caxambu, turismo além das Águas - potencialidades e entraves

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Curso de Especialização em Turismo e Desenvolvimento Sustentável Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Geociências Departamento de Geografia Yash Rocha Maciel CAXAMBU, TURISMO ALÉM DAS ÁGUAS MINERAIS. POTENCIALIDADES E ENTRAVES. Belo Horizonte 2008

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This study makes a diagnosis of the city of Caxambu, in terms of physical, biotic and socio-economic and presents the problems and the important points to the municipality to restart the function to attract businesses, thoughts and actions towards its main economic and tourism topics. Caxambu is favorably positioned in the geographical context of the state of Minas Gerais, but the lack of a democratic and technical planning has made the city lost the focus of its development. Surrounded by attractive factors such as mountains, waterfalls, remnants of rainforest and cerrado, in addition to its mineral waters and its friendly people, not only Caxambu, but all municipality members of the Circuito das Águas have a lack of incentive by the planners of the public, private , academics and NGOs sectors. For the true potential that exists in the southern region Minas Gerais don’t be a distant possibility of more development.

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Page 1: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

Curso de Especialização em Turismo e Desenvolvimento Sustentável

Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Geociências

Departamento de Geografia

Yash Rocha Maciel

CAXAMBU, TURISMO ALÉM DAS ÁGUAS MINERAIS.

POTENCIALIDADES E ENTRAVES.

Belo Horizonte

2008

Page 2: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

Curso de Especialização em Turismo e Desenvolvimento Sustentável

Yash Rocha Maciel

Caxambu, turismo além das águas minerais. Potencialidades e entraves.

Monografia apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Turismo e Desenvolvimento Sustentável

Orientador: Prof. Dr. Allaoua Saadi

Belo Horizonte

Instituto de Geociências da UFMG 2008

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EPÍGRAFE

“a paisagem estudada sobre o ponto de vista estético deve fugir daquela genuinamente

“bela” e profana que é montada como um cenário”

Mariana Lacerda

Page 4: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

Agradecimentos Agradeço,

primeiramente a Deus por todas as bênçãos que me concedeu, aos meus pais, Paulo Maciel

Junior e Sandra Chaves Rocha, a minha avó Maria Lúcia Chaves Rocha, minha tia Sônia

Chaves Rocha e meus irmão Yam Lucas Maciel e Yuri Chaves que sempre me apoiaram em

cada etapa da minha vida, me ajudando e incentivando. Ao meu orientador Professor Allaoua

Saadi pela paciência e conversas que muito me ajudaram a prosseguir os estudos nesta área. A

todos os professores do curso de Turismo e Desenvolvimento Sustentável, pela contribuição

em minha formação das mais diferentes maneiras (aulas, trabalhos de campo, exemplos de

vida,...). Ao colega de sala Rodrigo, pelas explanações sempre poéticas sobre o turismo e

paisagem.

Enfim, a todos que participam positivamente da minha vida. Muito Obrigado.

Page 5: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

Resumo O presente estudo faz um diagnóstico do município de Caxambu, em seus aspectos físicos,

bióticos e socioeconômicos, trazendo a tona as problemáticas e os pontos importantes para

que o município retome sua função de atração de empreendimentos, pensamentos e ações

voltadas para seu principal viés econômico, o turismo. Caxambu encontra-se favoravelmente

posicionado no contexto geográfico do estado de Minas Gerais, ainda assim, a falta de um

planejamento técnico e democrático fez com que o município perdesse o foco de sua

evolução. Rodeado por fatores atrativos como serras, cachoeiras, remanescentes de mata

atlântica e cerrado, além de suas águas minerais e seu povo hospitaleiro, não só Caxambu,

mas todos municípios integrantes do Circuito das Águas carecem de imersões por parte dos

planejadores dos setores públicos, privados, acadêmicos e não governamentais. Para que o

potencial real que existe na região do sul de Minas, não continue sendo uma possibilidade

longínqua mais de desenvolvimento.

Abstract

This study makes a diagnosis of the city of Caxambu, in terms of physical, biotic and socio-

economic and presents the problems and the important points to the municipality to restart

the function to attract businesses, thoughts and actions towards its main economic and tourism

topics. Caxambu is favorably positioned in the geographical context of the state of Minas

Gerais, but the lack of a democratic and technical planning has made the city lost the focus of

its development. Surrounded by attractive factors such as mountains, waterfalls, remnants of

rainforest and cerrado, in addition to its mineral waters and its friendly people, not only

Caxambu, but all municipality members of the Circuito das Águas have a lack of incentive

by the planners of the public, private , academics and NGOs sectors. For the true potential

that exists in the southern region Minas Gerais don’t be a distant possibility of more

development.

Page 6: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................9 1.1. PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA................................................................ 11 1.2. OBJETIVOS .............................................................................................. 11

1.2.1. GERAL.............................................................................................. 11 1.2.2. ESPECÍFICOS .................................................................................... 11

2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................13 2.1. A ÁGUA MINERAL PARA O TURISMO ............................................................ 13 2.2. DESAFIOS DO PLANEJAMENTO PARA O TURISMO .......................................... 15 2.3. INTERPRETAÇÃO DA PAISAGEM PARA O TURISMO......................................... 18 2.4. CARTOGRAFIA PARA O TURISMO................................................................. 22

3. METODOLOGIA..........................................................................................................................24 4. DIAGNÓSTICO MUNICIPAL....................................................................................................29

4.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO............................................................... 29 4.1.1. HISTÓRICO....................................................................................... 29 4.1.2. LOCALIZAÇÃO................................................................................... 31 4.1.3. GEOLOGIA........................................................................................ 33 4.1.4. CLIMA E HIDROGRAFIA ...................................................................... 35 4.1.5. GEOMORFOLOGIA.............................................................................. 39 4.1.6. PEDOLOGIA, VEGETAÇÃO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .......................... 42 4.1.7. MEIO SÓCIO-ECONÔMICO .................................................................. 48

4.2. CONCLUSÃO DO DIAGNÓSTICO .................................................................. 56 5. POTENCIALIDADES E ENTRAVES PARA A EXPANSÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA – ANÁLISE ESPACIAL DE CAXAMBU ..............................................................................................58

5.1. PORÇÃO NORTE........................................................................................ 58 5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO .. 58 5.1.2. POTENCIALIDADES E ENTRAVES.......................................................... 60

5.2. PORÇÃO CENTRAL..................................................................................... 61 5.2.1. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO .. 61 5.2.2. POTENCIALIDADES E ENTRAVES.......................................................... 69

5.3. PORÇÃO SUL ............................................................................................ 77 5.3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO .. 77 5.3.2. POTENCIALIDADES E ENTRAVES.......................................................... 79

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................80 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................................86 8. ANEXOS ........................................................................................................................................88

8.1. ANEXO 1 - PLANTA SÍNTESE DAS PORÇÕES NORTE E SUL .............................. 89

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SUMÁRIO DE FIGURAS

Figura 3.1 – Metodologia para caracterização da paisagem. Fonte: Adaptado de FERNANDES (2000). .................................................................................................... 26 Figura 3.2 – Porções estudadas....................................................................................... 27 Figura 4.1 - Início da obra da fonte Duque de Saxe. ...................................................... 30 Figura 4.2 – Mapa de localização do município. ............................................................ 32 Figura 4.3 – Articulação viária. ...................................................................................... 33 Figura 4.4 - Porções de quartzito muito alteradas. ......................................................... 34 Figura 4.5 - Morro do Caxambu formado por gnaisse. .................................................. 34 Figura 4.6 – Processo de mineralização das águas. ........................................................ 35 Figura 4.7 – Mapa hidrográfico. ..................................................................................... 38 Figura 4.8 – Mapa hipsométrico. .................................................................................... 41 Figura 4.9 - Vegetação ciliar localizada ao norte do município às margens do rio Baependi. ........................................................................................................................ 45 Figura 4.10 – Mapa de solos de Caxambu...................................................................... 47 Figura 4.11 – População Economicamente Ativa - PEA ocupada por setores econômicos em Caxambu. .................................................................................................................. 49 Figura 4.12 - Produto Interno Bruto – PIB de Caxambu a preços correntes, 1998-2002. Unidade R$(mil). ............................................................................................................ 50 Figura 4.13 – Arrecadação da CFEM entre 2003 e 2006. .............................................. 52 Figura 4.14 – Concentração da população por faixas etárias de Caxambu, 2000. ......... 54 Figura 5.1 – Fonte D. Leopoldina................................................................................... 62 Figura 5.2 - Fonte D. Pedro. ........................................................................................... 62 Figura 5.3 - Fonte Viotti. ................................................................................................ 63 Figura 5.4 - Fonte Duque de Saxe. ................................................................................. 63 Figura 5.5 - Fonte Mayrink............................................................................................. 64 Figura 5.6 – Fonte Conde D’EU e Princesa Isabel. ........................................................ 65 Figura 5.7 – Fonte Beleza. .............................................................................................. 65 Figura 5.8 - Fonte Venâncio. .......................................................................................... 66 Figura 5.9 – Fonte Ernestina Guedes.............................................................................. 66 Figura 5.10 – Gêiser Floriano Lemos. ............................................................................ 67 Figura 5.11 – Balneário Hidroterápico. .......................................................................... 67 Figura 5.12 – Igreja Santa Isabel da Hungria, construída em homenagem a rainha da Hungria. .......................................................................................................................... 68 Figura 5.13 – Praça 16 de setembro................................................................................ 68 Figura 5.14 - Escola Padre Correia de Almeida. ............................................................ 68 Figura 5.15 - Cadeira do Chico Cascateiro..................................................................... 69 Figura 5.16 - Estatueta do Conselheiro Mayrink............................................................ 69 Figura 5.17 – Paredes pichadas das instalações do topo do morro Caxambu. ............... 72 Figura 5.18 – Teleférico do parque das águas. ............................................................... 72 Figura 5.19 – Ocupações no sopé do morro Caxambu. .................................................. 72 Figura 5.20 – Rodoviária sem contexto e mal conservada. ............................................ 73 Figura 5.21 – Pontos de ônibus mal posicionados e mal cuidados................................. 73 Figura 5.22 – Pavimentação precária.............................................................................. 73 Figura 5.23 – Aterro controlado de Caxambu. ............................................................... 74 Figura 5.24 - Vista geral do centro de convenções......................................................... 74 Figura 5.25 – Secretaria Municipal de Turismo de Caxambu. ....................................... 76 Figura 6.1 – Circuito das Águas. .................................................................................... 82

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Figura 6.2 – Mapa da Estrada Real. Fonte: www.estradareal.org.br .............................. 84

SUMÁRIO DE TABELAS Tabela 4.1 – Significados do nome de Caxambu. Fonte: IEPHA – MG (Processo de tombamento do Conjunto Paisagístico e Arquitetônico do Parque das Águas de Caxambu -1998). ............................................................................................................ 31 Tabela 4.2 - População Total, População Urbana, População Rural e Grau de Urbanização. ................................................................................................................... 53 Tabela 4.3 - Nível Educacional da População Jovem, 1991 e 2000 de Caxambu. Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. ................................................................. 56

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1.INTRODUÇÃO Quando a bandeira do turismo é levantada como forma de diversificação das atividades

econômicas em um município, muitas especulações fazem com que potencialidades se

tornem frustrações ao longo de um processo mal planejado de exploração. A atividade

turística é conhecida como o deslocamento de pessoas de um lugar para o outro, em

busca de refúgios alternativos ao cotidiano e satisfação de necessidades muito próprias

que variam de acordo com a carga de vida do turista. Para SOUZA e CORRÊA (1998),

“turismo é o deslocamento de pessoas isoladas ou em grupos de um lugar para o outro,

por diferentes motivos e interesses, permitindo o intercâmbio de cultura e união entre os

povos”.

Desta forma, tem-se que o turismo tomou um caráter mais holístico durante o passar dos

tempos e deixou de ser uma atividade apenas contemplativa. Inserindo-se assim na vida

das pessoas como mais uma forma de convívio social, capaz de trazer novas

perspectivas de vida para todos os envolvidos na atividade. O turismo é multidisciplinar

e deve buscar a interdisciplinaridade, que trará assim a conexão entre os componentes

formadores da paisagem vivida e os viventes da mesma.

Geralmente, os municípios com potencialidades turísticas passam primeiro por um

processo de demanda espontânea de atratividade de pessoas. E nesse vácuo, vão sendo

construídas as características de aproveitamento da atividade que, se não forem

direcionadas de maneira correta, podem ser aproveitadas de forma equivocada.

Trazendo assim, péssimas conseqüências tanto ao meio onde se da o turismo, como para

as pessoas envolvidas.

O município de Caxambu é explorado pelo turismo há tempos, e a demanda foi gerada

pelo componente geofísico água mineral, alinhada a potencialidade de estar no

alinhamento da estrada real, mais especificamente no caminho velho que inicia em

Diamantina e finaliza em Paraty. Desta maneira, o município foi por muito tempo um

referencial no que diz respeito a destinos turísticos.

Não há como descrever o surgimento do município de Caxambu sem tangenciar sua

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formação geológica, sempre que o nome do mesmo é citado ou visto a relação com as

águas minerais logo é feita.

Como a associação/interpretação geológica era pouco desenvolvida à época de seu

descobrimento, o que sempre teve destaque na divulgação do município foi o poder de

cura de suas fontes que juntas, detêm para muitos, o título de maior diversidade de

águas minerais do mundo. Totalizando 12 fontes em exploração.

A cronologia exposta para o município em seu site oficial demonstra a importância da

descoberta das águas para o surgimento do mesmo, que culminou com a chegada da

Princesa Isabel em 1868 que, sabendo do potencial curativo das águas, buscou sanar-se

de uma possível infertilidade. A Princesa curou-se da anemia e engravidou, lançando

assim, a pedra fundamental para a construção da Igreja de Santa Isabel que hoje é

patrimônio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio histórico - IEPHA.

Por essas e outras, o município encontrou no turismo de saúde uma fonte de

empregabilidade e de geração de renda, mas, por razões ainda não contornadas, esse

tipo de turismo entrou em decadência e o Circuito das Águas passa por dificuldades.

Isso se deve, pois, os municípios que compõem o mesmo não se preparam para atrair

outros tipos de público e, precisam ainda, reinventar o turismo em função das águas e

seus poderes “milagrosos”. Além disso, a má gestão pública e a falta de investimento do

estado e união culminaram com o surgimento de problemas estruturais difíceis de serem

resolvidos.

A não diversificação da atividade turística e a falta de cuidado com a expansão urbana

nas proximidades da sede municipal foram, entre outros, alguns dos principais fatores

preponderantes para a diminuição do fluxo turístico para Caxambu. Mas, nada disso é

mais importante do que a necessidade de um planejamento a longo prazo que envolva a

comunidade local com o turismo de forma mais profissional e direcionada. Para que

isso ocorra, as ações coordenadas entre o poder público e as empresas privadas que

usufruem da atividade no município devem sempre ser tomadas com o apoio técnico e

tecnológico necessário. Não deixando é claro, de incitar a participação da sociedade

civil em todo o processo.

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Além de Caxambu, outras instâncias hidrominerais deixaram de crescer através da

atividade turística, muito em função da falta de aprofundamento do real potencial de

cura de suas águas minerais. Esse aspecto tem sido um dos principais entraves para que

o Circuito das Águas se afirme como região atrativa.

1.1.PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA Mas, até que ponto a água mineral é capaz de dar sustentação ao turismo como

atividade geradora de emprego e renda no município? Quais são as medidas que estão

sendo tomadas para a proteção da mesma? Quais são as outras possibilidades de se

desenvolver o turismo fora da sede municipal, fazendo com que o meio rural também se

beneficie da atividade? São questões que permeiam um planejamento de médio a longo

prazo, que também deve prever a diversificação das categorias de atividades turísticas

condizentes com o que o município pode oferecer.

Diante da contextualização e da problemática exposta, o presente trabalho torna-se

necessário pois, o município precisa criar alternativas para fazer com que o turista tenha

uma gama variada de opções que podem ser criadas a partir das potencialidades

existentes em seu território e na região de entorno. Fazendo com que Caxambu não seja

mais refém de um único segmento de turismo.

