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ANGELA MARIA SCHWARTZMANN Estudo clínico e demográfico comparativo de episódio agudo de mania versus estado misto Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de concentração: Psiquiatria Orientador: Prof. Dr. Beny Lafer São Paulo, 2006

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ANGELA MARIA SCHWARTZMANN

Estudo clínico e demográfico comparativo de episódio agudo de mania versus estado misto

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Mestre em Ciências

Área de concentração: Psiquiatria

Orientador: Prof. Dr. Beny Lafer

São Paulo, 2006

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Aos meus filhos, Aos meus pais

Aos meus amigos Aos meus professores

Aos meus pacientes, Ao meu orientador

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Esta tese está de acordo com as seguintes normas em vigor no momento desta publicação:

• Referências: adaptado de International committee of Medica Journals Editord, (Vanvouver)

• Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina, Serviço de Biblioteca

e Documentação. Guia de Apresentação de Dissertações, Teses e Monografias. Elaborado por Annelise Carneiro da Cunha, Maria júlia de A.L. Freddi, Maria F Crestana, marinalva de Souza Aragão, Suely Campo Cardoso, Valéria Vihena. 2ª ed., São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação, 2005

• Abreviaturas dos títulos de periódicos de acordo com o List of Journal

Indexed in Index medicus.

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AGRADECIMENTOS Ao Professor Beny Lafer, pelos ensinamentos e dedicação ao longo destes três anos. Aos meus queridos colegas do PROMAN: Dr. Rodrigo da Silva Dias, à Dra. Karla Mathias Almeida, tão presente, à Dra. Marcia Brito de Macedo Soares, à Dra. Cristiana Castanho de Almeida Rocca, companheira e solícita, ao Dr. José Antônio de Mello Siqueira Amaral, à Dra. Sheila Caetano, pela grande ajuda nas correções desta tese, desde sua chegada, à Dra. Renata Tamada e aos novos membros do PROMAN, que trouxeram juventude entusiasmo ao grupo. Á querida colega Dra. Cilly Issler, sempre sintonizada com minhas dificuldades, pessoa verdadeiramente especial e completa a quem sempre serei grata. Ao Prof. Ricardo Moreno, pela oportunidade que me concedeu de entrar no IPQ como colaboradora, e de poder pertencer ao Grupo de Doenças Afetivas do IPq HC-FMUSP (GRUDA), onde pude aperfeiçoar meus conhecimentos e convivendo com pessoas tão capacitadas e humanas. À Dra. Doris Hupfeld Moreno, pela contribuição nos meus conceitos em psiquiatria. Ao meu querido amigo Dr.Teng Chei Tung, pelo incentivo, carinho e cuidado em especial pela presença neste período. Ao Dr. Frederico Navas Demétrio, fonte de grande parte de meu saber psiquiátrico, sempre muito generoso. À Dra Laura Helena Guerra Andrade, que me fez ver a pesquisa de maneira mais ampla. À minha estatística Maria Paula Rosa, pela competência e disponibilidade com minhas dificuldades. Ao Prof. Dr. Homero Pinto Vallada, pela sua capacidade e conhecimento profissional e por estar sempre disposto a lidar com minha ansiedade. Ao Dr. Daniel Fuentes, querido colega, paciencioso, que me cedeu seus conhecimentos que foram fundamentais para o entendimento de parte de meus resultados da análise do estudo e principalmente pelo entusiasmo.

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Às nossas secretárias, Srta. Eliana Soares do Nascimento, sempre solícita e meiga; Rosângela Albuquerque, pela ajuda de todos os dias e solicitude. Às duas, pelo sorriso de todas as manhãs. À nossa secretária da pós-graduação Elisa Fukushima, que sempre esteve pronta a me ajudar na resolução dos problemas burocráticos durante estes três anos. À Srta. Mirtes Soares Joseph, pela cumplicidade e que sem ela não poderia finalizar minha tese. Aos atendentes, porteiros e enfermeiros do IPQ, que fizeram desta a minha “outra casa”. Aos meus primeiros mestres de psiquiatria, por despertarem meu interesse e amor pela psiquiatria. Um agradecimento especial a todos os pacientes que atendo neste grupo por me darem a oportunidade do verdadeiro contato humano.

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ÍNDICE

RESUMO...........................................................................................................................

i

SUMMARY.......................................................................................................................

iii

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................

01

1.1Conceito, definições e critérios ................................................................................. 02

1.1.1 Evolução do conceito de TB................................................................................... 02

1.1.2 Evolução do conceito de EM ................................................................................. 06

1.1.3 Critérios e definições para estados mistos ............................................................. 11

1.1.4. Modelos explicativos da origem dos estados mistos ............................................ 24

1.2. Características clínico-demográficas em estado misto e do estado

misto......................................................................................................................

28

1.2.1. Prevalência ............................................................................................................ 28

1.2.2. Distribuição de gênero .......................................................................................... 32

1.3. Comparação entre características clínicas dos episódios mistos versus mania

(pura)........................................................................................................................

33

1.3.1. Idade dos pacientes no episodio............................................................................ 33

1.3.2. Duração dos episódios ......................................................................................... 34

1.3.3. Presença de hospitalização.................................................................................... 34

1.3.4. Presença de sintomas psicóticos........................................................................... 35

1.3.5. Presença de ideação e tentativa de suicídio......................................................... 35

1.3.6. Gravidade de sintomas de mania ......................................................................... 36

1.3.7. Sintomatologia ..................................................................................................... 37

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1.4. Curso da doença de pacientes e características de pacientes com estados mistos

comparados aos pacientes com mania pura .............................................................

44

1.4.1. Idade de inicio da doença ..................................................................................... 45

1.4.2. Freqüência de episódios e rápida ciclagem .......................................................... 46

1.4.3. Recuperação entre os episódios ........................................................................... 48

1.4.4. Freqüência de hospitalizações............................................................................... 48

1.4.5. Comorbidades ....................................................................................................... 49

1.4.6. Suicidalidade......................................................................................................... 52

1.4.7. Fatores associados à história de estado misto....................................................... 55

1.4.8. Impulsividade ....................................................................................................... 55

1.4.9. Condição sócio-econômica .................................................................................. 62

1.4.10. História familiar .................................................................................................. 63

1.5. Tratamento ............................................................................................................... 63

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES .......................................................................................

74

2.1. Objetivos ................................................................................................................... 74

2.2. Hipóteses .................................................................................................................. 74

3. MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................................

75

3.1. Material ..................................................................................................................... 75

3.1.1. Casuística .............................................................................................................. 75

3.1.1.1. Critérios de inclusão ............................................................................................ 75

3.1.1.2. Critérios de exclusão ........................................................................................... 76

3.1.2. Instrumentos ........................................................................................................ 76

3.1.3. Escalas .................................................................................................................. 76

3.2. Métodos .................................................................................................................... 78

3.2.1. Desenho do estudo ............................................................................................. 78

3.2.2. Revisão do banco de dados................................................................................. 80

3.2.3. Confiabilidade entre os médicos ........................................................................ 81

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3.2.4. Diagnóstico .......................................................................................................... 83

3.2.5. Entrevista psiquiátrica ......................................................................................... 83

3.2.6. Aspectos éticos .................................................................................................... 83

3.2.7. Variáveis estudadas.............................................................................................. 84

3.2.8. Análise Estatística .............................................................................................. 84

4. RESULTADOS.............................................................................................................

87

4.1. Dados sócio-demográficos do grupo e dos dois subgrupos estudados .................... 87

4.2. Comparação entre episódio misto e de mania pura ................................................. 89

4.3. Comparação entre grupos em estado misto e mania pura ........................................ 93

4.3.1. Estudo da influência das variáveis de curso no diagnóstico de estado misto ....... 97

4.3.2 Análise de sobrevivência para idade de inicio da doença ..................................... 99

5. DISCUSSÃO ................................................................................................................

101

5.1. Dados sócio-demográficos ...................................................................................... 101

5.1.1. Sexo ...................................................................................................................... 101

5.1.2 Prevalência............................................................................................................. 102

5.1.3. Estado civil, classe social e anos de escolaridade ................................................ 102

5.1.4. Idade dos pacientes (no episódio em estudo) ....................................................... 103

5.2. Comparação entre episódios mistos e de mania pura .............................................. 103

5.3. Curso da doença entre os grupos com estado misto e em mania (pura)................... 106

5.3.1. Estabilidade diagnóstica para recorrência de estado misto .................................. 106

5.3.2. Comparação das variáveis de curso entre os dois grupos .................................... 107

6. CONCLUSÕES.............................................................................................................

122

7. ANEXOS ......................................................................................................................

123

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................

125

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TABELAS

Tabela 1 Classificação dos estados mistos segundo Weygandt (1899) ......... 13

Tabela 2 Classificação de estados mistos segundo Kraepelin (1919) ............. 13

Tabela 3 Estágios de mania segundo os autores Carlson e Goodwin ............ 14

Tabela 4 Critérios de Viena para estados mistos ............................................. 16

Tabela 5 Critérios do DSM III R para estados mistos ...................................... 16

Tabela 6 Critérios de Cincinatti para mania mista ou disfórica ........................ 17

Tabela 7 Critérios de estados mistos segundo a Organização mundial da

Saúde –OMS- (WHO), 10ª edição - (CID X) .....................................

18

Tabela 8: Critérios do DSM IV para estados mistos ......................................... 19

Tabela 9 Critérios de Pisa para estados mistos ............................................... 20

Tabela 10 Critérios de Cassidy para Mania Mista .............................................. 21

Tabela 11 Critérios de diagnóstico para pesquisa - Research Diagnostic

Criteria (RDC) - para depressão agitada (1978) ...............................

22

Tabela 12 Critérios de Koukopoulos para depressão mista ou agitada ............. 22

Tabela 13 Prevalência de estados mistos e mania mista .................................. 29

Tabela 14 Prevalência de estados mistos na literatura (continuação) ............... 30

Tabela 15 Prevalência de depressão mista em amostras clínicas .................... 32

Tabela 16 Sintomas, sinais e subgrupos em EM e mania mista ou disfórica .... 40

Tabela 17 Sinais e sintomas em episódios de depressão mista, estudos

clínicos ............................................................................................. 42

Tabela 18 Estudos que se refém à estabilidade diagnóstica entre grupos

estados mistos e mania pura ...........................................................

44

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Tabela 19 Freqüência das principais comorbidades ao longo da vida com

transtorno bipolar ............................................................................. 49

Tabela 20 Média de idade e de anos de escolaridade e freqüência do sexo

feminino ............................................................................................

87

Tabela 21 Freqüência de classes sociais entre os grupos segundo os

critérios da ABIPEME ..................................,,,,................................. 88

Tabela 22 Freqüência de sintomas psicóticos, tentativa de suicídio,

hospitalização, escores médios das escalas CGI e Young e

duração de episódios de mania. ......................................................

89

Tabela 23 Sintomas de mania da escala Young nos episódios mistos e de

mania ................................................................................................ 90

Tabela 24 Tempo de duração e idade de início da doença, freqüência de

hospitalizações, tentativas de suicídio, total de episódios, de

episódios depressivos e presença de hospitalizações .....................

93

Tabela 25 Presença e freqüência de comorbidades em estados mistos e

mania ................................................................................................. 95

Tabela 26 Escores da escala e sub-escalas de impulsividade (BIS) ................ 96

Tabela 27 Escores de impulsividade nos sexos feminino e masculino ............. 97

Tabela 28 Estimativas dos odds ratio (razões de chances) das variáveis

significativas para o modelo .............................................................

98

Tabela 29 Probabilidades ajustadas de se diagnosticar EM pelo modelo ........ 99

Tabela 30 Idade de início da doença (tempo de sobrevivência) ....................... 99

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FIGURAS Figura 1 Fluxograma ........................................................................................ 82

Figura 2 Sintomas de mania baseados na escala de Young mais freqüentes

em estados mistos .............................................................................

91

Figura 3 Sintomas depressivos mais freqüentes em estados mistos............... 92

Figura 4 Presença de comorbidades por grupo de transtornos ....................... 94

Figura 5 Descrição dos transtornos de ansiedade em estado misto e mania... 94

Figura 6 Idade de início: Curva de Kaplan Meyer ............................................ 100

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LISTA DE ABREVIAÇÕES TB Transtorno Bipolar

TB I Transtorno bipolar tipo I

EM Episódio Misto

AC Antes de Cristo

CID WHO Classificação de Doenças Internacionais

DSM Diagnostic Statistical Manual of the American Psychiatry Association

RDC Critérios Diagnóstico de Pesquisa

DSM-III-R Critérios de Classificação de Transtornos Mentais da Associação de

Psiquiatria Americana

APA América Psychiatry Association

MP Mania Pura

TP Transtornos de Personalidade

TOC Transtorno Obessivo Compulsivo

TA Transtornos ansiosos

ITM-DMT Immediate Memory Task- Delayed Memory Task- Teste

BIS Escala de impulsividade de Barratt

DA Dopamina

NE Noradrenalina

Gaba Ácido Gama Amino- Butírico

CGI Escala de impressão global

EPIMAN French Epidemiology National Multicenter Study of Mania

ECT Eletroconvulsoterapia

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PROMAN Projeto de Assistência e Pesquisa em Transtorno Bipolar

ABIPEME Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado

T. Alim. Transtorno alimentar

T.C.I. Transtorno de controle de impulso

PAC. Paciente

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RESUMO

*Schwartzmann AM. Estudo clínico e demográfico comparativo de

episódio agudo de mania versus estado misto. São Paulo, 2006. 144 p.

Tese (Mestrado) Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo.

Os episódios mistos em pacientes portadores de Transtorno Bipolar

são descritos freqüentemente como sendo mais graves que os episódios de

mania aguda. Além disso, muitos trabalhos na literatura descrevem os pacientes

com TB com história de episódios mistos, como um grupo distinto clínica e

demograficamente do grupo com apresentação apenas de episódios de mania

pura. Os objetivos deste estudo foram comparar clinicamente episódios agudos

mistos versus episódios de mania pura e comparar clínica e demograficamente

pacientes que apresentaram em algum momento do seguimento clínico pelo

menos um episódio misto com pacientes que apresentaram apenas mania pura.

Vinte pacientes apresentando episodio de mania pura foram comparados a 29

pacientes em estado misto de acordo com os critérios do DSM-IV. Não houve

diferença na duração destes episódios, presença de hospitalização e tentativas

de suicídio. Na comparação dos dados demográficos, não encontramos

diferenças na idade, distribuição entre os sexos, classe sócio-econômica, estado

civil e anos de escolaridade. Em relação ao curso, nosso estudo mostrou que

pacientes com pelo menos um estado misto apresentaram maior freqüência de

tentativas de suicídio e de episódios, mais comorbidades e idade de início da

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doença mais precoce. Foi realizada analise multivariada através de regressão

logística para a identificação das variáveis clinicas que melhor distinguem um

grupo do outro. Esta analise mostrou que a presença de comorbidades e de

tentativas de suicídio foram as variáveis identificadas que mais fortemente estão

associadas ao diagnóstico de pacientes com estado misto.

Termos Descritores:

1.Transtorno bipolar/diagnóstico 2. Ensaios clínicos 3. Suicídio 4. Prognóstico

5.Idade de início

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SUMMARY

*Schwartzmann AM. Estudo clínico e demográfico comparativo de

episódio agudo de mania versus estado misto. São Paulo, 2006. 144 p.

Tese (Mestrado) Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo.

Mixed episodes in patients with bipolar disorder (BD) have been

frequently described as more severe than acute manic episodes. Moreover,

many papers in the literature have described the patients with BD with history of

mixed episodes as a group that is clinically and demographically distinct from the

group with clinical presentation of pure manic episodes. The purposes of this

study were to compare clinically acute mixed episodes with pure manic episodes

and compare clinically and demographically patients that present in any moment

of their clinical follow-up at least one mixed episode with patients that present

only pure mania. Twenty patients with pure manic episode were compared to 29

patients with mixed episodes according to DSM-IV criteria. There were no

differences in episodes duration, presence of hospitalization and suicide

attempts. Comparing the demographic data, we did not find differences in age,

gender distribution, socio-economic status, marital status and years of education.

Regarding the course of illness, our study showed that patients with at least one

mixed state presented higher frequency of suicide attempts, younger age of

illness onset, more co-morbidities, and higher index of impulsivity. A multi-variate

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analysis was performed with logistic regression to identify the clinical variables

that better distinguish one group from the other. This analysis showed that the

presence of co-morbidities and suicide attempts were the identified variables that

are strongly associated with the diagnosis of patients with mixed state.

Descriptores: 1. Bipolar disorder/diagnosis 2. Clinical study 3. Suicide 4. Prognosis 5. Age of

onset

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1

1. INTRODUÇÃO

A presença de síndromes com sintomas de características

opostas em quadros psiquiátricos de humor é descrita desde a

antiguidade (Freeman e McElroy, 1999).

A literatura, desde o último século, mostra que não é tão rara

como descrita anteriormente e que confere um curso mais grave ao

transtorno bipolar (TB) em diversos aspectos, estando freqüentemente

associada ao suicídio, ao abuso de álcool e substâncias e transtornos

de ansiedade, pior prognóstico e tratamento mais difícil (Goodwin e

Jamison, 1990).

Estados Mistos (EM) são genericamente caracterizados por

presença simultânea de sintomas reconhecidamente depressivos e

maníacos.

Os trabalhos na literatura sobre EM referem-se a episódios

onde há a presença das síndromes depressivas e maníacas completas,

a presença de síndrome depressiva e alguns sintomas de mania

(depressão mista, depressão mista agitada), a presença de síndrome

maníaca completa e alguns sintomas depressivos (mania mista ou

disfórica) ou, simplesmente, a presença concomitante de sintomas

depressivos e maníacos em qualquer número. A diversidade de

conceitos usados gera resultados nem sempre concordantes.

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2

Descreveremos brevemente a origem do conceito e as diversas

definições utilizadas na literatura. Resumiremos os principais dados da

literatura sobre estados mistos e curso da doença bipolar.

1.1. Conceito, definições e critérios

1.1.1 Evolução do conceito de Transtorno Bipolar (TB)

Segundo Goodwin e Jamison (1990), mania e depressão são

conceitos estudados desde a Grécia antiga, acreditando-se desde

então, que fossem resultado da manifestação psicológica de um

transtorno biológico subjacente. Segundo estes autores, Hipócrates

(século V e IV AC) já descrevia a melancolia como uma condição

prolongada associada à aversão por alimentos, desesperança, insônia,

irritabilidade e desassossego. Era associada a um desequilíbrio dos

quatro humores (bile negra, amarela, sangue e fleugma), predominando

a bile negra, enquanto na mania predominaria a bile amarela. Foi

Areteu da Capadócia, que viveu provavelmente no século I AC, quem

fez uma as melhores descrições de quadros de mania e melancolia,

acreditando que mania fosse um estágio final da melancolia (apud

Goodwin e Jamison,1990). De maneira geral, os gregos e os romanos

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3

acreditavam que mania e depressão (melancolia) fossem quadros

distintos, porém relacionados às mesmas causas biológicas.

Na idade média as doenças psiquiátricas eram atribuições dos

monastérios e, apenas no século XVII, as observações sobre o assunto

deixaram de ter tom religioso. Falret (1854) e Baillarger (1857)

descreveram, independentemente, a folie circulaire e a folie a doublé

forme respectivamente, onde a mania e melancolia se alternavam,

sendo mania um estado originário do agravamento da melancolia,

representando a mesma doença. Griesinger (1887) afirmou que esta

tinha curso e prognóstico pobre (apud Goodwin e Jamison,1990).

Foi Emil Kraepelin quem subdividiu as psicoses em doença

maníaco-depressiva e demência precoce (esquizofrenia) e diferenciou-

as na sexta edição (1899) de seu tratado através do curso, prognóstico

e história familiar. Encontrou opositores em Karl Kleist, e Karl Jaspers

no final do século XIX e início do XX (apud Goodwin e Jamison,1990).

Kraepelin foi um dos primeiros psiquiatras a apontar o estresse

psicológico e fatores sociais como precipitante de episódios. Como os

autores de sua época, acreditava que tanto doença maníaco–

depressiva como demência precoce tinham origem cerebral e

hereditária (Goodwin e Jamison, 1990).

Autores americanos da metade do século XX foram bastante

influenciados pelo movimento da psicanálise. Adolph Meyer (1950-

1952), por exemplo, acreditava que influências psicológicas e do meio

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4

social levariam pacientes que já apresentassem uma vulnerabilidade de

base a desenvolver o quadro psicopatológico de doença maníaco-

depressiva (Goodwin e Jamison, 1990).

Por outro lado, Kraepelin unificou definitivamente os quadros

de humor, mania simples e melancolia em 1913, na oitava edição de

seu tratado, deixando de fora apenas algumas formas de melancolia

involutiva (Marneros e cols., 2001).

Eugen Bleuler (1924) antecipou a subdivisão contemporânea

dos transtornos afetivos em um grupo unipolar (apenas depressão no

curso da doença) e um bipolar (depressão e mania), o que influenciou a

Classificação de Doenças Internacionais (CID-WHO, 8ª edição) e dos

Critérios de diagnóstico dos transtornos mentais - DSM (Diagnostic

Statistical Manual of American Psychiatry Association, Edições I e II),

que perdura até as edições mais atuais da Classificação Internacional

de Doenças (CID-X - WHO, 1993) e dos Critérios de Diagnóstico de

Transtornos Mentais (DSM-IV, 1994). Karl Leonhard (1957), Angst e

Perris (1966) na Europa e Winokur (1966) nos Estados Unidos

solidificaram independentemente esta dicotomia, baseados em estudos

clínicos longitudinais.

Kraepelin lançou as sementes do que hoje conhecemos como

espectro bipolar (Akiskal e Pinto, 1999) ao descrever quadros com

“colorido leve de humor” que não apresentam limites claros com

“predisposições pessoais”, os temperamentos (Goodwin e Jamison,

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5

1990). O conceito de espectro bipolar foi se desenvolvendo

gradualmente: Dunner (1976), Endicott (1985) e Coryell (1985) e seus

respectivos grupos descreveram transtorno bipolar tipo II (quadros de

hipomania e depressão); Angst (1978) incluiu formas brandas de

depressão e mania, a ciclotimia, cujo conceito já aparece nas

descrições de Areteu da Capadócia e foi melhor descrito como psicoses

circulares por Kahlbaum (1882). Além destes quadros, Akiskal (1983)

incluiu a distimia, originalmente descrita por Flemming (1844) e

ciclotimia. Akiskal e cols. (1987) designaram de pseudo-unipolares, os

pacientes depressivos unipolares com história familiar de TB, início

precoce da doença e várias recorrências de episódios. Verificaram,

assim como Cassano e cols. (1988), que estes pacientes quando

tratados com antidepressivos por longo tempo podiam desenvolver

hipomania ou depressão associada à agitação. Trabalhos de 1987,1992

(a) e (b), 1994, e de 1999 de Akiskal e seu grupo propõem ampliar

ainda mais este espectro, incluindo conceito de temperamento, já

referido na literatura da Grécia antiga e melhor descritos nos trabalhos

de Kretschmer, (1888-1964) e de vários subtipos clínicos além dos

tradicionais quadros de TB I e II (Akiskal e Pinto, 1999). O transtorno

esquizo-afetivo, presente no capítulo de psicoses na CID X (1993), foi

estudado como um transtorno isolado por Kahlbaum (1883). Kraepelin

não soube definir se pertenciam ao grupo da doença maníaco-

depressiva ou da demência precoce (apud Wang YP, in Moreno e

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6

Moreno, 2002). Denominada por Kasanin de psicose esquizo-afetiva

aguda (1933), cada vez mais tem sido relacionada aos transtornos

afetivos e menos à esquizofrenia (Marneros, 2001a). Marneros e cols.

