agroindÚstria familiar rural - entraves

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Agroindústrias Familiares Rurais: caracterização dos empreendimentos e entraves para o desenvolvimento da atividade no município de Cachoeira do Sul/RS ATIYEL, Carima¹; GUIMARÃES, Gisele² Palavras - chave: Agricultura Familiar, Agroindústria Familiar Rural, Processamento de alimentos. Resumo: O tema abordado neste trabalho refere-se à Agroindústria Familiar Rural, segmento que desempenha importante papel na geração de renda e diversificação da propriedade rural. O trabalho tem por objetivo caracterizar as agroindústrias familiares de Cachoeira do Sul, cidade localizada a 196 km da capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e elencar os principais entraves para o desenvolvimento da atividade no município. Foram analisadas dez agroindústrias familiares processadoras de matéria-prima de origem vegetal e animal, segundo às condições de legalização, mão-de-obra utilizada no empreendimento, trabalho da mulher e abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local. O método escolhido para a realização desta pesquisa foi observação direta intensiva, técnica de coleta de dados para a obtenção de informações que utiliza os sentidos para a obtenção de determinado aspecto da realidade (Lakatos, 2001). Utilizou-se um questionário semi-estruturado contendo dezenove questões, previamente testadas para assegurar que estas estivessem claras e de fácil compreensão, para dez entrevistados, todos produtores rurais e proprietários de agroindústrias no município. A realização das entrevistas ocorreu entre os meses de maio de 2013 e agosto de 2013, em Cachoeira do Sul, no local onde as atividades agroindustriais são exercidas pelos entrevistados. Referente ás condições de legalização das dez agroindústrias questionadas, apenas três conseguiram se formalizar, a mão-de-obra utilizada no empreendimento é de base familiar, o trabalho da mulher é basicamente empregado no processamento e não na gestão do empreendimento e a abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local é pequena. Entre os principais entraves citados pelos entrevistados para o desenvolvimento da atividade agroindustrial no município estão a dificuldade de acessar crédito, falta de extensão rural e assistência técnica, pouca mão-de- obra disponível no meio rural, pouca matéria-prima para o processamento, dificuldade para adequar-se à legislação vigente, ausência de empresas locais fornecedoras de máquinas e equipamentos específicos para agroindústrias, falta de cursos no município para capacitação da mão-de-obra e de gestão para a Agroindústria Familiar Rural e ausência de marketing para a visibilidade dos produtos agroindustriais de Cachoeira do Sul. O propósito deste trabalho vai além da caracterização das agroindústrias e do levantamento dos principais entraves encontrados pelos produtores rurais para desempenhar as suas atividades agroindustriais com sucesso. ___________________________________________________________________ ¹ Mestranda do Programa de Pós Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria (PPGExR/UFSM). ² Professora Doutora da Universidade Federal de Santa Maria UFSM).

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Page 1: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

Agroindústrias Familiares Rurais: caracterização dos empreendimentos e

entraves para o desenvolvimento da atividade no município de Cachoeira do Sul/RS

ATIYEL, Carima¹; GUIMARÃES, Gisele²

Palavras - chave: Agricultura Familiar, Agroindústria Familiar Rural, Processamento de alimentos. Resumo: O tema abordado neste trabalho refere-se à Agroindústria Familiar Rural, segmento que desempenha importante papel na geração de renda e diversificação da propriedade rural. O trabalho tem por objetivo caracterizar as agroindústrias familiares de Cachoeira do Sul, cidade localizada a 196 km da capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e elencar os principais entraves para o desenvolvimento da atividade no município. Foram analisadas dez agroindústrias familiares processadoras de matéria-prima de origem vegetal e animal, segundo às condições de legalização, mão-de-obra utilizada no empreendimento, trabalho da mulher e abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local. O método escolhido para a realização desta pesquisa foi observação direta intensiva, técnica de coleta de dados para a obtenção de informações que utiliza os sentidos para a obtenção de determinado aspecto da realidade (Lakatos, 2001). Utilizou-se um questionário semi-estruturado contendo dezenove questões, previamente testadas para assegurar que estas estivessem claras e de fácil compreensão, para dez entrevistados, todos produtores rurais e proprietários de agroindústrias no município. A realização das entrevistas ocorreu entre os meses de maio de 2013 e agosto de 2013, em Cachoeira do Sul, no local onde as atividades agroindustriais são exercidas pelos entrevistados. Referente ás condições de legalização das dez agroindústrias questionadas, apenas três conseguiram se formalizar, a mão-de-obra utilizada no empreendimento é de base familiar, o trabalho da mulher é basicamente empregado no processamento e não na gestão do empreendimento e a abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local é pequena. Entre os principais entraves citados pelos entrevistados para o desenvolvimento da atividade agroindustrial no município estão a dificuldade de acessar crédito, falta de extensão rural e assistência técnica, pouca mão-de- obra disponível no meio rural, pouca matéria-prima para o processamento, dificuldade para adequar-se à legislação vigente, ausência de empresas locais fornecedoras de máquinas e equipamentos específicos para agroindústrias, falta de cursos no município para capacitação da mão-de-obra e de gestão para a Agroindústria Familiar Rural e ausência de marketing para a visibilidade dos produtos agroindustriais de Cachoeira do Sul. O propósito deste trabalho vai além da caracterização das agroindústrias e do levantamento dos principais entraves encontrados pelos produtores rurais para desempenhar as suas atividades agroindustriais com sucesso. ___________________________________________________________________ ¹ Mestranda do Programa de Pós – Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa

Maria (PPGExR/UFSM). ² Professora Doutora da Universidade Federal de Santa Maria UFSM).