1.2.OBJETIVOS

1.2.1.GERAL Gerar um diagnóstico da situação do turismo no município e caracterizar as feições da

paisagem que podem ser apropriadas para a atividade turística, montando ao final uma

planta que espacialize essas informações. A partir dessa identificação, serão definidas as

potencialidades e entraves para que essa utilização aconteça dentro de um planejamento

coerente.

1.2.2.ESPECÍFICOS • Caracterização dos componentes biofísicos e do uso e ocupação do solo no

município;

• definição das feições da paisagem que podem ser apropriadas para o

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desenvolvimento das vertentes do turismo no meio rural (Ecoturismo, Turismo

de Aventura, Turismo Rural); e

• indicação das potencialidades e fatores limitantes (entraves) do uso das feições

da paisagem para o turismo no município;

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2.REFERENCIAL TEÓRICO

2.1.A ÁGUA MINERAL PARA O TURISMO O turismo em Caxambu surgiu em função de suas águas minerais, mas, até que ponto a

água mineral é atrativa de turistas e até onde as pessoas que procuram os locais para

consumi-la estão cientes dessa função da mesma?

Primeiramente, é necessário entender que as águas minerais sempre foram famosas por

suas propriedades terapêuticas, e não por um componente que pode ser formatado para

o turismo. Logicamente, as localidades onde as mesmas ascendem à superfície, podem

fazer dessa peculiaridade um diferencial a mais para uma vocação turística que deve ser

tratada além desse componente geofísico.

Além dessa questão, a medicina ainda é tímida na utilização da crenoterapia1 para

tratamentos médicos. O que se vê é a indicação das águas como sendo uma ajuda no

tratamento de certas patologias, mas nada em uma escala a ponto de colocá-las em

competição com as práticas medicinais contemporâneas e com a indústria farmacêutica.

Em artigo publicado (in memoriam) em 1956, do médico crenólogo Dr. Lysandro

Cardoso Guimarães, na sinopse do I Concurso Nacional de Monografias “O Poder

Curativo das Águas Minerais” (Caxambu: Prefeitura Municipal de Caxambu, 1989), o

autor já demonstrava sua preocupação em relação à crença médica sobre o real poder de

cura das águas minerais, e cita:

A incredulidade da maioria dos médicos brasileiros tem sido a nossa maior

barreira, em contraposição à credulidade popular que (....) tem sido o fator de

estímulo ao desenvolvimento de nossas estâncias como cidades de cura. Nos

países europeus, a classe médica é a vanguardeira desses estudos que

constituem assunto de real interesse em todas as universidades. Nós, pelo

contrário, somos caudatários remotos dessas conquistas e, por isso mesmo,

não podemos apresentar trabalhos à altura das modernas descobertas

científicas; contudo, essa carência de estudos e pesquisas só poderá ser

1 A crenoterapia é o tratamento feito através de ingestão e banho de águas minerais. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crenoterapia Acesso em 12/07/2008.

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sanada no dia em que os médicos brasileiros volverem seus olhos para esses

problemas, ... (apud in NETO, 2003. p27)

Segundo NETO (2003), “as águas minerais devem ser consideradas como águas

subterrâneas especiais, uma vez que, além de atender aos demais usos tradicionais,

apresentam propriedades terapêuticas”p.24. Diante dessa afirmação, o planejamento

dos municípios que têm na água mineral seu ponto forte para o turismo, deve levar em

consideração algumas questões, como por exemplo:

1. o público que procura às águas minerais deve ser intensamente estudado, para

que se possa implementar ações que venham a suprir o anseio terapêutico que o

mesmo tem em relação à água mineral;

2. a medicina local tem que se especializar em função da utilização das águas para

o uso medicinal;

3. o turismo deve procurar se diversificar para não se tornar refém de um único

tipo de público e de segmento turístico.

Feitas essas etapas, a qualidade dos resultados da estadia dos turistas no município

estará a cargo do receptivo local, que tem nesse momento a oportunidade de mostrar ao

turista, outras possibilidades de se fazer turismo na região, além de ter a

responsabilidade de deixar claro o bem estar que a estadia do mesmo no município vai

causar. Não só pelo descanso que os municípios proporcionam e consumo das águas e

suas propriedades especiais, mas pelas opções variadas de interação com outros

segmentos turísticos possíveis de serem aproveitados.

Mas, é também nesse momento que a falta de uma aplicação mais difundida da

crenoterapia e da popularização científica das propriedades medicinais das águas, faz

com que exista uma redução no número de pessoas que procuram nos municípios com

fontes hidroterápicas mais do que descanso, cura.

É por essas e outras que Caxambu encontra dificuldades em reinventar o turismo em

função de seu potencial mais utilizado, a água mineral. Mas, através de um

planejamento de médio a longo prazo, o município tem totais condições de fazer com

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que seu produto turístico retome sua função medicinal e turística. Aliando a gama de

possibilidades de segmentação da atividade através das potencialidades naturais e

culturais de seu território e sua região de entorno.

2.2.DESAFIOS DO PLANEJAMENTO PARA O TURISMO Caxambu é um município mineiro tradicional, teve sua formação graças à corrida do

ouro fazendo parte da história da estrada real, sua arquitetura mais antiga é rica e

relativamente bem conservada. Possui ainda, um belo parque de águas minerais

considerado o mais diverso do mundo com diferentes propriedade químicas na

constituição das mesmas, localizado próximo da Serra da Mantiqueira, tem um relevo

diverso promovendo contornos que trazem grande beleza a paisagem. Mas, o turismo

que já foi a grande fonte de crescimento do município não promove um

desenvolvimento sustentado e o mesmo possui diversos pontos de fraqueza que devem

ser atacados para mudar esse quadro.

Quando a temática do turismo é levantada como forma de sustentação econômica de um

município ou determinada região, o efeito especulativo causa sintomas de ansiedade,

expectativa e esperança na população que será parte do processo de elaboração dos

produtos a serem desenvolvidos.

No caso de Caxambu, essa “suposta crise” instalada causa um efeito altamente negativo

com relação à real potencialidade turística do município.

Por esses motivos, o turismo não pode ser implantado como uma estrutura nova e física.

O mesmo deve ser implementado com cautela, com medidas de curto, médio e longo

prazo, visando uma integração sem alteração da paisagem de forma a considerar

aspectos que constituem um planejamento democrático e pautado em questões técnicas

e estruturais que devem ser desenvolvidas.

Fazer com que os atores que farão parte da atividade comprem a idéia, passa por um

processo que deve conseguir, primeiro; esclarecer que as perspectivas serão

interessantes economicamente e profissionalmente. Desta forma, o reconhecimento do

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turismo como fonte de geração de renda, emprego e conseqüente melhoria da qualidade

de vida das pessoas envolvidas deve desmascarar, no caso de Caxambu, a suposta crise

que o setor atravessa e as potencialidades que podem ser melhoradas e transformadas

em um renovado produto turístico.

Feitas as considerações das vantagens que o turismo pode trazer, chega-se ao segundo

momento; que é a criação de um planejamento que deverá fazer com que surjam agentes

de mudança em todos os setores da sociedade (instituições públicas, privadas e

sociedade organizada). Esses agentes serão responsáveis pela voz do planejamento,

fazendo com o máximo de pessoas se comprometam com as propostas que serão

colocadas.

O planejamento torna-se a função essencial na gestão do turismo. Turismo este que é o

deslocamento de pessoas de um lugar para o outro, gerando inerentemente a sua prática,

a possibilidade de mudanças sociais, culturais, ambientais e econômicas em seu destino

e nas pessoas que o praticam. Desta maneira, a gestão da atividade torna-se necessária,

pelas conseqüências positivas ou negativas que surgirão em função da existência ou não

de um planejamento estratégico.

O planejamento segundo ROBBINS (1978), nada mais é do que a escolha antecipada

dos objetivos a serem atingidos e dos meios pelos quais os mesmos serão alcançados.

CHIAVENATO (1987) (apud PETROCCHI, 2001) considera que:

O planejamento costuma configurar como a primeira função administrativa,

por ser exatamente aquela que serve de base para as demais. O planejamento

é a função administrativa que determina antecipadamente o que se deve fazer

e quais objetivos devem ser atingidos. O planejamento é um modelo teórico

para a ação futura. Visa dar condições para que o sistema seja organizado e

dirigido a partir de certas hipóteses acerca da realidade atual e futura. O

planejamento é uma atividade desenvolvida de maneira consistente para dar

continuidade às atividades, e seu focus principal é a consideração objetiva do

futuro.

[...] É uma técnica para absorver a incerteza e permitir mais consistência no

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17

desempenho das organizações.

[...] O planejamento implica fundamentalmente traçar o futuro e alcançá-lo.

[...] O planejamento é um processo que começa com a determinação de

objetivos. Define estratégias, políticas e detalha planos para consegui-los;

estabelece um sistema de decisões e inclui uma revisão de objetivos para

alimentar um novo ciclo de planificação.

O planejamento com o intuito de se desenvolver o potencial turístico de um município,

de forma organizada, equânime e com bons frutos é fundamentado na situação em que

se deseja alcançar. Para isso, os objetivos devem ser criados de forma a se construir

ações orientadas. Surgindo então, a necessidade da criação de um plano pró-ativo de

desenvolvimento turístico.

Para MARQUES e BISSOLI (2001):

O planejamento turístico é um processo que analisa a atividade turística de

um determinado espaço geográfico, diagnosticando seu desenvolvimento e

fixando um modelo de atuação mediante o estabelecimento de metas,

objetivos, estratégias e diretrizes com os quais se pretende impulsionar,

coordenar e integrar o turismo ao conjunto macroeconômico em que está

inserido. Deve ser entendido com uma ação social, no sentido de que vai ser

dirigido à comunidade e racional, na medida em que é um processo que tende

a estabelecer e a consolidar uma série de decisões com um alto grau de

racionalização.

No turismo, o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental

na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da

atividade, determinando suas dimensões ideais, para que a partir daí se possa

estimular regularmente ou restringir sua evolução.

A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do

homem sobre o território e ocupa-se em direcionar a construção de

equipamentos e facilidades de forma adequada, evitando assim efeitos

negativos nos recursos, como sua destruição e a redução de sua atratividade.

Page 18: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

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O plano de desenvolvimento turístico deve possuir duas etapas distintas, mas

complementares, onde a primeira sustenta-se em um nível mais de conhecimento e

estratégias de desenvolvimento e a segunda mais operacional e tática. Cabendo ressaltar

que, o sucesso a ser atingido por um plano dependerá da qualidade em que as etapas se

realizam e do comprometimento dos envolvidos. Na primeira etapa os esforços se

concentram no direcionamento dos rumos a serem tomados, na visão de futuro, na

missão prevista e na criação de estratégias. Um dos elementos que constituem estas

estratégias é a leitura da paisagem, diagnóstico ambiental ou macro-ambiental como

denominado por alguns autores.

A segunda etapa de um plano de desenvolvimento turístico, é diferenciada por deter um

caráter mais operacional, é nessa fase que as ações se darão. Para o êxito de tais ações,

os planos setoriais devem ser realizados através de programas e projetos. Os planos

setoriais visam separar as ações, para que as mesmas em conjunto possam ser eficientes

e eficazes no desenvolvimento do turismo. Trata-se de programas para a estruturação da

oferta turística; sensibilização e formação profissional para o turismo; melhoria ou

criação da estrutura física dedicada à atividade ou a divulgação desta; pesquisa,

normatização e fiscalização; promoção e marketing; controle, apoio técnico e

coordenação regional participativa (PETROCCHI, 2001).

Diante destes aspectos de analise, é possível construir um plano de desenvolvimento

turístico que demonstre as oportunidades, as ameaças, as fortalezas diferenciais e as

fraquezas dos municípios e regiões foco.

Para Caxambu, será preciso que o reconhecimento de ações que não vem sendo

desenvolvidas de maneira correta e que as vezes nem existem, dêem lugar a discussão

democrática do objetivo a ser alcançado. Mostrando assim, as potencialidades ainda

existentes no turismo como forma de desenvolvimento local, com o aproveitamento da

água mineral e das potencialidades da paisagem na região como um todo.

2.3.INTERPRETAÇÃO DA PAISAGEM PARA O TURISMO Tomando como partida os pensamentos construídos sobre a paisagem, pode-se afirmar

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19

que os estudos ambientais trabalham principalmente com a interpretação da “Paisagem

Concreta” e da “Paisagem Simbólica”. Sendo a primeira, fonte do campo de estudo dos

geógrafos físicos, que tratam questões e fenômenos gerados a partir de forças endógenas

que representam as pressões magmáticas, evoluções da crosta terrestre e todos os

processos de inter-relação entre os componentes da litosfera. E as forças exógenas, que

ficam a cargo das interações entre os elementos da estratosfera, que abarcam as

dinâmicas climáticas e suas atuações diferenciadas sobre a litosfera a partir de sua

constituição, determinando inicialmente a biosfera que a ocupa.

Já a “Paisagem Simbólica”, é responsável pela subjetividade da interpretação, tomando

o homem, a função de interprete da mesma. Desta forma, a paisagem torna-se fonte de

discussão e contraposição de idéias a partir do pensamento dialético gerado pelas teses,

antíteses e sínteses que dão origem ao pensamento científico refinado da questão.

Deve-se pensar a paisagem como uma série de camadas sobrepostas e interdependentes.

Em linhas gerais, ela pode ser estudada a partir do tipo de rocha que, exposta a um tipo

de clima irá gerar um tipo de morfologia do terreno, esta condicionará a formação de

tipos de solos diferenciados a partir da litologia existente ou de dinâmicas peculiares.

Os solos, por sua vez, definirão as tipologias de vegetação que abrigarão uma fauna

específica e determinarão inicialmente o seu uso pelo homem. Inicialmente, pois, o

homem dotado de tecnologia pode condicionar a paisagem de acordo com sua

necessidade em alguns casos, como por exemplo, corrigir a fertilidade do solo de áreas

potenciais para a atividade agrícola.

A leitura da paisagem pode ser uma forte aliada do turismo dentro de um planejamento

consistente, mas deve ser usada de forma a não valorizar somente as questões estéticas

do espaço estudado. Para LACERDA (2005), a paisagem estudada sobre o ponto de

vista estético deve fugir daquela genuinamente “bela” e profana que é montada como

um cenário. Para a mesma autora, a paisagem fascina pela sua relação com o estudo dos

lugares. O que nos motiva na paisagem é a possibilidade de troca de conhecimento a

partir da incorporação do outro e da compreensão da estrutura subjetiva das coisas – o

sentimento, a personalidade ou caráter intrínseco ao lugar e sua atuação sobre os

indivíduos (SOLANO, apud in LACERDA 2005).

Page 20: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

20

As belezas naturais geralmente são vistas como produtos turísticos quase prontos e

fáceis de serem comercializados, é nesse momento que falta de capacidade técnica pode

fazer com o que hoje é uma potencialidade torne-se um problema no futuro. Diante

disso, o planejamento se enquadra como a única forma de se hipotetizar as

conseqüências negativas da implementação do turismo como alternativa de atividade

econômica. Mas, o conhecimento da paisagem deve extrapolar o que é “visto”,

aprofundando-se nos estudos dos ecossistemas e da cultura do espaço vivido pelas

pessoas dos municípios e regiões desenvolvidas turisticamente.

Segundo DUFRENNE citado por LACERDA (2005), a análise da paisagem meramente

estética deve ser trazida sob a forma de uma perspectiva cultural, pois “[...] a natureza

só é vista esteticamente porque é vista culturalmente” (DUFRENNE, apud in

LACERDA 2005).

Desta forma, LACERDA (2005) afirma que, “[...] ao considerar o aspecto cultural, a

definição de estética extrapola o conceito de beleza”. O conceito de estética é vendido

de forma errada na mídia, e tornou-se a principal ferramenta de inserção de produtos no

mercado. Existem situações em que o apelo estético é tão forte e poderoso, que se torna

uma negação dos aspectos da qualidade e de pertinência. Etimologicamente, a palavra

estética é originária do grego aisthesis, cujo significado é a “faculdade de sentir”,

“compreensão dos sentidos”, “percepção totalizante”. E não uma mera sedução visual,

como é tratada atualmente.

