edição 34 (completa)

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Palestina massacrada_Como desejaremos um “bom dia” em Gaza? nº34 R$ 5 edição nº 34 outubro 2014 Num segundo turno marcado pela despolitização, nosso especial analisa a conjuntura política dentro e fora das urnas Com conteúdo + MEDIA FAZENDO Eleições 2014 EDIÇÃO DIGITAL

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Edição 34 (novembro 2014) da Revista Vírus Planetário completa

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Page 1: Edição 34 (completa)

Palestina massacrada_Como desejaremos um “bom dia” em Gaza?nº34

R$5edição nº 34

outubro2014

Num segundo turno marcado pela

despolitização, nosso especial analisa a

conjuntura política dentro e fora das urnas

Com conteúdo

+MEDIAFAZEN

DO

PARA ALÉM DAS URNAS

Eleições2014

EDIÇÃO DIGITAL

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Resultado do ideb 2013

não mostra a realidade

das escolas estaduais

37 ANOS NA LUTA EM

DEFESA DA EDUCAÇÃO

PÚBLICA

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A rede estadual matriculou no en-sino médio, em 2013, 410 mil alu-

nos (dados do INEP). Neste mesmo ano, foram matriculados 57 mil es-tudantes no NEJA. No autonomia, foram matriculados 34 mil alunos.

Assim, quase 20% dos alunos da rede estadual deixaram de ser ava-

liados pelo IDEB no ano passado. Nos últimos anos mais de 150 es-

colas estaduais foram fechadas.

Um estudo do professor Nicholas Davies, da Faculdade de Educação

da UFF, já tinha mostrado que o número de matrículas no estado

vem diminuindo em relação ao ensino privado: de 2006 a 2012, a redução das vagas nas escolas es-

taduais foi de quase 35%, passando de 1,5 milhão para 973 mil. Hoje,

a rede privada no Rio é a segunda maior do Brasil em termos percen-

tuais. Somos o único estado em que a rede privada na educação

básica é maior do que a estadual.

Para o Sepe, a criação de siste-mas de avaliação como o IDEB se

configura em mais um mecanismo criado pelos governos para mas-

carar a real situação nas nossas escolas. Muito mais efetivo do que o IDEB seria discutir com a comu-

nidade escolar o papel da escola como um bem público para aferir as demandas dos nossos alunos e

da comunidade em geral.

Ao invés disto, a política educa-cional do Estado, transforma as escolas em fábricas e os alunos em mercadorias. Os índices são

medidos por resultados e produ-tividade, a partir de metas estabe-

lecidas, sem que sejam levadas em conta as condições de trabalho, as

diferentes realidades nas quais as escolas estão inseridas e sem criar condições igualitárias de valoriza-

ção profissional.

>>> Secretário Risolia

diminuiu matrículas e

fechou mais de 150 escolas

www.seperj.org.br

A divulgação do crescimento da nota das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro no IDEB – passando da 15ª colocação em 2011 para a 4ª colocação em 2013 – não chega a ser uma surpresa. Desde 2012, o Sepe vinha denunciando a política pedagógica da SEEDUC, que restringe o universo avaliado pelo IDEB, com uma clara estratégia para melhorar artificialmente as notas dos alunos das escolas da rede estadual.

Esta política, implementada pelo secretário Wilson Risolia, consiste na retirada do ensino regular de alunos que tinham idade acima da média escolar, que foram transferidos para o Novo Ensino de Jovens e Adultos (NEJA) e para o Projeto Autonomia (que utiliza a metodologia de Telecursos da Fundação Roberto Marinho). Estes dois programas não são avaliados pelo IDEB.

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EXPEDIENTE:Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Didi Helene, Daniela Fi Diego Novaes, Eduardo Sá, Fernanda Alves, Joyce Abbade, Julia Campos, Livia Valle, Mariana Adão, Mariana Moraes, Thais Linhares | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Luka Franca, Marcelo Araújo e Sueli Feliziani | Brasília: Alina Freitas, Diogo Cardeal, Edemilson Paraná, João Apolinário Passos, Maiara Zaupa e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Caio Erick, Joana Vidal, Livino Neto e Lucas Moreira | Piauí: André Café, Diego Barbosa, Mariana Duarte, Nadja Carvalho e Sarah Fontenelle | Bahia: Mariana Ferreira | Paraíba: Iarlyson Santana e Mariana Sales | Paraná: Elisa Riemer | Mato Grosso do Sul: Eva Cruz, Fernanda Palheta, Jones Mário, Marina Duarte e Tainá Jara | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho

e Rafael Balbueno Diagramação: Caio Amorim | Capa: Ilustração de Thais Linhares

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito

Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ)

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principal-

mente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário:

Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos

nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa

parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade

a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diver-sas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e

sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes

do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.

Afinal, o que é a Vírus Planetário?

#Impressão: SmartPrinter

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação, Editora e Comércio de Revistascom sede no Rio de Janeiro. Telefone: 21 3502-7877

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COMUNICAÇÃO E EDITORA

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem

o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acredi-

tamos que com mobilização social, uma sociedade em que

haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendome-dia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

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Queremos sua participação!

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DDH

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No momento em que as ruas reivindicam democracia real, desco-memoram 50 anos do golpe civil-militar e questionam as promessas não cumpridas depois de 25 anos da Constituição Cidadã, eis que se evidencia uma democracia de baixa intensidade no Brasil. O legado ime-diato da Copa das Copas é a cri-minalização da chamada jornada de junho, com manifestantes processa-dos criminalmente, presos e foragi-dos sob a acusação estapafúrdia de formação de quadrilha armada, res-tando violado o princípio elementar da liberdade de reunião e expressão.

Liberdade de manifestação no banco do reúsPor que os governos reprimem tanto quem luta por direitos?

Já nos preparativos da Copa eram nítidos os sinais de autoritarismo. Em 2012, a partir de uma linha de crédito do Banco do Brasil direcionada para a organização dos megaeventos es-portivos, foram construídas quatro cadeias. Em 2013, o governo do es-tado do Rio de Janeiro adquiriu oito caveirões para reforçar o esquema de segurança da Copa da Fifa e dos Jogos Olímpicos. Na Copa das Con-federações, em atuação conjunta das polícias com as Forças Armadas, empregaram-se 3,7 mil militares, 500 viaturas, oito helicópteros, dois es-quadrões de Cavalaria de Choque e

uma seção de Cães de Guerra. No dia da final da Copa, 13/07 foram 26 mil soldados e policiais fazendo a segurança do evento. Manifestantes foram sitiados pelas forças de segu-rança na Praça Saens Peña e vários midiativistas agredidos.

Os manifestantes são taxados de violentos, mas o que marcou os pro-testos desde junho de 2013 foram as arbitrariedades policiais: condução e detenção para averiguação, procedi-mento típico de ditaduras; detenção por desacato quando se questiona o abuso de poder de agentes de

THIAGO MELOThiago é advogado e

coordenador do Instituto de Defensores de Direitos

Humanos (DDH)

“Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentasas margens que o comprimem” (Bertolt Bretch)

Manifestantes encurralados na Praça Saens Peña (próximo ao Maracanã) no dia da final da Copa do Mundo (13/07) | Foto: Camila Nóbrega / canal Ibase

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segurança pública; flagrantes forja-dos; quebra de sigilo e espionagem através de grampos telefônicos e monitoramento de redes sociais, inclusive de advogados; sigilo da in-vestigação policial em prejuízo do direito à ampla defesa; utilização inadequada de armamento menos letal e aparato repressivo; e até uso de armamento letal.

São 24 mortes no contexto das manifestações desde os primeiros protestos. As causas são muitas: execução, atropelamento, queda de viaduto, inalação de gás, parada cardíaca etc. Armamentos antidis-túrbios têm sido manejados com o objetivo de ferir e amedrontar. Nas favelas, segue o padrão de letali-dade policial que fez de Amarildo mais um desaparecido da demo-cracia, mesmo em se tratando de repressão a atos políticos. Somen-te no Complexo da Maré foram 10 mortes, após repressão policial à mobilização ocorrida em Bonsu-cesso, no dia 24 de junho de 2013. A polícia alegou que traficantes se infiltraram na manifestação para fazer um “arrastão”.

A trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade foi a única que recebeu atenção da grande mídia. A partir desse episódio, procurou-se etiquetar as manifestações como atos de vandalismo, em uma tentativa de desmobilizá-las, apagar suas reivindicações, omitir a crescente repressão policial que as inibe e justificar a criminalização dos movimentos sociais. De forma oportunista, o julgamento dos acu-sados Fábio Raposo e Caio Silva é dominado pelo sensacionalismo midiático.

Por vezes, manipulam-se os fa-tos para associar esta lamentável perda à violência sofrida por jorna-listas na cobertura dos protestos, quando se sabe que o sinalizador que atingiu Santiago não era diri-gido a nenhum profissional de im-prensa, se é que se pode atribuir algum alvo a um artefato explosivo lançado ao chão. Foi um triste aci-

dente, fruto de uma ação irresponsável, porém sem qualquer relação com a preocupante denúncia da Associação Brasileira de Jornalismo In-vestigativo (Abraji), já defasada, de que 133 jornalistas foram agredidos em manifestações, sendo 70% vítimas de violência policial, em violação à liberdade de imprensa.

A verdade é que não são as pedras ou rojões que ameaçam a demo-cracia. As instituições bancárias não vem a público reclamar das vidraças quebradas de suas agências, preferem viver às sobras de governos, con-tabilizando recordes de lucro. Os palácios de poder continuam imper-meáveis às demandas populares. Câmaras Municipais foram ocupadas por ativistas como normalmente não o são pelos parlamentares, o que chegou a servir de pretexto mais persuasivo que a falta de quórum para a não realização de sessões. A grande mídia deturpa até o quan-titativo de pessoas presentes nas manifestações, transforma o conflito social em assunto criminal como forma despolitizar a luta por direitos. Enquanto a proposta da OAB de reforma política está esquecida no

“ Os manifestantes são taxados de violentos, mas o que marcou os protestos foram as

arbitrariedades policiais”

Ilustração

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Ilustração: Adriano Kitani/www.pirikart.com.br

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Congresso Nacional, as eleições são mercantilizadas e colonizadas pelo poder econômico.

O inquérito da Delegacia de Re-pressão a Crimes de Informática (DRCI) que indiciou 23 manifestan-tes do Rio de Janeiro, acusados do crime de associação criminosa, é sintoma de que algo vai muito mal no Estado brasileiro. Sem provas e individualização de conduta, os acusados tiveram decretada prisão preventiva, que logo foi revogada pelo desembargador Siro Darlan. Na investigação, foram listados 73 mo-vimentos sociais como integrantes de uma suposta quadrilha armada. Na falta da identificação das pesso-as que possam ter cometido ilícitos nos protestos, optou-se por crimina-lizar genericamente diversos coleti-vos, organizações da sociedade civil e indivíduos.

