domingo, 2 de junho de 2013 nº 105 sÉrie iii...

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SEKE IA BINDO | Nas terras distantes de Mavinga ha- via um casal que tinha uma filha muito bela chamada Intumba. A menina cres- ceu em liberdade entre a aldeia e o rio, brincando com as borboletas. Quando chegou à idade casadoira, começaram a surgir muitos pretendes na casa paterna. Os pais recebiam os moços e punham- nos a falar com ela. Algum tempo depois eles partiam com tanta tristeza no cora- ção que mal conseguiam andar. Eram recusados sem qualquer explicação. Um dia chegou a casa dos pais de In- tumba um rapaz cego, com a sua bengala e um cão a fazer de guia. Pediu a mão da menina e os pais disseram-lhe que o me- lhor era ir falar com ela. Algum tempo depois ele regressou, muito feliz, porque a bela mulher aceitou o seu pedido. - Tantos rapazes bonitos e a nossa filha recusou todos os pretendentes. Agora foi aceitar um cego para marido! – Disse o pai de Intumba à mulher. Quando chegou o dia marcado para o alambamento o cego compareceu acom- panhado do seu cão fiel. Mas os pais de Intumba, despeitados, recusaram o dote. Então Intumba disse ao cego: - Guarda o teu dinheiro e vamos para a tua aldeia, com ele vamos começar a nossa vida. E assim aconteceu. A bela mulher e o cego partiram para a sua nova casa. Viviam os dois muito felizes quando chegou a notícia da morte do pai de In- tumba. O casal partiu imediatamente para o óbito. Mais tarde regressaram a casa, mas nas suas costas, a sogra co- meçou a dizer mal do cego: - Se a minha bela filha tivesse casado com um rapaz perfeito, ele já tinha ergui- do uma cerca à volta da minha lavra, que anda a ser devorada pelos animais ou por ladrões! Quando o cego soube das queixas da sogra partiu imediatamen- te com a mulher para sua casa. E no dia seguinte foi à lavra grande para ver que espécie de animais estavam a devorar as plantações. Como na tonga existia uma cubata velha, os dois abri- garam-se lá dentro. Ia alta a noite quando o cego foi ven- cido pelo sono. Então disse a Intumba: - Tenho muita vontade de dormir, se ouvires algum som estranho acorda-me! O cego dormia a sono solto quando Intumba ouviu coisas estranhas na la- vra. Acordou imediatamente o marido. O cego pegou na sua lança mágica, saiu da cubata e gritou: - Quem invadiu a lavra da minha so- gra? Ninguém respondeu. Então atirou a lança e disse: acerta no coração dos in- trusos! Três javalis foram varados pela arma e morreram imediatamente. Intum- ba foi ao quimbo informar a mãe do su- cedido. O povo da aldeia deslocou-se à lavra e todos fizeram uma grande festa, comendo os javalis. Na noite seguinte, o cego voltou a ser vencido pelo sono e pediu à mulher pa- ra acordá-lo se ouvisse alguma coisa estranha. Alta noite, Intumba ouviu sons estra- nhos na lavra. Pareceu-lhe ouvir vozes humanas e ficou com muito medo. Aba- nou o marido e disse-lhe baixinho: - Chegaram os ladrões! O cego pegou na lança mágica, saiu da cubata e rompeu o silêncio da ma- drugada gritando: - Eu sou cego, primeiro disparo e só depois é que pergunto. Ditas estas pala- vras atirou a lança contra a escuridão e ordenou: vai certeira ao coração dos la- drões! Voltou a entrar na cubata e os dois adormeceram. Na manhã seguinte, Ingtumba foi ver o que tinha acontecido e encontrou os corpos de três homens, trespassados pela lança do marido. Es- tavam mortos. Foi ao quimbo e infor- mou o soba o que tinha acontecido. O cego foi julgado pelo povo. Entre a assistência estava um jovem que tinha acompanhado os mortos à lavra. E quando foi pedido o seu testemu- nho ele contou: - Nós queríamos matar o cego porque não merece estar com uma mulher tão bo- nita. Mas não conseguimos matá-lo por- que ele usou contra nós uma lança mágica. Etu tuli na vitanga, telumweno natsihi vantu ku mahya. O soba e todas as testemunhas con- firmaram que o cego não teve culpa das três nortes. Matou para não morrer. Os familiares dos defuntos levaram os cor- pos para serem sepultados e o cego continuou com a sua amada esposa e foram felizes para sempre. *Adaptado do livro “O Mundo Cul- tural dos Nganguelas” CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS A bela Intumba e o cego da lança mágica PROVÉRBIO VAMOS COLORIR ADIVINHAS Soluções: 1. A letra “U”, 2. Coração; 3. Velório; 4. A nuvem; 5. Feijão; 6.Garfo, pente; 7. Água corrente. O dia mundial das crianças Na nossa escola, este ano, preparamos o Dia Mundial da Criança de uma forma especial. Fizemos desenhos e composições, aprendemos muitas coisas sobrte os Direitos da Criança e a nossa professora também nos falou dos “11 Compromissos” assumuidos pelo nosso governo, a fim de garantir a todas as crianças acesso à educação, aos cuidados de saúde e a um lar feliz. As crianças angolanas têm hoje muito mais do que tinham há dez anos. Eu nasci dois anos antes da assinatura do Acordo de Paz do Luena e já não sei o que foi a guerra. Mas a minha mãe viveu situações muito difí- cieis e viu morrer as suas amigas e até a professora. Fugiu do Huambo e veio para Luanda por causa da guerra. Temos muita família no Planalto Central mas a minha mãe está tão traumatizada que não quer voltar à sua aldeia, no Longonjo. A guerra faz muito mal a todas as pessoas, mas quem mais sofre são as crianças e os idosos. Quando a minha mãe fugiu para Luanda, os seus pais e avós ficaram. Nunca mais os viu. Ainda hoje isso lhe causa grande sofrimento. Por isso eu sinto-me muito feliz por estar a viver em paz e poder comemorar o Dia Mundial da Criança com os meus colegas e as minhas amigas. Vamos todos brincar para a Marginal. Ana Lúcia Martins |12 ANOS | LUANDA 1. O que é que vive no meio da rua, de pernas para o ar? 2. Trabalha como um relógio, e não é relógio, tem raízes e não é vegetal, espera morrer onde nasceu e o seu maior amigo não o deseja ver? 3. Se eu for no teu, tu não vais no meu, e se tu fores no meu eu não vou ao teu? 4. Muda de forma a toda a hora. Foi água, é água. De onde veio, não ignora... Mas nunca sabe onde vai. O que é? 5. O que é verde, branco ou amarelo pode ser frade sem convento quando não carrapato? 6. Que está na boca, mas não é da boca, tem dentes mas não mastiga? 7. Uma coisa que tanto anda e nunca chega onde quer. «Se és rico, és odiado; quando és pobre, és desprezado. Domingo, 2 de Junho de 2013 Nº 105 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER Cartas dos Amiguinhos A Um caracol bebé tem a concha mole e demora três anos até ficar adulto. A sua casca necessita de lugares com luz, principalmente a luz solar, o calor e a humidade dão consistência ao caracol. Um caracol pode deslizar sobre uma lâmina de barbear, sem ser fe- rido, produzindo muco que o ajuda a deslizar de forma inofensiva. A falta de luz natural, deixa o caracol mole e faz com que hiberne mais tempo. ASe deixares um peixe dourado num quarto escuro, acaba por ficar branco. Ovinos podem reconhecer-se uns aos outros através de fotos. Um rato pode cair de um prédio de cinco andares, sem ter danos. Estima-se que milhões de árvores são plantadas acidentalmente por esquilos que enterram nozes e esquecem-se onde as esconderam. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Merecer atenção dos pais Estamos em Junho, o mês da criança. Toda a criança tem direito a atenção. Mas é preciso que todas as crianças saibam que, para terem este direito é necessário que sejam bem com- portadas. Senão em vez de atenção vão ter ralhetes a toda a hora. Agradem vossos papás dando exem- plo de meninas e meninos bem edu- cados. Principalmente neste mês que é dedicado às crianças de todo o mun- do. Todos devem ser amigos, compa- nheiros, darem atenção a todos os que estiverem à vossa volta. Planta ami- zade e sê uma criança feliz. CASIMIRO PEDRO

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SEKE IA BINDO |

Nas terras distantes de Mavinga ha-via um casal que tinha uma filha muitobela chamada Intumba. A menina cres-ceu em liberdade entre a aldeia e o rio,brincando com as borboletas. Quandochegou à idade casadoira, começaram asurgir muitos pretendes na casa paterna.Os pais recebiam os moços e punham-nos a falar com ela. Algum tempo depoiseles partiam com tanta tristeza no cora-ção que mal conseguiam andar. Eramrecusados sem qualquer explicação.Um dia chegou a casa dos pais de In-

tumba um rapaz cego, com a sua bengalae um cão a fazer de guia. Pediu a mão damenina e os pais disseram-lhe que o me-lhor era ir falar com ela. Algum tempodepois ele regressou, muito feliz, porquea bela mulher aceitou o seu pedido.- Tantos rapazes bonitos e a nossa filha

recusou todos os pretendentes. Agora foiaceitar um cego para marido! – Disse opai de Intumba à mulher. Quando chegou o dia marcado para o

alambamento o cego compareceu acom-panhado do seu cão fiel. Mas os pais deIntumba, despeitados, recusaram o dote.Então Intumba disse ao cego:- Guarda o teu dinheiro e vamos para

a tua aldeia, com ele vamos começar a

nossa vida. E assim aconteceu. A belamulher e o cego partiram para a sua novacasa. Viviam os dois muito felizes quandochegou a notícia da morte do pai de In-tumba. O casal partiu imediatamentepara o óbito. Mais tarde regressaram acasa, mas nas suas costas, a sogra co-meçou a dizer mal do cego:- Se a minha bela filha tivesse casado

com um rapaz perfeito, ele já tinha ergui-do uma cerca à volta da minha lavra, queanda a ser devorada pelos animais ou porladrões! Quando o cego soube dasqueixas da sogra partiu imediatamen-te com a mulher para sua casa. E nodia seguinte foi à lavra grande paraver que espécie de animais estavam adevorar as plantações. Como na tonga

existia uma cubata velha, os dois abri-garam-se lá dentro.Ia alta a noite quando o cego foi ven-

cido pelo sono. Então disse a Intumba:- Tenho muita vontade de dormir, se

ouvires algum som estranho acorda-me!O cego dormia a sono solto quando

Intumba ouviu coisas estranhas na la-vra. Acordou imediatamente o marido.O cego pegou na sua lança mágica,

saiu da cubata e gritou:- Quem invadiu a lavra da minha so-

gra? Ninguém respondeu. Então atirou alança e disse: acerta no coração dos in-trusos! Três javalis foram varados pelaarma e morreram imediatamente. Intum-ba foi ao quimbo informar a mãe do su-cedido. O povo da aldeia deslocou-se àlavra e todos fizeram uma grande festa,comendo os javalis.Na noite seguinte, o cego voltou a ser

vencido pelo sono e pediu à mulher pa-ra acordá-lo se ouvisse alguma coisaestranha.Alta noite, Intumba ouviu sons estra-

nhos na lavra. Pareceu-lhe ouvir vozeshumanas e ficou com muito medo. Aba-nou o marido e disse-lhe baixinho:- Chegaram os ladrões!O cego pegou na lança mágica, saiu

da cubata e rompeu o silêncio da ma-drugada gritando:

- Eu sou cego, primeiro disparo e sódepois é que pergunto. Ditas estas pala-vras atirou a lança contra a escuridão eordenou: vai certeira ao coração dos la-drões! Voltou a entrar na cubata e osdois adormeceram. Na manhã seguinte,Ingtumba foi ver o que tinha acontecidoe encontrou os corpos de três homens,trespassados pela lança do marido. Es-tavam mortos. Foi ao quimbo e infor-mou o soba o que tinha acontecido.O cego foi julgado pelo povo. Entre a

assistência estava um jovem que tinhaacompanhado os mortos à lavra. E quando foi pedido o seu testemu-

nho ele contou:- Nós queríamos matar o cego porque

não merece estar com uma mulher tão bo-nita. Mas não conseguimos matá-lo por-que ele usou contra nós uma lança mágica.Etu tuli na vitanga, telumweno natsihi

vantu ku mahya.O soba e todas as testemunhas con-

firmaram que o cego não teve culpa dastrês nortes. Matou para não morrer. Osfamiliares dos defuntos levaram os cor-pos para serem sepultados e o cegocontinuou com a sua amada esposa eforam felizes para sempre.

*Adaptado do livro “O Mundo Cul-tural dos Nganguelas”

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOSA bela Intumba e o cego da lança mágica

PROVÉRBIO

VAMOS COLORIR

ADIVINHAS

Soluções:1.A letra “U”, 2. Coração; 3. Velório; 4. A nuvem; 5. Feijão; 6.Garfo, pente; 7. Águacorrente.

O dia mundial das criançasNa nossa escola, este ano, preparamos o Dia Mundial da Criança deuma forma especial. Fizemos desenhos e composições, aprendemosmuitas coisas sobrte os Direitos da Criança e a nossa professora tambémnos falou dos “11 Compromissos” assumuidos pelo nosso governo, afim de garantir a todas as crianças acesso à educação, aos cuidados desaúde e a um lar feliz.As crianças angolanas têm hoje muito mais do que tinham há dez anos.Eu nasci dois anos antes da assinatura do Acordo de Paz do Luena e jánão sei o que foi a guerra. Mas a minha mãe viveu situações muito difí-cieis e viu morrer as suas amigas e até a professora. Fugiu do Huamboe veio para Luanda por causa da guerra. Temos muita família no PlanaltoCentral mas a minha mãe está tão traumatizada que não quer voltar à suaaldeia, no Longonjo.A guerra faz muito mal a todas as pessoas, mas quem mais sofre são ascrianças e os idosos. Quando a minha mãe fugiu para Luanda, os seuspais e avós ficaram. Nunca mais os viu. Ainda hoje isso lhe causa grandesofrimento. Por isso eu sinto-me muito feliz por estar a viver em paz epoder comemorar o Dia Mundial da Criança com os meus colegas e asminhas amigas. Vamos todos brincar para a Marginal.

Ana Lúcia Martins |12 ANOS | LUANDA

1. O que é que vive no meio da rua, de pernas para o ar?2. Trabalha como um relógio, e não é relógio, tem raízes e não é vegetal,espera morrer onde nasceu e o seu maior amigo não o deseja ver? 3. Se eu for no teu, tu não vais no meu, e se tu fores no meu eu nãovou ao teu?4. Muda de forma a toda a hora. Foi água, é água. De onde veio, nãoignora... Mas nunca sabe onde vai. O que é?5. O que é verde, branco ou amarelo pode ser frade sem conventoquando não carrapato?6. Que está na boca, mas não é da boca, tem dentes mas não mastiga?7. Uma coisa que tanto anda e nunca chega onde quer.

«Se és rico, és odiado; quandoés pobre, és desprezado.

Domingo, 2 de Junho de 2013Nº 105 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCartas dos Amiguinhos

A Um caracol bebé tem a concha mole e demora três anos atéficar adulto. A sua casca necessita de lugares com luz, principalmentea luz solar, o calor e a humidade dão consistência ao caracol.Um caracol pode deslizar sobre uma lâmina de barbear, sem ser fe-rido, produzindo muco que o ajuda a deslizar de forma inofensiva.A falta de luz natural, deixa o caracol mole e faz com que hibernemais tempo.ASe deixares um peixe dourado num quarto escuro, acaba porficar branco.Ovinos podem reconhecer-se uns aos outros através de fotos.Um rato pode cair de um prédio de cinco andares, sem ter danos.Estima-se que milhões de árvores são plantadas acidentalmente poresquilos que enterram nozes e esquecem-se onde as esconderam.

SSAABBIIAASS QQUUEE.... ..

Merecer atenção dos pais

Estamos em Junho, o mês da criança.Toda a criança tem direito a atenção.Mas é preciso que todas as criançassaibam que, para terem este direitoé necessário que sejam bem com-portadas. Senão em vez de atençãovão ter ralhetes a toda a hora.Agradem vossos papás dando exem-plo de meninas e meninos bem edu-cados. Principalmente neste mês queé dedicado às crianças de todo o mun-do. Todos devem ser amigos, compa-nheiros, darem atenção a todos os queestiverem à vossa volta. Planta ami-zade e sê uma criança feliz.

CASIMIRO PEDRO