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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA
Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na
perspectiva da surdez
CURRAIS NOVOS/RN
2017
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GEILZA MOREIRA DE ARAÚJO
Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na
perspectiva da surdez
Artigo apresentado ao curso de Pedagogia à distância como requisito para obtenção de nota no Trabalho de Conclusão de Curso, sob a orientação da professora Dra Katiene Symone de Brito Pessoa da Silva.
CURRAIS NOVOS/RN
2017
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GEILZA MOREIRA DE ARAÚJO
Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na
perspectiva da surdez
Artigo apresentado ao curso de Pedagogia à distância como requisito para obtenção de nota no Trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia.
______________________________________________________________
Profª Dra Katiene Symone de Brito Pessoa da Silva - Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
______________________________________________________________
Profª Dra Vanessa Gosson Gadelha de Freitas Fortes - Examinador Externo
Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN
______________________________________________________________
Profª Ms. Maria Karolina de Macedo Silva - Examinador Externo
Secretaria Municipal de Educação de Natal - SME
CURRAIS NOVOS/RN
2017
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Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na
perspectiva da surdez
Geilza Moreira de Araújo - UFRN [email protected]
Resumo
Este artigo tem por finalidade apresentar a pesquisa “Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na perspectiva da surdez”, que objetivou investigar como funciona o atendimento especializado para pessoas com surdez numa escola da rede estadual de ensino regular. Essetrabalho fundamentou-se em documentos, decretos e leis que regem esse tipo de atendimento dentro do território brasileiro, fundamentando-se ainda nos estudos de autores, como Bovolon e Dutra (2011); Damázio (2007); Góes e Campos (2014); Nunes (2013) e Mendes (2010). Diante disso, essa investigação se trata de uma pesquisa qualitativa, cujo caminho metodológico adotado diz respeito a um estudo de caso. Ao final desse estudo, compreendeu-se que para promover uma educação de qualidade para todos, com base no paradigma da Educação Inclusiva, os profissionais que atuam na área educacional precisam assumir o compromisso de garantir o acesso e a permanência dos alunos que necessitam de Atendimento Educacional Especializado, visto que esse grupo de estudantes foi, historicamente, os mais prejudicados pelos sistemas de educação excludentes. Palavras-chave: Educação Inclusiva; Atendimento Educacional Especializado; Surdez.
mailto:[email protected]
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INTRODUÇÃO
A Educação Especial por muito tempo se organizou em paralelo à educação
comum, por acreditar que o atendimento para pessoas com algum tipo de deficiência
seria mais adequado se acontecesse dessa maneira. Essa perspectiva dualista,
apesar de ter exercido impacto duradouro na trajetória histórica da Educação
Especial, também foi um dos motivos pelos quais as pessoas, influenciadas por
vários movimentos sociais, lutaram para que ocorressem transformações
significativas nas estruturas do sistema educacional com o intuito de garantir a
igualdade de direitos.
Nesse sentido, vários estudos foram desenvolvidos na área da educação e
dos direitos humanos visando modificar os conceitos, as legislações e as práticas
educacionais, demostrando claramente o desejo de se reestruturar o sistema de
ensino nas escolas regulares. Nesse contexto, a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, publicada em 2008, vem
acompanhando os avanços do conhecimento e das lutas sociais, objetivando
contribuir para a consolidação das políticas públicas, de modo a promover educação
de qualidade para todos.
Diante disso, compreende-se que promover uma Educação Inclusiva de
qualidade para todos exige esforços e precisa acontecer como garantia de
oportunidades para todos os alunos matriculados na rede de ensino regular. Nesse
sentido, o Atendimento Educacional Especializado, em conformidade com as
Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica (2009), vem contribuindo para a identificação, elaboração e organização dos
recursos pedagógicos e de acessibilidade, eliminando as barreiras que impedem a
plena participação dos alunos com necessidades específicas.
Assim, o Atendimento Educacional Especializado para alunos com surdez,
deve contemplar a modalidade oral e escrita, bem como a Língua de Sinais. Para
isso, os profissionais que atuam nessa área precisam possuir “conhecimentos
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, e da Língua Portuguesa na
modalidade escrita como segunda língua [...]”. (BRASIL, 2008. MEC/SEESP).
Nessa perspectiva, este artigo tem por finalidade apresentar a pesquisa
“Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado na perspectiva da
surdez”, que objetivou investigar como funciona o Atendimento Educacional
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Especializado para pessoas com surdez numa escola da rede estadual de ensino
regular, localizada na zona leste da cidade de Santa Cruz/RN.
Assim, essa investigação se trata de uma pesquisa qualitativa, cujo caminho
metodológico adotado diz respeito a um estudo de caso, com fundamentos em
documentos, decretos, leis e estudos de autores, como Bovolon e Dutra (2011),
Damázio (2007), Góes e Campos (2014), Nunes (2013) e Mendes (2010).
Diante disso, para levantar dados e informações foi realizado - observações
do atendimento especializado para o aluno com surdez; leitura e análise de
documentos oficiais da instituição e dos planos de aula da pessoa especializada em
Libras; aplicação de um questionário constituído de perguntas abertas, direcionado
ao profissional que realiza o Atendimento Educacional Especializado na perspectiva
da surdez.
ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
A priori, será realizado um breve percurso pela história da Educação Especial,
observando as diferentes concepções acerca da deficiência nos diferentes contextos
histórico-sociais. A deficiência, ao longo do tempo, esteve intimamente ligada às
transformações que ocorreram no âmbito social, político, religioso e econômico da
sociedade. Conforme destaca Nunes (2013, p.42), as pessoas com deficiência eram
vistas na Antiguidade:
[...] como “seres sobrenaturais” e receberam status de pessoa, “criatura de Deus” no decorrer da Idade Média; adentraram a Idade Moderna como “suplicantes”, que dependiam da caridade humana para sobreviver em instituições segregadas; [...] na contemporaneidade, ganharam, paulatinamente, a notoriedade de cidadãos educáveis, quando o Estado ratificou a necessidade do atendimento especializado em instituições. [...] os movimentos sociais de Direitos Humanos, aliado aos altos custos de uma educação paralela, fizeram com que a pessoa deficiente se tornasse, na atualidade, “um cidadão com direito à Educação”.
No Brasil, no Período Colonial, com a economia fundamentalmente agrária e
escravocrata, a educação era privilégio da classe dominante. Nesse contexto, os
deficientes encontravam-se misturados com a população não escolarizada, sendo
enviados para hospitais, cadeias ou asilos quando não conseguiam se adaptar a
sociedade e ao seu extenso conjunto de normas sociais.
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Nessa perspectiva, poucas instituições especiais, voltadas a educação e ao
atendimento de pessoas com deficiência, foram criadas. Contudo, merece destaque,
a criação de duas instituições especializadas no atendimento de cegos e surdos, a
saber: “o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin
Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto
Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro.”(BRASIL,
2008. MEC/SEESP).
No início do século XX, segundo Nunes (2013), surgiu à necessidade de
identificação e tratamento para as pessoas com deficiência, sendo os médicos os
principais responsáveis por identificar e tratar esses indivíduos. Nesse processo,
também foram eles que perceberam a importância da Pedagogia, por isso
coordenaram esses serviços auxiliados pelos pedagogos.
Essa nova perspectiva se torna evidente através da criação de instituições
escolares atreladas a hospitais psiquiátricos, a exemplo disso, destacamos “a
ofertade serviços pedagógicos para crianças com deficiência intelectual, no Hospício
da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em 1905 e, no Hospício de Juqueri, em São
Paulo, por volta de 1920.” (op. cit., p.51).
Esse interesse dos médicos pelas pessoas com deficiência se tornou ainda
mais evidente, depois de ter sido criado os serviços que deram origem à inspeção
“médico-escolar e à preocupação com a identificação e educação dos estados
anormais de inteligência.” (MENDES, 2010, p. 95).
Em 1960, os movimentos sociais pelos direitos humanos, de forma mais
intensa, alertavam a sociedade sobre a importância de não segregar e marginalizar
os grupos de minorias. São nesses grupos que se encontravam inseridas as
pessoas com deficiência, os quais eram educados, de forma muito precária, nos
sistemas segregados de ensino que funcionavam em paralelo às escolas regulares.
Esse episódio do sistema educacional ficou denominado como o paradigma da
segregação na Educação Especial. (MENDES, 2006 apud NUNES, 2013).
Durante as décadas de 1970 e 1980, movido pelos movimentos sociais de
direitos humanos, surge o paradigma da integração. Nessa perspectiva, para ocorrer
integração o aluno com deficiência devia desenvolver “habilidades específicas, para
poder coabitar com seus pares [...] Em última instância, o educando deve adaptar-se
à escola, que permanece inalterada.” (NUNES, 2013, p.55). Dessa forma, fica
evidente que esse modelo mais excluía que integrava.
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Nesse contexto, mais precisamente na década de 1990, foi instaurado, no
Brasil, o paradigma da inclusão. Nesse modelo de educação, conforme Nunes
(2013), o ambiente educacional necessitaria atender às demandas de uma
sociedade heterogênea. Assim, ao invés do aluno se adaptar a escola, a escola é
quem deveria se adaptar ao aluno. Diante do exposto, na concepção da Educação
Inclusiva, a escola regular é quem deve se modicar, a fim de melhor atender as
necessidades e demandas do aluno que apresenta deficiência.
Diante disso, vários estudos na área da educação e dos direitos humanos têm
provocado mudanças nos conceitos, na legislação e nas práticas educacionais, além
de discutir sobre a necessidade de reestruturação das escolas de ensino regular e
especial, no sentido de promover transformações e assegurar o acesso e a
permanência de todos na escola. Nesse sentido, é pertinente lembrar a importância
da Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e da Declaração de
Salamanca (1994), por terem influenciado a formulação de políticas públicas no
âmbito da Educação Inclusiva, tendo a última proclamado “que as escolas comuns
representam o meio mais eficaz para combater as atitudes discriminatórias [...]”
(BRASIL, 2008. MEC/SEESP).
História dos surdos e da língua dos sinais
Nesse viés de importantes reflexões, mudanças e conquistas a respeito das
práticas educacionais no campo da Educação Especial/Inclusiva, faz-se necessário
adentrar, de forma mais específica, na história dos surdos e da Língua de Sinais
que, segundo Strobel(2009 apud GÓES; CAMPOS, 2014), partiram das diferentes
concepções a respeito dessa língua e dos surdos, em diferentes contextos histórico-
sociais. Para se ter ideia, na Antiguidade, os surdos eram abandonados ou
eliminados fisicamente da sociedade. Na Idade Média, os surdos eram proibidos de
receber a comunhão por não terem condições de confessar os seus pecados. Na
Modernidade, havia quem defendesse que o melhor método para o surdo
desenvolver a aprendizagem seria por meio da escrita e o uso de sinais.