Desta forma, ao se analisar uma paisagem com olhares para o turismo, deve-se levar em

consideração os fatores físicos e simbólicos de formação da mesma. Isso se deve, pois, a

paisagem é formada pelo espaço criado, vivido e sentido e está em constante mutação.

O vertiginoso crescimento populacional mundial, aliado a um sistema político e

econômico, extremamente dependente da exploração dos recursos naturais para sua

sustentação, levou a um incremento da degradação ambiental, seja no ambiente natural

e/ou rural, como no urbano. Isto se deu pela necessidade de se abrir novas fronteiras que

suportassem a demanda pela produção de alimentos e bens de consumo. E também pela

Page 21: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

21

urbanização acelerada, promovida pela mudança dos setores econômicos que, de início,

se concentravam no primário, ou seja, com predominância da atividade agrária,

passando, a posteriori, para os setores secundários e terciários que se embasam em

atividades comerciais e industriais.

O turismo como atividade de apropriação do espaço, pode tanto contribuir para a

acentuação da degradação como para a proteção da natureza. São inúmeras as formas de

aproveitamento da paisagem para a atividade turística, tais como o turismo de aventura,

o ecoturismo, o turismo rural e etc, mas realizar um planejamento coerente de acordo

com os ambientes em que estes se darão é um desafio difícil. As paisagens são

carregadas de elementos físicos e simbólicos, que não devem ser analisados de forma

independente, a correlação entre os mesmos e sua valorização é o desafio dos fazedores

de turismo e do turismo.

Diante do exposto, tem-se que o turismo pode tomar uma fundamental importância para

a proteção da natureza das paisagens, já que a mesma é o principal atrativo para o

turista, que pode se sentir lesado ao se deparar com um ambiente sem harmonia. Esse é

outro desafio, pois, cada turista tem sua carga de experiência, sua expectativa e sua

maneira de se relacionar com a natureza e com outras pessoas e, muitas vezes o

desconhecimento dos ambientes visitados e a falta de limites nas imersões podem

causar efeitos devastadores aos recursos naturais e culturais.

É nesse momento que os produtos turísticos bem planejados obtém sucesso, trazendo

não só a natureza como fim da atividade turística, mas informando que a mesma é local

de grande importância social, ambiental e econômica e que outras pessoas devem ter o

direito ao meio ambiente devidamente equilibrado no futuro para esse uso. Essa

conscientização torna-se condição sinequanon para que a natureza e a cultura dos

lugares visitados não sofram as conseqüências negativas que a atividade turística pode

trazer. Fazendo assim, com que a paisagem seja consumida dentro dos preceitos da

sustentabilidade.

Page 22: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

22

2.4.CARTOGRAFIA PARA O TURISMO Uma das ferramentas para o planejamento do turismo é a criação de um banco de dados

para o acompanhamento da evolução da exploração da natureza, além de ser

fundamental para a caracterização preliminar das paisagens com potencial para a

segmentação turística.

Nesse contexto, a cartografia dispõe de diversas técnicas para descrever os atributos da

superfície da terra em um determinado território, sendo assim, tais descrições tomam

grande importância da análise das formas e dos processos ocorrentes no espaço.

A evolução da cartografia acompanha as ferramentas tecnológicas que cada vez mais,

com a introdução de computadores e programas, facilitam a construção de modelos

digitais do terreno e a análise de uma grande quantidade de dados por meio dos

Sistemas de Informações Geográficas - SIG. Considerada uma ciência de apoio a

geografia, a cartografia utiliza o mapa como meio de comunicação, onde o mesmo é

construído por símbolos e signos que são destinados a representar os mais diversos fatos

e objetos dispostos no espaço geográfico.

Na geografia, existem duas vertentes principais que separam a cartografia, que segundo

OIVEIRA (1993), são: •“a cartografia sistemática que é feita por engenheiros cartógrafos e

geodésicos, que fazem medições precisas do geóide terrestre, que é a

forma própria da esfera da Terra, a fim de localizar exatamente um ponto

em sua superfície. As cartas topográficas, em suas diferentes escalas, são

realizadas por esses profissionais e servem como instrumento de trabalho

tanto para geógrafos como para vários outros profissionais; e

•a cartografia temática que possui importância fundamental, pois permite

representar as formas e os processos que moldam o espaço geográfico. O

objetivo dos mapas temáticos é o de fornecer uma representação dos

fenômenos geográficos de qualquer natureza, bem como as relações

entre eles, ou seja, suas correlações, e isso se faz com o auxílio de

símbolos qualitativos e/ou quantitativos dispostos sobre uma base de

referência, geralmente extraída das cartas topográficas,...”.

A apropriação dos recursos cartográficos pelos atores da atividade turística é muito

Page 23: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

23

válida na tentativa de planejamento e posterior venda de seus produtos, desde que o tipo

de informação e o objetivo do mapa tenham consonância com o espaço a ser

representado, sendo assim, as diferentes vertentes de atividades turísticas devem aplicar

diferentes técnicas de representação.

Ou seja, primeiro deve-se analisar o produto que se está querendo mostrar e depois

adequá-lo a melhor maneira de representação gráfica.

No caso do turismo cultural, por exemplo, os mapas são mais flexíveis quanto às

normas usualmente exigidas pela cartografia. Ou seja, em vez de se mapear os atrativos

culturais utilizando-se de símbolos simples, é mais interessante fazê-lo através de signos

para atrair a curiosidade de quem está interpretando o mapa. Geralmente, são figuras

simples, mas, com um apelo cultural forte.

Diante do exposto, na atividade turística, a cartografia pode ser utilizada como uma

forte aliada no processo de aproveitamento dos produtos turísticos. A realidade dos

espaços geográficos a serem desenvolvidos deve ser interpretativa e não uma gama de

informações sem contexto, ao mesmo tempo, o apelo às belezas naturais e culturais

deve ser desenvolvido de modo a vender o todo, fazendo com que o turista se informe

sobre o local e não só passe por ele.

Para o presente trabalho, foram utilizados os recursos da cartografia digital sistemática e

temática, que possibilitou o mapeamento das porções estudadas no território municipal.

Levando em consideração a espacialização dos componentes da paisagem, e sua relação

entre as potencialidades e entraves para a formatação de produtos turísticos no

município.

Page 24: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

24

3.METODOLOGIA O desenvolvimento do trabalho de monografia foi calcado em três etapas, a primeira de

planejamento das atividades, criação do banco de dados secundários e definição da

temática a ser desenvolvida, a segunda de realização dos trabalhos de campo e

levantamento de informações primárias e a terceira de produção dos resultados e

análises.

1. Etapa de planejamento:

Na etapa de planejamento, as atividades contemplaram os estudos preliminares, com a

análise e revisão bibliográfica sobre trabalhos já realizados em Caxambu e a busca de

informações junto à prefeitura municipal.

Basicamente, o objetivo desta etapa foi analisar os dados secundários disponíveis acerca

do Município, permitindo assim, uma caracterização geral do mesmo em seus aspectos

físicos (geologia, clima, geomorfologia, solos e hidrografia), bióticos (fauna e flora) e

socioeconômicos (setores econômicos, dinâmica populacional, usos da terra e infra-

estrutura básica). É nesta etapa que foram definidos os conceitos a serem utilizados no

desenvolvimento do trabalho, a temática a ser abordada nos resultados e a definição dos

objetivos do mesmo. As informações foram sempre direcionadas para serem

aproveitadas dentro de um planejamento turístico municipal.

2.Etapa de levantamento de campo:

De posse das informações coletadas, foi possível dimensionar o trabalho de campo

necessário para o presente estudo. A campanha de campo foi realizada nos dias 2, 3 ,4 e

5 de julho de 2008. Tais levantamentos tiveram como objetivo afinar a caracterização

das paisagens, agregar mais informações que considerassem o planejamento turístico e

avaliar as possibilidades de utilização do território municipal (em seus aspectos físicos,

bióticos e culturais) para o turismo.

Para auxiliar nos campos foram utilizados os mapeamentos sistemáticos do IBGE e,

Page 25: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

25

com um GPS foram levantados todos os componentes do território municipal que

poderiam ser considerados potenciais ou entraves para a expansão da atividade turística

em Caxambu.

3.Etapa de elaboração dos resultados:

A terceira etapa representou a elaboração dos resultados, cujo conteúdo foi baseado na

criação de um diagnóstico da situação do turismo em Caxambu e uma planta síntese

com as feições da paisagem, mostrando as potencialidades e entraves para a realização

de uma possível expansão do turismo municipal. Trazendo as potencialidades de

diversificação da atividade no município, através da apropriação da paisagem física e

simbólica do mesmo.

Os resultados foram elaborados levando-se em consideração a aplicação de um

planejamento amparado por informações técnicas da infra-estrutura já existente, da

atividade turística já desenvolvida no município e seus desafios, levando-se em

consideração as possibilidades de utilização da paisagem do restante do território

municipal.

Nesta etapa foi gerado um mapa com o objetivo de orientar geograficamente as

paisagens, seus componentes e as possibilidades de utilização ou não para o turismo.

Os estudos ambientais para fins de caracterização municipal, bem como outros

construídos com premissas em planejamento são fundamentalmente estudos da

paisagem. Mas, na maioria das vezes, a paisagem é fragmentada pela ausência de uma

linha de raciocínio lógica e vertebral.

Diante do exposto, é necessário que se obtenha êxito, uma linha norteadora que busque

a forma mais correta de se elevar a qualidade dos trabalhos através da conexão entre os

meios estudados que, a saber, em linhas gerais são:

• Meio físico: geologia, clima, geomorfologia e solos;

• Meio biótico: flora e fauna e

• Meio social: interação entre os meios anteriores e seus fatores determinantes no

Page 26: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

26

uso do solo das áreas e regiões estudadas.

A Figura 3.1 mostra de forma didática o resumo de uma das metodologias coerentes de

se entender as paisagens, que fazem parte de um ecossistema complexo e com

componentes que se interdependem. Definindo através de características físicas, bióticas

e simbólicas a sua potencialidade para a prática do turismo.

Figura 3.1 – Metodologia para caracterização da paisagem. Fonte: Adaptado de FERNANDES (2000).

O importante ao se iniciar uma caracterização, é tentar forçar ao máximo o raciocínio

sobre o curso natural da paisagem e os elementos de sua formação. Com a idéia do

turismo como fonte de renda, emprego e desenvolvimento sustentável alçada, é possível

estudar de forma preliminar as alternativas e medidas necessárias, tomando como meta

a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos sem o comprometimento dos recursos

utilizados para o turismo, sejam eles naturais ou culturais. Tentando sempre

compreender a interferência em uma paisagem construída por fatores históricos, em

constante mutação e por ações e interações caracterizadas pelas dinâmicas entre os

meios. Desta forma, nos itens seguintes foram abordadas as temáticas que devem ser

levantadas, e aprofundadas caso necessário, para a caracterização do município de

Caxambu.

Para auxiliar na espacialização das análises sobre as potencialidades e entraves da

expansão da atividade turística no município, o mesmo foi dividido em três porções

Page 27: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

27

principais, e são:

• Norte;

• Central; e

• Sul.

Figura 3.2 – Porções estudadas.

Para a porção central, a análise foi diferenciada por tratar-se de área urbanizada e com

uma atividade turística já implantada e que passa por dificuldades. Sendo assim, para a

mesma, foi feito um levantamento do que se entende como produto turístico de

Caxambu e quais são as medidas que estão sendo tomadas para que o mesmo reassuma

sua função de desenvolvimento local.

Já para as porções norte e sul, o critério da divisão foi balizado de acordo com as

características peculiares de cada uma. Levando-se em consideração os componentes

físicos (geologia, geomorfologia, solos e hidrografia), as qualidades geo-ambientais

(conservação da flora e fauna), a beleza estética, os arranjos das estruturas sociais e seu

uso do solo, além da acessibilidade às áreas com maior potencial.

Page 28: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

28

A planta do anexo 1 traz uma síntese das principais feições das porções norte e sul,

dando ênfase à possibilidade de utilização da paisagem para a utilização turística. Para

que este capítulo seja mais bem compreendido, é necessário que o mesmo seja lido com

a planta aberta, pois, a todo momento são feitas inferências às informações constantes

nesta. Lembrando que, no mapa somente estão elencados os aspectos encontrados na

porção norte e sul. Já para porção central, todas as análises estão discorridas no texto.

Page 29: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

29

4.DIAGNÓSTICO MUNICIPAL

4.1.CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

4.1.1. HISTÓRICO

Segundo informações oficiais trazidas pelo resgate histórico realizado pela prefeitura

municipal de Caxambu, em 1674, a Bandeira de Lourenço Castanho Taques saiu de

Pinheiros, seguindo a trilha de Félix Jaques rumo ao vale do rio Verde. Nas imediações

do Morro Cachumbum (ou Caxambu), próximo de Baependy (hoje Baependi),

conseguiu vencer os índios Cataguases que habitavam a região.

No ano de 1714, o local onde se instalaria a sede era uma paragem conhecida como

Cachumbum, sítio e local onde habitava o Alferes Alberto Pires Ribeiro. Neste período,

"As Minas Gerais" pertenciam à Capitania de São Paulo e foram divididas em três

Comarcas. Cachumbum pertencia à Comarca do Rio das Mortes (Prefeitura Municipal

de Caxambu, 1998).

Em 02 de dezembro de 1720 foi criada a Capitania Independente de Minas Gerais,

mantendo os mesmos limites anteriores, cabendo à Capitania de São Paulo toda a área

das bacias dos rios Grande, Verde e Sapucaí (Prefeitura Municipal de Caxambu, 1998)..

As primeiras sesmarias no local onde hoje situa-se o município de Caxambu, datadas de

1766, pertenceram a Carlos Pedroso da Silveira e a Francisco Alves Correia. Mas é fato

que o que realmente marcou o desenvolvimento e a colonização de “Nossa Senhora dos

Remédios de Caxambu”, povoado pertencente ao município de Baependi, foi a

descoberta das fontes de águas minerais por volta de 1814 (segundo a tradição) que logo

ficaram famosas devido às surpreendentes curas obtidas pelos primeiros doentes que

delas se utilizaram, o que veio a dar ao povoado o nome de “Águas Virtuosas de

Baependi” e posteriormente de “Águas Virtuosas de Caxambu” (Prefeitura Municipal

de Caxambu, 1998).

Em 1844 começaram a surgir as primeiras edificações nas proximidades das minas, por

exemplo a captação da fonte Duque de Saxe visualizada na foto da Figura 4.1.

Page 30: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

30

Figura 4.1 - Início da obra da fonte Duque de Saxe.

Fonte: Secretaria Municipal de Turismo de Caxambu.

Em 1861 as fontes de águas minerais foram desapropriadas pelo governo da Província,

e a fama do local se propagou tão rapidamente que em 1868 a família real, através de D.

Isabel e do Conde d’Eu, vieram a já então Caxambu, em busca de cura para a

esterilidade do casal. A presença do casal real ao povoado teve como marco o

lançamento da pedra fundamental da igreja de Santa Isabel, rainha da Hungria

(Prefeitura Municipal de Caxambu, 1998).

No mês de Setembro de 1901, o povoado foi elevado à categoria de vila de acordo com

a Lei nº 319 do dia 16 de referido mês, nesta ocasião o município era composto pelo

distrito de Caxambu (Sede) e de Soledade. Em 18 de Setembro de 1915, a Lei nº 663

concedeu a Caxambu foro de cidade. O distrito de Soledade foi emancipado em 1938 e

o município de Caxambu manteve, desde então, apenas o distrito sede (Prefeitura

Municipal de Caxambu, 1998).

Etimologicamente o nome Caxambu tem cinco significados (Tabela 4.1).

Page 31: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

31

Tabela 4.1 – Significados do nome de Caxambu. Fonte: IEPHA – MG (Processo de tombamento do Conjunto Paisagístico e Arquitetônico do Parque das Águas de Caxambu -1998).

Origem

Derivação (significado) Interpretação Observações

África Cachaça (Tambor)

Mubu (música)

Tambor de Música

Referência ao instrumento usado pelos escravos e termo empregado em Minas Gerais para marcar os morros que

tinham configuração parecida com aquele tambor.

Tupi

Caa (Mato)

xa (Ver)

mbu (Riacho)

Mato que vê o riacho

Ou ainda: caxa (mato) + umbu, mudado para ambu

(vermelho como fogo) = mato vermelho como fogo.

Dicionário Cândido de Figueiredo

___ Uma espécie de batuque

Batuque que os negros dançam ao som de um tambor.

João Mendes de Almeida

(Índios Cataguases)

Catã (golfar, borbulhar)

Mbu (ferver) Água que borbulha

Referindo-se a água, é a bolha que o líquido faz como a ferver – bolhas a ferver.

H. Sanches Quell Caa + mubu Murmúrio da selva ___

4.1.2.LOCALIZAÇÃO Localizado no planalto da Mantiqueira e inserido na bacia hidrográfica do rio Verde e

sub-bacia do rio Baependi, o município de Caxambu está localizado na mesorregião

geográfica de planejamento denominada Sul/Sudoeste de Minas, que por sua vez é parte

constituinte da microrregião de São Lourenço (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE). O mesmo possui divisas com os municípios de Baependi (NE),

Conceição do Rio Verde (NW), Soledade de Minas (W) e Pouso Alto (S) tendo uma

área que abrange 100,50 Km². Sua sede está situada em uma altitude de 904 metros, e

tem sua posição locada nas coordenadas geográficas 21°58’20” de latitude S e

44°56’20” de longitude W.

O município não possui distritos e sim duas localidades, uma ao norte denominada

Morro Queimado e outra a sul com nome de Morro Cavado.

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&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

&3

#*

#*

BR 267

MG 347

MGT 3

54

MG 383

MGT 3

83

LMG 868

BR 383

MG 460

MGT 354

Caxambu

Cruzília

Baependi

São LourençoCarmo de Minas

Soledade de Minas

Conceição do Rio Verde

Morro Cavado

Morro Queimado

NOTAS TURISMO E TÍTULO ESCALA

FIGURADESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAPA DE LOCALIZAÇÃOBASE CARTOGRÁFICA DO GEOMINAS/IBGEPROJEÇÃO GEOGRÁFICA - SAD 69 ZONA 23S

1:200.000

:

4.2

44°40'0"W

44°40'0"W

44°50'0"W

44°50'0"W

45°0'0"W

45°0'0"W

45°10'0"W

45°10'0"W

21°50'0"S 21°50'0"S

22°0'0"S 22°0'0"S

22°10'0"S 22°10'0"S

!.

Minas Gerais

Caxambu

#* Localidades&3 Sede Municipal

Principais AcessosMunicípio EstudadoLimites Municipais

MAPA CHAVELOCALIZAÇÃO DE CAXAMBU NO ESTADO

Page 33: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

33

Com relação às distâncias viárias, Caxambu encontra-se a 350km da capital do estado

Belo Horizonte, a ligação é feita através da BR 381 (ou rodovia Fernão Dias). O

município dista, aproximadamente, 250 km do Rio de Janeiro (BR-116) e 300 km de

São Paulo (BR381). As principais rodovias que dão acesso à região são: BR 240,

BR354, BR460, BR267, MG347, MG 456. Todas se encontram relativamente bem

conservadas, cabendo necessidades de recuperação do calçamento em algumas.

Fonte: www.caxambu.mg.gov.br

Figura 4.3 – Articulação viária.

4.1.3.GEOLOGIA O substrato geológico de Caxambu é composto por meta-sedimentos do grupo

Andrelândia. Na porção sudoeste (SW) do município, é possível perceber a ocorrência

de rochas xistosas predominantes. Também são ocorrentes no município algumas

porções de quartzito muito alterado. (COMIG/CPRM, 1999)

Page 34: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

34

Depósitos aluvionares quaternários são encontrados em grandes porções acompanhando

as planícies/terraços fluviais principalmente do rio Baependi e ribeirão Bengo.

O restante é caracterizado pelo domínio do embasamento cristalino (granito/gnaisse)

com predomínio dos gnaisses. Mais especificamente no morro Caxambu, as rochas

gnáissicas são cortadas por diques máficos e de brechas alcalinas, constituindo

importantes áreas de recarga de aqüíferos fraturados (COMIG/CPRM, 1999).

Figura 4.4 - Porções de quartzito muito alteradas.

Figura 4.5 - Morro do Caxambu formado por gnaisse.

Fotos: EMATER.

Mas, de todas as tipologias geológicas encontradas na folha, nada é mais significativo

do ponto de vista sócio-ambiental para o município do que o PLUG de rochas alcalinas1

em forma quase circular localizado nas proximidades da sede municipal de Caxambu.

As famosas águas minerais são formadas no contato com as composições químicas

existentes neste PLUG de rochas alcalinas.

Entre estas rochas, a água irá passar pela etapa de mineralização (Figura 4.6), onde se

submete a pressão e temperaturas elevadas. Este processo solubiliza os minerais, e

quanto maior o tempo de interação água-rocha, maior a mineralização (COMIG/CPRM,

1999).

1 Rochas com pH mais alcalino.

Page 35: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

35

Fonte: www.drm.rj.gov.br

Figura 4.6 – Processo de mineralização das águas.

Desta forma, a composição das rochas aqüíferas é um dos principais fatores

responsáveis pelas características químicas encontradas nas águas minerais

(COMIG/CPRM,1999).

A geologia do município é bem variada e com diferentes influências, foram

caracterizadas tanto rochas ígneas originadas pelo resfriamento do magma,

sedimentares com gênese no transporte e deposição de sedimentos trazidos pela ação

principalmente da água, e metamórficas que são rochas alteradas por temperatura e

pressão de eventos tectônicos passados.

4.1.4.CLIMA E HIDROGRAFIA O clima que atua sobre a geologia do município é o classificado como Cwb (Köppen,

1948), ou seja, subtropical moderado úmido, também chamado tropical de altitude, com

temperatura média dos meses mais quentes e mais frios, respectivamente, de 22° e de

15° C. Apresenta duas estações bem distintas (verão quente e úmido e inverno frio e

seco), com a precipitação média total anual de 1.470 mm.

O regime térmico é caracterizado por temperatura média anual de 19,2° C, sendo a

média máxima anual de 25,8° e a média mínima anual de 14,1° C. As temperaturas

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36

relativamente amenas são favorecidas pela altitude do relevo (com forte influência da

serra da Mantiqueira), a cota máxima encontrada no município é de 1.240m (N) e a

mínima de 860m nas planícies fluviais. Os extremos térmicos são caracterizados por

temperaturas máximas absolutas que chegam a 39° C, registrada em pleno período de

inverno (13.06.67), bem como por temperatura mínima absoluta de 1° C, que foi

também registrada em junho (01.06.79), demonstrando a ocorrência de grandes

amplitudes térmicas ao longo do ano inverno (INMET, 1960/19901).

A direção predominante dos ventos é do quadrante Nordeste, com velocidade média 1,7

m/s, variando para 1,4 m/s no inverno, demonstrando que os ventos são mais velozes no

verão, quando chegam a 2 m/s. A nebulosidade é menor nos meses de inverno, quando

apresenta índice de 4,2, chegando no verão a atingir o índice de 7,5 em dezembro, que é

o mês mais chuvoso (INMET, 1960/1990¹).

A umidade relativa do ar é em média de 73%, variando de 67,5% em agosto a 76,4%

em dezembro, o mês que chega a registrar um total de pluviosidade de 287,9 mm. O

regime pluviométrico é caracterizado por uma média anual de 118 dias de chuvas,

sendo dezembro e janeiro os meses com maior número de dias (18). Nos meses de

inverno, o mês de julho apresenta apenas dois dias de chuva. O maior volume de chuvas

registrado no período de 24 hs é no mês de novembro, que apresentou um total de 114,3

mm no dia 09.11.70 (INMET, 1960/1990¹).

O clima de Caxambu é bem distinto em suas estações, fazendo com que o mesmo tenha

uma influência diferenciada sobre os componentes físicos e bióticos do município. No

inverno são registradas temperaturas amenas com uma grande variação entre o dia e a

noite, e o verão é caracterizado por altas temperaturas tanto de dia como de noite,

apresentando ainda altos índices pluviométricos.

O município de Caxambu, assim como muitos municípios mineiros, tem seu limites

políticos definidos por divisores de águas. No extremo leste, oeste e sul o município é

limitado pela linha de cumeada de várias sub-bacias do rio Baependi, que é o limite

norte do mesmo. As principais sub-bacias hidrográficas que formam o município são a 1 Disponível em < http://www.inmet.gov.br/> . Acesso 03/12/2007

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37

do ribeirão do João Pedro, ribeirão Bengo que atravessa a sede municipal e encontra-se

canalizado em parte de seu curso pela área urbana e o ribeirão do Taboão.

O sentido preferencial da drenagem é o sul-norte em direção ao rio Baependi, o padrão

de drenagem é o dendrítico com seus cursos principais meandrantes, que é condicionado

por se desenvolver em rochas de resistência uniforme. Estes ribeirões, em seus trechos

médio-baixo próximos ao rio Baependi, correm em calha encaixada no terraço aluvionar

que ocupa o fundo do vale aberto até o exutório.

O rio Baependi tem seu leito desenvolvido em padrão meandrante, característico de rios

com baixa capacidade de fluxo hídrico e que, com eventos hidrológicos mais intensos,

criam zonas de inundação paralelas ao seu curso.

Quanto aos usos das águas identificados no rio Baependi, pôde-se constatar que os

principais são:

• abastecimento da cidade e povoados;

• abastecimento de populações humanas do meio rural;

• consumo industrial;

• consumo de agroindústrias;

• irrigação;

• aqüicultura;

• pesca;

• controle de cheias;

• navegação e

• recreação para lazer.

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!.

!.

!.

!.

!.

Rio Baependi

Caxambu

Baependi

Soledade de Minas

495000

495000

500000

500000

505000

505000

510000

510000

515000

515000

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000

7560

000

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000

7565

000

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000

7570

000

7575

000

7575

000

7580

000

7580

000

NOTAS TURISMO E TÍTULO ESCALA

FIGURADESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL1:100.000

0 1 2 3 4Km

MAPA HIDROGRÁFICOBASE CARTOGRÁFICA DO IBGEPROJEÇÃO UTM, DATUM SAD 69 ZONA 23S

!. Sede MunicipalRiosLimites Municipais

4.7

Rib.

da C

acho

eirinh

a ou d

e Joã

o Ped

roRib. B

engo

Rib. Taboão

:

Page 39: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

39

4.1.5.GEOMORFOLOGIA Caxambu encontra-se inserido no compartimento de Serras e Planaltos do Sudeste do

Estado (Ab’Saber, 1968), tendo ainda em sua porção sul, influência em seu relevo da

Serra da Mantiqueira que, segundo Moreira e Camelier (1977), seria uma subdivisão do

domínio morfoestrutural denominado Escarpas e Maciços modelados em Rochas do

Complexo Cristalino, que ocupam um vasto território no Estado.

A atuação diferenciada dos fatores exógenos como o clima e regime hidrológico e

endógenos, como o substrato geológico e ações que causaram perturbações da

superfície pela atividade tectônica passada, deram origem a uma geomorfologia

diferenciada no município de Caxambu.

É possível caracterizar quatro principais domínios morfo-estruturais dentro dos limites

do município, e são:

• porções de quartzitos muito alteradas;

• afloramentos de granito-gnaisse;

• colinas de topo aplainado e

• planícies e terraços fluviais.

O município de Caxambu tem em sua porção sul, suas maiores altitudes chegando a

faixa de 1240 metros acima do nível do mar, próximo a nascente do ribeirão da

Cachoeirinha ou de João Pedro.

O perfil topográfico da porção sul do município, no sentido sul-norte (perfil C-D no

mapa hipsométrico), mostra esse relevo mais acidentado. Nestas porções mais altas que

são encontrados os afloramentos de granito-gnaisse e as cristas de quartzito, que são

estruturas mais resistentes à erosão conformando as partes mais elevadas do relevo. Ao

norte do município, também foi caracterizado esse domínio, isso se dá pela existência

da Serra do Morro Queimado no sentido leste-oeste (perfil A-B no mapa hipsométrico)

que é o divisor de águas entre o ribeirão Taboão e o rio Baependi.

É grande a presença das drenagens meândricas no município, principalmente as do rio

Page 40: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

40

Baependi, ribeirão da Cachoeirinha ou de João Pedro, ribeirão Bengo e ribeirão Taboão.

Sendo assim, uma porção da conformação do terreno é condicionada principalmente

pela ação destes que, com o passar to tempo, tiveram sua capacidade de entalhar o

talvegue diminuída, o que propiciou a formação de grandes planícies fluviais.

Já a porção central, caracteriza-se por um relevo mais suavizado pela ação do clima em

rochas menos resistentes, onde podem ser caracterizadas planícies aluvionais de

pequeno porte formadas pelo ribeirão Bengo, onde a sede do município está instalada e

a planície do ribeirão João Pedro que deságua no rio Baependi, localizada ao norte. É

neste domínio, cujo embasamento é cristalino (granito), que predominam as colinas de

topo aplainado com vertentes côncavas e convexas.

Page 41: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

NOTAS TURISMO E TÍTULO ESCALA

FIGURADESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MODELO DIGITAL DE TERRENOMUNICIPAL - MDTM

BASE CARTOGRÁFICA DO IBGEPROJEÇÃO UTM, DATUM SAD 69 ZONA 23S

4.8

&3

&3

&3

&3

AB

C

D

Rio Baependi

Caxambu

Baependi

500000

500000

505000

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515000

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5200007555

000

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7560

000

7560

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7565

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000

7570

000

7575

000

7575

000

:

1:100.000

&3 Sede MunicipalDrenagem MunicipalRio BaependiLago do Parque das ÁguasLimite Municipal

HipsometriaElevação em metros

1145 - 12401050 - 1145955 - 1050860 - 955

0 1 2 3 4Km

Rib.

da C

acho

eirinh

a ou d

e Joã

o Ped

ro

Rib. B

engo

Rib. Taboão

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42

4.1.6.PEDOLOGIA, VEGETAÇÃO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Dentro do território municipal foram identificadas várias classes de solos com

pedogêneses diferenciadas, e são: o Latossolo, Argissolo, Cambissolo, Neossolo

Regolítico, Neossolo Litólico, Neossolo Flúvico e Gleissolo (EMATER, 2003). Em

cada tipo de solo, é sustentada uma vegetação específica com usos predominantes da

terra. Sendo importante ressaltar que, a exploração passada da maioria do território

municipal descaracterizou totalmente sua conformação vegetal original.

No município, os Latossolos são encontrados pontualmente no domínio das colinas com

topos aplainados, principalmente nas vertentes convexas e em rampas de latossolo, que

também foram identificadas (RESENDE, 2002). Estão geralmente associados à

vegetação típica de cerrado, pelas características ácidas e distróficas predominantes,

tendo sua utilização para a agricultura condicionada a correções.

O Argissolo ou Podzólico, segundo a nova nomenclatura de classificação da

EMBRAPA, não apresenta grande expressão espacial no município, estando restrita em

inclusões no domínio dos Cambissolos. São geralmente encontrados em vertentes

côncavas abertas (anfiteatros), apresentam limitações para a utilização agrícola e são

altamente susceptíveis a erosão pela dificuldade de percolação da água (EMATER,

2003).

Os Cambissolos ocupam a maior abrangência espacial no município de Caxambu,

trazendo consigo características específicas em sua formação, que os tornam altamente

predispostos à erosão como: horizonte B incipiente e a grande quantidade de silte no

horizonte C, que faz com que aconteçam processos de ravinamento acelerados e em alto

grau de evolução (voçorocas) caso não existam cuidados redobrados quanto ao uso e

manejo dos mesmos (EMATER, 2003). A vegetação geralmente é de cerrado e o uso

agrícola ou qualquer outro é altamente restrito.

Os Neossolos Litólicos, são solos muito rasos que ocorrem em áreas de afloramentos

rochosos, ou seja, geralmente são formados sobre a rocha (horizonte R) ou sobre a

rocha alterada (horizonte C). Por apresentarem altas declividades e pedregosidade, são

Page 43: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

43

restritos à mecanização para atividade agrícola, podendo ser utilizados por pastagens

naturais. Ainda assim, de acordo com a composição mineralógica da rocha matriz, são

solos possivelmente com alta fertilidade. A vegetação típica é de campo rupestre e são

áreas cujo uso preferencial é o de preservação e turismo (EMATER, 2003).

Os Neossolos Flúvicos são resultantes das deposições fluviais recentes distribuídos nas

planícies aluviais (leitos maiores) do município, têm geralmente fertilidade média-alta.

Mas, sua utilização varia de acordo sua localização, os solos presentes nas planícies

aluviais do município (leitos maiores) são limitados devido a inundações em períodos

chuvosos, sendo assim, não são indicadas a construção de benfeitorias, culturas de verão

e lavouras permanentes nestas áreas. São passíveis de utilização, sem ricos, as culturas

de entressafra (EMATER, 2003). A vegetação típica desses solos é a mata ciliar ou de

galeria. Já os terraços fluviais, por estarem localizados acima das áreas de inundação,

são muito aptos a receberem culturas permanentes e benfeitorias.

Os Gleissolos ou solos Hidromórficos, são solos encontrados também nas planícies

aluviais e são característicos de áreas alagadas, apresenta coloração do horizonte A

escura sobreposta por uma camada acinzentada, isso se deve pelo alto teor de argila que

aumenta gradativamente de acordo com a profundidade e matéria orgânica. O grau de

encharcamento desses solos restringe o uso para a agricultura, sendo necessário a

criação de um sistema de drenagem (EMATER, 2003). São áreas geralmente ocupadas

por veredas ou brejos.

Os Neossolos Regolíticos são solos constituídos por material mineral aonde a

pedogênese foi pouco sentida, ou seja, geralmente são pouco desenvolvidos tendo

seqüência de horizonte A-C. Apresentam alta erodibilidade, mas sua textura arenosa

permite que a permeabilidade seja alta e a infiltração rápida, fazendo com que o mesmo

tenha baixa predisposição à retenção da umidade. A vegetação que melhor se adapta a

esse tipo de solo é a floresta estacional semidecídua (Mata Atlântica), característica pela

influência da sazonalidade do clima. Nas estações secas as árvores (caducifólias)

perdem parte das folhas, evitando assim a evapotranspiração mais intensa (RADAM,

1983). Os usos preferenciais são a silvicultura, o reflorestamento com espécies de mata

atlântica, pastagem e áreas de preservação.

Page 44: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

44

Diante do exposto, tem-se que os solos do município apresentam características naturais

pobres, devido ao próprio material de origem que, em geral são formado a partir de

rochas alcalinas, gnaisses e arenitos. Outro fator que potencializa essa pobreza de

nutrientes são os altos índices pluviométricos, que favorecem a lixiviação do solo

tornando-os distróficos, ou seja, pobres em nutrientes para a utilização agrícola. A

utilização com esta finalidade bem como outros usos devem levar em consideração a

grande presença do Cambissolo no município, que torna o terreno propício aos

processos erosivos mais agressivos (ravinas e voçorocas).

Já a vegetação, é claramente determinada por duas tipologias, Mata Atlântica e Cerrado,

em transição contínua no território municipal, de acordo com o tipo de solo encontrado

e a exploração já existente dos recursos naturais. Atualmente, as florestas remanescentes

da região encontram-se completamente fragmentadas, com diferentes estágios

sucessionais e em distintos graus de preservação. O que se observa é o resultado de

diversas intervenções antrópicas, principalmente ligadas à atividade agrosilvopastoril

(com o plantio de café e a pecuária), reflorestamento com espécies exóticas comerciais

e substituição da vegetação nativa para implantação de pastagens.

A cobertura vegetal mais expressiva em termos de conservação restringe-se às Unidades

de Conservação – UC’s e às áreas de reserva legal das propriedades. Nas porções mais

conservadas do município (meandro do rio Baependi ao norte e nascente do ribeirão da

Cachoeirinha ou João Pedro), a vegetação aparentemente possui estrutura semelhante à

dessas áreas protegidas. As principais UC’s localizadas próximas ao município foram:

Reserva Biologia do Jacaré (Municipal), Reserva Biologia das Laranjeiras (Municipal),

Parque Estadual da Serra do Papagaio e a Área de Preservação Ambiental da Serra da

Mantiqueira.

Page 45: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

45

Foto: EMATER.

Figura 4.9 - Vegetação ciliar localizada ao norte do município às margens do rio Baependi.

No município de Caxambu, os principais usos da terra são: mineração; pecuária mista;

minhocultura – húmus de minhoca; silvicultura; criação de eqüinos; olericultura –

alface, fruticultura – pêssego, figo e laranja; cafeicultura e produção de grãos – milho e

feijão. É importante ressaltar que, a estrutura fundiária do município ainda conserva as

características do auge da produção do café, onde 18 propriedades acima de 100 ha

(14% do número de propriedades) ocupam 58% do território municipal (EMATER,

2003).

A mineração se concentrava na exploração das águas minerais (da fonte Mayrink III) no

Parque das Águas e era executada pela Superágua S/A. Também foi diagnosticada a

extração de quartzo (areia) em três localidades do município.

A atividade agropecuária é predominantemente familiar (com 67% das propriedades e

38% da área do município), mas foram identificadas propriedades especializadas na

produção de gado de corte. A pecuária leiteira também foi caracterizada em muitas

propriedades (EMATER, 2003).

Page 46: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

46

A produção do húmus não é comercializada ainda, sendo somente utilizada nas

propriedades aonde são produzidas (EMATER, 2003).

A silvicultura é uma atividade em expansão, mas ainda pouco representativa.

A criação de cavalos é uma atividade reconhecida em Caxambu, que está próximo ao

município de Cruzília, considerado o berço da raça Margalarga Marchador, fato esse

que proporciona a existência de vários eventos ligados à criação dessa mesma.

A olericultura ou o cultivo de hortaliças são ocorrentes nas propriedades menores, sendo

sua produção comercializada na feira livre do produtor rural.

A fruticultura também é uma atividade em franca expansão no município, por ser

favorecido pelas condições edafoclimáticas, onde é possível a produção de frutas típicas

de climas temperados como o pêssego e o figo (EMATER, 2003).

A cafeicultura ainda está presente no município, ocupando principalmente os topos dos

morros fora do alcance das geadas. Além deste grão, também é produzido no município

o milho e o feijão, que é pouco comercializado sendo consumido quase totalmente pelos

produtores nas residências e para alimentar o gado.

Quanto aos usos da terra, é perceptível em Caxambu uma utilização em larga escala

limitada pelo tamanho territorial do município, bem como pelas dificuldades trazidas

pelos solos pobres e altas declividades.

Page 47: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

!.

!.

!.

!.

!.

!.

Rio Baependi

Rio B

aepe

ndi

Caxambu

Baependi

Soledade de Minas

495000

495000

500000

500000

505000

505000

510000

510000

515000

515000

7560

000

7560

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000

7565

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7570

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000

7575

000

7580

000

7580

000

NOTAS E FONTES TURISMO E TÍTULO ESCALA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL1:100.000

0 1 2 3 4Km

!. Sede MunicipalDrenagemRio BaependiLimites MunicipaisNeossolo FlúvicoNeossolo LitólicoLatossolo + CambissoloLatossoloNeossololitólico + CambissoloCambissolo

MAPA DE SOLOSBASE CARTOGRÁFICA DO GEOMINAS E IBGEPROJEÇÃO UTM, DATUM SAD 69 ZONA 23SDETEC/EMATER

FIGURA

:

4.10

Page 48: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

48

4.1.7.MEIO SÓCIO-ECONÔMICO

4.1.7.1.SETORES ECONÔMICOS

A região sul de Minas Gerais é considerada uma das mais desenvolvidas do estado,

depois da Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH e, devido ao seu

posicionamento geográfico que a coloca próxima de eixos mais desenvolvidos como

São Paulo e Rio de Janeiro, possui dinâmicas diferenciadas na configuração de seu

espaço.

Entre os fatores que apresentam representatividade no crescimento econômico da

região, está a interiorização das indústrias do Estado de São Paulo que passaram a

procurar o sul de Minas Gerais para se instalar. Segundo Gutberlet (1996), de uma

forma geral, essa migração ocorreu através do paralelo entre as “vantagens comparadas

principalmente no que tange ao transporte, a qualidade de vida, a instituição de atrativos

fiscais e instrumentos incentivadores na área de infra-estrutura do sul de minas”.

Não há como deixar de citar o fato da duplicação da BR 381, e sua importância no

processo de ocupação do sul do estado pelas indústrias paulistas.

Como a maioria dos municípios da região sul de Minas Gerais, Caxambu passou por um

período de crescimento industrial e decréscimo da atividade agropecuária,

principalmente a partir do final da década de 70 até a década de 90.

Segundo dados da Fundação João Pinheiro – FJP (1995), em 1985 a indústria da região

do Circuito das Águas ocupava uma participação de 17,4% no PIB total do estado,

passando a taxa de 22,7% em 1995. Enquanto isso, o setor de serviços se apresentou

estável, passando de 61,9% em 1985 para 64,0% em 1995. Já o setor agropecuário foi

pressionado pelo êxodo e pela falta de investimentos e auxílio governamental e, entrou

em decréscimo, tendo sua participação enfraquecida, passando de 20,7% para 13,3% no

mesmo período.

Caxambu, entre 1985 e 1995, teve um crescimento de seu PIB total em 2,8% ficando

apenas atrás de São Lourenço na região, que teve um crescimento acima do normal com

Page 49: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

49

taxa de crescimento anual de 5,1%.

Caxambu passou por uma queda entre o período de 1991 a 1995. Declínio este que teve

sua origem na interrupção das atividades da Cia. Paulista de Ferro-Ligas que tinha sede

produtiva no município. Os dados de consumo de energia pela classe industrial

representam bem o que foi a paralisação das atividades da referida empresa, que, no

intervalo entre 1991 e 1995 caiu 99%.

Apesar de algumas iniciativas privadas sem sucesso, ao se comparar os setores

econômicos, percebe-se que a vocação do município concentra-se na prestação de

serviços, que é onde o turismo se encaixa. Apesar de alguns autores já considerarem o

turismo como uma indústria.

No ano de 2000, cerca de 4.643 pessoas ocupavam cargos na área de prestação de

serviço, estando em segundo lugar a atividade comercial de mercadorias. Isso reflete

que o crescimento da indústria ocorrido entre 1985 e 1995, não conseguiu perdurar de

maneira a transformar a base econômica de Caxambu (Figura 4.11).

558

1.4302.102

4.643

0

1000

2000

3000

4000

5000

Agropecuário, extração vegetal e pescaIndustrialComércio de MercadoriasServiços

Fonte: IBGE, Censo de 2000.

Figura 4.11 – População Economicamente Ativa - PEA ocupada por setores econômicos em Caxambu.

Outro dado que corrobora a vocação do município para a prestação de serviços até 2002

Page 50: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

50

é o Produto Interno Bruto - PIB, que detêm sua base amparada na atividade industrial

em segundo lugar (ver Figura 4.12). Segundo dados atuais da prefeitura, o Produto

Interno Bruto do Município gira em torno de 95% ligado a atividade turística e os outros

5 % estão abarcados pela indústria e agricultura.

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

AGROPECUÁRIO INDUSTRIA SERVIÇO

1998 1999 2000 2001 2002

Figura 4.12 - Produto Interno Bruto – PIB de Caxambu a preços correntes, 1998-2002. Unidade R$(mil).

A exploração das águas minerais é uma atividade que obteve por muito tempo destaque

entre as modalidades econômicas do município e, apesar de encontra-se paralisada,

receberá investimentos da COPASA para sua reinauguração e, retomará assim, sua

função no município.

As águas minerais de Caxambu foram explotadas1 por muito tempo pela Superágua

Empresa de Águas Minerais S/A e, atualmente, a Copasa é a responsável pela

exploração das mesmas.

Mas, apesar de ter direito a Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM,

como pode ser visto no texto que segue, os valores arrecadados são incompatíveis com a

necessidade de recursos para a proteção das águas minerais e da comunidade que se

sustenta em função do turismo gerado a partir das mesmas.

1 Tirar proveito financeiro da exploração de (área, região, terra etc.) por meio de seus recursos naturais.

Page 51: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

51

Assim como todos os municípios brasileiros que são detentores de atividades

minerarias, Caxambu tem o direito a uma parte do lucro com a venda do produto final

gerado pela explotação da água mineral. Do montante que é repassado às esferas

governamentais tem-se a seguinte divisão:

• 12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT);

• 23% para o Estado onde for extraída a substância mineral;

• 65% para o município produtor.

Direito esse amparado pela Constituição Federal de 1988 que, em seu Art. 20, § 1º, cita:

A Compensação Financeira pela Exploração Mineral - CFEM, é devida aos

Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração

da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos

minerais em seus respectivos territórios.

A CFEM é gerada a partir do cálculo sobre o valor do faturamento líquido das empresas

minerárias, concebido na venda do produto mineral originário das áreas da jazida, mina,

salina ou outros depósitos minerais. Deste valor são deduzidos os tributos (ICMS , PIS ,

COFINS), que são incidentes na comercialização, assim como as despesas com

transporte e seguro. Quando o produto mineral é consumido, transformado ou utilizado

pelo próprio minerador, então se considera como valor, para efeito de base do cálculo

da CFEM, o somatório das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da

utilização do produto mineral (DNPM).

O DNPM aplica alíquotas específicas sobre o faturamento líquido para a obtenção da

CFEM, variando-se de acordo com a substância mineral da seguinte maneira:

• aplica-se a alíquota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e

potássio;

• 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias (águas minerais);

• 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonatos e metais

nobres;

Page 52: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

52

• 1% para: ouro.

O pagamento da CFEM é realizado mensalmente, até o último dia útil do segundo mês

subseqüente ao fato gerador, ou seja, a venda do produto mineral.

Como a CFEM juridicamente não é considerada um imposto, e sim uma contraprestação

econômica pela exploração mineral em seus respectivos territórios, os recursos

originários da arrecadação da mesma não poderão ser aplicados de forma genérica. Ou

seja, em pagamento de dívidas ou no quadro permanente de pessoal da União, dos

Estados, do Distrito Federal e Municípios. O investimento deverá ser direcionado para

projetos que, direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local na forma

de melhoria da infra-estrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação.

Para a água mineral, o DNPM aplica a alíquota de 2% sobre o faturamento líquido,

cujos valores arrecadados são visualizados na Figura 4.13. Analisando os valores do

gráfico, tem-se que os mesmos são incipientes. Sendo assim, nota-se que a exploração

histórica das águas não é igualmente proporcional ao retorno financeiro que a

exploração traz ao município.

4.985,39

7.426,84

8.618,95

558,88

0,00

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

6.000,00

7.000,00

8.000,00

9.000,00

10.000,00

2003 2004 2005 2006

Fonte: Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM.

Figura 4.13 – Arrecadação da CFEM entre 2003 e 2006.

Page 53: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

53

4.1.7.2.DINÂMICA POPULACIONAL

Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no

ano de 2000, residiam em Caxambu 22.058 habitantes. Deste total, 91% concentram-se

na zona urbana. O auto grau de urbanização é resultado de um processo histórico de

êxodo da população às zonas urbanas, sendo latente em Caxambu a relação exercida

pela perda de áreas de cultivo de café que, durante muito tempo foi uma atividade

presente em grande escala na região.

Apesar do crescimento vegetativo ainda ser positivo, a evolução entre as décadas tem se

mostrado negativa quanto ao aumento da população: de 1970 a 1980 o município

apresentou 17,85% de crescimento, seguido por 15,54% entre 1980 e 1991 e com uma

queda entre 1991 e 2000 para 13,17%.

Tabela 4.2 - População Total, População Urbana, População Rural e Grau de Urbanização. ANOS URBANA RURAL TOTAL URBANIZAÇÃO 1970 13.389 926 14.315 93,53% 1980 16.189 681 16.870 95,96% 1991 19.078 413 19.491 97,88% 2000 21.624 434 22.058 98,03% 20051 23.782

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Obs.: grau de urbanização = (população urbana ÷ população total) x 100

Com relação à distribuição etária da população, utilizando como base o censo de 2000,

o município de Caxambu demonstra um comportamento tendencial semelhante aos

municípios da região sudeste do estado, apesar de ainda em estado de transição. Ou seja,

a maioria dos municípios da região sudeste, salvos os que se localizam em regiões mais

pobres, como os do Norte/Nordeste de Minas, começaram a apresentar uma evolução

que reflete alguns aspectos, quais sejam: a inserção da mulher no mercado de trabalho, a

melhoria do acesso a medicamentos contraceptivos e a dificuldade financeira cada vez

maior em se constituir grandes famílias. Isso faz com que a base da população, ocupada

pela faixa mais jovem, não seja a mais representativa, pois a média mínima de

crescimento da população de >2,1 filhos por mulher não está sendo atendida.

1 Dados Preliminares.

Page 54: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

54

1.7122.037

3.466

2.773

4.9894.670

1.3261.156

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

0-4 5-9 10-17 18-24 25-39 40-59 60-69 70 OU MAIS

Fonte: IBGE.

Figura 4.14 – Concentração da população por faixas etárias de Caxambu, 2000.

4.1.7.3.DESENVOLVIMENTO HUMANO E ACESSO A SERVIÇOS BÁSICOS

Um dos indicadores utilizados para resumir a situação social de um município é o

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM (ou simplesmente IDH), que

reúne informações de três parâmetros analisados em um processo de desenvolvimento

econômico, quais sejam:

1.a longevidade de uma população, expressa pela esperança de vida ao nascer;

2.o seu grau e conhecimento, traduzido por variáveis educacionais; e

3.a sua renda ou PIB per capita, ajustada para refletir a paridade de seu poder de

compra.

Estas variáveis são analisadas e o resultado traduz um diagnóstico geral das unidades

territoriais estudadas (países, estados e municípios). Segundo classificação da ONU, o

IDH menor que 0,500 caracteriza baixo desenvolvimento humano, entre 0,500 e 0,800

médio desenvolvimento, e superior a 0,800, alto desenvolvimento.

Fazendo um paralelo entre os anos de 1991 e 2000, pode-se constatar que a mortalidade

infantil no município de Caxambu decresceu 29,74%, passando de 26,09 (por mil

Page 55: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

55

nascidos vivos) em 1991 para 18,33 (por mil nascidos vivos) em 2000. Além desse dado

positivo, a esperança de vida ao nascer também cresceu de 69,27 para 73,78 em 2000,

ou seja, aumentou em 4,51 anos. A taxa de fecundidade que era de 2,6 filhos por mulher

passou para 2,1, ficando abaixo da considerada pela UNESCO como sendo a taxa

mínima para crescimento da população.

O acesso aos serviços básicos corroborou para a melhoria da variável longevidade e

esperança de vida ao nascer, em 1991 já era satisfatório com 96,7% da população

possuindo água encanada e passou para 98,9% em 2000. A energia elétrica atendia

97,9% da população e passou para 99,9% em 2000, já a coleta de lixo teve um salto

considerável passando de 82,8% em 1991 para 94,8% em 2000.

Duas obras de infra-estrutura foram muito importantes para a melhoria da qualidade de

vida no município, a construção da Estação de Tratamento de Esgoto – ETE e o aterro

sanitário controlado. Com início de operação em 2002, a ETE de Caxambu traz o

município à um cenário favorável na questão de tratamento da água e despoluição. Na

atualidade, 100% do esgoto da cidade é tratado, numa estação moderna que reúne o

compromisso com a qualidade de vida dos moradores e segurança para os turistas. O

aterro sanitário é outra obra importante no quesito preservação ambiental para o

município, especialmente pela vocação turística da cidade. O mesmo possui um sistema

complexo de drenagem e tratamento de chorume, além da lagoa facultativa e 2

roteadores.

Outra variável que tem peso para a definição do IDH é a educação, em Caxambu a

evolução da população jovem de 1991 para 2000 foi extremamente positiva. Conforme

pode ser visto na Tabela 4.3, a taxa de analfabetismo caiu em todas as faixas etárias

avaliadas, menos na de 7-14 anos que aumentou de 7,3% a 7,7%. Ou seja, a população

tem evoluído em termos educacionais. A média de anos de estudo passou de 5,2 para

6,5 estando a frente de muitos municípios mineiros.

Page 56: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

56

Tabela 4.3 - Nível Educacional da População Jovem, 1991 e 2000 de Caxambu. Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Faixa etária

Taxa de analfabetismo (%)

% com menos de 4 anos de

estudo % com menos de 8 anos de estudo

% freqüentando a escola

(anos) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 7 a 14 7,3 7,7 * * * * 88,9 95,8 10 a 14 4,4 2,5 54,5 33,4 * * 86,1 96,7 15 a 17 1,4 0,7 11,6 7,9 70,2 53 66,4 77,2 18 a 24 4,4 1,6 14,7 10,8 58,5 35,4 * * 25 anos ou mais 14,4 8,5 33,3 21,9 72,5 58,7 * *

*=não se aplica

A última variável analisada para a definição do IDH municipal foi à renda que, em

Caxambu, teve um grande peso para a melhoria do índice. Em 1991, a renda per capita

era de 184,9R$ contra os 266,2R$ de 2000, provocando um aumento de 43,97%. A

proporção de pobres que era de quase 50% da população (47,3%) passou para 25%

representando uma queda de 47,13%. Apesar destes dados, a desigualdade pouco

diminuiu, em 1991 o índice de GINI passou de 0,60 para 0,56 de 2000, aonde 20% da

população mais rica detinha 61,1% da renda.

Caxambu, segundo esses critérios, em 2000 obteve um IDH médio, apresentando uma

evolução de 0,734 (1979) para 0,796 (2000), que representa um aumento de 8,45%.

Desta maneira, percebe-se que o município encontram-se em ascensão no quesito

desenvolvimento humano, as variáveis que mais contribuíram para a melhoria do índice

foram a longevidade e a renda, com 40,3% e 32,8% respectivamente, seguidas pela

educação com 26,9%. Em relação ao estado, dentre os 853 municípios, Caxambu

encontra-se na 50ª posição.

4.2.CONCLUSÃO DO DIAGNÓSTICO O diagnóstico realizado mostrou que Caxambu tem uma história rica, e que a formação

do município está diretamente relacionada à descoberta das águas minerais e suas

funções terapêuticas.

O clima do município é marcado por duas estações bem distintas, uma seca e fria e

Page 57: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

57

outra quente e úmida, tais combinações trazem a região um clima muito agradável.

Apesar de temperaturas muito baixas e muito altas serem registradas, a pouca

urbanização e a relativa arborização não deixam que estes extremos causem

desconfortos térmicos incompatíveis com o turismo.

A geologia que, através de uma constituição peculiar trouxe a possibilidade do

surgimento das águas minerais, também proporcionou a formação de uma

geomorfologia de contrastes entre colinas e serras imponentes na região.

O uso do solo é quase totalmente agrícola no município, e a presença de grandes

planícies fluviais e cambissolos são fortes entraves à produção em larga escala nas

propriedades.

A economia do município é totalmente dependente do turismo, e empreendimentos

relacionados a atividade.

A exploração das águas minerais é histórica e encontra-se paralisada, apesar de estar

sendo retomada pela COPASA. Ainda assim, a exploração das águas minerais não traz

o retorno necessário para a tomada de ações em relação à proteção das mesmas.

Segundo os dados do DNPM.

A população tem índices de desenvolvimento humano muito acima da maioria dos

municípios mineiros, a infra-estrutura básica é satisfatória e atende a quase 100% da

população.

Sendo assim, é possível afirmar que Caxambu tem em “mãos” toda a matéria-prima

necessária para o desenvolvimento de uma atividade turística sustentável, se bem

planejada.

Para melhor avaliar as reais potencialidades e entraves para a recuperação e expansão da

atividade turística em outros segmentos de Caxambu, no capítulo 5 foram detalhados e

melhor diagnosticados os pontos favoráveis e desfavoráveis no território municipal

como um todo.

Page 58: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

58

5.POTENCIALIDADES E ENTRAVES PARA A EXPANSÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA – ANÁLISE ESPACIAL DE CAXAMBU

5.1.PORÇÃO NORTE

5.1.1.CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO

• Componentes físicos

A porção norte do município de Caxambu é marcada pela presença de rochas cristalinas

(graníticas) e metamórficas (gnáissicas), que conformam um relevo de colinas côncavo-

convexas altamente entalhadas pela drenagem e pela ação pluviométrica que possui

altos índices na região do sul de minas. Do ponto de vista geomorfológico, duas feições

se destacam, e são a Serra do Morro Queimado (ver FOTO1 da planta síntese) e as

planícies fluviais do Rio Baependi e do Ribeirão do Taboão. Outra característica

peculiar da porção norte é a presença do Cambissolo, que é um solo muito encontrado

no município e possui como característica principal sua alta susceptibilidade à erosão.

• Qualidade geo-ambiental

Na porção norte, é possível encontrar áreas de floresta estacional semidecidual em

estágios diferenciados de regeneração, principalmente no topo da serra do Morro

Queimado, nas matas ciliares do rio Baependi e no seguimento das estradas mais

próximas ao rio (ver FOTO7 da planta síntese). O que demonstra a existência de uma

possível área de concentração de espécies da fauna, principalmente aquelas adaptadas

ao ambiente florestal. Mas, a pressão antrópica causada pela atividade agrícola, vem

criando ilhas que dificultam a geração de corredores florestais, e conseqüentemente

diminuindo consideravelmente a biodiversidade florística e faunística das áreas mais

preservadas. Ainda foram detectadas áreas ravinadas e com voçorocas ativas, o que é

claramente evidenciado pela presença do Cambissolo no território da porção norte (ver

FOTO5 da planta síntese).

• Beleza estética

A beleza estética da porção norte é muito favorável a apreciação e utilização para o

Page 59: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

59

turismo. Principalmente pelos contornos formados pela Serra do Morro Queimado, pela

presença do Rio Baependi (ver FOTO2 da planta síntese) e pelo arranjo produtivo

agrícola das propriedades que assumem um papel fundamental na formação da

paisagem.

• Arranjo da estrutura social

O uso do solo da porção norte é caracterizado pela atividade agrícola, onde no rebordo

da Serra do Morro queimado a geomorfologia é favorável a implantação de culturas

permanentes como o café.

Já nas áreas que circundam as planícies de inundação do Rio Baependi e Ribeirão

Taboão, o relevo mais suave possibilitou o uso para a agricultura anual, onde foi

constatado o plantio de batata, milho, feijão e arroz. Essa informação é preocupante,

pois é nessa área que se apresenta a maior ocorrência do Cambissolo. E, com a possível

paralisação das atividades de plantio e abandono do solo exposto, a erosão pode tornar-

se um grande problema ambiental.

Nesta porção, predominam propriedades de rurais extensas e nenhuma aglomeração

populacional considerável, na maioria são agricultores e alguns sitiantes com produção

leiteira (ver FOTO3 da planta síntese). A imersão nas propriedades rurais pode ser um

diferencial na utilização da porção norte para o turismo, ainda assim, a baixa

concentração populacional impede um aproveitamento maior desse aspecto. Pois,

praticamente inexistem manifestações culturais na zona rural dessa porção.

• Acessibilidade

Através do mapeamento topográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE foi possível conferir todas as estradas que acessam a área da Serra do Morro

Queimado e o Rio Baependi. No trabalho de campo, ficou evidenciado que a serra

quase não pode ser acessada, pois existe um grande número de propriedades particulares

nesta porção, e suas estradas privadas impedem a passagem até as áreas mais altas (ver

vias de acesso municipais na planta síntese).

É possível acessar a localidade do Morro Queimado por uma estrada de terra municipal

em bom estado de conservação, mas somente consegue-se contornar a Serra.

Page 60: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

60

Já o Rio Baependi é acessado por duas estradas, uma segue em direção ao local

denominado Volta Grande, onde é possível ultrapassar o mesmo por uma ponte e seguir

em direção ao local denominado Vale Formoso. Nesta região foi possível diagnosticar a

presença de alguns empreendimentos turísticos (Pousadas e Hotéis Fazenda, ver FOTO6

da planta síntese). A outra estrada é a mesma que acessa o Morro Queimado, onde, para

ir de encontro ao Rio Baependi deve-se entrar à direita em uma ramificação de terra que

segue para a Fazenda da Passagem antes de chegar ao aeroporto municipal. Mas, nesse

segundo acesso, é impossível ultrapassar o rio pela queda de uma ponte que a mais de

nove anos encontra-se nesta situação (ver FOTO4 da planta síntese). Sendo assim, foi

construída uma pinguela que serve para pedestres e alguns motociclistas que se

aventuram em passar pela precária estrutura.

No restante das margens do rio, é quase impossível chegar ao leito do mesmo por causa

da grande planície fluvial formada em paralelo ao mesmo.

5.1.2.POTENCIALIDADES E ENTRAVES A paisagem da porção norte possui entre os temas estudados, muitas potencialidades

para o aproveitamento da mesma com intuito de formatação de produtos turísticos.

O Rio Baependi tem um potencial alto para a prática do turismo de aventura e

ecoturismo, isso se deve pela exuberância de seu curso e pela navegabilidade que o

mesmo proporciona. A Serra do Morro Queimado é outra feição onde pode-se trabalhar

o ecoturismo, principalmente pela sua beleza e relativa conservação das qualidades geo-

ambientais. As propriedades agrícolas podem ser inclusas em atividades conciliadas, de

forma a se criar pontos de apoio e venda de seus produtos caseiros quando existirem.

Ainda assim, existem entraves que podem dificultar tal uso da paisagem, a pressão

sobre a flora e fauna das atividades agrícolas instaladas que causam significativa perda

das qualidades geo-ambientais, o lançamento de esgotos no Rio Baependi pelos

municípios à montante de Caxambu e a acessibilidade podem ser citados como os

principais.

Page 61: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

61

Ou seja, para que a porção norte torne-se um espaço de aproveitamento compartilhado,

a participação da sociedade civil local, das empresas privadas interessadas e do poder

público (não só municipal, mas da bacia do Rio Baependi) devem levar em

consideração todos os pontos frágeis para que o uso dos recursos não seja incompatível

com as possibilidades oferecidas. E, principalmente para que as ações sejam planejadas

de forma a compatibilizar a exploração da paisagem, a inclusão social e o ganho

econômico horizontalizado.

5.2.PORÇÃO CENTRAL

5.2.1.CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO

5.2.1.1. O PRODUTO TURÍSTICO DESENVOLVIDO EM CAXAMBU

O turismo no município de Caxambu surgiu por uma demanda histórica de pessoas atrás

do poder de cura de suas águas minerais, reconhecido como tendo o Parque das Águas

com a maior diversidade tipológica do mundo. Ao todo, são 12 fontes de água mineral

com propriedades medicinais e indicações terapêuticas distintas distribuídas no Parque

das Águas Lysandro Carneiro Guimarães. No texto que segue, são descritas as

principais informações históricas, as composições e as propriedades terapêuticas de

cada uma das fontes. A classificação das águas foi feita de acordo o código das águas

minerais do Departamento Nacional de Produção mineral – DNPM e as informações

históricas foram inventariadas pela prefeitura municipal.

• FONTE D. LEOPOLDINA

As primeiras fontes hidrominerais de Caxambu foram descobertas por volta de 1814. A

Fonte Dona Leopoldina foi captada em 1850 e o projeto arquitetônico data de 1912. Seu

nome é uma homenagem a filha do Imperador D. Pedro II. Sua composição é alcalino-

bicarbonatada, alcalino-terrosa, cálcida e magnesiana. Indicada para problemas

hepáticos, de vesícula biliar e alterações do intestino grosso.

Page 62: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

62

Figura 5.1 – Fonte D. Leopoldina.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE D. PEDRO

Esta é a fonte mais antiga e simbólica do Parque das Águas. Seu nome é uma

homenagem ao Imperador D. Pedro II, representado também pela réplica da coroa

imperial sobre o pilar de mármore. A captação ocorreu em meados do séc. XIX, e o

atual pavilhão data de 1960. Sua composição é radioativa, supercarbônica, gasosa forte.

