educação vadiagem e discursos juridicos

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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 2091 EDUCAÇÃO, VADIAGEM E DISCURSOS JURÍDICOS: A CASA DE DETENÇÃO DA CORTE COMO ESPAÇO EDUCACIONAL (18801889) Jailton Alves de Oliveira [email protected] (UERJ) Resumo O presente trabalho tem como principal objetivo discutir como a antiga Casa de Detenção da Corte, idealizada para ser um lugar para presos correcionais, pode ser considerada como um espaço de educação para milhares de homens (livres e libertos), mulheres e crianças, que as elites imperiais consideravam pertencentes ao mundo da rua, portanto eram “vadios” em potencial. Para tanto, concentramonos em perceber imbricações entre educação, vadiagem e a instituição, em discursos jurídicos do período imperial, sobretudo em dispositivos legais como o Código Criminal do Império e o Código de Posturas Municipais. A partir das análises do Regulamento, destinado ao bom funcionamento da instituição, e dos Livros de Matrículas de Detentos e Detentas, percebemos tentativas de “educar” os presos, produzindo comportamentos desejáveis e incitando a produtividade a partir do trabalho nas oficinas internas. Cumpririam, assim, um papel importante na constituição de uma sociedade mais “civilizada”. O referencial teóricometodológico está imbricado com as noções de poder disciplinar, propostas por Michel Foucault. Nesse sentido, tentamos perceber como as relações de poder intra e extramuros constituíam fatores civilizatórios, educacionais, para os considerados vadios. A partir das análises dos Livros de Matrículas, tentamos construir os perfis dos presos que deram entrada na instituição. Palavraschave: Educação. Vadiagem. Prisão. 1Considerações iniciais Koselleck (1999), problematizando a respeito das contribuições da crítica da razão aos movimentos sociopolíticos do regime absolutista, salienta que a expansão da política burguesa, a partir do século XVIII e para além do continente europeu, com uma filosofia do progresso, propiciaria ao restante da humanidade uma espécie de caminhada rumo a “um futuro melhor” (p.12). Os conceitos foram sendo construídos ao longo do tempo, no sentido de dirigirem à humanidade nos caminhos do que tem sido cunhado como civilidade, prosperidade, ordem e progresso. Uma espécie de solidez, que atravessando os séculos, continua a deslumbrar a todos. A ideologia da modernidade está alicerçada na ideia de que, com a fragmentação, é possível compreender a vida. No entanto, com o passar do tempo a representação de uma modernidade sólida foi cessando de existir, chegando aos nossos dias como uma espécie de “modernidade líquida” (BERMAN, 1997, p.55), onde tudo é volátil. As relações humanas não seriam mais

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EDUCAÇÃO VADIAGEM E DISCURSOS JURiDICOSBrasilSéculo XIX

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  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

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    EDUCAO,VADIAGEMEDISCURSOSJURDICOS:ACASADEDETENODACORTECOMOESPAOEDUCACIONAL(18801889)

    JailtonAlvesdeOliveira

    [email protected](UERJ)

    ResumoOpresentetrabalhotemcomoprincipalobjetivodiscutircomoaantigaCasadeDetenodaCorte,idealizadaparaserumlugarparapresoscorrecionais,podeserconsideradacomoumespaodeeducaoparamilharesdehomens(livreselibertos),mulheresecrianas,queaselitesimperiaisconsideravampertencentesaomundodarua,portantoeramvadiosempotencial.Para tanto,concentramonosemperceber imbricaesentreeducao,vadiagemeainstituio,emdiscursos jurdicosdoperodo imperial,sobretudoemdispositivos legaiscomooCdigoCriminaldoImprioeoCdigodePosturasMunicipais.ApartirdasanlisesdoRegulamento,destinadoaobomfuncionamentoda instituio, e dos Livros deMatrculas deDetentos eDetentas, percebemos tentativas de educar os presos,produzindo comportamentos desejveis e incitando a produtividade a partir do trabalho nas oficinas internas.Cumpririam,assim,umpapel importantenaconstituiodeuma sociedademaiscivilizada.O referencial tericometodolgico est imbricado com asnoesde poder disciplinar, propostas porMichel Foucault.Nesse sentido,tentamospercebercomoasrelaesdepoderintraeextramurosconstituamfatorescivilizatrios,educacionais,paraosconsideradosvadios.ApartirdasanlisesdosLivrosdeMatrculas,tentamosconstruirosperfisdospresosquederamentradanainstituio.Palavraschave:Educao.Vadiagem.Priso.

    1Consideraesiniciais

    Koselleck (1999), problematizando a respeito das contribuies da crtica da razo aos

    movimentossociopolticosdoregimeabsolutista,salientaqueaexpansodapolticaburguesa,a

    partir do sculo XVIII e para alm do continente europeu, com uma filosofia do progresso,

    propiciariaao restantedahumanidadeumaespciedecaminhada rumoaum futuromelhor

    (p.12). Os conceitos foram sendo construdos ao longo do tempo, no sentido de dirigirem

    humanidadenos caminhos doque tem sido cunhado como civilidade,prosperidade, ordem e

    progresso.Umaespciedesolidez,queatravessandoossculos,continuaadeslumbraratodos.A

    ideologia da modernidade est alicerada na ideia de que, com a fragmentao, possvel

    compreenderavida.Noentanto,comopassardotempoarepresentaodeumamodernidade

    slida foi cessandode existir, chegando aos nossos dias como uma espciede modernidade

    lquida (BERMAN, 1997, p.55), onde tudo voltil. As relaes humanas no seriam mais

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    tangveis.Avidaemconjunto familiar,decasais,degruposdeamigos,deafinidadespolticas,

    entreoutrosperderiamconsistnciaeestabilidade.

    Para Santos (2010), os contextos gerados pela expanso europeia atualizase

    permanentementesobformasvariadas(p.32),emtemposeespaosdiferenciados.Omovimento

    expansionistaeuropeu,iniciadonosculoXV,podeserconsideradocomooelementoprincipalna

    formaodoqueconhecemossobremodernidade,globalizaoemodernizao.As identidades

    americanas ao Sul do Equador foram sendo construdas a partir de construes ideolgicas

    Ibricase,nesse sentido, civilizao,nao, cultura, raa,etniae tribos (p.33) foram apenas

    algumasdessasconstruesideolgicas.ParaDeCerteau(1994),oseuropeus,apsasconquistas

    das novas terras, procuraram escrever a histria (p.63) dessas a partir da construo de

    representaes que as legitimassem. O Novo Mundo teria sido uma espcie de pgina em

    branco (loc. cit.),ondeoseuropeusescreveram todoum quererocidental (p.64). Incluiros

    americanos na histriaoficial europeia significava exclulos do direito de reviver e legar suas

    memriasehistrias,anterioreschegadadoscolonizadores.

    Ahistriaeuropeizadaapontaparafatodoscolonizadoresportuguesesteremconstrudo,

    em solos tupiniquins, um sistema econmicopoltico complexo onde os protagonistas foram

    homensbrancosque implantaram as suasestruturas globais [...]enredadase coexistentesno

    espaoenotempohierarquiadeclasse,tnicoracial,sexual,espiritual,epistmica,lingustica.

    (GUAS,2011,p.38).Transformandocolonizadoembrbarooseuropeusdesejaramimporoque

    consideravamsercivilizado.

    Osdiferentesprocessosdeassimilaodosideais liberaiseuropeus,ligadosquestoda

    modernidade,encontraramsolofrtilnoBrasilImprio.Vainfas(2002)assinalaqueasdiscusses

    sobreo termoestiverampresentesentreestudiososnacionaisque sedebruaram, apartirda

    dcadade1970,sobreestudosda[...]independnciaedaformaodoImprio(p.476).Havia

    umgrupoqueapoiavaanoodequeoliberalismoestavaforadolugar(loc.cit.)noBrasilpor

    serincompatvelcomamanutenodaescravido(loc.cit.).Poroutrolado,estariamaqueles

    quedefendiamaideiadeumliberalismonumasociedadeescravista,porterseneleancoradoa

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    formaodo Estadoedaprpriaescravido (loc. cit.).Noentanto, assim comona Europa,1o

    processodamodernidadenopasfoimltiploedescontnuo.Osliberaiseconservadores,quese

    revezaram no poder central durante todo o Imprio, percebiam o liberalismo de formas

    diferentes.Paraosprimeiros,liberalismosetornaraumimpassepornoconseguirresolvercomo

    dariamsentidoescravido.Osconservadoresafirmavamasdesigualdadesnaturais,emdotese

    habilidades, entre os seres humanos, as quais [...] legitimavam as desigualdades (loc. cit.).

    Portanto,concluiVainfas,adiscusso finalnoestariaem tornoapenasdaimplantaoouno

    dessas ideias liberaisauma realidadeescravistaesimda[...]diversidadeecomplexidadeque

    marcaramoiderioliberalemterrastupiniquins(p.477).

    Adinmicadamodernidade,noentanto,comeariaasofrer,apartirdasegundametade

    dosculo,umprocessoinverso.ParaOliven(2001),essadinmicadamodernidadeconsistiuem

    importarmodusvivendieuropeu.Noentanto,sobdiversosaspectos,essemecanismofoisofrendo

    umreversoquandointelectuaiseaselitesvalorizamoqueseriamaisautenticamentebrasileiro

    (p.3).Noentanto,avalorizaodonacional tambmesteve,segundooautor,envolvidacoma

    importaodaculturaeuropeia.Retratavase,porexemplo,ondiodotipobomselvagem(p.4),

    quandonaverdadeapopulaoindgenabrasileirajsofriahmuitoasconsequnciasdocontato

    com o homem branco. Nesse caminho, o termomodernidade, a partir dessemomento, em

    virtude da liberao de capitais do comrcio negreiro e a consequente possibilidade de

    investimentosemoutrossetoreseconmicos(Vainfas,op.cit.p.477),ganhariaoutrosignificado:

    modernizao. Os investimentos financeiros feitos no pas, expanso cafeeira no Vale do

    Paraba, a consolidao do Imprio, a ampliao gradativa do trabalho livre, justificariam essa

    posio.

    O pas, com todas essas transformaes econmicas, teria sado do marasmo dos

    primeiros decnios do sculo e aparecia como tendo escolhido o seu destino, o de um pas

    essencialmenteagrcola (LINHARES,1979,p.150). Apartirda segundametadedo sculoXIX,

    inmerastransformaesjeramtangveisnasociedadebrasileirarelacionadas,particularmente,1 Vainfas acredita queo liberalismo europeunasceumltiplo e contraditrio. Sendoo processo de formao dasociedade burguesa marcado por ritmos diversos e descontnuos. Acrescenta, com isso, que a implantao doliberalismonas sociedades coloniais sofreu reinterpretaes. Consultar: VAINFAS, Ronaldo. Dicionrio do BrasilImperial,18221889.RiodeJaneiro:Objetiva,2002,p.476.

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    expanso do capitalismo e aoprocesso deurbanizao. A lei doVentre Livre, a crescente

    chegadadetrabalhadoresestrangeiros,aconstituiodopartidoabolicionista,ascensoedeclnio

    daproduodocafnoValedoParaba,o fimdaguerradoParaguai,aspressesdediferentes

    setores, a resistncianegra, alteraram significantementeo comportamentodo Estado imperial

    queseviudiantedainadiveldecisodeporfimaosistemaescravistanopas.

    AcidadedoRiodeJaneiro,nadcadade1870,eraconsideradaa[...]maisrica,populosa,

    comerciale industrialde todoo ImprioedaAmricadoSul.2Acorte foiembelezada:muitas

    ruas caladas, implantao de redes de esgotos, criao de servios de limpeza pblica e de

    transportesurbanos,iluminaoags.Somaseaissoachegadadeempresasindustriais,bancos,

    caixas econmicas, companhias de navegao a vapor e companhias de seguros que foram

    instaladas (BENCHIMOL, 1992). Os espaos geopolticos da cidade haviam se transformado,

    permitindoouproduzindo relaesambguasondehomens livres,escravos fugidoseaoganho,

    alforriadosmisturavamseacomerciantes, intelectuaisepolticos. Acidadecivilizadapromove

    encontrodosdesiguaisevaisendoconstitudacomolugarperigoso.Amodernidadedopaseda

    cidade contribuiu,dentreoutras coisas, com a faltade integrao social (PECHMAN, 2002). A

    cidadecorteeraumlugarparaencontrodosdesconhecidos(FAORO,2001,p.187).

    2Relaoentrevadiagemecrime

    Michel Foucault (2003), em seus estudos sobre a verdade e as formas jurdicas,

    particularmentenoscasosdaFranaeInglaterra,diztersurgidoumfenmenoquedenominoude

    espectrodapericulosidade(p.28),emsociedadesquedenominoudedisciplinares(p.29).Esse

    fenmenoteriaacontecidoemvirtudedacrescenteurbanizaodascidades,emconsequnciado

    desenvolvimento do capitalismo. Queria demonstrar como, a partir desses dois fatores,

    determinadossujeitoseuropeusforamsendoincludosemummundodapericulosidadesemque

    tivessem cometido algum crime. Por serem considerados perigosos ordem vigente, j eram

    criminososempotencial.Todaapenalidade,aindasegundoFoucault,apartirdeento,passariaa

    2BorjaCastro,diretordasobrasdaAlfndega,falandosobreocrescimentodacidadedoRiodeJaneiro.Consultar:BENCHIMOL,JaimeLarry.PereiraPassos:UmHaussmannTropical.1ed.2tiragem.BibliotecaCarioca,1992,p.49.

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    terumcontrole,no tantosobreseoque fizeramos indivduosestemconformidadeouno

    comalei,masaonveldoquepodemfazer,doquesocapazesdefazer,doqueestosujeitosa

    fazer,doqueestonaiminnciadefazer(p.30).ApartirdosculoXIX,aindasegundoofilsofo,

    ocrimepassaano teve termaisnadahavercoma faltamoralou religiosa;eocriminoso

    aquelequedanifica,perturbaasociedade (p.31).Ocriminosoo inimigosocial.O indivduo,

    nessasociedadedisciplinar,precisaservigiadoporqueeleumsuspeitoempotencial;deveser

    controlado,paraquenovenhacometernadaquefujaordemvigente.Odiscursojudiciriono

    visa,comoantes,castigarocriminosocomvistasaumasupostarecuperao,massimexercerum

    controleindividualsobreohomem.

    Naordemliberalosatossetransformamemautos(NOGUEIRA,2007p.15). Aruptura

    polticadePortugal representavaparaoBrasil apararos resquciosdeumpassado coloniale,

    ancorados por ideais liberais de igualdade, fraternidade, trabalho, ordem e progresso, novas

    formasderepresentaesforamdesencadeadasnosentidodedeslocamentosdecolnianao.

    As elites nacionais, que tomam posse do aparelho polticoeconmico, procuram incluir os

    cidadospassivosnessemodelodenao.Modelo,porm,estranhoaessacamadadapopulao

    uma vezque, sem cidadania, tinhaquepreencheros requisitosexigidospelos vriosdiscursos

    apresentadossociedade.Noentanto,construirumanaosignificavatambmmonopolizarno

    apenasocomrcio,mastambmossditos.Paratanto,osdiscursosdeverdadeeramproduzidos

    no sentido de controlar e reformular todo o espao urbano e rural do pas, procurando a

    constituiodeumaunidadenacionalondeaeliteagrriapudessecircularnosespaosmuitobem

    distintos,ordenadosehierarquizadosdacidade.

    EmboranosculoXIXaindanoexistissem formasdeproduocapitalista,massimuma

    inserodoBrasilemumquadrodeeconomiamundial,muitoparticularmenteapsaaboliodo

    trfico transatlntico,a importaodos ideais liberaisdeprogresso, igualdade,tica, trabalho,

    estavampresentesnoquadrosocial,poltico,culturaleeconmicodopas(NEDER,1995,p.39).

    Idealizarummercadode trabalhonacionalestavadiretamente ligadocomaquestodanao,

    pois ambos deveriam vir acompanhados de uma populao adestrada, trabalhadora, til,

    produtivaedcil. Transformar vadioem sujeitotileprodutivopassou a serumdos grandes

    problemas das elites nacionais. Ideologicamente, viuse uma diviso entre os mundos do

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    governo, trabalhoe rua.Esoessesltimos, tidos comoperigososque, invariavelmente,vo

    darentradanainstituio.

    A construo ideolgicada figura do vadio esteve intimamente ligada com a tambm

    produoideolgicacapitalistadoquesignificava trabalho.Souza (2004) lembraquenosistema

    deproduocapitalistaotempoprecisaestardisponvelparaotrabalho(p.123)eoesseparao

    mercado. Portanto, trabalho, produo e ociosidade estariam intimamente ligados.No Brasil

    imperialo trabalhoera concedido como coisaparaescravo,portanto somenteaselites tinham

    direito ociosidade. Eosbrancospobres,quenoeramescravosenem senhores,queviviam

    soltos pela cidade em busca de ocupao, bebendo em bares, conversando em voz alta, em

    ajuntamentos,eramvistoscomoperigososaordem.Nessesentidoasdiferentesregulamentaes

    postasemprticaaolongodosculovoprocurarnormatizarocomportamentodessessujeitos.

    Anecessidadedepoliroscomportamentosdosconsideradosvadiosestavaimbricadacom

    o fatodaselitesnoos considerarempertencentes aomundodo governoenemdo trabalho.

    Numasociedade,ondeo trabalhodesprezadoevistocomocoisaparaescravo,ocioestava

    disponvel apenas para os pertencentes boa sociedade. Qualquer outra manifestao de

    trabalhoera imediatamente combatidaequalquerdesviodessaordemdeveria serpunidoeo

    infratorreiteradoaopadrodominante.Aaceitaodessarealidade,construdaideologicamente

    pelaselites,acabavapordarsignificadoaomundosocial,legitimandooetendoocomonaturale

    espontneo (PINTO, 2011, p.102). Na cidadecorte, portanto, podiase perceber amarca da

    convivnciaentreosmundosdavisibilidadecomodamisria,dolixo,doodoredomercadode

    peixes(p.103).Acorte,constituiopolticadoimprio,eacidade,constituioadministrativa,

    interagiam,masno se confundiam. Ohomembranco,pobree livre, ao semovimentarpela

    cidadeembuscadeocupaooudo seuprprio sustento,acabavapor ser considerado como

    quemandavaa[...]vadiar,istoandaociosamentedeumaparteparaoutra(PECHMAN,op.cit.,

    p.65).

    FariaFilho (2003),em seusestudossobreapolticaautoritriabrasileiraeasuaestreita

    relao do povo, parte do princpio de que as propostas educativas estiveram vinculadas

    necessidadedeseconstruirumanaonostrpicos.Asfontesutilizadasderamaelepistassobre

    diferentesmovimentosinteressadosemgarantiraordemvigente,apartirdaeducaodasclasses

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    ditasperigosas. Aeducaoeravistacomo formadesubservinciadessessujeitosenocomo

    formadeemancipaosocial.Aideologiadavadiagempassavapelanecessidadedamanuteno

    daordemescravocratavigente.Aartedepreveniredecurar,comonoslembraFoucault(2004),

    no caso do Brasil imperial, estava imbricada com a necessidade de educar uma populao

    consideradaperigosaordemvigente.Aconcepodepunioapontaparaideiadepreveno,

    ouseja,preveniromalseriaasoluoparaseevitarcrimes.Oscdigosdeveriamapontarpara

    um ideal civilizatrio. Nesse sentido, assumem carter correcional e preventivo de ordem e

    seguranapblica.Umconjuntodeordensqueestabelecemregrasdecomportamentoeconvvio

    deumadeterminada comunidadee sociedade,portanto, assumemumaesferanormativa.Aos

    brancospobreselivres,portanto,aeducaoseriaimpostapeloshomensdaboasociedade3a

    partirdeumaortopediasocial(p.89).

    Quandopensamosarespeitodascondiesdeproduodeumdiscurso,somoslevadosa

    consideraroqueafirmaFoucault:

    A produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada,organizada e redistribudapor certonmerodeprocedimentosque tmporfuno conjurar seus poderes e perigos, dominarem seu acontecimentoaleatrio[...](FOUCAULT,op.cit.,p.9).

    Para o filsofo, o discurso no simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o

    desejo; tambmaquiloqueoobjetododesejo (p.10). Seria, segundoele,aquilopelo

    quese lutaopoderdoqualnosqueremosapoderar (p.11). Discursosque,dentreoutros,

    podemserentendidoscomoconjuntode leis,decretos, regulamentos,edemaismecanismos

    de controle social. Nesse sentido, procuramos perceber como esses cdigos jurdicos

    contriburam educao dos homens brancos pobres e livres.O que silenciavam? A quem

    desejavamalcanareproteger?Comoeporqueforamproduzidos?

    NoBrasil imperial,oscdigosdePosturas (1838)eoCriminal (1830) surgemapartirda

    necessidadedeumnovodelineamentojurdicoquedessecontadasrelaessociais,deproduo

    edeumanovaordemnascidades.Oidealcivilizatrio,desejadoparaopasdesdeostemposda

    3AExpressoprocuradesignarareduzidaeliteeconmica,polticaeculturaldoImprio,quepartilhavacdigosdevaloresecomportamentomodeladosnaconcepoeuropeiadecivilizao.Consultar:VAINFAS,Ronaldo (org.).op.cit.,p.95.

