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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA BREVE ANÁLISE DO REGISTRO DE EMPRESAS BRASILEIRO E ESPANHOL Por: André Rodrigues Marques de Souza Silva Orientador Francis Rajzman Rio de Janeiro 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BREVE ANÁLISE DO REGISTRO DE EMPRESAS

BRASILEIRO E ESPANHOL

Por: André Rodrigues Marques de Souza Silva

Orientador

Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BREVE ANÁLISE DO REGISTRO DE EMPRESAS

BRASILEIRO E ESPANHOL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Direito Empresarial

Por: André Rodrigues Marques de Souza Silva

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AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos pais Mª Rita e José

Rodrigues, pelo que me ensinaram a ser.

A minha esposa Stanislava, fonte de

inspiração, companheira nas fases alegres e

difíceis da vida.

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4

DEDICATÓRIA

Aos nobres empresários que sobrevivem ao

oceano burocrático e a alta carga tributária e trabalhista

imposta. Aos servidores das Juntas Comerciais,

desvalorizados e obrigados a aplicar normas que ferem

a lógica e a racionalidade.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar brevemente os sistemas de

registro de empresas brasileiro e espanhol demonstrando suas diferenças e

semelhanças.

A análise nos pareceu interessante tendo em vista o “milagre econômico

espanhol” da década de 60 e o crescimento da economia brasileira atual. O

crescimento econômico brasileiro de hoje é inferior ao espanhol da década de 60,

porém, não podemos esquecer que o Brasil possui uma população muito superior

a espanhola. Não podemos desprezar, também, o crescimento brasileiro na atual

situação de estagnação econômica mundial, principalmente dos países

desenvolvidos, incluído aí a Espanha.

A Espanha como país até pouco tempo separado, quanto ao crescimento

econômico, dos seus vizinhos do Norte soube dar a volta por cima. Tentaremos

demonstrar como ocorre o registro de empresas nesse país com características

em alguns aspectos semelhantes ao atual momento econômico brasileiro.

Como servidor público na área de registro de empresas, encontramos

diariamente grandes entraves burocráticos. Aproveitaremos a experiência na área

para selecionar os pontos que geram maiores entraves no registro de empresa

brasileiro.

Dessa forma, iremos expor os dois sistemas de Registro para que possamos

vislumbrar a estrutura adotada em cada país. Assim poderemos retirar conclusões

sobre o melhor e o pior de cada sistema.

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METODOLOGIA

Devido ao fato de exercer a função de julgador singular na JUCERJA –

Junta Comercial do Rio de Janeiro – e observar no cotidiano inúmeros entraves

burocráticos ao registro de atos de sociedades e empresários individuais,

vislumbramos uma monografia que ajudasse a facilitar ditos arquivamentos.

Com residência fixa durante cinco anos na Espanha, surgiu a indagação

sobre a eficácia do sistema de registro de empresas nesse país tendo em vista

seu rápido crescimento econômico e social. Para tanto começamos nossa busca

pela internet, correspondência com professores espanhóis e busca de bibliografia.

A primeira vista, após pesquisa pela internet, percebemos que a legislação

espanhola é enxuta e ao mesmo tempo eficaz. Este fato nos chamou a atenção

tendo em vista que a legislação brasileira é extensa em âmbitos desnecessários

gerando em alguns casos prejuízos as sociedades que necessitam de celeridade

no arquivamento de um ato.

Para constatar a viabilidade do tema consultamos a excelente livraria

espanhola Marcial Pons1 que realiza a venda e a entrega dos livros em qualquer

parte do mundo. Descobrimos dois excelentes livros específicos sobre o registro

mercantil espanhol os quais faremos referência ao longo do trabalho e na parte

bibliográfica.

O primeiro livro de ÁLVAREZ, José aborda o registro mercantil espanhol

em seu contexto histórico e econômico ao longo dos anos. Destaca quais são os

principais setores econômicos espanhóis em cada período histórico e em seu

milagre econômico. O autor nos mostra detalhadamente como funciona o registro

espanhol no âmbito de sua organização e funcionamento, fruto de mais de trinta

anos trabalhando no Registro Mercantil em Madri.

O segundo livro, de ROBLES, Manuel editado pelo Colégio de

Registradores da Propriedade e Mercantis da Espanha nos surpreende pelo

volume de 797 páginas e conteúdo. Com seus sessenta e um temas (não o divide

1 http://www.marcialpons.es/ .

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em capítulos), aborda os principais fatos do registro espanhol. É o livro utilizado

pelos candidatos ao concurso público de registrador mercantil.

Após a leitura bibliográfica espanhola nos surpreendemos fora o âmbito

jurídico com a importância histórica e estatística dada na Espanha ao órgão de

registro. Este fato no Brasil é pouco valorado o que nos animou ainda mais a

escrever o presente trabalho.

No âmbito nacional consultamos os clássicos livros de direito societário.

Utilizamos principalmente o curso de Direito Comercial de ULHOA, Fábio.

Utilizamos também o livro Direito Empresarial Esquematizado de SANTA CRUZ,

André recente lançamento com sua primeira edição esgotada em 2010. Livro

muito utilizado pelos candidatos a concursos públicos no Brasil na área de direito

societário.

Na pesquisa percebemos a deficiência bibliográfica nacional no âmbito

específico de registro de empresa. Para tanto, consultamos capítulos da

bibliografia mencionada e utilizamos principalmente a legislação na área de

registro. Dita legislação pode ser encontrada quase em sua totalidade no site do

DNRC – Departamento Nacional de Registro de Comércio.

Utilizamos também a parte prática de registros das sociedades

empresárias trazidas do nosso cotidiano como registrador. Inúmeros problemas

surgem no cotidiano de registro de atos societários, fruto da extensa legislação e

da vinculação administrativa ao DNRC.

Todos esses fatos expostos nos levaram a conclusão de que o tema

poderia ajudar de alguma forma a uma possível mudança ao paradigma de

registro de empresas no Brasil. Fato este recentemente proposto pelo projeto do

novo código comercial.2 A justificativa do novo projeto coincide com o objetivo

deste trabalho: “O segundo objetivo consiste em simplificar as normas sobre a

atividade econômica, facilitando o cotidiano dos empresários brasileiros. De um

lado, a complexidade que atualmente caracteriza o direito comercial não contribui

para a atração de investimentos. De outro lado, ela penaliza o micro e pequeno

empresário, impondo-lhe custos desnecessários. A complexa normatização da

sociedade limitada, por exemplo, por ser este o tipo societário mais empregado no

2 Disponível em: http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/412700-COMISSAO-DO-NOVO-CODIGO-COMERCIAL-ELEGE-VICE-PRESIDENTES.html. Acesso em 04/04/2012.

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país, tem empurrado para a irregularidade diversos micro e pequenas empresas,

que são as grandes criadoras de postos de trabalho no Brasil.”3

3 Justificativa do Projeto de Lei PL1572/2011.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I – O Registro de Empresas no Brasil 12

CAPÍTULO II – O Registro de Empresas na Espanha 31

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INTRODUÇÃO

O Registro de empresas é de suma importância para um país seja no

âmbito legal, econômico ou histórico.

O Registro Mercantil foi criado pelo legislador com a finalidade de dar

publicidade aos atos e fatos empresariais. Dita finalidade é de suma importância

para a segurança e estabilidade das relações empresariais. No entanto, ao longo

dos anos foi adquirindo outra característica pela quantidade de informação

guardada ao longo dos anos. O Registro mercantil acabou se transformando

também em um imenso arquivo de dados e documentos históricos.

Com isso ao longo dos anos o Registro Mercantil se transformou em uma

fonte de dados para as ciências sociais e humanas, principalmente para a história

e economia. O registro muitas vezes se transforma em única fonte histórica

concreta. Tomemos por exemplo, informações de empresas que comercializavam

escravos, o número de escravos ou o número de empresas com um concreto

objeto social em determinada época. Tudo isso o historiador poderá encontrar nos

arquivos dos registros de empresas tanto no Brasil como na Espanha.

Além da parte histórica, disponível nos arquivos, a parte estatística sobre

informações estão disponíveis para consulta.4 Isso ajuda sobremaneira a compor

dados econômicos de um país.

Com base nestes fatores resolvemos abordar o funcionamento do Registro

no Brasil e na Espanha. O presente trabalho inicialmente buscava comparar os

dois sistemas, porém, no decorrer de sua realização percebemos que o mesmo

se estenderia demasiado.

Dessa forma resolvemos analisar o funcionamento em cada país e em um

futuro trabalho adentrar nos problemas jurídicos envolvidos no arquivamento de

determinados atos. Alguns problemas são comuns aos dois países como, por

exemplo, se o ato de constituição de uma EIRELI – Empresa Individual de

Responsabilidade Limitada é ou não um contrato5.

4 Temos por exemplo a página web da JUCERJA que disponibiliza informações estatísticas. Disponível em: http://www.jucerja.rj.gov.br/Servicos/Estatistica/nova/. Acesso em: 08/04/2012. 5 ROBLES, Manuel. Contestaciones a los temas de Derecho Mercantil adaptados al cuerpo de aspirantes a Registradores de la Propiedad y Mercantiles. Madrid: Centro de Estudios del Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2011. pgs.109, 110 e 111.

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Este fato híbrido do qual as Juntas Comerciais se submetem, ou seja, uma

vinculação ao Governo Federal e ao Governo do Estado na qual a Junta pertence

gera inúmeros problemas aos empresários, Juntas Comerciais, DNRC e

Tribunais. Esta natureza híbrida das Juntas Comerciais brasileiras será abordada

no trabalho.

Dessa forma ao analisar as “Juntas Comerciais” vislumbraremos a não

ocorrência desse tipo de problema diminuído face uma legislação enxuta e maior

liberdade e responsabilidade aos registradores tendo em vista possuírem uma

menor subordinação administrativa.

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CAPÍTULO 1

O REGISTRO DE EMPRESAS NO BRASIL

1.1- História

O registro de empresas no Brasil é criado em 23 de agosto de 1808 em

conjunto com o alvará que cria os Tribunais da Real Junta do Comércio,

Agricultura, Fábrica e Navegação. Dito Tribunal possuía duas funções, a de

registrar os atos de comercio e de julgar as lides resultantes de conflitos da

atividade comercial.6

Em 1875 o registro de comercio foi repassado às Juntas e Inspetorias

Comerciais. As Juntas após a proclamação da República do Brasil foram

reorganizadas passando a competência legal de registros para os Estados

membros, no entanto, a União continuava competente para legislar sobre direito

comercial. A partir daí surge o modelo híbrido de competência.7

Com a Constituição de 1946 e posteriores o sistema legislativo foi

reunificado e a competência para legislar sobre a matéria de registros públicos e

das Juntas Comerciais voltaram a ser da União. Importante ressalvar que a

subordinação hierárquica tornou-se híbrida.8

1.2- Legislação

A competência para legislar no âmbito do direito comercial e de registros

públicos é baseada no art.22 da Constituição Federal: “Compete privativamente a

União legislar sobre: I- direito civil, comercial...; XXV- registros públicos” e art.24:

6 OLIVEIRA FILHO, João, Do registro de empresa: Uma análise dos dez anos da Lei nº8934/1994 diante do Código Civil Brasileiro de 2002. Artigo publicado no site da Universidade baiana de direito. Disponível em: www.faculdadebaianadedireito.com/artigosCompleto.asp?artigos_codigo=12. Acesso em: 21/04/12. Pg.2 7 DÓRIA, D. Curso de Direito Comercial. 13ª Ed.. São Paulo: Saraiva, 1998, v.1. Pg.75. 8 Iremos abordar esse tema posteriormente.

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“Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente

sobre: III- juntas comerciais; §1º- No âmbito da legislação concorrente, a

competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. §2º- A

competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a

competência suplementar dos Estados. §3º Inexistindo lei federal sobre normas

gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas

peculiaridades. §4º- A superveniência de lei federal sobre normas gerais

suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”.

Com base na competência da Constituição Federal a atividade de registro

no Brasil é regida basicamente pela Lei 8934 de 18/11/94 que “dispõe sobre o

Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras

providências”. Posteriormente alterada pela Lei nº9829, de 29 de setembro de

1999 (inciso III do art. 12) e pela Lei 10.194, de 14 de fevereiro de 2001 (arts. 10,

11, inciso II do art.12 e inciso II do art 32).

Posteriormente a Lei 8934/94 foi regulamentada pelo Decreto 1800 de

30/01/96. O Decreto 1800/96 regulamenta a Lei 8934/94 tendo em vista o

disposto no art. 67 deste diploma legal e no art. 84, inciso IV, da Constituição. Foi

posteriormente alterado pelo Decreto nº 3395, de 29 de março de 2000 (art. 9º,

inciso IV do art.10, incisos III e IV do art.11, inciso I do art.12, inciso II e alínea “a”

do inciso V do art. 34; inciso III do art. 64 e §3º do art.69) e Decreto nº 3344, de

26 de janeiro de 2000 que dispõe sobre a utilização de siglas em nomes

comerciais, alterando o inciso VI do art.53 do Decreto nº 1800, de 30 de janeiro de

1996.

Além da Lei 8934/94 e Decreto 1800/94, principais normas que regem o

registro de empresas, existem algumas Leis e Decretos que regem as atividades

afins ao registro de empresas. Decreto nº1102 de 21 de novembro de 1903 que

institui regras para o estabelecimento de empresas e armazéns gerais; Decreto nº

21.981 de 19 de outubro de 1932 que regula a profissão de leiloiro; Decreto

13.609 de 21 de outubro de 1943 que estabelece novo regulamento sobre o ofício

de tradutor público e intérprete comercial; Decreto- Lei nº486 de 3 de março de

1969 que dispões sobre a escrituração de livros mercantis – autenticação

regulamentada pelo Decreto nº64.567 de 22 de maio de 1969; Decreto-Lei nº2056

de 19 de agosto de 1963 que dispõe sobre a retribuição dos serviços de registro

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de comércio; Lei nº7292 de 19 de dezembro de 1984 que autoriza o DNRC a

estabelecer modelo de contrato simplificado; Decreto nº3444 de 28 de abril de

2000 que delega competência ao Ministro de Estado do Desenvolvimento,

Indústria e Comercio Exterior para autorizar o funcionamento no Brasil de

empresa ou sociedade estrangeira, na forma prevista nos arts. 59 a 73 do

Decreto-Lei nº2627 de 26 de setembro de 1940, mantidos pelo art.300 da Lei

nº6404 de 15 de dezembro de 1976. Alterado pelo Decreto nº5664 de 10 de

janeiro de 2006 que delega competência ao Ministro de Estado do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para autorizar o funcionamento

no Brasil de sociedade estrangeira, bem como suas alterações estatutárias ou

contratuais e cassação da autorização, nas formas previstas nos arts.1134, 1139

e 1141 da Lei nº10.406 de janeiro de 2002 e nos arts.59 a 73 do Decreto-Lei

nº2627 de 26 de setembro de 1940. Portaria do Ministro nº16 de 2 de setembro

de 2006 que subdelega competência ao Secretário de Comercio e Serviços para

autorizar o funcionamento no Brasil de sociedade estrangeira, bem como suas

alterações estatutárias ou contratuais e cassação da autorização, nas formas

previstas nos arts. 1134, 1139 e 1141 da Lei nº10406 de 10 de janeiro de 2002.

No ano de 2002 surge o Novo Código Civil regulando o registro de

empresas. Importante ressaltar na mudança de paradigma utilizado pelo atual

código civil em relação ao direito empresarial, explicitada a seguir.

A legislação brasileira adotada antes do atual Código Civil era baseada na

teoria dos atos de comercio, utilizada pela codificação napoleônica a qual

diferenciava o regime jurídico civil e comercial. Assim o Brasil adotava a teoria

francesa dos atos de comercio.

Com o tempo a teoria dos atos de comercio criada na França por Napoleão

começava a ficar ultrapassada devido a outras atividades econômicas que

ficavam de fora desta visão.

Em 1942 a Itália de Mussolini edita um Novo Código Civil, incluindo neste

um novo regime jurídico comercial, a teoria da empresa. Com isso o Código Civil

italiano promoveu a unificação formal do direito privado, disciplinando as relações

civis e comerciais em um único diploma legislativo.Na visão de RAMOS: “Para a

teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações

jurídicas em que ocorra a prática de determinado ato definido em lei como ato de

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comercio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se

ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma

atividade econômica: a forma empresarial. Assim, em princípio qualquer atividade

econômica, desde que seja exercida empresarialmente, está submetida à

disciplina das regras do direito empresarial.”9

Após a edição do Código Comercial italiano a jurisprudência brasileira

começou a sinalizar, através de decisões, a tendência a adotar os ideais da teoria

da empresa. Além disso, a legislação esparsa começou a adotar dita teoria como,

por exemplo, a já revogada Lei 4137/1962 que conceituava empresa como “toda

organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração por pessoa

física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos”. Posteriormente o

Código de Defesa do Consumidor, Lei 8078/1990, já adotava o conceito moderno

através do conceito de fornecedor. O ordenamento jurídico e a jurisprudência

foram aos poucos adotando a teoria da empresa se consolidando no atual Código

de Civil de 2002. O Código Civil, em seus arts. 1150 a 1154 adotou algumas

regras sobre registro, porém o registro de empresários, no Brasil, está

disciplinado em legislação especial como já mencionado.

Em 2007 foi aprovada a Lei 11.598, de 3 de dezembro de 2007 que

encaixa no objetivo do presente trabalho ao estabelecer diretrizes e

procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e

legalização de empresários e de pessoas jurídicas, cria a Rede Nacional para a

Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - REDESIM;

altera a Lei no 8.934, de 18 de novembro de 1994; revoga dispositivos do Decreto-

Lei no 1.715, de 22 de novembro de 1979, e das Leis nos 7.711, de 22 de

dezembro de 1988, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.212, de 24 de julho de 1991,

e 8.906, de 4 de julho de 1994.

Existem ainda as Instruções Normativas que são normas de registro

instituídas pelo DNRC (Departamento Nacional de Registro de Comercio). Hoje

encontram-se em vigor as seguintes Instruções Normativas: 37 de 24/04/1991, 46

de 06/03/1996, 51 de 06/03/1996, 55 de 06/03/1996, 67 de 23/06/1998, 69 de

23/06/1998, 70 de 28/12/1998, 71 de 28/12/1998, 72 de 28/12/1998, 73 de

28/12/1998, 74 de 28/12/1998, 76 de 28/12/1998, 78 de 28/12/1998, 81 de

9 RAMOS, André. Direito Empresarial Esquematizado,1ªed, 4ª tiragem. São Paulo: Método, 2011. Pg.9.

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05/01/1999, 84 de 29/02/2000, 85 de 29/02/2000, 87 de 19/06/2001, 88 de

02/08/2001, 93 de 05/12/2002, 95 de 22/12/2003, 96 de 22/12/2003, 97 de

23/12/2003, 98 de 23/12/2003, 100 de 19/04/2006, 101 de 19/04/2006, 103 de

30/04/2007, 107 de 23/05/2008, 109 de 28/10/2008, 111 de 01/02/2010, 113 de

29/04/2010, 114 de 30/09/2011, 115 de 30/09/2011, 116 de22/11/2011, 117 de

22/11/2011, 118 de 22/11/2011 e 119 de 09/12/2011.

Importante ressaltar que ditas Instruções Normativas são alvo, na prática

de atos de registro, de inúmeros conflitos administrativos e judiciais entre

empresários, advogados, contadores e as Juntas Comerciais, face às exigências

das Juntas Comerciais baseadas em ditas Instruções10. Além da questão de

forma outras Instruções normativas vão além, exigindo muitas vezes vistos dos

demais órgãos governamentais, certidões negativas, dentre outros

procedimentos.

1.3- O funcionamento do Registro Público de Empresas no

Brasil.

O Registro Público de empresas no Brasil é formado pelo Sistema Nacional

de Registro Mercantil (SINREM) que nada mais é do que a soma do DNRC –

Departamento Nacional de Registro de Comercio e as Juntas Comerciais.

O DNRC é o órgão central do SINREN, com funções supervisora,

orientadora, coordenadora e normativa, no plano técnico; e supletiva, no plano

administrativo. As Juntas Comerciais, como órgãos locais, com funções executora

administradora dos serviços de registro.11

10 Existem inúmeros artigos questionando ditas Instruções Normativas. A título de exemplo vide o artigo publicado na revista eletrônica Jus navigandi. SIQUEIRA, Graciano (Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de São Paulo - SP). Comentários a Instrução Normativa Diretor do Departamento do Registro de Comercio – DNRC IN Nº103/07. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/10084/comentarios-a-instrucao-normativa-diretor-do-departamento nacional-do-registro-do-comercio-dnrc-no-103-07. Acesso em: 29/04/2012.

11 Art.3º da Lei 8934/94.

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As Juntas Comerciais são responsáveis pela execução e administração

dos atos levados a registro. São órgãos que integram a estrutura administrativa

dos Estados-membros. Em cada unidade federativa existe uma Junta Comercial

com sede na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva.12

Apesar da Lei 8934/94 ser clara, quanto a competência normativa em

matéria de registro de empresas, a Constituição não havia deixado claro quem

seria responsável pela normatização da execução dos serviços. A CF em seu

artigo 22, inciso XXV, delega competência privativa à União para legislar sobre

Registros Públicos e em seu art.24 inciso III, pelo lado oposto, delegação

concorrente dos Estados para legislar sobre Juntas Comerciais.13

Dessa forma as Juntas Comerciais possuem uma competência concorrente

para legislar sendo que a União cabe legislar sobre a parte geral e os Estados

legislar de forma específica.14

Dito raciocínio se conclui comparando a Constituição de 1969 onde a

competência para legislar era privativa das Juntas Comerciais e a de 1998 onde a

competência foi modificada para concorrente. Assim vemos que o interesse do

legislador foi de descentralizar o poder administrativo das Juntas. Dessa forma as

Juntas teriam o poder de legislar somente no plano administrativo de execução de

serviços. Entendemos essa questão superada tendo em vista a aprovação após a

CF/88 da Lei 8934/94 com relação a competência do DNRC e das Juntas

Comerciais.

Realmente, apesar da Lei 8934/94 deixar claro, a questão dos limites e

atribuições das Juntas Comerciais, na prática, não é uma tarefa fácil. SANTA

CRUZ15 destaca, muito bem, que as juntas possuem uma subordinação

hierárquica híbrida devido ao fato de fazerem parte da estrutura administrativa

dos Estados, mas se sujeitarem, no plano técnico, às normas e diretrizes

baixadas pelo DNRC, órgão central do SINREM e que integra a estrutura

administrativa federal. Conforme se constata no art.6º da Lei 8934/94: “as juntas

12 Art.5º da Lei 8934/94. 13 Vide transcrição da CF no primeiro parágrafo do item legislação. 14 SOBOTTKA, Emil, et al. A Junta Comercial e seu papel no desenvolvimento da economia. Projeto pensando o Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. PROJETO BRA/07/004. Democratização de Informações no Processo de Elaboração Normativa. Projeto Pensando o Direito, Área Temática: Junta Comercial, Ministério da Justiça – Secretaria de Assuntos Legislativos, pg.39. 15 RAMOS, A., Direito Empresarial Esquematizado,1ªed, 4ª tiragem, São Paulo, Método, 2011, pg.45.

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comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa

da sua jurisdição e, tecnicamente, ao DNRC, nos termos desta lei”.

Essa “natureza híbrida” também gera confusão sobre a competência para

ajuizar ações judiciais em que a Junta Comercial seja parte. Quando a lide girar

sobre matéria técnica, relativa ao registro de empresa, a competência é da Justiça

Federal, em virtude do interesse na causa do DNRC, conforme reza o art. 109,

inciso I, da Constituição Federal. Por outro lado, em se tratando de matéria

administrativa, a competência para processar e julgar as ações em que a Junta

figure num dos polos da demanda é da Justiça comum estadual.

Só que essa interpretação na prática não é tão simples assim. Ocorre

muitas vezes que as sociedades inconformadas com o indeferimento ou a

colocação de exigência ao pedido de arquivamento de um ato societário com

base em uma Instrução Normativa (publicada pelo DNRC) impetra mandado de

segurança contra dita decisão. Neste caso surge a dúvida se deverá demandar

perante a Justiça Federal, pelo fato da Junta agir sob uma orientação de um ente

federal, o DNRC ou a Justiça Estadual por se tratar de um órgão estadual.

A jurisprudência por sua vez não é pacífica vide ementa e corpo do voto de

decisão emanada no Tribunal de São Paulo onde explica bem a função das

Juntas Comerciais em relação ao Registro:

DÚVIDA DE COMPETÊNCIA - Mandado de segurança – Impetração objetivando desconstituir ato da Junta Comercial, consubstanciado em arquivamento de contrato societário – Competência da Seção de Direito Privado -Prevalência da regra específica sobre a norma geral, que estabelece a competência da Seção de Direito Público para o exame de atos administrativos - Conflito julgado procedente, reconhecida a competência da Câmara suscitada. A Lei Federal n° 8.934/94, dispondo sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins, estruturou-o como serviço público federal exercido, no âmbito nacional, pelo Departamento Nacional de Registro de Comércio (funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa no plano técnico) e as Juntas Comerciais como órgãos estaduais exercendo funções executora e administradora do serviço no âmbito local (arts. 1o , 3o, I e II). No tocante às Juntas Comerciais subordinou-as administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao DNRC (art. 6o). Daí a razão pela qual, no tocante à atividade técnica de arquivamento e julgamento de recurso (art. 41) deixou claro poder a decisão do Plenário da Junta Comercial ser objeto de recurso ao Ministro de Estado da Indústria (arts. 44, III, 47). Ressalvada a competência legislativa privativa da União em matéria de registro público (art. 22, XXV), a CF admitiu a competência concorrente dos Estados para legislar sobre juntas comerciais (art. 24,III). A Lei n° 8.934/94 tem a natureza de normatização geral no campo da estruturação básica das Juntas Comerciais (arts. 5o e seguintes),cabendo ao Estado criá-las e organizá-las com obediência estrita. Emerge da lei geral federal que as Juntas Comerciais se vinculam a diversas modalidades de relações jurídicas: a) execução técnica de serviços de registro

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público de comércio relacionados com matrícula, cancelamento, arquivamento e autenticação, conforme tipificação especificada pelo art. 35, da Lei n° 8,934/94; b) atos do Estado na sua instituição e administração interna quer em relação aos provimentos dos cargos, funções ou empregos quer nas múltiplas intercorrências dos direitos e deveres dos órgãos dirigentes e servidores; e c) atos praticados em relação a terceiros na execução de serviços e aquisição de bens necessários para o exercício das atribuições legais. Os serviços técnicos de registro público de comércio estão definidos como de atribuição federal, motivo pelo qual as Juntas Comerciais, embora como órgãos instituídos pelos Estados, os executam de forma delegada. Tanto isso é verdade que, pela via administrativa, as decisões dos Plenários das Juntas Comerciais se submetem a recurso perante o Ministério do Comércio. Emergindo uma lide, envolvendo causa de pedir e objeto relacionados com tal serviço, a questão da competência jurisdicional deve ser resolvida pela aplicação das regras pertinentes àquela situação. Se o instrumento escolhido para a composição da lide for a ação de mandado de segurança, fixou-se a jurisprudência no sentido da competência da Justiça Federal: EMENTA: Juntas Comerciais. Órgãos administrativamente subordinados ao Estado, mas tecnicamente à autoridade federal, como elementos do sistema nacional dos Serviços de Registro do Comércio. Conseqüente competência da Justiça Federal para o julgamento de mandado de segurança contra ato do Presidente da Junta, compreendido em sua atividade fim. RE 193.793/RS, Rei. Min. OCTAVIO GALLOTTI, j. 04.04.2000, 1a Turma, DJ 18.08.00, pág. 93, Ement. Vol. 2000-04, pág. 954. EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA - JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS - NULIDADE DO ATO DE ALTERAÇÃO CONTRATUAL DE EMPRESA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. É da Justiça Estadual e não da Justiça Federal, a COMPETÊNCIA para processar e julgar ação ordinária visando anular alteração contratual que mudou regime de empresa em detrimento dos sócios minoritários. No caso concreto, o fato de a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais figurar no pólo passivo não tem o condão de atrair a COMPETÊNCIA da Justiça Federal. Por outro lado, verifico por meio do documento de f. 21-TJ que a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais é uma autarquia estadual (Lei Estadual nº 5.512/70) e como tal não goza de privilégio de foro no Juízo Federal, o que somente acontece em relação à União Federal, autarquias federais e empresas públicas federais. A simples subordinação técnica das JUNTAS COMERCIAIS ao Ministério da Indústria e do Comércio não tem o condão de atrair a COMPETÊNCIA da Justiça Federal para a causa. Situação diversa seria no caso de impetração de mandado de segurança contra ato praticado pelo Presidente da Junta Comercial, pois aqui se entende que a autoridade dita coatora age por delegação federal (art.109, VIII, CF).

O STJ vinha firmando entendimento que a competência é da Justiça

Federal quando o objeto da demanda são ações que versem sobre a atividade fim

das Juntas Comerciais.

Julgamento do Conflito de Competência nº. 31.357 – MG:

No que concerne à competência para julgar mandado de segurança impetrado contra ato do Presidente da Junta Comercial, a jurisprudência deste Tribunal manifestou-se no sentido de que tais causas inserem-se na competência da Justiça Federal. Confira-se, a propósito, o CC 5.541-PI (DJ 25.11.96), da Terceira Seção, de cuja ementa se lê: "CC. Constitucional. Competência. Junta Comercial. A Justiça Federal é competente para processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato

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do Presidente da Junta Comercial, órgão vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio ". Destaca-se que o registro do comércio compreende, nos termos do art.32, I, da Lei 8.934/94, e 32, I, a, do Decreto 1.800/96, "a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais". Sendo certo que a matrícula de leiloeiros se insere nas atividades peculiares ao registro do comércio, aplica-se, no ponto, a jurisprudência pacífica desta Segunda Seção, em conflitos de competência relativos a mandados de segurança impetrados contra ato de Junta Comercial em questões relativas ao registro do comércio. Veja-se, a propósito, entre outros, o CC 403-BA (DJ 6.9.1993), desta Segunda Seção, relatado pelo Ministro Bueno se Souza, assim ementado: "Processual Civil. Conflito positivo de competência. Entre Justiça Federal e Estadual. Registro de comércio. Mandado de segurança contra ato técnico da Junta Comercial. 1. Malgrado reservar a lei federal aos governos dos Estados membros investidura dos servidores das Juntas Comerciais,os atos e serviços que executam, no que concerne ao registro do comércio, são de natureza federal. 2. Prevalência da competência do foro federal. 3.Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal Regional Federal da 1ª Região". No mesmo sentido, também desta Seção, o CC 1.994-PE (DJ16.11.1992), de que foi relator o Ministro Athos Carneiro, cuja ementa recebeu esta redação: "Mandado de Segurança. Junta comercial. Competência. Em se cuidando de ação de mandado de segurança, a competência se define em razão da função desempenhada pela autoridade apontada como coatora. As Juntas Comerciais efetuam o registro do comércio por delegação federal. Competência a teor do artigo 109, VIII, da Constituição da República, da Justiça Federal".

O STF assim também vem entendendo:

Juntas Comerciais. Órgãos administrativamente subordinados ao Estado, mas tecnicamente à autoridade federal, como elementos do Sistema Nacional dos Serviços de Registro do Comercio. Consequente competência da Justiça Federal para o julgamento de mandado de segurança contra ato do Presidente da Junta, compreendido em sua atividade fim (STF,RE 199.793/RS, Min Octavio Gallotti, DJ 18.08.2000, p. 93).

No entanto, demonstrando a grande controvérsia da questão,

recentemente o STJ alterou em parte essa jurisprudência, entendendo que a

Justiça Federal é competente para julgar os processos em que figure como

litigante a Junta Comercial somente nos casos em que se discute a lisura do ato

praticado pela Junta ou nos casos de mandado de segurança impetrado contra

ato de seu presidente. Confirmando esse novo entendimento:

Recurso especial. Litígio entre sócios. Anulação de registro perante a junta comercial. Contrato social. Interesse da administração federal. Inexistência. Ação de procedimento ordinário. Competência da justiça estadual. Precedentes da segunda seção. 1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência da Justiça Federal, nos processos em que figuram como parte a Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a lisura do ato praticado pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu presidente, por aplicação do artigo 109, VII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada. 2. Em casos em que particulares litigam acerca de registros de alterações societárias perante a Junta Comercial, esta Corte vem reconhecendo a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual decisão judicial de anulação dos registros

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societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria apenas efeitos secundários para a Junta Comercial do Estado, fato que obviamente não revela questão afeta à validade de ato administrativo e que, portanto, afastaria o interesse da Administração e, consequentemente, a competência da Justiça Federal para julgamento da causa. Precedentes. Recurso especial não conhecido (REsp 678.405/RJ, 3º Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006, p. 179)

Outro fator que gera controvérsias é a questão do que deve se reportar ao

Registro Civil de Pessoas Jurídicas e as Juntas Comerciais. Até onde vai a

competência de um e de outro? A Junta Comercial ou o RCPJ pode se negar a

registrar um ato com base no fator competência. Por exemplo, a Junta pode se

negar a registrar a constituição de uma Cooperativa tendo em vista tratar-se de

sociedade Simples? A competência com relação ao arquivamento de dita

Cooperativa é privativa?

1.4- Atos de Registro

As Juntas Comerciais são as responsáveis por executar os atos de registro

no âmbito do SINREM. Todo empresário individual, sociedade empresária,

cooperativa, leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e

administradores de armazéns-gerais podem ou devem ser registrados nas Juntas

Comerciais.

Dessa forma, os atos de registro praticados pelas Juntas Comercias, são: a

matrícula, o arquivamento e a autenticação. A Lei 8934/94, estabelece como

finalidade do registro de empresa: “I- dar garantia, publicidade, autenticidade,

segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a

registro na forma desta lei; II- cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em

funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; III-

proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comercio, bem como ao seu ao

seu cancelamento”.

A matrícula é o registro dos profissionais auxiliares do comercio: leiloeiros,

tradutores públicos, intérpretes, trapicheiros e administradores de armazéns-

gerais. Na realidade, a Junta funciona como um órgão regulador de ditas

profissões.

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O arquivamento é o ato de registro da história de vida da sociedade

empresária ou do empresário individual, desde sua constituição até sua extinção.

Conforme o art. 32, inciso II, da Lei 8934/94 deve ser feito o arquivamento na

Junta Comercial: “a) dos documentos relativos à constituição, alteração,

dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e

cooperativas; b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata

a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; c) dos atos concernentes a empresas

mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; d) das declarações de

microempresa; e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam

atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou

daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis”.

A autenticação é o registro dos atos de escrituração contábil do empresário

(livros empresariais, SPED - Sistema Público de Escrituração Digital16) e dos

agentes auxiliares do comércio. A autenticação é um requisito obrigatório para a

regularidade na escrituração.

No site da JUCERJA17 - Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro -

encontramos um resumo dos objetivos desta que são: Efetuar o registro dos atos

relativos às empresas; guardar os documentos preservando, assim, a sua

autenticidade; prestar informações sobre as empresas a órgãos públicos,

entidades públicas e privadas, ao público em geral e a outras juntas comerciais;

zelar pelo cumprimento das leis e diretrizes relativas ao Registro do Comércio,

traçadas pelo DNRC; manter um cadastro atualizado com informações sobre as

empresas; efetuar o registro de Empresas, Leiloeiros, Armazéns Gerais,

Tradutores Públicos e Cooperativas.

Na realidade a principal função dos atos de registro da matricula, do

arquivamento e da autenticação é torná-los públicos para que venham a ser

conhecidos por terceiros e a eles poderem ser opostos. Em varias partes do

Código Civil podemos constatar essa finalidade do registro. Conforme o art. 1154

do Código Civil: “O ato sujeito a registro, ressalvadas disposições especiais da lei,

16 O Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) tem como objetivo facilitar a realização da atividade fiscal e contábil por intermédio de um sistema eletrônico disponível na internet. Administrado pela Secretaria da Receita Federal, o SPED foi instituído pelo decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007. O SPED envia um resumo das informações contidas na Escrituração Contábil Digital (ECD) para a Junta Comercial, tais como requerimento, termo de abertura e termo de encerramento. Após realizado o pagamento do Documento de Arrecadação de Receitas Estaduais (Dare), o arquivo fica disponível para ser analisado pelas Juntas Comerciais. 17 Disponível em: http://www.jucerja.rj.gov.br/instituicao/objetivos.asp. Acesso em: 07/05/2012.

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não pode, antes do cumprimento das respectivas formalidades, ser oposto a

terceiro salvo prova de que este o conhecia” (grifo nosso). O art. 1012

parágrafo único, incisos I e II: “O excesso por parte dos administradores somente

pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I- se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da

sociedade; II- provando-se que era conhecida do terceiro;”. Temos também o

art.1174 do mesmo Código: “As limitações contidas na outorga de poderes, para

serem opostas a terceiros, dependem do arquivamento e averbação do

instrumento no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo se provado serem

conhecidas da pessoa que tratou com o gerente. Parágrafo único. Para o mesmo

efeito e com idêntica ressalva, deve a modificação ou revogação do mandato ser

arquivada e averbada no Registro Público de Empresas Mercantis”.

1.5- Estrutura das Juntas Comerciais

A estrutura das Juntas Comerciais está disposta na Lei 8934/94 em seu

art.9º. A estrutura básica das juntas comerciais será integrada pelos seguintes

órgãos: “I - a Presidência, como órgão diretivo e representativo; II - o Plenário,

como órgão deliberativo superior; III - as Turmas, como órgãos deliberativos

inferiores; IV- a Secretaria-Geral, como órgão administrativo; V - a Procuradoria,

como órgão de fiscalização e de consulta jurídica”.

O Presidente e Vice-Presidente são nomeados, em comissão, pelo

Governador de Estado e no Distrito Federal pelo Ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comercio Exterior. A função do Presidente é a dirigir e representar a

junta, dar posse aos vogais, convocar e dirigir as sessões do Plenário e

supervisionar os serviços da junta comercial. O Vice-Presidente substitui o

Presidente na sua ausência, tendo a função de corregedor permanente dos

serviços.

O Secretário-Geral será nomeado, em comissão, pelo Governador do

Estado e no Distrito Federal pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria e

Comercio Exterior. Devem possuir os requisitos como notória idoneidade moral e

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especialização em direito comercial. São responsáveis pela administração e

serviços de registro da Junta Comercial.

As procuradorias serão compostas por um ou mais procuradores do Estado

e chefiadas pelo procurador que o governador designar. A atribuição da

procuradoria é a de fiscalização e fiel cumprimento das normas legais e

executivas, podendo oficiar internamente ou mediante solicitação da presidência,

do plenário e das turmas e emitir pareceres quando solicitado. Externamente

representará a Junta, em atos ou feitos de natureza jurídica, inclusive judiciais,

que envolvam matéria de interesse da junta.

O plenário é composto pelos vogais e respectivos suplentes será

constituído por no mínimo 11 e no máximo 23 Vogais. Serão nomeados pelo

Governador nos Estados e pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria e

Comercio Interior no Distrito Federal com mandato de 4 (quatro) anos, permitida

apenas uma recondução. Para poderem ser nomeados deverão cumprir os

requisitos de ser brasileiro em pleno gozo dos direitos civis e políticos; que não

estejam condenados por crime cuja pena vede o acesso a cargo, emprego e

funções públicas, ou por crime de prevaricação, suborno, falência fraudulenta,

concussão, peculato, contra a propriedade, a fé pública e a economia popular; ser

ou ter sido, por mais de cinco anos titulares de firma mercantil individual, sócios

ou administradores de sociedade mercantil ou firma individual e estarem quites

com o serviço militar e o serviço eleitoral. Ao plenário compete o julgamento dos

processos em grau de recurso, nos termos previstos no regulamento da Lei

8934/94.

As turmas são compostas de três vogais, não participando o Presidente e o

Vice-Presidente. Apesar da Lei 8934/94 não ser clara quanto as atribuições das

turmas, na prática, cada Turma será responsável, mediante sorteio, do julgamento

dos atos societários das Sociedades Anônimas levados a registro e demais atos

elencados no art.41 como do regime de decisão colegiada das quais fazem parte

as turmas. Veremos no próximo item como se dá esse regime de decisão das

Turmas.

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1.6- Do Regime de Decisão

Os atos levados a registro serão analisados para a verificação das

formalidades legais. Dois são os regimes de decisão da análise dos atos. O

regime de decisão singular e o regime de decisão colegiada.

O regime de decisão colegiada é formado pelas turmas. Cada turma é

formada por três vogais (já visto no item anterior). As turmas julgam os atos de

registro das sociedades anônimas, ou seja, sua constituição, atas de assembleia

e todos os demais atos que envolvam essas sociedades Além das Sociedades

Anônimas analisam também os atos de transformação, fusão, incorporação e

cisão.

O regime de decisão singular é formado pelo Presidente da Junta

Comercial, vogal ou servidor que possua comprovados conhecimentos de Direito

Comercial e de Registro de Empresas Mercantis. Sendo esses dois últimos, o

vogal ou servidor habilitado a proferir decisões singulares, serão designados pelo

Presidente da Junta Comercial. O julgador singular irá analisar todos os atos que

não cabem às turmas, ou seja, todos os atos relativos às demais sociedades com

exceção das Sociedades anônimas, fusão, incorporação, cisão e transformação.

Importante ressaltar que recentemente com a publicação da Instrução

Normativa 118, de 22/11/2011 do Departamento Nacional de Registro de

Comércio, que dispõe “sobre o processo de transformação (grifo nosso) de

registro de empresário individual em sociedade empresária, contratual, ou em

empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa, e dá outras

providências”, a Lei 8934/94 foi violada em seu art. 41.

O art.41, inciso I, letra b da Lei 8934/94 é claro ao dizer que: “Estão

sujeitos ao regime de decisão colegiada (grifo nosso) pelas juntas comerciais, na

forma desta lei: I - o arquivamento: b) dos atos referentes à transformação (grifo

nosso), incorporação, fusão e cisão de empresas mercantis”.

O art. 12 da Instrução Normativa 118, de 22/11/2011, do Departamento

Nacional do Registro do Comercio contrariando a Lei 8934/94 diz que: “Art. 12.

Estão sujeitos ao regime de decisão singular (grifo nosso) os atos de

transformação (grifo nosso) de registro de empresário individual em sociedade

ou em empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa”.

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Desta forma não resta dúvida que a Instrução Normativa contraria

dispositivo legal. O perigo neste caso é a alegação em juízo de uma possível

nulidade do arquivamento do ato de transformação, seja por um sócio ou de

terceiro interessado. Essa nuance, talvez desapercebida, por parte de

empresários e operadores do direito empresarial poderá em um futuro causar

problemas tanto para as Juntas Comerciais, Departamento Nacional de Registro

de Comercio e empresas transformadas.

Importante ressaltar na coincidência da publicação entre a Instrução

Normativa supramencionada e a Instrução Normativa nº 117, de 22/11/2011 (grifo

nosso) que aprova o Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de

Responsabilidade Limitada EIRELI. A IN117 em seu item 3.2.17 delega

competências ao regime de decisão singular nos processos de transformação de

registro de empresário individual em empresa individual de responsabilidade

limitada e vice-versa.

O Departamento Nacional de Registro de Comercio não tem competência

para alterar legislação federal. Pode editar Instruções normativas com o intuito de

orientar as Juntas Comerciais a adotarem procedimentos no intuito de uniformizar

o arquivamento de atos societários em todos os Estados brasileiros e Distrito

Federal. Dessa forma entende-se que a competência para julgar transformações

que não envolvam Sociedades Anônimas é da competência do órgão colegiado

como era antes das duas Instruções Normativas mencionadas.

Os pedidos de arquivamento analisados no regime de decisão colegiada

deverão ser decididos em no máximo cinco dias úteis e os analisados no regime

de decisão singular em no máximo dois dias úteis. Caso não sejam analisados,

nos respectivos prazos, os atos, mediante provocação dos interessados (grifo

nosso), serão arquivados tal como levados à registro, sem prejuízo do exame das

formalidades legais pela procuradoria.

Na prática, ditos prazos não são cumpridos, tampouco o interessado

provoca a Junta Comercial para o arquivamento do ato sem o exame das

formalidades legais. O motivo das Juntas não cumprirem ditos prazos legais é a

falta de estrutura. Por outro lado, o interessado raras vezes provoca a Junta

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Comercial para que seja arquivado o ato dentro do prazo legal18. A falta de

provocação pode se dar por vários motivos. O primeiro motivo seria o custo, pois

para provocar a Junta Comercial deverá pagar novas taxas. O segundo seria uma

possível anotação no arquivo da empresa por parte da procuradoria caso o ato

arquivado venha a descumprir uma formalidade legal. O terceiro e possivelmente

o maior motivo é o desconhecimento dos prazos e o seu direito de provocar.

A turma ou julgador singular poderá indeferir o arquivamento do ato,

documento ou instrumento apresentado a arquivamento quando se tratar de vício

insanável ou colocá-lo em exigência quando sanável.

No caso do cumprimento de exigência ao pedido de arquivamento levado

ao registro, o usuário poderá cumpri-la em até 30 (trinta) dias, contados da data

da ciência pelo interessado ou da publicação do despacho.

Se não concordar com o despacho poderá protocolar pedido de

reconsideração O Pedido de Reconsideração terá por objeto obter a revisão de

despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para o deferimento

do arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência

para apreciação pela autoridade recorrida em 3 (três) dias úteis ou 5 (cinco) dias

úteis, respectivamente.

Caso ocorra o indeferimento do processo pelas decisões singulares ou de

turmas, cabe recurso ao plenário, que deverá ser decidido no prazo máximo de 30

(trinta) dias, a contar da data do recebimento da peça recursal, ouvida a

procuradoria, no prazo de 10 (dez) dias, quando a mesma não for a recorrente.

Se o recurso não for atendido pelo plenário caberá outro ao Ministro de

Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo, como última instância

administrativa.

Importante ressaltar que não é necessário protocolar o pedido de

reconsideração antes do recurso ao plenário. Porém para o interessado recorrer

ao plenário torna-se necessário o indeferimento do processo pelo julgador

singular ou turma. O problema é que na maioria das vezes o vício é sanável. Não

existe na legislação, tampouco, em Instruções Normativas o número máximo

possível de colocação de um processo para cumprimento da mesma exigência. O

critério de indeferimento é subjetivo das turmas e decisões singulares. A questão

18 A JUCERJA, por exemplo, nunca foi provocada com base em dito prazo.

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é que muitas vezes o interessado deseja recorrer, mas não pode, enquanto o

processo não seja indeferido. Então, quando indeferir um processo com vício

sanável?

Uma solução seria a obrigação do indeferimento do processo principal,

após a discordância do processo de pedido de reconsideração, por parte do

julgador ou turma. Importante ressaltar que isso somente seria possível mediante

aprovação de uma Lei. Uma Instrução Normativa não poderia introduzir dita

modificação ou como o fez recentemente a Junta Comercial do Estado do Rio de

Janeiro mediante portaria obrigar que o pedido de reconsideração, somente de

decisões singulares, seja encaminhado à procuradoria mediante pedido de

reconsideração19.

A portaria visa justamente solucionar dita lacuna, porém, esta não é função

da procuradoria segundo a Lei 8934/94, funções já mencionadas anteriormente.

Além disso, a portaria nada menciona sobre as decisões das turmas. O interesse

se justifica e é louvável, porém, somente Lei poderia modificar os procedimentos

de recurso.

A análise dos atos de registro deve se ater ao exame do cumprimento das

formalidades legais, jamais adentrando no mérito do ato praticado. A questão é o

que são formalidades legais descritas pela Lei 8934/94. São formalidades legais

as Instruções Normativas editadas pelo Departamento Nacional de Registro de

Comercio, Portarias, Resoluções, Deliberações? O intuito de ditas publicações é

de facilitar e uniformizar o entendimento das decisões singulares e colegiadas. No

entanto, está aumentando o número de exigências, uma vez que é adotado pelas

turmas e julgadores singulares por emanarem de ordem superior a estes.

Conforme RAMOS20: acerca do Código Civil e da diversidade de

legislações sobre o registro de empresas: “...mais uma vez o Código Civil se

meteu onde não devia. Afinal, como já existe norma especial disciplinado o

registro de empresa no Brasil, era desnecessário tratamento da matéria pelo

19 Portaria Jucerja 961/2010 “Art. 1º - É obrigatória a remessa de processo de registro empresarial à Procuradoria Regional sempre que tal providência for requerida ao julgador, em “pedido de reconsideração". Dita portaria encontra-se disponível no site da Jucerja, item legislação, Portarias. http://www.jucerja.rj.gov.br/Legislacao/portaria/portarias.asp. Dia 09/04/2012 20 RAMOS, A., Direito Empresarial Esquematizado,1ªed, 4ª tiragem, São Paulo, Método, 2011, pg.52.

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Código, o qual ou repetiu normas já previstas ou trouxe normas conflitantes,

gerando uma confusão normativa que não interessa a ninguém”.

1.7- Cooperativas

Um assunto que ainda gera polêmica, após a aprovação do Código Civil de

2002, e que ainda não existe consenso é se as cooperativas devem ser

registradas na Junta Comercial ou no Cartório do Registro Civil de Pessoas

Jurídicas.

O Código Civil diz em seu artigo 982, parágrafo único que as cooperativas

são consideradas sociedades simples: “Art. 982. Salvo as exceções expressas,

considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade

própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a

sociedade por ações; e, simples, a cooperativa” (grifo nosso).

O art. 3º, inciso II, alínea a, da Lei 8934/94 diz que o arquivamento dos

Atos Pertinentes ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins

compreende o arquivamento: “a) dos documentos relativos à constituição,

alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades

mercantis e cooperativas;” (grifo nosso). O artigo 18 da Lei 5764/71 (Lei do

Cooperativismo), no mesmo sentido, prevê que as cooperativas devem ser

registradas nas Juntas Comerciais: “...documento dirigido à Junta Comercial do

Estado, onde a entidade estiver sediada, comunicando a aprovação do ato

constitutivo da requerente.”. Para completar a posição o enunciado 69 do CJF:

“69 – Art. 1.093: as sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à

inscrição nas juntas comerciais.”

Na prática o que vem prevalecendo é a posição do CJF. O Código Civil foi

feliz em sua redação, tendo em vista, o objetivo da criação de uma cooperativa,

características de sociedade simples. Além disso, seria muito mais fácil e menos

dispendioso que a cooperativa se registrasse nos cartórios de registro civil de

pessoas jurídicas.

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Grande parte das cooperativas, encontram-se no interior de nosso país

continental onde muitas vezes a distância da Junta Comercial da sede agrava

ditos custos. Quanto à facilidade, os cartórios geralmente possuem uma melhor

estrutura em termos de informação, facilidade e tempo de arquivamento, estando

muito mais “próximo” ao cooperativado.

O que prevalece, na realidade, é o interesse do governo federal e estadual

em obter a receita do arquivamento das cooperativas utilizando ditas receitas para

outras finalidades que não a atividade fim de registro e atividades afins das Juntas

Comerciais.

Por outro lado, não existe uma fiscalização sobre o objeto social e real

benefício dos cooperativados por parte do governo e das Juntas Comerciais

(tendo em vista que a finalidade das Juntas não é de fiscalização, muitas vezes

imposta as mesmas por parte do DNRC21). Muitas cooperativas são, na realidade,

sociedades com fins empresariais com o objetivo de desviar-se das obrigações

trabalhistas.

Vale ressaltar ainda que nada impede que os cartórios de registro civil de

pessoas jurídicas registrem os atos de cooperativas já que conforme o Código

Civil e o objetivo de ditas sociedades se encaixam perfeitamente no conceito de

sociedades simples. Conforme preceitua o Código Civil em seu art. 1150: “O

empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de

Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao

Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas

para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade

empresária”.

21 IN Nº 114, de 30/09/2011, Aprova o quadro enumerativo dos atos empresariais sujeitos à aprovação prévia de órgãos e entidades governamentais para registro nas Juntas Comerciais e dá outras providências

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31

CAPÍTULO II

O REGISTRO DE EMPRESAS NA ESPANHA.

2.1 - História

O Registro Mercantil nasceu no final do século XIX impulsionado pelo atual

Código Comercial. A Espanha era praticamente agrária, na sua base econômica e

autoritária, ao nível político, própria das sociedades feudais. Hoje passou a ser

industrial em sua base econômica e democrática no âmbito político. Porém,

durante o século XIX se criaram muitos dos elementos necessários para prestar

serviços às novas necessidades sociais. Assim o Registro Mercantil nasceu como

reflexo da sociedade.

O Registro Mercantil foi criado na Espanha em janeiro de 1886. Da época

de sua criação até hoje não se notam grandes mudanças em sua estrutura e

funcionamento. Entretanto, apesar da mesma estrutura e funcionamento

permanecerem, o Registro soube se adaptar todos esses anos as necessidades

da sociedade. Sendo a função do registro justamente a de suprir ditas

necessidades.

Não podemos esquecer que o registro empresarial anda junto com as leis e

com a economia, ambas refletindo um aspecto determinante da realidade social.

O Registro espanhol, assim como no Brasil, tem como função dar publicidade

mercantil, totalmente dependente das leis que regem a matéria. Com isso, acaba

sendo uma referência sobre a economia em diferentes períodos históricos.

Os períodos históricos mais relevantes economicamente para Espanha

coincidem com os períodos mais importantes ao Registro. O primeiro foi o

nascimento do Registro Mercantil, no final do século XIX. Consequência de que

os legisladores perceberam a necessidade de sua criação de acordo com as

novas realidades sociais e econômicas. O segundo período seria o chamado

milagre espanhol dos anos sessenta do século XX. Nesse período o Registro

sofre novas e decisivas mudanças legislativas como o novo regulamento de 1956

e as leis de Sociedades Anônimas e Limitadas de 1951 e 1953.

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2.2 - Legislação

O Registro Mercantil na Espanha é basicamente regido pelo Código Civil, o

Código Comercial e o Regulamento sobre Registro Mercantil.

O Código Comercial de 1885 veio regular as novas situações sociais e

econômicas do século XIX. Uma nova situação política cada vez mais liberal

refletida em uma sociedade industrial e capitalista. Com a promulgação do Código

Comercial se proclama a independência do direito empresarial ao direito civil.

Na realidade, tendo em vista a sua idade, o Código Comercial hoje norteia

os princípios do direito empresarial. Na atualidade a tendência é a descodificação

do direito dando lugar as leis especiais. Dessa forma o Código Comercial vai

dando passagem às leis especiais em matéria de sociedades, seguros, dentre

outras.

O Código Civil espanhol chega atrasado com relação aos outros países

europeus. A codificação é um fenômeno que se inicia na Europa no século XVIII e

aparece ligado ao Iluminismo. Com a codificação se encerra o período da

vigência do direito romano. O processo de codificação buscou reunir em um

mesmo texto legal todas as normas referentes a um determinado ramo do direito.

O critério adotado pelos espanhóis foi o baseado no modelo francês do Código

Civil de Napoleão. O Código Civil foi aprovado depois do Penal de 1822 e o

Comercial de 1829. A demora deve-se aos inúmeros pressupostos políticos e

ideológicos. Devemos levar em consideração que o Código regularia toda uma

ordem social lembrando que a sociedade espanhola dessa época, e em certa

medida na atualidade, estava alinhada com o catolicismo.

O Regulamento sobre Registro Mercantil, Real Decreto 1784/1996, é o

quarto ao longo do tempo da história do Registro Mercantil na Espanha. O

primeiro era de 1885 e durou 33 anos, o segundo de 1919 e o terceiro surgiu em

1956.

O Regime Jurídico que determina a organização e o funcionamento do

Registro Mercantil são fundamentalmente o Código Comercial, o Regulamento de

Registro Mercantil e supletivamente serão aplicados a Lei, o Regulamento

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hipotecário e o Código Civil. Além disso, aplica-se também as leis reguladoras

das entidades que se inscrevem no mesmo como: a Lei Das Sociedades de

Responsabilidade Limitada que formam mais de 90% de “clientes” do Registro; a

Lei das Sociedades Anônimas, Lei e Regulamento de planos e fundos de pensão,

Lei do Mercado de Valores e lei de entidades de classe. Não se pode esquecer a

aplicação normativa da União Europeia desde que superados os requisitos de

aplicação interna.

Diante de tamanha legislação é normal que contradições normativas se

produzam obrigando o registrador a avaliar cada caso da forma mais apropriada

ao efetuar seu trabalho de avaliação e posterior registro.

2.3 – Organização territorial espanhola

Os registros mercantis na Espanha são divididos entre suas províncias.

Essa divisão em províncias é de longa data, sendo estabelecida a princípios do

século XIX, em 1833. A atual divisão em províncias é resultado não só da

evolução histórica mas de uma vontade política.

A divisão do território em províncias mais do que limites geográficos levou

em consideração, fatores históricos e particularidades de cada região. A Espanha

de hoje é resultado de uma serie de agregações de entidades políticas

soberanas, reinos, condados, coroas, dentre outras, durante a Idade Média.

Essas entidades foram se unindo após o desmembramento do Reino Visigodo, no

século VIII, que dominava todo o território espanhol. Dessa forma, não se poderia

demarcar territórios de províncias baseados em condições geográficas ou físicas.

Além disso, se pretendeu, respeitando as particularidades de cada região,

que cada província fosse administrativamente eficaz. Para tanto os espanhóis

optaram por imitar o sistema francês, ou seja, criar uma província em torno da

cidade mais importante de cada região, que de alguma maneira conseguisse

organizar a região do entorno. Essa região deveria ser facilmente acessível desde

a capital da província. Com esse pensamento o território espanhol foi dividido em

1833. Tudo indica que a medida adotada foi a correta levando em consideração

que sobreviveu até hoje. Sobre essa divisão foi instituído os organismos públicos

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de cada província. A Espanha hoje é formada por 17 Comunidades Autônomas

que por sua vez estão formadas por 52 províncias.

O Registro se baseou na estrutura territorial dividida em províncias para se

instalar em cada capital de província. A competência de cada Registro Mercantil

são os limites de cada província.

2.4 – Organização Geral

O Registro Mercantil é uma instituição de caráter jurídico e público. O

caráter público decorre do fato de ser dependente do Ministério de Justiça,

através da Direção Geral dos Registros e Notários.

A função do Registro Mercantil Espanhol tem por objeto: a inscrição dos

empresários e demais sujeitos estabelecidos nas leis; a legalização dos livros de

todos os sujeitos inscritos nele e supletivamente os que disponham as leis; o

depósito de documentos da contabilidade desses sujeitos, tanto os inscritos como

outros que disponham as leis; a nomeação de auditores de contas para

determinados atos que se realizarão nos sujeitos inscritos nele; a publicação da

informação contida nele, de toda a informação (provando seu caráter público);

além disso, centralizando a publicidade dessa informação em todos os seus

aspectos; a inscrição de resoluções e medidas de intervenção, em especial de

entidades financeiras e de seguros por parte da administração no uso de suas

atribuições disciplinarias; a inscrição de emissões de entidades e outras

vicissitudes especiais das mesmas.

Dentro dessas funções a principal é a da constituição das sociedades em

geral, a subscrição dos aumentos e reduções de capital bem como a transferência

de cotas dentro das sociedades limitadas. Como vimos as LTDAS são os maiores

“clientes” do Registro, dessa forma as modificações nos contratos dessas

sociedades acaba se tornando a principal “rotina” do registro.

2.5 - O Registro Mercantil Territorial

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Como vimos o Registro Mercantil Espanhol aproveitou para sua

organização a estrutura territorial marcada por suas províncias. Dentro delas o

registro fica localizado em sua capital. O âmbito de atuação, ou seja, sua

jurisdição é o limite territorial de cada província.

Os diferentes Registros Territoriais estão a cargo do Registrador Mercantil

que reúne a dupla função de ser bacharel em direito e funcionário público. Em

face a esta dupla qualidade será ele que qualificará os documentos levados a

registro dentre os quais:

- A legalidade dos documentos de qualquer tipo, em virtude do qual os

interessados solicitam sua inscrição;

- A capacidade e legitimação das pessoas que os outorguem e inclusive a

validade dos mesmos.

Além da função básica do registro anteriormente descrito, os princípios que

formam a organização do registro espanhol são:

-Um sistema personalizado onde se gera um arquivo único a cada nova

sociedade inscrita.

- A obrigatoriedade da inscrição dos atos levados a registro.

- A titulação pública do documento a ser levado a registro, tendo em vista

que os documentos levados a registro deverão ser feitos por documentos

públicos, não esquecendo as peculiaridades previstas para os documentos

oriundos do exterior.

-A legalização dos documentos apresentados e consequentemente a

legitimação e capacidade dos que os outorgaram, como já frisado no tópico

anterior.

-A legitimação, o princípio que supõe válido e exato o conteúdo registrado,

produzindo seus efeitos até a inscrição de alguma ordem judicial declarando sua

nulidade, anotação ou imprecisão. Isto se estende ao próprio registrador tendo em

vista que uma vez efetuado o registro do ato não se pode ratificá-los com exceção

dos casos previstos na legislação hipotecária e seguindo os procedimentos nela

estabelecidos. Não obstante, a inscrição não convalida atos ou contratos nulos

conforme as leis.

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-A fé pública, que garante o direito de terceiros adquiridos de boa fé em

virtude dos atos de registro, não serão prejudicados no caso de declaração de

nulidade ou inexatidão dos referidos atos.

- A oponibilidade, que é outro princípio garantidor de direitos, adquiridos

pelo terceiro de boa fé, de tal maneira que o arquivado só será oponível a

terceiros de boa fé, desde sua publicação no Diário Oficial.

- A prioridade, que determina que arquivado qualquer ato, não poderão

arquivar os anteriores em data, se resultam incompatíveis ou opostos a ele, ou

seja, o primeiro que chega é preferente sobre os posteriores.

- O princípio da continuidade, ou seja, o arquivamento de qualquer ato

supõe a prévia inscrição do sujeito que pretende arquivar o ato.

A partir desses pilares gira a organização e funcionamento do Registro

Mercantil Espanhol. Veremos a seguir que isso implica em inúmeros fatores na

hora de avaliar e julgar um ato para seu efetivo arquivamento, função fim do

registro.

2-6 – A avaliação dos atos levados ao Registro e o Registrador.

.

A avaliação ou popularmente chamada no Brasil de “julgamento” dos atos

levados a registro é a mola mestre do registro mercantil em virtude da segurança

no tráfico jurídico que acarreta. Em virtude desse “julgamento” dos atos levados a

registro pode-se concluir que o Registro Mercantil é um Registro de caráter

fundamentalmente jurídico e sobre essa base se diferencia dos outros registros

da administração espanhola de caráter predominantemente administrativo.

As principais características da função do registrador são a independência,

a responsabilidade e a remuneração por “arancel”22. Dentre essas três qualidades

deve-se ressaltar que a nomeação dos Registradores se efetua mediante

concurso celebrado conforme as normas da legislação hipotecária pelo Ministro

da Justiça e no seu caso pela autoridade autonômica competente.

Ao apreciar o ato levado ao registro, o Registrador determina se o

documento apresentado pode ser arquivado ou não. Se determinar que o ato a 22 Definição na próxima página.

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ser arquivado, não pode ser arquivado por apresentar vício sanável, determinará

os procedimentos para sua correção.

Interessante anotar que nos Registros Mercantis, a cargo de vários

titulares, o registrador que colocará em exigência ou indeferirá um pedido de

arquivamento deve informar ao resto de cotitulares. Esse dever de informar deve-

se ao fato de que se algum destes cotitulares discordar da decisão e quiser

arquivar o ato que seria posto em exigência poderá fazê-lo sob sua

responsabilidade. Isso demonstra a independência e responsabilidade do

julgamento. Isso indiretamente acaba beneficiando o usuário, que na Espanha

chama-se de cliente face ao explicado ao longo do trabalho, tendo em vista que

somente em casos realmente eivados de vício ilegais e sanáveis o pedido será

posto em exigência para sua correção. Os casos de vícios que não venham a

prejudicar a terceiros provavelmente serão arquivados. Vale ressaltar que o

Registrador responderá com seu patrimônio pelas decisões tomadas, prova disso

é a fiança prestada para o exercício do cargo.

A retribuição pelo serviço prestado se efetua através do pagamento de

“arancel”, pelos interessados. O “arancel” que determina o preço de seus serviços

poderá ser impugnado pelo usuário pela via administrativa e o registrador para

exigir dito “arancel” poderá acudir ao judiciário. Isso demonstra a relação de

direito privado.

Como já destacado o julgamento é a principal função do registro mediante

o qual o registrador aplica o princípio da legalidade, um dos princípios do Registro

Mercantil. O julgamento é simplesmente o exame da adequação do documento

levado a registro, aos requisitos legais e regulamentários. Como o próprio

Regulamento de Registro Mercantil anota, o julgamento será efetuado sob a

estrita responsabilidade do julgador. O julgamento englobará a estrita legalidade

das formas das distintas classes de documentos levados ao registro, a

capacidade e legitimação dos interessados e a legitimidade de seu conteúdo.

2.7 - A ANÁLISE DO REGISTRADOR AOS DOCUMENTOS

LEVADOS A REGISTRO

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O registrador no caso de constatar vício sanável no documento deverá

mencionar todos esses defeitos apresentados de uma só vez. O julgador não

pode apontar uma exigência e quando o usuário reapresentar o documento com a

correção realizada perceber outra exigência. Só se admite a exceção se nesse

intervalo de tempo uma nova norma seja criada exigindo algum requisito sobre

esse documento. Caso o registrador aplique nova exigência quando da reentrada

do documento cumprindo as constadas inicialmente poderá sofrer correição

disciplinar.

Nos Registros onde existam mais de um titular, objetiva-se uniformizar os

julgamentos visando dar uma maior segurança jurídica. Para isso quando um

titular note uma ou mais exigências deve apontá-las aos outros titulares. Após

tomar conhecimento da exigência os outros titulares poderão entender que o vício

apontado não impede o arquivamento do ato. Neste caso após decisão da maioria

o ato será posto em exigência ou deferido seu registro. No caso de deferimento

será anotado junto ao documento que o mesmo foi levado arquivado após a

decisão de todos os titulares do registro. Dessa forma assumem a

responsabilidade pelo arquivamento do ato.

Caso os outros titulares analisem que as exigências não constituam vícios

que impeçam o arquivamento do ato, poderão arquivar o ato mediante uma

anotação de que a maioria dos titulares estão de acordo com o arquivamento do

documento em questão.

O julgamento é função exclusiva do registrador sendo independente, nem

mesmo o poder judiciário poderá obrigar o registrador a arquivar um ato

posteriormente a sua exigência. O registrador somente está subordinado a

revisão de seu julgamento aos órgãos jurisdicionais da Direção Geral dos

Registros e Notários. Essa independência e exclusividade do julgamento, implica

necessariamente na responsabilidade exclusiva pelo julgamento, da mesma

forma, os prejuízos causados pelo mesmo sejam ressarcidos pelo julgador. Da

mesma forma, o registrador não pode se negar a julgar um ato levado a registro.

Do julgamento do registrador cabe recurso mas este recurso só caberá

sobre decisões que indefiram o arquivamento, não cabe recurso sobre exigências.

Também não caberá recurso sobre o julgamento uma vez que o usuário tenha

buscado solucionar a recusa ao arquivamento no Judiciário.

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O registrador deve sempre se ater ao princípio da motivação, desta vez

demonstrando seu caráter público do registro. As decisões do julgamento devem

ser juridicamente motivadas respeitando assim também o princípio da legalidade.

2.8 - TRÂMITE DOS ATOS A SEREM ARQUIVADOS

Protocolado o documento que pretende ser registrado, o registrador tem

um prazo máximo de quinze dias, contados do dia em que foi protocolado, para

decidir se o documento poderá ser arquivado. Dessa forma uma vez apresentado

o documento em quinze dias o registrador deverá: arquivá-lo, emitir exigência

motivada ou indeferir o arquivamento.

Caso o registro não se manifeste dentro desses quinze dias cabe ao

usuário exigir seu arquivamento, a devolução com exigências a serem cumpridas

ou seu indeferimento. O registro deve-se manifestar dentro desses quinze dias.

Uma vez exigido pelo usuário uma manifestação por parte do registro este tem

um prazo improrrogável de três dias para se manifestar. Caso o registrador não

puder se manifestar nesses três dias deverá convocar um substituto previsto no

quadro de substituições para que se manifeste um registrador substituto.

Se o registro não efetuar seu trabalho dentro dos prazos mencionados, se

sanciona o registrador com a devolução ao usuário de 30% do “arancel” pago

para o arquivamento do documento. Vale lembrar que o prazo de quinze e de três

dias se contam nos dias em que o registro possa efetivar seu trabalho.

Para controlar o cumprimento desses prazos a cada trimestre os

registradores devem informar a Direção Geral de Registros e de Notários a

relação dos arquivamentos e o dia dos mesmos, mencionando expressamente o

percentual de documentos julgados fora do prazo regulamentário.

O registrador para julgar, só pode utilizar o documento apresentado e se

utilizar de dados para o julgamento dos que já estiverem nos arquivos de registro

da empresa. De qualquer forma se permite o uso de outros documentos

apresentados que se relacionem com o documento que se arquivará.

Vimos aqui que a função de registro, o julgamento, é precisa e bem

delimitada. Seus limites estão claramente determinados pela legalidade. No

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entanto o registrador deve-se ater ao estritamente necessário a prática do registro

solicitado.

Dessa forma não se admite o excesso de zelo que puder invadir a esfera

de autonomia dos sujeitos relacionados no ato de registro. Não pode o julgador

criar dificuldades no campo do subjetivismo. Nesta seara, mesmo o registrador

exercendo a função de julgador com independência e responsabilidade por seus

atos, não pode atribui-se funções próprias do poder judiciário. Para isso não

ocorrer, quando necessário, deve interpretar a Lei baseado na jurisprudência ou

na doutrina majoritária.

2.9 - TRÂMITE APÓS A ANÁLISE DO DOCUMENTO

Uma vez analisado o documento o mesmo poderá seguir alguns caminhos.

Se o registrador defere o pedido de arquivamento se produz o imediato

arquivamento do documento. Após o deferimento do documento anota-se no

histórico da empresa o motivo do arquivamento.

Quando apresentado vários atos ou documentos concomitantes e

independentes entre si, poderá caber a inscrição parcial do título. O registrador

poderá optar por deferir, os que julgar passíveis de arquivamento segundo o rito

descrito no parágrafo anterior e colocar os demais em exigência para a correção

dos defeitos apontados que impeçam seu arquivamento.

No caso do julgador analisar que o documento possui alguma ilegalidade

que impeça o arquivamento do mesmo, indicará a exigência no documento

datada e assinada justificando os motivos do impedimento. A exigência deve

expressar se é sanável ou insanável.

No caso de exigência sanável o interessado terá um prazo de dois meses

para subsanar os vícios apontados. Caso o defeito seja insanável indefere-se o

pedido de arquivamento. Em ambos os casos o interessado poderá recorrer da

decisão.

O julgador deve-se ater a legalidade do documento a ser arquivado que na

Espanha, ao contrário do Brasil, só poderão ser de três formas: os decorrentes de

tabelião, os judiciais e os administrativos, segundo sua origem. No Brasil a rotina

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é o arquivamento de instrumentos particulares onde o máximo que se exige é o

reconhecimento de firma23, salvo algumas exceções.

No caso dos documentos emitidos por tabelião o registrador apreciará que

apareça os seguintes requisitos: a cidade em que se outorgou o documento; a

identificação do tabelião; a identidade e documentos pessoais (que já integram o

documento); a declaração (fé pública) do conhecimento dos outorgantes bem

como que sob sua responsabilidade os considera com capacidade legal ou civil

necessária para o ato; o consentimento e firma dos outorgantes e rubrica,

assinatura e selo do tabelião; a unidade do ato nos casos exigidos.

No caso dos documentos serem judiciais, o registrador analisará a

competência do juiz e a veracidade da decisão e a congruência da ordem judicial

com o documento a ser arquivado, mas nunca entrando nos fundamentos da

sentença e os problemas que poderão ocasionar o arquivamento do documento.

Aos documentos administrativos se atuará dentro do possível de forma

semelhante aos judiciais. O restante seriam documentos de caráter privado onde

o principal seria seu conteúdo atendo-se menos as formalidades.

Com relação a capacidade e legitimação dos outorgantes o registrador

atentará mais a sua legitimação do que à capacidade. Principalmente em relação

aos documentos judiciais e administrativos, onde praticamente se exclui a

avaliação do Registrador destes aspectos, limitando-se aos casos de documentos 23 A primeira Junta do Brasil que passou a exigir o reconhecimento de firma nos documentos levados ao registro foi a do Estado do Rio de Janeiro. Dita exigência, ilegal é cumprida pelos usuários e exigida pelos julgadores pelo cumprimento da ordem de serviço 194de 2003. Entende-se ilegal, face ao art.63 da Lei 8934/94: “os atos levados a arquivamento nas Juntas Comerciais são dispensados de reconhecimento de firma, exceto quando se tratar de procuração.” Em outra linha, vide o parecer 02/2003 – FGM que apoia o pedido de reconhecimento de firma. Na realidade busca-se retirar a responsabilidade da Junta Comercial de eventuais falsificações de assinaturas. Vale ressaltar que a responsabilidade por qualquer tipo de falsificação não é da Junta Comercial, mas do falsificador. A Junta deve-se ater unicamente a legalidade do documento mediante atos emanados do poder legislativo. Importante ressaltar que além de exigir o reconhecimento de firma exige-se também fotocópia autenticada da identidade dos sócios e administrador nomeado, fato completamente antagônico tendo em vista a exigência de reconhecimento de firma. Entende-se que os gastos financeiros e de tempo com ditas exigências não coíbem falsificações conforme constatado no dia a dia do julgamento da JUCERJA face às falsificações de selos cartorários. Deve-se ater ao já constatado que o excesso de burocracia gera corrupção, falsificações e fraudes. Entende-se que justamente para evitar falsificações e falsas identidades que a Espanha adota, mediante Lei, que todo documento levado ao registro deve ser público, judicial ou administrativo. Dessa forma impede qualquer dúvida quanto à veracidade dos documentos e contratos registrados, gerando com isso a certeza de que o documento apresentado cumpre o requisito da fé pública. Espera-se que esse tipo de solução seja adotado no Brasil. Essa medida diminuiria o número de exigências, facilitaria a vida dos empresários que em apenas um dia fariam seu contrato com a certeza de que não poderão ser trocadas folhas, dentre outros atos criminosos. Outro fator seria o do custo, tendo em vista que essa medida diminuiria o tempo e a facilidade na realização de um contrato ou documento. As partes se encontram no cartório mediante agendamento e resolvem em alguns minutos o ato que desejam realizar. Quem irá negar o avanço na realização de inventários e divórcios hoje no Brasil.

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notariais mais a existência do juízo notarial de aprovação e a congruência da

aprovação do Cartório com o documento apresentado.

O julgamento da legalidade do conteúdo do documento levado a registro

não alcança os administrativos e judiciais como já dito. No entanto os notariais

merecem atenção na avaliação, toda vez que a fé notarial afirmar o que os

outorgantes disseram, sem garantir a certeza do manifestado.

2.10 - RECURSO

Os interessados podem recorrer do julgamento feito pelo Registrador. O

mais habitual é o chamado “recurso gubernativo” que se desenvolve em duas

fases. A primeira junto com o próprio Registrador, solicitando a reforma parcial ou

total do seu julgamento. No caso de que o Registrador mantenha seu julgamento,

se passaria a seguinte fase. Neste caso o recurso seria encaminhado a “Dirección

General de lós Registros y del Notariado”.

O recurso deve girar unicamente sobre o julgamento do Registrador. A

interposição de ambos os recursos não impede que o interessado ingresse com o

recurso judicial.

O objetivo do recurso é que o Registrador revise o julgamento. Mesmo o

interessado corrigindo o documento face os defeitos apresentados pelo

Registrador, não impede a interposição do recurso. Podem recorrer da exigência,

os interessados no arquivamento, as partes no documento, Notários e

autoridades judiciais.

O prazo para a interposição do recurso é de um mês. O recurso deverá ser

por escrito e apresentado no próprio Registro. O Registrador deve comunicar o

recurso a todos os interessados em um prazo de cinco dias. Da apresentação do

recurso o Registrador pode retificar seu julgamento arquivando o documento

solicitado ou manter sua exigência e remeter todo o processo de arquivamento a

“Dirección General de lós Registros y el Notariado”, também no prazo de cinco

dias.

A “Dirección” citada tem três meses para decidir devendo publicar a

decisão no “Boletín Oficial del Registro Mercantil” sendo a decisão vinculante

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para todos os registros. Caso a “Dirección” não resolva a questão no prazo

mencionado, se supõe negado o recurso, restando agora somente a via judicial.

O recurso judicial que como já mencionamos não é incompatível com os

anteriores seria usado para litigar sobre a legalidade da exigência formulada.

Qualquer interessado está legitimado a propor a ação.

A ação não possui prazo para sua proposição. No entanto, para solicitar a

anotação de que existe uma ação em curso contra a decisão de arquivamento de

um ato nos registros da empresa é necessário solicitar ao Registro dita anotação

no prazo máximo de 60 dias a partir da data do protocolo da inicial.

2.11 - O REGISTRO MERCANTIL CENTRAL

O Registro Mercantil Central, com sede na Espanha, é a instituição

encarregada da centralização e publicação da informação que recebem os

Registros Mercantis Territoriais.

Tem como funções: A organização, tratamento e publicidade de informação

dos dados que recebam os registros mercantis; o arquivo e a publicidade das

denominações de sociedades e entidades jurídicas; as publicações do “Boletín

Oficial del Registro Mercantil”, conforme o estabelecido no Regulamento de

Registro Mercantil; a transferência de sede de sociedades espanholas ao

estrangeiro sem perder contudo a nacionalidade espanhola; a comunicação a

Oficina de Publicações Oficiais da União Europeia dos dados a que se refere o

art.14 do Regulamento CE 2157/2001 do Conselho, de 8 de Outubro24, o qual

aprova o Estatuto da Sociedade Anônima Europeia.

O Registro Mercantil Central se limita a emitir certidões relativas as

denominações sociais, tendo em vista que assim a denominação fica protegida

em toda Espanha. Entretanto pode emitir notas informativas do conteúdo de seus

arquivos, mediante procedimentos informáticos. Na emissão dessas notas é

necessário constar expressamente a advertência sobre as limitações relativas a

estas informações. Apesar dos Registros Mercantis Territoriais enviarem toda a

24 Aprova o Estatuto das Sociedades Anônimas Europeias.

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informação para o Registro Mercantil Central o usuário deve ser informado das

limitações que este possui ao emitir informações.

Essas limitações se devem ao fato de que os Registros Mercantis

Territoriais enviam um resumo dos atos arquivados o que permite ter uma noção

do que se pretende conhecer. Não se pode esquecer que as informações

constantes em certidões emitidas pelo Registro Central muitas vezes são

insuficientes para suprir determinadas demandas.25

A organização e funcionamento segue em termos gerais a mesma

organização dos Registros Mercantis Territoriais, sem esquecer que possuem

funções diferenciadas. Conforme assinala ALVAREZ : “Existe certa confusão,

sobre tudo por parte dos usuários, em relação a informação publicada pelos

Registros Mercantis Territoriais e o Central. Inclusive me atreveria a destacar que

existe certa concorrência na venda de informação. Como em geral em todos os

âmbitos da vida econômica, a competência não é ruim, e em nenhum momento

os usuários podem ser prejudicados por ela, justamente o contrário”.26 Deve-se

levar em conta que a concorrência entre ambos os Registros está proibida em

relação a preços já que partem do mesmo regime arancelario.27

Uma das principais funções do Registro Central é a relativa à proteção das

denominações sociais. Nenhuma sociedade poderá denominar-se como outra já

existente ou que já tenha realizado sua reserva de “nome”. Dita proibição, se

estende ao Notário que faz o contrato de constituição ou de alteração de

denominação social bem como o Registro Mercantil local.

Assim como no Brasil as marcas se registram em outro órgão. Nunca se

deve confundir a denominação social com a marca, erro muito comum aos leigos

na matéria. Na Espanha o órgão encarregado de registrar as marcas é a “Oficina

Española de Patentes e Marcas”.

25 Ao verificarmos a legislação espanhola e a bibliografia mencionada percebemos que na realidade a informação que o Registro Mercantil Central possui seriam as mesmas contidas nas certidões simplificadas emitidas pelas Juntas Comerciais brasileiras. 26ALVAREZ, José, El Registro Mercantil en España. Organización y función, 1ªed., Madrid, La ley, 2009, Pg.143. 27 Nota-se claramente a vantagem para o usuário o qual irá escolher o registro que lhe preste melhor atendimento.

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45

Quando ocorrerem conflitos em relação à denominação social entre

empresas o critério adotado é o do tempo. O tempo, no sentido da empresa que

primeiro solicitou sua reserva de “nome”.

O processo de reserva de “nome” é simples e já pode ser feito pela

internet. O usuário deve pedir uma reserva de até três nomes ao Registro Central,

tendo esse três dias úteis para conceder ou não as denominações sociais

escolhidas. Isso não impede que a denominação seja posta em exigência pelo

cartório que realizará o contrato e o Registro Mercantil local. Após a aprovação do

“nome” o solicitante terá um prazo de reserva de 6 meses para seu uso. O

Registro Mercantil deve informar ao Central qual denominação social foi escolhida

dentro do prazo de 6 meses da solicitação, conforme mencionado.

Conforme já mencionado outra das principais funções do Registro Mercantil

Central é a publicação do Boletín Oficial del Registro Mercantil – BORME28.

O Registro Mercantil Central é o responsável pela sua publicação.

Devemos ter atenção pois não devemos confundir a publicação com a edição. A

edição do mesmo, ou seja, a impressão, distribuição e venda do mesmo

corresponde ao BOE – Boletín Oficial del Estado que é um organismo autônomo

da administração do Estado que assume as funções técnicas, econômicas e

administrativas.

O Registro Mercantil Central após receber os dados enviados dos

Registros Mercantis locais os separa e publica os obrigatórios. A publicação será

diária com exceção dos sábados, domingos e feriados da localidade onde for

editada. Diariamente o Registro mercantil Central enviará através de meios

eletrônicos ao BOE, os dados que deverão ser publicados e que compõe a seção

primeira que veremos no próximo parágrafo.

O BORME possui duas seções. A primeira que se denomina “empresários”

se divide em duas partes que seriam os “atos inscritos” e “outros atos publicados

no Registro mercantil”. A segunda seção do BORME é a parte de anúncios e

avisos legais

28 Essa publicação segue os mesmos moldes do nosso Diário Oficial que assim como no Brasil também existe na Espanha. É um Organismo autônomo da Administração do Estado que possui funções técnicas, econômicas e administrativas sobre a edição do boletim. A diferença é que na Espanha o BORME encontra-se separado do BOE porém ambos são administrados pela Agencia Estatal Boletín Oficial del Estado. Para entender melhor a estrutura vide: http://www.boe.es/diario_borme/ dia 01/07/2012.

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Os “atos inscritos” seriam os dados mais corriqueiros dos Registros

Mercantis Territoriais como, por exemplo, as constituições, alterações contratuais,

fusões, transformações, distratos, nomeação de administradores, dentre outros.

Os “outros atos publicados no Registro Mercantil” seriam empresas que

legalizaram seus livros, depósito de projetos de fusão dentre outros. A segunda

seção do BORME é a parte de anúncios e avisos legais que as empresas devem

publicar por lei, além das comunicações, notificações e trâmites obrigatórios.

O custo das publicações da primeira parte do BORME são cobradas pelo

Registro Mercantil local e repassadas à Agencia Estatal Boletín Oficial del Estado.

Caso o usuário não realize o pagamento o registrador poderá colocar o pedido de

registro em exigência, sanável através do pagamento. Na prática o Registro

Mercantil Territorial é um arrecadador intermediário.

Em relação à segunda seção do BORME, relativo a anúncios e avisos

legais, o pagamento é feito pelos interessados em sua publicação diretamente ao

editor, no caso a Agencia Estatal Boletín Oficial del Estado.

2.12 - OS FUNCIONÁRIOS DO REGISTRO MERCANTIL

Na Espanha, com exceção do registrador, os funcionários possuem uma

relação de trabalho. Diferentemente do Brasil onde os funcionários devem ser

concursados, comissionados ou terceirizados.

Quando foi criado o registro mercantil os funcionários do registro possuíam

uma relação de natureza civil em relação aos registradores. Posteriormente uma

natureza administrativa. Hoje possuem uma relação trabalhista. Os Oficiais e

Auxiliares conheceram durante um século e meio três naturezas jurídicas

diferentes e ainda se pensam em mudanças.

O Tabelião ou Registrador, no caso do Registro Mercantil, é hoje

considerado empresário, e dada a natureza trabalhista espanhola, negocia os

convênios coletivos. Dessa forma um servidor público, como o tabelião, é

considerado empresário. Essa natureza híbrida de empresário e servidor que

ocasiona até hoje confusões perante os tribunais e acordos coletivos.

Essa posição atual é fruto de uma Sentença do Tribunal Central do

Trabalho de 11 de novembro de 1987 ao reconhecer que existe uma relação de

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trabalho. Entende que dentro da relação entre Registradores e empregados

existem: 1-Vontade e distância; 2-Dependência e Subordinação; 3-Caráter de

retribuição na prestação de serviços; 4- Se elimina o caráter legal administrativo

da relação da mesma com fundamento na Constituição de 1978. Além dessa

Sentença existe uma mais recente do Supremo Tribunal de 19 de março de 1990

onde se reconhece a existência de contrato de trabalho na relação entre

registradores e seus empregados.

Diante de uma posição uniforme da jurisprudência contrária ao

Regulamento Orgânico do Corpo de Oficiais e Auxiliares dos Registro, o mesmo

foi derrogado em 28 de junho de 1993. A solução encontrada foi negociar um

convênio coletivo próprio entre as partes. Assim nasceu o I Convênio Coletivo

Nacional de Registradores da Propriedade e Mercantis de 29 de julho de 1992,

convênio vigente até hoje. Já existem negociações para um segundo acordo

coletivo. Atualmente se discute a formação dos empregados do Registro

Mercantil, com a possibilidade de convênios com algumas universidades para a

formação e promoção desses funcionários.

Como vimos a relação entre os registradores e seus trabalhadores foi

conturbada. Tudo isso em função de que o Registrador é uma figura complexa

que junta qualidades administrativas, como funcionário público e laboral como

empresário. É funcionário pois está funcionalmente enquadrado no Ministério da

Justiça e presta funções públicas, ainda que estas mais como particular, e daí a

dificuldade da sua situação.

A natureza de funcionário público se justifica por vários aspectos: é um

funcionário que não recebe salário; seu sistema de ingressos é controlado pelo

Estado; o regime de incompatibilidades é igual ao resto dos funcionários públicos;

dependem da Direção Geral dos Registros e dos Notários, órgão administrativo

do Ministério da Justiça; possui inamovibilidade.

Tendo em vista os fatores elencados trata-se de um funcionário público a

frente de um ente público, o Registro Mercantil submetido a vigilância e disciplina

da Direção Geral dos Registros e do Tabelionato. Sua principal função pública é a

análise jurídica dos documentos que se registram em seu cartório.

Por outro lado, o registrador possui outras características que afastam seu

caráter público para posicioná-lo no privado. A responsabilidade civil por atos ou

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omissões próprios ou derivados das pessoas que se encontram sob sua

responsabilidade. A retribuição pelo sistema de “arancel” recebido diretamente

dos particulares. Vale ressaltar que desta retribuição seus funcionários recebem

uma participação, gerando com isso uma alta eficácia, comparado com outros

serviços públicos.29 Em terceiro lugar a propriedade dos meios materiais são do

próprio Registro ou Registrador, já que é ele que arca com os gastos necessários

para seu funcionamento e conservação. Somente são propriedade do Estado os

livros de Registro, no entanto, é o Registrador quem os compra.30 Dessa forma

juridicamente estamos diante de uma empresa sem sombra de dúvidas,

organização de meios materiais e humanos, destinada a função de registro. Em

quarto lugar, o fato dos funcionários estarem formados por empregados sob sua

responsabilidade determina ainda mais o caráter privado da figura do registrador.

Em último lugar a obrigação de se associar ao Colégio Nacional de Registradores

da Propriedade, Mercantis e de Bens Móveis da Espanha.

Em ambos os aspectos tratados a figura do registrador se caracteriza como

um empresário delegado pela Administração Pública. Sua condição de

empresário se caracteriza pelo Convênio Coletivo, ao ser empregador e organizar

bem como distribuir o trabalho entre seus funcionários.

Os trabalhadores em linhas gerais se dividem duas categorias. O de

Oficial, Auxiliar de Primeira e Auxiliar de Segunda. Deverão possuir o segundo

grau completo ou equivalente (título de técnico), sendo os oficiais que

desempenham as funções de nível técnico mais elevado. A categoria máxima, a

de Oficial, somente se obtém mediante promoção profissional desde o Auxiliar de

Primeira, reunindo três requisitos: referências favoráveis do Registrador,

superação das provas de aptidão e haver prestado serviços como Auxiliar de

Primeira durante cinco anos. Da mesma forma se produz a ascensão de Auxiliar

de Primeira para Auxiliar de Segunda.

A outra categoria é o Pessoal Auxiliar, formado por Subalternos e

Especialistas. Os primeiros são os “Office Boy” ou similares que não necessitam

de formação acadêmica alguma para serem contratados. Já os especialistas 29 O sistema de “arancel” se justifica, pois ao final quem se beneficia são os usuários que necessitam utilizar-se do registro e por consequência logicamente eles que devem suportar os gastos tendo em vista tratar-se de interesses particulares. 30 Dessa forma juridicamente estamos diante de uma empresa sem sombra de dúvidas, organização de meios materiais e humanos, destinada a função de registro.

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seriam os Informáticos, Secretários, Contadores e os Telefonistas, isto é, exercem

única e exclusivamente funções diferentes a dos Oficiais e Auxiliares e possui

como requisito a titulação necessária para o desenvolvimento de sua função.

O aspecto mais interessante dos funcionários do registro espanhol é seu

sistema salarial. De um lado temos os assalariados que são os Auxiliares de

Segunda e os Subalternos e Especialistas. Porém o que gera curiosidade são os

trabalhadores remunerados mediante um sistema de comissão percentual. Este é

um sistema de retribuição atípico aos padrões espanhóis e de avançado conteúdo

social.

Por se tratar de uma retribuição percentual não possuem uma estrutura

salarial convencional, isto é, com salário base conforme categoria profissional e

complementos. Possuem um salário bruto calculado sobre os ingressos líquidos

do Registro. Isso leva a diferentes valores remuneratórios em cada um dos

registros.

Esse sistema já foi questionado, porém o Convênio resolveu mantê-lo

devido a constatação de que os funcionários se dedicam mais. Sua permanência

ao longo dos anos é uma prova da sua eficiência. Esse sistema é o que

popularmente se chama de participação nos lucros. No caso específico do

Registro os ingressos líquidos resultam da retirada em cima do bruto dos gastos

com o INSS e ao Colégio de Registradores. Assim obtidos os ingressos líquidos

se destinarão ao máximo 40% ao pagamento desses empregados.

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CONCLUSÃO

Analisando o Registro de Empresas brasileiro e espanhol, obtivemos o

conhecimento do funcionamento destes. Como já dito na introdução, não

pretendíamos uma comparação, mas uma breve análise dos dois sistemas. No

entanto, o presente trabalho permite avaliar as principais características dos dois

sistemas de registro.

O Registro de Empresas espanhol merece consideração, pois é mais

simples, mais seguro, mais barato e principalmente despolitizado em seus

arquivamentos.

Mais simples pois os contratos (maioria dos arquivamentos) são realizados

em um cartório juntamente com um tabelião que conhece os requisitos mínimos

de legalidade de um contrato. Dessa forma, além de evitar fraudes, o contrato ou

documento tem fé pública. Após esse estágio leva-se ao registro que vai atestar

os requisitos mínimos da legalidade e autenticidade.

Como o contrato ou o documento já foi realizado perante um tabelião,

dificilmente ao ser levado a registro será posto em exigência para o cumprimento

de uma exigência que fere a legalidade. Por outro lado, caso seja negado o

arquivamento devido ao um vício de legalidade o pedido de arquivamento será

devolvido ao “cliente” para que o corrija. Se a exigência for descabida e ilegal o

registrador responderá pelo prejuízo ocasionado ao empresário.

Ao observar o valor do “arancel” espanhol com as taxas de algumas Juntas

Comerciais Brasileiras (o preço é diferenciado em cada Estado somente a taxa

federal possui o mesmo valor) constatamos a disparidade de custo entre ambos

os países. O “arancel” espanhol é muito mais barato mesmo possuindo uma

natureza híbrida entre o público e o privado como já explicado.

Quanto a parte política o Registro de empresas espanhol é completamente

independente. O registrador cumpre a lei. Caso a empresa possua problemas ao

arquivar um ato poderá recorrer a outro órgão igualmente despolitizado como

tivemos oportunidade de observar.

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O Registro de empresas brasileiro é arcaico. Entendemos ser de suma

importância para o país que juristas, contadores, servidores, empresários e

políticos debatam o tema. Existe inclusive recente projeto de lei que entendemos

ser um tanto quanto presunçoso. Posto que não foi debatido com os

representantes de cada classe. Alvo constante de reclamações por parte de

usuários e empresários o registro de empresas operado pelas Juntas Comerciais

é altamente politizado, caro, burocrático e passível de fraude.

No Brasil entendemos que o lado político vem prejudicando os

empresários, contadores e advogados. Os atos levados a recurso, após sofrerem

o indeferimento, serão julgados por uma decisão plenária composta por vogais

elegidos politicamente e que na sua maioria (salvo raras exceções) não são

tecnicamente preparados para tal, ou seja, julgam politicamente. Como podem

representantes de classe analisar politicamente a legalidade de atos levados a

registro em pleno século XXI? Isso prova o quanto o Brasil está atrasado em

matéria de Registro de empresas.

O valor das taxas cobradas para o arquivamento de atos é algo

exorbitante. Além disso, paga-se uma taxa estadual e uma federal. O preço da

taxa federal chega a ser dez vezes inferior ao valor das taxas estaduais. Isso

demonstra a tese do alto valor cobrado pelos estados. Se não bastasse isso o

dinheiro arrecadado com as taxas estaduais não é utilizada somente pela

autarquia (juntas comerciais) para melhorar seus serviços e retribuir melhor seus

servidores. As receitas são utilizadas em outras áreas que nada dizem respeito ao

empresário e servidores.

Quanto a burocracia vimos no presente trabalho a quantidade de Leis,

Instruções Normativas, Portarias, Ordens de Serviço aplicadas. Não criticamos as

Leis que são boas e resolvem bem a questão do registro. O que causa confusão

entre usuários, advogados, contadores, empresários e até mesmo servidores são

as Instruções Normativas, Portarias e Ordens de Serviço. Como cada junta

aplicava as leis conforme sua interpretação o DNRC buscou uniformizar a

aplicação das leis través das Instruções Normativas. Não foi feliz, pois cada

Estado da Federação interpreta as Instruções Normativas através Portarias e

Ordens de Serviço. Ou seja, o registro de empresas no Brasil além de não ser

uniforme em todo o país é altamente confuso, caro e burocrático. Isso leva a

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muitos empresários a desistirem de abrir seu negócio ou até mesmo de encerrar

formalmente sua empresa.

As fraudes existem, pois raríssimas vezes são punidas. Constata-se que os

reconhecimentos de firma são falsificados cada vez mais. Muitas vezes as

falsificações são gritantes. Com o tempo percebemos que os falsificadores estão

tornando as falsificações cada vez mais difíceis de serem percebidas. A solução

em um primeiro momento seria a realização dos contratos e documentos através

de instrumento público. Posteriormente os cartórios poderiam enviar os contratos

e documentos online as Juntas comerciais mediante sistemas de segurança.

Entendemos que a parceria seria bem vinda pelos cartórios, Juntas

Comerciais e usuários. Em um primeiro momento poderia parecer mais caro e

mais burocrático. No entanto, o usuário entraria no cartório com seu advogado

faria seu contrato com a certeza de que não terá folhas substituídas e dificilmente

cairia em exigência devido ao conhecimento dos cartórios nos requisitos legais de

um contrato. Passo seguinte seria abrir seu email e ter seu contrato pronto. Seria

altamente seguro, confortável, cômodo e barato. Através de convênio com

Prefeituras o empresário receberia sua empresa pronta em seu computador ou

celular em qualquer parte do país seja em uma grande capital ou uma pequena

cidade do interior.

No ranking de ambiente de negócios do Banco Mundial o Brasil possui as

seguintes posições: 156ª no pagamento de tributos, 121ª para abrir uma empresa,

116ª na execução de contratos, 109ª registro de propriedades, 104ª obtenção de

crédito. Abrir uma empresa no Brasil é um martírio que dura 119 dias, contra uma

média de 53 na América Latina e três em Singapura. O número de procedimentos

necessários espanta: são treze, contra nove na região e cinco nos países

desenvolvidos.

Encerramos essa análise entre os sistemas de registro no intuito de

demonstrar que é possível melhorar o registro de empresas no Brasil e até

mesmo na Espanha através da tecnologia. O Brasil possui essa qualidade, basta

citar como exemplo a realização de nossas eleições e o sistema bancário. Um

sistema de registro eletrônico seria muito mais simples que nosso sistema

eleitoral e bancário. Nas juntas comerciais informatizadas seria possível obter

alvarás de funcionamento pela internet. É necessário integrar também todos os

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órgãos, porém isso deveria ser realizado pelo governo federal (inclusive as Juntas

deveriam ser federalizadas). As ferramentas já existem basta aplicá-las.

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BIBLIOGRAFIA

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Secretaria de Assuntos Legislativos.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 9

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

O REGISTRO DE EMPRESAS NO BRASIL 12

1.1. História 12

1.2. Legislação 12

1.3. O funcionamento do Registro Público de empresas no Brasil 16

1.4. Atos de Registro 21

1.5. Estrutura das Juntas Comerciais 23

1.6. Do Regime de Decisão 25

1.7. Cooperativas 29

CAPÍTULO II

O REGISTRO DE EMPRESAS NA ESPANHA 31

2.1. História 31

2.2. Legislação 32

2.3. Organização territorial espanhola 33

2.4. Organização Geral 34

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2.5. O Registro Mercantil Territorial 34

2.6. A avaliação dos atos levados ao registro e o registrador 36

2.7. A análise do registrador aos documentos levados ao registro 37

2.8. Trâmite dos atos a serem arquivados 39

2.9. Trâmite após a análise do documento 40

2.10. Recurso 42

2.11. O Registro Mercantil Central 43

2.12. Os funcionários do Registro Mercantil 46

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA 54