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4º ENCONTRO NACIONAL DE GRUPOS DE PESQUISA – ENGRUP, São Paulo, pp. 574-592, 2008. EDUCAÇÃO RURAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO ENSINO DA GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA APARECIDA, JULIO DE CASTILHOS, RS EDUCACIÓN RURAL E DESARROLLO SUSTENIBLE: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO ENSINO DA GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA APARECIDA, JULIO DE CASTILHOS, RS Vagner Guimarães Ramos Universidade Federal de Santa Maria – RS [email protected] Marilse Beatriz Losekann Universidade Federal de Santa Maria – RS [email protected] Carmen Rejane Flores Wizniewski Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Resumo O presente trabalho se refere a um projeto de extensão desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada na zona rural do município de Julio de Castilhos, e objetiva de forma geral, uma reflexão coletiva interdisciplinar entre os diversos segmentos da comunidade escolar, no que se refere a potencialização dos saberes locais e do desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Educação rural – Desenvolvimento sustentável – Legislação ambiental Resumen El presente trabajo se refere al desarrollo de um proyecto em la Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada em la zona rural Del municipio de Julio de Catilhos e tiene como objetivo general hacer uma reflexión colectiva y interdisciplinar entre los diversos sectores de la comunidad de la escuela, em lo que se refiere la potencialización de los saberes locales y Del desarollo sustenible. Palavras-cláven: Educación rural – Desarollo sustenible – Legislación Ambiental

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4º ENCONTRO NACIONAL DE GRUPOS DE PESQUISA – ENGRUP , São Paulo, pp. 574-592, 2008.

EDUCAÇÃO RURAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA E XPERIÊNCIA A PARTIR DO ENSINO DA GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA APARECIDA, JULIO DE CASTI LHOS, RS

EDUCACIÓN RURAL E DESARROLLO SUSTENIBLE: UMA EXPERI ÊNCIA A PARTIR DO ENSINO DA GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO

FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA APARECIDA, JULIO DE CASTI LHOS, RS

Vagner Guimarães Ramos

Universidade Federal de Santa Maria – RS

[email protected]

Marilse Beatriz Losekann

Universidade Federal de Santa Maria – RS

[email protected]

Carmen Rejane Flores Wizniewski

Universidade Federal de Santa Maria

[email protected]

Resumo

O presente trabalho se refere a um projeto de extensão desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada na zona rural do município de Julio de Castilhos, e objetiva de forma geral, uma reflexão coletiva interdisciplinar entre os diversos segmentos da comunidade escolar, no que se refere a potencialização dos saberes locais e do desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Educação rural – Desenvolvimento sustentável – Legislação ambiental

Resumen

El presente trabajo se refere al desarrollo de um proyecto em la Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada em la zona rural Del municipio de Julio de Catilhos e tiene como objetivo general hacer uma reflexión colectiva y interdisciplinar entre los diversos sectores de la comunidad de la escuela, em lo que se refiere la potencialización de los saberes locales y Del desarollo sustenible.

Palavras-cláven: Educación rural – Desarollo sustenible – Legislación Ambiental

4º ENGRUP, São Paulo, 2008. RAMOS, V. G. et AL

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1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA

A educação rural hoje assume um importante papel para o desenvolvimento das

comunidades rurais, pois é através de sua ação-construção educativa que as

comunidades escolares do campo buscam uma maior integração social, cultural e

econômica além de ser um veículo difusor de conhecimento e saberes sociais. Neste

contexto, a escola deve assumir o seu papel como elo integrador das trocas dos

saberes e técnicas que apontem para uma nova proposta de desenvolvimento: o

desenvolvimento rural sustentável. O presente projeto objetiva, de forma geral, uma

reflexão entre os diversos segmentos da comunidade escolar da Escola Estadual de

Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada no distrito São João dos

Mellos, na zona rural de Julio de Castilhos, no Rio Grande do Sul, em torno do

Desenvolvimento Sustentável e na busca de uma forma de desenvolvimento que

preserve os recursos naturais para as futuras gerações e promova a valorização do

espaço agrário e o desenvolvimento do lugar.

Figura 1: Localização do município de Julio de Cast ilhos no Rio Grande do Sul.

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es tatística). Org: RAMOS, Vagner G. 2008.

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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A educação do campo hoje deve se aproximar da comunidade a qual se insere a

escola, conhecer suas especificidades, dinâmicas, limites e possibilidades, na busca de

uma unidade de ação sem esquecer a pluralidade sociocultural das escolas

rurais. Assim o educador deve de forma permanente conhecer e reconhecer o espaço

da escola desenvolvendo em suas práticas educativas a valorização da comunidade da

escola rural, respeitando suas especificidades e incorporando na educação formal os

saberes sociais passados por diversas gerações.

Neste contexto, é necessária a discussão em torno a esses saberes construídos

no meio rural, que para Damasceno (1993), esse é entendido como o saber básico que

os integrantes de um determinado grupo social necessitam para participar de seu

ambiente, mediante o qual o sujeito interfere na vida cotidiana. Frente a isso a

geografia como disciplina escolar, tem um importante papel, criando espaços de

reflexões que interfiram nas tomadas de decisão das populações envolvidas.

Figura 2; Visão panorâmica da comunidade.

4º ENGRUP, São Paulo, 2008. RAMOS, V. G. et AL

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O presente projeto visa, portanto, um aprofundamento teórico e metodológico

que relacione os conhecimentos formais e os saberes sociais ao caminho de outro tipo

de desenvolvimento possível, que tenha um importante significado na formação das

crianças e adolescentes do campo, uma vez que estes são imprescindíveis na busca

de um desenvolvimento capaz de melhorar a qualidade de vida do homem do campo,

produzir alimentos saudáveis e também trate de preservar os recursos naturais para as

futuras gerações camponesas.

2 PROBLEMA

Por muito tempo a educação brasileira esteve voltada a práticas distantes da

realidade de sua comunidade. Também foi um veículo importante como difusora de

tecnologias e programas que beneficiavam governos e empresas relacionadas à

produção de tecnologias voltadas às práticas agrárias. A geografia tem um importante

papel neste processo, à medida que cria um ambiente de reflexões sobre as formas de

uso do espaço. Neste contexto a geografia como disciplina escolar pode assumir esse

papel na comunidade escolar.

Surgem neste cenário, discussões, projetos, ações ligadas a aspectos teóricos e

metodológicos que apontam a educação rural como importante fórum na busca de um

desenvolvimento que valorize a agricultura familiar, dentro de uma perspectiva de

desenvolvimento sustentável. O presente projeto visa à construção de um canal de

troca de saberes e conhecimento do lugar e suas potencialidades produtivas na

formação da consciência ambiental e sustentável.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O presente projeto pretende, de forma geral, fazer uma reflexão coletiva

interdisciplinar entre os diversos segmentos da comunidade escolar da Escola Estadual

de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, localizada no Distrito São João dos

Mellos, na zona rural de Julio de Castilhos, em torno do Desenvolvimento Sustentável.

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Desenvolver na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora

Aparecida, um espaço de reflexões em torno ao desenvolvimento sustentável e

preservação dos recursos ambientais.

• Confeccionar em conjunto com os alunos uma maquete da área em

questão;

• Fazer uma abordagem participativa da legislação ambiental vigente e as

práticas produtivas e de conservação.

• Conhecer o espaço onde se insere a escola, no que se refere às

características ambientais, com destaque para as áreas de preservação e seus

conflitos com as práticas produtivas.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

A educação brasileira reflete o momento histórico pelo qual passa a nossa

sociedade. Ao longo da história a educação tem sido reflexo e ação dos mais

diversos segmentos sociais e econômicos vigentes em nosso país. A escola do

campo tem permanecido por muito tempo vinculada a uma imagem conservadora

no que tange as questões ambientais e agrárias, enfatizando reformas que se

adequam às demandas políticas e ideológicas responsáveis pela permanência de

uma educação excludente e desarticulada com a realidade agrária, sentida nos

princípios do século XXI.

Até bem pouco tempo, o sistema educacional brasileiro nunca teve como

preocupação fomentar políticas educacionais eficientes que viessem atender as

necessidades do campo. Não obstante, a escola brasileira se desenvolveu tendo

em sua base conceitual uma prática que privilegia o urbano. Os objetivos desta

educação estavam comprometidos com a ideologia de mercado orientados para a

criação dos cursos profissionalizantes de formação técnica, visando atender as

necessidades do processo de industrialização e do capital.

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A escola do campo tem uma grande responsabilidade, com o educando, sua

família e a comunidade como um todo, já que esta pode ser um veículo

fundamental para a melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais bem

como a proposta da construção coletiva que aproxime o homem da terra,

incluindo-o em um projeto de inclusão social, onde o educando, filho de agricultor,

se sinta valorizado e projete na sua vivência comunitária um novo caminho para o

desenvolvimento do campo, o desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez na

Assembléia Geral da ONU, em 1979, (Gadotti, 2000) indicando que o

desenvolvimento poderia ser um processo integral que inclui dimensões culturais,

éticas, políticas, sociais, ambientais, e não só econômicas. A busca pelo

desenvolvimento sustentável requer entre tantos saberes, conhecimentos

provenientes da Ecologia. O mesmo autor afirma:

que o maior desafio dos ecologistas é convencer os pobres que

não se trata apenas de limpar os rios, despoluir o ar, reflorestar os

campos devastados para vivermos melhor num futuro distante. Mas

também de dar uma solução, simultaneamente, aos problemas

ambientais e aos problemas sociais (GADOTTI, 2000, p.58).

Sim, pois os problemas que são tratados pela Ecologia não afetam apenas o

meio ambiente, mas também o ser mais complexo da natureza: o ser humano que

é dependente da natureza para manter sua sobrevivência, embora seja o animal

que mais possua a capacidade de modificá-la.

Porém não podemos esquecer que o conceito de “desenvolvimento” não é

um conceito neutro. Na atual sociedade, ele nos remete diretamente a idéia de

progresso (material). Neste sentido, se fazem necessários debates e

apontamentos que nos façam refletir sobre, entre outras coisas, qual é o progresso

queremos. O que possibilite o bem-estar do maior número de pessoas? Ou aquele

que gera exclusão e miséria?

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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É de fundamental importância que a escola participe desse processo, para

tanto, seus professores devem estar preparados para desenvolver uma reflexão

crítica quanto ao aspecto pedagógico das escolas do campo, bem como, elaborar

propostas de práticas educativas contextualizadas, que incluam o agricultor como

um agente do desenvolvimento do “lugar”.

Segundo Caldart (1995), ao elaborar uma proposta de educação do campo

não significa dicotomizá-la o deseja-se, isto sim, é trabalhar com as suas

especificidades. O rural e o urbano possuem formas de vida diferenciadas, sendo

necessário um olhar pedagógico também diferenciado como forma de respeito e

valorização ao espaço agrário. À medida que essas “diferenças” forem sendo

trabalhadas torna-se mais acessível à superação dos conflitos, extinguindo as

discriminações e preconceitos próprios do ensino rural. Conforme Caldart:

é a combinação entre estudo e trabalho, quer dizer que na ou

através da escola, todos os alunos desde as primeiras séries,

devem ter a oportunidade de realizar algum tipo de trabalho

produtivo ou socialmente útil, como forma de complementar a

educação de sua personalidade e combinado com o ensino da sala

de aula. (CALDART, 1995, p.8)

Segundo Lucas (1999), a partir dessa perspectiva, à medida que os

camponeses são levados a pensar na educação de seus filhos, surgem muitas

dúvidas, inseguranças, medos, incertezas que os levam a levantar uma série de

questionamentos como: a escola que queremos é esta que hoje está aí? Uma

escola que não contempla a nossa realidade, excludente, acrítica! Por que não nos

faz pensar e entender como as coisas acontecem? A respeito do que pensam os

familiares dos estudantes das escolas do campo, a autora reforça a idéia de que

os camponeses querem que a escola de seus filhos tenha conteúdos gerais,

trabalhados com a realidade rural, não contemplando somente conteúdos urbanos,

que acabam estimulando a ida para a cidade, pois enfatizam que na cidade é

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melhor pela diversidade de atrações, qualidade de vida, abundância de empregos,

moradia, meios de transporte, disponibilidades assistências, escolas, hospitais,

entre outras vantagens.

Uma das preocupações dos camponeses está no ato de planejar um ensino

voltado para o meio rural, pois “(...) a educação na realidade camponesa se

expressa não apenas no espaço escolar, mas nas diversas formas de

manifestação do movimento camponês” (Therrien, 1993, p.08). Uma estrutura

curricular para o ensino rural vai muito mais além do que simplesmente elaborar

legislações, pois estas desde a década de 1930, sempre foram pensadas em nível

de papel, esbarraram na prática, porque tinham no seu bojo determinações que

não vinham ao encontro das expectativas do homem do campo, provocando ao

longo dos anos estudos e pesquisas, para elucidar as reais condições de

precariedades pelas quais vêm passando as escolas rurais.

5 METODOLOGIA

Este projeto será desenvolvido através de uma experiência de extensão

universitária realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora

Aparecida, onde serão desenvolvidas atividades integradoras entre os diversos

segmentos da comunidade escolar da escola que está situada no Distrito São João do

Mellos. As referidas atividades possuem um enfoque na Educação do Campo e no

desenvolvimento sustentável. Entre as atividades a serem realizadas destacam-se:

� A conscientização dos alunos, sobre a importância da preservação ambiental,

que deve iniciar em todas as esferas, começando pela escola, lugar onde o saber é

apresentado e discutido, até a unidade de produção familiar, local onde a sobrevivência

da família dos alunos é gerida. Este processo será desenvolvido levando em conta a

importância do convencimento de que cada um é responsável pelo meio ambiente. A

forma de desenvolvimento desta etapa será através de diálogos, estudos da realidade

próxima, observações do lugar onde a escola está inserida, e palestras temáticas sobre

a legislação ambiental e a potencialidade dos recursos ambientais.

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� Elaboração com o auxílio dos alunos de uma maquete temática da localidade

onde se insere a escola, contendo os objetos artificiais, diversos usos e funções do

espaço, além dos impactos ambientais resultantes. A Maquete, que será doada à

escola, será um importante recurso para compreensão das relações espaciais além de

auxiliar na compreensão de conceitos importantes para o ensino da geografia.

Assim, contempla-se uma abordagem qualitativa, pois para Ludke & André

(1986) “é aquela que se desenvolve numa situação natural, é rica em dados descritivos

e tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e

contextualizada” (p.18). Refere-se a uma abordagem qualitativa porque responde a

questões muito particulares e se preocupa com um nível de realidade que não pode ser

somente quantificado; ela explora um universo de conhecimentos, significações,

crenças, experiências e atitudes que se relacionam a um espaço mais íntimo de

relações aqui, em específico, a coerência entre o contexto conceitual da pesquisa e as

práticas educativas alusivas ao ensino rural.

Desta forma estaremos buscando contemplar o modo ambientalista de pensar o

mundo, que, segundo Penteado (2003, p.91), “indica a necessidade da participação

ampla e diversificada de pessoas nas tomadas de decisões”. A autora refere-se

também que todos os elementos do meio ambiente são inter-relacionados, sendo que a

repercussão de uma ação sobre o ambiente é sentida muito além do que a escala local

onde ocorre tal fenômeno.

A busca por envolver toda a comunidade escolar no desenvolvimento deste

projeto buscará ampliar e melhorar a previsão dos efeitos positivos que o trabalho

desenvolverá na comunidade, através de resgate do poder político que está embutido

em cada ser humano, o qual o sistema capitalista, de certo modo, busca ofuscar

quando deixa que decisões que afetam a humanidade no geral, sejam tomadas por

poucos.

O modo de produção ao qual estamos inseridos hoje restringe muito o poder

político do ser humano nas mãos de poucos, e a população, de uma maneira geral, é

chamada a exercer sua cidadania apenas para participar na resolução dos efeitos das

ações tomadas pelos especialistas nos assuntos. Por outro lado, a referida autora

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afirma que: “temos deixado de exercer o nosso poder político, temos deixado as coisas

acontecerem. Depois, só nos resta lidar com os resultados” (Penteado, 2003, p. 92).

Se aprende a participar, participando. De maneira geral é através da nossa

participação em projetos, cursos, especializações, festejos entre outros que

“exercemos a nossa cidadania”. A autora afirma que o exercício da cidadania, ou seja,

o exercício político do cidadão diz respeito a comportamentos que desenvolvemos para

lidar com os nossos direitos e deveres.

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6 ATIVIDADES PROGRAMADAS PARA O BOLSISTA

Após a escolha da escola para o desenvolvimento do projeto, assim como a

turma para a aplicação deste, que é a turma do 5° ano do ensino fundamental, devido

as semelhanças entre os conteúdos trabalhados pela turma e o conteúdo a ser

desenvolvido por este projeto, traçou-se os objetivos para este trabalho e as atividades

cabíveis ao bolsista, visando alcançar os objetivos propostos para esta experiência de

extensão, onde destacamos:

• Realizar um levantamento teórico e legislação ambiental vigente que

embase as atividades que serão desenvolvidas junto à comunidade escolar, e que

fundamente o desenvolvimento do projeto;

• Escolher uma turma do Ensino Fundamental, onde o trabalho que nos

propomos a realizar será aprofundado;

• Avaliar medidas práticas que poderão ser implementadas na vida

cotidiana junto à Escola e a comunidade geral do Distrito São João dos Mellos e

preparar-se para buscar o conhecimento que cada medida exigirá;

• Construção da maquete;

• Saídas de campo para realização de leituras ambientais;

• Publicação dos resultados obtidos durante o desenvolvimento do projeto;

• Elaboração do relatório final do projeto.

7 RESULTADOS PRELIMINARES

O primeiro contato realizado com a Escola ocorreu no dia 28 de abril do corrente

ano. O projeto foi apresentado para a direção da Escola e foi manifestada a intenção

de desenvolver um trabalho dentro da área do desenvolvimento rural sustentável. A

direção acolheu prontamente e salientou a necessidade de projetos desta natureza

com a UFSM, com o fim de melhorar a qualidade de ensino e enriquecer a relação

escola, comunidade e Universidade.

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Figura 3; Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhor a Aparecida.

A Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida conta com uma

área privilegiada, localizada no espaço rural de Julio de Castilhos, onde consegue

manter uma horta de tamanho relativamente satisfatório (2000m²), mais a área

construída da Escola e uma considerável área de pátio com áreas verdes e espaços

para prática de esportes, por parte das crianças e adolescentes. Esta comunidade

escolar, prima por fatores importantíssimos ligados a alimentação. Como pode-se

observar nas imagens abaixo, a escola produz grande parte do que os alunos

consomem na merenda escolar, através do plantio de hortifrutis e frutas e a criação de

aves, tendo a partir de então, o que entende-se por segurança alimentar, já que os

alunos tem a certeza de que consomem alimentos de qualidade e saudáveis.

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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Figura 4; Horta situada na escola:

Figura 5; Criatório de aves, com produção destinada ao consumo interno na escola.

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Figura 6: Cultivo de mudas de árvores nativas (Club e da árvore).

Inicialmente o trabalho esta sendo desenvolvido com a 5ª Série, e no futuro será

estendido a todas as turmas da escola. As atividades realizadas seguem as etapas

previstas, porém, as reflexões teóricas a respeito da preservação ambiental e

desenvolvimento sustentável estão sendo desenvolvidos de forma paralela na escola.

Para ter-se conhecimento da realidade dos alunos da turma selecionada para

realizar o trabalho teórico-prático, o quinto ano do Ensino Fundamental, realizou-se um

questionário que foi aplicado em aula aos alunos, com as seguintes perguntas:

1) Qual é a sua idade?

2) O que você faz no turno que não tem aula?

3) Qual é a profissão de seus pais?

4) Quando você terminar os estudos aqui na Escola, para onde vai estudar?

5) Quando for adulto, o que pretende ser?

6) Qual é a sua opinião sobre o campo? É legal ou ruim morar no campo?

Por quê?

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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7) Você pretende ter uma propriedade rural quando for adulto? Se sim, o que

pretende fazer na propriedade (criar animais, plantar frutas, plantar culturas de horta,

cultivos anuais...)?

8) Você ajuda seus pais a realizar tarefas quando está em casa? Quais?

9) O que você acha da cidade? Gostaria ou não de morar na cidade? Por

quê?

10) Quais as matérias do conteúdo escolar que sente maior dificuldade e

qual é a que você mais gosta? Explique.

11) Você conhece a história do lugar onde mora? O que você acha dele?

Como ele é? Como gostaria que ele fosse?

12) Você procura cuidar do meio ambiente (recursos naturais)? Como faz

isso?

13) Faça um pequeno texto contando sobre a sua vida, sobre o que pretende

fazer quando crescer, sobre a origem da sua família, sobre o que você gosta de fazer...

Estas questões são de vasta importância, para que possamos deter algumas

expectativas futuras para a comunidade, partindo do princípio de que o futuro da

localidade dependerá desta geração que esta sendo moldada pelos modelos da

educação atual, que na maioria dos casos fomenta entre os jovens, o desejo pelo

urbano.

A questão ambiental na localidade, está sendo tratada, através de pequenas

saídas de campo, em áreas de degradação ambiental nas proximidades da escola, e

busca-se fazer uma relação com a Legislação Ambiental vigente.

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Figura 7; Saída de campo, com visitação à uma nasce nte;

A escola encontra-se totalmente “aberta para a comunidade”, sendo local de

reuniões, como cursos ministrados no local, visando as relações entre produção e meio

ambiente por exmplo, ou ainda serve de palco para reuniões como veremos logo

abaixo, uma reunião das mulheres comunidade.

Figura 8; Minicurso ministrado pelo SENAR

Educação rural e desenvolvimento sustentável: uma e xperiência a partir do ensino da Geografia na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio De Castilhos - RS, pp. 574-592.

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Figura 9; Reunião das mulheres da comunidade.

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