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ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: AVANÇOS E RECUOS NA POLITICA EDUCACIONAL INCLUSIVA

Luciane Gentilin1

Edmilson Lenardão 2 RESUMO

Esse trabalho foi realizado com objetivo de refletir sobre o Atendimento Educacional Especializado como recurso para o atendimento a alunos com Déficit Intelectual em consonância com as políticas públicas e os documentos os quais o Brasil é país signatário. O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná dispõe desse espaço para discussão, pesquisa, análise e a realização do registro desses dados para posterior divulgação. O levantamento sobre o atendimento educacional especializado realizado no município trouxe informações relevantes nas esferas municipal e estadual, bem como a caracterização dos atendimentos e o seu lócus na escola especial e na escola regular. Com esses dados juntamente com textos e a legislação sobre Educação Especial foi realizado um grupo de estudo para professores, equipe pedagógica, e diretores, para implementação do projeto que resultou em discussões e reflexões sobre vários aspectos como a função social da escola, os tipos de atendimento educacional especializado presente nas escolas, inclusão educacional e o papel do professor.

Palavras-Chave: Atendimento Educacional Especializado; Inclusão Educacional; Política Educacional Inclusiva.

INTRODUÇÃO

O Atendimento Educacional Especializado tem sido tema de ampla

discussão no Brasil por décadas para que a pessoa necessidades educacionais

especiais receba o atendimento pedagógico a qual tem direito segundo a legislação

nacional.

1 Docente da Rede Estadual do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2012.

2 Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Área Gestão e Política

Educacional, orientador do Trabalho.

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Com a alteração na nomenclatura das escolas especiais do Estado do

Paraná, e as possíveis alterações nos programas específicos para essa modalidade

de ensino, as mudanças na Política Nacional de Inclusão Educacional, sobretudo, a

revogação do Decreto Nº 6.571 de 17 de setembro de 2008 e a aprovação do

Decreto Nº 7.611 de 17 de novembro de 2011 que dispõe sobre a educação especial

e locus do atendimento educacional especializado faz-se necessário conhecer como

esses atendimentos vem ocorrendo nas escolas do município de São João do Ivaí,

Paraná.

No primeiro momento foi realizado a coleta de dados no município sendo

possível elencar os tipos de atendimento educacional especializado segundo a

legislação vigente; quantificar o número de alunos atendidos em cada escola

verificar as áreas de deficiência e/ou altas habilidades/superdotação que recebem

atendimento; listar as escolas e a formação dos professores que atuam nesses

atendimentos; refletir sobre o atendimento educacional especializado no município e

como essa política de atendimento está vinculada aos acordos internacionais dos

quais o Brasil é signatário e a legislação educacional atual. Também contará com

dados gerais dos municípios do estado do Paraná que realizaram o I Seminário de

Inclusão Educacional do aluno com Déficit intelectual apresentado pela Federação

das Apaes do Estado do Paraná.

O levantamento sobre o atendimento educacional especializado realizado no

município e no estado trouxe informações relevantes. Com esses dados, o

atendimento educacional especializado foi analisado sob a ótica da legislação

vigente, documentos nacionais e internacionais e textos que apresentam a trajetória

da inclusão a partir do documento da UNESCO como a Declaração Mundial sobre

Educação para Todos: Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem,

Jomtien, 1990 até a Política Estadual de Educação Especial na Perspectiva da

Inclusão, (2010), bem como autores que analisam essa trajetória apresentando as

contradições encontradas nesse cenário e que influencia a concepção de sociedade

e da função social da escola.

Nesse sentido, situar o atendimento educacional especializado utilizando

essa base teórica permitiu analisar o nosso papel de professores neste contexto.

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O presente trabalho foi desenvolvido por meio de um grupo de estudos,

contribuindo como parte do processo de formação continuada dos diretores,

professores e pedagogos da Escola São João do Ivaí, Modalidade de Educação

Especial e das Escolas Regulares do Ensino Fundamental do município de São

João do Ivaí.

Atendimento Educacional Especializado

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tendo como base três

conceitos que representam a trajetória da inclusão de pessoas com necessidades

educacionais foi implantado a partir de um processo que aborda três conceitos que

representam a trajetória da inclusão de pessoas com necessidades educacionais

especiais. A normalização, a individualização e a política de integração. A

normalização deve ser entendida como objetivo, a individualização como meio para

atingi-la e a integração como processo (BRASIL, 1994).

O conceito de integração, termo utilizado para caracterizar o tipo de

atendimento oferecido à pessoas deficientes até 1960, surgiu a partir do paradigma

da institucionalização, a retirada da pessoa com deficiência de sua comunidade de

origem e a manutenção de instituições residenciais segregadas ou escolas

especiais, situadas em locais distante de sua família (BRASIL, 2000).

A integração, semelhança ao modelo médico de atendimento à deficiência,

procura tornar a pessoa melhorada para que possa participar da sociedade.

