É possÍvel reduzir a maioridade penal no atual...

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É POSSÍVEL REDUZIR A MAIORIDADE PENAL NO ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO? Sara Vieira Silva Estudante de Direito da Faculdade ICESP Promove de Brasília. RESUMO: O artigo científico abordará a estrutura jurídica das leis atuais no Brasil concernente à idade penal e analisar a redução da maioridade penal, tendo em vista que a população tem diferentes argumentos formados a respeito do tema. Para muitos, a redução da criminalidade só seria possível se o nosso ordenamento jurídico contivesse instrumentos mais eficazes para a punição. Para outros, essa medida geraria um número maior de criminosos, já que o Estado não está devidamente aparelhado para a ressocialização do menor infrator. Palavras-chave: Criminalidade. Redução da Imputabilidade. Menor. Abstract: The research paper will address the legal framework of current laws in Brazil regarding the criminal age and analyze the reduction of criminal responsibility , particularly the criminal age attributed to lower with its legal and penal effects in Brazil , considering that civil society has formed different opinions on the subject . For many, the reduction of crime would only be possible if our legal system contained most effective tools for punishment. For others, this measure would generate a greater number of criminals, since the state is not properly equipped for the rehabilitation of the juvenile offender . Keywords: crime. Reduction of Liability. Smaller. SUMÁRIO: Introdução; 1. . A Pec 171/1993; 2. Da Inimputabilidade; 3. Posicionamentos Desfavoráveis à Redução da Maioridade Penal; 3.1. Do Sistema Carcerário E Não Contribuir A Diminuição Da Criminalidade; 3.2. Investimento Na Educação E Aplicação Adequada Do Eca; 3.3. A Redução Da Maioridade Penal É Cláusula Pétrea; 4. Posicionamentos Favoráveis à Redução da Maioridade Penal; 4.1. O Mito Do 1%; 4.2. Sistema Carcerário Diferenciado Para Cumprimento Da Pena De Privativa De Liberdade Por Menores Infratores; 4.3. A Hipossuficiência Do Eca; 4.4. Não É Cláusula Pétrea A Alteração Do Artigo 228 Da CF/88; Considerações Finais; Referências. INTRODUÇÃO

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É POSSÍVEL REDUZIR A MAIORIDADE PENAL NO ATUAL ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO?

Sara Vieira Silva

Estudante de Direito da Faculdade ICESP Promove de Brasília.

RESUMO: O artigo científico abordará a estrutura jurídica das leis atuais no Brasil

concernente à idade penal e analisar a redução da maioridade penal, tendo em vista que a

população tem diferentes argumentos formados a respeito do tema. Para muitos, a redução da

criminalidade só seria possível se o nosso ordenamento jurídico contivesse instrumentos mais

eficazes para a punição. Para outros, essa medida geraria um número maior de criminosos, já

que o Estado não está devidamente aparelhado para a ressocialização do menor infrator.

Palavras-chave: Criminalidade. Redução da Imputabilidade. Menor.

Abstract: The research paper will address the legal framework of current laws in Brazil

regarding the criminal age and analyze the reduction of criminal responsibility , particularly

the criminal age attributed to lower with its legal and penal effects in Brazil , considering that

civil society has formed different opinions on the subject . For many, the reduction of crime

would only be possible if our legal system contained most effective tools for punishment. For

others, this measure would generate a greater number of criminals, since the state is not

properly equipped for the rehabilitation of the juvenile offender .

Keywords: crime. Reduction of Liability. Smaller.

SUMÁRIO: Introdução; 1. . A Pec 171/1993; 2. Da Inimputabilidade; 3. Posicionamentos

Desfavoráveis à Redução da Maioridade Penal; 3.1. Do Sistema Carcerário E Não Contribuir

A Diminuição Da Criminalidade; 3.2. Investimento Na Educação E Aplicação Adequada Do

Eca; 3.3. A Redução Da Maioridade Penal É Cláusula Pétrea; 4. Posicionamentos Favoráveis

à Redução da Maioridade Penal; 4.1. O Mito Do 1%; 4.2. Sistema Carcerário Diferenciado

Para Cumprimento Da Pena De Privativa De Liberdade Por Menores Infratores; 4.3. A

Hipossuficiência Do Eca; 4.4. Não É Cláusula Pétrea A Alteração Do Artigo 228 Da CF/88;

Considerações Finais; Referências.

INTRODUÇÃO

A mídia, através de diversos meios de comunicações, tem informado, alguma novidade

sobre as contradições e discussão quanto à redução da maioridade, principalmente por conta

da PEC 171/1993. Esse presente assunto tem dominado cada vez mais espaço em conflitos

políticos, jurídicos e na sociedade.

Em razão da relevância sobre o tema, o presente artigo visa apresentar os principais

alegação daqueles que defendem a redução da maioridade penal, bem como daqueles que são

contrários a redução da maioridade penal. Portanto, antes de analisar os argumentos de ambas

as correntes é necessário uma breve análise jurídico sobre os debates, situando o leitor sobre o

tema, com uma breve análise sobre a PEC 171/93, bem como analisar a estrutura analítica do

delito.

1. A PEC 171/1993

A Câmara dos Deputados, Em 1° de julho de 2015, aprovou em primeiro turno de

votação, a Proposta de Emenda Constitucional 171/1993, que altera a redação do artigo 228

da Constituição Federal, a redução da maioridade penal de 18 anos para os 16 anos de idade,

ao modo que permitir a imputabilidade do menor de 18 anos em relação aos crimes

hediondos. Além disso, outra proposta em relação a PEC 171/93 consiste no fato do jovens de

16 a 17 anos, terão que cumprir pena em estabelecimento separado dos menores de 16 anos e

maiores de 18 anos.

Com a relação a culpabilidade do agente, observa-se se recai sobre o mesmo no momento

da omissão ou ação cometida e no caso da menoridade penal como causa de inimputabilidade,

adotou-se o critério biológico, em se tratando de menor de idade, ocorre a presunção de

incapacidade

A PEC 171/93 está estruturada na técnica jurídico-penal em atividade no Brasil, ou seja,

não se reduz a maioridade penal para nenhum caso ou reduz a maioridade penal em relação a

todos os crimes previstos na legislação brasileira (observando que o critério biológico recai

sobre o agente, e não sobre o fato).

2. DA INIMPUTABILIDADE

A imputabilidade é a condição ou qualidade que possui o agente de sofrer a aplicação de

pena.

A imputabilidade é considerada como um dos elementos da culpabilidade, juntamente

com a exigibilidade de conduta diversa e o conhecimento potencial da ilicitude. A

culpabilidade, de acordo com a teoria finalista, é o juízo de reprovação que incide sobre

aquele que praticou o fato típico e ilícito.

Apurando a inimputabilidade penal foi adotado três sistema norteadores, em que

Guilherme Nucci define como1

a) Biológico: leva-se em conta exclusivamente a saúde mental do agente,

isto é, se o agente é ou não doente mental ou possui ou não desenvolvimento

mental incompleto ou retardado. A adoção restrita desse critério faz com

que o juiz absolutamente dependente do laudo pericial; b) psicológico: leva-

se em consideração unicamente a capacidade que o agente possui para

apreciar o caráter ilícito do fato ou de comportar-se de acordo com esse

entendimento. Acolhido esse critério de maneira exclusiva, torna-se o juiz a

figura destaque nesse contexto, podendo apreciar a imputabilidade penal

com imenso arbítrio; c) biopsicológico: levam-se em conta os dois critérios

anteriormente unidos, ou seja, verifica-se se o agente é mentalmente são e se

possui capacidade de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de

acordo com esse entendimento.( NUCCI, 2008, p.271).

Em relação à menoridade como causa de imputabilidade penal o artigo 27 do Código

Penal dispõe que os menores de 18 anos são inimputáveis, sendo submetidos às regras da

legislação especial.

No artigo 228 da Constituição Federal, traz basicamente mesma redação relatando que os

menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas

estabelecidas na legislação especial.

Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990) é a legislação especial

que trata dos crimes e contravenções cometidos pelos menores (chamados de atos

infracionais), que em seu artigo 104 estabelece que os menores de dezoito anos são

penalmente inimputáveis.

1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 8. ed. rev., atual e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

As crianças e adolescentes que cometerem qualquer ato ilícito, terão seus direitos

resguardados pelo ordenamento jurídico, e responsabilizados de acordo com a legislação

especial o ECA, não ficando esses totalmente impunes.

Logo surge a seguinte pergunta: o que levaram o legislador a determinar a idade

maioridade penal aos 18 anos de idade no Brasil?

Ocorre que, a escolha do início da capacidade penal para os 18 anos seria realidade

universal, mas na realidade sabemos que não é o que ocorre em outros países, como por

exemplo, nos Estados Unidos, onde a capacidade penal começa entre os 6 a 18 anos.

Portanto a escolha da maioridade penal trata se de questões de política criminal o Brasil

adota o critério biológico para aferição da culpabilidade, estabelecendo que aos 18 (dezoito)

anos a pessoa adquire capacidade de entendimento, possibilitando assim a imputação da

prática de um crime.

Diante o exposto, apresentaremos os principais argumentos dos que discutem a redução da

maioridade penal para os que são a favor e para os que são contra a essa redução.

3. POSICIONAMENTOS DESFAVORÁVEIS À REDUÇAO DA MAIORIDADE

PENAL

Os principais argumentos dos que são contra a redução penal são:

3.1. DO SISTEMA CARCERÁRIO E NÃO CONTRIBUIR A DIMINUIÇÃO DA

CRIMINALIDADE

A falência do sistema penitenciário brasileiro é notória. Sabemos da precariedade das

instituições carcerárias e das condições sub-humanas na qual vivem os presos.

O Brasil tem umas das maiores população carcerária no mundo e um sistema prisional

superlotado, ou seja, não possui mínima estrutura carcerária necessária para torna-se possível

a redução da maioridade penal, também, não há como atingir a finalidade de ressocialização

da pena colocando jovens de 16 e 17 anos de idade juntamente com adultos em presídios

superlotados, ao contrário, para os jovens isso seria verdadeira “escola para o crime”.

Uns dos deveres do Estado, certamente o dever de fornecer educação de qualidade é um

dos mais essenciais e mais determinantes quanto à não opção por uma vida de práticas

criminosas. Tendo por objetivo desenvolver princípios que irão nortear a formação do caráter

dos jovens e crianças.

Para os defensores dessa corrente a educação de qualidade é uma ferramenta muito mais

eficiente para resolver o problema da criminalidade entre os jovens do que o investimento em

mais prisões para esses mesmos jovens. O problema de criminalidade entre menores só irá ser

resolvido de forma efetiva quando o problema da educação for superado.

A visão predominante estaciona-se no fato de que a imputação penal aos menores de 18

anos só poderia vir a ser um benefício para a sociedade se o sistema prisional do país

possuísse condições que pudessem suportar o contingente de detentos. Assim, enquanto não

houver a conscientização de que o atual sistema carcerário encontra-se falido, a redução do

patamar etário como alternativa para minimizar os delitos praticados por menores, invés de

gerar efeitos positivos, propiciaria mais uma vez a ineficiência ao enfretamento da

problemática do menor infrator.

Portanto, a prioridade não seria a redução da maioridade penal, mas sim a reestruturação

do sistema carcerário no Brasil para que, posteriormente, a redução da maioridade penal tenha

ao menos aplicação efetiva e prática.

Como tudo exposto acima, para essa corrente seria necessariamente investimentos na

segurança e a reestruturação do sistema carcerário,construindo novos presídios, com o limite

suficiente de acomodações, sendo que isso seria apenas uma primeira etapa para que no

Brasil obedece as mínimas condições para alcançar as principais finalidades da pena e,

posteriormente discutir a relação da redução da maioridade penal.

Para os que apoiam essa corrente contra a redução da maioridade penal defendem que a

punição não reduz a violência, ou seja, que o índice de criminalidade não irá diminuir no

Brasil caso houvesse a aprovação da questão da redução.

Nesse sentido, a especialista Karyna Sposato, em audiência pública realizada na Câmara

dos Deputados, relatou que a redução da maioridade penal não diminui a quantidade de

crimes. “A punição não reduz a violência. Todos os países que adotaram sistemas mais

severos de repressão da violência tiveram a criminalidade aumentada”, assegurou a

representante do Unicef.2

2 http://www2.planalto.gov.br/noticias/2015/06/reducao-da-maioridade-penal-nao-diminui-quantidade-de-

crimes-afirma-consultora-da-unicef

Os crimes praticados por menores de 18 anos representam porcentagem inferior a 1% (um

por cento) se comparado aos crimes praticados por adultos, essa parcela é muito pequena,

além do fato de que a causa da violência não é decorrente da individualidade, mas de um

contexto social dado.

Nesse sentido, uma pesquisa realizada pelo o Ministério da Justiça, em 2011, aborda que

somente 1% dos crimes foi cometido por menores. Se considerarmos apenas homicídios e

tentativas de homicídio, o índice cai para 0,5%.

Segunda essa corrente as causas da violência e da desigualdade social não se resolverão

com a adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas

capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação,

por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de

adolescentes em relação ao crime e à violência.

3.2. INVESTIMENTO NA EDUCAÇÃO E APLICAÇÃO ADEQUADA DO ECA

Para os defensores da não redução da maioridade penal, a solução estaria no investimento

efetivo e amplo em educação, além da aplicação adequada do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

A falta da educação é um dos fatos dos que mais proporciona o índice de atos infracionais

cometidos no Brasil. Basta compararmos o índice de criminalidade em países desenvolvidos,

onde a educação é especialmente priorizada. Logo assim se não houver o investimento efetivo

na educação na população brasileira, o índice de crianças e adolescentes ingressando no

mundo do crime aumentará progressivamente.

Para essa corrente, as medidas socioeducativas previstas no ECA é eficientes para a

ressocialização dos menores infratores, e, ainda que assim não houvesse tais medidas, bastaria

a criação de medidas socioeducativas mais rigorosas e efetivas, como por exemplo estender o

prazo de internação dos menores infradores de 03 anos para 05 anos.

Conclui- se que se o Estado aplicasse dos instrumentos previstos no ECA de forma efetiva

e eficaz, juntamente com o investimento necessário na educação, para que o país consiga

caminhar para a solução desse conflito.

3.3. A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL É CLÁUSULA PÉTREA

As cláusulas pétreas são consideradas o núcleo irreformável da Constituição, de modo a

restringir a atuação do poder constituinte derivado. Assim sendo, o legislador ordinário (poder

constituinte derivado) não poderá modificar a Constituição Federal.

Não mais se discute que a maioridade penal é cláusula pétrea, por estar classificada entre

os direitos e garantias fundamentais no artigo 228 c.c. artigo 60, §4º, inciso IV, ambos da

Constituição Federal.

Para a maioria da doutrina, aponta que o menor já possui o direito de votar aos 16 anos, e

com isso escolher seus representantes para mudar o rumo do país, também poderia responder

pela prática de seus ilícitos na mesma medida em que os maiores de 18 anos, os defensores da

não redução da maioridade penal rebatem que tal argumento não é suficiente, pois não vincula

os direitos universais do voto, bem como também não há a obrigatoriedade do voto.

Dessa forma, nos termos do artigo 60, § 4º, da CF, não seriam nem sequer submetidas a

deliberação de proposta de emendas tendentes a abolir um direito e uma garantia individual.

Assim, ao se reduzir a maioridade penal significaria abolir uma garantia individual do menor.

Mesmo existindo argumentos de que ao reduzir a maioridade penal não estaria se abolindo

um direito individual do menor, o atual entendimento é de que tal objetivo é “tendente a

abolir” tal direito, sendo assim, inviável.

Ao se adotar o critério biológico para determinar a menoridade penal, não significa dizer

que o jovem de 16 anos não possui o entendimento de compreender os seus próprios atos,

mas sim de fixar um critério objetivo sobre a segurança jurídica na legislação brasileira.

Sendo assim, a previsão constitucional da garantia individual dos direitos garantidos e

observando a adoção do critério biológico (objetivo), os defensores dessa corrente entendem

que por essas razões a impossibilidade da redução da maioridade penal, por se tratar de

cláusula pétrea.

Diante do exposto, seria impossível reduzir a maioridade penal.

4. POSICIONAMENTOS FAVORÁVEIS À REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Em virtude de uma série de crimes violentos cometidos por menores de 18 (dezoito) anos,

ou com a participação destes, tem-se discutido a necessidade da diminuição da faixa etária

penal, propiciando assim, a responsabilidade para os menores de dezoito anos. Sendo assim,

iremos verificar alguns os principais argumentos da corrente a favor da maioridade penal.

Para essa corrente, comungam da ideia de que, um jovem de 16 anos possui, em razão do

nível de informação que tem acesso, maturidade suficiente para discernir sobre o correto e o

errado.

O raciocínio acerca da impunidade visto para que este posicionamento a possibilidade de

não responsabilização para alguns delitos significaria diretamente gerar certo estímulo ao

cometimento de novos e mais graves delitos, uma vez que nada de mais ocorreria aos

menores, pois nem sequer teriam seus nomes registrados em antecedentes criminais.

A maturidade penal não exige uma capacidade de tomar decisões complexas, mas apenas

a formação mínima de preceitos humanos.

O ideal seria a aplicação do critério biopsicológico, ou seja, se trata de conceito de justiça,

se o agente tem discernimento para entender seu caráter ilícito do fato por ele praticado o

tempo da conduta cometida, em caso positivo, seja responsabilizado pelo crime cometido.

Logo, o adolescente tem plena capacidade e entendimento de fazer e acontecer, ou seja,

praticar o crime, por isso deve também ser responsabilizado pelos seus atos tão repugnantes

diante da sociedade de bem, pois se trata de caso de justiça.

4.1. O MITO DO 1%

O colunista da Revista Veja, Leandro Narloch, relatou em seu artigo, que as notícias que

mencionavam sobre a porcentagem de 1% como sendo parcela dos crimes praticados por

menores infratores em comparação aos adultos não eram realidade e que se passava de boatos,

frutos de diversos cálculos indiretamente relacionados com o tema. Vale transcrever trecho do

mencionado artigo:

“O MITO DO 1%

Numa notacontra a redução da maioridade,

o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas

e Crime (Unodc) reproduziu a estimativa e

deu a Secretaria de Direitos Humanos como

referência. Mas a Secretaria de Direitos

Humanos diz que nunca produziu uma

pesquisa com aqueles dados.

O Congresso em Foco, hospedado pelo UOL,

afirma que “segundo o Ministério da Justiça,

menores cometem menos de 1% dos crimes

no país”. Um punhado de deputados e sites do

PT diz a mesma coisa. Mas basta um

telefonema para descobrir que o Ministério da

Justiça tampouco registra dados de faixa

etária de assassinos. “Devem ter se baseado

na pesquisa do Unicef”, me disse um assessor

de imprensa do ministério.

Seria então o Unicef a fonte da 3estimativa?

Uma reportagem do O Globo de semana

passada parece resolver o mistério: “Unicef

estima em 1% os homicídios cometidos por

menores no Brasil”. Mas o Unicef também

nega a autoria dos dados. Fiquei dois dias

insistindo com o órgão para saber como

chegaram ao valor, até a assessora de

imprensa admitir que “esse número de 1%

não é nosso, é do Globo”. Na reportagem, o

próprio técnico do Unicef, Mário Volpi,

admite que a informação não existe. “Hoje

ninguém sabe quantos homicídios são

praticados por esse jovem de 16 ou 17 anos

que é alvo da PEC.” Sabe-se lá o motivo, o

Globo preferiu ignorar a falta de dados e

repetir a ladainha do 1%. O estranho é que

o Unicef não emitiu notas à imprensa

desmentindo a informação.

Também fui atrás da Secretaria de Segurança

Pública de São Paulo, mas nada: o governo

3 NARLOCH, Leandro. Mito: “Os adolescentes cometem menos de 1% dos homicídios do Brasil e são

36% das vítimas”. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2015/04/09/mito-os-

adolescentes-cometem-menos-de-1-dos-homicidios-do-brasil-e-sao-36-das-vitimas/. Acessado em 11

de setembro de 2015.

paulista não produz estimativas de faixa etária

de assassinos, somente de vítimas. Governos

estaduais são geralmente a fonte primária de

relatórios sobre violência publicados por

ONGs e instituições federais. Se o estado com

maior número absoluto de assassinatos no

Brasil não tem o número, é difícil acreditar

que ele exista. Resumindo: está todo mundo

citando uma pesquisa fantasma.

Na verdade, uma estatística parecida até

existiu há mais de uma década. Em 2004, um

pesquisador da Secretaria da Segurança

Pública de São Paulo lançou um estudo

afirmando que menores de idade eram

responsáveis por 0,97% dos homicídios e

1,5% dos roubos. Foi assim que nasceu a

lenda do 1% de crimes cometidos por

adolescentes.

Mas a pesquisa de 2004 tropeçou num erro

graúdo. Os técnicos calcularam a

porcentagem de crimes de menores em

relação ao total de homicídios, e não ao total

de homicídios esclarecidos. Sem ligar para o

fato de que em 90% dos assassinatos a

identidade dos agressores não é revelada, pois

a polícia não consegue esclarecer os crimes.

Imagine que, de cada 100 homicídios no

Brasil, apenas oito são esclarecidos, e que

desses oito um foi cometido por adolescentes.

Seria um absurdo concluir que apenas um em

cada cem homicídios foi praticado por

adolescentes. Um estatístico cuidadoso diria

que menores foram culpados por um em cada

oito crimes esclarecidos (ou 12,5%).

Adotando esse método, os números

brasileiros se aproximariam dos de outros

países. Nos Estados Unidos, menores

praticaram 7% dos homicídios de 2012. No

Canadá, 11%. Na Inglaterra, 18% dos crimes

violentos (homicídio, tentativa de homicídio,

assalto e estupro) vieram de pessoas entre 10

e 17 anos. Tem algo errado ou os

adolescentes brasileiros são os mais pacatos

do mundo?

Sim, tem algo errado: a estatística”.

O fato do menor de idade ser inimputável tem gerado enorme revolta em parcela

considerável da sociedade, isso por conta do sentimento de impunidade e injustiça, e, também

em relação ao mito acima que por muito tempo traz os debates sobre a redução da maioridade

penal.

Claramente se veem que esta corrente tem a diminuição por questões de política criminal

o Brasil adota o critério biológico para aferição da culpabilidade, estabelecendo que aos 18

(dezoito) anos a pessoa adquire capacidade de entendimento, possibilitando assim a

imputação da prática de um crime.

4.2. SISTEMA CARCERÁRIO DIFERENCIADO PARA CUMPRIMENTO DA PENA

DE PRIVATIVA DE LIBERDADE POR MENORES INFRATORES

Para os adeptos dessa corrente, a redução da maioridade penal não significaria dizer que

os menores infratores deveram cumprir a pena aplicada juntamente com adultos, como tenta

apresentar e fazer crer a corrente anterior.

Para essa corrente defendem que para que seja efetiva a redução da maioridade penal seria

necessária a criação de um sistema prisional apto a receber jovens condenados entre os 16 e

18 anos incompletos para o cumprimento da pena privativa de liberdade. Sendo assim, a

redução alteraria o próprio sistema prisional brasileiro, como também não mudaria a aferição

de imputabilidade.

4.3. A HIPOSSUFICIÊNCIA DO ECA

Em relação a aplicação das medidas socioeducativas feita pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, essa corrente defendem que há eficácia de se modificar as medidas sócio

educativas em medidas que causem resultado e impõe medo aos menores infratores, é preciso

urgentemente a redução da maioridade penal para que os adolescentes de hoje sejam

responsáveis pelos seus atos de mero covardia e seja modificada suas infrações penais, seja

ela nas unidades de internação ou até configurar ou reestruturar as medidas sócio educativas

proferidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Tanto as estruturas da Internação quanto as condições oferecidas pelas medidas mais

brandas não cumprem o objetivo da legislação e, em razão disso, não conseguem nem punir,

nem recuperar os jovens infratores.

Assim, a aplicação dessas medidas usadas e previstas no ECA aos menores infratores que

praticam crimes violentos, são ao vê dessa corrente medidas simples e que acabam gerando

sentimento de revolta na sociedade.

Logo, aplicação da medida socioeducativa, nos termos previstos no Estatuto da Criança e

do Adolescente (Lei nº 8.069/90), não tem o condão de convencer a sociedade de que essas

medidas irão solucionar a ressocialização dos menores infratores, a qual que a cada dia pugna

pela redução da maioridade penal para os 16 anos..

Nesses casos mais graves, teria eficácia a pena privativa de liberdade que esta prevista no

Código Penal Brasileiro, a qual teria a capacidade de reprimir tais barbaridades cometidas

pelos jovens que praticam crimes violentos, além de possibilitar o alcance da prevenção e

segurança geral da população, finalidade essa acaba sendo impossível de ser alcançar ao

utilizar-se de medidas socioeducativas previstas no ECA.

4.4. NÃO É CLÁUSULA PÉTREA A ALTERAÇÃO DO ARTIGO 228 DA CF/88

Ao se tratar da alteração do art. 228 da CF/88, boa parte da doutrina entende que a

alteração desse artigo não seria inconstitucional, isso porque o art. 60, §4º, da Constituição

Federal, proíbe apenas emenda que busque revogar os direitos e garantias individuais e se

houve a redução da maioridade penal, não seria subtraída a referida garantia individual, mas

sim readequada à atual realidade do nosso país.

Nesse sentido, o artigo 60 da CF proíbe é a abolição, e reduzir maioridade

(inimputabilidade) penal não é aboli-la, isto é, não é retirá-la da Constituição, mas adequá-la,

ajustá-la em razão das transformações e dos fenômenos sociais que ocorrem a cada dia.

O Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal, já firmou orientação no

mesmo sentido, nas palavras do Ministro Sepúlveda Pertence:

“As limitações materiais ao poder constituinte

de reforma, que o art. 60, § 4º, da Lei

Fundamental enumera não significam a

intangibilidade literal da respectiva disciplina

na Constituição originária, mas apenas a

proteção do núcleo essencial dos princípio e

institutos cuja preservação nelas se protege”.

4

Ou seja, o artigo 228, da Constituição Federal, não se encontra expressamente inserido no

rol das cláusulas pétreas, e, portanto não pode ser considerado como tal, sendo possível a

redução da menoridade penal para 16 (dezesseis) anos. Destarte, está vedada a alteração por

via ordinária, sendo perfeitamente possível a redução da menoridade penal por um

procedimento qualificado, com observação da Emenda Constitucional nº 45/2004.

Clarividente que a fixação da maioridade penal é uma questão de política criminal,

atualmente já não é a mesma, principalmente pelo aumento do índice de atos ilícitos penais

praticados por menores com idade entre os 16 e 18 anos incompletos e pelo avanço da

tecnologia, facilitando os meios de comunicação que proporcionaram precoce alcance de

entendimento e maturidade daqueles que ainda não atingiram a maioridade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho buscou esclarecer, cientificamente a essência da imputabilidade penal, a

possibilidade, a pertinência, a adequação jurídica e consequências de sua redução dos 18 anos

para 16 anos.

Discutir a redução da maioridade penal constitui uma tarefa que requer estudo meticuloso,

retirando o sensacionalismo da mídia e do clamor emocional de crimes bárbaros praticados

por jovens pode-se refletir sobre a melhor solução para o constante problema social.

4 MS 23.047-MC, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14.11.2003

Da mesma forma, não verificamos qualquer inconstitucionalidade em relação a não

capacidade da redução da maioridade penal. Ao contrário, tal medida seria perfeitamente

possível, pautando-se por critérios de política criminal, observando a atual situação na

sociedade, assim como também o fez o legislador constituinte originário.

Entretanto, somos partidários do seguinte entendimento: se o Estado demonstrar que

investiu a longo prazo e de forma efetiva na educação, se demonstrar que investiu no esporte,

na saúde, saneamento básico, bem como demonstrar que aplicou rigorosamente o ECA,

objetivando de todas as formas desviar a criança e o adolescente do caminho da criminalidade

e ainda assim o problema persistir, aí sim defenderemos a redução da maioridade penal.

Visto que a capacidade de discernimento do menor, o firmamento de sua personalidade,

bem como as oportunidades de educação e lazer, aliados às condições econômicas, são de

grande importância para que não ocorra a sua inserção na criminalidade.

Ocorre que atualmente não é essa a realidade do Brasil. Um país que não investe na

educação, que não aplica o ECA de maneira efetiva e devida, além da enorme desigualdade

social, não pode agora querer que seja a reduzir a maioridade penal como forma de resposta e

segurança à sociedade de modo de diminuir o índice da criminalidade. Ao contrário, a

redução da maioridade penal hoje seria verdadeiro instrumento nas mãos de políticos

corruptos e egoístas de tentarem de alguma forma induzir a ideia de que estariam trabalhando

para reduzir a criminalidade no país, quando na verdade os mesmos já estão em débito com a

população brasileira há muitos anos quando optaram pela corrupção ao invés de investirem

rigorosamente em educação e na segurança, e realmente, investirem na aplicação efetiva do

sistema carcerário respeitando as limitações do ambiente e os direitos individuais garantidos.

Portanto, apesar de ser possível a redução da maioridade penal como já verificamos em

analise acima, concluímos que no momento atual a redução da maioridade penal no cenário

do nosso país seria inviável, não descartando, entretanto, a possível redução da maioridade em

futuro distante, no caso do Estado comprovar que mesmo não falhará para o problema não

persistir na sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 8. ed. rev., atual e ampl. – São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2008.

Decreto Nº 4.388, De 25 De Setembro De 2002. Estatuto De Roma Do Tribunal Penal

Internacional.

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