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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13 th Women’s Worlds Congress(Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X EMANCIPAÇÃO E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NO BRASIL. Cristiane Ribeiro 1 Resumo: Este trabalho propõe-se a analisar o conceito de emancipação feminina e investigar os discursos em torno da participação política das mulheres na imprensa, especialmente a feminina, entre 1852 e 1889. A pesquisa parte de um documento inovador, intitulado: Tratado sobre a emancipação política da mulher e direito de votar um tratado escrito por uma mulher em 1868 na cidade do Rio de Janeiro, no qual propõe que as mulheres devem buscar sua emancipação,não apenas na educação e no mercado de trabalho, mas também no sistema representativo, sendo eleitoras e candidatas a cargos públicos, a autora se encontra anônima sobre as iniciais A.R.T.S. Para entender esta proposta, a pesquisa percorrerá os anos que vão de 1852, que é quando surge no Brasil o primeiro jornal dirigido por uma mulher, até 1889, quando com a república aparecem outros debates em torno da cidadania feminina com intuito de entender como essa discussão estava presente na corte do Brasil e para além, como era recebida pela população. Palavras-Chave: Emancipação Feminina. Direito ao voto. História das mulheres. Os estudos de gênero e a História. Para entender os estudos das mulheres e das relações de gênero na História é preciso compreender as transformações pela qual a disciplina perpassou nas últimas décadas, sobretudo a partir de 1970. A entrada de intelectuais mulheres na Academia e a eclosão do movimento feminista contribuiu para o descrédito das correntes historiográficas polarizadas para um sujeito humano universal. Segundo Rachel Soihet e Joana Maria Pedro (2007): Nas ciências humanas, a disciplina História é certamente a que mais tardiamente apropriou- se dessa categoria, assim como da própria inclusão de ‘mulher’ ou de ‘mulheres’ como categoria analítica na pesquisa histórica. A trajetória, costumeiramente ‘cautelosa’, dessa disciplina, e o domínio do campo por determinadas perspectivas de abordagem, retardaram significativamente o avanço das discussões.( SOIHET; PEDRO, 2007, p.284) Sobre o uso do termo, relações de gênero, e sua aplicação em pesquisas acadêmicas, é necessário datar o ano de 1990 e a publicação do artigo de Joan Scott 2 como fundamental. Segundo a autora, as análises sociais fundam-se ao fato de que metade do gênero humano, as mulheres, estiveram grande tempo na invisibilidade. A principal contribuição da autora, nesse sentido foi a de colocar o gênero como uma categoria útil de análise histórica, construída através das relações 1 Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora/ Minas Gerais, Brasil. Contato: [email protected] 2 SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress(Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

EMANCIPAÇÃO E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES NA

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX NO BRASIL.

Cristiane Ribeiro1

Resumo: Este trabalho propõe-se a analisar o conceito de emancipação feminina e investigar os

discursos em torno da participação política das mulheres na imprensa, especialmente a feminina,

entre 1852 e 1889. A pesquisa parte de um documento inovador, intitulado: Tratado sobre a

emancipação política da mulher e direito de votar um tratado escrito por uma mulher

em 1868 na cidade do Rio de Janeiro, no qual propõe que as mulheres devem buscar sua

emancipação,não apenas na educação e no mercado de trabalho, mas também no sistema

representativo, sendo eleitoras e candidatas a cargos públicos, a autora se encontra anônima sobre as

iniciais A.R.T.S. Para entender esta proposta, a pesquisa percorrerá os anos que vão de 1852, que é

quando surge no Brasil o primeiro jornal dirigido por uma mulher, até 1889, quando com a

república aparecem outros debates em torno da cidadania feminina com intuito de entender como

essa discussão estava presente na corte do Brasil e para além, como era recebida pela população.

Palavras-Chave: Emancipação Feminina. Direito ao voto. História das mulheres.

Os estudos de gênero e a História.