(2001b) propuseram que estes pacientes formassem dois grupos: um

associado aos transtornos afetivos unipolares e outro aos bipolares.

1.1.2. Evolução do conceito de Estados Mistos (EM)

Este breve relato sobre a história do TB se fez necessário para

entendermos a origem e evolução do conceito de estados mistos (EM):

A descrição de quadros de melancolia e mania na Grécia Roma antigas

apresentam-se bastante semelhantes às descrições de depressão e

mania dos tempos atuais, mesclavam-se com quadros psicóticos que

hoje correspondem a quadros de esquizofrenia. Areteu da Capadócia já

aceitava que sintomas depressivos e maníacos podiam coexistir.

Escreve que em “certos pacientes a mania se manifesta como euforia,

sem causar incômodos à família, porém em outros, como fúria e raiva,

em que rasgam as roupas, matam pessoas ou a si próprios”. Descreve

estados de depressão agitada “onde ocorre melancolia, tristeza e

desânimo, mas onde os pacientes passam facilmente para a raiva e

loucura, fazendo coisas terríveis e humilhantes” (Marneros, 2001a).

Robertson em 1890 dividiu a mania em “hilária e furiosa” (apud McElroy

e cols.,1992). Segundo Marneros (2001a), nosologistas do século XVIII

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como Bossoir de Sauvages e William Cullen classificaram as

melancolias em “melancolia moria, saltans, errabunda, silvestris, furens

e enthusiatica”, que correspondem a formas mistas da apresentação de

quadros de humor. Segundo este mesmo autor, o primeiro professor de

“Medicina Mental” numa Universidade alemã (Heinroth em Leipzig)

classificou as doenças mentais em três tipos: Exaltações (hipertimias),

depressões (astenias) e um terceiro, estados mistos com exaltação e

astenia. Guslain (1838) psiquiatra francês descreveu estados mistos

caracterizados por depressão irritada, exaltação irritada e depressão

com exaltação e insensatez, esta última inclui depressão com

ansiedade. William Griesinger, um dos fundadores da psiquiatria alemã,

descreveu estados mistos de melancolia e exaltação, formas de

ciclagem rápida e transtornos afetivos sazonais, e formas de curta

duração difíceis de diferenciarem na prática diária (apud Marneros

2001).

Portanto as formas mistas de humor nunca deixaram de ser

descritas na literatura. Porém, foi Emil Kraepelin e seu discípulo

Wilhelm Weygandt, no final do século XIX que, baseados na

observação e descrição de pacientes em EM, sistematizaram o estudo

sobre o assunto, com uma atualidade impressionante. Weygandt

publicou em 1899 primeiro livro que se refere a estados mistos e onde

mencionava a sexta edição do livro de Kraepelin como fonte de estudo

(Salvatore e cols., 2002). Weygandt dividiu a atividade psíquica em três

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domínios: afeto, pensamento e atividade motora, onde mania e

depressão apresentam os três domínios alinhados na mesma

polaridade. Considerava que EMs apresentavam-se como forma de

transição ou duradoura. Este mesmo autor foi o primeiro a empregar o

termo depressão agitada (Koukopoulos e Koukopoulos,1999).

Classificou EMs em seis tipos. Acreditava que ocorressem em 60% dos

pacientes maníaco-depressivos (Goodwin e Jamison, 1990).

Porém foi Kraepelin que depurou e sistematizou todo o

conhecimento da época sobre estados mistos e outras doenças

mentais. Na quinta edição de seu livro texto (1896, apud Koukopoulos e

Koukopoulos 1999) usou pela primeira vez em seus escritos o termo

“estados mistos”.

Conceituou-os como episódios onde há a presença de

sintomas de polaridade oposta em pelo menos uma das áreas: Humor,

volição (expresso pela atividade motora) e pensamento (mais o

encadeamento que conteúdo), sendo resultado da combinação de três

sintomas fundamentais da mania (fuga de idéias, euforia e

hiperatividade) com três sintomas fundamentais da depressão (inibição

do pensamento, humor depressivo e abulia) (Koukopoulos e

Koukopoulos, 1999 e Marneros, 2001a). Inicialmente kraepelin

acreditava que fosse um fenômeno de transição, mas reconhece,

posteriormente, que pudessem ocorrer como episódios isolados.

Acreditava que fossem graves e mais freqüentes nos estágios tardios

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da doença e, como Weygandt afirmou, estarem mais presentes no sexo

feminino. Na oitava edição de seu Tratado descreveu seis tipos de

estados mistos.

Nem todos aceitaram o conceito de EM de Kraepelin: Carl

Jaspers (1959), por exemplo, não aceitava que se tentasse “quebrar” a

doença maníaco-depressiva em três esferas. Kurt Schneider (1959,

apud Goodwin e Jamison 1990) afirmou que “não acreditava nos

estados mistos”. Por outro lado, Leonhard (1979), discípulo de Kleist e

Wernick, francos opositores da unificação dos transtornos de humor na

doença maníaco-depressiva, aceitou a existência de estados mistos

como formas bipolares da doença. Manfred Bleuler (1924) descreveu

em seu Tratado de Psiquiatria o quadro clínico de um paciente com EM

(Marneros, 2001a).

O interesse em EM diminuiu após a terceira década do século

XX. Na década de 60 o conceito foi melhor elaborado pelas escolas de

Hamburgo (Stavros Mentzos, 1967) e de Viena (Berner, 1982), sendo

dicotomizado em estados mistos estáveis e instáveis (Maggini e cols.,

2000). Os estados mistos estáveis representam a presença simultânea

e sincrônica de sintomas de ambas as polaridades; os instáveis são

caracterizados pela rápida ciclagem dos sintomas. O conceito atual

norte-americano de EMs retém apenas os estados mistos estáveis e

ignora os instáveis, que se assemelham ao conceito de “Ultradian

cycling” de Kraemlinger e Post (1996), ou seja, ciclagem dos sintomas

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em horas. A ciclagem rápida em TB é descrita no DSM-IV (1994) como

uma forma de apresentação do TB onde ocorram pelo menos quatro

episódios por ano.

A partir do último quarto do século XX houve uma retomada do

conceito de EMs tanto nos Estados Unidos como na Europa, com

trabalhos sobre depressão mista, mania mista e EM de autores como

Himmelhoch (1976), Akiskal (1987,1992, 1998), Secunda (1987),

McElroy (1992, 1995), Bauer (1994), Dell´Osso (1991), Perugi (1997),

Koukopoulos (1992 e 1999) e Benazzi (1999, 2000 e 2001). Akiskal e

cols (1992,1996), ampliando o conceito de Kraepelin de EM, sugeriram

que fossem incluídas formas onde sintomas depressivos ocorrem em

pacientes com temperamento ciclotímico, hipertímico e depressivo

(Marneros e cols., 2001). Akiskal (1992) sugeriu três diferentes tipos de

estados mistos:

I. Temperamento depressivo + psicose maníaca

II. Temperamento ciclotímico + depressão

III.Temperamento hipertímico + depressão. O tipo I e II

originam-se de sintomas de humor sobre temperamento de polaridade

oposta.

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Cada vez mais se admite como EM quadros onde sintomas

subliminares de polaridades opostas ocorrem simultaneamente ou se

alternem. Trabalhos mostram que pacientes com critérios menos

restritivos apresentam mesmas características clinicas e demográficas

que pacientes com critérios completos como os descritos nas

classificações oficiais da doença (DSM e CID) falando a favor de se

incluir neste conceito definições mais abrangentes e advertindo sobre o

risco de tratarmos este grupo de pacientes não incluídos em

classificações oficiais de maneira inadequada (McElroy e cols.,1992 e

1995, Koukopoulos Koukopoulos, 1992 e 1999, Benazzi e cols., 2000 e

2001).

1.1.3.Critérios e definições para estados mistos

Como relatamos acima, existem várias descrições de estados

mistos, desde a antiguidade até hoje, porém apenas alguns autores

criaram definições, principalmente para que servissem de referência

aos achados resultantes dos trabalhos e pesquisas sobre o assunto.

Os critérios usados desde o último século podem ser

classificados em:

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- Amplos ou abrangentes: presença de sintomas de um tipo de

episódio e, simultaneamente, de qualquer número de sintomas de

polaridade oposta (Swann e cols.,1997).

- Restritos: presença de síndrome completa de mania e

depressão, por no mínimo uma semana (critérios de classificação do

DSM-IV, 1994).

- Intermediários: Presença de sintomas proeminentes de

depressão num episódio de hipomania ou mania ou de sintomas

proeminentes de mania num episódio de depressão (McElroy e cols.,

1992).

Alguns autores usam critérios que adotam um determinado

escore nas escala de depressão e mania (Himmelhoch e

Garfinkel,1987), que denominamos de quantitativos

A partir do conceito que criou, Weygandt (1899) classificou os

estados mistos em seis tipos, segundo a tabela 1.

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Tabela 1: Classificação dos estados mistos segundo Weygandt (1899)

DESIGNAÇÃO AFETO ATIVIDADE PENSAMENTO

Mania furiosa Depressão agitada Mania improdutiva Estupor maníaco Depressão com fuga de idéias Mania com inibição motora

- - + + -

+

+ + + - - -

+ - - - +

+

Fonte: Marneros (2001a)

Kraepelin (1989), a partir do conceito que criou classificou

estados mistos segundo a tabela 2.

Tabela 2: Classificação de estados mistos segundo Kraepelin (1919)

TIPO HUMOR ATIVIDADE PENSAMENTO

Mania ansiosa ou depressiva (irascível) Depressão agitada Mania com inibição do pensamento (improdutiva) Estupor maníaco Depressão com fuga de idéias Mania inibida (fuga de idéias e elação)

- - +

+ - +

+

+ + - - -

+ - - - + +

Fonte: Marneros (2001a): (+): Presente, (-): Ausente.

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Carlson e Goodwin (1973) estagiaram a mania segundo sua

gravidade e, como podemos perceber, os estágios II e III correspondem

a quadros onde ocorre a presença simultânea de sintomas de ambas as

polaridades, atualmente entendidos como mania mista ou estados

mistos (tabela 3).

Tabela 3: Estágios de mania segundo Carlson e Goodwin

Estágio I Estágio II Estágio III

Humor Labilidade afetiva, euforia, irritabilidade se contrariado.

Mais disforia e depressão, intensa hostilidade e manifestações de raiva.

Claramente disfórico, sentimento de pânico e desesperança.

Cognição Expansividade, grandiosidade, autoconfiança exagerada, pensamento ainda coerente com velocidade aumentada, aumento de interesse por temas sexuais ou religiosos.

Fuga de idéias, desorganização cognitiva, delírios.

Pensamento incoerente com perda de associações, delírios bizarros e idéias idiossincráticas, idéias de auto-referência, alucinações, desorientação temporo-espacial.

Comportamento Atividade psicomotora aumentada, pressão de discurso, aumento de gastos, aumento de atividades prazerosas.

Aceleração psicomotora,logorréia,comportamento explosivo.

Atividade psicomotora frenética e freqüentemente bizarra

Fonte: Carlson e Goodwin, 1976.

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O manual do RDC, critérios de diagnóstico de pesquisa

(Research Diagnostic Criteria, Spitzer e cols., 1978), referem que

“características depressivas e maníacas devem ocorrer conjuntamente”

nos episódios mistos, mas não explicita em seus critérios o número de

sintomas que devem estar presentes. Porém, autores como Swann

(1993), ao utilizarem estes critérios, subentendem que as duas

síndromes estejam presentes completas e ocorram simultaneamente,

diferenciando-os de depressão agitada.

Os critérios de Viena, que representam a vertente européia dos

estudos foram criados por Berner e cols. (1983); são mais abrangentes

que os do DSM-III-R, DSM-IV e do RDC (tabela 4).

Os Critérios do DSM-III-R (Critérios de classificação de

transtornos mentais da Associação de Psiquiatria Americana, edição de

revisão da terceira edição, 1987) apresentam uma definição categorial e

bastante restrita para EM (Spitzer e cols., 1987), pelo número de

sintomas exigidos (tabela 5).

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Tabela 4: Critérios de Viena para estados mistos

A. Aparecimento de rápidas mudanças no afeto, na ressonância emocional ou na motivação seguido de um período de funcionamento habitual. Pelo menos um sintoma de:

1. Alternância rápida entre humor depressivo e/ou ansioso, eufórico/expansivo ou hostil.

2. Mudanças rápidas ou exageradas na ressonância emocional, caracterizando estados afetivos (depressão, ansiedade, mania e hostilidade).

Rápidas mudanças entre inibição e agitação ou motivação aumentada e ocasionalmente ocorrência de agressividade. Estas rápidas alternâncias podem gerar composições de sintomas concordantes ou não entre afeto e motivação, pois cada um destes elementos pode variar em diferentes ritmos.

B. Aparecimento de distúrbios de biorritmo: Sintomas (1) e (2) são exigidos:

(1). Variações diurnas de um ou mais dos sintomas dos critérios em (A)

(2). Distúrbios do sono. Pelo menos um dos sintomas é exigido:

a. Despertar precoce

b. Sono interrompido

Fonte: Berner e cols.,1983.

Tabela 5: Critérios do DSM-III-R para estados mistos

A. Presença simultânea dos critérios completos para mania e depressão

(exceto pela duração de duas semanas) ou rápida alternância entre eles em

poucos dias.

B. Os sintomas depressivos devem durar pelo menos um dia

C. Os sintomas não se devem a uma doença de base orgânica e não foram

precipitados pelo uso de drogas.

Fonte: APA: Associação de Psiquiatria Americana (Spitzer e cols., 1987)

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Goodwin e Jamison (1990), afirmaram: “estados mistos podem

ser amplamente definidos como presença simultânea de sintomas

maníacos e depressivos”. Estes autores usam critérios menos restritos

para estados mistos em seus trabalhos.

Podemos dividir os estudos sobre EM: Estudos sobre mania

mista ou disfórica (quadro de mania ou hipomania completo) e sobre

depressão mista (quadro de depressão completo). McElroy e cols.

propuseram em 1992 os critérios de Cincinnati para mania mista ou

disfórica (tabela 6)

Tabela 6: Critérios de Cincinatti para mania mista ou disfórica

A. Critérios de mania ou hipomania pelo DSM-III-R

B. Presença de pelo menos três sintomas depressivos ou dois sintomas

depressivos específicos (diferentes de insônia, diminuição de apetite,

perda de peso, agitação psicomotora, diminuição de concentração e

desatenção)

C. Sintomas devem ocorrer simultaneamente por 24 horas ou

alternarem-se rapidamente em minutos.

Fonte: McElroy e cols., 1992.

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Os Critérios de classificação do CID X, Classificação de

Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação

Internacional das Doenças, propostos pela Organização Mundial de

Saúde (WHO, 1993), definem EM também de maneira restrita (tabela

7).

Tabela 7: Critérios de estados mistos segundo a Organização mundial da Saúde–OMS- (WHO), 10ª edição, (CID X)

A. O episódio é caracterizado por uma mistura ou então rápida

alternância de sintomas hipomaníacos, maníacos e depressivos.

B. Tanto sintomas maníacos quanto depressivos devem ser

proeminentes durante a maior parte do tempo durante pelo

menos duas semanas.

FONTE; WHO, 1993.

Os critérios para EM que são descritos no DSM-IV (APA,

1994) também são restritos (tabela 8)

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Tabela 8: Critérios do DSM-IV para estados mistos

A. A Presença de critérios completos para mania e depressão (exceto

pela duração de duas semanas) quase todos os dias, durante um

mínimo de uma semana.

B. A perturbação do humor causa prejuízo funcional, exige

hospitalização ou coexistem com aspectos psicóticos.

Fonte: APA (American Psychiatry Association), 1994.

Perugi e cols. (1997), trabalhando em Pisa (Itália) criaram seus

próprios critérios conjuntamente com o grupo de San Diego (Akiskal e

cols.), baseados nos critérios de Viena e de Kraepelin, sendo

considerados mais abrangentes que os dois últimos descritos por não

exigirem um grande número de sintomas (tabela 9).

Os critérios de Cassidy foram desenvolvidos pelo autor e seus

colaboradores, a partir de uma amostra de 237 pacientes estudaram

transversalmente os sintomas mais presentes em pacientes com

critérios de EM segundo o RDC para definirem seus critérios,

mostrando-se mais amplos que os do DSM-IV e CID X (tabela 10)

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Tabela 9: Critérios de Pisa para estados mistos

A. Um estado sustentável (de pelo menos duas semanas) de instabilidade

emocional e/ou perplexidade no qual sintomas depressivos e maníacos estão

simultaneamente presentes, ou apresentem-se de maneira flutuante.

Devem estar presentes manifestações de extrema oposição em pelo menos

duas das cinco áreas devem estar presentes:

1. Humor ansioso ou triste versus eufórico ou irritável.

2. Curso do pensamento vagaroso versus acelerado.

3. Conteúdo do pensamento depressivo versus acelerado

4. Alterações senso-perceptivas de caráter depressivo versus expansivo

5. Movimentação lentificada versus acelerada.

B. Presença de no mínimo dois dos sintomas:

1. Ressonância afetiva aumentada

2. Baixo limiar para irritação e raiva, especialmente descontrole de impulsos

3. Mudanças rápidas e significativas dos impulsos sexuais, a partir do

funcionamento habitual

4. Alterações acentuadas do sono

5. Variações diurnas de pelo menos um item em (A)

C. Relações inter-pessoais e respostas afetivas adequadas antes do início

da doença ou entre os episódios.

Fonte: Perugi e cols., 1997.

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Tabela 10: Critérios de Cassidy para Mania Mista

1. Presença de critérios de mania pelo DSM-IV

2. Pelo menos dois sintomas dos seguintes: Humor depressivo,

anedonia, culpa, suicídio fadiga e ansiedade.

Fonte: Cassidy e cols., 2000.

Critérios de Koukopoulos para depressão mista ou agitada

são baseados no conceito de melancolia agitada de Kraepelin e na

própria experiência clínica dos autores (1992 e 1999).

Segundo os critérios do RDC, depressão agitada é um

subtipo de depressão, enquanto que para Koukopoulos e Koukopoulos

(1992 e 1999), Akiskal (1987) e Benazzi e cols. (2003) estes mesmos

critérios correspondem a um tipo de EM, que denominam de depressão

mista ou depressão mista agitada (tabela 11).

Segundo os critérios do RDC, depressão agitada é um

subtipo de depressão, enquanto que para Koukopoulos e Koukopoulos

(1992 e 1999), Akiskal (1987) e Benazzi e cols. (2003) estes mesmos

critérios correspondem a um tipo de EM, que denominam de depressão

mista ou depressão mista agitada (tabela 12).

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Tabela 11: Critérios de diagnóstico para pesquisa - Research Diagnostic Criteria (RDC) - para depressão agitada (1978)

Síndrome depressiva completa e presença de pelo menos dois sintomas:

1. Andar de um lado para o outro

2. Mãos inquietas

3. Incapacidade de aquietar-se

4. Sofreguidão nos gestos, manuseio dos cabelos, roupas e outros

objetos

5. Explosões de protesto e gritos

6. Fala acelerada, sem poder interromper e sem percepção do

fato.

Fonte: Spitzer e cols., 1978.

Tabela 12: Critérios de Koukopoulos para depressão mista ou agitada

A. Presença de um quadro completo de depressão segundo o DSM-III-R

B. Presença simultânea de pelo menos dois dos três sintomas de mania

ou hipomania de três: Agitação psicomotora, agitação psíquica ou intensa

tensão interna e pensamentos acelerados ou “profusão” de pensamentos.

Fonte: Koukopoulos e Koukopoulos, 1992 e 1999.

Benazzi e cols. (2000) definiram depressão mista de forma

semelhante a Koukopoulos. A classificação destes quadros como EM

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feita por estes autores contemporâneos coincide com a descrição dos

subtipos de EM feita por Kraepelin e Weygandt no final do século XIX,

assim como as de Himmelhoch e cols. (1976) e Akiskal e cols. (1987)

quando retomaram os estudos de depressão agitada psicótica. Este

último descreveu um quadro de depressão agitada em pacientes que

faziam uso prolongado de antidepressivos, em depressões

consideradas resistentes ao tratamento e passaram a apresentar

agitação importante, insônia importante, ansiedade refratária, aumento

de excitação sexual, aceleração de pensamentos, tristeza e

irritabilidade com presença importante de ideação suicida. Himmelhoch

descreveu pacientes com depressão psicótica agitada que

apresentavam quadro completo de depressão, agitação psicomotora e

sintomas psicóticos associados a sintomas de hipomania.. Devemos

salientar que os critérios para definir depressão agitada segundo o RDC

(Spitzer e cols., 1978) (Tabela 11) são descritos dentro do capítulo de

depressão, enquanto que Koukopoulos e Akiskal classificam-na como

um estado misto (1999) (tabela 12) e o DSM-IV não a diferencia dos

quadros depressivos. Portanto esta classificação não é unânime na

literatura.

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1.1.4. Modelos explicativos da origem dos estados mistos

Diversos autores têm discutido a origem de estados

mistos. Basicamente questiona-se:

1. Se EM é um tipo de mania ou depressão graves ou um

episódio distinto: Carlson e Goodwin (1973), ao estagiarem episódios

de mania, observaram que os episódios de mania tornavam-se

progressivamente mais graves, sendo que o último deles, o estágio III,

corresponde claramente à descrição de mania disfórica (veja tabela 3),

portanto consideraram um estágio de mania grave. Kraepelin acreditava

que ocorresse em estágios mais graves da doença, mas que fosse um

episódio distinto de mania. Himmelhoch e Garfinkel (1986a) afirmaram

que, embora freqüentemente graves, nem sempre se apresentam

assim. Este fato foi comprovado por Swann e cols. (1993 e 2001) e

McElroy e cols. (1995) que não encontraram maior presença de

sintomas psicóticos, de hospitalização ou maiores escores nas escalas

de depressão, de mania e de funcionamento global nos EM. Por outro

lado, verifica-se que apresentam algumas características distintas de

mania: como ocorrência mais freqüente em mulheres (McElroy e cols.,

1995), em indivíduos mais jovens (Perugi e cols., 1997) e de maior

predisposição familiar para depressão, além de TB (Dell’Osso e cols.,

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1991). Portanto estes autores consideraram EM um episódio distinto de

mania e depressão.

2. Se EM é um episódio de transição entre mania e depressão,

onde os pacientes poderiam ou não ficar aprisionados temporariamente

nesta condição: Tanto Kraepelin como Himmelhoch e cols. (1976), no

início de seus estudos sobre o assunto, acreditavam que era apenas

uma manifestação de transição (apud Goodwin e Jamison, 1990).

Como observaram posteriormente, nem sempre estão

cronologicamente entre um episódio de mania e depressão e ocorrem

independentemente destes no curso da doença.

3. Se EM é a sobreposição de um episódio de mania e de

depressão ou de dimensões de polaridades opostas do psiquismo: Os

relatos de achados biológicos da literatura fazem supor que haja uma

sobreposição de características de mania e depressão nos estados

mistos: A supressão de cortisol pela dexametasona aparece diminuída

igualmente em pacientes em estado misto e em pacientes em

depressão, diferentemente do que ocorre na mania (Evans e Nemeroff

apud McElroy e cols., 1992, Swann e cols., 1994). Por outro lado, a

maior atividade noradrenérgica, medida pelos níveis dos metabólitos da

noradrenalina no líquido cérebro-espinhal e que sempre esteve

correlacionada a humor eufórico, foi associada à gravidade da mania

em pacientes em mania e episódio misto, mas não em pacientes em

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depressão agitada (segundo definição do RDC), que por sua vez tinham

menores escores na escala de mania (Swann e cols., 1987 e Swann e

cols., 1994).

O modelo categorial para episódios adotado por Winokur e

cols. (1969) onde mania, depressão e EM são três categorias de

diagnóstico diferentes, influenciou as classificações como o DSM-IV e

classificações antecessoras (apud McElroy e cols., 1992). Neste

modelo quadros descritos devem apresentar um número determinado

de sintomas. Cada vez mais este modelo tem sido criticado por ser

pouco dinâmico e por ser responsável por limitações em trabalhos

como os da área genética. Kraepelin, em 1989, já defendia o modelo

dimensional, onde EM seria o resultado da presença de sintomas de

polaridade oposta em pelo menos uma das três dimensões do

psiquismo, afeto, atividade e pensamento (apud Goodwin e Jamison,

1990). Carroll e cols. (1983 e 1991, apud Cassidy e cols., 1998)

propuseram a existência de três dimensões psíquicas com bases

neurofisiológicas diferentes: Hedônica, regulação da dor e regulação

psicomotora, tendo cada uma delas dois pólos, e que originariam os

diversos estados psíquicos. Autores como Bauer (1994) e McElroy

(1995) propõem que a definição de EM apresente uma graduação no

número de sintomas entre os pólos depressivo e maníaco, estes

representando os extremos de uma mesma dimensão. Trabalhos mais

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recentes que empregaram análise fatorial e de agrupamento mostraram

que sintomas depressivos e maníacos distribuem-se de maneira

dimensional ao longo de sub-grupos de mania pura e mista (Dilsaver e

cols., 1999, Swann e cols., 2001, Akiskal e cols., 2003, AKiskal e cols.,

2002, Sato e cols., 2002).

4. Outros modelos: Himmelhoch e Garfinkel (1986)

encontraram altos índices de comorbidades associadas aos estados

mistos, especialmente abuso de substâncias, de alterações

neuropsiquiátricas como traumatismo crânio-encefálico, enxaqueca e

de anormalidades eletro-encefalográficas. Propuseram que a instalação

de EM deva-se à instabilidade gerada por estas ocorrências nestes

pacientes.

Akiskal mais do que qualquer autor tem defendido a idéia de

um espectro em TB (Akiskal e cols., 1992 e 1996) e de critérios

dimensionais nos transtornos psiquiátricos. Postula que estados mistos

tenham origem na instalação de um episódio de polaridade oposta ao

temperamento de base alterado do paciente, gerando uma instabilidade

característica nestes episódios. Mania mista teria origem em um

episódio de mania que se instala sobre temperamento depressivo

(ambos mais freqüentes em TB tipo I), enquanto depressão mista, de

um episódio depressivo que se instala sobre temperamento ciclotímico

ou hipertímico, ambos mais comuns em TB tipo II (Perugi e cols.,1997).

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28

1.2. Características clínico-demográficas de pacientes em

estado misto e do estado misto

1.2.1. Prevalência.

As taxas de presença de sintomas depressivos em episódio

de mania e de sintomas de mania em episódios depressivos variam

segundo a literatura, de 5 a 70% (Freeman e McElroy, 1992). Estas

taxas podem ser vistas nas tabelas 13, 14 e 15. Quando os trabalhos

utilizam definições de mania ou depressão mistas mais amplas estas

taxas se elevam, enquanto nas definições mais restritas de EM que

consideram as síndromes depressiva e maníaca completas, estas taxas

caem. Bauer encontrou que 73% de pacientes em mania segundo

critérios do DSM-III-R tinham pelo menos um sintoma depressivo

associado, enquanto apenas 5,4 % apresentava critérios de EM

segundo DSM-III-R. A gravidade da doença das amostras pode ser

diferente, como quando se estuda amostras de pacientes ambulatoriais

ou hospitalizados, pode influir nestas taxas também. McElroy e cols.

(1992) consideraram que as taxas de prevalência de mania mista

podem ser consideradas, em média, em torno de 30%.

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29

Tabela 13: Prevalência de estados mistos e mania mista

Autores Definição Prevalência N Porcentagem de mulheres

com EM Winokur, 1969*

Estreita 16% 61 90% (60% das manias eram

mulheres) Kotin,1972 * Intermediária 65% 20 -

Carlson, 1973*

Estágio III de mania 70% 20 -

Himmelhoch, 1976*

Intermediária 31% 84 -

Nunn, 1979* Intermediária 36% 112 60%

Akiskal,1979* - 25% 60 -

Secunda, 1985,1987*

Intermediária* 42% 19 -

Prien,1988*

Ampla e intermediária* 22% 103 41%

Post, 1989* Intermediária 46% 48

Tohen, 1990* Intermediária 51% 75 -

Dell´Osso, 1991*

Estreita 45 % 103 Amostra só de mulheres

Strakowski, 1992*

Estreita 20% 41 -

Fonte: McElroy e cols.,1992.

*Definição estreita: mania ou hipomania acompanhada pela

síndrome completa de depressão maior; definição intermediária: mania

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30

ou hipomania acompanhada por sintomas depressivos proeminentes;

definição ampla: presença de sintomas depressivos e maníacos em

qualquer número.

Tabela 14: Prevalência de estados mistos na literatura recente

Autores Definição Prevalência N Porcentagem de mulheres

com EM Bauer, 1994

Espectro de sintomas

depressivos

73% - um sintoma

depressivo; 5,4% -

DSM-III-R

37 Predomínio de mulheres com

apenas um sintoma ou

quatro sintomas depressivos

McElroy,1995

Ampla Restrita

Ampla: 40% Restrita: 34%

71 75% na definição

restrita, sem diferença para definição de

Cincinatti Cassidy,1998b

DSM-III-R 13% 316 _

Akiskal, 1998

Ampla (McElroy)

37% Maior em mulheres (63%)

Cassidy, 2000

Ampla Amplo ROC):27,4% DSM-III-R:

13,9%

237 _

Dilsaver,1999

Ampla 62% 105 58%, sem significância

Cassidy, 2001ª

Ampla (ROC):22,9% DSM-III-R:

12,9%

363 _

Swann, 2001

Ampla 31,5% 162 57%

Sato, 2002

Ampla 42% 576 65%

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31

Estados mistos com quadro depressão predominante, assim

como os de mania mista, apresentam prevalências diferentes,

dependendo da amostra analisada. Não são raros como Kraepelin,

(apud Goodwin e Jamison, 1990) e Himmelhoch (1976) pensaram no

início de suas observações clínicas (veja tabela 15). Benazzi (2001a)

encontrou prevalência de 46% em um grupo de pacientes bipolares tipo

II e 7,8 % em depressivos unipolares. Em estudo de 2001 (c) encontrou

que 90% de pacientes depressivos bipolares tipo II e unipolares

apresentavam pelo menos um sintoma de mania. Maj e cols. (2003)

estudando pacientes bipolares tipo I encontrou que 19,5 % tinham

critérios de depressão agitada segundo o RDC, porém somente 23%

tinham humor exaltado e 16% hipersexualidade e nenhum com

aumento de energia, sintomas que caracterizariam EM depressivos

segundo Koukopoulos e Koukopoulos (1992). Koukopoulos e cols.

(1995), encontraram 27% de pacientes com depressão agitada (sua

definição) dentro do TBI.

.

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32

Tabela 15: Prevalência de depressão mista em amostras clínicas

Autores Amostra inicial Prevalência

Himmelhoch e cols., 1976 Observação de sua prática clínica rara

Goodwin e Jamison, 1990 Pacientes em depressão bipolar

30% com aceleração de pensamento

Koukopoulos e cols.1992 Pacientes com TBH em depressão

25%, 28% das mulheres e 15% dos homens

Benazzi e Akiskal 2001a Pacientes com TBH tipo II em depressão

73% com dois ou mais sintomas de mania

Perugi e cols.,1997 Pacientes em EM segundo sua definição

17,5% em depressão mista psicótica (Kraepelin)

Maj e cols., 2003 Pacientes em depressão por TBH I

19,5% em depressão agitada (definição do RDC)

1.2.2. Distribuição de gênero

Não há predominância de um dos sexos em TB tipo I, ao

contrário do tipo II onde prevalece o sexo feminino. Os autores têm

repetidamente demonstrado que EM têm maior freqüência de sexo

feminino que masculino se compararmos à mania pura, onde a

freqüência dos sexos é a mesma. Winokur e cols. (1969), Nunn e cols.

(1979), Himmelhoch e Garfinkel (1986). McElroy e cols. (1995)

encontraram que, quando se estuda pacientes com EM, a prevalência

do sexo feminino será tanto maior quanto maior o número de sintomas

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33

depressivos considerados. McElroy, só encontrou maior prevalência de

sexo feminino com EM quando estudou sua amostra usando a definição

do DSM-III-R, diferente de quando usou a definição de Cincinnati, onde

a prevalência não foi diferente de mania pura. Akiskal e cols. (1998),

encontraram maior prevalência de sexo feminino em EM (DSM-IV) e

com os critérios de Cincinnati. Swann e cols. (2001) não encontraram

não encontraram diferença usando critérios do DSM-III-R. Pacientes em

depressão mista com características atípicas e com TB tipo II

apresentam predominância do sexo feminino segundo Benazzi (2001

b); isto pode dever-se ao fato de terem TB II ou por terem

características atípicas.

1.3. Comparação entre características clínicas dos episódios mistos versus mania pura (MP)

De maneira geral os episódios mistos são considerados mais

graves que mania pura (Swann e cols., 1993).

1.3.1. Idade dos pacientes no episódio

Kraepelin acreditava que estados mistos ocorriam em fase

tardia da doença, representando um agravamento da doença. A idade

dos pacientes com EM não aparece como diferente da idade dos

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34

pacientes em mania em alguns trabalhos (Bauer e cols.,1994, McElroy

e cols., 1995, Perugi e cols., 1997). Dilsaver e cols. (1999) observaram

que, dentre os pacientes com sintomatologia mista, os pacientes mais

jovens tinham menor número de sintomas depressivos e tinham mais

irritabilidade. Adolescentes apresentam mais freqüentemente mania

associada à sintomatologia depressiva que adultos (Himmelhoch e

Garfinkel, 1986 e McElroy e cols., 1997, Dilsaver e cols., 2005).

1.3.2. Duração dos episódios

Trabalhos demonstraram que EM tem maior duração que

mania (Keller e cols., 1986, Dell’Osso e cols.,1991, Perugi e cols.,

1997). Estes dados não foram confirmados por trabalhos de Calabrese

e cols. (1990) e McElroy e cols.(1995).

1.3.3. Presença de hospitalização

Post e cols. (1989) encontraram maior presença de

hospitalização em pacientes com EM que em pacientes com mania, fato

nem sempre confirmado em outros estudos (McElroy e cols.,1995).

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35

1.3.4. Presença de sintomas psicóticos

A maior parte dos autores relata maior freqüência de sintomas

psicóticos nos EM (Kotin e Goodwin, 1972 apud McElroy e cols., 1992,

Beigel e Murphy,1971, Douglas e cols., 1990 apud Cassidy e

cols.,1998 a, Akiskal e cols., 1998b, Dilsaver e cols., 1999). Outros

trabalhos não confirmaram estes achados (Swann e cols., 1986 e 2001,

Dell`Osso e cols., 1991, McElroy e cols., 1995).

1.3.5. Presença de ideação e tentativa de suicídio

Ideação e tentativas de suicídio associam-se mais

freqüentemente a EM que a mania pura (Goodwin e Jamison,1990).

Dilsaver e cols. (1994) e Strakowski e cols. (1996) concluíram, a partir

de seus estudos, que pacientes em mania apresentam tanto mais

ideação e tentativas de suicídio quanto maior o número de sintomas

depressivos associados. Swann e cols. (2001) encontraram

planejamento suicida mais freqüentemente em pacientes com EM que

apresentavam sintomas completos da síndrome depressiva se

comparados aos que tinham menor número destes sintomas. Dilsaver e

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36

cols., (1997), estudando suicídio em pacientes bipolares, encontraram

ideação, planejamento e tentativas de suicídio em 79,3% dos pacientes

em depressão bipolar, 56,3% dos pacientes com EM (critérios do DSM-

IV) e 2,3% dos pacientes em mania pura. Akiskal descreve quadros de

depressão mista, onde pacientes, inicialmente com depressão

resistente, e em uso de antidepressivos freqüentemente apresentam

comportamento suicida ao exibirem sintomas depressivos

simultaneamente (Akiskal e cols.,1987). Tal como em trabalho posterior,

Akiskal e Benazzi (2005), denominaram estes pacientes com estas

características de pseudo-unipolares, associando-os a maiores taxas de

suicídio e mais história familiar de depressão que de TB que depressão

unipolar. Perugi e cols. (2001) não encontraram diferença entre

freqüência de tentativas de suicídio quando comparou pacientes em

depressão bipolar, depressão mista e EM segundo DSM-III-R, enquanto

Dilsaver e cols. (2001) encontraram maiores taxas de suicidalidade em

episódios depressivos bipolares que em EM (RDC) e que em mania.

1.3.6. Gravidade de sintomas de mania

Swann e cols. (1993 e 2001) encontraram taxas de mania

similares às de episódios de mania, porém a gravidade geral da doença

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37

era maior em EM. McElroy e cols (1995) encontraram mesmos índices

de gravidade geral da doença e mesmos índices de mania

1.3.7. Sintomatologia

Alguns autores têm procurado discriminar sintomas

característicos maníacos e depressivos nos estados mistos, visando

facilitar a realização deste diagnóstico na prática clínica. Estudos mais

recentes que utilizaram análise estatística fatorial e de agrupamento de

sintomas de pacientes em mania (pura ou mista), demonstraram a

existência de episódios mistos e de um grupo de pacientes diferenciado

clínica e demograficamente que apresentam este episódio com mais

freqüência. Alguns destes trabalhos chegaram a discriminar subgrupos

de estados mistos segundo seus índices de depressão e

sintomatologia, estatisticamente diferentes entre os subgrupos, como

ideação suicida, humor depressivo e irritabilidade (Dilsaver e cols., 1999

e Swann e cols., 2001)

Areteu da Capadócia (apud Marneros e cols., 2001a)

descreveu um grupo de pacientes com maior irritabilidade e

agressividade contrapondo-o ao de mania com sintomas predominantes

de euforia. Weygandt e Kraepelin no final do século XIX descreveram a

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38

sintomatologia de subtipos de EM (incluindo depressão mista ou

agitada) que nos servem de referência clínica nos dias atuais (Veja

tabelas 1 e 2).

Na tabela 16 relatamos os principais trabalhos que

descreveram sintomas mais freqüentes em EM, sendo que alguns

trabalhos usam definições restritivas, outros mais amplas como mania

depressiva ou mista. Também descriminamos os principais achados de

cada estudo. Nesta tabela podemos verificar que irritabilidade e ideação

suicida são apontados, ao lado de humor depressivo, como bastante

comuns em EM em vários trabalhos (Cassidy e cols., 1998 a e b, 2001a

e b, Akiskal e cols., 1998, Swann, 2001). Disforia, usado como sinônimo

de irritabilidade, é apontado como sintoma bastante freqüente em EM e

ao longo do tempo os autores foram verificando que este sintoma pode

caracterizar um subgrupo de EM, a mania disfórica. O termo disforia é

usado na literatura americana para designar presença de depressão

enquanto que na européia é sinônimo de irritabilidade e paranóia (Ebert

e cols., 1993). Dilsaver e cols. (1999) e Swann e cols. (2001) usaram o

termo mania disfórica para caracterizar estados mistos com maiores

índices de irritabilidade e menores de depressão, quando comparados à

mania depressiva (critérios de EM pelo DSM-III-R). O grupo de

pacientes com mais irritabilidade e menores índices de depressão

apresentaram menos ideação e tentativa de suicídio. Swann (2000)

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39

propõe, citando estudos de Dilsaver e cols. (2000), que disforia seja

considerada uma outra dimensão de estados afetivos, além da mania e

depressão, definida como tensão interna, hostilidade, agressão e ou

paranóia.

Entre outros, os sintomas cognitivos foram mais freqüentes em

EM que em mania pura no trabalho de Swann e cols. (1993), e que

depressão no trabalho de Perugi e cols. (2001). Sintomas psicóticos

foram mais associados ao grupo de mania disfórica no trabalho de

Dilsaver e cols. (1999) e Akiskal (2003) e foram igualmente distribuídos

em mania e nos subtipos de EM nos trabalhos de Swann (2001), Sato

(2002) e Gonzalez–Pinto (2004). Hostilidade, esteve presente mais

presente em EM no trabalho de Swann (1993), em mania disfórica no

trabalho de Akiskal (2003) e de Dilsaver (1999).

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40

Tabela 16: Sintomas, sinais e subgrupos em EM e mania mista ou disfórica

Autores Desenho Sintomas e sinais depressivos de EM Subgrupos de mania Winokur e cols.,1969 apud Goodwin e Jamison (1990)

transversal Humor lábil e variável irritabilidade. EM: síndromes completas de depressão e mania

Himmelhoch e Garfinkel.,1986 transversal Disforia, irritabilidade, elação, anergia,sintomas

psicóticos Definição restrita de EM

Post e cols., 1989 transversal Ansiedade, irritabilidade e psicose. Definição intermediária par EM

Dell´Osso e cols.,1991 transversal Sintomas psicóticos incongruentes com humor, sintomas de polo oposto. Definição restrita de EM

Swann e cols., 1993 transversal Agitação, hostilidade, prejuízo cognitivo, humor depressivo.

EM: síndromes completas de depressão e mania (RDC)

Cassidy e cols., 1998a* transversal Humor disfórico (irritável / depressivo), labilidade de humor, ansiedade, culpa, suicidalidade.

EM segundo DSM-III-R,comparação dos 20 sintomas e sinais mais freqüentes em mania pura e mista

Cassidy e cols., 1998b* transversal Fator disfórico: humor disfórico, labilidade de humor, culpa, ansiedade e pensamentos de suicídio.

EM pelo DSM-III-R fez análise fatorial dos 20 sinais e sintomas mais freqüentes em pacientes em mania

Akiskal e cols., 1998 transversal Sintomas preditivos de mania disfórica: Humor depressivo e ideação suicida: Mania disfórica segundo critérios de Cincinatti

Dilsaver e cols., 1999* transversal e retrospectivo

Subgrupo disfórico: mais irritabilidade, sintomas paranóides, menores índices de depressão e suicidalidade comparado ao subgrupo depressivo.

A partir dos critérios do DSM-III-R, encontrou três sub-grupos: EM depressivo e disfórico, além de mania pura.

Cassidy e cols 2000a* e 2001b* transversal Humor depressivo, anedonia, culpa, ideação suicida,

fadiga e ansiedade.

EM pelo DSM-III-R: análise de sintomas depressivos do fator disfórico e sintomas depressivos do DSM-III-R

Swann e cols., 2001* transversal e retrospectivo

Subgrupo disfórico: mais irritabilidade, menores índices de depressão e suicidalidade comparado a subgrupo depressivo,

A partir dos critérios do DSM-III-R chegou a quatro subgrupos: mania depressiva, disfórica delirante e clássica.

Sato e cols., 2002*

transversal e retrospectivo

Humor depressivo, inibição do pensamento e pensamento, labilidade dos sintomas.

A partir dos critérios do DSM-IV chegou a mania pura, agressiva, psicótica e depressiva.

Akiskal e cols., 2003* transversal Humor depressivo, hostilidade e paranóia. Critérios do DSM-IV: mania e EM

Gonzales-Pinto 2004* transversal e retrospectivo

Humor depressivo, culpa, irritabilidade, sintomas obsessivo-compulsivos, agressividade, irritabilidade e falta de insight.

A partir dos critérios do DSM-IV estudou os dois sub-grupos: EM e mania

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41

Akiskal, Benazzi, Koukopoulos e seus respectivos grupos têm realizado

diversos estudos tentando caracterizar melhor depressão mista ou agitada. O

tema depressão mista tem merecido trabalhos diferenciados dos trabalhos de

mania mista ou disfórica. Na tabela 17 são descritos os principais estudos sobre o

tema: A maioria deles é transversal e visaram estudar sintomatologia e

características gerais. Em todos estes trabalhos seus autores discutem as origens

destes quadros e procuram caracterizá-los como estados mistos. Himmelhoch

(1976) descreveu transversal e prospectivamente 12 pacientes que apresentaram

quadro de depressão com agitação psicomotora e sintomas psicóticos associados

a episódios de hipomania. Associou a ocorrência destes episódios com esta

sintomatologia à idade avançada destes pacientes, afirmando que eram pouco

freqüentes e tinham provavelmente herança familiar de para transtorno afetivo

unipolar e bipolar. Akiskal (1987) retomou o conceito de Kraepelin de depressão

agitada, descrevendo o quadro destes pacientes com este diagnóstico como

predominantemente de sintomas depressivos, com presença intensa de ideação

suicida, porém com extrema agitação, excitação sexual e aceleração de

pensamento. Benazzi e cols. (2000) e Koukopoulos (1992 e 1995) caracterizaram

depressão mista de forma semelhante a (tabela 12), com agitação psicomotora,

aceleração de pensamento e, muitas vezes, hipersexualidade. A caracterização

destes quadros como EM feita por estes autores contemporâneos coincide com a

descrição dos subtipos de EM feita por Kraepelin e Weygandt no final do século

XIX.

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42

Tabela 17: Sinais e sintomas em episódios de depressão mista, estudos clínicos

Autores Desenho Sintomas e sinais depressivos em EM Subgrupo de mania

Himmelhoch e cols.1976

Transversal, prospectivo

Alternância e humor disfórico, aceleração do pensamento, idéias de grandeza e de perseguição, insônia severa, agitação, psicomotora e hipersexualidade

Depressão agitada psicótica

Akiskal e cols., 1987

Retrospectivo

Disforia (irritabilidade), agitação, ansiedade, aumento de libido, insônia grave e intenso sofrimento.

Depressão agitada (EM)

Koukopoulos e cols.1992

Transversal

Humor disfórico, aceleração do pensamento e ou profusão de pensamentos, insônia, discurso aumentado, labilidade emocional, humor depressivo e ideação suicida grave.

Depressão mista ou agitada

Perugi e cols., 1997

Transversal Depressão mista (agitada e psicótica): Agitação, humor irritável, pressão de discurso Mania improdutiva: fadiga e indecisão

Definição de EM pelos critérios de Perugi; selecionou três subgrupos: mania mista disfórica (EM segundo o DSM-III-R), Depressão mista agitada(Kraepelin 1907 e Akiskal 1986) e mania mista- improdutiva ou inibida

Perugi e cols., 2001

Transversal

Depressão mista (agitada de Kraepelin 1907): pressão de discurso e fuga de idéias. EM pelo DSM-III-R: (mania improdutiva ou inibida de Kraepelin 1907): fadiga e indecisão. Sintomas psicóticos incongruentes com humor em ambos os subgrupos

Definição de EM pelos critérios de Perugi estudou dois subgrupos: Mania mista (EM segundo o DSM-III-R) e Depressão mista agitada (Kraepelin 1907 e Akiskal 1986).

Benazzi e cols., 2001a; e b

Transversal Em TB tipo II: Irritabilidade, distração, discurso aumentado, pensamentos acelerados, discurso acelerado.

Critérios de Benazzi para depressão mista (pelo menos três sintomas de mania)

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43

Resumindo o que foi discutido sobre sintomas em EM: sintomas

depressivos apresentam-se freqüentemente associados a sintomas de mania:

Humor depressivo e irritável aparecem freqüentemente em quadros de mania e

hipomania, enquanto que irritabilidade, pensamento acelerado, distração e

aumento do discurso em quadros de depressão. Estudos recentes, onde foram

usados recursos estatísticos como análise fatorial de sintomas e de agrupamento

em amostras grandes de pacientes com mania pura ou EM têm demonstrado uma

distribuição dimensional de sintomas de depressivos em quadros de mania,

podendo-se identificar principalmente três sub-grupos:

1. Mania pura

2. Mania mista com quadros completos de depressão e mania

3. Mania disfórica com menor número de sintomas depressivos associados

à síndrome maníaca, porém com muito mais irritabilidade, com menores taxas de

suicidalidade. Os estudos sobre depressão mista também mostram uma

distribuição dimensional de sintomas de mania em quadros depressivos (Benazzi

e Akiskal, 2001) e afirmam que podem representar um subtipo de EM, como

descreveu Kraepelin no final do século XIX.

Episódios Mistos são em geral mais longos, têm mais sintomas

psicóticos, maior ocorrência de hospitalização e tentativas de suicídio e,

portanto, são mais graves que episódios de mania pura, embora estes não

sejam dados unânimes da literatura.

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44

1.4. Curso da doença e características de pacientes com estados mistos comparados aos pacientes com mania pura

A literatura tem evidenciado que pacientes com EM agudo apresentam

maior freqüência deste tipo de episódio no curso da doença, assim como maior

freqüência de início da doença com EM se comparados aos pacientes em mania

pura (Dell’Osso e cols., 1991, McElroy e cols., 1995, Perugi e cols., 2000, Woods

e cols,, 2001 e Cassidy e cols., 2001, Swann e cols., 2001). Na tabela 18 citamos

alguns trabalhos que estudaram a estabilidade de ocorrência de EM em amostras

de pacientes bipolares.

TABELA 18: Estudos que se referem à estabilidade diagnóstica entre grupos estados mistos e mania pura

Autores N Estudo-desenho Critérios Grupo em EM agudo:

Características diferentes do grupo mania

McElroy e

cols., 1995

71 Retrospectivo DSM-III-R e

Cincinatti

Mais episódios

depressivos, mistos,

Swann e

cols., 2001

78 Retrospectivo RDC Mais episódios

depressivos, mistos

e tentativas de suicídio

Cassidy e

cols., 2001*

68 Prospectivo DSM-III-R EM tende a se repetir

Woods e

cols., 2001*

241 Retrospectivo CID-10 EM tende a se repetir

* Estudos que analisaram especificamente a recorrência de EM em pacientes com EM agudo.

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45

O curso e prognóstico do transtorno bipolar associado à presença de

estados mistos são considerados mais graves, quando comparados aos que

apresentam apenas mania pura (Kraepelin 1889 apud Goodwin e Jamison, 1990,

Himmelhoch e Garfinkel, 1986 e Freeman e McElroy, 1999). São usados alguns

índices para esta comparação: idade de início da doença, freqüência de episódios,

hospitalizações e tentativas de suicídio e presença de comorbidades e taxas de

impulsividade.

1.4.1. Idade de início da doença

Nem sempre há uniformidade nos critérios sobre início da doença entre os

diversos estudos. Pode ser caracterizado como a ocorrência dos primeiros

sintomas, do primeiro episódio ou primeira hospitalização. A maioria dos autores

não esclarece o critério usado. Outro inconveniente que influi na fidedignidade

deste achado nos trabalhos é que estes fazem geralmente a investigação de

maneira retrospectiva.

Num estudo com 2.939 pacientes bipolares, Kupfer e cols. (2002)

encontraram idade média de início do TB segundo critérios do DSM-IV ao redor de

19,8 anos. Neste estudo não houve discriminação entre pacientes com EM ou

mania pura. Os trabalhos consideram idade precoce de início da doença antes dos

19 anos, Sendo que estes pacientes apresentam características clínicas

diferentes, em geral mais graves que pacientes sem início precoce da doença

Page 64: Angela Maria Schwartzmann · Modelos explicativos da origem dos estados mistos ... Tabela 4 Critérios de Viena para estados mistos ... ITM-DMT Immediate Memory Task- Delayed Memory

46

(Schulze e cols., 2002, Carlson e cols., 2002, Tsai e Chen, 1999, Ernst e cols.,

2004, Kennedy e cols., 2005)

Quanto aos pacientes com EM, em diversos estudos específicos sobre o

assunto mostram-se com idade de início da doença igual ao de mania em

trabalhos como os de Dell`Osso e cols. (1991), McElroy e cols. (1995) e Perugi e

cols. (1997 e 2000), Dell`Osso e cols. (2000), ou menor como no trabalho de Nunn

e cols 1979 (apud McElroy e cols, 1992), Post e cols. (1989), Bauer e cols. (1995).

Neste último trabalho a amostra era de 236 pacientes e o achado ocorreu quando

utilizaram definições menos e mais abrangentes. Swann e cols. (2001) ao

estudarem o grupo de pacientes em mania disfórica (menor número de sintomas

depressivos) encontrou idade de início maior que em pacientes com critérios

semelhantes ao DSM-III-R para EM (maior número de sintomas depressivos).

1.4.2. Freqüência de episódios e ciclagem rápida

A freqüência dos episódios em pacientes com EM aparece como maior

que mania em boa parte dos trabalhos da literatura (Nunn e cols 1979 apud

McElroy e cols., 1992, Swann e cols., 2001); a freqüência foi menor quando se

usou definições mais abrangentes, com menor número de sintomas depressivos

(Perugi e cols.1997, Swann e cols., 2001). Alguns estudos demonstram que ocorre

também maior freqüência de episódios depressivos, além de episódios mistos

quando a definição inclui maior número de sintomas depressivos, mostrando maior

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47

tendência destes pacientes para a depressão em relação aos pacientes em mania

pura (Akiskal 1986, Dell’Osso e cols., 2001). A presença de ciclagem rápida (RC)

nos dois grupos não parece ser diferente (McElroy e cols., 1995, usando definição

ampla ou restrita, Perugi e cols., 1997, usando definição ampla). Estes achados

não são corroborados por Swann e cols. (2001) que acharam mais RC no grupo

com EM segundo o DSM-III-R, porém não quando o número de sintomas

depressivos era menor e havia mais irritabilidade (idem a Post e cols., 1989). A

menor incidência de RC, de menor frequência do total de episódios e de episódios

depressivos e início mais tardio em pacientes irritáveis que em pacientes com

maior número de sintomas depressivos e menos irritabilidade (EM segundo DSM-

III-R) falam a favor da existência dois subtipos de EM, como demonstraram

Double (1990, 1991), Dilsaver e cols. (1999) e o próprio Swann (2001), ao usarem

análise estatística fatorial e de agrupamento em seus estudos. Bauer e cols.

(1994) analisando apenas o grupo de mulheres de seu estudo verificou que as que

se apresentavam com EM, tinham maior presença de RC quando comparadas

aos homens. Fatores comuns associados aos EM e à RC nos fazem pensar sobre

uma origem comum às duas apresentações de TB: Maior prevalência de

mulheres, idade de início precoce, uso de antidepressivos no passado (Akiskal, e

cols., 1987, Altshuler e cols.,1995) e melhor resposta terapêutica aos

anticonvulsivantes que ao lítio (Clothier e cols., 1992, Calabrese e cols., 1995).

Porém não há conclusão definitiva a este respeito (Perugi e cols., 2000).

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48

1.4.3. Recuperação entre os episódios

Em geral é descrita como pior nos estados mistos (Himmelhoch e

Garfinkel 1986a, Sato e cols., 2002, Perugi e cols., 1997); esta descrição nem

sempre é confirmada na literatura (McElroy e cols., 1995).

1.4.4. Freqüência de hospitalizações

Está relacionada à gravidade dos episódios. Foi maior em pacientes que

se apresentavam com EM no trabalho de Post e cols. (1989). Estes dados não

foram replicados em vários estudos como o de Perugi e cols. (1997), que

encontraram menor freqüência e os de McElroy e cols.(1995, e 2000), Akiskal e

cols. (1998) e Dell`Osso e cols. (2000), que encontraram mesma frequência. Com

exceção de Akiskal e Perugi, todas as definições usadas nestes trabalhos foram

abrangentes. O trabalho de McElroy descreveu mesma frequência, porém maior

duração das hospitalizações nos episódios mistos que nas manias, quando

definição era a do DSM-III-R.

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49

1.4.5. Comorbidades

A presença de comorbidade com outros transtornos psiquiátricos e

doenças clínicas é freqüentemente associada à pior resposta ao tratamento e pior

prognóstico (Goodwin e Jamison, 1990) em TB. As associações são bastante

freqüentes na história destes pacientes, como exemplifica a tabela 19.

Tabela 19: Freqüência das principais comorbidades ao longo da vida com transtorno bipolar

Condição comórbida Freqüência média

da associação com TB

Qualquer transtorno do eixo I 65%

Abuso de substâncias 44%

Abuso de álcool 49%

Transtornos de ansiedade 71%

Fobia social 47%

Transtorno do Pânico 11%

Transtorno obsessivo-compulsivo 10%

Transtorno estresse pós-traumático 39%

Transtornos de personalidade 36%

Compulsão alimentar 13%

Fonte: Krishnann, 2005.

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50

Estudo sobre conseqüências e sobre as correlações entre presença de

comorbidades e outras variáveis em TB afirmam que:

1. Alcoolismo isoladamente associa-se ao suicídio (Sher L, 2006) assim

como os aos transtornos de ansiedade (TA)(Simon e cols., 2004). 2. Estudos com

grande número de pacientes têm demonstrado que pacientes bipolares que

apresentam comorbidades associadas seja com transtorno de ansiedade ou

abuso de substâncias, seja outros transtornos do eixo I, apresentam idade mais

precoce de início da doença (Chen e Dilsaver 1995 b, Bauer e cols., 2005,

McElroy e cols., 2001) mais suicidalidade (Chen e Dilsaver 1995 a e b, Sher L,

2006) e pior evolução (McElroy e cols., 2001, Cassidy e cols., 2001). Chen e

Dilsaver (1995 b) propõem que transtorno obsessivo-compulsivo em TB constitua

uma diátese, tal a frequência com que ocorrem juntos e a gravidade que a doença

apresenta, caracterizada pela maior suicidalidade e pior evolução da doença. 3.

Presença de comorbidade com transtorno de ansiedade leva à maior associação

com abuso de substâncias e pior evolução do TB (Goodwin e cols., 2002, Simon e

cols., 2004 em estudo com 500 pacientes). Porém Henry e cols. (2003) estudando

318 pacientes bipolares retrospectivamente, não correlacionaram a presença de

comorbidade com TA com maior severidade do curso do TB avaliada por: Número

de hospitalizações, sintomas psicóticos, abuso de álcool e substâncias e tentativas

de suicídio. 4. Pacientes com presença de comorbidades têm pior resposta ao

tratamento em geral: Pacientes bipolares com TA tratados com lítio têm pior

resposta que pacientes sem TA e melhor resposta a estabilizadores de humor

anticonvulsivantes (Freeman e cols., 2002); Henry e cols. (2003) encontraram

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mesma eficácia no uso do lítio em TB associado ou não a TA, porém os sintomas

relacionados ao TA associado respondem melhor quando tratado com

anticonvulsivante; o mesmo ocorre com pacientes com comorbidade com abuso

de substâncias e álcool segundo estudo retrospectivo em 240 pacientes bipolares

tipo I com EM ou mania, de Goldberg e cols. (1999).

2. Transtornos de personalidade (TP) também estão freqüentemente

associados ao TB como se vê na tabela 19, tornando o curso da doença mais

grave. Assim, pacientes com TP:

- Levam maior tempo para se recuperar durante um episódio (Schwartz e

cols., 2005). Após um ano de seguimento houve menor recuperação nos que

pacientes bipolares com TP no estudo de Dunayevich e cols. (2000). 2. São

também pacientes mais vulneráveis a fatores estressantes (Cheour e cols., 1999).

- Têm mais frequentemente história de tentativas de suicídio (Ucok e

cols., 1998, Garno e cols., 2005). 4. Têm maior freqüência de episódios

(Dunayevich e cols., 1996). 5. Têm pior ajuste social (Carpenter e cols., 1995) 6.

Têm maior severidade de sintomas de humor na remissão e durante os episódios

(Brieger e cols., 2003). Os TP mais encontrados em TB por Krishan K., 2005,

foram personalidades emocionalmente erráticas / dramáticas (grupo B) e

evitadoras (grupo B). George e cols. (2003), estudando 52 pacientes bipolares,

encontraram 28,8% com diagnóstico de TP, com a mesma frequência de tipologia

encontrada por Krishnan K. (2005) e com mesmo achado relativo à remissão de

sintomas depressivos.

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Estudos têm indicado que a presença de comorbidades associadas a

pacientes com EM é mais freqüente que em pacientes em mania. Dell´Osso e

cols. (1991) e McElroy e cols. (1995), usando definições de EM restritas,

descreveram maiores taxas de transtorno obsessivo-compulsivo associado.

Dilsaver e cols. (1997) encontraram transtorno do pânico em 62,3% dos pacientes

em depressão bipolar, 62,5% dos pacientes com EM (segundo critério restrito) e

2,3% dos pacientes em mania. Dilsaver e Chen (2003) encontraram fobia social

inter-episódica em 68% dos pacientes em EM e em nenhum dos paciente em

mania). Além dos transtornos ansiosos, o abuso de álcool e substâncias é mais

freqüente em pacientes com EM segundo Winokur e cols., 1969, apud McElroy e

cols. (1992) e Himmelhoch e Garfinkel, 1986. No trabalho de Goldberg e cols.

(1999), pacientes bipolares com história de abuso de substâncias apresentavam-

se mais em EMs que os pacientes bipolares sem abuso de substâncias. Brieger e

cols. (2002) estudando 16 pacientes com EM e 26 com mania não encontrou

diferença em características de personalidade entre os dois grupos.

1.4.6. Suicidalidade

Este termo refere-se á ideação, tentativa ou ato suicida completo

(Goldsmith e cols, 2002). Por volta de 90% de vítimas de suicídio têm um

transtorno psiquiátrico no momento da morte. Pacientes bipolares tentam mais

suicídio que pacientes unipolares, tendo em vista que estes pacientes estão

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sujeitos a maiores mudanças de humor e, portanto, mais estresse (Nierenberg e

cols., 2001). As taxas de suicídio e tentativas são maiores que as referentes à

depressão maior, e menores que às de esquizofrenia (Goldsmith e cols., 2002).

Estima-se que 25-50% de pacientes bipolares tentam suicídio pelo menos uma

vez ao longo da vida e que 18 % de suas mortes devam-se ao suicídio (Goldberg

e cols., 1999). Oquendo e Mann (2001) propuseram um modelo que denominaram

de estresse-diátese para suicídio. Diátese refere-se ao limiar individual para

realização de atos suicidas e compreende as seguintes características: Número de

tentativas prévias e ideação suicidas, desesperança e falta de razões para viver,

antecedentes pessoais de agressividade e impulsividade, comorbidade com

alcoolismo, abuso de substâncias, tabagismo e outros transtornos psiquiátricos do

eixo I e II do DSM-IV, história familiar para suicídio, sexo masculino, idade jovem e

história de trauma crânio-encefálico. Leverich e cols. (2003), em um estudo

retrospectivo com 648 pacientes bipolares, acrescentou a estes fatores: História

de abuso na infância e fatores de risco que estão relacionados ao estresse

durante a doença que compreendem gravidade da sintomatologia depressiva e

número de hospitalizações durante episódios depressivos.

Os estados mistos e depressivos conferem maior risco de tentativas de

suicídio aos pacientes que a mania; ao se estudar o curso da doença verifica-se

que pacientes com EM apresentam maiores taxas de suicidalidade que pacientes

em mania, seja porque apresentem grande sofrimento, seja porque apresentem

episódios mais longos, pior resposta ao tratamento ou maior associação com

comorbidades (Goodwin e Jamison, Keller 1990, Keller e cols., 1986, Perugi e

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cols., 1997, Nierenberg e cols., 2001). Estes índices são altos durante os

episódios, como já referimos. A maior freqüência de tentativas de suicídio ao longo

da doença tem sido descrita também tanto em pacientes com depressão mista

como com mania disfórica (Perugi e cols.,1997 e 2000, Freeman e McElroy,

1999,), além de pacientes com EM definidos pela presença das síndromes

completas de mania e de depressão (Swann e cols., 2001, McElroy e cols., 1995).

Associação de transtorno de abuso de substâncias e suicidalidade em

pacientes com transtornos afetivos predominantemente depressivos ou disfóricos

foi identificada por Tondo e cols. (1999). Porém, pacientes que fazem abuso de

álcool e substâncias parecem apresentar mais freqüentemente ideação suicida

independentemente de apresentarem quadros depressivos (Salloum e cols., 1996,

Pages e cols., 1997). Goldberg e cols.(1999), em um estudo de 100 pacientes com

EM (mania com dois ou mais sintomas depressivos) correlacionaram ideação

suicida com história de abuso de substância ou álcool e tentativas de suicídio

anteriores.

Como já referimos, pacientes bipolares com transtornos de ansiedade

(TOC, pânico), abuso de álcool e substância e transtornos de personalidade

também apresentam maiores taxas de suicídio que pacientes bipolares que não

apresentam estas patologias associadas (Simon e cols., 2004, Leverich e cols.,

2003, Cheour,1999). Estas características, por estarem mais associadas a EM

que à mania, confeririam maior risco de suicídio em pacientes com EM

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55

Foram relatadas alterações significativas no sistema serotonérgico de

pacientes com conduta suicida, com menores níveis de serotonina e seus

metabólitos no cérebro (estudos pós-mortem) e no fluído cérebro-espinhal,

independentemente do diagnóstico psiquiátrico de base (BANKI e ARATÓ, 1983),

além de alteração de receptores serotonérgicos 5HT-2A (PANDE e cols., 2002) no

cérebro dos mesmos.

1.4.7. Fatores associados à história de estado misto

Foram mais associados a EM os seguintes fatores : Alterações de base

neuropsicológicas (traumatismo crânio-encefálico, enxaqueca e alterações de

eletro-encefalograma), (Himmelhoch e Garfinkel, 1986), temperamento de base

alterado (Akiskal e cols.,1992 e 1998) e estresse antecedendo o episódio (Perugi

e cols., 1997).

1.4.8. Impulsividade

Impulsividade aparece muitas vezes na descrição de alguns transtornos

no DSM-IV nos critérios de diagnóstico, mas apenas nas últimas três décadas é

que vem sendo estudando o seu papel em doenças psiquiátricas. No DSM-IV

alguns transtornos são qualificados como basicamente de controle de

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56

impulsividade entre eles tricotilomania e cleptomania. O termo é usado muitas

vezes como um traço ou característica de personalidade.

Cloninger C. (1987) considera que o fator desencadeante do

comportamento impulsivo não é a busca de emoções novas, mas de novidades

(novelty seekers) e falta de esquiva ao dano resultante dele.

Zuckerman (1991) considera o indivíduo impulsivo àquele ávido por

emoções (sensation seeker), que necessita manter altos níveis de estimulação

(arousal).

Eysenck e Eysenck (1977, apud Moeller e cols., 2001a) relacionaram

impulsividade a comportamentos que envolvem exposição a riscos, falta de

planejamento e decisões rápidas.

Barratt E. (1985) define como capacidade reduzida de reflexão e

precipitação ao ato. Relaciona-se à impaciência, desatenção, ações rápidas não

precedidas de reflexão. Estas inabilidades têm, segundo ele, base

neuropsicológica.

Patton e Barratt (1995) encontraram três componentes de impulsividade

após realização de análise fatorial dos itens da escala criada por eles:

Desatenção: (escores entre 8 e 32 pontos), relaciona-se à

característica de pensar, decidir e concluir apressadamente.

Motora: (escores entre 10 e 40), relaciona-se à característica de agir

sem pensar.

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Falta de planejamento: (escores entre 12 e 48), relaciona-se à

incapacidade de antever conseqüências futuras e de comportamento

voltado a objetivos imediatos.

