prévia edição 34

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Palestina massacrada_Como desejaremos um “bom dia” em Gaza? R$ 5 edição nº 34 outubro 2014 Num segundo turno marcado pela despolitização, nosso especial analisa a conjuntura política dentro e fora das urnas Com conteúdo + MEDIA FAZENDO Eleições 2014 Edição Digital reduzida Clique aqui - www.tinyurl.com/34impressa para adquirir a edição impressa pela internet e receber em casa Clique aqui - www.tinyurl.com/34digital para comprar a edição digital completa. Clique aqui - www.tinyurl.com/revistavirusplanetario para assinar a Vírus!

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Prévia da edição 34 (outubro/2014) da Revista Vírus Planetário

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Page 1: Prévia Edição 34

Palestina massacrada_Como desejaremos um “bom dia” em Gaza?

R$5edição

nº 34outubro

2014

Num segundo turno marcado pela

despolitização, nosso especial analisa a

conjuntura política dentro e fora das urnas

Com conteúdo

+MEDIAFAZEN

DO

PARA ALÉM DAS URNAS

Eleições2014

Edição Digital reduzida

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Resultado do ideb 2013

não mostra a realidade

das escolas estaduais

37 ANOS NA LUTA EM

DEFESA DA EDUCAÇÃO

PÚBLICA

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A rede estadual matriculou no en-sino médio, em 2013, 410 mil alu-

nos (dados do INEP). Neste mesmo ano, foram matriculados 57 mil es-tudantes no NEJA. No autonomia, foram matriculados 34 mil alunos.

Assim, quase 20% dos alunos da rede estadual deixaram de ser ava-

liados pelo IDEB no ano passado. Nos últimos anos mais de 150 es-

colas estaduais foram fechadas.

Um estudo do professor Nicholas Davies, da Faculdade de Educação

da UFF, já tinha mostrado que o número de matrículas no estado

vem diminuindo em relação ao ensino privado: de 2006 a 2012, a redução das vagas nas escolas es-

taduais foi de quase 35%, passando de 1,5 milhão para 973 mil. Hoje,

a rede privada no Rio é a segunda maior do Brasil em termos percen-

tuais. Somos o único estado em que a rede privada na educação

básica é maior do que a estadual.

Para o Sepe, a criação de siste-mas de avaliação como o IDEB se

configura em mais um mecanismo criado pelos governos para mas-

carar a real situação nas nossas escolas. Muito mais efetivo do que o IDEB seria discutir com a comu-

nidade escolar o papel da escola como um bem público para aferir as demandas dos nossos alunos e

da comunidade em geral.

Ao invés disto, a política educa-cional do Estado, transforma as escolas em fábricas e os alunos em mercadorias. Os índices são

medidos por resultados e produ-tividade, a partir de metas estabe-

lecidas, sem que sejam levadas em conta as condições de trabalho, as

diferentes realidades nas quais as escolas estão inseridas e sem criar condições igualitárias de valoriza-

ção profissional.

>>> Secretário Risolia

diminuiu matrículas e

fechou mais de 150 escolas

www.seperj.org.br

A divulgação do crescimento da nota das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro no IDEB – passando da 15ª colocação em 2011 para a 4ª colocação em 2013 – não chega a ser uma surpresa. Desde 2012, o Sepe vinha denunciando a política pedagógica da SEEDUC, que restringe o universo avaliado pelo IDEB, com uma clara estratégia para melhorar artificialmente as notas dos alunos das escolas da rede estadual.

Esta política, implementada pelo secretário Wilson Risolia, consiste na retirada do ensino regular de alunos que tinham idade acima da média escolar, que foram transferidos para o Novo Ensino de Jovens e Adultos (NEJA) e para o Projeto Autonomia (que utiliza a metodologia de Telecursos da Fundação Roberto Marinho). Estes dois programas não são avaliados pelo IDEB.

Page 4: Prévia Edição 34

EXPEDIENTE:Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Didi Helene, Daniela Fi Diego Novaes, Eduardo Sá, Fernanda Alves, Joyce Abbade, Julia Campos, Livia Valle, Mariana Adão, Mariana Moraes, Thais Linhares | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Luka Franca, Marcelo Araújo e Sueli Feliziani | Brasília: Alina Freitas, Diogo Cardeal, Edemilson Paraná, João Apolinário Passos, Maiara Zaupa e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Caio Erick, Joana Vidal, Livino Neto e Lucas Moreira | Piauí: André Café, Diego Barbosa, Mariana Duarte, Nadja Carvalho e Sarah Fontenelle | Bahia: Mariana Ferreira | Paraíba: Iarlyson Santana e Mariana Sales | Paraná: Elisa Riemer | Mato Grosso do Sul: Eva Cruz, Fernanda Palheta, Jones Mário, Marina Duarte e Tainá Jara | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho

e Rafael Balbueno Diagramação: Caio Amorim | Capa: Ilustração de Thais Linhares

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito

Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ)

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principal-

mente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário:

Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos

nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa

parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade

a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diver-sas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e

sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes

do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.

Afinal, o que é a Vírus Planetário?

#Impressão: SmartPrinter

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação, Editora e Comércio de Revistascom sede no Rio de Janeiro. Telefone: 21 3502-7877

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COMUNICAÇÃO E EDITORA

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem

o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acredi-

tamos que com mobilização social, uma sociedade em que

haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendome-dia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

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>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

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Sumário (da edição completa)

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No momento em que as ruas reivindicam democracia real, desco-memoram 50 anos do golpe civil-militar e questionam as promessas não cumpridas depois de 25 anos da Constituição Cidadã, eis que se evidencia uma democracia de baixa intensidade no Brasil. O legado ime-diato da Copa das Copas é a cri-minalização da chamada jornada de junho, com manifestantes processa-dos criminalmente, presos e foragi-dos sob a acusação estapafúrdia de formação de quadrilha armada, res-tando violado o princípio elementar da liberdade de reunião e expressão.

Liberdade de manifestação no banco do reúsPor que os governos reprimem tanto quem luta por direitos?

Já nos preparativos da Copa eram nítidos os sinais de autoritarismo. Em 2012, a partir de uma linha de crédito do Banco do Brasil direcionada para a organização dos megaeventos es-portivos, foram construídas quatro cadeias. Em 2013, o governo do es-tado do Rio de Janeiro adquiriu oito caveirões para reforçar o esquema de segurança da Copa da Fifa e dos Jogos Olímpicos. Na Copa das Con-federações, em atuação conjunta das polícias com as Forças Armadas, empregaram-se 3,7 mil militares, 500 viaturas, oito helicópteros, dois es-quadrões de Cavalaria de Choque e

uma seção de Cães de Guerra. No dia da final da Copa, 13/07 foram 26 mil soldados e policiais fazendo a segurança do evento. Manifestantes foram sitiados pelas forças de segu-rança na Praça Saens Peña e vários midiativistas agredidos.

Os manifestantes são taxados de violentos, mas o que marcou os pro-testos desde junho de 2013 foram as arbitrariedades policiais: condução e detenção para averiguação, procedi-mento típico de ditaduras; detenção por desacato quando se questiona o abuso de poder de agentes de

THIAGO MELOThiago é advogado e

coordenador do Instituto de Defensores de Direitos

Humanos (DDH)

“Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentasas margens que o comprimem” (Bertolt Bretch)

Manifestantes encurralados na Praça Saens Peña (próximo ao Maracanã) no dia da final da Copa do Mundo (13/07) | Foto: Camila Nóbrega / canal Ibase

Vírus Planetário - outubro 20146

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segurança pública; flagrantes forja-dos; quebra de sigilo e espionagem através de grampos telefônicos e monitoramento de redes sociais, inclusive de advogados; sigilo da in-vestigação policial em prejuízo do direito à ampla defesa; utilização inadequada de armamento menos letal e aparato repressivo; e até uso de armamento letal.

São 24 mortes no contexto das manifestações desde os primeiros protestos. As causas são muitas: execução, atropelamento, queda de viaduto, inalação de gás, parada cardíaca etc. Armamentos antidis-túrbios têm sido manejados com o objetivo de ferir e amedrontar. Nas favelas, segue o padrão de letali-dade policial que fez de Amarildo mais um desaparecido da demo-cracia, mesmo em se tratando de repressão a atos políticos. Somen-te no Complexo da Maré foram 10 mortes, após repressão policial à mobilização ocorrida em Bonsu-cesso, no dia 24 de junho de 2013. A polícia alegou que traficantes se infiltraram na manifestação para fazer um “arrastão”.

A trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade foi a única que recebeu atenção da grande mídia. A partir desse episódio, procurou-se etiquetar as manifestações como atos de vandalismo, em uma tentativa de desmobilizá-las, apagar suas reivindicações, omitir a crescente repressão policial que as inibe e justificar a criminalização dos movimentos sociais. De forma oportunista, o julgamento dos acu-sados Fábio Raposo e Caio Silva é dominado pelo sensacionalismo midiático.

Por vezes, manipulam-se os fa-tos para associar esta lamentável perda à violência sofrida por jorna-listas na cobertura dos protestos, quando se sabe que o sinalizador que atingiu Santiago não era diri-gido a nenhum profissional de im-prensa, se é que se pode atribuir algum alvo a um artefato explosivo lançado ao chão. Foi um triste aci-

dente, fruto de uma ação irresponsável, porém sem qualquer relação com a preocupante denúncia da Associação Brasileira de Jornalismo In-vestigativo (Abraji), já defasada, de que 133 jornalistas foram agredidos em manifestações, sendo 70% vítimas de violência policial, em violação à liberdade de imprensa.

A verdade é que não são as pedras ou rojões que ameaçam a demo-cracia. As instituições bancárias não vem a público reclamar das vidraças quebradas de suas agências, preferem viver às sobras de governos, con-tabilizando recordes de lucro. Os palácios de poder continuam imper-meáveis às demandas populares. Câmaras Municipais foram ocupadas por ativistas como normalmente não o são pelos parlamentares, o que chegou a servir de pretexto mais persuasivo que a falta de quórum para a não realização de sessões. A grande mídia deturpa até o quan-titativo de pessoas presentes nas manifestações, transforma o conflito social em assunto criminal como forma despolitizar a luta por direitos. Enquanto a proposta da OAB de reforma política está esquecida no

“ Os manifestantes são taxados de violentos, mas o que marcou os protestos foram as

arbitrariedades policiais”

Ilustração

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Kitan

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irikart.com

.br

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Ilustração: Adriano Kitani/www.pirikart.com.br

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Congresso Nacional, as eleições são mercantilizadas e colonizadas pelo poder econômico.

O inquérito da Delegacia de Re-pressão a Crimes de Informática (DRCI) que indiciou 23 manifestan-tes do Rio de Janeiro, acusados do crime de associação criminosa, é sintoma de que algo vai muito mal no Estado brasileiro. Sem provas e individualização de conduta, os acusados tiveram decretada prisão preventiva, que logo foi revogada pelo desembargador Siro Darlan. Na investigação, foram listados 73 mo-vimentos sociais como integrantes de uma suposta quadrilha armada. Na falta da identificação das pesso-as que possam ter cometido ilícitos nos protestos, optou-se por crimina-lizar genericamente diversos coleti-vos, organizações da sociedade civil e indivíduos.

O ministro da Justiça, José Edu-ardo Cardozo, em conjunto com os secretários de segurança pública e governadores dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, soltaram os gorilas da repressão, sempre prontos para fazer da exceção a regra, e ago-ra teremos trabalho para recolhê-los de volta à jaula. Desde outubro de 2013, existe uma cooperação oficial entre a polícia federal e as polícias civis e militares dos dois estados no monitoramento e investigação de grupos que “promovam atos violen-tos em manifestações”. O Exército

e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também participam desse es-forço concentrado de espionagem e contenção de protestos. Embora as leis antiterrorismo e de criminaliza-ção do vandalismo não tenham sido votadas, uma polícia política, no seu sentido mais estrito, foi colocada em serviço para recontar sob a perspec-tiva da “segurança nacional” a rebel-dia que tomou avenidas e praças.

A retórica da preservação das ins-tituições não pode servir de justifica-tiva para se restringir e criminalizar a liberdade de manifestação. Militante de movimento social que arremesse uma pedra contra uma vidraça, se identificado, poderá ser responsabi-lizado por dano ao patrimônio, é o que a legislação faculta, mas jamais como membro de uma organização criminosa ou terrorista, sob pena de se estilhaçar algo mais precioso, a própria democracia. O caminho ade-quado para o debate aberto pelas manifestações não é o direito crimi-nal, e sim a arena política. Quem há

de duvidar que nos atos apinhados de gente e cartazes estão as maio-res chances de uma verdadeira de-mocracia? Uma democracia por vir, que se pretende além do ordena-mento jurídico, das injustiças e pri-vilégios atuais, com capacidade de dialogar e assimilar a utopia de uma “vida sem catracas”.

O julgamento de 23 ativistas do Rio pelo crime de associação crimi-nosa e de militantes acusados em São Paulo, Porto Alegre e pelo país afora é uma grave violação às regras democráticas, uma tentativa de se produzir um junho às avessas. As investigações da DRCI, que captura-ram vozes de dezenas manifestan-tes em grampos telefônicos, que-rem impor obediência e silêncio às ruas. A sociedade precisa reagir ao arbítrio para que continuem vivas as ruas que não se conformam a uma “cidade mercadoria”, de gran-des eventos e empreendimentos, no entanto, quase sem direitos para sua população.

“ Optou-se por criminalizar genericamente diversos coletivos, organizações da

sociedade civil e indivíduos”

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“ O alarmismo quer nos fazer crer que

Aécio seria do mal, Dilma seria do bem”

Por Alexandre Affonso | www.quadradinhos.net

-dores e jovens.” - diz Valério, expressando o sentimento da maioria dos militantes e pessoas que se colocam a esquerda no espectro político.

Ainda em acordo, Badaró coloca uma questão que é central em relação ao posicionamento político das pessoas neste cenário desagradável: “Mas isso não pode bastar para taparmos o nariz e recomendarmos o voto no ‘menos pior’, representado pelo PT de Dilma. Fazer isso, assim sem mais, é simples-mente passar uma borracha sobre tudo aquilo que a esquerda criticou nos governos do PT nos últimos anos. Governar exatamente como os partidos da ordem sempre fizeram no país tem um custo enorme do ponto de vista da consciência social. Afinal, como confiar nos partidos de esquerda se quando aquele que representava as lutas da classe trabalhadora brasileira (ao me-nos na década de 1980), quando chegou ao poder fez ‘tudo igual’?”

É claro que, dentro deste jogo político, os sentimentos mais primários estão vindo à tona, fazendo com que sintamos um grande alarmismo, um medo do que pode vir. “O alarmismo quer nos fazer crer que Aécio seria do mal, Dilma seria do bem. Ai de nós, se não votarmos no mal menor. Essa campanha de dramatização não é educativa. O apelo emocional ao voto é muito eficaz, mas diminui o significado da disputa política.” – coloca com clareza Valério, ao nos lembrar do poder que o maniqueísmo, ou seja, a ideia que existem ape-nas dois lados e um deles é bom e o outro é ruim. Esta é a base da manipulação capitalista, que faz com que não vejamos saídas para além de PT e PSDB. Na mesma linha, Valério chama a atenção para a necessidade de nos apegarmos à leitura marxista da realidade, pois “uma análise marxista abraça um método menos emocional que o alarmismo: é uma interpretação da realidade orien-tada por um critério de classe.”

Ao mesmo tempo, Badaró apon-ta para um importante fato que de-monstra que este alarmismo tem pouca base na realidade, tendo em vista que “não há razões objetivas para que um eventual governo tu-cano recue nas políticas sociais com-pensatórias, afinal o PT demonstrou que o Banco Mundial tinha razão e é muito barato conter os efeitos sociais mais perversos das políticas neoli-berais com programas como o bolsa família.”

Diante deste quadro, Valério levan-ta uma questão polêmica, mas da qual não podemos fugir: “Alguém, mini-mamente, informado ainda pode acreditar que esta eleição é uma dis-puta entre o capital de um lado e o trabalho do outro? Não são dois pro-jetos de gestão do capitalismo, ainda que com diferenças de ênfase?”

Entrando na polêmica que separa os dois acadêmicos-militantes e boa parte da esquerda neste momento, Valério aponta que “o papel dos so-cialistas não pode ser o de reforçar essa prostração político-social, mas, ao contrário, o de incendiar os âni-mos, inflamar a esperança, e comba-ter a perigosa ilusão de que é possível regular o capitalismo.”

“Quem decidir indicar o voto em Dilma, mesmo que na forma mais elegante de voto crítico, ou seja, com a mão no nariz, para derrotar Aé-cio, deve se perguntar como vai se sentir quando for anunciado o pri-meiro pacote de ajuste fiscal em 2015. Vai se arrepender e, infelizmente, se desmoralizar. A desmoralização tem um custo alto para a esquerda. Ela é o pântano que alimenta a decepção de que não há saída coletiva, porque afinal ‘todos seriam iguais’” Valério retoma, indicando que sua leitura e de Badaró em relação ao PT caminha no mesmo sentido. Mais do que isso, Va-lério aponta qual é o verdadeiro papel da esquerda em uma eleição que está sim polarizada, mas não entre pobres e ricos, trabalhadores e empresários, mas entre dois projetos diferentes de gestão do capital.

Eleições2014

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“ Na falta de resposta petista a pautas da

esquerda, os defensores do voto nulo teriam ainda

mais elementos para reforçar sua posição.”

Por Alexandre Affonso | www.quadradinhos.net

Para Badaró, no entanto, o caminho não está, necessariamente, no voto nulo e sim em pressio-nar um posicionamento à esquerda do PT. “Sim, há argumentos mais que objetivos para a indi-cação do voto nulo. Mas, se a recomendação for a única proposta nessas semanas finais da campanha eleitoral, como as organizações da esquerda socialista vão manter o diálogo com aqueles (e por onde ando são muitos) que até o fim do primeiro turno circulavam com adesivos e material de campanha do PSOL, PSTU e PCB e hoje vestem a camisa da candidatura Dilma, ain-da que sob a sintomática simbologia das imagens de uma jovem guerrilheira (simulacro do desejo irrealizável de um voto à esquerda)? E como res-ponderão aos setores bem mais amplos da classe trabalhadora que, na ausência da mudança de fato, acabarão votando em um Aécio disposto a vestir a fantasia de Marina e sua ‘nova política’? Como Arcary (...), também não acredito que o PT vá ‘apontar o rumo de transformações popula-res para o próximo mandato, o que não fez nos últimos doze anos’. No entanto, entendo que te-ria um efeito pedagógico exemplar, se os partidos de esquerda e as organizações mais combativas do movimento social, se reunissem nos próximos dias e apontassem uma pauta de compromissos mínimos que viabilizaria o voto em Dilma no se-gundo turno das eleições.”

Badaró fecha sua defesa em pressionar o PT para um caminho à esquerda, apontando que “Ainda assim, diante da (falta de) resposta petis-ta a tal pauta, os que apontam o voto em Dilma, poderiam ir além do voto ‘útil’, em direção de fato a um voto ‘crítico’, assim como os defensores do voto nulo teriam ainda mais elementos para re-forçar sua posição.”

Mas para Valério “A tarefa daqueles que de-fendem o programa socialista consiste em de-monstrar para os trabalhadores que era e é possível ir além. Era e continua sendo possível desafiar a ordem do capital. Às vezes, infeliz-mente, muitas vezes, é preciso ter a firmeza de nadar contra a corrente.”

Referências:“Segundo turno: O que não fazer?” Por Valério Arcary- www.tinyurl.com/valerio123

“As eleições brasileiras de 2014 e os dilemas da esquerda socialista no segundo turno“ Por Marcelo Badaró Mattos - www.tinyurl.com/badaro123

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No primeiro debate entre os presidenciáveis, foi levantado o as-sunto da dívida pública brasileira e a necessidade de uma auditoria cidadã que reduziria enormamente a mesma. Além delxs, dois outros candidatos, não convidados para o debate, Mauro Iasi (PCB) e Zé Maria (PSTU), também costumam citá-la frequentemente.

Não é à toa que o tema tem ganhado tanta atenção da classe política, em especial à esquerda: o “Sistema da Dívida” toma hoje 42% do Orçamento Geral da União (a forma como o Governo Federal dis-tribui o investimento no país), e é informalmente apelidado de “Bolsa-Banqueiro”, justamente por ser um

sistema que retroalimenta os paga-mentos a grandes bancos e grupos de investimento, prejudicando as áreas sociais do país. Dos outros 58%, 4% vão para a Saúde, 3% para a Educação e míseros 0,02% para a Habitação, por exemplo.

Este mesmo Sistema da Dívida é contestado há décadas, tanto que a necessidade de uma auditoria foi incluída na Constituição Federal de 1988. Nos anos de 2009 e 2010 foi montada uma CPI da Dívida, para investigar a dívida federal. Ape-sar de não ter sido possível fazer uma auditoria de todos os títulos e contratos envolvidos, não ter sido aprovada a quebra de sigilo bancá-rio de tantos movimentos suspei-

tos, foi possível concluir a CPI com um relatório de mais de 900 páginas apontando as manipulações finan-ceiras ilegais e fraudulentas cometi-das pelo Sistema da Dívida. Ou seja, não é apenas um sistema imoral, mas também ilegal, compatível de ser anulado em tribunais interna-cionais.

O Governo Federal em algumas ocasiões afirmou que a dívida es-tava sendo reduzida com o tempo, o que não é verdade. Se, em 2014, o Orçamento da União foi fechado destinando pouco mais de R$ 1 tri-lhão para o serviço da dívida (so-mando-se juros, encargos e amor-tizações), o Governo Federal enviou ao Congresso, na última semana de

Auditoria da DívidaUma pauta mais que urgenteSó esse ano, o governo federal já havia gastado, até setembro,

mais de 825 bilhões (mais da metade de seus gastos) com juros e amortizações de dívida pública.

economiaRoberto Setúbal, presidente do banco Itaú, e Pedro Moreira Salles, à direita, ex-presidente do Unibanco,

durante celebração de fusão dos bancos. O Itaú é um dos credores da dívida pública federal | Reprodução

Por Núcleo São Paulo da Auditoria Cidadã da Dívida (texto construído coletivamente)

Vírus Planetário - outubro 201414

Page 15: Prévia Edição 34

agosto de 2014, um Projeto de Lei Orçamentária para o ano de 2015 onde propõe a destinação de R$ 1,36 trilhão do Orçamento para o serviço da dívida, dentro de um valor orçamentário total de R$ 2,86 trilhões, ou seja: 47% do Or-çamento destinados ao serviço da dívida. Sendo assim, nem sob uma perspectiva de valor abso-luto, nem percentual, esta dívida diminuiu. Muito pelo contrário, apenas vem aumentando com o passar do tempo, sendo que o va-lor deste ano para o próximo está previsto para aumentar em mais de 30%.

Em 2007, Rafael Correa, Presi-dente do Equador, decretou que fosse formada uma comissão para auditoria da dívida daquele país. Após realizada a auditoria no país, foi possível reduzir em 70% o seu saldo, o que possibilitou uma libe-ração massiva de verba pública para o setor público, acarretando em investimento pesado em saú-de pública, educação pública e ou-tras áreas. Não por acaso, o Pre-sidente foi reeleito com facilidade e segue sendo pressionado por grande parte da população a não abandonar o cargo.

Não é possível, por-tanto, dar continuidade a uma política econômica no Brasil em que grandes bancos e grupos de in-vestimento “vampirizam” a sociedade. É preciso realizar, com urgência, uma auditoria da dívida pública com respaldo na Sociedade Civil Organiza-da e em auditores fiscais idôneos, para que haja a quebra de sigilo dos contratos e títulos emi-tidos desta dívida. Desta forma, poderíamos sa-ber o quanto devemos de fato desta dívida, e o quanto é fruto de ativi-dades fraudulentas, para

que ela possa ser juridicamente questionada e em seguida cancelada, retornando, assim, boa parte desta verba para o povo brasileiro em forma de serviços públicos, aumentos salariais, investimentos em infra-estrutura e outras áreas tão fundamentais para o desenvolvimento e redução da desigualdade social.

Para isso acontecer, porém, é extramamente necessário que esta pauta obtenha amplo conhecimento e apoio popular. Se desde 1988 esta é uma determinação constitucional que nunca foi cumprida, isto significa que apenas pelo meio institucional ela deverá ser mantida às traças. Sendo assim, nós, o povo brasileiro, só conseguiremos que esta auditoria seja feita quando tomarmos ampla consciência do proble-ma, quando formos às ruas reivindicá-la, quando ela deixar de ser um problema secundário no imaginário coletivo e nos movimentos sociais.

Karl Marx, ao redigir o manifesto inaugural lido no congresso rea-lizado em Londres, onde foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional, 1864), afirma que a emancipação dxs trabalhadorxs será obra dxs próprixs trabalhadorxs. De fato, esta afir-mação também é válida neste contexto, pois a superação do Sistema da Dívida só será possível através do empenho da classe trabalhadora unida e consciente de seus desafios e objetivos.

“ O “sistema da dívida” não é apenas um sistema imoral, mas também ilegal”

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Durante a operação Protective Edge (ou Margem Protetora, em tradução livre) em Gaza, a palesti-na que vive na região, Manal Mi-qdad, escreveu o poema “Depois de uma noite cheia de mísseis, choro e medo, o céu abre o seu coração para a luz” (publicado originalmen-

te na 972mag), sobre a sensação de estar em meio ao conflito - cujo trecho encabeça este texto. Nas redes sociais, proliferaram exemplos do que acontecia do lado de lá: qual era o som daquela operação mili-tar, qual era o sentimento de estar em meio aos ataques, quem eram

as pessoas que perdiam suas vidas dia após dia. Esses registros servi-ram para reforçar alguns aspectos do que ocorreu: um ataque a civis em uma região densamente popu-lada e precária, em uma população que vive sob ocupação há décadas e em um cerco imposto há anos.

Como deseJaremos um “bom dia” em GAZA?

internacionalPai de uma das crianças mortas no ataque à praia em Gaza, onde elas

brincavam, chora ao receber a notícia Z Foto: Hosam Saleh

Por Priscila Bellini

Após 50 dias de operação militar, Israel matou mais de 2 mil pessoas, destruiu 17.200 habitações arrasando mais uma vez o povo palestino

Confira a reportagem na edição completa digital ou impressa

Vírus Planetário - outubro 201416

Page 17: Prévia Edição 34
Page 18: Prévia Edição 34

Varal artístico

“Sem filtros” | Por Elisa Riemer

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Page 19: Prévia Edição 34

Notícias da campanha:

www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv www.sindipetro.org.br

organização:

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás

100% pública e investimento em energias limpas.

DILMA, LEILÃO DO PRÉ-SAL É GOL CONTRA O BRASIL!

Page 20: Prévia Edição 34

A transformação

só vem com

educação de qualidade!

Contra a precarização da Educação do Rio de Janeiro!

Uma educação de qualidade só vem com a valorização do educador

e com infra-estrutura.

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Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro