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Edelvino Razzolini Filho Administração de Material e Patrimônio IESDE Brasil S.A. Curitiba 2013 Edição revisada

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Edelvino Razzolini Filho

Administração de Material e Patrimônio

IESDE Brasil S.A.Curitiba

2013

Edição revisada

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© 2006-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________R219a Razzolini Filho, Edelvino. Administração de material e patrimônio / Edelvino Razzolini Filho. - 1. ed., rev. - Curi-tiba, PR : IESDE Brasil, 2013. 330 p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3588-5 1. Administração de material 2. Logística empresarial. I. Título.

13-1182. CDD: 658.7 CDU: 658.7 22.02.13 27.02.13 043049__________________________________________________________________________________

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

IESDE Brasil S.A.Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

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Edelvino Razzolini FilhoDoutor e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, Especialista em Marketing, Administrador de Empresas. Atualmente é professor e coorde-nador do curso de Gestão da Informação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi su-pervisor de vendas e gerente de vendas de di-versas empresas distribuidoras de materiais e equipamentos médico-hospitalares na região Sul do Brasil; gerente de produtos de indústria farmacêutica com atuação em todo o território nacional. Foi sócio-diretor da empresa K. R. Con-sultoria e Assessoria Empresarial Ltda., atuando com treinamento e consultorias na área de lo-gística; também foi diretor-presidente da UNIE-DUC Cooperativa dos Educadores e Consultores de Curitiba; autor de diversos livros e artigos publicados em revistas e eventos científicos na-cionais e internacionais.

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Administração de materiais | 13

13 | Considerações iniciais

14 | Recursos à disposição das organizações

17 | Conceito de administração de materiais

19 | Evolução das organizações e da administração de materiais

24 | Logística e Supply Chain Management (SCM)

O sistema de administração de materiais e patrimônio | 33

33 | Funções componentes de um sistema de administração de materiais

39 | Atividades da administração de materiais

43 | Os estoques e a área de materiais

A administração de materiais nas organizações | 55

55 | A organização da área de materiais

59 | Localização e abrangência da administração de materiais

65 | Papel da administração de materiais nas organizações

Identificação, classificação e controle de materiais e bens patrimoniais |

75

75 | Introdução

75 | Identificação de materiais

79 | Classificação de materiais

82 | Controle de materiais

88 | Avaliação de desempenho como ferramenta de controle

O método ABC de classificação de materiais | 97

98 | Classificação de materiais conforme o valor – classificação ABC

104 | Outros critérios para a classificação dos materiais

106 | Ferramentas e indicadores de gerenciamento dos estoques

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Sistemas de armazenagem | 119

121 | Razões para a manutenção de espaços de armazenagem

125 | Funções dos sistemas de armazenagem

131 | Opções de armazenagem e tipos de armazéns

134 | Atividades nos sistemas de armazenagem

Dimensionamento e controle de estoques | 139

139 | Considerações iniciais

140 | Como dimensionar os estoques

142 | Política de estoque e previsão de demanda

151 | Controle de estoque

Planejamento e programação da produção | 165

165 | Introdução

166 | Questões introdutórias ao planejamento

167 | Planejamento da produção

173 | Programação da produção – programa-mestre de produção

175 | A administração de materiais e a produção

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Material Requirements Planning (MRP) | 181

181 | Introdução

183 | O MRP e as informações que o alimentam

186 | O funcionamento do MRP

A Filosofia JIT e sua importância para a administração de materiais |

199

199 | Introdução

199 | Integração e otimização

199 | Melhoria contínua (kaizen)

200 | Resposta às necessidades dos clientes

202 | O que é necessário para implantar o JIT?

208 | O JIT, seus objetivos operacionais e a questão dos estoques

212 | Os custos no ambiente JIT

Os sistemas logísticos, subsistemas e atividades |221

221 | Introdução

222 | O sistema logístico – conceitos elementares

230 | Os subsistemas logísticos

233 | Funções e atividades logísticas

Os sistemas de distribuição | 243

244 | Canais de distribuição – a interface da administração de materiais com o marketing

247 | Planejamento de distribuição

255 | Inter-relacionamento da distribuição física com os demais elementos do composto de marketing

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Os sistemas de transportes | 263

263 | Introdução

264 | Modal de transporte

265 | Transporte próprio ou terceirizado?

265 | Roteirização

265 | Nível de serviço

266 | O sistema de transportes

273 | Os intervenientes (atores) nos sistemas de transportes

O gerenciamento da cadeia de suprimento (SCM) | 283

283 | Introdução

285 | Supply Chain Management (SCM) – conceitos básicos

291 | Colaboração nas cadeias de suprimento

295 | Outras considerações sobre o SCM

A cadeia de suprimento digital e os negócios eletrônicos | 305

305 | A informação nas cadeias de suprimento

314 | Tipologia do comércio eletrônico – a linguagem do E

318 | Soluções organizacionais nas cadeias de suprimento digitais

Referências | 325

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Adm

inistração de M

aterial e Patrim

ônioApresentação

A Administração de Material e Patrimônio é uma das mais relevantes disciplinas nos cursos de Administração. Sua relevância é tão expressiva que, atualmente, passou a receber a denominação genérica Logística Empresarial. Um dos primeiros livros de logística a ser publicado no Brasil, por volta de 1990, trazia em seu subtítulo a expres-são “administração de materiais”, para demonstrar como já naquele momento havia um reconhe-cimento da importância dessa disciplina. Então, atualmente, com a ênfase dada à logística nas or-ganizações, essa disciplina está recebendo o seu merecido destaque.

Um dos objetivos deste livro é destacar a impor-tância da Administração de Material e Patrimônio dentro dos cursos de Administração, preenchen-do, talvez, uma importante lacuna no mercado editorial.

O livro é composto por 15 capítulos e está estru-turado em três partes essenciais: a primeira parte apresenta os conceitos básicos da administração de materiais; a segunda parte apresenta conceitos dos sistemas de armazenagem e da gestão de es-toques, além de apresentar algumas ferramentas para seu adequado gerenciamento; e a terceira parte apresenta os conceitos modernos da logísti-ca empresarial e do seu gerenciamento.

Os cinco primeiros capítulos compõem a pri-meira parte do livro e têm a finalidade de introdu-zir o aluno nos conceitos essenciais da administra-ção de materiais.

No capítulo 1 são apresentados os conceitos da administração de materiais e a forma como esses conceitos foram evoluindo ao longo do tempo; no capítulo 2 se apresenta o sistema de administra-ção de materiais e patrimônio, destacando-se as funções que compõem esse sistema; o capítulo 3 mostra a administração de materiais nas organi-zações, destacando-se sua localização (em termos

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de organograma) e sua abrangência nos sistemas gerenciais; já o capítulo 4 trata da identificação, classificação e controle de materiais e dos bens pa-trimoniais, como elementos essenciais para uma administração de materiais eficiente, que auxilie a organização a atingir os objetivos estabelecidos pela alta administração; por fim, o capítulo 5 apre-senta o método ABC de classificação de materiais como uma importante ferramenta para facilitar o gerenciamento dos recursos materiais (principal-mente os estoques), de forma a minimizar os in-vestimentos de recursos organizacionais.

A segunda parte do livro, que são os capítulos de 6 a 10, objetiva apresentar o papel da armaze-nagem para uma boa administração de materiais.

O capítulo 6 apresenta os conceitos essenciais de um sistema de armazenagem e os principais sis-temas de armazenagem, com suas respectivas es-truturas. No capítulo 7 se discorre sobre o dimensio-namento e o controle dos estoques, demonstrando o papel das variáveis demanda e tempo sobre o controle dos estoques. No capítulo 8 se apresen-tam os conceitos de planejamento e programação de materiais, sua importância e relevância para a diminuição dos investimentos em estoques. O ca-pítulo 9 trata do planejamento das necessidades de recursos materiais para o adequado funciona-mento dos sistemas produtivos, apresentando os conceitos de MRP (Material Requirement Planning) e sua evolução. Por fim, o capítulo 10 trata da Filo-sofia Just-in-Time, seus conceitos elementares, sua evolução e importância para a administração de materiais.

A terceira parte do livro busca relacionar a ad-ministração dos materiais no contexto mais amplo da moderna logística empresarial. Para tanto, o ca-pítulo 11 apresenta o sistema logístico, seus com-ponentes e as atividades logísticas (primárias e se-cundárias). No capítulo 12 se apresenta o sistema

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ôniode distribuição, relacionando seu impacto sobre a administração de materiais. O capítulo 13 trata do sistema de transportes e busca demonstrar o papel da variável tempo para a administração de mate-riais. O capítulo 14 trata de um tema atual e sempre relevante: a administração da cadeia de suprimen-tos, que é extremamente importante para a admi-nistração de materiais. No último capítulo da obra aborda-se outro tema relevante e atual: a cadeia de abastecimento e o comércio eletrônico, uma vez que a prática do comércio eletrônico apresenta crescimento constante nos dias atuais.

Assim estruturado, o livro busca apresentar os conceitos e as ferramentas essenciais para uma adequada administração dos recursos materiais e patrimoniais que são colocados à disposição das organizações e que necessitam ser minimizados para que os resultados possam ser maximizados. Com essa visão em mente é que se buscou elabo-rar o presente livro. Portanto, desejamos ao leitor uma boa leitura e ótimo aproveitamento dos con-teúdos aqui disponibilizados.

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Administração de materiais

O objetivo deste capítulo é apresentar o conceito de administração de materiais e sua evolução ao longo do tempo, como forma de estabelecer as bases para a aprendizagem desse conteúdo tão importante para a formação do administrador.

A administração de materiais é de vital importância para a redução de custos e aprimoramento dos processos produtivos, quando corretamente compreendida e desempenhada. Analisando-se os balanços das organiza-ções é possível perceber que os investimentos em estoques representam uma média de 1/3 dos ativos totais das empresas. Isso significa que é funda-mental gerenciar adequadamente os materiais que são utilizados nos pro-cessos produtivos.

Considerações iniciaisEssencialmente, a atividade administrativa implica o processo de trans-

formação de recursos de entrada em recursos de saída, conforme se visualiza na figura a seguir:

Fornecedores ClientesRecursos de entrada

Recursos de saída

Processamento dos recursos

Processos administrativos

Processos operacionais

Processos tecnológicos

Outros processos

Financeiros

Materiais

Humanos

Energéticos

Tecnológicos

Equipamentos

Etc.

Juros/Lucros

Produtos

Salários

Serviços

Marcas/Patentes

Etc.

Figura 1 – A dinâmica do funcionamento organizacional.

