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Universidade de Brasília ADELGÍCIO RIBEIRO DE PAULA EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história, contradições e cultura institucional São Paulo 2007

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Page 1: EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR - Inicial ... Adelgício Ribeiro de EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história, contradições e cultura institucional. São Paulo, 2007

Universidade de Brasília

ADELGÍCIO RIBEIRO DE PAULA

EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história, contradições e cultura institucional

São Paulo

2007

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ADELGÍCIO RIBEIRO DE PAULA

EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história, contradições e cultura institucional

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientadora:

Professora Doutora Maria Teresa K. Leitão

São Paulo

2007

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PAULA, Adelgício Ribeiro de

EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história,

contradições e cultura institucional.

São Paulo, 2007. 81 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de

Ensino a Distância, 2007.

1. Educação física escolar 2. prática escolar 3. cultura escolar

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ADELGÍCIO RIBEIRO DE PAULA

EDUCAÇÃO FÍSICA E PRÁTICA ESCOLAR: história, contradições e cultura institucional

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente:

Professora Doutora Maria Teresa K. Leitão

Membro:

Professor Mário Destro Monteiro

São Paulo (SP), 18 de agosto de 2007.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho

À Mercia, companheira nas horas de alegria e nas

adversidades;

Aos filhos Geser, Gerson, Isabella, Igor e Melissa,

como legado e referencial no futuro, e

Aos meus irmãos Agnaldo, Andréia, Ademir e Adalto

em nome da memória de Dona Elza, nossa

progenitora.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Maria Teresa K. Leitão pela orientação nesse trabalho;

Aos colegas, professores de Educação Física Leonardo Marcelino Luz, Marcos

Antonio Rueda, Thais Qualio Ferreira Camargo, Mauro Matias dos Santos, Kleber

Silveira Franco, Fabiano Narimatsu e Aulus Valerius, entre outros, que ao longo da

jornada possibilitaram alguns debates que aprimoraram nossas idéias na realização

deste trabalho.

Ao Professor Doutor Celso do Prado Ferraz Carvalho, meu orientador de mestrado,

pelas dicas importantes sobre cultura e prática escolares.

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Melhor é serem dois do que um,

porque têm melhor paga do seu trabalho.

Porque se caírem, um levanta o companheiro;

ai, porém, do que estiver só;

pois caindo, não haverá quem o levante.

Também, se dois dormirem juntos,

Eles se aquentarão;

mas um só como se aquentará?

Se alguém quiser prevalecer contra um,

os dois lhe resistirão;

o cordão de três dobras

não se rebenta com facilidade.

Eclesiastes 4:9-12

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RESUMO

Diante da diversidade de concepções, de propostas pedagógicas e formas de

entender a educação física na escola, podemos constatar que as práticas são

diferentes em cada unidade escolar. Isto é a cultura escolar, cuja construção tem

uma historicidade, que é produto das relações que marcam o cotidiano da escola e

daqueles que a produz, fato pouco estudado em Educação Física. O objetivo desse

trabalho é fazer um breve levantamento sobre as diversas concepções e tendências

pedagógicas que marcaram a Educação Física ao longo das décadas. Partimos da

hipótese de que as práticas escolares são estabelecidas conforme a experiência de

vida e a formação do Professor de Educação Física, bem como em razão das

características dos alunos e da escola. Em algumas unidades escolares existe a

prática deliberada de Futebol, em outras há o predomínio do Handebol, do

Basquetebol ou do Voleibol, e também da Dança em suas mais diversas formas de

manifestação. Por isso os estudos que procuram compreender por que numa escola

há o predomínio de uma determinada prática ou concepção de educação física se

põem como uma questão importante a ser investigada. Saber o que determina as

práticas e os fazeres no cotidiano do professor de educação física na escola implica

compreender os processos de construção da cultura e das práticas escolares.

PALAVRAS-CHAVE: cultura institucional, cultura escolar, prática escolar, educação

física escolar, educação física da escola.

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ABSTRACT

Ahead of the diversity of conceptions, pedagogical proposals and forms to

understand the physical education in the school, we can evidence that the practice

are different in every school unit. That is the school culture, whose construction is

loaded of a historic legacy, as a product of the relationship that mark the school daily

and of that what produce it, fact studied unusually in Physical Education. The

objective of this work is to make a brief survey about different conceptions and

pedagogical tendencies that marked the history of Physical Education throughout of

time. We start of the hypothesis of the school practice are established in conformity

of life experience and the formation of Physical Education teacher, likewise in reason

of pupils and school characteristics. In some school units the Soccer practice is

deliberate; in others has the predominance of Handball, of Basketball or of Volleyball,

and also of Dance in its more diverse forms of manifestation. Therefore the studies

looking for understand why in a school exists the predominance of one practice or

one physical education conception is put as an important question to be investigated.

Then to know what determines some practice ones and daily make of physical

education teacher in the school imply to understand the construction processes of

the culture and the school practice.

KEY WORDS: institutional culture, school culture, school practice, physical education

and physical education of the school.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Vagas disponíveis para Diretorias de Ensino

da Grande São Paulo: realização n° 1 44

Quadro 2 – Capacitação dos professores de Educação Física - Lien Ch’i 46

Quadro 3 – Cronograma da capacitação dos professores de

Educação Física - Lien Ch’i 46

Quadro 4 – Faixa etária por sexo 47

Quadro 5 – Tempo de formação na área 48

Quadro 6 – Outra formação/graduação superior 49

Quadro 7 – Pós-graduação 49

Quadro 8 – Atuação profissional 50

Quadro 9 – Preferência de atuação profissional:

magistério X bacharelado 50

Quadro 10 – Conhece a proposta curricular da Educação Física Escolar

da CENP baseada no Organograma de Conceitos 52

Quadro 11 – Aplicação efetiva da proposta curricular da Educação

Física Escolar baseada no Organograma de Conceitos 52

Quadro 12 – Participação do curso de Lien Ch’i 53

Quadro 13 – Aplicação do Lien Ch’i na prática da

Educação Física em suas escolas 53

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Desempenho e participação dos professores de Educação

Física na aplicação do Lien Ch’i nas escolas da região

da Grande São Paulo 54

Gráfico 2 - Impacto do Lien Ch’i sobre os alunos 55

Gráfico 3 - Aceitação do Lien Ch’i pelos alunos 55

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO 13

1. Justificativa 13

2. Objetivos 15

3. Objeto de Estudo e Problematização 15

4. Aspectos Metodológicos 17

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 20

1. Tendências e Concepções Pedagógicas: História e Contradições 20

2. A Cultura Institucional e a Cultura Escolar 27

3. A Formação do Ser Social na Perspectiva da Prática Escolar 32

4. Investigando a Cultura Escolar em Educação Física 35

III. MÉTODO 39

1. Hipóteses 39

2. A Educação Física na Rede Estadual de Educação de

São Paulo - A Proposta Curricular da CENP 41

2.1. Educação Física Escolar 42

2.2. Projeto Lien Ch’i – Meditação 45

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO 47

1. Contradições 56

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS 60

REFERÊNCIAS 64

APÊNDICES 67

ANEXOS 69

DADOS DO AUTOR 81

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I - INTRODUÇÃO

1 - Justificativa

Este trabalho tem como objetivo trazer contribuições teóricas que possibilitem

aprofundar o debate em torno das práticas escolares do profissional de educação

física e das suas relações na construção da cultura escolar, cujo contexto coloca

como desafio a compreensão de como as práticas se manifestam e são constituídas

no âmbito da unidade escolar. Ganham, assim, evidência as questões relativas a

educação física e ao esporte escolar nas suas mais diversas concepções e formas

de manifestações.

O debate em torno da cultura escolar como eixo articulador das práticas tem

sido alvo das pesquisas na área da Educação nas últimas décadas e é ainda muito

recente em Educação Física.

Diante da diversidade de concepções, propostas pedagógicas e formas de

entender a educação física na escola, nós vemos que as práticas são diferentes em

cada unidade escolar. O professor de educação física recém-graduado, ao adentrar

numa escola pública ou privada, encontra dificuldades para aplicar na prática os

saberes e os conhecimentos adquiridos e construídos ao longo de sua carreira

acadêmica, pois se depara com uma realidade diversa daquela que os livros

apontavam.

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Em algumas unidades escolares existe a prática deliberada de Futebol, em

outras há o predomínio do Handebol, em outras ainda do Basquetebol ou do

Voleibol, e também da Dança em suas mais diversas formas de manifestação. As

formas de participação de meninos e meninas nas aulas de Educação Física são

diferenciadas entre as escolas. São práticas estabelecidas conforme a experiência

de vida e a formação do Professor de Educação Física e das características dos

alunos e da escola. Esta é a cultura escolar, cuja construção tem uma historicidade

e é pouco estudada em Educação Física.

A Escola Estadual Editor José de Barros Martins, no Município de Francisco

Morato, é uma das poucas escolas públicas onde não há o predomínio da prática do

Futebol nas aulas de educação Física. Lá os alunos têm, em sua maioria, a

preferência pelo Handebol, outra parcela prefere o Voleibol e só então é que o

Futebol tem vez. Na Escola Estadual Padre Sérgio do Nascimento Pacheco, no

mesmo município, a prática da modalidade Futsal é efetiva entre meninos e

meninas. Ambas as escolas freqüentemente alcançam representatividade em

competições escolares do Estado de São Paulo nestas modalidades esportivas.

Como não existem registros e informações disponíveis sobre o Programa

Segundo Tempo aqui nesta região da Grande São Paulo, pareceu importante definir

o objeto de estudo a partir das propostas para Educação Física Escolar, da

Coordenadoria Estadual de Normas Pedagógicas (CENP), verificando-se assim a

possibilidade de apreender se as propostas, os programas, as concepções e as

metodologias em Educação Física, por melhor que sejam elaborados, se efetivam

nas práticas dos professores de Educação Física e, caso se efetivem, de que

maneira ocorrem.

A Diretoria de Ensino da região de Caieiras abrange os municípios de

Caieiras, Cajamar, Franco da Rocha, Francisco Morato e Mairiporã. Desde 2003 a

orientação técnica da disciplina de Educação Física Escolar tem insistido na

implantação de uma proposta de trabalho elaborada pela Coordenadoria Estadual

de Normas Pedagógicas (CENP), numa tentativa de padronizar e conferir maior

valor à prática escolar do professor de educação física nas escolas. A proposta da

CENP visa uma metodologia de trabalho padronizado, denominada Organograma de

Conceitos, apontando como conteúdos elementos para Educação ou Aprendizagem

do Movimento.

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2 - Objetivos

Diante desse contexto, marcado por profundas contradições, tem este

trabalho como um dos objetivos compreender se as propostas da CENP têm sido

implantadas nas escolas.

O principal objetivo deste trabalho consiste em verificar se as propostas da

SEE/CENP para a Educação Física e Esporte Escolar são apropriados pelos

professores de Educação Física da Diretoria de Caieiras, se são incorporados às

suas práticas profissionais e se se materializam no cotidiano da escola.

3 - Objeto de Estudo e Problematização

A Educação Física na rede estadual de educação sofreu regulamentação

recente em sua legislação através da Lei Estadual N° 11.361, de 17 de março de

2003, e da Resolução da Secretaria Estadual de Educação N° 1, de 6 de janeiro de

2004, que altera a Resolução SE Nº. 184/02. A CENP, então se encarregou de

implantar e implementar uma proposta curricular através de vários projetos e

eventos, entre os quais a Educação Física Escolar e o projeto Lien Ch’i e Meditação.

Os professores passam por contínuas orientações e supervisão através das Oficinas

de Orientação Pedagógica das Diretorias de Ensino.

A proposta da CENP para Educação Física Escolar visa uma metodologia de

trabalho padronizado, denominada Organograma de Conceitos, apontando como

conteúdos elementos para Educação ou Aprendizagem do Movimento. A Diretoria

de Ensino da região de Caieiras, desde 2003, através da orientação técnica da

disciplina de Educação Física Escolar, tem insistido na implantação de uma proposta

de trabalho elaborada pela Coordenadoria Estadual de Normas Pedagógicas

(CENP), para padronizar e conferir maior valor à prática escolar do professor de

educação física nas escolas.

Na opção metodológica preferiu-se delimitar o tema conforme orienta

Gonçalves (2003), “um tema é considerado apropriado quando existem fontes

acessíveis para sua consulta; além disso, ele deve ser relevante e ter quadro

metodológico que possibilite o seu desenvolvimento, com áreas que ainda possam

ser exploradas (...)” (GONÇALVES, 2003, p.18). A dificuldade que se apresentava

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em localizar um trabalho do Programa Segundo Tempo gerou também a dificuldade

de se realizar esta pesquisa com professores envolvidos neste Programa.

Limitou-se este estudo aos professores de Educação Física da região da

Diretoria de Ensino de Caieiras, Estado de São Paulo, especificamente aqueles

profissionais que atuam em escolas dos municípios de Franco da Rocha e Francisco

Morato. Pretendia-se que todos os professores respondessem ao questionário,

porém apenas 21 dos presentes o fizeram. Por isso este trabalho se concentrou

nessa amostragem com 21 indivíduos, professores de Educação Física da Rede

Estadual de Ensino, que atuam em escolas dos municípios de Franco da Rocha e

Francisco Morato e estavam presentes na Orientação Pedagógica no dia 10 de julho

de 2006, na Diretoria de Ensino de Caieiras.

