edição 37 (completa)

32
R$ 5 edição nº 37 junho/julho 2015 ISSN 2236-7969 nº37 R$ 5,00 O RIO DE JANEIRO CONTINUA DEMOLINDO Remoções destroem favelas na “Cidade Olímpica” KBELA - A LIBERTAÇÃO DA MULHER NEGRA Filme debate processo de embranquecimento

Upload: revista-virus

Post on 24-Jul-2016

243 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Edição 37 Completa (junho/julho 2015) da Revista Vírus

TRANSCRIPT

Page 1: Edição 37 (completa)

R$5edição nº 37junho/julho

2015

ISS

N

2236

-796

9

nº37 R$ 5,00

O RIO DE JANEIRO CONTINUA DEMOLINDO Remoções destroem favelas na “Cidade Olímpica”

KBELA - A LIBERTAÇÃO DA MULHER NEGRAFilme debate processo de embranquecimento

Page 2: Edição 37 (completa)

EXPEDIENTE:Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Caio Amorim, Camila Medeiros, Camille Perrisé, Chico Motta, Débora Nunes, Fernanda Alves, Gustavo Ferreira, Joyce Abbade, Laura Ralola, Leandro Santos, Letícia Catete, Mariana Moraes, Matheus Ribeiro, Matheus Thomaz, Raoni Tenório, Thais Linhares | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Beatriz Trevisan, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Lu Sudré, Marcelo Araújo, Renato Silva, Roberta Veloso, Sabrina Santos e Sara Sallum | Brasília: Alina Freitas, Erin Fernandes e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco | Ceará: Caio Erick, Joana Vidal, Livino Neto, Lucas Moreira e Vicente Monteiro | Piauí: André Café, Nadja Carvalho e Sarah Fontenelle | Paraná: Caroline Tetericz, Elisa Riemer, Tiago Silva e Vinicius Prado | Mato Grosso do Sul: Eva Cruz, Jones Mário, Marina Duarte, Rafael de Abreu

e Tainá Jara | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho e Rafael Balbueno | Santa Catarina: Camila SaplakDiagramação: Caio Amorim

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper

Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do SEPE-RJ

#Impressão: Ramandula tel: (21) 3124-3488

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação, Editora e Comércio de Revistascom sede no Rio de Janeiro. Telefone: 21 3502-7877

virusplanetario.com.br

editoramalungo.com.br

Confira todos os serviços de comunicação que prestamos :

Curta no facebook.com/virusplanetarioAnuncie na Vírus: www.tinyurl.com/anuncienavirus

COMUNICAÇÃO E EDITORA

Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Entidade Parceira:

DDH

Capa: Ilustração deMatheus Ribeiro - Ribs

Edição 37 daRevista Vírus PlanetárioJunho/Julho 2015

Comconteúdo: +MEDIAFA

ZENDO

Fazer uma revista de esquerda é uma tarefa nada fácil. Especialmente, quando se trata de questões financeiras. Infelizmente, a Vírus neste momento se encontra em uma situação de crise financeira. Estamos buscando mais parceiros entre sindicatos e organizações de luta que compreendam o papel primordial da comunicação para uma sociedade justa e sem opressões.

Entretanto, até nos estabilizarmos, esse processo pode demorar mais alguns meses. Portanto, estamos pedindo a sua ajuda para que a revista continue viva, relatando a realidade de forma crítica, irreverente para contruir uma outra sociedade.

Acesse: apoie.virusplanetario.net para saber como participar

MUITAS MÃOS PARA CONSTRUIR

UMA MÍDIA ALTERNATIVACOLETIVA E DEMOCRÁTICA!

Participe de nossa campanha de doação em:

apoie.virusplanetario.net

>>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

[email protected] ou via facebook.

Queremos sua participação! Sua opinião sai na próxima edição!Correio

Viral

Page 3: Edição 37 (completa)

EditorialsumárioP

assamos da metade de 2015. Um ano no qual presenciamos, até então, uma série de acontecimentos que nos deixam com péssimas perspectivas do que virá. O avanço do conservadorismo do Congresso e do Senado trouxe prejuízos diretos à população, principalmente para as pessoas pobres e trabalhadoras. O cenário não

é diferente para as mulheres e para as pessoas LGBT que tem tido seus direitos negados, suas pautas ridicularizadas sem encontrarem espaço para suas demandas nas instâncias desta farsa democrática em que vivemos.

Se nas eleições presidenciais de 2014 havia uma falsa polarização de projetos entre PT e PSDB, nota-se que as concessões feitas pelo PT na escalada ao poder, nos idos de 2002, trouxeram consequências catastróficas. Os mandos e desmandos de Eduardo Cunha na presidência da Câmara que através de manobras inconstitucionais está levando o barco para o caminho que lhe interessa navegar mostra que não há mais nenhuma remota possibilidade de mudança pelo caminha da conciliação de classes. Ainda mais diante de uma realidade em que a direita se rearticula, saindo às ruas pedindo não só o impeachment da presidenta Dilma, mas também mostrando que busca um caminho extremo com pedidos de intervenção militar.

Não há nada mais difícil do que fazer oposição de esquerda a um governo como o do PT hoje, que traiu a classe trabalhadora e todos os grupos oprimidos de tantas maneiras que torna sua defesa impossível. Ainda assim, o caminho da oposição de direita nos levará para um futuro tão ou mais nefasto. Por isso é hora de fortalecer a lutas pelos nossos direitos e tomar as ruas, as praças, a internet, os locais de trabalho, as escolas e universidades, todos os espaços reivindicando nossas pautas.

O papel da mídia contra-hegemônica é fundamental neste processo e por isso nós da Vírus seguimos firmes em frente, buscando crescer e resistir, mesmo que todas as barreira sejam colocadas no nosso caminho. Esperamos ter vocês conosco nesta jornada de luta, todos os dias. Se haverá um horizonte melhor para nós será este que nós construiremos. O caminho da transformação está em nossas mãos.

4 Hamilton Octávio de

Souza_Aliança maldita deu

no que deu

6 Bula Cultural_Filme Kbela

8 Bula Cultural_Indicações e

contra

9 Entrevista Inclusiva_Orlando

Zaccone

12 CAPA_Redução da

Maioridade Penal

18 Remoções: Em meio aos

escombros, a resistência

21 Varal Artístico

22 Piauí_Salve o Pedral

24 Traço livre

25 Humor

26 Humor_Passatempos Virais

Afin

al, o

que

é a

Víru

s? Muitos não entendem o que é a Vírus, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas

necessária para os virgens de Vírus:

Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumi r

nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra

as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com

a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas

batalhas do cotidiano.

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo

a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade

em que haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media e Revista o Viés de Santa

Maria (RS) nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta

pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

Acredite num jornalismo pela diferença,

contra a desigualdade

Page 4: Edição 37 (completa)

HAMILTON OCTAVIO DE SOUZAHamilton é jornalista, professor

na Pontifícia Univerdade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da equipe da Revista

Vírus Planetário

ALIANÇA MALDITADEU NO QUE DEUOs trabalhadores e as

organizações populares e de esquerda precisam juntar

forças para enfrentar a grave crise política e econômica gerada nos

governos do PTO

O povo brasileiro está pagando caro agora o preço de uma aventura política e eleitoral iniciada em 2002 quando a principal liderança do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, conduziu o

partido a uma aliança com as forças tradicionais do em-presariado e do conservadorismo nacional. Desde então, o que se viu foi o ataque paulatino às esquerdas, dentro e fora do PT, a completa domesticação dos sindica-

tos e movimentos sociais mais combativos na área de influência petista, a despolitização da luta de classes e uma escalada ainda incompleta de con-cessões ao capital, à direita e aos postulados do neoliberalismo.

Anteriormente os governos de Collor de Mello e de Fernando Henrique Cardoso já haviam bom-bardeado as atribuições do Estado, desmantelado a Constituição de 1988, retirado direitos dos traba-lhadores e escancarado o país aos interesses mais

mesquinhos e predadores dos capitais nacional e internacional. Vivemos o pior dos horrores de

1990 a 2002, com a liquidação do patrimônio público nos leilões das privatizações, com a “flexibilização” das leis trabalhistas e a entrega das atividades essenciais, entre as quais saúde e educação, ao jogo dos mercados.

Mas, até então, amplos setores populares e a maioria das organiza-ções sociais e de esquerda forma-vam as mais diferentes trincheiras da oposição. Os campos de delimitação entre esquerda e direita, progressistas e conservadores estavam bem mais claros e definidos, sem a confusão de

uma geleia geral.

No entanto, a guinada iniciada pelo PT em 2002, com vistas exclusivamente às eleições e ao seu projeto particular de poder contribuiu decisivamente para que, nos últimos 13 anos, não só boa parte do

Dilma-Mãos de Tesoura - Ilustração: Ribs - facebook.com/matheusribsoficial

Vírus Planetário - junho/julho 20154

Page 5: Edição 37 (completa)

cial o setor financeiro e os rentistas detentores dos títulos do tesouro nacional.

Enquanto cortava verbas do FIES, restringia o Prouni com novas regras para o Enem, e reduzia a um terço os recursos do Pronatec, o governo anunciava novas linhas de crédito aos empresários pelo BNDES, Banco do Brasil e Caixa Federal. Enquanto deixava as universidades federais sem recursos nem mesmo para o pagamento dos serviços de limpe-za, o governo anunciava pacote de privatização de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, com financia-mento público. Enquanto negociava ajuda para os grupos empresariais envolvidos no esquema de corrup-ção da Petrobras, o governo edita-va medidas provisórias para cortar seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte.

Ao mesmo tempo em que trata-ram de alimentar sua aliança econô-mica com os banqueiros e os em-presários, com inúmeros danos para os trabalhadores, os governos do PT também priorizaram as suas alian-ças políticas com os partidos tradi-cionais, a começar do PMDB, mais PR, PRB, PP, PTB e outras siglas me-nores. Por isso mesmo não se pode dizer que tenha ocorrido alguma contradição entre a vitória de Dilma, em 2014, e o aumento das forças conservadoras no Congresso Nacio-nal – dominado pelo reacionarismo evangélico, pelos ruralistas e pelas bancadas da truculência punitiva e policial contra qualquer avanço no campo dos direitos humanos, da cultura e do comportamento.

PT aderisse ao ideário do pensa-mento dominante, como também – ao não fazer o devido combate político pela esquerda – possibili-tou que os setores carcomidos da direita, cautelosos desde o fim do regime militar, voltassem a ganhar desenvoltura e nova energia no seio das classes médias e dos assalaria-dos em geral.

Qualquer análise honesta da conjuntura atual precisa obrigato-riamente considerar os graves er-ros e desvios políticos cometidos pela cúpula dirigente do PT, que, ao longo de anos, foi responsável pela metamorfose vivida pelo partido, a começar dos abraços dados nos antigos inimigos dos trabalhadores, o abandono das bandeiras e das lu-tas socializantes, até assumir sem escrúpulo ou vergonha o papel de gestores da burguesia e operadores do aparelho de repressão do siste-ma. Ou alguém ainda tem dúvida de que o PT não seja um partido da ordem capitalista?

Durante algum tempo – já no controle do governo federal – os discursos e as práticas a favor do modelo político-econômico foram dourados com benesses sociais na direção de atendimento das parce-las mais miseráveis da população, na recuperação do salário mínimo, na redução da secular e gritante desigualdade. Tais programas evi-dentemente foram bem recebidos e conquistaram levas de agradecidos e apoiadores, enfim, uma base social a reconhecer os méritos da situação diante do descaso explícito dos go-vernos anteriores.

Vivemos entre 2008 e 2013, nos governos do PT, a grande ilusão do paraíso terrestre em que toda a so-ciedade e todos os brasileiros esta-vam ganhando: os pobres ganharam o Bolsa-Família, o Prouni, o FIES, o novo cálculo do salário mínimo ba-seado em PIB crescente; e os ricos ganharam nos impostos desonera-

“ alguém duvida que o PT seja um partido da ordem capitalista?

dos, nas obras e serviços superfatu-rados, nos empréstimos com juros subsidiados, no superávit primário garantido, na especulação imobiliária e na brutal transferência de renda possibilitada pelo juro elevado e o crédito incentivado.

No final das contas, a tal políti-ca lulista segundo a qual todos ga-nham, na verdade dava aos pobres menos do que a décima parte do que era dado aos ricos. Por isso mesmo foram os ricos que quebra-ram o Estado brasileiro, que sugaram até o último tostão as reservas do BNDES, os repasses do Tesouro e os fundos que deveriam ter destinação exclusivamente social – entre eles o FAT e FGTS -, mas que foram desti-nados para tentar segurar a deban-dada do empresariado no momento em que a sangria dos recursos públi-cos chegou ao esgotamento. O co-lapso já estava evidente no início de 2014, mas em ano eleitoral o governo e a direção do PT pelo estelionato e deixaram a verdade sobre a crise para depois das eleições.

Entre o Dilma-1 e o Dilma-2 ficou evidenciado que o discurso dourado do PT para enganar os trabalhado-res e os pobres estava sendo des-mascarado pela prática – mais preci-samente pelas medidas do chama-do “Ajuste Fiscal”, que nada mais fez do que cortar investimentos e pro-gramas da área social e vitaminar o superávit primário, com a elevação dos juros, que é o mecanismo que permite rápida transferência de ren-da da maioria da população e dos recursos públicos para os que es-peculam com o dinheiro, em espe-

ERROS E DESVIOS

DISCURSO E PRÁTICA

Vírus Planetário - junho/julho 2015 5

Page 6: Edição 37 (completa)

A LIBERTAÇÃO DA MULHER

NEGRA

Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Foto: Leliane de Castro

Curta debate processo de embranquecimento e a libertação dos padrões eurocêntricos.

Vírus Planetário - junho/julho 20156

Page 7: Edição 37 (completa)

Na página da Kbela na mesma rede social, afirma-se: “fizemos questão de ter nesse time Maria Clara Araújo, (...) [que] vem se destacando na luta por empoderamento das mulheres trans no Brasil, com discurso e ativismo atravessados pela questão racial. (...) Não dá para enfren-tar o racismo sem discutir o transfeminismo negro.”

A questão da representatividade, aqui, também pesa bastante. “Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro aponta que, nos últimos 10 anos, apenas 4.4% das atrizes no elenco principal de filmes na-cionais eram negras. No mesmo período, nenhum dos mais de 200 filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista. ‘E eu fiquei com essa pesquisa da UERJ na cabeça. Tem pouca mulher preta cis hétero no cinema nacional, imagina as trans*?’”.

É possível acompanhar a caminhada do Kbela pelo newsletter disponível no site, pela página no Face-book e pelo canal no Youtube, onde já está disponível o primeiro teaser.

Por Beatriz Trevisan

“Uma experiência audiovisual sobre ser mulher e tor-nar-se negra.” É assim que o curta Kbela, criado, dirigido e produzido por Yasmin Thayná, é definido em seu site (kbela.org). Em entrevista para a Ovelha Mag, Yasmin completa: “O filme é uma sequência de metáforas pre-sentes no cotidiano de boa parte das mulheres negras do mundo”.

De acordo com a página do curta no Facebook, a proposta do projeto é trazer ao público as manifes-tações do racismo e da resistência, por meio de uma narrativa poética. A tentativa é de aumentar a repre-sentatividade e romper com a hegemonia branca das produções artísticas, que, aliado à mídia racista, faz com que a maior parte das grandes produções que chegam até nós seja composta de equipes de maioria branca, com poucos atores principais e diretores negros. Em entrevista para o Geledés, Yasmin conta que a produção foi inspirada no filme Alma no Olho, do cineasta negro brasileiro Zozimo Bulbul.

A produção nasceu a partir do conto Mc K_bela, posteriormente adaptado para o teatro. A história fala sobre uma jovem negra moradora da baixada fluminen-se que, após anos se submetendo às pressões euro-cêntricas da sociedade, decide, finalmente, se libertar e aceitar seus cabelos naturais, sem interferências quími-cas. O filme, assim, retrata a realidade da mulher negra, em especial a brasileira, que é pressionada a se encaixar num ideal branco e aprende a refutar sua ancestralida-de, e o processo de se desprender disso e empoderar-se, com foco na transição capilar.

A idealizadora do projeto convocou, pelo Facebook, mulheres negras a contarem suas histórias de libertação do embranquecimento socialmente imposto e de situa-ções cotidianas em que o racismo estava presente. Em apenas três dias, foram recebidas mais de cem histórias.

Foram dois dias de gravação no Rio e, hoje, o docu-mentário já está fazendo muito barulho: o teaser mar-cou presença no 8º Encontro de Cinema Negro Brasil, África & Caribe, em maio e junho, no Odeon, e foi in-dicado pelo Blogueiras Negras na lista das 25 mulheres negras mais influentes da web de 2014. O lançamento do curta está previsto para agosto desse ano.

Uma das atrizes do projeto é a pernambucana Maria Clara Araújo, que, com apenas 19 anos, já é um grande nome na luta afrotransfeminista. A jovem foi uma das 95 pessoas que puderam usar seu nome social no ENEM. Aprovada no início do ano na UFPE, ela representa um marco para as transexuais e travestis de todo o Brasil, pois, após sua chegada, a universidade regulamentou o uso do nome social nos registros. “Eu existo! Nós existi-mos!”, clama, em seu manifesto por igualdade, postado no seu perfil do Facebook.

Fotos: Alile Dara Onawale

INTERSECCIONALIDADE

Vírus Planetário - junho/julho 2015 7

Page 8: Edição 37 (completa)

IndicaçõesIndignos de Vida

Logo no título, o livro de Orlando Zac-cone já traz uma contradição presente em nossa sociedade: a de que há pesso-as dignas de viverem e outras indignas. E os indignos são exterminados através de uma cultura punitivista que existe em toda a sociedade, mas é ainda pior no Rio de Janeiro. Unindo teoria política e filo-sófica com trabalho investigativo, o au-tor demonstra como o punitivismo é um caminho para a despolitização dos reais problemas da sociedade. Se a punição não é o caminho, qual o caminho para a transformação da socieda-

de? Fica a pergunta a ser respondida nas páginas deste livro.

Sense8

A série estreou cercada de mistérios, e que pouco se sabia além do

fato de que era assinada pelo irmão e pela irmã Wachowski, criado-

res de Matrix e outros sucessos. A história, que ainda paira entre a

ficção científica e a espiritualidade ao fim da primeira temporada,

fala de um grupo e 8 pessoas que vivem em diferentes partes do

mundo e estão intimamente conectadas, podendo conversar e “tro-

car de lugar”. Não é isso que encanta sobre Sense8 e sim a constru-

ção dos personagens que é feita de forma extremamente intrincada

e realística, fazendo com que nos identifiquemos com suas vivên-

cias e experiências, que vão desde enfrentar o mundo sendo uma

mulher trans lésbica até ser um jovem negro motorista de van em

Nairobi. A luta contra a exploração e a opressão não é só plano de

fundo, é a realidade destes personagens apaixonantes e tão huma-

nos quanto todos nós. A ligação entre os personagens nos lembra

de que a alegria e a dor do outro é a nossa também e propicia cenas

lindas que nos fazem transbordar amor e compaixão e inflar os pul-

mões de esperança para a luta diária por um mundo em que haja

felicidade possível para todas as pessoas.

Dica extra: Assista a Sense8 e outras séries e filmes sem pagar, onli-

ne através do aplicativo PopcornTime - www.popcorntime.io

ingerir em caso de marasmo

ingerir em caso de repetição cultural

ingerir em caso de alienação

POSOLOGIA

manter fora do alcance das crianças

nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico

extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

ContraindicaçõesVingadores 2

A Viúva Negra de-sempenha um pa-pel importante nos Vingadores, e tem tudo para ser uma heroína poderosa e forte como qualquer Homem de Ferro ou Thor. Mas quem viu a segunda edição do longa pode nem ter percebido isso. Há uma preocupação constante para que a persona-gem e a atriz atendam às expectativas do público masculino. O filme é bom, tem atores talentosos, é divertido. O problema é que a hipersexualização feminina marca presença e faz com que a repre-sentatividade seja deixada de lado. É como se uma mulher não pudesse ser forte por si mesma, sem servir a homem algum. Se é para ser mais forte do que um homem, vamos pelo menos enfraquecer esse poder com roupas sexy - que claramente não foram feitas para salvar o mundo -, com um ro-mance, e um comportamento sexual (direcionado, é claro, somente ao sexo masculino) permanente.

Vírus Planetário - junho/julho 20158

Page 9: Edição 37 (completa)

ENTREVISTA INCLUSIVA:

“A função do delegado é soltar”. Esta colocação emblemática de Orlando Zaccone, delegado da polícia civil do Rio de Janeiro que contraria todos os esteriótipos que possamos atribuir a um delegado. Conhecido por ser contra o sistema de punição vigente e a favor da total legalização das drogas como única forma de acabar com a criminalização da população negra e pobre, Zaccone fala sobre a grande falácia da redução da maioridade penal e sobre como o Estado cria inimigos para esconder os verdadeiros culpados em entrevista a Vitor Suarez para o canal Trocando Ideia: www.youtube.com/trocandoideia

ORLANDO ZACCONE

O que é a geração do inimigo?Todo inimigo é imaginário, construído socialmente. As

bruxas foram grandes inimigas da sociedade. Por que as mulheres foram tidas como inimigas naquele período? É na Inquisição que nós temos a construção do modelo pu-nitivo e do extermínio de inimigos. O que estava em jogo ali? Havia uma disputa pelo saber, e naquele momento quem o detinha eram as mulheres. A Igreja,uma burocra-cia formada por homens, queria se apropriar desse saber. A bruxaria era nada mais do que um saber que mulheres detinham naquelas condições culturais e que as relações de poder queriam desconstruir.

Hoje nós temos, também, essa construção do inimigo na forma de grandes criminosos: se olha para o varejista das drogas como o “mal”, aquele que coloca em risco toda a sociedade. Eu fui coordenador de carceragem da polícia civil e eu pude observar a relação disso, da construção do inimigo, nas unidades prisionais. Era interessante como homicidas perigosíssimos eram vistos pelo administra-dor da carceragem como presos de confiança. Os presos

de confiança são os mais violentos, aqueles que causam terror para os demais presos. E às vezes chegava um ga-rotinho, novinho, de 18 anos ou 19, magrinho: traficante. A fera era esse garoto que foi preso por pequenas quan-tidades de drogas, sem arma. Quer dizer, essa construção do inimigo é imaginária nesse aspecto. Não estamos dizendo que não exis-tem traficantes, também não es-tamos dizendo que alguns trafi-cantes não estão armados e nem que eles são “gente fina”. Mas é imaginária primeiro porque se cria uma categoria fantasmáti-ca, se chama de traficante to-das as pessoas que atuam nes-se varejo, onde a maioria opera sem violência: endoladores, “mulas”, que carregam a droga de um lado para outro, mulheres, mui-

Por Vitor Suarez

reprodução

Page 10: Edição 37 (completa)

tas mulheres, “aviõezinhos”, adolescentes, pessoas que não tem nem poder violento, seja de força ou de arma.

É interessante que nós estamos fazendo a distinção en-tre inimigo de Estado e inimigo ôntico, que é o inimigo por natureza. Com o inimigo de Estado, você ainda permite um diálogo, por exemplo, os alemães, na Segunda Guerra Mun-dial, sentavam em mesa de negociação com os ingleses, eram inimigos, mas inimigos de Estado. Com o inimigo ôntico você não tem diálogo. O judeu, o cigano... hoje, os criminosos, esse é o tipo de inimigo que coloca em risco toda a sociedade. A sociedade sente nessas pessoas a presença de um mal, de um perigo. E é juntamente interessante que é no Marco Civiliza-tório, após a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, após a construção de um Estado com poder judiciário, legislativo e executivo, após as teorias contratua-listas, que fundaram essa forma de Estado de Direito na qual nós vivemos, sem nem conseguir imaginar como era antes, é nesse marco que se produzem os maiores genocídios, justa-mente por causa da construção do inimigo, porque quando se constrói o inimigo você desumaniza o inimigo, ele passa ser visto como um fauno. Isso é algo extremamente perigoso, que atenta profundamente a pretensão de uma sociedade iguali-tária, porque quando alguém é identificado como inimigo, ele fica sem direito nenhum.

Você foi delegado do caso Amarildo, no início do processo. Pelo que ficamos sabendo do caso ele foi torturado, foi morto dentro de uma UPP. Eu lem-bro que primeira pergunta, por parte da mídia, foi a seguinte: Ele era traficante, ele tinha envol-vimento com o tráfico...

Não só a mídia, a sociedade em geral, meus fami-liares me perguntaram isso, porque isso daria a solu-ção para o caso. Identificado o morto como traficante de drogas aquela morte estaria justificada. É disso que estamos falando, a construção do inimigo autoriza essa morte, essa ação letal inclusive do Estado, ali-ás, principalmente do Estado, porque ele detém o poder bélico e a violência concentrada.

Eu tenho muito claro na minha cabeça que hoje a luta pela legalização das drogas é uma luta por redução de desigualdades sociais, porque você não tem uma desigualdade somente na distribui-ção dos bens positivos, como patrimônio, dignidade

ENTREVISTA INCLUSIVA_ORLANDO ZACCONE

“ A redução da maioridade penal é uma inversão

de pauta

e honra, você tem também uma desigualdade na distribui-ção do ônus, dos bens negativos, como a deliquência. Quem é que vai preso? São os pobres, não porque o pobre tem mais tendência a delinquir, mas sim porque eles são os principais alvos das ações repressivas, do processo de criminalização. Os movimentos sociais devem colocar essa bandeira descri-minalizadora como foco. Hoje, o que poderia, efetivamente, do ponto de vista político, reduzir mais a violência contra a juventude negra no Brasil senão a legalização das drogas?

A taxa de prisão em flagrante de negros é duas vezes maior do que a de brancos. Por que existe isso?

Isso é explicado pela criminologia e se chama seleti-vidade punitiva. Nem todo mundo que pratica condutas previstas como crime vai ser observado pelo sistema po-licial e pelo sistema de justiça criminal. Por quê? Porque esse sistema é seletivo. Nós temos, hoje, 600 mil presos no Brasil, esses presos estão encarcerados por causa de meia dúzia de condutas. Existe uma seleção de quais condutas que levarão alguém ao cárcere, e quais as pessoas que pra-ticam essas condutas. Essa seletividade se dá primeiro no espaço onde a polícia atua, que é o espaço público. Então os crimes que são identificados pela polícia são os que acontecem em espaço público, e quem

Juventude negra e pobre

é a que mais sofre violência

policial Ilustração: Ribs

Vírus Planetário - junho/julho 201510

Page 11: Edição 37 (completa)

los de comunicação, que muitas vezes apoiam a proposta da redução da maio-ridade penal.

A injustiça social não se dá somen-te na distribuição dos bens positivos, como patrimônio, dignidade, honra e escolaridade. Existe uma grande in-justiça social na distribuição dos bens negativos, e a delinquência é um bem negativo. Sabemos também quais ado-lescentes vão ser levados ao cárcere, e em quais condutas: não vai ser por homicídio. Um garoto de 16 anos, que está no mercado informal das drogas, é colocado no sistema prisional por dez anos e depois ele vai reingressar a so-ciedade, e nós esperamos que esse seja o projeto de um Brasil melhor.

Isso é uma decisão política. Temos que pensar que temos dois caminhos: ou a decisão política vai ser ter fé que o encarceramento é uma forma de re-alizar transformações sociais ou vamos entender que o encarceramento nunca foi e nunca será vetor de transforma-ção, muito pelo contrário, a pena sem-pre foi instrumento de manutenção da ordem econômica e social.

pratica crimes no espaço público são as classes populares, em que se tem uma proporção muito grande de ne-gros. Os crimes que são praticados no espaço privado são pouco visualiza-dos. Essa seletividade que é intrín-seca aos sistemas de criminalização vai fazer com que o pobre seja mais criminalizado. Não que eles de fato pratiquem mais crimes.