O ministro da Justiça, José Edu-ardo Cardozo, em conjunto com os secretários de segurança pública e governadores dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, soltaram os gorilas da repressão, sempre prontos para fazer da exceção a regra, e ago-ra teremos trabalho para recolhê-los de volta à jaula. Desde outubro de 2013, existe uma cooperação oficial entre a polícia federal e as polícias civis e militares dos dois estados no monitoramento e investigação de grupos que “promovam atos violen-tos em manifestações”. O Exército

e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também participam desse es-forço concentrado de espionagem e contenção de protestos. Embora as leis antiterrorismo e de criminaliza-ção do vandalismo não tenham sido votadas, uma polícia política, no seu sentido mais estrito, foi colocada em serviço para recontar sob a perspec-tiva da “segurança nacional” a rebel-dia que tomou avenidas e praças.

A retórica da preservação das ins-tituições não pode servir de justifica-tiva para se restringir e criminalizar a liberdade de manifestação. Militante de movimento social que arremesse uma pedra contra uma vidraça, se identificado, poderá ser responsabi-lizado por dano ao patrimônio, é o que a legislação faculta, mas jamais como membro de uma organização criminosa ou terrorista, sob pena de se estilhaçar algo mais precioso, a própria democracia. O caminho ade-quado para o debate aberto pelas manifestações não é o direito crimi-nal, e sim a arena política. Quem há

de duvidar que nos atos apinhados de gente e cartazes estão as maio-res chances de uma verdadeira de-mocracia? Uma democracia por vir, que se pretende além do ordena-mento jurídico, das injustiças e pri-vilégios atuais, com capacidade de dialogar e assimilar a utopia de uma “vida sem catracas”.

O julgamento de 23 ativistas do Rio pelo crime de associação crimi-nosa e de militantes acusados em São Paulo, Porto Alegre e pelo país afora é uma grave violação às regras democráticas, uma tentativa de se produzir um junho às avessas. As investigações da DRCI, que captura-ram vozes de dezenas manifestan-tes em grampos telefônicos, que-rem impor obediência e silêncio às ruas. A sociedade precisa reagir ao arbítrio para que continuem vivas as ruas que não se conformam a uma “cidade mercadoria”, de gran-des eventos e empreendimentos, no entanto, quase sem direitos para sua população.

“ Optou-se por criminalizar genericamente diversos coletivos, organizações da

sociedade civil e indivíduos”

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Badaró nos lembra da necessidade de se ter atenção ao discurso do PT, “a proposta de conciliação de classes do discurso petista parece não dar conta de simular atender ao clamor de mudanças expresso nas ruas e, ao mesmo tempo, manter a confiança dos setores do capital que objetivamente representa no governo em torno de sua eficácia na contenção das lutas sociais. Aí pode estar uma chave para compreendermos o inegável avanço conservador no quadro eleitoral.”

Em sua reflexão, Valério Arcary abre apresentando-nos o cenário político, “A campanha pelo voto útil em Dil-ma Rousseff aumenta de intensidade sobre os militantes e eleitores da es-querda anticapitalista. Sob a pressão de uma eleição ainda muito apertada e incerta, a direção do PT abraçou um discurso catastrofista que quer apre-sentar a disputa entre Aécio e Dilma como um Armageddon político.”

DIÁLOGOS

MaRcelo badaRó

Por Bruna Barlach

Apresentando sua diferença de des-fecho para análise eleitoral, Arcary nos lembra que “Dilma não corre o risco de ser derrotada pela posição de anula-ção do voto da oposição de esquerda. Dilma corre o risco de ser derrotada por si mesma, ou melhor, pelo que fez, e por aquilo que o PT não fez nos últi-mos quatro anos.”

Buscando uma nova e diferente abordagem para este segundo turno, Badaró propõe: “É frente a essa rea-lidade desafiadora que a esquerda socialista necessita se posicionar. Os posicionamentos mais simples passam

Eleições2014

Valério Arcary e Marcelo Badaró Mattos, com suas diferentes leituras, ilustram os limites, o cenário político e o dilema da esquerda para este segundo turno da campanha presidencial

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ValéRio aRcaRy

Foto: Romerito Pontes

por recomendar o voto (contra Aécio; em Dilma, com ou sem crítica; nulo; ou qualquer outra recomendação). Acre-dito, porém, que para que o debate em torno a esse ponto possa ser mais interessante e pedagógico para o setor mais organizado da classe e o eleitora-do dos partidos de esquerda, a simples recomendação de voto é insuficiente como política de esquerda.”

De acordo com Valério, “Não é ver-dade que a única forma de lutar con-tra Aécio é colocando o voto na urna para Dilma.”

É preciso que reconheçamos que, apesar das pretensas dicotomias que têm sido colocadas, não há uma dife-rença tão significativa, tendo em vis-ta que “se a maior parte do serviço já havia sido cumprido pela privataria tucana, o PT continuou privatizando (vide aeroportos, leilões de petróleo, PPPs variadas, etc.), assim como con-tinuou governando para o grande capital, com a manutenção de metas elevadas de superávit primário, juros altos, privilégios e subsídios ao setor

ma de ajuste que o capital exige só será possível, portanto, com a resistência que precisará ser construída em 2015 nas ruas.”

De fato, “Aécio é, evidentemente, um candidato que provoca mal-estar, ou até ira e fúria em qualquer um que tenha compromisso com a luta pela igualdade social, que é o que define uma identidade de esquerda. Pelo que é, e pelo que representa. Merece o justo ódio de classe de todos os trabalha-

industrial de bens duráveis (com pre-sença predominante do capital es-trangeiro) e ao agronegócio dirigido pelas multinacionais do agrotóxico e dos organismos geneticamente modifi-cados.” – como nos lembra bem Badaró em sua análise.

É um momento de latência, onde a disputa está colocada e nós parecemos joguetes na mão de interesses políti-cos não representam nenhum de nós. Como bem nos lembra Arcary, “Não nos enganemos. A verdade nua e crua é que há vários pontos de contato en-tre o programa que Aécio representa, e o programa de Dilma. Quais? Um exemplo? Voltamos a ter, em 2014, uma das maiores taxas de juros básica do mundo, a exigência nº 1 dos rentistas. Não satisfeitos, Mantega, ministro do governo Dilma, e o Banco Central di-rigido por Tombini, aquele que não é independente, mas tem autonomia, vêm sinalizando que estão dispostos a fazer um ajuste fiscal anti-inflacioná-rio com redução de gastos, e superávit fiscal ainda maior. Derrotar o progra-

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“ O alarmismo quer nos fazer crer que

Aécio seria do mal, Dilma seria do bem”

Por Alexandre Affonso | www.quadradinhos.net

dores e jovens.” - diz Valério, expressando o sentimento da maioria dos mili-tantes e pessoas que se colocam a esquerda no espectro político.

Ainda em acordo, Badaró coloca uma questão que é central em relação ao posicionamento político das pessoas neste cenário desagradável: “Mas isso não pode bastar para taparmos o nariz e recomendarmos o voto no ‘menos pior’, representado pelo PT de Dilma. Fazer isso, assim sem mais, é simples-mente passar uma borracha sobre tudo aquilo que a esquerda criticou nos governos do PT nos últimos anos. Governar exatamente como os partidos da ordem sempre fizeram no país tem um custo enorme do ponto de vista da consciência social. Afinal, como confiar nos partidos de esquerda se quando aquele que representava as lutas da classe trabalhadora brasileira (ao me-nos na década de 1980), quando chegou ao poder fez ‘tudo igual’?”

É claro que, dentro deste jogo político, os sentimentos mais primários estão vindo à tona, fazendo com que sintamos um grande alarmismo, um medo do que pode vir. “O alarmismo quer nos fazer crer que Aécio seria do mal, Dilma seria do bem. Ai de nós, se não votarmos no mal menor. Essa campanha de dramatização não é educativa. O apelo emocional ao voto é muito eficaz, mas diminui o significado da disputa política.” – coloca com clareza Valério, ao nos lembrar do poder que o maniqueísmo, ou seja, a ideia que existem ape-nas dois lados e um deles é bom e o outro é ruim. Esta é a base da manipulação capitalista, que faz com que não vejamos saídas para além de PT e PSDB. Na mesma linha, Valério chama a atenção para a necessidade de nos apegarmos à leitura marxista da realidade, pois “uma análise marxista abraça um método menos emocional que o alarmismo: é uma interpretação da realidade orien-tada por um critério de classe.”

Ao mesmo tempo, Badaró apon-ta para um importante fato que de-monstra que este alarmismo tem pouca base na realidade, tendo em vista que “não há razões objetivas para que um eventual governo tu-cano recue nas políticas sociais com-pensatórias, afinal o PT demonstrou que o Banco Mundial tinha razão e é muito barato conter os efeitos sociais mais perversos das políticas neoli-berais com programas como o bolsa família.”

Diante deste quadro, Valério levan-ta uma questão polêmica, mas da qual não podemos fugir: “Alguém, mini-mamente, informado ainda pode acreditar que esta eleição é uma dis-puta entre o capital de um lado e o trabalho do outro? Não são dois pro-jetos de gestão do capitalismo, ainda que com diferenças de ênfase?”

Entrando na polêmica que separa os dois acadêmicos-militantes e boa parte da esquerda neste momento, Valério aponta que “o papel dos so-cialistas não pode ser o de reforçar essa prostração político-social, mas, ao contrário, o de incendiar os âni-mos, inflamar a esperança, e comba-ter a perigosa ilusão de que é possível regular o capitalismo.”

“Quem decidir indicar o voto em Dilma, mesmo que na forma mais elegante de voto crítico, ou seja, com a mão no nariz, para derrotar Aé-cio, deve se perguntar como vai se sentir quando for anunciado o pri-meiro pacote de ajuste fiscal em 2015. Vai se arrepender e, infelizmente, se desmoralizar. A desmoralização tem um custo alto para a esquerda. Ela é o pântano que alimenta a decepção de que não há saída coletiva, porque afinal ‘todos seriam iguais’” Valério retoma, indicando que sua leitura e de Badaró em relação ao PT caminha no mesmo sentido. Mais do que isso, Va-lério aponta qual é o verdadeiro papel da esquerda em uma eleição que está sim polarizada, mas não entre pobres e ricos, trabalhadores e empresários, mas entre dois projetos diferentes de gestão do capital.

Eleições2014

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“ Na falta de resposta petista a pautas da

esquerda, os defensores do voto nulo teriam ainda

mais elementos para reforçar sua posição.”

Por Alexandre Affonso | www.quadradinhos.net

Para Badaró, no entanto, o caminho não está, necessariamente, no voto nulo e sim em pressio-nar um posicionamento à esquerda do PT. “Sim, há argumentos mais que objetivos para a indi-cação do voto nulo. Mas, se a recomendação for a única proposta nessas semanas finais da campanha eleitoral, como as organizações da esquerda socialista vão manter o diálogo com aqueles (e por onde ando são muitos) que até o fim do primeiro turno circulavam com adesivos e material de campanha do PSOL, PSTU e PCB e hoje vestem a camisa da candidatura Dilma, ain-da que sob a sintomática simbologia das imagens de uma jovem guerrilheira (simulacro do desejo irrealizável de um voto à esquerda)? E como res-ponderão aos setores bem mais amplos da classe trabalhadora que, na ausência da mudança de fato, acabarão votando em um Aécio disposto a vestir a fantasia de Marina e sua ‘nova política’? Como Arcary (...), também não acredito que o PT vá ‘apontar o rumo de transformações popula-res para o próximo mandato, o que não fez nos últimos doze anos’. No entanto, entendo que te-ria um efeito pedagógico exemplar, se os partidos de esquerda e as organizações mais combativas do movimento social, se reunissem nos próximos dias e apontassem uma pauta de compromissos mínimos que viabilizaria o voto em Dilma no se-gundo turno das eleições.”