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    psindependncia, trazia consigo a higienizao de todo espao urbano, fosse de cortios,

    logradouros; de vadios e prostitutas; dosmendigos e demais personagens da cidade. Polir os

    comportamentos requeria no apenas a polcia,para polir,mas tambm a construo de um

    aparato administrativoburocraticojudicirio que tomasse como parmetro os modelos de

    dominaopresentesnosestadosnacionaisburgueseseuropeus.Modelofundamentadoemuma

    concepo liberalde Estado e de justia, e que serviria de base ideolgica e poltica para a

    construo do Estado e da formao social brasileira (NEDER, op.cit.p. 46). Podese pensar,

    portanto, que as instituies judicirias estiveram mais empenhadas em enaltecer trabalho e

    disciplinadoqueproduziremumaaojudicialqueestivessepreocupadacomaregeneraode

    presos.

    Freire (1999) lembra que o processo civilizatrio deveria ser iniciado pelas famlias

    brasileiras e, nesse caminho, a famlia urbana carioca oitocentista, na luta a favor da

    construodeumestadoforte,deveriaseruma famliaprontaaamaroEstado,ouseja,uma

    famliaestatizada. Rago (1999)destacaqueno sculo XIX apreocupaodosdiscursosdos

    mdicosbrasileirossedeslocadosodoresdaterra,daguaestagnada,dolixodoquechama

    de odores da misria (p.87) fedor do pobre e sua populao infecta: Deslizamento da

    vigilncia olfativa da natureza para o social, do exterior para o interior, que deduz uma

    estratgica disciplinar na qual desinfeco e submisso so assinalados simbolicamente: o

    sonho de tornar o pobre inodoro sugere a possibilidade de construir o trabalhador

    comportadoeprodutivo(loc.cit.).

    O Cdigo de Posturas da cidade do Rio de Janeiro (1838), como um conjunto de

    discursosjurdicos,objetivavaorganizar,separar,dividir,paramelhorcontrolarosmoradores

    nosdiferentes cantosdacidade.Encontramos consideraesquantosadepblica,polcia,

    calamentos, trfegoda cidade,pinturasemplacamentodas casas, tamanhodosmurosdas

    residncias,prdioscomerciaisepblicos.

    Todos os habitantes desta cidade sero alistados nas freguesias de suasresidncias. Todos os chefes de famlia deveriam listar seus habitantes comnome, ocupao, nome da rua, nmero, parentes, agregados, escravos,idades, empregos, e estados de origem. Eles, os chefes, assignam e soresponsveispelosdados.Ochefedequarteirocomumacpiaeoutroparaojuiz.EumaoutranaCmara(CDIGOSDEPOSTURAS,op.cit.,p.124).

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    Assim, os moradores da cidade tambm deveriam ter seus nomes e demais dados

    arroladosemlivrosde registros.Sobumolharhierrquicoquecontavacomaparticipaodo

    MinistrodaJustia,dojuizdepaz,dochefedepolcia,dochefedequarteiroedoinspetorde

    quarteiro.Livros,mapase relatrioseramusadosparaesquadrinharosespaos,classificare

    distribuircadamoradorou forasteironosdiferentescantosda cidade.Nada fugiaaoolhar

    desses mecanismos de controle. Esse aparato servia para cadastrar moradores e recm

    chegados cidade. E eram os inspetores de quarteires, ltimos da hierarquia citada

    anteriormente, os homens responsveis pelo cadastro e controle de todos os moradores.

    Existiam tambmmapasparacontroledeforasteiros,ouseja,paravisitantesquechegavam

    cidade para visitar parentes ou simplesmente para procurar trabalho. E qualquer um que

    desejassemudardeveria se apresentar ao inspetorparaqueesse lhedeuma guiaemque

    declareseunome,nmerodacasaqueresidiaeaquevaimorar(Ibid.,p.125).

    TodaPessoadequalquersexo,corou idade,que forencontradavadio,oucomotalreconhecida,semoccupaohonestaousufficienteparasuasubsistncia,sermultadoem10$000,esoffrer8diasdecadeia,sendopostaemcustodiaatadecisodoauto,edepoisremetidaaochefedepolciaparalhedardestino(Ibid.,p.127).

    OCdigoassociavadesocupado,oumesmo trabalhadores, figurado vadio.Alertava

    para que nenhuma pessoa tivesse uma casa ou loja de comprar e vender trastes e roupas

    usadas, semqueassine termonestaCmaradeno comprarnadadeescravosoudepessoas

    suspeitas(CDIGODEPOSTURAS,1870,p.167).DiferentementedaEuropa,ondeosmeiosde

    produocapitalistaesboavamodesejoporumtipodetrabalhadorlivre,noBrasilimperialo

    perigoso ordemeram todosqueno se inserissemnos padresde trabalhoditadospela

    obteno do lucro imediato (SOUZA, 2004). Era obrigao dos diferentes inspetores de

    quarteires registrarem,nosmapasdemoradores,quaisquerdesconfianas,quehaja sobre

    suaconduta,osociosos,osvadios,osbbados,mendigos,ossemprofisso,turbulentos[...]e

    achando desconfiana proceda sobre elles como perturbadores pblicos (CDIGO DE

    POSTURAS, 1870, op.cit., p. 179). Atitudes, antes consideradas corriqueiras, passam a ser

    marginalizadas. No se podia mais perturbar o sossego pblico nas horas de silncio, com

    gestos,palavres,vozerias,assobios[...](p.180).

