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Prática Pedagógica: a questão da Educação Física no cotidiano escolar e sua relação com as Diretrizes Curriculares do Paraná. Antônio Marcos Diniz 1 Carmem Elisa Henn Brandl 2 Resumo Este trabalho tem como objetivo investigar as mudanças ocorridas na Prática Pedagógica da Educação Física no cotidiano escolar, após a implantação das Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do Estado do Paraná. O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, realizada no ano de 2007 em uma escola da rede pública da região oeste do Estado do Paraná e teve como sujeitos os três professores que atuam nela. A coleta de dados se deu mediante análise documental nos livros de registro de classe; mediante entrevistas: com os três professores que atuam na escola; mediante observação das aulas dos referidos professores. Vimos a constatar que as práticas cotidianas dos professores não se alteraram de forma significativa nos últimos anos após a implantação das Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do Estado do Paraná. Infelizmente ainda pudemos notar que os conteúdos que norteiam toda a atividade docente ainda são muito centrados em práticas esportivas, desenvolvidas a partir de metodologias tradicionais, sem reflexão. Palavras chave: Educação Física Escolar. Prática pedagógica. Diretrizes curriculares. Abstract This work has as objective to investigate the occurred changes in Practical the Pedagogical one of the Physical Education in the daily pertaining to school, after the implantation of the Curricular Lines of direction of Physical Education for the Basic Education of the State of the Paraná. The study it is characterized as a 1 Especialista em Educação Física Escolar Professor da Rede Publica de Educação do Estado do Paraná 2 Doutora em Educação Física Docente da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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Prática Pedagógica: a questão da

Educação Física no cotidiano escolar e sua relação com as Diretrizes

Curriculares do Paraná.

Antônio Marcos Diniz1

Carmem Elisa Henn Brandl2

Resumo

Este trabalho tem como objetivo investigar as mudanças ocorridas na Prática

Pedagógica da Educação Física no cotidiano escolar, após a implantação das

Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do Estado do

Paraná. O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva com abordagem

qualitativa, realizada no ano de 2007 em uma escola da rede pública da região

oeste do Estado do Paraná e teve como sujeitos os três professores que atuam

nela. A coleta de dados se deu mediante análise documental nos livros de

registro de classe; mediante entrevistas: com os três professores que atuam na

escola; mediante observação das aulas dos referidos professores. Vimos a

constatar que as práticas cotidianas dos professores não se alteraram de forma

significativa nos últimos anos após a implantação das Diretrizes Curriculares de

Educação Física para a Educação Básica do Estado do Paraná. Infelizmente

ainda pudemos notar que os conteúdos que norteiam toda a atividade docente

ainda são muito centrados em práticas esportivas, desenvolvidas a partir de

metodologias tradicionais, sem reflexão.

Palavras chave: Educação Física Escolar. Prática pedagógica. Diretrizes

curriculares.

Abstract

This work has as objective to investigate the occurred changes in Practical the

Pedagogical one of the Physical Education in the daily pertaining to school, after

the implantation of the Curricular Lines of direction of Physical Education for the

Basic Education of the State of the Paraná. The study it is characterized as a

1Especialista em Educação Física Escolar Professor da Rede Publica de Educação do Estado do Paraná

2 Doutora em Educação Física Docente da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

descriptive research with qualitative boarding, carried through in the year of 2007

in a school of the public net of the region west of the State of the Paraná and had

as citizens the three professors who act in it. The study is characterized as a

descriptive research with qualitative approach, accomplished in the year of 2007

in a school of the public net of the area west of the State of Paraná and he/she

had as subjects the three teachers. We saw to verify that the teachers' daily

practices didn't lose temper in a significant way in the last years after the

implantation of the physical education Guidelines Curriculum for the Basic

Education of the State of Paraná. Unhappily still we could notice that the contents

that orientate all the educational activity are still very centered in sporting

practices, developed starting from traditional methodologies, without deepened

reflection.

Key words - School physical education. Pedagogic Practice. Guidelines

Curriculum.

_____________________________________________________

1. Introdução

Entender a real situação da Educação Física no cotidiano escolar tem sido

alvo de estudo de muitos pesquisadores e é sem dúvida estimulante, porque esta

compreensão abrange muitos aspectos particulares da própria Educação Física,

bem como outros mais gerais da Educação como um todo. Mas como realmente

as aulas de Educação Física acontecem no dia-a-dia da escola? O que nos leva

a este questionamento é o fato de que, em muitas escolas, não se tem claro o

que vem a ser Educação Física Escolar, sejam alunos, demais professores,

pedagogos, direção e em algumas vezes os próprios professores da disciplina. A

lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996 diz em seu artigo 26 § 3º que: “A

educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente

curricular obrigatório da educação básica...” (grifo do autor) infelizmente ainda

não compreendida e assimilada por uma grande parte da “comunidade escolar”

que a vê apenas como prática de atividades físicas com fins à melhoria da saúde,

como forma de compensar as outras disciplinas tidas como de “formação

intelectual” ou ainda desenvolver atividades recreativas, entre outras definições

que encontramos na literatura bem como no cotidiano de nossas escolas. Esta

“(in) compreensão”, ou a falta da mesma, da real necessidade e possibilidade da

Educação Física dentro do projeto/processo educativo presente no ambiente

escolar, leva muitos professores que não tiveram uma “formação pedagógica” em

seu curso de graduação em licenciatura, a desenvolverem atividades que

poderiam ser confundidas com um treinamento desportivo ou atividades de lazer

de um clube ou colônia de férias, como nos lembra Kunz: “Provavelmente, na

escola, nem o aluno nem o diretor, fará qualquer distinção entre o trabalho prático

realizado por esse profissional (Professor de Educação Física) com curso

universitário e o de uma pessoa qualquer que goste da ginástica e dos esportes.”

(KUNZ, 2004, P.83) (grifo do autor).

Algo que poderíamos chamar da gênese da Educação Física Escolar

brasileira acontece no final do século XIX quando sob a preocupação com a

saúde pública. Segundo Lino Castellani Filho apud ( BRAID, 2003: p. 55).

...a Educação Física “nasceu” no século XIX em conseqüência das preocupações dos médicos higienistas com a alta taxa de mortalidade da população branca brasileira, a obrigatoriedade da Educação Física foi, portanto, instituída com o objetivo de proporcionar atividades saudáveis que produzissem homens preparados para atividades intelectuais e mulheres prontas para gerar filhos fortes e cuidar da família

Esta situação perdura por muito tempo até aproximadamente a década de

60, quando por influência da instituição militar se inicia mais um período, também

muito extenso, que em alguns casos perdura até hoje, que é uma tendência

histórica chamada militarista, onde se via como necessidade a real formação (no

conceito mais puro da palavra, o de moldar corpos e mentalidades conforme

Ghiraldelli Junior (1987) de sujeitos fortes para defender a família e a pátria.

Seguiu-se, a partir desta época, com a tendência desportiva generalizada,

defendida principalmente pelo professor Auguste Listello, segundo Betti apud

Darido (2003) pautada no conteúdo esportivo com caráter lúdico. Ainda segundo

a mesma autora no final da década de 60 e toda a década de 70 com forte

influência da situação social e política que o país vivia, numa época de ditadura

militar, se instala segundo Darido(2003) em nossas escolas uma idéia de

formação de um exército composto por uma juventude forte e saudável como a

desmobilização de forças oposicionistas com grande ênfase de conteúdos

esportivos reforçando valores como a racionalidade, a eficiência e a

produtividade.

Vemos ainda hoje que na grande maioria das escolas apenas este

conteúdo é trabalhado; infelizmente com os mesmos princípios de racionalidade,

eficiência e produtividade. Busca-se através de atividades sistematizadas ou não,

desenvolver ou “descobrir” talentos esportivos, priorizando assim os mais

habilidosos, marginalizando a grande maioria dos alunos; sobremaneira os

menos habilidosos, os gordinhos; enfim aqueles que mais necessitariam de

atenção. Só esta situação já justificaria o estudo, que encontramos na maioria

das escolas de nossa região, e muito provavelmente em muitas outras do Estado

do Paraná e de todo o Brasil. Uma Educação Física descompromissada com o

sentido/significado maior da escola bem como da Educação como um todo, que é

o de propiciar condições de que os alunos se tornem sujeitos autônomos, críticos

e capazes de atuar em suas realidades e transformá-las.

Mas a situação que se nos apresenta mostra muitos vilões que ora se

intercalam para justificar o “fracasso” ou as situações de insucesso da disciplina

de Educação Física nas escolas. Num primeiro momento é a falta de legitimidade

da mesma como disciplina (sua constante crise de identidade); após isto temos

professores “mal formados”, ou formados para ser especialistas em esportes,

recreação, fisiologia, anatomia, mas sem formação didática, ou com visões

simplistas da prática pedagógica da Educação Física Escolar. Num terceiro

momento são os conteúdos e diretrizes impostas e a falta de propostas

metodológicas que não sistematizam a ação dos professores, isto, é claro, sem

falar na falta de material, instalações inadequadas e a não valorização

profissional do Professor de Educação Física.

Enfim, existe a necessidade premente de refletirmos, analisarmos,

discutirmos a respeito da situação da Educação Física nas escolas de ensino

fundamental e médio, a sua valorização como Disciplina, a valorização do

Professor, as propostas didático-metodológicas. Para tal urge que reconheçamos

qual a prática pedagógica dos professores de Educação Física no cotidiano.

Já a tempo temos propostas que tentam mudar tal realidade, no Estado do

Paraná desde o Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná

publicado no ano de 1990, mas que teve seus estudos iniciados por volta do final

da década de 80 que já traziam em sua proposta alguns conteúdos, pressupostos

de movimento, encaminhamento metodológico e avaliação. Uma proposta muito

bem estruturada baseada em autores como Lino Castellani Filho, Vigotsky,

Bracht, Brunhs, Guiraldeli Junior, Lê Bouch, João P. S. Medina entre outros, mas

que não teve a devida reflexão, primeiro porque o governo estadual não

proporcionou a preparação do professor para tal diretriz e por outro lado o

professor atuante neste período teve uma formação inicial/graduação nos moldes

tradicionais, leia-se tecnicista. E devido talvez a estes fatores, entre outros, o

Currículo Básico fosse relegado a segundo plano. Com toda certeza as

constantes mudanças que ocorrem nas políticas de Estado em relação à

Educação, que na verdade são políticas de governo e não de Estado, levaram-no

ao quase esquecimento, já que durante os anos de 1994 a 2002 ele foi

desprezado. Vemos também a nível nacional que no inicio da década de 90 com

a nova LDB são aprovadas as DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais e são

distribuídos os PNC – Parâmetros Curriculares Nacionais, como sendo a

salvação da Educação. Segundo as DCE (Paraná, 2006, p 53) mesmo

apresentando-se mais um projeto neoliberal que visava apenas à idéia do Estado

Mínimo, mesmo que os impostos continuassem sendo mais do que o máximo

aceitável.

