor da pele: das 56 telejornalistas analisadas, 54 eram brancas (96,4%) e 2
eram negras (3,6%).
Tamanho do cabelo: das 56 telejornalistas analisadas, 27 (48,2%) tinham
cabelo médio, 20 (35,7%) tinham cabelo longo e 9 (16,1%) tinham cabelo curto.
Forma do cabelo: das 56 telejornalistas analisadas, 39 (69,6%) possuiam o
cabelo liso, 16 (28,6%) tinham o cabelo ondulado e 1 (1,8%) tinha cabelo cacheado.
Estrutura corporal: das 56 telejornalistas analisadas, 28 (50%) tinham corpo
médio, 25 (44,6%) eram magras e 3 (5,4%) eram acima do peso.
Cruzando os dados, foi possível constatar que a maioria das telejornalistas
são brancas, de cabelos lisos e médio, com o corpo médio. É válido ressaltar que
nenhuma das características que apareceram poucas vezes durante a análise
(pessoa negra, cabelo cacheado, corpo acima do peso) são encontradas juntas.
Quando a mulher tem alguma característica fora do padrão, as outras fazem parte
do que é “normal” – por exemplo, as telejornalistas Karine Garcia (Figura 38), que é
negra, porém tem cabelos lisos e é magra, e Thaíse Cavalcante (Figura 24), que é
acima do peso, porém é branca e tem cabelos lisos. A única exceção é Zileide Silva
(Figura 47), que é negra de cabelos cacheados.
47
5.5. O padrão de aparência na construção do estereótipo de telejornalista
Com base no que foi analisado anteriormente, existe uma repetição diária da
mesma imagem. Essa repetição pode criar a ideia de “cara de jornalista”: uma
mulher branca, de cabelos lisos e médios e de corpo médio ou magra. Essa ideia se
torna um estereótipo: resume toda a classe das mulheres jornalistas em uma única
imagem, a imagem do padrão passado todos os dias na televisão.
É importante entender que a televisão se trata de imagem, portanto, através
da tela,
o corpo passa a fazer parte de uma dimensão econômica. Ele adquire status de mercadoria: vende mais ou vende menos. Encaixar-se nos padrões vigentes na sociedade é algo, portanto, que confere “valor” ao corpo (REQUENA, 1999 apud SCOTT, 2013, p. 42).
Como abordado anteriormente, a sociedade demanda papéis específicos para
mulheres e homens. Dentro desses papéis, é exigido da mulher manter-se sempre
bonita e jovem - contrário ao que é considerado “feio”. “A representação social da
feiura [...] é frequentemente ligada a gordura e ao envelhecimento” (NOVAES, 2011
apud SCOTT, 2013, p. 28). Apesar das mulheres jornalistas serem profissionais,
ainda é esperado que elas tenham boa aparência.
É importante ressaltar que essa beleza e cuidado com a aparência é exigida
especificamente para as mulheres. Como afirmado por Scott (2013)
Homens são exigidos e cobrados em menor grau do que as mulheres quando falamos sobre seus atributos corporais em consonância com os padrões de beleza convencionados socialmente. É fácil encontrarmos apresentadores de telejornais de cabelos brancos ou levemente “acima do peso”, mas apresentadoras não. (SCOTT, 2013, p. 19)
Como afirmado por Scott (2013), a consequência da criação desse padrão é,
além da dificuldade para as jornalistas, a utilização desse padrão como um exemplo
do que deve ser seguido pelas outras mulheres da sociedade.
Naomi Wolf (1992) trata também das exigências feitas quanto a aparência das
telejornalistas. Ela, ao falar sobre o exemplo de beleza profissional, cita como o
telejornalismo influenciou e foi influenciado por esse aspecto.
Ao paternal apresentador reuniu-se uma locutora muito mais jovem com um nível de beleza profissional. Essa imagem dupla — a do homem mais velho, distinto e com rugas, sentado ao lado de uma companheira jovem e muito
48
maquiada — veio a se tornar o paradigma para o relacionamento entre homens e mulheres no local de trabalho. Sua força alegórica era e ainda é muito disseminada. A qualificação de beleza profissional, que tinha como primeira finalidade amenizar o fato desagradável de uma mulher assumir posição de autoridade em público, ganhou vida própria até profissionais da beleza serem contratadas para serem transformadas em apresentadoras de telejornal. Na década de 1980, as agências que procuravam apresentadores para telejornais continuavam classificando as fitas dos testes com rótulos como "âncoras masculinos: de 40 a 50", sem nenhuma categoria correspondente para as mulheres, enquanto davam maior importância à aparência física das apresentadoras do que à sua experiência ou à sua elocução. (WOLF, 1992, p. 43 a 44)
Segundo Wolf (1992), essas exigências afirmavam o que a equipe do
telejornal e da emissora queriam dizer: um profissional masculino continuaria sendo
um bom profissional, independente de sua idade ou aparência – a maturidade, na
verdade, faria parte do seu poder e influência. Já as mulheres deveriam ser belas,
jovens e sempre bem maquiadas, fazendo com que elas se tornassem genéricas e
substituíveis por outras mais jovens e mais belas. (WOLF, 1992, p. 44)
As trabalhadoras mais emblemáticas do Ocidente continuavam visíveis se fossem "lindas", mesmo que não realizassem bem o seu trabalho. Poderiam realizar um bom trabalho e serem "lindas", portanto visíveis, mas sem receber nenhum crédito pela competência. Ou poderiam, ainda, ser competentes e "sem beleza", portanto invisíveis, de tal forma que a competência de nada lhes valia. Num último caso, podiam ser tão competentes e bonitas quanto quisessem — por muito tempo — após o quê, ao envelhecerem, desapareceriam. Essa situação atualmente se disseminou por todas as ocupações. (WOLF, 1992, p. 45)
Como abordado por Barthes (2001) e citado anteriormente, o estereótipo
“prefere trabalhar com imagens pobres, incompletas, onde o sentido está já
diminuído, disponível para uma significação”. (BARTHES, 2001, p. 148) Ao ser
passado em todos os turnos do dia, para todos que utilizam a televisão para se
informar, o estereótipo da telejornalista brasileira resume toda a pluralidade de
aparência das jornalistas de todo país em uma imagem só – uma imagem, diga-se
de passagem, não representativa. Em um país em que mais de 50% da população
não é branca16, apenas duas mulheres negras aparecerem, em um total de 56
mulheres, não representa os brasileiros.