O que se esconde por trás do dis-curso da redução da maioridade pe-nal?

É um processo para ampliar a seleti-vidade punitiva. Quer dizer, os garotos que vão ser levados para o sistema car-cerário são oriundos dos “status crimi-nalizáveis”. O que está movendo todo esse debate é a privatização do sistema carcerário. Os Estados Unidos hoje são a nação que mais encarcera no mundo, têm mais de 2mi de pessoas presas, e lá só foi possível esse grande encarce-ramento privatizando o sistema. Nos EUA, nós temos empresas S.A, com o capital aberto, que estão operando com as suas ações na bolsa de valores, onde o preso passa a ser um valor, e por isso se mantém essa quantidade imen-sa de presos por lá. O que está sendo colocado no Brasil com a redução da maioridade penal é uma proposta para isso, porque quando saímos de 600 mil presos para 1.400 milhão, que é o que vai acontecer rápido com a redução, você vai ter o Estado dizendo que não tem condição de operar o sistema e aí a privatização vai ser quase inevitável. O discurso de que esses adolescentes in-

fratores estão aumentando a violência no seu agir não representa a realidade: do total de homicídios no Brasil, é só 1% [cometidos por adolescentes], e de todos os atos infracionais identificados pelo Estado, somente 8% são praticados com violência, 92% são de atos em que não há violência e que vão passar a en-carcerar.

A redução da maioridade penal é uma inversão de pauta. Na verdade, nós temos o Brasil em sexto lugar do mundo, entre os países com os piores índices de homicídio praticados contra a criança e o adolescente. Isso não es-candaliza ninguém, porque esses homi-cídios não ocorrem nas áreas mais no-bres. Com o debate de que o problema é a violência praticada pelo adolescente, a primeira coisa que se faz é ocultar a violência sofrida pelo adolescente e pela criança.

Se cria a ideia de que a prática vio-lenta por adolescentes é algo corri-queiro, de uma dimensão preocupan-te. Quando aparece um caso de um adolescente autor de homicídio, aquilo ganha um destaque imenso nos veícu-

*ôntico - O ôntico é o superficial que fundamenta o senso comum.

“ O que está movendo o debate da redução da maioridade penal é a

privatização do sistema carcerário

Ilustração: Thais Linhares

Vírus Planetário - junho/julho 2015 11

Page 12: Edição 37 (completa)

A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E

O MEDO DE QUE O MEDO ACABE

Alguns homens desse país defen-dem que a vida seja um instrumento de punição. Punem as crianças pobres e negras como consequência de sua con-dição de vida. Matam a quem nunca ofereceram, ao menos, um indício de dignidade. O sorriso no rosto dos de-putados que votaram pela redução da maioridade penal em assembleia é uma afirmativa do crescimento do ódio no país. E eles querem que justamente quem é atingido por suas políticas ex-cludentes riam junto. Entretanto, ainda que a manipulação em massa seja uma tentativa insistente da mídia tradicional, quem sofre as consequências da exclu-são e da desigualdade não se engana com as mentiras disparadas pela televi-

direitos humanos

Por Maiara Marinho

A redução da maioridade penal, apresentada como solução pelo discurso do medo, pode ter consequências sérias, mas a diminuição da violência não é uma delas.

Polícia ocupa Morro do Caju, zona norte do Rio de Janeiro | Foto: Luiz Baltar - luizbaltar.com.br

Vírus Planetário - junho/julho 201512

Page 13: Edição 37 (completa)

penal de 18 para 16 anos. “A OAB Fe-deral, através da sua Comissão de Direitos Humanos, defende desde 2007 que a regra contida no art. 228 da Constituição Federal, que prevê a inimputabilidade penal aos meno-res de dezoito anos, constitui um direito fundamental do indivíduo. Logo, o art. 228 seria uma cláusu-la pétrea que não pode ser modi-ficada ou abolida nem mesmo por emenda constitucional. A grande polêmica é que o art. 228 não está inserido no artigo 5º da Constitui-ção Federal, que trata dos Direitos e deveres individuais e coletivos. Para resolver essa polêmica, a OAB ale-ga que o STF já reconheceu numa decisão relacionada a outro direi-to fundamental, a possibilidade de existirem outras cláusulas pétreas para além do art. 5° da Constitui-ção Federal (no caso o art. 228)”, se-gundo afirma o professor de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Tiago Nunes.

No entanto, o Congresso Nacio-nal ignora isso e coloca em votação um tema nem ao menos discuti-do com a população. O professor elucida como isso é possível. “Uma questão importante a ser explicada é que no sistema político brasileiro (e de muitos outros países) é pos-sível e muito comum que o par-lamento na sua atividade política (seja na esfera municipal, estadual ou federal) elabore leis que tenham conteúdo ilegal, em desconformida-de com o restante do ordenamento jurídico ou mesmo inconstitucionais (em desrespeito à Constituição Fe-deral, que é a norma mais impor-tante). Assim, cabe ao Poder Judi-ciário realizar o controle de consti-tucionalidade (legalidade de uma lei) em última instância. Assim, frente à possibilidade da eventual redução da maioridade penal pelo congresso, a OAB certamente ajuizará ação de inconstitucionalidade no STF e este deverá se pronunciar claramente a respeito”. [NOTA: Na manhã do dia 11 de julho, o ministro do STF, Celso de Mello, negou o pedido de cance-lamento da votação da PEC 171]

Questionado sobre quais políti-cas públicas seriam efetivas para diminuir a criminalidade e aumentar a ressocialização de menores in-

são. O questionamento feito certa vez pelo poeta uruguaio Mario Be-nedetti é trazido para cá como uma dúvida inquietante. “Numa perfeita foto do jornal, senhor ministro do impossível, vi enlevado e eufórico e perdido de riso o seu rosto simples. Serei curioso senhor ministro: de que se ri? de que se ri?”.

A redução da maioridade penal é discutida no mundo inteiro há muito tempo. Os países possuem políticas diferentes. Os Estados Uni-dos é o país com a política mais repressora do mundo. Do lado oposto, a Suécia fecha prisões pelo decrescimento de presos. Cada po-

pulação vê a política de combate à criminalidade de maneira diferente. Mas, ainda que faça parte do pro-cesso democrático a exposição de ideias, não se pode negar os dados que apontam a falta de efetividade no combate à criminalidade com a redução da maioridade penal. Ne-nhum país no mundo que reduziu a idade penal conseguiu diminuir a criminalidade.

A Ordem de Advogados do Brasil (OAB) e outras entidades conside-ram inconstitucional a PEC 171/93, que propõe reduzir a maioridade

A REDUÇÃO E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Vírus Planetário - junho/julho 2015 13

Page 14: Edição 37 (completa)

fratores, o professor destaca a importância de uma política de combate à desigualdade social, questão intimamente ligada com o fator da violência urbana. “As políticas adotadas pelos últimos governos foram exitosas na di-minuição da pobreza extrema, mas não lograram reduzir a desi-gualdade social. Aliás, ela só au-mentou. O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. E essa desigualdade também se manifesta no sistema penal. A questão é saber quem são os detidos que lotam as prisões do Brasil! Apesar de cega, muda e surda existe um corte de clas-se no sistema penal, este tem a mão mais pesada quando o réu é pobre. A maioria dos detentos é parda ou negra e possui baixa escolaridade. Outro dado inte-ressante é que quase a metade dos presos brasileiros é formado por presos provisórios, aqueles que ainda não foram condena-dos, mas que mesmo assim es-tão encarcerados”.

A discussão sobre a redução da maioridade penal na Câmara trouxe algo importante aos mo-vimentos sociais: discutir políti-cas públicas para o combate à criminalidade. Para isso, é preciso problematizar as condições dos sistemas penitenciário e socioe-

direitos humanos

“ o problema da violência no

país não é culpa da juventude

ELES SÃO CONTRA A REDUÇÃO“ Crime deve ser marginalizar,

distorcer, deseducar, excluir da cidadania, tirar espaço e voz, oprimir, gerar ódio de classe, ser

indiferente, corromper, criar crimes evitáveis! Eduardo Cunha

e sua corja não precisam de nenhuma PEC, nova lei, para

irem para a cadeia e no entanto, imperam incólumes sobre o país!

“ Absurdo, inacredi-tável, desesperador

o que está acontecendo na Câmara dos depu-

tados, com o Cunha Golpista. A intolerância

é filha do medo

“ Eu sou absolutamente contra a redução da maioridade penal.

A juventude precisa de mais cultura, mais educação, e menos cadeia. A

questão não é apenas uma questão de segurança pública, é uma questão de

formação, educacional, cultural.

“ Eu já fui preso menino, com 16 anos, porque eu fui denunciar um policial.

Cortaram meu cabelo, me deram banho de água gelada na madrugada... Nós todos, como sociedade, temos que proteger a infância, a adolescência e o desenvolvimento humano.

“ É um desastre pensar na redução da

maioridade penal. O Brasil tem muito mais o que pensar e melhorar. Cuidar das crianças, por exemplo!

“ É muito fácil querer aumentar o poder punitivo

do Estado, sem pensar nas razões desses crimes estarem sendo cometidos. O Brasil já pune essas pessoas e é muito triste que essa mesma sociedade que cria o infrator, pune ele com violência. Eu acho que nenhuma pessoa deve parecer impossível de mudar.

Gregorio Duvivier, ator e escritor

Leticia Sabatella, atriz

Leandra Leal, atriz

Chico Buarque, cantor e compositor

Chico César, cantor e compositor

Zélia Duncan, cantora

Pitty, cantora

Criolo, rapper

Laerte, cartunista

Caetano Veloso, cantor

Camila Pitanga, atriz

G.O.G., rapper

Elza Soares, cantora

Emicida, rapper

Rappin Hood, rapper

Lázaro Ramos, ator

Gilberto Gil, cantor

Marcelo Yuka, músico

Marieta Severo, atriz

Zezé Motta, cantora e atriz

Juca Kfouri, jornalista

Milton Nascimento, cantor

Daniela Mercury, cantora

Mano Brown, rapper

Vírus Planetário - junho/julho 201514

Page 15: Edição 37 (completa)

ducativo. Pois ganhar na pauta contra a redução não é suficiente para avançar. As fundações de socioeducação e as prisões não oferecem reeducação, inclusão social e ressocialização a nenhum menor infrator e detento.

A realidade do sistema socioeducativo se apresenta no seguinte relato: “eles eram tratados como cachorros, eram violentados por qualquer questão. Se fossem rei-vindicar melhor qualidade da comida ou mais horas no sol, eles eram tratados como indigentes”. O relato trata de jovens que passaram pelo sistema socioeducativo

fechado no Rio Grande do Sul. Assim são “educados” os menores no país. Muitas vezes, em condições piores e mais repressivas.

O Educador Social, que preferiu não ser identificado, trabalhou por oito meses na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FASE) no sistema de semiliberdade em Pelotas. Segundo ele, a FASE apresenta vários proble-mas. Um deles é não contratar pessoas capacitadas ou pelo menos capacitar os trabalhadores para lidar com os menores infratores. “Lá dentro ninguém passava

A luta contra a redução da maioridade penal tem contado com o engajamento de entidades, movimen-tos, partidos, instituições do poder público e ativis-tas em todo o país. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal têm construído, permanentemente, fóruns de articulação da pauta e atividades de forma-ção e agitação contra a Proposta de Emenda Consti-tucional 171/93.

No Ceará, motivada pela aprovação de um requeri-mento na Assembleia Legislativa do estado solicitan-do ao congresso nacional a celeridade na votação da PEC 171, foi criada, em 2013, a Frente de Luta Contra a Redução da Maioridade Penal. A Frente contou com a participação de mais de 50 entidades. Entre elas, ONGs, como o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), movimentos populares e de juventude, sindicatos, parlamentares progressistas e órgãos institucionais do governo, como a Coordena-doria de Juventude e a Secretaria de Justiça.

No dia 14 de junho, o Festival Amanhecer Contra a Redução reuniu mais de 20 mil pessoas na Praça XV, no Rio de Janeiro. Com 5 palcos espalhados, a praça coloriu o domingo carioca com cartazes, faixas e pipas. O movimento surgiu em meados de Abril e foi inspirado na campanha No a la baja do Uruguai contrária à redução da maioridade penal. A inserção da cultura e de cores alegres no debate é um método utilizado para atrair o interesse da população a pen-

Amanhecer contra a redução

sar e discutir sobre o real significado para a vida da juventude com a aprovação da PEC da redução.

Mesmo com a manobra do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e a aprovação, em primeiro turno, a luta promete ga-nhar ainda mais força. No dia da primeira votação, centenas de ativistas reuniram-se em manifestação contra a redução da maioridade penal na frente da Assembleia Legislativa, em Brasília. Após ter sido aprovada, os movimentos sociais se organizaram no dia 7 de julho em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto alegre e Brasília em oposição à medida aprovada pela Câmara. Há mais uma sessão na Câmara e, posteriormente, duas no Senado. Se não houver alterações, segue direto para o Plenário em que precisará dos votos de 49 Senadores.

Diversas atividades marcaram o Festival do Amanhecer contra a Redução no dia 14/06, na Praça XV, Rio de Janeiro | fotos: divulgação

Atividade cultural contra a Redução no Eixão de Brasília | foto: Mídia Ninja

Vírus Planetário - junho/julho 2015 15

Page 16: Edição 37 (completa)

por uma capacitação pra saber lidar certamente com eles. Geralmente eram contratados homens e seguran-ças grandes para conter os jovens. Nós que tentáva-mos ter um melhor diálogo com os jovens acabávamos conseguindo. Justamente, porque a gente não estava ali para conter ou segurar eles. A gente estava ali pra ajudar eles a conviver em sociedade”.

O educador ainda apresenta a ineficiência dessas ins-tituições em ressocializar os menores. “Havia um próprio dado da FASE que de 90 a 95% dos menores infratores reincidiam criminalmente. Que eu saiba, lá dentro, os únicos que tinham alas separadas dos demais pra que não houvesse abuso eram os ditos duques, um termo que vem do artigo 213 que significa estupro. Ou seja, quem cometia até mesmo latrocínio (roubo seguido de morte) ficava na mesma ala de quem cometia furto banal numa vendinha. Tu imagina tu ter ali como cole-ga de classe alguém que já está há muito tempo nes-se processo, que está cumprindo novamente a mesma pena. Eles saíam um robozinho da criminalidade lá de dentro”.

Além disso, o dado apontado pela Secretaria Nacio-nal de Segurança Pública mostra que 0,9% de jovens entre 18 e 16 anos são responsáveis por crimes no Brasil e 0,5% em homicídios e tentativas de homicídios. Esses dados provam que o problema da violência no país não é culpa da juventude. Reduzir uma realidade complexa que é reflexo da desigualdade social e da corrupção ins-titucionalizada na política e, talvez muito mais forte na

polícia, é estratégia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) e seus aliados. O financiamento privado das campanhas – tema polêmico na Câmara que, em um primeiro momento votou pelo fim, mas no dia se-guinte, voltou atrás e manteve o financiamento por em-presas privadas às campanhas de parlamentares – tem relação direta com o desejo de deputados para diminuir a redução da maioridade penal. Alguns financiadores de campanha são donos de empresas de segurança tercei-rizadas e gestores de prisões privadas.

O medo é mercadoria. Com ele, lucram os meios de comunicação tradicionais e o lobby – uma máfia organizada pelos oligopólios empresariais em parceria com políticos corruptos. O que foi dito no livro “1984” de George Orwell se vê cada vez mais manifestado nas relações sociais. O Congresso Nacional se assemelha ao “Ministério da Verdade” onde mentiras eram fabricadas para ter como finalidade o apelo social e a Polícia se assemelha ao “Ministério do Amor”, responsável por torturas a quem questionasse o sistema. Embora es-tejamos constantemente fazendo um paralelo da nossa realidade com a ficção, sentir a dor dessas histórias ma-terializadas nas políticas e ações do conservadorismo é desolador. A indignação acompanhada de um receio que nos faz cambalear por um instante deve ser com-bustível para uma outra jornada de lutas com uma linha definida: enfrentamento ao fascismo e aos resquícios da escravidão e da ditadura civil-militar.

Mia Couto refletiu certa vez que “para fabricar ar-mas, é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas, precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentarmos as ameaças globais, precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o

direitos humanos

“ existe um corte de classe no sistema penal

“HÁ QUEM TENHA MEDO QUE O MEDO ACABE”

Movimentos sociais impedidos de entrar na Câmara por Cunha realizam ciranda no gramado em frente ao Congresso. Jovens de vários lugares do país permaneceram do lado de fora manifestando repúdio à PEC da Redução que era votada na Câmara nos dias 30/06 e 01/07 | foto: Mídia Ninja

Vírus Planetário - junho/julho 201516

Page 17: Edição 37 (completa)

caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sa-bemos que esse outro caminho poderia começar, por exemplo, pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e de outro lado, aprendemos a chamar de ‘eles’. Aos adversários políticos e militares juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade, imprevisível”.

A guerra aos pobres e negros é uma ferra-menta institucionalizada que sangra as periferias e favelas em todos os cantos do país. E a massa reproduz o discurso do teleprompter, um apa-relho que dita até mesmo o que os jornalistas devem falar. Estes que silenciam suas vozes para, através delas, pronunciarem os discursos racistas e fascistas da direta brasileira. A trans-formação nas instituições a serviço do capita-lismo é uma tarefa difícil, a longo prazo, porém necessária. A esquerda vai precisar se desdo-brar com o seu discurso e militância para ter a atenção da população em concorrência com Datenas, Rezendes, Sheherazades e Bonners. Estes, muito pouco articulados nos seus argu-mentos, estão inseridos num espaço favorável a eles. Enquanto que nós, do outro lado do rio, tentamos expor a poluição conservadora que fede e apodrece a sociedade, cada vez mais às margens de rios utilizados como despacho dos restos do capitalismo.

Em Abril deste ano, entrou em votação na Câmara dos Deputados o

Projeto de Lei 4330/04 que trata sobre a terceirização do trabalho em

diversos setores. O movimento sindical imediatamente se mobilizou em

resposta ao ataque aos direitos trabalhistas proposto nesse PL. Mesmo

assim, Eduardo Cunha – presidente da Câmara – acelerou a votação para

que fosse aprovado. Alguns meses depois, foi a vez de colocar na pauta

da Reforma Política a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 182/07

que trata do financiamento privado das campanhas eleitorais. Na noite

da votação, ela foi derrotada. No entanto, descontente com o resultado,

Cunha articulou uma nova votação no dia seguinte sobre o mesmo tema.

E, então, a PEC 182/07 passou. Por fim, foi a vez de pautar a redução da

maioridade penal. A metodologia foi a mesma. Na primeira sessão duas

votações foram feitas. Na primeira votação, a PEC da redução foi derro-

tada e Eduardo Cunha chamou outra – na mesma sessão – em que foi

aprovada.

As manobras dessas três pautas mencionadas foram articuladas pre-

tensiosamente. Com a redução da maioridade penal a violência no Brasil

não irá diminuir e isso os Deputados sabem. Mas sabem também que é

uma ótima oportunidade para o crescimento de prisões privadas no país

e da terceirização do trabalho nelas. Além disso, os mesmos gestores das

prisões privadas já existentes no país e de empresas de segurança são –

muitos – financiadores das campanhas parlamentares. Com isso, é possí-

vel perceber que as três manobras (PL 4330/04, PEC 182/07 e PEC 171/93)

tratavam-se dos interesses pessoais dos partidos articulados com Cunha

e com o PMDB.

Deputados e entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

entraram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a

constitucionalidade na redução da maioridade penal por se tratar de uma

cláusula pétrea (imutável) e a legalidade de como estão sendo votadas na

Câmara as Propostas de Emenda Constitucional.

Golpe do Cunha

QUAL O DESTINO QUE ELE VAI TER?Ilustração: Thais Linhares

Vírus Planetário - junho/julho 2015 17

Page 18: Edição 37 (completa)

Ilustrações: Adriano Kitani

remoções

EM MEIO AOS ESCOMBROS,

A RESISTÊNCIAA luta de favelas no rio de janeiro contra as remoções da “cidade olímpica”

rio de janeiro

O estrondo das máquinas demolidoras, bombas e tiros não chegou a ecoar nos ouvi-dos teimosos de quem só ouviu o frio esta-lido das vidraças da UERJ se quebrando. Na noite de 28 de maio, memórias, tetos, pare-des, móveis e por muito pouco vidas vieram abaixo num misto de lágrima ardida, gritos de raiva e passos afugentados pela truculên-cia. A remoção da Favela Metrô-Mangueira, espaço ainda mais precário do que o resto da favela da Zona Norte, parece ter ficado soterrada pelos frágeis vidros da Universida-de Estadual do Rio de Janeiro, vizinha (nem tão) rica que nos jornais do dia seguinte cho-rava sua própria ‘tragédia’.

Nem toda a comunidade universitária ta-pou olhos e ouvidos para a verdadeira bar-bárie que acontecia bem ao lado. Estudantes que realizavam mais uma Assembleia Estu-dantil se mobilizaram assim que souberam do que se passava na favela e partiram em ato para se solidarizar com as pessoas que lá moravam. Lá chegando, depararam-se com um cenário de guerra, onde pessoas eram brutalmente reprimidas pelas Polícias Militar e Civil enquanto tentavam resistir à destrui-ção dos lares. Casas vieram abaixo com to-dos os móveis dentro. Um ferro velho, que servia como local de trabalho para diversas pessoas há mais de 20 anos, foi igualmente esmagado, deixando muitas pessoas, além de sem casa, sem emprego. A igreja local também foi demolida.

Com a chegada de estudantes, a repres-são tornou-se ainda mais truculenta, aumen-tando o número de bombas de gás lacrimo-gênio, spray de pimenta e tiros de bala de borracha à altura dos rostos. Não parecia importar a presença de crianças e pessoas idosas no local. Na favela, isso nunca impor-tou para a polícia. Uma senhora que tem

Entre escombros de demolição de moradias em Manguinhos (zona norte do Rio), um resto de uma placa de campanha do prefeito Eduardo Paes, governante da cidade que mais removeu moradias da história da cidade

Foto: Luiz Baltar - luizbaltar.com.br

Por Letícia Catete

Vírus Planetário - junho/julho 201518

Page 19: Edição 37 (completa)

dificuldade de locomoção dormia em sua cama e quase destruíram sua casa com ela dentro. Estu-dantes e moradores correram para buscar abrigo na UERJ, espaço que pensavam ser seguro e livre dos desmandos da polícia.

A Segurança da UERJ já estava preparada para reprimir uma (outra) possível ocupação da Reitoria, que poderia sair da Assembleia Estudantil, e não poupou força bruta. Havia inclusive capangas à pai-sana, contratados para reforçar a repressão. Com a polícia esperando do lado de fora, a Segurança da UERJ fez dois cordões de isolamento, encurralando o ato.

Do lado de fora, um policial disparou um tiro de arma letal. Dentro da UERJ, agentes foram flagrados tacando pedras do andar de cima nas pessoas que estavam en-curraladas embaixo. Um aluno, Rafael Santana, foi feito refém por agentes da Segurança, espancado e levado a uma sala, onde ficou preso por mais de uma hora. Os seguranças apareciam com fotos do rapaz espancado em seus celulares e diziam que só o liberariam uma vez que todas as pessoas deixassem a Universidade. Houve muita negociação para que Rafael fosse liberado.

A Reitoria já havia planejado e autorizado previamen-te a ação repressora por medo de ser contestada po-liticamente. Não menos politicamente, o reitor Ricardo Vieiralves lançou, no dia seguinte, uma nota denomina-da “Não há diálogo com a barbárie”. Nela, Vieiralves dis-torce os fatos, se exime de qualquer responsabilidade e ardilosamente culpa os moradores do Metrô-Mangueira – a quem chama de “pessoas estranhas à nossa co-munidade” – pela violência e depredação do patrimônio universitário. Sequer se dá ao trabalho de falar sobre o real motivo do ato em primeiro lugar, que foi a total destruição de casas de gente que mora bem ao lado.

Vandalismo no teto dos outros é “Bem feito!”. No da Universidade, não. A Universidade tem teto de vi-dro. Suas paredes são de vidro. Sua estrutura é frágil e cada vez mais precarizada. Mesmo assim mantém seu discurso elitista de Nós vs. Outros, de Reconhecidos vs. Estranhos, de Civilização vs. Barbárie. Os “representan-tes” da universidade, que era para ser pública e popular, se encastelam mais e mais montados em discursos va-zios nos quais prezam a Extensão, mas são incapazes de estender seus braços para além das paredes que os cercam.

O próprio reitor insiste em criminalizar quem mora na favela – cujo ‘crime original’ é ser pobre – acusando-os de serem os responsáveis pela violência e pela destrui-ção. É preciso ressaltar: Não foram os moradores do Metrô-Mangueira que quebraram as vidraças da UERJ. Eles apenas tentaram se refugiar daqueles que quebra-vam suas casas e seus corpos.

Quem mais quebrou vidraças naquela noite foram os jatos de água atirados das mangueiras de contenção de fogo, indevida e criminosamente usadas pela Segurança da UERJ a mando da Reitoria. Nenhuma das pessoas moradoras estiveram envolvidas na quebra das vidraças.

Na Zona Oeste da cidade, a resistência às remoções olímpicas segue firme e forte. A Vila Autódromo, favela localizada em Jacarepaguá, tem um histórico de luta e resistência admirável. Conversamos com uma moradora, que pediu para não ser identificada, que nos contou um pouco sobre a organização coletiva dos moradores, como se deu a última investida da polícia na tentativa de efetivar a remoção de mais casas, e o que move a luta obstinada dos moradores que ousam fincar os pés no chão e exigir respeito.

Moradora da Vila Autódromo há mais de 30 anos, ela nos contou o que se passou no dia 3 de junho, quando foi decidido que duas casas seriam removidas e o dia amanheceu com a polícia Militar e a Guarda Municipal batendo à porta. “Na falta da prática do diálogo, a pre-feitura governa por decreto,” disse a moradora, ressal-tando os absurdos da ilegalidade e inconstitucionalidade desse procedimento. “Um deles é uma família sair da sua casa, via decreto, sem receber o combinado que a prefeitura disse que pagaria. Então essa família sai como? Para onde? Mas não foi a questão do dinheiro a mais grave. Até por que lá, a gente não briga por dinhei-ro, a gente briga por direitos.”

A moradora disse que a família em questão abria mão da indenização desde que a prefeitura a realo-casse para dentro da comunidade, em um dos muitos espaços livres que lá existem, sendo esta terra públi-ca e Área de Especial Interesse Social. A ação ocorreu “cumprindo uma ordem de uma juíza que desconhece o direito à cidade, desconhece a situação dos ‘de baixo’, junto com a polícia e com uma Guarda Municipal que tem como obrigação guardar, e não agredir.”

“O que se deu foi que os moradores da Vila Autó-dromo se condoeram de aquela família ser jogada na rua. Eles não teriam para onde ir, porque a prefeitura está governando por decreto. Decreto é uma prática

“ A prefeitura governa por decreto e decreto é uma

prática ditatorial

BÁRBARAS INVASÕES

“A GENTE NÃO BRIGA POR DINHEIRO, A GENTE BRIGA POR DIREITOS”

Vírus Planetário - junho/julho 2015 19

Page 20: Edição 37 (completa)

Jogos Olímpicos. Porque ali vai ser um espaço de benefício dos Jogos e não é justo que a gente que mora ali há mais de 40 anos e que pegou tudo desde o início, agora que os benefícios públicos, a urbanização está chegando, que sejamos ex-pulsos dali para dar o espaço para as empreiteiras imobiliárias e seus projetos imobiliários. Nós queremos ser reconhecidos como cidadãos de direito à terra, até porque lá é uma Área de Especial Interesse Social. Então é uma área especial.”

Especial por sua história de luta, que desde a chegada das primeiras pessoas pescadoras vem se orga-nizando e lutando por melhorias, condições dignas, direitos univer-sais. Especial por ter resistido a décadas de ameaças de remoção, especulação e negligência. Especial por comportar o chão onde tantos pés cansados e determinados pisa-ram pelo direito de existir e viver com dignidade, assim como pelo Rio e pelo mundo afora outras fave-las fazem todos os dias, enquanto houver quem pense que certas his-tórias valem mais do que outras.

rio de janeiro

ditatorial” continuou a entrevistada. A comunidade se uniu e fez um cor-dão humano protetor no entorno daquela família, “que constava de idoso, de crianças, de trabalhado-res”. Em seguida, a guarda avançou em atitude ameaçadora, sem acei-tar diálogo, e logo os policiais co-meçaram a violência, batendo em todos indiscriminadamente.

A resistência das famílias, junto ao apoio e cobertura que tiveram a partir de movimentos sociais, fi-zeram com que as casas não fos-sem removidas naquele dia. Entre-tanto, a ameaça continua. A maior parte das famílias que moravam na Vila Autódromo (algo em torno de 90%) já saiu de lá. Elas receberam apartamentos do programa “Minha Casa, Minha Vida” no chamado Par-que Carioca, ou uma indenização da prefeitura. No entanto, todas as negociações foram feitas à base de muita pressão. Como salienta a moradora, “negociar com uma cor-da no pescoço, amarrado a uma pedra, com um saco na cabeça… foi esse o formato”. Ela ressalta que a Procuradoria tem poder de ameaça e de persuasão, ao dizer que ou se aceita o que é oferecido, ou se vai a juízo, “e nós sabemos que a Justiça aqui está ao lado do poder”.

A organização de moradores já vem de muitos anos. Juntos, ven-ceram diversos desafios, ameaças, e fizeram parcerias com instituições e universidades nacionais e interna-cionais. A história da Vila Autódromo é hoje referência na luta pelo direito à moradia, sendo exemplar no que-sito de cooperação e envolvimento da sociedade civil. “A nossa luta vem

desde 1987, no bojo da constituição de ’88. Nós entendemos que a luta pelo direito à cidade era uma luta que a gente tinha que começar na base, com os trabalhadores livres, os partidos e instituições de van-guarda, as pastorais, com os movi-mentos mais de vanguarda, não só do Rio e do Brasil, mas da América Latina. Nós entendemos isso muito quando formatamos o Estatuto da Associação em ’87”.

Desde a reinvestida da prefeitura para a remoção da Vila Autódromo, que teve início em 2012 em razão das Olimpíadas, essas pessoas se reagruparam e agora formaram grupos de vigília para monitorar as ameaças que surgem para que, em coletivo, possam fazer a resistência.

Quando perguntamos qual a mo-tivação para resistirem e não que-rerem sair da Vila Autódromo, ela respondeu: “No meu caso específico e no caso de muita gente lá, nós não queremos nem apartamentos caros, nem altas indenizações… Nós não queremos dinheiro, nós quere-mos direitos. Direito à cidade e di-reito à inclusão nos benefícios dos

“ A prefeitura governa por decreto e decreto é uma

prática ditatorial”

Moradores da Vila Autódromo (zona oeste do Rio de Janeiro) são agredidos ao resistirem às remoções de suas moradias no início de junho

Fotos: Kátia Carvalho

Vírus Planetário - junho/julho 201520

Page 21: Edição 37 (completa)

Vírus Planetário - junho/julho 2015 21

Page 22: Edição 37 (completa)

piauí

2015. E o capital se mantém, apoiado pelo Estado, para continuar seu avanço contra comunidades e populações de trabalhadoras e tra-balhadores. Mas as resistências se apresentam por todo mundo para mudar essa realidade. Na cidade de Parnaíba, Piauí, moradoras e mora-dores da Praia do Sal se colocam contra as investidas do capitalismo.

João, figura que se disponibilizou para compartilhar sobre o que está acontecendo na comunidade do li-toral piauiense, fala sobre o local: “A comunidade da praia da Pedra do Sal é reconhecida como tradicional, uma vez que existe a mais de 200 anos e engloba pescadores, indíge-nas, artesãos, quilombolas e ribeiri-nhos, que sobrevivem da pesca, da agricultura familiar, do artesanato e do extrativismo vegetal (murici, guagiru, etc). ”.

A problemática enfrentada pela comunidade está dividia em duas frentes principais: uma é a possibi-lidade de construção de um resort

em suas terras; a segunda, a expan-são do projeto de energia eólica. O Pure Resorts é um empreendimen-to de dois irmãos canadenses que, ao passarem pelo Delta do Parna-íba, decidiram por iniciar o projeto de instalação de um Resort da em-presa destes.

O projeto do resort piauiense, abandonado por inúmeras circuns-tâncias, voltou à ativa recentemen-te, quando um de seus diretores retornou com a ideia deste empre-endimento na praia da Pedra do Sal. O grupo faz parte de uma organiza-ção maior, a LandCorp Internatio-nal, que possui uma rede de resorts em todo o mundo, e em especial nas zonas de periferia do capita-lismo internacional. “A realidade do projeto é que em verdade, o Resort é um cavalo de troia para especu-lação imobiliária, uma vez que será erguido também um bairro de luxo, com lojas, supermercados, segu-rança particular e lazer, para quem possa pagar. ” afirma João.

No que se refere a Ômega Ener-gia (empresa que gere a expansão do complexo eólico na comunidade da Pedra do Sal), há inúmeros pro-blemas que envolve bem mais do que uma questão ambiental. Primei-ramente, engana-se quem chama esta energia de “limpa”. Para que as torres de energia sejam instaladas, é preciso que se faça destruições (intervenções) no mesmo ecossis-tema que irá abrigá-las. “Ações de progresso” tais como, soterramento de lagoas, divisão de dunas, invasão de área de mangue para constru-ção de estradas de terra.

Em consequência disso, outros conflitos foram gerados pela pre-sença da ação da empresa. João fala da morte de uma pessoa e de casos constantes de assédio. “Uma filha de uma pescadora e artesã, foi atropelada por um carro da empre-sa, enquanto trabalhava e acabou morrendo. O motorista: embriaga-do. Denúncias de vários casos de assédio sexual adulto e infantil se

SALVE O PEDRALComunidades pesqueiras em Parnaíba (PI) resistem ao avanço do Estado e do capital

Por André Café e João

Page 23: Edição 37 (completa)

defendem a instalação do Resort/eólica, outros reclamam a lembran-ça da usina eólica na região, que possuía os mesmos argumentos de melhorias para a população e não cumpriu absolutamente nada com o que prometeu, tendo incentivos fiscais do governo e se apropriando de terras de modo indevido. ”

A associação de pescadores e pescadoras artesanais do Brasil emitiu uma nota de repúdio sobre o descaso com que são tratadas as famílias e suas histórias da região. A pauta do movimento luta pela cria-ção de uma lei popular de demar-cação das áreas pesqueiras, e que vem colaborando na organização dos trabalhadores da região, assim como sua conscientização sobre os danos que afetarão a região.

Juntam-se a elas e eles, estu-dantes universitários da cidade. Em contato constante com os popu-lares, dialogam com os moradores que o empreendimento trará inú-meros malefícios à comunidade, e o fazem através de exibição de filmes e documentários sobre a temáti-ca. Dividem-se em três principais grupos: NEAMA (Núcleo de Estu-dos Aplicados ao Meio Ambiente),

interdisciplinar, que busca realizar levantamentos a nível científico da situação da comunidade para em-poderar politicamente seus mem-bros; CAJUÍNA (Centro de Asses-soria Jurídica Popular de Teresina), interdisciplinar, realizando estudos específicos na área do direito para auxiliar na compreensão das res-ponsabilidades individuais, coletivas, de cada órgão público e das leis de defesa dos interesses do povo e o Comitê em Defesa da Pedra do Sal, formado hegemonicamente por es-tudantes, mas conta com professo-res e populares da Pedra do Sal e de Parnaíba, que objetiva também expandir o raio de ação para todo o Piauí, formando outros comitês em locais onde ocorrem litígios seme-lhantes.

Pescadores, criadores, trabalha-dores do mangue, entoam um grito de guerra nos atos e em reuniões: NA TERRA, NO MAR, NÓS VAMOS LUTAR! “Todos eles aumentam cada dia mais a noção de comu-nidade, de unidade e de luta, de resistência e tem conseguido dar a resposta, impedindo o avanço do capital. ” finaliza João

repetem, o que culmina na pertur-bação da tranquilidade da região.”

“A comunidade não suporta a ideia do avanço das eólicas devido as mais variadas complicações na saúde e na comunidade que estão ocorrendo até agora: violência se-xual, social e econômica, infecções nasais causadas pela aspiração do pó da piçarra das estradas, pertur-bações causadas pelo barulho das hélices das torres eólicas, dentre outras. A empresa tem um stand fixo no shopping, para que as arte-sãs vendam seus produtos. O que ninguém sabe é que o espaço não é pago pela empresa, e sim pelas artesãs, que fazem propaganda gratuita para a Ômega. ” completa João.

Um aspecto que tem dificulta-do o posicionamento mais firme da maioria das pessoas da comu-nidade, é a condição financeira da população jovem. Muitos estão de-sempregados, fato que os levaram a aceitar a ideia da instalação do resort em suas terras. Juntam-se a essa parcela de pró-resort, o Gover-no do Estado do Piauí, a prefeitura da cidade de Parnaíba (agilizando processos de legalização fundiária) e a mídia hegemônica local, sobre a justificativa do desenvolvimento do turismo da região e da rápida geração de renda pelos empreendi-mentos.

João diz que a comunidade ainda permanece resistindo, embora divi-dida sobre estas questões. “O deba-te é um verdadeiro cabo de guerra na comunidade. Enquanto alguns

“ o Resort é um cavalo de tróia para especulação imobiliária

Page 24: Edição 37 (completa)

traço livre

Por Tiago Silva | Veja mais em: facebook.com/quadrinhosimpossiveis

Por Renato Silva | Veja mais em: facebook.com/linhastremidas

Vírus Planetário - junho/julho 201524

Page 25: Edição 37 (completa)

Vai dar certinho. Basta que tanto palestinos quanto isra-elenses concedam ministérios importantes para membros do PMDB. Em breve, os dois povos serão governados por rura-listas, pastores picaretas e milicianos brasileiros em um arranjo dirigido pelo Sr. Eduardo Cunha.

Depois de alguns meses, pa-lestinos e israelenses vão perceber que conseguem con-viver em perfeita harmonia uns com os outros, pois o desastre iniciado quando fi-zeram o convite a Eduardo Cunha irá mostrar-lhes que nada é tão ruim que não possa piorar. Israel fará as pazes com Ismael, no entanto, um pouco tarde demais.

A terra prometida terá se tornado em uma teocracia cristã patrocinada pelo Ban-co Santander e pela Bradesco Seguros; os sítios sagrados de todas as religiões serão arrendados por tempo inde-terminado para Malafaia, Fe-liciano e Waldomiro Santiago. O muro das lamentações será desapropriado e transformado em uma arena olímpica para a realização das primeiras Jesuspíadas da história, ad-ministrada por McDonalds e Nike.

Orgulhoso, então, por ter sido exitoso em conquistar a

Diante da notícia de que o destruidor dos

direitos humanos, ops, o presidente da

Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em

sua recente viagem à Israel e Palestina,

recebeu pedido de ajuda para mediação de paz no

Oriente Médio, nosso repórter de um futuro que não que pode acontecer, foi lá pra frente

pra ver como seria essa linda ajuda prestada por Cunha na mediação do conflito Israel-

Palestina. Vislumbrem:

NOTÍCIAS DE UM FUTURO QUE NÃO PODE ACONTECER

humor

terra sagrada para os cris-tãos, sendo, neste ponto, mais bem-sucedido que os papas medievais, Cunha e trupe irão se movimentar no sentido de aprovar leis, a toque de cai-xa, para banir do seio daque-la sociedade qualquer mani-festação que fira o sentimen-to religioso da cristandade, proibindo casamentos entre judeus e entre muçulmanos, pois todo casamento, para ser

"A TERRA PROMETIDA TERÁ SE TORNADO EM UMA TEOCRACIA CRISTÃ PATROCINADA PELO

BANCO SANTANDER E PELA BRADESCO SEGUROS

válido, precisaria receber a bênção de Cristo por meio de seus representantes ungidos.

E todos vão se arrepender amargamente do dia em que pediram a Cunha para me-diar qualquer coisa. É sem-pre melhor tentar resolver seus problemas sem envolver o PMDB. Se tiverem qualquer dúvida a respeito, perguntem para o PT.

Por Pedro Munhoz

Vírus Planetário - junho/julho 2015 25

Page 26: Edição 37 (completa)

Por Letícia Catete e Dandara Catete

MONTE SEU MONSTROQUEM TEM MEDO DO LOBO MAU?

Se for aprovada a lei que pretende reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos, novos monstros, bem parecidos com aqueles que hoje já povoam os pesadelos das criancas e adolescentes (especialmente negros e pobres), passarão a assombrar ainda mais esta juventude. Para ajudar a lidar de forma lúdica com os novos-velhos bichos-papões, a Virus traz, nesta edição, os Bonecos de Papel da Redução.

Siga os passos:

1 - Escolha a cabeça do seu monstro:

PASSATEMPOS VIRAIS

O ABOMINÁVEL

JAIR BOLSONAZI

O TERRÍVELMEDUARDO CUNHA

O HORRIPILANTESILAS MALACRAIAO FALASTRÃO

JOSÉ LUIZ DAPENA

Vírus Planetário - junho/julho 201526

Page 27: Edição 37 (completa)

2 - Escolha seus podres poderes:

Escolha esta camiseta fashion e seu monstro automaticamente terá o poder da

hipnose para convencer a todos de que vivemos numa ditadura comunista-gayzista

e que o adolescente pobre e negro é o inimigo a ser combatido.

Este uniforme dá ao seu monstro o poder compactador de pessoas, para que todas

elas caibam espremidas nas celas da prisão.

Com esta poderosa farda, seu monstro adquire o poder da visão em preto e branco, para detectar e punir apenas pessoas negras.

Com este traje, seu monstro terá o poder de RESET, para dar um golpe

e reverter quaisquer derrotas e contrariedades políticas.

Estatuto da

Criança e do

Adolescente

Agora que seu monsto de papel ficou pronto, você pode brincar com e ter total controle sobre eles. e pode ate

destruí-los, com a ajuda de suas amigas e amigos! Aproveite!

*PS: Se for recortar mesmo o papel para montar o boneco, lembre-se de ler as páginas de trás antes! Envie para nossa página no facebook sua criação (e destruição)

Vírus Planetário - junho/julho 2015 27

Page 28: Edição 37 (completa)

PASSATEMPOS VIRAIS

Do Diário Para Descolorir, de Alex Frechette, a Vírus traz algumas trágicas e lamentáveis páginas da nossa História recente. Uma brincadeira com a moda dos livros de colorir para adultos, este projeto apresenta imagens para serem descoloridas com variados tons de cinza, de maneira a descomemorar episódios que gostaríamos que jamais tivessem acontecido.

Por Alex Frechette

Vírus Planetário - junho/julho 201528

Page 29: Edição 37 (completa)

Vírus Planetário - junho/julho 2015 29

Page 30: Edição 37 (completa)

Notícias da campanha:

www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv www.sindipetro.org.br

organização:

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio

estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.

POR UMA PETROBRAS 100% PÚBLICA E ESTATAL

FORA CORRUPTOS E CORRUPTORES!

Os urubus não podem tomar a petrobras!

www.seperj.org.br

Page 31: Edição 37 (completa)

Saúde pública é um direito: defenda o

Hospital Universitário Antônio Pedro!

Toda forma de privatização da

saúde é um ataque à população:

DIGA NÃO À EBSERH!

SAÚDE NÃO É MERCADORIA!

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

38 anos na luta em defesa da Educação Pública!

www.seperj.org.br

Page 32: Edição 37 (completa)

www.seperj.org.br

38 ANOS NA LUTA EM

DEFESA DA EDUCAÇÃO

PÚBLICA

Confira o resultado da eleição que definiu a direção do Sindicato Estadual dos

Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE/RJ) para o triênio 2015-2018

SEPE ELEGE SUA

NOVA DIREÇÃOEm seus quase 40 anos de

existência, o Sepe vem se

destacando na defesa da educação

pública e de qualidade. No período

de 30 de junho a 2 de julho os

profissionais das redes públicas do

Rio de Janeiro participaram das

eleições para sua direção no triênio

2015/2018. Foram disponibilizadas

urnas itinerantes e nas sedes

Central, dos núcleos municipais

e regionais do sindicato, todas à

disposição para que os milhares

de profissionais de educação

filiados pudessem eleger os seus

representantes para a direção geral

e de cada um dos 47 núcleos em

todo o estado, assim como das 9

regionais do município do Rio.

O Sepe é um dos maiores

sindicatos do estado e tem mais de

600 mil professores e funcionários

na sua base. A participação da

categoria foi fundamental para

a consolidação do processo

eleitoral. Votando os profissionais

de educação das escolas públicas

estaduais e municipais fortaleceram

a luta do sindicato pela educação

pública de qualidade e pela

valorização da categoria.

Veja abaixo os resultados finais para a direção do Sepe Central:

Chapa 8: Sepe que te quero forte

4015 votos (26,52%)

Chapa 1: Unidade, Luta e Democracia se faz com a Categoria

2643 votos (17,45%)

Chapa 2: Oposição, Por um Sepe de Vitórias

2.512 votos (16,59%)

Chapa 7: Só a luta muda a vida. O Sepe tem que mudar

2141 votos (14,14%)

Chapa 6: Chapa Quente, Por um Sepe Classista, Combativo e

Pela Base. Oposição de Esquerda por uma Nova Direção

1327 votos (8,76%)

Chapa 4: Avançar na Luta, O Sepe que Queremos Pela Base

1115 votos (7,36%)

Chapa 3: Educação

736 votos (4,86%)

Chapa 5: Novos Rumos. Por um Sepe de Classe e com a categoria

653 votos (4,31%)

Brancos - 537 votos (3,29%)Nulos - 649 votos (3,97%)Total de votantes - 16.328