Mas também apesar desses aspectos negativos, a proposta traz alguns

pontos muito interessantes para a Educação Física como, por exemplo, quando

sugere o trabalho dos conteúdos nas dimensões conceituais, procedimentais e

atitudinais dos conteúdos.

No ano de 2003 volta-se, no Estado do Paraná, a pensar em uma Diretriz

onde fossem recuperados aspectos do quase já esquecido Currículo Básico;

desta feita é iniciado um processo de reformulação das Diretrizes Estaduais da

Educação com o nome de Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação

Básica do Estado do Paraná que se dá de forma conjunta entre os professores

da rede estadual e dois assessores de uma universidade pública.

Entretanto ao analisarmos as referidas diretrizes, que de certa forma

ajudamos a construir, com algumas ressalvas, pois os estudos foram na maioria

das vezes realizadas por textos dirigidos; vemos que a proposta traz sim alguns

termos diferentes, a referência a alguns autores mais atuais, a clara intenção de

uma direção crítica nos encaminhamentos; temos algo já visto há algum tempo

no que se refere aos conteúdos Dança, Esporte, Ginástica, Jogos e Brincadeiras

e Lutas que estão presentes tanto no ensino fundamental como no médio.

Apresenta-se algo de novo, ou uma maquiagem de já conhecidas idéias e

termos, na Educação Básica em relação aos “Conteúdos Estruturantes – Esporte;

Jogos e brincadeiras; Ginástica; Lutas; Dança.” (Paraná, 2006, p.3 2008).

Também temos os “Elementos articuladores dos Conteúdos Estruturantes para a

Educação Básica: cultura corporal e corpo; cultura corporal e ludicidade; cultura

corporal e saúde; cultura corporal e mundo do trabalho; cultura corporal e

desportivização; cultura corporal – técnica e tática; cultura corporal e lazer;

cultura corporal e diversidade e cultura corporal e mídia. (idem)

Gostaríamos de destacar um ponto que acreditamos ser particular nas

atuais Diretrizes, é a proposta de uma Prática Pedagógica, aqui entendida como

todo o processo da Escola e da disciplina, desde o planejamento até a avaliação,

tanto para a educação básica, ou seja, para o Ensino Fundamental quanto para

o Médio, que, se bem aplicados podem levar a Educação Física a uma

participação mais efetiva na Educação, objetivo comum de toda a Escola.

Pois segundo as DCEs em seus encaminhamentos metodológicos diz que

“ a Educação física tem a função social de contribuir para que os alunos se

tornem sujeitos capazes de reconhecer o próprio corpo, adquirir uma

expressividade corporal consciente e refletir criticamente sobre as práticas

corporais” PARANÁ (2008). E ressalta ainda que durante o processo pedagógico

o senso investigativo pode transformar as aulas e ampliar o conjunto de

conhecimentos que não se esgotam nos conteúdos, nas metodologias, nas

praticas, nas reflexões.

Desta forma acreditamos que a cultura corporal deva ser instrumento de

estudo da Educação Física Escolar proporcionando “a construção do

conhecimento pela práxis, isto é, proporcionar ao mesmo tempo a expressão

corporal, o aprendizado das técnicas próprias dos conteúdos propostos e, a

reflexão sobre o movimento corporal, tudo isso segundo o principio da

complexidade crescente, em que um mesmo conteúdo pode ser discutido tanto

no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio”PARANÁ (2008 p. 43).

Diante desta nova realidade cabe questionar se a Prática Pedagógica da

Educação Física sofreu significativas mudanças a partir de todo o processo de

mudança na Política e Pedagogia das propostas – Currículo Básico, PCNs e das

novas Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do

Estado do Paraná.

Nosso objetivo geral é o de investigar as mudanças ocorridas na Prática

Pedagógica da Educação Física no cotidiano escolar, após a implantação das

novas Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do

Estado do Paraná.

Temos como objetivos específicos a identificação das práticas

pedagógicas presente nas aulas de Educação Física; a identificação das

abordagens pedagógicas predominantes a partir da prática pedagógica dos

professores observados e a constatação junto aos professores de Educação

Física, o que realmente legitima esta prática como disciplina curricular.

2. Material e Métodos

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, que segundo

Barros (1986), é aquela em que o pesquisador observa, registra, analisa e

correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir

a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua natureza, características,

causas, relações e conexões com outros fenômenos. Com uma abordagem

qualitativa que segundo Lüdke e André (1986) a pesquisa qualitativa tem o

ambiente natural como sua fonte direta de dados que são predominantemente

descritivos; o processo da pesquisa é mais importante que o produto; o foco de

atenção é o significado que as pessoas dão às coisas; a análise dos dados tende

ao processo indutivo; o foco de interesse tende a ficar mais preciso no desenrolar

do estudo.