Nessa perspectiva, as ações da CENP atendem ao propósito desse estudo,

seja quanto as propostas de Educação Física Escolar, seja quanto a implantação do

Lien Chi nas escolas da rede estadual de ensino. Assim, apresentam-se as

propostas/programas da CENP como objeto de estudo significativo para uma

pesquisa que busca estabelecer a relação entre a elaboração das

propostas/programas e a prática docente desenvolvida pelo professor de Educação

Física, pois suas características atendem plenamente o propósito da pesquisa.

A definição do objeto deveria atender a essas condições, de modo que

viabilizasse compreender se o teor das propostas e programas se materializa ou não

dentro da escola.

Portanto, temos aqui questões importantes a mediar as relações entre a

cultura institucional e as práticas escolares, especificamente aquelas relativas à

Educação Física. Algumas dessas questões nascem de inquietações com a forma

como as propostas, projetos, programas, concepções e metodologias pedagógicas

da Educação Física são efetivados nas práticas do professor de Educação Física,

em como e por que numa escola há o predomínio de uma determinada prática sobre

outras. Outra questão é a necessidade de compreender o que determina as práticas

e os fazeres do profissional de Educação Física.

Finalmente duas questões se impõem: Os professores de Educação Física

acatam e procuram realmente implementar as propostas dos projetos e programas

aos quais estão vinculados? As propostas, os projetos, os programas e as

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concepções metodológicas e pedagógicas são assimilados e implantados

efetivamente pelos professores de educação física em sua prática profissional? O

que predomina na prática escolar do professor de Educação Física: o institucional,

sua formação ou sua experiência de vida?

Assim, o problema desta pesquisa se constitui em saber se as propostas e

projetos para a Educação Física se efetivam nas práticas escolares e os aspectos

que influenciam ou não esta materialização.

Este problema pode ser mais especificamente formulado pelas seguintes

questões:

• Os projetos, os programas e as metodologias propostas sempre são

assimilados e implantados efetivamente pelos professores de Educação

Física em suas práticas profissionais?

• Todas as escolas e todos os professores de Educação Física assimilam os

projetos, os programas e as metodologias a os implementam na prática

efetivamente e na forma como foram elaborados?

4 - Aspectos Metodológicos

Nesse trabalho limitado pelas contingências, procurou-se fazer um breve

levantamento sobre as diversas concepções e tendências pedagógicas que

marcaram a Educação Física ao longo das décadas. Buscou-se fundamentar a

cultura institucional e a prática escolar através dos estudos realizados na área da

educação - onde a Educação Física está inserida - por pesquisadores como António

Viñao Frago (1998), Dominique Julia (2001), Luciano Mendes de Faria Filho (2004),

João dos Reis Silva Junior (2004) e Celso João Ferretti (2004, 2006), tendo estes

últimos também utilizado como referenciais os trabalhos de Duarte (1993), Viñao

Frago (1998), Julia (2001), Lukács e Agnes Heller para fundamentar seus trabalhos

mais recentes.

A nossa opção de investigação pela perspectiva dialética nos levou a fazer

uma breve reconstituição da História da Educação Física, porque consideramos,

como o faz Saviani (2000), que “o significado da Educação está intimamente

entrelaçado ao significado da História”, pois do ponto de vista do nosso objeto há

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uma “determinação histórica que se exerce sobre o fenômeno educativo”, no nosso

caso a Educação Física Escolar como disciplina no sistema educacional.

Procuramos evitar o hábito recorrente do a priori e a diretriz sempre

dominante do positivismo que nos limitasse e reduzisse nossa pesquisa a uma

simples e fiel descrição de fatos, numa visão já arraigada no senso comum das

narrativas ausentes de senso crítico. Pois como demonstra Buffa “a concepção

positivista firma, pois, a necessidade e a possibilidade de uma ciência social

completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as

posições políticas e com as visões de mundo” (BUFFA, 2001,p. 80).

A necessidade dessa abordagem histórica se faz devido a emergência do

problema não apenas do ponto de vista prático, por se tratar de Educação Física,

mas também teórico, pois o homem além do “ser histórico” que é, agora busca

apropriar-se da sua historicidade, aspirando assim tornar-se “consciente dessa sua

identidade” (Cf. Saviani, 2000, p.8).

Para Petitat (1992) a relação entre pesquisador e seu objeto “deve ser ela

mesma historicizada”. Para ele “a corrente dialética ou construtivista une o sujeito e

o objeto numa definição recíproca, dinâmica e interativa”, pois “a noção de

objetividade ganha uma definição particular” sempre relativa a um processo sócio-

histórico dialético. Sendo assim, o conhecimento deriva não do sujeito nem do objeto

tomados em si mesmo, mas de seu encontro, e este, histórico.

Com base no exposto, a proposição desse trabalho está estabelecida tendo

os pontos principais a seguir: introdução, onde procuramos mostrar genericamente

a natureza e a justificativa da escolha do tema, levantamos o estado da questão,

objetivos, a delimitação do objeto de estudo, desenvolvemos a problematização, e a

organização e distribuição final deste trabalho.

Na fundamentação teórica apresentamos nosso referencial em relação ao

tema e procuramos definir certas categorias de análise, fazendo uma breve leitura

das tendências, concepções e metodologias pedagógicas que influenciaram as

práticas da Educação Física através de sua história. Também abordamos a

fundamentação teórica que nos orienta para a compreensão sobre o institucional e a

cultura escolar como determinantes da prática do professor de Educação Física.

Também abordamos a questão da formação do indivíduo como pressuposto para

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sua formação profissional e como orientação de suas práticas, uma vez que

consideramos “o trabalho como protoforma da formação do ser social” (SILVA

JUNIOR e FERRETTTI, 2004).

No método adentramos especificamente na pesquisa em questão, em que

investigamos a cultura escolar na prática da Educação Física através de duas

propostas da SEE/CENP: a Educação Física Escolar para a Rede Estadual de

Educação e o Projeto Lien Ch’i – Meditação, expondo nossas hipóteses de trabalho

e o contexto de nosso estudo, definindo a amostragem e alguns pressupostos

metodológicos.

Em resultados e discussão demonstramos os dados empíricos coletados na

pesquisa realizada com os professores, com apresentação e interpretação através

de tabelas e gráficos de nossa autoria e de outras fontes utilizadas

Finalmente realizamos nossas considerações finais à guisa de conclusão

deste trabalho.

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II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1 . Tendências e Concepções Pedagógicas: História e Contradições

Os primeiros impulsos na introdução de atividades de caráter físico com fins

formativos, no Brasil, foram dados com a criação da Academia Real Militar, após a

chegada da família real portuguesa ao país. Isso já denota o caráter militarista que

irá predominar na educação física por quase dois séculos. Até então a prática de

alguma atividade corporal estava atrelada à visão de inferioridade social, num

período de escravidão, em que o trabalho manual era colocado em posição inferior

ao trabalho intelectual.

Em sua reforma da educação Rui Barbosa tornou obrigatória a prática da

ginástica escolar, manifestando uma evidente preocupação liberal com a

maternidade e a qualidade da raça branca (Brito; João, 2004, p. 73). Nesse projeto

de reforma Rui Barbosa dedica todo um capítulo no esboço dos métodos e sistemas

de educação física praticados em vários países, enfocando a necessidade de

instituir a ginástica na escola normal. A ginástica que se praticava nas escolas de

então era a mesma praticada nos quartéis e as meninas somente começaram a

prática da ginástica na década de 1930 do século XX. No início do século XX surge

em São Paulo a Escola de Educação Física da Polícia Militar, que traz para o Brasil

o método francês de ginástica.

Os militares e os médicos determinaram o modelo de atividade física

praticado até os primeiros anos do século XX. O modelo médico, higienista, continha

fortes traços de racismo e estava preocupado com a preservação do padrão físico

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saudável que representasse a superioridade burguesa. A concepção dominante da

Educação Física em seu início nas escolas levava o nome de ginástica e era

calcada nessa perspectiva higienista. Surgiram assim a ginástica médica, a ginástica

corretiva e a ginástica educativa, métodos ginásticos que receberam a influência das

ciências naturais, consolidando um paradigma cartesiano até hoje hegemônico na

educação física (Brito; João, 2004, p.67).

O modelo militarista, dado seu caráter eugênico e excludente, trazia como

objetivos da Educação Física para a escola a formação de uma geração capaz de

suportar o combate, dando importância para a preparação seletiva de indivíduos

fisicamente perfeitos, com a exclusão daqueles considerados incapacitados (Darido,

2004, p. 107). O referencial passou a ser o padrão de formação americano, sob a

influência do modelo liberal baseado na competitividade que acentuava a formação

para a disputa do livre mercado. As aulas de educação física pautavam-se pelo

controle físico por meio da repetição de técnicas gestuais. A visão tecnicista passou

a determinar a prática na formação dentro e fora da escola, numa exacerbação da

técnica em detrimento do humano (Brito; João, 2004, p. 73).

Nesses dois modelos, higienista e militarista, a Educação Física era visto

como uma disciplina essencialmente prática, desprovida de fundamentação teórica e

sem distinção entre educação física e instrução militar. O profissional da educação

física não precisava ter conhecimento técnico nem fundamentação teórica, bastava

ter sido um ex (e bom) praticante, como os ginasiarcas na antiga Grécia, por

exemplo.

Azevedo, Suassuna e Daólio acrescentam que “é por demais sabido que a

área de Educação Física no Brasil, originária dos conhecimentos médicos

higienistas do século 19, foi influenciada de forma determinante por uma visão de

corpo biológica, médica, higiênica e eugênica”, concluindo que essa concepção

atravessou o século 20 e ainda está presente nas práticas atuais:

Essa concepção naturalista atravessou praticamente todo o século 20 – com

variações específicas em cada momento histórico -, estando ainda hoje presente em

currículos de faculdades, publicações e no próprio imaginário social da área

(AZEVEDO, SUASSUNA e DAÓLIO, 2004, p.68).

O modelo esportivista de Educação Física, também predominante no período

dos governos militares, visava dar sustentáculo ideológico ao modelo político

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adotado, pois pretendia a promoção do país através do êxito em competições de alto

nível.

Segundo Darido (2001), em termos de conteúdo a Educação Física esteve,

até os anos 1960, centrada nos movimentos ginásticos europeus, principalmente os

de Ling, Janh e, depois, da escola francesa.

O método francês, principal referência nesta época, preconizava uma Educação

Física orientada pelos princípios anátomo-fisiológicos, visando o desenvolvimento

harmônico do corpo, e na idade adulta a manutenção e melhoria do funcionamento

dos órgãos. Enquanto valores subjacentes buscavam um homem obediente,

submisso e que respeitasse as autoridades superiores sem questionamento, além

disso, não havia preocupação com o ensino de conceitos de qualquer espécie

(DARIDO, 2001, p. 7).

Após a influência do método francês, a Educação Física no Brasil sofreu forte

influência do Método Desportivo Generalizado, cujo principal defensor era Listello

(Cf. Darido, 2001).

O apoio do governo militar à Educação Física na escola, nos anos 1970,

objetivava a “formação de um exército composto por uma juventude forte e saudável

como a desmobilização de forças oposicionistas”, fortalecendo o conteúdo esportivo

na escola e estreitando os vínculos entre esporte e nacionalismo (Darido, 2001).

Sob o aparato ideológico do Estado Militar, vimos então o Brasil alcançar o

título de Tricampeão Mundial de Futebol em 1970 e a consagração, nessa mesma

década, dos medalhistas olímpicos Ademar Ferreira da Silva e tenente João Carlos

de Oliveira, o João do Pulo. Não vimos o aumento da exclusão e a ilusão

proporcionada pelo esporte do alto rendimento. Tal modelo difundiu a ilusão da

ascensão social através do esporte e reforçou o apelo a rígida disciplina, no esporte

e na vida do brasileiro, tão necessária à manutenção do regime em vigor. É nesse

momento, e sob este patrocínio, que o rendimento do esporte entra na Educação

Física Escolar, privilegiando no âmbito da prática da educação física a seleção dos

mais habilidosos, prática que ainda persiste na Educação Física Escolar em nossos

dias, como verifica Sadi:

O esporte escolar é ainda restrito a crianças e adolescentes considerados talentos

esportivos, sendo dominantemente compreendido como base para o esporte de

rendimento e desenvolvido a partir desta compreensão. Esta é uma realidade que

distancia a prática do esporte da perspectiva educacional, gerando exclusão nas

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práticas escolares e desigualdade de oportunidades, pois é um processo que já se

inicia sendo oferecido para poucos (SADI, 2004, p. 23).

Na sociedade esportivizada a Educação Física sofre a influência do marketing

esportivo. Notamos um estranhamento do homem em relação do espetáculo

esportivo, pois a grande massa da torcida que se forma exerce uma atuação passiva

diante do fenômeno do esporte espetáculo. Nesse espetáculo, na arena da

competição, “todos se envolvem em busca da vitória”, sejam atletas, sejam

torcedores (Cf. Sadi, 2004, p. 19).

O esporte se constitui num fenômeno de senso comum e as pessoas tendem

a reproduzir o esporte conforme o discurso presente na mídia. Sadi destaca, ainda,

que os princípios do esporte de rendimento podem se manifestar no esporte

educacional:

Torna-se importante destacar que tais princípios do esporte de rendimento podem se

manifestar no esporte educacional, no nascimento do esporte na criança. Os

professores de Educação Física conhecem tais princípios, entretanto, precisam

compreendê-los melhor. O estranhamento no esporte pode ser muito forte na

formação inicial das crianças, que poderia conduzi-las à passividade da mera torcida

pelos colegas considerados mais “aptos” (SADI, 2004, p. 21).

A partir da década de 1980 a educação física passa a discutir a necessidade

de mudanças, que começaram a surgir já no final dos anos 1970, através das novas

concepções pedagógicas que tinham como objetivo comum a tentativa de romper

com o modelo existente, de cunho tradicional, mecanicista, esportivista e excludente.

Entre as diversas abordagens pedagógicas destacaram-se a Psicomotricidade, a

Desenvolvimentista, a Construtivista, a Crítico-Superadora, a Crítico-Emancipatória,

a Saúde Renovada e a baseada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

O primeiro movimento mais articulado que surgiu em contraposição ao

modelo esportivista foi a Psicomotricidade, a partir da década de 1970, através do

trabalho de Jean Le Bouch, que propõe levar o professor de educação física a

extrapolar os limites biológicos e o rendimento corporal em suas abordagens

pedagógicas.

O modelo Desenvolvimentista teve como referenciais autores como David

Gallahue e J. Connely, e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento

a fundamentação para a Educação Física Escolar. Esta abordagem tenta conceber

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uma aprendizagem motora caracterizada por uma progressão normal do

crescimento físico, dando ênfase ao desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e

afetivo social.

A abordagem Construtivista apresenta-se como uma proposta metodológica

alternativa e em oposição às tendências de Educação Física Escolar existentes,

principalmente a proposta mecanicista. Seu principal expoente no Brasil foi João

Batista Freire, influenciado que foi pelos trabalhos desenvolvidos por Jean Piaget.

Esta abordagem apresenta a possibilidade de uma maior integração com uma

proposta pedagógica ampla e integrada de educação física na educação formal. Em

sua concepção, Freire (2004) aponta a necessidade de compreender em nosso

contexto a relação aprendizagem-desenvolvimento para além das quadras de

esporte, para podermos nos instrumentalizar para a prática de uma pedagogia que

seja para a vida do aluno.

A aprendizagem não pode viver a reboque do desenvolvimento simplesmente. Como

professores, firmamos compromissos éticos que devem , acima de tudo, garantir que

nossos alunos possam se desenvolver com respeito e dignidade, orientados para ser

autônomos. Não devem ser fiéis seguidores de nossas idéias, muito menos

doutrinados, mas devem ter a garantia de que apontamos a aprendizagem para

garantir o desenvolvimento de vidas dignas e autônomas (FREIRE, 2004, p. 16).

Segundo Darido (2001) as concepções críticas e progressistas surgiram na

década de 1980 tendo como referencial a tendência marxista:

Apoiados nas discussões que vinham ocorrendo nas áreas educacionais e na

tentativa de romper com o modelo hegemônico do esporte/aptidão física praticado

nas aulas de Educação Física, a partir da década de [19]80, são elaborados os

primeiros pressupostos teóricos num referencial crítico, de tendência marxista.

Estas abordagens denominadas críticas ou progressistas passaram a questionar o

caráter alienante da Educação Física na escola, propondo um modelo de superação

das contradições e injustiças sociais. Assim, uma Educação Física crítica estaria

atrelada as transformações sociais, econômicas e políticas tendo em vista a

superação das desigualdades sociais (DARIDO, 2001, p. 12).

Nesse sentido Sadi (2004) salienta que

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No Brasil, o esporte sempre foi uma política para poucos. As classes dominantes

apenas legitimavam a prática esportiva quando seus interesses internacionais

poderiam promover a nação, vendendo-a segundo os princípios mercadológicos.

Assim, construiu-se uma concepção de que a política do esporte deveria ser

massificada segundo os interesses do fomento ao esporte olímpico (...) (SADI, 2004,

p. 12).

Como estratégia de governo, a política social é geralmente entendida como um

conjunto de planos, programas e normas, nos quais o Estado estabelece suas

diretrizes, fixando ordens de governo e concedendo alguns mecanismos de

reprodução (idem).

A abordagem Crítico-Superadora, apoiada em tal referencial “levanta

questões de poder, interesse, esforço e superação”, propondo conteúdos baseados

na relevância social, contemporaneidade e adequação às características sócio-

cognitivas dos alunos (Cf. Darido, 2001).

A proposta Crítico-Superadora utiliza o discurso da justiça social como seu

ponto de apoio. Também surgiu como oposição ao modelo tradicional, mecanicista e

militarista predominante, encontrando representantes nas principais universidades

do país e apresentando, por isso, grande número de publicações na área. Esta

tendência da Educação Física na escola levanta questões de poder, interesse de

classe e contestação, apontando para a transformação social.

A concepção Crítico-Emancipatória objetiva a libertação do sujeito das falsas

ilusões, falsos interesses e desejos que conduzem ao consumismo. O aluno deve

compreender a estrutura autoritária que enseja os processos institucionalizados da

sociedade e fazer uso do esforço coletivo para apropriar-se da cultura, do

conhecimento do esporte e lazer produzidos e em construção (Darido, 2004).

Inspirada nos pressupostos da escola de Frankfurt, a perspectiva Crítico-

Emancipatória na Educação Física busca refletir sobre as possibilidades de ensinar

esportes através de sua transformação didático-pedagógica, de maneira que a

Educação Física contribua para a reflexão crítica e emancipatória do sujeito.

O principal trabalho dentro desta perspectiva teve como expoente no Brasil o

Professor Elenor Kunz, para quem

O ensino na concepção crítico-emancipatória deve ser um ensino de libertação de

falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos alunos pela

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visão de mundo que apresentam a partir do conhecimento. O ensino escolar

necessita, dessa forma, basear-se numa concepção crítica (DARIDO, 2004, p. 122).

Para Kunz (apud Darido, 2001), é a partir do ensino crítico que os alunos

passam a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados da

sociedade e que formam as falsas convicções e o senso comum. Assim, a tarefa da

Educação crítica é promover condições para a superação das estruturas autoritárias

(Cf. Darido, 2001, p. 14).

Em educação física, tem se pautado como uma das pioneiras a produção do

conhecimento na área biológica, através dos laboratórios de avaliação física,

fisiologia do exercício e outros que apareceram a partir da década de 1970, embora

não manifestassem intenções explícitas de produzir conhecimento voltado para a

área escolar. Apesar desse distanciamento das questões escolares devido à crítica

pedagógica à visão homogeneizante e acrítica da perspectiva biológica, há uma

influência sobre a educação física escolar dentro da matriz biológica, com

abordagens temáticas relativas à saúde e qualidade de vida. As propostas sugerem

a redefinição dos programas de educação física na escola como meio de promoção

da saúde ou como indicador de um estilo de vida ativa (cf. Darido, 2004).

Nahas (1996, apud Darido, 2004) sugere que o objetivo da educação física na

escola é ensinar conceitos básicos relacionados a atividade física, aptidão física e

saúde, numa perspectiva que vise atender todos os alunos, principalmente os

sedentários, os de baixa aptidão física, os obesos e os portadores de deficiências.

Guedes & Guedes (1996, apud Darido, 2004) criticam a educação física na escola

voltada apenas para a prática das modalidades esportivas tradicionais considerando

que estas são menos interessantes para a promoção da saúde (cf. Darido, 2004).

Muitos cursos de Educação Física pautaram seus currículos pelo paradigma da

aptidão física, o que implicou um grande número de horas destinadas ao estudo de

anatomia, fisiologia, biomecânica e biologia entre outros. Tais conteúdos estavam

organizados por uma formação tecnicista que, no esporte, ensinava nada mais do

que gestos técnicos, fundamentos básicos do esporte (SADI, 2004, p.25).

Ao que expõe Sadi (2004), Brito acrescenta que “nos cursos de Educação

Física espalhados pelo Brasil, a dualidade intensificada pela clássica divisão das

ciências naturais, humanas e sociais é evidenciada na supremacia do ramo técnico-

biológico em relação ao humanista e social” (Brito, 2004, p. 104).

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo Ministério da

Educação e do Desporto, têm como função primordial auxiliarem os professores a

refletirem e organizarem seu trabalho pedagógico sem ser, necessariamente, um

documento obrigatório a ser seguido de forma homogênea por todos os professores.

Os objetivos descritos para a educação física evidenciam a amplitude de

abordagens ao incluírem a dimensão da crítica ao mesmo tempo em que

referenciam a busca da compreensão dos benefícios da atividade física para a

saúde.

Os PCN apontam, ainda, para uma perspectiva de compreensão dos

processos de aprendizagem a partir da ótica do construtivismo:

A busca de um marco explicativo que permita essa ressignificação, além da criação

de novos instrumentos de análise, planejamento e condução da ação educativa na

escola, tem se situado, atualmente, para muitos teóricos da educação, dentro da

perspectiva construtivista. A perspectiva construtivista na educação é configurada por

uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e da aprendizagem humana

que se complementam, integrando um conjunto orientado a analisar, compreender e

explicar os processos escolares de ensino e aprendizagem (BRASIL/MEC, 1997, p.

38).

Assim os PCN para a educação física apresentam três propostas com

aspectos relevantes: princípio da inclusão, dimensões dos conteúdos (atitudinais,

conceituais e procedimentais) e temas transversais. Ressaltam também a

importância da articulação entre o aprender a fazer, saber por que está fazendo e

como relacionar-se com este fazer (Darido, 2004).

O Programa Segundo Tempo foi criado para auxiliar os professores a verem

como o processo alienador pode ser modificado, facilitando o acesso à aquisição de

conhecimento que pode ser desenvolvido através de programas esportivos inseridos

num contexto gerador de ações democráticas. O Programa supõe criatividade e o

incentivo à reflexão (Brito, 2004, p. 103, 105).

2 . A Cultura Institucional e a Cultura Escolar

Na década de 1970 o estudo sociológico das populações escolares levou

inúmeros pesquisadores, atrás dos passos de Pierre Bourdieu e Jean-Claude

Passeron, a verem na escola “apenas o meio inventado pela burguesia para

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adestrar e normalizar o povo (...) sob o manto de uma igualdade abstrata, que

veicula, intactas as desigualdades herdadas, pela reprodução das heranças

culturais e pela reposição do mundo tal qual ele é”. Segundo Dominique Julia

(2001), na medida em que as problemáticas da história da educação se refinaram,

“mais desconheceram o estudo das práticas escolares”. Sem querer negar as

contribuições fornecidas, as problemáticas da história do ensino dedicaram tempo

demasiado a história das idéias pedagógicas e “na busca por definição interminável

de origens e influências, a história das populações escolares, sob a influência dos

métodos e conceitos da sociologia, manifestou maior interesse pelos mecanismos

de seleção e exclusão social praticados na escola que pelos trabalhos escolares”

(Julia, 2001, p.12).

Para Silva Junior e Ferretti (2004), entender a dimensão da escola na

sociedade é preciso entender a sua natureza institucional e sua especificidade num

período histórico determinado:

A discussão sobre a natureza institucional da escola e sua especificidade tem o

mesmo itinerário da discussão da natureza institucional e a especificidade de todas

as instituições, que, como o próprio substantivo indica, instituem a sociedade em

determinado período histórico. Em nosso caso, a modernidade. Instituir a sociedade

significa produzir traços culturais que dão unidade às relações sociais e também

instituem o pacto social burguês no período aludido, por meio da materialidade da

prática social. Isso nos leva a buscar a origem do institucional, para bem

entendermos tal dimensão da escola, ela também uma instituição da modernidade

(SILVA JUNIOR e FERRETTI, 2004, p.49).

A tendência nos estudos da educação era atender aos aspectos sociais e

econômicos externos que condicionavam e explicavam a escola sem considerar sua

realidade interna. Para Viñao Frago a cotidianidade na escola e as relações aí

estabelecidas não foram pesquisadas e estudadas devidamente, pois a escola era

visto numa perspectiva sem contradições e sem capacidade para criar uma cultura

que lhe fosse própria

A consideração da escola – entendendo este termo num sentido amplo – como um

aparelho de reprodução social, ou como um mecanismo idealizado e imposto por

uns grupos sociais a outros com fins de dominação ideológica/cultural, oferecia em

ocasiões uma imagem do sistema educativo e da organização escolar como um todo

uniforme e coerente, sem fissuras nem contradições, e sem capacidade para gerar

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uma cultura interna específica, relativamente autônoma e explicável a partir dela

mesma (...) (VIÑAO FRAGO, 1998, p.167 – tradução nossa).