Badaró fecha sua defesa em pressionar o PT para um caminho à esquerda, apontando que “Ainda assim, diante da (falta de) resposta petis-ta a tal pauta, os que apontam o voto em Dilma, poderiam ir além do voto ‘útil’, em direção de fato a um voto ‘crítico’, assim como os defensores do voto nulo teriam ainda mais elementos para re-forçar sua posição.”

Mas para Valério “A tarefa daqueles que de-fendem o programa socialista consiste em de-monstrar para os trabalhadores que era e é possível ir além. Era e continua sendo possível desafiar a ordem do capital. Às vezes, infeliz-mente, muitas vezes, é preciso ter a firmeza de nadar contra a corrente.”

Referências:“Segundo turno: O que não fazer?” Por Valério Arcary- www.tinyurl.com/valerio123

“As eleições brasileiras de 2014 e os dilemas da esquerda socialista no segundo turno“ Por Marcelo Badaró Mattos - www.tinyurl.com/badaro123

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O comentário político pós-eleitoral me deixou enfastiado. O carro-chefe de meu tédio é, sem dúvida, o conjunto dos jornais globais e congêneres, que trataram as eleições como se ela fosse um jogo, uma partida de futebol ou vôlei – guar-dado o fato de que, de esporte, eles geralmente entendem bastante. O problema está na análise superficial e cretina do pleito eleitoral.

Enquanto ainda se apuravam as controversas urnas eletrô-nicas em todo o país, acompanhei a algum jornalista do G1 cujo nome faço questão de ignorar, que tecia comentários como:

– Fulano teve um ótimo desempenho, surpreendendo as pesquisas. Seu partido já vinha ganhando espaço desde a elei-ção passada e agora consegue mostrar sua superioridade.

Francamente, a interpretação abstrata de números não pode ser confundida com jornalismo de verdade. O que, afinal de contas, significa que o partido ganha espaço, que teve ótimo desempenho, que mostra sua superioridade? É um re-sultado eleitoral?

Bom, poderia significar que tal candidato realizou obras, reformou o campo, concedeu bolsas de estudo ou uma in-finidade de outras coisas. Tratando-se de capitalismo e de eleições, é mais provável que o candidato tenha comprado mais votos, concedido mais contratos públicos a empreiteiras, dado emprego a mais cabos eleitorais e outra infinidade de possibilidades menos nobres.

despo litiza ção

Por Erick Dau

“Análises” políticas das eleições como se fossem um jogo de futebol contribuem

para o empobrecimento do debate

Eleições2014

das eleições

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Mas não! Obteve um desempenho: 70%. Ponto fi-nal.

E poderia mesmo ter acabado por aí, mas, como se sabe, a imprensa pode causas mais danos que a bomba atômica. E o debate político no país parece realmente moldado por essa escola grande-midiática de pequeno-jornalismo – ou marrom, ou de merda, ou burguês. Repetem-se números como fatos, esta-tísticas como provas, imagens como baluartes, mas profundidade eu tenho visto realmente muito pouca.

De qualquer maneira, ainda que não tenha nenhu-ma intenção em participar do extenso e profícuo – ao menos na forma – debate entre Dilma e Aécio, devo reconhecer a incrível capacidade de mobilização do PT – já velha conhecida mas que, aparentemente, vinha dando sinais de adaptação. A quantidade de gente militando via Facebook pela reeleição da Dilma é, de fato, impressionante. E, embora, eu não tenha a pretensão de mudar os votos desses amigos que acreditam honestamente no projeto da frente popu-lar, devo dizer que votarei nulo sem nenhum remorso, seja qual for o resultado da eleição.

O motivo do meu voto é o mesmo deste meu re-conhecimento: me parece realmente incrível que o PT tenha conseguido difundir, de poucos meses pra cá, o sentimento que se expressa nestes meus amigos e em muitas pessoas mais por todo o país. Eu compre-endo, é claro, o enorme papel que cumpre a candida-tura rival de uma figura tão controversa quanto Aécio Neves, mas não é só disso que se trata.

Vejo amigos defendendo o projeto educacional de Dilma como o futuro do Brasil, a política para o Petróleo supostamente anti-privatista, os programas assistenciais como salvaguarda dos esfarrapados do país, a política econômica acuradíssima do governo, as alianças políticas de um e outro. Nenhum dos argu-mentos é capaz de me convencer de que o governo Dilma é, qualitativamente, superior ao de Aécio Neves. Mas é opinião minha, não a discuto aqui.

Fique registrada apenas minha recusa radical ao rumo que o debate político vem tomando nas últimas semanas. Tudo tende a piorar, é claro, com as estra-tégias políticas (quero atentar para o caráter realmen-te político destas estratégias) dos marqueteiros das campanhas – que são verdadeiros criminosos, vejam bem. Tenho a esperança, contudo, de que todo este interesse bienal, dessa vez se prolongue para além do próximo ‘domingo ao avesso’. E que as atenções se redobrem nos próximos quatro anos: vejamos bem o que andam fazendo, com quem se estão aliando e por onde estão o PT, o PSDB, o PMDB, PSB, DEM, PSC etc. E, terminados os quatro anos, terminado o período em que se concedeu a confiança do voto a qualquer um que seja, que paire no ar, clara como nunca, a percepção de que as vitórias, as conquistas, a riqueza, o desenvolvimento, a educação, a saúde, a igualdade e a justiça, tudo isso só será conquistado na base de muita luta, muita bomba, muita porrada de cassetete.

Em tempo: aecistas, tratem de acalmar-se, que aqui não está nenhuma defesa e nenhuma conces-são ao tucanato. Embora eu considere Dilma e Aécio farinha do mesmo saco, fosse essa crítica dirigida ao PSDB ela seria, muito provavelmente, bastante mais virulenta e agressiva – e certamente muito mais fácil de escrever.

“ O debate político no país parece moldado por essa

escola grande-midiática de pequeno-jornalismo”

Ilustração: Mario Sánchez Nevado

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retorna ao padrão de estabilidade dos últimos pleitos, pelo menos desde 1994. Tanto é que ambos são fortemente financiados por emprei-teiras, bancos e grandes empresas subsidiadas pelo BNDES.

As avaliações do primeiro turno continuam alimentando a imprensa, os meios políticos e acadêmicos. Predomina, no geral, a percepção

Após o descarte da súbita candi-datura de Marina, o processo elei-toral de 2014 caminha agora em ter-reno mais seguro para o capital, em especial para os grupos dominantes que convivem muito bem tanto com os governos do PSDB quanto com os governos do PT. Com Dilma e Aécio não existe mais o risco de qualquer surpresa, já que a limitada e controlada democracia brasileira

HAMILTON OCTÁVIO DE SOUZA

Além Do Duelo

Dilma-Aécio

Hamilton é jornalista e professor na Pontifícia

Univerdade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro

da equipe da Revista Vírus Planetário

de que ocorreu um avanço con-servador nas eleições proporcionais para deputados estaduais e fede-rais, e na majoritária do Senado, não apenas devido ao aumento de parlamentares dos partidos de centro e de direita, mas porque em geral defendem posições contrárias às demandas dos movimentos so-ciais populares. As bancadas evan-gélica, ruralista, da bala (policiais e

Processo eleitoral reforça a urgência de nova articulação política capaz de avançar as lutas por melhoria das condições de vida, contra as desigualdades e por conquistas reais de direitos políticos e sociais.

reprodução facebook

MALAFAIA

BOLSONARO FELICIANO

COLLOR SARNEY MALUF

GAROTINHO KÁTIA ABREU

Pr. EVERALDO LEVY FIDELIX

Eleições2014

Vírus Planetário - outubro 201416

Page 17: Edição 34 (completa)

militares) e dos inúmeros lobbies de grupos empresariais privados praticamente imobilizam o Con-gresso Nacional e as assembleias estaduais.

Não é para menos: na campa-nha eleitoral do primeiro turno a propaganda dos candidatos ma-joritários e proporcionais girou em torno da segurança pública (leia-se mais repressão em cima dos ne-gros, pobres e manifestantes em geral) e da crítica às pautas dos movimentos LGBT, pela legaliza-ção do aborto e pela descrimina-lização da maconha. Com raríssi-mas exceções – de partidos como o PSOL, PCB, PSTU e PCO –, to-dos os demais partidos se empe-nharam no discurso conservador, da mudança dentro da ordem vi-gente, o que combina com a pos-tura editorial da mídia hegemônica e com a formação da opinião pú-blica nos mais diferentes ambien-tes institucionais.

Agora no segundo turno de-vemos assistir ao videotape das campanhas de 2006 e 2010, com a mais brutal troca de acusa-ções, as comparações exageradas e mentirosas das obras de cada um, os apelos emocionais típicos de religiões fundamentalistas nas sessões de exorcismo e de torci-das organizadas nos estádios de futebol. Essa disputa acirrada le-vada ao extremo de decisão entre vida e morte acaba por encobrir o que realmente está em jogo, qual é a verdadeira conjuntura política e econômica e o que existe de al-ternativa ao contínuo embate en-tre as classes trabalhadoras e as forças do capital.

É preciso deixar de lado as pi-cuinhas trocadas pelas candidatu-ras, as artimanhas dos marque-teiros e os discursos rasteiros dos militantes e fanáticos de plantão, e fazer uma leitura mais cuidadosa e aprofundada sobre o que tere-mos no dia 26 de outubro e o que precisaremos ter para as batalhas

que se apresentam no horizonte imediato. Não se trata de tangenciar a busca de uma saída inspirada no socialismo, mas de identificar de pronto o que mais ameaça o povo brasileiro na atual etapa do modelo dominante, o que enfim precisa ser superado na direção de uma socie-dade mais democrática, justa e igualitária.

Não há a menor dúvida de que os governos do PT, de 2003 em diante, conseguiram promover avanços sociais significativos para as parcelas mais pobres e exploradas da população, seja com programas compensatórios como bolsa-família, prouni, minha casa minha vida, seja com aumentos reais do salário mínimo – com a consequente re-dução da desigualdade durante anos seguidos. Isso, a despeito de ter continuado as políticas neoliberais adotadas nos governos anteriores do PSDB, com as privatizações de rodovias, aeroportos, portos e das reservas do pré-sal – além de carrear recursos públicos para os grupos privados da educação, da saúde e de inúmeros serviços públicos.

O reconhecimento do que foi feito não pode servir jamais para encobrir ou desviar a nossa atenção sobre a situação atual, sobre o que aconteceu nos últimos anos do governo Dilma, sobre a realidade econômica do país e a condição política do arco de alianças constituído depois de 2002. O que importa agora é ter claro porque o quadro eco-nômico alterou a situação que permitiu – e não permite mais – que se tenham avanços sociais; porque o quadro político alterou a correlação de forças na sociedade de tal maneira que o antigo arco de alianças não é mais capaz de promover novos avanços.

