laclau da emancipação a liberdade

15
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 1/15 UNIVERSJD DE DO ESTADO DO RIO DF J \1\F IRO eiw r Ricardo Vic ira lves dt: Castro Vice-rei ora Maria Chri stina Paixão Maio li EDITOR DA UNIVERSID DE DO ESTADO DO RIO DE JAN EI RO o s lho Editorial Antonio Augusto Passos Videira Fl o ra Süsseki nd tal o Moriconi presidente) Ivo Barbi eri Luiz Antonio de Castro Santos Pedro Colmar Gonça lves da Si lva Vellasco Ernesto Laclau mancipa ção di ferença Conrc/enaçiío e re t úiío técnim gemi Alice Casimiro Lope s El iz abet h Mac edo Rio de Janeir o 2  11

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7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 1/15

U

NIVERSJD DE

DO ESTADO DO RIO DF J

 

\1\F IRO

e

iwr

Ricardo Vic ira lves dt:

Castro

Vice-rei ora

Maria Christina Paixão Maioli

EDITOR

DA UNIVERSID DE DO

ESTADO DO

RIO

DE JANEI RO

o s lho Editorial

Antonio Augusto

Passos Videira

Fl

ora Süssekind

talo Moriconi

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resident

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Ivo

Barbi

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Luiz Antonio de Castro Santos

Pedro

Colmar Gonça l

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Ernesto Laclau

mancipação diferença

Conrc/enaçiío e ret úiío téc

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Alice Casimiro Lopes

Elizabeth

Mac

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Rio

de Janeir

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2  11

Page 2: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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J íru kl nngin ·

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Rua São Franc isco Xavier. 52 -l - Maracanã

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P 205 50 -0 13 - Rio d   : Jan

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1o RJ - Brasil

Tcl. Fax.: :;; (21) 233-l-

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Emílio B •:;c:

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CATALOGAÇ

AO

NA FONTE

UERJIREDE SIRIUSINPRO T EC

Ll

4 1 La

cl

au, E

rn

esro , I 935-

Emancipação e d iferença/ Ernes w Lacbu ; coorde

nação e revisão t

écn

ica geral, Alice Casimiro Lopes e

Elizabeth Macedo

Ri

o de Janeiro: EdUERJ, 20 11.

2

22

p.

ISB

N 978-85-7511 - 199-4

I.

C iência

po

lítica - Filosofia.

2. Lib

erdade.

3.

Identidade (Concei

ro

filosófico).

I.

Tfrulo.

C DU32

um

ário

·

S

ob r

e a o rganiz

ão e o s rr:1

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rores ....

..

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7

lice Casimiro

Lopes

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. d d. - . I 15

rc rác O a e 1çao mg esa ....... ...... .. .. .. .... .. .... .... ........ .. ..... ..· . .. .... ..

Ag radeciment os publicados na ediç

ão

inglesa ...... ... ... ...... .. .. .... .. .....

19

d

. L - . , ' ) \

Agradeci mento refe

rent

e à e 1ção e1ra . .. .. .... .. .. .. ..... ..... ........ ... -

D a e man cipaç

ão

à liber

da

de ...... ..... ........ .. ........ .. .... .. ........ ...... .. .. ....23

Unive rsalismo, particu laris

mo

e a

qu

estão da identidade ... .. .. ..... .. .. 47

Por que

os

significa

nt

es va

zios sã

o impo

rt

a

nt

es

para a política? .... ... ... .. .. .... .. .............. .... .... · .... ... .. · . ..... ... .. .... .. ....67

Sujeito d a

po

lític

a, pol

ít

i

ca

do

sujei

to

.... .. ... ......................... .. .........

81

"O

tempo

está

de

slocado" .... .................. ....... ............ ....... .. ........... l 07

Poder e representaç

ão

...... .. .. .... ................ .................. .... .. .. .... .. ..... 129

Page 3: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 3/15

 :

l

I

I

a

emancipação

à liberdade 

É possível ver a

emancipaç

ão -

uma

noção

que

é

parte de

nosso

imaginário político há

séculos e a cuja desintegração

hoje

assistimos - organizada

em

wrno

de

seis

dim

ensões dis.timas. A

primeira é a

que

poderíamos

chamar

de d  : u nsão dicotômica: en

tre o momento

emancipaw

n · · ' >cial

que

o precedeu,

há um

abismo

absoluto, uma

f<.ti..ti l.. ,d

..

  r t t

n u i e

A

segunda

é o que se pode considerar uma dimensão holístíca: a emancipação

afeta todas as áreas da vida social, e há uma relação

de

imbricação

essencial entre seus vár ios

conteúdos

nessas diferentes áreas. A ter

ceira dimensão pode ser referida como dimensão de transparência:

se a alienação

em

seus vários aspectos - religioso, político, eco

nômico

etc. - é erradicada, existe

apenas

a coincidência absol

uta

da

essência

humana

consigo

mesma,

e

não há nenhum

espaço

para qualquer

relação

de poder

ou

de

representação. Emancipação

pressupõe

a eliminação do

poder,

a

abolição da

distinção sujeito/

objew

e a gestão -

sem qualquer

opacidade

ou

mediação

-

dos

assuntos da

comunidade

por agemes sociais identificados com o

ponto

de

vista

da totalidade

social.

É

nesse

semido que, no mar-

Traduzido

por

Joanildo A Buriry

(Durham

Universiry). Texro originalmente

pu

blicado

em

Alexandrina S. Moura (org.). U t o p i r ~ e onnttções sociais Recife: Mas

sangana, 1994, pp. 29-45. Revisro pelo rraduwr especialmente para esra edição.

Page 4: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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24

xismo , por

exemplo

, o co

munismo

e a ex tinção do Estado

imp

li

cam logica mente

um

ao ourro.

Uma qu arra dimensão é a da preexistência daquilo que deve

ser emancipado vis-à-vis o aro de emancipação . Não existe G

man-

cipação sem opressão, e não há op ressão sem a prese nça de algo

que

é

tolhido

em seu livre descnvolvimenro pelas forças opressi

vas. Emancipação não

é,

nesse sentido, um ato de criação, mas,

ao conrrário,

de

lib

ertação de algo que precede o

aro lib

ena

dor.

O urra

dimensão

é a de fundação

ground),

1

ine

rent

e ao proje

to

de

qualquer

e

mancipa

ção radical . Se o aro

de

e

mancip

ação

é

verda

deiramente radical, se ele vai realmente deixa: para trás

w o

que

0

prece

deu

, rem de ocorrer no nível da "fundação " do

soc

ial. Se

não

há nenhuma fu ndação, se o aro revolucionário deixa um res

íduo

que está para além da cãpacidade rransformado ra da práxis e

man

cipatória, a própria ideia de uma emancipação radical se

torna

contraditór

ia.

Finalmente, podemos

falar

de uma

dimensão racio

nalista. neste ponco que s discursos .:as escarologias seculariza

das

rom

pem com os das religiosas. Para as escatologias religiosas, a

absorção do real no interior

de um

sistema total

de

representação

não requer a racionalidade

dest

e último: basta

que

os de sígnios

in

escruráve is de Deus nos sejam transmitidos por meio da reve

lação . Mas

numa

escatologia secular isso

não

é possível.

Como

a

ideia de uma representabilidadeabsoluta

do

real

não

pode apelar a

qualquer coisa exteri

or

ao próprio real, ela só pode co incidir com

o princípio de uma racionalidade absoluta. Assim, e

mancipação

in t

egral é simplesmente um momento no qual o real deixa de ser

1

N. T.:.

O

termo u ~ d ao

longo deste tcxro designa a ideia de um

fundamento

a.

pa_:m d? qual se

enge,

se explica ou se sustenta um

dad

o

discur

so. Da da a dis

nnçao

ex stc

nte

em português entre fundamento c

fund

ação,

amb

os implicados

no

concct

ro egroun ,

usaremos esses dois termos imcrca mbiavelmente,

dando

~ e n ç ã o

_ao

c ~ ~ t e x r o

da

f r ~ s e

em

_q

ue

o c ~ r r e

o t quivaleme em inglês. O ge

rún

dio,

ou tnfinmv

o,

grormdmg

seca traduz1do por

fundam

entação;

e formdmion,

por

fund

ação.

uma

positividade opaca a nos

con

fronrar. e

no

qual a distúncia

entre esta e o racional é

finalmente

cancelada.

Até

que

ponto essas seis

dimens

ões definem um t

odo

logica

mente unificado? C

onstituem

elas uma cstrumra teór ica coerente?

T

enta

rei mostrar

que

não , e que a afirmação

da

noção clássica de

emancipação e

de

suas muitas va

ri

an t

es envolve a defesa

de

lógicas

incompatíve

is.

Isso não nos deve levar, no enranro, ao simples

abandono

da lógica da ema ncipação. Ao contrário, é joga

nd

o-se

no in terior

do

si

ste ma

de suas incompatibilidades lógicas

que

po

dem

os abrir

caminho

para

novos

discursos liberadores

que

não

mais estejam presos às antinomias e aos becos sem saída a que a

noção clássica de ema ncipação levou.

Começo com a

dimensão

dicotômica. A dicoto mia com

que de

paramos

aqu

i é de um

tipo muiro

particular.

Não

é

uma

simpl

es

diferença e

ntre

os dois elementos

ou

estágios que coexis

tem co

ntemporânea ou

sucessivamente e

que,

desse mo

do,

co

n-

tribuem

para a constituição de suas idenridades d iferen

ciais. Se estamos falando

de

ema ncipação real, o o

urro

qu e se

opõe à identidade

emancipada não pode

ser um outro purame

nte

po

s itivo

ou neutro,

mas um "ourro"

que

impeça a in teira co ns

tituição da

identidade do primeiro

elemento. Nesse sentido, a

dic

oromia envolvida

no

ato e

mancipatório

está numa relação de

solidariedade lógica

com no

ssa quarta dimensão - a preexistência

da

identidade

a ser

emancipada

vis-à-vis o aro de

emancipação.

fácil ver por quê: sem essa preexistência, não haveria qualquer

identidade a reprimir ou impedir de se desenvolver inte

iramente,

e a

própria

noção

de emancipação

se

tornaria

sem

sentido.

Ora,

um

a conclusão inevitável segue daí: uma verdadeira emancipa

ção

requer

um oucro" real - isco é, um "outro que não possa

ser reduzido a

qualquer

das figuras do

mesmo .

Mas, nesse caso,

entre a identi

dad

e a ser e

ma nci

pa da e o

outro que

se lhe

opõe,

não pode haver qualquer objetividade positiva subjacente e que

constitua

a

identidade de ambos

os polos

da

dicotomia.

Page 5: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 5/15

Uma consideração

muito

simples pode ajuda r a c :sc larccer

esse pontO.

Suponhamos que

haja

um

processo objetivo mais

pro

fundo dando sentido a

ambos

os lados

da

dicotomia. Se

é

ass

im,

o

abismo qu e con

st

iwi a

dicotomi

a perde seu

caráter

radical. Se ela

não é

constimtiva, mas

an t

es a expressão

de um

processo positivo ,

o

outro

não

pode

ser

um ourro

real

dado qu

e a d ico romia

é

fundada

numa necessidade objetiva, a dimensão oposiciona1 ta

m

bém é necessária c, no caso, é parte

da

identidade das

duas

forças

que se confrontam.

A percepção

do ourro como um

outro

radical

só pode ser aparente.

Se

uma

pe

dra

se

quebra quando

se

choca

com o

utra

, seria absurdo dizer

que

a segun da

pedr

a nega a idenci

dade da primeir

a -

ao contrário,

ser

quebrada em cenas circuns

tâncias expressa a id

en tidad

e

da pedra

ramo

quantO perman

ec

er

inaltera da se

as c

ircunstân

cias forem diferentes . A característica

de um pro

cesso objetivo

é que

ele

reduz sua

própria lógica

à to

talidade

de seus

mo m

e

ntos

constimtivos.

O

outro

pode ser

o

resultado de uma

diferenciação

interna do mesmo

e,

conse

quentemente,

é inteiramente

subordinado

a este

úlêimo. Mas não

é essa a alreridadc

que

o

abismo

do ato

emancipa

tório requer.

Não

haveria nenhuma ruptura, nenhuma verdadeira em a

ncipação

, se

o

ato co

n

stitmivo

desta fosse

apenas

o resultado

da

diferenciação

interna

do sistema opressor.

Isso

pode

ser expr

imido de

maneira ligeiramente diferente

ao

dizer-se que, se a emancipação for verdadeira, será incompatí

vel

com qualquer tipo de

explicação objetiva .

Posso certamente

expli

ca

r

um conjunto de

c

ircun

stânci

as

qu

e tornaram possíveL a

em e

r

gênc

ia

de

um

siste

ma op

resso

r

T

ambém

posso explicar como

forças

antagô

nicas àquele

sistema

foram

constituídas

e evoluíram.

Mas

o

estrito

m

omento da

confr

ontação entre ambas, se

o abismo

for

radicaL será refratário a qualquer tipo de explicação objetiva.

Enrr

e

dois

discursos incompatíveis,

cada qual constituindo

o polo

de um antagonismo

en tre

ambos, nã

o ex

ist

e

qualquer ponto em

comum,

e o

momento

exato

do

c

hoqu

e

entre

eles

não pode

ser

explicado em te

rmos b j e t i

i   ób' 4ue o

mom

e

nto

anragonístico seja

pur

ame me aparente l o conr1m>

entre

as f

orç

as

sociais seja assimilado a

um

processo narural - co

mo

no choque

c

ntr

e as

duas

pe

dra

s. Mas, como disse. isso

incom

pacível

co

m a

<lreridade reque

rida

pelo aw fundanrc

de emanc

ipação.

Ora,

se a

di m

ensão

dicotômica

r

eq

uer a

alreridade

radical

de um

pass

ado que rem de

s< :r lançado fora , ela é

inco

mpadvel

com a maior parte das ou tras

que apresenr

ei

co

mo

consriwrivas

da

noção clássica

de

e

ma n

cipação . Em

prim

eiro lugar, o radicalis

mo

dicotômico e o

fundamento

radical são incomp

adv

eis. Co

mo

vimos, a c

ondição

do

ab

is

mo

r

ad

ical

que

a lógi ca

emancipatór

ia

requer

é

a

alteridade

irredutível

do sistema

o

pr

esso'r é rej.eita

do. Então,

não pode

haver qualquer

fundamento um

co expltcan

do tanto a

ord

em

qu

e é rejeitada qu nto a

ordem que

a e

man

cipa-

cão

inau

gu ra.

, A alt

ernativa

é clara:

ou

bem a e

man

cipa

ção

é

radical, e nes-

se caso ela

tem de

se r

seu próprio n r o

e confinar o

que

é

excl

uíd

o a

uma

alceridade radical

constiruída

pelo

mal ou

pela

irracionalidade; ou bem existe

um

fundamenro ma is

profund

o

que

estabeleça as ligações racionais enrre a

ordem pr

ee

manciparória,

a

nova

or d

em

emancipada

  e a transição

en t

re a

mbas

m

cujo

caso a emancipação

não

pode ser considerada

uma

verdadeira

fun-

dação radical.

Os filósofos do Iluminis

mo

foram perfeiran1ente

canse-

qu entes quando afirmaram que, se uma sociedade racional f o s ~ e

uma ordem

totalmente

desenvolvida resu ltante

de

um

rompi

mento

radical

com

o passado,

qualqu

er

org

anização prévia

àquele

rompimento

po der

ia ser

concebida

como

produto

da

ign

orân

cia e da

loucura

d

os homens,

isro é,

como privada

de

qualquer

racionalidade. A d ificuldade,

entretanto,

é

que,

se o

ato fundante

de uma sociedade

ve

rdadeiramente

racional for

co

nce

bido como

a vitória

sobre

as forças irracionais

do pa

ssa

do

- forças

qu

e

nada

cêm

em com um com

a

nova or dem

vitoriosa

-

o

ato

fundante em

Page 6: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 6/15

si não poderá ser racional, mas

el

e p róprio se rá totalmente:

contin

genre c depe nderá

de

u

ma

rdaç:ío de: p1>dc r. Nesse caso. a

ordem

soc

ial

eman

cipada   se rorna

puramenre conr

ingen re e

não

pode

ser considerada a libertação de

qualquer

essência hu mana

ve rdadeira. C

hegamo

s ao mesmo d ik:ma de

an t

es : se qui

sermos

afi

rmar

a racionalidade e a

perm

ant::n ci

:t

da

no

va ordem

soc

ial

que

es

tamos

es tabele

cendo,

tc:remos de esre

nder

a racion alidade ao aro

fundanre em si e, como resultado, à ord em

soc

ial

qu

e deve ser der

rubada- e então o radi

ca

lismo da dimensão dicotôm ica

desapar

e

ce

. Se, ao co

ntrár

io, afirmarmos o radicalismo desta úl tima,

ramo

o

aro

fundanre quanto a o rdem

so<.:ial

resultante dele se tornarão

inrei

ram

enrc conringenres - isto é, as condições de um exteri or

r r u t

pe

rma

nente estão criad_as c o

que

agora desaparece é a

dtmensão

de fundação da noção cl ássica de emancipação.

. Essa incompatibili

dade

do discurso

da

emancipação em re

a

dtmens

ão

dicotômi

ca e a

de

fundação cria

duas

matrizes

fund

a

mentais

em r ~ o

das qu ais rodas as ourras dirnen

s ões

são organi

zadas . Co mo dtsse, a

pr

eexistência dos oprimidos vis-à-vis a fo r

ça

o p r ~ s s o r a

é um corolário do radicalismo do abismo requerido

pela

dtrn

ensão

dicotômi

ca - se os

op r

imidos

não

preexisris

sem

à

o rdem

opress

ora, seriam

um

efeito des

ca,

e,

ne

sse caso, abismo

não seria consriru.

ri

v?. Outra questão é se o abismo

não

é repre

m d ~ pelos opnmtdos por meio de formas de identificação qu e

pressupoem

a presen

ça

do opressor. Voltarei a esse pomo.)

Ma

s

rodas as outras dimensões requer

em

logicamente a presen

ça

de

um

f u n d a m n t ~ ~ o s i r i v

e

são,

con

seque

ntemenre

,

incompadv

eis

a c o n s m ~ t t v d a d e do abismo requerido pela dimensão dico

~ t ~ O ho tsmo seria impossível, a menos que um fun da memo

posmvo do

soc

ial unificasse numa roralidade aurossuficiente a va

de seus processos parciais - antagonismos e dicotomi as in

M as aí o abismo rem de ser interno à ordem soc ial, e não

uma l m h ~ d ~ v i s ó

separa

ndo

a ordem social

de

algo fora dela.

Transpa rencJa requer plena representabilidade, e não há q ualquer

l ).t CIIJ 11h rp.n .tP 1 li ·..:rd.tdt. 2 :

possibilidade de alcançá-la se a opacidade im:rc: nrç à alceridade

radical for co n

st

itutiva das relações sociais.

hn.1lmeme

. co mo vi

mos, nas escarologias secu larizadas roral re

pr

esenrabilidadc é e

qui

valente a con hecirncnro absoluto - e

nr

e

ndid

o c omo roral re

dução

do real ao racional - e iss o só pode se r alcan

ça

do

se

o o

utro

for

reduzido ao

me

s

mo.

Entã

o,

podemos

ve

r

qu

e os discursos de e

mancip

ação têm

sido histO ricamente constituídos por meio da junção de duas li

nhas

inco mpatíveis de pensamento :

urna

,

que

pressupõe a ob

jetividade e ple

na

represem abilidade do social; e outra,

que só

se

sust

e

nta sob

re a

de

monstraç

ão de que

há um a

bismo qu

e ror

na qualquer objetividade social, em última a ná

li

se, imposs ível.

Ora

, o pomo importante é

que

essas

duas linh

as de p

ensamento

opo

stas não são simples erros an alíticos demre os quais

podemos

escolher

um

e formul ar

um di

scurso ernancipatório livre

de in

consistências lógicas.

É

afirmando am ba

s as

linhas qu

e a

noção

de emancipação

adqu

ir

e sign ifi

ca

do.

Eman

cipação

sign

if i

ca

ao

mesmo tempo fundação /oundation) radical e exclusão rad ical -

isto é, ela

postula

ao

mesmo tempo

um fundam ento do

soc

ial e

sua imposs ibili

da d

e.

É

necessário que urna sociedade emancipada

seja plena

mente

tr

an

spa

rente para si mesma e q ue essa

transpa

rência seja constituída pela dem a r

cação

de uma

opacid

ade es

sencia l -

resultando

disso

que

a

linha demarcatór

ia

não pode

ser

pensada desde

o lado da transpa rência e

que

a própria

transpa

rência se ro

rna

opaca. É preciso

que urna

socie

dade

raciona l seja

urna

rora li

dade

fechada em si mesma , que

subor

di ne a si rodos

os s

eu

s processos

pa r

ciais;

porém,

os limites dessa

confi

guração

holí

srica - sem os qu a is esta não existiria de forma alguma - só

podem ser es t

ab

elecidos pela

di f

erenciação entre ela (a

configura

ção) e um exterior ir racional e informe. C oncluímos assim

que

as

duas

linhas de pensa

mento

são log i

ca

mente inco

mpatív

eis e que,

no

entanro,

requisitam-se mutuamente: na ausência de

ambas,

roda

a noção de emancipação desmoronaria.

Page 7: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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30 E m , t n c i p . t ~ : Í < ' di fcr<·nç:t

O qu e

resulta,

no

<:ma mo

,

d<.:ssa

incom p

 nibilidad

e l

ó-

gica ? D e

que ma

neira a

no

ç

ão de

emancip

ação desmorona

em

dec

or rência

daquela?

Está

claro

qu e

eb

só se des

inte

gra

num

terreno

lógico,

mas

isso

não quer

dizer

de modo

alg um

que

isso

sc:ja

sufici

e me

para r o r n

inop

eranre

socialmente - a

mt.:n

os ,

n:

Huralmem

e,

que

ador

em

os

a

hipó

tese

abs

urda

de

que

o t

erreno

soc

ial seja es truturado

co mo

um te

rr

eno lógico c que pr

oposi-

ções

contrad itórias

não possam ter

cfcrividade soc

ial.

D c v ~ : m

distinguir

c

uidadosam

ence a

esta

altura

duas afirmações muito

diferemes. A

primeira

é a

de que

o princípio da

co m

radição

não

se api ica à

sociedade

e, em decorrência, a

lguém

po

de

es tar e n

ão

estar

no mesmo lugar ao mesmo tempo, ou o mesmo projeto de

lei tenha sido promu lgado e

não

promu lgado etc.

Não

acho que

a

lguém

t

eria coragem

de formular esse

tipo de proposição. No

e

ntanto

, é uma

proposição rotalrnenrc diferente

af

irmar

qu e as

práticas sociais

constroem

conceiros

e

instituiçõ

es

cujo

funcio-

namento inr

e

rior

seja

baseado na

ope

ração de

lóg icas

incompa-

tíveis. E n

ão há obviamente aqui qualquer negação do

princípio

da

comradiçã

o,

porque dizer

o

contrário seria

af

irmar

qu e é

log icamcme

co n traditório

formular

proposições co ntraditóri

as,

o

que

certamente n

ão

é o

caso

. Agora, se a

operação

de lógicas

comraditórias pode

perfeitamente

esta

r na

raiz de

muitas

ins-

tituições e

práticas

sociais, surge o problema

de até

que ponto

tal operação é possível.

Seria

o caso de lógicas

incompatív

eis

operarem

no interior da

sociedade,

mas

não

se

este

nderem à

so ciedade como

um

todo? O u seja, formular proposições con-

traditórias se ria em cenas circunstâncias um requisito lógico

para que a

sociedade

corno um todo

não

fosse

contraditória?

Estamos aqui

próximos

à astúcia da razão de Hegel. E é claro

que

aq

u i

estamos

lidando com

urna

hipótese ontológica, e

não

com um requisiro lógico. Essa

hipót

ese ontológica

não

é nada

mais do que

uma

nova formu

l

ação da

d

imensão de fundaç

ão"

que discuti anteriormente.

i

l

j

l

J

l

l

I

\ 1 1<;

o

que

dizer

da hipótc\

C

em si? É ~ : l a

l

og

icamcntt.: im

pecável,

sc:n

do nossa rardà a p e n 1 dcrcrmin:u se c:sr:i c\.·n ou

er

rada? Evid t: nte qu<.: não. po rq ue : tudo o qu e foi clico s o b r ~ : i c a

do fundamento e suas

dimensó

t:S concomitantes - rramp. tr

C:

n

cia, holismo erc. - apl ica-se in rt: iramcnrc aqui. A rr:=tn : .parl: ncia,

co

mo vimos,

constitui

-se

num

n

 :

rreJJ

O p

do

aro de

e x d u

~ : i . o

da

opacidade:

. E o

que

dizer

sobre

o

ato de

exclusão em si, a

difêrença

constitLJLi

va

entre transparência < : opacidade: ela rranspart:nte

ou

opa

ca?

Está claro

que

a

alternat

iva é

ind

ccidíveP e q ue os dois

movim

emos igualme

nte

possíveis

tornar

o opaco

transparente

e

o rransparenre,

opa  o rurvam

a limpide<.

da

alrernariva.

To

da

essa digressão sobre o status

de cont

radições lógicas na

sociedade é

importante

para nos

n s c i e n t i z

t e dois aspecros

que

rêm de ser levados

em coma ao

se lidar

com

os jogos

de lingua-

gem que podem ser j

ogados dentr

o

da

lógica

da

emancipação. O

primeiro é que, se o re

rmo

"

eman

cipação" ainda

pode

t

er

sentido,

é impossível renunciar a

qua

lquer um

de

seus do1s lados inco

mpa

tÍveis. Antes, devemos jogar um contra o ourro de mo do a serem

especificados. O segundo aspecto é que esse duplo e contraditório

requisiro não é simplesmente algo que tenhamos de afirm ar

se

se

rem de manter emancipação

como

um termo político relcvanre. Se

o problema rodo fosse esse, poderíamos evirá- lo apenas neg

ando

que em

ancipação seja

um

conceito válido c

afirmand

o a validade

N. T.: Na faha de um c:quivalenre

em

ponuguês qm: co rrespondesse fielmcnre

aos m:ologismos inglcsc:s undecidability, undecidttb e, o p t : ~ m o s neste

li

vro, por

m : ~ n t e r

o neo-logismo para o adjetivo, traduzindo-o d

e:

forma um

ramo

c:s

tranha

e não usual - indecidí

vel-

enquanto tr:1du1.imos o substantivo com o indecidi-

biLidad

e

C laro esd que os termos não implicam um a suspensão da capacidade

de decidir, um imobilismo, mas a situação em que, por um lado, não é possível

fundamentar racional e radicalmente as razões de uma decisão, senão pelo re

conhecimento da contingê ncia de tal decisão, e em que, por outro, o co nteúdo

da decisão não está predeterminado por nenhum processo objetivo subjacente a

cada uma das alternativas entre as quais se decide. Em tal siwação , hes itação e

decisão são duas dimensões do mesmo processo. Por exemplo, qu er-se salienrar

a imp ossibilidade de se oprar enrrc universalismo e particularismo, de m:meira

racional c fundamentada, co

mo

será discutido no próximo capírulo.

Page 8: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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de

u

ma da:-. duas

lógicas romad

as

scpa rada memt:. ivlas precisarnen

re

isso não

po:-.; ívd

:

no

ssa

an

<

l

ise nos k:vou u

HJc\u

s

ão de:

que

os lados conrradi córios requerem a presença e ao mesmo rempo

t

exclusão

um

do

ou

rro: ca

da um é

a

co

ndi ção

ramo de

possibi

icladc

q u

anro de i m p o s ~ do

O

Lmo.

Assim,

não

es

tamos

lida

nd

o

s

im

ples

mcnr

e

com

urna

incompacibil

id

adc

lógica, mas ames

com

um a real indecicl ibilida

de

emre os do

is

belos.

ss

nos indica ,1

ma n

eira pela

qual

a l

óg

ica

ela em a

ncipação rem

ele

ser

abordada:

observa

ndo

-se os efeitos que resultam ela subversão

de

ca

da um de

seus lados m ~ n r í v pelo ourro. A própria possibilidade des

sa an álise resu lta do

que

foi diro an te

riorment

e: a operação social

de duas lógicas incompatíveis não consiste numa anu lação pura e

sim ples

de

seus respectivos efeitos, m as num conj unto específico de

de fo

rm açõ

es

mútuas.

É

iss

o

qu

e e me

ndo

por

s

ubv

ersão.

Como

se

cada um

a das

gicas

incompad

veis press

upu

sesse

uma

roral

op

e

raç

ão qu

e a

outra

está negando,

co

mo se tal n

eg

ação lev

as

se a

uma

s

ub

versão

cl

escritível

da esuurura intern

a

ele

ca

da

uma dc;as. Ao

analisar esses efeitos subversivos, não

estamo

s presencia

ndo

o sur

gim e

nto de

algo

totalment

e novo que deixa ambas as lógicas

par

a

trás,

ma

s ames um

afastamento

siste

máti

co daquilo que

ele

outra

forma

seria

sua

ple

na

operação.

Ames

que passássemos a es

cr

ever o padrão geral desse afas

tamento

tínham

os ele considerar, entretanto, a mane

ir

a pela qual

discursos emanciparórios clássicos lidaram com nossas dimensões

basicamente incompatíveis, que

não

passaram totalmente desperce

bidas.

Um

disc

ur

so

de

emancipação radical emergiu pela primeira

vez com o cristianismo, e sua forma específica era a s lv ção Com

elementos parcialmente herdados elo Apocalipse judaico, o cristia

nismo apresentava a imagem ele

um

futuro da

humanidad

 

ou

pós-humanidade

-

elo qual todo

mal teria sido erradicado.

Am b

as

as dimensões,

dicotômica

e

ele

fundação, esrão

pr

esentes aqui: a

história do mundo é uma permanente lu ta entre os santos e as for

ças

elo

mal, e não há terreno

comum

e

ntr

e eles; a socieda

de futura

será perfeira. sem quaisquer d ivisões imernas. qualquer opa cidade

ou

alienação;

as

vá rias alternativas na luta

comra

as fo rças do mal

e

0

triunfo final de Deus são

conh

ecidos pela revelação.

Ora

nes

se q:.taclro mundializame vemos su rgir uma dificu ldade que não

é

ou

tra senão o rec

onhecimento

teológico de nossas duas

dimen

sões inco

mp

atíveis. D eus é todo-poderoso e

infinitam

e

nt

e

bom.

Como

criador

ex n iw el

e melo o qu e há,

é

a fo

me

e o

fundamento

absolutos ele todos os seres criados. Nesse caso, c

omo

explicarmos a

presença do mal no mundo? A alternativa é cla ra: ou D eus

é.

r o c l

podcroso e fome

de tudo

o que há - e aí ele não

pod

e ser mfint

ra

bondade por

que é responsável pela presença

elo

mal no mundo;

ou ele não é responsável por aquela e, logo, não é todo -poderoso.

Aparece aqui o mesmo probl

em

a que coloquei em termos não

teológicos:

ou

a dicotomia separando bem e mal é radical, sem pon

ro

em

comum

enrre os doi s polos,

ou

existe

um

tal terreno co

mum

e nesse caso o radicali

smo da

oposição

em

re

bem e mal

é

nublado.

O pensamemo criscão, con frontado por essa alternativa, osfllou en

tre (a) a afirmação

de que

os desígnios

de Deu

s são inesc

rut

áveis e o

dil

em

a res ulrava elas limitações

ela

razão

humana

-

de

forma que o

problema foi posto de lado sem solução - e (b) a busca ele

uma so

lução que, para ser o

mínimo

consistente, só poderia

mant

er a ima

  em de

Deus como fome absoluta ao

afirmar

,

ele uma man

eira ou

t

ele outra, o caráter necessário

elo

mal. Eriugena, ao defender, no re-

nascimemo ca rolíngio, que Deus alcança sua perfeição

por

meio elas

fas es ele transição que envolvem finitucle, contingência e o mal, deu

início a uma tradição que, passando pelo misticismo nórdico, Ni

colau

el

e

Cu

sa e

Espin

osa, chegaria a s

eu

clímax

em

H

eg

el e Marx.

A vis

ão

cristã

ela hi

stória

também

se

defrontou com outro

pro

blema-

dessa feita s

em

c

ontradição-

o ela

incomen

surabi lidade

exis

tent

e entre a

univ

ers

alidade da

tarefa a ser realizada e a

limita

ção

dos agentes finitos res

pon

sáveis

por

ela. A categoria da encarna

ção

foi

c

on

ce

bid

a a

fim

de

mediar

entre essas

dua

s realidades inc

o

mensuráveis. O pa

radigm

a

de toda

enca rna

ção é, naturalmente

, o

Page 9: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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advenro de próprio C risto, mas cada um dos momenros uni

ve

rsais

na história

do

mundo é marcado

por

intervenções divinas nas

qua

is

corpos finiros têm de ass umir tarefàs

que

não escavam

de

maneira

nen huma predeterminadas por sua finirude concreta. A dialética da

encarnação

pr

ess

upõe

a distância infinita entre o

corpo encarname

e a tare('l encarnada.

É

somente

a mediação de

De

us

que

estabelece

uma ponte emre os dois,

por

motivos que es

capam

à razão humana.

Voltando

às nossas várias dimensões de emancipação, pode

mos dizer que,

no

discurso cristão, a transparência é assegurada

no

nível da representação

mas não

no

do

conhecimento. A revelação

nos

uma

repr

esentação da tOtalidade da história, mas a racio

nalidade que

se exp ressa naquela história

sempre nos

escapará. É

por isso

que

a

dimensão

racionalista

tinha de

est

ar ausente

das

narrativas teológicas da salvação.

É

esse

abismo entre

representação e racionalidade

que

as

escatologias

modernas tentarão

preencher. Uma vez

que Deus

não

mais se

encontra

em

primeiro plano

como

garamia

de plena repre

senrabilidade, a

fundação

tinha de

demonstrar

suas habilidades

wralizadoras sem

qualquer

recurso a uma distância

infinita

em

relação àquilo que ela incorpora. Assim, plena representação só se

torna possível como plena racionalidade. A primeira consequên

cia dessa guin

ada

moderna é que o movimento

insinu

ado nas ver

sões panteístas e semipanreísras

do

cristianismo é agora levado a

suas

conclusões lógicas. Se há um fundamento a partir do qual a

história humana se

mostra

como

puramente racional-

e,

portan

to,

inteirameme aurotransparente -

mal, opacidade e alteridade

ó podem ser o resultado

de

representações parciais e distorcidas.

Quanto mais a

dimensão

de

fundação

se impõe, mais a alceridade

irrecuperável

do abismo inerente

à dimensão

dicotômica

rem

de

ser

descartada

como

falsa consciência.

Mencionei

anter

i

ormente

a astúcia

da

razão hegeliana.

Mas

as versões

marxianas

do mesmo princípio

não

ficam atrás.

Basta l

embrar

a descrição de emergência e desenvolv

im

ento de so-

r

l

J

J

l

ciedades

antagôni

cas: o

com

uni

smo

primi ti\·o Linha de se desinre

orar <

 

fim

de

desenvolver as for

ç as

produtivas

da humanidade;

o

desenvolvimemo destas requeria -

como

sua condição histórica e

lógica- a passagem pelo inferno de sucessivos reg imes explorado

res; e é sornenrc ao final

do

processo, qu

ando

a história atinge seu

clímax

num

novo

comun

is

mo

-

que

representa

um

desenvolvi

mento a mais das forças

prod

ut ivas- que o sentido e a raciona li

dade de rodo o sofrimento anterior finalmenre se mostram.

Como

Hegel disse, a história universal não é o terreno

da

felicidade. Tudo

_ escravidão, obscurantismo, terrorismo, exploração,

Auschw

itz -

revela, desde o ponto privilegiado da história universal,

sua

subs

tância racional. Rejeição radical, antagonismo, incompatibilidades

éticas - em

suma

qualquer coisa ligada

à_dimensão

dicotômica

- perrencem ao domínio das superestruturas, ao modo pelo qual

os arores sociais vivem (disrorcidamenre) suas relações

com

suas

condições reais.

Como

foi

clico

num

famoso rexro:

As mudanças nas bases econômicas levam cedo ou tarde à trans

formação de toda a imensa superestrurura. Ao se

eswd

arem tais

transformações, é

sempre

necessár io distinguir cmrc a transfor

mação material das condições econômicas de produção,

que

pode ser distinguida com a precisão das ciências naturais, e as

formas legais, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas - em

síntese, ideológicas - pelas quais os homens romam consciência

deste conflito e lutam

contra

ele. Assim como não se julga

um

indivíduo pelo

que

ele acha de si mesmo, também não se pode

julgar um tal período

de

transformação por sua consciência, mas,

ao contrário, sua consciência deve ser explicada a par tir das con

tradições da vida material , a partir dos conflitos existentes entre

as forças sociais de produção e relações de produção.

3

3

Karl Marx.

A contribution

t

the critique o political economy.

Londres: Lawrence

and Wisharr, 1971, p. 24.

Page 10: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 10/15

~ . . r11.:ssa leitura . dim<.:nsão dicotô mi ca .,c m rna uma

- - ~ u p c r e u r u r a da

d i r n e n ~ ã o

de F u n d a e a em anc

ipa

ção se

transforma num m

c:

ro adorno retórico d< :

um

o . : ~ s o substan

tivo q ue: deve se r cmcndido em termos inteiramen te diferentes.

Co mo resulcado disso. o s ~ . : g u n d o req uis

it

o lógico dL·ssa

ess

c:n

cialista

é

que

remos d

e:

ahandona

r cotalm

enre

a c i.dética

da

enc

arnação

.

Como

vimos,

a enca

rn

a

ção

requ er

uma li

gaç

ão entre

os

do

is

elementos via a mediação de um terceiro ex terno a eles,

de

ta l modo

que

, cnrregues a si

mesmos,

uma

disrância intrans

ponível e

nt r

e os do is pr

im

e

ir

os

elementos;

isto é, se m o tercei

ro elemenro não exi

stir

ia

nenhuma

ligação

entre

eles. Assim , a

enca

rn a

ção era possível na medida em qw.: Deus era

pane

do

explanans po rém,

se

Ele recua para o fundo da ce

na

, a cone

xão

en tre universalidade encarnada e corpo enca rn anrc torna-se

impo

ssíve l.

Qu

er di zer, u

ma

escarologia

plenamem

e racionalista

e

se

cular rem de demonstrar a possibilid ade de um aror un iver

s sU que

esteja para além da

contr

adição

enrre

particularidade e

univ

ersalidade, ou melhor,

um

acor

cuja

parricularidade expresse

direrameme, sem

qualquer

sistema de medi a

çõ

es, a

pura

c

uni

versal essência humana. Esse aror, para Marx, é o proletariado,

cuja

parcicularidade expressa a universalidade de ral

modo

di re

tamente que seu advemo é concebido como o fim da necessida

de de

qu

a lquer processo de represemação. N enhum a encarnação

rem lugar aqui. Mas, se olharmos

mais

de perco, veremos qu e esse

ator, apresentado como o único que pode levar a cabo um verda

deiro processo de emancipação, é precisamente aquele pa ra

quem

"emancipação se

torn

a

um termo insignificante

. Como c

on

s

truirmo

s a

identidade

desse ator? O

agente da emanc

ip

ação

rem

de s

er

um cuja

identidad

e seja

bloqueada

em

sua

constituição/

des

envolvim

e

nto

p

ela exist

ência de um regime opressivo.

Conru

do, s o

processo

de des

in t

egração do regime e o

de

formação do

ator emancipatório são

o mesmo, então dificilme

nte podem

os

I

I

I

I

l

I

dizer qu(. ele 5 oprimido pelo me :-mo i m ~ o c o n ~ r i t u

Podemos. é cla ro,

argumtma

r que o proktanado e p roduto do

cksenvnlvi

menw

capitalista , pois somente este

cr

ia a

separa

ç

ão

cncre

0

produ tGr d ir

em

e a propried ade dos meios de

ma

s isso s6 exp lica a emergência do proletariado co mo uma posi

ção de s uj eito

pa rticular no interior

da

d a d e

~ i r a l i

não

a

emer

gência

do

proletariado

co

mo

SLIJe

iro e

ma_nC1?ad

or. Para

ter este úl timo. precisa m os

demons

tra r que o capl(ahsra nega no

trabalhado r algo que n

ão

é mero prod uto do c

ap

ita li

smo

. Em

nossos rermos: precisamos

mostrar

que há

uma

di me nsão a ma

cronística que não é reducívcl a

um

fundame nto único . O u seja ,

D . .

a condi ção da ve

rdad

eira emancipaç

ão

é, co

mo

me ncion e •, uma

opacidade constituti

va

que

nenhuma fundamentação pode erra

dica r. Isso significa que as duas

operações

de fechamento que

fundaram o discurso po lítico

da

mo dernidade têm de ser eles

feiras. Se a

mod

erni da de iniciou-se por meio

de um

estritO en

laçamenro entre represcmabilidade c

c ~ m e n t o :

a o ~ a c i d a d .

constiwti\'a resultante da dialética da emanctpação

Impli

ca que a

sociedade

não

é

mais transparente ao co nhecimento

e qu

 

uma

vez que D eus não esrá ma is lá

pa

ra s u b s

t i t ~ i r

 

revelação - t

oda

repres

entação

será c e s s a n m e m ~

parcial

e

te r

_a

lu

var cont

ra

0

pano

de

fundo de um

a essencial Irrc

pr

es

entabt

lidade.

Além

di sso, essa

opacidad

e co

nstitutiva retira

o

funda

mento que havia poss

ibilitado

ir

além

da dial

ét

ica

da a ç ã ~ ,

visto que não

há ma i

s

uma

sociedade transparente ~ u a l o um

versa possa mostrar-se de ma neira di re ta c não mediatJzada. M as

nova meme, s D eus não

está

ma is lá, asseg

ur

ando por Sua

pala-

vra

0

conhecimento

de

um

destino

univ

ersal que escapa à razão

humana, a opacidade também

não pode

lev

ar

a uma restauração

da dialética da encarnação.

A morre

da fundação parece levar

à

morte do univer

sa

l e à disso lução da s Juras sociais em mero

par

ticularismo. Essa é a oucra di mensão da l

óg

ica ernanciparória qu e

salicnrei

anteriormente:

se a

au

sência

de

uma

fundaç

ão

é

a condi-

Page 11: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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ção

da emancipação rad ical, o radicalismo

do

aro cm

ancip

ar6 rio

fundauo

r não

pode

< :r

concebi

do de o urra m

ane

ira sen ão co

mo

um

ato

de

fundamencação

.

Assin1, é co mo se. qua lquer

que

seja a di reção qu e tomar

mos

a emancipação se

torne

im possível. No encanro, lan ço uma

dúvida ames

de passarmos o ates t

ado

de

óbito. Pois,

embo

ra te

nham sido exp loradas as

conseq

uênci as lógicas que

segue

m de

cada um a das alrern:uivas separadamente,

ainda não

foi dito

nada sobre os dciros que poderiam derivar da

interação

social

dessas du as impossibilidad es simétricas. Consideremos a

ques

rão cuidadosamente.

A

emancipação

está

estritamente

vinculada ao destino do

univ

ersal. Quer a dimensão de fundação prevaleça,

quer

a

eman

cipação

venha

a ser um verdadeiro ato de fundação radical,

sua

p e r f o r m a n c ~

não

pode ser obra de qualquer agência social parti

culansta. VImos que estas duas dimensões -

fundação

e

abismo

r :o J ical - são realmente inco

mpatív

eis, mas ambas as alrernativas

requerem igualmente a prese

nça

do universal.

Sem

a

emeraência

do universal

no

terreno histórico, a

emanc

ipação seria i m p o ~ s í v e l

. No

pensamenro

teológico, como vimos, essa presença do

untversal era garantida pel a lógica da encarnação que

mediava

entre a

finitude particularisra

e a tarefa universal. E nas esca

r?logias

secularizadas

o universal tinha de

surgir sem qualquer

tipo

de mediação:

a "classe universal"

em

Marx pode re

alizar

seu

trabalho

emancipacório porque ela se wrnou precisamente,

pu:a essência humana que abandonou qualquer filiação parricu

la:tsra. Ora .a impossibilidade lógica

Li

lei ma, de um

abismo

que

sep verdadelfamente radical

ou

da dissolução da emancipação

l g u ~ ~

:ersão da "astúcia

da

razão", parece

destruir

a

pró

pna posstbdtdade

de

quaisquer

efeitos roralizances. Com isso, o

Lin.ico terr

eno

em

que

o universal p

oderia emerai 

a

totalidade

I o

soc

ta -

aparentemente

desapareceu.

Isso

significa

que

o

uni-

versal,

na

impossibilidade

da emancipação

como

seu

co rolário

I

j

I

necessário. nos de i

xa num mu

ndo

purament

e parricu lari sra, c rn

que os

arar

es sociais perst..:guem apenas

objt..:

rivos l

imirado

s? Um

instante de

rdlexão é

hasranre pa ra nos mos(J'ar que essa conclu

são não é adequada .

·' Panicularismo'' é um conc

eito

ess<.:ncialmenre relaciona :

algo

é

particul

ar

em relação a

ou

eras particular idades e o

conjunto

delas pressu

põe

uma

wra

l idadc soc ial

no

in terior

da

q ual elas são

constituídas. Assim, se a própria noção de wrali

dade

soc i

al

está

em questão, a de iden

tidad

es "

part

iculares" é igualmeme ameaça

da. A ca tegoria de wral idade cont inu a nos rondando pelos efeiws

que derivam de

sua

ausência.

Essa última colocação abre cam

inh

o para um a

fo

rma de

conceber a relação ent re parri

cu

larismo e universalisn:o

que di f

ere

canto da encarnação

de

um

no

ouuo quanto do cancela

memo

de

sua diferença e

que de

faro, cria a possibilidade

de

novos discursos

de liberação . Estes vão, certamente, além

da

emancipação, mas

são construídos por

meio

de

movimentos

que

ocorrem no

sist

ema

de alternativas gerado por aquela.

Consideremos

, para começar,

qualquer

antagonismo social-

por exemplo,

uma minoria

nacio

nal que é oprimida por um Estado auroritário.

Existe aqui um abismo enrre os dois, e já

sabemos que

há em rodos

s

abismos

uma ind

e

cidibilidade

básica

quanto

a

qual de seus dois lados a linha divisória pertence. Suponhamos

que

em

cerro

pomo as

outras

forças

antagonistas

- um a invasão

estrangeira, forças

econômicas

hostis etc. -

intervenham

. A mi

noria

nacional

verá

todas

como

am

eaças equivalentes co

ntra

sua

identidade própria.

Ora se

equivalência, isso significa

que

algo igualmente presente em

todas

as diferentíssimas forças an

tagônicas se expressa por meio delas. Esse

elemento

comum

no

entanto não pode ser algo positivo, porque do

pomo

de vista de

suas

características positivas concretas, cada

uma

dessas forças

diferem da outra.

Logo

rem de ser algo puramente negativo: a

ameaça que

cada

uma põe à identidade nacional.

Page 12: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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40 Ema ncop

.tc. í

o

,. 1 1 ~

.•

Co nclui-se que numa r c t . 1 ~ o i i o de c q u i v a l c n cada

um

dos

rermos c

quivaknrc

s funcion a

como um símbolo

da ncgar;

vidadc co mo tal , de cerra o ~ s i b i l i a d universal que pcnetra

a idemiclade em ques tão . Posw

em

outros termos: nu ma rdação

anragonísrica. aquilo qu é· funcion a co mo o polo negativo de c;na

id

e

ntidad

e é c

on

s

titutiv

a

mente

Ji

vi

dido. Todos

os

seus conteúdo

s

ex

pr

essam

uma

ne

garividadc : ~ 1 que

os

transc

e

nd

e .

Por

isso, o

polo "positivo"

ta

m

m n

ão

pode

ser reduzido

a seus

co

nteúdos

concretos:

se o que se

lhes opõe C:

a forma

univ

ersal da negarivi

dade

c

omo

ta

l,

esses conreüdos têm de expressar

por

m

eio de sua

r

elação

equivalencial a forma

uni

ve rsa 

de

plen iwde

ou

identi-

da

de

. N ão estamos lid a

nd

o

aqui

com a "neg

ação

de

terminad

a''

no sentido hcgcliano: enquanto esta

pro

cede

da ap

a rente posi

tividade do concreto e "circula" por meio de conteLklos semp re

de

termin

ados, nossa noção de negarividade

depende

do

fracasso

de constiruiç

ão

de

roda

de t

e

rminação

.

Essa divisão

constitutiva mo

stra a

em

ergência

do uni

ve rsal

no seio

do a r . Mas

mosrra

tamb

ém

que

a relação e

nt r

e

particularidade e universalidad e é

essenc

ialmenre

in

stável e

ind

e

cidível.

Que conreüdo panicular

iria

en

c

arnar

a universalidade

era

uma

decisão

de Deus nas

escarologias cristãs, e estava

conse-

qu enre,

inteirament

e fixado e predeterminado. C omo a univer-

salidade

aurorransparente

era

um

momenro

no alto desenvolvi

roe

mo

racional

da

particul

ar

idade, que ator particular ir ia abolir

sua distância

em

relação

ao

universal era algo igualmente ftxado

por determinações essenciais

na

visão hegelo-marxista

da

hi

stó

ria.

Todavia

se o universal res

ulta

de

uma

divisão c

onscitutiva

em

gue a negação de uma

identidad

e particular transforma esta no

símbolo

da

id

e

ntidade

e p l

enitude como

tais,

então remo

s

de con-

cluir que:

a) o universal

não tem

ne

nhum conteúdo próprio

mas

é uma

plen itude ausente

ou melhor o

sign

ificame

de

pleniwde

em

si, da

própria

ideia d e

pl

e

nitud

e; b) o universal

só pode

surcrir

do particular

, pois

apenas

a negação de

um conteúdo p rticul r

tran-Jo

 

a e s L ~ o : no ímhnlo de uma univcrsalida<.k que o trans

cende; , ) como . no cnonto o universal - romado

em

si mesmo

_é um ;;ignificante vazio.

ua comcú

do particular o simbolizará é

aluo

qu  .- pod

e ser cktr'

rminado por um

a análise do

particular

si nem

do u n i v e r ~ a l em

s

i.

A relação

entre

os

do

is

dep

end e

do

conrexro

do a n t a ~

e é, no es

trito scmido

do te

rmo

um a

0

e

ração hcgem

onicL

É

c

omo

se a

linh

a indecidível

que

separa os

p

d c . . d . l' .

doi s po los

da

dicotomia rivessc

expan

.

ido

seus ere1ros e_ tc

t v e ~ s

ao in terio r dos pr

óp

rios po los, à

pr

ópria relação

entre umversa

li-

dad e c particularidade.

C o nside

remo

s.

à

luz dessas

conclusões

o qu e aco

nt

ece c

om

as se is

dimensões da

no

ção de

e

mancipação

apresentadas no iní

cio. A dimensão

de

fun dação é incomp arível com a emancipação

c nos em aporias lógicas insuperáveis. Será que isso,

entre

tanto, significa

que

não

pode

mos manter mais qu aisquer ligações

com

a

noçã

o

de

"

funda

ç

ão

",

que

esta

tenha de

s

er meram

e

nt

e

aoandonada? Obviamenre

não, q

uand

o

meno

s porque desagrega

ção e panicu l

ar

ism o - que co nstituem a única alternativa possível

- press

upõem

e

ao mesmo

t

em p

o ne

gam

a

no

ção

de fundaç

ão.

É possível, no emamo faze r da

inter

ação dessas l

óg

icas

incompatíveis o lugar mesmo

de

certa produtividade política.

A

particularidad

e

tanw

nega

quanto requer totalidade

- isto. é,

fundação. Esses

movim

entos contraditórios se expressam naquilo

qu e rem

si

do

denominado

divisão

co

n

st

itutiva

de roda

identidade

concreta. A totalidade é impossível c ao mesmo tempo requisitada

pelo particular: nesse sent ido, es tá presente no particular co

mo

aquilo qu

e está ausente,

como uma constitutiva que

força

'

N. T.:

·'Falta" traduz, neste livro, o

termo

laca

niano e manque 

em inglês

lack.

O n:rmo "

f:'llta

tem origem na psicanálise la

ca

niana e

i n d i c ~

divi são fun_da-

mental que ao mesmo tempo possibilita a i d e n ~ i ~

c ~ ç ã o

do SLIJC tO _e t o r ~ a

possível de se torali

ur

de governar tOdo o rernw_no de sua

p ~ o p n a t ~ e n u d a d e .

Sua uriliz:tção chama a atenção para a simultaneadade de sentt_dos: o de

uma falha ou fissura geológica. o de um hiato entre a .'deaa de

t o ~ a l t ~ a d e

identidade) c suas "enc:

un a

ções" c

on

cretas e o de um vazto es rruwraJ (e tnrolera-

Page 13: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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42 Emancip,u;5o < di krenv

co

nsranremcnt < : parricular ,t se r mais d o

que

ele mesmo, a as

s

umir um

papel un iver

sa que s Í

pode ser precário e não

sutura

do . F por isso que: podem.os ter

uma

po lírica democrát ica:

uma

sucessão

de

i d e n r

< : : ~

fin itas e particulares que

renram

assumir

tare fas unive rsais que as ultrapassam,

ma

s

que,

em

de

corrência,

nun

ca são capazes

de

ocultar

inn.:iramen

te

a distância

emre

rarefa

e

idenridadc

- e podem se

mpre

ser s

ub

s

tituíd

as

por

g

rupos

ahe

r

nativ

os.

ln

complerude e proviso riedade pe

rt

encem

à

essência

da

d<.:mocracia.