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Administração de materiais

Os recursos de entrada são obtidos junto a fornecedores, e podem ser ordenados em grupos principais: recursos financeiros; recursos materiais; recursos humanos; recursos energéticos; recursos tecnológicos; equipamen-tos; facilidades1 etc.

A organização agrupa esses recursos e, utilizando-se de processos inter-nos, os transforma em recursos de saída, destinados aos seus clientes. Isso implica que os recursos colocados à disposição da organização, obtidos de seus fornecedores, devem ser bem gerenciados para se obter as saídas de recursos desejados pelos clientes da organização.

Essa transformação de recursos depende em grande parte da adminis-tração de materiais, que é responsável por obter e gerenciar os recursos que serão processados pela organização. É exatamente sobre essa atividade, a administração de materiais, que vamos discorrer nesta obra, buscando de-monstrar o seu papel para a Administração, como ela funciona e os resulta-dos que oferece aos sistemas organizacionais.

Recursos à disposição das organizaçõesComo se percebe, pela figura 1 (A dinâmica do funcionamento organiza-

cional), os recursos que são disponibilizados às organizações, para que atin-jam seus objetivos, têm sua origem naquilo que genericamente chamamos de fornecedores. Tais fornecedores podem disponibilizar às organizações os diferentes tipos de recursos de que elas precisam para operacionalizar seus processos produtivos, podendo ser visualizados na figura a seguir.

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Materiais Patrimoniais

Financeiros (capitais)

Energéticos Tecnológicos Humanos

Recursos organizacionais

Figura 2 – Os recursos gerenciáveis pelas organizações.

1 Do inglês facilities, para significar todos os recur-sos adicionais necessários aos processos produtivos, como: instalações de ar comprimido, instalações elétricas, de gás etc.

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Administração de materiais

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Claro que existem outros recursos que podem ser utilizados pelas organi-zações, como os recursos informacionais. Porém, relacionamos apenas os seis encontrados na figura 2, e daremos ênfase aos recursos materiais e aos patri-moniais, uma vez que os mesmos são o objeto de nosso estudo.

Os fornecedores dos recursos financeiros são chamados de capitalistas e podem fornecer capitais próprios, os sócios ou acionistas, ou capitais de ter-ceiros, os fornecedores, bancos etc.

Os fornecedores dos recursos energéticos podem ser os governos (energia elétrica, gás etc.) ou empresas privadas (madeira, óleo diesel etc.).

Os fornecedores de recursos tecnológicos (máquinas, equipamentos, soft-ware, processos etc.) podem ser tanto empresas públicas quanto privadas.

Os recursos humanos podem ser fornecidos por empresas terceirizadas ou contratados diretamente pela própria organização.

Os recursos materiais são as matérias-primas, materiais auxiliares e os in-sumos utilizados nos processos produtivos, os de escritório, de higiene e lim-peza etc., e devem ser corretamente administrados, uma vez que são recur-sos de uso contínuo e precisam ser adquiridos e gerenciados visando atingir os objetivos de redução de custos e/ou de maximização de resultados. Ge-ralmente, os recursos materiais encontram-se no chamado Ativo Circulante das organizações e recebem o nome genérico de estoques.

Por fim, os recursos patrimoniais são aqueles que compõem o chama-do Ativo Permanente das organizações e são representados por máquinas, equipamentos, veículos, móveis, utensílios e demais facilidades necessárias ao funcionamento da organização.

Recursos materiaisEssencialmente, entende-se por recursos materiais quaisquer bens que

sejam utilizados nos processos produtivos organizacionais. Segundo Mar-tins e Alt (2000, p. 6), “por transmitirem a ideia de que são capazes de gerar produtos e serviços e, portanto, produzir riquezas, os bens são muitas vezes considerados como sinônimo de recursos”.

Para a administração de materiais, os bens (parte do patrimônio da or-ganização) são sinônimos de recursos materiais e, assim, são considerados

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apenas aqueles que integram o chamado Ativo Circulante das organizações e que, genericamente, recebem o nome de estoques. Ou seja, o objeto central da administração de materiais é o estoque à disposição das organizações.

Os estoques são compostos, basicamente, de materiais auxiliares, maté-rias-primas, produtos em processo (WIPs – Work in Process) e produtos acaba-dos. Cada um desses materiais merecerá um cuidado e atenção diferenciada para que os objetivos da organização possam ser atingidos. A correta gestão dos estoques é a essência da administração de materiais.

Recursos patrimoniaisPara a contabilidade, o patrimônio de uma organização é entendido como

o conjunto de bens, direitos e obrigações que são colocados à sua disposi-ção pelos sócios e/ou fornecedores. O papel da administração de materiais e do patrimônio é zelar por tais recursos, gerindo-os de forma a garantir sua utilização racionalmente para permitir que se atinjam os objetivos organiza-cionais de maximização dos resultados (lucro).

Esse “conjunto de bens, direitos e obrigações” representa um conjunto de recursos que, bem administrado, poderá contribuir com os objetivos da organização, uma vez que, ainda segundo a ciência contábil, o patrimônio líquido é representado pela seguinte equação:

Patrimônio Líquido = (Bens + Direitos) – Obrigações

No conjunto de bens e direitos encontram-se os recursos patrimoniais (ativos permanentes), os estoques, os recursos financeiros etc. e, no conjunto dos direitos, encontram-se os resultados da venda dos produtos e/ou ser-viços gerados pelos processos produtivos, representados, entre outros, por duplicatas a receber. Para a disciplina de administração de materiais quando nos referimos ao patrimônio, estamos dedicando atenção apenas aos bens que fazem parte do ativo permanente.