A aliança que o PT construiu com setores da burguesia (partidos de centro e de direita), que possibilitou avanços sociais durante vá-rios anos (ampliação do bolsa-família, aumento real do salário mínimo, prouni), chegou ao seu limite de conquistas, está patinando nos últi-mos dois a três anos, demonstra sinais claros de esgotamento, de tal maneira que não dispõe de energia suficiente nem para avançar mais e nem para segurar as conquistas e impedir o retrocesso.

Não consegue avançar. A prova real dessa impotência é que não consegue levar adiante a reforma agrária, congelada durante todo

Ilustração

: Gu

stavo M

orais

Esgotamento

“ No primeiro turno, a propaganda dos candidatos girou em torno da segurança

pública (leia-se mais repressão em cima dos negros, pobres e manifestantes em geral) e da

crítica às pautas progressistas e libertárias”

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o governo Dilma; não consegue mobilizar para a reforma política, nem com proposta de constituinte exclusiva; não consegue concretizar no-vos aumentos reais do salário mínimo, com PIB perto de zero; não consegue acabar com o fator previdenciário, antiga reivindicação de trabalhadores e aposentados; não consegue levar adiante as apurações da Comissão da Verdade, nem nos quartéis nem no Judiciário; não consegue promover a democratização da comunicação social, apesar da danosa manipulação dos oligopólios privados; não consegue concluir a regulamentação do FGTS para os empregados domésticos; não con-segue baixar os juros dos bancos e do comércio, com a Selic em 11% ao ano. Enfim, está com toda a agenda do desenvolvimento progressista empacada, patinando – e sem qualquer possibilidade de ser concretiza-da no próximo quatriênio.

Não segura o retrocesso. A prova disso é o descontrole geral dos preços, com câmbio artificial para favorecer importações de bens de consumo e juros altos para agradar os rentistas, o que provoca au-mento da inflação acima da meta pré-fixada; a estagnação industrial sinaliza para o aumento do desemprego formal em especial nos se-tores vitaminados com desonerações de impostos e linhas especiais de crédito; a curva da desigualdade, que vinha decrescendo, estancou de novo e pode provocar novo distanciamento entre ricos e pobres; o governo não consegue atrair investimentos nos setores produtivos por absoluta instabilidade interna; a dívida pública cresce e o governo usa artifícios de manipulação contábil para esconder o aumento do déficit

público; tudo indica que após as eleições ou no próximo governo haverá um forte ajuste fiscal para conter o rombo no orçamento, e serão necessários reajustes nos preços dos combustíveis, energia elétrica e do câmbio, com desdo-bramentos em cadeia no custo de vida. Os trabalhadores e os seg-mentos populares é que vão pa-gar – mais uma vez – com arrocho salarial e desemprego.

É evidente que o avanço na di-reção de novas conquistas sociais e da melhoria geral de condições de vida do povo depende agora de outra e nova articulação de forças políticas. De forças que combinem a ação institucional com as mobi-lizações populares e dos trabalha-dores para exigir avanços sociais. É preciso recuperar a energia das mobilizações e dos protestos de 2013, por mudanças, num movi-mento de transformações sociais. Será preciso arrancar tais conquis-tas do bloco de poder. Só mesmo com uma ampla articulação à es-querda, decidida a fazer o enfren-tamento aos grupos dominantes do capital será possível romper com o status atual do grande pacto conservador, fortalecido ainda mais no primeiro turno das eleições de 2014.

“ Não dá para ser passageiro no ônibus das alianças conservadoras, é preciso

ser protagonista no bloco das oposições populares revolucionárias e de esquerda.”

Perspectiva

Eleições2014

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“ Vote na retomada das

lutas sociais após 26 de outubro”

A nova articulação precisa con-tar com a unificação de forças no campo da esquerda – inclusi-ve com as correntes petistas que não se renderam ao neoliberalismo – numa frente que dialogue, atraia e reúna os movimentos sociais populares (sem terra, sem teto, negros, índios, mulheres, LGBT), sindicatos de trabalhadores, movi-mento estudantil, intelectualidade e academia, profissionais liberais progressistas, defensores dos di-reitos humanos e os setores de-mocráticos mais avançados.

A vitória da Dilma deixará os se-tores progressistas e de esquerda do PT mais uma vez a reboque das alianças conservadoras e da direi-ta, numa situação econômica que não permite mais avanços sociais sem o devido enfrentamento com o capital. Os setores de esquerda do PT tendem a ser cada vez mais espectadores de um processo de degradação acelerada das conquis-tas sociais dos anos anteriores. Não dá para ser passageiro no ônibus das alianças conservadoras, é pre-ciso ser protagonista no bloco das oposições populares revolucionárias e de esquerda.

A vitória de Aécio vai provocar uma corrida fisiológica dos aliados do PT para o campo governista, serão abrigados dentro do pacto conservador para manter o mode-lo funcionado: no campo político e comportamental, com Congresso Nacional conservador e Judiciário das classes dominantes; no campo econômico, juros altos para os ren-

tistas, dinheiro público subsidiado para grandes grupos empresariais e câmbio favorável às importações para o consumo de baixa renda. E para os descontentes em geral, mais criminalização e mais repres-são policial.

O voto em Dilma ou em Aécio não muda essa conjuntura. Ambos disputam o voto popular com pro-messas de toda ordem porque o voto popular decide a eleição; mas ambos se empenham realmente em fazer concessões – cada vez maiores – aos grupos do poder, aos capitais nacional e estrangeiro. É com esses grupos que vão gover-nar. Ao povo, aos trabalhadores, aos democratas progressistas, aos movimentos sociais e aos militantes das esquerdas compete dar o pri-meiro passo na construção de uma ampla frente popular de oposição e de esquerda, que seja anticapitalis-ta e aponte na direção do socia-lismo. Vote na retomada das lutas sociais após 26 de outubro.

Ilustração: Tiago Silva | facebook.com/quadrinhosimpossiveis

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No primeiro debate entre os presidenciáveis, foi levantado o as-sunto da dívida pública brasileira e a necessidade de uma auditoria cidadã que reduziria enormamente a mesma. Além delxs, dois outros candidatos, não convidados para o debate, Mauro Iasi (PCB) e Zé Maria (PSTU), também costumam citá-la frequentemente.

Não é à toa que o tema tem ganhado tanta atenção da classe política, em especial à esquerda: o “Sistema da Dívida” toma hoje 42% do Orçamento Geral da União (a forma como o Governo Federal dis-tribui o investimento no país), e é informalmente apelidado de “Bolsa-Banqueiro”, justamente por ser um

sistema que retroalimenta os paga-mentos a grandes bancos e grupos de investimento, prejudicando as áreas sociais do país. Dos outros 58%, 4% vão para a Saúde, 3% para a Educação e míseros 0,02% para a Habitação, por exemplo.

Este mesmo Sistema da Dívida é contestado há décadas, tanto que a necessidade de uma auditoria foi incluída na Constituição Federal de 1988. Nos anos de 2009 e 2010 foi montada uma CPI da Dívida, para investigar a dívida federal. Ape-sar de não ter sido possível fazer uma auditoria de todos os títulos e contratos envolvidos, não ter sido aprovada a quebra de sigilo bancá-rio de tantos movimentos suspei-

tos, foi possível concluir a CPI com um relatório de mais de 900 páginas apontando as manipulações finan-ceiras ilegais e fraudulentas cometi-das pelo Sistema da Dívida. Ou seja, não é apenas um sistema imoral, mas também ilegal, compatível de ser anulado em tribunais interna-cionais.

O Governo Federal em algumas ocasiões afirmou que a dívida es-tava sendo reduzida com o tempo, o que não é verdade. Se, em 2014, o Orçamento da União foi fechado destinando pouco mais de R$ 1 tri-lhão para o serviço da dívida (so-mando-se juros, encargos e amor-tizações), o Governo Federal enviou ao Congresso, na última semana de

Auditoria da DívidaUma pauta mais que urgenteSó esse ano, o governo federal já havia gastado, até setembro,

mais de 825 bilhões (mais da metade de seus gastos) com juros e amortizações de dívida pública.

economiaRoberto Setúbal, presidente do banco Itaú, e Pedro Moreira Salles, à direita, ex-presidente do Unibanco,

durante celebração de fusão dos bancos. O Itaú é um dos credores da dívida pública federal | Reprodução

Por Núcleo São Paulo da Auditoria Cidadã da Dívida (texto construído coletivamente)

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agosto de 2014, um Projeto de Lei Orçamentária para o ano de 2015 onde propõe a destinação de R$ 1,36 trilhão do Orçamento para o serviço da dívida, dentro de um valor orçamentário total de R$ 2,86 trilhões, ou seja: 47% do Or-çamento destinados ao serviço da dívida. Sendo assim, nem sob uma perspectiva de valor abso-luto, nem percentual, esta dívida diminuiu. Muito pelo contrário, apenas vem aumentando com o passar do tempo, sendo que o va-lor deste ano para o próximo está previsto para aumentar em mais de 30%.

Em 2007, Rafael Correa, Presi-dente do Equador, decretou que fosse formada uma comissão para auditoria da dívida daquele país. Após realizada a auditoria no país, foi possível reduzir em 70% o seu saldo, o que possibilitou uma libe-ração massiva de verba pública para o setor público, acarretando em investimento pesado em saú-de pública, educação pública e ou-tras áreas. Não por acaso, o Pre-sidente foi reeleito com facilidade e segue sendo pressionado por grande parte da população a não abandonar o cargo.

Não é possível, por-tanto, dar continuidade a uma política econômica no Brasil em que grandes bancos e grupos de in-vestimento “vampirizam” a sociedade. É preciso realizar, com urgência, uma auditoria da dívida pública com respaldo na Sociedade Civil Organiza-da e em auditores fiscais idôneos, para que haja a quebra de sigilo dos contratos e títulos emi-tidos desta dívida. Desta forma, poderíamos sa-ber o quanto devemos de fato desta dívida, e o quanto é fruto de ativi-dades fraudulentas, para

que ela possa ser juridicamente questionada e em seguida cancelada, retornando, assim, boa parte desta verba para o povo brasileiro em forma de serviços públicos, aumentos salariais, investimentos em infra-estrutura e outras áreas tão fundamentais para o desenvolvimento e redução da desigualdade social.

Para isso acontecer, porém, é extramamente necessário que esta pauta obtenha amplo conhecimento e apoio popular. Se desde 1988 esta é uma determinação constitucional que nunca foi cumprida, isto significa que apenas pelo meio institucional ela deverá ser mantida às traças. Sendo assim, nós, o povo brasileiro, só conseguiremos que esta auditoria seja feita quando tomarmos ampla consciência do proble-ma, quando formos às ruas reivindicá-la, quando ela deixar de ser um problema secundário no imaginário coletivo e nos movimentos sociais.