Para entender os estudos das mulheres e das relações de gênero na História é preciso

compreender as transformações pela qual a disciplina perpassou nas últimas décadas, sobretudo a

partir de 1970. A entrada de intelectuais mulheres na Academia e a eclosão do movimento feminista

contribuiu para o descrédito das correntes historiográficas polarizadas para um sujeito humano

universal. Segundo Rachel Soihet e Joana Maria Pedro (2007):

Nas ciências humanas, a disciplina História é certamente a que mais tardiamente apropriou-

se dessa categoria, assim como da própria inclusão de ‘mulher’ ou de ‘mulheres’ como

categoria analítica na pesquisa histórica. A trajetória, costumeiramente ‘cautelosa’, dessa

disciplina, e o domínio do campo por determinadas perspectivas de abordagem, retardaram

significativamente o avanço das discussões.( SOIHET; PEDRO, 2007, p.284)

Sobre o uso do termo, relações de gênero, e sua aplicação em pesquisas acadêmicas, é

necessário datar o ano de 1990 e a publicação do artigo de Joan Scott2 como fundamental. Segundo

a autora, as análises sociais fundam-se ao fato de que metade do gênero humano, as mulheres,

estiveram grande tempo na invisibilidade. A principal contribuição da autora, nesse sentido foi a de

colocar o gênero como uma categoria útil de análise histórica, construída através das relações

1 Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora/ Minas

Gerais, Brasil. Contato: [email protected] 2 SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre,

vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.

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sociais que se constroem nas diferenças presentes entre os sexos, com principal atenção para os

sistemas de significação, isto é, maneiras como as sociedades representam o gênero.

Dito isso, levantamos nossa proposta com este artigo, que objetiva trabalhar uma mulher,

inserida no contexto do século XIX, Anna Rosa Termacsics do Santo, que teve papel fundamental

nas discussões acerca da emancipação e da participação política feminina, reivindicando não só o

direito ao voto, mas também o de elegibilidade. Nesse meio é importante destacarmos a relevância

da imprensa feminina que surge à partir de 1852, ampliando a discussão e reverberando nos

principais periódicos daquele período, à exemplos: Jornal do Commércio, Diário do Rio de Janeiro

e Correio Mercantil. Trata-se então, de compreender como uma sociedade responde a certos

acontecimentos históricos, no nosso caso, a reivindicação sobre emancipação e participação política

para mulheres durante o século XIX, presente no Tratado Sobre Emancipação Política da Mulher e

Direito de votar, de autoria de Anna Rosa Termacsics do Santo.

A vinda para o Brasil da família Termacsics.

Ao encontrarmos o tratado de Anna Rosa, publicado em 1868, na Biblioteca Brasiliana José

Mindlin e Guita3, através de uma publicação tida no blog da mesma4, o que mais nos chamou a

atenção foi à invisibilidade da obra pela historiografia, que tem se atentado aos questionamentos

pelo sufrágio feminino apenas com a Proclamação da República. O fato de ter sido publicado

anonimamente e o desconhecimento de sua autoria, foi o que nos inquietou na busca da mulher que

“ousou” reivindicar direitos políticos num contexto em que o mesmo não existia nem nas grandes

civilizações.5

A imprensa noticiou no mesmo ano em que a obra foi publicada, que o anonimato se deu por

modéstia.

Publicação: Acaba de ser publicado um opúsculo sobre o título: Tratado sobre

emancipação política da mulher e direito de votar. O título dá inteira idéia do assunto, que

é tratado em linguagem boa e fácil, e o livro estudo e aplicação da parte de sua autora.

Assina-se esta com as iniciais A.R.T.S.É sem dúvida a modéstia quem a faz proceder

assim, pois que o seu trabalho é recomendável por mais de um título.6[grifo meu]

3 Biblioteca doada pelo senhor José Mindlin e sua esposa Guita em 2005 para a Universidade de São Paulo, com cerca

de 30 mil obras. 4 Disponível em: https://blog.bbm.usp.br/2015/tratado-sobre-a-emancipacao-da-mulher-uma-feminista-no-brasil-de-

1868-2/ Acessado em 15 nov. 2015. 5 O sufrágio feminino, de maneira geral, só começou a ser conquistado pelo mundo, no correr do século XX. Países

como a França e Itália concederam tal direito na década de 1940, Inglaterra a partir de 1918, Portugal e Suíça, apenas na

década de 1970. No Brasil a conquista ocorreu durante o governo de Getúlio Vargas, no ano de 1932. 6 Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro, n.79, sexta-feira, 20 março 1868.