É inegável a reprodução na escola, pois ela se encontra incorporada ao

plano da cultura a das demandas cotidianas da sociedade, que reproduz não só as

condições e as formas de sociabilidade dominante como também suas

contradições. A dinâmica de reprodução da escola evidencia um ritual quase

natural, uma vez que ela reproduz as condições que a sociedade cria. A escola

condensa dentro dela diferentes temporalidades históricas, em que as reações dos

indivíduos são diferentes como também é diferente a história para cada sujeito.

Tendo como referência os trabalhos de Dominique Julia, André Chervel,

Jean-Claude Forquin e António Viñao Frago, Faria Filho (et alli, 2004) identifica que

o desafio lançado ao campo educacional não é apenas a reflexão sobre as reformas

educativas, mas a busca por “novos referenciais teóricos para interpretar o universo

da escola”. Também entende que, na tentativa de conciliar as vertentes analíticas

de Chevallard (1985) e Julia (2001), que se produziam como opostas, para Forquin

a transposição didática ou rotinização acadêmica não permitia a compreensão de

certos aspectos mais específicos do funcionamento escolar, como práticas internas

às salas de aula, competências operatórias de curto alcance e de função puramente

adaptativa, rituais, rotinas e receitas, indagando-se se a escola não poderia ser

pensada como “verdadeiramente produtora ou criadora de configurações cognitivas

e de habitus originais que constituem de qualquer forma o elemento nuclear de uma

cultura escolar sui generis” (FARIA FILHO et alli, 2004, p. 147).

A educação é prática social fundamental e a escola tem papel social

fundamental que extrapola a educação formal no contexto da sociedade atual,

atendendo a demandas da sociedade que não são dela. Entendemos, portanto, que

o processo pedagógico extrapola a escola pois ela não é somente um lugar de

aprendizagens de saberes.

Segundo Faria Filho (et alli, 2004), cultura escolar recobre as diferentes

manifestações das práticas constituídas no interior da escola, transitando de alunos

a professores, de normas a teorias, tudo o que acontece na escola:

A cultura escolar é toda a vida escolar: feitos e idéias, mentes e corpos, objetos e

condutas, modos de pensar, dizer e fazer. O que acontece é que neste conjunto tem

alguns aspectos que são mais relevantes que outros, no sentido que são elementos

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organizadores que a conformam e definem (VIÑAO FRAGO apud FARIA FILHO et

alli, 2004, p.147).

O processo educativo apresenta para o indivíduo toda a produção da

humanidade, fazendo uma atualização da produção humana nas suas diferentes

temporalidades. A escola deve oferecer elementos da cultura humana para o

indivíduo fazer suas apropriações e objetivações. As objetivações irão determinar o

tipo de apropriação que o indivíduo venha a fazer.

Dominique Julia (2001) define cultura escolar como

Um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar,

e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a

incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades

que podem variar segundo as épocas (...) Normas e práticas não podem ser

analisadas sem se levar em conta o corpo profissional dos agentes que são

chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos

encarregados de facilitar sua aplicação (JULIA, 2001, p. 10-11).

e ainda acrescenta que também é conveniente compreender as culturas infantis

que são desenvolvidas nos pátios e nos recreios e o distanciamento que

apresentam em relação às culturas familiares, pois

todos sabem que os professores não conhecem tudo que se passa nos pátios de

recreio, (...) que existe uma cultura dos jovens que resiste ao que se pretende

inculcar: espaços de jogos e de astúcias infantis desafiam o esforço de

disciplinamento. Essa cultura infantil, no sentido antropológico do termo, é tão

importante de ser estudada como o trabalho de inculcação (JULIA, 2001, p. 36).

Podemos, então, falar que existe uma cultura específica da escola. Como

assinala Viñao Frago, a cultura escolar

é vista como um conjunto de teorias, princípios ou critérios, normas e práticas

sedimentadas ao longo do tempo no seio das instituições educativas. Trata-se de

modos de pensar e atuar que proporcionam estratégias e pautas para organizar e

levar a aula, interagir com os colegas e com outros membros da comunidade

educativa e integrar-se na vida cotidiana do corpo docente. Estes modos de pensar e

atuar constituem-se em ocasiões, rituais e mitos, mas sempre se estruturam em

forma de discursos e ações que, junto com a experiência e formação do professor,

servem para levar a cabo sua tarefa diária. Uma visão mais ampla da cultura escolar

distinguirá entre a subcultura acadêmica e professoral e outras tais como a dos

alunos, enquanto tais alunos com suas estratégias e ritos, e como grupo social

dentro e fora do corpo docente e a dos pais ou famílias com suas expectativas e

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estratégias diante e no sistema escolar (VIÑAO FRAGO, 1998, p.168-169 – tradução

nossa).

A cultura escolar é institucional e institucionalizada. Sendo produzida no meio

das instituições docentes e do sistema educativo, oferece um conjunto de idéias e

práticas “relativamente consolidadas”. Os aspectos organizativos e institucionais

contribuem para conformar os modos de pensar e agir e estes modos conformam

as instituições para um ou para outro sentido (Viñao Frago, 1998, p.174 – tradução

nossa).

Para compreender a cultura institucional e a cultura escolar, Antonio Viñao

Frago (1998) e Dominique Júlia (2001) partiram do estudo das disciplinas escolares.

É importante notar que, para André Chervel, citado por Julia,

as disciplinas escolares são inseparáveis das finalidades educativas, no sentido

amplo do termo “escola”, e constituem “um conjunto complexo que não se reduz aos

ensinos explícitos e programados”, (...) o estudo histórico das disciplinas escolares

mostra que, diante das disposições gerais atribuídas pela sociedade à escola, os

professores dispõem de uma ampla liberdade de manobra: a escola não é o lugar da

rotina e da coação e o professor não é o agente de uma didática que lhe seria

imposta de fora. Mesmo se a corporação à qual pertence exerce uma pressão (...)

ele sempre tem a possibilidade de questionar a natureza de seu ensino; sendo a

liberdade evidentemente muito maior nas margens do sistema (...). De fato, a única

restrição exercida sobre o professor é o grupo de alunos que tem diante de si, isto é,

os saberes que funcionam e os que “não funcionam” diante deste público (JULIA,

2001, p. 33).

Nos PCN encontramos a indicação de uma “influência educativa, de natureza

e funcionamento desconhecidos, porém com incidência considerável sobre a

aprendizagem” que podemos identificar como uma referência à cultura escolar:

Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros mecanismos de influência

educativa, cuja natureza e funcionamento em grande medida são desconhecidos,

mas que têm incidência considerável sobre a aprendizagem dos alunos. Dentre eles

destacam-se a organização e o funcionamento da instituição escolar e os valores

implícitos e explícitos que permeiam as relações entre os membros da escola; são

fatores determinantes da qualidade de ensino e podem chegar a influir de maneira

significativa sobre e como os alunos aprendem (BRASIL/MEC, 1997, p. 38).

As pesquisas sobre cultura institucional e cultura escolar na área da

educação, e notadamente em história da educação, tem demonstrado que, apesar

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das intencionalidades, ora implícitas ora explícitas nas normas, nos regulamentos,

nas concepções ou nas propostas, elas não se confirmam na prática da forma como

foram preconizadas. Uma instituição escolar tem características homogeneizadora e

diferenciadora. Não existe um modelo único de escola, elas não são idênticas, ainda

que pertencentes a uma mesma rede ou sistema de ensino. Há elementos presentes

nas concepções e nas propostas para a rede e elementos de contradição nas

escolas que as diferenciam diante daquilo que é proposto, confirmando que as

proposições não se efetivam na prática como foram idealizadas.

Portanto, os desejos de mudança e a implantação de projetos, propostas e

concepções pedagógicas não se efetivam da forma como foram preconizadas, pois

a instituição escolar não é mera agência reprodutora de expectativas ou projetos

sociais, uma vez que, como resultado do próprio processo histórico, cada unidade

escolar, ao mesmo tempo que incorpora valores, normas, procedimentos, etc.,

socialmente instituídos, constrói sua própria forma de ser e de se organizar, elabora

normas e valores, estabelece condutas, costumes, códigos e referências que utiliza

coletivamente como critérios para examinar, analisar, incorporar, negar ou modificar

o que lhe é proposto por meio da prática escolar, cuja centralidade constitui-se no

indissociável binômio apropriação-objetivação (SILVA JUNIOR e FERRETTI, 2004,

p.45) .

3 . A Formação do Ser Social na Perspectiva da Prática Escolar

As pesquisas em educação têm se voltado para as práticas escolares como

prática social. O fundamento da prática escolar é o trabalho e as produções que

emanam de suas relações. O trabalho, como protoforma do ser social, materializa

as contradições presentes na sociedade. Portanto, a prática escolar como prática

social não é linear, mas constituída de contradições. Como as práticas envolvem

sujeitos, tem sido dada uma importância maior ao papel do professor como sujeito

na construção da cultura escolar. Para entender a constituição desse sujeito Silva

Junior e Ferretti (2004) buscam em Lukács e Heller a formulação de elementos

teóricos para nos fazer refletir sobre as categorias da prática social e escolar,

considerando a constituição do ser social trabalhador na escola através de sua

formação na cotidianidade, pois a escola é uma condensação de temporalidades

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históricas e de cultura (cf. Silva Junior e Ferretti, 2004, p. 84-85). A cotidianidade

exerce uma forte influência na formação do professor e é representada pela vida

cotidiana do sujeito, a vida de cada dia. São marcas da vida, da família e hábitos

que aparecem na prática diária dos professores.

A prática escolar é uma prática social específica na constituição do ser social

e é constituída com base na cultura escolar, no fazer do professor em seu cotidiano,

no seu fazer diário. A prática escolar decorre da prática social. A partir da

apropriação que cada sujeito faz resulta na prática de cada um.

(...) independentemente do poder que os diferentes segmentos culturais tenham de

interferir no desenho do currículo e de que este tenha sido estruturado em

obediência ao que preceitua Duarte, o fato é que as apropriações e objetivações

feitas pelos sujeitos sociais que atuam numa dada escola, num dado momento

histórico, numa dada sociedade, terão como base, além das contingências

conjunturais, suas histórias pessoais, desenvolvidas em uma ou mais ambiências

culturais e sociais, assim como a história da própria escola (SILVA JUNIOR e

FERRETTI, 2004, p. 68).

O processo de formação de todo ser humano é sempre uma síntese dinâmica

de um conjunto de todos os elementos produzidos pela história humana, sendo a

ação educativa humana uma ação histórica e social. Nesse aspecto o indivíduo é

uma “síntese de inúmeras relações sociais” (Duarte, 1993, p. 13-14).

É importante observar uma reflexão sobre o processo de formação do

indivíduo a partir dos pressupostos da objetivação e apropriação, humanização e

alienação, gênero humano, e individualidade para si, como preceitua Duarte (1993)

e como nos apropriamos aqui nesse trabalho.

Para Duarte (1993) objetivação e apropriação são categorias que “expressam

a dinâmica do processo pelo qual o ser humano se auto-constrói ao longo da

história”. A relação entre essas duas categorias expressa a dinâmica essencial da

auto-produção do homem pela sua atividade social (Duarte, 1993, p. 15).

As categorias humanização e alienação expressam “o caráter contraditório

com que os processos de objetivação e apropriação” se realizam no interior das

“relações sociais de dominação de classes sobre outras classes e de grupos sobre

outros grupos” (Duarte, 1993, p. 15).

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O gênero humano é categoria que expressa a historicidade da “atividade

objetivadora” humana, expressa o resultado da história social humana. A busca de

superação do caráter espontâneo e natural com que a individualidade resulta da

síntese das inúmeras relações sociais.

Ao produzir as condições de sua existência transformando a natureza, o

homem se apropria dela e se objetiva nela. Num constante movimento de superação

por incorporação, a apropriação e a objetivação geram novas necessidades e

conduz o indivíduo a novas formas de ação.

As relações estabelecidas entre os seres humanos constituem objetivações

da atividade humana. São determinados tipos de atitudes que vão se objetivando e

sendo apropriados por cada indivíduo ao longo de sua vida. Assim a síntese da

atividade humana é o acúmulo da experiência proporcionada pela objetivação das

relações sociais, sendo que cada ser humano ao se apropriar dessas objetivações

passa a agir no âmbito das condições sociais, isto é, da história da atividade dos

outros homens (Cf. Duarte, 1993, p. 38).

Duarte resume que

... a atividade humana é uma atividade histórica e geradora da história, do

desenvolvimento humano, da humanização da natureza e do próprio homem, em

decorrência de algo que caracteriza a especificidade, a peculiaridade dessa atividade

frente a todas as demais formas de atividade de outros seres vivos (DUARTE, 1993,

p. 38).

Por sua historicidade, a relação entre objetivação e apropriação não se realiza

sem a apropriação de objetivações existentes, pois na dinâmica própria da atividade

vital humana essa relação é realizada na presença de “condições determinadas pela

atividade passada de outros seres humanos” (Duarte, 1993).

Cada individuo tem que se apropriar de um mínimo desses resultados da atividade

social, exigido pela sua vida no contexto social do qual faz parte. Quais componentes

da genericidade farão parte desse mínimo indispensável à própria sobrevivência do

individuo, dependerá das circunstancias concretas de sua vida, especialmente

aquelas de seu meio social imediato (DUARTE, 1993, p. 40-41).

A atividade humana, então, se objetiva em produtos materiais ou não, num

processo cumulativo que sintetiza a “experiência histórica de muitas gerações”

(Duarte, 1993, p. 43).

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Enquanto um animal apenas utiliza a herança genética da espécie na

realização de sua atividade vital instintiva, no ser humano a relação com o gênero é

construída ao longo da própria atividade vital, uma vez que o gênero humano se

constrói exteriormente ao organismo dos seres humanos e estes formarão a sua

individualidade através da relação estabelecida com o ser genérico objetivado.

Através do processo de apropriação e objetivação a seqüência de ensino-

aprendizagem reproduz a essência do processo histórico sem que haja a

necessidade do aluno viver cada etapa da evolução histórica do ser genérico. A

apropriação da linguagem, por exemplo, é uma objetivação genérica cuja

apropriação é parte indispensável da formação do indivíduo.

Todo ser humano, no processo de apropriação da genericidade sob as

condições concretas de sua realidade, aprende a viver sua cotidianidade e a

reproduzir a si próprio dentro dessa realidade concreta de sua existência, pois é a

vida cotidiana a esfera social em que todo indivíduo inicia a sua formação.

4 . Investigando a Cultura Escolar em Educação Física

A cultura escolar tem especificidades e temporalidades únicas: hora, dia,

ano, sujeitos, temperatura, localidade, materialidade, etc. É preciso entender o

professor de educação física como sujeito importante na constituição da cultura da

escola. Isso já nos outorga o direito de uma análise sobre cultura e prática escolar,

porque o que nos importa nessa instância são as práticas e os fazeres docentes.

Que fique bem claro que, ao falar de cultura escolar, estamos nos referindo aos

aspectos que influenciam a prática docente. Diversidade cultural é uma outra

categoria.

Investigar a cultura escolar no âmbito da educação física é verificar em que

medida as propostas, as concepções, as tendências e as mudanças afetam a

prática do professor e como têm sido historicamente apropriadas e se constituído

nas práticas escolares. O institucional “vai muito além das leis que regem o Estado

e a educação” e disso decorrem que “na cotidianidade as práticas escolares (...) são

concretamente distintas, trazendo em si sua densidade histórica e as condições

políticas e econômicas do momento em que a prática se dá na realização da forma

escolar” (Silva Junior e Ferretti, 2004, p.58).

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Apesar da crítica, o modelo esportivista e as práticas de cunho militarista,

mecanicista e tradicional persistem e ainda permanecem na Educação Física

Escolar de nossos dias. O paradigma cartesiano ainda hoje é hegemônico na

educação física.

Darido (2004) indica que

Não existe uma única forma de pensar a Educação Física na escola;

Existem diferentes concepções de Educação Física, com pressupostos,

objetivos, conteúdos e metodologias diferentes;

Cada uma das tendências enfatiza determinados aspectos, apontando para

diferentes práticas pedagógicas;

As tendências pedagógicas construídas ao longo da história nos permitem

compreender melhor o universo da Educação Física na escola (DARIDO,

2004, p. 106).

Como podemos observar, coexiste na área da educação física uma

diversidade de concepções e tendências pedagógicas, sendo que cada uma delas

surgiu “tendo em comum a tentativa de romper com o modelo anterior” (Darido,

2004, p. 129). Darido também afirma que

Os objetivos e as propostas educacionais da Educação Física foram se modificando

ao longo deste último século, e todas essas tendências, de algum modo, ainda hoje

influenciam a formação do profissional e as práticas pedagógicas de nós professores

de Educação Física. (...) nós ainda recebemos influências dessas formas de pensar e

praticar a Educação Física. Isso não quer dizer que fazemos tudo absolutamente

igual, mas que algumas coisas permanecem na nossa prática (DARIDO, 2004, p.

107).

Não existe, portanto, uma única forma de pensar a educação física na escola.

Existem diferentes concepções com pressupostos, objetivos, conteúdos e

metodologias diferentes. Cada uma destas diferentes abordagens pedagógicas

enfatiza determinados aspectos, apontando para diferentes práticas pedagógicas,

que foram construídas historicamente.

Segundo Julia (2001), “(...) no momento em que uma nova diretriz redefine as

finalidades atribuídas ao esforço coletivo, os antigos valores não são, no entanto,

eliminados como por milagre, as antigas divisões não são apagadas, novas

restrições somam-se simplesmente às antigas” (Julia, 2001, p.23).

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Sendo assim, Darido (2001) adverte que

Todavia, é preciso ressaltar que a discussão e o surgimento destas abordagens não

significou o abandono de práticas vinculadas ao modelo esportivo, biológico ou ainda,

ao recreacionista, que podem ser considerados os mais freqüentes na prática do

professor de Educação Física escolar (DARIDO, 2001, p. 8).

Algumas práticas escolares são comuns e podem ser construídas no âmbito

de cada instituição, constituindo-se em elementos da cultura escolar. Em algumas

unidades escolares a prática de Futebol é deliberada, em outras existe o predomínio

do Handebol sobre as outras modalidades esportivas, em outras ainda do

Basquetebol ou do Voleibol, e também da Dança em suas mais diversas formas de

manifestação. Alguns professores preferem trabalhar com recreação ou com

atividades lúdicas. As formas de participação de meninos e meninas nas aulas de

Educação Física são diferenciadas de uma escola para outra. São práticas

estabelecidas conforme a experiência de vida, as preferências e a formação do

Professor de Educação Física, das características dos alunos e da escola. Isto é

cultura escolar, cuja construção tem uma historicidade.

Semelhante ao que ocorre na área da educação, as concepções e propostas

na Educação Física Escolar “não são apenas marcadas pelo que delas esperam

seus propositores, mas também pelas condições concretas de sua consecução” nem

tampouco ocorre de forma linear, mas de forma contraditória em função da densidade histórica de

cada instituição escolar, do quanto a cultura escolar está consolidada na instituição

sustentando sua identidade, de forma conservadora ou transformadora em alguma

medida, especialmente quando a cultura social faz-se intensa na escola. O que,

como decorrência, pode ou não concorrer para a realização dos objetivos

pretendidos pelos reformadores tendo em vista o novo pacto social demandado

pelas transformações gerais do capitalismo, podendo gerar mais desagregação,

como se vê no país (SILVA JUNIOR; FERRETTI, 2004, p. 40-41).

A educação física enquanto disciplina escolar possui uma dinâmica própria

que envolve uma relação entre os sujeitos que extrapola o ambiente da escola. Não

obstante essa especificidade própria da disciplina da educação física escolar, ela

está inserida no contexto da cultura institucional que envolve a escola.

Propõe-se, então, que a educação física na escola seja estudada tendo a

cultura institucional como categoria de análise, uma vez que os estudos das

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normas, concepções e tendências metodológicas e pedagógicas, históricas que

são, sempre estiveram preocupados com o “pensamento ou idéias pedagógicas, e

desde uma perspectiva idealista, (...) com uma visão normativa que confundia a

realidade com o proposto” (Viñao Frago, 1998, p. 168).

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III. MÉTODO

1 - Hipóteses

Para compreender as questões que envolvem o tema e alcançar os objetivos

propostos nesse trabalho de pesquisa, partimos das seguintes hipóteses:

• As propostas, os programas, os projetos, as metodologias, as concepções e

as tendências pedagógicas não se efetivam na escola e na prática escolar do

professor de Educação Física, e se ocorre não o faz da maneira como foram

elaborados.

• Os professores de Educação Física encontram dificuldade ao trabalhar com

projetos ou propostas novos.

• Essas dificuldades se devem à cultura instituída e a formação do professor,

ou seja, a cultura escolar e a formação exercem influencia determinante nas

práticas e nos fazeres do professor de Educação Física.

Sendo assim, projetos como o Programa Segundo Tempo, do Ministério do

Esporte; a Proposta Curricular da Educação Física Escolar e o Projeto Lien Ch’i -

Meditação, da SEE/CENP, bem como demais projetos e propostas para a Educação

Física e Esporte Escolar, podem não se efetivar na prática.

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Não se pretende afirmar com isso que as propostas para a educação Física e

Esporte Escolar encontram na cultura institucional, especificamente na cultura

escolar, impedimento ou fator dificultador para suas implementações. Nem,

tampouco, que as práticas construídas pelo professor de Educação Física tenham

como referência exclusiva a cultura instituída. E muito menos podemos afirmar que a

cultura institucional seja a mola impulsionadora para a concretização das propostas

e metodologias pedagógicas na Educação Física e Esporte Escolar.

Para construir estas hipóteses partimos da constatação de que:

• As práticas escolares são estabelecidas conforme a experiência de vida e a

formação do Professor de Educação Física, bem como em razão das

características dos alunos e da escola.

• As formas de entender a educação física na escola são diferentes em cada

momento histórico, em cada indivíduo e, portanto, em cada unidade escolar.

Cabe, então, encontrar os motivos pelos quais as propostas não se efetivam,

na prática, em mais de três ou quatro escolas da região, ainda assim precariamente.

Torna-se importante saber por que e como numa escola há o predomínio de uma

determinada prática ou concepção sobre outras muitas vezes históricas na

sociedade. É importante saber o que determina as práticas e os fazeres no cotidiano

do professor de educação física na escola. Acreditamos que a resposta encontra-se

na cultura escolar instituída no âmbito da escola e que vem se constituindo em

objeto de estudo na área da educação nos últimos tempos. Investigar a cultura

institucional e a prática escolar no âmbito da educação física é verificar em que

medida as propostas, as concepções, as tendências e as mudanças afetam a prática

do professor e como têm sido historicamente apropriadas e se constituído nas

práticas escolares.

Durante uma reunião de Orientação Técnica de educação Física Escolar na

Diretoria de Ensino de Caieiras, reunindo os professores que atuam nos municípios

de Franco da Rocha e Francisco Morato, em 27 de julho de 2006, realizou-se parte

desse trabalho através de uma série de entrevistas tendo como base um

questionário preparado inicialmente para definir o perfil do professor de Educação

Física da região atendida pela DE Caieiras.

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Através deste mesmo questionário procurou-se investigar sobre as atuações

pedagógicas dos professores e compreender se as propostas da CENP têm sido

implantadas nas escolas. Duas grandes dificuldades foram encontradas na

aplicação do questionário: primeira, a inexistência de registros sobre os trabalhos

que são realizados dentro da escola pelo professor de educação física, ou seja, a

própria Diretoria de Ensino desconhece se as propostas são efetivadas ou não.

Segunda, dos questionários distribuídos aos sessenta e cinco presentes apenas

vinte e um foram devolvidos e, ainda assim com alguns itens sem respostas ou com

respostas múltiplas. O questionário proposto continha 26 (vinte e seis) perguntas,

sendo quatro delas de caráter aberto e dissertativo.

2 – A Educação Física na Rede Estadual de Educação de São Paulo - A Proposta Curricular da CENP

A Educação Física na rede oficial de ensino do Estado de São Paulo foi

definitivamente regulamentada através da Lei Número 11.361, de 17 de março de

2003, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) em 18 de março de 2003. Em seu

artigo 1° atribui à Educação Física o “status” de componente curricular obrigatório

em todas as séries da rede estadual de ensino:

Artigo 1°: A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é

componente curricular obrigatório em todas as séries da rede estadual de ensino.

Parágrafo único: A disciplina a que se refere o “caput” é facultativa nos cursos

noturnos (SÃO PAULO, 2003).

O artigo 2° destaca que o exercício da profissão é prerrogativa exclusiva de

profissionais portadores de licenciatura plena em Educação Física:

Artigo 2°: Somente profissionais devidamente habilitados, portadores de licenciatura

plena em educação física, podem ministrar a disciplina a que se refere o artigo

anterior (SÃO PAULO, 2003).

Assim disposta, a implementação da proposta curricular para a Educação

Física no sistema de ensino do Estado de São Paulo fica sob a responsabilidade da

Coordenadoria Estadual de Normas Pedagógicas (CENP). Apesar de se referir à

proposta curricular como decorrente da “parceria com as Diretorias Regionais de

Ensino” e “construída com as bases de professores e alunos da Rede Estadual de

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Ensino”, as ações da CENP deixam explícita a centralização na organização do

currículo escolar (SEE/CENP).

A proposta da CENP aponta para “a melhoria da proposta de qualidade de

vida da população de São Paulo“, destacando como importante esse papel da

Educação Física desenvolvida pela Secretaria Estadual de Educação (SEE),

principalmente no atual governo do Estado. O pressuposto da CENP é que esse

papel “tem se efetuado no cotidiano” dos alunos e da comunidade escolar através de

ações do currículo da escola.

A CENP exerce papel de orientação e estruturação curricular e de “apoio

pedagógico ao desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem”, tendo como

“preocupação central promover um ensino de qualidade na rede pública estadual”

(SEE/CENP).

