confira a edição completa
TRANSCRIPT
1
SUMÁRIO
O turismo de eventos como estratégia de regeneração do mercado local
Alexandra Vieira Batista - Faculdade Paraibana-FAP
Rosiele Fernandes Pinto - Universidade Federal da Paraíba-UFPB.....
2
A utilização do curso de teatro como prática inovadora de treinamento
num restaurante familiar
Alexandra Vieira Batista..........................................................................
21
Turismo de eventos: desafíos estratégicos de la ciudad de João Pessoa
(Brasil)
António Carrizo Moreira - Universidade de Aveiro. Portugal
Alexandra Vieira Batista - Faculdade Paraibana. Brasil.......................
47
Sistemas de autogerenciamento: um estudo de caso em uma indústria
calçadista
Ana Cláudia Cavalcante Melo - FAP
Sablina Cibele Fernandes Alves – ASPER..............................................
68
2
O TURISMO DE EVENTOS COMO ESTRATÉGIA DE
REGENERAÇÃO DO MERCADO LOCAL
Alexandra Vieira Batista*
Faculdade Paraibana-FAP
Rosiele Fernandes Pinto**
Universidade Federal da Paraíba-UFPB
RESUMO
O artigo discute a dimensão que o turismo tem assumido na atualidade e através
de um detalhamento acerca do turismo de eventos, ele apresenta dados em que comprovam a
importante atuação desse segmento, onde o mesmo tem se constituindo atualmente num
importante instrumento de desenvolvimento local. Para tanto é necessário segundo a literatura
pesquisada, o conhecimento do mercado local e o posicionamento deste segmento no
destino além de identificar as possíveis estratégias a serem utilizadas de forma eficiente e eficaz
para desenvolver a economia e a sociedade. Os dados coletados e utilizados na pesquisa foram
de natureza secundária, retirados da revisão bibliográfica e documental. Foram privilegiados os
dados considerados confiáveis e atuais. Concluindo-se então que o turismo de eventos exerce
uma posição de destaque e privilegiada dentro do mercado turístico.
Palavra-chave: Turismo. Eventos. Estratégias.
1 INTRODUÇÃO
Em tempos de globalização não há espaços para mercados estáticos, faz-se
necessário criar alternativas de desenvolvimento. O turismo na atualidade tem um
impacto direto no crescimento e desenvolvimento das sociedades. Ele desenvolveu-se
a cada ano ganhando espaço nos meios de comunicação, nos negócios internacionais, no
interesse e no cotidiano das pessoas. Foi impulsionado devido entre outros aspectos aos
avanços sociais e as novas tecnologias que possibilitaram melhorias nos transportes,
comunicações e na administração desses sistemas. Fatores como o aumento do tempo
livre das pessoas, da qualidade de vida e das possibilidades particulares e profissionais
3
de viajar tem também contribuído significativamente para o crescimento do turismo.
Vivemos uma época em que o desemprego é um fenômeno bastante presente na
vida das pessoas e nesse contexto o turismo aparece com perspectivas bem otimistas,
se apresentando como uma das alternativas para lidar com a crise do desemprego,
sendo responsável pela geração de empregos diretos e indiretos. Desde a mão de obra
mais qualificada, em áreas que se utilizam de alta tecnologia como transportes e
comunicações, até as de menor qualificação, tanto no emprego formal e informal, são
beneficiadas com o crescimento do mercado turístico no Brasil e no mundo. No Brasil a
previsão é que em 2011 ocorra 1 emprego na área de turismo para cada 12,9 outros
empregos. (DIAS; AGUIAR, 2002).
Vimos que dentro desta ótica pela busca por fontes alternativas de emprego e
renda pode-se indicar investimos no setor do turismo como uma boa alternativa, mas
especificamente no turismo de eventos. O turismo de eventos tem uma grande
importância econômica e é considerado como um dos mais importantes segmentos da
atividade turística, apresentando algumas peculiaridades que são favoráveis ao turismo
como o fato do seu fluxo poder ocorrer em períodos de baixa temporada, a
permanência do turista é maior que do turismo convencional bem como o gasto médio
diário do turista também seja maior.
O turismo de eventos deve ser, portanto focado como uma atividade que pode
gerar benefícios econômicos e sociais para empreendedores, promotores, comércio
local, restaurantes, hotéis enfim profissionais direta e indiretamente que envolvidos
neste mercado.
De acordo com estudos publicados pelo ICCA1 apud Llanbí (2005), estima-se
que no mundo sejam realizados mais de 70 mil eventos. O Turismo de eventos tem um
crescimento anual que superou em muito a do próprio setor do turismo como um todo,
aproximadamente 12% nos últimos anos.
Portanto a importância que o turismo vem assumindo no mundo dos negócios
bem como a necessidade de estudos nesse setor despertou-nos o interesse por esta
temática. Este artigo tem como questão central apresentar uma análise da dinâmica do
mercado de turismo mais especificamente do turismo de eventos, segmento este que
representa um caminho para novos investimentos e desenvolvimento de um destino.
Para entender melhor o turismo de eventos, são apresentados neste artigo os principais
pilares teóricos deste tema, buscando assim contribuir com informações potencialmente
úteis para a avaliação desse setor. Empreendeu-se uma pesquisa exploratória, constando
4
de revisão bibliográfica e documental, realizada em publicações acadêmicas e
especializadas sobre o tema estudado. A consulta de dados se fez àqueles que
demonstravam credibilidade, reputação e integridade, bem como foi observado a
atualidade da bibliografia e das publicações.
Este artigo segue uma sequência em que inicialmente estuda-se a importância do
mercado turístico apontando dados que o consolidam como alternativa para o
desenvolvimento local. Em seguida é feito um panorama do conceito de turismo de
eventos e sua contextualização. Seguindo com uma apresentação que demonstra a
importância do profissional ligado a este segmento bem como a necessidade de se fazer
uma boa escolha do período da realização de um evento. Abordado também a importância da
captação de eventos como uma forma de atrair um evento para um determinado destino e o
conhecimento das estratégias que podem ser utilizadas pelo turismo de eventos. Encerrando
com as considerações finais.
2 A importância do Mercado Turístico
A indústria do turismo é o terceiro setor mais lucrativo da economia mundial.
Fatores como recessão, concorrência, globalização e as constantes mudanças e
incertezas que envolvem o mercado fazem emergir a necessidade de um suporte teórico
e técnico para apontar caminhos que se tornem alternativas de investimento,
contribuindo assim na melhoria social e econômica de um determinado destino. O
setor viagens & turismo já se apresenta como uma dessas alternativas correspondendo a
10,9% do Produto Interno Bruto Mundial e por 13% dos gastos de consumidores em
todo o mundo, com uma arrecadação de 350 bilhões de dólares em impostos, só
perdendo com os gastos com alimentação, segundo dados fornecidos pelo World Travel
and Tourism Council (WTTC, 2000).
¹ICCA – International Congress and Convention Association
5
A autora Cruz (2000) faz um estudo comparativo com os dados acima
fornecidos pelo WTTC (2000), comparando-os com os volumes de movimentação pelas
indústrias bélicas e petrolífera, onde o turismo nos últimos anos suplantou essas
indústrias em volume de capital transacional e está muito próxima de atingir valores
iguais ou superiores aos gerados pela industria petrolífera, a primeira no ranking
mundial.
É importante destacar que o sucesso da atividade turística, de um modo geral,
deve ser focado em um novo modelo de cooperação entre os setores público e privado, o
que Rubies (2001) denomina de ‘novo paradigma para as destinações turísticas’.
SegundoAndrade & Santos (2004), esse novo paradigma parte da premissa que o
objetivo principal da atividade turística, é o de proporcionar a melhoria da qualidade de
vida da população local, conseguida através do aumento da competitividade e da
sustentabilidade do destino.
Dentro do contexto do estudo de fontes alternativas para um destino tornar-se
competitivo e criar alternativas de emprego e renda, pode-se apontar o segmento do
turismo de eventos que segundo Hoeller (2002), traz através da captação e promoção
dos eventos retorno econômico e social ao país e às cidades-sedes, tornando esses
destinos competitivos e com a atenção voltada à sustentabilidade do mesmo. Dos 3,4
trilhões de dólares gerados anualmente em todo o mundo pelo setor do turismo, 850
bilhões advém do turismo de eventos, que segundo estudos publicados pela OMT1 apud
Llanbí (2005), cresce a uma taxa anual da ordem de 30%.
3 Turismo de Eventos: Conceitos e Contextualização
O setor do turismo pode ser considerado segundo uma visão sistêmica, como um
conjunto de serviços complementares e que englobam negócios diversos relacionados
diretamente com: atividades ou características motivadoras dos deslocamentos ou
viagens (esportes, praias, cultura, etc.); os serviços de alojamento (apartamentos,
pousadas, hotéis, etc.); a alimentação (restaurantes e outros estabelecimentos
relacionados); o comércio em geral; o sistema de transportes (táxis, comboios, metrôs,
cruzeiros, carros de aluguel, aviões etc.); os serviços de intermediação entre o núcleo
emissor e o destino turístico (agências de viagens, operadores turísticos etc.); instituições
financeiras e imobiliárias; serviços de assistência (seguradoras, serviços médicos, assistência a
veículos etc.); serviços de apoio aos visitantes, e outros mais que compõe o amálgama dos
6
serviços do setor do turismo em seus diversos tipos e formas.
Diante desta visão sistêmica do turismo evidencia-se o turismo de
eventos,segundo Brito & Fontes (2002), ele pode ser visto como o segmento do turismo
que cuida dos vários tipos de eventos que se realizam dentro de um universo amplo e
diversificado. São congressos, conferências, cursos, exposições, feiras, shows,
simpósios, solenidades etc. Esse segmento é um importante movimentador do mercado
promocional, fomentando a participação de um número sem fim de atividades
correlatas.
No Brasil, em 1840, ocorreu o primeiro evento realizado em espaço especial –
tratou-se do Baile de Carnaval, feito no Hotel Itália, que marcou assim o início da série
de um dos maiores eventos do país, o Carnaval. Em relação aos eventos científicos e
técnicos, o Brasil não possuía nenhuma experiência. Para adquiri-la começou a
participar de grandes feiras internacionais. No ano de 1922, aconteceu a Exposição
Internacional do Centenário da Independência, no Palácio das Festas, na cidade do Rio
de Janeiro, tornando esse estado o precursor dos eventos no Brasil e sendo essa
Exposição o marco decisivo e inicial para a era atual dos eventos. A década de 20 no
Brasil trouxe um incremento aos locais para realização de eventos, dando destaque aos
hotéis como: Copacabana Palace, Parque Balneário e Atlântico Hotel entre outros.
Salienta-se que até esta época, os hotéis eram destinados ao turismo de lazer, os eventos
não se constituíam em seus objetos comerciais, porém, não pode ser desprezado o
pioneirismo desses hotéis e as suas visões futuristas. A partir da década de 60, os
empresários brasileiros começam a reconhecer a importância do turismo de eventos. Foi
criada a Alcântara Machado Feiras e Promoções, pioneira no setor. Surge também as
primeiras entidades de classe, objetivando consolidar o segmento.
Em 1977, é instituída a Associação Brasileira das Empresas de Eventos,
atualmente denominada ABEOC (Associação Brasileira de Centros de Convenções,
Exposições e Feiras). Em 1983, na cidade de São Paulo, são instituídas outras entidades
desse setor como o São Paulo Convention and Visitors Bureaux, entidade com o
objetivo de captar eventos para o Estado de São Paulo, incrementando dessa forma o
Turismo de Eventos brasileiro.
3.1 A escolha do período da realização de um evento e seus profissionais
Os eventos podem ser vistos, segundo Andrade et al (2000), como um
7
multiplicador de negócios pelo fato de gerar novos fluxos de visitantes e possuir ainda
potencial para alterar a dinâmica econômica de um destino. Segundo dados
divulgados no Relatório da EMBRATUR de estudos de demanda turística (Brasília,
1998), um turista de eventos chega a gastar até três vezes mais do que um turista
convencional de férias, permanecendo, em média, por um período de dois a cinco dias
na cidade. Torna-se importante ressaltar que os eventos se destacam pela sua capacidade
de atrair os visitantes em qualquer época do ano, contrapondo-se com o turismo
tradicional que torna-se mais acentuado nos períodos de férias e de feriados
prolongados, podendo assim ser utilizado no combate ao problema da sazonalidade
turística.
Ciente do poderoso fenômeno relativo ao turismo de eventos, é importante que
os envolvidos com a realização de um determinado evento saibam que, em áreas onde
já se registram fluxos turísticos tradicionais, em períodos determinados, deve-se evitar a
captação nesse período, procurando a realização dos mesmos em momentos com índices
de ocupação turística em níveis satisfatórios, sem o excesso de ocupação. Para evitar
constrangimentos em escolher de forma equivocada um período para realizar um
determinado evento, faz-se necessário fazer uso de instrumentos de informação com o
intuito de manter o mercado turístico harmônico. Pode-se citar como exemplos para
esse mecanismo de informação, o banco de dados de eventos através das secretarias de
turismo, através dos Conventions & Visitors Bureau ou as empresas de organização de
eventos entre outros.
Permanentemente os prestadores de serviços têm suas atenções voltadas para
os calendários divulgados por empresas e associações promotores de eventos, isto
porque os eventos significam a chegada de visitantes das mais diversas partes do estado,
país e mundo, necessitando de serviços de transporte, recepção, alimentação,
hospedagem, diversão etc.
Para selecionar a cidade sede de um evento, deve-se levar em consideração as
características do grupo que participará do evento, sendo necessário estabelecer
parâmetros concretos do local e do interesse do evento. Segundo Magallón (1999),
antes de considerar viável um lugar específico é necessário obter as seguintes
informações tais como: clima, condições de acesso, transporte, local, hotéis, mercados,
pontos turísticos e lugares de lazer, bem como a preferência quanto aos dias da semana.
Informados das questões pertinentes a escolha do melhor período para realização
de um evento, faz-se necessário considerar as ações a serem implantadas para
8
contribuir com atração dos visitantes. Deve-se então observar uma figura que tem
relevância no cenário dos eventos, que são os profissionais do setor de eventos. Os
eventos revestidos de sua crescente importância, fomentaram o surgimento das
entidades e associações especializadas para planejar e organizar esta atividade, surgindo
assim a figura do profissional de eventos. Nesse segmento encontra-se, portanto os
organizadores de eventos que se constituem em empresas privadas com larga
experiência de mercado, e que se dedicam à organização geral dos eventos sob sua
responsabilidade, prestando serviços altamente profissionais. E ainda há os órgãos
públicos ligados ao turismo.
De outro lado, existem os promotores de eventos possuindo em sua maioria
apenas noções básicas de organização e encarando este trabalho de organizar eventos,
como um serviço secundário, que frequentemente não é a atividade mais importante de
seu emprego. Os promotores de eventos são figuras que merecem destaque por sua
importância no contexto dessa atividade. Segundo Andrade et al (2000), devem
possuir uma série de qualidades pessoais e profissionais. Tais como:
a) Habilidades Gerais: usar informações e implementar soluções para os problemas;
dominar a tecnologia de sua atividade; selecionar informações importantes; reconhecer
problemas e identificar oportunidades para promover inovações.
b) Habilidade de comunicação: transformar ideias em ações; manter credibilidade no
ambiente de trabalho; ter capacidade de ouvir e responder às dúvidas; saber fazer
representações por escrito e saber fazer representações verbais.
c) Habilidades de eficiência: colocar o foco no ponto principal do empreendimento;
contribuir na formulação dos objetivos do empreendimento; ajudar na revisão e no
aperfeiçoamento das operações; saber executar diversas tarefas paralelamente e saber
gerir projetos e o tempo. Na maioria das vezes os promotores não são figuras munidas
de habilidades as quais Andrade et al (2000) se refere.
Para Britto & Fontes (2002), o profissional de eventos, entre outras qualidades,
deve ser seguro, gerando confiança para o cliente e para os funcionários; disciplinado,
respeitando prazos, verbas, reuniões; ter flexibilidade, aceitando sugestões, adequando
propostas, mudando etapas de trabalho; ter raciocínio rápido, entendendo a capacidade,
os anseios e as expectativas dos clientes e funcionários; ter preparo físico, disposição e
saúde; ser realista, percebendo os limites, as opções e saber usá-los sabiamente; ter paciência
infinita, exercendo o auto controle e a serenidade.
O I Dimencionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil, pesquisa
9
realizada pelo SEBRAE & FBC&VB, em 2001, mostrou que cada espaço para eventos
contrata, em média, 6,8 funcionários fixos. Este número, multiplicado pelos 1.780
espaços, resulta em 12.104 postos de trabalho diretos, aos quais deve-se acrescentar
58.240 empregos terceirizados. Os espaços para eventos do país geram portanto 70.344
empregos diretos e terceirizados. As empresas organizadoras contratam em média 24,2
empregados fixos e 386,6 terceirizados. Considerando apenas o universo de 400
empresas e entidades que constam desta pesquisa, o número de empregos chega a
164.320 diretos e 492.960 terceirizados (um total de 657.280). Tudo somado, pode-se
afirmar que a indústria de eventos no Brasil é responsável por 727.624 empregos diretos
e terceirizados. Considerando os empregos indiretos conforme padrões da industria
turística brasileira – tem-se três indiretos para cada direto e terceirizado - pode-se inferir
que o setor de eventos no país é responsável pela geração de 2.910.496 empregos.
4 A importância da captação de eventos
Britto & Fontes (2002) afirmam que em virtude do crescente desenvolvimento
do turismo de eventos em nível mundial, despertou-se a consciência dos governos para a
necessidade de investimentos na construção e/ou modernização de aeroportos e centro
de convenções e ainda o incentivo, através de subsídios financeiros, a construção de
hotéis de categoria superior.
Já a iniciativa privada brasileira, nos últimos anos, organizou-se e disponibiliza
serviços complementares com padrões semelhantes aos oferecidos pelos mais modernos
centros turístico do mundo, com a criação de novos espaços seguindo a tendência do
mercado mundial que trás a concepção moderna dos espaços múltiplos – hotéis, flats
escritórios, centros de convenções e lojas.
Verdadeiros pólos turísticos vêm a se consolidar na promoção e captação de
eventos, como forma de suprir não só suas necessidades culturais, mas também
fomentar o desenvolvimento socioeconômico, uma vez que eles são responsáveis por
boa parte da ocupação dos leitos dos hotéis, das estruturas de entretenimento e lazer e
meios de transportes.
“A ocupação dos equipamentos turísticos em baixas estações é vantajosa tanto
para empresários quanto para os próprios turistas” afirma Ignarra (1999, p.58) relatando
mais um ponto favorável desse tipo de turismo, o combate a sazonalidade.
Consolidando a importância da captação dos eventos.
10
Para Villela (2000) a captação de eventos pode ser considerado como um
investimento focado, dirigido, planejado e estruturado com a finalidade de atrair um
evento para um determinado destino. A autora exemplifica a captação dizendo: ,”além
disso, um evento ao ser captado pode trazer de uma só vez ao país, de 4 a 5 mil pessoas,
que multiplicarão a promoção nacional no exterior, além de contribuir para o
aprimoramento científico dos brasileiros que nem sempre podem participar de eventos
no exterior”.
É necessário observar que durante este processo de captação os responsáveis
pelo mesmo devem estar cientes da importância de planejar, pois segundo Canton
(2001), o planeamento não é feito de forma isolada, devendo ser visualizado como um
processo composto de ações inter-relacionadas e interdependentes que visam o alcance
de objetivos previamente estabelecidos.
Uma captação bem sucedida trará a cidade-sede algumas vantagens, as
principais delas segundo Martin (2003) são:
● Redução da sazonalidade: uma das características do turismo de eventos está em sua
realização fora da alta temporada turística, ou seja, durante o período escolar. Com
isso, os eventos de negócios ajudam a elevar o movimento de turista durante a baixa
estação, equilibrando a economia local.