A criação desse estereótipo serve tanto para a sociedade quanto para quem
contrata as profissionais. Como consequência, pode tornar a entrada das jornalistas
16 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2016. Disponível em <https://g1.globo.com/economia/noticia/populacao-que-se-declara-preta-cresce-149-no-brasil-em-4-anos-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em 10 fev 2018.
49
no mercado de trabalho televisivo mais difícil. Se elas se encontram fora do padrão,
dificilmente entrarão em um meio de comunicação tradicional.
Ao passo que a televisão fixa o padrão que delimita quais indivíduos podem penetrá-la, ela é também uma produtora de novos padrões, pois os corpos visíveis na tela são os corpos que passam a servir de exemplo para a população. Ou seja, há aí um processo de retroalimentação: a televisão escolhe um corpo devido aos padrões vigentes e os padrões vigentes são reforçados pelos corpos escolhidos pela televisão. (SCOTT, 2013, p. 43)
É importante refletir, também, que esse estereótipo é amplamente difundindo
por estar em uma mídia de massa – a Rede Globo. A partir desse tipo de mídia,
como afirmado por Kellner (2001), são apresentadas as representações que os
indivíduos têm de si mesmos e da sociedade na qual estão inseridos. Se a
representação de uma mulher jornalista nessa mídia é repetida, como pudemos
observar a partir da análise, as outras mulheres, jornalistas ou não, podem utilizar
esse padrão como modelo a ser seguido. A problemática gerada é a de entender
que esse estereótipo, por não ser representativo, é inalcansável para grande parte
das mulheres.
Para entender como esse estereótipo pode afetar a vida das jornalistas no
Brasil, buscamos realizar um estudo de recepção para ouvir as percepções e os
apontamentos desse grupo em relação a essas dificuldades.
50
6. Estudos de recepção
O método geral da presente pesquisa é o dialético, tendo em vista que este
considera todo o contexto social que envolve o fato, e não apenas ele isolado. Como
afirmado por Gil (2008),
a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais, etc. (GIL, 2008, p. 14)
Além da análise documental realizada no capítulo 4, buscamos realizar um
estudo de recepção, para entender como as mulheres jornalistas se sentem em
relação ao estereótipo de telejornalista no Brasil que foi constatado. O grupo
escolhido para a análise é a classe “afetada” pelo estereótipo: doze mulheres, sendo
sendo quatro formadas em jornalismo e oito estudantes de comunicação. Para o
estudo e análise de recepção, escolhemos os apontamentos de Guillermo Orozco
Gómez (2000), buscando compreender como as multimediações se apresentavam
nas entrevistadas.
Para a realização desse estudo, será utilizada a técnica de grupo focal, a fim
de buscar uma maior proximidade entre a pesquisadora e as entrevistadas e
compreender suas opiniões tendo em vista suas mediações17.
6.1. As multimediações de Orozco Gómez
Os estudos de recepção surgiram nos anos 80, dentro dos estudos culturais,
buscando entender a visão do receptor sobre a produção midiática – deixando de
tratá-lo como passivo, como era feito em diversas teorias da comunicação.
17 Conceito explicado abaixo.
51
Dentro da pesquisa, utilizaremos os métodos do pesquisador Guillermo
Orozco Goméz, no seu livro “La investigación em comunicación desde la perspectiva
cualitativa”, de 2000.
O autor aponta cinco correntes de investigação para entender a relação entre
os receptores e os meios de comunicação: “corriente efectos de los medios;
corriente usos y gratificaciones; corriente criticismo literario; corriente estúdios
culturales; corriente análisis de la audiencia18” (OROZCO GÓMEZ, 2000, p. 52)
A primeira busca entender os efeitos provocados pelos meios nos receptores,
o que acontece com os receptores quando eles recebem determinados conteúdos.
“Usos y gratificaciones” parte do princípio de que os receptores são ativos e
pretende compreender o que as pessoas fazem com os meios. A corrente do
Criticismo Literário trata da relação entre o leitor e o texto, abordando os estudos de
semiótica, temática sintática e estética da reflexão. “Estudios culturales” tenta
entender qual é o papel da cultura na interação entre o meio, a mensagem e a
audiência. A última, “Análisis de audiencias”, entende que o receptor é ativo, e
afirma que nenhuma análise de meios pode ser feita sem considerar, também, uma
análise cultural.
Considerando que nenhuma análise pode ser feita sem considerar o âmbito
cultural, o autor também aponta as mediações como forma de compreender a
relação entre os meios e os receptores. Conforme Orozco Gómez, esse conceito foi
tratado por Manuel Martin Serrano e, em seguida, o termo foi utilizado por Jesús
Martín Barbero (s.d), que afirma que mediação é “... el lugar desde donde se
otorgael sentido al proceso de comunicación19” (BARBERO s.d. apud OROZCO
GÓMEZ, 2000, p. 114)
Buscando aprofundar o conceito de Barbero, Orozco traz as multimediações.
20
As mediaciones individuales referem-se a individualidade do sujeito
cognicente e comunicativo. São divididas em congnitivas e estruturais
(ESCOSTEGUY e JACKS, 2005, p. 69). As cognitivas são conjunto de fatores que
influenciam na percepção de determinada produção que estão diretamente ligado a
18 “corrente os efeitos dos meios; corrente usos e gratificações; corrente criticismo literário; corrente estudos culturais; corrente análise da audiência”, tradução livre. 19“o local em que o significado é dado para o processo de comunicação”, tradução livre. 20“mediações individuais; mediações institucionais; mediações massmídia ou videotécnológica; medicações situacionais; mediações de referência.”, tradução livre
52
valores, crenças e emoções. As estruturais são relacionadas com elementos da
identidade do receptor.
Mediaciones institucionales são relacionadas com todas as instituições que o
receptor está inserido. Sua família, escola, trabalho, igreja são fundamentais na
construção da recepção.
As mediaciones massmediáticas tratam da mediação exercida pelo meio de
comunicação.
As mediaciones situacionales tratam da questão de como a situação em que
o receptor está no momento em que assiste determinada produção modifica como a
recepção será feita.
As mediaciones de referencia tratam das características do receptor, como
idade, gênero, etnia, classe social.
Segundo Jacks e Escosteguy (2005), utilizar as multimediações “implica
assumir que a audiência é composta por sujeitos e considerá-la ‘em sitação’,
portanto, condicionada individual e coletivamente” (ESCOSTEGUY e JACKS 2005,
p. 69).
