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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DESPORTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA Natália Moriya Xavier da Costa Testes de hipersensibilidade tardia e imediata e características imunológicas de crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1 e vacinados com BCG Orientadora: Profa. Dra. Mariane Martins de Araújo Stefani Dissertação de Mestrado Goiânia-GO, 2005

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DESPORTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

Natália Moriya Xavier da Costa

Testes de hipersensibilidade tardia e imediata e características imunológicas de crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1

e vacinados com BCG

Orientadora:Profa. Dra. Mariane Martins de Araújo Stefani

Dissertação de Mestrado

Goiânia-GO, 2005

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

Natália Moriya Xavier da Costa

Testes de hipersensibilidade tardia e imediata e características imunológicas de crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1e

vacinados com BCG

Orientadora: Porfª Dra. Mariane Martins de Araújo Stefani

Dissertação submetida ao CPGMT/IPTSP/UFG como requisito parcial para

obtenção do Grau de Mestre, na área de concentração de Imunologia.

Este trabalho foi realizado com auxílio financeiro do Conselho de Ciência e Teconologia do Estado de Goiás – CONCITEG

Goiânia – GO, 2005

SUMÁRIO Lista de Abreviaturas...........................................................................................xi Lista de figuras e tabelas...................................................................................xiii Resumo..............................................................................................................xv Summary..........................................................................................................xvii A. Introdução........................................................................................................1

1. Alterações imunológicas associadas à infecção pelo HIV-1............... 4

2. Papel da IgE na atopia e progressão para aids: avaliação da

hipersensibilidade imediata (ITH).........................................................7

3. Marcadores prognósticos da infecção pelo HIV-1, reconstituição

imunológica e testes de hipersensibilidade tardia (DTH)...................10

B. Justificativa....................................................................................................16 C. Objetivos.......................................................................................................18 D. Material e Métodos........................................................................................19

1. População de estudo..........................................................................20

2. Avaliação da hipersensibilidade do tipo tardio (DTH).........................23

3. Avaliação da hipersensibilidade do tipo imediato (ITH)......................25

4. Dosagem de imunoglobulinas............................................................27

5. Análise estatística..............................................................................29

6. Considerações éticas.........................................................................29

E. Resultados.....................................................................................................30

1. Características clínicas, imunológicas e virais do grupo

HIV-1+/aids........................................................................................30

2. Reatividade ao teste de DTH.............................................................31

3. Reatividade cutânea ao teste de DTH considerando-se os

principais marcadores prognósticos: níveis de células T CD4+

e carga viral........................................................................................34

4. Dosagem de imunoglobulinas séricas: IgA, IgM, IgG e IgE................40

5. IgE sérica e reatividade aos testes de ITH e DTH...............................44

6. Análise dos resultados de testes de ITH e DTH nos pacientes

HIV-1+/aids e indivíduos HIV-1-negativos..........................................45

F. Discussão......................................................................................................47 G. Conclusões...................................................................................................58 H. Referências bibliográficas.............................................................................59 I. Anexos............................................................................................................74 Anexo 1. Ficha clínica do paciente................................................................75 Anexo 2. Critérios de definição de casos de aids em adultos e crianças .........................................................................79 Anexo 3 Ficha de resultados dos testes de DTH e ITH ..............................81 Anexo 4. Aprovação do Comitê de Ética......................................................83 Anexo 5. Termo de consentimento livre e esclarecido para pacientes HIV-1+/aids...................................................................84 Anexo 6. Termo de consentimento livre e esclarecido para indivíduos HIV-1-negativos...........................................................87

LISTA DE ABREVIATURAS ARV – Anti-retroviral

b-DNA – branched-DNA

BCG – Bacilo de Calmette-Guerin

CD4 - Cluster of differentiation 4

CD8 – Cluster of differentiation 8

CDC – Center of Diseases Control – EUA

CV – Carga Viral

DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis

DTH – Delayed-type Hypersensitivity (hipersensibilidade do tipo tardio)

ELISA – Enzyme-linked Immunosorbent assay (ensaio de imunoabsorbância

ligado a enzima)

HAA/HDT – Hospital Dr. Anuar Auad - Hospital de Doenças Tropicais do

Estado de Goiás

HAART – Highly Active Antiretroviral Therapy (terapia anti-retroviral altamente

ativa)

HIV – Human Immunodeficiency Virus (vírus da imunodeficiência humana)

HIV-1 – Human Immunodeficiency Virus type 1 (virus da imunodeficiência

humana tipo 1)

HIV-2 – Human Immunodeficiency Virus type 2 (virus da imunodeficiência

humana tipo 2)

IFN-γ - Interferon γ

IgA – Imunoglobulina A

IgE – Imunoglobulina E

IgG – Imunoglobulina G

IgM – Imunoglobulina M

IL-2 – Interleucina 2

IL-4 – Interleucina 4

IL-10 – Interleuclina 10

IL-13 – Interleucina 13

ITH – Immediate-type Hypersensitivity (hipersensibilidade do tipo imediata)

MS – Ministério da Saúde

NASBA – Nucleic Acid Sequence Based Amplification (amplificação sequencial

de ácidos nucleicos)

PCR – Polimerase Chain Reaction (reação em cadeia de polimerase)

PPD – Purified protein derivative (derivado purificado de proteína)

SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

TH1 – T Helper tipo 1 (T auxiliar tipo 1)

TH2 – T Helper tipo 2 (T auxiliar tipo 2)

OMS – Organização Mundial de Saúde

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

FIGURAS

Figura 1. Teste de DTH.....................................................................................24

Figura 2. Teste de ITH.......................................................................................27 Figura 3. Distribuição dos resultados ao teste de DTH para PPD, apresentados em diâmetro de enduração (mm) e idade (anos), nos grupos HIV-1+/aids (n=36) e HIV-1-negativos (n=56)..................33 Figura 4A. Contagens de células T CD4+ dos 09 pacientes HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH.................................................................37 Figura 4B. Carga viral dos 09 pacientes HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH.................................................................................................38 Figura 5A. Contagens de células T CD4+ dos pacientes HIV-1+/aids não reatores ao teste de DTH distribuídos em grupos etários: 1= 03 a 06 anos; 2 = 07 a 10 anos e 3 = 11 a 13 anos.....................39 Figura 5B. Carga viral dos pacientes HIV-1+/aids não reatores ao teste de DTH distribuídos em grupos etários:1= 03 a 06 anos; 2 = 07 a 10 anos e 3 = 11 a 13 anos...............................................40 Figura 6A. Dosagem de IgG sérica dos pacientes HIV-1+/aids.........................41 Figura 6B. Dosagem de IgM sérica dos pacientes HIV-1+/aids.........................42 Figura 6C. Dosagem de IgA sérica dos pacientes HIV-1+/aids.........................42 Figura 7A. Dosagens de IgE sérica dos pacientes HIV-1+/aids de 03 a 09 anos. .............................................................................43 Figura 7B. Dosagens de IgE sérica dos pacientes HIV-1+/aids de 10 a 13 anos......................................................................................43

TABELAS Tabela 1. Características dos indivíduos HIV-1+/aids e HIV-1-negativos..........30 Tabela 2. Contagem de células T CD4+ e viremia de pacientes HIV-1+/aids (n=40) no momento do estudo........................................31 Tabela 3. Reatividade ao teste de DTH.............................................................32 Tabela 4. Positividade ao teste de DTH, discriminada por antígenos...............32

Tabela 5. Reatividade ao PPD (mm de enduração) em indivíduos HIV-1+/aids (n=36) e HIV-1-negativos (n=56)....................................33 Tabela 6. Reatividade ao teste de DTH estratificada de acordo com a contagem de células T CD4+ (T CD4+)# no grupo HIV-1+/aids..........34 Tabela 7. Níveis absolutos de células T CD4+ (T CD4+) e viremia (CV) nos pacientes do grupo HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH........35 Tabela 8. Dosagem de IgE sérica e níveis absolutos de células T CD4+ (T CD4+) no grupo HIV-1+/aids..............................................44 Tabela 9. Níveis de IgE sérica e reatividade aos testes de ITH e DTH no grupo HIV-1+/aids.................................................................45 Tabela 10. Reatividade aos testes de ITH e DTH no grupo de indivíduos HIV-1-negativos...............................................................................46 Tabela 11. Reatividade aos testes de ITH e DTH nos pacientes HIV-1+/aids......................................................................................46

RESUMO

Objetivos: Avaliar crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1/aids e

vacinados com BCG quanto a: 1) resposta imune celular para diferentes

antígenos utilizando teste de hipersensibilidade do tipo tardio (DTH); 2)

resposta imune humoral mediante teste de hipersensibilidade do tipo imediata

(ITH) e dosagem de imunoglobulinas séricas; 3) papel da dosagem de IgE

sérica como indicador da gravidade da doença e sua relação com atopia.

Métodos: Estudo de corte transversal incluiu 40 pacientes de 03 a 13 anos de

idade, infectados pelo HIV-1, que fazem seguimento clínico no Hospital Dr.

Anuar Auad (HAA/HDT) em Goiânia – Goiás, e 56 indivíduos HIV-1-negativos,

de faixa etária e nível sócio-econômico semelhantes. Testes cutâneos de DTH

para 05 antígenos (esporotriquina, tricofitina, candidina, varidase e PPD) (ponto

de corte > 4mm de enduração) e testes cutâneos de ITH para aeroalérgenos

(poeira domiciliar, ácaros, fungos, epitélio de cão, epitélio de gato, barata)

foram realizados em ambos os grupos. No grupo infectado pelo HIV-1 a

dosagem de imunoglobulinas séricas foi realizada pelos métodos de

imunonefelometria (IgA, IgM e IgG) e quimioluminescência (IgE). Dados

clínicos e laboratoriais dos indivíduos infectados (contagem de células T CD4+

e carga viral) foram obtidos a partir dos prontuários médicos.

Resultados: A reatividade ao teste de DTH para pelo menos um antígeno foi

de 25% no grupo HIV-1+/aids e de 87,5% nos indivíduos HIV-1-negativos

(p<0,001). No grupo HIV-1-negativo o antígeno com maior índice de reatividade

foi o PPD (81,6%), enquanto no grupo HIV-1+/aids predominou reação à

candidina (88,8%). Não houve correlação entre contagem de células T CD4+ e

reatividade ao teste de DTH (p=0,442). Observamos relação inversa entre

níveis de IgE sérica e contagens de células T CD4+ nos pacientes HIV-1+/aids

(p=0,007). Correlação positiva entre níveis elevados de IgE sérica e reatividade

ao teste de ITH foi observada nos pacientes HIV-1+/aids, sugerindo associação

com atopia (p=0,029).

Conclusões: Pacientes HIV-1+/aids de 03 a 13 anos de idade apresentam

diferenças no índice de reatividade e na especificidade da resposta ao teste de

DTH quando comparados com indivíduos HIV-1-negativos da mesma faixa

etária. Associação de níveis elevados de IgE e sensibilização atópica, avaliada

pelo teste de ITH, foi observada nos pacientes HIV-1+/aids. Relação inversa

entre contagens de células T CD4+ e níveis de IgE sugere associação da

elevação dos níveis séricos dessa imunoglobulina com gravidade da doença.

Palavras-chave: aids em crianças e adolescentes, hipersensibilidade tardia,

hipersensibilidade imediata.

SUMMARY

Objectives: Evaluate HIV-1+/aids children and adolescents vaccinated with

BCG concerning: 1) cellular immune response to different antigens assessed by

delayed-type hypersensitivity (DTH) reaction; 2) humoral immune response

assessed by immediate-type hypersensitivity (ITH) tests and measurement of

serum immunoglobulin levels; 3) role of serum IgE as a marker of disease

severity and its association to atopy.

Methods: This cross-sectional study included 40 HIV-1-infected patients (03-

to-13-year-old) recruited at Hospital Dr. Anuar Auad (HAA/HDT) in Goiânia –

Goiás, and 56 HIV-1-negative individuals with similar age range and social-

income conditions. DTH skin tests for 05 antigens (Sporotrichin, Trichophytin,

Candidin, Streptokinase/streptodornase and PPD) (cut off > 4 mm of induration)

and ITH skin tests for airborne allergens (house dust, house-dust mites, molds,

dog dander, cat dander and cockroach) were performed in both groups. Serum

levels of immunoglobulins were measured by immunonephelometry (IgA, IgM,

IgG) and chemiluminescence assay (IgE). Clinical and laboratorial data (CD4+ T

cell counts and viral loads) from HIV-1-infected individuals were obtained from

medical files at HAA/HDT.

Results: Twenty five percent of HIV-1+/aids patients and 87,5% of HIV-1-

negative individuals reacted to at least one antigen in DTH skin tests (p< 0,001).

HIV-1-negative individuals presented higher positivity to PPD (81,6%) while in

the HIV-1+/aids group reaction to Candidin predominated (88,8%). No

correlation was found between reactivity to DTH skin test and CD4+ T cell

counts (p=0,442). Decreased CD4+ T cell counts were associated to higher

levels of serum IgE (p=0,007). Association of high levels of IgE and ITH skin

test reactivity was observed in HIV-1+/aids patients, suggesting association to

atopy (p=0,029).

Conclusions: HIV-1+/aids patients from 03 to 13 years of age presented

different specificity and reactivity index to DTH reactions, compared to HIV-1-

negative individuals with same age range. Association of high levels of IgE and

atopy, assessed by ITH skin tests, was observed in HIV-1+/aids patients.

Inverse correlation between CD4+ T cell counts and IgE levels suggests

association of serum IgE increase and disease severity.

Key words: aids in children and adolescents, delayed-type hypersensitivity,

immediate-type hypersensitivity.

A. INTRODUÇÃO

A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA/aids), descrita no início da

década de 80 (Morb Mortal Wkly Rep 1981-a) é caracterizada por um quadro

de imunodeficiência secundária à destruição dos linfócitos T CD4+, cujas

principais manifestações clínicas são infecções oportunistas, neoplasias,

caquexia e degeneração do sistema nervoso central (Morb Mortal Wkly Rep

1982-b). O agente etiológico da aids, descrito em 1983, é o vírus da

imunodeficiência humana (HIV).

A infecção pelo vírus HIV é considerada uma epidemia, estando presente em

todos os continentes (Calleja et al. 2002, Hamers & Downs 2004, Lau & Muula

2004). Um dos maiores avanços na redução da morbi-mortalidade da infecção

causada pelo HIV foi a instituição da terapia anti-retroviral combinada e

altamente eficaz denominada HAART (Highly Active Antiretroviral Therapy) em

meados dos anos 90 (Sepkowitz 2001). Esse tratamento associa drogas

denominadas inibidores de protease e inibidores de transcriptase reversa

nucleosídicos e não-nucleosídicos, e representa hoje a base para a terapêutica

dos pacientes com aids.

Apesar desse grande avanço, a infecção pelo HIV continua sem controle. No

final do ano de 2003 estimava-se que havia cerca de 40 milhões de indivíduos

vivos, entre adultos e crianças, infectados pelo HIV no mundo. Cerca de 3

milhões de óbitos em decorrência de aids foram relatados somente no ano de

2003 (UNAIDS 2003). O impacto sócio-econômico causado por essa epidemia

transformou a questão da infecção pelo HIV/aids em um grave problema de

saúde pública.

No Brasil, calcula-se que existam em torno de 600.000 indivíduos infectados

pelo HIV, com estimativa de 15.000 óbitos associados a aids em 2003

(UNAIDS 2003). Entre os anos de 1980 e 2004, 362.364 casos de aids foram

notificados, sendo que destes, 20.252 ocorreram na Região Centro-Oeste e

7.217 casos em Goiás (Galvão-Castro et al. 1987, Ministério da Saúde - 2004).

Dois tipos de retrovírus, o HIV-1 e HIV-2 estão associados com a aids, sendo o

HIV-1 o responsável pela pandemia global. Até o momento, somente o HIV-1

foi identificado no Brasil. A transmissão do vírus ocorre por via parenteral,

sexual e perinatal. Os primeiros casos de infecção pelo HIV-1 foram relatados

em indivíduos homossexuais do sexo masculino (Morb Mortal Wkly Rep 1982-

a). Nos anos que sucederam à notificação dos primeiros casos, a infecção

predominou entre homossexuais e usuários de drogas, tanto na Europa como

nos Estados Unidos (Morb Mortal Wkly Rep 1982-b, WHO 1986).

No final dos anos 80 e início dos anos 90, grupos heterossexuais passaram

também a ser atingidos pela infecção. No Brasil, a partir de 1991, o aumento do

número de casos associados à subcategoria de exposição heterossexual se fez

acompanhar de uma proporção cada vez maior de mulheres em idade fértil

infectadas pelo HIV-1. Esse fenômeno, denominado de “feminização” da

epidemia, por sua vez, trouxe como conseqüência um número cada vez maior

de crianças infectadas através da via perinatal (Vermelho et al. 1999). A

transmissão vertical, ou também chamada materno-infantil, é hoje a principal

via de infecção pelo HIV-1 em crianças (Newell & Peckham 1993; Burns &

Mofenson 1999). No Brasil, essa forma de transmissão é responsável por mais

de 80% de casos em menores de 13 anos (Vermelho et al. 1999).

O número de crianças infectadas em nosso país sofreu um rápido crescimento

a partir de 1991, mas entre os anos de 1996 e 1997 esses números

apresentaram tendência decrescente (Bongertz 2001). Esta redução

provavelmente revela o impacto da sorologia para HIV-1 realizada na triagem

durante o atendimento pré-natal e da instituição do protocolo PACTG para

profilaxia da transmissão vertical. Esse protocolo consiste no tratamento de

gestantes infectadas com zidovudina a partir da 12ª semana de gestação,

durante o trabalho de parto e tratamento dos recém-nascidos (Connor et al.

1994, HIV Pediatric Prognostic Markers Colaborative Study Group 1994).

Apesar disso, estima-se que existam 2.000.000 crianças infectadas no mundo

todo (UNAIDS 2003). No Brasil, até o final de 2004, 10.917 casos de aids em

menores de 13 anos já haviam sido notificados (Ministério da Saúde 2004).

A história natural da infecção pelo HIV-1 em crianças segue um

comportamento bimodal (The European Collaborative Study 1994). Cerca de

15-20% das crianças infectadas têm uma rápida progressão da doença, com a

instalação de uma grave imunodeficiência, infecções oportunistas e

encefalopatia no primeiro ano e óbito até o terceiro ano de vida. Em 80-85%

das crianças infectadas, a infecção progride mais lentamente, à semelhança da

infecção em adultos (Grubman et al. 1995, Obimbo et al. 2004).

1. Alterações imunológicas associadas à infecção pelo HIV-1

O HIV-1 utiliza, como receptor primário no processo de infecção de uma célula,

uma molécula de superfície denominada CD4, presente em macrófagos e

linfócitos T CD4+. No final dos anos 90 os co-receptores para o HIV-1,

representados por receptores de quimiocina CCR5 e CXCR4 foram descritos.

Os vírus que utilizam o CCR5 infectam preferencialmente macrófagos e os que

utilizam o CXCR4, linfócitos T CD4+ (Littman 1998). Ao longo da infecção pelo

HIV-1, ciclos contínuos de replicação do vírus e destruição de linfócitos T CD4+

ocorrem, levando a um declínio progressivo dessa subpopulação de linfócitos

(Cao & Walker 2000).

A resposta imune ao HIV-1 é caracterizada por uma resposta imune do tipo

humoral, com a produção de anticorpos e uma resposta do tipo celular, com o

recrutamento de células capazes de lisar células do hospedeiro infectadas pelo

vírus, como os linfócitos T CD8+ (Cao & Walker 2000).

A resposta imune humoral contra o HIV-1 pode ser observada pela produção

de anticorpos contra antígenos do envelope viral, como as glicoproteínas

gp120 e gp41, e antígenos do capsídeo, como a proteína p-24 (Loomis-Price et

al. 1998). Anticorpos contra o antígeno p-24 são capazes de inibir a replicação

viral, e a redução de seus níveis séricos parece ser um marcador prognóstico

de evolução para aids (Weber et al. 1987, Cheingsong-Popov et al. 1991,

Loomis-Price et al. 1998).

Os anticorpos produzidos contra as glicoproteínas gp-120 e gp-41, por sua vez,

não parecem ter papel protetor na infecção. A explicação mais provável é que

os domínios mais conservados dessas glicoproteínas de envelope,

notadamente os sítios de ligação com o CD4 (receptor) e o co-receptor do HIV-

1, ficam protegidos por uma extensa glicosilação (Ho & Huang 2002),

prejudicando a produção dos anticorpos. De um modo geral, a imunidade

humoral não representa um mecanismo protetor eficaz na infecção pelo HIV-1

(Robinson 2002, Trkola et al. 2004).

A ativação de populações de linfócitos B pelo HIV-1 induz outras importantes

alterações na resposta imune. Clones de linfócitos B virgens podem ser

estimulados inespecificamente pelo HIV-1, levando à hipergamaglobulinemia

observada em muitos pacientes (Chong et al. 2001, De Milito 2004). Além

disso, a diferenciação de linfócitos B de memória em plasmócitos, que são

células terminais, leva à exaustão e morte da população de linfócitos B de

memória antígeno-específicos (De Milito et al. 2004, Nagase et al. 2001). Desta

forma, a ativação inespecífica de linfócitos B pode levar a uma perda

progressiva na capacidade de produzir anticorpos com papel protetor contra

antígenos contra os quais o indivíduo já foi imunizado (Lederman et al. 2003).

Por sua vez, a resposta imune celular, representada principalmente pelos

linfócitos T CD8+ citotóxicos é fundamental no controle da viremia no período

de infecção que precede a fase sintomática (Norris & Rosemberg 2001). Os

linfócitos T CD8+, contudo, dependem dos linfócitos auxiliares T CD4+, capazes

de produzir citocinas do tipo TH1, como a IL-2 e o IFN-γ (Kalams & Walker

1998). Desse modo, a destruição dos linfócitos T CD4+ é um fenômeno que

compromete profundamente a resposta imune contra o HIV-1. Além do

tropismo preferencial para linfócitos T CD4+, estudos sugerem que o HIV-1

parece infectar preferencialmente linfócitos T CD4+ ativados, incluindo clones

específicos para o HIV-1. A infecção e posterior destruição desses clones

comprometem profundamente a resposta imune nos pacientes infectados

(Norris & Rosenberg 2001, Douek et al. 2002, Demoustier et al. 2002).

A resposta do tipo TH1 é importante no controle da fase inicial da infecção,

notadamente por ação das células T CD8+. Diversos estudos têm mostrado que

durante a evolução da infecção e progressão para o estado de

imunodeficiência que caracteriza a aids, parece ocorrer uma mudança da

resposta do tipo TH1 para o padrão de resposta TH2, estimulando eventos de

imunidade humoral (Clerici & Shearer 1994, Romagnani 1997, Spellberg &

Edwards 2001).

A avaliação do perfil de citocinas produzidas por pacientes infectados pelo HIV-

1 tem sido objeto de estudo (Mosmann 1994, Kedzierska & Crowe 2001, Galli

et al. 2001, Imami et al. 2002). Aparentemente, na progressão da infecção há o

favorecimento da produção de citocinas do tipo TH2, como a IL-4 e IL-13, que

estimulam a produção de alguns isotipos de anticorpos como a IgE, em

detrimento da resposta TH1, representada pelo IFN-γ e IL-2, associados a

resposta imune celular e produção de IgG (Clerici & Shearer 1994, Altfeld et al.

2000, Spellberg & Edwards 2001).

Uma possível explicação para o predomínio do perfil TH2 durante a infecção

seria o estímulo da síntese de citocinas como IL-4 e IL-13 por proteínas do

HIV-1 (Florio et al. 2000). Marone e colaboradores (2001) sugerem que as

proteínas gp120 e tat do HIV-1 poderiam levar a liberação de citocinas TH2.

Como conseqüência do estímulo da resposta imune humoral, os indivíduos

infectados tornam-se ainda mais susceptíveis ao próprio vírus, além de se

tornarem mais vulneráveis a infecções por agentes como Pneumocystis carinnii

e micobactérias, que tiram proveito da baixa capacidade de resposta imune

celular observada nessa fase da doença. Estudos previamente realizados em

animais mostraram essa inibição recíproca antígeno-independente entre

resposta imune TH1 e TH2 por agentes infecciosos. Agentes capazes de

induzir forte resposta TH2, como schistosomas, poderiam inibir a indução de

resposta TH1 induzida, por exemplo, por micobactérias. (Shirakawa et al.

1997).

2. Papel da IgE na atopia e progressão para aids: avaliação da

hipersensibilidade imediata (ITH)

A IL-4, uma citocina protótipo das células TH2, está diretamente associada ao

estímulo da produção de IgE. Existem evidências de que o aumento dos níveis

de IgE sérica observado na infecção pelo HIV-1 poderia indicar ativação

preferencial de células do tipo TH2 (Marone et al. 2000; Florio et al. 2000;

Galhardo et al. 2000).

No início dos anos 90, começou a se observar uma correlação entre elevação

dos níveis de IgE sérica total e progressão para aids. Um estudo realizado

entre homossexuais infectados relacionou elevação dos níveis de IgE sérica

com surgimento de infecções oportunistas (Sample et al. 1990). De modo

semelhante, Wright e colaboradores (1990) observaram níveis

significativamente elevados de IgE em indivíduos infectados pelo HIV-1 com

contagem de células T CD4+ < 200/μl, quando comparados com indivíduos

não-infectados, ou infectados mas com contagem de células T CD4+ > 200/μl.

Estes resultados sugeriram que o aumento de IgE reflete alteração na

produção de citocinas, inicialmente do tipo TH1, para citocinas do tipo TH2

indutoras de IgE, no decorrer da infecção.

Níveis elevados de IgE sérica estariam correlacionados à queda da contagem

de células T CD4+. Assim, a dosagem de IgE sérica poderia ser útil para

identificar risco de evolução para aids tanto em pacientes adultos, como em

crianças (Small et al. 1998, Ranciman et al. 1998, Vigano et al. 1995). Um

estudo realizado em crianças conduzido por Ellaurie e colaboradores (1995)

não mostrou associação entre elevação da IgE sérica e níveis de células T

CD4+. Entretanto, níveis mais elevados de IgE foram detectados em pacientes

que apresentaram doenças oportunistas e sintomas associados à aids.

Segundo a “Hipótese da Higiene”, eventos da infância que direcionem a

resposta imune preferencialmente para uma resposta TH2 podem estar

associados com maior predisposição para atopia (Romagnani 2000). Assim, os

níveis elevados de IgE sérica total, observados nas crianças infectadas,

poderiam ainda representar uma resposta de hipersensibilidade específica a

determinados alérgenos, mensurável pelo teste de hipersensibilidade imediata

(ITH).

Na prática clínica, a ITH pode ser avaliada in vivo, utilizando-se testes cutâneos

de leitura imediata, ou in vitro, através da dosagem de IgE sérica específica

para determinados antígenos. Os testes cutâneos são geralmente o método de

eleição, pela simplicidade de execução, menor custo e elevada sensibilidade.

Dentre os testes cutâneos, o método de puntura modificado (Pepys 1975) é o

mais utilizado. Com essa técnica, baterias variadas de alérgenos inalantes (por

exemplo, poeira domiciliar, ácaros, fungos e epitélios de animais) e alimentares

podem ser testadas, a fim de confirmar a suspeita de sensibilização atópica

(Demoly et al. 1998).

Alguns estudos não observaram relação entre os níveis de IgE sérica e a

incidência de doenças respiratórias como rinite, sinusite e asma em pacientes

infectados pelo HIV-1 (Israel-Biet et al. 1992, Marshall 1999). Por outro lado,

avaliando especificamente a sensibilização atópica em crianças infectadas pelo

HIV-1 utilizando testes cutâneos, os resultados são controversos. Um estudo

apontou correlação entre níveis elevados de IgE sérica e positividade a testes

cutâneos para aeroalérgenos em 58% dos pacientes (Corominas et al. 2000).

Entretanto, outros grupos não observaram correlação entre IgE e atopia em

indivíduos infectados pelo HIV-1 (Vigano et al. 1995; Bacot et al. 1997).

Correlação entre a produção de IgE específica para o HIV-1 e a progressão da

infecção também foi sugerida (Secord et al. 1996, Pellegrino et al. 2002).

Esses estudos indicam que em pacientes infectados pelo HIV-1, parte da IgE

sérica elevada seria específica para o vírus, podendo desempenhar papel

protetor na infecção, ao invés de ser um mero marcador de alteração do perfil

TH1 para TH2.

3. Marcadores prognósticos da infecção pelo HIV-1, reconstituição

imunológica e testes de hipersensibilidade tardia (DTH)

A contagem de células T CD4+ e a viremia são os principais marcadores

prognósticos da infecção pelo HIV-1 em adultos e crianças (Aidsinfo 2004 a,b,

HIV Paediatric Prognostic Markers Collaborative Study Group 2003), e são

utilizados no acompanhamento clínico da infecção, auxiliando na escolha do

regime terapêutico e na monitorização do tratamento anti-retroviral (Resino et

al. 2000). A introdução do tratamento anti-retroviral é baseada em critérios do

CDC (Center of Diseases Control – EUA) que consistem na avaliação dos

níveis de células T CD4+ e na história clínica (sintomas, histórico de doenças

oportunistas) (MS - Programa Nacional de DST e AIDS 2004).

A reconstituição imunológica observada após instituição do HAART é definida

como aumento dos níveis de células T CD4+ no período de 12 semanas após o

início do tratamento (Gea-Banacloche & Lane 1999, Valdez 2002). A

reconstituição imunológica é caracterizada por um rápido aumento dos níveis

de células T CD4+, às custas da redistribuição de linfócitos provenientes de

tecidos linfóides, nas primeiras semanas que se seguem ao início do

tratamento (Connick et al. 2000). Após esse período inicial, a produção de

células T CD4+ no timo é mais lenta, podendo persisitir por alguns anos. Nessa

segunda fase, grande parte das células produzidas são células virgens. Uma

rápida recuperação de níveis de células T CD4+ pós-HAART já foi descrita em

populações pediátricas, nas quais ainda há função tímica importante (Cohen-

Stuart et al. 1998, Vigano et al. 2000).

Apesar da contagem de células T CD4+ ser considerada o “padrão-ouro” para

observação da condição imunológica de pacientes infectados pelo HIV-1 ou

com aids (Soh et al. 2003), nem sempre níveis normais dessas células nesses

pacientes caracterizam imunocompetência. A avaliação quantitativa não é

capaz de indicar a especificidade ou a capacidade funcional das populações de

células CD4+ (Chougnet et al. 1998).

Nesse contexto, o teste cutâneo de hipersensibilidade tardia (DTH) pode ser

uma ferramenta útil, fornecendo parâmetros funcionais sobre a resposta imune

celular específica (Ahmed & Blose 1983, Valdez et al. 2000). Nesse teste, são

inoculados por via intradérmica antígenos com os quais o indivíduo muito

provavelmente já teve contato prévio, seja por infecção natural ou vacinas.

Assim, o seu potencial de resposta imune celular de memória in vivo é

avaliado, de forma específica, simples e rápida (Sitz et al. 1997).

Usualmente, o teste intradérmico para avaliação de DTH é considerado positivo

quando se observa uma enduração igual ou superior a 5 mm. Porém, valores

iguais ou superiores a 1 mm se correlacionam com algum nível de resposta de

linfoproliferação positiva in vitro, demonstrando presença de resposta imune

celular (Ahmed & Blose 1983). Por esse motivo, nos estudos que utilizam o

teste intradérmico para avaliação de resposta imune celular, encontram-se

diferentes diâmetros de enduração indicando positividade ao teste de DTH

(Ahmed & Blose 1983, Blatt et al. 1993, Klein et al. 1999, Valdez et al. 2000).

O teste de DTH pode ser útil em várias situações da prática clínica. O teste de

DTH com PPD (proteína purificada de Mycobacterium tuberculosis) é utilizado

há quase um século, auxiliando no diagnóstico da tuberculose (Mantoux 1908).

Este teste é recomendado em indivíduos com risco de adquirir tuberculose,

pois a reatividade se correlaciona ao contato com o M. tuberculosis e, na

presença de sintomas/sinais clínicos, corrobora o diagnóstico de infecção (AAP

2000, Almeida et al. 2001).

A vacinação neonatal de rotina com BCG, como é realizada no Brasil, não deve

ser levada em consideração ao se interpretar o resultado do teste de DTH com

PPD. Existem evidências de que a reatividade ao PPD atribuida à vacina BCG

seja perdida com o tempo decorrido pós-imunização, sendo portanto, idade

dependente (Larsson et al. 1992). Além disso, estima-se que 2% da população

vacinada com BCG apresente uma resposta persistentemente negativa ao

teste intradérmico com PPD (Olivier 2000). É importante ressaltar que, além da

ação específica, protegendo o indivíduo de formas graves e disseminadas da

tuberculose, a vacina BCG tem um notável papel como indutor de resposta do

tipo TH1 (Marchant et al. 1999). O bacilo de Calmette-Guerin, uma linhagem

atenuada de Mycobacterium bovis, é um organismo intracelular obrigatório,

induzindo, nos indivíduos responsivos, uma importante resposta imune celular.

A capacidade das proteínas do BCG em induzir essa potente resposta de base

celular é reconhecida, e utilizada em situações onde se faz necessário

incrementar esse segmento da resposta imune, como é o caso de neoplasias

(Cheng et al. 2004) .

Além do PPD, outros antígenos podem ser utilizados no teste de DTH em

diferentes situações, com na investigação de imunodeficiência, quando a

reatividade ao teste de DTH praticamente exclui a suspeita de

imunodeficiência celular (IUIS - Relato do comitê científico 1999). Em

pacientes submetidos a cirurgias de risco, ou portadores de neoplasias, o teste

de DTH positivo se relaciona a bom prognóstico clínico (Ahmed & Blose 1983).

Em pacientes infectados pelo HIV-1 os testes cutâneos de DTH podem indicar

o grau de resposta imune celular a patógenos freqüentes (Valdez et al. 2000),

ou contra antígenos do próprio HIV-1 (Sitz et al. 1997, Hladik et al. 2001). Na

progressão da infecção pelo HIV-1 para aids observa-se queda da imunidade

mediada por células para estímulos específicos e inespecíficos, e a redução na

reatividade aos testes de DTH (Empson et al. 1999, Leigh et al. 2001, Madhi et

al. 1999).

A perda de reatividade cutânea refletindo imunossupressão representada pela

redução dos níveis de células T CD4+ já foi observada em estudos em adultos e

crianças (Shearer 1999, Klein et al. 1999). Um estudo realizado em grupos de

crianças não-infectadas e infectadas pelo HIV-1 de várias categorias clínicas

demonstrou uma redução da reatividade ao DTH associada a evidências

clínico-laboratoriais de imunodeficiência (Raszka et al. 1996). A anergia,

definida como ausência de reatividade ao teste cutâneo de DTH, já foi

relacionada a uma progressão mais rápida para aids (Blatt et al. 1993,

Galhardo et al. 2000).

O estudo da resposta imune celular através do teste cutâneo de DTH também

tem grande utilidade no monitoramento pós-HAART. Em alguns pacientes

observa-se dissociação entre os níveis de células T CD4+ e avaliações

funcionais por testes de DTH (Chougnet et al. 1998, Valdez et al. 2002) e

produção de citocinas (Al-Harthi et al. 2004). Apesar da recuperação nos

números de células T CD4+, a reatividade cutânea aos testes de DTH não é

restaurada em alguns casos (Kornbluth & McCutchan 1993). A restauração de

populações de células T CD4+ às custas de células virgens, sem restituição das

células de memória, pode gerar uma imunodeficiência específica (Chougnet et

al. 1998).

Apesar da dissociação em alguns parâmetros funcionais, como a reatividade

ao DTH e produção de citocinas, a maioria dos pacientes que respondem ao

HAART com elevação de células T CD4+ apresenta melhora clínica (Valdez

2002). Mesmo que a reconstituição imunológica seja parcial, pode haver

melhora do repertório imunológico contra infecções oportunistas comuns.

Mesmo sem uma correlação direta com a clínica, o teste cutâneo de DTH pode

fornecer importantes informações. A capacidade funcional da população de

células T CD4+ restaurada após HAART poderá ter repercussão na evolução

da doença.

Estudo recente explorou a reatividade ao teste de DTH, que representa uma

resposta do tipo TH1, a elevação da IgE sérica, representando uma resposta

do tipo TH2, e sua correlação com contagens de células T CD4+. Segundo os

autores, a anergia e hiporreatividade ao teste de DTH parecem se associar à

elevação de IgE sérica e redução dos níveis de células T CD4+ (Galhardo et al.

2000). A associação entre elevação da IgE, perda da reatividade aos testes de

DTH e queda dos níveis de células T CD4+ poderia indicar, indiretamente, o

incremento da resposta do tipo TH2 em decorrência da queda da resposta do

tipo TH1. Esses fenômenos se associariam, em conseqüência, à gravidade da

infecção pelo HIV-1/aids, como já foi observado em outros estudos (Romagnani

1997, Romagnani 2000, Galhardo et al. 2000).

B. JUSTIFICATIVA

O acompanhamento dos pacientes HIV-1+/aids baseia-se em dados clínicos e

laboratoriais. Os principais marcadores prognósticos são a contagem de

células T CD4+ e viremia. A dosagem de IgE sérica também já foi apontada

como um marcador prognóstico de evolução para aids (Vigano et al. 1995,

Small et al. 1998, Ranciman et al. 1998). Geralmente observa-se correlação

entre a situação clínica e os níveis de células T CD4+. Entretanto, a avaliação

quantitativa de linfócitos T CD4+ pode não identificar perdas qualitativas no

repertório de células T CD4+ (Kornbluth & McCutchan 1993, Chougnet et al.

1998, Valdez et al. 2002, Al-Harthi et al. 2004).

Estudos in vivo que avaliem a imunidade celular contra diferentes patógenos

podem fornecer informações qualitativas importantes sobre a resposta imune

na infecção pelo HIV-1/aids. Nesse estudo, investigamos a imunidade celular

de uma população de crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1 por meio

do teste de DTH. A imunidade humoral também foi avaliada, utilizando-se teste

de ITH e dosagem de imunoglobulinas séricas. Na dosagem de

imunoglobulinas, ênfase especial foi dada à dosagem de IgE, e sua possível

relação com a sensibilização alérgica (ITH) foi investigada.

A avaliação imunológica de um grupo de crianças e adolescentes que

apresentam parâmetros clínicos e laboratoriais bem conhecidos, como a

contagem de células T CD4+, é de grande interesse, pois pode revelar

alterações inerentes a essa faixa etária. Além disso, o estudo da reatividade ao

teste de DTH com PPD em dois grupos distintos (infectados e não-infectados

pelo HIV-1), igualmente vacinados com BCG e expostos ao M. tuberculosis

busca informações sobre possíveis alterações da resposta imune, induzidas

pela infecção pelo HIV-1.

C. OBJETIVOS

1- Avaliar a resposta imune celular para diferentes antígenos em crianças e

adolescentes infectados pelo HIV-1, empregando-se testes de DTH.

2- Avaliar a resposta imune humoral de crianças e adolescentes infectados

pelo HIV-1 mediante dosagem de imunoglobulinas séricas.

3- Avaliar a correlação dos níveis de IgE sérica com a gravidade da

doença, e observar sua relação com atopia, utilizando testes de ITH.

D. MATERIAL E MÉTODOS O delineamento do presente estudo está representado no fluxograma abaixo.

1. População de estudo

1.1. Grupo HIV-1+/aids

No período de Maio a Novembro de 2003, pacientes infectados pelo HIV-1,

com idades entre 03 e 13 anos e acompanhados no Ambulatório de Pediatria

do Hospital Dr. Anuar Auad - Hospital de Doenças Tropicais do Estado de

Goiás (HAA/HDT) em Goiânia – Goiás, foram convidados a participar desse

estudo de corte transversal. Quarenta pacientes (24 do gênero masculino e 16

do gênero feminino) foram randomicamente incluídos no estudo.

Os dados clínicos e laboratoriais referentes aos pacientes com infecção pelo

HIV-1 ou aids foram obtidos através de revisão de prontuários médicos dos

pacientes no HAA/HDT e armazenados em uma ficha clínica individualizada

para cada paciente (anexo 1).

a) Dados clínicos: foram considerados os sinais/sintomas/doenças

apresentados pelo paciente desde o diagnóstico de infecção por

HIV-1/aids até o momento do estudo. Para classificação em

indivíduos infectados assintomáticos e com aids foram considerados

os critérios do Ministério da Saúde (Programa Nacional de DST e

AIDS) (anexo 2).

Na definição do tipo de tratamento foram considerados como

utilizando HAART (Highly Active AntiRetroviral Therapy) os pacientes

em uso de 01 inibidor de protease e 02 inibidores de transcriptase

reversa não-nucleosídicos ou em uso de 02 inibidores de

transcriptase reversa nucleosídicos e 01 inibidor de transcriptase

reversa não-nucleosídico. Os pacientes que não se enquadraram

nessa classificação foram considerados como utilizando terapia anti-

retroviral (ARV).

b) Os dados laboratoriais referentes às contagens de linfócitos T CD4+

e quantificação de carga viral realizadas pelo paciente durante

acompanhamento no HAA/HDT foram incluídos. A contagem de

linfócitos T CD4+ foi obtida por citometria de fluxo, enquanto a carga

viral foi quantificada por 03 técnicas diferentes: Polimerase Chain

Reaction (PCR)- (Roche), Nucleic Acid Sequence Based Amplification

(NASBA) – (Organon, Holanda) e Branched-DNA (b-DNA) – (Chiron

Diagnostics Emmeryville, CA - EUA). Esses exames foram realizados

no Laboratório Central do HAA/HDT. Para fins de análise, foram

consideradas as contagens de células T CD4+ e quantificação de

carga viral realizadas próximas às datas da coleta do sangue e

realização dos testes cutâneos de ITH e DTH (variação de 01 a 03

meses).

Na avaliação da contagem de células T CD4+ considerou-se a

contagem absoluta de células T CD4+. De acordo com parâmetros

internacionais (Classificação Imunológica do CDC) foram

considerados normais os seguintes valores referenciais: células T

CD4+ > 1000/μl para os pacientes de 03 a 05 anos e > 500/μl para

pacientes de 06 a 13 anos. Contagem de células T CD4+ inferiores a

200 células/μl foram consideradas indicadores de imunossupressão

grave (Ministério da Saúde 2004).

1.2. Grupo controle (HIV-1-negativo)

Um grupo controle foi estudado para se estabelecer um parâmetro de

reatividade no teste cutâneo de DTH e ITH em uma população não-infectada

com características etárias e sócio-econômicas semelhantes às do grupo HIV-

1+/aids. Esse grupo foi constituído por 56 crianças e adolescentes saudáveis

(25 do gênero feminino e 31 do gênero masculino), sem história de infecção

pelo HIV-1, com idades entre 03 e 13 anos de idade, recrutadas

voluntariamente dentre escolares do Município de Pirenópolis – Goiás, no

período de Junho a Julho de 2004. Todas os indivíduos desse grupo

apresentaram sorologia negativa para o HIV-1 e HIV-2 (ELISA anti-HIV-1/2,

Weiner Lab, Rosario – Argentina), realizada a partir de eluato de punção digital

em papel de filtro.

Todas as crianças e adolescentes de ambos os grupos (HIV-1+/aids e HIV-1-

negativas) receberam vacina de BCG intradérmica neonatal conforme

recomendação da OMS para áreas de risco para tuberculose (Moss et al.

2003), e 05 indivíduos do grupo HIV-1-negativo receberam o reforço aos seis

anos de idade.

2. Avaliação da hipersensibilidade do tipo tardio (DTH)

Os testes intradérmicos para avaliação de DTH foram realizados de acordo

com a técnica originalmente descrita por Mantoux (Mantoux 1908). Cinco tipos

de extratos antigênicos foram utilizados: solução proteica de Micobacterium

bovis purificada (2UT/0,1ml), estreptoquinase/estreptodornase (varidase),

candidina (100 μg/ml), tricofitina (100 μg/ml) e esporotriquina (100 μg/ml)

(Laboratório de Extratos Alergênicos Ltda, Rio de Janeiro). Todos os testes

foram realizados nas dependências do HAA/HDT, pela autora, médica

especialista em alergia e imunologia clínica.

Os antígenos foram injetados por via intradérmica com uma seringa

hipodérmica (agulha 26 a 27 gauge), posicionada obliquamente à superfície

cutânea, com o bisel voltado para cima. Após a injeção de 0.1 ml, observou-se

o aparecimento de uma pequena pápula superficial de 2 a 3 mm de diâmetro.

Quarenta e oito ou 72 horas após a aplicação do teste de DTH, a leitura foi

realizada, medindo-se o maior diâmetro da enduração observada no local da

aplicação. Com base nos resultados obtidos no grupo não infectado pelo HIV-1,

o diâmetro de enduração adotado como ponto de corte para positividade foi de

4mm. A figura 1 representa um exemplo de reação ao teste de DTH após 48

horas.

Consideramos, portanto, o teste de DTH positivo quando observamos área de

enduração com diâmetro igual ou superior a 4 mm. O indivíduo foi considerado

reator quando apresentou resultado positivo para pelo menos um antígeno

dentre os 05 testados. A anergia correspondeu à ausência de reatividade aos

05 antígenos testados.

O teste de DTH com 05 antígenos foi aplicado em 39 pacientes do grupo HIV-

1+/aids; um único paciente se recusou a realizar o teste, por reconhecer

impossibilidade de retornar para leitura. Dentre os 39 pacientes em que o teste

foi aplicado, 03 não retornaram para a leitura e foram excluídos. A leitura dos

testes de DTH foi realizada após 48 horas em 29 pacientes, e após 72 horas

em 07 pacientes. Os 56 indivíduos não-infectados pelo HIV-1 realizaram o

teste, e todos retornaram para a leitura em 48 horas. Os resultados dos testes

foram registrados em uma ficha para cada indivíduo (anexo 3).

3. Avaliação da hipersensibilidade do tipo imediato (ITH)

A avaliação da ITH foi realizada através de teste cutâneo pelo método de

puntura modificado de Pepys (1975). Na realização dos testes de leitura

imediata, todas as precauções recomendadas pela Academia Americana de

Asma Alergia e Imunologia (Demoly et al. 1998) foram rigorosamente seguidas,

o que incluiu:

a) disposição de equipamento de emergência para acesso imediato, com

adrenalina em solução milesimal já preparada em seringa;

b) exclusão de pacientes alérgicos sintomáticos e com histórico prévio

de reação anafilática, pelo risco de reação ou exacerbação dos

sintomas;

c) avaliação da qualidade dos extratos alergênicos utilizados, sua

concentração e validade;

d) realização de teste sobre superfície cutânea íntegra.

Além de pacientes apresentando o critério de exclusão descrito no ítem b,

foram também excluídos pacientes em uso de anti-histamínicos, pelo risco de

interferência nos resultados do teste. Foram utilizados extratos de 08

aeroalérgenos de relevância em nosso meio: poeira domiciliar, os ácaros

Dermatophagoides pteronyssinus, Dermatophagoides farinae e Blomia

tropicalis, epitélio de cão, epitélio de gato, Blatella germanica (barata) e extrato

misto de fungos dos gêneros Alternaria sp., Aspergillus sp., Cladosporium sp.,

Rhizopus sp., Penicillium sp., Rhodotorula sp (Laboratório ALERGOFAR

Farmácia de Alergia e Cosmética Ltda, Rio de Janeiro). Todos os testes foram

realizados nas dependências do HAA/HDT, pela autora, médica especialista

em alergia e imunologia clínica,

O teste de puntura consistiu na aplicação de gotas (aproximadamente 20μl) de

cada extrato alergênico na superfície volar dos membros superiores dos

pacientes, mantendo a distância mínima de 2 cm entre cada alérgeno. De

modo semelhante os controles positivo e negativo foram aplicados para excluir

resultados falso-negativos ou falso-positivos, respectivamente.

Após a aplicação das gotas procedeu-se a puntura, na qual uma agulha

hipodérmica (25 ou 26 gauge) era inserida na superfície epidérmica, a um

ângulo agudo (cerca de 30°), atravessando a gota. Em seguida, a agulha era

levemente levantada, elevando consigo uma pequena porção da epiderme sem

induzir sangramento. Uma agulha individual foi utilizada para a puntura de cada

extrato. Consideramos o teste de ITH positivo quando, no local da aplicação

do alérgeno, detectou-se uma pápula com diâmetro superior a 3mm, em

relação ao controle negativo, 20 minutos após a puntura. O indivíduo foi

considerado reator ao teste de ITH quando apresentou resultado positivo para

pelo menos um antígeno dentre os 08 testados. A figura 2 representa um

exemplo de teste de ITH após 20 minutos.

O teste de puntura foi realizado nos 40 pacientes do grupo HIV-1+/aids e nos

56 indivíduos do grupo HIV-1-negativo. Os resultados dos testes foram

registrados em uma ficha para cada indivíduo (anexo 3).

4. Dosagem de imunoglobulinas séricas

Trinta e nove pacientes infectados pelo HIV-1 foram submetidos a uma coleta

de aproximadamente 05 mililitros de sangue venoso, e o soro obtido após

centrifugação foi utilizado para dosagem de imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG e

IgE) séricas totais. Em um único paciente do grupo HIV-1+/aids não foi

possível realizar a punção venosa por motivos técnicos. As dosagens de IgA,

IgM e IgG foram realizadas por imunonefelometria (Beckman – Coulter, Irlanda)

e a dosagem de IgE foi realizada por método de quimioluminescência (Centaur

– Bayer, Inglaterra). Os seguintes valores foram considerados normais:

IgE sérica (UI/ml) 03 – 09 anos < 115,0 09 – 13 anos < 230,0 IgA (mg/dl) 03 – 06 anos 23,0 - 190,0 07 – 12 anos 30,0 - 270,0 13 anos 80,0 – 230,0 IgG (mg/dl) 03 – 06 anos 400,0 - 1.300,0 07 – 12 anos 600,0 - 1.550,0 13 anos 700,0 - 1.650,0 IgM (mg/dl) todas as faixas etárias 50,0 – 250,0

Dez pacientes, dentre os 39, recebiam à época do estudo, doses mensais de

gamaglobulina endovenosa. A meia-vida do produto é de 03 semanas,

segundo descrição do fabricante sobre características farmacocinéticas do

produto utilizado (Endobulin S/D – Imunoglobulina humana endovenosa –

Immuno Produtos Biológicos e Químicos LTDA. Rio de Janeiro). A coleta de

sangue foi realizada imediatamente antes da nova dose de gamaglobulina

(aproximadamente 30 dias após a última aplicação da gamaglobulina

endovenosa).

5. Análise estatística

Na análise dos dados foram utilizados o Teste Exato de Fisher e a Regressão

Logística. A análise da distribuição dos valores de contagens de linfócitos T

CD4+, viremia e dosagem de imunoglobulinas foi realizada utilizando o

programa SPSS/PC (EUA).

6. Considerações éticas

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em

Humanos e Animais do HAA/HDT (anexo 4). Todos os participantes do estudo

foram informados sobre a natureza dos testes e procedimentos a serem

realizados, e a realização dos mesmos só ocorreu após obtenção de um

consentimento informado, assinado pelo progenitor ou seu responsável legal

(anexos 5 e 6). Medidas de segurança na realização de testes de

hipersensibilidade imediata citadas no item 3 dessa secção foram

rigorosamente cumpridas, a fim de garantir a integridade física dos

participantes do estudo.

E. RESULTADOS

1. Características clínicas, imunológicas e virais do grupo HIV-1+/aids

O grupo de estudo consistiu de 40 pacientes: 02 indivíduos HIV-1-postivos

assintomáticos e 38 indivíduos com aids, na faixa etária de 03 a 13 anos

(Tabela 1). A maioria dos pacientes foi infectada pela via perinatal (95%). Um

paciente hemofílico infectado através de hemoderivados contaminados e outro

com a via de infecção ignorada fizeram parte do grupo de estudo. No grupo

controle de indivíduos não-infectados a distribuição de gênero e idade foi

semelhante à do grupo HIV-1+/aids (Tabela 1).

Tabela 1 – Características dos indivíduos HIV-1+/aids e HIV-1-negativos HIV-1+/aids (n=40) HIV-1-negativos (n=56)

Idade n % n %

03 a 06 anos 13 32,5 21 37,5 07 a 10 anos 15 37,5 19 33,9 11 a 13 anos 12 30,0 16 28,6

Gênero

masculino 24 60,0 31 55,3 feminino 16 40,0 25 44,6

No momento do estudo, a maioria dos pacientes apresentava critérios clínicos de aids e estava em uso de HAART (35/38 - 92,1%). Vinte e dois dos 40 pacientes HIV-1+/aids apresentavam número de células T CD4+ dentro dos níveis de normalidade (55%) no momento em que o estudo foi realizado (classificação imunológica do CDC). Mais da metade dos pacientes estudados (21/40) apresentava carga viral variando entre 3,1 e 4,5 log10 cópias/ml (52,5%) (Tabela 2).

Tabela 2 – Contagem de células T CD4+ e viremia de pacientes HIV-1+/aids (n=40) no momento do estudo*

Variáveis n %

Contagem de células T CD4+ $

Normal 22 55,0

Abaixo do limite normal 18 45,0

Viremia (log10 cópias/ml)

Indetectável 10 25,0

1 - 2 0 0,0

2,1 - 3,0 4 10,0

3,1 - 4,0 15 37,5

> 4,1 11 27,5 * Foram considerados os valores de contagem de células T CD4+ e viremia mais próximos à data do teste (01 a 03 meses de intervalo, conforme descrito em material e método). $ consideradas normais contagens de células T CD4+ > 1000/μl para os pacientes de 03 e 05 anos e > 500/μl para pacientes de 06 a 13 anos. 2. Reatividade ao teste de DTH A Tabela 3 mostra os resultados dos testes de DTH nos grupos HIV-1+/aids

(n=36) e HIV-1-negativo (n=56). Nove dos 36 pacientes do grupo HIV-1+/aids

foram reatores (25%), enquanto 49 dos 56 indivíduos HIV-1-negativos foram

reatores (87,5%) (p<0,001).

Tabela 3 – Reatividade ao teste de DTH

HIV-1+/aids (n=36) HIV-1-negativos (n=56) DTH n % n %

Reatores# 9 25,0 49 87,5 Não-reatores 27 75,0 7 12,5

# foram considerados reatores os pacientes que apresentaram diâmetro de enduração ≥ 4mm para pelo menos 01 dos 05 antígenos testados p < 0,001 Avaliando-se os resultados dos testes de DTH discriminado pelo tipo de

antígeno (Tabela 4), entre os pacientes HIV-1+/aids reatores, o maior

percentual de positividade foi para a candidina: 88,9% (8 dos 9 pacientes). No

grupo HIV-1-negativo, predominou a positividade ao PPD (40 de 49 pacientes -

81,6%), seguido da varidase (42,8%). Analisando isoladamente a resposta ao

PPD, no grupo HIV-1-negativo, observa-se que 40 dos 56 indivíduos foram

reatores (71,4%), enquanto no grupo HIV-1+/aids 03 dos 36 pacientes testados

reagiram a esse antígeno (8,3%).

Tabela 4 – Positividade ao teste de DTH, discriminada por antígenos HIV-1+/aids (n=9) HIV-1-negativos (n=49)

Antígenos n % n %

Esporotriquina - 0,0 2 4,1 Tricofitina 1 11,1 4 8,2 Candidina 8 88,9 9 18,4 Varidase 1 11,1 21 42,8 PPD 3 33,3 40 81,6

Os resultados ao teste de DTH com PPD nos dois grupos, apresentados pelo

diâmetro da enduração em milímetros, são mostrados na tabela 5.

Tabela 5 – Reatividade ao PPD (mm de enduração) em indivíduos HIV-1+/aids (n=36) e HIV-1-negativos (n=56)

Valores de PPD HIV-1+/aids (n=36) HIV-1-negativos (n=56)

(mm) n % n %

0 29 80,0

13

23,2

1-3 4 11,1 3 5,3

4 2 5,5 5 8,9

> 5 1 2,7

35

62,5 Figura 3. Distribuição dos resultados ao teste de DTH para PPD, apresentados em diâmetro da enduração (em mm) e idade (anos) , nos grupos HIV-1+/aids (n= 36) e HIV-1-negativo (n=56).

A figura 3 mostra a distribuição dos resultados do teste de DTH para PPD de

acordo com a idade no grupo HIV-1+/aids e no grupo HIV-1-negativo.

3. Reatividade cutânea ao teste de DTH considerando-se os principais

marcadores prognósticos: níveis de células T CD4+ e carga viral.

No momento do estudo, 20 dos 36 pacientes do grupo HIV-1+/aids que realizaram o teste de DTH apresentavam valores de células T CD4+ considerados normais (55%). Dentre eles, 06 (30%) foram reatores ao teste de DTH. Três dos 16 indivíduos com valores de células T CD4+ abaixo da normalidade foram reatores ao teste de DTH (18,7%), sugerindo ausência de correlação entre níveis normais de células T CD4+ e reatividade ao teste de DTH (p=0,442) (Tabela 6). Tabela 6 – Reatividade ao teste de DTH estratificada de acordo com a contagem de células T CD4+ (T CD4+)# no grupo HIV-1+/aids

T CD4+

Normal (n=20) Abaixo do normal (n=16) DTH

n % n %

Reatores 6 30,0 3 18,7

Não-reatores 14 70,0 13 81,3 # Foram considerados os valores de contagem de células T CD4+ mais próximos à data do teste (01 a 03 meses de intervalo, conforme descrito em material e método). χ2 = 0,591 ; p = 0,442 ; RR = 1,857 Dentre os 09 pacientes do grupo HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH, a maioria respondeu a apenas 01 dos 05 antígenos testados (Tabela 7). Com relação à carga viral no momento do estudo, detectável em 7 pacientes, esta variou de 3,29 a 4,36 log10 cópias/ml. No estudo retrospectivo dos prontuários, as principais intercorrências clínicas observadas no grupo de pacientes reatores ao DTH foram: tuberculose (pacientes 1 e 5), criptosporidiose (pacientes 4 e 7), candidíase (pacientes 4, 7 e 8) e diarréia crônica sem agente etiológico estabelecido (paciente 9). No momento do estudo, todos os 09 pacientes estavam assintomáticos. Tabela 7 – Níveis absolutos de células T CD4+ (T CD4+) e viremia (CV) nos pacientes do grupo HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH

Paciente Idade (anos)

N0 de antígenos positivos$

T CD4+

(cél/μl)* CV

(log10cópias/ml) *

1# 11 1 (c) 304 4,36 2# 4 1 (c) 775 3,29 3 9 1 (c) 1331 3,48 4 8 1 (c) 591 3,95 5 13 3 (t, c, p) 654 Indetectável 6 3 1 (p) 2245 3,43 7 13 3 (c, v, p) 1067 Indetectável 8# 4 1 (c) 900 4,16 9 7 1 (c) 835 3,32

$ considerados dentre os 5(cinco) antígenos testados no teste de DTH. * contagens no momento do estudo. t = tricofitina, c = candidina, v = varidase e p = PPD # pacientes com níveis de células T CD4+ abaixo do normal

As contagens de células T CD4+ dos pacientes do grupo HIV-1+/aids reatores

ao teste de DTH estão representadas na figura 4A. Nesta plotagem, o paciente

6 foi excluído, por apresentar contagens muito dissociadas do restante do

grupo (mediana de 3.032 células/μl com variação de 2.245 a 3.225 células/μl).

As quantificações de viremia desses pacientes estão representadas na figura

4B. Nesta plotagem, as medidas de carga viral abaixo do limite de detecção

não foram representadas. Os dados mostrados nas figuras 4A e 4B

correspondem a exames realizados por esses pacientes desde a sua admissão

no HAA/HDT, disponíveis nos prontuários médicos.

O perfil imunológico dos pacientes reatores ao DTH indica predominância de

medianas dentro dos valores normais (figura 4A). Analisando-se a variação das

contagens individuais, somente o paciente 7 apresentou imunossupressão

grave (contagem de células T CD4+ < 200 células/μl) antes do início do HAART

(65 células T CD4+/μL).

No grupo de pacientes HIV-1+/aids não reatores ao teste de DTH, 06 dos 27

pacientes apresentaram em algum momento níveis de células T CD4+

compatíveis com imunossupressão grave (22,2%). As Figuras 5A e 4B

representam, respectivamente, perfil imunológico e carga viral dos pacientes do

grupo HIV-1+/aids não-reatores ao DTH, no momento do estudo.

Figura 4A. – Contagens de células T CD4+ dos 09 pacientes HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH. As linhas verticais no topo e abaixo de cada caixa correspondem ao percentil 25 e 75; a extensão da caixa representa a variação dentro do percentil 50. A linha que atravessa a caixa representa a mediana. A barra superior corresponde ao maior valor observado; a inferior corresponde ao menor valor observado. Os círculos representam valores fora da distribuição. Os valores no eixo do X correspondem à identificação numérica dos pacientes. Os valores no eixo Y correspondem à contagem de células T CD4+ (células/μl). N representa o número de exames disponíveis para cada indivíduo.

Figura 4B. – Carga viral dos 09 pacientes HIV-1+/aids reatores ao teste de DTH representada em Log10. As linhas verticais no topo e abaixo de cada caixa correspondem ao percentil 25 e 75; a extensão da caixa representa a variação dentro do percentil 50. A linha que atravessa a caixa representa a mediana. A barra superior corresponde ao maior valor observado; a inferior corresponde ao menor valor observado. Os círculos representam valores fora da distribuição. Os valores no eixo do X correspondem à identificação numérica dos pacientes. Os valores no eixo Y correspondem à carga viral dos pacientes (log10). N representa o número de exames disponíveis para cada indivíduo.

Figura 5A – Contagens de células T CD4+ dos pacientes HIV-1+/aids não reatores ao DTH, distribuídos em grupos etários: 1= 03 a 06 anos; 2 = 07 a 10 anos e 3 = 11 a 13 anos. As linhas verticais no topo e abaixo de cada caixa correspondem ao percentil 25 e 75; a extensão da caixa representa a variação dentro do percentil 50. A linha que atravessa a caixa representa a mediana. A barra superior corresponde ao maior valor observado; a inferior corresponde ao menor valor observado. Os círculos representam valores fora da distribuição. Os valores no eixo do X correspondem à identificação numérica dos grupos etários de pacientes. Os valores no eixo Y correspondem à contagem de células T CD4+ (células/μl). N representa o número de indivíduos em cada grupo etário.

Figura 5B – Carga Viral dos pacientes HIV-1+/aids não reatores ao DTH, distribuídos em grupos etários: 1= 03 a 06 anos; 2 = 07 a 10 anos e 3 = 11 a 13 anos. As linhas verticais no topo e abaixo de cada caixa correspondem ao percentil 25 e 75; a extensão da caixa representa a variação dentro do percentil 50. A linha que atravessa a caixa representa a mediana. A barra superior corresponde ao maior valor observado; a inferior corresponde ao menor valor observado. Os círculos representam valores fora da distribuição. Os valores no eixo do X correspondem à identificação numérica dos grupos etários de pacientes. Os valores no eixo Y correspondem à carga viral (log10). N representa o número de indivíduos em cada grupo etário.

4. Dosagem de imunoglobulinas séricas: IgA, IgM, IgG e IgE

As imunoglobulinas foram dosadas em 39 dos 40 pacientes HIV-1+/aids.

Considerando-se o valor médio das dosagens de IgM, IgG e IgA, os valores

encontrados estão dentro da normalidade. Entretanto, analisando-se os

pacientes individualmente, 09 dos 39 pacientes (23,7%) apresentaram IgG

sérica elevada em relação aos limites normais (Figura 6A). Dentre eles, 03

pacientes recebiam gamaglobulina mensalmente.

Figura 6A – Dosagens de IgG sérica dos pacientes HIV-1+/aids. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. As linhas tracejadas indicam o limite superior do valor de referência para cada faixa etária (03 a 06 anos – 1300 mg/dl; 07 a 12 anos - 1550 mg/dl ; 13 anos - 1650 mg/dl)

Apenas 02 pacientes (5,1%) apresentaram concentração de IgM sérica acima

do limite normal (Figura 6B). Concentrações elevadas de IgA foram observadas

em 10 dos 39 pacientes (25,6%), e em dois casos (5,1%) observamos

concentrações de IgA sérica abaixo do limite inferior, em um deles abaixo do

limite de detecção (Figura 6C).

Dezessete pacientes (43,5%) apresentaram níveis de IgE sérica elevados: em

10 pacientes a dosagem de IgE sérica foi superior a 300 UI/μl , e no restante a

elevação foi discreta (Figuras 7 A e 7B).

Figura 6B – Dosagens de IgM sérica dos pacientes HIV-1+/aids. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. A linha tracejada indica o limite superior do valor de referência (Valor referencial= 50 – 250 mg/dl) Figura 6C – Dosagens de IgA sérica dos pacientes HIV-1+/aids. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. As linhas tracejadas indicam o limite superior do valor de referência para cada faixa etária (03 a 06 anos – 190 mg/dl; 07 a 12 anos - 270 mg/dl; 13 anos - 230 mg/dl)

Figura 6C – Dosagens de IgA sérica dos pacientes HIV-1

+/aids. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. As linhas tracejadas indicam o limite superior do valor de referência para cada faixa etária (03 a 06 anos – 190 mg/dl; 07 a 12 anos - 270 mg/dl; 13 anos - 230 mg/dl)

Figura 7. A) Dosagens de IgE sérica dos pacientes HIV-1+/aids de 03 a 09 anos. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. A linha tracejada indica o valor de referência (valor referencial de normalidade para a faixa etária: <

Figura 7. A) Dosagens de IgE sérica dos pacientes HIV-1 /aids de 03 a 09 anos. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. A linha tracejada indica o valor de referência (valor referencial de normalidade para a faixa etária:

+

< 115 UI/ml). B) Dosagens de IgE sérica dos pacientes HIV-1 /aids de 10 a 13 anos. Cada símbolo representa o valor da dosagem de um paciente individual. A linha tracejada indica o valor de referência (valor referencial de normalidade para a faixa etária:

+

< 230 UI/ml). Analisando-se a concentração de IgE sérica e níveis de células T CD4+,

observamos correlação entre elevação de IgE sérica e queda dos valores de

linfócitos T CD4+ (p=0,007)(Tabela 8).

Tabela 8 – Dosagem de IgE sérica e níveis absolutos de células T CD4+ (T CD4+) no grupo HIV-1+/aids

TCD4+

Normal Abaixo do normal IGE SÉRICA

n % n %

Normal 16 76,2 6 33,3 Elevado 5 23,8 12 66,7

p = 0,007

5. IgE sérica e reatividade aos testes de ITH e DTH

Avaliando a resposta ao teste de ITH, nos grupos de pacientes HIV-1+/aids (n= 40) e de indivíduos HIV-1-negativos (n=56) a reatividade a pelo menos um extrato alergênico foi de 32,5% e 39,3%, respectivamente. Considerando-se a positividade para os diferentes antígenos, perfis semelhantes foram

observados nos dois grupos. O antígeno mais prevalente em ambos os grupos foi a poeira domiciliar. A relação entre a IgE, uma imunoglobulina associada a resposta TH2, e a reatividade ao teste de ITH (resposta TH2) e ao teste de DTH (resposta TH1) foi avaliada. Quando analisamos os níveis de IgE sérica e a reatividade ao teste de ITH no grupo HIV-1+/aids (Tabela 9), observamos correlação positiva entre elevação da IgE sérica e reatividade ao teste de ITH (p=0,029). Oito dos 17 pacientes com IgE sérica elevada apresentaram reatividade ao teste de ITH, o que representou uma reatividade de 47%. Tabela 9 – Níveis de IgE sérica* e reatividade aos testes de ITH e DTH no grupo HIV-1+/aids

NÚMERO DE CRIANÇAS E REATIVIDADE AOS TESTES

ITH (n=39) DTH (n=35) NÍVEL DE IGE

Positivo Negativo Positivo Negativo

Normal 3 19 6 13 Elevado 8 9 3 13

* os níveis de IgE foram considerados como normais ou elevados de acordo com os parâmetros fornecidos pelo fabricante dos kits na sua dosagem. ITH χ2 = 4,800 ; p = 0,029 ; RR = 5,630 DTH χ2 = 0,735 ; p = 0,391 ; RR = 0,500 Por sua vez, a correlação entre elevação de IgE sérica e perda de reatividade ao teste de DTH, um fenômeno TH1, não foi observada (p=0,39) (Tabela 9). Na avaliação isolada da reatividade ao PPD, também não se observou correlação entre elevação de níveis de IgE sérica e perda de reatividade (p=0,459). 6. Análise dos resultados de testes de ITH e DTH nos pacientes HIV-

1+/aids e indivíduos HIV-1-negativos

Quando avaliamos a co-responsividade aos testes de ITH (resposta TH2) e DTH (resposta TH1) no grupo de indivíduos HIV-1-negativos (n= 56), relação inversa entre reatividade de ITH e DTH foi observada (Tabela 10). Dentre os 49 indivíduos reatores ao teste de DTH, mais da metade (55,1%) não apresentou reação ao teste de ITH (27/49) (p=0,023). No grupo de pacientes HIV-1+/aids também observamos uma tendência a correlação inversa entre a reatividade aos testes de ITH e DTH. A maior parte dos indivíduos reatores ao DTH não reagiram ao ITH (8/9 – 88,8%), e quase todos os pacientes reatores ao ITH não reagiram ao DTH (11/12). Nesse grupo, a correlação não teve significado estatístico (p=0,094) (Tabela 11).

Tabela 10 – Reatividade aos testes de ITH e DTH no grupo de indivíduos HIV-1-negativos

DTH

Reator Não-reator ITH

n % n %

Reator 22 44,9 - 0,0 Não Reator 27 55,1 07 100,0

Total 49 100,0 07 100,0 p = 0,023 Tabela 11 – Reatividade aos testes de ITH e DTH nos pacientes HIV-1+/aids

DTH

Reator Não-reator ITH

Absoluto % Absoluto %

Reator 01 11,1 11 40,7 Não Reator 08 88,9 16 59,3

Total 09 100,0 27 100,0 p = 0,094 F. DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou imunidade celular e humoral em crianças e

adolescentes infectados pelo HIV-1 mediante utilização de testes de DTH, ITH

e dosagem de imunoglobulinas séricas (IgA, IgM, IgG e IgE). Os resultados dos

testes de DTH e ITH deste grupo foram comparados com os resultados obtidos

em crianças e adolescentes HIV-1-negativos.

Considerando-se a reatividade ao teste de DTH para pelo menos um antígeno,

diferentes índices de reatividade foram observados entre os pacientes

HIV-1+/aids e indivíduos não-infectados (25% e 87,5%, respectivamente). A

reatividade ao DTH entre indivíduos HIV-1-negativos foi semelhante à

observada na população em geral (Palmer & Reed 1974). A redução da

reatividade ou anergia no teste de DTH em pacientes infectados pelo HIV-1

tem sido descrita em adultos e crianças (Blatt et al. 1993, Kornbluth &

McCutchan 1993, Klein et al. 1999, Razka et al. 1996).

Vários fatores podem influenciar a reatividade ao teste de DTH, tais como: o

tempo decorrido entre a exposição ao antígeno e a realização do teste, idade,

estado nutricional e presença de alterações imunológicas (Ahmed & Blose

1983, Olivier 2000). Em nosso estudo, o grupo de indivíduos HIV-1-negativos

estava em uma mesma faixa etária e sócio-econômica que os pacientes

HIV-1+/aids. Nossos resultados sugerem que alterações imunológicas

decorrentes da infecção pelo HIV-1 estejam associadas à marcante perda de

reatividade ao teste de DTH.

A imunossupressão decorrente da depleção de células T CD4+ é reconhecida

como a alteração imunológica de maior impacto na reatividade ao teste de DTH

(Markowitz et al. 1993, Rogers et al. 2000, Barrón et al. 2001). Os linfócitos T

CD4+ têm um papel fundamental na infecção pelo HIV-1. Essas células

produzem citocinas que estimulam a resposta imune humoral, gerando

anticorpos específicos para proteínas do vírus, e a resposta imune celular,

através dos linfócitos T CD8+ citolíticos. Portanto, a destruição das células T

CD4+ é um fenômeno que compromete profundamente a resposta imune na

infecção pelo HIV-1 (Norris & Rosenberg 2001).

A contagem de células T CD4+ é considerada um importante marcador

prognóstico na infecção pelo HIV-1/aids. Para avaliar a relação entre a

reatividade aos testes de DTH e níveis de células T CD4+, os resultados do

teste de DTH foram estratificados segundo as contagens de células T CD4+. A

maioria (70%) dos indivíduos infectados pelo HIV-1 com contagem normal de

células T CD4+ não respondeu ao teste de DTH. Além disso, 03 dos 16

pacientes com contagens de células T CD4+ abaixo do normal apresentaram

reação ao teste do DTH. Dessa forma, em nosso estudo não observamos

associação entre as contagens de células T CD4+ e a reatividade ao teste de

DTH, diferentemente do que foi observado em outros estudos (Blatt et al. 1993,

Razka et al. 1996, Klein et al. 1999).

A relação da reatividade do DTH com reconstituição imunológica, definida por

incremento de células T CD4+, pós-instituição do HAART, foi também avaliada.

Mais de 90% dos indivíduos infectados pelo HIV-1 e notificados como aids

estavam em tratamento com HAART. Todos os 9 pacientes reatores ao DTH

recebiam HAART, e 5 deles tinham evidências de reconstituição imunológica

pós-HAART com aumento de 2 a 6 vezes na contagem de células T CD4+ nas

12 primeiras semanas após início do HAART. Entretanto, incrementos na

contagem de células T CD4+ após o HAART também foram observados entre

os pacientes não-reatores do grupo HIV-1+/aids. Em nosso estudo, a

reconstituição imunológica definida como aumento da contagem de células T

CD4+ após o HAART não pareceu influenciar a positividade ao DTH.

De fato, estudos recentes demonstraram que nem sempre a reconstituição

imunológica observada com o HAART reflete a melhora de parâmetros

funcionais como a reatividade ao DTH e produção de citocinas estimuladoras

de imunidade celular (Chougnet et al. 1998, Valdez et al. 2002). Mesmo que a

maioria dos pacientes responda ao HAART com importante elevação dos

níveis de células T CD4+, grande parte destas células pode ter o fenótipo de

células virgens (Cohen Stuart et al. 1998, Valdez et al. 2000). A depleção de

células T CD4+ de memória compromete a resposta imune celular desses

pacientes, que passam a apresentar falhas no repertório imunológico. As

“lacunas” no repertório podem se associar a perda de reatividade ao teste de

DTH contra antígenos contra os quais o indivíduo já foi previamente

sensibilizado (Valdez 2002).

Apesar de observarmos dissociação entre os níveis de células T CD4+ e

reatividade ao DTH para os pacientes do grupo HIV-1+/aids de modo geral, um

paciente apresentou evolução distinta. Esse paciente, atualmente um

adolescente de 13 anos de idade, realizou o teste cutâneo de DTH para

candidina e PPD antes de iniciar o HAART, aos 08 anos de idade. Naquele

momento, seu nível absoluto de linfócitos T CD4+ era de 65 células/μl e não se

observou reação para nenhum dos dois antígenos testados. A reconstituição

imunológica pós-HAART foi evidenciada, e aproximadamente 05 anos após

início do tratamento esse paciente apresentava contagem de linfócitos T CD4+

normal (1.067 células/μl) e viremia indetectável. No momento desse estudo, o

teste de DTH revelou resultados positivos para a candidina, varidase e PPD.

Nesse adolescente infectado pelo HIV-1, em particular, a reconstituição

imunológica induzida pelo HAART foi acompanhada da recuperação da

resposta imune celular de memória avaliada pelo teste de DTH.

Nos demais pacientes reatores ao DTH, não havia informação sobre realização

de testes de DTH previamente ao tratamento. Uma das limitações de nosso

estudo foi o seu desenho de corte transversal, de forma que não pudemos

obter informações sobre a reatividade prévia (anterior ao HAART) aos

antígenos testados nesse estudo.

Avaliando a especificidade da resposta ao DTH, diferença significativa foi

observada entre os grupos HIV-1-negativo e positivo. No grupo de crianças e

adolescentes não-infectados a maior positividade observada foi para o PPD

(81,6% - 40/56 pacientes), enquanto no grupo HIV-1+/aids a maior reatividade

foi observada com a candidina (88,8% - 8 / 9 pacientes). A grande maioria dos

pacientes HIV-1+/aids não respondeu ao PPD, enquanto o contrário foi

observado entre os indivíduos HIV-1-negativos.

A eficácia da vacina BCG na proteção contra formas graves da tuberculose,

causada pelo M. tuberculosis, justifica a sua utilização em áreas de risco, como

é o caso do Brasil (AAP 2000). As micobactérias são patógenos intracelulares

obrigatórios, e tanto a vacinação, como a exposição natural, são capazes de

induzir uma potente resposta TH1 (Shirakawa et al. 1997, Marchant et al.

1999). Nesse contexto, a reatividade intradérmica ao PPD, em crianças

vacinadas e/ou expostas ao M. tuberculosis pode ser um marcador da resposta

TH1 geradora de imunidade celular de memória contra esse patógeno.

Em nosso estudo, todas as crianças e adolescentes infectados e não-

infectados foram vacinadas com BCG no período neonatal. O reforço da BCG

aos 06 anos é contra-indicado nos pacientes HIV-1+ e não foi realizado em

nenhum paciente desse grupo. No grupo de indivíduos HIV-1-negativos,

somente 05 das 45 crianças maiores de 06 anos receberam o reforço da BCG.

Dessa forma, a maioria dos indivíduos HIV-1-negativos reatores ao PPD

também receberam apenas a BCG neonatal. A boa reatividade ao PPD

(81,6%) nos indivíduos HIV-1-negativos, principalmente nas faixas etárias de

07 a 13 anos, sugere que a imunização com BCG não pareceu influenciar a

reatividade ao PPD.

A reatividade ao PPD associada à vacina de BCG parece sofrer redução

progressiva com o tempo decorrido (Olivier 2000; Almeida et al. 2001), sendo

perdida após anos decorridos da vacinação. Estudos realizados em áreas de

elevada prevalência de tuberculose observaram que a exposição ao bacilo

pode ser mais importante que a vacinação com BCG na indução de uma prova

postiva para tuberculina (Almeida et al. 2001, Hizel et al. 2004, Sociedad

Espanola de Infectologia Pediatrica 2003). Uma vez que a influência da vacina

BCG sobre a reatividade ao PPD diminui com o passar do tempo, acredita-se

que a preservação da resposta ao PPD pode indicar exposição a

micobactérias (Alvarez et al. 1996).

Não podemos excluir a possibilidade de que o elevado percentual de

reatividade ao PPD no grupo de indivíduos HIV-1-negativos se relacione a

contato com micobactérias. Estudos indicam alta reatividade ao PPD em

indivíduos não vacinados e expostos a micobactérias (Hizel et al. 2003,

Almeida et al. 2001). É importante observar que nenhuma criança ou

adolescente HIV-1-negativo tinha história ou sintomas sugestivos de

tuberculose. Embora os indivíduos HIV-1-negativos vivam em outra cidade, não

acreditamos que existam diferentes níveis de exposição ao M. tuberculosis

nessas duas localidades. A hiporreatividade e/ou anergia ao PPD observada no

grupo de pacientes HIV-1+/aids poderia estar relacionada a uma deleção de

clones de linfócitos T específicos para micobactérias em uma população

igualmente exposta a esse agente. Entretanto, a baixa incidência de

tuberculose no grupo de indivíduos HIV-1+/aids não-reatores ao PPD (apenas

02 pacientes) sugere que algum grau de resposta imune celular para

micobactérias possa existir, apesar do DTH negativo.

Entre os resultados do teste de DTH no grupo HIV-1+/aids, destaca-se a maior

positividade a candidina. A maioria dos reatores ao DTH reagiu a apenas esse

antígeno (8/9). A Candida sp é está presente na flora microbiana normal, e um

teste intradérmico de leitura tardia positivo para candidina é esperado em 52%

a 57% da população (Ahmed & Blose 1983). No estudo de Galhardo e

colaboradores (2000), a candidina também foi o antígeno com maior índice de

positividade em indivíduos infectados e não-infectados pelo HIV-1. Porém,

outros estudos realizados em grupos de pacientes infectados pelo HIV-1

demonstram uma redução da reatividade a Candida sp comparado com

controles não-infectados (Raszka et al. 1996, Klein et al. 1999, Leigh et al.

2001).

Estudo da resposta imune celular em crianças infectadas pelo HIV-1, antes e

após a instituição de HAART, demonstrou uma importante recuperação da

resposta celular no teste intradérmico com antígenos da Candida albicans 24

semanas após início do tratamento, que não ocorreu para outros antígenos,

como o toxóide tetânico (Blazevic et al. 2001). Segundo os autores, essa

recuperação seletiva poderia ser atribuída a uma maior chance de restauração

da resposta imune celular a antígenos com maior nível de exposição, como é o

caso da C. albicans. Foi sugerido que quanto maior o nível de exposição a um

antígeno, maiores são as chances de recuperação da resposta imune celular,

como é o caso da C. albicans .

A escolha do valor de 4 mm (para o diâmetro da enduração) como ponto de

corte para caracterizar uma reação positiva no teste de DTH também deve ser

discutida. Essa decisão baseou-se no grande número de indivíduos HIV-1-

negativos que apresentaram reações a partir desse valor. Embora

classicamente o valor de 5 mm seja adotado, em diferentes estudos, índices

variados a partir de 2 mm são considerados positivos (Ahmed & Blose 1983,

Blatt et al. 1993, Klein et al. 1999, Valdez et al. 2000). O objetivo primário do

nosso estudo foi avaliar o potencial de resposta imune celular de memória dos

pacientes HIV-1+/aids. Existem indícios de que valores a partir de 01 mm de

diâmetro de enduração ao teste de DTH se correlacionam com resposta de

linfoproliferação positiva in vitro (Ahmed & Blose 1983); desta forma o valor de

4 mm é indicativo de presença de resposta imune celular. Além disso, por se

tratar de uma população com comprometimento imunológico importante, a

adoção do limiar de reatividade de 05 mm poderia subestimar a capacidade de

resposta em crianças e adolescentes com HIV-1+/aids.

Com relação à imunidade humoral, não observamos aumento expressivo dos

níveis de IgG sérica ou mesmo hipergamaglobulinemia nos pacientes com HIV-

1+/aids, ao contrário do que foi descrito em outros estudos (Lyamuya et al.

1999, Chong et al. 2001, De Milito et al. 2004, Wright et al. 1990). Talvez esse

fato se justifique pelo amplo uso de HAART, apesar de não termos dosagens

de imunoglobulinas prévias ao início do tratamento para avaliarmos essa

possibilidade. Dentre os pacientes que apresentaram elevação de IgG, 03

recebiam gamaglobulina mensalmente, mas esse fato não pareceu influenciar

nos resultados (p=0,915).

No grupo HIV-1+/aids observamos uma relação inversa entre IgE sérica e

contagem de células T CD4+, corroborando dados que sugerem papel da IgE

como marcador de evolução da infecção para o estado de aids (Vigano et al.

1995). Quase a metade dos pacientes com IgE sérica elevada (47%), foram

reatores ao teste de ITH, conforme já observado em outro estudo em adultos

(Corominas et al. 2000). A relação entre IgE e reatividade ao ITH sugere

associação com atopia. Entretanto, essa correlação nem sempre é observada:

ausência de associação entre IgE elevada e atopia, avaliada por testes de ITH

já foi observada em outros estudos com crianças infectadas pelo HIV-1 (Vigano

et al. 1995, Bacot et al. 1997). Apesar disso, os pacientes HIV-1+/aids não

tinham histórico de doenças alérgicas, e o índice de positividade aos testes

cutâneos de hipersensibilidade imediata não diferiu daqueles normalmente

encontrados na população em geral (Patterson et al. 1997).

A capacidade de modulação da resposta imune pelo contato com

micobactérias por infecção natural, ou pela vacinação com BCG, ambos

induzindo forte resposta imune celular do tipo TH1 e reduzindo fenômenos

TH2, foi demonstrada por Shirakawa e colaboradores em 1997. Apesar de

resultados divergentes já terem sido descritos (Ozmen et al. 2002), muitos

estudos reafirmaram relação inversa entre a vacinação com BCG e

desenvolvimento de atopia (Strannegard et al. 1998, Aaby et al. 2000, Annus et

al. 2004, Vargas et al. 2004), possivelmente em virtude do importante papel do

BCG como indutor de resposta do tipo TH1. Um recente artigo de revisão

sobre o assunto sugere que o efeito imunomodulador do BCG sobre a atopia

poderia estar associado à ativação de células T CD4+ regulatórias, as quais

secretando IL-10, teriam a capacidade de impedir a diferenciação para o perfil

de resposta TH2 (von Hertzen & Haahtela 2004).

Em nosso estudo, apesar de não termos como objetivo avaliar a associação

entre BCG/PPD e atopia, destacamos que no grupo não-infectado pelo HIV-1,

23 dos 40 indivíduos reatores ao teste de PPD tinham teste de ITH negativo

(57,5%). Nos outros 17 indivíduos, independentemente de estar ou não

associada ao BCG, a resposta TH1 representada pelo PPD reator não pareceu

inibir a resposta TH2. Nesse momento, é oportuno registrar que a positividade

discretamente maior ao teste de ITH no grupo HIV-1-negativo, comparado com

o grupo HIV-1+/aids pode ser decorrente de um possível viés de amostragem.

Os indivíduos não infectados pelo HIV-1 foram voluntariamente incluídos, mas

não podemos descartar a possibilidade de que a oportunidade de investigar a

sensibilização alérgica com teste de ITH tenha estimulado o comparecimento

de crianças e adolescentes com algum tipo de sintoma alérgico.

Por outro lado, na evolução para aids existem evidências de uma alteração do

perfil de resposta imune do tipo TH1 para o tipo TH2 (Romagnani 1997,

Romagnani 2000). Avaliando a reatividade aos testes de DTH e ITH no grupo

HIV-1+/aids, observou-se uma correlação inversa, sugerindo que ativação de

células com perfil TH2 (reatividade ao ITH) poderia estar ocorrendo em

detrimento da resposta imune celular do tipo TH1 avaliada pelo teste de DTH.

Nesses pacientes, possível perda da resposta imune celular no decorrer da

infecção pelo HIV-1 poderia estar associada a uma tendência a sensibilização

atópica. Entretanto, a indisponibilidade de dados sobre a reatividade prévia dos

pacientes estudados quanto aos testes de DTH e ITH não nos permite concluir

esses fatos.

Maior casuística e tempo mais prolongado de seguimento dos pacientes devem

contribuir para o esclarecimento do significado clínico dos resultados

observados nesse estudo. A relevância das informações fornecidas por uma

bateria limitada em 05 antígenos no teste de DTH, diante do imenso potencial

de resposta de um indivíduo contra os mais diferentes estímulos antigênicos

necessita ser estabelecida.

Apesar disso, os testes de DTH e ITH oferecem ao clínico uma oportunidade

de avaliação da imunidade in vivo, com a vantagem da facilidade de execução

e baixo custo. A realização desses testes em pacientes infectados pelo HIV-1,

antes e ao longo do tratamento com HAART poderia esclarecer melhor o seu

significado clínico, avaliando a reconstituição imunológica de forma mais

específica e revelando possível contribuição no acompanhamento desses

pacientes. Uma favorável relação custo-benefício poderia estimular a aplicação

de rotina desses testes, sobretudo do teste de DTH, no acompanhamento

clínico de indivíduos infectados pelo HIV-1.

G. CONCLUSÕES

1. Indivíduos HIV-1+/aids e HIV-1-negativos apresentaram índices de

reatividade ao teste de DTH muito diferentes (25% e 87,5%). A

especificidade da resposta também diferiu entre os grupos, com maior

reatividade dos indivíduos HIV-1-negativos ao PPD e maior reatividade

dos pacientes HIV-1+/aids a candidina.

2. Ausência de alterações significativas da resposta imune humoral

mediante dosagem de imunoglobulinas séricas (IgA, IgM e IgG) em

pacientes HIV-1+/aids.

3. Associação inversa entre contagens de células T CD4+ e níveis de IgE, e

relação de sensibilização atópica com elevação de IgE podem sugerir

tendência a perfil de resposta TH2 na evolução da infecção pelo HIV-1.

4. Dissociação entre contagens de células T CD4+ e responsividade ao

DTH sugere possíveis lacunas no repertório imunológico dos pacientes

infectados pelo HIV-1, algumas vezes não restauradas após tratamento.

Estudos de longo prazo, acompanhando esses pacientes por maior

tempo, são necessários para revelar o significado clínico dessa

observação.

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