● Equilíbrio da balança comercial: a vinda de um evento internacional de porte
contribui muito na entrada de divisas no país durante o período de realização.
● Melhoria na imagem da cidade-sede: esta escolha percorre um longo caminho de
avaliação. Os critérios de avaliação são proporcionalmente rigorosos, de acordo com a
importância e a abrangência do evento.
● Elevação do nível de geração de emprego: ocorre o incremento no número das
vagas de trabalho temporárias, que normalmente acontecem durante os eventos de todos
os tamanhos.
● Maior produtividade no trade turístico: o segmento que recebe maior impacto com
a captação de eventos de porte, o trade turístico tem neste segmento excelente fonte de
recurso para garantir sua sobrevivência.
● Prestígio internacional para a entidade: os investimentos e coordenadores dos
eventos recebem prestígio.
● Elevação da arrecadação de impostos: como entre as características do turismo de
eventos de negócios está o gasto per capita mais elevado do que o turismo de lazer, a
captação de um evento de grande porte representa uma lucrativa fonte de arrecadação de
11
imposto.
5. As Estratégias e sua Importância para o Segmento do Turismo de Eventos
A estratégia remonta-se há séculos atrás e ao longo do seu desenvolvimento da
humanidade vem consolidando a sua importância e a sua prática para os mais diversos
segmentos. O seu uso de forma eficiente e eficaz viabiliza alcançar objetivos globais
definidos antecipadamente.
As organizações envolvidas na gestão de um destino turístico elaboram,
normalmente, um plano de marketing onde traçam os objetivos que pretendem alcançar,
desenvolvendo estratégias para os atingirem. O segmento dos eventos não difere
quanto a necessidade do conhecimento e uso das estratégias. É cada vez mais necessária
a utilização da imaginação e do raciocínio lógico para manter o destino competitivo,
além do conhecimento sobre o destino e a elaboração de um plano de marketing
compatível com o novo paradigma de ‘produto-espaço’. Dentro desse processo de
desenvolvimento, o mercado de eventos no Brasil evoluiu para um negócio com bons
índices de crescimento nas últimas décadas, a exemplo da experiência norte-americana
que ganhou destaque na avaliação de kotler et al (1994) como um segmento baseado em
estratégias, vantagens competitivas, mercados visados e uma combinação de técnicas e
apelos de marketing para atingir reais ou possíveis compradores, associando todas essas
técnicas e combinações a importância da sustentabilidade do destino.
5.1 As estratégias desenvolvidas tendo como base o seu produto
Faz-se necessário para um destino, ter conhecimento do novo paradigma do
‘produto-espaço’, onde o desenvolvimento do mesmo depende das características dos
produtos para gerar ações capazes de influenciar o mercado (espaço) que o destino
deseja conquistar. Através do modelo sugerido por Costa (2001) para uma nova
estruturação do setor do turismo segundo uma óptica ‘produto-espaço’, os honey-
pots6existentes podem vir a auxiliar na definição das marcas e submarcas desse destino.
Para compreender o mercado turístico, seus estágios e as suas raízes pode ser
utilizada uma ferramenta das mais recorridas ao redor do mundo, trata-se do ciclo de
vida dos destinos que segundo Buhalis (2000) a principal utilidade deste mecanismo é
de facilitar a compreensão da evolução dos produtos turísticos e dos destinos e de propiciar
12
uma orientação para a tomada de decisões estratégicas.
5.2 A identificação do ciclo de vida no desenvolvimento dos destinos
Cooper (1992), sugere que o conceito de ciclo de vida ilustra que os destinos
experimentam um ciclo de “nascimento para a morte” e o modelo de ciclo de vida
ganhou a atenção no turismo como uma ferramenta exploratória. No turismo este
modelo é útil, podendo ser visto como uma ferramenta de avaliação do nível de
desenvolvimento dos destinos, entretanto, há vários problemas na identificação dos
pontos de mudança, dos estágios, das suas durações e do nível de agregação. Este
instrumento pode ser estudado conforme Goldner et al (2002) em etapas, dividindo-as
da seguinte forma:
● Introdução: a fase introdutória do ciclo de vida do produto exige despesas
promocionais e visibilidade altas (o momento mais produtivo para anunciar um produto
ou serviço é quando ele ainda é novo). As operações durante essa etapa são
caracterizadas pelo custo alto, volumes de venda relativamente baixo e um programa de
propaganda voltado para estimular a demanda primária. Nessa etapa, a porcentagem de
fracasso é alta.
● Crescimento: o produto ou serviço é aceito pelos consumidores, essa aceitação
representa as vendas e lucros subindo rapidamente, na maioria das vezes tornando o
mercado atrativo para os concorrentes. As despesas permanecem altas. Enfatiza-se
nesta fase os motivos específicos para compras da promoção relacionados à marca, em
vez dos motivos básicos para experimentar o produto. Aumento no número dos pontos
de vendas.
• Maturidade: o produto está bem-estabelecido no mercado. As vendas ainda podem
estara aumentar, porém a uma taxa mais lenta. A concorrência se torna mais acirrada em
virtudedo aumento do ponto de vendas.
• Saturação: o volume de venda atinge seu pico, penetrou o mercado de forma máxima.
A produção em massa e as novas tecnologias diminuem o preço e a tornam o produto
maisacessível a todos.
• Declínio: a demanda cai, as despesas com propaganda são mais baixas, geralmente, há
um número menor de concorrentes. Não é vantagem em manter um destino com essa
característica. Ashworth (1991) sugere algumas estratégias de marketing para os
destinos conforme a sua posição no ciclo de vida de cada um. Deste modo, um destino
13
que se encontre na fase de introdução pode usar estratégias de estimulação de mercado;
na fase de desenvolvimento, estratégia de desenvolvimento de mercado; na fase de
crescimento, estratégia de manutenção no mercado; na fase de saturação, estratégia
demarketing e na fase de declínio, remarketing.
No caso do demarketing, faz-se o desencorajamento de certos segmentos
demercado de visitarem o destino durante certos períodos através de um conjunto de
medidas proibitivas ou da cobrança de preços muito altos. Alguns exemplos destas
técnicas, segundo Buhalis (2000):
• Técnicas de gestão de visitantes em parques temáticos as quais deslocam as pessoas
das atrações mais congestionadas para as menos visitadas através de histórias criadas.
• Cidades como Cambridge, que tencionam atrair apenas visitantes que realizem
pernoites, tentam desencorajar excursionistas que contribuem pouco para a economia
local através do controle dos seus estacionamentos.
• As Ilhas Maurícius, que proporciona acomodações de resorts de alta qualidade não
permitem voos charter, promovendo assim, um turismo de altos gastos e de qualidade.
• Veneza detém mais visitantes através da cobrança de altos valores para todos os
serviços e recentemente, iniciou uma campanha negativa para reduzir o turismo de
massas.
Dentro do processo de formulação e execução das melhores estratégias a serem
adaptadas, deve-se ter claro que as mesmas, se bem utilizadas podem, segundo Oliveira
(1993), apresentar caminhos a serem seguidos que se possam alcançar os objetivos e
superaros desafios estabelecidos. O mesmo autor propõe quatro tipos básicos de
estratégias.
• Estratégia de sobrevivência: só devem ser adaptadas quanto não houver outra
alternativa.
• Estratégia de manutenção: para as entidades que enfrentam ou espera enfrentar
dificuldades, investi em estratégia que possibilite a atitudes defensivas frente as
ameaças.
• Estratégia de crescimento: capacidade de transformar pontos fracos em fortes.
• Estratégia de desenvolvimento: caracteriza-se pela predominância de pontos fortes e
de oportunidades.
14
5.3 As estratégias auxiliando no desenvolvimento do turismo de eventos
Torna-se importante juntar o maior número de informações possíveis para
formular as estratégias, de forma específica para este trabalho, as estratégias para
desenvolver o turismo de eventos. Dentro desse contexto de elaboração de estratégias,
destaca-se ainda abaixo vários tipos de estratégias, segundo os seguintes autores:
5.3.1 Estratégias genéricas de Porter (1980)
• Custo global de liderança, do qual são exigidos das organizações a minimização dos
seus custos baseada na produção em massa e o controle rígido das principais funções do
negócio.
• Diferenciação dos produtos e serviços oferecidos – criar algo que seja percebido como
único no mercado.
• Focar num grupo comprador específico, o segmento de uma linha de produto ou
mercado geográfico no objetivo de obter liderança e diferenciação.
Este modelo é abordado em vários setores produtivos, no entanto falha ao não
abordar as questões específicas do turismo e particularmente, as escassez de recursos a
nível dos destinos. Alguns destinos que se encontram numa fase de consolidação do seu
ciclo de vida ultrapassam a capacidade máxima que os possibilitam sustentar os seus
recursos pondo em perigo a sua habilidade de diferenciarem os seus produtos turísticos,
uma vez que os seus recursos estão degradados. Segundo Buhalis (2002) isto pode ser
visto em destinos de massa como Benidorm e Costa Brava na Espanha, Malia na Grécia,
etc. Ainda Segundo Buhalis (2000), as estratégias turísticas não devem apenas
concentra-se nas visitas, mas também incluir o amplo conjunto de impactos como
superlotação, problemas ambientais, segurança, sazonalidade, preservação da cultura
local. Isto irá permitir que os destinos desenvolvam estratégias coerentes.
5.3.2 Estrutura estratégica de Gilbert (1990)
Esta estrutura estratégica argumenta que os destinos podem ser classificados
numa linha contínua entre “status” e “commodity” áreas. As status áreas obtêm procuras
através dos atributos únicos dos seus produtos percebidos pelo mercado turístico. Estes
atributos podem ser genuínos ou imaginários e portanto, o destino pode ser considerado
15
como insubstituível, o que aumenta a fidelidade dos consumidores e a sua propensão a
pagar preços mais altos. Nas commodity áreas, os destinos são substituíveis, são
bastante sensíveis ao preço e à mudanças econômicas enquanto os turistas têm pouca
consciência de qualquer aspecto ou atributo único
no local. Por isso, a escolha dos turistas por estes destinos baseia-se apenas no preço,
com uma procura de grande elasticidade e sem comprometimento com os recursos
locais.
5.3.3 Estratégias genéricas para turismo segundo Getz (1997)
• Os eventos podem ser usados como atrações centrais ao redor dos quais um destino
pode desenvolver uma temática, construção de uma imagem e pacotes. Este tipo de
estratégia é apropriada para pequenas e grandes cidades assim como para áreas rurais
que não possuem uma infraestrutura turística de grande proporções. Portanto, a forma
pela qual um destino se posiciona é o resultado de um ou mais eventos e da temática
que as envolvem. Nesta estratégia é desejável que este destino possua um ou mais
eventos de peso para que as imagens desses eventos e o destino se tornem inseparáveis,
se consolidando mutuamente, afirma Getz (1997).
• O uso de mega eventos como uma estratégia genérica de turismo é uma estratégia
adequada para as destinações que estão se esforçando para uma conscientização do
turismo e para um crescimento em larga escala. Realizar uma quantidade de mega
eventos em um mesmo ano pode ser de grande efeito para atrair a atenção e aumentar o
número de visitantes. Os eventos tais quais, as Olimpíadas e outros eventos desportivos
de grande porte, são populares em que atingem essas metas. O uso de mega eventos
como uma estratégia genérica de turismo é muito dispendiosa e o envolvimento do
governo é fundamental.
• Os eventos também estão mais e mais sendo usados para apresentar temas anuais nos
destinos. Nesta estratégia, os eventos são tanto usados como um foco principal da
promoção como um valor agregado aos temas anuais, segundo Getz( 1997).
• Ter uma variedade de eventos na comunidade pode ser visto como uma estratégia
genérica de turismo de eventos. Ao invés de tentar atrair e criar grandes e novos eventos
esta estratégia é baseada em eventos da comunidade novos e já existentes. Além disso, a
estratégia parte dos resultados da autenticidade, variedade e do forte suporte a
comunidade para atrair e satisfazer os turistas. Os custos dessa estratégia são menores,
16
contudo, um esforço extra será necessário para criar publicidade e envolver a indústria
turística para mobilizar as comunidades e lobbistas a procurar seguir o marketing
turístico.
Segundo Buhalis (2000), apesar do modelo diferenciar claramente as categorias,
ele falha em reconhecer que a maioria dos destinos ficam entre as duas fases propostas,
assim como também não relata as diferentes fases do ciclo de vida e as inevitáveis
experiências as quais os destinos são tidos como status áreas e gradualmente deslizam
para a fase commodity.
5.3.4 especialização flexível de Poon (1993)
A autora examina os processos da indústria turística e propõe uma estratégia que
possibilita as organizações melhorarem a sua competitividade. É argumentado que a
especialização flexível é uma estratégia de constante inovação e mudança que é
preparada para o “novo turismo”. Este é flexível, segmentado, customizado para as
necessidades dos turistas e diagonalmente integrado. Em contrapartida, o velho turismo
de massa é padronizado e rígido. As principais fontes de flexibilização dos serviços
ficam nas organizações, na gestão, no marketing, na distribuição e em outras formas de
interacção e inter relação entre hóspedes, hotéis, distribuidores, prestadores de serviços,
etc.
Este modelo é adaptado às novas tecnologias da informação e previu os seus
impactos na tomada de decisão e no comportamento do consumidor. A inovação da
indústria e a utilização de novas tecnologias são fatores vitais para possibilitarem a
customização de produtos de acordo com as exigências dos consumidores. Desta forma,
os destinos podem organizar os seus atributos e estruturas numa forma que os permitam
especializar os seus produtos turísticos de acordo com as necessidades da procura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto neste trabalho pode-se concluir que o turismo já é apontado
como um dos ramos mais promissores da atualidade. E o turismo de eventos tem uma
importância bastante significativa dentro desse setor. Segundo Nichols (1993), o
turismo de eventos, trata-se de uma atividade que tem destaque na Europa, América do
17
Norte e alguns países da Ásia, especificamente na realização de congressos,
convenções, seminários, fóruns, simpósios, etc.
Na América Latina, notadamente no Brasil, os indicadores demonstram um
aumento crescente, exigindo, cada vez mais espaços adequados, equipamentos
sofisticados e, principalmente, recursos humanos qualificados e profissionalizados.
Desta forma, os investimentos no segmento de turismo de eventos parecem ser a
melhor opção para impulsionar o desenvolvimento do setor. É importante salientar que,
segundo Gil (2000) no Brasil estima-se a realização anual de 2000 congressos. Os
gastos dos turistas desse tipo de segmento é significativamente maior se comparado ao
turista de lazer, - comparativamente, os turistas de eventos tem um gasto médio de US$
310,00 contra US$ 210,00 dos turistas de lazer.
O turismo de eventos tem uma conceituação ampla sendo caracterizado como
um segmento do turismo responsável pelos vários tipos de eventos como congressos,
feiras, shows e etc. E o turista de eventos devido a algumas peculariedades entre elas
podemos destacar a sazonalidade turística representa um forte atrativo para a indústria
do turismo em contrapartida com o turista convencional.
Existem alguns cuidados que devem ser tomados quando se trata de turismo de
eventos. Um deles se refere a necessidade de se fazer uma escolha criteriosa do período
da realização de um evento, para que o serviço seja oferecido de maneira eficiente e
eficaz. Dessa forma se faz necessário a busca constante de informações no mercado
acerca do fluxo turístico da região a ser promovido o evento.
Sabe-se, pois que o turismo de eventos é uma importante fonte geradora de
emprego e renda em todo o país, porém, para este segmento ter êxito é necessário o
desempenho de ações voltadas para a qualificação profissional seja dos profissionais
ligados direta ou indiretamente com os eventos, através do estímulo a constante
atualização dos mesmos. Vale salientar que dentro de um sistema de turismo muitos são
os atores, mas quando falamos especificamente do turismo de eventos na fase de
captação, conta-se como principais atores os promotores, os organizadores, as empresas
de organização e os órgãos públicos ligados ao turismo. A captação de eventos aparece
como um importante instrumento para o desenvolvimento turístico local promovendo o
desenvolvimento socioeconômico, pois ele movimenta vários setores da economia.
Em se tratando da aplicação de estratégias pelas empresas como um todo, o
segmento de eventos não difere quanto a necessidade do conhecimento e uso dessas
estratégias. Nesse mercado se exige cada vez mais a utilização da imaginação e do
18
raciocínio lógico para manter o destino competitivo, além do conhecimento sobre o
destino e a elaboração de um plano de marketing compatível com o novo paradigma de
‘produto-espaço’.
As organizações envolvidas no desenvolvimento das estratégias de um destino
devem ter consciência sobre sua posição quanto a seu ciclo de vida e como também não
podem descuidar do aspecto da sustentabilidade do destino que se deseja promover.
Segundo Goldner et al (2002) o ciclo de vida abrage as seguintes etapas: introdução,
crescimento, maturidade, saturação e declínio.
Existem diversos tipos de estratégias e é preciso tomar cuidado na hora de
escolhê-las, porque elas possuem variabilidade em relação a tempo e lugar. O que pode
ser bom em um determinado momento, pode perder toda a sua validade em pouco
tempo. Temos então as estratégias genéricas de Porter onde se utiliza de mecanismos
como: minimização de custos, diferenciação dos produtos e serviço oferecidos e a
focalização num grupo comprador específico; a estrutura estratégica de Gilbert onde
Gilbert (1990) afirma que os destinos devem tentar tornar-se status áreas no objetivo de
melhorar a sua imagem, fidelizar mais turistas e trazer mais benefícios econômicos; as
estratégias genéricas para turismo segundo Getz em que é sugerido que os destinos
devem diferenciar os seus produtos no intuito de atingir benefícios únicos, o que irá
possibilitá-los estabelecer o seu posicionamento no mercado e atrair consumidores fiéis
e com alto poder de compra que apreciam as suas características únicas e os seus
recursos; a especialização flexível de Poon que é uma estratégia preparada para o “novo
turismo”, onde é flexível, segmentado, customizado para as necessidades dos turistas.
Constata-se que o mercado local poderá, se bem trabalhado, propiciar uma
regeneração nos tecidos econômicos, visto que haverá uma ampliação nas alternativas
de geração de emprego e renda e uma demanda maior por profissionais qualificados na
área, consolidando-se como um segmento.
Recomenda-se um estudo que enfoque se há um trabalho estratégico neste no
turismo de eventos desta cidade e se esta sendo desenvolvido de maneira eficiente e
eficaz.
19
REFERÊNCIAS
AAKER, D. A. Building Strong Brands. New York, The Free Press. 1996.
ANDRADE, Nelson et al. Hotel: planejamento e projeto. São Paulo: SENAC, 2000.
ANDRADE, José Roberto de Lima; SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. Eventos e
estratégias de desenvolviemento turístico: o caso de Aracajú. Revista
Bibliográfica de geografía y Ciencias Sociales. Vol. IX, nº 543, 30 de outubro de
2004.
ASHWORTH, G.J. Products, Places and Promotion: destination images in the
analysis of the tourism industry. apud The Tourism Industry: an international
analysis. CAB International: Wallingford. (1991).
BRITTO, Janaína e FONTES, Nena. Estratégias para eventos. Uma ótica do
marketing e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002.
BUHALIS, D. Marketing the competitive destination of the future. Tourism
Management, 2000.
CANTON, Antonia Marisa. Gestão de Eventos. Curso MBA em Economia do Turismo.
São Paulo: Fipe/ECA, 2001.
COOPER, C. The life cycle concept and tourism. In P. Johnson, & B. Thomas, Choice
and demand in tourism. London: Mansell, 1992.
COSTA, C.M.M. O papel e a posição do setor privado na construção de uma nova
política para o turismo em Portugal. Associação Empresarial de
Portugal.(2001).
CRUZ, Rita de Cassia A . Política de Turismo e Território. São Paulo:Contexto,
2000.
DAVIS, D; Allen, J and Cosenza, R. Segmenting local residents by their attitudes,
interests, and opinions towards tourism ; J Travel Research, V. 27, nº 2, p-2-
8, 1988.
DIAS, Reinaldo; AGUIAR, Marina Rodrigues de. Campinas: Fundamentos do turismo:
conceitos, normas e definições. Editora Alínea, 2002.
EMBRATUR, Relatório de Estudos de Demanda Turística . Brasília, 1998.
GETZ, Donald. Event Managent & Event Tourism. Cognizant Communication
Corporation, 1997.
GILBERT, D. Strategic Marketing for National Tourism. The Tourist Review. 1990.
20
GIL, Daniel De Camillis. Marketing, turismo de eventos: estratégias para captação.
Brasília: Pórtico, 2000.
HOELLER, E. H. Turismo de eventos: Centreventos Cau Hansen de Joinville- SC.
In: Turismo e Segmentação de Mercado. São Paulo: Futura, 2002.
IGNARRA, L. R. Fundamentos do Turismo . São Paulo: Pioneira, 1999.
KOTLER, Philip et al. Marketing Público – Como atrair investimentos, empresas e
turismo para cidades, regiões, estados e países. Tradução: Eliene Kanner. São
Paulo: Makron Books, 1994.
MAGALLÓN, Tonatuih Cravioto: Organizacion de congressos y convenciones.
México: Trillas, 1999.
MARTIN, Vanessa. Manual Prático de Eventos. São Paulo: Atlas, 2003.
MATHIESON, A., Wall, G. (1982) Tourism: economic, physical and social impacts.
Longman, Harlow.
NICHOLS, Bárbara. Gerenciamento Profissional de Eventos. Tradução: Milena de
Carvalho, Fortaleza: ABC Fortaleza, 1993.
OLIVEIRA, Djalma de Pinto Rebouças de. Planejamento estratégico: conceitos,
metodologias e práticas. 7 ed. São Paulo: Atlas, 1993.
POON, A. Tourism Technology and competitive Strategies. CAB International.1993.
PORTER, M. Competitive Advantage: creating and sustaining superior
performance. Macmillan: Nova Iorque, 1985.
RUBIES, Bordas Eulogio. Improving public-private setors cooperation in tourism:
A new paradigm for destinations. Tourism Review, vol.56, nº 3 / 4, 2001.
WTTC – WORLD TRAVEL AND TOURISM COUNCIL. Estatistics, 2000.
VILLELA, Márcia. Captação de eventos internacionais. Revista de Eventos. São
Paulo, Cia. Comunicação, ano 2, nº 4, p. 11, 2000.
21
A Utilização do Curso de Teatro como Prática Inovadora de
Treinamento num Restaurante Familiar
Alexandra Vieira Batista
RESUMO
A disseminação de técnicas alternativas para treinar os funcionários é algo que
vem crescendo cada vez mais nas empresas. Essa realidade trouxe a preocupação em
analisarmos a eficácia dessas práticas, emergindo nessa pesquisa o objetivo de analisar a
eficácia do curso de teatro como uma prática inovadora de treinamento utilizado pelo
restaurante Salutte em João Pessoa–PB. O método adotado foi o estudo de caso tendo
como unidade de análise o Restaurante Salutte. Os dados foram coletados através de
entrevista semi-estruturada dirigida ao gestor da empresa e estruturada dirigida aos
funcionários. A natureza dos dados foi predominantemente qualitativa, por estarmos
interessadas no parecer das pessoas envolvidas na realização do curso de teatro. Na
análise dos dados fizemos uso da análise de conteúdo temática. Concluindo-se então
que a aplicação do curso de teatro para os funcionários na empresa pesquisada tem
contribuído significativamente para a melhoria no relacionamento dos funcionários,
aumentando assim a motivação, desempenho e produtividade. Isso tem influenciado
positivamente nos negócios da empresa onde a mesma após a utilização dessa prática
tem se destacado a nível nacional.
INTRODUÇÃO
Investimentos na área de treinamento e desenvolvimento se fazem
imprescindíveis na atualidade para que as empresas possam se destacar em seus
mercados. Iniciativas voltadas para o aprendizado individual e organizacional trazem
consequências positivas na produtividade da empresa bem como na motivação dos
empregados. Para Decenzo e Robbins (2001, p.134) o treinamento “é uma experiência
de aprendizagem que busca uma mudança relativamente permanente numa pessoa, a fim
de melhorar sua capacidade de desempenho no cargo”. Ainda segundo esse autor ele
pode envolver uma a mudança de habilidades, conhecimentos, atitudes ou
22
comportamentos. Essa mudança de atitudes ou comportamentos é o que as empresas
buscam primordialmente atingir através da prática inovadora do curso de teatro
discutida ao longo desse trabalho. De acordo com Tachizawa (2001) o treinamento visa
aperfeiçoar o desempenho funcional, ao aumento da produtividade e ao aprimoramento
das relações interpessoais.
Nesse contexto, várias são as ações que as empresas têm realizado na tentativa
de melhor capacitar seus funcionários. O modelo de treinamento e desenvolvimento tido
como “tradicional”, deixa muito a desejar diante da complexidade que é o mundo dos
negócios da atualidade. Para tanto as empresas tem recorrido com frequência a modelos
considerados “inovadores”, “alternativos” no sentido de que trazem novas soluções para
problemas existentes. Vieira (2005) considera como alternativo as práticas não
caracterizadas como cientificamente comprovadas.
Sob a ótica da literatura apresentaremos nesse trabalho tanto o treinamento na
sua forma tradicional, consolidado ao longo dos anos pela ciência e com uma
aplicabilidade bastante difundida nas empresas, como também abordaremos as novas
tendências que se configuram em relação ao desenvolvimento organizacional e dos
funcionários. São práticas neste campo que carecem de uma investigação mais
profunda para identificarmos sua eficácia enquanto instrumento de treinamento. Essas
práticas denominadas de inovadoras ou alternativas assumem nesse trabalho o caráter de
práticas não comuns no cotidiano das empresas. De acordo com Ichniowsky et al
(1996, apud LOIOLA; TEIXEIRA, 2006, p.3), práticas inovadoras se diferenciam de
práticas tradicionais de gestão de pessoas porque buscam maior grau de flexibilidade na
organização do trabalho, maior cooperação entre os trabalhadores e a gerência, e maior
participação do trabalhador nas decisões e no bem-estar financeiro da empresa.
Buscando entender melhor a eficácia das práticas inovadoras de Recursos
Humanos este estudo se propôs a analisar o curso de teatro como uma prática inovadora
de treinamento utilizado pelo restaurante Salutte em João Pessoa – PB, analisando assim
o impacto dessa prática para a produtividade, relacionamento e motivação dos
funcionários e bem como para o desenvolvimento do negócio. Dessa forma buscamos
encontrar informações mais acuradas acerca do tema proposto onde nos permitiu
tomarmos conclusões mais próximas da realidade. Inicialmente foi feita uma
compreensão acerca do treinamento, seus objetivos e as várias práticas alternativas
existentes nas empresas. Posteriormente foram traçados as opções metodológicas da
pesquisa e em seguida uma breve apresentação da empresa estudada para em seguida
23
analisar o curso de teatro utilizado por essa empresa a partir da visão do gestor e dos
funcionários envolvidos.
2 COMPREENDENDO O TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DOS
EMPREGADOS
Dos grandes desafios que as empresas enfrentam na atualidade dois deles
merecem destaque e se referem à educação dos empregados e de como mantê-los
motivados. As pressões impostas pela competição acirrada demandam não somente
pessoas capacitadas tecnicamente, mas também que tenham suas habilidades humanas
desenvolvidas e aliada a essa “capacitação” o funcionário deve ter uma motivação para
realizar com eficácia às atribuições a ele concedida. As novas tecnologias exigem que
os funcionários desenvolvam novas habilidades. Os cargos nas empresas requerem
novos conhecimentos exigindo habilidades técnicas e interpessoais diferenciadas. A
aplicação de novos conceitos como empowerment, qualidade total, diversidade da mão-
de-obra também demandam por profissionais com novas competências. Essas
necessidades podem ser supridas com a aplicação de treinamentos que atendam ao perfil
de cada empresa.
Embora os termos treinamento e desenvolvimento sejam empregados na maioria
das vezes como o instrumento capaz de dotar os empregados das habilidades necessárias
para o melhor desempenho no cargo, é importante destacar que o treinamento está mais
voltado para transmitir o conhecimento mais específico para o cargo enquanto que o
desenvolvimento se relaciona mais com a educação, com a capacidade de compreender
e interpretar conhecimentos a longo prazo.
Quando se fala em treinamento e desenvolvimento do empregado não podemos
esquecer que aliado ao desenvolvimento do empregado a empresa deve também
trabalhar o desenvolvimento organizacional. De acordo com Decenzo e Robbins (2001)
muitas empresas mudaram drasticamente o modo como operam para alcançar resultados
superiores. Essas mudanças afetaram diretamente as operações e as pessoas da
organização. Se os processos de trabalho mudam, as pessoas precisarão aprender novos
métodos e procedimentos de produção. E sempre que a mudança ocorre, seu efeito
torna-se uma questão de cultura organizacional, consequentemente deve haver esforços
de desenvolvimento organizacional para garantir que todos os integrantes da
organização apoiem a nova cultura.
24
Várias são as técnicas de treinamento utilizadas pelas empresas. A decisão sobre
que técnica utilizar vai depender das necessidades de cada empresa. Apresentaremos
as mais comumente utilizadas:
a) Treinamento no local de trabalho (TLT): os empregados são colocados em
situações de trabalho concretas, fazendo com que eles se tornem imediatamente
produtivos, é aprender fazendo. É um dos métodos mais utilizados para treinamento de
funcionários em cargos não gerenciais. A principal vantagem é que para cargos que são
difíceis de simular ou que podem ser aprendidos depressa observando e fazendo, o
treinamento no cargo faz sentido. E uma das desvantagens está no fato da baixa
produtividade enquanto os empregados desenvolvem suas habilidades e também herros
cometidos pelos “trainees” enquanto aprendem.
b) Treinamento fora do cargo: esse tipo de treinamento envolve técnicas das mais
variadas e com a demanda das empresas cada vez maiores por pessoas qualificadas o
número e as diversidades dessas técnicas evoluíram para atender as necessidades de
cada organização.
Vejamos algumas delas abaixo:
- conferências em sala de aula: destinado a comunicar habilidades específicas,
interpessoais, técnicas ou de solução de problemas. Podem ser apresentados na forma
de: workshops, simpósios ou palestras.
- vídeo e filmes: demonstra habilidades especializadas que não podem ser facilmente
apresentadas por outros métodos de treinamento.
- exercícios de simulação: pode incluir análises de casos, exercícios experimentais,
dramatizações ou tomada de decisão em grupo. Como o teatro é dramatização e tema
central desse trabalho, abaixo detalharemos melhor a dramatização como técnica de
treinamento.
- treinamento baseado em computador: simulação do ambiente de trabalho,
programando-se um computador para imitar algumas das realidades do cargo.
- treinamento preparatório: treinamento em equipamento usado de fato no cargo, mas
instalado fora do local de trabalho.
- aprendizado autodirigido: envolve o uso de livros, manuais ou computadores para
dividir o conteúdo do assunto em sequencias altamente organizadas e lógicas, que
exigem a resposta contínua por parte do aluno.
- brainstorming: também pode ser utilizado como técnica de treinamento que consiste
em provocar a criatividade e rapidez de raciocínio dos participantes.
25
- estudo de caso: consiste na apresentação de fatos ou resumos narrativos de situações
ocorridas em empresas com vista em sua análise pelos treinandos.
- treinamento externo: é feito ao ar livre, às vezes chamado de treinamento de selva ou
de sobrevivência, tem como foco ensinar aos aprendizes a importância de trabalhar em
equipe;
- jogos: são atividades espontâneas realizadas por mais de uma pessoa, regidas por
critérios de perda ou ganho.
- ensino a distância: a crescente expansão da tecnologia fez surgir novas possibilidades
na área de treinamento e desenvolvimento dos empregados. O ensino a distância é uma
forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, através da utilização de recursos
didáticos apresentados em diferentes suportes de informação. Ele permite a empresa
atingir um grande número de funcionários, rompe fronteiras geográficas, respeita o
ritmo de aprendizagem de cada aluno e, ao mesmo tempo, reduz custos. Uma nova
modalidade surge no ensino a distância que é o e-learning ele é fruto de uma
combinação ocorrida entre o ensino com auxílio da tecnologia e a educação a distância,
convergindo assim para a educação on-line. Sua chegada adicionou novos significados
para o treinamento e fez explodir as possibilidades para difusão do conhecimento e da
informação. Muitos profissionais do mercado garantem que a educação a distância deve
ser encarada como uma modalidade de ensino complementar, que não deve ser vista
como exclusiva ou substituta do sistema tradicional.
- universidades corporativas: é uma instalação de treinamento interno e de educação
que oferece amplas oportunidades de aprendizado para os funcionários e
frequentemente também para os clientes, fornecedores e parceiros estratégicos durante
toda a carreira deles.
O crescimento das universidades corporativas e as novas abordagens como os
programas on-line e auxiliados por computador refletem uma mudança no
pensamento de treinamento - como algo fornecido aos funcionários, para
aprendizado - que os funcionários iniciam por conta própria para realçar seus
conhecimentos e habilidades e promover o desenvolvimento de sua própria
carreira. (DAFT, 2005, p. 307)
- AS DRAMATIZAÇÕES: conforme Gil (2001) é a representação de situações reais
de forma simulada, onde os treinandos são solicitados a representar situações-problemas
que podem ser verificadas nas organizações, como: o atendimento de um cliente difícil
ou a transmissão de ordens aos subordinados. Segundo o mesmo autor é a estratégia
mais adequada quando se deseja alcançar objetivos no caminho afetivo, especificamente
26
quando se deseja desenvolver determinadas atitudes. O treinando assume um
determinado papel, previamente dado pelo instrutor e trabalha o script a exemplo de um
ator de televisão.
Quanto aos instrumentos de treinamento voltados para o aperfeiçoamento dos
gerentes podemos citar alguns: coaching- envolve um fluxo contínuo de instruções,
comentários e sugestões do gerente para o subordinado; rotação de cargo: fornece por
meio de uma variedade de experiências de trabalho, o conhecimento exigido para
gerenciar mais efetivamente; transferência lateral: movimentação horizontal por
diferentes departamentos. Sabe-se pois que quanto mais alto o nível hierárquico do
funcionário dentro da organização, maiores são as exigências de qualificação para o
desempenho dos mesmos. No novo local de trabalho os gerentes devem assumir
posturas diferentes das que tinham no passado, hoje há uma grande exigência
relacionada as habilidades humanas que estes gerentes devem desenvolver.
Consequentemente as empresas têm se atualizado e investido em instrumentos que
busquem o aprimoramento das habilidades desses gerentes.
Um aspecto que deve ser lembrado é que os treinamentos hoje estão muito
voltados para a equipe. Isso se deve segundo Bohlander, Snell e Sherman (2003, p.167)
ao fato de que “as contribuições de cada indivíduo não decorrem apenas dos
conhecimentos, capacidades e aptidões individuais, mas da interação de todos os
integrantes da equipe”. Por isso se faz tão importante as empresas desenvolverem
atividades de treinamento conjuntas onde possam otimizar o desempenho das pessoas
como um todo na organização. E as práticas alternativas de treinamento têm propiciado
esse crescimento em equipe pois a maioria delas envolve
exercícios participativos.
2.1 Objetivos do Treinamento
Marras (2000) apresenta como objetivos específicos para o treinamento os
seguintes: a formação profissional, onde permite o repasse de conhecimentos e práticas
necessárias ao bom desempenho de uma função; a especialização que oferece ao
treinando um campo de conhecimento ou prática específica e a reciclagem que tem
como finalidade básica rever conhecimentos ou práticas de trabalho. Esse mesmo autor
ainda focaliza os objetivos genéricos propiciados pelo treinamento. Alguns deles como
o aumento na produtividade e o incentivo motivacional merecem um destaque especial
27
nesse trabalho pelo fato de estarmos interessados aqui, também, em analisar os ganhos
em termos de produtividade e motivação dos funcionários na empresa pesquisada
através do uso do teatro como uma ferramenta de treinamento. Os objetivos genéricos
citados pelo autor acima são os seguintes:
a) Aumento direto na produtividade: segundo o autor acima citado na medida em que
o treinamento propicia a possibilidade de realizar ações mais precisas e corretas, haverá
melhorias nos tempos de produção, nos movimentos e, portanto, na relação entre
insumos, fatores de produção e resultados no trabalho;
b) Aumento direto da qualidade: a qualidade do trabalho tende a ser otimizada de
forma diretamente proporcional ao conhecimento que o trabalhador tem sobre aquilo
que é bem feito e sobre o grau de responsabilidade que lhe cabe no processo produtivo;
c) Incentivo motivacional: treinar um trabalhador é oferecer a ele a possibilidade de ter
um bom desempenho na empresa. Quanto mais real essa afirmação, maior a
possibilidade do trabalhador sentir-se motivado a fazer o que faz e a fazê-lo bem feito
para sua própria satisfação;
d) Otimização pessoal e organizacional: é pelo treinamento que o homem se
desenvolve profissionalmente. Trabalhadores em ascensão, satisfeitos e motivados
transformam os ambientes das organizações, deixando-os apropriados para atingir a
excelência em termos de desenvolvimento organizacional;
e) Atendimento de exigências das mudanças: o treinamento permite as empresas
enfrentarem com mais segurança as mudanças que lhes são impostas.
2.2 Teatro Empresarial e outras Práticas Alternativas
As empresas têm recorrido atualmente a ferramentas não convencionais para
desenvolver os empregados, isso não porque os sistemas tradicionais não funcionem
mais, mas porque eles deixam algumas lacunas que precisam ser preenchidas, podemos
considerar também o fato de que para alguns participantes as práticas tradicionais são
pouco atraentes. Diante dos desafios do mundo atual, busca-se um modelo de educação
que contribua para gerar ambientes de aprendizagem que desenvolva no homem a sua
capacidade de pensar.
A maioria dos treinamentos esquece de trabalhar as emoções e o teatro conforme
Fernandes (2002) “torna-se uma ferramenta eficaz porque lida com diversas linguagens,
com uma variedade múltipla de signos e também porque se constrói fundamentalmente
28
através da relação grupal”. E cuidar das emoções dos funcionários se faz necessário para
mantê-los motivados. A capacidade de aprendizado dos funcionários pelo teatro
aumenta porque remetem as pessoas ao prazer.
Há pouco mais de dez anos falar sobre técnicas alternativas aplicadas à gestão de
pessoas nas empresas era motivo de recusa. Muito embora, é bom lembrar que o uso do
teatro nas empresas para o aumento da motivação e produtividade não é portanto um
recurso recente. Para Cozzo (2007) “desde o tempo de Sócrates já se utilizava outras
abordagens, ele, por exemplo, dava aula caminhando”. E de acordo com Vasconcelos e
Passos (2007) “a representação teatral foi (e é) ferramenta de aceleração evolucional do
Homem, se não desde sempre, ao menos desde o início de sua era moderna”. Boa l
(2002, apud ARAÜJO, 2005, p. 67) afirma que “o teatro é a primeira invenção humana
e é aquela que possibilita e promove todas as outras invenções e todas as outras
descobertas, ele nasce quando o ser humano descobre que pode observar-se a si mesmo:
ver-se em ação”. No Brasil um evento teve repercussões positivas para a divulgação das
técnicas alternativas de recursos humanos, que foi em 1993 a realização do I Fórum de
Técnicas Alternativas em RH, com o intuito de discutir essas atividades.
Segundo Morin (2000, apud ARAÜJO, 2005, p.52) o teatro, enquanto elemento
transformador para a rotina da vida, pode ser encontrado onde quer que as pessoas se
reúnam na esperança da magia que as transportará para uma realidade mais elevada,
mais reveladora, mais instigante. Constatando descobertas em si próprio o participante
vislumbra novas possibilidades de agir e de pensar. Para Olivares (1995), valores vão
sendo adquiridos através desses jogos, como a experiência em pensar criativa e
independentemente, o desenvolvimento da imaginação e da iniciativa e o aumento da
sensibilidade para os relacionamentos pessoais. Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que
a criação do conhecimento deve ser entendida comoum processo que amplia
organizacionalmente o conhecimento criado por indivíduos.
Geralmente as empresas usam o teatro para treinar os funcionários através da
apresentação de peças teatrais, onde se contratam pessoas especializadas que
desenvolvem essas peças de acordo com os objetivos a que se pretende atingir com o
treinamento. A segurança foi um dos primeiros temas abordados com peças de teatro
dentro do ambiente corporativo. O conceito de teatro utilizado pela empresa pesquisada
nesse trabalho, foge um pouco do usual e apresenta uma diferenciação em relação às
outras empresas. Ela oferece o curso de teatro para os funcionários, onde os próprios
funcionários apresentam as peças de acordo com os dilemas enfrentados na empresa.
29
Nesse caso, se consegue desenvolver mais a interação e a criatividade dos mesmos.
Existem muitas outras ferramentas alternativas de educação para os funcionários
além do teatro e que são também bastante difundidas nos dias de hoje e podem ser
consideradas como inovadoras no sentido de que trazem novas propostas para a
capacitação dos funcionários. Apresentaremos abaixo algumas dessas modalidades:
- ARTETERAPIA: tem se tornado uma aliada para profissionais de RH que querem
resolver problemas relacionados a conflitos e a falta de valorização dos colaboradores,
através da utilização das linguagens plástica, sonora, corporal, literária, entre outras.
- GASTRONOMIA: através da gastronomia os funcionários vivenciam as dificuldades
e os desafios de preparar uma refeição e conseguem internalizar, em seus conscientes,
quais são os fatores de êxito, bem como os comportamentos que não contribuem para
atingir os resultados esperados. Essa análise é transportada para a profissão e
proporciona uma reflexão sobre o que pode ser melhorado no dia-a-dia da empresa,
através da adoção de atitudes simples.
- MAGIA: através da mitologia universal, se utiliza de metáforas nas jornadas de
treinamento e se consegue trabalhar as relações humanas pessoais e profissionais. A
ideia de utilizar a mitologia como base metodológica para eventos de desenvolvimento
de pessoas surgiu há cerca de dez anos, tendo como elemento desencadeador as
características dos mitos gregos semelhantes aos seres humanos.
- BIODANZA: surge como elemento de alavancagem, tentando impulsionar as pessoas
a vivenciarem processos criativos significativos para elas e para a organização. Age
sobre a diminuição da auto-repressão do impulso criador e facilita a expressão natural
da criatividade através da música, do canto, da dança e de exercícios de encontro em
grupo.
- PAINTBALL: é um esporte de ação, no qual um time procura capturar a bandeira no
terreno da equipe adversária. Os participantes são equipados com uma arma que atira
cápsulas de gelatina recheadas com tinta solúvel, um colete de proteção e uma máscara
apropriada. Se um competidor leva um tiro e se a bolinha estoura e suja a roupa, ele será
eliminado da competição. Através deste game, é possível avaliar a capacidade de
liderança, estratégia, trabalho de equipe, tomadas de decisão e coragem para assumir
riscos. Outras modalidades de esportes também são utilizadas como ferramentas de
treinamento.
- ILUSIONISMO: é momento de alegria, somados ao lazer, capazes de eliminar o
30
estresse, o descontentamento e a baixa-estima, resgatando automaticamente o
entusiasmo e a motivação profissional.
- CINEMA NA EMPRESA: é um tipo de prática que pode ajudar a mudar opiniões e
atitudes dos funcionários pelo princípio da projeção.
Outras práticas também utilizadas na área de treinamento merecem ser citadas,
como: a realização de treinamentos comportamentais tendo como base a fundamentação
astrológica para desenvolver as competências dos funcionários. A utilização da
prática de numerologia que permite diagnosticar características de identidade,
habilidade e postura das pessoas, auxiliando assim nos processos de diagnóstico para
capacitação e desenvolvimento individual ou grupal nas empresas; a musicoterapia que
estimula o ambiente de trabalho tornando mais harmônico e pode ser utilizada também
como ferramentas de apoio em treinamentos; o shiatsu que é uma técnica que procura
corrigir a estrutura óssea, que quando funcionam de maneira precária levam as pessoas a
contraírem doenças, podendo ser utilizado em treinamentos que busquem a melhoria da
qualidade de vida no trabalho; os florais que através de um processo de apoio às
organizações e às pessoas, visa o crescimento e desenvolvimento simultâneo e integrado
da empresa e das pessoas que nela trabalham; o yoga que é um método de treinamento que
tranquiliza, energiza e libera a intuição e a criatividade das pessoas na organização.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Delimitação do Campo da Pesquisa e Objetivos
Esta pesquisa buscou estudar a realidade de uma pequena empresa no ramo de
alimentação o Restaurante Salutte em João Pessoa – PB. A escolha se deu em razão
da referida empresa ter se destacado no cenário nacional com suas práticas inovadoras
voltadas para gestão de pessoas. Essa iniciativa rendeu bons frutos ao Salutte sendo ela
a vencedora na categoria de pequenas empresas do Prêmio Sodexho Vida Profissional
2006 tendo como talento revelado a realização de curso de teatro para capacitar e
motivar os funcionários. Essa premiação é uma iniciativa da Sodexho Pass que
multiplica as melhores práticas em gestão de pessoas, através da divulgação das
inovações nessa área e o que empresas de todos os segmentos vêm adotando para
melhorar a qualidade de vida e valorização de seus profissionais. Levando em
consideração que cursos de teatro para funcionários é uma prática inovadora
31
principalmente quando se trata de uma empresa familiar e pequena, é que nossointeresse
em estudar o Salutte foi fortalecido. Se utilizando do conceito de Bernhoeft (1996) diz
que empresa familiar é aquela que, na prática, é controlada pelos integrantes de uma
única família.
Conhecendo preliminarmente a realidade desta empresa em se tratando do fato
de oferecer cursos de teatro para os funcionários um questionamento inevitável
emergiu e consistiu no desejo de estudar qual a eficácia desta prática para a empresa e
para os seus funcionários. Para responder esse questionamento esta pesquisa tem como
objetivo geral analisar a eficácia do curso de teatro como uma prática inovadora de
treinamento utilizado pelo restaurante Salutte em João Pessoa – PB. E como objetivos
específicos: analisar a eficácia da utilização do curso de teatro como uma prática
inovadora de treinamento para a melhoria da produtividade; analisar a eficácia da
utilização do curso de teatro como uma prática inovadora de treinamento para a
melhoria no relacionamento dos funcionários; analisar a eficácia da utilização do curso
de teatro como uma prática inovadora de treinamento para a motivação dos
funcionários; examinar o impacto da utilização do curso de teatro como uma prática
inovadora de treinamento para o desenvolvimento do negócio.
3.2 Caracterização da Pesquisa
O método adotado para esta pesquisa foi o estudo de caso tendo como unidade
de análise o Restaurante Salutte. Em algumas situações como nesta pesquisa é
adequado o estudo de um caso único, isso se justifica na afirmação de Yin (1994, apud
ROESCH, 2006, p.155) em que ele coloca que quando é um caso revelatório que
oferece a oportunidade de observar e examinar um fenômeno, o caso único é
apropriado. O estudo de caso de acordo com Yin (1981, apud ROESCH, 2006, p.155)
“é uma estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro
de seu contexto”. E dentre as vantagens que oferece podemos destacar segundo Roesch
(2006) a oportunidade de estudar as pessoas em seu ambiente natural. Esse estudo tem
caráter exploratório, pois está interessado na descoberta de ideias, fatos e não
precisamente na confirmação de hipóteses específicas de pesquisa. Para Collis e Hussey
(2005, p.24) “a pesquisa exploratória é realizada sobre um problema a questão de
pesquisa quando há poucos ou nenhum estudo anterior em que possamos buscar
informações sobre a questão ou problema”.
32
3.3 Instrumento e Procedimento de Coleta e Análise dos Dados
Os dados desta pesquisa foram coletados através de entrevista semi-estruturada
aplicada ao gerente-proprietário da empresa a partir de um roteiro previamente
estabelecido, onde segundo Hair, Jr. et al (2005, p.163) na entrevista semi-estruturada
“o pesquisador fica livre para exercitar sua iniciativa no acompanhamento da resposta a
uma pergunta”. Foi aplicada também uma entrevista estruturada aos funcionários que
segundo o autor acima permite ao entrevistador utilizar a cada entrevista o mesmo
processo de condução para evitar tendenciosidade. Os funcionários que participaram
da pesquisa foram todos aqueles que já haviam feito o curso de teatro oferecido pela
empresa. O curso foi oferecido a todos os 35 funcionários sendo que desse número
apenas nove ainda permanecem atualmente na empresa, o quadro foi renovado. Isso se
deve ao fato de que a empresa trabalha com um grande número de estagiários num
Programa de Primeiro Emprego, onde há uma renovação constante do quadro. Portanto
a pesquisa foi aplicada a esses nove funcionários que haviam feito o curso e ainda
compõem o quadro de funcionários da empresa.
A natureza dos dados coletados para a pesquisa foi predominantemente
qualitativa, por estarmos interessadas no parecer das pessoas envolvidas no processo da
empresa, mais especificamente da realização do curso de teatro. Para Hair, Jr. et al
(2005, p.202) “como é orientada para a descoberta, a crítica à subjetividade não é
relevante. A subjetividade torna-se um ponto fraco somente quando os pesquisadores
tentam generalizar conclusões com base na opinião de um único pesquisador”. Collis e
Hussey (2005, p.26) define o método qualitativo como aquele que “é mais subjetivo e
envolve examinar e refletir as percepções para obter um entendimento de atividades
sociais e humanas”. Nesta pesquisa não foi ignorado a presença de dados quantitativos
que emergiram das questões de pesquisa, levando em conta que ambas se
complementam muito bem. Esse ponto é confirmado pela afirmação abaixo:
Uma aliança muito importante entre as duas é a de que os estudos qualitativos
podem desenvolver ideias passíveis de serem testadas com algum tipo de
abordagem quantitativa. A decisão eficiente quase sempre exige tanto os
dados quantitativos quanto os qualitativos (HAIR, Jr. et al 2005, p.102).
O tratamento dos dados se deu através da técnica de análise de conteúdo que de
acordo com Collis e Hussey (2005, p.240) “é um método formal para a análise de dados
qualitativos”. Para Hair, Jr. et al (2005, p.154) “por meio da análise sistemática e da
33
observação, o pesquisador examina a frequência com que palavras e temas principais
ocorrem e identifica o conteúdo e as características de informações presentes no texto”.
3.4 A Premiação
Como a escolha do campo dessa pesquisa se respaldou numa empresa vencedora
do Prêmio Sodexho Vida Profissional é importante o conhecimento desse prêmio para
verificarmos sua confiabilidade, transparência, autenticidade e o respaldo que o mesmo
tem a nível nacional. Ele teve sua primeira edição em 2004, como uma
consequência natural da expansão do Programa Vida Profissional que existe desde
2002, e leva ao rádio e à TV as melhores iniciativas que empresas de todas as regiões do
Brasil estão adotando na gestão de pessoas. O Prêmio é uma oportunidade ímpar de
reconhecer os melhores cases na gestão de pessoas. Um grupo de especialistas e um júri
selecionado escolhem dentre todos os programas veiculados em 12 meses, aqueles que
segundo seus critérios técnicos e experiência pessoal são os melhores. Dentre os
critérios estabelecidos, vale dizer que os cases são julgados por seus resultados, por sua
relevância, inovação, diferenciação, sustentabilidade e por seu potencial de
multiplicação em empresas de todos os tamanhos. Na edição de 2006 no qual o
Restaurante Salutte foi premiado o júri foi da Escola de Administração de Empresas de
São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, a FGV-EAESP. Cada uma das seis categorias
da qual o prêmio é composto - Benefícios; Educação e Treinamento; Produtividade,
Motivação e Incentivo; Qualidade de Vida; Responsabilidade Social e Voluntariado e
Pequenas Empresas - foi avaliada pela FGV-EAESP por um grupo de professores
especialistas em cada um desses temas em gestão de pessoas. Para fazer essa avaliação,
a FGV-EAESP recebeu os cases sem o nome das empresas, o que garantiu ainda mais a
isenção e a transparência dos resultados do Prêmio.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 A Empresa Estudada
O Restaurante Salutte situado no bairro de Manaíra em João Pessoa - PB e que
conta com um número de 35 funcionários iniciou sua história em 23 de agosto de 1995 a
partir da ideia de seu proprietário Romeu Prazeres de Lemos e de sua família. Para
34
abrir o Salutte, ele pesquisou durante três anos os vários tipos de restaurantes em todo o
Brasil, conhecendo assim o funcionamento e o cardápio de mais de 100 restaurantes.
Atualmente, viaja para as grandes feiras de gastronomia do país. É importante destacar
que a sua atuação profissional tem sido decisivo para o crescimento da empresa. O
também poeta e compositor Romeu é formado em Administração de Empresas com
especialização em consultoria e pesquisa de mercado. É presidente da (Associação
Brasileira de Bares e Restaurantes-PB) ABRASEL-PB e é também facilitador do
EMPRETEC - programa executado pelo SEBRAE, em parceria com o PNUD -
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que tem por objetivo identificar
e aumentar o potencial empresarial empreendedor dos participantes.
Dentre as várias ações realizadas pelo Salutte podemos citar a criação em março de
1998 da Fundação Salutte, entidade filantrópica que tem como finalidade a doação de
alimentos não vendidos pelo restaurante para duas entidades locais: A Casa da Divina
Misericórdia que cuida de pessoas idosas e o (CENCA) Centro de Recuperação de
Meninos de Rua que trabalha na recuperação de meninos de rua. A Fundação Salutte
foi reconhecida pela Assembleia Legislativa de João Pessoa-PB como de utilidade
pública, em novembro de 2000. E ainda, através da Fundação, o Salutte emprega
deficientes, como também contratou um ex-menino de rua. Outra ação realizada pela
empresa é quanto à utilização do lixo, pois é feito uma coleta seletiva do mesmo e é
doado para reciclagem. O Salutte desenvolve ainda desde 1998 o Programa Primeiro
Emprego, onde recruta alunos nas escolas que passam por um treinamento e
posteriormente aqueles que se adaptarem a função são contratados para trabalhar nas
atividades do restaurante como: atendimento ao público, caixa, balança. O resultado
disso é bastante positivo para estes jovens pois além da empresa oferecer uma
oportunidade interna, ela indiretamente está os preparando para o mercado de trabalho.
Segundo o proprietário do restaurante, investimento desse tipo é raro na região, onde
quinhentas pessoas já passaram pela empresa através desse programa e noventa e cinco
por cento deles se inseriram no mercado de trabalho.
Vale salientar que o Salutte ficou entre os finalistas com este Programa Primeiro
Emprego dentre as várias empresas que concorreram na categoria pequena empresa ao
Prêmio Sodexho Vida Profissional 2006. Ela foi a única empresa a concorrer como
finalista com dois cases ficando em primeiro lugar com o case “curso de teatro para
funcionários”. Segundo oSr. Romeu, esse fato chamou a atenção da própria empresa
promotora desse prêmio. E nesse ano ela está novamente concorrendo na categoria
35
pequena empresa com o case “gerente por um dia” que é mais uma nova prática
aplicada pelo Salutte.
4.2 O Curso de Teatro
O treinamento é uma ferramenta indispensável para a manutenção de uma
equipe de trabalho capacitada e motivada, sendo responsável pelo aumento da
produtividade e motivação da força de trabalho. As empresas na atualidade têm
buscado modernas ferramentas para gerir seus funcionários e em se tratando do
treinamento e desenvolvimento elas recorrem a várias práticas consideradas comuns até
aquelas mais arrojadas e inovadores como em destaque nesse trabalho as dramatizações,
que se utilizam da simulação de ambientes reais de trabalho. Antigamente práticas
inovadoras voltadas para o aperfeiçoamento da mão de obra eram desenvolvidas apenas
por grandes empresas detentoras do conhecimento, dentre elas podemos citar como
exemplo a Phillips e Petrobrás que se utilizam dessas práticas para desenvolver seus
empregados. Hoje já se observam embora numa proporção menor, pequenas empresas
que buscam ideias inovadoras para gerirem seus funcionários. Esta pesquisa vem a
confirmar essa realidade, onde verificamos que a empresa pesquisada o Restaurante
Salutte tem sempre empreendido várias ações inovadoras a fim de manter uma mão de
obra capacitada, motivada e comprometida. E dentre essas ações uma delas merece
destaque e foi objeto de nossa pesquisa que é o curso de teatro para os funcionários,
onde ele encontrou uma forma criativa de capacitar sua equipe e encantar a clientela.
Implantado em 2004, o criativo treinamento transformou-se numa boa fórmula
para desinibir as equipes. A ideia de oferecer curso de teatro aos funcionários surgiu
do próprio proprietário do restaurante por achar os funcionários muito inibidos, e essa
inibição não era superada segundo o proprietário no dia-a-dia, ele percebia também que
muitos dos colaboradores não conseguiam se sair de situações críticas do cotidiano.
Como ele já havia feito aulas de interpretação anteriormente e também tinha experiência
em treinamento, acreditou que o teatro seria uma forma de desinibir os funcionários,
resolvendo então apostar nesta ideia. No início houve críticas onde o chamavam de
“louco”, pois consideravam incoerente a prática de teatro como treinamento para
funcionários. Foi então contratada uma professora de teatro para colocar a ideia em
prática. Por ser uma experiência nova para a professora, o projeto segundo o
proprietário do restaurante ficou muito barato. A primeira fase do treinamento, com
36
trinta dias de aulas custou apenas quinhentos reais. O curso é oferecido a todos os
funcionários da empresa a cada seis meses, uma vez por semana durante um mês. Como
a empresa trabalha com muitos estagiários, o quadro de funcionários está sempre se
renovando, então há sempre pessoas que ainda não fizeram o curso, porém aquelas que
já frequentaram anteriormente o fazem novamente. Ele ocorre ao final do expediente
(as 5:00 horas) e tem uma duração de duas horas e meia. O gerente-proprietário passa
para a professora os objetivos pretendidos com o curso, e faz o acompanhamento do
mesmo para corrigir possíveis falhas. Inicialmente se trabalha a expressão corporal, o
alongamento, depois para desinibir os funcionários eles aprendem a andar na ponta dos
pés, deitam no chão, se contorcem, e em seguida se trabalha especificamente as técnicas
teatrais envolvendo expressões de tristeza, de alegria, para assim montar peças. Juntos
montam cenas imitando o comportamento de clientes de todos os tipos e das mais
variadas situações, aprendendo a como atender bem e manter a calma até mesmo diante
de situações inusitadas e conflitantes e que costumam ocorrer no cotidiano deles, como
por exemplo, clientes que armam um escândalo para reclamar de um determinado
serviço. Vale relembrar que essas dramatizações não são feitas por pessoas contratadas,
ou seja, os atores envolvidos na peça são os próprios funcionários. Não há uma
obrigatoriedade quanto à participação dos funcionários, mas a empresa tenta mostrar
para eles que se não participarem ficarão excluídos do grupo. No início houve certa
resistência por parte dos funcionários, pois muitos não acreditavam na novidade, outros
são conservadores, machistas e afirmam que “homem não é pra fazer teatro”, mas com
o decorrer do curso eles perceberam que é só entre eles e não há pessoas de fora da
empresa observando daí soltam-se e ficam a vontade sem o menor problema. Depois de
fazer as aulas, a opinião geral sobre a capacitação mudou. No final eles recebem
certificado e percebem os ganhos obtidos com o curso.
4.3 O Curso de Teatro na Visão do Gestor da Empresa
Sabemos da dificuldade de se mensurar comportamentos e as técnicas de teatro
são intimamente ligadas ao comportamento, muito embora buscamos investigar os
resultados decorrentes dessa prática. E esses resultados são apresentados agora
inicialmente segundo a visão do gestor do Restaurante Salutte:
Quanto aos aspectos positivos desse tipo de treinamento é que o resultado final é
muito satisfatório. O aprendizado adquirido serve não só para a empresa, mas também
37
para a carreira dos funcionários. Desinibir os funcionários é um dos pontos principais
pretendidos com o curso, pois eles têm vergonha de até mesmo andar no salão do
restaurante, e as aulas ensinam técnicas de como andar com postura. Se utilizando de
cenas que imitam o comportamento dos clientes o curso, deixa os funcionários mais
calmos e bem preparados para situações críticas, muito prováveis no atendimento à
diversa clientela. Os clientes percebem e comentam a mudança no atendimento; os
funcionários passaram a ter uma maior integração interna e estão mais desinibidos.
Antes do curso não havia uma integração entre os setores, ao término do curso houve
um maior entrosamento entre eles no dia-a-dia. Hoje eles trabalham se divertindo,
conversando uns com os outros, quando encerram o expediente cantam, brincam e saem
alegres. O curso deveria ser oferecido num espaço de tempo menor e não apenas de seis
em seis meses, não necessariamente o teatro em si, mas pelos menos um tipo de
acompanhamento, um trabalho uma vez por mês que fosse alimentando esse curso.
Quanto aos aspectos negativos não foi apontado nenhum.
Quando perguntado sobre como a utilização do teatro influenciou nos negócios
da empresa o gestor afirmou ter havido uma repercussão muito grande, onde as pessoas
que frequentam o restaurante saem falando bem. Para ele esta prática significa um
trabalho social, e que quando as pessoas tomam conhecimento disso, na hora de
decidirem o restaurante preferem optar pelo Salutte porque sabem que estão pagando e
contribuindo também com o uma causa social. As pessoas tomaram conhecimento dessa
prática através de comerciais na TV, através do portal da empresa, notícias de jornais,
revistas e da própria repercussão que tem o prêmio Vida Profissional. A empresa passou
a ficar conhecida em todo Brasil, muitas pessoas tem demonstrado curiosidades em
conhecer mais a empresa, onde várias entrevistas são solicitadas para vários estados por
pessoas que desejam informações sobre esse curso. O nome da empresa ficou portanto
muito fortalecido. O setor mais influenciado pelo teatro foi o atendimento, pois é esse
setor que tem o contato direto com o público. Para os clientes ficou bastante perceptível
à diferença de qualidade no atendimento, eles chegam a indagar sobre quem treina os
funcionários, porque segundo eles, esses funcionários são todos sorridentes, alegres e
prestativos. Quantitativamente não foram mensurados os ganhos em termos de
produtividade, mas segundo o gestor da empresa percebe-se que os funcionários
passaram a trabalharem mais contentes e alegres e isto tem uma repercussão positiva na
produtividade.
A iniciativa desse curso despertou o interesse de muitos outros bares e
38
restaurantes, que querem aprender com a empresa a receita para ganhar em excelência
através do teatro. Muitas empresas em todo Brasil e até mesmo aqui no estado da
Paraíba têm demonstrado interesse em oferecer esse curso, e muitas delas já o fazem
seguindo o exemplo do Salutte. Geralmente são grandes empresas, as pequenas ainda
são poucas que realizam também essa prática, devido a mentalidade dos empresários
que acreditam mais na eficácia de cursos oferecidos em salas de aula que segundo o
gestor já está ultrapassado destacando com o seguindo princípio “aquilo que eu ouço eu
esqueço, aquilo que eu vejo eu lembro e aquiloque eu faço eu aprendo” então o teatro
ele faz, afirma ele, os funcionários aprendem, e só ouvir em uma sala de aula muita
coisa ele esquece e não põem em prática. O gestor pretende profissionalizar esse
treinamento e apresentar esse curso para as grandes empresas do estado, devido o
interesse demonstrado por elas.
Quando questionado sobre que técnicas de treinamento além do teatro são
utilizadas pela empresa foi relatado que os funcionários vão aprendendo com os erros
no dia a dia, os ensinamentos são passados através do gestor que está diretamente ligado
aos funcionários, não são oferecidos, portanto cursos ou outros tipos de capacitação para
eles. A cada dia o gestor aponta as falhas encontradas e mostra a forma correta de
trabalhar e o funcionário vai aprendendo e se corrigindo. Ao final segundo ele a
empresa tem uma pessoa preparada para a função. Ele acredita que preparar o
funcionário em etapas através da experiência no cargo é mais eficaz que treinamentos
oferecidos de uma só vez, onde nesse caso a absorção do conhecimento seria menor
pelo grande número de informações transmitidas diante da baixa capacidade de
assimilação que o funcionário detém, dessa forma eles não absorvem ou esquecem o
conhecimento transmitido. Apenas o pessoal de supervisão e administração participam
de alguns outros treinamentos através de cursos oferecidos fora da empresa envolvendo
temas como: controle do almoxarifado como administrar um pequeno negócio,
manipulação de alimentos, qualidade no atendimento. Estes também têm uma
dificuldade em repassar o conhecimento adquirido. Percebe-se então a partir dessa
informação que a empresa se utiliza do (TLT) treinamento no local de trabalho método
de treinamento já apresentado nesse trabalho e que para muitos pesquisadores ele é um
meio efetivo de facilitar o aprendizado no local de trabalho, devido às pressões de
tempo que as empresas têm e essa técnica oferece rapidez. Conforme Bohlander, Snell
e Sherman (2003, p.146) “ele tem a vantagem de oferecer experiências práticas sob as
condições de trabalho normais e uma oportunidade para o treinador- um gerente ou
39
funcionário sênior- construir bons relacionamentos com novos funcionários”. Muito
embora, segundo esses autores o TLT é frequentemente um dos métodos de treinamento
de implementação mais inadequada devido a: falta de um ambiente de treinamento bem-
estruturado, pouca habilidade de treinamento dos gerentes, ausência de critérios de
desempenho de trabalho bem definidos. Provavelmente esses fatores naturalmente
devem afetar a empresa pesquisada, isto porque quando realizada a entrevista com os
funcionários percebemos uma necessidade por parte deles de um treinamento mais
estruturado.
Segundo o gestor, o curso de teatro aumentou a motivação dos funcionários, mas
outras variáveis contribuíram para esse aumento de satisfação, pois segundo ele a
motivação vem de dentro pra fora, ninguém motiva ninguém, a empresa tem que dá
ferramentas para que as pessoas se automotivem. Dentre essas variáveis foi citada a
alimentação dos funcionários que é a mesma oferecida aos clientes. Segundo ele, esse é
um diferencial em relação aos concorrentes, pois os funcionários comem bem, são bem
tratados, e há um relacionamento de camaradagem para com eles. Além das festinhas
em datas comemorativas onde os funcionários trazem seus familiares para participarem.
“Num resta menor dúvida que aumentou a motivação e o complemento faz com que a
chama fique acesa” afirma o gestor.
É bom lembrar que às vezes o gestor de uma determinada empresa afirma
aumento da motivação com a aplicação de determinadas práticas, mas quando
questionado, os funcionários negam essa afirmação. Esse não foi o caso da empresa
pesquisada onde unanimemente os funcionários, conforme detalhado ainda nesse
trabalho, declararam ter aumentado a motivação para o trabalho após participarem de
curso de teatro. Isto mostra, portanto a eficácia dessa prática não apenas como
instrumento de treinamento, mas também como meio capaz de contribuir para a
motivação dos funcionários.
Dos vários ganhos obtidos com o curso além daqueles já citados anteriormente
pode-se destacar também o aprendizado por parte dos funcionários, a melhoria no
desempenho, no relacionamento dos funcionários entre si e entre superior e subordinado
e na qualidade do serviço oferecido. Diariamente é feita uma pesquisa sobre
atendimento onde é perguntado o que diferencia o Salutte dos demais restaurantes e
90% dos clientes apontam o atendimento.
De acordo com o gestor foi classificada como boa à aceitação por parte dos
funcionários para participarem das aulas de teatro. Devido a pouca preocupação em se
40
capacitarem e em apenas cumprir horários e receber salários, muitos funcionários
entraram no treinamento sem interesse e reclamando. Sendo que quando frequentam o
curso pela segunda vez a aceitação melhora, mas ainda há aqueles que alegam já ter
participado antes nãohavendo necessidade de se fazer novamente. Essa é uma realidade
enfrentada pelas pequenas empresas, ou seja, a resistência que os funcionários têm em
se qualificarem.
A partir do posicionamento do gestor da empresa, ficou evidente então, que o
curso de teatro é uma prática que vem dando certo na empresa pesquisada, pois muitos
ganhos têm sido obtidos principalmente aqueles relacionados com a promoção de um
ambiente mais harmônico através de uma melhoria significativa nas relações
interpessoais dos funcionários. Isso foi possível porque o teatro é considerado um canal
democrático e dinâmico, podendo ser usado tanto como veículo de aprendizado como
de mudança comportamental.
4.4 O Curso de Teatro na Visão dos funcionários
A seguir segue uma análise acerca do curso de teatro oferecido pela empresa
pesquisada segundo a visão dos funcionários:
● Sobre a aceitação para participarem do curso de teatro 56% dos funcionários
afirmaram terem tido uma excelente aceitação. Esse resultado favorece positivamente a
implantação do curso, pois sabemos que em geral há certa resistência por parte dos
funcionários na aplicação de abordagens alternativas pelas empresas, nesse caso
específico apesar dessa resistência houve uma boa aceitação. Outro dado também vem a
contribuir para a eficácia dessa prática na empresa pesquisada é que para 44% dos
funcionários ela foi avaliada como excelente e para 56% como boa.
● Vindo a confirmar a opinião do gestor, por unanimidade os funcionários declararam
que o teatro aumentou a sua motivação para o trabalho. Isto representa um ótimo
indicador levando em conta as dificuldades que as empresas têm em motivar seus
funcionários. Já a opinião não foi unânime quanto ao aumento da produtividade, muito
embora um número considerável de 67% dos funcionários afirmaram terem tido ganhos
em produtividade. Isso se deve tanto as habilidades adquiridas ao longo do curso como
ao aumento da motivação.
● Para 89% dos funcionários esse tipo de treinamento proporcionou aprendizado e
41
dentre esse aprendizado adquirido foi citado principalmente o de relações humanas.
Segundo eles, não havia entre eles uma interação, e o teatro proporcionou isto.
● 78% conseguiram melhorar o desempenho com esta prática, porém segundo os
funcionários há uma necessidade da empresa passar também conhecimentos mais
específicos para o cargo, pois o teatro trouxe melhorias mais relacionadas a
comunicação, a criatividade, a convivência entre colegas e superior, o relacionamento
com o cliente e os desenvolveu como “pessoas” que até então eram bastante inibidos.
De acordo com essa declaração podemos dizer que isso demonstra uma lacuna deixada
pelo curso de teatro oferecido pela empresa em que o conhecimento transmitido,
embora também importante, está mais ligado aos aspectos comportamentais dos
funcionários, e não especificamente ao conhecimento de habilidades técnicas que
também poderiam ser exploradas pelo teatro, através da incrementação de conteúdos
técnicos ao próprio curso de teatro.
● 67% declararam terem ocorrido melhorias na qualidade do serviço oferecido.
Segundo os funcionários, hoje dialogam melhor, existe mais respeito para com os
outros. Essa melhoria foi claramente sentida pelos clientes. E sabemos que isso é
fundamental quando se trata de uma empresa que oferece “serviço”.
● Eles foram unânimes em afirmar que houve melhorias no relacionamento com seus
colegas e seu superior. Esse foi, aliás, um dos aspectos que teve melhor resultado com
a prática do teatro, pois a ênfase dada tanto pelos funcionários como pelo gestor, à
melhoria no relacionamento, foi muito grande.
● O tempo de aula para 44% foi suficiente e os horários eram convenientes para 56%
deles, o restante acha inconveniente pelo cansaço que eles têm ao final do expediente.
● Quanto ao nível de interesse para com o curso de teatro oferecido pela empresa dentre
a escala de valores, 56% deles afirmaram ter muito interesse, 11% algum interesse 33%
não muito interesse. Com esse dado percebemos que esse interesse pelo curso tende a
favorecer a empresa para que ela possa atingir os objetivos pretendidos com o mesmo.
● O desempenho antes do curso de teatro era um pouco baixo para 22% dos
funcionários, médio para 56%, um pouco alto para 11% e muito alto para o restante.
Sendo que depois do curso de teatro o resultado se altera e para 33% foi médio, 22% um
pouco alto e para 44% foi muito alto. Esse resultado vem a confirmar outro já citado em
que a maioria dos funcionários atestou ter conseguido melhorar o desempenho com esta
prática.
● Para 78% deles a empresa realiza além do teatro como prática de treinamento, apenas
42
o treinamento no local de trabalho, técnica já discutida anteriormente. Eles
demonstraram a necessidade de participarem de treinamentos que envolvessem outros
meios e que transmitissem conhecimentos técnicos, mas segundo eles a empresa não
oferece.
● Várias situações foram apontadas onde houve melhora pessoal para os funcionários
através da prática teatral, como a convivência, a amizade e comunicação entre colegas,
hoje eles disseram se identificar mais com o trabalho, se sentem menos inibidos e houve
uma quebra de conflitos internos. A caixa do restaurante Jaqueline Rodrigues, conta que
perdeu a timidez e passou a trabalhar muito melhor, sabendo os momentos em que deve
brincar ou manter a seriedade com a clientela.
● Como aspectos positivos foram apontados vários: antes de o curso ser oferecido pela
empresa haviam pessoas muito fechadas e hoje aprenderam muito, se relacionam e se
comunicam melhor com os clientes e com os colegas, estão mais extrovertidos,
relaxados, participativos, integrados, se conhecem mais, pois segundo eles o contato
com os colegas fora do expediente proporcionou momentos de diálogo e isso os ajudou
bastante.
● Poucos funcionários (33%) apresentaram aspectos negativos do curso, dentre esses
pontos foram citados a inconveniência do horário das aulas, o cansaço para o curso
depois do trabalho, a pouca proximidade do curso com as técnicas de trabalho utilizadas
por eles. Quanto aos motivos que o levaram a fazer o curso de teatro estão os mais
variados: gostar de teatro, influência dos colegas, tornar menos inibido, inicialmente por
obrigação, necessidade da empresa, incentivo da empresa e vontade própria.
Pelo que foi colocado pelos funcionários o curso de teatro não desenvolveu
muito as aptidões técnicas, mas como sabemos que muitas das dificuldades encontradas
no ambiente de trabalho dizem respeito ao relacionamento interpessoal e ao clima
organizacional ele contribui muito para a empresa e para os funcionários. Apenas
palestras, seminários podem não levar ao resultado esperado. De acordo com Spolin
(1979 apud Araújo 2005, p. 49) as práticas teatrais envolvidas na organização propiciam
um relacionamento de grupo muito intenso, buscando colaborar o desenvolvimento
individual e as relações de interdependência entre os participantes da equipe,
estimulando e motivando os mesmos.
43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção desse artigo evidenciou que o teatro deve ser analisado como uma
prática de treinamento abrangente, não meramente a transmissão de técnicas específicas,
mas que visa principalmente mudança de atitudes comportamentais dos funcionários,
contribuindo assim para a melhoria da produtividade, motivação, e relacionamento dos
mesmos. O curso de teatro utilizado pela empresa pesquisada capacitou os funcionários
a como lidar com os problemas comportamentais no trabalho e como pequenos gestos
podem produzir efeitos surpreendentes no dia-a-dia.
A importância do Restaurante Salutte como campo de estudo se deve ao fato da
mesma está se utilizando de uma prática inovadora de treinamento, que é o curso de
teatro para funcionários, e que frequentemente práticas desse tipo eram privilégios
apenas de grandes empresas. O que nos chamou muito a atenção é que ela oferece o
curso de teatro e não apenas apresentações de peças exibidas por autores contratados
fora do ambiente da empresa. E ainda, esse caso se tornou interessante para estudo por
se tratar de uma empresa de pequeno porte e, sobretudo familiar que muitas vezes deixa
muito a desejar em termos de investimentos nos seus funcionários. Muito embora, como
ferramenta alternativa, o teatro foi analisado sob uma ótica crítica, onde podemos
identificar até que ponto a sua aplicação pode contribuir para a empresa e para os
funcionários, pois sabemos que nem sempre essas ferramentas alternativas de
treinamento geram resultados satisfatórios.
Em resumo, entendemos que o curso é importante porque proporcionou
melhorias significativas no relacionamento, mas deixou um pouco a desejar quanto à
transmissão de conhecimentos técnicos para a função, pois de acordo com Robbins
(2002) o treinamento técnico é importante devido às mudanças nas estruturas
organizacionais: as empresas achatam suas estruturas, expandem sua utilização de
equipes e rompem barreiras tradicionais entre os departamentos, assim os funcionários
precisam aprender uma variedade mais ampla de tarefas. Vale ressaltar também que as
habilidades interpessoais são extremamente necessárias ao bom desempenho do
funcionário. Segundo o autor acima citado isso inclui o aprendizado de como ser um
ouvinte melhor, como expressar ideias com maior clareza e como ser um participante de
equipe mais eficaz. Nesse aspecto o curso contribui bastante. Cabe então a empresa
pesquisada oferecer treinamentos que venham suprir as exigências não atendidas pelo
curso de teatro, levando em consideração também que além do teatro a empresa se
44
utiliza apenas das técnicas de treinamento no local de trabalho (TLT) e que sabemos
serem muitas vezes insuficientes para tornar uma mão de obra preparada para enfrentar
os desafios da atualidade.
Dessa forma buscamos contribuir para a literatura existente a partir desse estudo,
onde foram mostrados os ganhos, perdas e dificuldades encontradas por uma empresa
que busca aplicar técnicas inovadoras de treinamento. Podemos concluir então que o
lado lúdico, o de entretenimento tem um forte potencial na transmissão de
conhecimentos para os funcionários. E na empresa estudada o curso de teatro
representa uma excelente estratégia, principalmente para quando se busca mudanças de
atitudes e questões ligadas ao lado emocional do funcionário.
45
REFERÊNCIAS
ARAÜJO, Alexandre Falcão. Teatro e Educação Ambiental: um estudo a respeito de
ambiente, expressão estética e emancipação. 2005. 177f. Relatório final do
projeto de iniciação científica – Universidade de São Paulo – Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba. 2005.
BERNHOEFT, R. Como criar, manter e sair de uma empresa familiar. São Paulo:
SENAC, 1996.
BOHLANDER, George W.; SNELL, Scott; SHERMAN, Arthur W. Administração de
Recursos Humanos. São Paulo: Thomson, 2003.
COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para
alunos de graduação e pós-graduação. Porto Alegre: Bookman, 2005.
COZZO, Vanderlei. Técnicas alternativas deixam de ser vistas como bruxaria e
começam a fazer parte do dia-a-dia das empresas. Revista Profissional e
Negócios. Disponível em <http://www.rhcentral.com.br>. Acesso em: 23 abr.
2007.
DAFT, Richard L. Administração. São Paulo: Thomson Learning, 2005.
DECENZO, David A.; ROBBINS, Stephen P. Administração de Recursos Humanos.
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2001.
FERNANDES, Helenita. Teatro empresarial: uma ferramenta alternativa.
Desenvolvimento, nov. 2002. Disponível em <http://www.rh.com.br>. Acesso
em: 23 abr. 2007.
GIL, Antonio Carlos. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2001.
HAIR, JR., Joseph F et al. Fundamentos de Métodos de Pesquisa em Administração.
Porto Alegre: Bookman, 2005.
LAGO, Fabíola; SANTOS, Cláudia. A hora e a vez da educação a distância. Melhor
gestão de pessoas, São Paulo, n. 215, p. 55-67, out. 2005. Edição Especial.
MARRAS, Jean Pierre. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Futura,
2000.
NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. The Knowledge Creating
Company. Oxford: Oxford University Press, 1995.
OLIVARES, Inês Cozo. Os jogos teatrais no desenvolvimento humano. Revista
Treinamento & Desenvolvimento. São Paulo, p.36-37, out., 1995.
PRÊMIO VIDA PROFISSIONAL. Disponível em:
46
<http://www.premiovp.com.br>. Acesso em : 15.03.2007.
RESTAURANTE SALUTTE. Disponível em: <http://www.salutte.com.br>.
Acesso em: 15.03.2007.
ROBBINS, Stephen P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva,
2002.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de Estágios e de Pesquisa em
Administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e
estudo de caso. São Paulo: Atlas, 2006.
TACHIZAWA, Takeshy. Gestão com pessoas: uma abordagem aplicada às estratégias
de negócios. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
TEATRO EMPRESA. Disponível em: <http://www.teatroempresa.com.br>. Acesso
em: 25.04.2007.
TEIXEIRA, João Carlos de Aquino; LOIOLA, Elisabeth. Práticas Inovadoras de Gestão
de Pessoas e Desempenho Organizacional no Brasil. In: Encontro da ANPAD,
30, 2006, Anais eletrônicos...Salvador-BA.
VASCONCELOS; Eduardo; PASSOS, Rogério. Por uma evolução do teatro
corporativo.
Revista Profissional e Negócios. Disponível em <http://www.rhcentral.com.br>.
Acesso em: 23 abr. 2007.
VIEIRA, Elenir Honorato. Práticas Alternativas em Gestão de Pessoas: astrologia,
feng shui, grafologia, numerologia, radiestesia, shiatsu metafísica ou novas
abordagens em
administração? 2005. 227f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2005.
47
Turismo de eventos: desafíos estratégicos de la ciudad de João Pessoa
(Brasil)
António Carrizo Moreira*
Universidade de Aveiro. Portugal
Alexandra Vieira Batista**
Faculdade Paraibana. Brasil
RESUMEN
Los autores analizan los desafíos estratégicos del turismo de eventos en la
ciudad de João Pessoa, en Paraíba, Brasil. Partiendo de un conjunto de diez entrevistas,
tres con instituciones públicas responsables de la actividad turística del Estado de
Paraíba, dos con instituciones privadas responsables de la captación de eventos y cinco
con empresas pessoenses dedicadas a la promoción y organización de eventos, los
autores concluyen que João Pessoa se encuentra en una fase embrionaria en el turismo
de eventos. Debido a sus características naturales se afirma que João Pessoa puede (y
debe) posicionarse como destino status.
Palabras clave: João Pessoa, turismo de eventos, turismo de reuniones.
Events tourism: strategic challenges of João Pessoa City (Brazil).
ABSTRACT
The authors analyse the main strategic challenges of tourism of events in João
Pessoa city, Paraíba, Brazil. Departing from a set of ten interviews, three with public
institutions responsible for the tourist activities in Paraíba State, Brazil, two
with private institutions responsible for booking events and with five pessoan firms
that provide events services, the authors conclude that João Pessoa is in the embryonic
state in the tourism of events. Due to its natural characteristics, it can be concluded that
João Pessoa can (and should) position itself in the events market as a status destination.
Key words: João Pessoa, tourism of events, meeting tourism.
48
1. INTRODUCCIÓN
El turismo de eventos es un segmento de la demanda turística que incluye el
turismo de convenciones, congresos y reuniones. La evolución del turismo de eventos
presenta um desempeño notable si lo comparamos con los demás segmentos turísticos
(Benimelis y Ordinas, 2003). Es uno de los segmentos más importantes del sector de
servicios del nuevo milenio, y su visibilidad puede presentarse como factor
transformador de una sociedad o región.
El turismo de eventos tiene una particularidad muy específica: la interdependência
entre los diversos agentes interesados, la amplitud del fenómeno Evento y su inter-,
multi- y pluri-disciplinaridad requiere el conocimiento de la realidad económica, social,
cultural y ambiental dentro de una visión sistémica y de oportunidades.
En Brasil, el desarrollo del turismo tiene una memoria intemporal y se relaciona
con El turismo veraniego. En cambio, el desarrollo del turismo de eventos es mucho
más reciente e intenta acomodarse en la temporada baja del turismo convencional, a fin
de complementar el clásico turismo de sol y playa (Batista, 2008).
La importancia del desarrollo del segmento del turismo de eventos se refleja en
lãs inversiones públicas, como son la financiación de palacios de congresos en los
principales centros urbanos (Benimelis y Ordinas, 2003), y las inversiones estructurales
e intangibles (Ponce, 2007), que son importantes para mejorar la oferta.
El turismo de sol y playa en Brasil apuesta por una imagen de carácter informal,
moderna y relajada (Batista, 2008), y con un perfil que corresponde a lo que Plog
(1974) define como un turista mesocéntrico. El turismo de eventos no deberá tener
necesariamente una imagen y un perfil coincidentes con el turismo veraniego.
Desde el final de los años noventa, el turismo convencional de sol y playa en João
Pessoa se viene complementado con el turismo de congresos y reuniones. La
transformación experimentada, tanto en funcionalidad como en protagonismo, es uno de
los grandes retos que la ciudad enfrenta, a fin de poder asegurar un posicionamiento
turístico que, por um lado, estructure la oferta global y, por otro, desarrolle una imagen
y marca que aproveche las potencialidades intrínsecas de la ciudad.
Tal como defiende Ponce (2006), el turismo de eventos induce al crecimiento
basándose para ello en lógicas económicas y territoriales, que no son necesariamente
coincidentes con las lógicas del turismo veraniego. Con el objetivo de profundizar la
49
situación actual de este segmento en esta ciudad, el presente artículo dibuja la situación
estratégica y las características más significativas de la oferta y de la demanda de este
sector, en João Pessoa. Para ello, y dado que la ciudad se encuentra en una fase
embrionaria en el segmento de eventos, se han analizado los resultados de entrevistas
realizadas a profesionales del sector privado, así como a responsables del sector público,
a fin de caracterizar lós desafíos estratégicos que enmarcan su posicionamiento
estratégico.
Este trabajo resume, en parte, la tesis de maestría presentada por la coautora de
este artículo en la Universidad de Aveiro, Portugal. Debe contextualizarse una situación
particular en la que los agentes sociales del negocio turístico buscan, por un lado,
alternativas al negocio convencional y, por otro, intentan posicionarse de forma
diferenciada al turismo veraniego brasileño. Así pues, el objetivo de este artículo es
presentar el posicionamiento estratégico de los agentes públicos y privados de la ciudad
ante el desafío creciente del
segmento de turismo de eventos.
2. CARACTERIZACIÓN DE LA CIUDAD DE JOÃO PESSOA Y SUS
DESAFÍOS ESTRATÉGICOS
João Pessoa es una ciudad de la República del Brasil (figuras 1 y 2) que fue
fundada en 1585, siendo la tercera ciudad más antigua. Conserva una belleza
arquitectónica bien guardada en sus monumentos con 420 anos de historia. Otra
característica única es la presencia de un verde contagiante (figura 3) que le valió el
título de segunda ciudad más arborizada del mundo, después de Paris.
João Pessoa es el punto del continente americano más próximo al continente
africano. Durante todo el año, la temperatura ronda los 29 grados centígrados. Su litoral
privilegiado tiene cerca de 30 kilómetros de playas, todas bellas, limpias y exóticas, lo
que invita al placer y al descanso. Sus playas más conocidas son las de Tambaú,
Manaíra, Bessa, Cabo Branco y toda la Costa del Sol. Entre las ciudades brasileñas
consideradas con potencial turístico, João Pessoa es la que presenta el menor índice de
criminalidad.
51
Para quien visita João Pessoa, el acceso por vía terrestre se realiza fácilmente
por las BR 230, 104 y 101, provenientes del Sur, Norte y Oeste. La BR 101 liga
directamente el Estado de Paraíba, al Norte, con los Estados de Rio Grande do Norte y
Ceará; al Sur, com el Estado de Pernambuco. La BR 104 tiene ligación con los Estados
de Pernambuco y Rio Grande do Norte. La BR 230, también conocida como la
Transamazónica, atraviesa de Este a Oeste todo el Estado de Paraíba.
El aeropuerto Presidente Castro Pinto está localizado en la zona metropolitana,
a 25 Km de las playas y a 15 Km de su área central. Las compañías aéreas BRA, GOL y
TAM tienen vuelos regulares diarios, llegando desde todos los puntos del país; sin
embargo, no recibe vuelos internacionales.
Por lo que se refiere a su capacidad hotelera, la ciudad cuenta con 6.100 plazas,
distribuidas por hoteles clasificados entre 3 y 5 estrellas, en su mayoría concentrados en
la orla marítima (sólo se han contado las estructuras hoteleras capaces de albergar
eventos de pequeño y mediano porte).
Una de las características distintivas de João Pessoa es que su estrategia turística
ha estado concentrada en el turismo de sol y playa. Sólo recientemente ha apostado por
el turismo de eventos.
Figura 3
CARACTERÍSTICA «VERDE» de JOÃO PESSOA
Parque Arruda Câmara. Ponta do Seixas
52
La imagen de turismo veraniego de muchas ciudades ha condicionado las prácticas
y las inversiones en infraestructuras en la gran mayoría de los destinos turísticos
brasileños.Gran parte de los autores y de los modelos propuestos para implementar con
éxito estrategias de productos turísticos están basados en segmentos y/o destinos que no
tienen em cuenta el turismo de eventos (Plog, 1974; Butler, 1974; Miossec, 1976), por
lo que no se pueden aplicar directamente al mismo sin antes hacer alguna reflexión.
Por ejemplo, Plog (1974) clasifica la demanda turística en tipos psicográficos,
(alocéntricos, semi-alocéntricos, mesocéntricos, semi-psicocéntricos y psicocéntricos).
No obstante, cuando se intenta usar esta tipología en el turismo de eventos, su
aplicabilidad directa es poco adecuada porque la decisión de visitar el destino turístico
depende mucho más de la capacidad de la ciudad destino en negociar el evento que de la
característica psicográfica del turista.
Butler (1974), de acuerdo con estas características psicográficas, creó el concepto
de ciclo de vida de las zonas turísticas para explicar la evolución espacio-temporal de
los destinos y para comprender la dinámica asociada a la demanda de servicios
turísticos y de las respectivas infraestructuras. El estudio del ciclo de vida de un destino
es de la mayor importancia, porque sus objetivos varían según la fase de desarrollo en la
que el destino se sitúa. En el caso de João Pessoa, debido a inversiones estructurales
pasadas, el turismo veraniego puede encontrarse en una fase mientras que el de eventos
puede estar en otra. Para analizar en qué fase se encuentra el turismo de eventos se
tomarán en cuenta los principales factores de éxito para que un destino se posicione en
el segmento de eventos, a saber (Espejo y Ponce, 1999): la disponibilidad de salones
para reuniones; comunicaciones y accesos; la oferta hotelera; la imagen de la ciudad; el
apoyo institucional; la política de precios y el clima.
Miossec (1976) desarrolló un nuevo modelo que presenta los cambios evolutivos e
los que se destacan la influencia de estructuras ya existentes (pre-turísticas o turísticas).
También estableció un modelo que pretende mostrar la evolución temporal y espacial de
las estructuras y de los procesos de consumo en los destinos. Según Vera (1997: 235) el
modelo de Miossec se configura como «uno de los intentos más complejos de
comprensión teórica de la formación de espacios turísticos o de su evolución».
Partiendo del estudio de las relaciones económicas y espaciales existentes entre las áreas
emisoras y las áreas receptoras de visitantes, Miossec (1976) analiza el proceso
evolutivo de los destinos turísticos, en una escala regional, estableciendo cuatro focos
de observación: el próprio destino turístico, la red de transportes, el comportamiento del
53
turista y las actitudes de las empresas y de la población de las áreas receptoras. Ante el
objetivo definido en el primer apartado, se analizan estos cuatro focos en el turismo de
eventos.
Gilbert (1990) defiende que los destinos pueden clasificarse en una línea continua
entre áreas status y commodity. Las áreas status son demandadas por el mercado
turístico a través de los atributos únicos de sus productos. Estos atributos pueden ser
genuinos o imaginarios y, por lo tanto, el destino puede ser considerado como
insustituible, lo que aumenta la fidelidad de los consumidores y su propensión a pagar
precios más altos.
En las áreas commodity los destinos son fácilmente sustituibles, son bastante
sensibles al precio y a los cambios económicos. A su vez, los turistas tienen poca
conciencia de los aspectos o atributos particulares del lugar. En este caso, los turistas
elegirán estos destinos basados, únicamente, en el precio que van a pagar.
Gilbert (1990) afirma que los destinos deben intentar posicionarse como áreas
status, a fin de mejorar su imagen, fidelizar más turistas y recoger más beneficios
económicos. Sin duda, João Pessoa deberá dotarse de infraestructuras, servicios
estratégicos y equipamientos que le permitan, por un lado, posicionarse adecuadamente
en el segmento de eventos y, por otro, aprovechar su capacidad e imagen en el segmento
veraniego. Al hacerlo, deberá evitar las inevitables experiencias en las que los destinos
status gradualmente se deslizan hacia áreas commodity (Buhalis, 2000).
Los eventos pueden ser usados como centros de atracciones en torno a los cuales
um destino puede desarrollar una temática, una imagen y unos atractivos. Este tipo de
estrategia es apropiada para pequeñas y grandes ciudades y para áreas rurales que no
poseen una infraestructura turística de grandes proporciones. Así pues, la manera como
un destino se posiciona será el resultado de uno o más eventos y de la temática
subyacente. En esta estrategia es deseable que este destino tenga uno o más eventos de
peso para que las imágenes de esos eventos y del destino se hagan inseparables,
consolidándose mutuamente (Getz, 1997).
Aunque Getz (1991) defiende que lo esencial en el segmento de eventos es que la
ciudad-destino pueda optar por una política de macro-eventos, del Olmo (2004) es
bastante más crítica con los macro-eventos, sobre todo por el despilfarro de dinero
público en inversiones cuyo valor añadido es bajo y por el empleo generado, que es
mucho más coyuntural que estructural. Esta autora también defiende que los perjuicios
pueden ser numerosos y los beneficios limitados. En el caso de João Pessoa, se puede
54
afirmar que el afán «desarrollista» está también presente – como se muestra en la figura
4 – en donde se observa que la sostenibilidad ambiental no ha sido tomada en
consideración.
Figura 4
PLAYA DE TAMBAÚ
3. LA OFERTA DE EQUIPAMIENTOS DEL TURISMO CONGRESUAL
Según Matias (2004), los eventos pueden ser clasificados teniendo en
cuenta su público, interés, tipología y dimensión. Martin (2003) propone la siguiente
tipología, que tiene en cuenta el público participante:
• Micro eventos – hasta 100 personas;
• Pequeños eventos – de 101 a 500 personas;
• Medianos eventos – de 501 a 2.500 personas;
• Grandes eventos – de 2.501 a 5000 personas;
• Macro eventos – más de 5.000 personas.
En relación al tipo de interés hay una notoria diversidad, lo que destaca la gran
variedad de los eventos. Estos pueden ser (Matias, 2004): artísticos, científicos,
culturales, cívicos, deportivos, folclóricos, de recreo, promocionales, religiosos y
turísticos.
Para Britto y Fontes (2002) los tipos de eventos son los siguientes: programas de
visitas, exposiciones, encuentros técnico-científicos, encuentros de recreo, ceremonias,
eventos deportivos, inauguraciones, lanzamientos, excursiones, desfiles y subastas.
55
Tal como refirieron Benimelis y Ordinas (2003), hay dos principales tipos de
equipamientos en torno a los cuales pivotan las actividades del turismo de eventos: los
paláciosde congresos y reuniones y los hoteles. Los palacios de congresos y reuniones,
bien sean públicos o privados, poseen una infraestructura ideada específicamente para
este segmento turístico. A su vez, los hoteles están capacitados para albergar, sobre
todo, eventos de menor magnitud, con un número de delegados inferior al recibido por
los palacios de congresos y reuniones. No obstante, cuando las reuniones son de gran
dimensión, existe una complementariedad entre los primeros y los segundos.
Como referimos en el cuadro 1, João Pessoa se caracteriza por una capacidad
hotelera orientada para los micro y pequeños eventos. Hay dos infraestructuras con
capacidad de albergar eventos de mediana dimensión. La actuación decidida por parte
del ayuntamiento está reflejada en la inversión de un Centro de Convenções e Feiras
(figura 5) para albergar grandes y mega congresos, a fin de posicionarse como una
ciudad moderna y competitiva en el segmento del turismo de eventos.
Cuadro 1
INSTALACIONES CONGRESUALES EN LA CIUDAD DE JOÃO PESSOA
Sa
las
Ap
oy
o
Au
dit
orio
Ma
cro
-ev
en
tos
Gra
nd
es
ev
en
tos
Med
ian
os
ev
en
tos
Peq
ueñ
os
ev
en
tos
Mic
ro
ev
en
tos
Tropical Hotel Tambaú 6 2 X
Best Western Hotel 1 X
Xênius 1 X
Victory Business Flat 1 X
Igatu Praia Hotel 1 X
Nethuana 1 1 X
Hardman X
J.R. 3 X
Annamar 1 X
Tambaú Flat 1 X
Atlântico Praia Othon 1 X
SEBRAE/PB 1 X
Espaço Cultural Lins do Rego 2 X
Centro de Convenções e Feiras X
56
Obviamente, los equipamientos existentes en João Pessoa son insuficientes y no
tienen una capacidad adecuada para albergar eventos de grandes dimensiones. La esfera
privada ha tenido un papel muy dinámico en la promoción de la actividad turística y se
ha posicionado como una alternativa al clásico turismo de sol y playa. No obstante, es la
administración pública la que se debe encargar de dinamizar esta modalidad ferial
invirtiendo en grandes infraestructuras, a fin de albergar grandes y macro-eventos.
4. METODOLOGÍA
Debido a la gran competencia que existe entre los diversos hoteles, todas las
peticiones de encuestas fueron declinadas. Así pues, lamentablemente, no ha sido
posible obtener datos sobre el número de eventos organizados por los diversos hoteles a
lo largo de los años, en João Pessoa, sobre el número de personas que han atendido esos
eventos, sobre la duración de la estancia ni sobre los gastos realizados mientras
permanecían en dichos eventos. La información disponible sólo da cuenta del conjunto
de eventos que se han realizado en 2007 (cuadro 2).