Essas mediações serão a chave para a interpretação das respostas de cada
uma das entrevistadas sobre as questões abordadas na pesquisa.
6.2. As entrevistadas
Participaram do estudo doze mulheres, sendo quatro formadas em jornalismo
e oito estudantes do quarto, sexto e oitavo semestre do curso de jornalismo da
Universidade Federal de Pelotas; com idades entre 19 e 26 anos. O número de
entrevistadas escolhidas parte do apontamento de Orozco Gomez (2000) de que
entre 10 e 20 entrevistados já é o suficiente para a realização da pesquisa. A
escolha de mulheres jovens se deu a fim de entender a visão de mulheres que estão
ingressando no mercado de trabalho de jornalismo. Buscamos a pluralidade na
escolha das entrevistadas, trazendo mulheres negras e brancas, de personalidades
diferentes.
Ao chegarem na sala, as entrevistadas receberam um questionário com
perguntas básicas pessoais – que, após a análise da discussão, se tornarão os
eixos das suas mediações. Nome, idade, cor/raça, qual semestre da faculdade está
ou há quantos anos está formada, qual sua orientação política/ideológica, quais
53
veículos de comunicação costuma acessar e quais não acessa e como
descreveriam suas origens familiares foram as questões respondidas por elas.
Ana tem 24 anos, é negra, estuda no oitavo semestre do curso de jornalismo
e se considera de esquerda. Costuma acessar notícias do G1, Diário Popular21,
Diário de Santa Maria, Buzzfeed e GaúchaZH (Zero Hora). Descreve sua origem
familiar baseada nas etnias: negra, descendente de escravos e índia/bugre,
descendente de índios missioneiros.
Anahí tem 23 anos, é parda com origem indígena, está formada há quase um
ano e se considera de esquerda. Costuma ler notícias do Correio do Povo, Sul 21,
Nexo e El País, e afirma que não lê notícias da revista Veja. Descreve sua origem
familiar como pobre, família pequena e sem escolaridade.
Carolina tem 25 anos, é branca, estuda no oitavo semestre do curso de
jornalismo e se considera de esquerda. Afirma que costuma acessar os veículos
Globo, Mídia Ninja, Sem tabu, Zero Hora e Diário Popular. Define sua origem familiar
como um pouco fora do padrão da sociedade, mas nada que as outras pessoas
julguem como anormal.
Gabriela tem 22 anos, é branca e estudante do oitavo semestre do curso de
jornalismo. Se considera de esquerda e afirma acessar notícias da Agência Pública,
Folha de SP, Zero Hora e Sul21. Sobre a origem familiar, Gabriela afirma que tem
pai e mãe com formação ideológica de esquerda.
Greice tem 26 anos, é branca e formada em jornalismo há 4 anos. Se
considera de centro-esquerda, e acessa notícias da GaúchaZH (Zero Hora), G1,
Globo News, DWBrasil e Band News. Afirma que não acessa SBT e Record. Sobre a
origem familiar, Greice afirma que vem de uma família de classe média-baixa.
Isabelli tem 19 anos, é branca e estudante do quarto semestre do curso de
jornalismo. Se considera de centro-esquerda e acessa notícias da Folha de SP,
Nexo, Globo, Superinteressante, TPM, Vice e Mídia Ninja, e afirma não acessar
reportagens do Catraca Livre, SBT, Veja e Istoé. Sobre a origem familiar, afirma que
metade de sua família é evangélica, conservadora, rica e de escolaridade média, e a
outra metade é católica, classe média baixa e com ensino superior.
21 Veículo de comunicação da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul.
54
Janaína tem 22 anos, é negra, formada em jornalismo há 10 meses e se
considera de esquerda. Costuma acessar notícias do G1 e do Diário Popular. Sobre
a família, conta que é humilde, honesta e trabalhadora.
Maiara tem 25 anos, não quis declarar cor/raça e explicou: “nunca sei o que
responder nessa questão”. É formada em jornalismo há um ano e se considera
feminista e anticapitalista. Sobre as notícias, afirma que acessa do El País, Folha de
SP e Outras Palavras e não acessa as do Diário Popular e Veja. Sobre a origem
familiar, afirma que vem de uma família de trabalhadores e trabalhadoras.
Mariana F. tem 23 anos, é branca, estudante do oitavo semestre do curso de
jornalismo e se considera de centro-esquerda. Acessa notícias do G1, Zero Hora,
Mídia Ninja, TV Globo, Jornalistas Livres, Superinteressante e Folha de SP e não
acessa notícias do Movimento Brasil Livre. Vem de uma família de classe média alta,
branca e de direita.
Mariana L. tem 21 anos, é negra e estudante do sexto semestre do curso de
jornalismo. Se considera de centro-esquerda, acessa notícias do G1, Sul21, RBS TV
e Mídia Ninja e não acessa notícias do R7. Sobre a origem familiar, afirma que é
uma família de classe média, de religião espírita e posição política/ideológica de
centro-esquerda.
Marina tem 19 anos, é branca e estudante do quarto semestre do curso de
jornalismo. Sobre a orientação política/ideológica, afirma que não é definida, pois
não costuma estudar sobre o assunto por não gostar dessa área. Acessa notícias a
partir da TV aberta, em canais como Globo, Band e Record e TV fechada, em canais
como GNT, Globo News, além de portais de notícias online e jornais. Afirma que não
acessa sites de fofoca, Catraca Livre e revistas de cunho político. Sobre a origem
familiar, afirma ser de classe média, católica e sem preconceitos.
Mylena tem 19 anos, é negra, estudante do sexto semestre do curso de
jornalismo e se considera de centro-esquerda. Acessa notícias da Carta Capital,
Coletivo AzMina, Jornalistas Livres, Mídia Ninja, G1 e Diário Popular e não acessa
notícias do R7 e revista Veja. Afirma ser de uma família de classe média baixa,
nascidos e criados em cidade do interior.
55
6.3. O estudo
A pesquisa foi aplicada na noite de quinta-feira, 08 de fevereiro de 2018, em
uma sala de aula do campus Porto da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). As
entrevistadas foram colocadas em um semicírculo, para enxergarem umas as outras
durante o debate. Para entender a visão delas sobre o que foi constatado na
pesquisa, utilizamos oito perguntas que não induzissem a nenhum resultado,
buscando apenas as percepções delas sobre o assunto.
1. Alguma de vocês já trabalhou na televisão? Se sim, em qual veículo e como
foi a experiência?
2. Qual a opinião de vocês sobre a Rede Globo?
Após a segunda pergunta, foram apresentadas às entrevistadas as fotos das
56 jornalistas analisadas no capítulo 5, buscando ver se o padrão era vísivel para
elas. Optamos por apresentar somente as fotos, sem os dados numéricos, para que
não fosse induzida uma conclusão.
3. O que vocês percebem a partir dessas fotos?
A partir da reposta obtida nessa pergunta – se todas concordassem que
existe um padrão – partiríamos para a próxima questão, já afirmando o padrão
existente que foi concluído por elas.
4. O que vocês acham sobre esse padrão imposto para as jornalistas?
5. Vocês acreditam que poderia haver lugar para mulheres com imagens
diferentes dessas? Se sim, o que isso poderia acarretar?
6. Vocês sentem que se encaixam nesse padrão?
7. As que não se encaixam: gostariam de trabalhar na televisão?
8. Vocês acham que esse padrão influência em um padrão de beleza a ser
seguido?
As respostas foram gravadas, transcritas e selecionadas para a realização da
análise.
56
6.4. Análises
As entrevistadas entraram na sala, portando seus copos de café, suco ou
chimarrão, escolheram seus lugares e conversaram umas com as outras. Após a
porta ser fechada, foi explicado sobre o que era o estudo e como funcionaria: seriam
algumas perguntas que poderiam ser debatidas entre elas. Sem precisar de
inscrições para as falas, cada uma respeitaria o tempo de argumentação da outra.
Foi feita a primeira pergunta. “Alguma de vocês já trabalhou na televisão? Se
sim, em qual veículo e como foi a experiência?”. Carolina começou a resposta,
falando sobre a sua experiência na TV Nativa (afiliada da rede Record em Pelotas).
“A experiência de aprendizado eu achei bom, sabe? Porque a gente tinha que se virar, eu aprendi a fazer reportagem, a inventar pauta, a saber lidar com as fontes, aprendi a colocar o jornal no ar, a editar, porque lá a gente fazia tudo. Tinha que se virar. Mas eu acho que a gente consegue sentir bem na pele, ainda mais eu assim que sou branca, sou de um estereótipo que é mais comum na tv, a gente já sente num nível por ser mulher. Ainda mais eu que trabalhei num meio que é o meio do futebol, no Nativa Esportes. Teve uma época que eu fazia parte de um programa ao vivo que era o Nativa Esportes, de debate, e eu era usada ali só pra ler WhatsApp. Eu lembro que eu queria expressar a minha opinião e não tinha como. Eles sempre pediram pra ter uma mulher pra dar audiência. Era uma coisa que me incomodava bastante. E nos bastidores também, parece que não levam muito a sério assim, parece que mulher não vai entender de certos assuntos ou tem que ser de certo jeito porque é mulher”
Após alguns segundos de silêncio, reforçamos perguntando se mais alguém
tinha tido experiência na televisão. Greice relatou sua experiência de quando ainda
era graduanda.
“Bem no início da minha graduação, que faz tempo, teve um estágio voluntário que eu fiz, que foi pra um programa da Record lá na região metropolitana [de Porto Alegre], e daí o nome do programa se chamava Beleza na Comunidade, então vocês já imaginam, né... Fui eu e mais um grupo de estudantes, a gente nem sabia muito bem o que ia fazer, porque não estava especificado, mas era basicamente ajudar eles a organizar um monte de meninas que se inscreveram para participar desse programa que era um programa de beleza. Então foi bastante frustrante, porque a gente tava lá recebendo uma inscrição, ajudando as meninas a se medirem para vez se elas estavam dentro da altura para aparecer no programa, e foi esse tipo de coisa. E depois, durante a gravação do programa, cada estagiário pegou uma função. Pra não ficar muito perto lá da função das meninas eu fiquei ajudando na parte de som, na parte técnica, né. Mas, realmente, foi ver na prática o quando rola essa objetificação feminina assim, e aí escrachavam mesmo, porque era um programa realmente desse teor sensacionalista, né. Então não foi uma experiência legal”
Ana relatou a experiência que teve no projeto de extensão Em Pauta TV, da
UFPel.
57
“Quando eu fiz a seleção [para o Em Pauta] eu era de uma das primeiras turmas, eu pedi para ficar na produção. Porque eu me sinto melhor na produção. E daí ao longo do tempo disseram: não, tu tem que fazer matéria, pra saber a experiência e tal. Mas ainda assim eu não me sentia a vontade estando na frende das câmeras, eu queria estar atrás das câmeras. E aí, eu vou admitir, eu gostei, mas não sei se é algo que eu trago por experiência de ser negra, de não me sentir a vontade na frente das câmeras, ou é algo mais meu mesmo.”
O relato de Ana fez com que Janaína lembrasse que também fez parte do
projeto.
“Foi bem legal também. Eu não participei por muito, muito tempo. Pegava uma matéria a cada 15 dias, não tinha assim tanto contato, era mais contato com as fontes. Mas as pessoas sempre nos respeitavam. Quando tu chegas com o microfone já é outra coisa. Se chegasse assim, com essa minha cara, num dia normal, não iam dar nada para mim. Mas com microfone, com uma pessoa gravando, já é outra coisa, né.”
Após ouvir sobre as experiências, foi perguntado sobre a opinião das
entrevistadas sobre a Rede Globo. A primeira reação foram risadas, seguidas de um
silêncio que foi interrompido por Janaína “É complicado...”. Outro silêncio, Ana
afirma “A Globo me cansa”. Após mais um momento de silêncio, Ana fala.
“Eu acho que a linha editorial torna o telejornalismo, que é o que eu mais acompanho, meio chato, meio monótono. Se tu fores olhar são quase as mesmas caras. Pode mudar a telejornalista mas é a mesma expressão.”
Mariana F. abordou as tentativas de inovação da emissora.
“Eu percebo que, muitas vezes, no telejornalismo dela, ela tenta inovar, colocando a Mari Palma 22 , e outros jornalistas, homens também, mais jovens, com cara de gente moderna, para aproximar mais do público jovem, só que, mesmo assim, são brancos, são magros, são bonitos, são dentro do padrão, do estereótipo. Ao mesmo tempo que eles tentam sair do convencional, eles não se afastam muito daquela imagem padrão que existe na televisão”
Carolina e Mariana F. abordaram que a Globo tem um padrão de estética em
todas suas produções.