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Além de informar que também estava à venda na residência de sua autora, nos dando seu

logradouro: "As famílias que desejam fazer um futuro as suas filhas, e também as Sras. Ilustradas o

Tratado Sobre a Emancipação Política da Mulher e o Direito de Votar. Vende-se em todas as

livrarias e em casa da autora: na Rua Sete de Setembro, n.223 pelo preço de 2$000."7 [grifo meu]

Em uma busca pelo Almanak Laemmart, documento fundamental para compreensão do

cotidiano de corte no século XIX, encontramos o nome de acordo com as inicias A.R.T.S. Foi

possível tal descoberta devido ao endereço residencial, disponibilizado na imprensa. Anna Rosa

Termacsics do Santo era uma professora de piano, canto e idiomas. Seu nome apareceu oferecendo

serviços entre os anos de 1857 a 1886, compreendendo um período de 29 anos. Ao buscar

informações, o que muito nos chamou atenção foi referente ao sobrenome Termacsics, um pouco

incomum para o Brasil, assim como o Santo, que aparece algumas vezes como Zantho, Szanto e até

mesmo Souto. A imprensa paulista noticia uma informação8sobre a vinda de um Antônio

Termacsics para o Brasil entre 1827 e 18289, da seguinte maneira:

Este colono, natural da Hungria, de uma família distinta, como faz certo pela educação não

vulgar que recebeu, e de que dá provas, já pela polidez de suas maneiras, já pela perfeição

com que fala a língua Latina, já finalmente pela erudição com que discorre sobre todos os

tópicos literários, nada tem de comum com essa turma de estrangeiros imorais, vadios e

debochados, que com enormes despesas foram mandados vir pelo governo do Brasil com o

título de colonos, mas Deus sabe se fins muito diversos, e talvez criminosissimos.10

Antônio Termacsics, além de um homem de uma família distinta do período, como noticiado

pela imprensa, era um importante comerciante de vinho, que vem para o Brasil com o intuito de

continuar seus negócios. A sua região de morada na Europa, compreendia um grande território, que

posteriormente levou a formação do Império Austro-Húngaro, por esse fato, Áustria e Hungria eram

regiões bem próximas que possibilitavam que Antônio também trabalhasse em Viena, capital da

Áustria, onde o mesmo aparece como um importante comerciante11, a sua profissão propiciava seu

constante deslocamento. Antônio é descrito como um “pai de família que transportou-se como ela

para o Brasil”12, motivado principalmente, pelos escritos feitos por viajantes sobre as riquezas

naturais do país. Instala-se numa pequena chácara na região de Tatuapé, São Paulo e têm inúmeras

7 Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal, Rio de Janeiro, n. 193, terça-feira, 14 julho 1868. 8 A imprensa publica os transcritos feitos pelo viajante Mrs. De St. Hillaire. 9 Em contato com o Arquivo Nacional da Áustria e da Hungria, conseguimos confirmar ao certo a vinda do Sr. Antônio

para o Brasil. As documentações são referentes ao processo dado após o seu pedido para a emissão de passaporte na

embaixada de Viena e também da embaixada brasileira. 10 Jornal O Farol paulistano. São Paulo, terça-feira, 20 outubro 1829. 11 Antônio era descrito como um comerciante de vinho produzido na Hungria, região Zagreb, em Viena. 12 Jornal O Farol paulistano. São Paulo, terça-feira, 20 outubro 1829.

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tentativas falhas, desde 182913, de contato com o império brasileiro a fim de solicitar um

empréstimo para sua proposta com a plantação das vinhas. Somente em abril de 1832, o governo

disponibiliza o valor de 400$000, sobre hipoteca, a ser pago até dezembro do mesmo ano14.

Sendo assim, acreditamos na ligação familiar existente entre Antônio e Anna Rosa. Primeiro

devido à relação com os sobrenomes, Termacsics é de descendência húngara, confirmado não só

pela informação sobre o Antônio, noticiada na imprensa, mas, também, pela documentação sobre

famílias presentes naquela região da Europa durante o século XIX. Já o Szanto, aparece como o

nome dado a um arrendamento de terras (provavelmente feito para os negócios com a plantação das

vinhas), bem próximo à Viena15, feito pelo Sr. Termacsics, quando ainda residia na Hungria, entre

os anos de 1822 a 1824. A descrição de Anna na imprensa varia entre austríaca e húngara e todas as

informações nos levam ao seu nome completo: Anna Rosa Termacsics do Santo16.

Quem foi Anna Rosa?