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    2100

    Tendo vigorado entre 1831 e outubro de 1890, o Cdigo Criminal do Imprio (1830),

    imbudo pelo ideal de modernizao do sistema jurdicopenal, veio em substituio s leis

    contidas no livro V dasOrdenaes Filipinas que, emboramuito alteradas, aindamantiveram

    algumasdisposiesemvigncianoBrasilatoanode1916,quandodapromulgaodoCdigo

    Civilbrasileiro(FILHO,1996).Juridicamente,oCdigoumaobservnciadaConstituioImperial

    de1824quepreviaaconstituiodeumCdigoCriminal,fundadonasslidasbasesdajustiae

    daequidade(CDIGOCRIMINAL,op.cit.,p.107).Nocampodasideologias,oCdigofoibaseado

    nas ideias liberais, iluministas, onde a escola classista de Beccaria teve grande participao e

    influnciasobrenossoslegisladoresimperiais(NEDER,2000).

    Os discursos encontrados no Cdigo Criminal do conta da necessidade ordenar uma

    camadapopulacional, com intuitoseducacionais.O simples fatodeno tomarumaocupao

    honesta,tildequepossasubstituir[...]erasuficienteparaenquadrarqualquerumnomundo

    da vadiagem,poisdepoisde [...] ser advertidopelo juizdepaz,no tendo renda suficiente,

    penadeprisocom trabalhodeoitoavinteequatrodias, simplesmentepor servadio [...].

    (CDIGOCRIMINAL,op.cit.,p.110). E continua apedagogiaeducacionalquando informaque

    haverpenadeprisocom trabalhosegundooestadode forasdomendigo,deoitodiasa

    um ms, por estar simplesmente andar mendigando (p. 111). Interessante notar que o

    Cdigo no especifica claramente se o criminoso um vadio. Apenas trs formulaes

    subjetivas sobre quem deveria ser o criminoso. O crime definido como toda aco, ou

    ommissovoluntriacontrrias leispenaes (p.117)eoscriminosossoososautores,os

    que commeterem, constrangerem ou mandarem, algum commeter crimes (loc.cit.). Os

    decretosquecompemcategoriadecrimepolicial,porexemplo,sodestinadosamantera

    civilidade e os bons costumes (SOARES, 1994) e isso inclua perseguio a vadios,

    desordeiros,capoeiras,prostitutasesociedadesecreta(p.85).

    OCdigoCriminalfoioresponsvelporcriminalizaravadiagem.Associaafaltadetrabalho

    oumendicncia,figuradovadio,doperigososocial,daquelequesupostamenteburlariaopacto

    social.Oespectrodapericulosidade recai,ento,sobreaquelequeno temocupaocertaou

    viveperambulandopelasruassujas,becosevielasdacidade.Odesocupado,agoraoficialmente

    transformadoemvadio,passouavigorarnoroldasprisesmaisfrequentesregistradasnosLivros

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    de Matrculas. O Cdigo Criminal, corroborando com o Estado no sentido de civilizar pela

    produodeumcomportamentoconsideradodesejadoordemconstituda,permitequeapolcia

    prenda emande para aCasade Detenoda Cortemilhares de transeuntes pertencentes ao

    mundodadesordem.

    3Oespaoeducativoparaosvadios

    Emquantono forconstrudooedifcioparaaconstruodaCasadeDeteno,servirparaeste fimapartedoprimeiroRaiodaCasadeCorreoqueseachadesoccupada,contandodasmansardaseandartrreo[...]Asmulheres,escravosemenores sero recolhidos em prises separadas, guardadas as convenientesdivises(COLEODASLEISDOIMPRIO,1856,p.294).

    ACasadeDetenofoicriadaeinstaladanasdependnciasdaCasadeCorreodaCorte,

    atualPenitenciriaLemosdeBrito.4Ela faziapartedocomplexopenitenciriodo Imprio5e foi

    criadaparasubstituiroAljube.Emborapudesseabrigarpresoscondenados,suaprincipalfuno

    era manter detidos aqueles que ainda no tivessem sido condenados ou tivessem cometido

    pequenosdelitossempena.

    Houve apenas, durante o Imprio, mais um decreto modificando o regulamento da

    instituio (COLEODASLEISDO IMPRIO,1881).Noentanto,nohouvemuitasmodificaes

    emrelaoaoanterior.Apenasdeterminavaqueodiretorfossechamadodeadministrador,eque

    suasatribuiesevantagens fossemmantidas. Outrasalteraes,noentanto, foramdecarter

    administrativo,comoamudanadasatribuiesdomdicoeasupressodefraseserevogao

    deartigosdodecretoanterior(Ibid.,p.154156).

    Ainstituionoteveumasedeprpria,bemcomoumRegulamentoprprio.ODecreto

    de criao informa que [...] Sero aplicveis ao regime econmico e disciplinar da casa de

    deteno asmesmas regras e disposies estabelecidas ao regulamento da penitenciria [...]

    (COLEODAS LEISDO IMPRIO,1856,op.cit.,p.295). Duas condiesdiferentesdividindoo

    mesmo espao prisional. Aproximados pela lei, esses espaos simblicos diferenciamse pela4AtualmenteainstituioencontraselocalizadadasdependnciasdocomplexopenitenciriodeBanguI.Disponvelem:.Acessoem:15dejaneirode2012.

    5AtransfernciadaprisodoCalabouo,em1874,paraasdependnciasdaCasadeCorreofezcomqueoRiodeJaneiropassasseaabrigarumcomplexopenitencirio,compostopelasCasasdeCorreo,DetenoeoCalabouo.

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    condio socialdos seushabitantes,pela relaode trabalhocioentreos apenadoseosque

    aguardavamdeciso judicial. Foucault (apudNOGUEIRA,2007,p.11),problematizando sobre a

    questodaheterotopia,dizqueexistemduas,ouseja,adecriseededesvio.Aprimeiraseriaa

    dos lugaresprivilegiados; reservadosa indivduosqueestoemvistados lugaresemquevivem

    numasituaodecrise.Asegundadiz respeitoaos indivduosdesviantesem relaosnormas,

    queestoemprises,hospitaiseemcasasderepouso.Aprisocomoumlugardeheterotopia,

    constituise um lugar visvel; um lugar que, atravs de seus regulamentos, busca separar,

    classificar,ordenar,orientareanalisar.Ospresos,adespeitodotempoedocrimecometido,eram

    submetidos aos mesmos mecanismos disciplinares. Eram submetidos aos mesmos rituais de

    passagem.

    ParaFoucault(2004)avigilnciahierrquicaeasanonormalizadoracombinadascomum

    procedimentodeexameformaminstrumentosaosquaissedeveosucessodopoderdisciplinar.O

    exame exerce [...] uma vigilncia que permite qualificar, classificar e punir [...] (p.155)

    estabelecendo,nesse sentido,umavisibilidade constante sobreos indivduos fazendo comque

    sejamdiferenciadosesancionados.Portanto,noregimedisciplinar,deveseformaremtornodos

    presos,[...]umaparelhocompletodeobservao,registroenotaes,constituirsobreelesum

    saberqueseacumulaecentraliza(loc.cit.).

    Logoaochegarospresoseramclassificadosdeacordocomoscrimescometidos.Osque

    cometiamdelitosmaisbrandosouaindanotinhamsidocondenadosficavamnoprimeiroandar,

    enquanto os presos condenados por qualquer delito, os de comportamento violento, os

    condenadosmorteeosacometidosdedoenascontagiosas ficavamno trreo.Poderiahaver

    ainda,outrasdivisesentreospresosqueo textonomeiacomoconvenientes (COLEODAS

    LEISDOIMPRIO,1856,op.cit.,p.295).Otermo,noentanto,serefereposiosocialdodetido,

    deixandoclarohavertratamentodiferenciado,poisaodarentradanainstituioopresopassava

    porumatriagemcompostapordoisitens:averiguaodocrimeeacondiodopreso(Ibid.,p.

    296).O objetivodamesma seriadiscriminar osdetentosque iriam para este ou aquele lugar

    dentroda instituio.Aexpressocondiodopreso (p.297), queprimeiravista remeteao

    fato de ser homem ou mulher, escravo ou livre, nacional ou estrangeiro, pode tambm dar

    margemseparaopelaorigemsocialdaquele.Ofatodeumpresopodermanterumescravoou

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    criadodentrodaprisosconfirmaessahiptese,bemcomoaautorizaoque tinhamalguns

    presosparatomarvinho.

    Quantosatisfaoenecessidadesbsicasdospresoshaviaduascategorias:sustentados

    porsuaprpria famlia (p.298)ousustentadospeloEstado. (loc.cit.). Osprimeiros recebiam

    alimentao, vesturio, roupa de cama e utenslios de higiene pessoal a expensas de seus

    familiares,somenteemhorriosdeterminadospelainstituio;ossegundosdeveriamsedeclarar

    pobres,oquelhespermitiareceberuniformeedemaisobjetosnecessrios,almdaalimentao.

    Essainclusodospresosnainstituiopareciaumareproduodalgicapraticadanasrelaesno

    espaogeopolticodacidade.Umaespciedeinclusopelaexcluso.

    Muito embora fossem separados pelosmotivos do crime, correcionais e apenados, na

    prtica,acabavammesmopordividiramesmacela.Eissopoderiaserporumdiacomoporanos.

    Barbosa(apudChazkel),aovisitarainstituionaprimeiradcadadosculoXX,dcontadeum

    lugar problemtico e que envolviam a convivncia entre crianas, rapazes do comrcio e

    vendedoresdejornais(p.16).Umdadointeressantequenostrazofatode,emcertomomento,

    relatarquesvezes19homenscondenados [...] (p.17)dividiamamesmacela.Os jornalistas

    OrestesBarbosaeErnestoSenna(apudChazkel,op.cit.),quevisitaramainstituionasprimeiras

    dcadasdosculoXX,docontadeumavidasocialvibrante6dentrodainstituio.Umaespcie

    de microcosmo da cidade (p.18), onde se encontra comrcio, jogo do bicho, autoridades,

    poltica,bagunas,amores,eatmesmoliteraturaemocional(p.19).

    NasltimasduasdcadasdoImprioaCasadeDetenodaCorteeraconsideradaapriso

    mais importante da cidade, pois era para l, e no para as cadeias da cidade, que a polcia

    encaminhavaaesmagadoramaioriadaquelesquecaamnamalhafinadopoderjurdicojudicirio

    (HOLLOWAY, 1997).No anode 1885, por exemplo, os livros de registros de presos acusam a

    entradadeaproximadamenteoitomilequatrocentospresos,emumainstituioidealizadapara

    comportar apenasduzentos. Para resolveroproblemade superlotao,que acompanhava as

    cadeiasdacidadedesdeostemposcoloniais,odiretordeveriaficaratentoparaque[...]nenhum6 No ultimo livro de registros de presos do regime imperial, como exemplo de caso, encontramos 662 prisesefetuadas.Dessas,70presos,maisde10%,ficarammaisdeumaanopresosna instituio.Denotando,portanto,queolocalnoeramesmodepassagem.Consultar:FundoCasadeDetenodoRiodeJaneiro.LivrosdeMatrculasdePresosdaCasadeDetenodaCorte.Notao61,p.01250.

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    preso ficassemaisdeoitodiasdetido semque seuprocesso tivessedado incio (p.225). No

    entanto,ajulgarpelonmeroelevadodepresosqueficaramanosaesperadejulgamento,dentro

    dainstituio,podemosdeduzirqueessatarefaficouapenasnocampodateoria.JooRottas,n

    3655,branco,31anos,naturaldaGrcia,casado,ostreiro,foipresonodia24deoutubrode1889

    esoltosomentenodia30dejaneirode1891.JoodaSilva,n3656,22anos,vulgobranquinho,

    solteiro,carregador,sabialereescrever,presonomesmodiadeJoo,massoltosomenteumano

    depois.ManoelRottas,n3654, vulgo gregodasostras,26 anos,naturaldaGrcia, solteiro,

    presonomesmodia24,sfoisoltonodia17dejaneirode1891.7Ouseja,maisdeumanoapsa

    suapriso.Soapenasdoisexemplos,devriosoutrosencontradosnosregistrosdoslivros,que

    nosajudamaconfirmarahiptesedequerealmentehouvedistanciamentoentreteoriaeprtica.

    Ocasodasuperlotao incomodouoMinistroda Justia,preocupadocomoestadode

    civilidadenopas (p.229),que solicitou sdemais autoridades [...] a construodeumnovo

    prdio [...]. (loc. cit.).Noentanto,oproblemano foi resolvido. No anode1888,omesmo

    Ministro, solicitou s autoridades judiciais para que as pessoas presas fossem formalmente

    acusadasdecrimeouliberadas(p.230).Esseepisdionosdalgumamargemparapensarcomo

    asautoridades judiciais tinhamconhecimentodequeainstituionoeranecessariamenteum

    lugardepassagem.

    MoreiradeAzevedo(1877)entendequeoproblemadasuperlotaonainstituioestava

    diretamente ligado justia,queconsiderava lenta,eaosprocessos judiciaisque[...]nodo

    custas, e aspretoriasdeixamdormir empaz a formao da culpa, enquanto a indolncia dos

    cubculos,nocontatocomocrime,rapazes,diasanteshonestos,fazemomaiscompletocursode

    delitoseinfmiasquehnamemria[...](p.396).Aovisitarainstituionadcadade1870,a

    fimdeprepararalgunstrabalhossobremonumentosdacidade,diztervisto[...]desprotegidosda

    sorte,assassinos,gatunos,crianas ingnuas, rapazesdocomrcio,vendedoresde jornais,uma

    enormequantidadedeseresqueodesleixodaspretoriasotornacriminoso[...](p.398)dividirem

    amesmacela. Eacrescentaque [...]acasadedetenoaescolade todasasperdiesede

    todasasdegenerescncias(loc.cit.).Interessantenotaroqueelechamadedesprotegidosda

    7Consultar:FundoCasadeDetenodoRiodeJaneiro.op.cit.,125.

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    sorte (loc. cit.). Supostamente todos aqueles includos no mundo da desordem pelas elites

    imperiais, via discursos jurdicos. Nesse contexto, a instituio parece ter sido um lugar de

    depsitodegenteedetodasortedeconflitos.Enonecessariamenteumlugardepassagem.

    Concluso

    Disciplinar para educar a populaopareceu ser um dos principais ingredientes para o

    enviodetantagenteprisodacorte.Nessadireo,ainstituiodeveriaserumprolongamento

    dosacontecimentossociais,polticoseeconmicosdoespaodacidade.Deveriaseaescolapara

    educar, produzir comportamentos desejveis, ensinar o vadio a ser produtivo, mediante as

    oportunidadesdetrabalhosnasdiversasoficinasdainstituio.Deveriacontribuircomoprocesso

    de construodanao. Enopor acasoa instituio chega ao finaldo imprio superlotada;

    correcionaiseapenados,namesmacela,participantesdeuma teiadepoderondeasmltiplas

    relaes ocasionassem, por exemplo, em motins, assassinatos, promiscuidade, jogos de azar,

    suborno apoliciais,brigasentreoutros.A instituio comoumaescolade todas asperdies,

    segundoAzevedo(1877,op.cit.).

    Atravsdoprocessodecriminalizaodiferentesdiscursossoencaminhadosnosentido

    de disseminar uma ideologia burguesa de trabalho, elemento constitutivo de um sujeito til,

    civilizadoecidado.Aomesmo tempoas instituiesdecontrolesocialvisam lembrarosujeito

    sobreasconsequenciasdeseusatos,bemcomodissuadirosdesocupadosacometeremdelitosou

    crimesfacesnecessidades.

    Enquantosujeitoshistricos,quando,demaneirageral,osconsideradosvadiossaramdo

    espaoapropriao/violncia?Qualfoiopontodeviragem?Elerealmenteexistiu?Estetrabalho

    notrazrespostasatodasessasperguntas,maspropereflexesposterioressobrealgunspontos.

    Osistema legaldestinadoamantervadiagempermaneceuapsesseperodo?Essa associao

    entrecrimeevadiagempersistirianoBrasilRepblica.OcdigoPenalde1890tambmtipifica

    a vadiagem como crime quando previa pena de recluso para aqueles que deixassem de

    exercerprofisso,ofcio [...]proversubsistnciapormeiodeocupaoproibidapor lei [...]

    (MENEZES,1996,p.132).

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  • IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL

    Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5

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    SCHWARCZ,LiliaMoritz.OEspetculodas Raascientistas,instituies equesto racialnoBrasil18701930. SoPaulo:CompanhiadasLetras,1993.310p.

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