domingo, 9 de junho de 2013 nº 106 sÉrie iii...

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SEKE IA BINDO | O soba Kambinda convocou os mais velhos da aldeia e anunciou que nas ter- ras férteis do rio Kubango existia uma terra prodigiosa, cheia de mercadores e viajantes. Havia coisas tão belas e raras que gente de todo o mundo vinha com- prar essas riquezas. O velho Ndala já ti- nha vivido tantos anos que não sentiu coragem para fazer a viagem. No seu úl- timo sonho morreu serenamente na es- teira e um grande pássaro visitou-o em casa e deixou-lhe as asas para voar até as terras da eterna juventude, que ficam muito para além do grande rio Zambeze. Para marcar lugar na expedição man- dou o seu neto Ngamba, um menino que conhecia todos os caminhos visíveis e invisíveis. A expedição partiu ao ama- nhecer e o velho Ndala foi abençoar o neto. Fez-lhe um pedido: - Traz-me o que encontrares de mais rico e mais belo nessa terra de merca- dores e viajantes. A expedição partiu em marcha acele- rada. Todos estavam ansiosos de com- prar as riquezas que os mercadores ofe- reciam aos visitantes. Quando chega- ram ao grande mercado, todos compra- ram panos, lenços, vinhos finos, cabras e bois. Mas Ngamba percorria todas as tendas e rejeitava tudo o que lhe era oferecido. Ao anoitecer, os comercian- tes começaram a levantar as suas tendas e a guardar as riquezas. Ngamba conti- nuava sem nada comprar. De repente, ouviu o trinar de um passarinho. Por bai- xo de uma árvore frondosa, um merca- dor tinha uma gaiola feita de bimba e lá dentro um passarinho belíssimo cujos trinados davam dolência ao entardecer. - Vendes-me o passarinho, mercador? - O homem fez o preço e o menino pagou sem discutir. - Como se chama este passarinho? - Este é o mágico Ndingo, que responde prontamente a to- dos os teus pedidos. O menino Ngamba pegou na gaiola de bimba e juntou-se à expedição da sua aldeia. Pernoitaram no grande mer- cado e ao amanhecer do dia seguinte regressaram a casa. Os velhos da expedição compraram grandes quantidades de mercadoria. Os preços eram muito baixos. Aquilo que os mercadores levavam até à aldeia e custa- va cem, ali custava apenas um! Compra- ram, comprara, compraram. Alguns le- vavam rebanhos de cabras e manadas de bois. Os velhos em breve foram venci- dos pelo cansaço. Só pastores experi- mentados, conseguem conduzir tantos bois e tantas cabras percorrendo chanas imensas e atravessando rios caudalosos. Ngamba seguia ligeiro, saltitando pelos areais, à frente da expedição, com o passarinho Ndingo. Os homens ve- lhos começaram a sentir muita sede e alguns gemiam. Mas a jornada penosa continuava. Até que o menino também ficou com sede. Parou, sentou-se à beira da picada e disse ao passarinho Ndingo: - Tenho sede, dá-me água. De repente, no areal ressequido apa- receu um lago de água fresca e cristali- na. Ngamba saciou a sede e todos os ho- mens beberam. O gado também matou a sede. Quando todos ficaram satisfei- tos, o soba Kambinda deu ordens para que a sua gente prosseguisse a viagem. Andaram, andaram e todos começa- ram a sentir fome. Ngamba disse ao passarinho Ndingo: Dá-me de comer, tenho fome! E todos tiveram à sua fren- te abundante comida. À noite os viajantes sentaram-se em círculo na areia. Os velhos lamentaram não ter comprado tabaco para fumar. Ngamba pediu ao passarinho mágico: - Dá-me tabaco! E logo apareceu ta- baco em abundância que todos puseram nas suas mutopas. - Ndingo, dá-me fogo! E todos os cachimbos ficaram ace- sos. Os homens começaram a fumar en- quanto recordavam os prodígios daque- le mercado onde tudo era bom e barato. A viagem prosseguiu e quando a ca- ravana estava perto da aldeia, Ngamba disse ao passarinho mágico: - Quero ser branco! Naquele momento Ngamba transfor- mou-se num homem branco e muito ri- co, barriga grande e relógio de bolso com corrente de ouro. Tinha ao ombro uma espingarda. Então foi chamar o avô e disse-lhe para o acompanhar porque ia fundar uma aldeia nova, com as imensas riquezas que tinha. O velho, pesaroso, recusou e disse ao neto que não podia aceitar porque não era branco. Ainda hoje nas terras férteis do Ku- bango se houve esta canção: - Ndingo, Ndingo, yanga, yanga, vilengo/ndyeko mema/Ndingo, Ndin- go/ Ndyeko vyakulya/vyakulya vye- vi/na makaya/Ndingo, Ndingo… dá- me riqueza! *Adaptado do livro “O Mundo Cultural dos Ganguelas” CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS O pássaro mágico que mudou vidas e paisagens PROVÉRBIO VAMOS COLORIR ADIVINHAS Soluções: 1. Gato; 2. Abelha; 3. Água corrente areia e espuma; 4. Agulha e Linha; 5. Alfabeto; 6. Letra p. Os livros são nossos amigos Ando na escola no bairro Nova Vida e no fim-de-semana fui ver uma exposição e feira de livros para crianças. Os meus pais le- varam-me e encontrei lá alguns colegas. Nunca tinha visto tão bonitos e fiquei com vontade de levá-los todos para casa. No meu bairro não temos livrarias e é muito difícil encontrar li- vros para crianças, por isso a feira foi importante. Fiquei a pen- sar que as escolas deviam ter feiras permanentes de livros e além disso, criar pequenas bibliotecas. Os meus pais liam-me livros infantis quando eu era pequena e desde essa altura costumo ler. Aprendi que os livros são os nos- sos melhores amigos porque estão sempre ao nosso lado e com eles aprendemos coisas importantes para a nossa vida e para o nosso país. Se as escolas tiverem pequenas bibliotecas todos os alunos podem aprender e ocupar os tempos livres. A melhor coisa que podemos fazer é ler um livro com uma boa história. E quem se habitua a ler nunca mais dispensa os livros. A feira do Projecto Nova Vida veio num momento oportuno. ÂNGELA ROGÉRIO |12 ANOS| RANGEL 1. O que é que sendo preto ou branco, de noite é sempre pardo, escaldado tem medo de água fria e sete vidas? 2. Fui branca de nação e mais tarde mudei de cor, fui roubada sem sentir para enriquecer o meu senhor. 3. São três coisas: uma diz que vamos, outra que fiquemos, outra que dancemos. 4. O que anda de buraco em buraco, com as tripas de rastos? 5. Qual é a palavra que tem quatro sílabas e 29 letras? 6. Qual é o princípio de princípio? «Quando um rei tem conselhei- ros bons, o seu reino é pacífico. Domingo, 9 de Junho de 2013 Nº 106 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER Cartas dos Amiguinhos AAnfíbios são animais de pele fina e húmida. Não possuem peles nem escamas externas. São incapazes de manter cons- tante a temperatura do seu corpo, por isso são chamados ani- mais de sangue frio (pecilotérmicos). A pele fina, rica em vasos sanguíneos e glândulas, através da respiração, permite-lhes a ab- sorção de água, que funciona como defesa orgânica. Quando estão com “sede”, os anfíbios encostam a região ventral do seu corpo na água e absorvem-na pela pele. AAs glândulas na sua pele são de dois tipos: mucosas, que pro- duzem muco, e serosas, que produzem veneno. Todo o anfíbio produz substâncias tóxicas. Existem espécies mais e menos tó- xicas e os acidentes com humanos somente acontecem se essas substâncias entrarem em contacto com as mucosas ou sangue. Podem ser aquáticos (respiram através de brânquias) ou terrestres (respiram através da pele ou pulmões). Alimentam- se de minhocas, insectos, aranhas, e de outros vertebrados. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Começou o segundo trimestre escolar. Atenção às notas que ti- veram no primeiro trimestre. É importante que todos os estu- dantes saibam que se tiverem notas baixas, podem reprovar. E todas as crianças de Angola estão proibidas de reprovar. É obrigatório passar de classe, já que o vosso trabalho é somente estudar. todos os estudantes devem, com a ajuda do papá ou da ma- mã, fazer um calendário de estu- do, para saberem as horas que têm para estudar e as que têm para brincar. Também deve estar incluido neste calendário o horá- rio de ir para a cama. CASIMIRO PEDRO

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SEKE IA BINDO |

O soba Kambinda convocou os maisvelhos da aldeia e anunciou que nas ter-ras férteis do rio Kubango existia umaterra prodigiosa, cheia de mercadores eviajantes. Havia coisas tão belas e rarasque gente de todo o mundo vinha com-prar essas riquezas. O velho Ndala já ti-nha vivido tantos anos que não sentiucoragem para fazer a viagem. No seu úl-timo sonho morreu serenamente na es-teira e um grande pássaro visitou-o emcasa e deixou-lhe as asas para voar até asterras da eterna juventude, que ficammuito para além do grande rio Zambeze.

Para marcar lugar na expedição man-dou o seu neto Ngamba, um menino queconhecia todos os caminhos visíveis einvisíveis. A expedição partiu ao ama-nhecer e o velho Ndala foi abençoar oneto. Fez-lhe um pedido:

- Traz-me o que encontrares de maisrico e mais belo nessa terra de merca-dores e viajantes.

A expedição partiu em marcha acele-rada. Todos estavam ansiosos de com-prar as riquezas que os mercadores ofe-reciam aos visitantes. Quando chega-ram ao grande mercado, todos compra-ram panos, lenços, vinhos finos, cabrase bois. Mas Ngamba percorria todas as

tendas e rejeitava tudo o que lhe eraoferecido. Ao anoitecer, os comercian-tes começaram a levantar as suas tendase a guardar as riquezas. Ngamba conti-nuava sem nada comprar. De repente,ouviu o trinar de um passarinho. Por bai-xo de uma árvore frondosa, um merca-dor tinha uma gaiola feita de bimba e ládentro um passarinho belíssimo cujostrinados davam dolência ao entardecer.

- Vendes-me o passarinho, mercador?- O homem fez o preço e o menino

pagou sem discutir. - Como se chama

este passarinho? - Este é o mágicoNdingo, que responde prontamente a to-dos os teus pedidos.

O menino Ngamba pegou na gaiolade bimba e juntou-se à expedição dasua aldeia. Pernoitaram no grande mer-cado e ao amanhecer do dia seguinteregressaram a casa.

Os velhos da expedição compraramgrandes quantidades de mercadoria. Ospreços eram muito baixos. Aquilo que osmercadores levavam até à aldeia e custa-va cem, ali custava apenas um! Compra-

ram, comprara, compraram. Alguns le-vavam rebanhos de cabras e manadas debois. Os velhos em breve foram venci-dos pelo cansaço. Só pastores experi-mentados, conseguem conduzir tantosbois e tantas cabras percorrendo chanasimensas e atravessando rios caudalosos.

Ngamba seguia ligeiro, saltitandopelos areais, à frente da expedição, como passarinho Ndingo. Os homens ve-lhos começaram a sentir muita sede ealguns gemiam. Mas a jornada penosacontinuava. Até que o menino tambémficou com sede. Parou, sentou-se à beirada picada e disse ao passarinho Ndingo:

- Tenho sede, dá-me água.De repente, no areal ressequido apa-

receu um lago de água fresca e cristali-na. Ngamba saciou a sede e todos os ho-mens beberam. O gado também matoua sede. Quando todos ficaram satisfei-tos, o soba Kambinda deu ordens paraque a sua gente prosseguisse a viagem.

Andaram, andaram e todos começa-ram a sentir fome. Ngamba disse aopassarinho Ndingo: Dá-me de comer,tenho fome! E todos tiveram à sua fren-te abundante comida.

À noite os viajantes sentaram-se emcírculo na areia. Os velhos lamentaramnão ter comprado tabaco para fumar.Ngamba pediu ao passarinho mágico:

- Dá-me tabaco! E logo apareceu ta-baco em abundância que todos puseramnas suas mutopas.

- Ndingo, dá-me fogo!E todos os cachimbos ficaram ace-

sos. Os homens começaram a fumar en-quanto recordavam os prodígios daque-le mercado onde tudo era bom e barato.

A viagem prosseguiu e quando a ca-ravana estava perto da aldeia, Ngambadisse ao passarinho mágico:

- Quero ser branco!Naquele momento Ngamba transfor-

mou-se num homem branco e muito ri-co, barriga grande e relógio de bolsocom corrente de ouro. Tinha ao ombrouma espingarda. Então foi chamar o avôe disse-lhe para o acompanhar porque iafundar uma aldeia nova, com as imensasriquezas que tinha. O velho, pesaroso,recusou e disse ao neto que não podiaaceitar porque não era branco.

Ainda hoje nas terras férteis do Ku-bango se houve esta canção:

- Ndingo, Ndingo, yanga, yanga,vilengo/ndyeko mema/Ndingo, Ndin-go/ Ndyeko vyakulya/vyakulya vye-vi/na makaya/Ndingo, Ndingo… dá-me riqueza!

*Adaptado do livro “O Mundo Cultural dosGanguelas”

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOSO pássaro mágico que mudou vidas e paisagens

PROVÉRBIO

VAMOS COLORIR

ADIVINHAS

Soluções:1.Gato; 2. Abelha; 3. Água corrente areia e espuma; 4. Agulha e Linha; 5. Alfabeto;6. Letra p.

Os livros são nossos amigosAndo na escola no bairro Nova Vida e no fim-de-semana fui veruma exposição e feira de livros para crianças. Os meus pais le-varam-me e encontrei lá alguns colegas. Nunca tinha visto tãobonitos e fiquei com vontade de levá-los todos para casa.No meu bairro não temos livrarias e é muito difícil encontrar li-vros para crianças, por isso a feira foi importante. Fiquei a pen-sar que as escolas deviam ter feiras permanentes de livros ealém disso, criar pequenas bibliotecas. Os meus pais liam-me livros infantis quando eu era pequena edesde essa altura costumo ler. Aprendi que os livros são os nos-sos melhores amigos porque estão sempre ao nosso lado ecom eles aprendemos coisas importantes para a nossa vida epara o nosso país.Se as escolas tiverem pequenas bibliotecas todos os alunospodem aprender e ocupar os tempos livres. A melhor coisa quepodemos fazer é ler um livro com uma boa história. E quem sehabitua a ler nunca mais dispensa os livros.A feira do Projecto Nova Vida veio num momento oportuno.

ÂNGELA ROGÉRIO |12 ANOS| RANGEL

1. O que é que sendo preto ou branco, de noite é semprepardo, escaldado tem medo de água fria e sete vidas?2. Fui branca de nação e mais tarde mudei de cor, fui roubadasem sentir para enriquecer o meu senhor.3. São três coisas: uma diz que vamos, outra que fiquemos,outra que dancemos.4. O que anda de buraco em buraco, com as tripas de rastos?5. Qual é a palavra que tem quatro sílabas e 29 letras?6. Qual é o princípio de princípio?

«Quando um rei tem conselhei-ros bons, o seu reino é pacífico.

Domingo, 9 de Junho de 2013Nº 106 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCartas dos Amiguinhos

AAnfíbios são animais de pele fina e húmida. Não possuempeles nem escamas externas. São incapazes de manter cons-tante a temperatura do seu corpo, por isso são chamados ani-mais de sangue frio (pecilotérmicos). A pele fina, rica em vasossanguíneos e glândulas, através da respiração, permite-lhes a ab-sorção de água, que funciona como defesa orgânica. Quandoestão com “sede”, os anfíbios encostam a região ventral do seucorpo na água e absorvem-na pela pele.AAs glândulas na sua pele são de dois tipos: mucosas, que pro-duzem muco, e serosas, que produzem veneno. Todo o anfíbioproduz substâncias tóxicas. Existem espécies mais e menos tó-xicas e os acidentes com humanos somente acontecem seessas substâncias entrarem em contacto com as mucosas ousangue. Podem ser aquáticos (respiram através de brânquias)ou terrestres (respiram através da pele ou pulmões). Alimentam-se de minhocas, insectos, aranhas, e de outros vertebrados.

SSAABBIIAASS QQUUEE.... ..

Começou o segundo trimestreescolar. Atenção às notas que ti-veram no primeiro trimestre. Éimportante que todos os estu-dantes saibam que se tiveremnotas baixas, podem reprovar.E todas as crianças de Angolaestão proibidas de reprovar. Éobrigatório passar de classe, jáque o vosso trabalho é somenteestudar.todos os estudantes devem,com a ajuda do papá ou da ma-mã, fazer um calendário de estu-do, para saberem as horas quetêm para estudar e as que têmpara brincar. Também deve estarincluido neste calendário o horá-rio de ir para a cama.

CASIMIRO PEDRO