Na Europa, mais precisamente na Espanha, conforme Strobel(2009 apud
GÓES; CAMPOS, 2014), Pedro Leon, com o intuito de educar os surdos
desenvolveu o método da datilologia, escrita e oralização, sendo responsável
também pela criação de uma escola para professores surdos. Em 1778, na
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Alemanha, foi fundada a primeira escola de oralismo, esse método se colocava
contra a utilização da Língua de Sinais. No século XVIII, o educador abade Charles
Michel de L’Épée, conhecido como pai dos surdos, fundou 21 escolas espalhadas na
França e em outros países europeus. Além disso, criou os sinais metódicos, que
reunia a Língua de Sinais utilizada pelos surdos, com alguns sinais criados por ele
mesmo. Segundo o educador esse método facilitaria para os surdos o ensino do
francês escrito.
No Brasil, ainda de acordo com Strobel(2009 apud GÓES; CAMPOS, 2014),
sobre influência do professor surdo HernestHuet e com o apoio do imperador Don
Pedro II, foi fundado em 1857, no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional da Educação
dos Surdos – INES. Nesse cenário, a Libras de origem francesa foi se constituindo
no território brasileiro, ainda que sobre influência portuguesa. Nesse sentido, vale
ressaltar a influência que o INES sofreu do II Congresso Internacional de Surdos –
Mudez, realizado em 1880, em Milão, Itália.
Nesse congresso professores ouvintes votaram pelo uso do método oral, por
acreditar que esse modelo seria mais adequado para educação dos surdos. Nesse
processo, os professores surdos não tiveram o direito de votar, sendo excluídos do
congresso. A partir disso, foi oficialmente proibida, no mundo e no Brasil, à utilização
da Língua de Sinais.
Diante do exposto, percebe-se que a trajetória histórica do surdo e da Língua
de Sinais foi marcada por muitas lutas, principalmente, pelo direito linguístico dos
surdos ao uso dela. Apesar disso, em algumas circunstâncias, ocorreram
retrocessos significativos que retardaram tanto a conquista de direitos básicos -
importantes à vida da comunidade surda - quanto o reconhecimento da Língua de
Sinais como meio de expressão e comunicação das pessoas surdas.
Contudo, apesar desse percurso histórico ter sido marcado por vários
episódios ora bons, ora nem tanto, vale destacar a conquista da comunidade surda
no Brasil, quando a sua língua materna foi reconhecida como meio de comunicação
e expressão dos surdos, através da Lei n°10.436, de 24 de abril de 2002, sendo
depois regulamentada pelo Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que por
sua vez “trata com maior profundidade da educação de surdos em todos os níveis
de ensino e da formação de professores bilíngues, instrutores surdos e intérpretes
de LIBRAS.” (GÓES; CAMPOS, 2014, p. 70).
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Além disso, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (2008) vem procurando acompanhar os avanços na área do
conhecimento e das lutas sociais, organizando as políticas públicas no sentido de
propiciar educação de qualidade para todo aquele que estuda, orientando os
sistemas de ensino a promoverem respostas às necessidades educacionais, os
quais devem garantir aos alunos com deficiência transversalidade da Educação
Especial desde a Educação Infantil até a Educação Superior, Atendimento
Educacional Especializado e entre outras garantias, possibilitando acesso,
participação e aprendizagem aos “estudantes com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares [...]”
(BRASIL, 2008. MEC/SEESP).
DEFICIÊNCIA AUDITIVA/SURDEZ
Antes de discorrer sobre a deficiência auditiva/surdez faz-se necessário
caracterizar a diferença que há entre deficiência auditiva e surdez. Segundo Bovolon
e Dutra (2011, p. 895) “existem a comunidade dos que possuem surdez total e dos
que possuem algum resíduo de audição [...]”. Conforme esses autores, para a
primeira comunidade, os verdadeiros deficientes auditivos são aqueles que
apresentam algum resquício de audição, geralmente, utilizam o português como
língua materna. Por outro lado, os indivíduos que nada escutam, apresentam surdez
total, isto é, são incapazes de ouvir qualquer ruído sonoro, geralmente, utilizam a
Libras como língua materna e principal veículo de comunicação.
Nesse sentido, a deficiência auditiva pode ser definida, segundo Nunes
(2013), como uma diminuição da percepção normal dos sons, devendo ser
compreendida dentro de um continuum, onde numa extremidade se encontra a
audição normal, na outra a incapacidade de se perceber os sons, assim, a surdez se
classifica em cinco tipos, a saber: surdez - leve, moderada, acentuada, severa e
profunda.
Diante disso, é importante ressaltar que são vários os motivos que podem
levar a deficiência auditiva/surdez, dentre os quais se destacam as causas
relacionadas aos “Pré-natais (fatores genéticos e doenças adquiridas pelas mães);
peri-natais (provocado por parto prematuro, anóxia cerebral e trauma de parto); pós-
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natais (doenças adquiridas ao longo da vida como, caxumba e meningite).”
(BOVOLON; DUTRA, 2011, p. 897).
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
Para avançar no conhecimento sobre Atendimento Educacional Especializado
na perspectiva da surdez é preciso compreender as tendências de educação escolar
para pessoas com surdez. Nesse sentido, segundo Damázio (2007), há três
tendências educacionais, são elas, a oralista, a comunicação total e a abordagem
por meio do bilinguismo. As instituições de ensino pautadas no oralismo, buscam
capacitar pessoas com surdez, de modo que elas utilizem, como única possibilidade
linguística, a língua da comunidade ouvinte na modalidade oral, desenvolvendo o
uso da voz e da leitura labial no convívio social.
Por outro lado, conforme o autor citado acima, os estabelecimentos de ensino
que adotam a comunicação total, consideram as características da pessoa com
surdez, desse modo, utilizam todo e qualquer recurso que promova comunicação.
Todavia, características da comunicação total como a linguagem gestual visual, os
textos orais, os textos escritos e as interações sociais, não possibilitaram
desenvolvimento satisfatório, frente aos desafios da vida dos alunos com surdez,
que continuam segregados e excluídos no contexto ao qual pertencem.
Já a abordagem educacional por meio do bilinguismo, segundo
Damázio(2007), busca capacitar o indivíduo com surdez para o uso da Língua de
Sinais e da língua da comunidade ouvinte no convívio social. Inclusive, essa
abordagem vem vigorando após o Decreto n° 5.626/2005, que passou a
regulamentar a Lei n° 10.436/2002. Nesse sentido, esse decreto vem prevendo a
organização de turmas bilíngues, as quais podem ser constituídas tanto por alunos
com surdez, quanto por alunos ouvintes, permitindo que a Libras e a Língua
Portuguesa possam ser utilizadas no mesmo ambiente educacional.
Para isso, a Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva, deve
passar a integrar a proposta pedagógica da escola regular, visando promover
atendimento às pessoas com deficiência ou com outras necessidades específicas,
atuando “de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento
desses estudantes.” (BRASIL, 2008. MEC/SEESP).
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Diante disso, o Atendimento Educacional Especializado, em conformidade
com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (2008), é um serviço da Educação Especial, cuja função identifica, elabora
e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, eliminando as barreiras que
impedem a plena participação dos alunos com necessidades específicas,
complementando e/ou suplementando a formação desses alunos, a fim de
proporcionar autonomia dentro e fora do espaço escolar.
Nesse sentido, o Atendimento Educacional Especializado destinado às
pessoas com surdez é reconhecido e amparado por dispositivos legais, que
determinam e garantem a essas pessoas o direito de receberem, em todos os níveis
do ensino, uma educação bilíngue, visando proporcionar desenvolvimento e
aprendizagens em todo processo educativo.
Conforme as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica - (2009), o Atendimento Educacional
Especializado deve se realizar, prioritariamente, numa sala de recursos
multifuncionais em horário oposto as aulas da escola comum. Dessa maneira, cabe
ao professor que atua no Atendimento Educacional Especializado identificar,
elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos de acessibilidade e
estratégias, considerando as necessidades específicas dos alunos, executando seus
planos de aula de modo articulado com os outros professores do ensino regular,
visando promover a participação desses alunos nas atividades escolares.
Em consonância com as orientações preconizadas nas Diretrizes
Operacionais, Damázio (2007) afirma, que o trabalho pedagógico para alunos com
surdez deve se desenvolver num espaço que utilize tanto a Língua de Sinais quanto
a Língua Portuguesa. Nesse contexto, para que o Atendimento Educacional
Especializado aconteça é indicado que haja um tempo adicional de estudo. Nele
destacam-se três momentos didático-pedagógicos, a saber – momento do:
1 - [...] Atendimento Educacional Especializado em Libras [...] os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo. Esse trabalho é realizado todos os dias, e destina-se aos alunos com surdez. [...] 2 - Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras [...] os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalhado [...] deve
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ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais [...] 3 - Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. Este trabalho [...] deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua Portuguesa. (DAMÁZIO, 2010, p. 25, grifo nosso).
Dessa forma, segundo o artigo 16 do Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de
2005, aos alunos com surdez ou com deficiência auditiva está resguardado o direito
da família ou do próprio aluno optar pela modalidade oral da Língua Portuguesa. Por
isso, faz-se importante organizar o Atendimento Educacional Especializado, visando
proporcionar atendimento a esses “alunos que optaram pela aprendizagem da
Língua Portuguesa na modalidade oral. Nesse caso, o professor de português
oferece aos alunos as pistas fonéticas para a fala e a leitura labial.” (DAMÁZIO,
2010, p. 43).
Além disso, um ponto muito importante, que merece ser mencionado, diz
respeito à formação profissional dos tradutores e intérpretes de Libras e de Língua
Portuguesa, que vem sendo bastante valorizada devido à assistência que esses
profissionais têm dado as pessoas com surdez, permitindo inclusão nos mais
diferentes contextos às pessoas que utilizam a Língua de Sinais como principal meio
de comunicação e interação social.
Nesse sentido, essa valorização vem sendo percebida após a Lei n°
10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio de
comunicação e expressão, e o Decreto n° 5.626/2005que regulamenta a atuação e a
formação profissional de tradutores e intérpretes de Libras e Língua Portuguesa,
garantindo a obrigatoriedade do ensino de Libras na Educação Básica e no ensino
Superior - cursos de Licenciatura e de Fonoaudiologia - regulamentando a formação
de professores de Libras.
O ESTUDO DE CASO
A presente pesquisa buscou investigar como funciona o Atendimento
Educacional Especializado na perspectiva da surdez numa escola da rede estadual
do ensino regular, localizada na zona leste da cidade de Santa Cruz/RN. Essa
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experiência ocorreu durante o mês de Outubro de 2017, tendo como participante do
estudo o único aluno com surdez atendido na escola, e profissionais envolvidos no
Atendimento Educacional Especializado.
Nesse trabalho as pessoas diretamente relacionadas com o contexto descrito
acima terão suas identidades mantidas em sigilo, portanto, serão denominadas por
nomes fictícios. Assim sendo, o aluno com surdez será chamado de Roberto, à
professora especializada em Libras denominamos de Fátima, e o instrutor que
acompanha o atendimento do aluno na Sala de Recursos Multifuncionais,
nomeamos de Carlos.
Esse último domina a Língua de Sinais Brasileira e apresenta a mesma
deficiência que o aluno com surdez. Nesse sentido, vale lembrar que esse
acompanhamento é de suma importância para o aluno em questão por proporcionar
contato direto com uma pessoa com surdez, favorecendo de forma significativa no
seu processo de aquisição da Língua de Sinais, além disso, “Devido à diferença
linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos em turmas
comuns na escola regular.” (BRASIL, 2008. MEC/SEESP).
Nesse processo de investigação, os dados foram construídos com base na
leitura de documentos oficiais como, por exemplo, o Projeto Político Pedagógico e
os planos de aula da especialista em Libras, no intuito de conhecer como a escola
estrutura o Atendimento Educacional Especializado na perspectiva da surdez.
Realizamos, ainda, observação do atendimento e aplicamos um questionário com 17
perguntas abertas direcionadas a professora do atendimento especializado, que
versavam sobre questões relacionadas - à formação acadêmica das pessoas
envolvidas no processo do atendimento, à relação do aluno e da família com o
ambiente escolar, ao desenvolvimento cognitivo do aluno referente a Libras, à
concepção da escola e da professora a respeito da Educação Inclusiva, à
organização da rotina e adaptação do aluno, ao planejamento e as metodologias,
entre outros questionamentos.
O referido questionário foi entregue a professora Fátima, na forma impressa,
no dia 18 de Outubro, na Sala de Recursos Multifuncionais, tendo sido recolhido na
visita da semana seguinte a pedido da mesma. Porém, após aplicação do
questionário e a leitura dos documentos oficiais da escola evidenciamos que alguns
aspectos dos objetivos não foram contemplados, pelo fato do questionário não ter
sido respondido na íntegra, e os documentos oficiais estarem desatualizado, como o
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caso do Projeto Político Pedagógico cuja última atualização foi em 2011,e não
contemplava o serviço do Atendimento Educacional Especializado.
Quanto à observação em relação ao atendimento especializado voltado para
o aluno surdo, essas aconteceram no mês de Outubro do corrente ano, uma vez por
semana, com horário marcado, sempre no turno vespertino. Porém, outras visitas
foram realizadas no turno matutino, visando efetuar as leituras relacionadas aos
documentos oficiais da escola.
Caracterização da escola
Essa pesquisa foi realizada numa escola estadual, que oferece Atendimento
Educacional Especializado de acordo com as demandas que surgem anualmente.
Até o momento de realização do estudo, atendia a estudantes com deficiência
auditiva, deficiência intelectual, deficiência visual, deficiência física e com transtorno
desintegrativo da infância. Na perspectiva da surdez, apenas Roberto recebe
atendimento especializado, sendo atendido pela professora especialista em Libras,
Fátima, que é auxiliada por Carlos, não ouvinte, que domina a Língua de Sinais e
possui curso em Libras.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico (2011) da instituição em que a
pesquisa foi realizada, a escola caracteriza-se por oferecer Ensino Fundamental e
Médio na modalidade regular, atendendo 380 alunos, distribuídos nos turnos
matutino e vespertino. Ainda em conformidade com o Projeto Político Pedagógico
(2011), a referida escola visa formar sujeitos críticos e conscientes sobre sua
importância no processo de transformação da realidade a qual pertence, buscando
proporcionar ensino de qualidade, desenvolvimento educacional e social para seus
alunos, de modo que esses possam atuar na sociedade de forma significativa e
produtiva, sendo capazes de debater sobre melhores perspectivas e condições de
vida.
Nesse viés, ainda segundo o referido documento, a instituição se organiza
baseada nos princípios da gestão democrática, contando com diretores eleitos para
administrarem a escola por um período de dois anos, podendo ser reconduzido por
mais uma vez, seguidamente. A equipe que compõe a direção é constituída por: um
diretor, uma vice-diretora, um coordenador pedagógico, um coordenador
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administrativo e financeiro. Assim, a escola é considerada democrática por trabalhar
em conjunto e corresponsabilidade com o colegiado legalmente instituído.
Nesse sentido, de acordo com o Projeto Político Pedagógico (2011) da
instituição, a gestão incentiva à autonomia dos segmentos citados acima,
observando a organização e participação da comunidade escolar, a saber –
dirigentes, professores, alunos, pais, equipe de apoio, técnicos administrativos e
pedagógicos. Nesse contexto, a gestão vem procurando valorizar os profissionais
envolvidos no processo educacional, incentivando-os a buscar qualificação
profissional, por meio de cursos de capacitação e/ou programas de formação
continuada.
O espaço destinado ao Atendimento Educacional Especializado funciona
numa sala ao lado esquerdo do portão de chegada. Esse local é bastante arejado,
configurando-se como um lugar agradável. No entanto, esse espaço funciona
também como uma espécie de minisecretaria, por arquivar documentos e materiais
diversos de uso comum a todos os alunos. Inclusive, por guardar tais materiais o
ambiente é muito movimentado, esse fluxo de pessoas resulta na falta de
concentração do aluno com surdez e dificulta o atendimento especializado.
No tocante a materiais e recursos, foi possível observar que a sala possui
uma mesa redonda com quatro cadeiras, um birô com uma cadeira, dois armários,
dois computadores com duas cadeiras. Quanto aos recursos visuais, à sala possui
imagem - do alfabeto em datilologia, dos números e de algumas cores - com aspecto
desbotado e envelhecido, que dá a sala do atendimento uma aparência
desestimulante.
O aluno com surdez
O aluno Roberto, atualmente com 17 anos de idade, está regulamente
matriculado no 1° Ano do Ensino Médio, na escola estadual de ensino regular.
Segundo o relato de sua mãe, o laudo do médico afirma que Roberto possui surdez
bilateral severa. Para a obtenção de informações mais específicas sobre o aluno
com surdez, foi solicitado seu relatório individual, porém, esses registros se
encontram em processo de construção, conforme afirmou Fátima, a professora do
Atendimento Educacional Especializado.
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Por isso, recorremos às observações e questionário - aberto, visando recolher
o máximo de informações, que consideramos relevantes para o referido processo de
investigação da pesquisa, que busca compreender o funcionamento do Atendimento
Educacional Especializado na perspectiva da surdez, no estabelecimento de ensino
acima citado.
Roberto é um adolescente sorridente e bastante comunicativo, com Fátima,
professora especializada em Libras, e com Carlos, especialmente, por ser uma
pessoa com surdez e dominar a Língua de Sinais Brasileira. Com eles, o aluno
consegue dialogar através do uso da Língua de Sinais, compreendendo e se
fazendo compreender. Segundo a professora, durante o processo de ensino
aprendizagem, Roberto aprendeu a datilologia e vários sinais em Libras, utilizando a
Língua de Sinais para se comunicar com seus pares. A educadora também relatou
que ele já consegue substituir vários gestos caseiros pelo sinal convencional da
Língua de Sinais Brasileira. Além disso, Roberto já consegue ensinar vários sinais a
sua família, que o apoia continuamente.
Atendimento Educacional Especializado na escola pesquisada
Durante o processo de observação referente ao Atendimento Educacional
Especializado do aluno com surdez, verificou-se que os atendimentos acontecem
quatro vezes por semana, sendo ele atendido de 13h00min as 15h00min, no mesmo
turno das aulas comuns, mesmo a escola sabendo que o Atendimento Educacional
Especializado deve ser realizado “prioritariamente, na sala de recursos
multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno
inverso da escolarização [...]”. (BRASIL, 2009. MEC/SEESP).
Nesse contexto, a instituição, que a pesquisa foi realizada, não vem
cumprindo as orientações preconizadas nas Diretrizes Operacionais, e isso implica
dizer que o aluno com surdez está sendo privado de estudar junto dos outros
estudantes da sala comum, deixando de ter acesso aos conteúdos escolares da
mesma forma que seus colegas de turma, funcionando dessa maneira, a escola
pode está comprometendo o processo de inclusão que vem se propondo a construir.
Todavia, segundo a professora, essa é uma questão que tem sido discutida
pela gestão, coordenadores, professores e Secretaria de Educação do município de
Santa Cruz/RN, que visam juntos encontrar uma solução para que o aluno receba
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atendimento especializado adequado, conforme as recomendações dos documentos
legais. Nesse contexto, o aluno está matriculado no turno vespertino, recebendo
Atendimento Educacional Especializado no mesmo horário das aulas comuns, dessa
maneira, uma parte do tempo recebe atendimento na Sala de Recursos
Multifuncionais, no outro momento fica na sala comum, valendo ressaltar que
também recebe atendimento especializado no Centro de Referência de Assistência
Social – CRAS, uma vez por semana, pela manhã.
As atividades propostas pela professora são realizadas com facilidade, embora
o aluno apresente algumas dificuldades, como esquecimento de alguns sinais, por
exemplo, sua evolução é bastante notória. Contudo, nesse processo, a professora
deteve-se em demonstrar apenas algumas práticas pedagógicas que já havia
realizado com o aluno antes da pesquisa. E, isso, acabou dificultando o
levantamento de dados e informações, devido à ausência de contato direto com a
situação real que o aluno vivencia no processo de ensino aprendizagem,
embaraçando a compreensão do atendimento ofertado ao aluno com surdez.
No processo de observações Fátima explicitou que a Libras, assim como a
Língua Portuguesa tem características próprias, a Libras também possui
especificidades inerente a língua, sendo uma delas relacionada às diferenças
regionais que muitos sinais apresentam, e isso, por vezes acaba dificultando a
compreensão e aprendizagem da Libras. No sentido da Língua de Sinais Brasileira,
de acordo com a professora, o aluno com surdez no início do ano se mostrou
bastante hostil e resistente, mas ao ser apresentando a uma pessoa com a mesma
deficiência, aos poucos, foi se identificando e demonstrando interesse pela Língua
de Sinais.
Nesse processo de conquista, a professora contou que iniciou os trabalhos
com Roberto, mostrando imagens e sinais, fazendo o nome de cada imagem através
da datilologia.Atualmente, a professora ainda realiza o mesmo procedimento que
utilizava no início com o aluno, mas agora com a presença de Carlos, que é surdo e
fluente em Libras, o acesso à comunicação e a informação através do instrutor,
conforme o Decreto n° 5.626 (BRASIL, 2005), tem viabilizado o processo de ensino
e aprendizagem do aluno em questão, visto que segundo os relatos o aluno se
mostrou mais interessado em aprender Libras, por está em contato com outro surdo
no espaço escolar.
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Nesse contexto, ao trazer um novo sinal, a professora mostra a imagem, faz o
sinal, demonstrando como se escreve o nome da imagem através da datilologia,
após isso o aluno realiza o mesmo processo, perguntando a Carlos, o instrutor, se
fez o procedimento correto, esse por sua vez confirma com “sim ou não”,
apresentando outras possibilidades, caso julgue necessário.Após isso, Roberto
copia o nome da imagem no caderno, mas segundo a professora do atendimento
especializado ele apresenta dificuldades para ler e escrever.
Durante o período de investigação referente ao Atendimento Educacional
Especializado do aluno com surdez, não foi possível identificar a forma como a
professora organiza o tempo para executar os momentos pedagógicos para o ensino
em Libras, para o ensino de Libras e para o ensino de Português. Contudo, após a
leitura dos planos de aula da professora Fátima, verificaram-se diversas atividades
tratando de conteúdos como, alfabeto em Libras, tabuada de adição, cores e sinais
dos alimentos, utilizando como metodologias, ditados de letras, jogos de caça
palavras, vídeos, imagens e entre outros.
Nessas circunstâncias, verificou-se que o aluno com surdez possui um
“Librário”, que se caracteriza como um caderno de registo, funcionando “como se
fosse um dicionário particular.” (DAMÁZIO, 2010, p. 36). Nele Roberto registra todos
os sinais que aprende na sala do atendimento especializado. Nesse contexto, a
professora Fátima relatou que sente muita dificuldade de alfabetizar o aluno com
surdez na Língua Portuguesa, pois o aluno só copia, ainda não sabe ler nem
escrever, fincando difícil compreendê-lo.
Os sistemas de ensino na perspectiva da Educação Inclusiva, segundo Brasil
(2008), precisam organizar as “condições de acesso aos espaços, aos recursos
pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a
valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de
todos os estudantes”. Nesse sentido, ao ser a professora indagada, por meio do
questionário, sobre sua concepção a respeito da Educação Inclusiva, afirmou que
essa garante:
“a acessibilidade no ensino regular, eliminando barreiras no processo de ensino aprendizagem, mas até o presente momento a inclusão educacional não vem sendo bem sucedida. A legislação nacional garante a matricula, mas não conta as barreiras para aprendizagem e condições para a permanência do aluno na escola”.
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Contudo, por mais que possamos testemunhar significativos avanços no
âmbito da Educação Especial, a professora ressaltou que mesmo esse acesso
sendo amparado por leis e documentos, isso não tem sido suficiente para eliminar
as barreiras que dificultam a aprendizagem e permanência dos alunos com
deficiência nas escolas comuns. Nesse sentindo, tais obstáculos vêm dificultando
também a consolidação efetiva da Educação Inclusiva nos espaços educacionais.
Nesse contexto, segundo ela, a Língua de Sinais Brasileira configura-se como um
elemento indispensável para a comunicação das pessoas com surdez e o
fortalecimento do paradigma da inclusão no processo de ensino e aprendizagem
desses alunos.
Por isso, a professora acredita na força dos projetos que vem desenvolvendo
na escola em que realiza atendimento especializado para pessoas com surdez.
Nesse sentido, vem cumprindo com o seu papel de “identificar, elaborar, produzir e
organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias
considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação
Especial”. (BRASIL, 2009. MEC/SEESP). Um desses projetos diz respeito à
sinalização dos espaços dentro do contexto escolar, mas o frustrante, segundo a
professora Fátima, é ver que muitos alunos ouvintes não respeitam essas
sinalizações, e arrancam.
Por outro lado, há outros alunos ouvintes e funcionários que demonstram
interesse em aprender Libras a fim de se comunicar com Roberto, sendo isso uma
importante via de reflexão no sentido de se pensar e desenvolver outros tipos de
projeto. Além disso, a professora Fátima está desenvolvendo, em conjunto com os
colegas de profissão, um projeto itinerante na perspectiva da surdez para ser
realizado tanto no contexto da instituição em que atua, quanto em outras escolas.
Esse projeto tem por objetivo proporcionar aos professores um curso básico de
Libras para que possam aprender se comunicar com os alunos surdos.
Diante disso, conforme as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para
o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (2009), o Projeto
Político Pedagógico da escola regular, ao ofertar o Atendimento Educacional
Especializado, deve prever práticas que contemplem a organização e os recursos
para a realização desse serviço. Nesse sentido, está contemplado a Sala de
Recursos Multifuncionais, a matrícula do aluno com necessidades específicas, os
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materiais e equipamentos, os professores da sala do atendimento especializado e
outros profissionais da educação, como tradutor e intérprete da Língua Brasileira de
Sinais, guia-interprete e entre outros.
Assim, se uma instituição visa oferecer os serviços de atendimento
especializado, faz-se necessário planejar, organizar, executar e acompanhar todos
os objetivos, propósitos e ações que se pretendem realizar, articuladamente, com as
outras propostas da escola comum.
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CONSIDERAÇOES FINAIS
Ao final desse estudo, compreendeu-se que para promover uma educação de
qualidade para todos, com base no paradigma da Educação Inclusiva, os
profissionais que atuam na área educacional precisam assumir o compromisso de
garantir o acesso e a permanência dos alunos que necessitam de Atendimento
Educacional Especializado, visto que esse grupo de estudantes foi, historicamente,
os mais prejudicados pelos sistemas de educação excludentes.
Para isso, faz-se necessário que os especialistas que trabalham nas Salas de
Recursos Multifuncionais, nesse caso específico, com atendimento para pessoas
com surdez, compreendam e busquem colocar em prática o que recomenda as leis,
documentos, decretos e entre outros.
Além disso, os profissionais especializados na área da surdez precisam
dialogar junto à comunidade escolar, de forma coletiva, sobre o planejamento, a
execução e a organização dos espaços, recursos e materiais que serão utilizados
nas salas de atendimento especializado, bem como discutir, articuladamente, com
as outras propostas da escola comum, sobre as propostas curriculares que darão
norte as suas práticas pedagógicas, seus propósitos, objetivos e ações, buscando
refletir constantemente sobre a qualidade de ensino do Atendimento Educacional
Especializado que pretendem ofertar aos alunos com surdez.
Assim, sendo o Atendimento Educacional Especializado, segundo a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), um
serviço da Educação Especial que identifica, elabora e organiza recursos
pedagógicos e de acessibilidade, deve no ato de seu funcionamento buscar eliminar
as barreiras que impedem a plena participação das pessoas com necessidades
específicas, nesse caso, dos alunos com surdez, promovendo conhecimento escolar
para esses alunos, numa abordagem bilíngue, isto é, em Libras e em Língua
Portuguesa, de maneira que possam se desenvolver e participar de forma ativa e
efetiva na sala de aula comum, junto com os demais colegas da escola regular.
Nessa perspectiva, a escola estadual investigada deixa a desejar, visto que,
após a leitura dos documentos oficiais, como o Projeto Político Pedagógico (2011),
nada foi encontrado a respeito das diretrizes que deveriam nortear o Atendimento
Educacional Especializado na referida instituição.
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Diante desse processo investigativo identificaram-se aspectos significativos
perante a pesquisa realizada em campo. Nesse sentido, segundo os relatos da
professora, verificou-se uma progressão significativa do aluno com surdez em
relação à comunicação através da Língua de Sinais Brasileira, visto que no início
dos atendimentos se mostrou desinteressado.
Por outro lado, o fato da escola ofertar atendimento especializado para o
aluno com surdez no mesmo turno das aulas comuns, não vem funcionando em
conformidade com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (2009), que orienta
que esse tipo de serviço ocorra no horário inverso da escolarização. Essa situação é
bastante preocupante, por correr o risco de está contribuindo com o processo
inverso da inclusão, haja vista que o aluno com surdez não interage de forma
integral no ambiente da sala de aula comum.
Nesse contexto, verificou-se ainda que a professora do Atendimento
Educacional Especializado possui registrado vários planejamentos voltados ao
atendimento do aluno com surdez,embora nas observações não tenha ficado
evidente a forma como a professora organiza o tempo para execução dos momentos
pedagógicos para o ensino em Libras, para o ensino de Libras e para o ensino de
Português.
Nesse sentido, conforme Brasil (2009), cabe ao professor além de planejar,
executar planos de Atendimento Educacional Especializado, avaliar a funcionalidade
e aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade, considerando as
especificidades do aluno com surdez, visando promover a autonomia e a
participação desse aluno nas atividades escolares.
Diante de tudo isso, um ponto favorável referente à presença da Libras na
escola, diz respeito aos projetos que a professora vem planejando e desenvolvendo
junto com os colegas de profissão, isso além de significativo para o ambiente escolar
demostra o compromisso desses profissionais em querer ultrapassar e superar as
barreiras e desafios que impendem a efetivação de uma educação de qualidade
para todos.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei n°10.436, de24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências, 2002. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>Acesso em: 02 out. 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Decreto n.° 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n.°10.436, de 24 de abril de 2002, 2005. Disponível em: Acesso em: 02 out. 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília:MEC/SEESP, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2009. BOVOLON, Stefan; DUTRA, Milena Carrijo. A visão do aluno na inclusão de pessoas com deficiência auditiva na escola regular. VII Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial. Londrina, 2011. p.885-895. Disponível em: Acesso em: 28 de set. 2017. DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Atendimento Educacional Especializado / Pessoa com surdez. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado. SEESP / SEED / MEC. Brasília/DF – 2007. Disponível em: Acesso em: 01 out. 2017. EEJBC. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Uma construção coletiva. Santa Cruz-RN, 2011. GÓES, Alexandre Morand; CAMPOS, Mariana de Lima Isaac Leandro. História da surdez e da língua de sinais. In: GÓES, Alexandre Morand; CAMPOS, Mariana de Lima Isaac Leandro. Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educação de surdos / organizadoras: Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, Lara Ferreira dos Santos. – São Carlos: EdUFSCar, 2014. p.66-71. NUNES, Débora Regina de Paula. Educação especial no Brasil: um panorama histórico. In: NUNES, Débora Regina de Paula. Educação inclusiva / Débora Regina de Paula Nunes. Colaboradoras: Patrícia Braun e Vera Lúcia Vieira de Souza. – Natal: EDUFRN, 2013. p.232.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf
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25
MENDES, Enicéia Gonçalves. Breve histórico da educação especial no Brasil. Revista Educación y Pedagogía, vol. 22, núm. 57. Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2010. Disponível em: Acesso em: 24 de set. 2017.
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APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO
Questionário Aberto
1. Qual sua formação acadêmica, possui especialização na área que atua?
2. Quantos alunos você atende com deficiência auditiva/surdez?
3. Como a pessoa com surdez se relaciona com as pessoas do ambiente
escolar?
4. Como o aluno usa a Língua de Sinais para se comunicar? Já aprendeu algum
sinal?
5. Como é a relação da família com a escola e a professora do Atendimento
Educacional Especializado?
6. Qual o envolvimento dos responsáveis com a Língua de Sinais?
7. Qual a concepção da escola em relação à Educação Inclusiva?
8. Qual a sua visão a respeito da Educação Inclusiva?
9. Como você organiza a rotina do Atendimento Educacional Especializado para
o aluno com surdez?
10. Você faz planejamento?
11. Você possui algum tipo de ajuda na sala do Atendimento Educacional
Especializado?
12. Quais metodologias você utiliza, como as aplicam?
13. O primeiro contato do aluno com a Língua de Sinais foi com você?
14. Como foi ou tem sido a adaptação do aluno surdo em relação ao Atendimento
Educacional Especializado?
15. Como você analisa a importância da Libras?
16. Você participa, ou deseja desenvolver, algum tipo de projeto na perspectiva
da deficiência auditiva/surdez?
17. Quais dificuldades ou angústias você sente na área que atua?