Figura 5
CENTRO DE CONVENÇÕES E FEIRAS DE JOÃO PESSOA
57
Cuadro 2
EVENTOS ACADÉMICOS REALIZADOS EN JOÃO PESSOA EN 2007
Plankton Synposium (2007)
Congresso Nordestino de Recursos Humanos (2007)
Congresso Regional de Microbiologia Clínica (2007)
Conferência Distrital do Rotary (2007)
Encontro Regional de Terapia Intensiva (2007)
Congresso Nacional de Guias de Turismo (2007)
X Congresso Nacional de turismo com Base Local (2007)
Congresso Norte Nordeste de cardiologia (2007)
III Congresso Nacional de Avaliação Psicológica do IBAP (2007)
XII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e Contextos (2007)
XII Congresso Nordestino de Neurocirurgia (2007)
22ª Jornada N/NE de Cirurgia Plástica (2007)
Encontro Regional dos Clubes da Melhor Idade (2007)
V Congresso de Corretores de Imóveis Norte-Nordeste (2007)
Congresso Norte Nordeste de Saúde (2007)
14° Encontro Nacional de Química Analítica (2007)
XXII Simpósio Brasileiro de Banco de Dados (2007)
XXI Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (2007)
VI Congresso Internacional de Palma e Cochinlha (2007)
VI Encontro Geral da CACTUSNET (2007)
XVI Encontro Brasileiro de Professores de Francês (2007)
Olimpíadas Estudantis Brasileiras (2007)
IV Simpósio Internacional do Abacaxi (2007)
FASHION TOUR BR (2007)
XIV Congresso Brasileiro de Custos (2007)
Fuente: Batista (2008)
Para reducir esta dificultad, decidimos entrevistar a los entes públicos y privados
que intervienen directamente en la organización de eventos en João Pessoa. Así pues, se
han realizado 10 entrevistas, tres con instituciones públicas responsables del sector
turístico, dos con instituciones privadas responsables de la captación de eventos y con 5
58
empresas pessoenses dedicadas a la promoción y organización de eventos —conocidas
como organizaciones profesionales de congresos (OPC).
Debido a las dificultades habidas en seguir un estudio cuantitativo, hemos
decidido proseguir con un análisis cualitativo. Los diez entrevistados fueron
seleccionados teniendo en cuenta el hecho de que todos ellos se relacionan directamente
con los asuntos de la elaboración y ejecución de eventos en João Pessoa.
La metodología utilizada en este estudio generó una gran cantidad de datos, lo
que ya Miles (1979) reconoció ser el gran problema de los estudios cualitativos. Para
uniformizar los datos obtenidos, se elaboró una encuesta base para todos los
entrevistados, de forma que permitiera una entrevista profundizada con los altos
ejecutivos de las instituciones. Esta entrevista semi-estructurada ayudó no sólo a
explorar los puntos de vista de los entrevistados, sino que también les dio a los
investigadores la oportunidad de explicar y explorar los objetivos de la investigación.
Las encuestas utilizadas durante las entrevistas se presentan en los cuadros 3 y 4. A los
entrevistados se les dio la oportunidad de exponer ampliamente sus puntos de vista,
manteniéndose, a la vez, la estructura básica impuesta por los tópicos previstos, como
defienden Moser y Kalton (1971).
Cuadro 3
GUIÓN DE LA ENTREVISTA REALIZADA A LAS INSTITUCIONES
PÚBLICAS Y PRIVADAS RELACIONADAS CON LA CAPTACIÓN DE
EVENTOS
¿Existe un Plan Estratégico para el turismo de Paraíba? Y, en concreto, para João
Pessoa?
¿Cuáles son las principales acciones que contribuyen para un turismo sostenible
en Paraíba? ¿Y en João Pessoa?
¿Cómo se afronta el Turismo de Eventos?
¿Cuántos eventos fueron patrocinados por el gobierno estatal en 2006? ¿Y en
2007?
¿Hay algún desglose para cada tipo de eventos?
¿Cuál es el nivel de cualificación de los profesionales del turismo de eventos en
Paraíba? ¿Y en João Pessoa?
59
¿Cuál es la imagen, identidad o marca de la ciudad?
¿Hay algún estudio hecho sobre el turismo de eventos de João Pessoa?
¿Existe alguna indicación gubernamental que indique la creación de un
departamento de estudios y de desarrollo?
¿Cuáles son las principales prioridades de esta institución para el desarrollo del
segmento de Turismo de Eventos en João Pessoa?
¿Cuáles son las acciones previstas para el futuro? ¿Cuál es el presupuesto para las
inversiones futuras en el segmento turismo de eventos?
¿Cómo interpreta la accesibilidad de João Pessoa para la realización de eventos
turísticos? ¿Qué puede ser mejorado?
¿Cuál es su impresión sobre los indicadores y la información?
¿Qué piensa sobre las informaciones turísticas?
¿Cuál es su impresión sobre la seguridad?
¿Qué piensa sobre la atención al turista?
¿Cómo analiza el paisaje y el ambiente como atractivos turísticos en João
Pessoa?
¿Cuál es su opinión sobre el estado de preservación de la ciudad? ¿Y sobre la
polución?
¿Qué opina del clima? ¿Gastronomía? ¿Cultura y Patrimonio?
¿Cuál es su opinión sobre las actividades de animación? ¿Y sobre los precios de
los servicios turísticos?
En su opinión, ¿cuáles son los principales puntos fuertes y debilidades de João
Pessoa para realizar eventos? ¿Hay oportunidades y amenazas?
¿Algunas sugerencias para mejorar el turismo de eventos en João Pessoa?
5. JOÃO PESSOA. REALIDAD PÚBLICO-PRIVADA
En general, ha habido una gran sintonía de opiniones, tanto entre los entes
públicos como en los privados. De esta forma se presentan las opiniones generales
obtenidas en las entrevistas.
Existe un plan director para la actividad turística de João Pessoa así como un
plan estratégico para el Estado de Paraíba. Se ha intentado sincronizar este plan
estratégico con el plan director. En ese plan estratégico está definida la necesidad de
60
mayores inversiones en infraestructuras para posicionar a João Pessoa frente a las
capitales estatales más próximas: Recife y Natal (que son los principales competidores
en el turismo de eventos). Aunque está definida la inversión en el Centro de
Convenções e Feiras, no existe una definición objetiva para el turismo de eventos ni
para la imagen que se pretende para la ciudad. Aunque todos fueron unánimes en
destacar el turismo de eventos, éste continúa no como un segmento propio, sino como
una actividad complementar del turismo veraniego.
Cuadro 4
GUIÓN DE LA ENTREVISTA REALIZADAS A LAS OPC
¿Cuánto tiempo hace actúa en la ciudad de João Pessoa?
¿Cuántos y cuáles eventos organizó en 2007?
¿Cómo visualiza la actuación de los órganos públicos ligados al turismo de
eventos de João Pessoa? ¿Qué se puede mejorar?
¿Cómo puede ser mejorado el turismo de eventos en los proyectos públicos?
¿Esta empresa está ligada al João Pessoa Convention Bureau?
¿Cuál es la imagen de João Pessoa utilizada en la captación de eventos? ¿Qué
puede cambiarse en esa imagen?
¿Qué se ha hecho en el turismo sostenible de João Pessoa?
¿Cuál es su opinión sobre las estructuras de eventos existentes?
¿Cuál es el nivel de cualificación de los profesionales del turismo de eventos en
Paraíba? ¿Y en João Pessoa?
¿Cómo interpreta la accesibilidad para la realización de eventos turísticos? ¿Qué
puede ser mejorado?
¿Cuál es su impresión sobre los indicadores y la información?
¿Qué piensa sobre las informaciones turísticas?
¿Cuál es su impresión sobre la seguridad?
¿Qué piensa sobre la atención al turista?
¿Cómo analiza el paisaje y el ambiente como atractivo turístico en João Pessoa?
¿Cuál es su opinión sobre el estado de preservación de la ciudad? ¿Y sobre la
polución?
¿Qué opina del clima? ¿Gastronomía? ¿Cultura y Patrimonio?
61
¿Cuál es su opinión sobre las actividades de animación? ¿Y sobre los precios de
los servicios turísticos?
En su opinión, ¿cuáles son los principales puntos fuertes y debilidades de João
Pessoa para realizar eventos? ¿Hay oportunidades y amenazas?
¿Algunas sugerencias para mejorar el turismo de eventos en João Pessoa?
Hay convergencia de opiniones en lo que respeta al aeropuerto: si éste no se
transforma en aeropuerto internacional, perderá competitividad frente a Recife y Natal,
sus dos principales competidores, lo que relegará a João Pessoa a una estrategia de
captación de eventos nacionales y/o regionales.
Debe ser mejorada la cualificación profesional de los profesionales del turismo,
en general, y de los del turismo de eventos, en particular. Esta es la opinión casi
unánime de todos los entrevistados. Si el turismo veraniego se afronta de una forma
muy informal y relajada por la gran mayoría de los turistas, el turismo de eventos, como
señalaron los entes privados, tendrá que ser mucho más profesional, para poder ser
competitivo y sostenible a largo plazo.
Lamentablemente, no existe ninguna política de apoyo a las empresas turísticas
del Estado de Paraíba, lo que deja al segmento de eventos en una posición marginal con
respecto al turismo veraniego. Debido a justificativas financieras federales, sólo se
concedieron «apoyos institucionales» en el año 2007.
La identidad e imagen de João Pessoa como destino turístico no ha sido aún
elaborada. En realidad, el verde de la ciudad, la belleza natural de su costa, su historia y
su patrimonio arquitectónico están desaprovechados tanto en el segmento sol y playa
como en el segmento del turismo de eventos. Así pues, es necesario complementar el
segmento de eventos con el turismo veraniego. Los entrevistados se pronunciaron
mayoritariamente a favor del abandono de una imagen basada solamente en la belleza
natural de su costa (dado que todas las ciudades costeras brasileñas la utilizan). Un
punto fuerte a favor de João Pessoa, que permanece sin explotar, es su aspecto
geográfico único: que es el punto más oriental de las Américas.
En cuanto a accesibilidad hay una concentración excesiva en las autovías y poco
interés en alcanzar que el aeropuerto se abra a vuelos internacionales, lo que facilitaría
la internacionalización del segmento de eventos en João Pessoa.
Aunque la falta de seguridad sea vista como un problema nacional en Brasil, la
situación en João Pessoa es razonable, de acuerdo con los entrevistados. La justificación
62
aparente para este hecho es que la ciudad es mucho más pequeña que las grandes
metrópolis brasileñas.
La atención y las informaciones turísticas no son razonables. Tanto los
entrevistados del sector público como los del sector privado manifestaron su desagrado
por el nivel de insatisfacción de estas dos características. En la atención turística, las
empresas privadas reclaman programas de apoyo y entrenamiento, a fin de permitir una
recualificación de los profesionales del turismo (sobre todo en el segmento de eventos).
Por otro lado, la Secretaría de Turismo de Paraíba ha reconocido la precariedad de las
informaciones turísticas, sobre todo para los turistas extranjeros en Brasil, que se sienten
inconformados con la falta de información en otro idioma que no sea el portugués.
Lamentablemente, el patrimonio cultural no está siendo aprovechado. Como
tercera ciudad más antigua del país, João Pessoa tiene una arquitectura colonial que no
se ha sabido aprovechar desde el punto de vista turístico, sobre todo por estar
concentrada en el turismo de sol y playa.
Finalmente, otro aspecto que ha sido calificado unánimemente como pobre, es la
actividad de animación turística, puesto que se encuentra subdesarrollada.
Cuadro 5
ANÁLISIS DAFO DE JOÃO PESSOA COMO DESTINO DE EVENTOS
Puntos fuertes Debilidades
• Mayor conciencia de la importancia del
turismo de eventos para los sectores
públicos y privados.
• Hospitalidad demostrada por los habi-
tantes de la ciudad.
• Seguridad y tranquilidad.
• Excelente accesibilidad entre los lugares
de eventos y los hoteles.
• El destino se encuentra en un estadio
embrionario.
• Playas propias dentro de la ciudad.
• Excelente estado de preservación de su
patrimonio natural, histórico y cultural.
• Falta de inversiones públicas en el
segmento de eventos.
• Ausencia de un centro de convenciones
para grandes y macro-eventos.
• Falta de una imagen de marca de la
ciudad.
• Ausencia de vuelos internacionales.
• Falta de clarificación estratégica para el
turismo de eventos.
• Bajo nivel de cualificación profesional.
• Falta de acciones coordinadas entre el
sector público y el sector privado.
63
Oportunidades Debilidades
• Inversiones en actividades de entreteni-
miento.
• Mayor concentración en turistas psico-
céntricos.
• Apertura a vuelos internacionales.
• Creación de una identidad y marca dife-
renciada del resto de las ciudades costeras
brasileñas.
• Desarrollo de un plan estratégico para el
turismo de João Pessoa que segmente
claramente un turismo de eventos.
• Posicionarse como destino status evi-
tando la falta de notoriedad de algunos
destinos commodity brasileños.
• Desarrollo de una política integradora de
turismo de eventos en el sector turístico.
• Inversión en actividades recreativas,
artísticas y culturales.
• Complementar el turismo de eventos con
el patrimonio arquitectónico.
Inversión en la artesanía local.
• Crear sinergias entre las características
ambientales de João Pessoa y el turismo
sostenible.
• Proximidad (relativa) de las ciudades de
Natal (Estado do Rio Grande do Norte) y
de Recife (Estado de Pernambuco), que
realizan eventos internacionales.
• Un crecimiento sin preocupación con
políticas turísticas sostenibles.
• Bajo nivel de cualificación profesional
en el turismo de eventos.
• Falta de alianzas entre el sector público
y privado.
El análisis DAFO con las principales fortalezas, debilidades, oportunidades y
amenazas del turismo de eventos de João Pessoa se presenta en el cuadro 5.
6. CONCLUSIONES
Desde el punto de vista estratégico y como resultado de las entrevistas, se puede
afirmar que João Pessoa está en una fase inicial, siguiendo el concepto del ciclo de vida
de las zonas turísticas de Butler (1974). Igualmente, siguiendo la propuesta de Miossec
64
(1976) se puede afirmar que el propio destino turístico: (a) es una realidad distante en el
segmento internacional de eventos; (b) su red de transportes es poco llamativa para
conseguir nuevos eventos internacionales; y (c) el turista no está familiarizado con este
destino (ni con ninguna imagen del mismo), por lo que está igualmente en una fase
embrionaria.
Siguiendo la tipología de Gilbert (1990), se puede afirmar que João Pessoa
puede (y debe) posicionarse como destino status. No obstante, en el segmento eventos,
dada su precariedad de infraestructuras, sólo consigue captar eventos nacionales y/o
regionales, por lo que se puede concluir que, en caso de que no consiga mejores
infraestructuras, podrá ser relegado a un destino commodity.
La diferencia entre un destino turístico competitivo y diferenciado y un producto
mediocre condenado a desaparecer reside, esencialmente, en la existencia de una
adecuada planificación, en la optimización de los recursos, en la definición de un plan
que aglutine los varios factores que intervienen en el desarrollo turístico y de la
coordinación de las estrategias de concepción y comercialización del producto turístico.
De la conjugación de todas estas variables, directa o indirectamente relacionadas con el
turismo en general, y el turismo de eventos en particular, debe resultar un todo
coherente e integrado, que facilite la decisión por el modelo a seguir de desarrollo
turístico.
Las acciones basadas en la inmediatez y en la discontinuidad deben ser
sustituidas por un proceso sistémico de desarrollo turístico, fundamentado en acciones
concretas, efectivas y articuladas de forma que se jerarquice lo importante y lo
necesario, enfocando el segmento de eventos de una forma sostenible.
Como fue visto en la sección anterior, y dado el estadio embrionario en que se
encuentra el segmento de eventos, se puede afirmar que esta ciudad carece de
infraestructuras, lo que condiciona un mayor desarrollo de este tipo de turismo
relacional. El apoyo de los responsables públicos implicados en este negocio se entiende
como esencial, dada la fase embrionaria en que el segmento se encuentra. La oferta
hotelera, aún siendo de calidad, no cuenta con una capacidad suficiente para albergar
grandes y macro-eventos, por lo que deberá ser reforzada por una intervención pública.
La ausencia de aeropuerto es un factor que limita a la hora de captar eventos
internacionales. El desarrollo de una identidad e imagen única, que permita diferenciar a
João Pessoa de sus competidores nacionales, es de importancia central para un
65
posicionamiento de valor añadido en el segmento de eventos. No obstante, esta imagen
debe ser considerada junto con la imagen que se pretende para la ciudad de João Pessoa.
66
BIBLIOGRAFÍA
BATISTA, A. (2008): Turismo de Eventos: Desafios Prementes da Cidade João Pessoa,
Tesis de Maestría, Universidad de Aveiro, Aveiro, Portugal.
BENIMELIS SEBASTIAN, J. B. y ORDINAS GARAU, A. O. (2003): «El turismo de
reuniones y negocios en Mallorca», Cuadernos de Turismo, Vol. 12, pp. 35-51.
BRITTO, J. y FONTES, N. (2002): Estratégias para Eventos: Uma Ótica do Marketing
e do Turismo. Aleph, São Paulo.
BUHALIS, D. (2000): «Marketing the competitive destination of the future», Tourism
Management, Vol. 21(1), pp. 97-116.
BUTLER, R. W. (1980): «The concept of a tourist area cycle of evolution», Canadian
Geographer, Vol. 24, pp. 5-12.
ESPEJO MARÍN, C. y PONCE SÁNCHEZ, M. D. (1999): «Turismo de congresos y
reuniones en la ciudad de Murcia», Cuadernos de Turismo, Vol. 3, pp. 45-59.
GETZ, D. (1991): Special Events – Managing Tourism. Butterworth & Heinemann,
Oxford.
GETZ, D. (1997): Event Management & Event Tourism. Cognizant Communication
Corporation.
GILBERT, D. (1990): «Strategic marketing for national tourism», The Tourist Review,
Vol. 1, pp 18-27
MARTIN, V. (2003): Manual Prático de Eventos. Atlas, São Paulo.
MATIAS, M. (2004): Organização de Eventos: Procedimentos e Técnicas. Manole, São
Paulo.
MILES, M. B. (1979): «Qualitative data as an attractive nuisance: the problem of analy-
sis», Administrative Science Quarterly, Vol. 24, pp. 590-602.
MIOSSEC, J. M. (1976) : «Eléments pour une Théorie de l’Escape Touristique». Centre
des Hautes Études Touristiques. Série C, nº 36.
MOSER, C. A. y KALTON, G. (1971): Survey Methods in Social Investigation. Gower,
Aldershot.
OLMO, C. del (2004): «Poco pan y mucho circo: el papel de los macroeventos en la
ciudad capitalista», Archipiélago. Cuadernos de Crítica de la Cultura, Vol. 62, pp.
69-80.
PLOG, S. (1974): «Why destination areas rise and fall in popularity», Cornell Hotel and
Restaurant Administration Quarterly, Vol. 14(4), pp. 55-58.
67
PONCE SÁNCHEZ, M. D. (2006): «Las administraciones ante el turismo de reuniones
y congresos en Murcia», Papeles de Geografía, Vol. 44, pp. 95-118.
PONCE SÁNCHEZ, M. D. (2007): «Turismo de reuniones en la ciudad de Murcia. Un
enfoque desde el tejido empresarial involucrado», Cuadernos de Turismo, Vol. 19,
pp. 105-131.
VERA, J. F. (1997): Análisis Territorial del Turismo: Una Nueva Geografía Del Turismo.
Ariel, Barcelona.