Como se pode perceber, pelos conteúdos acima, a administração de re-cursos materiais é diferente da administração dos patrimoniais, embora sua gestão tenha a mesma finalidade, ou seja, contribuir para que se atinjam os objetivos das organizações, em termos de minimizar os recursos (materiais ou patrimoniais) para possibilitar uma maximização dos resultados.

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Conceito de administração de materiaisPara compreender o significado da administração de materiais, é necessá-

rio compreender o significado das duas palavras: administração e materiais.

A palavra administração designa tanto a ciência que estuda os fenôme-nos organizacionais, quanto o local onde se localizam os serviços adminis-trativos ou, ainda, o conjunto de regras que objetivam ordenar e controlar os processos organizacionais, com produtividade e eficiência, visando atingir resultados predeterminados.

Por outro lado, a palavra materiais assume o significado do conjunto de objetos, instrumentos, equipamentos, ferramentas ou outros que são utiliza-dos em um serviço ou processo produtivo. Ou, ainda, o mobiliário ou conjun-to de utensílios de uma organização.

Dessas duas palavras, assim conceituadas, podemos inferir que adminis-tração de materiais implica gerenciar os recursos à disposição de uma deter-minada organização para atingir os objetivos estabelecidos. Porém, não são todos os recursos apresentados na figura 1 que são objeto do gerenciamen-to pela área de atuação da administração de materiais. Apenas os recursos materiais propriamente ditos e os relacionados com o patrimônio é que são objetos de preocupação da área de materiais.

Inicialmente, podemos definir a administração de materiais como sendo o conjunto de regras, ou normas, que visam ordenar os processos organizacio-nais relacionados com os materiais à disposição da organização, com produti-vidade e eficiência, de forma a atingir objetivos preestabelecidos.

Segundo diferentes autores, existem formas diversas de se conceituar a administração de materiais. Segundo Arnold (1999, p. 26), a administração de materiais é a função “responsável pelo fluxo de materiais a partir do forne-cedor, passando pela produção até o consumidor” ou, ainda, “planejamento e controle da distribuição e administração da logística”.

Para Martins e Alt (2000, p. 5),

[...] a administração dos recursos materiais engloba a sequência de operações que tem seu início na identificação do fornecedor, na compra do bem, em seu recebimento, transporte interno e acondicionamento, em seu transporte durante o processo produtivo, em sua armazenagem como produto acabado e, finalmente, em sua distribuição ao consumidor final.

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Para Arnold (1999, p. 26) “administração de materiais é uma função coor-denadora responsável pelo planejamento e controle do fluxo de materiais”.

Por outro lado, Francischini e Gurgel (2002, p. 5) definem a administra-ção de materiais como a “atividade que planeja, executa e controla, nas con-dições mais eficientes e econômicas, o fluxo de material, partindo das es-pecificações dos artigos a comprar até a entrega do produto terminado ao cliente”.

Outra definição útil é a do Council of Supply Chain Management Professio-nals (CSCMP), ou Conselho dos Profissionais de Administração das Cadeias de Suprimentos, que definem a administração de materiais como sendo “a logística de entrada de materiais, desde os fornecedores até o processo pro-dutivo”. Ou, ainda, a movimentação e a administração de materiais e produ-tos acabados desde a obtenção (compra), até o processo de produção2.

Nos três primeiros conceitos apresentados, temos em comum a existência de um “fluxo” de materiais desde o fornecedor, atravessando a organização, até chegar ao cliente final. Apenas para o CSCMP é que o fluxo se encerra no processo produtivo. Além disso, também está implícita no conceito a existên-cia de uma “quantidade” de materiais em movimentação. Como fluxo se rela-ciona com tempo, isso significa que temos duas variáveis essenciais a serem consideradas nos conceitos apresentados: (1) quantidade; e (2) tempo.

Essas duas variáveis (quantidade e tempo) serão sempre objetos de preo-cupação da administração de materiais. Importante esclarecer, também, que o objeto de preocupação da administração de materiais, sua razão de ser, deve estar focada em:

utilizar da maneira mais racional possível os recursos da organização �(maximizando-os); e

apresentar um nível de serviço em consonância com o desejado pelo �cliente.

Isso significa que a administração de materiais deve preocupar-se em ge-renciar adequadamente os fluxos de materiais ao longo dos processos, de forma a garantir sua melhor utilização e, ao mesmo tempo, oferecendo o mais alto nível de serviços possível aos clientes.

Na evolução dos conceitos como consequência da evolução da admi-nistração, como se verá no próximo tópico, o que existiam eram termos

2 No original em inglês: Materials Management - Inbound logistics from suppliers through the pro-duction process. The mo-vement and management of materials and products from procurement through production.

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diferentes com significados semelhantes. Ou seja, tratava-se de atividades relacionadas com o deslocamento de materiais e um fluxo de informações, desde uma fonte de matéria-prima até o cliente final. Ao longo do tempo, a evolução natural conduziu ao conceito mais amplo de logística, que vem ocupando espaço nas organizações, conquistando respeito profissional e in-fluindo na estratégia das organizações.

Finalmente, podemos conceituar a administração de materiais como sendo o conjunto de regras, ou normas, que visam adequar os processos orga-nizacionais aos fluxos de materiais à disposição da organização, garantindo sua maximização, para atingir os objetivos organizacionais e os de satisfação do cliente em termos de nível de serviço.

Ao longo do texto, utilizaremos indistintamente as expressões adminis-tração de materiais, suprimentos, gestão de suprimentos ou logística de su-primentos, com o mesmo significado acima exposto.

Uma vez que sabemos conceitualmente o que é administração de mate-riais, podemos analisar sua evolução ao longo do tempo e como as organi-zações evoluíram sob essa perspectiva.

Evolução das organizações e da administração de materiais

Para se compreender como as organizações evoluíram, e com elas a admi-nistração de materiais, é necessário entender o ambiente no qual as organi-zações se inserem, ou seja, o cenário (“pano de fundo”) em que elas precisam competir. Para isso, efetuamos um corte temporal a partir da II Grande Guerra Mundial (IIGGM), iniciando com a década de 1950 para explicar esse ambiente e suas consequências para as organizações. Uma vez que, segundo Corrêa e Corrêa (2004, p. 34-35):

A guerra praticamente ocorreu sobre a Europa e o Japão. Numa situação de guerra, os envolvidos não apenas visam a objetivos militares, mas também industriais de seus inimigos, de onde saem equipamentos e suprimentos. Isso significa que ao final da IIGGM a capacidade produtiva mundial encontrava-se severamente deprimida. Ao mesmo tempo, a capacidade de demanda, reprimida por muitos anos durante a guerra, estava vivendo um período de “bolha de consumo”.

No início da década de 1950, o mundo vivia ainda as consequências do pós-guerra, em que as indústrias estavam focadas em atender às demandas de um mundo em reconstrução, um mercado francamente comprador, exi-

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gindo grandes volumes de produção para atender a duas necessidades bási-cas: redução de custos operacionais; satisfazer clientes ávidos por novidades. Quando as empresas precisam competir através de grandes volumes, para reduzir seus custos operacionais, a administração de materiais deve estar focada no gerenciamento de seus inventários.

Na década de 1960, com o mundo reconstruído e clientes atendidos em suas necessidades, em termos de produtos básicos, surgem os grandes su-permercados, sobretudo nos Estados Unidos da América, e com as empresas necessitando realizar grandes esforços para concretizar vendas, passa a ser imperioso agregar valor aos produtos através da adição de serviços. Nesse cenário, o marketing ocupa o espaço central das preocupações organizacio-nais e a ênfase da administração de materiais passa a ser a distribuição dos produtos.

Já na década de 1970 o mundo assiste ao fenômeno da “invasão” de pro-dutos japoneses, sem compreender muito bem o que acontecia. O início da década teve a primeira grande crise do petróleo (1973), quando o barril de petróleo chegou à casa dos U$30.00, fazendo com que os países produtores auferissem grandes ganhos com suas exportações e, como consequência, buscassem aplicações para seus recursos financeiros. Isso gerou uma enorme onda de investimentos de capitais, levando as organizações a focarem na lu-cratividade, uma vez que precisavam remunerar adequadamente os capitais investidos. Nesse caso, a administração de materiais teve que se concentrar nos processos produtivos para garantir eficiência operacional.

Na década seguinte, 1980, em virtude da conquista de mercado pelos japoneses, as organizações, compreendendo que o sustentáculo das in-dústrias japonesas era o fenômeno da gestão da qualidade, investiram em programas de qualidade e fizeram com que o cenário passasse a represen-tar uma competição mundial extremamente acirrada, em que conquistava clientes aquela organização com produtos com qualidade, preços competi-tivos e entregas pontuais. Isso conduziu a administração de materiais a ge-renciar os fluxos de materiais (matérias-primas) tanto nas compras, quanto na produção, como nas vendas, de forma a assegurar a qualidade desde o início até o final do processo.

Na década de 1990, como reflexo do processo evolutivo, as empresas se tornam globais, ou seja, passam a atuar em diferentes pontos do globo ter-restre e, para isso, estabelecem parcerias com seus fornecedores e/ou distri-

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buidores, para garantir que seus produtos cheguem antes que os do con-corrente aos clientes. Também ganha força a preocupação com as questões ecológicas, levando as organizações a cuidarem com a compra de materiais ecologicamente corretos e com produtos idem. Isso conduz a administração de materiais a novas técnicas de gerenciamento, uma vez que era necessá-rio ajustar os processos internos aos processos dos seus fornecedores e/ou clientes, fazendo com que o foco passasse a ser nos processos gerenciais.

Ao iniciar o século XXI, na década de 2000, o fenômeno da globalização ganha ainda mais força e a adição de inúmeros novos competidores globais (suportados, inclusive, pelas facilidades da tecnologia da informação dispo-nível), ao invés de parcerias, as empresas começam a estabelecer alianças tanto com fornecedores quanto com clientes, as preocupações com as ques-tões ecológicas evoluem ainda mais (observe as exigências de certificação ambiental para inúmeras empresas) e ganha espaço a preocupação com as questões sociais.

A esse cenário, a administração de materiais é obrigada a responder com ações flexíveis e extremamente ágeis, uma vez que as organizações com-petem com velocidade cada vez maior e, por outro lado, atuando em um número maior de países. Além disso, o surgimento do comércio eletrônico também exige maior atenção às questões espaço-temporais.

Um resumo do processo evolutivo aqui descrito encontra-se no quadro a seguir.

Quadro 1 – Quadro evolutivo da administração de materiais

Época Cenário de negócios Ênfase organizacional Ênfase de materiais(R

OD

RIG

UEZ

, 200

4. A

dap

tado

.)

Anos 1950 Volume de produção Foco nos custos opera-cionais Foco no inventário

Anos 1960 Vendas Agregação de valor atra-vés de serviços Foco na distribuição

Anos 1970 Investimento de capitais Foco na lucratividade Foco na produção

Anos 1980 Competição acirrada Foco na gestão da quali-dade total

Foco em compras – pro-dução – vendas

Anos 1990 Globalização, parcerias, ecologia

Competição baseada no tempo

Foco nos processos gerenciais

Anos 2000Globalização, alianças, ecologia e responsabili-dade social

Competição baseada no tempo e no espaço geográfico

Foco na flexibilidade e na agilidade

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Administração de materiais

O quadro mostra como as organizações evoluíram e de que forma as exi-gências sobre os sistemas gerenciais foram se ampliando. Na verdade, as exi-gências em cada um dos cenários de negócios continuam sendo feitas sobre os sistemas gerenciais. Tudo isso fez com que a administração de materiais fosse ganhando cada vez mais relevância para as organizações.

A administração de materiais, com o apoio das Tecnologias da Informa-ção e de Comunicação (TICs), tem atuado de forma integrada na gestão do fluxo de materiais através dos processos produtivos. Assim, os sistemas inte-grados de gestão empresarial (ERPs) são os responsáveis por assegurar que a administração de materiais consiga cumprir os objetivos organizacionais com eficiência e eficácia.

A partir dessa evolução, e da inclusão da área dentro do sistema logís-tico, a expressão mais utilizada para designar a área de materiais é gestão de suprimentos que, segundo Arnold (1999, p. 30), “inclui todas as atividades em movimentar bens, do fornecedor para o início do processo produtivo” e, incluindo-se a distribuição física, do final do processo produtivo até o cliente final (consumidor3).

Importância da administração de materiaisDiante do processo evolutivo por que passou, a administração de mate-

riais assume importância essencial para as organizações ao ter que realizar o equilíbrio entre o nível de serviços a ser oferecido aos clientes e o custo de fornecer tal nível de serviços.

Ainda segundo Arnold (1999, p. 31),

[...] agrupando-se todas as atividades envolvidas na movimentação e estocagem de bens em um departamento, a empresa tem uma oportunidade melhor de fornecer o melhor serviço a um custo mínimo e assim aumentar lucros. A preocupação geral da administração de materiais é balancear prioridade e capacidade. O mercado estabelece a demanda. A administração de materiais deve planejar as prioridades da empresa (quais bens produzir e quando) para atender a essa demanda. A capacidade é a habilidade do sistema de produzir ou entregar bens. Prioridade e capacidade devem ser planejados e controlados para atender à demanda de consumidores a um custo mínimo.

Como é possível perceber, trata-se de um desafio enorme e, para tanto, é necessário compreender o fluxo, apresentado na figura a seguir, que começa nos fornecedores, atravessa a organização, passa pelos canais de distribui-ção, até chegar aos clientes finais.

3 Usamos a expressão clien-te, de forma abrangente, para incluir todos os elos da chamada cadeia de su-primentos: atacadistas, dis-tribuidores, varejistas etc., e não apenas o consumidor ou usuário final.

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Figura 3 – O fluxo de materiais.

Fornecedor ClientesSuprimentosDistribuição

Física

Processo Produtivo

MP Transformação (WIPs) PA

A gestão de suprimentos é a gestão de um fluxo de materiais.

Legenda:

MP = Matéria-prima

WIPs = Work in Process ou Progress (Produtos em Processo)

PA = Produtos Acabados

Edel

vino

Raz

zolin

i Filh

o.

A gestão desse fluxo de materiais implica uma série de atividades (que compõem processos) que, em última análise, visam assegurar a disponibi-lidade dos materiais certos, na hora certa, no lugar correto, em condições de utilização, por um custo que atenda às expectativas da organização e de seus clientes.

A área de materiais é, em essência, uma importante área operacional das organizações, “e paradoxalmente, no nível das unidades de operações pro-priamente dito, a tomada de decisões em muitas empresas ainda não obe-dece a uma consideração mais sistêmica de impactos nos resultados globais da organização” (CORRÊA; CORRÊA, 2004, p. 45).

A área de materiais é uma

[...] atividade de gerenciamento estratégico de recursos escassos (humanos, tecnológicos, informacionais e outros), de sua interação e dos processos que produzem e entregam produtos e serviços visando atender a necessidades e ou desejos de qualidade, tempo e custo de seus clientes. Além disso, deve também compatibilizar este objetivo com as necessidades de eficiência no uso dos recursos que os objetivos estratégicos da organização requerem. (CORRÊA; CORRÊA, 2004, p. 45)

O comentário acima deixa clara a importância estratégica da adminis-tração de materiais para, com um adequado gerenciamento dos recursos escassos, atender aos interesses dos diferentes públicos das organizações, gerando as saídas esperadas por cada um desses públicos, que estão relacio-nadas na figura 1: juros, para os capitais de terceiros; lucros, para os capitais próprios; produtos e/ou serviços, para os clientes; salários, para os empre-gados; marcas e/ou patentes, para a sobrevivência da organização; tributos, para os governos; e, ainda, outras saídas que atendam às necessidades ou desejos de outros públicos específicos.