Karl Marx, ao redigir o manifesto inaugural lido no congresso rea-lizado em Londres, onde foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional, 1864), afirma que a emancipação dxs trabalhadorxs será obra dxs próprixs trabalhadorxs. De fato, esta afir-mação também é válida neste contexto, pois a superação do Sistema da Dívida só será possível através do empenho da classe trabalhadora unida e consciente de seus desafios e objetivos.

“ O “sistema da dívida” não é apenas um sistema imoral, mas também ilegal”

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e o cemitério?

Outubro de 2014 | Ano 11 | Número 117 | www.fazendomedia.com | [email protected]

MEDIAFAZEN

DO

a média que a mídia faz

Ei, Henfil,

Por Tavarez

Depois que coloquei dois artistas, Diogo Nogueira e Jorge Ben Jor, no campo dos “Nenhum respeito pelos artistas vendidos”, vi que tiveram comentários a partir dos compar-tilhamentos no facebook. Estes co-mentários, assim como os artistas, não defendiam seus candidatos, defendiam a liberdade de apoiar quem eles quisessem. Ou seja, não tem argumento contundente para defender a posição. Como exemplo, Jorge Ben Jor fez uma música onde não comenta sobre o que o candi-dato (atual governador) fez no Rio de Janeiro. O jingle se limita a falar o nome do candidato:

“Pezão Pezão, Pezão Pezão /Pe-zãããããããooooooo

Ele sabe andar calçado, /Ele sabe andar de pé no chão/Ele sabe aonde pisa/

Pezão pezão pezão pezãoEle é boa praça! /Ele é guerreiro!

/Ele é social! /Ele é o Rio de Janeiro”

O que a música de Jorge Ben Jor esconde? A política deste governo: a falência do projeto de segurança pública onde - a galinha dos ovos de ouro que era a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) teve ações comprovadas de tortura de mora-

dores, corrupção dos policiais e as-sassinatos como Amarildo e D.G; o episódio dos guardanapos em Paris, onde o governo mostra relações promíscuas com os empresários da área da construção civil que não por coincidência ganharam as maio-res licitações do estado; escândalos de superfaturamento como na obra do Maracanã e a sua privatização; perseguição aos professores grevis-tas do estado. Isso é o que lembro.

Contudo, criticar artista que se vende não é novidade e o mais efi-ciente em fazer isso nos últimos anos foi Henfil. No Pasquim, através do seu Cemitério dos Mortos-Vivos, onde enterrava artistas e persona-lidades públicas como: “os canto-res Wilson Simonal e Don e Ravel; o dramaturgo Nelson Rodrigues; o sociólogo Gilberto Freyre; os econo-mistas Roberto Campos e Eugênio Gudin; o ensaísta Gustavo Corção; os escritores Rachel de Queiroz e Josué Montello; os apresentadores de TV Flávio Cavalcanti, Hebe Ca-margo e J. Silvestre; o técnico de futebol Zagalo; os jornalistas David Nasser e Samuel Wainer; os com-positores Sérgio Mendes e Carlos Imperial; o maestro Erlon Chaves;

o humorista José de Vasconcelos; os bispos direitistas Dom Vicente Scherer e Dom Geraldo Sigaud; o presidente da Confederação Brasi-leira de Desportos e depois da Fifa, João Havelange; parlamentares da Arena, o partido da ditadura; os atores Jece Valadão e Bibi Ferreira; o conjunto Os Incríveis; o fotógrafo Jean Manzon; o líder integralista Plí-nio Salgado; Plíno Corrêa de Oliveira, fundador da Tradição, Família e Pro-priedade (TFP); o astro de futebol Pelé; o empresário da comunicação Adolpho Bloch; “The Globe” (alusão a O Globo), entre outros.” *

O enterro mais comovente foi de Elis Regina, os motivos: ter partici-pado da campanha nacional junto com Roberto Carlos para convocar o povo a cantar o hino no dia 7 de setembro de 1972 em plena ditadu-ra militar comandada por Médici e, por fim, no mesmo ano ter se apre-sentado na Semana da Olimpíada do Exército. Isso foi suficiente para Henfil produzir a seguinte charge:

A história é longa e mais tarde, Henfil faz uma declaração dizendo que Elis havia lhe informado que a sua participação ligada aos mi-

O cartunista Henfil mantinha um cemitério, no qual enterrava simbolicamente artistas que defendiam causas contra o povo.

Parece que, tantos anos depois, ainda precisamos dele.

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ção, estão ao lado do candidato do governo que está há oito anos no Rio de Janeiro promovendo a política do atraso. O que é estranho é o silêncio cínico de outros artistas que tem acesso nos grandes veículos de comunicação e fingem não ver. Este cinismo pode ser por vários motivos: o primeiro é a espera que um dia também sejam chamados para compor o quadro artístico deste grupo político; a ligação que a emissora/patrão tem com o governo; o estágio de alienação que a classe artística se encontra; e, o medo de bater nos que estão se ven-dendo hoje, pois sabem que o pau que dá em Chico, dá em Francisco também.

Eu, no mar das Redes Sociais e veículos de comunicação de esquer-da, observo e comento com a certeza do que o saudoso Henfil dizia “Caráter não dá cupim”.

Referências:* O humor de Henfil contra quem oprime. Por Dênis de Moraes - www.tinyurl.com/denisfil** Elis Regina, ditadura e Lula - www.tinyurl.com/elisreginadit*** Artistas que apoiam Eduardo Paes fizeram shows pagos pela Prefeitura do Rio - www.tinyurl.com/artistapaes

litares era fruto de ameaça: “Elis nunca me perguntou se eu estava atacando porque ela estava de-fendendo um regime militar que queria matar meu irmão. (…) Re-solvi engolir. Ela terminou de falar, entendeu meu subtexto: ‘Tá, Elis, eu aceito’. (…) Evidente que os mili-tares estavam pressionando o país inteiro. Eu sabia disso, os milita-res faziam censura prévia no meu jornal (Pasquim), presença física, todo dia. (…) Então, tinha todo o direito de criticar uma pessoa que ia para a televisão se entregar. Eu não mudei em nada e ela perce-beu isso”**. Henfil dizia que se arre-pendia de ter colocado Elis Regina e Clarice Lispector no Cemitério. Nos anos finais de 1970, Elis e ou-tros artistas fizeram alguns shows para arrecadar fundos para o sin-dicato dos metalúrgicos grevistas de São Paulo e na campanha pela Anistia marcou com a música O Bêbado e o Equilibrista.

Os artistas que se vendem*** para regimes ou grupos políticos claramente estão no campo do retrocesso da política e da arte no Brasil. Os dois, Jorge Ben Jor e Diogo Nogueira, na minha avalia-

“ Os artistas que se vendem

para regimes ou grupos políticos

claramente estão no campo do retrocesso da

política e da arte no Brasil”

Reprodução quadrinhos Henfil

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Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Por Marcelo de Franceschi e Tiago Miotto, d’O Viés

Como tu começou a pixar?Eu pixo desde 2006. Eu comecei assim fa-

zendo com pincel e tinta 3 e 600, saía na rua, como diversão. Aí 2007 pra 2008 eu co-mecei a pegar mais interesse, mais gosto, eu fui morar em São Paulo, aí lá eu conheci mesmo o que que é a pichação de verdade, o que que é dominar o espaço, sabe? Aí eu comecei mesmo a pixar, daí depois de 2008. Hoje Tenho uns 20 B. O. de pixação, por aí.

O que tu diz com dominar o espaço?Tipo, ocupar as paredes, o que tu vê né. O

cara abre a visão do cara.

E por que tu resolveu começar?Comecei, sei lá, por influência de amigos

e porque eu gostei mesmo daquilo, e gos-tava de ver sabe, meu nome nos lugares. Mas nunca tive a intenção de agredir, tipo ‘ah, vou lá pixar a casa do fulano’. Não, eu não sei quem mora ali, eu só pixo porque eu gosto. Eu gosto de ver minhas letras ali no lugar, entendeu?

O crescimento das marcas deixadas por pixadores na cidade de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, é evidente até para os menos atentos de seus cerca de 260 mil habitantes. A cidade está no mapa da pixação (com x, como preferem seus praticantes, pois se trata de um movimento com valores estéticos e éticos próprios) e o pixo é parte de seu ambiente urbano, para o orgulho de muitos, o desgosto de muitos outros e a perplexidade de tantos mais.

Reflexo e reação à urbanização excludente das grandes cida-des e o contraste entre o centro e as periferias, entre quem tem e quem não tem, os traços característicos da pixação tomam pouco a pouco os muros, prédios e fachadas, delineando em preto fosco as marcas de crews, grifes e indivíduos.

Nos últimos dois anos, os pixadores e as pixadoras de Santa Maria foram alvo de duas grandes operações policiais, chamadas “Operação Cidade Limpa” e “Operação Rabisco”, que envolveram enorme contingente policial para executar dezenas de mandados contra jovens adultos e menores de idade e resultaram em abor-dagens abusivas, recolhimento de indícios grotescos como bebi-das alcoólicas e portas de roupeiro além, claro, de contarem com o apoio irrestrito da mídia tradicional local.

Na entrevista a seguir, um pixador, não identificado por ques-tões de segurança, fala sobre suas motivações, seu cotidiano, a transgressão, a repressão e tudo que envolve este universo.

Entrevista com um pixador de Santa Maria, RS

ANTES SUJO DE TINTA DO QUE DE SANGUE

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‘tu é loco de fazer isso, teve morador aqui que já comprou uma arma por causa tua, que tu pixou tal lugar e ele comprou uma arma pra se prote-ger’. Mas o que eu vou fazer? O cara tem que tá ligeiro.

E como tu acha que as pessoas podem diferenciar vocês de ladrão?

É pelo barulho. Eu já grito ‘nah, só vim fazer um pixo! To pixando aqui!’. Já teve vezes que morador saiu, eu tava na sacada. Ele saiu as-sim, ‘que tá fazendo??’ ‘Nah, to pi-xando!!’ ‘Desce daí senão vou cha-mar a polícia!!’ ‘Tá, já vou, só vou terminar aqui!!’. Aí o bicho ficou de cara e entrou pra dentro. E o cara terminou e desceu.

Por que tu gosta de pixar?É difícil essa pergunta. Eu peguei

o gosto pelo pixo. Eu acho legal

E tu não acha que seria melhor pixar alguma frase, alguma men-sagem, como fizeram lá na fachada da Kiss?

Tipo, frases eu acho que tem os seus momentos, entendeu? Eu faço de vez em quando algumas, mas quando eu tô indignado com alguma coisa, ou quando eu tô feliz, quero deixar uma mensagem legal. Eu pra-tico a pixação pela pixação mesmo, pelo esporte de tu fazer aquilo, de tu largar o teu nome. E sei lá meu, dar o máximo de ti. Aquele da [rua] Acampamento nós deixamos uma mensagem ‘Antes sujo de tinta do que de sangue’, a gente mandou pra Kiss também.

E tu não acha que é um desres-peito a uma coisa que demorou muito pra ser feita?