Page 2: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

Introdução

A agricultura familiar no Brasil destaca-se pela produção de alimentos e aliada a

atividade agroindustrial desempenha um importante papel para o desenvolvimento

rural local de várias regiões brasileiras.

Para Wanderley (2001) o conceito de rural e ruralidade não está exclusivamente

associado à dimensão agrícola e não pode ser entendido como um resíduo atrasado

do urbano, pelo contrário, a visão de rural e de ruralidade se destaca positivamente

pela diversidade e multifuncionalidade do espaço rural e possui papel importante

para o desenvolvimento do País.

O rural é entendido por Wanderley, como um espaço social complexo,

considerado espaço de produção e de atividades econômicas, espaço de vida e

organização social e política, espaço de produção de cultura e espaço de relação

com a natureza. Seria um grande engano visualizar o rural de forma homogênea

sem levar em consideração a diversidade existente, a potencialidade e o seu papel

de destaque na garantia da segurança alimentar internacional.

A Agricultura Familiar é um importante segmento do Agronegócio do País e é

responsável, segundo dados do último Censo Agropecuário (2006), por 4,3 milhões

de unidades produtivas que representam 84% dos estabelecimentos rurais do país e

33% do PIB Agropecuário e emprega 74% da mão de obra no campo. Além disso, a

Agricultura Familiar é um setor estratégico para a garantia da soberania alimentar do

Brasil e para a construção do desenvolvimento sustentável.

Na década de 90, o Brasil passa a considerar a Agroindústria Familiar Rural

(AFR) como uma eficiente estratégia de desenvolvimento rural, originando assim,

além do aprofundamento do conhecimento a cerca da Agricultura Familiar,

conhecimento e políticas públicas específicas para o segmento agroindustrial

(MALUF, 2009).

A Agroindústria Familiar Rural sempre existiu no Brasil atuando em harmonia

com a atividade agrícola, envolvendo numa só atividade aspectos culturais, sociais,

econômicos e ambientais e na maior parte dos casos, os produtores rurais

beneficiam a própria produção agrícola da propriedade gerando renda extra aos

grupos familiares.

A agregação de valor à matéria-prima através da agroindustrialização da

produção agrícola da Agricultura Familiar amplia a renda das famílias envolvidas no

Page 3: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

processo, aproximando os produtores aos consumidores na oferta de produtos de

qualidade e preços acessíveis em função da diminuição de intermediários para a

realização da comercialização. Consequentemente há um aumento na demanda por

produtividade, que embora reduza os custos de produção, pressupõe a necessidade

de melhor gestão da propriedade rural (PREZOTTO, 1997).

A Agroindústria Familiar Rural é definida pela Federação dos Trabalhadores na

Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG/RS, 2007) como uma construção civil

empregada para o beneficiamento/processamento de matérias-primas

agropecuárias, em que o destino final da produção é a comercialização. A mão-de-

obra deverá ser exclusivamente da família e sua localização ser preferencialmente

no meio rural.

Alguns autores vêm ao longo dos anos definindo conceitos para caracterizar

agroindústrias rurais de pequeno porte como: pequena agroindústria, agroindústria

familiar, pequeno estabelecimento de industrialização de alimentos, agroindústria de

pequena escala, agroindústria caseira e agroindústria artesanal (Prezzoto, 2002).

Mas segundo trabalho elaborado por Guimarães & Silveira (2007), devido à falta de

clareza das definições, há uma proposta para denominar os diferentes tipos de

estabelecimento conforme a relação com a agricultura, a relação com o mercado, a

relação com a validação legal e seus aspectos culturais. Estes autores classificam

“Agroindústria Caseira”, aquela que não possui equipamentos específicos e

comercializa o excedente de sua produção no comércio local de onde está inserida,

trabalhando na informalidade e sem controle sanitário. Enquanto que a

“Agroindústria Familiar Artesanal” possui produtos típicos da culinária

característica da região onde está situada e atinge mercado local e regional, segue

as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e busca o aperfeiçoamento destas práticas,

prezando pelo “saber fazer” herdado por gerações. Ainda há a definição de

“Agroindústria Familiar de Pequeno Porte”, um estabelecimento convencional de

pequena escala que se assemelha aos parâmetros de grandes indústrias de

alimentos em relação às questões sanitárias. Surge como uma oportunidade de

renda para uma família ou um grupo de famílias e não há nenhum saber fazer

herdado e sim técnicas adotas da tecnologia de alimentos; estas agroindústrias

atingem mercados locais e regionais, tendo potencial de atender também o mercado

nacional.

Page 4: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

É inegável a contribuição que as AFRs desempenham onde estão inseridas,

contribuindo em muitos casos, para o aumento da renda familiar, com a participação

da mulher e do jovem nas atividades da propriedade, para a melhoria de vida das

pessoas envolvidas e como estratégia para evitar o êxodo rural (BATALHA, 1997).

Conforme Prezotto (2002) primeiramente a maioria das Agroindústrias inicia

suas atividades à margem dos processos legais e comercializa seus produtos de

forma experimental e em pequena escala, sendo essa fase, um período importante

de aprendizado e aquisição de experiência. No entanto, quando o processamento

deixa de ser uma atividade ocasional e passa a seguir a lógica da legalização, a

função que a AFR desempenha, de diversificação da produção e da economia na

propriedade, endireita-se para o caminho da especialização para atender os

processos de legalização tributária/fiscal, ambiental e sanitária.

Relativo ao processo de agroindustrialização Amorim e Staduto (2008) citam

que este procedimento não representa a solução para todos os problemas e

necessidades da família no meio rural, mas deve ser entendido como uma

alternativa, um conjunto de ações articuladas entre os atores sociais, organizações

públicas e privadas e o território na busca da pluriatividade.

O conceito de “pluriatividade” é definido por Schneider (2007) como:

“O conceito de pluriatividade adota a família como unidade de análise introduzindo no centro das atenções as atividades não-agrícolas exercidas pelos membros da família – independente de serem desempenhadas dentro ou fora da exploração agrícola. O termo pluriatividade se refere à análise das atividades realizadas, em adição à atividade agrícola strictu sensu, tais como o assalariamento em outras propriedades, o processamento de alimentos, outras atividades não-agrícolas realizadas na propriedade, como o turismo rural e as atividades fora da fazenda, referentes ao mercado de trabalho urbano, formal ou informal. Enfim, trata-se, grosso modo, da combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas no interior da unidade familiar – dentro ou fora do estabelecimento.”

Este trabalho enfatiza a importância da Agroindústria Familiar Rural na

contribuição para a diversidade do espaço rural e destaca os principais entraves

encontrados para o desenvolvimento da atividade agroindustrial, na visão do

produtor rural do Município de Cachoeira do Sul, cidade localizada a 196 km da

capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, que possui atualmente,

Page 5: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

no ano de 2010, 83.827 habitantes, sendo 12.127 moradores da zona rural.

A pesquisa ainda retrata uma breve caracterização de dez agroindústrias

familiares rurais do Município, processadoras de matéria-prima de origem vegetal e

animal, segundo às condições de legalização, mão-de-obra utilizada no

empreendimento, trabalho da mulher e abrangência dos produtos agroindustriais no

mercado local.

O método escolhido para a realização desta pesquisa foi observação direta

intensiva, técnica de coleta de dados para a obtenção de informações que utiliza os

sentidos para a obtenção de determinado aspecto da realidade. Conforme Lakatos

(2001) esta técnica não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar

fatos e fenômenos que se desejam estudar, obrigando o investigador a ter um

contato mais direto com a realidade e, ao mesmo tempo, ajuda o pesquisador a

obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos orientam o seu

comportamento. A observação direta intensiva é realizada através de duas técnicas:

observação e entrevista. A entrevista tem como objetivo principal a obtenção de

informações do entrevistado(a), sobre determinado assunto ou problema. Segundo

Selltiz (1965), a entrevista serve para averiguação de fatos, determinação de

opiniões sobre fatos, determinar sentimentos, revelar a conduta atual ou do passado

de um grupo ou de indivíduos e ainda descobrir quais fatores podem influenciar nas

opiniões, nos sentimentos e nas condutas e o seu porquê.

Um questionário semi-estruturado contendo dezenove questões, previamente

testadas para assegurar que estas estivessem claras e de fácil compreensão, foi

aplicado a dez entrevistados, todos produtores rurais e proprietários de

agroindústrias no Município. A realização das entrevistas ocorreu entre os meses de

maio de 2013 e agosto de 2013, em Cachoeira do Sul, no local onde as atividades

agroindustriais são realizadas pelos participantes da entrevista.

Após a coleta, tabulação, análise e interpretação, os dados foram redigidos e

sintetizados, o que segue.

1. Caracterização das Agroindústrias do Município de Cachoeira do Sul: condições de legalização, mão-de-obra utilizada no empreendimento, trabalho da mulher e abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local.

Page 6: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

Todas as agroindústrias analisadas processam alimentos a menos de dez anos,

nenhuma edificação ultrapassa a área construída de 250 m² e a agroindústria, em

todos os casos, é a maior fonte de renda financeira dos produtores.

Seis das dez agroindústrias referidas neste trabalho processam matéria-prima de

origem vegetal, duas são de vegetais minimamente processados, uma de sucos e

geleias, uma de melado e mel e duas são panificadoras; enquanto quatro processam

matéria-prima de origem animal, sendo que destas, três processam leite e uma é um

entreposto de ovos.

2.1. Condições de Legalização

A legalização é vista pelos entrevistados como um processo importante que

possibilita a comercialização dos produtos agroindustriais no comércio local sem

restrições e possibilita a inserção dos agricultores em mercados institucionais como

o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), porém como será

apresentado adiante, citam a formalização do empreendimento como um dos

entraves ao desenvolvimento de suas agroindústrias, devido à burocracia e a falta

de apoio das Instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) do

Município.

Dos dez empreendimentos analisados, três são legalizados, um pelo Serviço

de Inspeção Municipal (SIM) e os demais são participantes do Programa Estadual

de Agroindústrias do Estado. Outras cinco estão em fase final para a legalização e

duas não possuem condições estruturais para atender a legislação vigente.

As três agroindústrias legalizadas, até o momento, são as que correspondem

pelo maior tempo de atividade agroindustrial no Município.

Gráfico 1: Agroindústrias Legalizadas no Município de Cachoeira do Sul

3

7

Agroindústrias Legalizadas

Legalizadas

Não Legalizadas

Fonte: Atiyel, 2013.

Page 7: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

2.2 Mão-de-obra utilizada no empreendimento

Das dez agroindústrias analisadas, duas são formadas por grupos de

mulheres rurais que contam com a mão-de-obra das associadas que, em parte,

possuem parentesco e as oito agroindústrias restantes possuem mão-de-obra de

base familiar.

Não há em nenhum dos casos a contratação extra de mão-de-obra além dos

integrantes do grupo familiar.

2.3 Trabalho da Mulher

Segundo Valdete Boni (2004) mestre em sociologia política, as propriedades

rurais apresentam uma clara divisão do trabalho, ficando com o homem, o papel de

“chefe da família” e de responsável pela unidade de produção e cabendo à mulher

um papel secundário nesta organização mesmo realizando as mesmas tarefas do

marido. Com relação às mulheres, o trabalho que antes era feito nas lavouras, passa

a ser realizado próximo a casa, permitindo compatibilizar melhor esta atividade com

os afazeres domésticos e demais responsabilidades tidas como femininas. A

proximidade entre esses trabalhos, o “produtivo” e o “reprodutivo”, acaba por

confundi-los, fazendo com que as tarefas ligadas às agroindústrias sejam

consideradas quase como uma extensão do doméstico.

Ao questionar os dez entrevistados sobre quais eram as funções femininas e

as funções masculinas realizadas na unidade de produção relativo à produção

agrícola e a produção agroindustrial obteve-se os seguintes resultados:

Duas agroindústrias são compostas somente por grupos de mulheres

(panificadoras), das quais adquirem matéria-prima de terceiros e assumem

todas as demais funções (gestão, comercialização, processamento, entregas,

participação em reuniões, contabilidade, limpeza, tomada de decisões, entre

outras);

Uma agroindústria não conta com a disponibilidade de mão-de-obra feminina

(entreposto de ovos) em nenhuma etapa das atividades desenvolvidas;

Em seis casos dos dez entrevistados, nas duas agroindústrias de vegetais

minimamente processados, na agroindústria de melado e nas três que

Page 8: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

processam leite, as mulheres se responsabilizam pelas etapas de produção

agroindustrial, somente no que se refere ao processamento e limpeza,

ficando a cargo dos homens a realização das demais atividades;

Em um dos casos, a agroindústria de sucos e geleias, a administração do

empreendimento, a comercialização, além da limpeza e o processamento fica

a cargo das mulheres, enquanto as demais atividades, como a produção de

matéria-prima, entrega dos pedidos e representação em reuniões, são

desempenhadas pelos homens.

Constata-se assim, que na amostra pesquisada, as mulheres desempenham,

na maioria dos casos, as funções de processamento da matéria-prima e limpeza da

agroindústria e tem menor atuação como gestoras dos empreendimentos.

2.4 Abrangência dos produtos agroindustriais no mercado local

Independente de serem legalizadas ou não, as agroindústrias aqui referidas,

comercializam seus produtos em pontos comerciais do Município e eventualmente

em feiras estaduais, como as organizadas pelo Programa Estadual de

Agroindustrialização, conhecido no Estado como “Sabor Gaúcho”. Somente as

agroindústrias legalizadas ou as em fase final de legalização comercializam seus

produtos em mercados institucionais, como por exemplo, o Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE), fornecendo produtos para as escolas estaduais e

municipais, que são ofertados aos alunos na merenda escolar.

Entre os produtos produzidos e comercializados pelas agroindústrias estão o leite

pasteurizado, bebida láctea, queijo, geleias, sucos, ovos, doce de leite, produtos

panificados, vegetais minimamente processados, polpa de frutas congeladas, mel e

melado. Estes produtos são comercializados, conforme citam os entrevistados, em

supermercados, mini mercados, armazéns, padarias e confeitarias, sorveterias,

feiras e eventos, mercados institucionais e venda direta ao consumidor nas próprias

agroindústrias.

A partir dos dados obtidos nas entrevistas, salienta-se o fato dos

empreendedores legalizados citarem que, em alguns casos, encontram dificuldades

em comercializar seus produtos em pontos comerciais devido à concorrência com a

informalidade dos produtores que não pagam inúmeras taxas e impostos e

Page 9: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

consequentemente conseguem colocar no mercado produtos com um preço inferior

ao praticado.

Conforme opinião dos próprios entrevistados, como não há na maioria das

situações, ações mais incisivas no combate a informalidade por parte do poder

público, as agroindústrias formalizadas acabam perdendo um grande volume de

vendas. Evidencia-se grande descontentamento por parte dos produtores

legalizados neste aspecto.

2. PRINCIPAIS ENTRAVES CITADOS PELOS PRODUTORES AGROINDUSTRIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE AGROINDUSTRIAL NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DO SUL/RS

2.1 Dificuldade para acessar crédito rural

O crédito rural financia o custeio da produção e da comercialização de produtos

agropecuários, estimula os investimentos rurais, incluindo armazenamento,

beneficiamento e industrialização dos produtos agrícolas, além de fortalecer o setor

rural, incentiva a introdução de métodos racionais no sistema de produção.

Conforme dados do Banco Central (2013) os recursos, respeitando os tetos

estabelecidos pelo Governo, podem ser tomados pelos produtores com taxas de

juros inferiores às praticadas pelo Mercado Financeiro, como forma de incentivar a

produção agropecuária no País. Para a Agricultura Familiar, esses encargos

apresentam diferenciais que incluem rebates para os produtores que mantenham

seus compromissos em dia junto aos programas institucionais do Governo.

Porém a pesquisa aqui referida revelou que os produtores rurais de Cachoeira

do Sul, embora percebam que houve um crescimento gradual na oferta de crédito,

alegam que cada vez menos têm acesso a ele. A maioria dos entrevistados revela

que esta dificuldade está principalmente relacionada às limitações impostas pelo

Banco ou pela agência financiadora, citam a falta de garantias patrimoniais e falta de

fiadores como empecilhos para os demandantes do crédito.

Outro ponto relativo ao difícil acesso ao crédito evidenciado pelos entrevistados

é o receio do endividamento, tendo em vista que vários fatores como o climático, o

econômico, a oscilação do mercado e fatores humanos influenciam na tomada de

decisão na hora da contratação do crédito e geram incertezas referentes à quitação

das parcelas, das quais condicionam o produtor a não querer endividar-se.

Page 10: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

Dos dez entrevistados, dois revelaram desconhecer as linhas de crédito

disponíveis para a agricultura familiar e para o segmento agroindustrial, atribuindo à

esta falta de informação, o baixo investimento na produção de matéria-prima e o

pouco investimento na melhoria das agroindústrias.

Um dos entrevistados cita outro fator condicionante para o baixo investimento na

agroindústria, embora revele que conheça as linhas de crédito existentes atualmente

e estaria habilitado a contratá-las, o entrevistado diz dar importância secundária à

atividade agroindustrial devido à idade e ao fato de estar solicitando aposentadoria,

demonstrando assim desinteresse por financiamentos.

Cabe ressaltar ainda que mesmo que o crédito estivesse disponível de forma

mais acessível aos produtores rurais, ainda assim, nem sempre serviria para

impulsionar a produtividade.

Neumann (2002) observa que o crédito poderá ser utilizado na propriedade e

ainda assim não maximizar a produção. Segundo o autor, ao utilizar o dinheiro do

financiamento para comprar uma ordenhadeira mecânica, por exemplo, não haverá

aumento na produção de leite e que, além disso, pode ocorrer a contratação do

crédito e este não se reverter, necessariamente, em investimentos produtivos devido

à demanda de consumo da unidade familiar.

Conforme o autor, o dinheiro pode ser utilizado também para compra de

equipamentos e maquinários que vinham sendo alugados ou emprestados por

terceiros, o que também não representará em aumento imediato da produção.

Ainda que se conquiste através do crédito um maior volume de produção, isso

não significará sempre que haverá maior renda ao produtor rural, devido à variação

de preços dos insumos e dificuldade de comercialização.

Conforme Neumann (2002) o crédito rural foi um dos instrumentos da política

agrícola brasileira utilizados para “induzir” a modernização da agricultura. Porém não

podemos entender o desenvolvimento rural como a modernização agrícola e nem

como industrialização ou urbanização do campo. O desenvolvimento está associado

à ideia de ampliação das capacidades (humanas, políticas, culturais, técnicas, entre

outras) que permitam às populações rurais agirem para transformar e melhorar suas

condições de vida. Para tanto, ter acesso a recursos matérias contribui

fundamentalmente para a ampliação destas capacidades e ter acesso ao crédito

auxilia na criação de condições para facilitar a vida dos produtores rurais.

Page 11: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

2.2 Falta de Assistência Técnica e Extensão Rural

Para coordenar as ações públicas de Ater o Município de Cachoeira do Sul, a

Secretaria de Agricultura e Pecuária dispõe de um Departamento de Assistência

Técnica e Extensão Rural (DATER), a cidade possui também um escritório municipal

da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e um

Departamento de Assistência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR).

Para Batalha (1997) embora a assistência técnica esteja disponível no Brasil

para grande parte dos produtores rurais, ela mostra-se incapaz de atender

plenamente suas necessidades. Diante desta realidade o atendimento técnico aos

produtores rurais tem sido também realizado no Município por empresas

fornecedoras de insumos, que incluem a assistência técnica no pacote comercial,

procedimentos estes que minimizam, mas não resolvem as dificuldades encontradas

pelos produtores.

Quando questionados se recebem assistência técnica referente às questões

agrícolas, todos os entrevistados responderam receber assistência tanto da Emater

como do STR, mas salienta-se, que nenhum dos entrevistados mencionou o DATER

da Secretaria de Agricultura como prestador deste serviço, caracterizando o

departamento, segundo visão dos próprios agricultores, como um espaço da

Prefeitura responsável pela realização de exigências e pela fiscalização dos

empreendimentos rurais.

Referente a receber assistência técnica no que diz respeito à agroindústria, os

entrevistados mencionaram que nunca receberam assistência das instituições do

Município, somente nos últimos meses através do Sindicato dos Trabalhadores

Rurais, que disponibilizou uma Tecnóloga em Agroindústria para atender as

demandas mais urgentes relativas às agroindústrias locais, é que esta assistência

direcionada ao segmento foi ofertada. A maioria dos integrantes das agroindústrias

revela buscar aperfeiçoamento das técnicas necessárias para o processamento dos

alimentos em cursos que não são disponibilizados pelos órgãos de extensão do

Município, havendo a necessidade de deslocamento pra cidades vizinhas, os dados

apontam ainda que apenas um entrevistado contrata assistência técnica paga.

No que tange as questões de gestão do empreendimento e comercialização, os

produtores rurais sentem-se abandonados pelos órgãos extensionistas nestes

aspectos e manifestam profunda insatisfação pela realização de exigências das mais

Page 12: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

variadas ordens, principalmente as legais, onde denunciam estar desamparados e

desinformados de como proceder para juntar toda a documentação solicitada.

No que diz respeito à assistência e capacitação aos agricultores familiares que

adentram ao “universo” das agroindústrias, Guimarães (2011) reproduz em sua tese

o depoimento do Gerente Regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão

Rural (EMATER) de Santa Maria/RS, que justifica as limitações técnicas e

organizacionais da instituição:

“A Emater sempre foi instrumento de uma política pública maior, se

tem uma política que entende que a melhoria de vida da população

rural passa pela qualificação daquilo que eles fazem ou querem fazer,

aí entramos. [...] Hoje, por exemplo, a política para trabalharmos são

as demandas do MDA, onde entramos com ‘x’ visitas já pré-

estabelecidas e tal, tudo isso com o objetivo de não se desperdiçarem

recursos. Mas veja bem, a gente deixa de trabalhar muitas coisas que

percebemos, mas que não fomos contratados para fazer [...] Com

relação ao quadro que temos hoje somos fortes na organização do

processo, planejamento e produção, agora não temos capacitação

para atuarmos de forma eficiente na gestão e comercialização. Esse

é um problema que nós viemos detectando. Por isso parece que

abandonamos os agricultores, mas continuamos lá. Como ele venceu

algumas etapas do processo, entram outras demandas que nós hoje

infelizmente não temos como atender por falta de quadro

especializado. No caso da gestão esse é o problema”. (GERENTE

REGIONAL DA EMATER)

A falta de um agente extensionista que acompanhe o andamento e os

procedimentos das agroindústrias, tanto as estabelecidas como as em fase de

iniciação das atividades, é um fato que origina reclamações e questionamentos por

parte de todos os entrevistados. Os proprietários das agroindústrias são unanimes

em dizer que no Município de Cachoeira do Sul a Assistência Técnica se direciona

somente às questões agrícolas da propriedade rural.

2.3 Falta de matéria-prima para a agroindústria

Para que ocorra diversificação das atividades no campo, na maioria das vezes,

a agroindústria é uma das alternativas mais eficazes para ampliar a renda do

produtor rural, entretanto, nem sempre é fácil manter o ritmo de uma atividade de

transformação, especialmente quando a matéria-prima fica escassa. O problema de

Page 13: AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL - ENTRAVES

ter pouca matéria-prima disponível para ser processado é uma realidade para sete

dos dez entrevistados.

Prezotto (2002) afirma que um dos itens mais importantes de todo o processo

de agroindustrialização, sem dúvida, é a matéria-prima, elemento base para o

projeto do agricultor, pois além de ser uma das exigências para a obtenção de

financiamento, trata-se visivelmente da possibilidade de ampliação do

empreendimento, ou seja, da transição do setor primário para o secundário.

Conforme Prezotto (2002) com a implantação da agroindústria, os agricultores

passam a atuar em duas importantes etapas da cadeia produtiva, os setores

primário e secundário. Aqui começa a se caracterizar a ideia de mudança de papel

da Agricultura Familiar, não mais apenas de produção de matéria-prima, mas, além

disso, de industrialização da sua própria produção agropecuária.

Os agricultores familiares entrevistados também relacionam o baixo volume

de matéria-prima produzido à baixa oferta de mão-de-obra no campo.

Este item será abordado separadamente, a seguida, tendo em vista que a

falta de mão-de-obra no campo é um entrave citado para o desenvolvimento do

segmento agroindustrial pelos entrevistados.

3.4 Falta de disponibilidade de mão-de-obra no meio rural

Todos os entrevistados citam a falta de mão-de-obra, tanto no campo como

na agroindústria, como um empecilho de difícil solução. Levando em consideração o

aumento do êxodo rural ampliado a cada ano e caracterizado com a mudança

(principalmente dos jovens) para as cidades; percebe-se através das respostas que

há uma grande falta de pessoas para atender tanto o segmento primário como o

secundário e conforme os próprios agricultores familiares relatam, caso fosse

possível disponibilizar mão-de-obra extra, aumentariam sua capacidade produtiva.

3.5 Dificuldades em adequar-se a legislação

Atualmente no Brasil existem vários conjuntos de leis que regulamentam a

atividade agroindustrial como a tributária, o enquadramento previdenciário, o

licenciamento sanitário e o licenciamento ambiental.

Esse conjunto de leis (federais, estaduais e municipais) consiste no principal

entrave, segundo relatam todos os dez entrevistados, para a expansão, a

legalização e a comercialização da produção de procedência familiar.

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De acordo com Guimarães (2001) o atendimento das normativas,

especialmente as de natureza sanitárias, representa uma série de dificuldades para

as agroindústrias de pequeno e médio porte, o que explica em parte, o alto grau de

informalidade deste setor.

Os dez entrevistados revelam compreender que a atuação da vigilância

sanitária é de suma importância e que atender às exigências é uma questão

fundamental para adequar-se ao padrão de conformidade e não colocar no mercado

um produto que ofereça risco a saúde do consumidor e que isto, consequentemente,

poderia também afetar a imagem da marca. No entanto, os agricultores familiares

acusam encontrar dificuldades para atender todos os requisitos e sentem-se

desamparados pelas instituições de Ater quando as solicitam para obter auxílio

neste aspecto.

Outro fato salientado pelos entrevistados é que as pequenas agroindústrias

familiares e empresas de pequeno porte que processam matéria-prima de origem

animal tem que recorrer ao Sistema de Inspeção Estadual caso queiram vender

seus produtos nos Municípios vizinhos. Esta condição restringe a expansão das

agroindústrias familiares e empresas de pequeno porte, ocasionando a busca dos

agricultores familiares somente pelo enquadramento junto ao Sistema de Inspeção

Municipal - SIM, pois, em geral, suas exigências são mais brandas que os sistemas

estadual e federal.

Notoriamente é visto que não são poucas as exigências legais a serem

cumpridas pelos agricultores familiares que pretendem se inserir no universo das

agroindústrias e quando esta agroindústria processa matéria-prima de origem

animal, estas exigências multiplicam-se.

Dos estabelecimentos agroindustriais do Município entrevistados, apenas três

são legalizados, outros cinco estão em fase final de legalização e outros dois não

possuem ainda condições estruturais para realizar a formalização.

Quando os entrevistados apontam as questões legais como entraves para o

desenvolvimento de suas agroindústrias, suas falas remetem-se em oito casos, ao

fato de não haver uma legislação diferenciada para as agroindústrias de pequeno

porte que são regidas com os mesmos critérios exigidos para os grandes

empreendimentos.

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3.6 Ausência de empresas locais fornecedoras de máquinas e euipamentos

específicos para agroindústrias

Os entrevistados, particularmente os que processam matéria-prima animal,

evidenciam em suas respostas esta falta de opções do Município, mas não somente

para a realização de orçamentos e sim para a aquisição dos equipamentos e dos

maquinários; principalmente quando esta compra deve ser realizada com algum

grau de urgência devido à substituição de algum equipamento/máquina defeituosos.

A falta de disponibilidade de entrega rápida do equipamento acarreta em um

atraso na linha de produção que podem durar vários dias e, dependendo da

perecibilidade da matéra-prima, esta não poderá ser utilizada posteriormente e

também ocasiona uma deficiência na entrega dos pedidos, acarretando em perdas

financeiras.

A falta de um comércio físico no Município que atenda às necessidades dos

proprietários de agroindústrias remete aos produtores rurais a realização de

compras em lojas virtuais, ação da qual a maioria dos entrevistados, segundo

contam, revelam não possuir muita familiaridade, por não conseguir relacionar

corretamente a capacidade dos equipamentos com suas dimensões e também pela

demora na realização das entregas.

3.7 Falta de Cursos no Município para capacitação da mão-de-obra e de gestão para a Agroindústria Familiar Rural Referente à capacitação da mão-de-obra utilizada na agroindústria, oito

entrevistados contam que para colocar suas agroindústrias em funcionamento,

foram à busca de capacitação como forma e estratégia para potencializar sua

agroindústria, somada à vontade de ampliar sua fonte de renda e de encontrar

outras formas de trabalho.

Os oito entrevistados que revelaram realizar cursos de capacitação contam

que a realização destes cursos foi em outra cidade do estado, na maioria das vezes,

embora os articuladores para a realização dos cursos sejam os agentes

extensionistas do Município.

Relativo à gestão agroindustrial, os agricultores familiares atribuem o

gerenciamento das atividades como um grande desafio. Ressaltam que é necessário

desenvolver capacidades e estratégias para uma gestão eficiente e uma maior

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organização. Os entrevistados acreditam que superando deficiências gerencias do

empreendimento, aumentariam seus ganhos. Para tanto, na opinião dos

entrevistados, se faz necessário a promoção de cursos de capacitação ofertados

pelas entidades do Município.

Identificou-se através do acompanhamento das agroindústrias do Município,

que há uma falta de sintonia entre técnicos e produtores no que diz respeito às

questões ligadas à organização e o planejamento, isto se reflete na oferta de cursos

voltados apenas ao aspecto produtivo-agrícola e na debilidade do gerenciamento do

empreendimento, comprometendo assim, o resultado das atividades agroindustriais.

3.8 Ausência de marketing para a visibilidade dos produtos agroindustriais de Cachoeira do Sul

Os produtores salientam em suas respostas que os moradores do Município

não conhecem os produtos agroindustriais produzidos na cidade e os locais de

venda não possuem destaque na indicação destes produtos.

Quando questionados a respeito da adoção de estratégias eficientes,

principalmente referentes à comercialização, os agricultores evidenciam, em todas

as respostas, total despreparo para enfrentar um mercado tão competitivo.

Nas respostas dos produtores agroindustriais, percebe-se que estes atribuem

a expressão marketing à propaganda de seus produtos.

Os produtores cachoeirenses atribuem a responsabilidade pelo

desenvolvimento de “campanhas de marketing” ao poder público, como forma de

beneficiar os agricultores locais do Município, entretanto, revelam comercializar sem

muita dificuldade toda a produção agroindustrial que a estrutura do empreendimento

e a disponibilidade de matéria-prima os possibilita produzir mensalmente.

Quando os entrevistados citam que a “falta de marketing” é um entrave para o

desenvolvimento das agroindústrias do Município, estão referindo-se a falta de

ações que promovam a divulgação para o consumidor das marcas dos produtos

produzidos em Cachoeira do Sul, fortalecendo assim os produtos elaborados pela

Agricultura Familiar.

3. Considerações Finais

Tendo em vista todos os entraves citados pelos entrevistados, fica evidente

que o Município deve interferir, a fim de proteger, expandir e fortalecer as

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Agroindústrias da Agricultura Familiar, através de políticas públicas específicas e na

adequação da legislação vigente como forma de facilitar a implantação de novos

empreendimentos e utilizar as políticas de compra governamental e mercados

diferenciados para ampliar a comercialização dos produtos agroindustriais.

Compreendendo-se que se faz necessária a flexibilização da legislação e da

fiscalização, que se demonstram inadequadas ao setor e é imprescindível aprimorar

a capacidade de gestão dos agricultores (as) de Cachoeira do Sul.

Outro fato que merece reflexão é referente à atuação do Departamento de

Assistência Técnica e Extensão Rural do Município (DATER), que segundo os

Agricultores Familiares, não possui representatividade significativa perante aos

produtores e deixa a desejar em aspectos fundamentais para o desenvolvimento do

setor agrícola e agroindustrial do Município. A exemplo disso cita-se os

entrevistados que desconhecem as linhas de crédito disponíveis para a Agricultura

Familiar por não ter acesso a esta informação, a demora para obter a legalização,

tendo em vista inúmeras cobranças do departamento e baixa ou nenhuma ajuda ao

produtor rural para solucionar estas questões relativas ao atendimento da

legislação, a falta de matéria-prima para as agroindústrias, já que sem um

planejamento para obter-se harmonia entre produzir e processar e auxílio para uma

eficiente gestão, a produção agrícola fica em segundo plano,

Tendo em vista o que diz respeito às agroindústrias, os entrevistados

mencionam não receber Assistência Técnica das instituições do Município,

demonstrando profundo descontentamento com este fato.

Salienta-se que este trabalho tem a intenção de contribuir, mesmo que

minimamente, para reflexões a cerca da atual situação que os Agricultores

Familiares, principalmente os pertencentes ao universo agroindustrial, estão

inseridos. Faz-se urgente a modificação de alguns paradigmas enraizados nos

prestadores de Assistência Técnica do Município e Extensão Rural para que a

Agricultura Familiar se fortaleça e demonstre toda a sua potencialidade.

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