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Administração de materiais

Em síntese, a importância da administração de materiais se caracteriza por reduzir custos e pela garantia de que os materiais corretos estarão no lugar certo, ao tempo certo e, ainda, que os recursos à disposição da organi-zação serão utilizados da forma mais racional / produtiva possível.

Na continuação, vamos apresentar uma breve introdução à logística em-presarial para possibilitar unificar a linguagem que será adotada doravante.

Logística e Supply Chain Management (SCM) Vamos estabelecer alguns conceitos iniciais para que seja possível en-

tender porque vamos utilizar indistintamente os termos administração de materiais, suprimentos, gestão de suprimentos ou logística de suprimentos, com o mesmo significado.

Logística empresarialA chamada logística empresarial é um conceito definido também pelo

CSCMP (2008), como sendo a parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla o fluxo e o armazenamento, à jusante e reverso, com eficiência e eficácia, dos bens, serviços e informações rela-cionadas, desde um ponto de origem até o ponto de consumo ou utiliza-ção; com o objetivo de atender às exigências dos clientes e os propósitos da organização.

Como é possível perceber, o conceito acima é muito semelhante ao con-ceito de administração de materiais, apresentado há pouco, uma vez que modernamente a administração de materiais tem sido chamada de logística de suprimentos ou, simplesmente, suprimentos.

Além disso, o conceito deixa clara a existência de fluxos: de materiais; e de informações. Ou seja, um fluxo físico, que conduz os bens e/ou serviços produzidos em direção ao cliente final (à jusante), ou do cliente final de volta para algum ponto do processo (à montante, a chamada logística reversa).

A palavra logística entrou no cotidiano da empresas a partir do momento em que ocorreu a estabilização econômica do Brasil, quando os responsá-

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veis pela administração das organizações descobriram que os estoques ele-vados, na maioria das vezes, escondiam os problemas existentes. Assim, a expressão logística empresarial é utilizada para englobar três dos principais subsistemas logísticos: suprimentos, produção e distribuição física, confor-me se percebe na figura a seguir.

Edel

vino

Raz

zolin

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o.

Logística empresarial

Logística de suprimentos +

Logística de produção +

Logística de distribuição física

Figura 4 – A composição da logística empresarial.

Além desses três subsistemas existem ainda, pelo menos, mais dois que são relevantes: o de pós-venda e o da logística reversa.

Supply Chain Management (SCM) O Supply Chain Management (SCM), ou administração das cadeias de su-

primentos, trata de uma abordagem mais estratégica da logística, em que a mesma é percebida como fator de diferenciação para as organizações, a partir da utilização das tecnologias da informação e da comunicação, uma vez que atualmente as organizações necessitam de mais flexibilidade e agilidade no atendimento de seus mercados. Isso obriga as organizações a integrarem seus processos internamente e, ao mesmo tempo, a buscar integrá-los com os de seus fornecedores e/ou clientes, visando reduzir custos e/ou aumentar sua eficiência na satisfação de desejos e necessidades dos clientes.

Portanto, o SCM é a integração da organização a partir de uma aborda-gem da logística como elemento diferenciador, buscando integrar o ambien-te interno com o externo para otimizar processos, possibilitando maior valor agregado e todas as etapas da cadeia produtiva. Essa abordagem pode ser percebida na figura a seguir.

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Administração de materiais

Planejamento e controle da

produçãoSuprimentos

Logística

Ambiente internoDistribuição

Ambiente externo

(RA

ZZO

LIN

I FIL

HO

, 200

1a)

Figura 5 – A logística como fator integrador e diferenciador.

Os objetivos do SCM são três: redução de custos; adição de valor; e gerar vantagem estratégica para a organização. Segundo Ching (1999, p. 67), o SCM pode ser compreendido como todo esforço realizado nos processos empresa-riais que geram valor ao cliente final, na forma de produtos e serviços. Portanto, segundo o autor, é uma forma de gerenciamento integrado do planejamento e controle do fluxo de mercadorias, informações e recursos, ao longo da cadeia logística. Isso significa que uma das tarefas essenciais da logística é o gerencia-mento de relacionamentos, de forma cooperativa, formando parcerias do tipo ganha-ganha, de forma que todos os membros da cadeia sejam beneficiados.

Diante dessas considerações, pode-se definir Supply Chain Management (SCM) como

[...] a administração sinérgica dos canais de suprimentos de todos os participantes da cadeia de valor, através da integração de seus processos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas sustentáveis ao longo do tempo. (RAZZOLINI FILHO, 2001a)

Ampliando seus conhecimentos

O papel da administração de materiais na logística(VERLANGIERI*, 2000)

Na década de setenta, as empresas não davam muita atenção para as com-pras de matérias-primas e sua administração. Tinham valores relativamente

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baixos, considerando todo o processo industrial e, portanto, achavam sem muita importância no contexto geral.

Foi nesta época que os compradores ganharam fama de serem corruptí-veis, pois muitos denegriram a imagem da categoria, obtendo ganhos pesso-ais de fornecedores, para facilitar fechamentos, já que havia pouca fiscalização e auditoria no setor.

Naquele tempo, os compradores de uma maneira geral não tinham uma formação de nível superior e consequentemente não tinham um salário con-siderado bom. Talvez por isso, muitos ficavam tentados em tirar proveito da situação e obter ganhos extras, devido a terem todo o controle da situação.

No final dos anos setenta e começo dos anos oitenta, a situação se modifi-cou. Acabou aquela fase de vamos produzir à vontade, fazer altos estoques e depois deixar para o departamento de vendas se incumbir de desovar tudo. Começava uma crise violenta no Brasil, onde o conceito de logística começou a surgir por aqui, lentamente nas empresas, pois necessitavam ter um diferen-cial da situação vigente.

Nesta fase, onde qualquer ganho conseguido com economia dos custos era importante, comprar e administrar os materiais passou a ser tão importan-te como as vendas da empresa.

Foi uma época de “limpeza” nos departamentos de compras. Muitos funcio-nários foram dispensados e até o departamento inteiro, em muitas empresas.

Começou a se formar uma nova mentalidade em compras, com:

profissionais de nível superior; �

boa fluência verbal, para argumentar/negociar; �

boa apresentação para representar a empresa; �

muitos com formação técnica, conforme os materiais comprados; �

bom salário, que representava sua importância para a empresa. �

Quem assumiu compras nesta fase, verificou que os antigos compradores:

abarrotavam os estoques com matérias-primas, para não ter o risco de �faltar material para produção e serem cobrados;

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não tinham controles históricos das aquisições (fornecedor, preço, con- �dição de pagto, prazo de entrega etc.);

não tinham critérios técnicos para escolha de fornecedores consultados; �

não tinham um � follow-up confiável (os fornecedores entregavam com atrasos, com erros de materiais, com quantidades a mais proposital-mente e muitas vezes com preços diferentes do pedido);

não havia uma verificação mais apurada e constante do padrão de qua- �lidade dos materiais dos fornecedores.

Desta época para os dias atuais, a administração de materiais só evoluiu e passou a ser um elo super importante na cadeia logística, por que:

atende ao cliente interno (manufatura); �

é responsável pela não interrupção da produção por falta de material; �

tem que ter um estoque mínimo, devido ao custo de manutenção de �estoque;

tem que adquirir sempre prontamente novas compras, conforme osci- �lação na demanda.

Os profissionais desta área são considerados de várias maneiras nas empre-sas, em termos de cargo. Antes todos eram compradores. Depois foram deno-minados analistas de suprimentos, analistas de materiais, compradores, entre outros. Cada empresa designa o cargo, conforme a abrangência da atividade.

A administração de materiais, pela sua importância, vai além do papel que executa em uma indústria e ganha o papel principal em vários negócios, entre eles os mercados, os super/hiper mercados e as grandes empresas de varejo, como os mega magazines. Estas empresas que compram para revender põem em prática toda uma ótima administração de materiais, que envolve estudos dos lotes econômicos de compra, lotes ideais de compra, estoque mínimo, estoque regulador, tempo de pedido, tempo de ressuprimento etc.

Hoje em dia é muito comum ter vários cursos de aperfeiçoamento pro-fissional nesta área. O profissional de logística, para ser mais valorizado, tem que entender sobre todos os assuntos que dizem respeito a cadeia logística e portanto não pode deixar de entender de administrar materiais.

* Marcos Valle Verlangieri é diretor da Vitrine Serviços de Informações S/C Ltda.

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Atividades de aplicação1. Após a leitura do capítulo, com suas palavras, procure conceituar ad-

ministração de materiais escrevendo seu conceito em no máximo 5 linhas.

2. Em uma rápida pesquisa, procure identificar e relacionar os principais recursos tecnológicos que as organizações utilizam. Se possível, sepa-rar por organizações industriais, comerciais e de serviços, uma vez que cada uma delas utilizará recursos tecnológicos diferentes.

3. Entende-se por recursos patrimoniais:

a) o ativo circulante das organizações.

b) o conjunto de bens, direitos e obrigações das organizações.

c) o ativo permanente à disposição das organizações.

d) o Patrimônio Líquido das organizações.

e) a diferença entre bens e direitos menos as obrigações.

4. Podemos entender Supply Chain Management, de forma resumida, como a busca de:

a) integração interna dos processos logísticos.

b) sinergia dos processos organizacionais internos.

c) sinergia entre os processos logísticos da organização.

d) integração dos processos de todos os membros da cadeia de su-primentos.

e) integrar a logística de suprimentos com produção e distribuição física.

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Gabarito1. A administração de materiais é a área funcional da administração que

se responsabiliza por gerenciar o processo de suprir uma organização com os materiais necessários ao seu adequado funcionamento, bem como o gerenciamento do patrimônio à disposição das organizações.

2. Organizações industriais: sistemas CAD/CAM, sistemas de progra-mação da produção, sistemas MRP, sistemas de gerenciamento de armazéns, máquinas e equipamentos de produção, máquinas e equi-pamentos para movimentação de materiais, computadores, equipa-mentos de comunicação, redes etc.

Organizações comerciais: sistemas de gerenciamento de armazéns, sistemas de gerenciamento de estoques, sistemas para gerenciamen-to de distribuição, sistemas roterizadores, máquinas e equipamentos para movimentação de materiais, computadores, equipamentos de comunicação, redes etc.

Organizações de serviços: computadores, sistemas específicos para gerenciamento de suas atividades principais, sistemas contábeis, de gerenciamento de recursos humanos, equipamentos de comunica-ção, redes etc.

3. C

4. D

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