Na implantação e implementação dessa nova proposta curricular de

Educação Física Escolar pela CENP, destacam-se projetos e eventos como a

Olimpíada Colegial do Estado de São Paulo, as Atividades Curriculares Desportivas

(ACD) e o Projeto Lien Ch’i – Meditação.

2.1- Educação Física Escolar

Ao apresentar a Educação Física Escolar que é desenvolvida pela SEE, a

CENP destaca a “luta que esse componente curricular apresentou durante décadas

para se afirmar no currículo escolar (...) desempenhando papéis de relevância para

o contexto educacional, político, econômico e social” (SEE/CENP).

Tendo como objeto de estudo o Movimento Humano, o Organograma de

Conceitos da CENP propõe ao professor de educação física uma Unidade Temática

- Conhecendo o Movimento - elencando uma série de conceitos e enfoques a serem

utilizados nas aulas de Educação Física Escolar, nas escolas estaduais. A seleção

dos conteúdos e dos conceitos é dividida em quatro subunidades temáticas que

relacionam o movimento humano em sua funcionalidade, com sua estrutura, meio

ambiente e as relações sociais (SÃO PAULO/CENP, 2006).

Na definição de Darido

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... o papel da Educação Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos,

atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em

seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus

valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as

atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do

aluno de saber por que ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais

conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).

(DARIDO,2001, p.20-21).

A proposta curricular da CENP apresenta um “conjunto de proposições” para

servir de “referências ou pontos de partida” para que “cada escola, cada professor”

possa elaborar e desenvolver um currículo “capaz de atingir as finalidades do

processo de educação escolarizada com eficácia e eficiência”, respeitando-se as

particularidades regionais e institucionais (SEE/CENP).

Para sistematizar e dar consecução às suas propostas a CENP fez realizar

cursos para preparar os professores de Educação Física.

Assim o curso de Educação Física Escolar tinha como objetivos:

1.1.1- Aliar suporte teórico-prático à implementação da Proposta Curricular de

Educação Física que está sendo construída com a Rede Pública Estadual de Ensino

e suscitar a aplicação dessa Proposta nas vivências práticas dos educadores que

atuam nas escolas públicas estaduais;

1.1.2- Manter os professores atualizados a cerca dos avanços científicos e das

pesquisas acadêmicas sobre a intervenção prática do professor de Educação Física

no processo de ensino aprendizagem;

1.1.3- Tornar os professores aptos a utilizar novas tecnologias a serviço do ensino da

Educação Física na escola, organizando situações de aprendizagem com resoluções

de problemas através da aplicação da metodologia atualmente vivenciada na Rede :

a da prática, problematização e sistematização, com conhecimentos que apresentem

uma relação direta com a vida dos escolares (SEE/CENP).

O programa exigia como requisitos para participar do curso de Educação

Física Escolar:

2.1.1- Ser Professor de Educação Básica – PEB-II – portador de Licenciatura Plena

em Educação Física, com vínculo e ministrando aulas de Educação Física na Rede

Estadual de Ensino em 2005;

2.1.2- Ter realizado a inscrição em tempo hábil, fixado pela Diretoria de Ensino.

2.1.2- Apresentar, quando solicitado, declaração de horário de trabalho na Rede Pública Estadual de São Paulo, assinada pelo(s) superior(s) imediato.

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2.1.3- Apresentar o último hollerith, ou declaração de vínculo expedida pela Direção

da Unidade Escolar (SEE/CENP).

O curso de Educação Física Escolar era gratuito, realizado fora do horário de

trabalho, com duração de 40 (quarenta) horas, nas dependências da Escola de

Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (EEFEUSP), na Cidade

Universitária em São Paulo, para os professores de Educação Física vinculados às

Diretorias de Ensino da Grande São Paulo.

CAIEIRAS 30 vagas CARAPICUIBA 30 vagas CENTRO 30 vagas DIADEMA 30 vagas ITAPECIRICA DA SERRA 30 vagas ITAPEVI 30 vagas ITAQUAQUECETUBA 30 vagas TABOÃO DA SERRA 30 vagas

LESTE 1 30 vagas LESTE 2 30 vagas LESTE 3 30 vagas LESTE 4 30 vagas LESTE 5 30 vagas SUL 2 30 vagas SUL 3 30 vagas NORTE 2 30 vagas

Quadro 1 – Vagas disponíveis para Diretorias de Ensino da Grande São Paulo:

realização n° 1 (SEE/CENP)

Podemos observar que nessa primeira realização foram capacitados cerca de

480 professores de Educação Física da região metropolitana da capital de São

Paulo. Também houve ações desenvolvidas pela CENP para capacitar os

professores de Educação Física vinculados às Diretorias de Ensino (DE) do Interior

do Estado, da Rede Estadual de Ensino (Cf. SEE/CENP).

Quanto aos objetivos para a Educação Física Escolar, a proposta curricular

da CENP deixa claramente definida a sua função no contexto da educação

escolarizada:

Os objetivos específicos da educação física devem estar atrelados às finalidades da

educação escolarizada, mas não podem ser confundidos com elas. A não definição

da sua especificidade tem contribuído fortemente para a identificação da educação

física como um coadjuvante do processo de escolarização, sem conteúdo próprio e,

portanto, a serviço de outras disciplinas curriculares para a realização de seus

objetivos específicos ou como um meio auxiliar para o alcance de metas genéricas

não diretamente relacionadas com o processo de escolarização (SEE/CENP).

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Assim o objeto de estudo da área de conhecimento da Educação Física

enquanto disciplina do currículo escolar é o movimento humano, ou seja, a cultura

do movimento, como propõe a CENP, esperando que a Educação Física Escolar

responsabilize-se pela “disseminação dos saberes escolares relativos ás

especificidades da área”, contribuindo “na formação de um cidadão autônomo,

crítico e participativo”, incorporando a prática da atividade física à sua “prática

regular e sistemática ao longo da vida, adotando conscientemente um estilo de vida

ativo na busca de uma melhor qualidade de vida” (SEE/CENP).

Diante desse quadro, o desafio que se coloca à Educação Física Escolar é muito

grande: fomentar a disseminação do conhecimento acerca do movimento humano,

promovendo situações no processo ensino-aprendizagem que contribuam para a

conquista da autonomia e consciência como cidadão crítico. Durante as aulas de

Educação Física, os alunos precisam ser estimulados a participarem e vivenciarem

diversos movimentos, bem como a refletirem acerca das atividades físicas realizadas,

levantando dados das suas experiências e deduzindo hipóteses que levem à

aquisição do saber elaborado (SEE/CENP).

2.2 – Projeto Lien Ch’i – Meditação

O Lien Ch’i é um exercício que exige, mais do que concentração, “disciplina

mental”, assim é o lema na página da CENP de acesso ao Projeto na internet.

A partir do final de 2003 a Secretaria Estadual de Educação (SEE) deu início

à implantação do Lien Ch’i na rede estadual de ensino através da “parceria entre o

Governo do Estado de São Paulo e a Associação de Medicina Chinesa (AMC)”.

Através de cursos para os professores de Educação Física da rede estadual,

primeiramente atendeu-se aqueles vinculados às Diretorias de Ensino da região da

Grande São Paulo, posteriormente expandiu-se para atender aos professores e

profissionais de todo o Estado.

O curso de Lien Ch’i apresentava como objetivos:

1.1- O Curso de “ Lien ch’i e meditação” tem como objetivo o aperfeiçoamento

profissional do professor, a apresentação de novas sugestões de atividades motoras

e de alternativas de trabalho diferenciado com os alunos da Rede Pública Estadual de

São Paulo (SEE/CENP).

e tinha como requisitos para participação;

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2.1.1- Ser Professor de Educação Básica – PEB II – portador de Licenciatura Plena

em Educação Física.

2.1.2- Ter participado e concluído o módulo I do referido curso, com no mínimo 90%

de frequência.

2.1.3- Apresentar, quando solicitado, declaração de horário de trabalho na Rede Pública Estadual de São Paulo, assinada pelo(s) chefe(s) imediato (SEE/CENP).

O curso era gratuito e a preparação inicial, Módulo I, contemplou cerca de

3000 professores de Educação Física da capital e Grande São Paulo, reunidos no

Ginásio Constâncio Vaz Guimarães, Ibirapuera, em São Paulo.

Como curso de formação continuada para professores de Educação Física,

apresentou como conteúdo “a questão da cultura tradicional chinesa trazida para a

cultura escolar da Rede Pública Estadual de São Paulo”.

Embora tivesse começado no final de 2003 e início de 2004, o curso foi

estruturado em 2005, conforme cronograma a seguir:

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IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar do universo bem recortado dessa investigação, alguns dados são

muito importantes para se entender o que foi exposto nos capítulos anteriores.

Devido as peculiaridades tornou-se importante verificar a faixa etária em que

se constituía o quadro de profissionais presentes, em seus respectivos gêneros:

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Verificamos que quase 62% dos professores presentes são do sexo feminino

e que, entre os homens, mais de 62% estão situados na faixa acima de 40

(quarenta) anos de idade enquanto 25% na faixa entre 25 (vinte e cinco) e 30 (trinta)

anos de idade. Entre as mulheres, mais de 38% encontra-se na faixa acima de 40

(quarenta) anos de idade e 23% delas na faixa entre 25 (vinte e cinco) e 30 (trinta)

anos de idade. No geral verificou-se que quase a metade do total, cerca de 48% de

homens e mulheres que participaram da pesquisa estavam na faixa acima de 40

(quarenta) anos de idade. Isto torna-se significativo numa abordagem em que a

formação e a experiência, de vida e profissional, são determinantes na construção

da cultura e da prática escolares.

Quanto ao tempo de formação/graduação na área de Educação Física, os

dados apresentaram o seguinte quadro:

Podemos verificar através desses dados que 75% dos homens pesquisados

foram graduados em Educação Física há mais de 10 (dez) anos, tendo vivenciado

na prática, durante o tempo escolar e na formação superior como estudantes ainda,

as concepções mais antigas que estiveram presentes na Educação Física e as

mudanças decorrentes das transformações históricas. Entre as mulheres os dados

são mais equilibrados: quase metade, cerca de 46%, foi graduada entre 2 (dois) e 5

(cinco) anos, e outro tanto acima de 10 (dez) anos. Do total dos professores de

Educação Física pesquisados, masculino e feminino, mais da metade – cerca de

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57% - é formada há mais de 10 (dez) anos, e cerca de 1/3 (um terço) destes é

formada entre 2 (dois) e 5 (cinco) anos.

Verificou-se, também, que aproximadamente 67% do total não possui outra

graduação. Entre as mulheres são quase 70% e entre os homens cerca de 63%.

Quanto a cursos de pós graduação, 75% dos homens não possui, já entre as

mulheres essa cifra alcança pouco mais da metade das pesquisadas:

No total, observamos que quase 62% não possuem qualquer curso de pós-

graduação.

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Constatamos, ainda, que metade dos homens não trabalha exclusivamente

no magistério. Entre as mulheres menos de 40% não trabalha somente no

magistério. Do total, 57% dos pesquisados atuam exclusivamente no magistério.

Podemos observar, também, como demonstra o quadro seguinte, que mais

de 66% do total desses professores de Educação Física preferem atuar no

magistério, cerca de 19% preferem atuar no esporte/bacharelado, enquanto quase

15% procuram atuar em ambos os setores.

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Apesar de aproximadamente 53%, pouco mais da metade, dos professores

pesquisados verem no exercício da profissão de Educação Física a possibilidade de

alcançar independência financeira, cerca de 90% afirma que sente nesse exercício a

possibilidade de realização profissional.

Apresentadas as diversas concepções pedagógicas aos pesquisados, cerca

de 71% afirmou incorporar no seu cotidiano escolar um pouco das várias

concepções pedagógicas existentes na Educação Física. Cerca de 57% afirmaram

desconhecer a proposta do Organograma de Conceitos da CENP, embora 52%

assinalaram que aplicam ou tentaram aplicá-la em suas escolas. Também se

levantou que mais da metade destes profissionais fez o curso de Lien Chi, oferecido

pela Secretaria Estadual da Educação/CENP em 2004, como formação continuada,

porém apenas 24% aplicam ou tentaram aplicar na escola.

Quando Darido se propõe a analisar as principais características das

tendências, visando que fiquem explícitos os pressupostos pedagógicos que estão

por trás da atividade do ensino e “na busca da coerência entre o que se pensa estar

fazendo e o que realmente se faz”, conclui que as diferentes perspectivas

pedagógicas que são incorporadas na Educação Física “não aparecem de forma

pura, mas com características particulares, mesclando aspectos de mais de uma

linha pedagógica”.

A formação inadequada do professor de Educação Física é quase sempre

responsável pela instalação de concepções pedagógicas pouco esclarecidas. A

prática de todo professor, mesmo que de forma pouco consciente, apóia-se numa

determinada concepção de aluno e de ensino aprendizagem que é responsável pelo

tipo de representação que o professor constrói sobre o seu papel, o papel do aluno, a

metodologia, a função social da escola e os conteúdos a serem trabalhados.

(DARIDO, 2003, p.13).

A própria proposta da CENP “incorpora as sugestões das várias abordagens

apresentadas nos últimos anos para a Educação Física Escolar, devidamente

selecionadas com olhos voltados para os aspectos e elementos em comum (...)”