A população e amostra foi constituída pelos professores de um município

da região oeste do Paraná, que possui três escolas de Ensino Fundamental e

apenas uma com Ensino Fundamental e Médio, devido a isso escolhemos esta

última para fazer parte da pesquisa. A coleta de dados se deu mediante análise

documental nos livros de registro de classe de todo o ano de 2007; mediante

entrevistas com os três professores que atuam na escola; mediante observação

de 08 aulas dos referidos professores, em séries diversas, escolhidas

aleatoriamente, com o objetivo de ter um panorama das diferentes turmas.

Para a realização da pesquisa utilizamos os seguintes instrumentos de

medida: ficha de observação em que foram descritas os conteúdos e a

metodologia utilizada pelos professores, roteiro para entrevistas semi-

estruturadas e análise dos livros de registro de classe.

Para análise dos dados, foi construído, conforme o que é proposto por

Lüdke e André (1986), um conjunto de categorias. Os dados das entrevistas e

dos documentos foram lidos e relidos até se chegar à identificação de seu

conteúdo e unidades de significado. A análise das observações foi feita a partir

da descrição das aulas e seleção de unidade de significado que dessem subsidio

para compreender, principalmente, os conteúdos e a metodologia de ensino.

A apresentação dos dados a seguir, foi feita mediante a utilização de

quadros, constando a frequencia absoluta e relativa com que cada categoria se

apresenta, representando assim qualitativamente os resultados, seguidos de uma

discussão descritiva.

3. Apresentação dos Resultados

Os resultados aqui apresentados fazem parte das observações das aulas,

das entrevistas e da análise dos livros de registro de classe. Para que

pudéssemos responder ao que nos propusemos em nossos objetivos dividimos a

apresentação em dois grandes momentos evidenciando em cada um deles

aspectos relevantes para compreender a prática pedagógica, mas especialmente

os conteúdos e metodologias presentes nas aulas de Educação Física da Escola

pesquisada. O primeiro momento vai tratar dos conteúdos analisados a partir das

observações das aulas, das entrevistas e dos registros nos livros de classe. O

segundo momento, busca apreender a metodologia de ensino, analisada a partir

das observações e das entrevistas com os professores.

3.1 Análise dos conteúdos a partir das observações das aulas

Inicialmente o quadro 1 representa a prática pedagógica dos professores a

partir dos conteúdos trabalhados em aula.

Professores CONTEÚDOS

Total %

Basquetebol 01 01 Futsal 07 04 11 Handebol 07 07 Voleibol 03 03

ESPORTES

Xadrez 01 01

95%

Subtotal 08 07 08 23 DANÇA 00 GINÁSTICA 00 JOGOS 00 LUTAS 00 OUTROS 01 01 5% TOTAL 08 08 08 24 100%

Quadro I – Conteúdos desenvolvidos nas aulas observadas

Percebemos que na prática pedagógica, presente na escola observada, o

conteúdo predominante, ou único durante as vinte e quatro aulas observadas nas

diferentes turmas foi o esporte, que representa 95% do total e aulas observadas.

Os conteúdos: Dança; Ginástica; Jogos, brinquedos e Lutas presentes nas DCEs

como conteúdos estruturantes não apareceram nas aulas observadas. Os 5%

restantes da categoria outros são representados por uma aula em que o

professor ensaiou a turma para uma apresentação que é chamada de hora

cívica. Acreditamos que esta hegemonia esteja presente em outras escolas,

devido principalmente às raízes da própria Educação Física de tendência

esportivista, que infelizmente ainda perdura numa grande parte das aulas nas

escolas brasileiras.

Que tem suas origens segundo Darido & Sanchez Neto (2005) no Método

Desportivo Generalizado.

3.1.2 Análise dos conteúdos a partir das entrevistas

Os conteúdos de preferência dos professores segundo dados da entrevista

demonstrou que um dos professores tem preferência pelas brincadeiras e os

outros dois pelo esporte, especialmente ao futsal. Em relação à seleção dos

conteúdos os professores um deles considera que os conteúdos devam

contemplar uma maior diversidade da cultura motora; já o segundo acredita que

os conteúdos têm de considerar o aumento do grau de dificuldade em cada série,

sendo que o terceiro considera o clima como fator importante na seleção dos

conteúdos. Conforme podemos observar na fala de um dos professores: “O vôlei,

depois o futsal, pelo fato do inverno e depois handebol ou basquete ou vice-

versa” (Professor C).

Em virtude da percepção da predominância do esporte nas aulas de

Educação Física solicitou-se que justificassem essa hegemonia. Uma das

justificativas foi falta de conhecimento dos outros conteúdos, falta de espaço e

materiais adequados para a realização de danças e lutas e por acreditarem que

os jogos e brincadeiras devam somente estar presentes na quinta e sexta séries.

O planejamento anual desta escola é dividido em bimestres e os

professores organizam uma modalidade esportiva principal, predominando assim

esta modalidade e intercalando esporadicamente outras atividades relacionadas

a outros conteúdos estruturantes.