68
Sistemas de autogerenciamento: um estudo de caso em uma indústria
calçadista
Ana Cláudia Cavalcante Melo*
Faculdade Paraibana-FAP
Sablina Cibele Fernandes Alves**
Associação Paraibana de Ensino Renovado - ASPER
Resumo
Os sistemas de autogerenciamento estão fundamentados em um das vertentes
mais fortes da Administração moderna, pois baseia-se na descentralização do poder,
assumindo um caráter de gestão participativa onde cada um é responsável por seus
resultados. Este artigo aborda a gestão de qualidade no processo produtivo de artigos
esportivos em uma indústria manufatureira. Teve como objetivo analisar possíveis
ganhos em produtividade, através da utilização de sistemas de autogerenciamento da
qualidade, avaliando a utilização de ferramentas e treinamentos que auxiliassem os
operadores a gerir suas próprias operações e resultados. O presente trabalho constitui
uma pesquisa de campo, bibliográfica e documental, utilizando como embasamento
teórico os grandes estudiosos de qualidade e gestão da produção. Para obtenção de
informações foram aplicados questionários e observação sistêmica no contexto das
atividades fabris. Após analise dos dados conclui-se que: O sistema de
autogerenciamento é um conceito que se implementado de forma coerente gera uma
mudança na atitude organizacional, culminando na eliminação de desperdícios com
retrabalhos e perdas durante o processo, mas para a sua efetividade as competências de
conhecimento, habilidade e atitude devem ser incentivadas e aprimoradas. Entretanto,
na organização avaliada não houve ganho de produtividade com a utilização das
ferramentas de autogerenciamento que hoje são aplicadas, pois o estilo de liderança da
organização não oferece independência, e informações suficientes, ao chão de fábrica,
para que os operadores tornem-se responsáveis por suas atividades.
Palavras - chave: Qualidade. Produtividade. Autogerenciamento. Redução de custos.
69
1. Introdução
A evolução do pensamento e percepção das pessoas deste século, regem as
regras de um mercado cada dia mais consumista e globalizado, onde as organizações
que tem como fim a maximização dos resultados, vivem um busca frenética pela
fidelização dos clientes, tentando antecipar-se aos seus desejos, e principalmente às
necessidades daqueles que estão dispostos a pagar pela garantia que terá um produto de
qualidade. Daí a importância de unir as ações de trabalho, com produtividade e
qualidade assegurada.
Há muitas definições para qualidade, mas segundo Maximiano (1997) as mais
importantes abordam os níveis de excelência (o melhor que se pode fazer, o padrão
mais elevado de desempenho), valor (qualidade que significa ter mais atributos, usar
materiais ou serviços raros, que custam mais caro), especificações (qualidade planejada,
definição de como um produto ou serviço deve ser), conformidade (produto ou serviço
está de acordo com as especificações do projeto), regularidade (uniformidade, os
produtos ou serviços serem idênticos) e adequação ao uso (qualidade de projeto e
ausência de deficiências).
As primeiras ações direcionadas à “qualidade” nos sistemas produtivos surgiram
no início do século passado, com trabalhos embasados apenas na existência de alguns
operadores que atuavam tanto na produção quanto na avaliação final do produto. Só em
algumas grandes organizações existiam setores com a responsabilidade única de
inspeção de qualidade, e que sempre se reportavam ao gerente da fábrica.
Neste período o conceito de qualidade se resumia clara e exclusivamente ao
atendimento das especificações do produto, como um setor de auditoria de produto, os
processos eram concluídos e ao final, a qualidade dava seu parecer de conformidade ou
não-conformidade com as especificações. Ações mais focadas na otimização de
processos e produtos, voltada a qualidade começaram a ser realizadas de forma mais
intensiva a partir da década de 70, então começa a se pensar em separar a fabricação da
inspeção. A qualidade começava a abranger não só a avaliação final do produto, mas
também a realizar análise e intervenções nos métodos e processos, a qualidade passa a
ser vista como uma mudança de atitude na organização.
Deste modo este estudo procura analisar a influencia que a utilização de sistemas
de autogestão, com a utilização de ferramentas da qualidade, terão no nível de qualidade
70
dos produtos, na produtividade fabril e na redução de custos no setor de montagem de
calçados de uma industria manufatureira.
1.1 Gestão da Qualidade
Segundo Kotler (1988), qualidade é o conjunto de aspectos e características de
um produto ou serviço que proporcionam a satisfação de necessidades declaradas e
implícitas. A qualidade total é definida por este autor como a chave para geração de
valor para a organização e satisfação de seus consumidores. Mas não há uma definição
única para qualidade, os próprios “gurus” apresentam de formas diferentes. Para Juran
(2000), qualidade significa adequação ao uso. Para Deming (2000), qualidade significa
atender e se possível exceder as expectativas de consumidor. Para Grosby (1995),
qualidade significa atender as especificações.
As primeiras ações direcionadas à “qualidade” nos sistemas produtivos surgiram
no início do século passado, com trabalhos embasados apenas na existência de alguns
operadores que atuavam tanto na produção quanto na avaliação final do produto. Só em
algumas grandes organizações existiam setores com a responsabilidade única de
inspeção de qualidade, e que sempre se reportavam ao gerente da fábrica. Neste período
o conceito de qualidade se resumia clara e exclusivamente ao atendimento das
especificações do produto, como um setor de auditoria de produto, os processos eram
concluídos e ao final, a qualidade dava seu parecer de conformidade ou não
conformidade com as especificações. Segundo Maximiano (1997) ações mais focadas
na otimização de processos e produtos, voltada a qualidade começaram a ser realizadas
de forma mais intensiva a partir da década de 70.
A partir da segunda metade do século 19 começa a se pensar em separar a
fabricação da inspeção. A qualidade começava a abranger não só a avaliação final do
produto, mas também a realizar análise e intervenções nos métodos e processos, a
qualidade passa a ser vista como uma mudança de atitude na organização.
1.2 Gestão da Produção
Segundo Slack (1997) a Administração da produção trata da maneira pela qual
as organizações produzem bens e serviços, é o termo utilizado para as atividades,
decisões e responsabilidades inerente ao processo produtivo. Processo este que deve ser
analisado e melhorado continuamente.
71
De acordo com a ABNT, trecho da NBR ISSO 9000:2000, “qualquer atividade,
ou conjunto de atividades, que usa recursos para transformar insumos (entradas) em
produtos (saídas) pode ser considerado como um processo”.
Uma das principais medidas do desempenho e eficiência de um processo
produtivo é a produtividade. Aumentar a produtividade é produzir cada vez mais e/ou
melhor com cada vez menos. Em essência, produtividade é uma medida da eficiência
com que recursos de entrada (insumos) de um sistema de agregação de valor são
transformados em saídas (produtos).
Para Oliveira (2007) produtividade é a otimização dos recursos disponíveis para
a obtenção de melhores resultados. A avaliação de eficiência, através de medidas de
produtividade, tem sido extensivamente usada por economistas, engenheiros, gestores e
outros profissionais, dada sua grande importância, tanto macroeconômica - com geração
de riqueza com recursos escassos -, quanto microeconômica - com geração de níveis
mais altos de retorno sobre investimento escasso. Para se atingir autos níveis de
produtividade é essencial o conhecimento detalhado do desempenho do sistema
produtivo e a utilização de todas as informações disponíveis.
1.3 Motivação e autogestão
Nos dias atuais, de profundas e aceleradas transformações econômicas, políticas
e sociais, e que os produtos ficam obsoletos com muita rapidez, o autogerenciamento da
qualidade numa visão ampla de pró-atividade é o divisor entre o sucesso e o fracasso de
uma organização, pois tanto nos dá a certeza de um produto com qualidade, quanto
diminui o custo da produção, reduz o retrabalho e por fim aumenta a lucratividade da
empresa. Dentro desta realidade de hoje podemos dizer que o que mais impulsiona o
crescimento de uma organização são as pessoas, munidas de conhecimento, satisfeitas e
motivadas a fazer o novo, que identifiquem os problemas do processo, intervenham na
produção, corrijam e sugiram mudanças na organização da produção, Paladini (2000)
ratifica: “Nos dias de hoje a maioria das estratégias da gestão da qualidade visam o
envolvimento da mão-de-obra no esforço para produzir qualidade em processos,
produtos ou serviços, diante da inegável importância e precedência dos recursos
humanos sobre os demais recursos da organização ”.
72
1.4 Ferramentas estatísticas da Qualidade
Dentro da gestão de qualidade no longo da história foram desenvolvidas e
aprimoradas ferramentas que auxiliam a organizar, agrupar os dados de forma a tirar
conclusões e chegar na real causa de alguma falha no processo afetando a qualidade do
produto, até mesmo nos produtos semi-elaborados, que não chegaram ao produto final,
mas que compromete os característicos da qualidade e apontam um desvio padrão
dentro do processo produtivo. Mensurando e quantificando os dados coletados destes
desvios é possível chegar na causa principal.
Segundo Davis, Aquilano e Chase (2001) as sete ferramentas estatísticas da
qualidade tem esta função na análise das causas, como também no controle diário da
produção, representando os dados em forma gráfica o que facilita a leitura e
compreensão das informações, estas ferramentas são: Fluxograma de processos, Listas
de verificação, Carta de controle, Diagrama de dispersão, Diagrama de casa e efeito,
Histograma e Gráfico de Pareto.
1.5 Sistema de autogerenciamento para manufaturas no setor calçadista
De acordo com Paladini (2000), no mundo globalizado onde, todas as
organizações, que dispõem de recursos financeiros, têm acesso as mais altas
tecnologias, a mão-de-obra assumiu o papel de diferencial competitivo. È o capital
humano e intelectual das organizações que impulsiona o crescimento e aperfeiçoamento
dos métodos de trabalho e da melhoria continua.
A indústria calçadista caracteriza-se como um modelo de produção
manufatureira, onde a economia de matéria-prima, a produtividade e a qualidade
dependem da qualificação dos operadores. Conforme a figura abaixo do layout de um
modelo de célula de montagem de calçados, cada operador opera um equipamento, e em
alguns casos mais de um operador é necessário para realização de uma única operação.
Portanto, por mais investimentos em tecnologia que se implemente, as rotinas de ganho
ou perdas do processo são sempre controladas por quem opera.
73
Fonte: Acervo documental da organização avaliada
Figura 1 – Layout de uma célula de montagem de calçados
Tendo em vista a importância da capacitação, desenvolvimento e
comprometimento da mão-de-obra direta nas atividades e controles do processo, a idéia
do sistema de autogestão é capacitar o operador tecnicamente, munindo-o de
conhecimentos sobre o processo, produto e treinado sua capacidade analítica e de
tomada de decisão. Atribuindo-lhe autonomia e responsabilidade sobre a etapa do
processo que é de sua responsabilidade. A fim de que ele opere, analise e gerencie seus
próprios resultados.
2 Metodologia
Considerando as definições de Prestes (2003), a presente pesquisa pode ser
classificada quanto aos fins como, exploratório-descritiva, e quanto aos meios, como
uma pesquisa de campo.
Os dados primários deste estudo foram obtidos por meio da observação
participante e do questionário de respostas fechadas, elaborados a partir da
fundamentação teórica. Os dados secundários foram obtidos por meio de relatórios e
indicadores de desempenho, fornecidos pelos setores responsáveis pelos cálculos de
produtividade e eficiência da organização, como também de pesquisas bibliográficas,
74
revistas, jornais, periódicos, sites de pesquisa acadêmicas etc.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores foram analisados de forma qualitativa
de acordo com o conceito de análise de conteúdo proposto por Bardin (2000), e de
forma quantitativa através da aplicação das ferramentas de freqüência relativa ou regra
de três simples, da média aritmética e da análise de regressão linear. Os dados obtidos
com o questionário foram avaliados paralelamente com as anotações realizadas durante
a fase de observação. A pesquisa foi realizada em uma unidade produtiva responsável
pela produção de artigos esportivos localizada no estado da Paraíba. Os sujeitos da
pesquisa foram representados pelos operadores de uma das células de montagem de
calçados, contendo 20 participantes.
2.1 Analise dos resultados
O questionário foi aplicado em uma das células de montagem dos calçados, o que
corresponde a 20 operadores incluindo o líder que é o responsável pelos resultados da
célula. Esta célula foi escolhida por apresentar os resultados mais negativos em termo
de produtividade e avaliação de qualidade dos produtos.
3 Perfil dos Entrevistados
Quanto ao gênero a célula é composta por 60% operadoras do sexo feminino e
40% de operadores do sexo masculino. Pesquisas do SEBRAE apontam que a industria
calçadista é um dos ramos que mais empregam a mão-de-obra feminina, devido a
algumas características inerentes a este gênero e indispensáveis a dinâmica celular,
como: polivalência e facilidade de comunicação. Com relação a faixa etária 70% dos
colaboradores tem idade entre 20 e 30 anos, 20% de 31 à 40 anos e 10% de 41 a cima. A
característica de maioria de operadores jovens é um ponto positivo para implementação
de um sistema de autogestão e QT (Qualidade Total) pois indivíduos nesta faixa etária
tendem a ser mais abertos a mudanças.
Em relação ao nível de escolaridade 10% dos colaborares cursaram o ensino
médio incompleto e 90% o ensino médio completo. O que é um bom indício visto que
controlar o processo é necessário ter conhecimentos bascos em analise estatística,
matemática e interpretação de texto, mas também mostra uma certa acomodação, visto
que nenhum dos operadores ao menos iniciou um curso mais avançado como por
exemplo uma graduação.
75
3.2 Efetividade da autogestão no processo fabril
De acordo com o conceito CHA (conhecimento, habilidade e atitude), para o bom
desempenho de um individuo em suas atribuições e necessário que sejam desenvolvidas
três características: conhecimento, habilidade e atitude.
A habilidade está diretamente ligada a motivação e a experiência no
desenvolvimento da tarefa. De acordo com o questionário aplicado e as avaliações
sistêmicas, a empresa está sempre a procura de novas formas de motivar e recompensar
seus colaboradores, o que tem gerado bons resultados, pois de acordo com a pesquisa
95% dos colaboradores afirmam estarem motivados a trabalhar em busca da melhoria
continua.
O conhecimento está diretamente ligado ao treinamento a que o colaborador foi
submetido e ao nível de informações a que ele tem acesso. A empresa avaliada tem uma
política forte na gestão de treinamentos, e tida como bench mark pela concorrência
neste sentido, mas os treinamentos sempre são voltados a técnica e quase nunca a
preparação do desempenho em tomadas de decisão e responsabilidades. A empresa
também dispõe de um aprimorado controle estatístico de processos, onde informações
sobre a produtividade e a qualidade dos produtos são registradas e divulgadas em forma
de indicadores, mas a organização peca na me as tratativas dos mesmos ficam restritas
no nível supervisores e gerentes. Os gráficos até são expostos no processo, mas apenas
em quadros. 85% dos colaboradores afirmam que sabem ode encontrar tais informações,
mas nem sempre estão dispostos a ir até a informação.
Embora a maioria dos colaboradores sinta-se motivada, capacitada, e saiba onde
encontrar as informações de performance, apenas 45% afirmam ter autonomia para
tomada de decisão mais efetivas dentro do processo, o que afeta diretamente a atitude
do colaborador, pois não há espaço para ações e implementação de idéias. 85% dos
colaboradores afirmam existir sistemas de qualidade que verifiquem e corrijam desvios
na qualidade dos processos e produtos, mas que por muitas vezes as não-conformidades
só são detectadas na inspeção final do produto acabado efetuada pela qualidade, o que
gera autos custos com retrabalhos e até inutilização de produtos. A avaliação do
processo não é eficaz o suficiente para travar e tratar problemas de qualidade antes da
agregação de valor do produto.
Verifica-se que os colaboradores são estimulados a desenvolver seus
conhecimentos e habilidade, mas não a atitude de estarem responsáveis por seus
76
próprios resultados, e intervindo no processo a procura de melhorias e ganhos
contínuos, apenas 40% dos entrevistados afirma possuírem autonomia para implementar
ações de melhoria no processo produtivo. Abaixo, comparativo de uma pergunta do
questionário aplicado, que exemplifica as competências que os operadores afirmam
possuir:
Figura 2 – Comparativo de competências
A empresa possui uma cultura forte de formação de seus funcionários, e sempre
proporciona treinamentos e revisões que possibilitem a melhoria continua do
aprendizado dos operadores, porém as informações obtidas nos treinamentos não são
95%
5%
HABILIDADE - Motivação e experiência
SIM NÃO
40%
60%
ATITUDE - Autonomia para agir
SIM NÃO
85% 15%
CONHECIMENTO - Teinamento e informações
SIM NÃO
77
bem utilizadas, os operadores não são envolvidos nas problemáticas, e nem nos planos
de ação para resolução de problemas.
Em alguns casos as idéias são lançadas, mas não são analisadas, o que gera
descontentamento e desestimulo por parte do gerador. Os planos de ação, e buscas por
melhoria normalmente são coordenados por setores de apoio como por exemplo o “setor
de qualidade”, sem participação ativa das pessoas que realmente produzem o calçado,
esta participação limita-se ao nível de supervisão ou liderança de célula.
A organização utiliza algumas ferramentas que compõem o sistema de
autogestão, como por exemplo: Chek list de start up, coleta e analise de informações
sobre qualidade e produtividade. Porém, estas informações não são devidamente
trabalhadas, e nem sempre estes resultados chegam até o chão de fábrica, pois são
divulgadas em murais e não são todos que procuram conhecê-los. Os colaboradores
sabem onde encontrar as informações, mas nem sempre elas estão em fácil acesso, o
mesmo se aplica para as especificações, instruções de trabalho, e ajudas visuais.
Constatou-se que não há autonomia por parte dos operadores para tomarem
decisões (mesmo que supervisionadas), os operadores não são responsabilizados pelos
resultados obtidos, ou seja nem premiados quando conseguem bons resultados e nem
punidos quando obtêm resultados abaixo do esperado. Isto gera certo status quo, uma
acomodação, já que sua rotina permanece idêntica independentemente dos resultados da
célula. Tendo em vista que o autogerenciamento é um método de gestão participativa
onde cada colaborador é responsável, além da execução, pela analise e gerenciamento
de suas atividades, de forma a garantir que toda operação da organização seja executada
com excelência, este tipo de liderança que não fornece autonomia descaracteriza o
sistema de autogestão.
Conclusão
O sistema de autogestão apoiado pelas ferramentas da qualidade, é um método
que se bem utilizado contribui de forma sensível na redução de custos com a não-
qualidade e baixa produtividade, mas para que sua implementação seja valida é
necessário que as competências de conhecimento, habilidade, e atitude sejam cultivadas
e praticadas na organização.
Os colaboradores em todos os níveis hierárquico da organização devem estar
envolvidos nos sistemas que buscam a melhoria contínua da organização. Devem ser
78
responsabilizados pelo desempenho obtido, gerando uma mudança na atitude de cada
um, até o ponto que se posicionem como autogestores e não apenas como executores
das tarefas.
79
REFERÊNCIAS
ABNT. NBR ISSO 9000:2000 – Sistemas de gestão da qualidade: fundamentos e
vocabulário. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Tecnicas, 2008a.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000.
CHAMON, E. Gestão Integrada de Organizações. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.
DAVIS, M. M.; AQUILANO, J. N.; CHASE, R. B. Fundamentos da Administração
da Produção. [S.L.]: Bookman, 2001.
DEMING, E. Out of crisis. New York Mit Press, 2000.
GROSBY, P. Os 14 Passos da Melhoria da Qualidade não terminam nunca. Folha
Management. São Paulo, [s.n.], 1995.
JURAN, J. M. The Quality Improvement Process. In Juran’s Qualit Hondbook 5.ed.
Ed. MacGraw, DEMING, WE. Out The Crises Firsy MIT Press. Cambridge
MA, 2000.
KOTLER, P. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e
contole. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1988.
MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da Administração: da escola científica à
competitividade em economia globalizada. São Paulo: Atlas, 1997.
OLIVEIRA, D. P. R. Administração de Processos. São Paulo: Atlas, 2007.
PALADINI, E. P. Gestão da Qualidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000.
PRESTES, M. L. M. A Pesquisa e a construção do conhecimento científico: do
planejamento aos textos, da escola á academia. 2.ed. Ver. atual. e ampli. São
Paulo: Respel, 2003.
SLACK, N; CHAMBERS, S; HARLAND, C; HARRISON, A; JOHNSTON,R.
Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1997.