Moeller e cols. (2001a), baseados em modelos de comportamentos

impulsivos estudados em laboratório e modelos sociais, criaram uma definição que

pudesse responder às exigências dos estudos clínicos e laboratoriais:

“Predisposição (ou padrão de comportamento) a reações rápidas e não planejadas

a estímulos externos e internos, sem considerar conseqüências negativas de suas

ações para si e para os outros”.

Segundo o próprio Moeller, impulsividade envolve exposição a risco (risk

taking), diferentemente “buscadores” de sensações (sensation seeking). Alguns

transtornos como transtorno de personalidade, TB, transtorno do déficit de

atenção e hiper-atividade, transtornos de conduta, jogo patológico e abuso de

substâncias estão ligados à impulsividade pela maneira como têm sido

conceituados, ou seja, na pela falta de inibição de comportamentos. Como já

referimos, aumento de impulsividade está relacionado à conduta suicida, além de

agressão não planejada. Os modelos de fisiopatologia envolvidos na explicação

da gênese da impulsividade são três: prejuízo da atividade serotonérgica, aumento

da função noradrenérgica e dano e disfunção do lobo frontal (Moeller e cols.,

2001).

Patton e Barratt (1995) criaram a Escala de Impulsividade de Barratt

(BIS), que se subdivide em três subescalas que medem: ativação motora, prejuízo

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de atenção e falta de planejamento. Estes componentes são fatores chaves da

impulsividade e encontram-se alterados nos transtornos psiquiátricos citados

acima (Moeller e cols., 2001a). A BIS avalia padrões de comportamentos do

paciente, a impulsividade traço-dependente, que predispõe aos transtornos

psiquiátricos citados acima e que estaria relacionada à função serotonérgica

(Swann e cols.,1999, Moeller e cols., 2001a). Pode-se avaliar impulsividade

através de tarefas realizadas em laboratório (como a ITM-DMT - Immediate

Memory Task- Delayed Memory Task- teste de tarefas de memória imediata e

retardada- Dougherty D, 1997), levando-se em conta principalmente atenção e

desinibição no momento do teste. Este tipo de procedimento avalia a

impulsividade estado-dependente que se altera, por exemplo, após uso de

substâncias psico-ativas e durante a mania, devendo estar relacionada

principalmente à função noradrenérgica (Dougherty D, 1999, Swann e cols., 2001,

Swann e cols., 2003). A impulsividade traço-dependente encontra-se aumentada

no TB na fase de mania e na eutimia em relação a pacientes controles-normais

(Swann e cols., 2001 e 2003), ou seja, não é influenciada pelo estado atual do

paciente. Swann (2003), usando escala BIS, encontrou escores das três

subescalas que a compõem aumentadas. A impulsividade estado-dependente

está aumentada apenas na mania se comparada à de paciente bipolares em

eutimia ou controles normais (Swann e cols., 2003). Podemos concluir que a

impulsividade como traço está aumentada no TB, porém sua expressão num dado

momento pode estar relacionada à gravidade do quadro psicopatológico (Swann e

cols., 2001 e 2003).

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Idade e sexo podem afetar impulsividade. Enquanto meninos são mais

impulsivos que meninas, esta diferença torna-se menos consistente na idade

adulta, na maioria das populações (Côté e cols., 2002, Feingold e cols., 1994). A

diferença para sexo pode variar, dependendo do transtorno em estudo: Gerson e

cols. (2002) encontraram sexo feminino predominante entre os indivíduos

hiperativos. Goethals e cols. (2005) não encontraram diferença de escores de

impulsividade entre sexos em transtorno de personalidade. Quanto à variável

idade, pacientes jovens apresentam maior incidência de comportamento de risco

e, portanto, maior impulsividade (Stevenson e cols., 2003). Swann e cols. (2004)

não encontraram diferenças nos escores de impulsividade em TB quanto a sexo,

porém houve correlação negativa quanto à idade. Grau de escolaridade pode

estar relacionado inversamente aos escores de impulsividade (Barratt e

Patton,1983, Vigil-Colet e Morales-Vivus F, 2005).

Como pudemos perceber, impulsividade contribui para muitas

complicações do TB, incluindo suicídio, abuso de substâncias e comportamentos

agressivos em TP. Os outros transtornos como jogo patológico, transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de conduta também apresentam

índices de impulsividade aumentados (Moeller e cols., 2001a), porém, não serão o

foco de nosso estudo atual.

Quando temos mais de uma patologia psiquiátrica relacionada à

impulsividade traço-dependente, associadas num mesmo paciente, os escores de

impulsividade são ainda maiores que se apenas uma estivesse presente.

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Provavelmente maiores taxas predisporiam o indivíduo a mais de um transtorno ou

a um transtorno agravado (Swann e cols., 2004, Stanford e Barratt,1992).

A impulsividade traço-dependente está aumentada em pacientes que

fazem uso abusivo de álcool ou substância (Swann e cols., 2004 e Moeller e cols.,

2002, 2001 c), assim como em pacientes com TB em eutimia ou em mania

(Swann e cols., 2004). Pacientes bipolares, eutímicos ou em mania, com abuso de

álcool apresentam estes escores ainda maiores que os grupos descritos (Swann e

cols., 2004). Pode-se discutir se pacientes bipolares com maiores índices de

impulsividade traço dependente são mais suscetíveis a desenvolverem

comorbidade com álcool, ou se o uso abusivo álcool estabelecido numa tentativa

de auto-medicação dos sintomas de humor, acarretando aumento de níveis de

impulsividade. São necessários trabalhos descriminando a cronologia do início

destes transtornos nestes pacientes. Como já referimos, pacientes com estas

duas patologias associadas apresentam maior dificuldade no tratamento (Moeller

e cols., 2001a), maior tendência ao suicídio, idade de início mais precoce e maior

freqüência de episódios. Todas estas características podem estar relacionadas à

maior severidade da impulsividade nestes pacientes (Swann e cols., 2004).

Como descreveram Mann e cols. (1999), suicídio é o resultado da

interação de fatores de risco (entre eles impulsividade) e de fatores protetores,

como razões para viver, que se relacionam com relações, sociais e familiares,

como presença de um dependente. Por isso pacientes que tentam suicídio não

são necessariamente mais impulsivos que os pacientes que não tentam. Alguns

estudos demonstraram maior presença de traços de impulsividade em pacientes

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afetivos que tentaram suicídio que entre os que não tentaram (McKeown e cols,

1998, Corruble e cols.,1999), ou que os índices de impulsividade eram maiores em

pacientes com tentativas violentas. Swann e cols., (2005), estudando 48 pacientes

bipolares com história de pelo menos uma tentativa de suicídio ou mais de uma

não conseguiram demonstrar um aumento estatisticamente significativo dos

escores de impulsividade medidos pela BIS (traço dependente) nestes pacientes

em relação aos pacientes sem tentativas, porém a impulsividade estado -

dependente estava aumentada.

LinKs e cols. (1999) e Fossaty e cols. (2004) demonstraram a correlação

positiva entre impulsividade e TP borderline ou anti-social. Não há estudos que

comparem impulsividade de pacientes em EM versus mania, levando em conta a

presença de comorbidades.

Como se vê, estes transtornos geralmente associados à TB, parecem ter

como ponto comum na impulsividade; por isso estudos de psicofarmacologia

devem levar em conta no desenvolvimento do tratamento destes pacientes

características de impulsividade do tipo estado e traço-dependente. Hollander e

cols. (2005) demonstraram a eficácia do uso do divalproex em pacientes com TP

Borderline, reduzindo impulsividade traço dependente nestes pacientes. Swann e

cols. (2002) demonstraram a eficácia do uso de divalproato em relação ao placebo

em diminuir a impulsividade em pacientes com EM.

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62

Resumindo a comparação do curso da doença: A literatura apresenta

dados diferentes dependendo dos critérios e tipo amostra de pacientes

estudadas, porém os resultados dos diferentes estudos falam a favor de que

pacientes bipolares que apresentam EM na história são bastante freqüentes

e são descritos como tendo: Início da doença mais precoce,maior

dificuldade de tratamento, maior prevalência do sexo feminino, maior

freqüência de episódios, hospitalizações, de tentativas de suicídio, de

associações com comorbidades psiquiátricas, de familiares com transtornos

depressivos além de TB e podemos concluir que maiores índices de

impulsividade ser encontrados que pacientes sem EM na história.

1.4.9. Condição econômica

Não foram descritas maiores perdas sócio-ocupacionais em pacientes

com presença de EM na história nos trabalhos de Dell`Osso e cols. (1991),

McElroy e cols. (1995) e Perugi e cols. (2001). Os três estudos clínicos têm

número de pacientes pequeno, não sendo possível demonstrar estatisticamente

se há ou não diferenças.

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63

1.4.10. História familiar

Além da maior prevalência de TB nos familiares de primeiro grau dos

pacientes bipolares, familiares de pacientes com EM apresentam também maior

prevalência de transtornos depressivos que pacientes em mania (Himmelhoch e

cols., 1976, Dell´Osso e cols., 1991). Estes dados nem sempre foram replicados

(McElroy e cols., 1995 e Perugi e cols.,1997).

1.5. Tratamento

A resposta aos tratamentos tradicionalmente eficazes para mania tem

apresentado piores resultados para EM tanto a curto como longo prazo, não só

pelas características do quadro como pela maior associação de comorbidades

(Prien e cols., 1988, Montgomery e cols., 2000, Goldberg e cols., 1996, Dilsaver

1993). O uso de associação de estabilizadores de humor e drogas antipsicóticas é

mais eficaz que o uso de uma só droga (Sachs GS, 2003, Bowden e cols.,1997).

Lítio

Estudos apresentados na literatura sobre uso de lítio em EM têm usado

pequeno número de pacientes.

Swann e cols. (1986) em estudo aberto com 18 pacientes usando apenas

lítio verificaram que pacientes em mania com sintomas depressivos associado

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64

tinham pior resposta ao tratamento. Freeman e cols.(1992), num estudo duplo

cego de 29 pacientes em mania por três semanas, encontraram resposta um

pouco pior ao lítio nos EM. Clothier e cols. (1992), em estudo duplo cego de 27

pacientes com mania disfórica concluiu que EM, por si próprio, não prediz má

resposta a lítio ou valproato, porém os pacientes responderam melhor ao

valproato, quanto maior o escore de depressão no episódio. Goldberg e cols.

(1998) estudando retrospectivamente 120 pacientes não verificaram diferença na

resposta no uso de lítio, carbamazepina ou valproato. Quando a resposta não era

boa ao lítio, a adição de outro estabilizador promovia melhora dos pacientes como

nos outros grupos de tratamento. Aumento rápido da dosagem do lítio predizia

melhor resposta. Frye e cols. (1996 e 2000) estudando retrospectivamente 178

pacientes verificaram resposta mais eficaz de pacientes com EM à carbamazepina

associada ao lítio do que quando este era usado isoladamente.

Até aqui estudos sobre profilaxia não demonstram que o uso do lítio é um

bom preventivo em pacientes em EM: Prien e cols. (1988), estudando

prospectivamente por cerca de dois anos pacientes que se apresentaram com EM,

em uso de lítio, imipramina e Lítio com imipramina não demonstraram

superioridade de nenhuma das formas de tratamento. Himmelhoch e Garfinkel

(1986) também verificaram a pouca eficácia do lítio na prevenção de EM

comparados o tratamento de mania em um período seguimento prospectivo que

variou de 9 meses a 5 anos. Bowden e Calabrese e cols. (2003), em estudo duplo

cego com 638 pacientes, seguidos por 18 meses verificaram que lítio previne

melhor EM e mania e lamotrigina previne melhor episódios de depressão, sendo

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65

que o menor tempo para a intervenção terapêutica é quem melhor prediz a

eficácia. Lítio não parece ser eficaz no tratamento de EM e seu uso na profilaxia

necessita ser mais investigado.

Anticonvulsivantes

- Divalproato de sódio e ácido valpróico: Um estudo duplo cego

comparando valproato ao lítio que avaliou 27 pacientes em mania com e sem

sintomas depressivos associados por três semanas, demonstra que divalproato é

igualmente eficaz nos dois grupos de pacientes, porém respostas favoráveis ao

divalproato estavam associadas a escores elevados de depressão, o que fez com

que seus autores recomendassem seu uso para tratamento de EM (Freeman e

cols.,1992). Calabrese e cols. (1992) e McFarland (1990), este último estudando

uma amostra de pacientes com média de idade de 66 anos, demonstraram que

valproato é mais eficaz que outras drogas no tratamento agudo de EM. Clothiers e

cols. (1992) demonstraram uma correlação entre resposta a divalproato e

gravidade da depressão associada. Swann e cols. (1997), estudando 179

pacientes em mania num estudo duplo cego com lítio, placebo e valproato com

três semanas de tratamento, concluíram que sintomas depressivos são

associados a uma resposta pobre ao lítio e melhor resposta ao divalproato, e que

esta resposta não depende da gravidade destes sintomas. Lítio e divalproato

mostraram-se igualmente eficazes na mania. Pacientes em mania pura

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66

apresentaram resposta. Goldberg e cols. (1998) sugeriram, a partir de estudo com

valproato, que o aumento rápido de sua dosagem leva a melhor resposta em EM.

Dados sobre o tratamento profilático de EM, tanto com divalproato como o

lítio, são escassos. Calabrese e cols. (1992), no mesmo estudo citado acima,

demonstraram boa resposta profilática em EM. Hayes S (1989), usando

divalproato por 12 meses ou mais, demonstrou que em pacientes não responsivos

a lítio ou carbamazepina, houve uma melhora significativa dos sintomas mistos e

do funcionamento geral destes pacientes.

Swann e cols. (2002) demonstraram a eficácia do divalproato sobre

placebo em reduzir escore de impulsividade em EM. Divalproato parece ser mais

eficaz que lítio no tratamento de TB associado a abuso de substâncias e TA

(Goldberg e cols.,1999 e Henry C, 2003). Em EM Keck e cols, (1996)

demonstraram que a resposta ao tratamento é inversamente proporcional à

presença de comorbidades associadas.

Estes dados sugerem que valproato é eficaz no tratamento agudo de EM,

porém seu uso na prevenção ainda precisa ser melhor estudado.

- Carbamazepina: Existem alguns estudos caso-controle que comprovam

a eficácia de carbamazepina com EM (Ballanger e cols., 1980, Bowden 1996,

Brambila e cols., 2001, Lich e cols., 1998). Weisler e cols. (2004), num estudo

duplo-cego com placebo, estudando uma amostra com 103 pacientes com EM,

demonstrou que sintomas maníacos são reduzidos significativamente, mas não os

sintomas depressivos, porém quando o tratamento foi prolongado até seis meses,

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67

os sintomas depressivos reduziram-se expressivamente. Presença de irritabilidade

está associada à melhor resposta à carbamazepina em EM (Post e cols., 1987).

Quanto à profilaxia, o estudo que empregou o maior tempo de observação

é de Greil e cols. (1998): Durou dois anos e meio e houve uma tendência à melhor

resposta ao tratamento com carbamazepina que ao lítio, porém esta diferença não

foi estatisticamente significativa. Este estudo apresentou alto nível de

descontinuação no tratamento, e não podemos dizer que seja conclusivo.

- Oxcarbamazepina: parece ter efeito semelhante ao da carbamazepina,

com a vantagem de não induzir enzimas hepáticas (Larkin e cols., 1991, Krüger e

cols., 2005)

Não há estudos controlados para estados mistos com gabapentina,

topiramato e lamotrigina, porém este último parece ser útil no tratamento destes

quando predominam sintomas depressivos (Krüger e cols., 2005).

- Lamotrigina: Não há estudos específicos para EM. Calabrese (1999)

em estudo aberto prospectivo de 48 semanas, demonstrou que pacientes com

mania, EM ou hipomania apresentaram importante redução de sintomas de mania

e depressão com o uso da lamotrigina isoladamente ou associada a outras

medicações. Quando usado com valproato tem sua meia vida de eliminação

aumentada levando à intoxicação (Gidal e cols., 2003).

- Gabapentina: Há três estudos com lamotrigina em EM :

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68

No estudo de Pande e cols. (2000), com uso adjunto com outros

estabilizadores, não houve melhores resultados quando a gabapentina estava

presente. No estudo de Perugi e cols. (1999) com desenho semelhante, quando

usada com valproato ou lítio houve importante redução de sintomas depressivos.

Em estudo com 10 pacientes com EM, de Sokolski e cols. (1999), quando

adicionada a outros estabilizadores, pacientes com EM apresentaram uma

melhora mais rápida dos sintomas depressivos, que quando não foi adicionada.

- Topiramato: Tem sido descrito o uso adjunto com outros estabilizadores

em pacientes com EM com pouca eficácia, porém estudos são limitados para

conclusões definitivas (Krüger e cols., 2005, Chengappa e cols.,1999, Vieta e

cols., 2002 c e outros).

- Tiagabina e Zonisamida: Não há estudos sobre o uso destas drogas

com EM.

Eletroconvulsoterapia (ECT)

ECT (eletroconvulsoterapia) é considerado um bom tratamento de

episódio agudo misto: Small e cols. (1988) relacionaram presença de sintomas

depressivos em episódios de mania à boa resposta ao ECT. Gruber e cols. (2000)

relataram sete casos de pacientes com EM em que ocorreu boa resposta ao ECT.

Devanand e cols. (2000) comparando pacientes bipolares com mania com

pacientes em depressão e pacientes com EM encontraram boa resposta nos três

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grupos, porém os pacientes com EM tiveram maior tempo de internação e

necessitaram de maior número de sessões de tratamento. Este foi um achado

contrário aos de Ciaparelli e cols. (2001), que encontrou melhor resposta, mais

rápida e com sensível diminuição de ideação suicida que pacientes em pacientes

com EM que pacientes em depressão, ambos os grupos considerados não

responsivos ao tratamento químico. Koukopoulos e cols. (2005), em estudo

retrospectivo, reitera a eficácia do uso de ECT nas depressões agitadas.

Antipsicóticos

Típicos:

Esta classe de antipsicóticos usada isoladamente ou em combinação com

lítio. Reduzem o tempo de resposta dos sintomas maníacos são úteis no

tratamento de manutenção, mas seu uso é restrito pelos efeitos extra-piramidais e

de discinesia tardia que podem induzir (Sachs GS 2002, Sachs e cols., 2003).

Zarate e Tohen (2004), num estudo prospectivo, não relatam qualquer benefício

com uso de antidepressivo típico em relação a estabilizadores de humor em

tratamento de manutenção em pacientes com TB.

Atípicos

- Olanzapina: A partir de dois estudos duplo-cegos, com controle para

placebo, de Tohen e cols.(1999 e 2000, Baker e cols., 2003) realizaram uma

revisão dos pacientes com EM destes estudos e verificaram que estes pacientes

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70

apresentam boa resposta anti-maníaca enquanto que, ao avaliarem as respostas

à escala de Hamilton, verificaram que os itens referentes a estado depressivo não

apresentaram melhora significativa mas os que se referiam sintomas como

insônia, insight e sintomas paranóides, sim. Em um novo estudo de 125 pacientes

com EM, duplo cego, por seis semanas, comparando a eficácia do tratamento

combinado de olanzapina com valproato ou lítio em pacientes parcialmente não

responsivos ao lítio ou valproato isoladamente, Tohen e cols. (2002) encontraram

redução significativa de sintomas depressivos e maníacos no tratamento

combinado. Não fica claro se a melhora dos sintomas depressivos deveu-se à

melhora do humor depressivo ou á melhora de sintomas depressivos em geral.

Quanto ao tratamento de manutenção em EM, Tohen e cols. (2003)

compararam, num estudo duplo cego com 108 pacientes com EM, o uso de

Olanzapina versus divalproato por 47 semanas: encontraram remissão em 50%

dos pacientes em uso de olanzapina e 38% dos pacientes tratados com valproato,

sendo a resposta mais rápida no grupo que usou olanzapina. As dosagens diárias

usadas ficaram a critério do clínico que acompanhava o paciente: Olanzapina, 5-

20 mg, valproato, 500-2000 mg, sendo que as dosagens séricas não foram

referidas. Os trabalhos são em geral encorajadores, porém ainda são necessários

mais trabalhos. Devemos citar que há mais trabalhos sobre o assunto (Ketter e

cols., 1999, Zullino e cols., 1999, entre outros), porém estes três citados são os

mais completos metodologicamente

- Risperidona: Numa sub-amostra de 33 pacientes com EM de um estudo

duplo-cego controlado com placebo, Sachs e cols. (2002) compararam a eficácia

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do tratamento por três semanas feito com placebo mais estabilizador de humor,

com risperidona mais estabilizador de humor ou haloperidol mais estabilizador de

humor. Os autores concluíram que o uso de uma dose média de 3,8mg de

risperidona foi melhor que placebo e igual o de haloperidol em EM. Os autores

relataram apenas índices de gravidade globais da doença (CGI) e escores da

escala de Young para mania. Outros estudos (Yatham e cols., 2003, Vieta e cols,

2002a) encontraram, que entre 4-7 dias e doses de 2-5 mg/dia de risperidona em

combinação com estabilizadores de humor reduziu sensivelmente sintomas

depressivos e maníacos. Segundo Krüger e cols. (2005) ainda não é possível

recomendar o uso de risperidona em EM até que um estudo duplo-cego

controlado para placebo seja realizado e instrumentos de avaliação adequados

sejam utilizados.

- Quetiapina: Existe apenas um estudo duplo cego, em que foi usada a

quetiapina (até 450 mg/dia) em combinação com valproato e comparada ao uso

de valproato (20 mg /kg peso) isolado em EM. Os escores das escalas de mania

e depressão mostraram maior eficácia no uso combinado das duas drogas. Vieta e

cols. (2002b) trataram três casos de cicladores rápidos com EM, adicionando

quetiapina (até 450 mg/dia) ao tratamento de base dos mesmos e posteriormente

reduziram gradativamente. A adição da quetiapina reduziu sensivelmente os

escores de Hamilton e Young, mesmo após a retirada da droga. Zarate e cols.

(2000) estudaram 145 pacientes em mania com e sem sintomas depressivos

usando quetiapina com e sem divalproato associado. Quetiapina reduziu sintomas

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72

de mania e depressão em EM, porém este resultado foi mais acentuado quando o

tratamento foi combinado.

- Aripiprazol: Keck e cols. (2003a), em um estudo duplo-cego com 86

pacientes com EM mostraram que esta droga é eficaz em EM, tratando sintomas

depressivos e maníacos. Porém ainda são necessários mais estudos neste grupo

de pacientes.

- Ziprazidona: Num estudo duplo-cego com placebo e ziprazidona numa

amostra de 70 pacientes com EM, Keck e cols. (2003b) encontraram resultados

rápidos (em dois dias) e sustentados (por até três semanas) no grupo tratado com

ziprazidona. Ainda não se pode recomendar o uso deste antipsicótico em EM, pela

escassez de trabalhos pode ainda recomendar o uso desta droga no tratamento

de EM (Krüger e cols., 2005).

- Clozapina: Há apenas dois estudos, um de relato de casos e um de

caso- controle, num total de seis e nove pacientes respectivamente. Foi

demonstrada boa ação antidepressiva e anti-maníaca em EM, porém estes

estudos são insuficientes para conclusões, além do uso da droga ser limitado pelo

risco de agranulocitose (Suppes e cols.,1992 e Zarate e cols., 1995).

Antidepressivos

O uso destas drogas é controverso, porque se acredita que possam

agravar o curso do TB, provocando maior labilidade de humor dentro e fora dos

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episódios, além da probabilidade de induzirem virada, (Krüger e cols., 2005,

Tamada e cols., 2004, Post e cols., 2003, Goldberg e cols, 2000). O uso de

estabilizadores de humor concomitantemente com antidepressivos parece reduzir

o risco de virada (Ghaemi e cols., 2004). O risco ocorre com o uso dos novos

antidepressivos, dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina e tricíclicos

(Post e cols., 2001 e Peet M, 2004).

Em resumo o tratamento de episódios agudos parece mais claro.

Pacientes com história de EM apresentam piores resultados ao tratamento

com lítio e melhores ao uso de drogas anticonvulsivantes. O tratamento

parece ser mais eficaz quando são associados mais de um psicofármaco,

sendo o uso de antipsicóticos atípicos bastante útil quando feitos

isoladamente ou de forma associada. Tem sido demonstrada a eficácia do

ECT no tratamento de pacientes com EM. A eficácia do uso de

anticonvulsivantes e de alguns antipsicóticos atípicos em tratamento de

manutenção ainda necessita de um maior número de trabalhos para ser

comprovada. O uso de antipsicóticos típicos parece diminuir o tempo de

resposta no tratamento agudo, mas há restrições quanto ao uso prolongado,

visto que podem trazer conseqüências de difícil abordagem como a

discinesia tardia. O uso de antidepressivos deve ser evitado, porque podem

agravar o curso da doença, levando à aceleração da freqüência dos

episódios e agravar também o episódio em que esteja sendo usado.

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74

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES

2.1. Objetivos

I. Comparar clinicamente episódios agudos mistos e de mania pura.

II. Comparar clínica e demograficamente o grupo de pacientes com TB

que apresentem episódios mistos em algum momento do seguimento

clínico no PROMAN com o grupo de pacientes que apresentam

somente mania pura.

2.2. Hipóteses

I. Episódios mistos têm maior duração, maiores índices de gravidade,

são associados á maior presença de presença de sintomas

psicóticos, de hospitalização, tentativa de suicídio, que episódios de

mania.

II. Pacientes com EM têm idade de início da doença mais precoce,

maior prevalência do sexo feminino, maior freqüência total de

episódios na doença e de episódios depressivos que pacientes em

mania.

III. Pacientes com EM apresentam maior freqüência de comorbidades

com abuso de álcool e substâncias e transtornos de ansiedade,

maior freqüência de tentativas de suicídio, de hospitalizações e

maiores índices de impulsividade que pacientes em mania.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Material

3.1.1. Casuística

O Estudo foi realizado no PROMAN, Projeto de Assistência e Pesquisa

em Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina do Hospital das Clínicas entre 2002 e 2005. Este grupo

acompanha pacientes bipolares desde o ano de 1997. Nosso trabalho analisou

dados de pacientes registrados desde esta data até setembro de 2005, utilizando

os seguintes critérios:

3.1.1.1. Critérios de inclusão

Pacientes com diagnóstico de transtorno tipo bipolar I, segundo os

critérios do DSM-IV (1994), ambos os sexos, idade de 18 a 65 anos, com

seguimento atual e regular por pelo menos doze meses em nosso ambulatório,

com pelo menos um episódio de mania com escore na Escala de Mania de Young

(Young e cols., 1978) maior ou igual a 12.

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3.1.1.2. Critérios de exclusão

Pacientes com diagnóstico de doença cerebral de base orgânica

(demência, neurocistecercose, epilepsia e síndrome de imunodeficiência), sendo

estes diagnósticos comprovados através de exames laboratoriais e de imagem.

3.1.2. Instrumentos

• Anamnese psiquiátrica

• SCID-P: Entrevista clínica semi-estruturada para transtornos

psiquiátricos do eixo I elaborado a partir dos critérios diagnósticos de transtornos

psiquiátricos do DSM-IV (1994) versão 2.0 para pacientes (First e cols., 1995).

Desenvolvida para ser utilizada por avaliadores treinados, investiga transtornos do

eixo I do DSM-IV, no último mês e ao longo da vida, sendo as questões

respondidas com escores: 1 (negativa), 2 (subclínico) e 3 (positiva).

3.1.3. Escalas

• Escala de impulsividade de Barrat-BIS (Barratt e Patton, 1995);

• Escala de depressão de Hamilton (Hamilton, 1960; Williams,1988);

• Escala de mania de Young (Young e cols.,1978);

• Escala de impressão global-CGI (Guy, 1976);

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• Escala de avaliação de critérios de classificação sócio-econômica

da ABIPEME (Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado, 1991).

1. BIS (Barratt e Patton, 1995): Escala acompanhada de questionário

adaptado para medir impulsividade traço-dependente, distinta de ansiedade e

agressividade, ou seja, impulsividade relacionada à forma como o indivíduo

responde costumeiramente às situações comuns da vida. Usamos a versão 11th,

que consta de um questionário de auto-avaliação. É dividida em três sub-escalas:

(1).

1. Desatenção (escore mínimo de oito e máximo de 32),

2. Falta de planejamento (escores entre dez e 40)

3. Motora (escores entre 12 e 48), que avaliam estas três áreas de

impulsividade.

2. CGI (Guy, 1976): Escala de impressão global, avalia a gravidade do

quadro do paciente, segundo a impressão clínica feita pelo avaliador.

3. Escala para avaliação dos critérios de classificação sócio-econômica

da ABIPEME: Avalia os bens materiais do indivíduo e grau de escolaridade do

responsável pela renda do mesmo (Associação Brasileira de Institutos de

Pesquisa de Mercado, 1991).

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78

4. Escala de depressão de Hamilton (Hamilton, 1960; Williams, 1988):

Avalia presença e gravidade de sintomas e sinais relacionados à depressão.

Usamos a versão com 31 itens.

5. Escala de mania de Young (Young e cols.,1978): Avalia presença e

gravidade de sintomas relacionados ao quadro de mania, constando de 11 itens

3.2. Métodos

3.2.1. Desenho do estudo

Selecionamos nossos pacientes a partir de uma pesquisa no banco de

dados do PROMAN. Este ambulatório atende e estuda pacientes com TB, embora

haja alguns pacientes com diagnóstico de ciclotimia e transtorno esquizo-afetivo,

além de pacientes que, embora preencham critérios para TB I, apresentam

doenças cerebrais de base orgânica (transtorno bipolar sem outra especificação).

Nossos pacientes são avaliados quanto ao diagnóstico na consulta de admissão

através da aplicação do SCID I/P pelo psiquiatra que deverá atendê-lo nas

consultas posteriores. A cada consulta o paciente responde às escalas de

Hamilton e Young e é avaliado quanto à gravidade do seu quadro através da CGI.

A pesquisadora principal realizou pelo menos uma entrevista com o paciente e/ou

com um acompanhante. O banco de dados na ocasião da colheita de dados do

estudo constava de 132 pacientes, sendo alguns inativos. Dos 132 pacientes

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haviam seis (6) esquizo-afetivos, oito (8) com TB tipo II, três (3) com ciclotimia e

cinco (5) pacientes, embora tivessem diagnóstico de TB tipo I, apresentaram

durante a evolução doença cerebral de base orgânica como neurocistecercose,

demência e síndrome de imunodeficiência adquirida, sendo portando excluídos da

amostra em estudo. Nossa amostra inicial, antes de os pacientes serem

chamados para entrevista, constava, portanto de 110 pacientes. Destes

analisamos apenas pacientes com escore de Young maior ou igual a 12 em pelo

menos um episódio, chegando a 65 pacientes. Destes, com escore de Young

maior ou igual a 12, cinco (5) tinham diagnóstico de hipomania neste episódio

(com ou sem sintomas depressivos associados), embora fossem pacientes

bipolares tipo I segundo a história clínica pregressa, mas o(s) episódio (s) de

mania ou EM não estavam registrados para análise. Quatro dos pacientes restante

não tinham seguimento de pelo menos 12 meses em nosso serviço. Destes, agora

em número de 56 pacientes, três (3) abandonaram o serviço antes do início do

estudo. Chegamos a 53 pacientes. O próximo passo foi dividi-los em dois grupos:

Um com escores de Hamilton maior ou igual a sete e outro com escore menor que

sete (7) no episódio em que a Young tinha escore maior ou igual a 12. No primeiro

grupo (com 33 pacientes); apenas 2 apresentavam critérios de Cincinnati para

mania mista e 29 para o DSM-IV. Decidimos excluir os dois pacientes com

critérios de Cincinnati para mania disfórica. Dos pacientes com Hamilton menor

que 7, todos apresentaram critérios de mania pelo DSM-IV. Nesta etapa

convocamos os pacientes para avaliação da pesquisa e dois do grupo em EM pelo

DSM-IV não puderam participar, por dificuldades pessoais. Ficamos com dois

grupos para serem comparados

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80

1. Pacientes com EM segundo o DSM-IV (N=29), que denominamos de

pacientes com EM.

2. Pacientes em mania segundo DSM-IV (N=20) que denominamos de

pacientes com mania pura.

Os pacientes foram então entrevistados: Dados da história eram

perguntados, o termo de consentimento era assinado pelo paciente e a escala BIS

era respondida pelo paciente, caso estivesse em eutimia. Caso não estivesse,

retornava para nova entrevista quando apresentasse esta condição.

Foram considerados pacientes em eutimia os que apresentavam escores

de Hamilton ou Young menores ou iguais a seis (Post e cols., 1989, Nierenberg e

Wright e Wright, 1999, Tamada e cols., 2004). Concomitantemente, a avaliação do

médico que acompanhava cada paciente devia ser de eutimia; caso não fosse,

deveria ser discutida com o mesmo e chegar-se a um consenso.

3.2.2. Revisão do banco de dados

O banco de dados consta dos escores das escalas de Young, Hamilton e

CGI, além do diagnóstico baseado nos critérios de mania, depressão e estado

misto segundo critérios do DSM-IV, de cada visita do paciente ao ambulatório.

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3.2.3. Confiabilidade entre os médicos

Os médicos eram em número de sete, que realizaram treinamento na

aplicação das escalas, realização dos diagnósticos (coeficiente de confiabilidade

Kappa=0,89). As taxas de confiabilidade são re-avaliadas anualmente.

Na Figura 1 esquematizamos os passos para a seleção da amostra:

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Figura 1. Fluxograma

EXCLUÍDOS PAC. COM YOUNG ≤12 (N=45)

PAC. COM YOUNG ≥12 EM ALGUM EPISÓDIO DO SEGUIMENTO (N=65)

TB I, N=110

EXCLUÍDOS PAC. C/ SEGUIMENTO ≤12 MESES (N=4) EXCLUÍDOS PAC. COM HIPOMANIA NO EPISÓDIO EM ESTUDO (N=5)

PAC. EM MANIA (PURA OU MISTA) EM ALGUM EPISÓDIO E

SEGUIMENTO ≥12 MESES (N=56)

EXCLUÍDOS 3 PACIENTES QUE ABANDONARAM O SERVIÇO

2 PAC. NÃO PUDERAM PARTICIPAR

PAC. COM PELO MENOS UM EPISÓDIO DE MANIA (PURA OU MISTA, ATIVOS NO SERVIÇO, COM SEGUIMENTO DE PELO

MENOS 12 MESES (N=53)

PAC. EM MANIA PELO DSM-IV (N=20)

PAC. COM CRITÉRIOS DE EM PELO DSM-IV (N=31)

EXCLUÍDOS 2 PACIENTES COM CRITÉRIOS DE CINCINNATI PARA EM

PAC. DOS 2 GRUPOS FORAM ENTREVISTADOS PELO PESQUISADOR:

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83

3.2.4. Diagnóstico

Os diagnósticos dos pacientes, incluindo as comorbidades, foram

realizados na primeira consulta de cada um no PROMAN. Foram revistos pelo

pesquisador, especialmente os de comorbidades, que poderiam ter sido

acrescidos após a entrada dos pacientes no serviço sempre usando a entrevista

do SCID I/P (First e cols., 1995).

3.2.5. Entrevista psiquiátrica

Houve pelo menos uma entrevista psiquiátrica realizada pelo médico

pesquisador principal, onde dados da história psiquiátrica foram perguntados ou

confirmados, nos casos onde houvesse dúvida. Nesta ocasião o paciente

respondia à escala BIS se estivesse em eutimia. Caso não estivesse,

solicitávamos ao psiquiatra que o atendia no ambulatório que nos re-

encaminhasse, assim que se apresentasse nesta condição.

3.2.6. Aspectos éticos

O estudo não ofereceu riscos aos envolvidos, sejam eles

psicológicos, econômicos, legais ou clínicos. Os pacientes estavam em eutimia

quando assinaram o termo de consentimento para participação no estudo. Não

houve nenhum caso em que um responsável o tenha feito.

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84

3.2.7. Variáveis estudadas

As variáveis estudadas foram pesquisadas no banco de dados do

PROMAN, nos prontuários e na entrevista com os pacientes. Foram as seguintes:

1. Variáveis de avaliação de episódios: O episódio estudado foi o primeiro

de mania durante o seguimento e caso o paciente não apresentasse história de

EM, ou o primeiro EM, caso apresentasse este tipo de episódio. Foram avaliadas

as seguintes variáveis: Duração em dias, escores das escalas de Hamilton, Young

e CGI, presença ou não de sintomas psicóticos, tentativa de suicídio e

hospitalização nos episódios estudados, sintomas de depressão no episódio

misto, freqüência de sintomas de mania no EM e na mania pura e idade do

paciente no episódio.

2. Variáveis de avaliação de curso: Presença e número de tentativas de

suicídio, hospitalizações e comorbidades psiquiátricas no curso da doença,

escores de impulsividade da escala BIS, freqüência de episódios de mania

depressivos e EM no seguimento em nosso serviço, idade de início da doença,

tempo de seguimento clínico no PROMAN, tempo entre dois EM e tempo de

seguimento após episódio de mania no grupo sem episódios mistos.

3.2.8. Análise Estatística

A análise estatística foi processada pelo SPSS, versão 12 (SPSS Inc.,

Chicago, IL).

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85

A normalidade dos dados contínuos foi avaliada pelo teste de

Kolgomorov-Smirnov e uma descrição dos dados foi apresentada em tabelas

contendo a média e o desvio–padrão (DP). A fim de comparar os grupos de EM e

Mania foram realizadas análises comparativas das médias utilizando o Teste t de

Student no caso das variáveis contínuas com distribuição normal e o teste não-

paramétrico de Mann-Whitney para o caso em que a normalidade da distribuição

dos dados não foi confirmada (Neter e cols.,1996). Para a comparação

das variáveis categorizadas (como sexo, presença de comorbidade, de tentativa

de suicídio, hospitalização entre outras) foi utilizado o teste do Qui-quadrado ou

então o teste Exato de Fisher quando as tabelas do tipo 2 x 2 apresentavam

colunas ou linhas cuja somatória dos valores absolutos era menor que 20 (Agresti

1990).

Foi realizada análise multivariada a posteriori através de regressão

logística para a identificação das variáveis (categorizadas e contínuas) mais

importantes na diferenciação dos dois grupos estudados. O método stepwise

(forward) foi usado para a seleção das variáveis explicativas. Inicialmente as

variáveis foram testadas com uma análise univariada, utilizando-se os testes

mencionados anteriormente. Também foi aplicado o teste de correlação Spearman

para avaliar a relação entre as variáveis contínuas envolvidas na análise. A partir

das variáveis que apresentaram resultado significativo procedemos à análise de

stepwise (forward). A variável dependente estudada foi o diagnóstico de EM e as

variáveis fixas foram: idade de início da doença, escores totais de BIS, abuso de

álcool e substâncias, presença de comorbidades, tentativas de suicídio, número

de tentativas de suicídio, número de comorbidades.

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86

Para análise da variável “início da doença”, realizamos, além da análise

univariada comparando as médias, a análise da curva de Kaplan-Meyer (Altman

D,1990).

Sempre que houve necessidade de se verificar a correlação entre duas

variáveis contínuas foi utilizado o coeficiente de Pearson, ou de Spearman quando

a distribuição das variáveis não fosse normal (Neter e cols., 1996), como foi o

caso da correlação entre escores de BIS e idade, escores de BIS e anos de

escolaridade.

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87

4. RESULTADOS

Nossa amostra total constou, como já descrito, de 49 paciente, sendo que foram

divididos em 2 grupos:

1. Um, que denominaremos de grupo mania (pura), que nunca apresentaram EM

no curso da doença, segundo a definição adotada pelo DSM-IV.

2. Outro, que denominaremos de grupo misto, que apresentaram pelo menos um

episódio misto no curso.

4.1. Dados sócio-demográficos do grupo e dos dois subgrupos estudados Tabela 20: Média de idade e de anos de escolaridade e freqüência do sexo feminino EM (N=29) Mania (N=20) Total (N=49) p

Idade no episódio 34,82 (± 8,87) 42,0 (± 13,22) 37,75

(±10,54) 0,0017*

Anos de escolaridade

12,34 (± 3,99) 10,45 (± 4,80) 11,56 (± 4,34) 0,139**

Sexo feminino (%) 72,4

(N=21)

80,0

(N=16)

67,3

(N=33) 0,536*

*Teste Mann-Whitney, **Teste exato de Fisher

Não houve diferença entre os grupos na presença de sexo feminino. Sexo

feminino foi mais freqüente que o masculino na amostra total (Tabela 20).

A idade média da amostra foi de 37,75 anos, enquanto que a

escolaridade de 11,56 anos. Pacientes com EM eram significativamente mais

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88

jovens que pacientes com mania. Não houve diferença nos anos de escolaridade

entre os dois grupos (Tabela 20).

Tabela 21: Freqüência de classes sociais entre os grupos segundo os critérios da ABIPEME

Classe EM %

(N) Mania %

(N) % (N)

A 13,8

(N=4)

5,0

(N=1)

10,2

(N=5)

B 31,0

(N=9)

40,0

(N=8)

34,7

(N=17)

C 48,3

(N=14)

35,0

(N=10)

42,8

(N=24)

D 6,9

(N=2

15,0

(N=3)

10,2

(N=4)

E 0,0

(N=0)

5,0

(N=1)

2,0

(N=1)

p=0,472*

*Teste exato de Fisher

Não houve diferença estatística significativa entre classes sociais entre os

grupos Quando se considerou a classe A e B juntas, que seriam as classes mais

privilegiadas, houve pequena predominância da classe C sobre as demais no

grupo de 49 pacientes (Tabela 21).

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89

4.2. Comparação entre episódio misto e de mania pura

Tabela 22: Freqüência de sintomas psicóticos, tentativa de suicídio, hospitalização, escores médios das escalas CGI e Young e duração de episódios de mania.

EM N=29

Mania N=20

N p

Escore na CGI 4,88 (± 0,63) 4,58 (± 1,01) 49 0,291**

Escore na YMRS 14,97 (± 4,77) 22,85 (± 9,48) 49 <0,001**

Duração do episódio (dias) 40,19 (± 31,57) 41,55 (± 34,53) 49 0,675**

Sintomas psicóticos (%) 31,0

(N=9) 20,0

(N=4) 26,5

(N=13) 0,516***

Hospitalização (%) 3,4

(N=1)

5,0

(N=1) 4,1

(N=2) 0,999***

Tentativa de suicídio (%) 6,9

(N=2) 0.0

(N=0) 4,1

(N=20) 0,516***

** Teste de Mann-Whitney ***Teste exato de Fisher

Não houve diferença significativa em presença hospitalização, tentativa

de suicídio e sintomas psicóticos entre episódio misto e de mania. Os escores

médios de Young foram significativamente maiores (Tabela 22).

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90

Tabela 23: Sintomas de mania da escala Young nos episódios mistos e de mania

Sintomas Episódios Mistos

N=29 Episódios de Mania

N=20 p

Discurso aumentado 96,6

(N=28)

100,0

(N=20) 0,999

Aumento de energia 96,6

(N=28)

100,0

(N=20) 0,999

Irritabilidade 89,7

(N=26)

95,0

(N=19)

0,636

Distração, pensamento acelerado

75,9

(N=22)

100,0 (N=20)

0,032

Humor exaltado 80,2

(N=23)

100,0

(N=20) 0,135

Aumento de libido 51,7

(N=15)

60,0

(N=12) 0,771

Diminuição da necessidade de sono

58,6

(N=17)

89,5 (N=18) 0,026

Alteração do conteúdo dopensamento

37,7

(N=11)

63,2

(N=18)

0,140

Agressividade, sarcasmo 34,5

(N=10)

55,0

(N=9) 0,240

Falta de cuidado com aparência

0,0

(N=0)

45,0 (N=11) <0,001

Ausência de insight 0

N=0)

45,0 (N=9) <0,001

Teste de Mann-Whitney

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91

Figura 2: Sintomas de mania baseados na escala de Young mais freqüentes em estados mistos

**

** EM Mania

%

Diminuição da necessidade

de sono

Humo r exaltado

acelerado

Distração, pensamento

Irritabilidade Aumento de energia

Discurso aumentado

100

90

80

70

60

50

SINTOMAS DE MANIA

* *Teste de Mann-Whitney, p<0,05

Durante os episódios mistos foram mais freqüentes: presença de insight,

mais cuidado com a aparência, menos distração ou aceleração do pensamento.

Os pacientes em mania apresentaram menor necessidade de sono (Tabela 23 e

Figura 2).

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92

Figura 3: Sintomas depressivos mais freqüentes em estados mistos

Sintomas depressivos em EM

100

90

% 80

70

60

50 Humor

depressivo Ideação suicida

Insônia Diminuição Sintomas Culpade somáticos

atividades deansiedade

Os sintomas depressivos mais freqüentes nos EM foram: Humor depressivo,

insônia, diminuição de atividades inclusive as recreacionais, sintomas somáticos de

ansiedade, ideação suicida e sentimento de culpa. Estes sintomas foram pesquisados

a partir da escala de Hamilton. Todos foram significativamente mais freqüentes que

em episódio de mania pura (Figura 3).

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93

4.3. Comparação entre grupos em estado misto e mania pura

Tabela 24: Tempo de duração e idade de início da doença, freqüência de hospitalizações, tentativas de suicídio, total de episódios, de episódios depressivos e presença de hospitalizações. EM

N=29 Mania N=20

Total 49

p

Tempo de doença em anos 15,70

(± 9,23) 18,37

(± 13,20) 16,79

(± 11,03) 0,980**

Idade de início 21,00

(± 8,50) 27,00

(±11,40) 23,45

(± 9,66) 0,016**

Freqüência de tentativas de suicídio por ano

0,76

(± 0,12) 0,10

(± 0,31) 0,49

(± 0,78) 0,013***

Freqüência de episódios por ano

2,03

(± 1,17) 0,98

(± 0,57) 1,58

(± 0,92) <0,001***

Freqüência de episódios depressivos por ano

1,18

(± 0,67) 0,59

(± 0,59) 0,93

(± 0,64) 0,006***

Freqüência de hospitalizações por ano

0,10

(± 0,19) 0,17

(± 0,18) 0,12

(± 0,18) 0,07***

Presença de hospitalização (%) 55,2

(N=16) 70,0

(N=14) 61,2

(N=30) 0,377***

**Teste de Mann-Whitney, *** Teste de Fisher

Não houve diferença na idade de início da doença, no tempo total de

doença e na freqüência de hospitalizações entre os dois grupos. A freqüência do

total de episódios, de episódios depressivos, de tentativas de suicídio e de

comorbidades no curso da doença foi maior no grupo com EM (os pacientes em

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94

mania tiveram maior tempo de acompanhamento em nosso serviço que pacientes

com EM) (Tabela 24).

Figura 4: Presença de comorbidades por grupo de transtornos

Presença de Comorbidades

0 10 20 30 40 50 60 70 80

% EM

Mania

T.C.Impulso T.Alimentar Ansiedade Álcool eSubstância

Figura 5: Descrição dos transtornos de ansiedade em estado misto

e mania

Presença de Transtornos de Ansiedade

0 5

10 15 20 25 30 35 40

% EMMania

Pânico Fobia Específica

FobiaSocial

TAGTOC

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95

Tabela 25: Presença e freqüência de comorbidades em estados mistos e mania

EM N=29

Mania N=20

Total p

Presença de comorbidades

79,3

(N=23)

40,0

(N=8) 63,0 0,005**

Número de comorbidade

1,86

(±1,48)

0,60

(±0,88)

1,11

(±1,12) 0,001***

Abuso de substâncias

27,6

(N= 8)

10,0

(N=2)

22,5

(N=10) 0,167**

Abuso de álcool 31,0

(N=9)

20,0

(N=4)

26,5

(N=13) 0,516**

Abuso de álcool e substâncias

44,8

(N=13)

25,0

(N=4)

36,7

(N=17) 0,230**

TOC 34,5

(N=10)

0,0

(N=0)

20,4

(N=10) 0,003**

Transtorno do pânico

27,5

(N=8)

10,0

(N=2)

16,4

(N=10) 0,015**

Fobia social 27,6

(N=8)

5,0

(N=1)

14,3

(N=9) 0,216**

** Teste de Fisher, ***teste de Mann-Whitney

A presença e o número de comorbidades presentes no curso foram

significativamente maiores em pacientes com EM. TOC e transtorno do pânico,

também. Não houve diferença também estatisticamente significativa em relação a

abuso de substância e/ou álcool entre os dois grupos (Figura 4 e Tabela 25).

Outros transtornos de ansiedade também freqüentes no grupo com EM,

mas não significativamente diferentes de mania pura: Fobia social, fobia

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96

inespecífica, transtorno de ansiedade generalizada -TAG; transtornos alimentares

(bulimia, anorexia e transtorno alimentar inespecífico); tabagismo; tricotilomania

(transtorno de controle de impulsos,T. C. Impulso) e tique (Figura 5).

Tabela 26: Escores da escala e sub-escalas de impulsividade (BIS) EM

N=29 Mania N=20

p

BIS total 71,38 (± 11,32) 63,70 (± 7,71) 0,021 Sub-escala de atenção 20,76 (± 3,96) 18,30 (± 3,45) 0,019 Sub-escala motora 22,48 (± 2,84) 18,00 (± 3,11) 0,001 Sub-escala não planejamento 28,14 (± 4,99) 27,40 (± 2,99) 0,554 N 29 20

T-student test

Os escores totais de BIS, das sub-escalas motora e desatenção foram

maiores no grupo com EM (Tabela 26).

Não encontramos qualquer correlação entre idade dos pacientes e escore

total de impulsividade e idade dos pacientes na amostra total (Coeficiente de

Spearman =-0,56, p=0,703).

Não houve correlação entre escores de impulsividade e anos de

escolaridade na amostra total (Coeficiente de Spearman. -0,213; p=-0,213)

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97

Tabela 27: Escores de impulsividade nos sexos feminino e masculino Escore N p

Feminino 70,19 (± 10,40) 36

Masculino 62,85 (± 8,87) 13 0,002

Teste de Mann-Whitney

Os escores totais de impulsividade foram maiores no sexo feminino que no

masculino (Tabela 27).

4.3.1. Estudo da influência das variáveis de curso no diagnóstico de estado misto

Foi feito um modelo de regressão logística para estimar a probabilidade

de um paciente apresentar EM ou mania, baseado nas variáveis da BIS e de

curso.

As variáveis que foram testadas no modelo de regressão logística foram:

Abuso total, Abuso de Substância, Álcool, Presença de comorbidade, Presença de

suicídio, BIS total, número de comorbidades, número de tentativas de suicídio,

tempo da doença e idade de início.

Os resultados estão apresentados nas tabelas abaixo (note que aqui está sendo

modelada a probabilidade do paciente ter EM versus ter Mania). As variáveis que

permaneceram no modelo final foram: presença de comorbidades e presença de

tentativa de suicídio como mostra a Tabela 28.

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98

Tabela 28: Estimativas dos “odds ratio” (razões de chances) das variáveis significativas para o modelo

Efeito “odds ratio” (razão

de chances) I.C. 95% para “odds ratio”*

Presença de comorbidade 5,862 [1,344 ; 25,557]

Presença de tentativas de suicídio 10,885 [1,196 ; 99,056]

*IC Intervalo de confiança

A chance de um paciente apresentar EM e não Mania é 5,8 vezes maior

para os pacientes que tiveram comorbidades do que para aqueles que não tiveram

isso considerando os pacientes com a mesma classificação para a outra variável

que está no modelo (presença de suicídio). Além disso, a chance de um paciente

apresentar EM e não mania é 10,8 vezes maior para os que tiveram presença de

suicídio do que para os que não tiveram isso quando comparamos pacientes com

a mesma classificação para a variável de presença de comorbidades. Abaixo

encontram-se na Tabela 29 as probabilidades de uma paciente apresentar EM

ajustada pelo modelo.

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99

Tabela 29: Probabilidades ajustadas de se diagnosticar estado misto pelo modelo

Presença de comorbidades

Presença de tentativa de suicídio

Estimativa da probabilidade

I.C. 95% para probabilidade

Sim 0,9463 [0,6855 ; 0,9930] Sim

Não 0,6184 [0,3945 ; 0,8013]

Sim 0,7506 [0,2188 ; 0,9700] Não

Não 0,2166 [0,0772 ; 0,4775]

As estimativas de probabilidade da presença de suicídio e presença de

comorbidades ficaram entre seus respectivos intervalos de confiança (Tabela 29).

4.3.2. Análise de sobrevivência para idade de início da doença A sobrevida entre grupos de pacientes foi avaliada utilizando-se o

Estimador de Kaplan-Meyer (Klein e Moeschberger, 1997). A comparação das

curvas de sobrevivência estimadas foi feita a partir do teste Log-Rank (figura 6).

Tabela 30: Idade de início da doença (tempo de sobrevivência)

Tempo de sobrevivência Erro padrão Intervalo de confiança

Média 27,10 2,58 [22,05 ; 32,15]

Mediana 24 4,47 [15,23 ; 32,77]

Tanto as médias como as medianas estão dentro dos respectivos intervalos

de confiança 95% (Tabela 30).

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100

Figura 6: Idade de início: Curva de Kaplan-Meyer

Idade de Início:

6050403020 10 0,0

,2

,4

,6

,8

1,0Curva de Sobrevivência

Diagnóstico

M

EM

O teste para as medianas mostrou diferença significativa entre a mediana

da distribuição das idades de início da doença entre os dois grupos, menor em EM

e que em mania pura (Resultado do teste de significância de Log-Rank: 4,91;

p=0,027).

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101

5. DISCUSSÃO

5.1. Dados sócio-demográficos

5.1.1. Sexo

Houve predominância do sexo feminino na amostra total de 49 pacientes.

Este não é um dado compatível com a maioria dos dados da literatura, que

descreve igualdade na prevalência entre sexos nos pacientes com diagnóstico de

TB (Keck e cols., 2001). Creditamos este achado ao fato de que os pacientes do

banco do PROMAN serem predominantemente do sexo feminino. Estudo de De

Wild (2004) comparando pacientes quanto ao sexo referem que pacientes do sexo

feminino relatam mais freqüentemente seus sintomas psiquiátricos, especialmente

depressivos, dando mais importância ao tratamento dos mesmos. Não houve

predominância de sexo feminino no grupo com EM, como afirma parte da literatura

como McElroy e cols. (1995), quando estudou a definição restrita, Akiskal e

cols.(1998), usando definição ampla e Swann e cols. (2001), estudando definição

ampla e restrita. McElroy (1995) não demonstrou diferença significativa entre

sexos quando aplicou uma definição mais ampla usando critérios de Cincinnati

para EM. É possível que se possa estabelecer uma relação entre maiores índices

depressivos e maior prevalência de sexo feminino nos pacientes com EM, porém o

desenho de nosso estudo não nos permitiu este tipo de averiguação. Porém nosso

achado coincide com os de Dilsaver e cols. (1999), que usaram como nós,

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102

definição restrita de EM e os de Perugi e cols. (1996) estudando três tipos de

critérios para EM, entre eles o do DSM-III-R.

5.1.2. Prevalência

A prevalência de pacientes com EM segundo nossa definição entre os

pacientes com episódio de mania foi 59%, ou seja, 29 dento de um grupo de 49

bipolares tipo I. Caso os dois pacientes com EM que não puderam comparecer

para entrevista pudessem ter sido incluídos, este número se elevaria para 63%, ou

seja 31EM de 49 bipolares tipo I. A prevalência na amostra de 110 pacientes

bipolares tipo I seria de 25,1%. Estas taxas são maiores que as encontradas na

por Bauer e cols. (1994) e Cassidy e cols. (2000 e 2001a), quando são aplicados

critérios restritivos para EM semelhantes aos que aplicamos. Porém nossos

achados assemelham-se aos achados de McElroy e cols. (1995) que estudaram

uma amostra com sintomatologia mais grave (pacientes hospitalizados e com

idades à partir de 12 anos). Muitos de nossos pacientes atendidos no PROMAN

foram referidos por Serviços de Atendimento Primário e secundário devido à

gravidade do TB.

5.1.3. Estado civil, classe social e anos de escolaridade

Nossos pacientes não apresentaram diferenças entre si quanto a estas

varáveis. Este achado fortalece a hipótese que pacientes com EM no curso da

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103

doença não apresentem maiores dificuldades no relacionamento interpessoal,

maiores perdas sócio-econômicas e de escolaridade que o grupo de mania,

decorrentes da maior gravidade da doença.

5.1.4. Idade dos pacientes (no episódio em estudo)

A idade de nossos pacientes com EM foi menor que a de pacientes em

mania, coincidindo com achados de Dilsaver e cols.,1999, quando estudaram EM

segundo RDC (1978) O TB de início na infância e na adolescência está associado

a EM (McElroy e cols., 1997), o que poderia explicar uma faixa etária menor

procurando tratamento. Para a maioria da literatura a idade é a mesma, como em

McElroy e cols. (1995), Bauer e cols, (1994), aplicando definições segundo um

espectro de sintomas depressivos, Perugi e cols. (1997) e Perugi e cols. (2001),

em estudos que abrangem EM segundo o DSM-III-R, depressão mista e mania

mista.

5.2. Comparação entre episódios mistos e de mania pura

1. A duração dos episódios mistos, em média, foi igual à de mania,

semelhante aos com resultados do trabalho de McElroy e cols. (1995). Este

resultado difere de Dell`Osso e cols. (1991) e Perugi e cols.(1997) que

encontraram maior duração e que estudaram um número maior de pacientes.

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104

2. Os escores da escala de CGI em EM foram idênticos aos dos episódios

de mania, o que está de acordo com resultados de McElroy e cols. (1995), ao

compararem gravidade de EM e mania pura. Os escores da escala de Young em

nosso trabalho foram maiores em mania que em EM, diferindo dos achados de

McElroy e cols.(1995), porém semelhantes aos de Swann e cols. (1993), usando

escala de avaliação de mania diferente das usadas em nosso estudo. Sintomas de

mania muitas vezes não incomodam tanto o paciente quanto sintomas de

depressão, por isso os pacientes em mania chegam já com escores elevados de

mania, podendo já estar se expondo a situações de risco. Os escores de CGI

foram semelhantes nos dois grupos. Estes achados falam contra a hipótese de

EMs serem mais graves que episódios de mania pura.

3. Não encontramos maiores taxas de sintomas psicóticos nos EM,

semelhante aos achados de McElroy e cols. (1995) e Swann e cols. (2001).

Dilsaver e cols. (1999) e Akiskal e cols. (1998), entre outros encontraram

resultados diferentes; este último trabalho usou a definição ampla de EM

(Cincinnati de 1992) e o achado de Dilsaver refere-se ao grupo disfórico, que

também tem menor número de sintomas depressivos.

4. A presença de tentativa de suicídio no episódio atual foi a mesma em

ambos os tipos de episódios, semelhante aos resultados de McElroy e cols.(1995).

Dilsaver e cols. (1994, 1997 e 2003) encontraram resultados diferentes. Nestes

últimos estudos os índices de suicidalidade são bem mais altos que na mania,

provavelmente pela dificuldade de tratamento destes episódios (Prien e cols.,

1989, Swann e cols., 1998) e pelo grande sofrimento referido por pacientes em

EM (Nierenberg e cols, 2001).

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105

5. Os índices de hospitalização no episódio foram os mesmos entre os

grupos e semelhantes ao achado Perugi e cols. (1997) e diferindo de Post e cols.

(1989). É provável que a falta de achados positivos deva-se ao fato de nossa

amostra ser pequena e também a que a maioria destes pacientes estava se

submetendo a tratamento na época em que ocorreram os episódios estudados.

Estes achados relativos à análise de episódios falam contra a afirmação

de que EM seja mais grave que mania pura.

Os sintomas depressivos (estudando-se os sintomas da escala de

Hamilton) mais encontrados em EM foram, em ordem decrescente: Humor

depressivo, insônia, diminuição de atividade, sintomas de caráter somático de

ansiedade, ideação suicida e sentimento de culpa. Nossos achados diferem de

Akiskal e cols. (1998) que descreveram como sintomas mais freqüentes humor

depressivo e ideação suicida; este foi um trabalho ligado ao EPIMAN (French

Epidemiology National Multicenter Study of Mania), em que foram usadas diversas

escalas, entre elas a de Hamilton com apenas 13 itens. Cassidy e cols. (1998b),

descreveram outra ordem de freqüência dos sintomas: Humor disfórico, labilidade

de humor, sentimento de culpa, ansiedade e pensamentos de suicídio, segundo

ordem decrescente; Cassidy chegou a um conjunto de seis sintomas mais

freqüentes, elaborado a partir da escala de Beigel e Murphy (1971, apud Cassidy

e cols., 1998) e dos sintomas presentes nos critérios do DSM-III-R.

Os sintomas de mania mais freqüentes nos episódios mistos, a partir da

análise da escala de Young, foram: Distração e aceleração de pensamento,

diminuição da necessidade de sono, falta de cuidado com a aparência. Os outros

sintomas foram mais freqüentes em mania, porém a diferença não apresentou

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106

significância estatística. Irritabilidade também foi bastante freqüente em EM

(89,7%), não diferindo na mania (95%). Não podemos dizer que irritabilidade seja

um sintoma característico de EM a partir de nosso estudo, como referem outros

autores (Cassidy e cols., 1998b e Goodwin e Jamison, 1990), tendo em vista sua

alta freqüência também em episódios de mania pura.

5.3. Curso da doença: comparação entre os grupos com estado

misto e em mania (pura)

5.3.1. Estabilidade diagnóstica para recorrência de estado misto

Nosso critério para distinguirmos os dois grupos de pacientes em TB

baseou-se em trabalhos da literatura: Pacientes que apresentam EM no episódio

agudo tendem a repetir este tipo de episódio muito mais freqüentemente que

pacientes em mania aguda, representando grupos distintos de TB. Na tabela 18

descrevemos alguns trabalhos cujos resultados indicam que este critério distingue

dois grupos de pacientes. O grupo de pacientes em mania deste presente estudo

foi acompanhado em média 4,47 anos sem apresentar EM, demonstrando

estabilidade de diagnóstico neste tempo em que foram seguidos. Este é um tempo

médio de seguimento próximo do que ocorreu em outros estudos.

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107

5.3.2. Comparação das variáveis de curso entre os dois grupos

1. Sexo: Como já referimos não obtivemos maior predominância do sexo

feminino no grupo com EM, como igualmente ocorreu no estudo Swann e cols.

(2001) e diferente dos resultados do estudo de McElroy e cols. (1995), ambos

analisando EM com definição restrita (DSM-III-R). Nosso resultado pode dever-se

ao tamanho pequeno de nossa amostra. Nosso achado está de acordo com

achado de Dell’Osso e cols. (2000), ao estudarem amostra de pacientes

psicóticos.

2. Idade de início da doença foi mais precoce no grupo com EM, diferente

do achado de McElroy e cols. (1995) e igual ao de Swann e cols. (2001), ambos

usando definição de EM restrita, como em nosso estudo. Idade de início precoce

está associada positivamente à gravidade da doença caracterizada por presença

de psicose e comorbidades do eixo I e suicidalidade (Schulze e cols., 2002 e Ernst

e cols., 2004). Nossa amostra com EM não pode ser caracterizada como tendo

idade de início da doença precoce (menor que 19 anos), como caracterizaram

Ernst e Goldberg (2004), mas como idade menor de início que no grupo em

mania. De toda forma, podemos supor que idade menor de início pode estar

relacionada à maior sensibilização com a evolução da doença, levando a maior

cronicidade, mais comorbidades associadas, mais suicidalidade, pior prognóstico

e piores resultados no tratamento como referem McElroy e cols. (2001), Bauer e

cols. (2005), Feinman e Dunner (1996) e Tsai e cols. (1999). Em análise dos 29

pacientes em EM, realizada à parte das hipóteses, não encontramos correlações

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108

significativas entre idade de início da doença com freqüência de episódios e com

número de tentativas de suicídio, provavelmente devido ao tamanho pequeno de

nossa amostra.

3. A freqüência de episódios: o número de episódios por ano de doença

estudado (freqüência de episódios) foi maior no grupo com EM, achado idêntico

aos Swann e cols. (2001) e Nunn e cols. (1979) (apud McElroy e cols., 1992) e

diferente de Perugi e cols. (1997), que encontraram maior freqüência em

pacientes com mania. Este dado favorece a hipótese de maior cronicidade e

gravidade do curso da doença em pacientes com EM.

4. Freqüência de episódios depressivos foi maior no grupo com EM,

diferente dos achados de Post e cols. (1989) e de Perugi e cols. (1997). Neste

último trabalho, como em tantos outros grupos (Swann e cols., 2001, McElroy e

col.,1995, Akiskal e cols., 1998, Post e cols.,1987 entre outros) encontrou-se

apenas maior freqüência de EM em pacientes com episódio agudo misto,

enquanto que episódios de mania e hipomania eram mais freqüentes em

pacientes em mania atual. Nosso achado fala a favor do grupo com EM apresentar

maior tendência à depressão, tanto de sintomas, como de episódios completos,

como já afirmavam Akiskal e cols. (1987 e 1998). Esta tendência de maior

presença de depressão em pacientes com estado misto foi relatada por autores

que encontraram mais história familiar para depressão e início da doença mais

freqüente com episódio depressivo e misto que pacientes com mania pura

(Dell’Osso e cols., 1991, McElroy e cols., 1995, Perugi e cols., 1997 e 2000).

5. O número de hospitalizações, assim como história de pelo menos uma

hospitalização, não foi maior nos pacientes do grupo com EM; ao contrário, houve

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uma tendência de ser maior em pacientes com mania. McElroy e cols. (1995)

encontraram mesmo número em pacientes com EM ou mania pura e Post e cols.

(1989), maior com EM. Perugi e cols. (1997) encontraram maior número de

hospitalizações em pacientes em mania aguda. Nossos achados não falam a favor

de que os episódios do grupo em EM sejam mais graves, fazendo com que

necessitassem de mais hospitalização.

6. A presença, assim como o número de tentativas de suicídio ao longo da

doença, foram maiores no grupo com EM, de acordo com a maior parte da

literatura: Keller e cols. (1986), Swann e cols. (2001) e Perugi e cols. (1997),

estudando EM, mania e depressão mista ou agitada. Diferentemente destes,

McElroy e cols. (1995) não conseguiram demonstrar esta diferença,

provavelmente pelo número pequeno de pacientes que comparou. No presente

estudo, em análise realizada à parte das hipóteses iniciais, pacientes com EM com

presença de tentativa de suicídio na história quando foram comparados aos sem

tentativa de suicídio, não apresentaram idade de início da doença mais precoce,

talvez pelo pequeno tamanho da amostra. Pacientes com TB com presença de

tentativas de suicídio na história são descritos como tendo início da doença mais

precoce (Lopez e cols., 2001). Swann e cols. (2001) encontraram maior freqüência

de tentativas de suicídio e idade mais precoce de início em pacientes em EM do

que em pacientes em mania.

7. Comorbidades: Analisamos a presença de comorbidades no curso de

duas formas: A presença de pelo menos uma comorbidade e o número de

comorbidades na história. Ambas as análises mostraram que pacientes em EM

têm mais comorbidades associadas. Estes dados estão de acordo com muitos

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110

trabalhos (Goodwin e Jamison, 1990). Transtornos de ansiedade são descritos

como mais freqüentes no grupo com EM. Em nosso estudo encontramos

predominância de TOC e transtorno do pânico no grupo com EM, como McElroy e

cols. (1995) e Dilsaver e cols. (1997 e 2003).

Não encontramos maior prevalência de abuso de substâncias e álcool

entre os dois grupo comparados (EM e mania pura), achados semelhantes aos de

Cassidy e cols. (2001) e diferentes dos de Goldberg e cols. (1999). O fato de não

termos encontrado diferença significativa pode se dever ao número pequeno de

pacientes estudados.

Numa análise à parte das nossas hipóteses fomos investigar quais fatores

estariam relacionados à maior presença de TA em nossa amostra com EM: Não

encontramos início mais precoce da doença nos pacientes em EM que tinham

cada uma destas comorbidades associadas, ao contrário do que Bauer e cols.

(2005), McElroy e cols. (2001) referem, estudando de TB. Não encontramos maior

associação com abuso de substância e álcool em pacientes com EM com TA,

achado semelhante ao de Henry e cols. (2003), e diferente de Goodwin e cols.

(2002) ao estudarem pacientes com TB, sem descriminação do tipo de episódio;

não encontramos maior associação com tentativa de suicídio na história, diferente

de achados de Chen e cols. (1995), Dilsaver e cols. (2003) e Simon e cols. (2004).

Nossa amostra de pacientes com EM era pequena para análises estatísticas

conclusivas da comparação de pacientes com e sem comorbidades. Porém a

amostra total de pacientes bipolares mostrou associação de TA com idade de

início mais precoce (teste de Mann-Whitney, p=0,024) maior presença de

tentativas de suicídio (teste exato de Fisher, p=0,031), maior freqüência de

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111

tentativas de suicídio (teste de Mann-Whitney, p=0,001) e uma pequena tendência

de apresentarem mais abuso de álcool e substância (teste de Fisher, p=0,074),

concordando com a literatura exposta acima sobre TB; esta análise não constou

de nossas hipóteses, mas demonstra coerência em nossos resultados.

Mecanismos psico-biológicos podem estar relacionados a estas altas

taxas de comorbidades com TA, provavelmente envolvendo a interação entre

vários sistemas neurotransmissores: noradrenérgico, dopaminérgico, gabaérgico,

serotonérgico e baixos níveis de inositol (Freemann e cols., 2002). Chen e

Dilsaver (1985b) propuseram que determinadas características clínicas presentes

em TOC e TB, poderiam representar manifestações de uma diátese única

subjacente responsável por um curso mais complicado: Maior freqüência de

suicídios (Chen e Dilsaver 1995b), Idade de início do TB mais precoce (Bauer e

cols, 2005, McElroy e cols, 2001), aceleração e maior gravidade dos episódios

(McElroy e cols., 2001). Chen encontrou início simultâneo de TB e TOC, por isso

propõe que exista uma base fisiopatológica comum.

O sistema serotonérgico tem sido estudado em pacientes com abuso de

álcool que parecem apresentar uma hipoatividade nestes pacientes. Uma

hipofunção dos receptores serotonérgicos (5-HT1A) foi demonstrada por Pinto e

cols. (2002) Buydens-Branchey e cols. (1999) demonstraram uma hipofunção

serotonérgica em pacientes com abuso de cocaína quando comparados a

controles sadios, através da estimulação da fenfluramida e menor resposta da

prolactina. Talvez este seja um dos mecanismos comuns alterados responsável

pela maior comorbidade entre TB e transtornos de abuso de álcool e substâncias.

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112

8. Impulsividade: Não houve correlação entre escores de impulsividade

com idade dos pacientes ou anos de escolaridade, resultados semelhantes aos de

Swann e cols. (2003 e 2001). Impulsividade foi maior no sexo feminino, achado

diferente de Swann e cols. (2004), que encontraram mesmos índices em ambos

os sexos. Segundo Côté e cols. (1992) a diferença em favor do sexo feminino

parece ocorrer apenas em pacientes jovens, mas não em adultos. Os pacientes do

sexo masculino no estudo de Swann e cols. (2004) tinham maior associação com

abuso de substâncias e álcool e mesmos índices de impulsividade que pacientes

do sexo feminino; a associação com este transtorno, como veremos adiante,

aumenta índices de impulsividade em pacientes em TB (Swann e cols., 2003). Ao

investigarmos variáveis que poderiam explicar maior impulsividade no sexo

feminino, encontramos os seguintes resultados: Maior presença de tentativas de

suicido em mulheres (p= 0,043); não houve diferença significativa para presença

de comorbidades, mas uma pequena tendência de mais abuso de álcool e

substâncias nos pacientes do sexo masculino (p= 0,07). Idade de início da doença

não foi diferente entre os gêneros. Ao que tudo indica, número de tentativas de

suicídio parece explicar os escores superiores de impulsividade no sexo feminino.

Após análise de estatística de regressão logística, escores de impulsividade nos

pacientes com EM do sexo feminino não foram explicados por abuso de álcool

e/ou substâncias, número de comorbidades, presença de tentativas de suicídio e

idade de início da doença em nossa amostra, provavelmente pelo número

pequeno de pacientes analisados e pelo grande número de variáveis estudadas.

Não avaliamos presença de transtornos de personalidade na amostra, que poderia

estar aumentada na amostra feminina, justificando maiores índices de

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113

impulsividade, como refere Dowson e cols. (2004). Dunayevich e cols. (2000), num

estudo de seguimento de pacientes com TB, internados por mania e EM com TP

borderline, referiram pior evolução após a alta hospitalar dos pacientes com

comorbidade com TP: menor adesão ao tratamento, pior recuperação funcional, o

que significa pior evolução da doença. Cheour e cols. (1999) compararam

pacientes em mania com TP e pacientes em mania mista sem TP: Os primeiros

são mais hospitalizados, tentam mais o suicídio, são mais vulneráveis ao estresse

e têm piores níveis de funcionamento.

Os escores totais de impulsividade da escala BIS e de suas sub-escalas

para medir desatenção e resposta motora foram significativamente maiores no

grupo com EM. Swann e cols. (2003) não encontraram resultados

significativamente maiores em pacientes com mania associada com sintomas

depressivos em relação aos pacientes em mania pura. Porém, devemos lembrar

que nossos pacientes com EM apresentavam maior associação com

comorbidades, o que não foi possível avaliar no trabalho de Swann, e de

tentativas de suicídio. Neste caso, em seu trabalho de 2003, Swann e cols.

afirmaram que os escores de impulsividade tendem a ser maior quanto maior o

número de transtornos associados ao TB, como foi o caso de nosso grupo em EM,

embora não tenha sido demonstrada estatisticamente maior associação com

abuso de substâncias e álcool nestes grupos que seria, dentre os transtornos do

eixo I do DSM-IV estudados, o que mais poderia estar associado ao aumento de

escores de impulsividade; a diferença encontrada na comparação das freqüências

entre os dois grupos foi apenas numérica. Os trabalhos mostram índices

aumentados de impulsividade em pacientes em TB com tendência ao suicídio

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114

(Oquendo e Mann, 2001), Este achado não foi replicado nos pacientes com EM

quando se aplicou a escala BIS nos estudos de Swann e cols. (2003, 2005).

Como estudo de Swann e cols. (2003) não houve correlação entre

escores de Young e de impulsividade tanto no grupo com EM quanto na amostra

total. Também não houve também correlação entre escores de impulsividade e

escores de Hamilton em pacientes com EM, porém houve correlação positiva

entre escores de Hamilton e escores de impulsividade no grupo de bipolares

(coeficiente de Spearman= 0,445, p= 0,003). Não podemos atribuir estes a maior

índices aos maiores índices depressivos ou de mania no grupo com EM, mas às

outras variáveis que se associam a EM: maior associação de comorbidades,

freqüência de episódios e suicidalidade e idade de início mais precoce de início da

doença. Porém estes fatores poderiam levar, inversamente, a um aumento de

impulsividade ao longo do tempo, neste grupo de pacientes. Dougherty e cols.

(2004) discutem estas possibilidades para explicar maiores escores de

impulsividade, quando estudaram pacientes com TB associado a abuso de

substâncias. São necessários mais trabalhos para uma conclusão a este respeito.

Não há trabalhos descrevendo escores de impulsividade maiores em pacientes

com EM quando comparados a pacientes em mania, em amostras isentas de

comorbidades. As amostras utilizadas nos trabalhos de Swann e cols. (2001b e

2003) não foram suficientemente grandes para se avaliar o efeito da presença de

comorbidades nos escores de impulsividade. Sexo feminino apresentou maiores

escores de impulsividade, porém este não é um resultado que tenha influenciado

os escores de impulsividade com EM, visto que pacientes em EM grupo não

tinham predominância de mulheres em relação aos pacientes em mania.

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115

Em análise realizada à parte de nossas hipóteses iniciais, não foi possível

demonstrar correlação entre escores de BIS e número de tentativas de suicídio na

amostra geral, semelhante aos resultados de Swann e cols. (2005) quando

estudaram escores de BIS. Swann e cols. encontraram escores de impulsividade

estado-dependente, avaliadas pela ITM-DMT, análise que não realizamos. Os

pacientes não estavam em crise, porém isto fala a favor de que a impulsividade

estado-dependente esteja permanentemente alterada. Mais estudos são

necessários para se avaliar traços de impulsividade em pacientes em TB. Um

achado resultante de análise a posteriori foi a correlação positiva entre escores de

Hamilton e impulsividade no grupo de 49 pacientes. Isto nos leva à hipótese de

que índices aumentados de depressão em mania podem estar associados a maior

risco de suicídio nestes pacientes. Este resultado não foi replicado no grupo com

EM por ser um grupo pequeno e homogêneo quanto à presença das duas

variáveis. Escores de Young não se correlacionaram com impulsividade medida

pela BIS. É provável que, caso realizássemos testagem para impulsividade estado

dependente (ITM-DMT), correlacionando seus escores com escores de Young,

encontraríamos um resultado positivo, visto que sintomas de mania podem estar

relacionados à atividade noradrenérgica e resultando em maior impulsividade

estado-dependente (Swann e cols., 2003).

Uma crítica que se pode fazer quanto ao instrumento que utilizamos para

avaliarmos impulsividade traço-dependente é que a escala BIS é um instrumento

de auto-resposta, portanto as respostas dadas pelos pacientes podem ser

influenciadas pela crítica do paciente. Porém esta é a uma das escalas para se

medir impulsividade de maior uso na literatura, especialmente em TB. Não

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116

avaliamos impulsividade estado-dependente (ITM-DMT) porque esta é realizada

através de tarefas realizadas em laboratório em que o examinador deve estar

treinado na aplicação das mesmas assim como na avaliação das respostas. Este

não é um teste usado em nosso meio e não houve possibilidade de podermos

passar por um treinamento.

9. Análise das variáveis que mais influenciaram na determinação de um

subgrupo de pacientes bipolares caracterizados pela maior presença de EM:

Estudamos abuso total, abuso de Substância, álcool, presença de

comorbidade, presença de suicídio, BIS total, número de comorbidades presentes,

número de tentativas de suicídio, tempo da doença e idade de início. As que

realmente influenciaram (p ≤ 0,05) foram: presença suicídio (pelo menos uma

tentativa) e de comorbidades. Nossos resultados são coerentes. A razão de

chances (odds ratio de 10,88) para presença de tentativa de suicídio significa que:

pacientes que tem pelo menos uma tentativa de suicídio têm 10,88 vezes de

chances a mais de pertencer ao grupo com EM e de 5,88 vezes a mais se tiver

alguma comorbidade associada.

10. Impulsividade e transtornos relacionados: O papel comum do sistema

serotonérgico

Impulsividade pode ser o resultado da interação de múltiplos fatores

biológicos. As medidas dos escores da escala BIS, relacionadas à impulsividade

traço-dependente, podem estar relacionadas a medidas biológicas também

estáveis, como níveis da função serotonérgica (Nanuch e cols., 1998). Outras

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funções podem estar relacionadas, a noradrenérgica e a dopaminérgica como

referem Moeller e cols., (2001), mas o prejuízo da função serotonérgica é

identificado na maioria dos transtornos relacionados à impulsividade, incluindo TB.

Estudos de TB, abuso de substância e suicídio têm demonstrado que o

distúrbio do sistema serotonérgico parece ser o ponto em comum entre eles. A

atividade serotonérgica diminuída em pacientes que tentaram o suicídio foi

demonstrada quando se mediu metabólitos da serotonina em líquido cérebro

espinhal (Banki e Arato, 1983). Há alguma evidência de que a ligação a receptores

serotonérgicos esteja diminuída no córtex pré-frontal de pacientes suicidas em

relação aos não suicidas (Mann e cols., 2000b). Esta diminuição de atividade foi

comprovada in vivo, em pacientes com tentativas graves de suicídio usando-se

ressonância magnética funcional por Oquendo e cols. (2003).

Estudos mostram que a existência de disfunção de atividade

serotonérgica predispõe ao excesso de consumo e dependência ao álcool. O

polimorfismo do gene transportador de serotonina (5HTTLPR) tem sido associado

a diversas ocorrências como abuso de álcool e substâncias e também ao suicídio

(Puessle e cols., 2003, Feinn e cols., 2005).

TB é associado a alterações da função serotonérgica, assim como da

função noradernérgica, esta última muito mais relacionada ao estado de mania.

Diversos estudos têm se debruçado sobre a biologia do TB. Goodnick P (1998)

descreveu 13 estudos comparando níveis de 5-HIAA entre pacientes com TB:

Estes níveis estiveram aumentados em 10 destes estudos apenas em pacientes

em mania e depressão em relação a pacientes saudáveis. Estas alterações

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118

parecem permanecer quando o paciente passa a ficar eutímico (Berrettini,1985).

Goodnick descreve a teoria de Prange (1973) para a fisiopatologia de TB (apud

Goodnick, 1998): A depressão serotonérgica permitiria que os níveis de

noradrenalina estivessem elevados na mania e o contrário ocorra na depressão. A

serotonina exerceria função reguladora dos outros sistemas de neurotransmissão.

Num estudo de revisão Sobczak e cols. (2002) concluíram que a literatura mostra

anormalidades da atividade serotonérgica na estimulação através da prolactina em

mania e depressão, assim como resposta diminuída do cortisol em pacientes

bipolares eutímicos, relacionando também a disfunção do sistema serotonérgico

ao TB. Estudos em genética associam genes ligados à função serotonérgica ao

TB, como na meta análise realizada por Cho e cols. (2005) que associa

polimorfismo ligado ao gen transportador de serotonina ao TB (5-HTTLPR).

A função serotonérgica central no sistema límbico está associada ao

suicídio e /ou condutas agressivas não planejadas em pacientes com transtornos

de humor e/ou personalidade e diminuição da função de receptores pós-sinápticos

serotonérgicos neste sistema (Coccaro, 1992). Oquendo e Mann (2000), num

estudo de revisão da literatura, concluíram que agressão-impulsiva (não

planejada) e conduta suicida estão relacionadas à diminuição da transmissão

serotonérgica e aumento da função noradrenérgica e dopaminérgica. Os dois

últimos sistemas de neurotransmissão parecem estar mais envolvidos com

impulsividade estado-depedente segundo Moeller e cols. (2001). Segundo

Kavoussi e cols. (1997), estimulação de receptores 5-HT1A em animais resulta em

diminuição das condutas agressivas, enquanto que o uso de antagonistas de

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receptores 5-HT2 parece também diminuir condutas agressivas, o que pode

explicar a atividade nestas condutas dos novos antipsicóticos, independente dos

efeitos nos sintomas psicóticos.

11. A gravidade de nossos pacientes com EM.

Em nossa análise demonstramos que pacientes com EM têm um curso de

doença mais grave que pacientes em mania pura: mais comorbidade, mais

tentativas de suicídio, maior freqüência de episódios e altos índices de

impulsividade. Uma possível justificativa para este fato é que EM são mais graves

que episódios de mania pura por apresentarem maior número de sintomas

depressivos. Porém não conseguimos demonstrar a partir da análise de nossa

amostra que EM são mais graves que episódios de mania através das diversas

variáveis estudadas. Podemos supor que a maior gravidade destes pacientes

esteja associada a características genéticas, criando maior suscetibilidade a

eventos desfavoráveis no curso da doença. Estas características poderiam estar

ligadas à maior tendência genética para depressão, com maior número de

episódios depressivos que pacientes sem EM na história ou, como refere a

literatura, à maior tendência de apresentarem antecedentes familiares positivos

para transtorno depressivo maior além de TB (Freemann e McElroy, 1999). Esta

suposta suscetibilidade biológica também poderia estar ligada a maiores índices

de impulsividade que justificaria a maior gravidade do curso da doença. Idade de

início mais precoce da doença denotaria uma maior suscetibilidade destes

pacientes a complicações assim como maiores taxas de impulsividade. Como

discute Dougherty, estudando impulsividade e associação com comorbidades em

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pacientes com TB em seu trabalho de 2004 (Dougherty e cols., 2004), não

podemos afirmar que maiores índices de impulsividade seriam resultado desse

grande número de eventos negativos associados à EM, ou se, índices

naturalmente mais graves de impulsividade e idade mais precoce de início da

doença nestes pacientes, levariam a um agravamento do curso da doença.

Porém, a literatura apresenta diversos achados em que pacientes com EM

apresentam maiores taxas de comorbidade ao longo da doença igualando-se aos

nossos. Impulsividade, TB e abuso de substâncias têm uma hipotética base na

disfunção serotonérgica em comum. É possível que a maior presença de estados

relacionados à disfunção serotonérgica em EM seja responsável por maiores

índices de impulsividade, assim como a maior gravidade da doença.

12. Críticas ao trabalho. Nosso trabalho foi retrospectivo transversal,

observacional, descritivo e analítico. Devemos lembrar que nossos resultados

referem-se à comparação de um grupo de pacientes com EM com um número

grande de sintomas depressivos e maníacos a um grupo de pacientes com poucos

sintomas depressivos, tendo em vista que excluímos do estudo os pacientes em

mania com até dois sintomas depressivos (critérios de Cincinnati). Isto deve ser

levado em conta quando verificamos taxas maiores de comorbidade e tentativas

de suicídio.

Um estudo retrospectivo apresenta viés da memória do paciente, porém

fizemos consulta aos prontuários, nova entrevista com o paciente e, se

necessário, com familiar próximo, o que deve ter diminuído este o efeito deste

viés. O nosso estudo de episódios, freqüência de episódios foi relativo ao período

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de acompanhamento no PROMAN, portanto nesse sentido, foi bastante confiável.

Nossos médicos apresentam alto índice de confiabilidade na aplicação de escalas,

passando por reavaliação anualmente. Além disto o acompanhamento é bastante

detalhado, incluindo além da aplicação de escalas, um seguimento clínico

minucioso.

Outro viés que nossos resultados podem apresentar é que somos um

centro de referência de tratamento de pacientes considerados graves. Este fato

pode ter feito com que nossa amostra tenha gerado resultados com maior

gravidade que os esperados para a população geral de bipolares, porém diversos

estudos citados mostram esta mesma restrição. Muitos estudos com número

grande de pacientes tiveram resultados semelhantes aos nossos, indicando a

validade de nossos achados Necessitamos de estudos com maior número de

pacientes.

Este é o primeiro estudo brasileiro comparando EM e mania pura

utilizando diversas variáveis de curso e episódio, proporcionando uma discussão

bem extensa desses fenômenos clínicos. Também é o primeiro estudo sobre

impulsividade em TB em nosso meio, sendo que nossos resultados nesta área

apontam para achados inéditos na literatura médica.

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6. CONCLUSÕES

Apresentaremos nossas conclusões a partir das hipóteses testadas no estudo.

Hipótese I: A duração dos episódios mistos em nosso estudo não foi

maior que dos episódios de mania pura. Não houve maior presença de sintomas

psicóticos, hospitalização e tentativa de suicídio em EM. Os escores de CGI e da

escala de Young não foram maiores em EM, ao contrário, os escores de Young

foram maiores em episódios de mania pura, não confirmando EM como mais

graves que de mania.

Hipótese II: Os pacientes com EM de nossa amostra têm idade de início

mais precoce, maior freqüência de episódios totais e depressivos que pacientes

em mania pura, sem predominância de sexo feminino no grupo em EM.

Hipótese III: Encontramos maior freqüência de comorbidades

associadas, especialmente de transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno do

pânico nos pacientes com EM. Não houve predominância de abuso de

substâncias e álcool em nenhum dos dois grupos. A freqüência de tentativas de

suicídio e de escores médios de impulsividade foram maiores no grupo com EM.

A presença de uma ou mais hospitalizações não foi maior no grupo com EM.

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7. ANEXOS

Anexo 1

AVALIAÇÃO PESSOAL – BIS 11 Instruções: As pessoas divergem nas formas em que agem e pensam em diferentes situações. Isto é um para avaliar algumas das maneiras que você age ou pensa. Leia cada afirmação e preencha o circulo apropriado no lado direito da página. Não gaste muito tempo em cada afirmação. Responda rapidamente e honestamente.

Raramente ou nunca

De vez em quando

Com freqüência

Quase sempre

1. Eu planejo tarefas cuidadosamente 2. Eu faço coisas sem pensar 3. Eu sou despreocupado (confio na sorte – “desencanado") 4. Eu tenho pensamentos rápidos 5. Eu planejo viagens com bastante antecedência 6. Eu sou controlado 7. Eu me concentro facilmente 8. Eu poupo regularmente 9. Eu acho difícil ficar sentada sem mexer por longos períodos de tempo

10. Eu sou um pensador cuidadoso 11. Eu faço planos para ter estabilidade no emprego 12. Eu falo coisas sem pensar 13. Eu gosto de pensar em problemas complexos 14. Eu troco de trabalho 15. Eu ajo por impulso 16. Eu fico facilmente entediado quando estou resolvendo problemas mentalmente

17. Eu faço “Chek-up” médico e odontológico regularmente 18. Eu atuo irrefletidamente levado pelas circunstâncias 19. Eu sou um pensador equilibrado 20. Eu troco de moradia 21. Eu compro coisas por impulso

22. Eu acabo o que começo 23. Eu ando e me mexo rápido 24. Eu resolvo problemas por tentativa e erro 25. Eu gasto ou compro a prestação mais do que eu ganho 26. Eu falo rápido 27. Eu tenho idéias fora do contexto quando estou pensando 28. Eu estou mais interessado no presente do que no futuro 29. Eu fico inquieto em palestras ou conversas 30. Eu faço planos para o futuro

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Anexo 2

Itens de conforto Familiar – Critério ABIPEME Os pontos estão no corpo da tabela abaixo:

Itens de posse Não tem Quantidade possuída

1 2 3 4 5 6 e +

Automóvel 0 4 9 13 18 22 26 Televisor em cores 0 4 7 11 14 18 22 Banheiro 0 2 5 7 10 12 15 Empregada mensalista 0 5 11 16 21 26 32 Rádio (excluindo o do carro) 0 2 3 5 6 8 9 Máquina de lavar roupa 0 8 8 8 8 8 8 Vídeo – cassete 0 10 10 10 10 10 10 Aspirador de pós 0 6 6 6 6 6 6 Geladeira comum ou freezer 0 7 7 7 7 7 7 Os limites de classificação f içaram assim definidos:

Classes Critério ABA Critério ABIPEME A 35 ou + 89 ou + B 21 - 34 59 - 88 C 10 - 20 35 - 58 C 5 - 9 20 - 34 E 0 - 4 0 - 19

Classe: ABIPEME: _________

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