Eu não vejo como desrespeito. Sei lá, é um bagulho muito loco. Cada pi-xador tem sua visão. Sei lá, eu tenho a visão do ‘bah os caras vieram das cavernas e já riscavam nas cavernas deles’. Por que agride tanto olhar e ver uma parede pixada, por que se indignam tanto? Não sendo só na sua casa, tipo, veem na rua e ficam indignados. ‘Meu Deus pra que isso, por que isso, né?’. Mas é indignação social também. Tem pessoas que não vivem bem, que não são de bem com a vida, sabe, são sozinhas. Tem gente que quer buscar aparecer, quer bus-car o seu espaço. É um meio, enten-deu, só que é entre nós só, só entre os pixadores.

E o que teus pais falam, fala-vam?

Eles falavam pra não eu pixar, mas nunca pixei antes do 18 anos. Só dos meus 18 em diante. Eles sempre fala-vam ‘nah, por que tu faz isso?’ e eu: ‘eu faço isso porque eu gosto’. Daí pra polícia, eles descobriram, fica-ram brabos, a polícia invadiu minha casa, foi bem difícil. Apreenderam muito material. Eu também faço grafite, não só pixação. Aí, tinha o material do grafite, levaram mais de 20 latas, tintas, levaram quadros, ca-netas, meus cadernos, roupa minha também dizendo que era prova. Teve

roupa que eles não levaram, eles pe-garam e sujaram assim com as cane-tas. ‘Ah, isso aqui é tuas canetas que tu pixa’ e faziam assim nas calças, sujando tudo. Isso sete da manhã, foram invadindo já, não deram tem-po nem de eu sair da cama. Nem da minha mãe me avisar. Minha mãe foi lá na frente e eles já foram entrando já, foram no meu quarto, eu de cue-ca. Bem, bem russa a situação. Mas tô tranquilo. Eu não roubo. Nunca roubei. Eu subo no prédio só pra pi-xar. Procuro não quebrar também. E me diz que artista arrisca a sua vida aí, cara, pra fazer isso. Não tem, mas não tem, a gente não é artista. Nós somos vândalos, né?

E tu não acha que uma hora tu pode ser confundido com esses la-drões que tão entrando pelas va-randas?

Posso. É, os caras viram que, não é, não é difícil, sabe? Aí os caras se aproveitam. E é tudo gurizada loca da droga isso daí, meu. Só pra fumar pedra, cocaína. Tu acha que eles vão roubar pra sobreviver? Eles vão ali e vendem por 100 pila. Vão ali e deu, tá bom pra eles pra noite, tá legal. Isso aí queima nós, tá ligado? Bah, tá loco. Na delegacia lá me falaram

Foto: Geof Wilson

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Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

o momento de tu subir, de tu tá lá em cima, tu sentir o lugar, tu olhar a vista. Bah.

É uma escalada com parkour pra ti?

Sim, bah, sem palavras, é adrena-lina mil grau. E tu tem que tá con-trolando tudo aquilo. Tu tem que tá sereno. Tu tem que saber o teu limi-te. Só na mão. Só seca bem as mão, seca os pé, e vai que vai. Já teve pré-dio que eu subi 10 andares.

Tua revolta vem daonde?Sei lá, da exclusão. Somos bem po-

bres, moro com meus pais até hoje. Casinha simples, meu quarto é de

madeira. É pobreza mesmo, mas tamo aí na luta. Mas eu acho que mais por exclusão mesmo. Sempre me senti so-zinho mesmo. Desde o colé-gio. Tinha uns mais ricos, o cara sempre queria ter o que o outro tinha e não podia, essas coisas. Mas nunca fui de roubar o que o outro tem. Mais por isso, muitos é por

isso. Tem muitos que eu conheço ‘ah, hoje eu tô de cara, tenho que pixar’, sabe? Briga com a família e vai pixar. Melhor do que tá usando droga, tá cheirando. Nós os pixado-res assim só fumamos uma macoi-nha, toma uma cerveja. Tanto po-bre quanto rico. Tem amigo bem de vida que pixa.

Tu acha que a pixação te ensi-nou algo?

Muita coisa. Eu me sinto bem mais inteligente. Questão de estra-tégia. Tu tem que sempre ter uma estratégia pra tu subir nos lugar,es pra ti fugir da polícia. Tem que ter sempre em mente um plano de fuga. Onde é que tu pode subir, o que tu pode te machucar, o que tu pode usar ou não. Onde tu pode apoiar o pé, os dedos. E amizade, trouxe muita. Tu conhece muita gente humilde, bah, sem palavras, te tratam como irmãos. Tu nunca viu as pessoas e os caras ‘bah que daora, tu é tal’, sabe? Fui numa festa em São Paulo ano passado e fui tratado como se fosse um de-les, que eu conhecesse há anos. Fui sozinho, o único do Rio Grande do Sul. Fiquei um fim de semana lá. Tinha uma consideração. Tu conhe-ce muita gente também.

E tu pretende seguir pixando até quando?

Até eu morrer, me desculpa, mas até morrer. Não sei se vou morrer pixando, se vão me matar. Vou dar muito incômodo ainda.

“ Não sei se vou morrer pixando,

se vão me matar. Vou dar muito

incômodo ainda”

Vírus Planetário - outubro 201426

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IndicaçõesAs Nega RealO trabalho que o portal de blogs

Blogueiras Negras tem na internet é fun-

damental, trazendo à tona questões fun-

damentais sobre o racismo e o machis-

mo em nossa sociedade e a intersecção

dessas opressões e de outras que podem

estar sujeitas as mulheres negras. Com

o lançamento da já contraindicada série

da rede Globo, O Sexo e as Nega, as Blogueiras Negras lançaram um

programa de resposta, #AsNegaReal. Neste web-programa, disponível

no canal do youtube do Blogueiras Negras, 4 mulheres negras falam

sobre os temas abordados pelo malfadado seriado, só que problemati-

zando e mostrando como a Globo está novamente contribuindo para o

racismo, objetificando a mulher negra, as fetichizando e estereotipan-

do. As Nega Real vale pra quem é mulher e negra se empoderar e res-

ponder ao racismo e machismo cotidiano e para todos nós que lutamos

contra as opressões para aprender com as nega o que é ser negra.

O EstopimDepois de um ano que

a frase “Cadê o Amarildo” se

espalhou após este ser torturado

morto e seu corpo ocultado, as

notícias não poderiam ser piores:

casos como este continuam a

acontecer. No documentário de

Rodrigo Mac Niven, “O Estopim”, são registrados acontecimentos do

tempo presente. Ao tratar do caso Amarildo também aborda outros

fatos e casos de pessoas que tiverem destinos semelhantes ao dele. Tudo

isso através das forças policiais. O documentário nos mostra aquilo

que todo pobre, negro, periférico e demais grupos oprimidos sentem

na pele, que nenhuma política que se apoie no aparato repressivo do

Estado será solução para nenhum problema social. Conectando as falas

dos entrevistados e os fatos, com grande sensibilidade e a seriedade

correta ao olhar sobre um tema tão denso e preocupante em nossa

sociedade. Longe de só se ater aos fatos, o filme é uma conclamação

para que lutemos por uma outra sociedade, sem Estado militarizado,

sem desumanização de pobres e com justiça social de fato.

COLLAB das minas

O grupo “Collab das Minas” nasceu em um grupo de

ilustração de mulheres e sobre mulheres no facebook. COLLAB,

como é conhecido no meio, é uma colaboração entre artistas, ou

galeria colaborativa. O tema “Outubro

Rosa” foi escolhido para ser o primeiro

projeto. O foco foi escolher uma figura

feminina forte, uma heroína pessoal e

ilustrar. Em cada ilustração divulgada

há um texto explicativo sobre quem é

a personagem e o porquê da escolha

para o projeto. Durante o mês de

outubro a página do “Collab das

Minas” irá compartilhar ilustrações

com histórias descritas pelas artistas,

basta acompanhar e ajudar a

compartilhar a causa!

www.facebook.com/collabdasminas

ingerir em caso de marasmo

ingerir em caso de repetição cultural

ingerir em caso de alienação

POSOLOGIA

manter fora do alcance das crianças

nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico

extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

Contraindicações

Politicamente Incorreto(Danilo Gentili)

Quando se trata de “humor” direitoso e preconceituoso, nada é tão ruim que não possa piorar. Apoiado na rejeição que as pes-soas têm pela política institucional e na sua falta de capacidade humorística, Danilo Gentili é mais uma vez uma contraindicação na certa. O programa exibido no canal mais emblematicamente machista da TV paga, o FX (o canal para o ho-mem, socorro!!!), busca pescar a audiência da-queles que não querem ver o horário eleitoral. Numa paródia medíocre de político corrupto o pseudo-humorista abusa de clichês que são um serviço para a alienação política.

Vírus Planetário - outubro 2014 27

Page 28: Edição 34 (completa)

Pessoas gordas não vão ao consultório médico apenas procurando emagrecer

Um apelo à comunidade médica:

sociedade

KEEP CALM

& GUARDA A GUIA DO NUTRICIONISTA

Por Jéssica Ipólito

Vírus Planetário - outubro 201428

Page 29: Edição 34 (completa)

soas, baseado naquilo que elas tra-zem, baseado nos sintomas delas. Por que com pessoas gordas, isso é diferente? Por que o diagnóstico é sempre o mesmo, mesmo que os sintomas sejam diferentes? Por que vocês não ouvem seus pacientes gordos?

Cheguei na sala de espera, pre-enchi a ficha e fiquei aguardando minha vez. Eu havia me planeja-do, sabe… Escrevi 1500 caracteres no bloco de notas do celular com o meu histórico. Eu fiz isso porque comprei a ideia da minha psicólo-ga. Foi ela que me atormentou por vezes com essa ideia. Ela que me convenceu. Achei plausível. Segui o conselho, já que eu não tinha nada a perder. No entanto, eu não che-guei a falar metade daquilo que eu havia planejado. Não deu. Fui inter-rompida várias vezes. Fui acertada por um olhar de descaso enquan-to falava. Eu não mencionei nada sobre emagrecimento. Eu não disse absolutamente nada sobre dieta ou alimentação. Eu não lembrei de ci-rurgia bariátrica. Nem nutricionista.

Nada. Falei de coisas que me afligiam há tempos… Falei das mi-nhas pneumonias mal curadas, falei da qualidade do meu sono, falei de mim e eu só ouvi no final um:

Venho por meio desta, expressar mais uma frustração após me con-sultar com um de seus colegas da área.

Há anos eu não faço o tal do che-ck-up completo. Sim, anos. Só ago-ra, aos 22 anos, pude ter um plano de saúde. E que privilégio esse, viu? Conseguir marcar uma consulta com menos de 3 meses de espera é fantástico! Eu não sabia que era assim, tão massa. Eu só conhecia o contrário. Desde o nascimento fui usuária do Sistema Único de Saúde. Já passei altos perrengues pra ser atendida. Minha mãe que o diga. Várias tretas que ela teve que en-frentar quando a situação era gra-ve e a negligência e ineficiência [do SUS] beirava o desespero.

Mas o mote da minha frustra-ção foi voltar da consulta com uma frase na cabeça: “Eu sabia que seria assim”.