Na Europa, desde o século XVIII, escritas a fim de romper com a ideia comum de mundo

teológico-político restrito aos homens, vinham repercutindo e conseguindo adeptos, principalmente

devido ao contexto revolucionário francês. Nesse sentido, pensadoras como Mary Wolltonecraft17 e

Olympe de Gouges18, foram fundamentais para questionar o modelo vigente, assim como para

propiciar escritas femininas durante todo o correr dos séculos XIX e XX, incitando filósofos

cânones como, Burke e Rousseau. Escritas nesse sentido contribuíram para o surgimento de novas

13 Um dos principais motivos relacionado as dificuldades de empréstimo com a corte brasileira é devido a perda de um

processo sobre sua fortuna quando ainda residia na Hungria. Antônio ao que parece, veio para um Brasil no momento

em que estava em decadência, buscando reerguer seus negócios. 14 A discussão sobre os empréstimos solicitados ao império brasileiro pelo senhor Antônio Termacsics, estiveram na

pauta em várias discussões do Conselho da Província de São Paulo. Tais informações nos foram possíveis através de

consulta às atas do Conselho do período que se encontram no Arquivo Público do Estado de São Paulo, além das

sessões publicadas por jornais da época. 15 Hoje, também chamado de Pilisszántó, uma pequena aldeia no condado dePest, região metropolitana de Budapeste,

Hungria. Possui cerca de 2370 habitantes. 16 A imprensa paulista também nos informa a sua vinda para o Brasil com família. Outros dados encontrados

posteriormente, nos levam a novos nomes da mesma família: Nina Rosa Termacsics do Santo, Teresa Rosa Termacsics

de Souto e Amália Luiza Termacsics de Souto, ambos aparecem para nós, na segunda metade do século XIX. A

imprensa aparece com erros de digitação diversas vezes, aparecendo Santo, Santos, Souto, ou seja, diversas maneiras

que podem causar confusão. 17 Filósofa inglesa (1759-1797), considerada uma das pioneiras nas reivindicações dos direitos das mulheres. Autora de

Reivindicação dos Direitos das Mulheres, publicada na Inglaterra em 1792, no qual a autora buscou construir bases

teóricas para provar que não existiam razões biológicas para impedir as mulheres de serem virtuosas e exercerem a

razão. 18 Revolucionária francesa (1748-1793) escreveu diversos panfletos, tratados e peças de teatros, tendo como pauta

central a reivindicação por direitos femininos. Publica em 1791, A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã,

para se opor a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita durante a Revolução Francesa. Morre

guilhotinada em 1793.

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reivindicações por mulheres em todo o mundo a partir do início do século XIX, incorporando novas

questões, inclusive no Brasil.

Anna Rosa, ao escrever o Tratado Sobre Emancipação Política da Mulher e Direito de

Votar, se insere como uma mulher que teve contato com a circularidade de ideias pelos direitos

femininos e com as escritas que vinham sendo feitas desde o século XVIII, a fim de propiciar as

mulheres uma educação que pautasse a igualdade entre os sexos, rompendo com a inferioridade

natural e divina alimentada em grande parte por princípios religiosos. A mesma foi uma professora

de canto, piano e idiomas da corte, com fortes saberes intelectuais. Na obra de 1868, sua defesa

central é acerca da participação política feminina, no qual questiona e debate com filósofos e

políticos de seu tempo. Apesar de não sabermos ainda, sobre a temporalidade de sua vida, temos

uma informação sobre a possível idade, ao escrever:

Na mocidade, minha atenção foi examinar o valor da beleza e sua perfeição como affecção

permanente. Não podia acreditar que Deos creasse tantas mulheres bellas, e que ellas

perdessem sua formosura no estado completo de suas faculdades ou encantos; e ainda

fazemos todos os esforços em despender nosso tempo para sermos bonitas. [grifos meu]

(SANTOS, 1868, p.123)

Durante o período que ela está escrevendo as mulheres deixavam de serem moças muito novas, já

que a expectativa de vida era baixa, vivendo cerca de 50 a 60 anos.

Anna Rosa foi uma estrangeira que viveu no Brasil, se não toda sua vida, ao menos a grande

parte dela. Ao que tudo indica, foi uma mulher independente que vivia à custa de sua profissão

enquanto professora que oferecia constantemente seus anúncios em jornais. Sobre ela ter sido uma

senhora que viveu sozinha, foi possível identificar através dos anúncios referentes a seus endereços:

"Precisa-se de uma criada para servir uma senhora só: quer-se uma pessoa fiel e sem vícios, sendo

escrava deve ser afiançada por seu senhor; sendo livre, deve trazer informações de si, para tratar na

R. Sete de Setembro, n.223, 1° andar, manhã até as 8 horas."19

Sobre seu logradouro, em Rua Sete de Setembro n.223, cabem algumas ponderações. O

mesmo era um local em que foi possível identificar comércios, tipografias, serviços de cortes e

costura, além de residências e salas amplas. Ao que tudo indica, foi uma edificação que contou com

imóveis diversificados, Anna Rosa residiu em seu primeiro andar, que era descrito com uma

residência pequena. Entretanto, tal endereço não foi sua única morada de acordo com informações

do almanak laemmert. Percebemos endereços diversos: Rua dos Inválidos, n.57; Rua da Prainha,

n.48, 1° andar; Rua da Misericórdia, n.40, 2° andar; Rua Luiz de Vasconcelos, A A;Rua Lavradio,

19 Jornal do Commércio. Rio de Janeiro. N. 144, 25 maio 1869.

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n.15; Rua Hospício, n.269; Rua do Riachuelo, 346; Rua do Conde d’Eu, 166, sobrado; Rua do

Monte Alegre, 03, Santa Teresa e Rua das Flores, 48. Todos eram locais pequenos, alugados em sua

maioria para “senhoras só” ou pequenas famílias, além de estarem situados em regiões que vinham

se modernizando devido aos novos modelos de urbanização.

O grande saber da autora acerca do mundo é confirmado no decorrer de sua escrita, a

infinidade de nomes e países citados em sua obra, estão ligados à uma excelente formação. São

presentes em sua obra nomes como: Elisabeth Ranet da Prússia, Flora Magdonald do Reino Unido,

Margarida d'Anjou, Rainha Bess, Vitória e Elisabeth, todas da Inglaterra, Lucrécia Bórgia e Vitória

Collona da Itália, Suzana Drasowch da Hungria, duquesa de Vurtembergda Alemanha, Mme.

Pompadour e Mme. Maintenonda França, Manuelita filha do governador de província, Rosas na

Argentina. Além de escritoras importantíssimas do século XIX, como a francesa George Sand e a

americana Harriet B Stowe, esta última sendo autora de uma obra importante que circulou o mundo,

intitulada A Cabana de Pai Tomás20.

As viagens não só pela Europa, mas também por regiões como a própria América Latina, era

um hábito comum em sua vida, seu nome apareceu várias vezes nas saídas ou entradas dos

movimentos de portos, noticiados pela imprensa brasileira. Um exemplo a ser dado é referente à sua

viagem datada no ano de 185321, no qual embarca em 15 de março de 1853, sentido França, região

de Le Havre, volta e dá entrada no porto de Macaé em 06 de dezembro de 1854.22 Novamente, anos

mais tarde, ela sai do Brasil no dia 11 de junho de 1857 rumo a Souphthon, Inglaterra. Apenas em

14 de abril de 185823, ela aparece no movimento de porto saindo de Valparaíso, no Chile, sentido

Buenos Aires na Argentina, de lá ela parte para o Brasil no dia 10 de maio de 185824. Seus serviços

voltam a aparecer poucos dias depois de sua chegada nos anúncios, informando seu regresso ao

país. Um jornal assim publica em 24 de maio de 1858: “Attençao. D. Anna dos Santos regressou a

esta corte e continua a dar lições de piano e canto em casas particulares, e também de diferentes

idiomas, e ensina também em lugares distantes, quem precisar do seu préstimo dirija-se a Rua dos

Inválidos n. 57, sobradinho.” 25

20 A obra da Sr. Stowe, A Cabana do Pai Tomás, foi de uma importância e circulação significativa no contexto do

século XIX em todo o mundo. Harriete B. Stowe, era uma abolicionista americana que vinha contribuindo para a

emancipação feminina, principalmente no que tange à educação. Doou parte dos fundos recebidos pelos direitos

autorais de sua obra para uma escola destinada a educação de crianças negras, sobre a administração de Myrtilla Miner. 21 Jornal do Commércio. Rio de Janeiro, n.7, 16 março 1853. 22 Diário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n.333, 07 dezembro 1854. 23 Jornal do Commércio. Rio de Janeiro, n.101,15 de abril 1858. 24 Segundo a informação noticiada pelo Diário do Rio de Janeiro a viagem durou cerca de quatro dias e meio. 25 Corrreio Mercantil e Instructivo. Rio de Janeiro, n. 135, 24 maio 1858.

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Entre idas e vindas, Anna esteve viajando diferentes lugares pelo mundo, isso talvez

explique a constante mudança de endereço em sua vida na corte. Suas viagens propiciaram contatos

diversos, seja com culturas, governos, intelectuais (homens e mulheres), além de proporcionar uma

rede de sociabilidade diversa e um grande aprendizado sobre idiomas, que ela viria a oferecer em

seus serviços no Rio de Janeiro.

Em seu tratado de 1868 encontra-se presente todo esse conhecimento proporcionado pelas

suas viagens. Atentaremos neste trabalho para sua ida a Argentina e o impacto desta em sua escrita.

Sendo assim, em uma das partes de sua obra ela assim escreve: “A nobre influência de Manoelita

em Buenos Ayres, sobre a política e seu cruel pai Rosas, é uma prova do que póde apparecer

quando essas influências forem legitimadas.” (SANTO, 1868, p.107-108) O governador Juan

Manuel Rosas, foi um caudilho do Partido Federalista argentino, com concepções republicanas,

defendia abertamente à autonomia das províncias, e era visto pela historiografia tradicional como

ditador, Manuellita foi sua única filha e teve atuações importantes, era notada a diferença entre ela e

seu pai. Uma publicação em Lisboa de 1847, assim a descreve:

Manuellita Rosas era uma senhora alta, muito elegante, e se não de extrema formosura, pelo

menos adornada de olhos expressivos, e tez reveladora de engenho, - de um espírito

superior, de mui regular instrução, sem orgulho pela alta posição de seu pai, - o ditador da

América do Sul, Ella recebe os estrangeiros de todas as classes, sem que seja necessário

mais apresentação do que um simples bilhete de vizita levado pela própria pessoa.26

O saber da autora acerca dos conflitos republicanos argentinos, e o fato da filha do governador,

Manuellita, ter sido destaque em uma parte de seus escritos, mais uma vez nos confirmam sua

preocupação constante em reafirmar a capacidade das mulheres para os negócios públicos, bem

como para a política.

Nesse período no Brasil, as meninas aprendiam a ler e escrever em suas próprias casas, por

professoras capacitadas ou aias escolhidas a dedo pelos pais, uma vez que, as escolas não eram

locais destinados para as mesmas. A profissão de Anna Rosa enquanto professora requeria em sua

maioria, uma formação advinda de países da Europa, com formação em idiomas diversos, assim

como o saber musical com aulas de piano e canto. A vinda da família imperial para o Brasil em

1808 proporcionou vários luxos, sendo o mundo musical um deles. Os grandes concertos e peças

eram tidos como formas de divertimento e luxúria para as famílias do período. Segundo Wanderley

Pinho (1942), durante o segundo reinado, os salões se tornaram o principal meio de sociabilidade da

26 Revista Universal Lisboense. Jornal dos Interesses Phisicos, Moraes e Intellectuaes. Lisboa, n. 06, p.369, 1847.

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elite, seus bailes eram noticiados e comentados, além do alto custo gasto com ornamentos. Os

salões se tornaram também, o principal espaço aonde mulheres viriam a ocupar. Segundo ele:

Alí se exibiram desde os vestidos do império de cintura alta, que faziam da mulher uma

taça esguia e longa, expandida ao alto, como a querer despejar a redondeza das espumas de

carne dos decotes amplos e frouxos – até a crinoline e a tournure e as anquinhas... Veio e

passou o uso dos bouquets que chegavam muita vez a “proporções gigantescas”.27

A escrita do autor impõe ao gênero feminino certos padrões de feminilidade e de beleza,

construídos em meio a uma sociedade onde as mulheres eram vistas como enfeites para os salões e

reservadas ao lar. Anna Rosa critica veemente essa visão, segundo ela: “Os caprichos dos homens

tem feito das mulheres plantas de estufa; metade do gênero humano invalidado; ouvimos gritos e

choros todos os dias sobre o mau pagamento da mulher da vida inferior [...]” (SANTOS, 1868, p.

19)

A autora trabalha uma terceira classe de mulheres, no qual as mesmas unem funções

públicas com trabalhos caseiros, para ela tal classe era vista principalmente, na atividade intelectual

e artística, e era praticada em um número restrito. No que tange ao mundo artístico, a música foi o

principal espaço de ocupação, a chegada do piano proporcionou para as mulheres uma

oportunidade. Neste sentido, cabe-nos atentar em Anna Rosa, uma das poucas figuras femininas

presente nesse meio, já que o mundo musical era majoritariamente masculino.

A formação musical da nossa autora está intimamente ligada à sua descendência, que teve

como professor um dos maestros austríacos mais importantes da Europa, Pazaick,a aparição de seu

nome nos anúncios do período é constante, de diversas maneiras e línguas, como podemos ver:

LEÇONS DE PIANO ET DE CHANT: Madame Anna Rosa Termacsics de Santos. I’une

des meilleures éleves de Pazaick: le célebre maitre de chapelle de l’Empereur d’Autriche,

donne des leçons de piano et chant dans les familles et dans les pensionnats de demoiselles,

d’aprésdu méthode allemande. – S’adress er rue da Prainha, 91, sobrado.28

Na citação, o maestro aponta Anna Rosa como uma de suas melhores alunas, a professora se insere

num meio educacional privilegiado específico, direcionado as meninas do Rio de Janeiro filhas de

famílias de uma elite aristocrática. O piano era um instrumento de lar burguês, ter e tocar piano

eram características de ascensão social. Para as mulheres foi visto muitas vezes, como meio de

saírem do ócio do lar, ocupando-se. Devido a isso, as aulas se intensificaram muito no correr do

século XIX, professores eram cada vez mais presentes nos anúncios oferecendo serviços. Segundo

27 PINHO, Wanderley. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª. Edição. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1970. 28 L’échoduBrésilet de L’amériqueduSud. Rio de Janeiro. Dimmanche, 13 nov 1859.

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Regina Beatriz (1992), o piano era associado à coisa de gente fina, tratada, educada, gente de

sucesso.29

Durante o reinado de Pedro II, houve uma maior expansão do universo social e intelectual,

surgem significativos números de concertos e recitais nos salões. O mundo literário, a escrita e a

imprensa, também se intensificam, fazendo com que circulem ideias e opiniões diversas. Em

contrapartida, as mulheres não eram aceitas em tais espaços, para além dos salões ao lado de seus

companheiros, o mundo letrado e a escrita, continuou destinado apenas aos homens, assim como a

política.

Não temos informações sobre o ano de falecimento de Anna Rosa, apenas que sua vida

perpassou o ano de 1886. Tal ano aparece como o último em que seus serviços viriam a ser

ofertados no país, tanto no Almanak Laemmert, como na imprensa, que assim apareceu: “Anna

Rosa dá lições de piano e de canto, em colégios e casas particulares, na Rua do Lavradio, n.15.

sobrado.” 30 Logo em seguida, as informações sobre o endereço da professora mudam e em março

de 1887 aparece: “Precisa-se alugar uma preta livre para ama de leite, a Rua do Lavradio, n.15,

sobrado.” 31Além do mais, informações sobre diversas locações, em toda a cidade do Rio de Janeiro

aparecem para serem tratadas no antigo endereço de Anna Rosa em Rua do Lavradio, n.15, sobrado,

o que anteriormente não acontecia. Esse fato pode nos levar ao seu falecimento ou à sua saída do

Brasil a partir de junho de 1886.

Quanto à sua obra, a mesma foi publicada em 1868 na cidade do Rio de Janeiro, pela

Typografia Paula Brito e noticiada para venda. Os anúncios estiveram presentes até fins do século

XIX. O Jornal Gazeta da Tarde o noticia uma venda do mesmo em 11 de agosto de 1881 numa

liquidação, pelo valor de 400 rs32, já em 8 de julho de 1897, no Jornal do Comércio, a obra aparece

pelo preço de 2$00033. Percebemos que a venda permaneceu por um longo período após sua

publicação, e que os preços variavam em seus valores.

Atualmente, uma das versões encontra-se na Biblioteca Brasiliana Mindlin e José Guita da

Universidade de São Paulo em um acervo doado em 2005, que segundo informações, o motivo da

obra estar presente no mesmo, se deu pelo fato do senhor Mindlin, doador do mesmo, ter adquirido

no passar de sua vida, um número significativo de obras impressas pelo editor Francisco de Paula

29 SCHLOCHAUER. Regina Beatriz Quariguasy. A presença do piano na vida carioca do século passado. Dissertação

apresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo: São Paulo,

1992. 30 Jornal O Paiz. Rio de Janeiro, n.151, 08 de junho 1886. 31 Jornal Gazeta da Tarde. Rio de Janeiro, n.155, 11 julho 1887. 32 Jornal Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, n.111, 11 maio 1881. 33 Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, n.188, 08 julho 1897.

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Brito. A Biblioteca não tinha informações da autora até a presente descoberta. Outra versão

encontra-se na Biblioteca Britânica de Londres e foi adquirida no ano de 1869, ou seja, um ano após

sua publicação no Brasil, de uma importadora de livros americana intitulada Trubners, a biblioteca

também não tem nenhuma informação sobre a autora. O longo período que a venda, após a

publicação, esteve sendo anunciada, e a informação de que foi importada são significativas para

nossa pesquisa, nos fazendo pensar o alcance e a circularidade das ideais pela emancipação da

mulher, que segundo ela, tem-se levantado pelo mundo inteiro. "A maior parte dos nossos leitores

hão de ter noticia de uma questão que se tem levantado em todo o mundo civilisado, como

illustrado. Esta questão é a liberdade da mulher, sua admissão na lei, a igualdade em todos os

direitos políticos, civis e sociais, com os cidadãos masculinos." (SANTO, 1868, p.51)

Apesar da historiografia, durante um longo tempo, não ter se atentado para esta discussão no

Brasil durante o século XIX, ela esteve presente e vinha alcançando no correr dos oitocentos, cada

vez mais adeptas.

Em vias de conclusão.

Levando em consideração que este trabalho é resultado de uma pesquisa em

desenvolvimento no âmbito do mestrado em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, os

levantamentos são iniciais e pretendem levar a futuras contribuições sobre a influência da Anna

Rosa enquanto mulher que levantou questionamentos acerca da participação política feminina

durante o correr do século XIX. A pesquisa se insere também, nas reflexões teórico-metodológicas

dos estudos das relações de gênero, que nos últimos anos tem levantado profundos debates

interdisciplinares na Academia, e que na História tem contribuído para tirar da invisibilidade

questões de relevância sócio-política, principalmente sobre a participação e atuação das mulheres,

além de contribuir para a formulação de uma crítica feminista contundente ao modo de produção do

conhecimento científico.

O Tratado Sobre Emancipação Política da Mulher e Direito de Votar, é uma fonte inédita

no meio historiográfico e surge em nossa pesquisa com o intuito de preencher uma grande lacuna

que se encontra hoje no que tange ao movimento sufragista no Brasil, que tem sido abordado e

trabalhado apenas com a Proclamação da República, mas como buscaremos levantar, vinha

repercutindo desde antes no meio intelectual da corte carioca.

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Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

Fontes:

Santo, A.R.T. Tratado Sobre Emancipação Política da Mulher e Direito de Votar. Rio de Janeiro:

Typografia Paula Brito, 1868. Disponível em: <https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/6702>

AlmanakLaemmert –Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1844-

1889). Disponível em: http://www-apps.crl.edu/brazil/almanak

Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro.

Diário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

Jornal Gazeta da Tarde. Rio de Janeiro.

L’échoduBrésilet de L’amériqueduSud. Rio de Janeiro.

O Paiz. Rio de Janeiro.

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Paulo: T.A. Queiroz, 1998.

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Brasiliense, 1984.

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Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

PINHO, Wanderley. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª. Edição. São Paulo: Livraria Martins

Editora, 1970.

RAGO, Margareth. Epistemologia feminista, gênero e história. In: Pedro, Joana; Grossi, Mirian

(orgs.) Masculino, feminino, Plural. Florianópolis: Editora Mulheres, 1998.

SCHLOCHAUER. Regina Beatriz Quariguasy. A presença do piano na vida carioca do século

passado.Dissertação (Música),Universidade de São Paulo. São Paulo, 1992.

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade.

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Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.27, n.54, 2007, p.281-300.

WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos Direitos da Mulher. São Paulo: Boitempo, 2016.

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Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

Emancipation and political participation of women in the second half of the nineteenth

century.

Abstract: This paper proposes to analyze the concept of female emancipation and to investigate the

discourses on the political participation of women in the press, especially women, between 1852

and 1889. The research is based on an innovative document titled: Tratado Sobre a Emancipação

Política da Mulher e Direito de Votar, a treatise written by a woman in 1868 in the city of Rio de

Janeiro, which proposes that women should seek their emancipation, not only in education and in

the labor market, but also in the representative system, being electors and candidates for public

office, the author is anonymous on the initials A.R.T.S. To understand this proposal, the research

will cover the years from 1852, which is when the first newspaper directed by a woman appears in

Brazil, until 1889, when republic appear other debates around the feminine citizenship in order to

understand how this discussion was present in the court of Brazil and beyond, as it was received by

the population.

Keywords: Woman's Emancipation. Right to vote. History of women.