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PATRIMONIO MATERIAL E CULTURAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: O CASO DO PARQUE ESTADUAL DO
BOGUAÇU EM GUARATUBA-PR - FERNANDES, Rosane Patrícia; BANDEIRA, Dione da Rocha; WASILEWSKI, Marcos
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
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PATRIMONIO MATERIAL E CULTURAL EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO: O CASO DO PARQUE ESTADUAL DO
BOGUAÇU EM GUARATUBA-PR
FERNANDES, Rosane Patrícia
Estudante do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e sociedade, Docente da
faculdade do Litoral Paranaense ISEPE – Guaratuba
BANDEIRA, Dione da Rocha
Docente do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e sociedade
WASILEWSKI, Marcos Pesquisador do Instituto Guajú, Educação ambiental, Resgate Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável
RESUMO As Áreas de Preservação Ambiental (APAs), além das belezas naturais, também são possuidoras de riquezas patrimoniais e culturais. Nos últimos anos vem se destacando em Unidades de
Conservação (UC) estudos sobre a cultura material deixada por sociedades que habitaram estes
locais no passado. Na APA de Guaratuba no Estado do Paraná é possível encontrar diversos sítios
arqueológicos, pré-coloniais, líticos, históricos e ceramistas. Este estudo trata de dois sítios arqueológicos em especial, localizados no Parque Estadual do Boguaçu uma UC no interior da
APA de Guaratuba, um sendo pré-colonial e histórico outro pré-colonial onde são encontrados
estruturas e artefatos remanescentes da cultura material desses povos.
Palavras Chave: Unidades de Conservação; Sítios Arqueológicos; Cultura Material.
ABSTRACT
The Environmental Protected Areas (APAs) beyond the natural beauties are also places where are
patrimonial and cultural heritage. In recent years has been emerging studies on material culture in Conservation Units (CU) left by societies that inhabited these places in the past. In Guaratuba
APA, located in Paraná State can be find several pre-colonial, lithic, historical and ceramist
archaeological sites. This study uses two special archaeological sites, located in Boguaçu Park, an Environmental Protected Areas in Guaratuba APA, one of them is pre-colonial is historical,
and another one is pre-colonial, where are found structures and remaining artifacts of material
culture from these people.
Key words: Conservation Units; Archeological Sites; Material Culture.
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INTRODUÇÃO
Os seres humanos, ao habitarem determinados espaços, produzem lá suas marcas,
deixando-as impressa na paisagem, no espaço ocupado. Convivendo com seus
semelhantes, vai tecendo a sua sociabilidade e produzindo sua cultura. O espaço em que
o homem vive é marcado e determinado por escolhas, seja no passado, seja no presente,
muitas vezes decorrentes de necessidades primárias, abstratas ou simbólicas, que se
concretizam em ações sociais. A organização do espaço físico e das estruturas que
preenchem este espaço reforça visualmente a ordem social em que o grupo vive ao mesmo
tempo em que é o seu produto. Considerando que comportamentos dos grupos humanos
deixam evidências físicas no espaço habitado, a arqueologia tem como identificar e
estudar estas marcas, buscando compreender as trajetórias culturais que integram a
cultura pré-colonial através desses elementos materiais encontrados nos sítios
arqueológicos (GODOI, 2003).
A delimitação de espaços para a preservação de certos atributos naturais é uma
prática antiga, que se espalhou por todos os continentes, motivada principalmente por
razões socioculturais (MILARÉ, 2011, p.196).
A riqueza arqueológica da Baía de Guaratuba, no Estado do Paraná, ficou evidente
nos levantamentos de campo e inventários de sítios arqueológicos realizados por
estudiosos como Bigarella (1950), Loureiro Fernandes (1955), Orssich (1977), Ângulo
(1992), Parellada (1993) e Brochier (2002). Os registros arqueológicos mais conhecidos
na região referem-se aos sambaquis. Estes são verdadeiros monumentos construídos por
povos pré-coloniais que viveram no ambiente costeiro. Os sambaquis, para De Blasis et
al (1998) e Bandeira (2005), é um tipo de sítio arqueológico pré-colonial, caracterizado
por elevações de conchas em forma de colina com diferentes tamanhos, composição e
idade. Em sua maioria são compostos de conchas de moluscos, ossos de animais, artefatos
e ossadas humanas decorrentes de sepultamentos ali realizados pela sociedade
sambaquiana, formada por uma população de pescadores-coletores-caçadores que
habitavam as regiões litorâneas, que, foram produtoras de determinada cultura.
Embora diversos quanto à composição e tamanho, construídos em encostas, ou
planícies, os sambaquis ocorrem no mundo todo, sendo que no Brasil encontram-se
distribuídos do Rio Grande do Sul até a Bahia e do Maranhão ao Pará. Além disso, “[...]
tais sítios vêm sendo considerados nos últimos anos como estruturas intencionalmente
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construídas, plenas de significações simbólicas para seus construtores” (DE BLASIS et
al. 2007).
Os sambaquianos são um dos mais antigos povos a ocuparem o litoral brasileiro
(GASPAR, 1998 e 2000). Construídos intencionalmente, os sambaquis foram habitados
por centenas de anos, em sua maioria em regiões lagunares. Pesquisas realizadas em
sambaquis datam atividades humanas no litoral paranaense entre 4.500 e 1.500 anos antes
do presente (AP) (LAMING-EMPERAIRE 1968; MARTINS et al. 1988). O sambaqui
do Élcio, assim como o sambaqui da Barra velha, são dois exemplares de sítios
arqueológicos encontrados no Parque Estadual do Boguaçu, uma Unidade de
Conservação (UC) no interior da APA de Guaratuba, um pré-colonial portador de objetos
culturais produzidos em rocha e barro, outro também pré-colonial com ruínas de um
antigo engenho de farinha nas suas proximidades, que com tais características pode ser
considerado como sítio pré-colonial e histórico.
Quanto aos métodos empregados neste trabalho, além da pesquisa bibliográfica e
documental, também se realizou a pesquisa de campo, que “é aquela que se faz no
ambiente natural da ocorrência dos fenômenos, ou seja, classifica-se como pesquisa de
campo porque a coleta de dados é feita no ambiente em que os fatos ou fenômenos
ocorrem” (RUARO, 2004, p. 26).
UMA IDEIA DE PATRIMÔNIO
O termo patrimônio, derivativo do latim patrimoniun, para autores como Choay
(2001) e Poulot (2008, p. 36), “está ligado à propriedade herdada do pai, ou dos
antepassados, uma herança relacionada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas
de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo”, hoje denominado por
diversos adjetivos como histórico, natural, cultural, genético entre outros, que fazem dele
um conceito "polissêmico". Esse conjunto de bens permite articular o legado do passado
à espera ou à configuração de um futuro, com o objetivo de promover algumas mutações
e, ao mesmo tempo, afirmar uma continuidade (FUNARI, PELEGRINI, 2006).
A compreensão desta pluralidade do patrimônio é importante para apontar os
caminhos desde suas origens até sua transformação em bens culturais. O conceito de
patrimônio não existe isoladamente, ele apenas existe em relação a alguma coisa, ou bem
(FUNARI, PELEGRINI, 2006). Assim, patrimônio é o conjunto de bens materiais e, ou
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imateriais que contam a história de um povo, ou de uma sociedade e sua relação com o
meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitimos às gerações
vindouras. Corroborando com esta definição Ghirardello e Spisso (2008) acrescentam que
patrimônio, além de um conjunto de bens de natureza material ou imaterial, guarda em si
referências à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos sociais, que podem ser
transmitidas pela cultura material, bem como pela cultura imaterial (FUNARI,
PELEGRINI, 2006, p. 10).
Além disso, as noções de cultura e patrimônio encontram-se associadas à memória
social, uma das formas de transmissão da cultura, e à identidade, inerente a identificação.
O patrimônio, a memória, a cultura e a identidade sempre remetem a um coletivo, já que
todos esses termos envolvem o problema do “nosso”: a nossa história, a nossa memória,
a nossa identidade, o nosso patrimônio (ARRUDA, 2009, p.190).
CULTURA MATERIAL
Segundo Le Goff (2001, p 181), “a definição de cultura material é aquela que só
se exprime no concreto, nós e pelos objetos construídos.” A cultura material compreende
os objetos feitos pelo homem e ela significa que o próprio corpo físico do homem é um
objeto da cultura material, assim como as tecnologias, as técnicas, os artefatos. Para
Meneses (1994), nós vivemos imersos num mundo de coisas materiais indispensáveis
para a nossa sobrevivência biológica, psíquica e social, e a cultura material participa
decisivamente na produção e reprodução social. E vem sendo assim desde o surgimento
da humanidade, desde que homem começou usufruir da natureza em seu benefício. Neste
sentido, acrescenta ainda Meneses (1983, p. 112):
[...] o meio físico é socialmente apropriado pelo homem. Por
apropriação social convém pressupor que o homem intervém, modela, dá forma a elementos do meio físico, segundo propósitos e normas
culturais. Essa ação, portanto não é aleatória, casual, individual, mas se
alinha conforme padrões, entre os quais se incluem os objetos e projetos. Assim, o conceito pode tanto abranger artefatos, estruturas,
modificações da paisagem [...].
O conjunto de objetos de utensílios, ferramentas, adornos, moradias, armas, meios
de transporte, a própria natureza, entre outras coisas, forma o ambiente concreto de
determinada sociedade. A cultura material permite o estudo do homem no tempo, através
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dos monumentos, restos de moradias, documentos, armas, obras de arte e realizações
técnicas que foi deixando no seu caminho enquanto civilizações davam lugar a outras
sociedades no curso da História. Funari (2003, p.15) salienta que “o estudo da cultura
material busca compreender as relações sociais e as transformações na sociedade”, pois é
através da cultura material que entendemos o complexo fenômeno da apropriação social
dos segmentos da natureza física (MENESES, 1994).
A arqueologia é a parte da ciência que estuda as culturas a partir do seu aspecto
material, construindo suas interpretações através da análise dos artefatos, seus arranjos
espaciais e sua implantação na paisagem. Cultura material neste trabalho é entendida da
maneira proposta por Meneses (1983, p.112), como o segmento do meio físico que é
socialmente apropriado. Apropriação que não é aleatória, casual ou individual, mas que
segue padrões sociais. Assim, a cultura material é o suporte material, físico, concreto da
produção e reprodução da vida social (MENESES, 1983, p.113).
Braudel (1952, apud FUNARI, 2005 p. 91) em sua obra Civilização Material
descreve:
Vida material são homens e coisas, coisas e homens. Estudar coisas [...],
os alimentos, as habitações, o vestuário, o luxo, os utensílios, os
instrumentos monetários, de aldeia ou cidade [...] em suma de tudo aquilo que o homem se serve, não é a única maneira de avaliar a
existência do cotidiano [...]. De qualquer maneira, proporciona-nos um
excelente indicador.
A cultura material, para a Arqueologia, é compreendida como vestígio daquilo
que o homem constrói e esse vestígio pode elucidar o funcionamento de determinadas
culturas. Funari, Carvalho (2009, p. 5) dizem que cultura neste viés é definida como uma
soma de todas as ideias, atividades e materiais que caracterizam a natureza de um
determinado grupo humano, sendo uma herança cultural-social que corresponde a um
compartilhar de tradições, modo de vida entre outros.
Assim, pode-se dizer que a cultura material está sempre presente na vida humana
(FUNARI, CARVALHO, 2009, p. 4). Nascemos, crescemos e morremos interagindo com
as mais diversas materialidades, criadas dentro de diferentes propósitos, independente do
tempo, ou mesmo do espaço. Neste sentido Gaspar (2011, p. 47) revela:
Cultura material, que era muitas vezes tomada apenas como sinônimo de artefatos, refere-se a um universo muito mais amplo, como o próprio
corpo humano, no sentido de que ele também é moldado por cada
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cultura, pelos arranjos espaciais e a própria paisagem apropriada por um determinado segmento social, aqui incluída a representação
simbólica da mesma. Refere-se também aos sítios arqueológicos
discretos, mas que é parte importante de sistemas de assentamento. [...] dessa maneira, abarca os elementos do mundo social que congregam
informações e/ou emoções que caracterizam cada sociedade.
Como fonte histórica, a cultura material é fundamentada no conhecimento das
sociedades que não escrevem sobre si mesmas, pois ela tem o poder de revelar a cultura
de um povo, de uma região. Sua importância reside ainda no fato de ser fonte concreta
para o conhecimento de uma realidade cultural (HAIGERT, 2006, p. 151).
OBJETOS COMO DOCUMENTOS
Desde o início da civilização, o homem criou utensílios, ferramentas e
implementos produzidos de matéria prima encontrada na natureza. Com o passar do
tempo, esses fazeres foram se aperfeiçoando e diversificando-se na medida em que as
comunidades foram se transformado (FUNARI, 2006). Deste modo, a cultura material
sempre fez parte da dinâmica social e a possibilidade de interpretação desses indícios
explica-se pelo fato desses objetos serem produto do trabalho humano e, portanto, por
apresentarem necessariamente duas facetas: terem uma função primária prática, útil, e
outra função secundária que é a simbólica (FUNARI, 2006).
Os objetos, os artefatos ou outros produtos desta materialidade são tomados como
documentação palpável, para a interpretação do modo de vida de indivíduos que vivem
em uma sociedade. Por outro lado, não é apenas um indicador das relações sociais, mas,
enquanto parte de uma cultura material, atua como direcionador e mediador das atividades
humanas. “O objeto apresenta-se como o meio de relação entre os indivíduos que vivem
em uma sociedade, como forma peculiar de inter-relação, pois todo o relacionamento das
pessoas com o mundo em que vivem passa pelos artefatos” (FUNARI, 2001, p 33-34).
Segundo o antropólogo francês Leroi-Gourhan (1945 apud FUNARI,
CARVALHO, 2009 p. 4), a objetividade desta cultura permitiu que a arqueologia não
encontrasse limites espaciais ou temporais em seus estudos, o que permite elaborar
sínteses e reconstruções gerais e particulares das sociedades passadas. Visto que os
artefatos, ou vestígios arqueológicos, a partir do momento em que são reintegrados num
contexto cultural em funcionamento como o nosso, tornam-se novamente mediadores do
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que se passou num dado tempo (FUNARI, 2001), fica claro que a apropriação humana da
natureza não é a histórica, e sim a sobrevivência que se desenvolve sempre nos quadros
de uma determinada organização social com um potencial produtivo definido (FUNARI,
2006). Diante disso, entende-se a validez dos objetos produzidos pelo Homem como
ferramenta, como fonte de pesquisa geradora de conhecimento sobre as culturas e
tradições passadas.
Renfrew & Bahn (2007, p. 20-21) dizem que,
El hombre siempre há espiculado sobre el passado, y la mayoría de las
culturas tienen sus própios mitos y meios de creacíon para explicar por qué la sociedade es como es (...) La mayoría de las culturas tambíen
han quedado fascinadas por las sociedades que las precedieron, que se
desarrolló por uma curiosidade por las relíquias das sociedades
passadas em várias civilizacíones antiguas, en que los sábios, coleccionaban y estudaban objectos del pasado (...) para mejor
reconocer la actualidad.
Os estudos arqueológicos, e a própria arqueologia, são derivados da história e dos
estudos antropológicos. A arqueologia é a compreensão do gênero humano e das
sociedades e se constituiu em uma disciplina humanística, isto é, uma ciência humana,
que se ocupa do passado do homem. Ela é uma disciplina histórica, surgida em primeira
instância “del modos de mirar el passado, después, del desarrollo de métodos de
investigacíones, y del empleo de essas ideias y el análisis de esas cuestiones” (RENFREW
; BAHN, 2007 p. 21). A arqueologia está vinculada com a antropologia, e sendo assim,
faz parte da história, na busca da compreensão dos aspectos como os modos de vida e a
história dos diferentes povos, sua organização social e dinâmica cultural e a relação com
o meio que os cerca.
A partir daí, o que antes era coletado como um objeto de colecionador, de enfeites,
indo da estátua a objetos de uso cotidiano, passaria a ser considerado não mais algo para
o simples deleite, mas uma fonte de informação, capaz de trazer novos dados,
indisponíveis nos documentos escritos. Vislumbrava-se assim a transformação da cultura
material em fonte histórica primária, pela qual foram sendo criados métodos científicos
(FUNARI, CARVALHO, 2009, p. 85 - 86).
A cultura material é indissociável e constitutiva da condição humana desde o seu
surgimento. Ela está onipresente no mundo, sendo ele mesmo entendido, segundo Miller
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(1994 apud LIMA, 2011, p. 1) como um artefato. O termo artefato designa, de um modo
geral, alguma coisa feita ou transformada pelo homem, “instrumento possuidor de
aspectos materiais e simbólicos elaborado para servir a uma determinada necessidade, e
que hoje auxilia-nos a interpretar o que já se passou a partir de estudos arqueológicos”
(CHIAROTTI, 2005, p. 304).
A Arqueologia é a disciplina que se caracteriza como um projeto de ciência da
cultura material (FUNARI, 2003) e que é auxiliada por outras áreas do conhecimento
como a Antropologia, a Geologia, a Zoologia, a Botânica, a Etnologia, reunidas com o
propósito de compreender o universo material que circunda o homem e que floresceu a
partir do estabelecimento de processos de coleta e classificação de vestígios da cultura
material de sociedades predecessoras. Pearce (1990 apud CANDIDO, 2005) afirma que
a Arqueologia é, acima de tudo, uma disciplina ligada à compreensão da cultura material.
OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO PARQUE ESTADUAL DO BOGUAÇU
O Parque Estadual do Boguaçu (Figura 1) é uma Unidade de Conservação
delimitada dentro da APA1 de Guaratuba. Foi criado pelo Decreto Estadual 4056, de 26
de fevereiro de 1998, possui área de 6.660,6415 ha, e tem por objetivo assegurar a
preservação dos ecossistemas de manguezal e restinga do entorno do Rio Boguaçu e
Boguaçu Mirim, bem como proteger os registros culturais (IAP, 2004).
Os Parques Estaduais são sujeitos às mesmas disposições que regem os Parques
Nacionais. O objetivo básico destas áreas é a preservação de ecossistemas naturais e bens
culturais de relevância social.
1 A APA de Guaratuba foi declarada área de proteção ambiental em 27 de março de 1992, através do Decreto
Estadual n.º 1234, e têm como objetivo resguardar os aspectos biológicos, cênicos e culturais de uma
extensão aproximada de 199.596,50 hectares de Floresta Atlântica e ecossistemas associados,
correspondendo a 1% do território Paranaense.
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Figura 1 - Área de abrangência do Parque Estadual do Boguaçu na APA de Guaratuba em vermelho.
Fonte: CONSELHO DO LITORAL. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – Guaratuba (PDDI).
Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 2002 Adaptado por Travassos 2014.
A APA e o Parque Estadual do Boguaçu preservam os recursos naturais da região
costeira do estado, principalmente a rede hídrica, os remanescentes da floresta atlântica,
os manguezais, a biodiversidade e os sítios arqueológicos, como os sambaquis que são
remanescentes das ocupações antigas que existiram no litoral antes da colonização.
Estima-se que as primeiras ocupações humanas no litoral brasileiro ocorreram a
cerca de 12.000 e 7.000 anos antes do presente (AP), onde os grupos construtores dos
sambaquis tinham como base de sobrevivência a pesca, a coleta e a caça (GASPAR,
1999). Estes grupos aproveitavam os restos alimentares, normalmente as conchas de
moluscos, como material construtivo e os acumulavam próximos à área de coleta,
chegando a edificar plataformas que, com o passar do tempo, se destacavam cada vez
mais na paisagem costeira (GASPAR 1999). Os sambaquis são um os registros
arqueológicos mais antigos possuidores de informações sobre as populações que
habitaram o litoral brasileiro antes da sua colonização. Achados recentes de sítios de
pontas aqui na região indicam ocupação mais antiga por grupos produtores de pontas
feitas de rocha provavelmente da tradição Umbu.
Segundo Brochier (2009), diversos estudiosos, entre a década de 50 e 80, focaram
suas pesquisas nas semelhanças e diferenças encontradas na cultura material dos
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sambaquis na busca de entender possíveis agrupamentos regionais que trouxessem
informações sobre os movimentos migratórios ocorridos na costa brasileira.
Apesar desses estudos pelo entendimento das unidades culturais e sua dispersão,
ao longo da costa, a questão da origem do povoamento costeiro raramente foi debatido
(BROCHIER, 2009). No litoral paranaense estima-se que a ocupação humana tenha
ocorrido entre 5.500 e 6.000 anos antes do presente (AP), conforme informações contidas
nos estudos de Gaspar (1996-2000) e Posse (1996) entre outros, tendo por base
informações advindas de datações radio carbônicas, as quais possibilitaram inferir
modelos de ocupação de grupos de pescadores-coletores-caçadores no litoral sul-sudeste,
indicando que o possível centro de dispersão desses grupos foi entre os estados do Paraná
e São Paulo, há aproximadamente 6.500 anos (BROCHIER, 2009). Esses grupos
registraram sua presença na região ao construírem montes de conchas conhecidos como
sambaquis, quando a paisagem abrangia um extenso sistema lagunar (BIGARELLA et
al, 2011).
A Baía de Guaratuba localiza-se no extremo sul da planície costeira do Estado do
Paraná dentre as coordenadas 25º 45’ e 26º00’ de latitude sul e entre 48º34’ e 48º50’ de
longitude oeste, possuindo uma área de 50,15 km² e a sua riqueza arqueológica foi se
evidenciando a partir de pesquisas de enfoque geo arqueológicos e geológico-evolutivos
cujos registros vieram de estudiosos como Krone (1908), Leonardos (1938) e Bigarella
(1934). “Esses estudos dos sambaquis auxiliavam na indicação do nível do mar durante
o Holoceno no Brasil” (BROCHIER, 2009, p.79). Posteriormente houve os
levantamentos de campo e inventários de sítios arqueológicos realizados por estudiosos
como Bigarella (1950), Loureiro Fernandes2 (1955), Orssich (1977), Ângulo (1992)
Parellada e Gottardi (1993) e Brochier (2002). Os registros arqueológicos mais
conhecidos na região referem-se aos sambaquis, os quais são verdadeiros monumentos
construídos por povos pré-coloniais que viveram no ambiente costeiro.
Os sambaquianos são um dos mais antigos povos a ocuparem o litoral brasileiro
(GASPAR, 1998 e 2000). Construídos intencionalmente, os sambaquis foram habitados
2 José Loureiro de Ascenção Fernandes, mais conhecido como professor Loureiro Fernandes teve grande e
importante atuação nos estudos arqueológicos do litoral do Paraná e na documentação dos sambaquis do
litoral paranaense, sendo Ele o criador do museu de Arqueologia, Etnologia e Artes Populares de Paranaguá
- PR.
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por centenas de anos, em sua maioria em regiões lagunares. Conforme Brochier (2009 p.
81-82):
[...] no Paraná, os levantamentos [...] indicam a ocorrência de 298 sítios
desta natureza, sendo que destes, somente 13 teriam sido objeto de
pesquisas sistemáticas com escavações parciais. No litoral sul (que compreende a baía de Guaratuba) são pontuados mais de 99 sambaquis,
sendo que apenas três foram escavados [...] entretanto alguns
levantamentos identificaram locais com presença de materiais culturais distintos dos sambaquis [...] que incluem sítios líticos, cerâmicos e
históricos.
Pesquisas realizadas em sambaquis desta região datam atividades humanas entre
4.500 e 1.500 anos antes do presente (LAMING-EMPERAIRE 1968; RAUTH, 1969,
BROCHIER, 2009).
A seguir (figura 2), apresenta-se o perímetro do Parque Estadual do Boguaçu,
apontando os sítios arqueológicos visitados neste estudo.
Figura 2 – Mapa do Parque Estadual do Boguaçu com pontos arqueológicos indicados pelas setas onde se
encontram os sítios arqueológicos do Élcio e da Barra Velha.
Fonte: IAP (2014) adaptado por Travassos (2014).
O Sambaqui Barra Velha (Figuras 3, 4 e 5) encontra-se preservado e está protegido
por espessa cobertura vegetal. Localiza-se afastado do Rio Boguaçú adentrando uma
propriedade particular, que anteriormente era produtora de farinha, conforme vestígios de
um engenho abandonado. Este local poderia ser considerado, sítio arqueológico histórico
(figura 5). O Sambaqui Barra Velha, nos estudos de Parellada e Gottardi (1993), é descrito
como bom em 1949 e Bigarella et al (2011, p.104) está sob o nº 48 e descrito assim:
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O depósito conchífero n° 48 encontra-se no local denominado Barra
Velha, cerca de 80m da margem direita do rio Boguaçu. Sua base
assenta-se na planície de sedimentos. As dimensões são aproximadamente de 25 x 20m e a altura cerca de 3,5m. Encontra-se
ainda intato. A composição malacológica predominante formada por
Anomalocardia brasiliana e secundariamente por Ostrea SP.
Figura 3 - Vista aérea do sambaqui Barra Velha
Fonte: Google Earth, adaptado por Wasilewski (2013).
Figura 4 - Vista da parte frontal do sambaqui Barra Velha
Fonte: Arquivo particular da autora da pesquisa e, Wasilewski (2013).
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Figura 5 - Ruínas de antigo engenho de farinha abandonado próximo ao sambaqui
Fonte: Arquivo particular da autora da pesquisa e Wasilewski (2013).
Segundo Komarchescki e Denardin (2013, p.2), a cultura (material e simbólica)
“do cultivo da raiz e do fabrico da farinha de mandioca teve início com os povos
indígenas, que já desenvolviam a produção antes da chegada dos colonizadores
portugueses em nossa terra” e posteriormente a colonização, esta atividade foi fonte de
renda e sobrevivência de diferentes sociedades que foram se formando no litoral
Paranaense.
O sambaqui do Élcio (Figuras 6 e7) encontra-se parcialmente destruído, em
virtude do plantio de roça feito nele há alguns anos por moradores da região. Atualmente,
está em processo de recomposição da vegetação. É um sambaqui de porte médio com
dimensões de 30x20 m e altura aproximada de 5 m. Observaram-se buracos cavados no
sambaqui, possivelmente feitos por tatus e retirada de raízes.
Figura 6- Imagem aérea do Sambaqui do Élcio
Fonte: Google Earth, adaptada por Wasilewski (2013).
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Figuras 7 - Imagens do Sambaqui do Élcio
Fonte: Arquivo particular da autora da pesquisa e, Wasilewski (2013).
No sitio arqueológico do Élcio, segundo relatos de moradores do entorno, no
período dos primeiros plantios sobre o sambaqui, foram encontrados objetos em rocha
(figura 8), e outros em barro3 com furos, que pareciam pesos de usar em rede de pesca
(figuras 9 e 10). Relatou-se ainda que é comum encontrar esses artefatos ali na região.
Figura 8- Artefatos de rochas do Sambaqui do Élcio
Fonte: Arquivos da pesquisa de campo, Wasilewski (2013)
Figuras 9- Artefatos em barro do Sambaqui do Élcio
Fonte: Arquivo particular da autora da pesquisa e, Wasilewski (2013).
3 De acordo com Lima (1999-2000) os sambaquianos não produziam objetos em barro, acredita-se que os
objetos em barro encontrados neste sítio correspondam a ocupações posteriores do sambaqui, por grupos
que trabalhavam com barro e cerâmica.
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Figuras 10 (continuação) - Artefatos em barro do Sambaqui do Élcio
Fonte: Arquivo particular da autora da pesquisa e, Wasilewski (2013).
Estes remanescentes culturais fazem parte do patrimônio arqueológico existente
tanto na APA de Guaratuba, quanto no Parque Estadual do Boguaçu, e, que evidenciam
a necessidade de maiores pesquisas arqueológicas nesta região, conforme Oliveira (2004),
tais pesquisas possibilitariam a investigação de tópicos de extrema importância além das
origens do povoamento do litoral paranaense tais como: as formas particulares de
organização social e adaptação cultural a esse ambiente; contatos inter-étnicos entre
indígenas europeus e euro-americanos e suas inter-relações; relação entre tradições e
estilos tecnológicos com etnicidades indígenas conhecidas historicamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento deste estudo possibilitou conhecer com maior propriedade
alguns dos recursos patrimoniais e materiais de natureza arqueológica contidos no Parque
Estadual do Boguaçu, os sambaquis. Os sambaquis, bem como os demais sítios
arqueológicos, nos permitem estabelecer uma relação entre a cultura material e o
patrimônio natural, pois as sociedades a que esses registros representam, estavam
profundamente integradas a seu meio. Esses sítios permanecem na atualidade como
importante registro à compreensão da história e da ocupação humana do ambiente
costeiro pelas sociedades do passado, o seu valor como patrimônio torna-se não só
inquestionável, como também acentua a necessidade de sua proteção.
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Estando estes bens culturais em uma unidade de conservação faz-se necessário
que haja efetividade entre os instrumentos de Manejo e Gestão destas áreas, tendo em
consideração a inserção de estudos arqueológicos nas diferentes categorias de uso e
manejo dessas áreas visando salvaguardar além do patrimônio ambiental, o cultural.
Os testemunhos materiais encontrados nos sítios arqueológicos do Élcio e da
Barra Velha no Parque estadual do Boguaçu, dizem respeito ao modo de vida de seres
humanos que por ali passaram no passado, com importância ímpar para a compreensão
da organização social das sociedades sambaquianas, este conhecimento sobre os
sambaquianos, assim como outros povos levam, ou provocam, ou permitem uma reflexão
sobre nós mesmos. Informações sobre estes povos podem servir de referencias para a
compreensão da nossa vida na contemporaneidade. Assim os objetos da cultura material
deixados nestes sítios, por exemplo, deixam de ser, simples objetos encontrados no solo,
para transformar-se em artefatos que trazem de volta nuances das culturas há muito
extintas em toda a sua complexidade social, trazidos à luz e discussão pelo conhecimento
que a arqueologia pode proporcionar.
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