Com referência à importância da Cultura corporal e corpo, elemento

articulador de extrema importância na pratica pedagógica, pois segundo as DCEs

(2008 p. 22) “o corpo é entendido em sua totalidade, ou seja, o ser humano é o

seu corpo, que sente, pensa e age”. Enquanto dois professores acreditam que o

trabalho com este elemento se dá através das atividades, conhecendo seus

limites e suas possibilidades; um dos professores não desenvolve o elemento

articulador.

Como nos afirma Soares (1996, p. 11) “se estamos na escola, devemos

dar um tratamento escolar ao conteúdo e, sobretudo dar lugar a abrangência que

ele possa ter”. Pois se apenas trabalharmos com aquilo que temos mais

afinidade, ou mesmo que mais agrada aos alunos poderemos estar alijando os

alunos de componentes da cultura socialmente construída, negando assim

possibilidades de sucesso, pois no momento em que o aluno ou o professor (o

que seria muito pior) fazem escolhas de qual conteúdo ou atividade deverão estar

presente nas aulas, com exclusividade, os outros conteúdos ou atividades são

como se não fossem parte desta construção histórica que dá origem à cultura

corporal de movimento, cultura física ou cultura de movimento, já que para haver

movimento existe necessariamente o corpo.

Novamente lembrando Soares (1996, p. 11)

O aluno “escolhe” Vôlei e passa sete anos na escola “jogando” Vôlei. Ou então o professor “escolhe” Handebol e o aluno passa anos

“jogando” Handebol. Imaginemos o professor de Língua Portuguesa, por exemplo, “escolher” “análise sintática” e trabalhar somente com análise sintática, ou o aluno “escolher” “redação”.

Entendemos que a escola seja o local onde o aluno possa usufruir de

todas as possibilidades de movimento, presentes nas culturas de movimento e

não apenas de uma de suas manifestações, não negando aqui o esporte como

manifestação legítima da cultura de movimento, mas acreditando na necessidade

premente da utilização de outras formas, de outros conteúdos que possam dar

sustentabilidade aos objetivos educacionais da Educação Física Escolar. Para

Soares (1996) a Educação Física na escola é um espaço de aprendizagem e,

portanto, de ensino.

3.1.3 Análise dos conteúdos a partir dos livros de registros de classe.

O quadro 2 representa a prática pedagógica dos professores a partir dos

registros nos livros de registro de classe

Professores

Conteúdos

Total %

Atletismo - 04 16 03 23 Basquetebol 75 107 45 227 Futsal 134 137 203 474 36,18% Handebol 06 105 81 192 Voleibol 142 123 69 334 Xadrez 11 24 02 37

ESPORTES

Tênis de m. 15 08 23 Subtotal 1310 76,78% DANÇA 01 01 0,05% Subtotal 01 GINÁSTICA 05 05 0,29% Subtotal 05

Trilha/dama 03 48 05 71 Caçador 08 04 12 Betz 01 03 04

JOGOS

Passeio bici 01 01 02 Subtotal 89

2,63%

LUTAS 00 At. não esp. 14 31 45 OUTROS 22 98 40 240 14,06% Subtotal 36 98 71 285 Total 1706

Quadro 2 – Conteúdos presentes nos livros de registro de classe.

O quadro 2 apresenta os conteúdos e atividades realizadas durante o ano

de dois mil e sete nas dezesseis turmas observadas, que foram a 5ª A, 5ª B, 6ª B,

7ª A, 2º A, 2º C, 8ª A, 8ª B, 1º B, 2º B, 7ª C, 6ª A, 7ª B, 8ª C, 2º D e 3º B através

dos livros de registro de classe. Podemos observar que dos 1706 registros, que

representam as aulas das turmas, 1310 são do conteúdo estruturante Esporte

que representam 76,78% de todas as aulas das 16 turmas avaliadas; ainda

dentro destas 1310 aulas 474 são da modalidade especifica Futsal que

representa desta forma 36,18% de todas as aulas de Esporte. O conteúdo de

Dança está contemplado em apenas uma das aulas figurando assim como 0,05%

das aulas. Já Ginástica está em apenas 05 aulas representando assim 0,29%.

Existem alguns registros que não puderam ser identificados, pois os mesmos

estavam apenas descritos, como por exemplo, como atividade recreativa ou jogo

recreativo, num total de 45 registros; o Conteúdo estruturante Jogos, Brinquedos

e brincadeiras esteve presente em oitenta e nove aulas o que representa 2,63%.

Ainda temos uma grande parcela dos registros como outros: capacitação,

planejamento, trabalho em sala, aula teórica, filmes, hora cívica, conselho de

classe, avaliação biométrica, estudo dirigido, recepção dos alunos, feira do

conhecimento, reunião pedagógica, auto-avaliação, teste de visão, ensaio de

coreografia, ensaio para hora cívica, olimpíada de matemática, planejamento

participativo em 240 aulas, representando 14,06% de 1706 aulas das 16 turmas

avaliadas.