Doutoras e Doutores, eu sou uma mulher gorda, sabem? Ou “obesa mórbida”, na língua de vo-cês. Toda vez que eu agendo uma consulta, seja para qualquer espe-cialidade, eu já prevejo o resultado e eu sempre acerto o que vocês vão me falar. Vocês me botam sentada na sua frente, e enquanto escrevem qualquer coisa com uma letra ilegí-vel, eu falo porque estou ali. Quan-do deixam de lado a caneta, vocês me olham. Poucos de vocês encos-tam em mim. Poucos de vocês me examinam. Nenhum de vocês me escuta. Eu falo, falo, falo… Mas ne-nhum de vocês teve a capacidade de ouvir o que eu tinha pra falar.

Vocês não imaginam o quão ruim é ficar lá parada, na frente de um estranho, falando sobre o meu cor-po, e esse estranho não dá a míni-ma. É horrível. Sério. É bem ruim. É desconfortável. Me faz sentir inútil. Vocês, que são os profissionais que estão ao dispor para ajudar as pes-

“Jéssica, você sabe que é obesa mórbida e que precisa perder peso, né? Vou pedir alguns exames de sangue… os básicos, pra gente ver como tudo está indo. Se algo der alterado nos exames, a gente ava-lia melhor. Mas você precisa perder peso. Não to falando pra você ficar magrinha não… mas precisa chegar aos 100kg, pelo menos”.

Vocês entendem quando eu digo que não fui ouvida? Do início ao fim, eu não fui ouvida! Quando entrei no consultório, meu corpo gordo e grande fez soar o alarme na cabeça desse profissional, que automatica-mente teve certeza que eu estava lá só por: Emagrecimento.

Mas EU não estava lá pra isso. Eu queria exames diversos para avaliar o funcionamento dos órgãos do meu corpo, do meu pulmão (sou fumante, mas ninguém liga pra isso, eu tenho que emagrecer), meu rim, meus seios, enfim, meu corpo! Eu queria saber como estava toda essa engrenagem. Só.

Mas eu não fui ouvida. O mé-dico que me atendeu, não me ou-viu. Só falou e falou sobre aquilo que vocês sempre falam para uma pessoa gorda… Regurgitou o mes-mo discurso de sempre, sem se importar comigo.

Vocês não se importam com seus pacientes gordos quando, obrigatoriamente, entendem que eles estão na consulta procurando um emagrecimento. Vocês não se importam com seus pacientes

“ Quando entrei no consultório, meu corpo gordo e grande fez soar o alarme na

cabeça desse profissional”

Dia 15/07, às 14h – Horário marcado com

um clínico geral

Queridas médicas e médicos,

Vírus Planetário - outubro 2014 29

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gordos quando passam uma guia de nutricionista sem que a pessoa manifeste tal vontade. Vocês não se importam com seus pacientes gordos quando ignoraram as quei-xas dessas pessoas com um “Você precisa emagrecer urgente”. Vocês não se importam com seus pacien-tes gordos quando dão dicas de dietas, numa consulta que não era sobre isso. Vocês não se importam com seus pacientes gordos quando tratam os nossos sintomas como consequência do peso.

A verdade é que: Vocês não se im-portam.

Como vocês acham realmente plausível, encontrar uma pessoa des-conhecida, fazer com que ela fale tudo aquilo que sente e/ou aquilo que ela precisa de vocês [médica/médico], e achar que tudo -eu digo, absolutamente TUDO-, seja por con-ta de emagrecimento?!

COMO?! A pessoa te conta que já sentiu dores ao respirar, já disse que é fumante há anos, passou por pneu-monias e você, com anos de ciências médicas no currículo e na mente, recomenda que ela PERCA PESO?! Como você pode recomendar SÓ, exclusivamente, a perda de peso?

Eu acho surreal da parte de vo-cês. Sinto vontade de dar um tapa

na cara de cada um quando isso acontece. Sério, um tapa na cara de “ACORDA, CARALHO!”. Porque não faz sentido.

Anotem isso: Nem todos querem, necessariamente, perder peso. Nós somos gordas e gordos, mas nem to-dos queremos e pleiteamos o ema-grecimento a cada consulta médica. Temos vários outros órgãos em fun-cionamento no nosso corpo. Temos carga genética. Temos hereditarieda-de. Temos história, cicatrizes. A cura para os nossos problemas não está no emagrecimento compulsório.

Então, eu peço encarecidamen-te, que vocês ouçam essas pessoas. Mas ouçam de verdade porque o que elas têm a dizer é extremamente importante. E se essa pessoa gorda não mencionar nada sobre emagre-cer, keep calm and guarda a guia do nutricionista!

Tá tudo bem… Sério. Nenhum órgão vai retirar seu CRM por você ter ouvido e dialogado com seu paciente. Fica com a consciência tranquila.

Vocês acham mesmo que cada gorda que entra no consultório, NÃO SABE que é gorda? SÉRIO? Poxa vida, hein, que ingenuidade. Não su-bestimem as pessoas. Deixem essa mania de lado. Quando somos pes-

soas gordas, não podemos nos dar ao luxo de não saber o que a gordu-ra pode causar, porque a medicina e padronização dos corpos estão juntas em todos os cantos.

Não há escapatória. Qualquer lado que olhamos, qualquer pessoa que conversamos. Sei que a função de vocês é salvar vidas e que vocês tem gordura como inimiga número 1, mas deixem a reza da cartinha de lado e se preocupem realmen-te com seus pacientes. Em vez de indicar um nutricionista, pede um exame mais completo para avaliar a tal dor ao respirar. Em vez de uma guia para o endocrinologista, per-gunta ao seu paciente se ele/ela já esteve nesse especialista antes e, se a resposta for sim, tenha inte-resse em saber como foi… Pergunte antes de indicar. Em vez de passar algum remédio paliativo, pergunte se a pessoa já fez determinado exa-me… Se ela não fez, peça.

Em vez de acharem que toda pessoa gorda quer emagrecer, per-gunte o que ela quer. É muito mais humano da parte de vocês, nos tratarem como pessoas conscien-tes da nossa estrutura corpórea. É muito mais humano perguntar ao paciente se é da vontade dele/dela fazer tal coisa, do que ir logo pres-supondo tudo e já ir rabiscando os pedidos.

Fica aqui registrado meu apelo à comunidade médica, para que desenvolvam atendimentos real-mente atenciosos para com as de-mandas das pessoas gordas. Não se preocupem com as estatísticas mundiais: nós gordas, sabemos que somos parte desses números. Não se preocupem em voltar pra suas casas, deitar a cabecinha no tra-vesseiro e pensar que não indicou nada de emagrecimento praquela paciente obesa que te visitou hoje: se ELA não te pediu por isso, então tá tudo bem… Fica tranquilo. Cada pessoa sabe bem o que faz.

Doutor, eu tô

com uma viga

atravessada !

Uhm...Acho que você precisa

emagrecerum pouco...

reprodução / tradução: Vírus Planetário

Vírus Planetário - outubro 201430

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Durante a operação Protective Edge (ou Margem Protetora, em tradução livre) em Gaza, a palesti-na que vive na região, Manal Mi-qdad, escreveu o poema “Depois de uma noite cheia de mísseis, choro e medo, o céu abre o seu coração para a luz” (publicado originalmen-te na 972mag), sobre a sensação de estar em meio ao conflito - cujo trecho encabeça este texto. Nas redes sociais, proliferaram exemplos do que acontecia do lado de lá: qual era o som daquela operação mili-tar, qual era o sentimento de estar em meio aos ataques, quem eram as pessoas que perdiam suas vidas dia após dia. Esses registros servi-ram para reforçar alguns aspectos do que ocorreu: um ataque a civis em uma região densamente popu-lada e precária, em uma população que vive sob ocupação há décadas e em um cerco imposto há anos.

A ação tomada pelo governo isra-elense fora supostamente motivada pelo sequestro e assassinato de três jovens israelenses em junho (Eyal Yi-frach, 19 anos, Gilad Shaar, 16, e Naf-tali Fraenkel, 16). Mesmo com a ver-são oficial de que a medida fora uma resposta ao caso, a dimensão dos ataques e o número de palestinos mortos, feridos, presos e afetados de alguma forma aponta para outra questão: a de uma operação preme-ditada, que buscava desestabilizar os acordos de união nacional entre o Hamas e a Autoridade Palestina, es-boçados desde o começo de junho. Tal união modificaria o cenário de qualquer esboço de um acordo de paz e, já em abril, o secretário de Es-tado americano John Kerry alertava para o risco de que Israel “se tornas-se um Estado de apartheid” caso as negociações falhassem. Nesse con-texto, com o início da operação em

8 de julho, o mundo assistiu a um massacre que matou 2.137 palestinos - entre eles 577 crianças. Em Gaza, 17,200 habitações foram destruídas e, até o cessar-fogo estabelecido en-tre Hamas e Israel, 1 em cada 4 pes-soas em Gaza havia sido tiradas de suas casas, de acordo com dados da Unicef. A operação deixou parcial ou totalmente destruídos 216 escolas, 58 hospitais e clínicas, 108 mesquitas, 2 igrejas, 52 barcos de pesca, 8 es-tações de saneamento e uma cen-tral elétrica. A ONU aponta que, em 2020, a vida em Gaza será inviável.

Com a “justificativa” de que essa seria a resposta à morte dos jovens, o governo israelense deu início a ataques em diversas frentes. Por um lado, na Cisjordânia, foram cerca de 400 palestinos presos em reação

Como deseJaremos um “bom dia” em GAZA?

internacionalPai de uma das crianças mortas no ataque à praia em Gaza, onde elas

brincavam, chora ao receber a notícia Z Foto: Hosam Saleh

Por Priscila Bellini

Após 50 dias de operação militar, Israel matou mais de 2 mil pessoas, destruiu 17.200 habitações arrasando mais uma vez o povo palestino

Repressão e ataques

Vírus Planetário - outubro 2014 31

Page 32: Edição 34 (completa)

quase que imediata. Os ataques aéreos à região despejaram por volta de 20 mil toneladas de explosivos no território, sem contar a destruição causada pela investida por terra, realizada pelo quarto exército mais poderoso do mundo. Mesmo com as armas de precisão cirúrgica, foram muitos “efeitos colaterais” - incluindo 1.462 civis mortos, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humani-tários nos Territórios Palestinos ocupados.

Um dos casos que despertou mais comoção entre a comunidade internacional foi o da morte de quatro crianças de uma família de pes-cadores que brincavam em uma praia em Gaza City, próxima a um hotel em que dezenas de jornalistas estavam hospedados. Ahed Baker, de 11 anos, Muhammed Baker, 11, Zakaria Baker, 10 e Ismail Baker, 9, foram ví-timas do ataque aéreo. Sarah Leah Whitson, diretora do Humans Rights Watch no Oriente Médio e Norte da África, condenou os ataques e os classificou como “ilegais”. “Os recentes casos documentados em Gaza se encaixam no longo histórico de ataques aéreos ilegais de Israel, com grande número de vítimas civis, infelizmente”, afirmou, após a morte das quatro crianças.

As Forças de Defesa de Israel alegaram que, durante a operação, emitiam diversos tipos de aviso. Segundo comunicados da IDF (Israel Defense Force), os palestinos recebiam ligações e mensagens de texto avisando sobre o ataque. Outra técnica adotada foi a do “roof knocking”, bombas não-letais, mas extremamente barulhentas, lançadas no telhado das casas para alertar os palestinos. Nesta última técnica, usada em lar-ga escala, os moradores da casa tinham 58 segundos para recolher seus pertences e se afastar do alvo junto de suas famílias. Entre as crianças palestinas, especialmente, situações como essa não apenas ocasiona-ram perdas físicas, mas também psicológicas. Estima-se que o núme-ro de crianças que sofrem de estresse pós-traumático tenha dobrado desde a operação em 2012. A palestina Farah Baker, de 16 anos, afirmou pelo Twitter que depois de sobreviver a “três guerras e uma Intifada”, se sentia com sorte - mas gostaria de “nunca ter de passar por uma quarta guerra”.

Desde 2007, existe um cerco sobre a Faixa de Gaza, um isolamento econômico, comercial e territorial estabelecido após das eleições parla-mentares na região em que o grupo Hamas venceu. Egito e Israel fazem um controle das fronteiras e permitem, no máximo, que carregamentos humanitários “passem” após uma verificação minuciosa do conteúdo. As implicações no dia a dia dos palestinos de tal cerco incluem a impossibi-lidade de realizar comércio para além das fronteiras estabelecidas, além

da taxa de desemprego extrema-mente alta. Em dados da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, em 2010, 45,2% população estava desempre-gada e, desde o início do cerco, o salário real despencou 34,5% - sen-do que tais informações não re-tratam a destruição posterior aos ataques de 2012 e deste ano. O bloqueio impede a reconstrução das casas e o abandono da região por parte dos habitantes, além de restringir a pesca e a agropecuá-ria. Gaza também desenvolve uma “economia de túneis”, usados pe-los palestinos para obter mais ali-mentos e materiais de construção, além de possíveis lutas de liberta-ção por parte dos habitantes. Tais túneis, localizados a 15 metros do chão, seriam um dos motivos dos ataques aéreos, e foram também bloqueados pelas autoridades egíp-cias. Há certa similaridade entre esse sistema utilizado pela região sitiada, e os túneis utilizados nos guetos da Alemanha nazista.

É nesse contexto que surge o grupo Hamas, vencedor das últi-mas eleições realizadas em Gaza e menção constante no notici-ário, com destaque ao seu “radi-calismo”, especialmente durante a Operação Margem Protetora. Com o vazamento de documentos da Embaixada americana em Tel Aviv pelo Wikileaks, ganhou força a ideia de que o governo israelense intencionaria manter o Hamas em uma postura mais radical, a fim de impedir os esforços para qualquer negociação. “Também parte de ca-nais oficiais israelenses a informa-ção de que Gaza é colocada ‘numa dieta’, com número de calorias por habitante limitado”, complementa Yuri Haasz, ativista e estudioso do tema e um dos fundadores da FFI-PP-Brasil (Rede Educacional pelos Direitos Humanos em Palestina/Israel). Essa limitação não chegaria ao ponto de causar um “colapso total” ou grave crise humanitária, a priori, mas permite maior controle da população. “O olhar das autori-

“ A ONU aponta que, em 2020, a

vida em Gaza será inviável”

A vida em Gaza, a prisão ao ar livre

Vírus Planetário - outubro 201432

Page 33: Edição 34 (completa)

dades israelenses para os palestinos é extremamente generalista, o que é muito grave”, resume Yuri.

Os chamados “palestinos de 48” (ou palestinos que vivem em Isra-el), que residem em Israel mesmo depois da expulsão e massacre do povo palestino na Nakba (“catástro-fe”, em árabe), também enfrentaram uma intensa repressão durante a operação militar Margem Protetora. No dia 7 de julho, a deputada isra-elense Ayelet Shaked declarou que seria necessário matar as mulheres palestinas e destruir suas casas, a fim de impedir o nascimento de “pe-quenas víboras” - os seus filhos, que seriam “terroristas em potencial”. Para o acadêmico israelense Morde-chai Kedar, os estupros de mulheres e mães dos combatentes do Hamas era um meio de barrá-los.

Entre os casos de violência, está o de Mohammed Abu Khdeir, ga-roto de 16 anos queimado vivo em Jerusalém Oriental, em “vingança” às mortes dos três israelenses. O assassinato do jovem desencadeou protestos em Israel e na Cisjordânia, marcados por dura repressão policial e violência. Dias após o funeral de Abu Khdeir, seu primo Tariq, cida-dão estadunidense que passava as férias na cidade, foi preso e espan-cado. Luba Samri, porta-voz da polí-cia israelense, destacou que o jovem

carregava consigo um estilingue, que seria usado para “atirar pedras nos policiais”, em protesto à morte do primo, e que resistiu à prisão.

Tais ações vão ao encontro de um projeto político sionista empre-endido por Israel, que leva a curso uma tentativa de anexação de ter-ritórios palestinos e de permanência da ocupação militar. Entre a popula-ção israelense, entretanto, há grupos que se opõem às medidas tomadas em favor de tal projeto político e que se articulam dentro da socie-dade civil para dar voz à oposição. Um deles é a Zochrot, organização de judeus israelenses baseada em Tel Aviv, que busca conscientizar a população sobre a “Nakba em cur-so” na região e defende o direito de retorno dos palestinos. Segundo Shira Hertzanu, diretora de relações públicas da organização, “a Zochrot busca um fim imediato do ataque a Gaza, defende a remoção do blo-queio e da realização do direito de retorno dos refugiados palestinos”. Iniciativas semelhantes crescem na sociedade civil israelense e têm au-mentado também nas comunida-des judaicas ao redor do mundo. No

Brasil, o movimento “Não em nosso nome” organizou um protesto em frente ao Consulado de Israel em São Paulo, contrário às ações do go-verno israelense e ao massacre do povo palestino.

Ao fim de 50 dias de operação militar, acordou-se um cessar-fogo entre o grupo Hamas e o governo is-raelense. Ficaram estabelecidos pon-tos como a suspensão dos ataques da Operação Margem Protetora à Faixa de Gaza, e o levantamento das fronteiras egípcia e israelense (ain-da não estabelecido em que medi-da), bem como o espaço permitido para uso da costa de Gaza de seis milhas náuticas. A continuação das negociações acontecerá daqui a um mês para demais pontos, como a construção de um aeroporto e de um porto em Gaza. Resta saber se a pressão internacional e os acor-dos estabelecidos, juntamente com os esforços da sociedade civil, serão suficientes para garantir o fim da ocupação e a justiça na região, em pleno Ano de Solidariedade ao Povo Palestino definido pela ONU.

Em Gaza, 25% dos habitantes perderam suas casas. Eles encontram abrigo em escolas, onde recebem água, comida, kits de higiene, lençóis, sacos de dormir e roupas. | Foto: Eyad El Baba (Unicef)

“ O projeto político empreendido por Israel é de anexação de territórios palestinos e de permanência da ocupação militar”

Palestinos na Cisjordânia, em Gaza e Israel -

aspectos da opressão

Cessar-fogo e acordos

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Varal artístico

“Sem filtros” | Por Elisa Riemer

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Page 36: Edição 34 (completa)

Varal artístico

Minha cor, minha luta, minha conquista,não quero perdê-las nem vendê-las.Eu quero dizer que amo o que vejo no espelho.Meu cabelo, minha cor, meus lábios, minha luta, meu nariz, minha conquista, meus olhos, minha memória, minha forma,Logo, eu quero vandalizar essa forma com vo-cês.Ei, vamos com calma, capataz, você vai morrerNão ouse me deixar roxa, espancada, marcadacom essa ideologia racista e classista.Pois quero mostrar meu amorderrubando símbolos capitalistas.Derrubei vinte bancos Cortei McDonald’sAlisei meu cabeloAmputei minha subjetividadeMe vesti como Branco,mas me libertei, vandalizei Andei pelo Rio E quebrei manequim logo ali, no Leblon.

Mas não vandalizamosquando mataram dez pessoas naquele momen-to, na Maré de Junho.Não vandalizamosquando assassinaram vários trabalhadores na chacina de Vigário Geral Não vandalizamosquando calaram vários meninos, sim, meninos, sim, crianças, na Candelária...Já se passaram vinte anos!O que fizemos?Diga-me, o que fizemos?Não vandalizamos, porraNão vandalizamosquando atiraram aleatoriamentecom suas armas e fardas, de Nova Iguaçu a Queimados edeixaram mortos, deixaram órfãos:Viúvas, crianças, avós...e mães...Os gritos de dores e cheiro de sangue chega-ram a Japeri.Não vandalizamosquando nem mesmo temos tempo de pergun-tar:Porque o Senhor atirou em mim?Porque o Senhor atirou em mim?Porque o Senhor atirou em mim?Não vandalizarmos

Vamos Vandalizar: Eu quero dizer que amo

quando nos deparamos com o sistema peniten-ciárioCom diversos presos políticos Com diversos presos políticosNegros, pardos, pobres, favelados e periferiados.Não vandalizarmosquando eu, você, nós, majoritariamente, mu-lheres negras choram as dores de nossos filhos.Assassinados, torturados, roubados, desalma-dos, desonrados.E dizem que a ditadura chegou novamente!E dizem que a ditadura chegou novamente!E dizem que a ditadura chegou novamente!Para quem?Para quem?Para quem?Para quem?Diga-me, para quem?Não vandalizarmosquando diversos Amarildos desaparecem no anonimato porque não sabemos onde estão os corpos!A memória, as histórias...Mas os mortos possuem vozes?Matheus, Dg, Mães, vítimas de violência...Amarildos, onde estão?Não vandalizarmosquando os fardados abriram as fraldas das nos-sas criancinhas para espionar. Não vandalizarmospor séculos a escravidãoEu voltei, eu quero vandalizar com vocês:O abaixo o RacismoAbaixo o capitão do mato, o quadrilheiro!O Abaixo o genocídio do povo preto

De diversas formasquero vandalizar:Que nas ruas eles estão limpando nossas sujei-ras, dormindo perto de lixeiras, como ratos...Mas não desisto de formar trincheiras para aca-bar com a UPPPelo fim Polícia MilitarVamos vandalizar as trincheiraspara derrubar esse sistema racista, classista, capitalista de merda!Derrubar o sistema racista, capitalista de merda!Vamos vandalizar.

Por Lilian Luiz Barbosa(Flor de Ébano)

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“Emancipação” | Por Elisa Riemer

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traço livrePor Mirim | facebook.com/zinegrimoire

Vírus Planetário - outubro 201438

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Notícias da campanha:

www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv www.sindipetro.org.br

organização:

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás

100% pública e investimento em energias limpas.

DILMA, LEILÃO DO PRÉ-SAL É GOL CONTRA O BRASIL!

Page 40: Edição 34 (completa)

A transformação

só vem com

educação de qualidade!

Contra a precarização da Educação do Rio de Janeiro!

Uma educação de qualidade só vem com a valorização do educador

e com infra-estrutura.

Confira notícias sobre nossa luta:

www.seperj.org.br

37 anos

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro