e-book metodologia do trabalho cientifico.pdf

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  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    Associao Pr-Ensino Superior em Novo Hamburgo - ASPEURUniversidade Feevale

    Cleber Cristiano ProdanovErnani Cesar de Freitas

    Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul - Brasil2013

    mEtodologia dotrabalho CiEntFiCo:Mtodos e Tcnicas da Pesquisa

    e do Trabalho Acadmico

    2 edio

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    ExPEdiEntE

    PRESIDENTE DA ASPEURArgemi Machado de Oliveira

    REITOR DA UNIVERSIDADE FEEVALERamon Fernando da Cunha

    PR-REITORA DE ENSINOInajara Vargas Ramos

    PR-REITOR DE PESQUISA E INOVAOJoo Alcione Sganderla Figueiredo

    PR-REITOR DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAOAlexandre Zeni

    PR-REITORA DE EXTENSO E ASSUNTOS COMUNITRIOSGladis Luisa Baptista

    COORDENAO EDITORIALInajara Vargas Ramos

    EDITORA FEEVALECelso Eduardo StarkDaiane Thom ScariotGraziele Borguetto Souza

    CAPA E PROJETO GRFICO Daiane Thom Scariot

    EDITORAO ELETRNICADaiane Thom ScariotGraziele Borguetto Souza

    REVISO TEXTUAL1 edio: Valria Koch Barbosa2 edio: Ernani Cesar de Freitas

    Universidade FeevaleCampus I: Av. Dr. Maurcio Cardoso, 510 CEP 93510-250 Hamburgo Velho Novo Hamburgo RSCampus II: ERS 239, 2755 CEP 93352-000 Vila Nova Novo Hamburgo RSFone: (51) 3586.8800 Homepage: www.feevale.br

    Editora Feevale Os textos assinados, tanto no que diz respeito linguagem como ao contedo, so de inteira responsabilidade dos autores e no expressam, necessariamente, a opinio da Universidade Feevale. permitido citar parte dos textos sem autorizao prvia, desde que seja identificada a fonte. A violao dos direitos do autor (Lei n. 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO (CIP)Universidade Feevale, RS, BrasilBibliotecria responsvel: Fabrcio Schirmann Leo CRB 10/2162

    Prodanov, Cleber Cristiano.Metodologia do trabalho cientfico [recurso eletrnico] : mtodos e

    tcnicas da pesquisa e do trabalho acadmico / Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

    Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.Modo de acesso: Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7717-158-3

    1. Cincia - Metodologia. 2. Pesquisa. 3. Normalizao. 4. Metodologia Estudo e ensino. I. Freitas, Ernani Cesar. II. Ttulo.

    CDU 001.8

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    AGRADECIMENTOS

    Reitoria e Pr-Reitorias da Universidade Feevale, pelo apoio e incentivo;

    Editora Feevale, pela disponibilidade e apoio;

    A todos os colegas, professores, que, ao longo dos anos, tm contribudo para a concretizao desta obra.

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    APRESENTAO

    Desde os primrdios da Filosofia, questionaram-se aspectos referentes ao mtodo e, por razes histricas, algumas vezes se imps uma forma de ver ou de fazer cincia. No sculo XVI, iniciou-se uma discusso mais intensa e, apenas no sculo XVIII, houve uma inclinao para separar a Cincia da Filosofia, pelo pragmatismo ento imposto e, acredito, pela abertura, pelo acesso e pela publicizao do conhecimento.

    A Cincia, no geral, ganha de forma significativa, porque, certamente, muitos cientistas se esforaram para tornar as descobertas acessveis ao pblico. Desde ento, os meios para alcanar os resultados de uma investigao cientfica so diversos, amplos e, na maioria das vezes, originam-se no construto de cada cincia particular.

    Nesse sentido, o livro do Prof. Dr. Cleber Prodanov e do Prof. Dr. Ernani Freitas uma obra a qual se soma s de muitos outros pensadores que se ocupam em escrever sobre a metodologia cientfica. O livro permite aos alunos e aos professores uma reflexo para alm das normas tcnicas, abrangendo conceitos do mtodo, das tcnicas de pesquisa e da organizao de um trabalho de cunho cientfico. Nesta segunda edio, entre outros avanos tericos, o contedo chega aos leitores de forma gratuita, atravs do e-book.

    Joo Alcione Sganderla FigueiredoPr-Reitor de Pesquisa e Inovao da Universidade Feevale

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    SuMRIO

    1 introdUo ........................................................................... 11

    2 mEtodologia: mtodo CiEntFiCo ................................ 13

    2.1 dEFiniES dE CinCia .........................................................................14

    2.2 CritrioS dE CiEntiFiCidadE ............................................................16

    2.3 ConhECimEnto CiEntFiCo E ConhECimEnto PoPUlar ..........21

    2.4 mtodo CiEntFiCo ...............................................................................24

    2.4.1 Mtodos de abordagem - bases lgicas da investigao ............................................................... 262.4.1.1 Mtodo dedutivo .............................................................................................................................. 272.4.1.2 Mtodo indutivo ............................................................................................................................... 282.4.1.3 Mtodo hipottico-dedutivo ............................................................................................................. 312.4.1.4 Mtodo dialtico .............................................................................................................................. 342.4.1.5 Mtodo fenomenolgico .................................................................................................................. 352.4.2 Mtodos de procedimentos meios tcnicos da investigao ....................................................... 362.4.2.1 Mtodo histrico .............................................................................................................................. 362.4.2.2 Mtodo experimental ....................................................................................................................... 372.4.2.3 Mtodo observacional ..................................................................................................................... 372.4.2.4 Mtodo comparativo ........................................................................................................................ 382.4.2.5 Mtodo estatstico............................................................................................................................ 382.4.2.6 Mtodo clnico ................................................................................................................................. 392.4.2.7 Mtodo monogrfico ....................................................................................................................... 39

    2.5 QUadroS tEriCoS dE rEFErnCia .................................................39

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    3.1 o QUE PESQUiSa? ..................................................................................42

    3.2 aSPECtoS tiCoS da PESQUiSa CiEntFiCa ....................................45

    3.3 CaraCtErStiCaS da PESQUiSa CiEntFiCa ..................................48

    3.4 ClaSSiFiCao daS PESQUiSaS ..........................................................49

    3.4.1 Do ponto de vista da sua natureza ................................................................................................. 513.4.2 Do ponto de vista de seus objetivos ............................................................................................... 513.4.3 Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos .............................................................................. 543.4.4 Do ponto de vista da forma de abordagem do problema ............................................................... 69

    3.5 EtaPaS da PESQUiSa ..............................................................................73

    3.5.1 O planejamento da pesquisa ........................................................................................................... 733.5.2 Atitudes do pesquisador .................................................................................................................. 733.5.3 Fases da pesquisa........................................................................................................................... 74

    3 PESQUiSa CiEntFiCa ............................................................ 41

    4 EStrUtUra do ProjEto dE PESQUiSa .......................... 119

    4.1 dEFinio do tEma E do ttUlo (o QU?) ...................................120

    4.2 jUStiFiCatiVa (Por QU?) ..................................................................120

    4.3 FormUlao do ProblEma .............................................................121

    4.4 ConStrUo dE hiPtESES ...............................................................122

    4.5 ESPECiFiCao doS objEtiVoS (Para QU?) ...............................124

    4.6 mEtodologia (Como?) ........................................................................126

    4.7 EmbaSamEnto tEriCo (QUaiS ConCEitoS?) .............................. 130

    4.7.1 Reviso da bibliografia ...................................................................................................................1314.7.2 Conceitos e construtos ...................................................................................................................1314.7.3 Definio dos termos ..................................................................................................................... 1324.7.4 Seleo das obras e dos trabalhos sobre o tema ........................................................................ 133

    4.8 Cronograma (QUando?) ...................................................................139

    4.9 oramEnto (Com QUanto?) .............................................................139

    4.10 rEFErnCiaS .......................................................................................... 141

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    5 trabalhoS aCadmiCoS E CiEntFiCoS noS CUrSoS dE gradUao E PS-gradUao ...... 142

    5.1 aS modalidadES dE trabalhoS CiEntFiCoS ..............................1445.1.1 Leitura ............................................................................................................................................ 1445.1.2 Trabalhos de sntese ...................................................................................................................... 1455.1.3 Trabalho cientfico e monografia ................................................................................................... 1555.1.4 Trabalho de Concluso de Curso (TCC) ....................................................................................... 1556.1.5 Relatrio da pesquisa de iniciao cientfica ................................................................................ 1565.1.6 Relatrios tcnicos de pesquisa .................................................................................................... 1565.1.7 Relatrio de estgio ....................................................................................................................... 157

    5.2 PUbliCaES CiEntFiCaS .................................................................158

    5.3 trabalhoS CiEntFiCoS noS CUrSoS dE PS-gradUao ....1685.3.1 Projeto de pesquisa: monografia, dissertao e tese ................................................................... 1695.3.2 Exame de qualificao: projeto, dissertao ou tese .................................................................... 1695.3.3 Monografia de concluso de curso ................................................................................................1705.3.4 Dissertao .....................................................................................................................................1715.3.5 Tese ............................................................................................................................................... 1725.3.6 Carter monogrfico e coerncia do texto .................................................................................... 173

    5.4 EVEntoS CiEntFiCoS .......................................................................... 174

    6 aPrESEntao dE trabalhoS aCadmiCoS ............. 181

    6.1 inStrUES gEraiS dE aPrESEntao ........................................1826.1.1 Formato do papel .......................................................................................................................... 1826.1.2 Fonte e letra .................................................................................................................................. 1826.1.3 Margens ......................................................................................................................................... 1836.1.4 Ttulos e subttulos ......................................................................................................................... 1846.1.5 Notas de rodap ............................................................................................................................ 1876.1.6 Citaes ......................................................................................................................................... 1906.1.7 Abreviaturas e siglas ..................................................................................................................... 2056.1.8 Equaes e frmulas ..................................................................................................................... 2066.1.9 Numerao de ilustraes ............................................................................................................. 2066.1.10 Figuras ........................................................................................................................................... 2076.1.11 Grficos ......................................................................................................................................... 2076.1.12 Tabelas .......................................................................................................................................... 2086.1.13 Quadros ..........................................................................................................................................2146.1.14 Anexos e apndices .......................................................................................................................214

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    7 normaS gEraiS Para Elaborao dE rEFErnCiaS..218

    8 EStrUtUra do trabalho monogrFiCo .................... 243

    7.1 tranSCriES doS ElEmEntoS daS rEFErnCiaS ................... 2197.1.1 Autoria ........................................................................................................................................... 2207.1.2 Ttulo e subttulo ............................................................................................................................ 2217.1.3 Edio ............................................................................................................................................ 2237.1.4 Local .............................................................................................................................................. 2237.1.5 Editora ............................................................................................................................................ 2247.1.6 Data ............................................................................................................................................... 2257.1.7 Descrio fsica ............................................................................................................................. 2267.1.8 Ilustraes...................................................................................................................................... 2287.1.9 Sries e colees .......................................................................................................................... 2287.1.10 Notas ............................................................................................................................................. 229

    7.2 ordEnao daS rEFErnCiaS ........................................................229

    7.3 modEloS dE rEFErnCiaS .................................................................2317.3.1 Obra monogrfica .......................................................................................................................... 2317.3.2 Dissertao de mestrado, tese de doutorado e monografias em geral ............................................ 2337.3.3 Publicao peridica ...................................................................................................................... 2347.3.4 Documento de evento .................................................................................................................... 2377.3.5 Materiais consultados em redes sociais e You Tube .................................................................... 2387.3.6 Patente ........................................................................................................................................... 2387.3.7 Documento jurdico ........................................................................................................................ 2397.3.8 Documento iconogrfico ................................................................................................................ 2407.3.9 Documento cartogrfico .................................................................................................................2417.3.10 Enciclopdias e dicionrios ............................................................................................................241

    7.4 bUSCa CiEntFiCa .................................................................................242

    8.1 ElEmEntoS Pr-tExtUaiS .................................................................2458.1.1 Capa .............................................................................................................................................. 2458.1.2 Lombada ........................................................................................................................................ 2458.1.3 Folha de rosto ................................................................................................................................ 2458.1.4 Errata ............................................................................................................................................. 2478.1.5 Folha de aprovao ....................................................................................................................... 2488.1.6 Dedicatria(s) ................................................................................................................................. 2488.1.7 Agradecimento(s) ........................................................................................................................... 2488.1.8 Epgrafe ......................................................................................................................................... 2488.1.9 Resumo na lngua verncula ......................................................................................................... 2498.1.10 Resumo na lngua estrangeira ....................................................................................................... 249

  • Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    8.1.11 Lista de ilustraes ........................................................................................................................ 2498.1.12 Lista de tabelas ............................................................................................................................. 2508.1.13 Lista de abreviaturas e siglas ........................................................................................................ 2508.1.14 Lista de smbolos ........................................................................................................................... 2508.1.15 Sumrio ......................................................................................................................................... 2508.2 ElEmEntoS tExtUaiS ..........................................................................2518.2.1 Introduo ...................................................................................................................................... 2528.2.2 Desenvolvimento ............................................................................................................................ 2528.2.3 Concluso ...................................................................................................................................... 2538.3 ElEmEntoS PS-tExtUaiS .................................................................2548.3.1 Referncias .................................................................................................................................... 2548.3.2 Glossrio ........................................................................................................................................ 2548.3.3 Apndices ...................................................................................................................................... 2558.3.4 Anexos ........................................................................................................................................... 2558.3.5 ndices ........................................................................................................................................... 255

    9 Formatao dE trabalhoS monogrFiCoS Em Word ................................................ 256

    9.1 trabalhoS CiEntFiCoS UtiliZando miCroSoFt Word 2010 ...257

    9.2 Formatao dE Pgina ....................................................................257

    9.3 Formatao dE tExto ......................................................................2599.3.1 Formatao de texto normal ......................................................................................................... 2609.3.2 Formatao de ttulos e subttulos ................................................................................................ 2629.3.3 Formatao de citaes longas .................................................................................................... 2639.3.4 Outros estilos de texto ................................................................................................................... 264

    9.4 aUtomatiZando o doCUmEnto .....................................................2649.4.1 Criando figuras e grficos ............................................................................................................. 2649.4.2 Legendas de figuras, grficos e tabelas ....................................................................................... 2659.4.3 Criando o sumrio ......................................................................................................................... 2679.4.4 Referncias a figuras, grficos, quadros e tabelas no texto ......................................................... 268

    9.5 rEViSo dE doCUmEntoS ..................................................................2699.5.1 Para revisar um documento .......................................................................................................... 2699.5.2 Para alterar um documento revisado ............................................................................................ 270

    9.6 rEComEndaES ..................................................................................271

    rEFErnCiaS ............................................................................ 272

    aUtorES .................................................................................... 275

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 11

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    11 introdUo Para cada cincia, os recursos utilizados so determinados por sua prpria

    natureza. No entanto, sua apresentao deve seguir uma padronizao. Este livro Metodologia do trabalho cientfico: mtodos e tcnicas da pesquisa e do trabalho acadmico uma obra que proporciona critrios de organizao e caracteriza a importncia das principais etapas de um projeto de pesquisa, de uma pesquisa cientfica, de artigos cientficos, ensaios e resenhas crticas, bem como relatrio tcnico-cientfico.

    Este livro foi organizado para dar suporte adequado s questes metodolgicas de trabalhos cientficos de pesquisa em nvel de graduao ou ps-graduao. Trata-se de contedo organizado para facilitar a produo de trabalhos conforme padres cientficos. No entanto, no h a pretenso de abranger todas as questes envolvidas em Metodologia Cientfica. Trata-se de uma contribuio para consulta por parte dos estudantes e professores dos cursos de graduao, de ps-graduao lato e stricto sensu. Entendemos que aprofundamentos tericos devero ser buscados em bibliografias especficas de cada rea de interesse.

    A disciplina Metodologia Cientfica, devido ao seu carter sistmico e inter-relacionado entre suas variveis de estudo, deve estimular os estudantes, a fim de que busquem motivaes para encontrar respostas s suas indagaes, respaldadas e sistematizadas em procedimentos metodolgicos pertinentes. Se nos referimos a um curso superior graduao e ps-graduao estamos naturalmente nos remetendo a uma Academia de Cincia e, como tal, as respostas aos problemas de aquisio do conhecimento deveriam ser buscadas atravs do rigor cientfico e apresentadas atravs de normas acadmicas vigentes.

    Procuramos, na medida do possvel, seguir rigorosamente as regras definidas pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) para elaborao de trabalhos cientficos. Nesse sentido, cabe registrar que o no cumprimento das normas, das regras, da responsabilidade do autor do trabalho produzido.

    Entendemos que livros de Metodologia Cientfica representam considervel auxlio com benefcio aos alunos e professores. O carter desta obra no diferente

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 12

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    desse universo considerado. Assim, nosso objetivo, nesta obra, no esgotar o assunto Metodologia de Pesquisa, mas, to somente, o de direcionar esclarecimentos sobre as principais questes da rea para aqueles cuja pretenso seja a de apresentar trabalhos de forma adequada ao contexto acadmico em que se insere. Procuramos trabalhar com simplificao e, ao mesmo tempo, desviando-nos do perigo do simplismo ou da regulamentao enrijecedora de processos e procedimentos.

    Esta obra tem no seu escopo o intuito de facilitar o entendimento e a aplicao das questes que envolvem a elaborao de trabalhos cientficos; portanto, pode ser entendida como importante auxiliar no processo do ensino-aprendizagem que os estudantes podero consultar para suprimir suas dvidas quanto aos procedimentos, s tcnicas e s normas de pesquisa.

    Diante desse cenrio de estudos e de pesquisa acadmicos, a disciplina Metodologia Cientfica tem uma importncia fundamental na formao do aluno e do profissional. Quando os estudantes procuram a Universidade para buscar o saber, precisamos entender que Metodologia Cientfica nada mais do que a disciplina que estuda os caminhos desse saber, se entendermos que mtodo quer dizer caminho, que logia quer dizer estudo e cincia, que se refere ao prprio saber.

  • CaPaSuMRIO PRINCIPAlvOlTAR AvANARSuMRIO CAPTulO

    2.1 dEFiniES dE CinCia ......................................... 14

    2.2 CritrioS dE CiEntiFiCidadE ............................ 16

    2.3 ConhECimEnto CiEntFiCo E ConhECimEnto PoPUlar .................................... 21

    2.4 mtodo CiEntFiCo ...............................................24

    2.4.1 Mtodos de abordagem - bases lgicas da investigao ......................262.4.1.1 Mtodo dedutivo ..................................................................................... 272.4.1.2 Mtodo indutivo ......................................................................................282.4.1.3 Mtodo hipottico-dedutivo .................................................................... 312.4.1.4 Mtodo dialtico .....................................................................................342.4.1.5 Mtodo fenomenolgico .........................................................................35

    2.4.2 Mtodos de procedimentos meios tcnicos da investigao ..............362.4.2.1 Mtodo histrico .....................................................................................362.4.2.2 Mtodo experimental .............................................................................. 372.4.2.3 Mtodo observacional ............................................................................ 372.4.2.4 Mtodo comparativo ...............................................................................382.4.2.5 Mtodo estatstico ...................................................................................382.4.2.6 Mtodo clnico ........................................................................................392.4.2.7 Mtodo monogrfico ...............................................................................39

    2.5 QUadroS tEriCoS dE rEFErnCia .................39

    mEtodologia: mtodo CiEntFiCo ....................13-402

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 14

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    22 mEtodologia: mtodo CiEntFiCoNo incio deste captulo, oportuno ressaltar a importncia da metodologia

    cientfica para os estudos acadmicos na universidade. Primeiramente, apresentamos a definio etimolgica do termo: a palavra Metodologia vem do grego meta = ao largo; odos = caminho; logos = discurso, estudo.

    A Metodologia compreendida como uma disciplina que consiste em estudar, compreender e avaliar os vrios mtodos disponveis para a realizao de uma pesquisa acadmica. A Metodologia, em um nvel aplicado, examina, descreve e avalia mtodos e tcnicas de pesquisa que possibilitam a coleta e o processamento de informaes, visando ao encaminhamento e resoluo de problemas e/ou questes de investigao.

    A Metodologia a aplicao de procedimentos e tcnicas que devem ser observados para construo do conhecimento, com o propsito de comprovar sua validade e utilidade nos diversos mbitos da sociedade.

    Para entender as caractersticas da pesquisa cientfica e seus mtodos, preciso, previamente, compreender o que vem a ser cincia. Em virtude da quantidade de definies de cincia encontrada na literatura cientfica, sero apresentadas algumas consideradas relevantes para este estudo.

    2.1 DEFINIES DE CINCIA

    Etimologicamente, o termo cincia provm do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer. Essa definio etimolgica, entretanto, no suficiente para diferenciar cincia de outras atividades tambm envolvidas com o aprendizado e o conhecimento. Segundo Trujillo Ferrari (1974), cincia todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigida ao sistemtico conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido verificao. Lakatos e Marconi (2007, p. 80) acrescentam que, alm der ser uma sistematizao de conhecimentos, cincia um conjunto de proposies logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenmenos que se deseja estudar.

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 15

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    Trujillo Ferrari (1974), por sua vez, considera que a cincia, no mundo de hoje, tem vrias tarefas a cumprir, tais como:

    a) aumento e melhoria do conhecimento;b) descoberta de novos fatos ou fenmenos;c) aproveitamento espiritual do conhecimento na supresso de falsos milagres,

    mistrios e supersties;d) aproveitamento material do conhecimento visando melhoria da condio de

    vida humana;e) estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza.

    Demo (2000, p. 22), em contrapartida, acredita que no campo cientfico sempre mais fcil apontarmos o que as coisas no so, razo pela qual podemos comear dizendo o que o conhecimento cientfico no . Para o autor, apesar de no haver limites rgidos para tais conceitos, conhecimento cientfico:

    a) Primeiro, no senso comum porque este se caracteriza pela aceitao no problematizada, muitas vezes crdula, do que afirmamos ou temos por vlido. Disso no segue que o senso comum seja algo desprezvel; muito ao contrrio, com ele, sobretudo, que organizamos nossa vida diria, mesmo porque seria impraticvel comportarmo-nos apenas como a cincia recomenda, seja porque a cincia no tem recomendao para tudo, seja porque no podemos dominar cientificamente tudo. No entanto, conforme Demo (2000), o conhecimento cientfico representa a outra direo, por vezes vista como oposta, de derrubar o que temos por vlido; mesmo assim, em todo conhecimento cientfico h sempre componentes do senso comum, na medida em que nele no conseguimos definir e controlar tudo cientificamente.

    b) Segundo, no sabedoria ou bom-senso porque estes apreciam componentes como convivncia e intuio, alm da prtica historicamente comprovada em sentido moral.

    c) Terceiro, no ideologia porque esta no tem como alvo central tratar a realidade, mas justificar posio poltica. Faz parte do conhecimento cientfico, porque todo ser humano, tambm o cientista, gesta-se em histria concreta, politicamente marcada.

    Diferencia-se porque, enquanto o conhecimento cientfico busca usar metodologias que pelo menos na inteno salvaguardam a captao da realidade, a ideologia dedica-se a produzir discurso marcado pela justificao. (DEMO, 2000, p. 24).

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 16

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    d) Quarto, no paradigma especfico como se determinada corrente pudesse comparecer como nica herdeira do conhecimento cientfico, muito embora lhe seja inerente essa tendncia. (DEMO, 2000, p. 25). Com maior realismo, conhecimento cientfico representado pela disputa dinmica e interminvel de paradigmas, que vo e voltam, somem e transformam-se. Com isso, podemos dizer que no produto acabado, mas processo produtivo histrico, que no podemos identificar com mtodos especficos, teorias datadas, escolas e culturas.Apesar das diversas definies de cincia, seu conceito fica mais claro

    quando se analisam suas caractersticas, denominadas critrios de cientificidade.

    2.2 CRITRIOS DE CIENTIFICIDADE

    Tendo visto o que o conhecimento no , podemos arriscar a dizer o que . Conforme Demo (2000, p. 25), do ponto de vista dialtico, conhecimento cientfico encontra seu distintivo maior na paixo pelo questionamento, alimentado pela dvida metdica. Questionamento como mtodo, no apenas como desconfiana espordica, localizada, intermitente. Os resultados do conhecimento cientfico, obtidos pela via do questionamento, permanecem questionveis, por simples coerncia de origem.

    Antes de tudo, de acordo com Demo (2000), cientista quem duvida do que v, se diz, aparece e, ao mesmo tempo, no acredita poder afirmar algo com certeza absoluta. comum a expectativa incongruente de tudo criticar e pensar que podemos oferecer algo j no criticvel.

    No contexto da unidade de contrrios, o caminho que vai o mesmo que volta; criticar e ser criticado so, essencialmente, o mesmo procedimento metodolgico. Nesse sentido, o conhecimento cientfico no produz certezas, mas fragilidades mais controladas. (DEMO, 2000, p. 25).

    Questionar, entretanto, no apenas resmungar contra, falar mal, desvalorizar, mas articular discurso com consistncia lgica e capaz de convencer. Conforme Demo (2000), poderamos propor que somente cientfico o que for discutvel. Esse procedimento metodolgico articula dois horizontes interconectados: o da formalizao lgica e o da prtica. Dito de outra maneira, conhecimento cientfico precisa satisfazer a critrios de qualidade formal e poltica. Costumeiramente, segundo

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    Demo (2000), aplicamos apenas os critrios formais, porque classicamente mais reconhecidos e aparentemente menos problemticos. Entretanto, assim procedendo, no nos desfazemos dos critrios polticos. Apenas os reprimimos ou argutamente os ocultamos.

    Para que o discurso possa ser reconhecido como cientfico, precisa ser lgico, sistemtico, coerente, sobretudo, bem-argumentado. Isso o distancia de outros conhecimentos, como senso comum, sabedoria, ideologia.

    Sistematizando, conforme Demo (2000), podemos arrolar critrios de cientificidade normalmente citados na literatura cientfica:

    a) objeto de estudo bem-definido e de natureza emprica: delimitao e descrio objetiva e eficiente da realidade empiricamente observvel, isto , daquilo que pretendemos estudar, analisar, interpretar ou verificar por meio de mtodos empricos1;

    b) objetivao: tentativa de conhecer a realidade tal como , evitando contamin-la com ideologia, valores, opinies ou preconceitos do pesquisador;

    [...] refere-se ao esforo sempre incompleto de tratar a realidade assim como ela ; no se trata de objetividade, porque impossvel, mas do compromisso metodolgico de dar conta da realidade da maneira mais prxima possvel, o que tem instigado o conhecimento a ser experimental, dentro da lgica do experimento. (DEMO, 2000, p. 28).

    Essa colocao no precisa coincidir com vcios empiristas e positivistas, mas aludir apenas ao intento de produzir discursos controlados e controlveis, a fim de evitarmos meras especulaes, afirmaes subjetivistas, montagens tericas fantasiosas; embora a cincia trabalhe com objeto construdo - no com a realidade diretamente, mas com expectativa modelar dela -, no pode ser inventado; vale a regra: tudo o que fazemos em cincia deve poder ser refeito por quem duvide; da no segue que somente vale o que tem base emprica, mormente se entendermos por ela apenas sua face quantificvel, mas segue que tambm as teorias necessitam ser referenciadas a realidades que permitam relativo controle do que dizemos;

    1 Para a cincia, emprico significa guiado pela evidncia obtida em pesquisa cientfica sistemtica.

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    c) discutibilidade: significa a propriedade da coerncia no questionamento, evitando, conforme Demo (2000, p. 28), a contradio performativa, ou seja, desfazermos o discurso ao faz-lo, como seria o caso de pretender montar conhecimento crtico imune crtica; trata-se de conjugar crtica e autocrtica, dentro do princpio metodolgico de que a coerncia da crtica est na autocrtica. Conhecimento cientfico o que busca se fundamentar de todos os modos possveis e imaginveis, mas mantm conscincia crtica de que alcana esse objetivo apenas parcialmente, no por defeito, mas por tessitura prpria do discurso cientfico;

    d) observao controlada dos fenmenos: preocupao em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado para sua obteno;

    e) originalidade: refere-se expectativa de que todo discurso cientfico corresponda a alguma inovao, pelo menos, no sentido reconstrutivo; no aceito discurso apenas reprodutivo, copiado, j que faz parte da lgica do conhecimento questionador desconstruir o que existe para o reconstruir em outro nvel (DEMO, 2000, p. 28);

    f) coerncia: argumentao lgica, bem-estruturada, sem contradies; critrio mais propriamente lgico e formal, significando a ausncia de contradio no texto, fluncia entre premissas e concluses, texto bem-tecido como pea de pano sem rasgos, dobras, buracos. Segundo Demo (2000, p. 27),

    [...] as peas encaixam-se bem, sem desafinao, os captulos fluem elegantemente, as concluses jorram sem dificuldade, quase que como necessrias, inevitveis, inequvocas; em sua face positiva, coerncia representa critrio importante, tanto pelo exerccio de lgica formal, como pela habilidade demonstrada de uso sistemtico de conceitos e teorias;

    g) sistematicidade: parceira da coerncia, significa o esforo de dar conta do tema amplamente, sem exigir que se esgote, porque nenhum tema , propriamente, esgotvel; supomos, porm, que tenhamos estudado por todos os ngulos, tenhamos visto todos os autores relevantes, dando conta das discusses e polmicas mais pertinentes, passando por todos os meandros tericos, sobretudo, que reconstruamos meticulosamente os conceitos centrais. Demo (2000, p. 27) afirma que

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    [...] exigido que se trate o assunto, sem mais, buscando matar o tema; inclumos nisso, sempre, que o texto seja enxuto, direto, claro, feito para entender-se na primeira leitura, evitando-se estilos hermticos, enrolados, empolados; admitimos que a profundidade do conhecimento combina melhor com a sobriedade;

    h) consistncia: base slida, refere-se capacidade do texto de resistir contra-argumentao ou, pelo menos, merecer o respeito de opinies contrrias; em certa medida, fazer cincia saber argumentar, no s como tcnica de domnio lgico, mas sobretudo como arte reconstrutiva. (DEMO, 2000, p. 27). Saber argumentar comea com a capacidade de estudar o conhecimento disponvel, as teorias, os autores, os conceitos, os dados, as prticas, os mtodos, ou seja, de pesquisar, para, em seguida, colocar tudo em termos de elaborao prpria; saber argumentar coincide com saber fundamentar, alegar razes, apresentar os porqus; conforme Demo (2000), vai alm da descrio do tema, para se aninhar em sua explicao, ou seja, queremos saber no apenas o como das coisas, mas, sobretudo, suas razes, seus porqus. O conhecimento nem sempre consegue ir muito longe na busca das causas para poder dominar os efeitos, mas assume isso como procedimento metodolgico sistemtico; tudo o que afirmado precisa ter base, primeiro, no conhecimento existente e considerado vlido e, segundo, na formulao prpria do autor;

    i) linguagem precisa: sentido exato das palavras, restringindo ao mximo o uso de adjetivos;

    j) autoridade por mrito: significa o reconhecimento de quem conquistou posio respeitada em determinado espao cientfico e por isso considerado argumento; segundo Demo (2000, p. 43), corre todos os riscos de vassalagem primria, mas, no contexto social do conhecimento, impossvel livrarmo-nos dele;

    k) relevncia social: os trabalhos acadmicos, em qualquer nvel, poderiam ser mais pertinentes, se tambm fossem relevantes em termos sociais, ou seja, estudassem temas de interesse comum, se se dedicassem a confrontar-se com problemas sociais preocupantes, buscassem elevar a oportunidade emancipatria das maiorias. (DEMO, 2000, p. 43). Segundo Demo (2000), frequente a queixa de que, na universidade, estudamos teorias irrelevantes, cuja sofisticao, por vezes, diretamente proporcional sua inutilidade na vida. No entanto, sem nos rendermos ao utilitarismo acadmico porque seria

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    querer sanar erro com erro oposto -, fundamental encontrar relao prtica nas teorias, bem como escrutnio crtico das prticas (DEMO, 2000, p. 43);

    l) tica: procura responder pergunta: a quem serve a cincia? Em seu contexto extremamente colonizador, o conhecimento cientfico tem sido, sobretudo, arma de guerra e lucro e, assim, como construiu fantstica potencialidade tecnolgica, pode tornar inviveis as condies ambientais do planeta (DEMO, 2000). A viso tica dedica-se sobremaneira a direcionar tamanha potencialidade para o bem-comum da sociedade, no sentido mais preciso de, primeiro, evitar que os meios se tornem fim; segundo, que se discutam no s os meios, mas tambm os fins e, terceiro, assegurar que os fins no justifiquem os meios. Conforme Demo (2000, p. 43), a fantstica potencialidade emancipatria do conhecimento at hoje tem servido a minorias, sem falar que usada muitas vezes para imbecilizar, torturar, manipular;

    m) intersubjetividade: opinio dominante da comunidade cientfica de determinada poca e lugar.

    Referncia ao consenso dominante entre os cientistas, pesquisadores e professores, que acabam avaliando e decidindo o que ou no vlido; muitas vezes, podemos entend-la como grupo fechado, mas possvel tambm v-la como concorrncia aberta entre correntes que, assim, ao lado de coibir inovaes, acabam tambm as promovendo. (DEMO, 2000, p. 43).

    A intersubjetividade considerada um critrio externo cincia, pois a opinio algo atribudo de fora, por mais que provenha de um cientista ou especialista na rea. Devemos destacar, no entanto, que a intersubjetividade to importante para a cincia como os critrios internos, ditos de qualidade formal. Desse critrio decorrem outros, como a comunicao, a comparao crtica, o reconhecimento dos pares, o encadeamento de pesquisas em um mesmo tema etc., os quais possibilitam cincia cumprir sua funo de aperfeioamento, a partir do crescente acervo de conhecimentos da relao do homem com a natureza.

    Tais critrios podem ser sistematizados certamente de outras formas, mas sempre tm em comum o propsito de formalizao. De acordo com Demo (2000, p. 29), dentro de nossa tradio cientfica, cabe em cincia apenas o que admite suficiente formalizao, quer dizer, pode ser analisado em suas partes recorrentes. Pode ser vista como polmica tal expectativa, mas a dominante, e, de modo geral, a

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    nica aceita. Por trs dela, est a expectativa muito discutvel de que a realidade no s formalizvel, mas, sobretudo, mais real em suas partes formais. O racionalismo positivista vive dessa crena e por isso aposta, muitas vezes, em resultados definitivos e parmetros metodolgicos absolutizados.

    Os movimentos em torno da pesquisa qualitativa buscam confrontar-se com os excessos da formalizao, mostrando-nos que a qualidade menos questo de extenso do que de intensidade. Deix-la de fora seria deturpao da realidade. Que a cincia tenha dificuldade de a tratar problema da cincia, no da realidade. (DEMO, 2000, p. 29).

    Tem sido chamada de ditadura do mtodo essa imposio metodolgica feita realidade, relevando nela apenas o que pode ser mensurado, ou melhor, reduzindo-a s variveis que mais facilmente sabemos tratar cientificamente.

    2.3 CONHECIMENTO CIENTFICO E CONHECIMENTO POPulAR

    Por existir mais de uma forma de conhecimento, conveniente destacar o que vem a ser conhecimento cientfico em oposio ao chamado conhecimento popular, vulgar ou de senso comum.

    No deixa de ser conhecimento aquele que foi observado ou passado de gerao em gerao atravs da educao informal ou baseado em imitao ou experincia pessoal. Esse tipo de conhecimento, dito popular, diferencia-se do conhecimento cientfico por lhe faltar o embasamento terico necessrio cincia.

    Conforme Trujillo Ferrari (1974), o conhecimento popular dado pela familiaridade que temos com alguma coisa, sendo resultado de experincias pessoais ou suposies, ou seja, uma informao ntima que no foi suficientemente refletida para ser reduzida a um modelo ou uma frmula geral, dificultando, assim, sua transmisso de uma pessoa a outra, de forma fcil e compreensvel.

    Lakatos e Marconi (2007, p. 77, grifos dos autores) comentam que o conhecimento popular se caracteriza por ser predominantemente:

    - superficial, isto , conforma-se com a aparncia, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como porque o vi. porque o senti, porque o disseram, porque todo mundo diz;

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    - sensitivo, ou seja, referente a vivncias, estados de nimo e emoes da vida diria;

    - subjetivo, pois o prprio sujeito que organiza suas experincias e conhecimentos, tanto os que adquire por vivncia prpria quanto os por ouvi dizer;

    - assistemtico, pois esta organizao das experincias no visa a uma sistematizao das idias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de valid-las;

    - acrtico, pois, verdadeiros ou no, a pretenso de que esses conhecimentos o sejam no se manifesta sempre de uma forma crtica.

    Na opinio de Lakatos e Marconi (2007), o conhecimento popular no se distingue do conhecimento cientfico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia a forma, o modo ou o mtodo e os instrumentos do conhecer.

    Para que o conhecimento seja considerado cientfico, necessrio analisar as particularidades do objeto ou fenmeno em estudo. A partir desse pressuposto, Lakatos e Marconi (2007) apresentam dois aspectos importantes:

    a) a cincia no o nico caminho de acesso ao conhecimento e verdade;b) um mesmo objeto ou fenmeno pode ser observado tanto pelo cientista

    quanto pelo homem comum; o que leva ao conhecimento cientfico a forma de observao do fenmeno.O conhecimento cientfico difere dos outros tipos de conhecimento por ter

    toda uma fundamentao e metodologias a serem seguidas, alm de se basear em informaes classificadas, submetidas verificao, que oferecem explicaes plausveis a respeito do objeto ou evento em questo.

    Assim, ao analisar um fato, o conhecimento cientfico no apenas trata de explic-lo, mas tambm busca descobrir e explicar suas relaes com outros fatos, conhecendo a realidade alm de suas aparncias. O conhecimento cientfico considerado como:

    a) acumulativo, por oferecer um processo de acumulao seletiva, em que novos conhecimentos substituem outros antigos, ou somam-se aos anteriores;

    b) til para a melhoria da condio da vida humana;c) analtico, pois procura compreender uma situao ou um fenmeno global

    por meio de seus componentes;

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    d) comunicvel, j que a comunicabilidade um meio de promover o reconhecimento de um trabalho como cientfico. A divulgao do conhecimento responsvel pelo progresso da cincia;

    e) preditivo, pois, a partir da investigao dos fatos e do acmulo de experincias, o conhecimento cientfico pode dizer o que foi passado e predizer o que ser futuro.

    f) Com base nas definies anteriormente citadas e comentadas, podemos elaborar um quadro comparativo entre conhecimento cientfico e popular.

    Quadro 1 Caractersticas dos tipos de conhecimento cientfico e popular

    Conhecimento cientfico Conhecimento popular

    real lida com fatos. valorativo baseado nos valores de quem promove o estudo.

    contingente sua veracidade ou falsidade conhecida atravs da experincia.

    reflexivo - no pode ser reduzido a uma formulao geral.

    sistemtico forma um sistema de ideias e no conhecimentos dispersos e desconexos.

    assistemtico baseia-se na organizao de quem promove o estudo, no possui uma sistematizao das ideias que explique os

    fenmenos.verificvel ou demonstrvel o que no

    pode ser verificado ou demonstrado no incorporado ao mbito da cincia.

    verificvel porm limitado ao mbito do cotidiano do pesquisador ou observador.

    falvel e aproximadamente exato por no ser definitivo, absoluto ou final. Novas tcnicas e

    proposies podem reformular ou corrigir uma teoria j existente.

    falvel e inexato conforma-se com a aparncia e com o que ouvimos dizer a respeito do objeto

    ou fenmeno. No permite a formulao de hipteses sobre a existncia de fenmenos situados alm das percepes objetivas.

    Fonte: adaptado de Lakatos e Marconi (2007, p. 77)

    A cincia tem como objetivo fundamental chegar veracidade dos fatos. De acordo com Gil (2008, p. 8), neste sentido no se distingue de outras formas de conhecimento. O que torna, porm, o conhecimento cientfico distinto dos demais que tem como caracterstica fundamental a sua verificabilidade.

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    Para que um conhecimento possa ser considerado cientfico, torna-se necessrio identificar as operaes mentais e tcnicas que possibilitam a sua verificao (GIL, 2008). Ou, em outras palavras, determinar o mtodo que possibilitou chegar a esse conhecimento.

    Podemos definir mtodo como caminho para chegarmos a determinado fim. E mtodo cientfico como o conjunto de procedimentos intelectuais e tcnicos adotados para atingirmos o conhecimento.

    A investigao cientfica depende de um conjunto de procedimentos intelectuais e tcnicos (GIL, 2008, p. 8), para que seus objetivos sejam atingidos: os mtodos cientficos.

    Mtodo cientfico o conjunto de processos ou operaes mentais que devemos empregar na investigao. a linha de raciocnio adotada no processo de pesquisa. Os mtodos que fornecem as bases lgicas investigao so: dedutivo, indutivo, hipottico-dedutivo, dialtico e fenomenolgico.

    Vrios pensadores do passado manifestaram o desejo de definir um mtodo universal que fosse aplicado a todos os ramos do conhecimento. Hoje, porm, os cientistas e filsofos da cincia preferem falar numa diversidade de mtodos, que so determinados pelo tipo de objeto a investigar e pela classe de proposies a descobrir. Assim, podemos afirmar que a Matemtica no tem o mesmo mtodo da Fsica e que esta no tem o mesmo mtodo da Astronomia. E, com relao s cincias sociais, podemos mesmo dizer que dispem de grande variedade de mtodos.

    2.4 MTODO CIENTFICO

    Partindo da concepo de que mtodo um procedimento ou caminho para alcanar determinado fim e que a finalidade da cincia a busca do conhecimento, podemos dizer que o mtodo cientfico um conjunto de procedimentos adotados com o propsito de atingir o conhecimento.

    De acordo com Trujillo Ferrari (1974), o mtodo cientfico um trao caracterstico da cincia, constituindo-se em instrumento bsico que ordena, inicialmente, o pensamento em sistemas e traa os procedimentos do cientista ao longo do caminho at atingir o objetivo cientfico preestabelecido.

    Lakatos e Marconi (2007) afirmam que a utilizao de mtodos cientficos no exclusiva da cincia, sendo possvel us-los para a resoluo de problemas do cotidiano. Destacam que, por outro lado, no h cincia sem o emprego de mtodos cientficos.

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    Muitos foram os pensadores e filsofos do passado que tentaram definir um nico mtodo aplicvel a todas as cincias e a todos os ramos do conhecimento. Essas tentativas culminaram no surgimento de diferentes correntes de pensamento, por vezes conflitantes entre si. Na atualidade, j admitimos a convivncia, e at a combinao, de mtodos cientficos diferentes, dependendo do objeto de investigao e do tipo de pesquisa.

    Quadro 2 Evoluo histrica do mtodo cientfico

    (continua)Perodo

    histricoPensadores Principal contribuio

    Grcia Antiga

    Euclides, Plato, Aristteles, Arquimedes,

    Tales, Ptolomeu

    Alm das chamadas questes metafsicas, trataram tambm da geometria, da matemtica, da fsica, da medicina etc., imprimindo uma viso totalizante s suas interpretaes.

    Sculos IV XIII

    Santo Agostinho, So Toms de Aquino

    Transformao dos textos bblicos em fonte de autoridade cientfica e, de modo geral, a existncia de uma atitude de preservao/contemplao da natureza, considerada sagrada.

    Sculos XVI XVII

    Coprnico, Kepler, Galileu e Newton

    Ruptura com a estrutura teolgica e epistemolgica do perodo medieval e incio da busca por uma interpretao matematizada e formal do real. O mtodo acontecendo em dois momentos: a induo e a educao.

    Bacon, Hobbes, Locke, Hume e Mill

    Aprofundamento da questo da induo, lanamento das bases para o mtodo indutivo-experimental.

    Descartes Mtodo dedutivo.

    Sculo XVIII Kant

    Sujeito como ordenador e construtor da experincia: s existe o que pensado.

    Sculo XIX

    Hegel O processo histrico.

    Marx

    Explicaes verdadeiras para o que ocorre no real no se verificaro atravs do estabelecimento de relaes causais ou relaes de analogia, mas sim no desvelamento do real aparente para chegar no real concreto.

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    Perodo histrico

    Pensadores Principal contribuio

    Sculo XX

    PopperPrope que o indutivismo seja substitudo por um modelo hipottico-dedutivo, ressaltando que o que deve ser testado no a possibilidade de verificao, mas sim a de refutao de uma hiptese.

    KuhnO mtodo em dois momentos: a cincia trabalha para ampliar e aprofundar o aparato conceitual do paradigma, ou, num momento de crise, trabalha pela superao do paradigma dominante.

    Fonte: elaborado pelos autores

    Dada a diversidade de mtodos, alguns autores costumam classific-los em gerais, tambm denominados de abordagem, e especficos, denominados discretos ou de procedimento.

    2.4.1 mtodos de abordagem - bases lgicas da investigao

    Por mtodo podemos entender o caminho, a forma, o modo de pensamento. a forma de abordagem em nvel de abstrao dos fenmenos. o conjunto de processos ou operaes mentais empregados na pesquisa.

    Os mtodos gerais ou de abordagem oferecem ao pesquisador normas genricas destinadas a estabelecer uma ruptura entre objetivos cientficos e no cientficos (ou de senso comum).

    Esses mtodos esclarecem os procedimentos lgicos que devero ser seguidos no processo de investigao cientfica dos fatos da natureza e da sociedade. So, pois, mtodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstrao, que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigao, das regras de explicao dos fatos e da validade de suas generalizaes.

    Podem ser includos, neste grupo, os mtodos: dedutivo, indutivo, hipottico-dedutivo, dialtico e fenomenolgico. Cada um deles se vincula a uma das correntes filosficas que se propem a explicar como se processa o conhecimento da realidade. O mtodo dedutivo relaciona-se ao racionalismo; o indutivo, ao empirismo; o hipottico-

    Quadro 2 Evoluo histrica do mtodo cientfico

    (concluso)

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 27

    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    dedutivo, ao neopositivismo; o dialtico, ao materialismo dialtico e o fenomenolgico, fenomenologia.

    A utilizao de um ou outro mtodo depende de muitos fatores: da natureza do objeto que pretendemos pesquisar, dos recursos materiais disponveis, do nvel de abrangncia do estudo e, sobretudo, da inspirao filosfica do pesquisador. Comentamos, na sequncia, cada um dos mtodos gerais ou de abordagem.

    2.4.1.1 Mtodo dedutivo

    O mtodo dedutivo, de acordo com o entendimento clssico, o mtodo que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. A partir de princpios, leis ou teorias consideradas verdadeiras e indiscutveis, prediz a ocorrncia de casos particulares com base na lgica. Parte de princpios reconhecidos como verdadeiros e indiscutveis e possibilita chegar a concluses de maneira puramente formal, isto , em virtude unicamente de sua lgica. (GIL, 2008, p. 9).

    Mtodo proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz pressupe que s a razo capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocnio dedutivo tem o objetivo de explicar o contedo das premissas. Por intermdio de uma cadeia de raciocnio em ordem descendente, de anlise do geral para o particular, chega a uma concluso. Usa o silogismo, a construo lgica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duas primeiras, denominada de concluso. Veja um clssico exemplo de raciocnio dedutivo a seguir:

    Todo homem mortal ............................................................................. (premissa maior)Pedro homem ....................................................................................... (premissa menor)Logo, Pedro mortal ............................................................................... (concluso)

    O mtodo dedutivo encontra ampla aplicao em cincias como a Fsica e a Matemtica, cujos princpios podem ser enunciados como leis. J nas cincias sociais, o uso desse mtodo bem mais restrito, em virtude da dificuldade para obter argumentos gerais, cuja veracidade no possa ser colocada em dvida.

    Mesmo do ponto de vista puramente lgico, so apresentadas vrias objees ao mtodo dedutivo. Uma delas a de que o raciocnio dedutivo essencialmente tautolgico, ou seja, permite concluir, de forma diferente, a mesma coisa. Esse argumento pode ser verificado no exemplo apresentado. Quando aceitamos que

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    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    todo homem mortal, colocar o caso particular de Pedro nada adiciona, pois essa caracterstica j foi adicionada na premissa maior.

    Outra objeo ao mtodo dedutivo refere-se ao carter apriorstico de seu raciocnio. (GIL, 2008, p. 10). De fato, partir de uma afirmao geral significa supor um conhecimento prvio. Como que podemos afirmar que todo homem mortal? Esse conhecimento no pode derivar da observao repetida de casos particulares, pois isso seria induo. A afirmao de que todo homem mortal foi previamente adotada e no pode ser colocada em dvida. Por isso, os crticos do mtodo dedutivo argumentam que esse raciocnio se assemelha ao adotado pelos telogos, que partem de posies dogmticas.

    2.4.1.2 Mtodo indutivo

    um mtodo responsvel pela generalizao, isto , partimos de algo particular para uma questo mais ampla, mais geral. Para Lakatos e Marconi (2007, p. 86),

    Induo um processo mental por intermdio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, no contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos levar a concluses cujo contedo muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.

    Essa generalizao no ocorre mediante escolhas a priori das respostas, visto que essas devem ser repetidas, geralmente com base na experimentao. Isso significa que a induo parte de um fenmeno para chegar a uma lei geral por meio da observao e de experimentao, visando a investigar a relao existente entre dois fenmenos para se generalizar. Temos, ento, que o mtodo indutivo procede inversamente ao dedutivo: parte do particular e coloca a generalizao como um produto posterior do trabalho de coleta de dados particulares. (GIL, 2008, p. 10).

    No raciocnio indutivo, a generalizao deriva de observaes de casos da realidade concreta. As constataes particulares levam elaborao de generalizaes. Entre as crticas ao mtodo indutivo, a mais contundente aquela que questiona a passagem (generalizao) do que constatado em alguns casos (particular) para todos os casos semelhantes (geral).

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    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    Nesse mtodo, partimos da observao de fatos ou fenmenos cujas causas desejamos conhecer. A seguir, procuramos compar-los com a finalidade de descobrir as relaes existentes entre eles. Por fim, procedemos generalizao, com base na relao verificada entre os fatos ou fenmenos. Consideremos, por exemplo:

    Antnio mortal.Joo mortal.Paulo mortal....Carlos mortal.Ora, Antnio, Joo, Paulo ... e Carlos so homens.Logo, (todos) os homens so mortais.

    As concluses obtidas por meio da induo correspondem a uma verdade no contida nas premissas consideradas,

    [...] diferentemente do que ocorre com a deduo. Assim, se por meio da deduo chega-se a concluses verdadeiras, j que baseadas em premissas igualmente verdadeiras, por meio da induo chega-se a concluses que so apenas provveis. (GIL, 2008, p. 11).

    O raciocnio indutivo influenciou significativamente o pensamento cientfico.

    Desde o aparecimento no Novum organum, de Francis Bacon (1561-1626), o mtodo indutivo passou a ser visto como o mtodo por excelncia das cincias naturais. Com o advento do positivismo, sua importncia foi reforada e passou a ser proposto tambm como o mtodo mais adequado para investigao nas cincias sociais. (GIL, 2008, p. 11).

    Nesse sentido, conforme Gil (2008), no h como deixar de reconhecer e destacar a importncia do mtodo indutivo na constituio das cincias sociais. Surgiu e serviu para que os estudiosos da sociedade abandonassem a postura especulativa e se inclinassem a adotar a observao como procedimento indispensvel para atingir o conhecimento cientfico. Devido sua influncia que foram definidas tcnicas de coleta de dados e elaborados instrumentos capazes de mensurar os fenmenos sociais.

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    Capasumrio principalvoltar avanarsumrio captulo

    Tanto o mtodo indutivo quanto o dedutivo concordam com o fato de que o fim da investigao a formulao de leis para descrever, explicar e prever a realidade; as discordncias esto na origem do processo e na forma de proceder. Enquanto os adeptos do mtodo indutivo (empiristas) partem da observao para depois formular as hipteses, os praticantes do mtodo dedutivo tm como inicial o problema (ou a lacuna) e as hipteses que sero testadas pela observao e pela experincia.

    Argumentos dedutivos e indutivos: dois exemplos servem para ilustrar a diferena entre argumentos dedutivos e indutivos (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 91):

    Dedutivo:Todo mamfero tem um corao.Ora, todos os ces so mamferos.Logo, todos os ces tm um corao.

    Indutivo:Todos os ces que foram observados tinham um corao.Logo, todos os ces tm um corao.

    Quadro 3 Argumentos dedutivos e indutivos

    dedutivos indutivos

    I. Se todas as premissas so verdadeiras, a concluso deve ser verdadeira.

    I. Se todas as premissas so verdadeiras, a concluso provavelmente verdadeira, mas no necessariamente verdadeira.

    II. Toda a informao ou o contedo fatual da concluso j estava, pelo menos implicitamente, nas premissas.

    II. A concluso encerra informao que no estava, nem implicitamente, nas premissas.

    Fonte: adaptado de Lakatos e Marconi (2007, p. 92)

    Lakatos e Marconi (2007) comentam a respeito dessas duas caractersticas (Quadro 3):

    a) Caracterstica I. No argumento dedutivo, para que a concluso todos os ces tm um corao fosse falsa, uma das ou as duas premissas teriam de ser falsas: ou nem todos os ces so mamferos ou nem todos os mamferos tm um corao. Por outro lado, no argumento indutivo, possvel que a premissa seja

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    verdadeira e a concluso, falsa: o fato de no ter, at o presente, encontrado um co sem corao no garantia de que todos os ces tenham um corao.

    b) Caracterstica II. Quando a concluso do argumento dedutivo afirma que todos os ces tm um corao, est dizendo alguma coisa que, na verdade, j tinha sido dita nas premissas; portanto, como todo argumento dedutivo, reformula ou enuncia, de modo explcito, a informao j contida nas premissas. Dessa forma, se a concluso, a rigor, no diz mais que as premissas, ela tem de ser verdadeira, se as premissas o forem. Por sua vez, no argumento indutivo, a premissa refere-se apenas aos ces j observados, ao passo que a concluso diz respeito a ces ainda no observados; portanto, a concluso enuncia algo no contido na premissa. por esse motivo que a concluso pode ser falsa pois pode ser falso o contedo adicional que encerra , mesmo que a premissa seja verdadeira.Conforme Lakatos e Marconi (2007, p. 92), esses dois tipos de argumentos

    tm finalidades distintas o dedutivo tem o propsito de explicar o contedo das premissas; o indutivo tem o objetivo de ampliar o alcance dos conhecimentos. Analisando isso sob outro enfoque, podemos dizer que os argumentos dedutivos ou esto corretos ou incorretos, ou as premissas sustentam, de modo completo, a concluso ou, quando a forma logicamente incorreta, no a sustentam de forma alguma; portanto, no h graduaes intermedirias.

    Contrariamente, os argumentos indutivos admitem diferentes graus de fora, dependendo da capacidade das premissas de sustentarem a concluso. Resumindo, os argumentos indutivos aumentam o contedo das premissas, com sacrifcio da preciso, ao passo que os argumentos dedutivos sacrificam a ampliao do contedo, para atingir a certeza. (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 92).

    Os exemplos inicialmente citados mostram as caractersticas e a diferena entre os argumentos dedutivos e indutivos, mas no expressam sua real importncia para a cincia. Dois exemplos ilustram sua aplicao significativa para o conhecimento cientfico.

    2.4.1.3 Mtodo hipottico-dedutivo

    O mtodo hipottico-dedutivo foi definido por Karl Popper a partir de crticas induo, expressas em A lgica da investigao cientfica, obra publicada pela primeira vez em 1935 (GIL, 2008).

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    A induo, conforme Popper, no se justifica, pois o salto indutivo de alguns para todos exigiria que a observao de fatos isolados atingisse o infinito, o que nunca poderia ocorrer, por maior que fosse a quantidade de fatos observados. (GIL, 2008, p. 12).

    Como j dito, o mtodo hipottico-dedutivo foi proposto por Karl Popper e consiste na adoo da seguinte linha de raciocnio:

    [...] quando os conhecimentos disponveis sobre determinado assunto so insuficientes para a explicao de um fenmeno, surge o problema. Para tentar explicar as dificuldades expressas no problema, so formuladas conjecturas ou hipteses. Das hipteses formuladas, deduzem-se consequncias que devero ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequncias deduzidas das hipteses. Enquanto no mtodo dedutivo se procura a todo custo confirmar a hiptese, no mtodo hipottico-dedutivo, ao contrrio, procuram-se evidncias empricas para derrub-la. (GIL, 2008, p. 12).

    O mtodo hipottico-dedutivo inicia-se com um problema ou uma lacuna no conhecimento cientfico, passando pela formulao de hipteses e por um processo de inferncia dedutiva, o qual testa a predio da ocorrncia de fenmenos abrangidos pela referida hiptese.

    Podemos apresentar o mtodo hipottico-dedutivo a partir do seguinte esquema (GIL, 2008, p. 12):

    Problema Conjecturas Deduo de consequncias observadas Tentativa de falseamento Corroborao

    A pesquisa cientfica, com abordagem hipottico-dedutiva, inicia-se com a formulao de um problema e com sua descrio clara e precisa, a fim de facilitar a obteno de um modelo simplificado e a identificao de outros conhecimentos e instrumentos, relevantes ao problema, que auxiliaro o pesquisador em seu trabalho. Aps esse estudo preparatrio, o pesquisador passa para a fase de observao. Na verdade, essa a fase de teste do modelo simplificado. uma fase meticulosa em que observado determinado aspecto do universo, objeto da pesquisa. A fase seguinte a formulao de hipteses, ou descries-tentativa, consistentes com o que foi observado. Essas hipteses so utilizadas para fazer prognsticos, os

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    quais sero comprovados ou no por meio de testes, experimentos ou observaes mais detalhadas. Em funo dos resultados desses testes, as hipteses podem ser modificadas, dando incio a um novo ciclo, at que no haja discrepncias entre a teoria (ou o modelo) e os experimentos e/ou as observaes.

    Ante o exposto, as etapas do mtodo hipottico-dedutivo, como compreendido na atualidade, podem ser visualizadas na Figura 1.

    Figura 1 Etapas do mtodo hipottico-dedutivo

    Conhecimento existenteProblema ou lacuna no conhecimento:

    fatos; descoberta do problema; formulao do problema.

    modelo tericosuposies plausveis; hipteses principais (centrais) e auxiliares (decorrentes).

    deduo das consequnciasbusca de suportes racionais e empricos consequncias, predies e retrodies.

    teste das hiptesesPlanejamento; realizao das operaes;

    coleta de dados, tratamento e anlise dos dados; interpretao.

    Cotejamento ou avaliaoresultados com as previses com base no modelo terico.

    refutao (rejeio)erros na teoria ou

    nos procedimentos.

    Corroborao (no rejeio)extenses; nova teoria e/ou

    nova lacuna ou novo problema.

    Correo do modelo

    Fonte: adaptado de Lakatos e Marconi (2007, p. 96)

    De acordo com Popper, toda investigao tem origem num problema, cuja soluo envolve conjecturas, hipteses, teorias e eliminao de erros; por isso, Lakatos e Marconi (2007) afirmam que o mtodo de Popper o mtodo de eliminao de erros.

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    O problema surge de lacunas ou conflito em funo do quadro terico existente. A soluo proposta uma conjectura (nova ideia e/ou nova teoria) deduzida a partir das proposies (hipteses ou premissas) sujeitas a testes. Os testes de falseamento so tentativas de refutar as hipteses pela observao e/ou experimentao.

    Alm das crticas inerentes ao mtodo dedutivo, ao hipottico-dedutivo acrescenta-se aquela que questiona o fato de as hipteses jamais serem consideradas verdadeiras; quando corroboradas, so apenas solues provisrias.

    O mtodo hipottico-dedutivo desfruta de notvel aceitao, em especial no campo das cincias naturais.

    Nos crculos neopositivistas, chega mesmo a ser considerado como o nico mtodo rigorosamente lgico. Nas cincias sociais, no entanto, a utilizao desse mtodo mostra-se bastante crtica, pois nem sempre podem ser deduzidas consequncias observadas das hipteses. (GIL, 2008, p. 13).

    2.4.1.4 Mtodo dialtico

    O conceito de dialtica bastante antigo. Plato o utilizou no sentido de arte do dilogo. Na Antiguidade e na Idade Mdia, o termo era utilizado para significar simplesmente lgica. O mtodo dialtico, que atingiu seu auge com Hegel (GIL, 2008), depois reformulado por Marx, busca interpretar a realidade partindo do pressuposto de que todos os fenmenos apresentam caractersticas contraditrias organicamente unidas e indissolveis.

    Na dialtica proposta por Hegel, as contradies transcendem-se, dando origem a novas contradies que passam a requerer soluo. Empregado em pesquisa qualitativa, um mtodo de interpretao dinmica e totalizante da realidade, pois considera que os fatos no podem ser relevados fora de um contexto social, poltico, econmico etc.

    Lakatos e Marconi (2007) apontam as leis da dialtica. A Ao Recproca informa que o mundo no pode ser entendido como um conjunto de coisas, mas como um conjunto de processos, em que as coisas esto em constante mudana, sempre em vias de se transformar: [...] o fim de um processo sempre o comeo de outro. (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 101). As coisas e os acontecimentos existem como um todo, ligados entre si, dependentes uns dos outros.

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    Na Mudana Dialtica, a transformao ocorre por meio de contradies. Em determinado momento, h mudana qualitativa, pois as mudanas das coisas no podem ser sempre quantitativas. Por outro lado, como tudo est em movimento, tudo tem duas faces (quantitativa e qualitativa, positiva e negativa, velha e nova), uma se transformando na outra; a luta desses contraditrios o contedo do processo de desenvolvimento.

    Em sntese, o mtodo dialtico parte da premissa de que, na natureza, tudo se relaciona, transforma-se e h sempre uma contradio inerente a cada fenmeno. Nesse tipo de mtodo, para conhecer determinado fenmeno ou objeto, o pesquisador precisa estud-lo em todos os seus aspectos, suas relaes e conexes, sem tratar o conhecimento como algo rgido, j que tudo no mundo est sempre em constante mudana.

    De acordo com Gil (2008, p. 14),

    [...] a dialtica fornece as bases para uma interpretao dinmica e totalizante da realidade, uma vez que estabelece que os fatos sociais no podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstrados de suas influncias polticas, econmicas, culturais etc.

    Assim, como a dialtica privilegia as mudanas qualitativas, ope-se naturalmente a qualquer modo de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma. Desse modo, as pesquisas fundamentadas no mtodo dialtico distinguem-se claramente das pesquisas desenvolvidas segundo a viso positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos.

    2.4.1.5 Mtodo fenomenolgico

    O mtodo fenomenolgico, tal como foi apresentado por Edmund Husserl (1859-1938), prope-se a estabelecer uma base segura, liberta de proposies, para todas as cincias (GIL, 2008). Para Husserl, as certezas positivas que permeiam o discurso das cincias empricas so ingnuas. A suprema fonte de todas as afirmaes racionais a conscincia doadora originria. (GIL, 2008, p. 14). Da a primeira e fundamental regra do mtodo fenomenolgico: avanar para as prprias coisas. Por coisa entendemos simplesmente o dado, o fenmeno, aquilo que visto diante da conscincia. A fenomenologia no se preocupa, pois, com algo desconhecido que se encontre atrs do fenmeno; s visa o dado, sem querer decidir se esse dado uma realidade ou uma aparncia.

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    O mtodo fenomenolgico no dedutivo nem emprico. Consiste em mostrar o que dado e em esclarecer esse dado. No explica mediante leis nem deduz a partir de princpios, mas considera imediatamente o que est presente conscincia: o objeto. (GIL, 2008, p. 14). Consequentemente, tem uma tendncia orientada totalmente para o objeto. Ou seja, o mtodo fenomenolgico limita-se aos aspectos essenciais e intrnsecos do fenmeno, sem lanar mo de dedues ou empirismos, buscando compreend-lo por meio da intuio, visando apenas o dado, o fenmeno, no importando sua natureza real ou fictcia.

    2.4.2 mtodos de procedimentos meios tcnicos da investigao

    Diferentes dos mtodos de abordagem, os mtodos de procedimentos (considerados s vezes tambm em relao s tcnicas) so menos abstratos; so etapas da investigao. Assim, os mtodos de procedimento, tambm chamados de especficos ou discretos, esto relacionados com os procedimentos tcnicos a serem seguidos pelo pesquisador dentro de determinada rea de conhecimento. O(s) mtodo(s) escolhido(s) determinar(o) os procedimentos a serem utilizados, tanto na coleta de dados e informaes quanto na anlise.

    Esses mtodos tm por objetivo proporcionar ao investigador os meios tcnicos, para garantir a objetividade e a preciso no estudo dos fatos sociais. (GIL, 2008, p. 15). Mais especificamente, visam a fornecer a orientao necessria realizao da pesquisa social, em especial no que diz respeito obteno, ao processamento e validao dos dados pertinentes problemtica objeto da investigao realizada.

    Podem ser identificados vrios mtodos dessa natureza nas cincias sociais. Nem sempre um mtodo adotado rigorosa ou exclusivamente numa investigao. Com frequncia, dois ou mais mtodos so combinados. Isso porque nem sempre um nico mtodo suficiente para orientar todos os procedimentos a serem desenvolvidos ao longo da investigao.

    Os mtodos especficos mais adotados nas cincias sociais so: o histrico, o experimental, o observacional, o comparativo, o estatstico, o clnico e o monogrfico.

    2.4.2.1 Mtodo histrico

    No mtodo histrico, o foco est na investigao de acontecimentos ou instituies do passado, para verificar sua influncia na sociedade de hoje; considera

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    que fundamental estudar suas razes visando compreenso de sua natureza e funo, pois, conforme Lakatos e Marconi (2007, p. 107), as instituies alcanaram sua forma atual atravs de alteraes de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada poca. Seu estudo, visando a uma melhor compreenso do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos perodos de sua formao e de suas modificaes. Esse mtodo tpico dos estudos qualitativos.

    2.4.2.2 Mtodo experimental

    O mtodo experimental consiste, especialmente, em submeter os objetos de estudo influncia de certas variveis, em condies controladas e conhecidas pelo investigador, para observar os resultados que a varivel produz no objeto (GIL, 2008). No seria exagero considerar que parte significativa dos conhecimentos obtidos nos ltimos trs sculos se deve ao emprego do mtodo experimental, que pode ser considerado como o mtodo por excelncia das cincias naturais.

    No entanto, assinalamos que as limitaes da experimentao no campo das cincias sociais fazem com que esse mtodo s possa ser aplicado em poucos casos, visto que situaes ticas e tcnicas impedem sua utilizao.

    2.4.2.3 Mtodo observacional

    O mtodo observacional um dos mais utilizados nas cincias sociais e apresenta alguns aspectos interessantes. Por um lado, pode ser considerado como o mais primitivo e, consequentemente, o mais impreciso. Mas, por outro lado, pode ser tido como um dos mais modernos, visto ser o que possibilita o mais elevado grau de preciso nas cincias sociais. (GIL, 2008, p. 16).

    Destacamos que o mtodo observacional difere do experimental em apenas alguns aspectos na relao entre eles: nos experimentos, o cientista toma providncias para que alguma coisa ocorra, a fim de observar o que se segue, ao passo que, no estudo por observao, apenas observa algo que acontece ou j aconteceu. (GIL, 2008, p. 16).

    Podemos ressaltar, ainda, que existem investigaes em cincias sociais que se utilizam exclusivamente do mtodo observacional. Outras o utilizam em conjunto com outros mtodos. E podemos afirmar que qualquer investigao em cincias sociais deve se valer, em mais de um momento, de procedimentos observacionais.

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    2.4.2.4 Mtodo comparativo

    O mtodo comparativo ocupa-se da explicao dos fenmenos e permite analisar o dado concreto, deduzindo desse os elementos constantes, abstratos e gerais. (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 107).

    Gil (2008) comenta que o mtodo comparativo procede pela investigao de indivduos, classes, fenmenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenas e as similaridades entre eles. Sua ampla utilizao nas cincias sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo comparativo de grandes grupamentos sociais, separados pelo espao e pelo tempo. (GIL, 2008, p. 16-17).

    Centrado em estudar semelhanas e diferenas, esse mtodo realiza comparaes com o objetivo de verificar semelhanas e explicar divergncias. O mtodo comparativo, ao ocupar-se das explicaes de fenmenos, permite analisar o dado concreto, deduzindo elementos constantes, abstratos ou gerais nele presentes.

    Algumas vezes, o mtodo comparativo visto como mais superficial em relao a outros. No entanto, existem situaes em que seus procedimentos so desenvolvidos mediante rigoroso controle e seus resultados proporcionam elevado grau de generalizao.

    2.4.2.5 Mtodo estatstico

    O papel do mtodo estatstico , essencialmente, possibilitar uma descrio quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado.

    Conforme Gil (2008, p. 17), este mtodo se fundamenta na aplicao da teoria estatstica da probabilidade e constitui importante auxlio para a investigao em cincias sociais. Devemos considerar, no entanto, que as explicaes obtidas mediante a utilizao do mtodo estatstico no devem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas portadoras de boa probabilidade de serem verdadeiras.

    Com base na utilizao de testes estatsticos, possibilita-se determinar, em termos numricos, a probabilidade de acerto de determinada concluso, bem como a margem de erro de um valor obtido (GIL, 2008). Assim, o mtodo estatstico passa a se caracterizar por razovel grau de preciso, o que o torna bastante aceito por parte dos pesquisadores com preocupaes de ordem quantitativa. (GIL, 2008, p. 17). Nesse sentido, os procedimentos estatsticos fornecem considervel reforo s concluses obtidas, sobretudo, mediante a experimentao e a observao.

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    2.4.2.6 Mtodo clnico

    O mtodo clnico baseia-se numa relao profunda entre pesquisador e pesquisado. utilizado, principalmente, na pesquisa psicolgica, cujos pesquisadores so indivduos que procuram o psiclogo ou o psiquiatra para obter ajuda. (GIL, 2008, p. 17).

    O mtodo clnico tornou-se um dos mais importantes na investigao psicolgica, em especial depois dos trabalhos de Freud (GIL, 2008). Sua contribuio Psicologia tem sido muito significativa, particularmente no que se refere ao estudo dos determinantes inconscientes do comportamento. No entanto, enfatizamos que o pesquisador que adota o mtodo clnico deve se precaver de muitos cuidados ao propor generalizaes, visto que esse mtodo se apoia em casos individuais e envolve experincias subjetivas.

    2.4.2.7 Mtodo monogrfico

    O mtodo monogrfico tem como princpio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes (GIL, 2008). Esses casos podem ser indivduos, instituies, grupos, comunidade etc. Nessa situao, o processo de pesquisa visa a examinar o tema selecionado de modo a observar todos os fatores que o influenciam, analisando-o em todos os seus aspectos.

    Embora reconhecendo a importncia de o pesquisador seguir um mtodo como referncia, entendemos que o ideal empregar mtodos e no um mtodo, visando a ampliar as possibilidades de anlise, considerando que no h apenas uma forma capaz de abarcar toda complexidade das investigaes.

    2.5 QuADROS TERICOS DE REFERNCIA

    As teorias so muito importantes no processo de investigao em cincias sociais.

    Elas proporcionam a adequada definio de conceitos, bem como o estabelecimento de sistemas conceituais; indicam lacunas no conhecimento; auxiliam na construo de hipteses; explicam, generalizam e sintetizam os conhecimentos e sugerem a metodologia apropriada para a investigao. (TRUJILLO FERRARI, 1982, p. 119 apud GIL, 2008, p. 18).

  • Metodologia do Trabalho Cientfico 40

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    Conforme Gil (2008), significativa parte das teorias desenvolvidas no mbito das cincias sociais pode ser chamada de teorias de mdio alcance, j que desempenham papel limitado no campo da investigao cientfica. Outras, no entanto, encontram-se elaboradas de tal forma que ambicionam se constituir como quadros de referncia, subordinando outras teorias e sugerindo normas de procedimento cientfico. Alguns desses quadros de referncia ou grandes teorias chegam mesmo a ser designados como mtodos. o caso do funcionalismo, do estruturalismo, da compreenso, do materialismo histrico e da etnometodologia. Vejamos o Quadro 4:

    Quadro 4 Caractersticas dos mtodos com base no quadro de referncia adotado

    Quadro de referncia

    (paradigmas)descrio sumria

    autores de referncia

    Funcionalismo

    nfase nas relaes e no ajustamento entre os componentes de uma cultura ou sociedade. As formaes sociais so determinadas pelas necessidades biolgicas e psquicas. O pressuposto de que toda parte (do todo) desempenha uma funo.

    Durkheim

    Estruturalismo

    A anlise tem como foco as relaes entre os diversos elementos de um sistema. Considera que cada elemento existe em relao aos demais e em relao ao todo. A explicao da realidade dada a partir da noo de estrutura.

    Lvi-Strauss

    Hermenutica(Compreenso)

    nfase no papel do sujeito da ao e reconhece a parcialidade da viso do observador. Ao propor modelos de representao de variveis e de tipos, busca a interpretao dos significados das coisas.

    Hans-Georg Gadamer

    Martin HeideggerMax Weber

    MaterialismoHistrico

    Com fundamento no mtodo dialtico, considera que a ordem social tem por base a produo e o intercmbio de produtos.

    Marx e Engel

    Etnometodologia

    Com base nos pressupostos da fenomenologia, os objetos e suas relaes so estudados ao longo do tempo com o envolvimento e a incluso do observador no processo. Pressupe o contato direto com o dado, as pessoas, o fenmeno etc.

    Harold Garfinkel

    Fonte: adaptado de Gil (2008, p. 18-24)

  • CaPaSuMRIO PRINCIPAlvOlTAR AvANARSuMRIO CAPTulO

    3.1 o QUE PESQUiSa? ..................................................42

    3.2 aSPECtoS tiCoS da PESQUiSa CiEntFiCa ...45

    3.3 CaraCtErStiCaS da PESQUiSa CiEntFiCa ..48

    3.4 ClaSSiFiCao daS PESQUiSaS ..........................49

    3.4.1