domingo, 30 de junho de 2013 nº 109 sÉrie iii...

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SEKE IA BINDO | Kulembe era duro e Cimbiambiulu dura era. Não podiam dormir na mesma cama. Os que são avisados e conhecem os sentimentos sabem de fonte limpa que dois teimosos não podem viver juntos. O velho Nangombe, sábio que atravessou todas as montanhas e respi- rou a brisa do mar, deu aos dois jovens uma lição: nem todos os caminhos são para trilhar nem todas as opiniões são para desprezar. Assim falou o sábio a seu neto Ku- lembe: - U watimba, u watimba, kava- lala ula umosi! Não foi ouvido. Os jovens só gostam de ouvir palavras que enalteçam os seus feitos e elogiem os seus defeitos. Quando a verdade sai da boca dos ve- lhos e fere a sua vaidade, eles ficam a olhar para nada e tapam os ouvidos com uma cortina de silêncio. Kulembe desposou a bela Cimbiam- biulu e ainda não tinham entrado em casa, já estavam a discutir. Ele disse que estava cansado, porque a festa do casamento começou cedo e o dia estava a terminar. Ela contrariava: - Não, a noite está a começar e com ela a nossa festa vai continuar! Desde então as discussões eram constantes. Um dia, Kulembe estava tão desespe- rado com as discussões que saiu de ca- sa e foi procurar o seu avô Nangombe. Contou-lhe que em casa havia mais discussões do que silêncio, mais tei- mosia do que acordo. O velho olhou para o neto e disse: - As tuas dores são como faca que traspassou o teu coração. Olongembia vyove vyasoka nd’omoko yatombola utima wove. E prosseguiu pausada- mente: - Quando descobrimos os defei- tos da nossa amada, o amor afunda-se no sofrimento. Namgombe explicou ao neto que a teimosia muitas vezes é filha da imaturidade. E lembrou ao neto, uma advinha que lhe ensinou na infân- cia: - Saltando e saltando no rochedo, o que é? Kulembe recordou os doces anos da infância quando sentado nas pernas do avô que o criou, ele per- guntava com a sua voz pausada: - Tonga! Tonga! p’ohanda? O menino não sabia responder. O avô guiava-o pacientemente para a res- posta. E quando ele quase rebentava de curiosidade, o velho dava a resposta: - Omol’ombambi olilongisa oku- tongela! É o filho da gazela apren- dendo a saltar! Antes de percorrer os imensos capin- zais, procurar o pasto e a água, cuidar das crias, é preciso aprender a saltar. Ninguém chega ao fim sem primeiro partir e aprender a percorrer o caminho. Kulembe regressou a casa e chamou afectuosamente a bela Cimbiambiulu. Disse-lhe que dois teimosos não po- dem viver juntos. Mas se houver com- preensão a teimosia dá lugar ao acordo. A mulher respondeu: - A teimosia só é defeito quando não somos capazes de aceitar a opinião dos outros. A compreensão muitas vezes esconde a submissão. Aquela bela mulher era mesmo tei- mosa. Mas Kulembe pensou nas suas palavras e viu nelas um fundo de verda- de. Ele gostava de submete-la e sentia- se bem quando ela lhe obedecia. Pro- meteu a ele próprio que havia de ter mais cuidado para que a bela Cimbiam- biulu não sentisse que estava a ser sub- metida à sua vontade. A mulher também reflectiu nas pala- vras do marido. E reconheceu que se fosse mais compreensiva não existiam tantas discussões em casa. Ambos ti- nham de crescer para serem mais feli- zes. A sua tia disse-lhe um dia, que se confiarmos a uma criança a tarefa de rapar o porco da festa, arriscamo-nos que fiquem ainda muitos pêlos. A carne fica feia e as patas se não forem bem ra- padas, ninguém as pode tragar. E decidiu que ia ser mais compreen- siva. Passaram-se os dias e as discus- sões foram rareando. A concórdia tinha entrado em casa de Kulembe e da bela Cimbiambiulu. Mas um dia entrou a desgraça. O marido partiu para outra aldeia e constituiu uma nova família, com uma mulher submissa. Cimbiambiulu ficou triste mas lem- brou-se das palavras da tia, quando saiu da casa de seus pais para casar: Tjikola kokatjyetji k’olombwa, pamwe kokambili olomota vyene vyapanga k’olongulu, sanga vivikosa l’akondjo avyo, ha vipongoloka okû- toñolavo. Ninguém dê aos cães um manjar, nem dê pérolas aos porcos, porque as pisarão e voltam-se contra vós para vos despedaçar também. CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS A teimosia de Cimbiambiulu e a parábola das pérolas PROVÉRBIO VAMOS COLORIR ADIVINHAS Soluções: 1. Boca; 2. Boca, à qual o braço para chegar tem de se dobrar; 3. Boi; 4. Boi; 5. O bolo e a bola; 6. Varapau; 7. Patas, rabo e cornos da Vaca. A arte faz falta às escolas Sou estudante da Escola 1º de Agosto e este ano tenho bons professores. Um deles disse que nós devíamos ver exposições de arte porque isso pode ajudar-nos a ver as coisas de outra maneira e a compreender o valor das formas. Fiquei a pensar nessa lição e pedi aos meus pais para me leva- rem a uma exposição. E eles levaram-me num sábado à tarde a uma galeria na Ilha do Cabo, aqui em Luanda. Estava lá uma exposição com obras muito bonitas. Vi paisagens pintadas com cores vivas e elementos que eu nunca tinha visto. O meu pai disse que a imaginação também faz parte da arte. Como a har- monia e o trabalho das cores. Há muitas escolas longe da Baixa e da Ilha do Cabo, onde essas coisas acontecem. Então eu pensei que era muito importante levar os artistas e as suas obras a essas escolas. Muitos pintores, escultores ou ceramistas têm obras bonitas e todos deviam conhecê-las. Se forem convidados para levar esses trabalhos às escolas eles devem aceitar, até porque tam- bém têm filhos ou familiares a estudar. Pelo que eu vi naquela galeria, fiquei a saber que a arte faz falta nas escolas. JOAQUINA QUIMBANGO|12 ANOS|TERRA NOVA 1. Penha por baixo, penha por cima, cavaca no meio, chova que não chova, sempre está molhada. 2. Poço fundo, braço curto, sem ser dobrado não chega. 3. Tem duas torres mui altas, dois mirantes, quatro andantes, e um enxota-moscas. 4. Mil maranhinhos, mil maranhões, dois parafitos quatro chantões. 5. Come-se o macho e rola-se a fêmea. O que são? 6. O que é que se aperta numa mão e não cabe num caixão? 7. Quatro na lama, quatro na cama, um acena e dois abanam. «A união do rebanho obriga o leão a dormir com fome. Domingo, 30 de Junho de 2013 Nº 109 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER Cartas dos Amiguinhos AOs mamíferos pertencem à classe Mammalia (mamífero) todo animal que se alimenta de leite quando filhote, inclui tam- bém o homem. No mundo existem 4.700 espécies de mamíferos. Mas, esses nú- meros não são definitivos, pois são descobertos novos. No caso dos mamíferos que possuem o corpo coberto de pelos ou pelagem, os seus pelos variam entre curtos e longos ou cer- das rijas, conseguem viver em quase toda a parte do mundo e o seu sangue é quente. AIsso significa que, não importa a temperatura externa, o seu organismo conserva sempre uma temperatura ideal, adap- tando-se ao ambiente em que vivem. Os Ursos-polares, por exemplo, vivem num dos lugares mais frios do mundo, já os Camelos, vivem em regiões áridas e quentes. Enquanto os Golfinhos, habitam os oceanos e os Morcegos, vivem muitas vezes em cavernas escuras e podem voar. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Hoje termina o mês de Junho, mês dedicado às crianças. Muitos meni- nos ganharam presentes dos pa- pás, outros não ganharam, porque se calhar os papás não têm condi- ções para comprar um presente. Mas não devem desanimar, porque ainda temos muitos dias das crian- ças para comemorar. Todos podiam ter ganho presentes se participassem do concurso da página infantil, que ofereceu um lin- do livro de histórias e um presente surpresa a quem participou. Foi uma grande surpresa e vocês podem ver no Jornal de Angola. E da próxima vez participem, porque há sempre surpresas no Suplemen- to Infantil.Boas aulas. CASIMIRO PEDRO

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SEKE IA BINDO |

Kulembe era duro e Cimbiambiuludura era. Não podiam dormir na mesmacama. Os que são avisados e conhecemos sentimentos sabem de fonte limpaque dois teimosos não podem viverjuntos. O velho Nangombe, sábio queatravessou todas as montanhas e respi-rou a brisa do mar, deu aos dois jovensuma lição: nem todos os caminhos sãopara trilhar nem todas as opiniões sãopara desprezar.Assim falou o sábio a seu neto Ku-

lembe: - U watimba, u watimba, kava-lala ula umosi!Não foi ouvido. Os jovens só gostam

de ouvir palavras que enalteçam osseus feitos e elogiem os seus defeitos.Quando a verdade sai da boca dos ve-lhos e fere a sua vaidade, eles ficam aolhar para nada e tapam os ouvidoscom uma cortina de silêncio.Kulembe desposou a bela Cimbiam-

biulu e ainda não tinham entrado emcasa, já estavam a discutir. Ele disseque estava cansado, porque a festa docasamento começou cedo e o dia estavaa terminar. Ela contrariava:- Não, a noite está a começar e com

ela a nossa festa vai continuar! Desdeentão as discussões eram constantes.

Um dia, Kulembe estava tão desespe-rado com as discussões que saiu de ca-sa e foi procurar o seu avô Nangombe.Contou-lhe que em casa havia maisdiscussões do que silêncio, mais tei-mosia do que acordo. O velho olhoupara o neto e disse:- As tuas dores são como faca que

traspassou o teu coração. Olongembiavyove vyasoka nd’omoko yatombola

utima wove. E prosseguiu pausada-mente: - Quando descobrimos os defei-tos da nossa amada, o amor afunda-seno sofrimento. Namgombe explicou aoneto que a teimosia muitas vezes é filhada imaturidade. E lembrou ao neto,uma advinha que lhe ensinou na infân-cia: - Saltando e saltando no rochedo, oque é? Kulembe recordou os docesanos da infância quando sentado nas

pernas do avô que o criou, ele per-guntava com a sua voz pausada:- Tonga! Tonga! p’ohanda?O menino não sabia responder. O

avô guiava-o pacientemente para a res-posta. E quando ele quase rebentava decuriosidade, o velho dava a resposta:- Omol’ombambi olilongisa oku-

tongela! É o filho da gazela apren-dendo a saltar!Antes de percorrer os imensos capin-

zais, procurar o pasto e a água, cuidardas crias, é preciso aprender a saltar.Ninguém chega ao fim sem primeiropartir e aprender a percorrer o caminho.Kulembe regressou a casa e chamou

afectuosamente a bela Cimbiambiulu.Disse-lhe que dois teimosos não po-dem viver juntos. Mas se houver com-preensão a teimosia dá lugar ao acordo.A mulher respondeu:- A teimosia só é defeito quando não

somos capazes de aceitar a opinião dosoutros. A compreensão muitas vezesesconde a submissão. Aquela bela mulher era mesmo tei-

mosa. Mas Kulembe pensou nas suaspalavras e viu nelas um fundo de verda-de. Ele gostava de submete-la e sentia-se bem quando ela lhe obedecia. Pro-meteu a ele próprio que havia de termais cuidado para que a bela Cimbiam-

biulu não sentisse que estava a ser sub-metida à sua vontade.A mulher também reflectiu nas pala-

vras do marido. E reconheceu que sefosse mais compreensiva não existiamtantas discussões em casa. Ambos ti-nham de crescer para serem mais feli-zes. A sua tia disse-lhe um dia, que seconfiarmos a uma criança a tarefa derapar o porco da festa, arriscamo-nosque fiquem ainda muitos pêlos. A carnefica feia e as patas se não forem bem ra-padas, ninguém as pode tragar.E decidiu que ia ser mais compreen-

siva. Passaram-se os dias e as discus-sões foram rareando. A concórdia tinhaentrado em casa de Kulembe e da belaCimbiambiulu. Mas um dia entrou adesgraça. O marido partiu para outraaldeia e constituiu uma nova família,com uma mulher submissa.Cimbiambiulu ficou triste mas lem-

brou-se das palavras da tia, quandosaiu da casa de seus pais para casar:Tjikola kokatjyetji k’olombwa,

pamwe kokambili olomota vyenevyapanga k’olongulu, sanga vivikosal’akondjo avyo, ha vipongoloka okû-toñolavo. Ninguém dê aos cães ummanjar, nem dê pérolas aos porcos,porque as pisarão e voltam-se contravós para vos despedaçar também.

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOSA teimosia de Cimbiambiulu e a parábola das pérolas

PROVÉRBIO

VAMOS COLORIR

ADIVINHAS

Soluções:1.Boca; 2. Boca, à qual o braço para chegar tem de se dobrar; 3. Boi; 4. Boi; 5. Obolo e a bola; 6. Varapau; 7. Patas, rabo e cornos da Vaca.

A arte faz falta às escolasSou estudante da Escola 1º de Agosto e este ano tenho bonsprofessores. Um deles disse que nós devíamos ver exposiçõesde arte porque isso pode ajudar-nos a ver as coisas de outramaneira e a compreender o valor das formas.Fiquei a pensar nessa lição e pedi aos meus pais para me leva-rem a uma exposição. E eles levaram-me num sábado à tarde auma galeria na Ilha do Cabo, aqui em Luanda. Estava lá umaexposição com obras muito bonitas. Vi paisagens pintadas comcores vivas e elementos que eu nunca tinha visto. O meu paidisse que a imaginação também faz parte da arte. Como a har-monia e o trabalho das cores.Há muitas escolas longe da Baixa e da Ilha do Cabo, onde essascoisas acontecem. Então eu pensei que era muito importantelevar os artistas e as suas obras a essas escolas. Muitos pintores, escultores ou ceramistas têm obras bonitas etodos deviam conhecê-las. Se forem convidados para levaresses trabalhos às escolas eles devem aceitar, até porque tam-bém têm filhos ou familiares a estudar. Pelo que eu vi naquelagaleria, fiquei a saber que a arte faz falta nas escolas.

JOAQUINA QUIMBANGO|12 ANOS|TERRA NOVA

1. Penha por baixo, penha por cima, cavaca no meio, chova quenão chova, sempre está molhada.2. Poço fundo, braço curto, sem ser dobrado não chega.3. Tem duas torres mui altas, dois mirantes, quatro andantes, eum enxota-moscas.4. Mil maranhinhos, mil maranhões, dois parafitos quatro chantões.5. Come-se o macho e rola-se a fêmea. O que são?6. O que é que se aperta numa mão e não cabe num caixão?7. Quatro na lama, quatro na cama, um acena e dois abanam.

«A união do rebanho obriga oleão a dormir com fome.

Domingo, 30 de Junho de 2013Nº 109 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCartas dos Amiguinhos

AOs mamíferos pertencem à classe Mammalia (mamífero)todo animal que se alimenta de leite quando filhote, inclui tam-bém o homem. No mundo existem 4.700 espécies de mamíferos. Mas, esses nú-meros não são definitivos, pois são descobertos novos. No caso dos mamíferos que possuem o corpo coberto de pelosou pelagem, os seus pelos variam entre curtos e longos ou cer-das rijas, conseguem viver em quase toda a parte do mundo e oseu sangue é quente.AIsso significa que, não importa a temperatura externa, o seuorganismo conserva sempre uma temperatura ideal, adap-tando-se ao ambiente em que vivem. Os Ursos-polares, porexemplo, vivem num dos lugares mais frios do mundo, já osCamelos, vivem em regiões áridas e quentes. Enquanto osGolfinhos, habitam os oceanos e os Morcegos, vivem muitasvezes em cavernas escuras e podem voar.

SSAABBIIAASS QQUUEE.... ..

Hoje termina o mês de Junho, mêsdedicado às crianças. Muitos meni-nos ganharam presentes dos pa-pás, outros não ganharam, porquese calhar os papás não têm condi-ções para comprar um presente.Mas não devem desanimar, porqueainda temos muitos dias das crian-ças para comemorar.Todos podiam ter ganho presentesse participassem do concurso dapágina infantil, que ofereceu um lin-do livro de histórias e um presentesurpresa a quem participou.Foi uma grande surpresa e vocêspodem ver no Jornal de Angola.E da próxima vez participem, porquehá sempre surpresas no Suplemen-to Infantil.Boas aulas.

CASIMIRO PEDRO