É tônica e digestiva, eliminando perturbações gastrintestinais.

Figura 5.2 - Fonte D. Pedro.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE VIOTTI

O nome desta fonte é uma homenagem a um grande estudioso das águas minerais, o Dr.

Policarpo de Magalhães Viotti, ilustre caxambuense que em 1886 fundou a primeira

empresa responsável pela comercialização das águas minerais, a Empresa das Águas de

Caxambu. A água mineral é radioativa forte, gasosa forte. Esta água possui grande

poder diurético e ação solvente de cálculos renais.

Page 63: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

63

Figura 5.3 - Fonte Viotti.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE DUQUE DE SAXE

Esta fonte, conhecida também como fonte sulfurosa devido à rica presença de enxofre,

tem no nome uma homenagem ao marido de D. Leopoldina (genro do Imperador), tendo

como diferencial o ponto de inalação do gás sulfídrico que atua no aparelho respiratório

desobstruindo as vias respiratórias dentre outros benefícios. Sua composição é alcalino-

bicarbonatada, alcalino-terrosa e sulfurosa, contém enxofre. Sua água é usada no

tratamento do aparelho gastrintestinal, fígado e vias biliares. O banho sulforoso no

balneário é indicado para a pele e dores reumáticas.

Figura 5.4 - Fonte Duque de Saxe.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTES MAYRINK 1 (Água mineral carbogasosa, radioativa) MAYRINK 2 e

3 (carbogasosa, fluoretada, radioativa)

As Mayrink I, II e III foram captadas na última década do séc. XIX. O pavilhão

quadrado baseia-se na arquitetura do Arco do Triunfo em Paris. Prestam homenagem a

um grande empresário e figura importante nos negócios do Império, o Conselheiro

Francisco de Paula Mayrink. Dentre outras benfeitorias em Caxambu se destaca o

Page 64: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

64

reinicio e término (com recursos próprios) das obras da Igreja Santa Isabel da Hungria.

Mayrink I - Água mineral acídulo-gasosa e radioativa, indicadas para gargarejos;

Mayrink II – Água mineral acídulo-gasosa e radioativa, indicadas para qualquer tipo de

irritação nos olhos (colírio de primeira linha) e Mayrink III – Água mineral sem gás,

utilizada para engarrafamento, banhos no Balneário e abastece também a piscina do

Parque das Águas.

Figura 5.5 - Fonte Mayrink.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTES CONDE D'EU E PRINCESA ISABEL

Foi com as águas desta fonte que em 1868 a Princesa Isabel curou sua esterilidade. Em

sinal de agradecimento e em cumprimento a uma promessa, a Princesa e o Conde D'Eu

determinaram a construção, em Caxambu, da Igreja Santa Isabel, dedicada à Rainha da

Hungria. Estas fontes férreas passaram a dividir o mesmo pavilhão em 1910. O molde

das mãos unidas representam o casal imperial. As mãos que serviram de modelo foram

a do casal Margarida e Edmundo Dantas (Gerente da Empresa das Águas de Caxambu).

Sua composição é alcalino-gasosa e alcalino-terrosa, altamente ferruginosa. Suas águas

são energéticas e indicadas para o tratamento da anemia.

Page 65: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

65

Figura 5.6 – Fonte Conde D’EU e Princesa Isabel.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE BELEZA

Como as fontes Duque de Saxe e D. Leopoldina, seu estilo obedeceu ao empregado na

época para as fontes francesas, e o projeto de 1913 é de origem belga. Esta é a antiga

fonte intermitente, perfurada pelo Dr. Viotti em 1866. A fonte quando voltou a jorrar

após algum tempo seca, causou grande surpresa e recebeu o nome de Beleza, pela

admiração que causava. Sua composição é alcalino-bicarbonatada e férrea. Rica em

magnésio, cálcio e flúor, esta água é indicada para a formação dos ossos e dentição. O

magnésio atua também no sistema nervoso como calmante, combatendo o estresse,

sendo também indicada para tratamento do aparelho digestivo.

Figura 5.7 – Fonte Beleza.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE VENÂNCIO

A Fonte Venâncio foi captada em 1936. Seu nome é uma homenagem a um

caxambuense que dedicou grande parte de sua vida ao Parque das Águas, o Sr.

Venâncio da Rocha de Figueiredo, que também participou das captações das fontes de

Lambari e Cambuquira. Sua água radioativa possui ação diurética, digestiva e atua

Page 66: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

66

normalizando a pressão arterial.

Figura 5.8 - Fonte Venâncio.

Foto: Assessoria de Imprensa.

• FONTE ERNESTINA GUEDES

A Fonte Ernestina Guedes, antiga fonte D.Thereza Cristina, foi descoberta em 1950, seu

nome foi dado em homenagem à família Guedes que sempre participou do

desenvolvimento da cidade de Caxambu. A arquitetura foi à mesma projetada para o

antigo pavilhão da fonte D. Pedro. Para banhar-se é necessário a utilização dos

chuveiros ao redor do Gêiser. Sua composição é alcalino-bicarbonatada e alcalino-

terrosa. Esta água é altamente radioativa, dentre outros benefícios, é indicada para o

tratamento de afecções da pele.

Figura 5.9 – Fonte Ernestina Guedes.

Foto: Assessoria de Imprensa. Além da beleza arquitetônica e importância medicinal das fontes, outro diferencial do

parque de Caxambu é o Gêiser1 Floriano Lemos, uma raridade que aguça a curiosidade

dos turistas que visitam o parque. O mesmo possui um alcance de 8m de altura (agora

melhor distribuído para banhos através de uma construção cônica) e a temperatura

1 Gêiser é uma nascente termal que entra em erupção periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor para o ar. Fonte: Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9iser> Acesso, 10/06/2008.

Page 67: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

67

média da água é de 27º C.

Figura 5.10 – Gêiser Floriano Lemos.

Foto: Assessoria de Imprensa. O Balneário Hidroterápico é outro atrativo do parque, construído no início do século

XX em estilo neoclássico, é ricamente ornamentado com vitrais franceses. Os azulejos e

pisos, vindos da Europa especificamente de Portugal e da Inglaterra, formam belíssimos

mosaicos e desenhos. Em seu interior há diversos tipos de banhos, duchas e saunas

divididas em duas alas, uma feminina e outra masculina, esta última com uma piscina

térmica. Amplas salas de repouso, fisioterapia e outras aplicações eletroterápicas

também fazem parte dos serviços oferecidos. O mesmo encontra-se fechado para

reforme há mais de 1 ano.

Figura 5.11 – Balneário Hidroterápico.

Foto: Assessoria de Imprensa. Vale ressaltar que todo o conjunto paisagístico e arquitetônico do Parque das Águas de

Caxambu foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de

Minas Gerais – IEPHA/MG, tendo sua homologação sido realizada em 1999 através do

decreto nº40.288. Além do conjunto do Parque, a igreja de Santa Isabel da Hungria

Page 68: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

68

também foi tombada por sua importância histórica e arquitetônica. A referida igreja foi

encomendada pela princesa Isabel após a suposta obtenção de cura de sua esterilidade.

A homologação do tombamento data de 1978, sob orientação do decreto n°19.513.

Figura 5.12 – Igreja Santa Isabel da Hungria, construída em homenagem a rainha da Hungria.

Foto: Yash Maciel 03/07/08.

Além dos bens tombados pelo Estado, municipalmente são tombadas a Praça 16 de

Setembro, a escola Padre Correia de Almeida, a cadeira para jardim do escultor Chico

Cascateiro e a estatueta em bronze do Conselheiro Mayrink, sendo estes dois últimos

bens móveis.

Figura 5.13 – Praça 16 de setembro.

Figura 5.14 - Escola Padre Correia de Almeida.

Foto: Assessoria de imprensa.

Page 69: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

69

Figura 5.15 - Cadeira do Chico Cascateiro.

Figura 5.16 - Estatueta do Conselheiro Mayrink.

Foto: Assessoria de imprensa.

O morro do Caxambu é outro ponto considerado turístico no município, de cima do

mesmo é possível ter uma vista panorâmica de 360° da região. Ao sul é possível ter uma

bela vista do conjunto de serras que formam a APA da Serra da Mantiqueira,

considerada um grande potencial natural para o desenvolvimento do turismo nos

municípios com território na mesma ou em sua proximidade.

5.2.2.POTENCIALIDADES E ENTRAVES Por muito tempo, Caxambu se mantém praticamente do turismo, mas seus esforços para

que a atividade perdurasse como o principal vetor de sustentação econômica do

município não foi proporcional ao grau de dependência do mesmo. O parque das águas

está em bom estado de conservação, e é o principal produto do turismo no município.

Mas, o descuido com outras questões muito importantes para que o segmento do

turismo de saúde continuasse forte, não possibilitou um desenvolvimento sustentável da

atividade.

Primeiramente, destaca-se que vários pontos das problemáticas enfrentadas pelo

município já são de conhecimento público. Tais aspectos foram tratados através de uma

análise de cenário (ou SWOT1) realizada em 2003, que demonstra de forma clara os

Pontos Fortes, os Pontos Fracos, as Ameaças, as Oportunidades e as Recomendações

para que o município alavanque novamente sua tradição na atividade turística.

1 Análise SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de cenário (ou análise de ambiente), sendo usado como base para gestão e planejamento estratégico de uma corporação ou empresa, mas podendo, devido a sua simplicidade, ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário, desde a criação de um blog à gestão de uma multinacional. Fonte: Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%A1lise_SWOT> Acesso em 10/07/08.

Page 70: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

70

E são:

• Pontos Fortes

o Patrimônios tombados;

o Artesanato;

o Concentração de maior quantidade de fontes naturais do mundo;

o Aspecto de cidade interiorana, saudável, tranqüila e segura.

• Pontos Fracos

o Culinária;

o Não há diferencial e, relação ás outras cidades que integram o Circuito

das Águas;

o Não há público de 18-29 anos, com exceção do carnaval, e mesmo assim,

não há consumo do turismo por parte desses mesmos quando estão na

cidade;

o Ausência de divulgação publicitária.

• Ameaças

o Ausência de parcerias entre hotéis e comércio local para agregar novos

turistas, e com isso, aumentar o consumo dos produtos e serviços da

cidade.

• Oportunidades

o Alguns hotéis, dentro de seus pacotes, poderiam fazer com que os

turistas tenham lazer em outras localidades de Caxambu.

• Recomendações

o Aumentar a divulgação dos atrativos da cidade e revitalizá-los;

o Unir os representantes do comércio (artesanato x hotéis) para que saibam

que o turista tem que se beneficiar e em conseqüência, atingir a todos os

envolvidos da cidade em termos lucrativos;

o A história de Caxambu e seus pontos turísticos devem ser divulgados,

incitando a curiosidade dos turistas;

Page 71: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

71

o Agregar um novo público, A e B, a partir de todas as idades;

o Fazer com que os guias das charretes se informem mais sobre o que a

cidade oferece.

Apesar de vários problemas estarem influenciando negativamente na evolução do

turismo em Caxambu há muito tempo, somente em 2003 foi realizado pelo SEBRAE

um Plano de Ações Integradas que teve como objetivo diagnosticar as fortalezas e

fraquezas do município. Mas, até então, poucas propostas foram seguidas e concluídas.

Na época, foi realizado um diagnóstico da infra-estrutura da sede urbana e dos

principais pontos que têm uma ligação com a sustentação da atividade turística no

município, visando assim, dar subsídio às melhorias necessárias. Dentre os principais

pontos avaliados, segue uma análise do que foi diagnosticado como precário e do que

foi feito para se evoluir positivamente no quesito.

• Qualidade do produto desenvolvido em Caxambu

Todo o aproveitamento turístico de Caxambu se dá em função da existência de suas

águas minerais e seu Parque, diante disso, percebe-se que durante os anos a

concentração das ações municipais foi extremamente focada nesse recorte espacial. Na

porção central, a paisagem não foi tratada com um todo, deixando rastros da ocupação

desordenada e visivelmente fora do contexto da arquitetura e arranjos necessários para

se manter os atrativos existentes.

O morro do Caxambu, por exemplo, é considerado um ponto turístico no conjunto do

parque, mas a infra-estrutura construída no topo deixa a desejar. As instalações são

precárias, as paredes estão pichadas, o acesso de carro é feito por uma estrada mal

sinalizada e perigosa. Além destes fatores, o teleférico que poderia ser um diferencial, é

antigo e não imprime muita segurança. Isso faz com que o ponto seja menos visitado do

que o desejado.

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72

Figura 5.17 – Paredes pichadas das instalações do topo do morro Caxambu.

Figura 5.18 – Teleférico do parque das águas.

Fotos: Yash Maciel. 03/07/2008.

A ocupação envolta do morro do Caxambu é outro ponto importante. Mesmo com o

plano diretor aprovado junto a lei de uso e ocupação do solo que impõe restrições

quanto às ocupações no entorno do parque, e tendo o morro sido decretado como Área

de Preservação Permanente - APP, muitas áreas já haviam sido construídas e outras

foram sendo invadidas durante o passar dos anos. Esse dado é preocupante, pois é

sabida a importância das áreas de recarga dos aqüíferos que alimentas as fontes minerais

do parque e, caso as ocupações avancem sobre essas, a perduração das nascentes estará

comprometida.

Figura 5.19 – Ocupações no sopé do morro Caxambu.

Foto: Yash Maciel. 03/07/2008.

• Acesso e transporte coletivo

Esse quesito teve e ainda possui uma avaliação final precária, pois as entradas da cidade

são visualmente ruins e não remetem a importância que o turismo tem para o município.

Ainda assim, a posição geográfica do mesmo em relação aos grandes centros urbanos da

região sudeste é favorável e, as rodovias que dão acesso ao município estão em bom

estado de conservação.

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73

O aeroporto ainda não possui área de embarque e desembarque. A nova rodoviária que

era em uma antiga estação de trem, não conservou uma arquitetura em contexto com a

história da linha que passava no local, além de e estar muito degradada. Os pontos de

ônibus são mal posicionados, mal conservados e a pavimentação das vias da sede, que

agora começam a ser recuperadas, ainda estão precárias em alguns pontos.

Figura 5.20 – Rodoviária sem contexto e mal conservada.

Figura 5.21 – Pontos de ônibus mal posicionados e mal cuidados.

Figura 5.22 – Pavimentação precária.

Fotos: Yash Maciel. 02/07/2008

• Infra-estrutura básica – água, esgoto e lixo

A água já atendia bem o município, que continua sem problemas de abastecimento. O

esgoto é 100% tratado e a estação é modelo no estado. Já a questão do lixo, com a

construção e operação do aterro controlado melhorou, ainda assim, existem poucas

lixeiras na cidade e a coleta seletiva ainda não foi implementada.

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74

Figura 5.23 – Aterro controlado de Caxambu.

Foto: Yash Maciel. 05/07/2008

• Rede hospitalar

A equipe médica é de alto nível, mas o hospital não tem muita credibilidade, como os

das cidades vizinhas Cruzília e Baependi, aonde ocorrem à maioria dos partos da região.

A unidade também não possui plantão no hospital, o que é grave para um pólo turístico,

pois deixa um ar de insegurança no caso de acidentes e urgências.

• Espaços culturais

Os espaços culturais são inexistentes, como museus, áreas de recreação livre e áreas

para apresentações das manifestações culturais da região. É no Parque das Águas que

acontecem a maioria de eventos de cunho cultural. O centro de eventos foi ampliado,

mas a arquitetura é fria e sem contexto. Além desses fatores, o acesso ao local é

dificultado pela ineficácia da iluminação pública, o que o torna um local perigoso.

Figura 5.24 - Vista geral do centro de convenções.

Foto: Yash Maciel. 05/07/2008

Page 75: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

75

• Sinalização turística

A sinalização turística ainda é precária e praticamente inexistente.

• Hospedagem

Segundo informações da Prefeitura Municipal, Caxambu tem cerca de 23

estabelecimentos de hospedagem perfazendo mais de 2000 leitos. Dentre os tipos de

hospedagem, tem-se:

o Hotéis 14

o Pousadas 03

o Flat hotel 03

o Hotel-fazenda 03

A cidade ainda possui cerca de 300 leitos entre apartamentos e casas de aluguel. A rede

hoteleira atendia perfeitamente o turismo quando o carro chefe era o Parque das Águas,

mas, com a tentativa de mudar o foco para o turismo de eventos a mesma começou a

não suportar os congressos, onde é cada vez maior o número de participantes. Hoje, os

municípios de Águas de Lindóia e Campos do Jordão são os principais concorrentes de

Caxambu para esse segmento de turismo. Para a expansão do turismo de eventos, seria

necessário que a rede hoteleira aumentasse sua capacidade, o que não vem acontecendo.

• Centro de Informações turísticas

As informações turísticas são realizadas pelos funcionários da secretaria de turismo,

pois não existe um ponto estratégico criado com o objetivo de informar o turista das

possibilidades oferecidas em Caxambu. A secretaria está localizada em uma área de

pouca circulação de pessoas, o que impossibilita um acesso fácil a informação.

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Figura 5.25 – Secretaria Municipal de Turismo de Caxambu.

Foto: Yash Maciel. 05/07/2008

• Marketing

O município não possui uma estratégia de marketing definida, o mesmo é divulgado

pela fama do passado e pelos congressos que vem acontecendo com menor freqüência a

cada ano.

• Pesquisa de Opinião dos munícipes sobre Caxambu

Outra questão que foi avaliada pelo trabalho do SEBRAE (2003), é que a comunidade

não apresenta uma boa imagem do município. Em um questionário de questões abertas

sobre qual a imagem o entrevistado tem e quais suas expectativas, as respostas que

obtiveram maior número foram:

• Que nada dá certo.

• Nada vai para frente.

• A cidade do “já foi” e “já teve”.

• Vive na expectativa da reabertura dos cassinos.

• Esperam tudo dos governantes.

Além deste fator, também foi constatado que o conhecimento sobre a história do

município, das águas minerais e o que elas representam é pouco conhecida na

comunidade com um todo. Pensando nisso, a secretaria de educação incluiu nas cadeiras

de ensino a aplicação do conhecimento sobre o turismo e qual sua importância para

Caxambu.

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77

É clara a grande potencialidade existente na porção central do município, mas pelo que

foi diagnosticado, existem muitos entraves que foram surgindo durante o passar dos

anos. Para se alcançar os objetivos de Caxambu no turismo, os atores envolvidos devem

investir em um planejamento coordenado segundo os seguintes aspectos:

• ações de melhorias de infra-estrutura da sede como um todo,

• realização de um trabalho de fortificação dos conceitos do turismo com a

população local, mostrando que a atividade é a engrenagem econômica do

município;

• fortalecimento da identidade dos munícipes com relação às águas minerais e a

história de Caxambu;

• especialização da medicina local em crenoterapia; e

• diversificação do turismo para provocar o turista a conhecer outras

potencialidades do município e região.

5.3.PORÇÃO SUL

5.3.1.CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAISAGEM PARA O TURISMO

• Componentes físicos

A geologia da porção sul do município é muito semelhante à da porção norte, ou seja,

em geral são rochas graníticas e gnáissicas que sustentam o relevo. Porém, como a

porção sul se encontra em uma maior proximidade com a Serra da Mantiqueira, quanto

mais se segue nessa direção, mais é sentida a interferência da serra sobre o relevo. Que

tem nessa porção suas maiores altitudes.

Diante dessa interferência, tem-se que o relevo dessa porção é mais predisposto ao

aparecimento de feições encachoeiradas, o que foi caracterizado em diversos pontos da

mesma. Ainda assim, pelo município apresentar uma área muito diminuta nessa porção,

a maioria das cachoeiras encontradas já estão dentro dos limites de Baependi (ver

FOTO9 na planta síntese).

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• Qualidades geo-ambientais

Existem muitos fragmentos isolados de floresta estacional semidecidual em regeneração

nesta porção, a maioria resume-se em pequenas áreas próximas aos cursos d’água e em

volta das nascentes. Assim como na porção norte, a pressão sofrida pelos ambientes

florestais causado pelo uso agrícola do solo não permitiu a existência de corredores

ecológicos. Sendo assim, a fauna encontrada nessa porção está mais associada a

ambientes altamente antropizados, o que restringi muito a biodiversidade.

Pelo município apresentar uma área muito afunilada nessa porção, ao se analisar o

entorno do mesmo em direção a Baependi, pôde-se constatar a presença de áreas bem

conservadas e, em direção a Soledade de Minas o uso agrícola já alterou intensivamente

o ambiente (ver FOTO15 da planta síntese).

• Beleza estética

A beleza estética da porção sul do município é um ponto forte para a utilização da

paisagem para o turismo, a influência da formação da Serra da Mantiqueira trouxe um

arranjo geomorfológico de grande exuberância. O uso agrícola ocupou grande parte

dessa porção, trazendo uma beleza subjetiva à mesma através de seu arranjo rural.

• Arranjo da estrutura social

A morfologia do terreno da porção sul favoreceu o uso do solo agrícola, permitindo sua

ocupação com predominância do plantio de café. Geralmente são encontradas

propriedades rurais mais extensas, mas com menores áreas do que na porção norte. A

pecuária leiteira também foi constatada nessa porção (ver FOTO16 da planta síntese).

No seguimento da antiga linha férrea, foi possível diagnosticar a presença de

empreendimentos ligados ao turismo e lazer, mostrando assim que algumas tentativas

estão sendo tomadas para que essa porção também tenha um uso diferenciado. Além

destes, é nesse segmento da ferrovia que estão os marcos da estrada real de Caxambu

(ver FOTO13 da planta síntese).

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• Acessibilidade

A acessibilidade é um ponto forte dessa porção, é possível conhecer a mesma em sua

totalidade por estradas de terra municipais em bom estado de conservação. As

propriedades estão em quase sua totalidade nas margens das estradas, o que impõe certa

facilidade no contato entre o transeunte e sua relação com as pessoas e as atividades

rurais executadas (ver FOTO 14 da planta síntese e mapeamento das vias de acesso).

Além desses fatores, o alinhamento da BR354 em direção a Pouso Alto favoreceu o

acesso e conseqüente surgimento de empreendimentos ligados ao turismo (ver FOTO8 e

11 da planta síntese).

5.3.2.POTENCIALIDADES E ENTRAVES Na porção sul, as possibilidades de se explorar a paisagem para o turismo podem ser

limitadas em função da pequena expressão do limite territorial político do município.

Mas, nada impede os planejadores do turismo de criar roteiros que ultrapassem os

limites do mesmo. Em direção ao município de Solidade de Minas, a paisagem rural

possui um arranjo produtivo muito organizado, possibilitando assim a criação de pontos

de apoio e venda de produtos locais. Principalmente em função do plantio de Café e da

produção leiteira em pequena escala.

Além desse fator, a influência do surgimento da Serra da Mantiqueira possibilitou o

surgimento de diversas cachoeiras em direção ao município de Baependi. É nessa

direção, que também são encontrados os melhores fragmentos de floresta estacional

semidecidual.

Diante dos aspectos expostos, tem-se que o mosaico de componentes da paisagem na

porção sul potencializam a mesma à criação de produtos ligados ao turismo rural,

ecoturismo e turismo de aventura.

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6.CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos dados coletados pela pesquisa, é visível que Caxambu passa atualmente por

problemas estruturais, de foco e divulgação do que os planejadores do município

consideram como produto. Em levantamento bibliográfico realizado na prefeitura, nota-

se que os entraves são claramente conhecidos pelos governantes há tempos.

Principalmente através dos estudos encomendados, mas pouco foi feito durante esse

tempo para que Caxambu reassuma seu posto de pólo turístico.

As paisagens que constituem o mosaico municipal são repletas de potenciais ainda não

explorados, o que é um ponto positivo ainda não formatado para o turismo e que pode

ser utilizado.

Na porção norte, o Rio Baependi é exuberante e suas águas são navegáveis, o que o

torna um componente físico passível de utilização para atividades de turismo de

aventura e ecoturismo. Além deste, a morfologia da Serra do Morro Queimado e seu

entorno, são feições que trazem à porção norte a potencialidade para a expansão das

atividades do turismo nesse rumo. Logicamente, os proprietários deverão ser

trabalhados a fim de se mostrar os benefícios da atividade como fonte atratora de

desenvolvimento local. Atividade esta, que deve ser desenvolvida de maneira

compartilhada, para que todos possam tirar proveito da mesma. Levando sempre em

consideração a preservação das qualidades geo-ambientais, que são fundamentais para a

evolução sustentável do processo. A existência de empreendimentos ligados ao turismo

e propriedades rurais operantes nesta porção, demonstra a possível viabilização de um

produto formatado com o viés voltado para o turismo rural.

Com relação aos entraves encontrados na porção norte são destacadas como principais

as questões de acessibilidade trazidas pelas propriedades privadas que impedem que a

Serra do Morro Queimado seja acessada, a pressão ainda maior sobre um ambiente

historicamente explorado pela agricultura e a existência de cambissolos. A preocupação

com relação aos cambissolos se deve, pois, intervenções de engenharia para a

construção de estruturas de apoio e acesso as áreas de topo da serra podem dar origem a

processos erosivos.

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A porção central, onde se encontra o produto turístico do município, é bem conhecida,

as problemáticas já foram levantadas e as soluções estão a vista dos governantes. Sendo

assim, somente um planejamento de médio a longo prazo, que foque nas águas minerais

como sendo um atrativo importante, mas não o principal produto turístico no município,

poderá trazer de volta a recuperação da importância econômica da atividade para o

mesmo. Para isso, será necessário que a paisagem dessa porção seja objeto

investimentos em seus aspectos de infra-estrutura, que a proteção das fontes minerais

seja garantida através da aplicação legal da lei de uso e ocupação do solo e que as

pessoas voltem a acreditar em Caxambu como potência turística. Como já citado

anteriormente, as principais diretrizes para que isso aconteça dentro de um

planejamento de médio a longo prazo são:

• ações de melhorias de infra-estrutura da sede como um todo,

• realização de um trabalho de fortificação dos conceitos do turismo com a

população local, mostrando que a atividade é a engrenagem econômica do

município; e

• fortalecimento da identidade dos munícipes com relação às águas minerais e a

história de Caxambu.

Fazer com que os munícipes de Caxambu voltem a vestir a camisa do turismo será um

trabalho árduo, somente um plano educacional intenso em todos os sentidos,

principalmente com relação aos conceitos do turismo nos preceitos do desenvolvimento

sustentável, fará com que o engajamento da comunidade reforce a vontade de mudar o

quadro atual instalado.

Na porção sul, a dimensão territorial parece um fator negativo, mas não o é. As

paisagens rurais e naturais são totalmente passíveis de serem utilizadas como produtos

turísticos em um contexto mais regional. Ainda assim, a apropriação do espaço para

atividades rurais e turísticas nessa porção, podem ser melhor trabalhadas através de um

planejamento de médio a longo prazo, já que as iniciativas existentes ainda são

incipientes.

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Primeiramente, Caxambu precisa reorientar a atividade turística em função das

potencialidades de suas águas minerais, feito isso, seria possível a formatação de novos

produtos pensando no aproveitamento das paisagens que compõem o município e

mesmo a região.

Apesar de este estudo ter sido focado nos limites municipais de Caxambu e seu entorno,

é claro o potencial da região do sul de Minas para o turismo. Como potencialidades,

além dos aspectos internos, o município é integrante do Circuito das Águas, da Estrada

Real e do Corredor Ecológico da Serra da Mantiqueira.

O circuito das águas, que inicialmente era constituído somente pelas instâncias

hidrominerais e agora conta com 10 municipalidades participantes do mesmo, é um dos

mais antigos circuitos do estado de Minas Gerais e pode ser alavancado através de um

planejamento conjunto.

Os municípios que atualmente constituem este circuito são: Caxambu, São Lourenço,

Baependi, Conceição do Rio Verde, Soledade de Minas, Carmo de Minas, Cambuquira,

Campanha, Lambari e Heliodora conforme mostra a Figura 6.1.

Figura 6.1 – Circuito das Águas.

Fonte: www.turismo.mg.gov.br

Dentre os principais entraves que se instalaram neste circuito, citam-se a falta de

integração entre os municípios que o compõe e a inexistência de um plano estadual de

re-potencialização dos atrativos.

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Outro vetor de atratividade turística onde Caxambu é participante é o Estrada Real, que

é considerado o principal projeto de popularização de um circuito na atualidade em

Minas Gerais.

Conforme pode ser visualizado na Figura 6.2, são duas rotas “imaginárias”, pois as

mesmas não coincidem com as vias de ligação na maioria das vezes. Um vetor liga

Diamantina a Paraty (pelo Caminho Velho) e outra variante segue até o Rio de Janeiro

(denominado Caminho Novo). Fazem parte do projeto da Estrada Real 177 cidades,

destas, 162 encontram-se em Minas Gerais, 8 no Rio de Janeiro e 7 em São Paulo tendo

como principal objetivo a redescoberta das riquezas arquitetônicas, culturais e naturais

vislumbradas pelos bandeirantes na corrida do ouro. Nas trilhas e caminhos utilizadas

para o escoamento da produção e abastecimento das colônias exploradoras com

benfeitorias, surgiram diversas povoações que mais tarde tornaram-se as cidades

constituintes do trajeto da Estrada Real. Caxambu, nesse contexto, faz parte do

Caminho Velho onde o ouro e o diamante explorado em Minas Gerais era escoado para

a Coroa em Portugal através de Paraty.

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Figura 6.2 – Mapa da Estrada Real. Fonte: www.estradareal.org.br

A estrada real ainda é uma incógnita para muitos, apesar de seu “trajeto” ser altamente

divulgado na mídia, ainda é muito pouco palpável a presença da mesma como fonte de

desenvolvimento local ou potencializadora de produtos turísticos ainda sub-explorados.

Apesar de Caxambu possuir alguns marcos da Estrada Real em seu território, não existe

uma relação direta formatada entre a Estrada Real e o produto turístico oferecido no

município.

Além destes projetos, existem vários municípios próximos a Caxambu com um grande

potencial natural e cultural para o turismo, dentre os que mais poderiam ser explorados

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pela atividade citam-se:

• São Tomé das Letras com suas cachoeiras, serras, grutas e cultura exotérica;

• Baependi com suas cachoeiras, serras e turismo religioso que será potencializado

com a canonização de Nha Chica;

• Aiuruoca com suas cachoeiras e principalmente com a estruturação e

regularização do Parque Estadual da Serra do Papagaio para o uso turístico.

Sendo assim, Caxambu, que detém a segunda maior rede hoteleira da região (perdendo

somente para São Lourenço), poderia formatar passeios em conjunto com os atores

destes municípios. A fim de criar uma integração e permanência dos turistas durante um

maior tempo no sul de minas.

Diante do exposto, observa-se que Caxambu se encontra disposto em meio a várias

iniciativas e áreas potenciais ligadas ao turismo, mas, ainda assim a situação do

município como pólo de atração turística encontra-se ameaçada. Todos os problemas

direcionam para um só, que se resume em falta de planejamento.

O município precisa de um plano de turismo de médio a longo prazo, que não mude de

intensidade ou rumo durante os mandatos dos políticos que encabeçam as decisões de

planejamento.

Além da sede, é possível vislumbrar a possibilidade de expansão da atividade no meio

rural, através da segmentação da atividade para o ecoturismo, turismo de aventura e

turismo rural. As potencialidades foram levantadas e devem ser objetos de estudos mais

aprofundados, para que os entraves sejam contornados.

Lembrado que, somente com a participação de todos os atores envolvidos, será possível

que o município tenha êxito. Trazendo ainda a responsabilidade de cada um para com o

objetivo único, que é cuidar para que o turismo e sua diversificação na região se

instalem dentro dos moldes do desenvolvimento sustentável.

Page 86: Caxambu, Turismo Além das Águas - Potencialidades e Entraves

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7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8.ANEXOS

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8.1. ANEXO 1 - PLANTA SÍNTESE DAS PORÇÕES NORTE E SUL