A Globo tem, praticamente, toda a forma de comunicação, de mídia, de entretenimento que tem aqui no Brasil, né. Eu acho que tem bons profissionais, mas o grande problema de ser essa grande mídia é que a opinião deles se mostra nas entrelinhas, e acaba alienando muito as pessoas, porque têm acesso aquilo ali. E não é só no jornal que tem certos padrões, as novelas também tem padrões. (Carolina)
O que a gente percebe até nas novelas da Globo, como em tudo da Globo, sempre existe um padrão. Nas novelas, a personagem principal é sempre branca, é sempre jovem, tipo, a atriz que antigamente era muito boa e chamada para papeis principais, com o tempo ela começa a envelhecer e
22 Jornalista do quadro G1 em um Minuto, da Rede Globo.
58
começava a ser a mãe, a ser a avó, a ser a personagem secundária, e é isso, tiram ela de cena. (Mariana F.)
E a negra é sempre a Tais Araújo, né. (Carolina)
Ana relatou sobre como as mulheres que ingressam na Globo para trabalhar
nos jornais também enxergam esse padrão.
“Eu conheci a história de uma jornalista chamada Alessandra Xavier. Ela foi contratada pra ser estagiária da Globo na parte do Esporte, no Globo Esporte. E aí ela trabalhou um ano como estagiária e depois ia começar como efetivada. Só que tem um canal chamado as Desimpedidos, que é um canal de futebol, bem famoso, quase que 5 milhões de inscritos no Youtube. E eles fizeram uma seleção e ela foi e foi chamada e ta trabalhando no Desimpedidos até hoje. E daí ela falou numa entrevista que os pais dela criticaram por ela sair da Globo, que é uma carreira e tal, mas ela falou que saiu porque ela tinha um modelo a seguir. Ela tinha que ir com uma certa roupa, ela tinha que vir de certa forma maquiada, sabe? Mesmo que ela tivesse mais para web, ela tinha que seguir aquele padrão de vestimenta. Ela disse que ela não se sentia a vontade, então ela optou por trabalhar no que ela se sentia a vontade e tinha muito mais liberdade para se vestir, para falar o que ela quisesse, emitir a opinião dela e aí ela trocou de ramo, né?”
Mariana L. e Isabelli abordaram também sobre as inovações da Globo na sua
programação.
“Eu acho que a TV e o jornalismo refletem a sociedade, o tempo que a gente vive e a globo tá incluída nisso. E por mais que tenham alguns programas que às vezes colocam alguma coisinha progressista, isso ainda são migalhas, porque eles sabem com quem eles estão lidando também, eles sabem que se eles colocassem mais não teria audiência, porque o grande público brasileiro ainda é conservador, então eu acho que isso eles fazem pra agradar o pessoal, pra ver se eles entram lá na internet, no Facebook, né. Eles agradam a internet um pouquinho, beleza, tentando agradar os dois senhores, mas acho que na prática as coisas continuam bem iguais porque, não sei se tem estudos sobre isso, mas se tu fores ver quantas pessoas negras e quantas pessoas brancas tem na novela, que papeis elas fazem, né, na novela, no jornalismo, em tudo” (Isabelli)
“Eu acho que também, tratando de Rede Globo, a gente tem um grande problema, eu acho que o maior problema dela, é que a linha editorial dela vai conforme quem está podendo, né, quem está por cima. Então eu acho que nesse sentido, eles poderiam assumir mais abertamente, né, a linha editorial assim, lógico, tudo. E aí eles querem inovar e quando eles inovam eles colocam o Willian Bonner a caminhar no estúdio, sabe? Então... tu fica naquela, sabe, estamos esperando, né, mas acho que é algo muito previsível. E subestimam um pouco também a capacidade das pessoas de criticar, né, o que que está funcionando ou não”. (Mariana L)
Gabriela abordou a experiência de um amigo seu em uma afiliada da Globo.
“Eu tenho um amigo que trabalha em uma afiliada da Rede Globo, e a gente sempre discute sobre a Globo. Ele me falou que tinha entrado uma menina lá que tava fazendo TV e ela é negra, e estava começando a introduzir essas pautas tipo de movimento negro, de movimento feminista, gay, só que daí ele falou que ela ia lá falava mesmo, aí ele disse “é, ela vai ser cortada logo”. É justamente isso, a Globo não diz tipo “a nossa linha
59
editorial é assim, a gente faz isso”, mas é justamente isso, né. Aí eu falei “tá e se não falar assim, não é pra abordar esses fatos, como é que vai fazer?” e ele disse que ele faz e tal, mas que ele tenta ir pelas beiradas, pra conquistar o público para poder falar sobre isso.”
Maiara e Anahí abordaram sobre a importância de debater sobre a Globo e
sobre como os jornalistas de dentro da emissora realizam o embate ideológico por
pensar diferente da linha editorial.
“É, eu acho que é bem interessante isso da gente pensar como que no fim das contas o jornalismo da Globo é complexo pra população que assiste, mas também pra quem é jornalista. E eu sempre fico me perguntando qual a nossa responsabilidade como jornalistas de estar nesses espaços. Enfim, alguém realmente acredita que é possível mudar de dentro? Sabe, assim, esse tipo de estrutura? Ou a proposta é construir um outro modelo de estrutura de jornalismo, sabe? Infelizmente a gente vive em um país, e não é só no Brasil, mas num mundo onde o conservadorismo está colocado por que isso faz parte da lógica de um sistema, sabe? A educação, a cultura, a desigualdade social... tudo isso faz parte da lógica de um sistema. Então a desinformação ela é resultado disso. Ela não é uma escolha da pessoa. É evidente que existe individualidade em todos os casos, é evidente que existem pessoas que tem toda a possibilidade do acesso à informação e não faz, mas, em geral, eu acredito que a desinformação não é uma opção, ela é dada, né. Ela é dada, quando se informa já está se informando de maneira desinformada. Eu acho que é importante a gente fazer debates sobre o nosso papel enquanto jornalista.” (Maiara)
“Teve um ex professor nosso que disse uma vez bem no meio da faculdade que mesmo em espaços assim como a Globo, tem pessoas lá dentro trabalhando contra a corrente. E eu acredito nisso, óbvio que é possível, até porque, é interessante pra uma empresa x ter 10 funcionários que pensam x, mas ter o que pensa y porque ele também vai trazer um lucro pra empresa, né, abraçando aquele público. Só que é aquilo, ir pelas beiradas, tu não podes ir direto, não pode...sabe... ‘sentar o laço’, tu tem que ir devagar, porque a gente pode até entrar no assunto a qualquer momento que for interessante, mas no momento que ofender algum grupo de pessoas que nos faz lucrar, que gera lucro pra nossa empresa de comunicação já não é mais interessante. E uma coisa que eu reparo na Globo, é que eu não assisto o canal, mas eu sei de tudo que tá acontecendo, eu sei que eles mudaram o telejornalista, eu sei que as pessoas estão em pé” (Anahí)
Após esse debate sobre a Rede Globo, foram apresentadas as fotos das 56
jornalistas analisadas no capítulo 5, e feito o seguinte questionamento: o que foi
possível observar a partir dessas fotos? Todas falaram juntas que só haviam
pessoas brancas, apenas uma pessoa negra. Janaína ainda brincou: “tem uma
negra sim, a Zileide Silva23, mas ela é negra ‘naquelas’, né?”. Carolina abordou que
existia um padrão entre as imagens: “todas brancas, cabelinho no ombro. Apenas
alguns cabelos loiros, mas não é um loiro que chama muita atenção, a maioria é
castanho”. Janaína completou:
23 Figura 47
60
“Não tinha nada extremo. Não tinha negra muito preta, não tinha loira muito loira, não tinha ruiva, não tinha nada de muito extremo, é essa linha aqui, vamos manter ela aqui e pronto.”
Isabelli e Maiara abordaram questão de idade. Isabelli disse que todas eram
jovens, e Maiara complementou dizendo que, apesar de jovens, todas tinham acima
de 30 anos de idade. Mariana F., Mylena e Isabelli falaram também sobre as
características das jornalistas. Isabelli disse que não tinha nenhuma muito “estranha”
– gerando risadas entre as entrevistadas. Mylena, concordando disse que não havia
ninguém que transparecesse suas características. “Todas bem padrão mesmo.
Pessoas com a mesma expressão, do mesmo jeito. O estranho que a Isabelli quis
dizer é alguém com ‘algo a mais’”. Mariana F, concordando, disse que todas
pareciam robôs.
Janaína apontou algo que as demais entrevistadas não tinham notado: “não
tem nenhuma gorda”. Todas concordaram. Carolina ainda ressaltou “esse padrão já
é tão comum que a gente quase nem nota, né?”
Após a conclusão sobre o padrão, foi perguntada a opinião delas sobre esse
padrão. Carolina disse “não é o que vemos na rua” e Mylena completou “não é o que
vemos na vida”. Marina apontou “não parece real, parece meio falso”. Mariana F.
ressaltou “com certeza não é uma representação da população brasileira”. Mylena
apontou que todas as mulheres que estavam naquela sala eram diferentes do
padrão. Sobre isso, Greice apontou.
“Essa padronização é uma representação de como se dão os nossos espaços privilegiados no Brasil. Vocês comentaram que elas são diferentes do que as pessoas que estão nessa sala, mas essa diversidade que temos aqui é muito recente até pra mim e ela só ta aqui nesse momento porque a muito poucos anos atrás começou a se ter o Enem e o sistema de cotas, porque a univesidade também era um lugar privilegiado e em muitos cursos segue sendo. Então essa padronização não é nada mais do que o reflexo desses espaços, desse conservadorismo, essa segregação, um apartheid que a gente não vê declaradamente, mas a gente vê de forma implícita.”
Concordando com Greice, Isabelli ainda aponta que muitas mulheres não têm
autoestima nem para concorrer a uma vaga na televisão.
“Nem sempre essa escolha ela é assim: um cara maldoso foi lá e disse ‘não quero você porque você é diferente’. Às vezes as pessoas não são escolhidas porque elas não chegam lá, as condições sociais não permitiram que elas chegassem lá naquela vaga.”
61
Anahí relatou que mesmo que o padrão parecesse distante da sua realidade,
ele ainda parecia próximo. Mylena abordou que isso se desse “talvez porque o
objetivo das pessoas é atingir esse padrão, elas podem não ser aquele padrão
imposto, mas elas querem chegar lá”. Mariana F. afirmou que “a mídia coloca aquilo
como algo próximo de ti porque eles criam laços entre a pessoa que está passando
a notícia e o telespectador”. Mariana F. ainda relatou uma história sobre como a
aparência é uma exigência mais importante do que o profissionalismo na televisão.
“Na última semana acadêmica, uma colega contou que ela trabalhava numa emissora e que entre ela e uma menina que era um padrão, escolheram a menina pra apresentar um jornal, sendo que ela era uma profissional muito melhor que a menina padrão, tinha mais técnica, se portava melhor em frente a câmera. Por um padrão puramente estético, escolheram a outra menina. Isso marca a nossa profissão: na televisão aparece quem é bonito, não necessariamente quem é um bom profissional.”
Na sequência, foi questionado se elas acreditavam que existia lugar para
mulheres fora do padrão na televisão. Todas afirmaram que não. Greice,
respondendo novamente, disse que talvez, em deteminados horários.
“Até poderia, em horários e espaços específicos, porque a Globo, por exemplo, tem esses espaços, e espaços muito bons, são pertinentes e fogem da linha editorial e ideologica deles. Mas a raiz dela é conservadora. Não só no sentido de gênero, mas até no sentido ideológico e ético. Porque, por exemplo, enquanto tem gente fazendo jornalismo investigativo de qualidade, o que faz sucesso no Fantástico são reportagens do [Giovani] Grizotti 24 , expondo pessoas humildes, colocando aquilo como cara da corrrupção brasileira. Pode haver espaço pra sair desse padrão, mas são espaços pequenos.”
Mariana F., concordando com Greice, abordou alguns espaços onde essas
pessoas poderiam estar.
“Vou concordar com a tua visão, acho que pode ter alguns horários para isso, mas não vai ser acompanhado pela maioria da população e a maioria da população também não vai ter interesse. Sobre o padrão, acredito que para as pessoas de fora poderem aparecer, seria apenas em programas de cunho cultural. Não pautas de cultura para o telejornal mesmo, mas programas como o da Regina Cazé, ter alguém fazendo jornalismo com uma imagem diferente. Mas não pela inclusão de alguém fora do padrão, mas por querer aproximar o programa da população trazendo pessoas ‘normais’.”
Gabriela questionou “eu fico pensando: o que é fora do padrão? Quando eles
fazem isso, colocam uma pessoa tatuada, com cabelo colorido para um programa
jovem”. Anahí, concordando, abordou “caso fossem aparecer [as pessoas fora do
padrão], a Globo ia conseguir tornar exótico. Ela torna aquela pessoa ‘diferente’. Ou
24 Jornalista investigativo da Globo.
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ela isola, em horários na grade, isola em programas”. Greice, apontou sobre a
padronização do que é fora do padrão.
“O que pra mim é tão problemático quanto a falta de representatividade é a padronização do fora de padrão. Vamos fazer um programa jovem, então vamos colocar uma menina jovem com tatuagem e uma camiseta rasgada. Vamos fazer um programa sobre a comunidade e ai chamam o Manoel Soares25, que daí sim, como é comunidade, vamos chamar um negro. Tu tá reforçando um outro padrão com o que seria fora do padrão. Eu quero ver alguém como o Manoel Soares falando de jornalismo econômico, e eu quero que isso seja normal. São as mesmas pessoas ocupando os mesmos espaços que elas ocupam fora da TV.”
Isabelli afirma que podem ter espaços para pessoas de fora do padrão, “mas
sempre vai ser um espaço forçado. Na Globo tem o programa da Fernanda Lima,
que tem esses espaços, mas é voltado para o humor e para a arte”. Anahí, indo pelo
mesmo sentido, afirma que seriam necessários muitos anos de pessoas ocupando
esses espaços para que isso se torne normal. Greice ainda aponta: “não é que não
existam pessoas ocupando esses espaços. Mas eu, por exemplo, não gostaria de
me lembrar do nome da Zileide Silva, por ela ser praticamente a única.”
Perguntamos se elas acreditam que se encaixam no padrão de aparência.
Ana afirmou que não. Janaína brincou “nem se eu quisesse” – frase que foi seguida
por risos. Carolina e Mariana F. afirmaram que estéticamente sim, se encaixam no
padrão. Isabelli e Mylena afirmaram que poderiam se encaixar, fazendo algumas
modificações em suas aparências. Anahí afirmou que não conseguia se enxergar na
televisão.
A partir da resposta, questionamos se aquelas que afirmaram que não se
encaixavam tinham vontade de trabalhar na televisão. Janaína afirmou que sim,
“mas não na Globo. Na televisão fazendo o que eu quero, não fazendo o que os
outros mandam”. Ana concordou “fazendo no estilo das coisas que eu gosto, eu
trabalharia na televisão sim. Mas no telejornalismo atual não”. Maiara, Mariana L. e
Mylena abordaram que gostariam, mas se sentiriam desconfortáveis em mudar.
“Eu acho que eu ficaria muito mal com essa questão de ser moldada. No jornalismo, sendo editoria de política eu trabalharia em qualquer veículo, mas ser moldada é algo que me deixaria completamente desconfortável” (Maiara)
“A Isabelli comentou que se ela quisesse, ela se moldaria para trabalhar na tv. E a gente pensa desse jeito. Se eu alisasse meu cabelo, andasse com
25 Jornalista da Rede Globo. Trabalha atualmente no programa Encontro.
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roupas mais formais, eu conseguiria entrar na TV. Mas não conseguiria do jeito que eu sou. Eu gosto do universo da TV, mas por tudo que nós conversamos aqui, me limita de querer entrar” (Mylena)
“Eu sou uma pessoa que lida bem com outras pessoas, acredito que eu me daria muito bem apresentando um programa (risadas), mas não consigo me imaginar na tv nessa atual conjuntura” (Mariana L.)
Perguntamos se elas acreditavam que o padrão de aparência das
telejornalistas formava um padrão de beleza a ser seguido. Todas concordaram que
sim. Carolina ainda completou “como a gente disse, não é só um padrão do
telejornal, é um padrão do todo, das novelas, publicidade. E quando é alguém que
sai do padrão, é aquela pessoa só, a diferente”.
6.4.1. Das mediações
Relacionando as falas das entrevistadas com as multimediações de Orozco
(2000), podemos observar que a mediação institucional – da graduação em
jornalismo – foi predominante nas respostas das entrevistadas. Questões técnicas e
assuntos como a Rede Globo foram de fácil debate entre elas, entendendo-se que
todas tinham conhecimento prévio sobre o assunto.
Outra mediação possível de observar foi a mediação de referência, na
questão de gênero e de etnia. Por todas serem mulheres, a questão do padrão e do
estereótipo é muito pessoal para elas, porque afeta suas vidas. Então, a maioria
notava as exigências feitas para as mulheres dentro desse estereótipo, e entendiam
como isso funcionava para as outras mulheres, as influências que esse padrão podia
gerar.
Em relação à etnia, as primeiras a abordarem sobre a questão da cor/raça
das jornalistas foram as mulheres negras. Ana e Janaína, principalmente, abordaram
sobre não sentirem que poderiam fazer parte da televisão pela sua cor, por não
fazer parte do que é padrão. Além disso, em determinado momento da entrevista,
Ana aborda que sua família pergunta quando que ela irá substituir a Maju Coutinho,
jornalista negra que apresenta a previsão do tempo. Janaína brincou “ah, mudou?
Sempre me perguntavam se eu seria a próxima Glória Maria”. Isso mostra que as
pessoas acreditam que os espaços para as mulheres negras na televisão devem se
manter os mesmos, poucos, passados umas para as outras.
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Todas as entrevistadas tinham duas mediações em comum – a estrutural (de
gênero) e a instituicional (da graduação em jornalismo). Isso fez com que a visão
delas fosse parecida em vários aspectos, e discordassem poucas vezes do que foi
apontado pelas outras. Porém, pelas outras mediações serem diferentes, elas
traziam novos pontos ao debate que algumas entrevistadas podiam não ter
observado.
Foi um debate importante para a percepção de que o padrão de aparência e o
estereótipo são evidentes para as mulheres jornalistas, e para entender que elas
sabem que isso afeta – e muito – a vida profissional delas.
6.4.2. Reflexões sobre a mulher na televisão
Refletindo sobre todas as questões abordadas nesse trabalho, é possível
perceber, a partir da fala das entrevistadas, como as questões de ideologia, papéis
de gênero e estrutura do telejornalismo estão interligadas. Kellner (2001) aborda
que, quando as pessoas perceberem o modo como a cultura da mídia transmite as
representações opressivas de gênero, vão conseguir manter uma distância crítica e
não deixar essas representações influenciarem seus pensamentos. A resposta das
entrevistadas deixou isso claro: uma leitura crítica sobre a mídia – aprendida no
curso de jornalismo – fez com que elas entendessem aquele padrão e soubessem
que não era representativo. Apesar de, em muitas falas, ser possível notar a
influência do padrão na mente delas – quando Anahí aborda que o padrão parece
estar próximo de sua realidade, apesar de ser diferente das pessoas que convive no
dia a dia, e quando Mylena fala que o estereótipo parece ser o que todos buscam
atingir – ainda é notável a percepção crítica delas em relação à representação da
mulher jornalista na televisão.