Não

é preciso

dizer que

a dimensão holística move-se na

mesma

linha

que

a

dimensão

de

fundação:

as

duas

são, de faro,

a mesma

dimen

são, visca

de

ân g

ulo

s diferenres. Quanto à di me

n

são racional ista, devemos leva r em conra

que

a

virad

a sec ula rista

da

moclemidade envolveu ramo a afirmação

de que

o sentido

da

história não deve se r enco

ntrado

fora

da

história mesma, de

que

n

ão

h á

nenhum

po

der sobrenatura

l

operando como origem

últi

ma d e rud?.

que

existe, q u

anto

a

afirmação, muiro

dife

reme, de

qu

e essa sucessão p

ur

amente mundana

de

eventos é

um

processo

in t

eiramente

racional,

qu

e os seres

humanos

são capazes

de do

minar imelec

tualm

e

me.

Assim, a raz

ão

reoc

upa

o

terreno que

o

cristianismo

havia

atribuído a

Deus

. Mas o eclipse

da

f

un dação

priva a razão

de sua

capacidade total izante, e apenas a primeira afirmação (ou ames

compromisso) - o caráter

inrramundano

de roda explicação - se

m a

ntém.

A razão é necessária, mas

também

impo

ssível. A presen

ça

de

sua ausência se

mostra

naquelas várias tentativas

de

racio

nalizar o mundo levadas a

cabo

por agentes sociais finiros.

Preca

rie

dade

e fracasso

em último

re

cu

rso (se persiscirmos em m e

dir

o

su

cesso

por meio

de um

velho

padrão racionalista) são certamente

o

destino

dessas tentativas, mas por mei o desse fracasso ganhamos

vel) que precisa

ser pr

eenchido por

al

gum princípio ou co

nteúd

o de[Crminado.

t

imponam

e m:tn[Cr-sc essa múhipla referência sempre em mente.

r

I

. lv

1

~ n . : c do <.1UC: a L c'rrcza

que

m o s p

er

dc:n-

a g:o t.l ç · • , ·• _ _ . . _

d

\.tb ·rd -.J·- \ l  v i ~

1)

di

h::n.:nr<.:S

rormas

de

tdemthcaçau,

o: cena t.: ,, ' • • . ,

i

mpo

tc:nres para

nos prender

nas redes de

logtcl ma pelavd

.

0 mesmo

se

aplica à

dimen

s:io

de

rransparen c

ta: p l ~ n s ~ : n

rabilidade não es   i mais lá co

mo

p o s s i b i l i ~ a d e mas tsso não

que

r

d izer que sua n

ec

e

:.s idad

e Lenha s ido erradJCada .. . .

Esse

ab

i

smo inrran

spo nível e

nt r

e posstbiltdade

e e c e s ~ t -

dade leva direramenre ao

que

N ietzschc.: chamou de

''g

uerra

de

· eraço-es Se seres flniros e limi tados tentam co nh ecer o

10rerpr ·

mundo

e rorná- lo rrans

par

enre a si

me

smos, é

impos

sível

que

essa

I

. ·tacão e Ftnirude

não

se jam

transmitidas

aos

producos de

sua

tml ' d .

atividade íntelecmal. Nesse s

enrido,

o aba

ndon

o a asptraçao a

conhecimento abso

lu ro

rem

efeiros

esrimulanre

s: po r

um d d .

lado, os seres hu man os

podem

se reconhecer

como

ver a etros

·adores e n

ão

mais c

omo

recipienres

pa

ssivos

de

uma estrutura

cn d

predeterminada;

por

o

utro

, c

omo

o_s agentes soc_ia is e

re

conhecer sua

flnitude con creta,

nm

guem po de asptrar a ser a

v e r d a d e i r a ~ o n s c i do mundo.

Isso

ab

re

caminho para uma

int

eraç

ão

sem-Ftm

enrre

várias perspectivas e

rorna

ainda

mais dis-

tant

e a poss

ibilidade de

qualquer

sonho

to ralirário. , .

Que dizer daqueles aspeccos

que

são incompanvets com a

dimensão

de

fundação e dos

que dependem

dela? Como remos

visro, a

dimen

são dicotômica

pre

ssu

põe

a l

oca

lização

estrutural

de uma funda

ção e,

ao

mesmo

tempo

, a rorna

disp

ensável.

esse lucrar no nível d e um

fund

am ento d o social se o

ab

ismo que

a dic

ocomi

a for radical do

ponro de

vista d e sua lo  li-

z ção

;

mas a

operação que

a

di

c

otomi

a real i

za

- a

sep r çã

o

enrr

e

e

mancipaç

ão e um passado totalmente alheio - é

incompatível

com a noção de uma locali

zação

estrumral.

Ora, como

no caso das ouuas dimensões, algumas conse-

quências positivas resultam desse

duplo

m o v i m ~ n t

de

u t o p o

s

icionamento

e retirada d o

fundam

e

nto.

O maiS

Importante

e

que

, se, p

or

um

lado,

nenhuma

dicotomia

é

absolut

a,

não po

d e

Page 14: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

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44

haver

nenhum aro

Fu

nd ação in r

c iramcnte r . - o l u c

se

.

po r

ourro, t:'>Sa

dico romi7.ação não

resulta

dt:

uma

n ç ã o da

al c

erid

ade ra

dica l.

mas .

ao conr rú io, da

p r

óp

ria

imposs

i

bi

li

dade

de

su

a w ra l e

rrad

ic

ação,

enr

5o

: : ~ s p

arc

iais e p

recá

rias

m de ser

co

n

st

i

ruti

vas d o

tecido socia

Essa

precariedade

e

in

co

mpl

e

rud

e d as Ír

om

e iras

qu

e c

on

s ciru

c :

m a

di

visão

soc

ia l es tão

n a ra iz da possibilidade contempo râ nea de um,t au tono rnização

das Iucas s

oc

iais - os c ha m ados no

vos

m

ov

im encos socia is - . em

vez de s ubo rdiná-l as a

um

a

fronteir

a un a qu e

se r

ia a ún i ca fo nte

de divisão s

ocial.

Fin a lmente, a preexistência

: : ~

idemi da d e a se r

e ma nc

ipada

vis -à-vis as forças

op r

ess

iva

s também é

subvertida

e s

ubmetid

a

ao

m

es m

o m

ov

im e

nt

o contra

di t

ó rio q

ue as ou

t ras

dimensões e

xp

e

rimentam. Em discur

sos

clá

ss icos, as

id

e

nridad

es

e ma nc

ipad

as tinham d e

pr eex

isrir ao a ro de   n c i p ç ã o e m

decorr

ênci a de s

ua alt

e

rid

a

de

ra

di ca

l vis-à-vis

as

fo

rças qu

e

se

lhes

opunham. Ora,

é

verdad

e

que

is

so

é

inevir

;ivel

em qualquer

luta antago

nísti

ca ; m as

se,

ao mesmo te mp o, a dico

ro

mi z

ão

não for radical - cori'ro acabamos d e ver qu e não po de ser - a

identidade

da

s

força

s op r

es

sivas

te r

á de es

tar

de alguma

forma

inscrita na

identidade

em

busca de em a

ncip

ação. E

ssa

sit u

aç ã

o

contraditória

é

e

xpre

ssa na in dec

idibilidade

entre a inrernalidade

e a ex te

rnalidad

e do

opre

ss

or

em

relaçã

o ao o

primido: se

r o pri

mido é

parte

de minha id

e

ntidade como um

s

ujeito lutando por

e

ma n

c

ipaç

ã

o.

Sem a

pr ese nça do

opressor,

minha identidad

e

se

ria diferent

e.

Sua con

s tituição

requ

er e s

im u

l

ta n

eamente reje

ita

a

pres

e

nça

do

outro.

As

Iucas sociais

co

nt empo rân eas estão po ndo em p rim e iro

p lano esse movimento contraditório que os

discursos

emancipa

tórios ranco das escatologias religiosas

quanto das

modernas secu

larizadas

haviam

ocultado e

reprimido.

Es

tamos hoje

admitindo

nossa

própria finitude e as possibilidades

políticas

que

ela

enseja .

Este

é o ponto em

que

os

dis

c

urso

s po te

ncialment

e libe

ra

tórios de nossa

e

ra pós-moderna

têm de ser inici

ados. Podemos

I

>

t

Jl

. l lh .lp.H,.IO ••

lth.

d.td<: - 5

raho

d izn que h o j ~ : l l l l O nu Fim

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lb

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d<.:?

S.:,, lib

t:r

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:ltk <

.tuwdc:r<.:rmutac:lo

..-rn cJtt<.:

>c:nndo sc:na d 1f.:re nce d.:tqueb

posw

l.ub

pd.1

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~ : n t . ; t l l

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m.t

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lenitud

e positiva

e

s

em c ~ : s ma

s

.

tlgo c:ssc:rlcialnh.:mc·

.1mh1guo.

P.tr.l

deixar i s ~ o

hem

clar

o. reprodu

zo

1

üh ima

p ~ : r g u

(ju

ntamente

co

u1

min

kt r ~ : , ; p o , t : t ) qu

e David H

owa

rch c

Alc tta

N

orva

l

m<.:

flzer.un n

uma

n c r e v i rccentc para a

r e v i

/ lnge

ln

ki

( N

e

go ri

ming t

he

pa

r.ldoxe > of contcmporary

politics.

An i n c c : r v i ~ : w with

ErnestO

La

cbu .

Angelaki

Ox fo rd , 1994. I : 3.

pp

. tí5   i0 ) :

O

.li.

c 1\.N.: Em seu rr:to

 1 lho.

a caregori

 1 d e s l o : ~ m c n w

r

em assumido um

papel

~ d : 1 ' '{ 1 ma

is cc

nr ra l.

l

s<>o

ocorn.:

~ c i a e n t c em re

lação à sua a firm aç

ão

de

que

'o <ksl

ocamento C

a

~ > n t c

b

li

ber

dade'.

V:irias questões s

urgem

aqui

so

bre a

rdação cm

re

dc

slocamcnco

..

liberd:tde. c sobre: a n

atu

reza

da próp

ria libcrdade.

Nossa princi

pa

l

pr

eoc

up

aç:io

é

com .1

nar ur

e·w

do

mov

im

entO do dcslocame

nr

o

à ' liberdade'. Como devcm

os entender .1 nawrcza d ~ : s s a a d e ~

Você se d is

tancia

muito

clarame

nt

e

de

o

mr as

ab

ord

ag

c.:n

s q

ue t:

nfarizam a ' l

ib

erdade

de um

sujeitO dor;.•do

de

idenrid.ldt·

po

siriva'

fvew

n : J l ~ c t i o n s

on rhe

revolwion o ou r

rime V ~ : r s o 1990, p. 60 , .t rgum<.:nrando que a

li berdad

e a

qui s<.:

refc.:re a uma

'f:tlha ~ : s r r u w r

A<>

sim .

,,

liberdade n:io possui contd1do positivo, mas

é

um a

'm

era possibilidade'. Co ntudo, vista d e ~ d t . : a p e r ~ p e c t i v a do desl

ocamento. não

h:í

Ji

bc.:

nladt:

algum

a aqui. A 11lha da esr nuura <.:nt con sriruir plename

nt

e o sujeiro

forç.1 o sujei

to

a ser s

ujciw.

a romJr um.1 decisão, a agir, a se id

emificar de

no vo.

Nós

temos

qu

e respon

der

.

não somos

livres. Parece,

po

rranc

o, qu

e a relação des

l

ocarn

en rollib

er

dade poderia ser

ma is pro du

tiv

amen t

e pens

ad

a e

nf

a

tiza ndo

-se

t:tnro a

di

m

ensão da

possibilidade quanro a

de

sua

impossib

ilid

ade.

Q uer

diz

e

r,

<

fll vc·t de sim plesme

nt

e rc.:r liberda

de

para agir, escolher,

num

senrido sarrreano,

o

momento da

liberdade e

da

possibilidade

é

simultaneamente o

mo

me

nto de

minha maior res

tr

ição; da

o

li

berdade. Levar

em

c

onta

es

ta última dimensã

o

po

de

ri

a - para

vo

ltar à nossa s

itu

ação

co ntempo

rân

e a -

aju

da

r a fazer se

ntido

da

cxperic;ncia

de

desloca m

ento como

n

ão

sen

do ipso

focro

al

go

positivo e d igno

de

cc

l<.:bração

. Em

ou r

ras pal

av ra

s, v

oe.::

c o n c o : : ~ r qu

e e

nf

à rizar o rerror e a força

no

; \ r n a

da libcr

dade

t

em que

ser parte

de

no

ssa

própria

abo

r

dagem

das

po

ssi

bilidades

que

se orig

inam num

deslocame

nto profundo?

E.L:

Eu

não

pode

ri a estar mai s

de

acordo com sua conclusão. Co mo vocês con

vincen

te

mente ressaltam , a e

xp

eriência do deslocamento não é

ipso foc

to 'algo

positivo e

di

g

no

de celebração'.

Ma

s isso também significa que, se a libe

rdad

e e

o deslocam ento est

ão

relacio

nados da

forma como sugeri - o qu e vocês parecem

aceitar - , en do a

própri

a experiência

da

liberdade

é ambígua.

Por essa razão,

emb ora como cu disse, eu con

corde

com sua co nclusão, n

ão

posso os seg

uir

nas

eta

pa

s inte

rm

ediárias de sua argumentação,

qu

ando vocês

afirm

am que, por

q

ue

a fa lha da es

trutura

'fo rça o suj eito a s er sujeito' ,

quan do

so

mos fo

ad

os a

Page 15: LACLAU Da Emancipação a Liberdade

7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade

http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 15/15

responder, não

so

mos livres. Se ass

im

o fora. cerramence estaríamos no

mdhor

dos

mund

os possíveis: o v ilão da história seria o 'dcsl

oc

amcnro

',

e

nquant

o a '

li

berdade', c

omo

tota l ausé:l;c ia de limiraçâo. pode ria ser manrida como um valor

positivo

inconraminado. Mas, com o vocês

mc:

smos rec

onhe

cem, e

ss

a solução im

pecáv

el

é

impossível : a liberdade é o deslocarnenro não podc.:m ser separados dessa

maneira. Por um lado, uma liberdade a que o deslo

ca

mento não força a

es

colher

não seria minha liberdade, mas a libcrdade

da

estr u tura

que.:

me construiu como

suje

itO.

Por outro. urna liberdade que é minha liberdade, q ue evita os defeiros

tanto da liberdade espinosiana, reduzida à consciênc ia

da

necessidade, quamo

da liberdade sanreana, de escolher sem ter fundarnencos para fazê-lo. só pode ser

a liberdade de

uma

f llha

es

tru tural - isco é, um d

es

locamc.:nro. Mas, neste caso,

a ambiguidade do des locamento (o que vocês chamam de 'o terror e a força no

âmago da liberdade') conramina a própria liberdade. A liberdade é cão liberra

dora quanco escravizance, revigorante e traumática, capacitadora e desrrur iva.

Nu ma sociedade fra

gm

entada e heterogênea, os espaços da liberdade certamen

te aumentam. M as esse não é um fenômeno uniformc::mente pos itivo, porque

também instala naqueles espaços a ambiguidade da liberdade. Como resultado,

surge a possibilidade de tentativas mais radicais de renunciar à liberdade do que

aquelas

que con

hecemos do passado. e a lib

er

dade

e

o des loca

ment

o cam inh

am

juncos, é no terr

eno

de

uma

liberdade generalizada

que

experiências

co

mo as do

cocalicarismo contemporâneo tornam-se possíveis. Se

é

assim,

is

so s ignifica que

a busca por uma liberdade absolura para o sujeito é o m esmo que uma busca

por um deslocamento irrest rito e a total desintegração do tecido social. Também

significa

que

uma sociedade democrática que se

torn

ou uma ordem social viável

não será uma sociedade inteiramente livre, mas uma que negociou de maneira

específica a dualidade liberdade/niio liberdade.

J

I

I

j

I

j

I

n

versalismo  particularismo e a

questão da identidade·

Mu im se fala hoje sobre idenridades sociais, nacionais e po-

líricas. A morre do sujeita , que, não faz muiw temp o , foi o rgu

lhosamente

anunc

iada urbi et orbi

foi

sucedida por um novo e di

fundido interesse nas múltiplas identidades que es tão emergindo

e proliferando no

mund

o conremporâneo. E

ss

es

do

is mov

imentos

não

es

tão, enrrera

nw

, em cão

mar

cado e

dramátic

o contraste entre

si como somos tenta4:>s a crer à primeira vista. T alve1. a morre

do

Sujeito (com S maiúsculo) tenha sido a principal precondição

para esse renovado inreresse na

questão da subjetividade. Talvez

seja a própria impossibilidade de se remeterem as expressões co n

cretas e finitas de uma subjetividade multifacética a um centro

uan

scendenre que permita concentrarmos nossa atenção sobre a

multiplicidade em si. Os gestas fundantes dos anos 1960 ainda

estão conosco, possibilitando as explorações teóricas e políticas

nas quais nos enga

jamos

hoje.

Se, no enca

nt o

, surgiu esse hi

atO

temporal e

mr

e o que se

havia coroado teoricamente concebível e o que efetivamente se

conseguiu, foi porque uma segunda e mais sutil tentação cercou o

Traduzido por Joanildo A. Burity (Durham Unive rsiry). Texto r i g i n l m e r ~ t e

blicado em Ernesto Laclau. Universalismo, parricularismo c a questão da rdenn ·

dade . Revisra Novos Rumos São Paulo, 1993, ano 8, n. 21. Revisto pelo tradutOr

especialmente para esta edição.