(SEE/CENP. Proposta curricular/versão preliminar).

Quanto as propostas da CENP, apenas 38% do total informou conhecer a

proposta curricular da Educação Física Escolar baseada no Organograma de

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Conceitos, somente entre os homens cerca de 62%. Entre as mulheres quase 70%

afirmou não conhecer a proposta de Educação Física Escolar da CENP.

Quanto a aplicação na prática da proposta curricular da Educação Física

Escolar baseada no Organograma de Conceitos, verificamos que 52%

experimentaram aplicar em algum momento em sua escola, embora cerca de 57%

tenham afirmado não conhecer a proposta e quase 5% não ter respondido ao item

do questionário correspondente ao conhecimento da proposta. Cerca de 28%

afirmou não ter aplicado a proposta em momento algum e 19% não respondeu a

este item do questionário.

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Em relação ao curso de Lien Ch’i, mais da metade do total dos professores

participou do primeiro módulo, introdutório, do curso proporcionado pela CENP.

Entre os homens 75% deles afirmou ter participado, entre as mulheres quase 62%

não participou.

Sobre a implantação do Lien Ch’i na prática da Educação Física em suas

respectivas escolas, apenas 24% respondeu ter desenvolvido na escola em algum

momento; quase 48% afirmaram categoricamente nunca ter tentado implantar o Lien

Ch’i em suas escolas e 29% não respondeu a este item do questionário.

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Na avaliação da CENP sobre a participação dos professores de Educação

Física na aplicação do Lien Ch’i nas 2188 escolas da região da Grande São Paulo,

em quase 27% delas a classificação obteve índice insuficiente (casos em que o

trabalho dos professores capacitados através do curso foi realizado de forma

esporádica e não seqüencial). Em cerca de 48% das escolas da Grande São Paulo

o índice de classificação da CENP é bom (quando o trabalho dos professores

capacitados através do curso é realizado constantemente nas aulas de Educação

Física na escola), e em cerca de 25% das escolas o índice de classificação é

excelente (os professores capacitados expandiram a técnica para além de suas

turmas regulares, incluindo professores de outras disciplinas, HTPC, eventos da

escola e outros).

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Ainda, de acordo com os dados da CENP, podemos observar que 1.474.200

de alunos tiveram contato com o Lien Ch’i, porém menos da metade o praticam

regularmente.

Também podemos observar que a aceitação do Lien Ch’i é maior entre os

alunos do Ciclo I – 1ª a 4ª séries, sendo ínfima no Ensino Médio:

Assim a CENP conclui que, para o Ciclo II – 5ª a 8ª séries – e Ensino Médio,

para a aceitação do Lien Ch’i “há a necessidade de contextualização da prática por

meio de pesquisas e informações sobre a cultura oriental” (SEE/CENP).

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1 - Contradições

Existem grandes diferenças entre o que os professores dizem, o que

escrevem, e o que efetivamente fazem em sua prática. Notamos aqui algumas

contradições entre o discurso presente nas propostas, a maneira como os

professores de Educação Física as recebem, o que dizem a respeito e o que

realmente fazem em seu dia a dia.

Em geral, nenhum professor se revelou formalmente contrário às propostas

da CENP, cabendo o reconhecimento pela maioria, que atribuiu muitas vantagens

em trabalhar com as propostas, tanto com a Educação Física Escolar -

Organograma de Conceitos quanto com o Lien Chi. Cabe, então, encontrar os

motivos pelos quais as propostas não se efetivam, na prática, em mais de três ou

quatro escolas da região, ainda assim precariamente.

As justificativas principais para não aplicar as propostas são: a falta de

material e a estrutura da escola; tempo do curso de formação insuficiente e falta de

continuidade ao trabalho por outro professor. A maioria mencionou, entre as

dificuldades de aplicar as propostas, a “cultura dos alunos”, da comunidade e da

escola, apontando também as “diferenças entre as escolas” e “falta de perspectiva”

dos alunos como obstáculos.

A conclusão da CENP sobre a prática do Lien Ch’i nas escolas da Capital e

da Grande São Paulo é que “foi bastante favorável e de fácil aceitação pelas

crianças do Ciclo I”. isso soa estranho e contraditório, pois o Ciclo I (1ª e 4ª séries)

do Ensino Fundamental da Rede Estadual corresponde a muito pouco em razão da

municipalização instituída na reforma educacional realizada ao longo dos anos 1990.

Quando formulada a questão “Você tem aplicado a proposta de Educação

Física Escolar – Organograma de Conceitos nas suas aulas/na sua escola?”,

procurando saber as dificuldades, as vantagens, o número e a faixa etária dos

alunos atendidos, alguns professores responderam:

Serve como orientação e uma linha de trabalho a seguir (...) mas é preciso

haver uma flexibilidade, professor Ivan, que afirmou conhecer e desenvolver o

trabalho com cerca de 200 alunos na faixa etária de 11 a 16 anos.

Tem escola que dá para trabalhar legal, mas tem muitas escolas que não dão

[a] estrutura necessária, professor Leandro que afirmou conhecer a proposta e

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aplicá-la a alunos de 11 a 12 anos, sem especificar a quantidade de alunos

atendidos.

O professor Gildevan também afirmou conhecer a proposta e ter trabalhado

com alunos na faixa de 12 anos de idade. Atualmente não trabalha mais com a

proposta. (...) as dificuldades são as diferenças de escola para escola (municipal e

estadual), assinalou.

É uma maneira nova organizada de trabalhar a aula de educação física.

Dificuldade pelas perspectivas de os alunos (que não são trabalhados no ensino

fundamental [ciclo] 1 (1ª a 4ª séries). Por uma falta de aprendizagem nas séries

iniciais de educação física os alunos só pensam em esporte na 5ª série em diante,

afirmou o professor José Manoel, que apontou ainda como dificuldade a falta de

material e a falta de trabalho específico nas séries iniciais.

[É] Interessante, pois o professor desenvolve um trabalho gradativo e

direcionado, disse o professor Mauro que desenvolve trabalho com 40 alunos de 10

a 12 anos e afirmou conhecer a proposta.

A professora Rosemeire também afirmou conhecer a proposta e aplicá-la a

170 alunos na faixa de 6 a 10 anos de idade: A proposta nos auxilia a seqüência de

movimentos necessários e adequado a faixa etária trabalhada. No meu caso ciclo I.

Sem saber definir ao certo se conhecia a proposta (assinalou ambiguamente

SIM e NÃO), A professora Isa Maria afirmou que aplica apesar da dificuldade de

disponibilidade de tempo dos alunos e que trabalha com sucata: Com sucata, perna

de lata, vai e volta, queimada com bola de meia, malabares feitos com bexigas e

semente. Os alunos constroem os objetos.

Afirmando não conhecer a proposta, a professora Maria Cristina assinala que

a aplica em duas turmas de 5ª série, no total de mais ou menos 65 alunos, [de] mais

ou menos 12 anos. Assinalou ainda que: A proposta é muito boa, o que às vezes

impede são as estruturas das unidades escolares.

A professora Fernanda assinalou não conhecer e não aplicar a proposta: Até

o momento não foi aplicado pois desconhecia esta proposta. O que pretendo mudar

a partir deste próximo semestre.

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Já a professora Elenir foi mais enfática ao afirmar que não conhece e nem

aplica a proposta: Não acredito que o aluno precise saber de conceito, minhas aulas

é a maior parte centrada nas atitudes dos alunos.

Alguns professores que não se identificaram afirmaram conhecer e aplicar a

proposta considerando-a “muito boa”:

Por achar prático e por ter um programa a seguir. [As] Dificuldades [são a] falta de

material pedagógico, escolas com muitas escadas, não continuação do trabalho por

outros professores, escolas que não foi realizado o trabalho, informação para os

demais professores e coordenação e direção da U.E.

[A] vantagem [é o] desenvolvimento do ensino-aprendizagem do aluno e [a] interação

com o professor da sala (ciclo I).

Falta apoio, material e até estrutura física.

Ao ser formulada a questão “Você tem aplicado a proposta do Lien Ch’i nas

suas aulas/na sua escola?”, procurou-se saber se o professor participou do curso de

capacitação, se aplicava a proposta em sua escola, o número e a faixa etária de

alunos atendidos, os argumentos foram:

... ajuda na concentração, volta [a] calma e relaxamento do aluno. Sem dúvida

nenhuma serve como suporte dentro de um trabalho variado (Professor Ivan, que

participou do curso de Lien Ch’i e procura aplicar a proposta em suas aulas).

O professor Leandro, que participou do curso de Lien Ch’i e não o desenvolve

em suas aulas, justifica: O curso só foi oferecido aos professores somente (sic) uma

vez. Acho que a Secretaria da Educação deveria ampliar o curso (...). A proposta

como um todo é muito significativa. Sabendo trabalhar o professor obtem resultados

satisfatórios.

O professor Gildevan, que também participou do curso, assinalou que não

desenvolve a proposta na escola e em suas aulas: Na época eu não tive recursos

como som e CD. Depois eu perdi o pique [motivação].

Por falta de “material sonoro” o professor José Manoel assinalou não

desenvolver a proposta, mesmo tendo participado do curso de capacitação oferecido

pela CENP.

O professor Mauro também participou do curso de capacitação porém não

realiza atividades relacionadas a ele em suas aulas de educação física na escola em

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que atua, e justifica apontando: Problema cultural, cinco dias de curso com vários

problemas de organização é insuficiente para uma prática consciente.

O professor Carlos Alberto participou do curso de Lien Ch’i e também não o

desenvolve no seu cotidiano, embora já tenha tentado: Já tentei implantar mas foi

recusado pelos alunos pois os mesmos eram do Ensino Médio.

A professora Sueli participou do curso e também já tentou desenvolver em

suas aulas: Tenho turmas de 8ª série e às vezes faço como se fosse alongamento

uma aula de Lien Ch’i. Mas as turmas de Ensino Médio eles não participam se fizer,

já tentei. É muito legal, mas tem que ser [para] um público diferenciado.

A professora Rosemeire participou do curso de capacitação de Lien Ch’i e

afirma desenvolver a proposta com 170 alunos de 6 a 10 anos em suas aulas de

educação física e na escola: Percebi que as crianças se acalmam, mas alguns

alunos se constrangem em fazer. Mas com calma acredito que todos participem. [É]

Muito bom.

A professora Isa Maria participou do curso de Lien Ch’i e afirmou desenvolver

a proposta em suas aulas de educação física na escola: O envolvimento é igual nas

crianças do ciclo I – 1ª a 4ª série – quando os mesmos já tiveram contato. Muitos

gostam de fazer os exercícios.

Um professor que não se identificou, assinalou ter participado do curso e ter

tentado aplicá-lo na escola para 250 alunos entre 7 e 11 anos e justificou: Por

desenvolver corpo, mente e espírito e porque percebo que os alunos ficam mais

calmos. [As] Dificuldades [são a] não continuidade e escolas não trabalhadas.

Os demais professores que responderam ao questionário proposto não

responderam a estas questões afirmando que não participaram dos cursos de

capacitação e, portanto, não desenvolvem a proposta na escola.

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V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que os fenômenos humanos são resultantes de uma dupla

construção: uma que remete à sua gênese e outra à sua representação. Para Petitat

(1992) a interação entre sujeito e objeto é historicamente situada. Por um lado a

elaboração de uma representação supõe necessariamente apreensão seletiva em

que estão presentes os interesses do sujeito e seu ponto de vista. Por outro lado, as

perspectivas “sócio-político-filosóficas constitutivas do objeto”, no nosso caso as

relações escola-sociedade “são numerosas, entrecruzadas”, muitas vezes

escapando à verificação empírica em virtude das contradições que envolvem o

sujeito em seu cotidiano, e que nos propõem leituras sob “certos ângulos”

ressaltando as “controvérsias ideológicas e as mitologias fundadoras que assediam

as nossas interrogações e representações do social” (Cf. Petitat, 1992, p. 138-142).

Procuramos, assim, fugir à análise sob a perspectiva funcionalista, em que o

paradigma da reprodução dos valores centrais, das representações dominantes e do

sistema predomina essencialmente o cotidiano da escola e dos sujeitos, sem a

existência de conflitos e contradições.

Sobre a escola como instrumento de reprodução, adverte Petitat:

De tanto repetir que a escola não faz senão reproduzir, esquece-se que as categorias

reproduzidas foram objeto, e o são ainda, de uma produção. Esquece-se sobretudo

que o instrumento da reprodução de uma classe pôde ser também o de sua produção

inicial e de suas transformações subseqüentes. Mais que isso, a idéia de instrumento

não é mais suficiente, nem mesmo a de autonomia. A perspectiva adotada aqui

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descobre uma profunda homologia estrutural entre a mídia e o ator. Do mesmo modo

que existe uma relação de reforçamento recíproco entre a escrita e a estabilidade dos

grandes conjuntos políticos, do mesmo modo que o uso da imprensa marca

profundamente as relações sociais, o uso generalizado do meio escola modifica seus

utilizadores e deixa sua marca na própria estrutura social. Aqui o meio é produtor, ele

é agente. Num sentido mais forte do que um simples instrumento, pois a instituição é

ela mesma um cruzamento de atores vivos, de mestres, de alunos, de gestores, de

políticos, de moralistas, etc (PETITAT, 1992, p. 148-149).

Portanto, desgastados já pelas visões mais generalizadas da história e

explicações paradigmáticas das diferentes metodologias pedagógicas que

predominaram, e predominam ainda, na Educação Física, nos orientamos ao estudo

do particular considerando suas vinculações com o universal, considerando assim o

particular como expressão do desenvolvimento geral.

Dentro de uma escola podemos encontrar elementos que caracterizam sua

especificidade e também elementos mais gerais que podem caracterizar todo o

sistema de educação. Tal ocorre com a Educação Física como componente

curricular no sistema escolar. Há, portanto, a necessidade de integrar o micro com o

macro, o específico com o geral, o local com o global, entendendo as suas relações.

Por uma série de razões a escola é o último reduto aonde chegam as

inovações: metodologias, regras, tecnologia e outras. Somos todos sujeitos em

constante formação. Diariamente acrescentamos novos elementos aos fazeres

diários de nossas vidas particular e profissional na medida em que nos apropriamos

e objetivamos novos elementos construídos pela sociedade.

A realidade, pois, é complexa e dinâmica e não podemos compreendê-la em

sua totalidade. Por isso fazemos escolhas metodológicas. E optamos pelo

referencial teórico exposto por entendermos serem suficientes para nos dar o

suporte conceitual adequado à nossa proposição. Consequentemente a escolha da

amostragem deveu-se não apenas à adequação ao referencial teórico, mas também

ao atendimento dos aspectos circunstanciais.

Como proposta didática e metodológica, a proposta da CENP, na forma como

está sendo apresentada aos professores de educação física, não leva em

consideração a cultura institucional constituída na cotidianidade das escolas, ou pelo

menos não deixa claro a importância da construção histórica da cultura escolar

como aspecto importante da participação dos alunos nas atividades físicas e das

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relações entre professor e aluno, e entre meninos e meninas nas aulas de educação

física. Há que se fazer, portanto, uma reflexão teórico-crítico da cultura escolar para,

em seguida, um resgate dos conceitos, inserindo-os na (re)construção da cultura

escolar.

Considerando os currículos das faculdades de Educação Física, que incluem

dança, capoeira, judô, ginástica, atividades de expressão, folclore e outras, convem

questionar como o faz Betti (apud Darido, 2001): Como explicar a pouca utilização

destes conteúdos pelo professor de Educação Física na escola? Seria a falta de

espaço, de motivação, de material? Comodismo, talvez? Falta de aceitação destes

conteúdos pela sociedade? Ou será que os professores desenvolvem somente os

conteúdos com os quais tem maior afinidade?

De fato, por melhores que sejam o planejamento de um projeto e os recursos

despedidos para sua execução, isto só não é garantia suficiente para sua efetivação

na prática, seja da Educação Física Escolar, ou seja de qualquer programa ou

projeto para o desenvolvimento do esporte.

E mais, os professores de Educação Física não são chamados a participar da

elaboração das propostas, evidenciando a forma como os últimos governos têm se

relacionado com a educação e com os trabalhadores da área educacional, quando

se propõe uma educação democrática preocupada com o desenvolvimento da

cidadania e formação de um indivíduo mais crítico.

Verificamos, portanto, que a nossa hipótese se confirma parcialmente no que

se refere à proposta da Educação Física Escolar – Organograma de Conceitos, por

constituir-se em elemento comum de conhecimento na formação do professor de

Educação Física e com conteúdos didáticos conhecidos de todos. E, de maneira

mais geral, se verifica também a confirmação de nossa hipótese inicial quanto a não

efetivação na prática escolar cotidiana do professor de Educação Física no que se

refere ao Lien Ch’i, por tratar-se, como afirmaram alguns professores, de elemento

que não faz parte de sua cultura nem da cultura dos alunos.

Como argumenta Ferretti (2006) “as escolas não são idênticas ainda que

pertencentes a uma mesma rede ou sistema de ensino”. Pois há elementos que a

rede propõe, as propostas; e elementos, certas particularidades, que diferenciam e

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contradizem o que a rede propõe. Assim as proposições não se efetivam na prática

da maneira como foram idealizadas.

Dentro dessa complexidade que a escola apresenta os sujeitos tendem a se

apropriar e incorporar um horizonte de materialidade conforme a sua situação social

lhe permitir. Na apropriação da produção histórica da genericidade humana o sujeito

passa a comportar não apenas os componentes biológicos, mas também elementos

culturais (misticismo, religiosidade, racismo e outros) que serão importantes na sua

constituição individual. A apropriação da genericidade humana deve materializar-se

no campo particular, e assim, somente ao materializar-se, contribui para a

genericidade, pois acumulamos todo um passado que a humanidade genericamente

produziu e este passado histórico não pode ser perdido.

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APÊNDICES

Apêndice 1 - Questionário aplicado aos professores de Educação Física da

Diretoria de Ensino de Caieiras que atuam nos municípios de Franco da Rocha e

Francisco Morato, Grande São Paulo (página 1).

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Apêndice 2 - Questionário aplicado aos professores de Educação Física da

Diretoria de Ensino de Caieiras que atuam nos municípios de Franco da Rocha e

Francisco Morato, Grande São Paulo (página 2).

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ANEXOS

Anexo 1 - LEI Nºº 11.361, de 17 de março de 2003, que dispõe sobre a

obrigatoriedade da disciplina de educação física no Estado de São Paulo.

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Anexo 2 - Informações sobre Lien Ch’i - meditação: conclusões e

depoimentos oficiais.

“LIEN CH'I E MEDITAÇÃO

Um exercício que exige mais do que concentração, disciplina mental. Esta mesma expressão, encontrada neste exercício de meditação e tão difundida no dia-a-

dia de educadores e alunos, resume a concretização e o sucesso dessa parceria entre o

Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Estado da Educação e

Associação de Medicina Chinesa - AMC.

Mas a prática do Lien Ch’i por professores e alunos, hoje, depois de ter chegado até as

casas dos nossos jovens, provou que corpo e mente produzem mais e melhor quando

trabalham juntos, afinados, em sintonia.

Este projeto que começou a ser desenvolvido em novembro de 2003 com professores de

Educação Física na Capital e Grande São Paulo, teve que se expandir, que se desdobrar

para atender a outros professores e profissionais da Educação no Estado. É assim que

acontece com as parcerias que são feitas visando mais do que qualquer coisa, a nossa

gente.

Valorizar a qualidade de vida do nosso povo que é o nosso maior patrimônio sempre dá

bons resultados. E aqui estão alguns deles. Não apenas através dos gestos harmônicos do

Lien Ch’i, mas também em números.

Conclusões sobre a prática de Lien Ch’i nas escolas da Capital e Grande São Paulo

Podemos afirmar pelos dados apresentados que a prática de Lien Ch’i nas Escolas

Estaduais da Capital e da Grande São Paulo foi bastante favorável e de fácil aceitação pelas

crianças do Ciclo I. Em relação aos jovens (Ciclo II e Ensino Médio), observa-se que para

sua aceitação há necessidade de contextualização da prática por meio de pesquisas e

informações sobre a cultura oriental.

Os alunos apontaram como benefícios da prática constante do Lien Ch’i: tranqüilidade e

calma, maior concentração nas aulas, relaxamento com melhor postura corporal, diminuição

de dores no corpo, dormir tranqüilamente, maior entusiasmo e disposição em outras

atividades, menor agressividade, melhor relacionamento com os colegas, melhor noção do

corpo e auto-estima, levar os conhecimentos da prática aos familiares.

Tais benefícios demonstram uma relação direta com a melhoria da concentração das

crianças e jovens, que favorecem o desejo de aprender o que, certamente reverterá em

benefícios na qualidade da aprendizagem nas escolas públicas paulistas.

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Alguns depoimentos:

“Os alunos conhecem os nomes dos movimentos e executam com prazer. Além de

contribuir com a aprendizagem e a atenção durante todas as aulas, o nível de

agressividade dos alunos também diminuiu”. Professora da EE Ulisses Victor

Gervásio – DE Mauá.

“Eu ensinei o Lien Ch’i para o meu pai e treinamos sempre. Ele aprendeu a fazer os

movimentos do abraço do céu e terra, o giro do tai chi, arco e flecha e ele adorou

fazer todos os movimentos” Eriko – aluno da 3ª série da EE Reverendo Professor

Manoel da S. Porto Filho – DER Sul 2.

“Eu adoro a aula de meditação chinesa. Ela ensina a ter muita calma. Quando a

gente vem com dor de cabeça ou raiva, nós fazemos esses movimentos e ficamos

relaxados” Marta Souza Freitas da 4ª série da EE Sol Nascente – DER Norte 1 -

Revista da Folha 26/09/2004.

“Professora, o meu filho está muito feliz com as aulas de Educação Física e acho

que com as aulas de Lien Ch’i ele ficou muito mais amoroso e amigo” Bilhete de

Nilza (mãe de aluno da EE Prof. Benedito Gomes de Araújo da DER Santo André)

ao Professor de Educação Física.”

FONTE: http://cenp.edunet.sp.gov.br/index.htm acessado em 25/11/2006.

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Anexo 3 – Convocação dos Professores de Educação Física para

Orientação Técnica na Diretoria de Ensino.

De: Celso Maziviero Dolce Para: Data: 10/07/0610:19 Assunto: [Sem assunto] Parte inferior do formulário To: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], pesuto [email protected], dani [email protected], [email protected], deru _ [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], pro [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], quatro_ [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], priscila _ [email protected], adrip [email protected], [email protected], j [email protected], leticia _ [email protected], ferreirababy @hotmail.com, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], thyago [email protected], [email protected] Bcc: Date: Mon, 10 Jul200610:19:18 -0300

ASSUNTO: ORIENTAÇÃO TECNICA "EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR"

FICAM CONVOCADOS OS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ORIÊNTAÇÃO TÉCNICA CONFORME SEGUE:

HORÁRIO: das 08hs15m às 17hs

LOCAL: Manhã - Centro Esportivo Municipal de Caieiras, Rua Portugal s/n - centro Tarde - Centro Cultural "Isaura Neves", Rua Argentina n° 400 - centro - Caieiras / SP.

DATA: 20/07/06 - GRUPOS - Franco da Rocha e Francisco Morato. 25/07/06 - GRUPOS - Caieiras, Cajamar e Mairiporã.

OBS. Amigo Professor, por favor, levar o planejamento do ano de 2006 e também os registros das produções dos alunos para realização de atividade.

CELSO NICOLETI DE JESUS Dirigente Regional de Ensino

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Anexo 4 – Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 1).

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Anexo 5 – Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 2).

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Anexo 6 – Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 1).

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Anexo 7– Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 2)

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Anexo 8 – Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 1).

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Anexo 9 – Questionário respondido por um dos professores de Educação

Física (p. 2).

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Anexo 10 – Gráfico da CENP considerando os “Fatores do Sucesso do Projeto

Lien Ch’i (FONTE: http://cenp.edunet.sp.gov.br/PortalEF/Lien/graficos/05.swf).

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Anexo 11 – Os “Números do Sucesso” do Projeto Lien Ch’i segundo a CENP

(FONTE: http://cenp.edunet.sp.gov.br/PortalEF/Lien/graficos/06.swf).

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DADOS DO AUTOR

Mestrado em Educação Linha de Pesquisa em Políticas e Práticas Escolares Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE (cursando) Licenciatura Plena em Pedagogia Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE (conclusão: 2005) Licenciatura Plena em Educação Física Escola Superior de Educação Física de Jundiaí (conclusão: 1985)

PUBLICAÇÕES DO AUTOR:

PAULA, Adelgício Ribeiro de. Educação física da escola: a cultura

institucional e as práticas escolares. In: FONTOURA, Paula (org.). Pesquisa em

educação física. Jundiaí (SP): Fontoura editora, v. 5, n. 1, junho 2007, p. 221-228

(Coleção pesquisa em educação física). ISSN: 1981-4313.

PAULA, Adelgício Ribeiro de. Intervenção consentida: o Brasil reformado e a mercantilização do ensino público fundamental. In: Anais do VII Encontro de

Pesquisa em Educação da Região Sudeste – desafios da educação básica: a

pesquisa em educação (ANPEDINHA)Vitória (ES): Universidade Federal do Espírito

Santo (UFES), mai. 2007, p. 549.

_________. A cultura institucional, as práticas escolares e a educação física na escola. In: 1° Congresso de Educação Física de Jundiaí – anais 2006

(tema livre). Jundiaí (SP): Escola Superior de Educação Física de Jundiaí (ESEF),

nov. 2006.

_________. A Violência das torcidas e racismo no futebol: o que a escola tem com isto? Maringá (PR): Revista Acadêmica Multidisciplinar

Urutágua/Universidade Estadual de Maringá, n. 7, ago/set/out/nov. 2005, disponível

em www.uem.br/urutagua/007/07paula.htm .

_________. Educação Física na Prática Escolar. São Paulo: Phoenix, 2004.

e-mail: [email protected] e [email protected]

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