Sobre a questão de gênero, é evidente como a televisão reproduz a opressão
da feminilidade nos corpos apresentados. Como abordado anteriormente por
Novaes (2011 apud SCOTT, 2013) e Beauvoir (1967), a beleza da mulher
geralmente está associada a magreza – corpos que possuem curvas, mas não são
gordos – e a juventude. A partir da análise das imagens, foi possível notar que o
corpo gordo na televisão é raro. De 56 jornalistas analisadas, apenas três
65
aparentavam o corpo acima do peso. Essa questão, ao ser abordada no estudo de
recepção, passou despercebida – foi notada por apenas uma das entrevistadas –
como foi citado por elas, esse padrão da falta de corpos acima do peso na televisão
é tão comum que já não espanta.
Ainda sobre feminilidade, Wolf (1992) aborda sobre como, mesmo após o
feminismo, as mulheres ainda possuem a necessidade de ser bonitas. Essa
necessidade, muitas vezes, parte tanto das representações, de ver mulheres
maquiadas e bem arrumadas todos os dias na televisão, quanto da exigência do
próprio mercado de trabalho. Como afirmado por Wolf (1992), o mito da beleza parte
das instituições masculinas e do poder institucional dos homens. É importante
entender que a televisão funciona a partir da ideologia hegemônica, fazendo com
que as representações da mulher sejam feitas a partir dos homens – por vivermos
em uma sociedade que é patriarcal. Como já afirmado anteriormente por Beauvoir
(1967), “a mulher é exclusivamente definida em relação ao homem.” (BEAUVOIR,
1967, p. 183)
A partir da observação dessas representações femininas sob o olhar
hegemônico masculino, foi possível perceber um estereótipo, que resume todas as
jornalistas mulheres em uma imagem só: de uma mulher branca, de cabelos médios
e magra ou de corpo médio. Barthes (2001) aborda que a criação de um estereótipo
é feito de um opressor para um oprimido – nesse caso, já como afirmado por Wolf
(1992) e Beauvoir (1967), do homem para a mulher.
O estudo de recepção se deu pelo questionamento: se esse padrão existe e
se ele forma um estereótipo, como as mulheres jornalistas se sentem sobre isso? As
duas primeiras perguntas foram respondidas: sim, existe um padrão – ao menos,
nos telejornais analisados – e sim, ele forma um estereótipo – resumindo toda a
classe de mulheres jornalistas em uma imagem só. Quanto ao sentimento das
mulheres jornalistas e estudantes de jornalismo sobre esse estereótipo, que pode
ser constatada a partir das respostas das entrevistadas, é de insatisfação.
Insatisfação por não ver mais mulheres negras, mais mulheres gordas, mais
mulheres que fogem do padrão da televisão, mas são padrão no cotidiano.
Insatisfação por saber que a televisão não é um lugar para todas, apenas para as
que se encaixam no padrão, independente da capacitação ou do amor pelo ramo.
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Insatisfação, em geral, com a conjuntura existente na televisão brasileira e,
especialmente, com a Rede Globo.
67
7. Considerações finais
A presente pesquisa trouxe, historicamente, o que é exigido das mulheres na
sociedade. O casamento, a maternidade e a aparência perfeita são exigências feitas
até hoje. A aparência, em especial, se faz presente nos mais diferentes espectros da
vida da mulher. Nos relacionamentos, na família e, inclusive, no trabalho.
As mulheres que fazem jornalismo na televisão – ou que gostariam de fazer –
sentem isso na pele. A feminilidade, em conjunto com o fato de a televisão se tratar
de imagens, faz com que seja esperado que as mulheres que aparecem nesse meio
de comunicação tenham uma aparência específica.
Com base no que foi constatado na pesquisa sobre a aparência das
telejornalistas, é possível afirmar que nos telejornais estudados existe um
estereótipo das telejornalistas: uma mulher branca, de cabelos médios e lisos,
magra ou com o corpo médio. Esse estereótipo gera uma padronização no que é ser
uma mulher jornalista no Brasil: se resume um grupo de pessoas, com suas
individualidades e pluralidades em uma imagem só. Imagem essa que, como
abordado anteriormente, não é representativa em relação a população brasileira.
De 56 mulheres, duas são negras. De 56 mulheres, três são acima do peso.
Essas duas características, em especial, são extremamente raras nos telejornais,
mas extremamente comuns no nosso dia a dia.
Tendo em vista que a representação que as pessoas têm de si mesmas é
dada a partir das representações que elas têm na mídia, a repetição de um padrão
não-representativo nos telejornais pode ocasionar uma busca das mulheres por um
estereótipo irreal. Além disso, pode fazer com que as mulheres que fazem
jornalismo e se interessam por televisão e não se encaixam nesse padrão não
tenham auto-estima suficiente para participar de uma seleção para atuar na área.
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Ao entrevistar doze mulheres, entre estudantes de jornalismo e jornalistas
formadas, foi possível notar que as percepções e inquietações que moveram essa
pesquisa são compartilhados com outras mulheres da área da comunicação. A falta
de representatividade da mulher negra e/ou gorda na televisão, a falta de mudanças
no jeito de vestir e agir das telejornalistas, a padronização do que é ser uma
jornalista – que ultrapassa as telas e vai para o dia a dia – foram questões
abordadas durante o debate realizado. Além de questões já vistas durante as
pesquisas deste trabalho, questões como classe, privilégios e proposições de
mudanças para a estrutura do jornalismo atual também foram abordadas pelas
entrevistadas, abrindo caminhos para novas pesquisas em relação a esse tema.
Por fim, constatamos que gostar de fazer televisão, ou, como foi falado por
uma entrevistada, “amar o universo da TV”, não é o suficiente. Talvez, estudar e se
esforçar para ser uma boa profissional também não seja, se a mulher não estiver
dentro do padrão. A falta de mulheres de outros tipos na televisão incomoda e
entristece. Tira a esperança de quem gosta do ramo, mas não se encaixa.
Esse estereótipo é passado nas manhãs, tardes e noites, para todos que
queiram se informar sobre as notícias do dia. Uma lembrança diária para todas as
profissionais de jornalismo que esse padrão continua existindo.
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