Com o exposto podemos constatar que a escola pesquisada não foge aos

“padrões” da maioria das escolas brasileiras. Vemos que esta realidade pode

tolher muitos e muitos alunos, levando-os apenas a situações de fracasso e

nenhuma ou quase nenhuma situação de êxito, pois segundo Pinto (2008) o

sucesso escolar é vinculado à aptidão física e motora desenvolvida em relação

aos colegas e estariam em situação de fracasso, aqueles que não se apresentam

aptos nos jogos esportivos e brincadeiras. Valoriza-se o saber-fazer, não

importando se este é oriundo das experiências. Outro aspecto relevante a

considerar, nos lembra Kunz (1989), que “o esporte como conteúdo hegemônico

impede o desenvolvimento de objetivos mais amplos para a Educação Física, tais

como o sentido expressivo, criativo e comunicativo”

3.2 Procedimentos metodológicos na Prática Pedagógica

3.2.1 Análise da metodologia a partir das observações das aulas

Para identificar a metodologia de ensino a partir das observações das

aulas, priorizou-se tópicos que dessem subsídios para compreender a prática

pedagógica. Neste sentido, observou-se: Divisão da aula; Estratégias

pedagógicas; Orientações a respeito do conteúdo; Participação dos alunos dando

sugestões; Participação dos alunos na resolução de situações e problemas da

aula; Divisão da aula por gênero; Participação dos alunos nas aulas; Cobrança

do gesto técnico perfeito e Condução do processo ensino-aprendizagem.

O quadro 3 representa a divisão das aulas, utilizadas pelos professores

participantes da pesquisa.

Professores Categorias

Total %

Aquecimento, parte principal e volta à calma 08 07 03 18 75% Sem divisão aparente 01 05 06 25% TOTAL 08 08 08 24 100% Quadro 3 – Divisão das aulas

A divisão das aulas apresenta uma visão já consolidada da estrutura

básica, ou de uma “ritualização pedagógica” de uma aula de Educação Física

com aquecimento ou alongamento, parte principal e volta à calma.

No quadro 3 podemos notar que a divisão das aulas está bastante ligada

ao que Bassani et al. (1996) denomina de “organização pedagógica e rituais de

disciplinamento”, ou seja, aquecimento, parte principal e volta à calma. Em 18

aulas, 75% foi observado uma divisão em aquecimento, parte principal e volta à

calma e as demais aulas não apresentaram uma divisão aparente. Podemos

observar que as aulas seguem a uma estrutura encontrada na maioria das

escolas. Entendemos que o professor ao seguir este ritual, metódico pode às

vezes fugir aos objetivos da aula, e torná-la enfadonha para os alunos.

Acreditamos que as aulas deveriam ter sim uma divisão, uma estrutura básica,

mas que esta não deveria ser única em todas as aulas.

O quadro 4 nos mostra quais as estratégias pedagógicas utilizadas nas

aulas.

Professores Categorias

Total %

Jogo Formal 08 05 08 20 83,33% Exercícios 03 03 12.5% Outros 01 01 4,16%

TOTAL 08 08 08 24 100% Quadro 4 – Estratégias pedagógicas

As estratégias pedagógicas presentes nas aulas estiveram quase que na

sua totalidade em forma de jogo formal, que totalizou de 83,33% das aulas

observadas, exercícios representaram 12,5 % e outras atividades 4,16 %,

conforme o quadro acima. Percebemos que quase na totalidade das aulas os

professores utilizaram apenas uma das estratégias possíveis, para o

desenvolvimento dos conteúdos, talvez pela falta de interesse dos alunos ou

mesmo dos professores em desenvolverem outras estratégias. Acreditamos que

esta forma de utilização, predominante do que se pode chamar de método global,

pode interferir na aprendizagem dos alunos, e principalmente pode trazer

algumas deficiências ou “falhas” de condução do processo de ensino-

aprendizagem. Como nos diz Darido (2003 p. 75) “que se propõe é que seja

buscado um equilíbrio no tempo destinado a cada uma das partes e que seja

valorizado o papel do professor em todos os momentos da aula”. Infelizmente o

jogo também é tratado como um prêmio para os alunos, caso eles se comportem

ou participem de outras partes da aula.

O quadro 5 representa a prática pedagógica dos professores a partir do

período em que são dadas as orientações em aula.

Professores Categorias

Total %

No inicio da aula 08 08 16 66,66% Durante as aulas 03 03 12,6% No final das aulas Não são feitas 05 05 20,83% TOTAL 08 08 08 24 100% Quadro 5 – Período em que são dadas as orientações a respeito do conteúdo

As orientações sobre os conteúdos nas aulas foram dadas no início das

aulas em 66% das mesmas; durante as aulas em 12,6% e em 20% das aulas não

são dadas orientações. Isso nos mostra que os professores acreditam que o

momento para as orientações a respeito do conteúdo deva ser principalmente no

inicio das aulas, quando os alunos estão mais concentrados.

O quadro 6 representa a prática pedagógica dos professores a partir da

participação dos alunos no que diz respeito às sugestões.

Professores Categorias

Total %

Sim 06 03 09 37,5 Não 02 05 08 15 67,5 TOTAL 08 08 08 24 100% Quadro 6 – Participação dos alunos no que diz respeito às sugestões

Nas aulas, a participação dos alunos dando sugestões esteve presente em

37,5% e em 62,5% não houve participação dos alunos no que diz respeito às

sugestões nas decisões.

O quadro 7 representa a prática pedagógica dos professores a partir da

participação dos alunos na resolução de situações ocorridas durante a aula.

Professores Categorias

TOTAL %

Sim 07 07 14 58,33% Não 01 01 08 10 42,77% Total 08 08 08 24 100% Quadro 7: Participação dos alunos na resolução das situações ocorridas nas aulas

A participação dos alunos na resolução de situações ocorridas a aula foi

de 58 % das aulas. Na maioria das vezes não existem nas aulas um momento de

discussão a respeito do que aconteceu durante a mesma, os problemas,

dificuldades, obstáculos, as vitórias (não do jogo propriamente dito, mas da

superação de desafios), das relações de gênero, as discriminações e os

preconceitos. Perde-se aí um momento que a nosso ver é importantíssimo para

que a Educação Física deixe de ser apenas uma disciplina do fazer para se

tornar parte do processo educativo que envolve o fazer, o compreender e o

sentir.

Embora a metodologia de ensino predominante na prática pedagógica dos

professores se situe entre as pedagogias diretivas, que segundo Becker (2001) é

baseada no modelo epistemológico empirista, em que a aprendizagem está

centrada na figura professor, que tem o papel de “transmitir” o conhecimento para

o aluno. Nesse modelo, o aluno tem um papel passivo, apenas de um receptor,

sendo que a transmissão do conhecimento se dá de forma vertical. Conforme o

mesmo autor, para a epistemologia que sustenta a prática desse professor, o

indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de conhecimento: é uma folha de

papel em branco; é uma tabula rasa. Embora a pedagogia que predominou nas

aulas foi à diretiva, percebeu-se, nas observações, que todos os professores

apresentaram habilidade de relacionamento com os alunos, ou seja, havia

respeito, amizade entre ambos. Esse fato pode representar que esta postura

diretiva, está presente na cultura das Escolas, demonstrando assim uma prática

tradicional.

Na seqüencia para auxiliar na compreensão das metodologias de ensino

utilizadas pelos professores, fez-se uma análise se há separação de gêneros

para a realização das atividades.

Professores Categorias

Total %

Sim 08 08 05 21 87% Não 03 03 13% Total 08 08 08 24 100% Quadro 8 – Separação dos alunos por gênero

Durante as aulas os alunos foram divididos por gênero em 87% das

atividades, conforme aponta o quadro 8. O que ainda infelizmente permanece

nas aulas de Educação Física de uma grande parte das escolas é a crença de

que existam atividades que devam ser separadas por gênero reforçando assim

caráter discriminatório e sexista. Essa concepção tem origem na tendência

biologicista e esportivista da Educação Física, uma vez que essas, divulgam as

diferenças biológicas entre ambos os gêneros, influenciando na performance dos

esportes.

O quadro 9 representa a prática pedagógica dos professores a partir das

atitudes dos professores com os alunos que não participam das aulas.

Professores Categorias

Total

Anota no livro 01 01 Desconta nota 01 01 Não faz nada 01 01 Pede relatório 05 06 11 Todos participaram 02 08 10 Total 08 08 08 24 Quadro 9: Atitudes dos professores

Em relação aos alunos que não participam das aulas das aulas, vemos

que os professores agem de maneiras distintas, mas o que pode se verificar é

que na maioria das aulas os alunos participaram ativamente das aulas. O que

nos faz acreditar que mesmo utilizando de uma metodologia diretiva, os alunos

gostam das atividades e participam delas ativamente.

Buscou-se perceber, através das observações, se os professores, ao

trabalharem os conteúdos, cobram o gesto técnico dos fundamentos. Percebeu-

se que em nenhuma das aulas houve esta cobrança. Também isto nos mostra

que mesmo ainda com práticas tradicionais, os professores observados já

internalizaram que não é necessária a cobrança do gesto técnico perfeito.

O quadro 10 representa a prática pedagógica dos professores a partir da

forma de condução do processo ensino-aprendizagem, mais especificamente

como realiza a correção das atividades.

Professores Categorias

Total %

Para a aula, chama a atenção de toda a turma, e corrige

08

08

03

19

79,16%

Chama a atenção sem parar a aula 01 01 4,16% Não houve correção 04 04 16,66% Total 08 08 08 24 100%

Quadro 10 – Condução do processo ensino-aprendizagem – correção das

atividades

Na condução do processo ensino-aprendizagem os professores param a

aula e chamam a atenção de toda a turma em 79,16 % das aulas; chamaram a

atenção sem parar a aula em 4,16 % e não houve necessidade de correção em

16,66 %. Esta forma de condução onde é chamada a atenção da turma toda

demonstra que os professores acreditam que sempre devam levar a todos os

alunos as orientações sobre o processo ensino-aprendizagem. As aulas de

Educação Física não têm como objetivo formar atletas mas sim cidadãos críticos

e comprometidos com uma sociedade mais igualitária e solidaria.

3.2.2 – Análise da metodologia de ensino a partir das entrevistas.

Para identificar a metodologia de ensino a partir das entrevistas com os

professores, priorizou-se tópicos que dessem subsídios para compreender a

prática pedagógica. Neste sentido, questionou-se os professores sobre:

Organização da aula; Trabalho em grupo; Valorização de material teórico para as

aulas; Percepção dos professores quanto à utilização das formas de

comunicação (linguagem) da cultura dos alunos; Compreensão dos aspectos

fundamentais para o aluno aprender em Educação Física . – explicações,

perguntas, exemplos e conversas iniciais.

Quanto à organização da aula os professores priorizam a divisão em

aquecimento (normalmente representado pelo alongamento), parte principal e

volta à calma. Como verificado nas observações, dá-se grande importância às

formas e ritos que estão presentes na Educação Física desde os seus

primórdios, baseados em argumentos biológicos, fisiológicos ou sociológicos que

não mais se comprovam cientificamente.

Também em relação à organização da aula, os três professores

responderam que desenvolvem o trabalho em grupo, justificando que dessa

forma os alunos cooperam mais.

Quanto à valorização de aulas teóricas, todos consideram que são

importantes para a contextualização dos conteúdos, no entanto as aulas

observadas foram todas práticas, sem preocupação com a aprendizagem de

conceitos.

Ao questionar os professores quanto à compreensão dos mesmos

em relação aos aspectos fundamentais para o aluno aprender em Educação

Física, os mesmos responderam que é fundamental que o aluno tenha interesse,

que se esclareça os objetivos para o aluno, que se realize um diagnóstico do

conhecimento prévio do aluno e que haja uma avaliação ao final da aula; a

interação entre professor e aluno; demonstração e realização são forma que os

professores acreditam ser as mais indicadas na condução do processo ensino-

aprendizagem.

Considerações Finais

Reportando a uma frase de Soares (1996 p. 11) onde diz que “a Educação

Física na escola é um espaço de aprendizagem e, portanto, de ensino. E o que

ela ensina?”. Na verdade quando nos propusemos a investigar as práticas

pedagógicas dos professores de Educação Física já antevíamos uma situação

real de quase dezesseis anos de experiência, na qual os conteúdos, métodos,

estratégias, formas de avaliação estavam um pouco ultrapassados. A pesquisa

bibliográfica e de campo veio a nos confirmar esta hipótese. Encontramos na

escola observada ainda práticas relacionadas a formas tradicionais, quase

sempre tendo uma atuação dos professores de forma diretiva. Os pressupostos

ainda presentes emergem de uma Educação Física biologicista, esportivista, que

vê na Educação Física apenas um meio de “doutrinamento” de corpos.

É claro encontramos momentos muito agradáveis em ver que existe a

possibilidade de mudança até para alguns que acreditam ainda ser a Educação

Física essencialmente prática, desprovida de uma contextualização, desprovida

de outros meios, formas, estratégias ou conteúdos que possam vir a colaborar no

objetivo maior de educar o ser humano. Durante a pesquisa pudemos observar

no discurso dos três professores envolvidos um grande avanço na questão do

entendimento das abordagens menos tradicionais e um grande apreço pelas

abordagens mais críticas da Educação Física, o que infelizmente não se traduziu

da mesma forma nas aulas observadas.

E por último no que concerne ao que dá legitimidade à presença da

Educação Física na escola, como disciplina curricular infelizmente ainda

verificamos que muitas são as razões, os sentidos para sua presença, contudo

são razões e sentidos com uma primariedade muito grande seja :

“olha eu acho que você tem que ensinar educação física pra que

o aluno tipo como vou dizer, aprenda alguma coisa, aprenda o

esporte, aprenda a brincadeira, aprenda tipo porque a educação

física pra mim pro aluno é alegria, é uma forma de ele

extravasar, dele correr, dele, eu acho muito importante ele

aprende alguma coisa pra vida “né” Professor C

Ou ainda :

“pra ele saber viver em sociedade, pra ele saber respeitar os

regras “né”, se um aluno não respeita uma regra no esporte,

provavelmente na vida social ele também não vai digamos

acatar muitas regras” Professor B

Mas também encontramos posições que acreditamos que não sejam

apenas pessoais, mas representem uma grande parcela dos professores de

Educação Física :

“ eu vejo a Educação Física assim primeira a educação depois o

físico, eu vejo como de grande importância, como outras

disciplinas e vejo que através de movimentos, de noções de

movimentos e da corporalidade, da noção de corpo você vai

educando o ser humano” Professor A

As práticas pedagógicas presentes nas aulas de Educação Física da

escola pesquisada ainda estão pautadas por uma visão tradicional, onde a

pedagogia diretiva está presente na maioria das aulas. Vimos a constatar que no

discurso dos professores está presente uma tendência mais voltada para a

criticidade, como as tendências histórico critica ou critico emancipatória, mas que

na realidade, através das observações se mostrou como uma tendência ligada à

esportivização. Na tentativa de legitimar a Educação Física como disciplina

curricular os professores procuram ainda basear-se em conhecimentos

biológicos, ou em atividades esportivas ou de recreação, desprovidas de reflexão.

Entendemos desta forma que ainda não ocorreram mudanças

significativas na prática pedagógica do professor de Educação Física após a

implantação das Diretrizes Curriculares da Educação Física para a Educação

básica do Estado do Paraná.

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