Segundo Sassaki (1997), por essa prática, o individuo deveria ser preparado para

adaptar-se ao convívio social geral e retirado desse convívio caso não houvesse

adequação. Nas escolas, alguns alunos com deficiência começaram participando de

classes especiais em escolas comuns, compartilhando o convívio geral apenas em

algumas atividades extracurriculares. Segundo Jiménez (apud SASSAKI, 1997, p.

127), “a filosofia da integração fundamenta-se basicamente no princípio de

normalização”.

O princípio de normalização leva implícito, como referente, o conceito de normalidade. A normalidade é um conceito relativo sujeito a critérios de tipo

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estatístico. O que hoje é normal pode não o ter sido ontem e não sabemos como será amanhã; o que aqui é normal pode ser anormal noutro lugar ou vice-versa. De tal maneira que o normal e o não normal não se encontram dentro da pessoa mas fora dela: é aquilo que os outros percebem nessa pessoa. Por isso é fundamental mudar a atitude da sociedade perante o indivíduo mais ou menos diferente, e não mudar a pessoa, o que, por outro lado, não é muitas vezes possível (JIMÉNEZ, apud SASSAKI, 1997, p. 127).

O princípio de normalização tem como base a ideia de que toda pessoa com

deficiência tem o direito de experienciar um padrão de vida que é comum à sua

cultura. Assim, ao invés de incluir estas pessoas à sociedade, criavam-se ambientes

o mais parecidos possível com aqueles da população em geral, onde o deficiente

poderia viver, o que não exclua o caráter segregacionista desta prática.

Nesse sentido, Goffredo (2007) apresenta o termo „sistema de cascata‟ que

consiste em níveis de integração que acabam restringindo o acesso de alunos nas

salas de aula, ou seja, os alunos permanecem no mesmo local, porém, em espaços

diferenciados.

Assim, o conceito de integração engloba a ideia de modificar o contexto

social para favorecer a participação das pessoas com deficiência na vida da

comunidade, mas em espaços diferenciados.

Pereira (1980, p.3 ) define integração como, “ um fenômeno complexo que

vai muito além de colocar ou manter excepcionais em classes regulares. É parte do

atendimento que atinge todos os aspectos do processo educacional.”

O AEE na perspectiva inclusiva visa ofertar ao aluno com necessidades

educacionais especializada apoios para o acesso e permanência na escola regular.

Uma das ideias principais da escola inclusiva afirma que a escola deve ser

para todos independente de sexo, cor, origem, religião, condição física, social ou

intelectual, o que coloca o problema da gestão de diferença, considerando-a uma

força e base de trabalho:

Dessa forma, a escola inclusiva deve desenvolver ações pautadas no

princípio do direito de todos à educação para, como: identificar as necessidades

educacionals de cada aluno; identificar as respostas educacionais que os alunos

requerem; e, implementar essas respostas, ajustes e adaptações curriculares,

planejada e sistematicamente.

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Atendimento Educacional Especializado no Paraná

As discussões sobre inclusão no período de 2000 a 2002 intensificaram a

mobilização da educação paranaense e nacional. Dessa forma o Departamento de

Educação Especial elaborou um documento denominado Educação Inclusiva: linhas

de ação para o Estado do Paraná que trouxe a análise, discussão e propostas com

os Núcleos Regionais de Educação e as organizações não-governamentais da área,

que resultou em desafios para a efetivação da política de educação inclusiva a partir

de quatro eixos: “aspectos atitudinais; gestão político-administrativa do sistema;

comunidade escolar, e sociedade civil ”(PARANÁ, 2006, 32)

As linhas de ação elaboradas a partir desses eixos foram apresentadas no

Seminário Estadual de Educação Inclusiva (2002), no Centro de Capacitação da

Universidade do Professor, em Faxinal do Céu, quando foram discutidas propostas

para sua implementação. Porém, houve controvérsias “manifestado em diversas

passeatas, votos de repúdio e ataques da mídia em relação ao não-cumprimento

dos compromissos sinalizados no documento” (PARANÁ, 2006, p. 33).

O descontentamento de pais, professores do ensino regular, das escolas

especiais foram gerados pelo de que

[...] o discurso deliberado da inclusão ganhava força na mídia e nos documentos oficiais e reforçava no imaginário social a crença equivocada de que esse seria um processo que se daria por decreto, exterminando-se classes e escolas especiais da noite para o dia e, junto com elas, a Educação Especial (PARANÁ, 2006, p. 33).

Exemplo desse equívoco foi vivenciado pelas escolas de rede pública que

aceitaram a implementação da proposta denominada, „escolas pró-ativas‟, sendo

que cerca de 50 escolas que obtiveram suporte técnico, material pedagógico entre

outros, prometidos ela proposta, visando atender as necessidades educacionais dos

alunos.

Esse movimento de inclusão também foi denominado „inclusão condicional‟

que tinha como premissa capacitar professores, remover barreiras arquitetônicas,

diminuir o número de alunos por sala, entre outros, resultando em uma inclusão que

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[...] remete a um futuro incerto que, pela impossibilidade de concretização em curto prazo, inviabiliza o direito de acesso e permanência desses alunos à escola, no momento atual, descumprindo o preceito assegurado na Constituição Federal (PARANA, 2010, p. 5).

Como alternativa a essa concepção de inclusão, surge o movimento

denominado „inclusão total‟ que tem como proposta a inclusão de todos os alunos no

Ensino Regular. Este movimento “em defesa dos direitos de pessoas com

deficiência, os quais defendem a inclusão irrestrita de TODOS os alunos no ensino

regular.” (PARANÁ, 2010, p. 6).

Em 2003, o Departamento de Educação Especial passou a desenvolver uma

política de educação especial com a inclusão gradativa retomando “o diálogo com

representantes dos diferentes segmentos que, historicamente, colocam em prática a

Educação Especial no Paraná articulado entre o poder público e sociedade civil”

(PARANÁ, 2006, p. 33).

Medidas como a reestruturação do atendimento educacional especializado

na rede pública, concurso para professores da Educação Especial, remoção das

barreiras físicas na escola, construção ou reforma de prédios; produção de

materiais de apoio adaptados; substituição da legislação que normatiza a Educação

Especial3 ; equiparação salarial de 6.883 professores que atuam na rede conveniada

aos dos professores do Quadro Próprio do Magistério, resultou na ampliação do

atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais.

Enquanto os da rede conveniada não ultrapassaram 6,8% de expansão, nos últimos três anos, os apoios pedagógicos especializados, representados pela autorização de funcionamento de salas de recursos, a contratação de intérpretes de Libras e professores de apoio permanente, entre outros, cresceu 118,2%. (PARANÁ, 2006, p. 34)

Essa forma de interpretar a inclusão remete a um terceiro movimento

denominado a„inclusão responsável‟,

[...] como uma nova forma de repensar e reestruturar políticas e estratégias educativas, de maneira a não apenas criar oportunidades efetivas de acesso para crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais

3 Deliberação n20/86 pela Debiliberação n. 02/03

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especiais, mas, sobretudo, garantir condições indispensáveis para que possam manter-se na escola e aprender (PARANÁ, DEEIN, 2010, p. 6).

Neste caso, não basta incluir os alunos fisicamente, eliminando as barreiras

arquitetônicas. Faz-se necessário criar serviços e redes de apoio que atendam pais,

alunos, professores, equipe pedagógica, para que a inclusão aconteça. Entre esses

apoios, estão os atendimentos educacionais especializados.

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA – GRUPO DE ESTUDOS

Após aprofundarmos os estudos na temática escolhida durante o 1º e 2º

períodos do PDE, resolvemos propor como atividade de implementação um gupo de

estudos teórico-práticos destinado aos professores, diretores, pedagogos,

professores das salas de atendimento educacional especializado de todo o

município e estudantes de pedagogia. A carga horária de trabalho foi de 40 horas. O

grupo foi organizado de forma a discutir os principais documentos internacionais dos

quais o Brasil é signatário; a legislação atual; a coleta de dados realizada no

município; textos de autores que refletem sobre: a função social da escola neste

contexto, os percalços da escola pública para atender a legislação, o interesse do

Banco Mundial na política da inclusão. Finalizando com a reflexão do papel do

professor diante do quadro atual.

No primeiro encontro foi apresentada a legislação que trata o tema e os

encaminhamentos necessários para que o Atendimento Educacional Especializado

ocorra com qualidade. A coleta de dados realizada no município teve como fonte um

gestor, um pedagogo, um professor da sala de Atendimento Educacional

Especializado e um professor do ensino comum que atende alunos que também

frequentem o AEE, em cada escola.

As dificuldades apresentadas pelas escolas, tanto municipais como

estaduais, são praticamente as mesmas: falta de espaço físico; falta de

compromisso dos pais e dos alunos; falta de interação entre os professores regente

de sala/ professor do AEE devido o fato de que esse atendimento ocorre em

espaço físico diferente; disponibilidade de materiais; progresso acadêmico lento com

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os alunos; oferta de vagas insuficiente, demora na avaliação psicoeducacional para

ingresso do aluno no AEE.

Após análise da legislação e da coleta realizada os professor do grupo de

estudo observaram que as dificuldades apresentadas são aquelas que tem como

proposta nos documentos oficiais, e que não são colocadas em prática por falta de

compromisso dos órgãos municipais, estaduais e federais que propõem

atendimentos e não garantem o suporte previsto na legislação.

No segundo encontro foi estudada a „Declaração Mundial de Educação para

Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem‟ que aconteceu em

Jomtien em 1990. Após a leitura e discussão observou-se que, após 22 anos da

elaboração desse documento muitas ações declaração ainda não foram

contempladas no dia-a-dia da escola. A qualidade na educação prevista no Artigo 3

da referida declaração aponta como prioridade garantir o acesso à educação e não à

qualidade da educação.

[...] os preconceitos e estereótipos de qualquer natureza devem ser eliminados da educação [...] o compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser assumido. Os grupos excluídos, os pobres,os meninos e meninas de rua ou trabalhadores; as populações das periferias urbanas e zonas rurais os nômades e os trabalhadores migrantes; os povos indígenas; as minorias étnicas, raciais e lingüísticas: os refugiados; os deslocados pela guerra; e os povos submetidos a um regime de ocupação – não devem sofrer qualquer tipo de discriminação no acesso às oportunidades educacionais (UNESCO, 1998, p. 4).

A expressão, „acesso a educação‟ evidencia o principal objetivo da

declaração. E a aprendizagem?

Para as necessidades básicas de aprendizagem propõe, sobretudo para

pessoas com deficiência, medidas que garantam a igualdade de acesso à educação

como parte integrante do sistema educativo. Mas como universalizar a qualidade na

aprendizagem? No texto, somente o acesso é prioridade, pouco diz sobre a

permanência com qualidade.

Todos os instrumentos disponíveis e os canais de informação, comunicação e ação social podem contribuir na transmissão de conhecimentos essenciais, bem como na informação e educação dos indivíduos quanto a questões sociais. Além dos instrumentos tradicionais, as bibliotecas, a televisão, o rádio e outros meios de comunicação de massa podem ser

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mobilizados em todo o seu potencial, a fim de satisfazer as necessidades de educação básicas para todos (UNESCO, 1998, p. 5).

Os meios de comunicação de massa têm objetivos claros em alimentar uma

alienação frente aos problemas sociais de forma superficial, não proporcionando

argumentos para lutar contra o poder.

Nos Artigos 9 e 10 da Declaração de Jomtien verifica-se a

desresponsabilização do estado frente aos recursos para manter o que propõe a

declaração

[...] será essencial mobilizar atuais e novos recursos financeiros e humanos, público, privado ou voluntários. [...] constitui-se uma responsabilidade comum e universal a todos os povos, e implica solidariedade internacional e relações econômicas honestas e equitativas, a fim de corrigir as atuais disparidades econômicas (UNESCO, 1998, p. 6-7).

No terceiro encontro foi realizado um paralelo entre as propostas da

Declaração de Salamanca (1994)4 e o I Seminário Municipal de Avaliação do

Processo de Inclusão Escolar da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla da

Educação Básica de São João do Ivaí.

Os princípios da Educação Inclusiva presentes na Declaração de Salamanca

evidenciam que a escola é responsável pela exclusão

[...] a escola deveria acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras [...] deveriam incluir crianças deficientes e super dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados (UNESCO, 1994, p. 2).

Constata-se que o termo „necessidades educacionais especiais‟ refere-se a

todas as crianças que apresentam um jeito diferente de aprender, desde dificuldades

até desvantagens severas (UNESCO, 1994).

4 Declaração de Salamanca aconteceu na Espanha em 1994 e trata sobre princípios, política e prática

em educação especial, firmando-se a urgência de ações para uma educação capaz de reconhecer as diferenças, promover a aprendizagem e atender às necessidades de cada criança individualmente. Reuniu delegados de 92 governos e 25 ONGs. Seu objetivo principal foi propor a adoção de linhas de ação em educação especial, dentro de uma política de escola inclusiva.

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Assim, a escola deve propor uma pedagogia centrada na criança, no intuito

de tornar-se um local de acolhimento, criando comunidades discriminatórias

proporcionando uma sociedade inclusiva (UNESCO, 1994)

Durante as discussões no grupo de estudo, observou-se a aprendizagem

deve ser adapta as necessidades da criança.

Para que isso ocorra, o documento propõe o treinamento de educadores

com adaptação do conteúdo curricular, uso de tecnologia de assistência,

individualização de procedimentos de ensino, além da colaboração entre

especialistas e pais. Observa-se, nesse aspecto, que o professor vai assumindo

outro papel na unidade escolar. Como apoio externo, o documento propõe que o

treinamento dos professores poderiam ser realizados pelas escolas especiais, que

seriam o “centro de recursos para as escolas regulares, oferecendo apoio direto

àquelas crianças com necessidades educacionais especiais” (UNESCO, 1994 p. 12).

O papel do professor, seria acomodar os diferentes ritmos de

aprendizagem, assegurar uma educação de qualidade à todos com um currículo

adaptado, estratégias de ensino diferenciadas, uso de recursos tecnológicos e

parceria com a comunidade.

Essas discussões fomentaram a exposição e exemplos advindos das

práticas pedagógicas dos cursistas. Observou-se que a pedagogia centrada na

criança é uma pedagogia baseada nos princípios da pedagogia de Freinet (1966)

que busca uma educação humanística. Porém, o IDEB – Índice de Desenvolvimento

da Educação Básica avalia conteúdos e não atitudes advindas de uma educação

humanística. As avaliações externas cobram por conteúdos, assim, fica uma lacuna

entre o que os documentos internacionais propõem para educação inclusiva e o que

o Ministério da Educação espera das escolas de educação básica. Além disso,os

cursistas fazem colocações sobre o amplo universo da diversidade, objetivamente,

todos somos diferentes e aprendemos em ritmos diferentes, daí a dificuldade em

fazer „arranjos para acomodar as crianças com necessidades educacionais

especiais‟ sem uma estrutura adequada.

Com os dados do I Seminário Municipal de Inclusão Educacional, pudemos

fazer uma análise comparativa entre a inclusão real de alunos com deficiência

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intelectual e o objetivo da Declaração de Salamanca. Ou seja, para os professores

do grupo de estudo, os alunos inclusos estão freqüentando a escola, mas não estão

apredendo. Os recursos e parcerias propostos pelo documento não ocorrem de

forma satisfatória a atender a população deficiente intelectual inclusa, os pais

observam que os filhos não estão progredindo, mas mesmo assim, preferem que os

filhos continuem na escola regular.

Isso evidencia que o movimento da „inclusão radical‟, fomentado na mídia e

encontros, cursos propostos pelo MEC estão surtindo efeito na realidade brasileira.

Alunos com deficiência intelectual estão sendo certificados sem condições de

responder pelo nível ou etapa de educação concluído. A questão que ficou no ar

nesse terceiro encontro do grupo de estudo foi: que alunos estamos formando? Que

sociedade queremos? Qual a função da escola?

No quarto e quinto encontro estudamos o texto “O Dualismo perverso da

escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do

acolhimento social para os pobres” (LIBÂNEO, 2012).

Para algumas questões levantadas no encontro anterior, Libâneo (2012)

explica que não há consenso ente os educadores brasileiros sobre a função social e

pedagógica da escola e nem sobre sua qualidade.

Entretanto, tem-se observado, nas últimas décadas, contradições mal resolvidas entre quantidade e qualidade em relação ao direito à escola, entre aspectos pedagógicos e aspectos socioculturais, e entre uma visão de escola assentada no conhecimento e outras, em suas missões sociais [...] O próprio campo educacional, nos âmbitos institucional, intelectual e associativo, está longe de obter um consenso mínimo sobre os objetivos e as funções da escola pública na sociedade atual (LIBÂNEO, 2012, p. 15).

Segundo os cursistas os próprios alunos acabam observando essa falta de

consenso e passam a não se interessar tanto pela escola, pois o lugar onde todos

diziam que era para estudar, de repente, está envolvido em projetos e outras

iniciativas que não contemplam os conteúdos científicos, artísticos e filosóficos.

Libâneo (2012) faz crítica a inclusão de alunos com necessidades

educacionais especiais, deficientes ou não, à perspectiva da Declaração Mundial de

Educação para Todos (1990), ressaltando o antagonismo sobre a função da escola

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e o envolvimento de políticas públicas que envolvem o Banco Mundial, um dos

principais financiadores da educação no Brasil.

Segundo Libâneo (2012) as análises externas e dadas estatísticos os

acordos previstos na Declaração Mundial de Educação para Todos (1990),

evidenciam a

[...] deteriorização e ineficácia em relação a seus objetivos e fora de funcionamento. São reiteradas as demandas pela ampliação dos recursos financeiros para todos os níveis e modalidades de ensino. Há um volume considerável de investigações sobre a situação dos salários e das condições de trabalhão e formação os professores. No âmbito das análises internas, presume-se uma crise do papel socializador da escola, já que ela concorre com outras instâncias de socialização como as mídias, o mercado cultural, o consumo e os grupos de referência (LIBÂNEO, 2012, p. 16).

O autor ressalta a dualidade de escolas, a primeira assentada no

conhecimento, na aprendizagem e nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos, e

outra, a escola do acolhimento social, à qual visa a integração social dos alunos que

freqüentam o atendimento educacional especializado.

Segundo Libâneo (2012) a nova proposta de escola inclusiva está apoiada

em premissas pedagógicas humanitárias, que se interessa mais pelas diferenças

psicológicas, ritmo de aprendizagem e nas diferenças sociais e culturais, pela

flexibilização das práticas de avaliação escolar e pelo clima de convivência.

Nessas discussões, o grupo de cursistas expõe que a comunidade escolar

criou uma visão de escola que serve para tudo, menos para aprender. São projetos

de assistência social, atividades extracurriculares que envolvem temas

contemporâneos superficialmente sem aprofundamento teórico-científico. Dessa

forma, são valorizados as relações humanas, a integração social, a solidariedade

deixando-se de lado o domínio dos conteúdos científicos.

Após essa constatação, os cursistas retomaram a reflexão sobre

Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e buscaram encontrar no texto

a relação entre ensino e aprendizagem prevista. Concluíram que ao há essa relação!

A declaração parte da premissa do acolhimento, do acesso de todos à escola

(LIBÂNEO, 2012)

Ao analisar o Artigo 1º da Declaração, grupo verificou que as necessidades

básicas de aprendizagem (NEBAS) aparentemente apresentam uma visão ampliada

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de educação, mas de fato leva a uma visão encolhida de educação (TORRES apud

LIBÂNEO, 2012) . Assim, confirmou-se a conclusão de nesse documento onde

Torres apud Libâneo (2012), em estabelecer uma diferença entre visão ampliada e

visão encolhida de educação.

Tal acolhimento se deu para adequar-se à visão economicista do Banco Mundial, [...] converteu-se em uma visão encolhida, ou seja: a) de educação para todos, para educação dos mais pobres; b) de necessidades básicas, para mínimas; c) da atenção à aprendizagem, para a melhoria e a avaliação dos resultados do rendimento escolar; d) da melhoria das condições de aprendizagem, para a melhoria das condições internas da instituição escolar (TORRES apud LIBÂNEO, 2012, p. 18).

A estratégia que evidência a busca de objetivos da visão encolhida da

educação é a busca por um “pacote restrito e elementar de destrezas úteis para a

sobrevivência e para as necessidades imediatas e mais elementares das pessoas”

(TORRES apud LIBÂNEO, 2012, p. 18).

Neste contexto o papel do professor é de um profissional „tarefeiro‟, ou seja,

que tenha habilidades de sobrevivência com treinamento em métodos e técnicas,

uso de livro didático, formação pela Educação à Distância. Tudo isso “para baixar os

custos do pacote formação/capacitação/salário” (LIBÂNEO, 2012, p. 20).

Os cursistas verificaram no texto uma inversão da função da escola atual, ou

seja, a escola dos pobres, com características de assistencialismo, acolhimento

social, (expressões da educação inclusiva), “o direito ao conhecimento e á

aprendizagem é substituído pelas aprendizagens mínimas para a sobrevivência”

(LIBÂNEO, 2012, p. 23).

No sexto encontro, o texto estudado foi “A internalização da exclusão”

(FREITAS, 2002). Nesse encontro foram analisadas as políticas públicas sob dois

aspectos: inclusão e exclusão buscando compreender como o atendimento

educacional especializado funciona no contexto das políticas públicas.

Uma das defesas do autor é que “a responsabilidade da exclusão recai

sobre o próprio excluído” (FREITAS, 2002, p. 299).

A partir daí, foram realizadas discussões buscando-se compreender as

dificuldades para a melhoria da qualidade na educação. Dificuldades dessas

decorrentes da concepção de escola que permite, por exemplo: avaliação externa, a

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implementação da tecnologia como forma de cobrar dos professores índices de

desempenho dos alunos a partir da ofertacomo projetos sociais sugeridos pelas

secretarias de estado ou pela própria mídia, já apontadas por Libâneo (2012).

Freitas (2002) explica que a forma escolhida pelos governantes para reduzir

os índices de repetência e evasão é a privatização, ou seja, tratá-los como

problemas extra-escolares. Outra expressão apontada pelo autor é a „exclusão

branda‟ que constitui em “estratégias de criação de trilhas de progressão continuada

diferenciada no interior da própria escola, alterando o “metabolismo do sistema

escolar” de forma a reforçar práticas de interiorização da exclusão.” (FREITAS,

2002, p. 304).

Assim, a internalização de custos, é uma expressão apontada por Freitas

(2002) para definir como a escola utiliza de mecanismos para enfrentar a repetência

e evasão promovendo o aluno, porém impossibilitando ao professor condições para

trabalhar com alunos que apresentaram condições de rendimento e aqueles que não

apresentam tais condições. Serve para reduzir os custos econômicos e a exclusão

branda ressalta as práticas para controlar custos sociais e políticos.

Observa-se que nos levantamento de dados do município, no estado e nos

apontamentos dos cursistas, a internalização de custo econômico aparece como

características dos AEEs. Assim, oferta-se o mínimo, ou seja, equipamentos,

recursos reduzidos, alguma eliminação de barreiras arquitetônicas, mas não discute-

se a aprendizagem dos alunos. O que se considera relevante, no caso, é a

permanência dos alunos frequentando o AEE e se eles estão “socializados”.

Freitas (2002, p. 306) aponta como exclusão internalizada aquela aceita por

todos nós professores: o aluno permanece na escola mesmo sem aprendizagem,

alvo de “Programas de Correção de Fluxo, Classes de Aceleração, Classes de

Reforço, etc.” Repetência e evasão geram custos e devem ser „contornados‟ com

programas de „ajuste‟. Assim, a escola cria uma série de penduricalhos ao redor da

sala de aula com programas paliativos ou compensatórios na tentativa de resolver

a questão da não aprendizagem.

A exclusão branda apontada por Bourdieu e Passeron (1975) assemelha-se

a uma eliminação adiada.

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Dessa forma, vemos, por fim, delimitar-se o campo da avaliação – entendida agora como estudo sistemático dos mecanismos de eliminação/manutenção. O campo da avaliação revela-se, transmuta-se no da hierarquia escolar. Mostra-se como produtor/legitimador desta hierarquia através da: 1. manutenção propriamente dita das classes dominantes em profissões nobres; 2. eliminação adiada, ou manutenção provisória das classes populares em profissões menos nobres; 3. manutenção adiada, ou exclusão pura e simples das camadas populares do interior da escola, ou seja, a evasão; 4. Eliminação propriamente dita (privação), no sentido de impedir o ingresso das camadas populares na escola. Esta é a hierarquia escolar que os procedimentos convencionais de avaliação ocultam (Freitas, 1991, p. 275).

Assim, a exclusão internalizada justifica-se no meio escolar como forma

dissimulada de recusa e miopia por parte dos professores, a seguirem a política

neoliberal.

No sétimo encontro trabalhamos com três textos, comparando-os,

utilizamos: a) A ação pedagógica e educação especial: a sala de recursos como

prioridade na oferta de serviços especializados (BAPTISTA, 2011); b) Política

Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. (2008); e, c)

Política Estadual de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão (2010).

Seguindo o roteiro de estudo o grupo verificou nos textos que não há relação direta

entre ensinar e aprender. O que se discute é o acesso ao conhecimento. O texto da

„Política Nacional‟ apresenta apenas números, ou seja, estatísticas de alunos

inclusos; o texto „Política Estadual de Educação Especial na Perspectiva da

Inclusão‟ menciona que nas semanas pedagógicas de fevereiro e julho (2010) a

SEED colocou em discussão a:

[...] função social da escola no que se refere ao trabalho pedagógico, com conteúdo para todos os alunos, tornando clara a concepção sob a forma como nossos alunos aprendem, como ocorre o processo ensino-aprendizagem e a relação/mediação entre o sujeito que ensina, o sujeito que aprende e o objeto da ser aprendido (PARANÁ, 2010, p. 7).

Entretanto, o grupo de cursistas evidencia que esses momentos e

discussões deveriam ser freqüentes para que o ensino e a aprendizagem ocorram

sobretudo com alunos com déficit intelectual.

Sobre a formação do professor, o texto de Baptista (2011) explica que não

há uma definição clara sobre sua formação, ou seja, a legislação atual aponta uma

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pluralidade de dimensões quanto à formação como curso de graduação na área; em

pedagogia, com habilitação específica; curso de especialização ou estudos

complementares.

Na legislação atual está previsto que para “atuar na educação especial, o

professor deve ter como base da sua formação inicial e continuada, conhecimentos

gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área” (BRASIL,

2008, p. 17).

A Política Estadual prevê a formação do professor baseada somente na

formação continuada com cursos em conjunto com as:

Secretarias Municipais de Educação, Instituições de Ensino Superior e participação nos Municípios-Pólo do Paraná do Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial nas diversas áreas da Educação especial [...] incluindo ainda, as capacitações para os Programas de Educação nas Unidades Socioeducativas – PROEDUSE, Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada

na Escola – BPC na Escola (PARANÁ, 2010, p. 13).

Dessa forma, evidencia-se que não há consenso sobre a formação do

professor para o atendimento educacional especializado segundo os textos

estudados. A legislação prevê uma formação genérica nas Diretrizes Curriculares da

Educação Especial.

Baptista (2011) faz vários questionamentos sobre o alunado da Sala de

Recursos, ressaltando que vai muito além daqueles com as características previstas

na legislação. O texto da Política Nacional não menciona quem são os alunos da

Sala de Recursos pois fala de inclusão de maneira ampla. O texto da Política

Estadual esclarece que, na escola, faz-se necessária uma rede de apoio composta

por serviços como por exemplo a sala de recursos para “alunos com deficiência

intelectual e transtornos funcionais do desenvolvimento, [...] Altas

habilidades/superdotação para enriquecimento curricular, [...] alunos com

transtornos globais do desenvolvimento” (PARANÁ, 2010, p. 06). A importância de

serviço, denominado sala de recursos refere-se ao dispositivo pedagógico principal

para a inclusão.

Essa importância respalda-se na centralidade da sala de recursos como o dispositivo pedagógico prioritário na política de Educação

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Especial contemporânea, considerada sua característica de não substituição do espaço da sala de aula comum para a escolarização (BAPTISTA, 2011, p. 65).

Portanto a resposta aos desafios apontados pelo autor passam pela

qualificação dos sistemas de ensino e pela oferta da sala de recursos como um

serviço de qualidade, visando garantir a aprendizagem e a continuidade dos estudos

desde os anos iniciais até o ensino médio, ampliando o acesso ao ensino superior

(BAPTISTA, 2011, p. 69).

No oitavo e último encontro contamos com a presença do orientador

professor Edmilson Lenardão e de professores convidados que não participaram do

curso desde o início, desse trabalho.

Lenardão abordou o papel do professor, a função social da escola frente às

propostas recentes para que a escola faça de tudo que for possível para formar o

aluno cidadão, deixando de lado o principal que é o seu papel de ensinar, de prover

os alunos com os conteúdos científicos, artísticos e filosóficos acumulados pela

humanidade, de mostrar aos alunos que sem o domínio de tais conhecimentos,

dificilmente poderão atuar na sociedade com argumentos fundamentados com

autonomia. Expôs também sobre a importância de nós, professores, refletirmos

sobre como nos posicionamos frente a inclusão, como assumir projetos, programas

e transmitir o conhecimento de forma superficial como forma de informação, assim

como fazem outros instrumentos como a mídia, o uso da tecnologia e a sociedade

capitalista. O professor questionou porque na atualidade se atribui ênfase a

educação e a diversidade? Qual sua função ideológica? Tudo isso com o intuito de

não cair nas armadilhas da pseudo igualdade, da pseudo reconhecimento das

diferenças e da pseudo educação escolar.

Propôs aos professores que nos primeiros cinco minutos da aula, todos os

dias discutissem com os alunos a função social da escola, para que serve a escola,

qual o seu papel, quais as razões clássicas pelas quais a escola existe.

Os cursistas discutiram alguns aspectos apontados pelo professor como o

papel do professor e da escola e concluíram que é necessário maior espaço para

leitura e discussões dos reais problemas da escola. Que devemos trabalhar

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fundamentados em uma concepção de escola que tem como função ensinar

conteúdos científicos, artísticos e filosóficos, ressaltando que a escola é o espaço

privilegiado no qual o aluno terá oportunidade de aprender tais conteúdos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A escola constitui-se em um espaço para a reflexão teórico-prática sob

diversos aspectos, porém as discussões ainda são pouco valorizadas, e não

contemplam uma fundamentação a partir de autores, mas a partir do senso comum.

Isto foi observado durante o grupo de estudo que por diversas vezes fugia dos

textos, manifestando posições a partir das experiências do cotidiano.

Consideramos que cada professor deve contribuir, para a melhoria da

qualidade da educação, sobretudo na educação de pessoas com déficit intelectual.

A partir das fontes teóricas estudadas as abordagens feitas pelos professores,

indicaam que a escola vem acolhendo práticas sem aprofundamento teórico

conforme foi explicado pelos professores.

Como vimos a legislação não garante o acesso e a permanência do aluno na

escola e para isso são criados pelas políticas públicas, modelos, programas e

projetos para que alunos com déficit intelectual permaneçam na escola, porém “sem

estar incluídos”. Freitas (2002) apresenta de conceito „exclusão branda‟ para definir

essas situações que se assemelham à „eliminação adiada‟.

.Diante disso, o professor pedagogo tem como uma das funções articular

esses mecanismos de discussões de aprofundamento teórico por meio da formação

continuada. Durante os encontros foram propostas várias alternativas como:

promover seminário sobre inclusão com maior participação da comunidade escolar;

pensar a escola como espaço de aprendizagem e não de assistência social;

promover outros grupo de estudos orientados por professores de Instituições de

Ensino Superior, destinados à pais, alunos e professores; e, verificar no Projeto

Político Pedagógico a existência e conceituação desses aspectos.

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O grupo de estudo permitiu aos participantes questionarem com maior

profundidade o seu trabalho diário. Não buscou dar respostas prontas às

problemáticas evidenciadas pelos mesmos.

Concluiu-se que muito há de se fazer para que alunos com déficit intelectual

tenham garantido a escola de qualidade.

O AEE tem se mostrado como mais uma das práticas que levam a exclusão

branda, excluindo o aluno do conteúdo escolar o qual tem direito mesmo

freqüentando a escola regular. Desta conclusão decorre a necessária revisão dessa

prática visando a torná-la elemento positivo para a melhoria da aprendizagem do

público atendido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAPTISTA, Claudio Batista, A ação pedagógica e educação especial: a sala de recursos como prioridade na oferta de sérvios especializados. Rev. Bras. Ed. Especial. Marília. V.17, p. 59-76, Maio-Ago., 2011. Edicação Especial. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. ______,Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. ______. CORDE. Declaração de Salamanca. Linha de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: 1994. ______. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial: livro 1/MEC/SEESP. Brasília: 1994. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Ministério

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EVANGELISTA, Eneida Oto; EVANGELISTA, Olinda. Professor: protagonista e obstáculos da reforma. Universidade Federal de Santa Catarina Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.3, p. 531-541, set./dez. 2007. FREITAS, Luiz Carlos. A Internalização da Exclusão. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, setembro/2002, p. 299-325. Disponível em: <http:/www.cedes.unicamp.br. Acesso 30 out. 2012. LIBÂNEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. PARANÁ, Política Estadual de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão, Curitiba, SEED, 2010. UNESCO, Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1994. UNESCO, Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, Jomtien, 1990.