deficiÊncia visual e ensino superior: possibilidades e entraves

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A pesquisa apresentada tem como objetivo principal mostrar quais são as alternativas encontradas pelos alunos com deficiência visual para o estudo da física no ensino superior. Foram ao todo 6 entrevistados que nos relataram suas experiências dentro das universidades, mostrando por um lado a falta de preparo por parte dos professores e por outro a pré-disposição de alguns para fazer um ensino inclusivo, dentro de suas condições, para atender as necessidades de aprendizagem desses alunos. Veremos que em meio a esse ambiente desconhecido temos atitudes positivas que são capazes de manter aluno com deficiência visual em um curso de exatas. Nesta pesquisa veremos como isso foi possível, através de ideias e ações tomadas em conjunto entre aluno e equipe pedagógica da universidade.

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  • FELIPE FORTES BRAZ

    DEFICINCIA VISUAL e ENSINO SUPERIOR:

    Possibilidades e entraves

    LAVRAS-MG

    2014

    FELIPE FORTES BRAZ

  • 2

    DEFICINCIA VISUAL e ENSINO SUPERIOR:

    Possibilidades e entraves

    Monografia apresentada ao

    Colegiado do Curso de Licenciatura

    em Fsica, para a obteno do ttulo

    de Licenciado em Fsica.

    Orientador (a)

    Dr (a). Helena Libardi

    LAVRAS-MG

    2014

  • 3

    RESUMO

    A pesquisa apresentada tem como objetivo principal mostrar quais

    so as alternativas encontradas pelos alunos com deficincia visual para o

    estudo da fsica no ensino superior. Foram ao todo 6 entrevistados que nos

    relataram suas experincias dentro das universidades, mostrando por um

    lado a falta de preparo por parte dos professores e por outro a pr-disposio

    de alguns para fazer um ensino inclusivo, dentro de suas condies, para

    atender as necessidades de aprendizagem desses alunos. Veremos que em

    meio a esse ambiente desconhecido temos atitudes positivas que so capazes

    de manter aluno com deficincia visual em um curso de exatas. Nesta

    pesquisa veremos como isso foi possvel, atravs de ideias e aes tomadas

    em conjunto entre aluno e equipe pedaggica da universidade.

    Palavras-chave: Ensino inclusivo. Deficincia Visual. Ensino

    superior.

  • 4

    ABSTRACT

    The research has as main objective to show what are the alternatives

    encountered by students with visual impairments for the study of physics in

    higher education. We interviewed 6 students who reported on their

    experiences within universities, showing on the one hand the inability on the

    part of teachers and on the other pre-disposition of some to make inclusive

    education to fulfill the learning needs of these students. We will see that in

    the middle of this unknown environment we have positive attitudes who are

    able to keep students with visual impairment in a course in the exact

    sciences. In this research we will see how this was possible, through ideas

    and actions taken jointly between student and teaching staff of the

    university.

    Keywords: Inclusive education. Visual disability. Higher education.

  • 5

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Evoluo das matrculas de estudantes pblico alvo da educao

    especial na educao bsica ....................................................................... 24

    Grfico 2 - Evoluo das matrculas de estudantes com deficincia na

    educao superior ...................................................................................... 25

  • 6

    LISTA DE TABELA

    Tabela 1 - Classes de acuidade visual ......................................................... 13

  • 7

    SUMRIO

    RESUMO ........................................................................................................ 3

    ABSTRACT ................................................................................................... 4

    LISTA DE GRFICOS .................................................................................. 5

    LISTA DE TABELA ...................................................................................... 6

    SUMRIO ...................................................................................................... 7

    INTRODUO .............................................................................................. 9

    Captulo 1 - CONCEITOS E DEFINIES ................................................ 12

    Seo 1.1 - Deficincia visual ................................................................... 12

    Seo 1.2 Ensino inclusivo .................................................................... 15

    Seo 1.3 - Principais Barreiras ................................................................ 16

    Seo 1.3.1 - Arquitetnicas ..................................................................... 16

    Seo 1.3.2 - Atitudinal ............................................................................ 16

    Seo 1.3.3 - Comunicao ....................................................................... 19

    Captulo 2 ACESSIBILIDADE NA EDUCAO SUPERIOR ............... 21

    Seo 2.1 - Resultado das polticas pblicas - acesso ao ensino superior. 23

    Captulo 3 INCLUSO NO ENSINO SUPERIOR ................................... 26

    Captulo 4 - METODOLOGIA ..................................................................... 32

    Captulo 5 RESPOSTA DOS QUESTIONRIOS: ANLISE E CONCLUSES ............................................................................................ 35

  • 8

    Seo 5.1 - Perfil do entrevistado ............................................................. 37

    Seo 5.2 - Vida escolar do entrevistado .................................................. 40

    Seo 5.3 - Ingresso do entrevistado vida acadmica ............................ 42

    Seo 5.4 - Vida acadmica do entrevistado ............................................ 45

    Seo 5.5 - Infraestrutura da universidade. ............................................... 47

    Seo 5.5.1 - Barreira arquitetnica .......................................................... 47

    Seo 5.5.2 - Barreira atitudinais .............................................................. 49

    Seo 5.5.3 - Barreira de comunicao e informao ............................... 52

    Captulo 6 - ESTUDO DE CASO - MINHA TRAJETRIA ....................... 55

    Seo 6.1 - Minha Trajetria .................................................................... 56

    Seo 6.2 - Materiais confeccionados - crticas e sugestes ..................... 62

    Seo 6.2.1 - Tecnologias aplicadas educao. ...................................... 62

    Seo 6.2.2 - Estgios, Seminrios e Apresentaes. ............................... 65

    Seo 6.2.3 - Leitura de textos tericos. ................................................... 67

    Seo 6.2.4 - Resumos e Anlises Crticas. .............................................. 68

    Seo 6.2.5 - Expresses Matemticas ..................................................... 68

    Seo 6.2.6 - Figuras................................................................................. 69

    Seo 6.2.7 - Filmes e Vdeos ................................................................... 70

    Seo 6.3 - Linguagem matemtica para pessoas com deficincia visual 70

    Seo 6.3.1 Exemplo de adaptaes para o estudo da Mecnica Quntica74

    CONSIDERAES FINAIS ....................................................................... 77

    REFERNCIAS............................................................................................ 79

    ANEXO ........................................................................................................ 83

  • 9

    INTRODUO

    O acesso de alunos com deficincia no ensino superior vem

    aumentando significativamente nos ltimos anos. Este aumento uma

    consequncia direta das polticas de incluso na educao bsica.

    Mesmo com este nmero crescente de alunos e com as polticas

    pblicas voltadas acessibilidade do aluno com deficincia no ensino

    superior, ainda existe um caminho muito grande para ser percorrido no

    sentido do pleno acesso e condies para estes alunos.

    O presente trabalho vai nos encaminhar para a realidade do ensino

    inclusivo no ensino superior para alunos com deficincia visual. Uma nfase

    especial ser dada para as disciplinas bsicas de fsicas, comuns nas matrizes

    curriculares dos cursos de exatas.

    O objetivo central desse trabalho apresentar as dificuldades

    encontradas por alunos com deficincia visual em sua trajetria acadmica.

  • 10

    Procuraremos apresentar tambm possveis alternativas utilizadas para

    garantir a incluso destes alunos em seus cursos e, em especial, as estratgias

    desenvolvidas pelos prprios alunos para suprir suas dificuldades.

    A ideia dessa investigao surgiu quando o proponente deste

    trabalho, aluno de Licenciatura em Fsica, concluiu todas as disciplinas

    bsicas do curso. Sendo um aluno com deficincia visual, enfrentou

    dificuldades e elaborou possibilidades para o acompanhamento dessas

    disciplinas. Isso motivou a pesquisa e aprofundamento dos conhecimentos

    sobre acessibilidade no ensino superior na rea de exatas para responder a

    seguinte questo: Quais so as dificuldades e as alternativas, ou seja, as

    possibilidades de estudo, encontradas por alunos com deficincia visual que

    cursam as disciplinas bsicas de fsica?

    Este trabalho est distribudo em 6 captulos.

    O primeiro captulo tem um carter voltado para definio de

    conceitos relevantes para o entendimento da pesquisa. Apresentamos a

    definio de deficincia visual, ensino inclusivo e as barreiras, to presentes

    no ambiente acadmico dos nossos entrevistados.

    No segundo captulo dedicada uma ateno especial para

    acessibilidade na educao superior, apresentando tambm as principais leis

    que regulamentam o ensino a todas as pessoas com deficincia no ensino

    superior.

  • 11

    No terceiro captulo, apresentamos alguns trabalhos sobre Incluso

    no Ensino Superior, onde vemos alguns desafios e estratgias e alguns

    estudos de caso envolvendo alunos com deficincia e professores deste nvel

    de ensino.

    No quarto captulo apresentamos as propostas metodolgicas e de

    levantamento de dados.

    No quinto captulo feita a anlise dos dados do questionrio em

    cinco sees, seguindo a organizao em blocos do questionrio

    (disponibilizado no anexo deste trabalho).

    Por fim, no sexto captulo apresentado um estudo de caso que

    relata a experincia do autor deste trabalho.

  • 12

    Captulo 1 - CONCEITOS E DEFINIES

    A seguir apresentamos alguns conceitos e definies que norteiam os

    estudos na rea de ensino inclusivo para alunos com deficincia visual.

    Seo 1.1 - Deficincia visual

    A deficincia visual definida como a perda total ou parcial,

    congnita ou adquirida, da viso. O nvel de acuidade visual pode variar,

    caracterizando dois grupos de deficincia, a cegueira, quando h perda total

    da viso ou pouqussima capacidade de enxergar, e a baixa viso ou viso

    subnormal, caracterizada pelo comprometimento do funcionamento visual

    dos olhos, mesmo aps tratamento ou correo.

    Na Tabela 1 apresentamos algumas distines quanto a acuidade

    visual, seguindo a Classificao Internacional de Doenas (CID),

    disponibilizada pela Organizao Mundial da Sade (OMS) [NAMBU,

    2003].

  • 13

    Tabela 1 - CLASSES DE ACUIDADE VISUAL

    Classificao Acuidade visual

    Snellen

    Acuidade

    visual decimal Auxlios

    Viso Normal 20/12 a 20/25 1,5 a 0,8

    Bifocais comuns

    Prximo do

    normal 20/30 a 20/60 0,6 a 0,3

    Bifocais mais fortes

    Lupas de baixo poder

    Baixa viso

    moderada 20/80 a 20/150 0,25 a 0,12

    Lentes esferoprismticas

    Lupas mais fortes

    Baixa viso

    severa 20/200 a 20/400 0,10 a 0,05

    Lentes asfricas

    Lupas de mesa de alto

    poder

    Baixa viso

    profunda 20/500 a 20/1000 0,04 a 0,02

    Lupa montada telescpio

    Magnificao

    vdeo

    Bengala

    Treinamento

    Orientao/Mobilidade

    Prximo

    cegueira 20/1200 a 20/2500 0,015 a 0,008

    Magnificao

    Vdeo

    Livros falados,

    Braille

    Aparelhos de sada de voz

    Softwares com

    sintetizadores de voz

    Bengala

    Treinamento de Orientao

    e Mobilidade

    Cegueira total Sem projeo

    de luz

    Sem projeo

    de luz

    Aparelhos de sada de voz

    Programas com

    sintetizadores de voz

    Bengala

    Treinamento

    Orientao/Mobilidade

    Fonte: Classificao CID 9 - CM ( WHO/ICO) [NAMBU, 2003]

    Acuidade visual corresponde caracterstica do olho de reconhecer dois

    pontos muito prximos. determinada pela menor imagem na retina

  • 14

    percebida pelo indivduo, pela relao entre o tamanho do menor objeto

    visualizado e a distncia entre observador e objeto.

    Existem outros termos utilizados para designar os diversos graus de

    deficincia visual, alm de cegueira e baixa viso, como viso diminuda,

    quando a condio de perda de viso caracterizada por perda de funes

    visuais (como acuidade visual, campo visual, etc); viso funcional, que

    descreve a capacidade de uso da viso pelas pessoas para as Atividades

    Dirias da Vida (ADV), e perda de viso, termo geral que compreende perda

    total (Cegueira) e perda parcial (Baixa Viso) sendo caracterizada por viso

    diminuda ou perda de viso funcional. [MASINI e colaboradores, 2006].

    Os dados do IBGE, relativos ao Censo 2010, revelam que 23,9% da

    populao brasileira possua pelo menos uma das deficincias investigadas

    (45.606.048 pessoas), sendo a deficincia visual a com maior incidncia,

    18,8% da populao brasileira (35.774.392 pessoas) [IBGE, 2010]. Com as

    atuais polticas pblicas referentes ao ensino inclusivo, era esperado que o

    nmero de alunos com deficincia em salas de aula regular de ensino mdio

    aumentasse nestes ltimos anos, em especial alunos com deficincia visual.

    Com este aumento, aumenta tambm o ingresso de alunos com deficincia

    no ensino superior.

  • 15

    Seo 1.2 Ensino inclusivo

    Incluir defender o direito de todos os indivduos de participar da

    sociedade em que fazem parte de uma forma consciente e responsvel, e de

    serem aceitos e respeitados naquilo que os diferencia dos outros [FREIRE,

    2008].

    Em educao, incluso o direito de todos os alunos de desenvolver

    e concretizar as suas potencialidades, bem como de se apropriar das

    competncias que lhes permitam exercer o seu direito de cidadania, atravs

    de uma educao de qualidade, que leve em conta as suas necessidades,

    interesses e caractersticas.

    A maioria dos professores no est preparada para o ensino

    inclusivo, e muitos deles se contentam em integrar o aluno com deficincia

    em sala de aula, recebendo este, mas prosseguindo sua aula sem levar em

    considerao nem as necessidades deste aluno nem suas limitaes, muitas

    vezes at sem considerar a sua presena.

    A construo de uma educao inclusiva responsabilidade de todos

    e exige um posicionamento de toda a sociedade.

    Apesar das diversas aes em favor da acessibilidade e do ensino

    inclusivo, so muitas as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficincia,

    refletindo nas instituies de ensino. A seguir falaremos um pouco sobre

    elas.

  • 16

    Seo 1.3 - Principais Barreiras

    Barreiras so quaisquer entraves ou obstculos que limitem ou

    impedem o acesso, a liberdade de movimento, a circulao com segurana e

    a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso informao.

    As principais barreiras que exploraremos em relao a acessibilidade

    no ensino superior so as barreiras arquitetnicas, atitudinais e de

    comunicao.

    Seo 1.3.1 - Arquitetnicas

    A falta de acessibilidade dentro das universidades tem incio nas

    barreiras arquitetnicas. O aluno com deficincia visual necessita de

    elevadores e rampas de acesso s salas de aula, alm de condies para se

    movimentar com autonomia nos prdios, corredores e caladas com o auxlio

    de um piso ttil. A lei garante que os prdios pblicos devem ser acessveis a

    todas as pessoas que tem alguma deficincia, mas isso ainda no uma

    realidade.

    Seo 1.3.2 - Atitudinal

    A barreira atitudinal outra que o aluno com deficincia visual

    encontra ao ingressar na universidade.

  • 17

    Tendo com base as barreiras atitudinais propostas por Lima e Silva

    [2008], selecionamos algumas que aparecem no ensino superior (ou em

    outros espaos sociais):

    Medo: receio de receber um aluno com deficincia ou mesmo outro

    profissional da Educao que apresente alguma deficincia; temer

    em fazer ou dizer a coisa errada prximo a algum com uma

    deficincia.

    Inferioridade: acreditar que o aluno com deficincia no acompanhar os

    demais. Na verdade, o tempo de cada pessoa diferente,

    independente de ter ou no uma deficincia.

    Piedade: proteger o aluno com deficincia, realizar as atividades por ele,

    atribuindo-lhe uma pseudoparticipao.

    Adorao do heri: considerar um aluno como sendo "especial",

    "excepcional" ou "extraordinrio", simplesmente por superar uma

    deficincia, como se fosse inusitada sua capacidade de viver e

    interagir com o grupo e o ambiente.

    Exaltao do modelo: usar a imagem do estudante com deficincia como

    modelo de persistncia e coragem diante os demais.

    Esteretipos: comparar o aluno deficiente a outros que apresentam a mesma

    deficincia, construindo generalizaes positivas e/ou negativas

    sobre essas pessoas.

  • 18

    Negao: desconsiderar as deficincias do aluno como dificuldades na

    aprendizagem.

    Comparao: comparar os alunos com e sem deficincia, salientando aquilo

    que o aluno com deficincia ainda no alcanou em relao ao aluno

    sem deficincia, ressaltado suas falhas, faltas e deficincias.

    Baixa expectativa: acreditar que os alunos com deficincia devem realizar

    apenas atividades mecnicas, exerccios repetitivos; prever que o

    aluno com deficincia no conseguir interagir em uma sala regular.

    Generalizao: generalizar aspectos positivos ou negativos de um aluno com

    deficincia em relao a outro com a mesma deficincia, imaginando

    que ambos tero os mesmos avanos, dificuldades e habilidades no

    processo educacional.

    Padronizao: fazer comentrios sobre o desenvolvimento dos alunos,

    agrupando-os em torno da deficincia; conduzir os alunos com

    deficincia s atividades mais simples, de baixa habilidade,

    ajustando os padres ou, ainda, esperar que um aluno com

    deficincia aprecie a oportunidade de apenas estar na escola

    (achando que, para esse aluno, basta a integrao quando, de fato, o

    que lhe devido a incluso).

  • 19

    Seo 1.3.3 - Comunicao

    Por ltimo falaremos das barreiras nas comunicaes e informaes.

    So quaisquer entraves ou obstculos que dificultem ou impossibilitem a

    expresso ou o recebimento de mensagens por intermdio dos dispositivos,

    meios ou sistemas de comunicao, sejam ou no de massa, bem como

    aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso informao [BRASIL,

    2013a].

    As barreiras de comunicao podem aparecer na prpria escolha de

    recurso didtico feita pelo professor. Uma escolha errada nega ao aluno

    acesso ao que ensinado para sua turma, no permitindo sua participao no

    processo de aprendizagem, segundo suas capacidades. Para alunos com

    deficincia visual possvel incluir textos em braile, disponibilizao de

    arquivos de texto para serem utilizados em um computador com programa

    leitor de texto e textos em arquivo de voz. A eliminao de barreira de

    comunicao em uma Instituio de Ensino passa pela disponibilizao de

    acervos bibliogrficos dos cursos em formato acessvel aos estudantes com

    deficincia (prioritariamente os de leitura obrigatria) e pela utilizao de

    diferentes recursos e ajudas tcnicas para que o estudante tenha acesso

    informao e ao conhecimento independentemente de sua deficincia

    [BRASIL, 2013b].

    Em geral o corpo docente no esta preparado para receber alunos

    com deficincia dentro da universidade. Eles tomam conhecimento que tero

  • 20

    aluno com deficincia no primeiro dia de aula, muitas vezes por falta de

    dilogo entre coordenadoria e o aluno com deficincia. Nesse momento o

    professor se sente despreparado para trabalhar com esses alunos, pois em sua

    formao no teve a oportunidade de estudar mtodos de preparar material

    para o ensino inclusivo. Como alternativa para mudar essa realidade, o aluno

    com deficincia deve conversar com seu professor a fim de que o maior

    interesse seja o aprendizado, pois o aluno conhece a sua deficincia e o

    professor buscar maneiras de diferenciar seu ensino para esse aluno.

    necessria uma flexibilidade do professor em aceitar fazer

    diferente, pois o aluno tem seu direito garantido por lei que ele deve ter o

    mesmo ensino que seus demais colegas. A partir desse dilogo onde so

    discutidas ideias e possveis solues de ensino aprendizagem, o aluno far

    uma avaliao se o material produzido para ele est de acordo com sua

    necessidade de aprendizagem, caso no for satisfatrio, o aluno dever

    buscar constantemente uma melhor maneira de solucionar esta dificuldade.

  • 21

    Captulo 2 ACESSIBILIDADE NA EDUCAO SUPERIOR

    Para nortear essa discusso sobre acessibilidade na educao

    superior seguiremos o documento orientador do Programa Incluir, da

    SECADI / MEC (Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao,

    Diversidade e Incluso) [BRASIL, 2013a].

    Com as novas polticas pblicas brasileiras que garantem a incluso

    de alunos com deficincia no ensino bsico, cresce o nmero destes que

    ingressam no ensino superior. O Governo Federal institucionalizou sua

    poltica de acessibilidade nas instituies federais de educao superior, a

    fim de assegurar o direito da pessoa com deficincia educao superior.

    Suas polticas esto fundamentadas nos princpios e diretrizes contidos na

    Constituio Brasileira [BRASIL, 1988], na Conveno sobre os Direitos

    das Pessoas com Deficincia [ONU, 2007] e em vrios decretos, como os

    que listamos a seguir:

    1. A Constituio Federal/88, em seu artigo 205, garante a educao como

    um direito de todos [BRASIL, 1988];

  • 22

    2. O Decreto n 3.956/2001 ratifica a Conveno Interamericana para a

    Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra a Pessoa

    Portadora de Deficincia [BRASIL, 2001];

    3. A Lei n 10.436/2002 reconhece a Lngua Brasileira de Sinais como meio

    legal de comunicao e expresso [BRASIL, 2002];

    4. A Portaria n 3.284/2003 dispe sobre os requisitos de acessibilidade s

    pessoas com deficincia para instruir processo de autorizao e

    reconhecimento de cursos e de credenciamento de instituies

    [BRASIL, 2003];

    5. O Decreto n 5.296/2004, no artigo 24, garante condio de acesso e

    utilizao, em qualquer estabelecimento de ensino (pblico ou privado),

    de pessoas com deficincia ou com mobilidade reduzida em todos seus

    ambientes ou compartimentos, inclusive salas de aula, bibliotecas,

    auditrios, ginsios instalaes desportivas, laboratrios, reas de lazer

    e sanitrios [BRASIL, 2004];

    6. O Decreto 5.626/2005 dispe sobre a incluso da Libras como disciplina

    curricular obrigatria para os cursos de formao de professores e de

    fonoaudilogos e, optativamente, nos demais cursos de educao

    superior [BRASIL, 2005];

    7. O Decreto n 5.773/2006 dispe sobre regulao, superviso e avaliao

    de instituies de educao superior e cursos superiores no Sistema

    Federal de Ensino [Brasil, 2006];

  • 23

    8. O Decreto n 6.949/2009, que ratifica a Conveno sobre os Direitos das

    Pessoas com Deficincia, assegura o acesso a um sistema educacional

    inclusivo em todos os nveis [Brasil, 2009];

    9. O Decreto n 7.234/2010 dispe sobre o programa nacional de assistncia

    estudantil PNAES [BRASIL, 2010];

    10. O Decreto n 7.611/2011 dispe sobre o atendimento educacional

    especializado, que prev, no segundo pargrafo do artigo 5, a

    estruturao de ncleos de acessibilidade nas instituies federais de

    educao superior [BRASIL, 2011].

    Estes foram alguns documentos que representam os principais

    aspectos da legislao vigente e dos referenciais polticos e pedaggicos

    educacionais relacionados com a educao inclusiva, com nfase especial

    para o ensino superior.

    Estes documentos indicam condies necessrias para o pleno

    acesso, participao e aprendizagem dos estudantes com deficincia na

    educao superior, como vemos a seguir.

    Seo 2.1 - Resultado das polticas pblicas - acesso ao ensino superior

    O acesso das pessoas com deficincia educao superior vem se

    ampliando significativamente em consequncia do desenvolvimento

    inclusivo da educao bsica, como podemos acompanhar atravs dos

    indicadores do Censo da Educao Bsica e Superior do MEC/INEP, que

  • 24

    apontam crescimento constante do nmero de matrcula desta parcela da

    populao.

    Dados do Censo mostram que em 1998 existiam 337.326 matrculas

    de alunos com deficincia, dentre as quais, 13% em classes comuns do

    ensino regular. Em 2012, este nmero subiu para 820.433 matrculas de

    alunos com deficincia, dentre as quais, 76% em classes comuns do ensino

    regular, representando crescimento de 143%.

    As matrculas em Escolas especializadas e Classes Especiais caram

    de 87% em 1998 para 24% em 2012. Estes dados mostram que os alunos

    com deficincia esto cada vez mais usufruindo do ensino regular [Figura 1].

    Figura 1 - Evoluo das matrculas de estudantes pblico alvo da educao

    especial na educao bsica [BRASIL, 2013].

    Na educao superior, observa-se que as matrculas passaram de

    5.078 em 2003 para 23.250 em 2011, indicando crescimento de 358%. 72%

  • 25

    das matrculas de estudantes com deficincia esto em Instituies Privadas

    de Educao Superior [Figura 2].

    Figura 2 - Evoluo das matrculas de estudantes com deficincia na

    educao superior [BRASIL, 2013]

    Com uma maior incluso de pessoas com deficincia no ensino

    superior aumentam seus direitos participao na comunidade com as

    demais pessoas e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e

    profissional. Mas no basta aumentar o ingresso destes alunos, para garantir

    seu efetivo direito a educao superior, so necessrios servios e recursos

    de acessibilidade que promovam a plena participao dos estudantes. E este

    o norte de nossa pesquisa, entrevistando alunos com deficincia visual no

    ensino superior e verificando suas condies de ensino e permanncia.

  • 26

    Captulo 3 INCLUSO NO ENSINO SUPERIOR

    Quanto maior o nvel de escolarizao, mais escassas so as

    discusses e as prticas educacionais voltadas incluso. E muitas destas

    discusses se do em termos da incluso social das camadas mais pobres da

    populao ou para as aes afirmativas, como as cotas para estudantes

    negros ou afrodescendentes [FERRARI e SEKKEL, 2007],

    Em seu artigo, Ferrari e Sekkel [2007] abordam o desafio do Ensino

    Superior Inclusivo, abordando aspectos relativos instituio, formao de

    professores e cotidiano escolar. Ao citar Ainscow e colaboradores, de 1997,

    entendem que

    a participao de pessoas com deficincia em sala

    de aula pode ser uma contribuio para todos os

    alunos, ao promover a reflexo sobre as prticas

    educacionais a partir das questes suscitadas no

    cotidiano da sala de aula, o que leva

    flexibilizao e reinveno das mesmas.

  • 27

    Podemos encontrar alguns trabalhos que analisam a percepo do

    aluno com deficincia no ensino superior.

    S e S [2007] apresentam o estudo de caso de dois alunos com

    deficincia visual no ensino superior. Comeam exemplificando algo que a

    IES considera incluso: dar uma bolsa de 50% na mensalidade ao estudante

    e se eximir da responsabilidade. E os estudantes sentem esta falta de

    responsabilidade. Um dos estudantes relatou que no decorrer do curso fez

    apenas uma prova em Braille, as outras foram em duplas ou com ledor.

    Como estratgia de estudo, ele gravava as aulas e as transcrevia em casa, seu

    nico material terico, pois a faculdade no dispunha de livros em Braille,

    nem materiais auditivos para seu estudo. Tinha o apoio de um colega de

    classe que o ajudava nos estudos e tambm na movimentao nas

    dependncias da Instituio.

    Em sua tese de doutorado Mazzoni [2003] entrevista 9 alunos com

    deficincia no ensino superior. As dificuldades no espao fsico so variadas,

    conforme a deficincia. Os depoimentos apresentados ao longo do captulo

    demonstram que os entrevistados tm encontrado barreiras atitudinais em

    diversos nveis, incluindo os ncleos familiares. Os entrevistados levantam a

    maneira como esses meios de comunicao tratam o tema das pessoas com

    deficincia, tanto sobre seus problemas, quanto em relao a representao

    inadequada que fazem das pessoas com deficincia, que contribui para a

    formao de esteretipos e a manuteno de sentimentos como o d e a

    pena. Muitos dos entrevistados se sentem prejudicados quanto ao acesso

  • 28

    informao divulgada por esses meios, que muitas vezes pode no ser

    captada por todos. Outro aspecto levantado sobre os meios de comunicao

    que, por no abordarem em matrias jornalsticas aspectos da legislao que

    os ampara, muitos desses universitrios desconheciam seus direitos. O autor

    enfatiza a importncia de se conhecer as necessidades de cada aluno, citando

    que,

    embora seja possvel estabelecer facilitadores que

    beneficiem a todos, tais como cursos de preparao

    de professores para atender a essas necessidades e

    atividades de conscientizao da comunidade

    universitria para a eliminao das barreiras

    atitudinais, existem diferenas individuais que

    necessitam ser conhecidas para poderem ser

    contempladas, tais como as dificuldades de alunos

    surdos, sejam usurios de libras ou surdos

    oralizados, fazerem anotaes das aulas.

    A pesquisa ainda aponta que as IES registram apenas o ingresso

    destes alunos na instituio, gerando com isso um processo que pode ser

    considerado de excluso da memria institucional. E indica que a falta de

    registros adequados, que contemplem as necessidades de ateno do aluno,

    contribui para que no sejam tomadas as providncias necessrias para a

    ateno s suas necessidades.

  • 29

    Maiola e colaboradores [2008] entrevistaram trs acadmicos de

    uma universidade. Seus resultados apontaram que estes alunos optaram pela

    rea da sade, que privilegiam o atendimento populao, e que a

    universidade pesquisada ainda apresenta necessidades de adaptao, quanto

    estrutura fsica e aos aspectos pedaggicos. Todos responderam que

    tiveram livre acesso nas provas de seleo para a universidade. Sobre seu

    relacionamento com colegas e professores, uma empatia social e inclusiva.

    Sobre seu futuro profissional, suas expectativas ainda so incertas.

    Necessitam vivenciar o curso para, depois, avaliar quais suas melhores

    possibilidades de trabalho. Os entrevistados no relataram dificuldades nos

    aspectos pedaggicos, no que se refere adaptao curricular, de avaliao e

    participao nas aulas em sala, mas entendem que existe a necessidade de

    adaptaes nos aspectos arquitetnicos da Universidade.

    Michels e Dellecave [2005], por sua vez, analisaram as condies de

    oferta do ensino inclusivo na universidade, na perspectiva dos professores.

    Contaram com a participao de nove professores universitrios. Dentre os

    entrevistados apenas um acredita que o aluno com deficincia deve ser

    educado separadamente, de maneira diferente dos outros alunos. A maior

    dificuldade dos professores diz respeito falta de preparo para lidar com

    esses alunos em sala de aula. Quanto s estratgias utilizadas, os professores

    tm conscincia da necessidade de empregar mtodos e tcnicas

    diferenciadas, que facilitem a aprendizagem do aluno com necessidades

    especiais, mas apresentam dificuldades quanto utilizao de estratgias

  • 30

    diferenciadas. Como sugestes para que ocorra a incluso, citaram palestras,

    capacitaes e atividades voltadas para o ensino e preparo do professor. O

    estudo mostra que a universidade vem investindo na formao continuada

    para favorecer a educao inclusiva, mas a estrutura fsica no atende aos

    padres mnimos de acessibilidade s pessoas com deficincia. Embora a

    universidade possua servio de apoio voltado ao atendimento de professores

    e alunos com necessidades especiais, alguns professores demonstraram

    desconhecimento deste servio.

    Podemos encontrar trabalhos que apresentam estratgias para o

    Ensino Superior Inclusivo. Silva [2013] em seu artigo traz situaes que

    mostram com clareza como ensinar, em uma aula de Fsica, o conceito de

    massa e densidade a alunos que no enxergam. A autora afirma que cabe aos

    educadores promover uma metodologia de ensino adequada a todos,

    independente da situao que se encontra o estudante. Para a autora, o

    caminho inicial seria conhecer as potencialidades do aluno e explorar os

    recursos sinestsicos capazes de transformar em conhecimento o mtodo de

    ensino utilizado. Para os alunos com deficincia visual ela mostra que a

    tecnologia assistiva essencial, pois permite que os estudantes tenham

    condies de participar efetivamente das aulas. Ainda segundo ela, o

    trabalho inclusivo exige a participao de todos os envolvidos,

    principalmente para combater as atitudes excludentes; existe a necessidade

    de quebrar barreiras atitudinais da relao professor aluno, identifica como

  • 31

    uma boa estratgia a formao de grupos de trabalho, e para as aulas de

    campo, indica o uso de painis tteis, com diferentes texturas.

    Exemplificamos alguns trabalhos sobre a Incluso no Ensino

    Superior, mostrando alguns desafios, estudos de caso com alunos com

    deficincia e com professores, e algumas estratgias para a incluso do aluno

    com deficincia visual. A seguir apresentaremos qual a metodologia que

    utilizamos para a realizao de nosso trabalho.

  • 32

    Captulo 4 - METODOLOGIA

    Em nosso trabalho procuramos estabelecer quais as principais

    caractersticas encontradas por alunos com deficincia visual ao ingressarem

    e cursarem o ensino superior. Quando possvel procuramos a relao deste

    aluno com a rea de exatas.

    Com este estudo procuramos entender quais os processos, materiais

    e atitudes encontrados por estudantes com deficincia no ensino superior,

    principalmente nas disciplinas de Fsica e Matemtica, as condies de

    acessibilidade e as maiores barreiras. Pretendemos identificar quais foram

    relevantes, facilitando e auxiliando na compreenso dessas disciplinas e na

    concluso das mesmas, tanto em relao s estratgias propostas pelos

    professores e colaboradores, como nas elaboradas pelos prprios alunos com

    deficincia visual.

    Nossa anlise referente a alunos com deficincia visual no ensino

    superior foi feita atravs de uma pesquisa qualitativa descritiva [FLICK,

    2004]. A pesquisa descritiva, do ponto de vista metodolgico, muito

  • 33

    utilizada na rea do ensino inclusivo devido s caractersticas da rea, como

    enfatiza Hayashi [2011].

    O levantamento de dados foi feito utilizando um questionrio aberto

    on-line. O questionrio foi disponibilizado em um documento do Google

    docs. Embora a resposta de cada entrevistado no permita que este seja

    identificado, garantindo o anonimato das respostas, caso seja de seu interesse

    existe um campo onde ele tinha a possibilidade de se identificar. O formato

    do questionrio era acessvel a pessoas com deficincia visual que

    utilizavam programas ledores de texto.

    A escolha dos entrevistados estava vinculada aos diversos Ncleos

    de Acessibilidade criados junto aos projetos Incluir nas Universidades

    Federais. O endereo eletrnico do questionrio, juntamente com um texto

    explicativo sobre os objetivos do projeto, foi encaminhado por e-mail a uma

    lista de coordenadores de Ncleos. Outra estratgia de divulgao foi na

    participao do Seminrio Nacional Pessoa com Deficincia no Ensino

    Superior, na Universidade Federal do ABC. Na ocasio solicitamos ao

    coordenador um espao para a divulgao de nossa pesquisa, solicitando aos

    participantes que entrassem em contato com alunos com deficincia visual,

    divulgando o questionrio. Embora os diversos coordenadores e professores

    demonstrassem interesse em divulgar a pesquisa a seus alunos com

    deficincia visual, solicitando a realizao do questionrio, o nmero de

    pessoas que acessaram o questionrio foi bastante reduzido.

  • 34

    As perguntas do questionrio foram organizadas em cinco blocos:

    Perfil do entrevistado (quatro perguntas), vida escolar (sete perguntas),

    ingresso na vida acadmica (trs perguntas), vida acadmica (sete perguntas)

    e infraestrutura da universidade (trs perguntas). Ao final os entrevistados

    tinham a possibilidade de colocar observaes.

    Os dados analisados so apresentados respeitando os cinco blocos.

    Em cada bloco as caractersticas comuns a todos os entrevistados so

    destacadas e comentadas. Alguns aspectos mais relevantes dos entrevistados

    so salientados. Estes resultados so comentados ao final de cada bloco,

    fazendo a conexo com a literatura da rea.

    Faz parte de nosso trabalho tambm a experincia adquirida pelo

    autor. No captulo seis apresentado um estudo de caso bastante especfico,

    o do prprio autor, aluno com deficincia visual no ensino superior, em que

    descreve alguns aspectos da sua experincia em um curso de Licenciatura

    em Fsica, em disciplinas de Matemtica e Fsica do ciclo bsico no curso.

  • 35

    Captulo 5 RESPOSTA DOS QUESTIONRIOS: ANLISE E

    CONCLUSES

    Neste captulo apresentaremos a anlise das respostas obtidas atravs

    do questionrio. Para apresentao, organizamos este captulo em sees,

    referentes a cada um de seus blocos.

    Na primeira seo, que se intitula perfil do entrevistado, notvel a

    presena fundamental da famlia. Todos os entrevistados disseram que a

    famlia estava diretamente ligada ao processo de ensino aprendizagem. Em

    especial, no incio da progresso das doenas que causaram a cegueira, a

    famlia foi de suma importncia para a base psquica e emocional dos

    entrevistados.

    Na segunda seo, relacionado com a vida escolar dos entrevistados,

    podemos notar que as dificuldades passam principalmente pela falta de

    preparo por parte dos professores. Podemos observar, por exemplo, que nos

    cursos de licenciatura no existem disciplinas obrigatrias especficas sobre

  • 36

    ensino inclusivo, a no ser a disciplina de Libras. Outra dificuldade de

    alguns professores aceitar que em sua aula devem ocorrer mudanas, a fim

    de incluir a pessoa com deficincia. Os entrevistados nos revelaram

    situaes de constrangimento e falta de respeito por parte do corpo docente

    de suas universidades.

    Na terceira seo, temos a entrada dos alunos nas instituies de

    ensino superior. Nesta seo vemos o tamanho da dificuldade que o

    candidato com deficincia visual obrigado a enfrentar devido a falta de

    preparo por parte das comisses que so responsveis pelos processos de

    seleo. Porm, mesmo com todas essas adversidades, todos os entrevistados

    conseguiram superar mais essa barreira e nos contaram como foi feito todo o

    processo para a sua aprovao no curso desejado.

    Na quarta seo, que se intitula vida acadmica, temos diversas

    situaes e estratgias que foram criadas com a finalidade de incluir o aluno

    com deficincia visual dentro das aulas de fsica. Constatamos a importncia

    das universidades possurem um Ncleo de Acessibilidade, atravs dos

    relatos de seu apoio durante todo o perodo letivo.

    A quinta seo tem o objetivo de mostrar a acessibilidade

    arquitetnica das universidades. A partir das respostas dos entrevistados

    podemos perceber que ainda h muito que fazer com relao a rampas,

    elevadores, laboratrios e todas essas questes referentes ao acesso do aluno

    com deficincia a prdios, pavilhes de aulas e bibliotecas.

  • 37

    Seo 5.1 - Perfil do entrevistado

    O primeiro bloco de perguntas do questionrio foi voltado ao perfil

    do entrevistado. As questes foram sobre a infncia e adolescncia e o

    convvio com a deficincia, a percepo e ao dos pais em relao a esta e

    tambm solicitava o relato sobre recursos utilizados para as atividades

    cotidianas.

    Foram ao todo seis entrevistados e para manter o sigilo sero

    identificados por entrevistados 1,2,3,4,5 e 6. Em relao deficincia visual,

    quatro entrevistados se declararam cegos, sendo apenas um cego de

    nascena, e dois com baixa viso. Em relao s reas de formao, apenas

    um entrevistado no especificamente da rea de exatas. Tivemos quatro

    pertencentes a universidades do estado de Minas Gerais, um de So Paulo e

    um do Paran.

    As respostas de todos os entrevistados a este grupo de perguntas

    deixaram transparecer a importncia da famlia para cada um deles. Esta

    importncia enfatizada por Nogueira [2002].

    O apoio da famlia fundamental no processo de ensino e

    aprendizagem. junto aos familiares e s pessoas mais prximas que se

    inicia a aceitao da pessoa com deficincia, tanto de suas condies e

    limitaes quanto de sua prpria deficincia. O aluno cego se sente seguro

    ao perceber que seus pais esto envolvidos com a sua educao e se

  • 38

    preocupa com ela, refletindo em sua vida acadmica. Destacamos as

    seguintes ideias das respostas ao questionrio:

    O entrevistado 5 (E5) relata que seus pais o auxiliavam lendo e

    transcrevendo textos, facilitando o acesso aos contedos, como vemos a

    seguir:

    Resposta parcial de E5 para a pergunta 3: Minha me ia a escola copiar

    matria, copiava materia dos cadernos dos colegas em casa, lia

    os contedos para mim, em fim, tudo no sentido da adaptao

    partindo da pessoa com deficincia para o ambiente parado,

    esttico

    Os pais de E5 tambm adquiriram lupas, a fim de tentar dar certa

    autonomia para o aluno.

    O entrevistado 3 (E3) relata que o apoio da sua famlia foi

    importante para compreender a deficincia e conviver com as dificuldades e

    desafios cotidianos.

    Resposta parcial de E3 para a pergunta 1: Sendo filho nico, sempre tive

    ateno, apoio, ajuda e orientao dos meus pais. O que sempre

    foi um tipo de "embate" a forma com que as pessoas a minha

    volta (exceto meus pais) lidavam/lidam com a situao.

  • 39

    Resposta parcial de E3 para a pergunta 3: Um fator muito relevante foi que

    minha me teve de abrir da vida profissional e se dedicar

    integralmente minha criao.

    O entrevistado 2 (E2) relata que sua famlia participou de sua vida

    escolar aprendendo Braille e at ensinando para os professores que lhe

    dariam aula.

    Resposta parcial de E2 para a pergunta 1: tratando-se dos estudos, meus pais

    sempre me deram o apoio necessrio, adaptando os materiais

    que eram necessrios.

    Resposta de E2 para a pergunta 3: Meus pai, principalmente, esforou-se

    muito. Aprendeu braille, e chegou a dar aula de braille para

    meus professores. Investiu em vrios equipamentos para mim,

    incluindo uma mquina braille, um notebook, e por a vai..

    de grande importncia incentivar a autonomia dos estudantes com

    alguma deficincia. O incentivo e a procura por garantir o estudo com

    recursos didticos pedaggicos, com tecnologia assistiva e principalmente

    dar a liberdade que a criana ou adolescente com deficincia visual necessita

    para que se desenvolva normalmente so caminhos para garantir o sucesso

    no processo de ensino e aprendizagem. A famlia tem um papel fundamental

    nisso.

  • 40

    Infelizmente comum encontrarmos pessoas com deficincias

    segregadas em suas prprias casas, pois a prpria famlia no permite que

    seu filho ou filha tenha oportunidade de se desenvolver socialmente,

    culturalmente.

    Em alguns casos a famlia considera que a presena de um aluno

    com deficincia em sala de aula resulte em um atraso para a escola,

    esquecendo que aluno com deficincia visual necessita e depende de um

    apoio inicial para ser includo na sociedade, impedindo que se sinta

    desestimulado e dependendo sempre de algum para fazer alguma atividade.

    Seo 5.2 - Vida escolar do entrevistado

    A segunda seo do questionrio faz referncia a vida escolar dos

    entrevistados. Nas respostas obtidas podemos perceber que a maioria dos

    professores destes entrevistados no estava preparada para receber alunos

    com deficincia visual em sua sala de aula. Este despreparo no observado

    apenas para estes entrevistados ou para professores atuando no ensino

    superior, ocorrendo tambm em outros nveis de ensino como ressaltam

    Fernandes e Healy [2007].

    Em um comentrio feito por E5, vemos que seus pais compraram

    lupa eletrnica para que o aluno tivesse um recurso em suas mos, mas no

    compreendido pelo professor:

  • 41

    Resposta parcial de E5 para a pergunta 3: E a gente colocava a lupa no olho

    e mirava na lousa. A professora de portugus ficou brava

    mandando eu guardar aquele brinquedo. Quanto despreparo!

    Nem para avisar a mulher que eu usaria um instrumento caro

    para tentar ver na lousa! Mas nada disso adiantou.

    Uma dificuldade encontrada por E3 foi a atitude de alguns

    professores:

    Resposta parcial de E3 para a pergunta 5: Houve, infelizmente, momentos

    em que professores (alguns) praticamente me "deram notas" em

    vez de me ajudarem (no sentido de saber o que poderiam fazer

    para de fato me ajudarem).

    Resposta parcial de E3 para a pergunta 6: Todo inicio de ano, embora na

    mesma escola, era a mesma situao: procurar todos os

    professores e explicar ... Mas ... havia alguns que s atendiam

    depois que eu reclamava na secretaria.

    E2 comenta sobre o material didtico e tambm sobre a ao dos

    professores.

    Resposta de E2 para a pergunta 7: A falta de materiais para certas

    atividades foram o meu maior problema. Nem sempre eu tinha os

    grficos em auto relevo, ou uma descrio dos diagramas e

    imagens.

  • 42

    Resposta parcial de E2 para a pergunta 8: Muitos deles (professores) sim, as

    vezes at mesmo reservando o final da aula, por volta de 10

    minutos, para me explicar o que eu no tinha entendido. J

    outros nem tanto, preferiam passar a responsabilidade para

    outros.

    Esse ltimo relato mostra que o professor que reservava 10 minutos

    da aula para o aluno com deficincia no sabia a diferena entre integrao e

    incluso [SASSAKI, 2005]. O aluno estava integrado em sala de aula,

    convivendo com seus colegas, porm o contedo era dividido entre os alunos

    sem deficincia e o aluno com deficincia visual.

    Nota-se a falta de flexibilidade por parte de alguns professores que

    no se mobilizam para mudar sua metodologia com a finalidade de envolver

    tanto o aluno com deficincia quanto o aluno sem deficincia. O pensamento

    predominante era o de que o aluno com deficincia era quem tinha a

    obrigao de se adaptar a realidade de ensino, pois a mesma se mostra

    imutvel, ao invs de o corpo docente buscar uma estratgia de ensino capaz

    de suprir as necessidades de aprendizagem de todos.

    Seo 5.3 - Ingresso do entrevistado vida acadmica

    O caminho para entrada de alunos no ensino superior so as provas

    de seleo (Enem ou vestibular). Estas provas muitas vezes no so

  • 43

    adaptadas a pessoas com deficincia. Este problema de acesso ao ensino

    superior aparece em nossas entrevistas.

    Um dos fatores pode ser o tempo da prova, que deve ser ampliado

    para atender ao candidato com deficincia. Como relata E3:

    Resposta de E3 para a pergunta 13: A nica prova de seleo que fiz foi

    ENEM j no formato recente. Fiz nos anos 2009, 2010, 2011 e

    2012 e, em todas essas vezes, embora tenha tido auxilio ledor,

    auxilio transcrio, prova com fonte 24 e 1h de tempo adicional,

    o tipo de problema de viso que tenho no me permite fazer nada

    com muita rapidez, j que a ansiedade diminui a qualidade da

    imagem. Assim, em todos os anos no consegui resolver todas as

    questes da prova.

    Um candidato com deficincia visual geralmente faz uso de um

    ledor para ler e transcrever as respostas para o gabarito final e, quando

    necessrio, utiliza um quadro para esboar um clculo, como cita E5.

    Resposta de E5 para a pergunta 12: Atendeu sim. Tanto... quanto ...,

    universidades onde prestei os exames naquela poca puseram

    ledores que leram toda a prova, eu tambm fiz a prova em sala

    separada com lousa disposio onde fazia os clculos, havia

    tambm provas ampliadas e em Braille.

    Existe a necessidade de fazer uma avaliao sobre as condies que

    as comisses de seleo das instituies de ensino superior fornecem aos

  • 44

    candidatos com deficincia, pois estes acabam ficando de fora das

    universidades por falta de condies mnimas para realizao da prova.

    Temos casos em que embora as comisses acreditem que esto

    dando as condies, estas no atendem as necessidades dos candidatos com

    deficincia, como relata o entrevistado 1 (E1),

    Resposta parcial de E1 para a pergunta 12: ... o ENEM foi um vestibular que

    me chamou a ateno pela falta de preparo da organizao, pois

    colocaram um ledor para mais de um cego, a ledora no era

    alfabetizada, quando eu pedi uma prova ampliada tiveram a

    capacidade de ampliar o tamanho do papel, porm o tamanho da

    letra era igual a prova convencional.

    A situao relatada denota um desrespeito aos candidatos com

    deficincia. importante relembrar que a deficincia que possuem no os

    impede de estudar, trabalhar e viver como os outros alunos sem deficincia.

    O que os candidatos com deficincia visual necessitam de

    condies bsicas para a realizao das provas, respeitando suas diferenas,

    disponibilizando a estes candidatos mais tempo para a realizao da prova,

    ledores com pr-requisitos mnimos, como fluncia em sua leitura, acesso a

    tecnologia assistiva, como por exemplo, leitor de tela, mquina de escrever

    em braile, prova em braile ou digitalizada, entre outros.

  • 45

    Sendo eles os maiores interessados, as pessoas com deficincia

    devem ser consultadas quando criarem regras para estas. Se as comisses de

    seleo para ingresso no ensino superior ouvirem os candidatos com

    deficincia, estes tero garantidas as mesmas condies de ingresso no

    ensino superior que os candidatos sem deficincia.

    Seo 5.4 - Vida acadmica do entrevistado

    Esta seo tem como objetivo identificar quais foram as aes

    tomadas pelos professores em parceria com aluno, especificamente nas aulas

    de fsica. Ao mesmo tempo, os entrevistados tem a oportunidade de dar sua

    opinio em relao ao mtodo utilizado pelos professores.

    O entrevistado 6 (E6) diz em seu relato que partia dele a iniciativa

    de ensinar aos seus professores como trabalhar com um estudante com

    deficincia visual e sua maior dificuldade era que por causa de sua

    deficincia na viso, o mundo real estava caindo no esquecimento (a perda

    de viso foi tardia). As avaliaes eram feitas em sala separada do restante

    da turma e pela falta de prtica por parte dos professores com o Braille a

    prova era feita oralmente. Nas aulas de laboratrio seu professor permitia

    que ele tocasse nos objetos que seriam usados para realizao do

    experimento.

    J E5 tem uma postura mais crtica em relao ao laboratrio,

  • 46

    Resposta de E5 para a pergunta 19: As medidas eu no realizava, embora as

    acompanhasse. Participava das discusses e das elaboraes dos

    relatrios. Entretanto preciso dizer que laboratrio de fsica

    antes e hoje mais se aproxima de algo como uma cozinha onde se

    efetua receitas do que um lugar onde se discute conceitos. um

    lugar muito rico de discusses limitado por normas arcaicas em

    que se coloca o deficiente visual como algum que no consegue

    participar. O problema o mtodo e no a pessoa cega.

    Nota-se que E5 sente que o aluno com deficincia deixado de lado

    quando o assunto laboratrio, que os professores preferem seguir seu

    roteiro de aula omitindo a presena de um aluno cego dentro de seu

    laboratrio.

    Em outra questo E5 diz que sentiu falta de materiais capazes de

    explorar o sentido do tato, como grficos, por exemplo.

    O entrevistado 3 tambm diz que os materiais acessveis para seu

    estudo foram insuficientes e faltou principalmente compreenso por parte

    dos professores em respeitar seu ritmo de aprendizagem.

  • 47

    Seo 5.5 - Infraestrutura da universidade.

    O ltimo bloco de perguntas feitas aos entrevistados direcionado

    para a infraestrutura das Instituies de Ensino Superior dos entrevistados.

    Seus relatos podem ser agrupados de acordo com as seguintes barreiras:

    Seo 5.5.1 - Barreira arquitetnica

    A falta de acessibilidade dentro das Instituies de Ensino Superior

    tem incio nas barreiras arquitetnicas. O aluno com deficincia visual

    necessita de elevadores, rampas de acesso s salas de aula, alm de

    autonomia para se movimentar nos prdios, corredores, caladas da

    Universidade em que ele estuda atravs de um piso ttil. Percebemos que

    essa dificuldade nas Instituies de Ensino Superior aparece nas respostas de

    todos os entrevistados. Como foi visto no primeiro captulo, existem leis que

    garantem a acessibilidade a todas as pessoas que tem alguma deficincia.

    Porm os entrevistados nos revelam que na prtica ainda falta muito para

    melhorar o acesso aos diversos setores das Universidades, como aos

    departamentos, bibliotecas e pavilhes de aulas.

    Das respostas dos entrevistados identificamos os seguintes relatos

    relativos s barreiras arquitetnicas:

    O E1 reclama da falta de piso ttil em todos os prdios.

  • 48

    Resposta de E1 para a pergunta 23: penso que deveria ter piso ttil em todos

    os prdios devidamente colocados, na biblioteca central, o piso

    ttil existe, porm quando estou atravessando de um lado para o

    outro ele simplesmente acaba! os prdios deveriam ser

    padronizados com as caladas uniformizadas.

    E3 prope uma soluo que a melhoria da iluminao, uma vez

    que as ruas e passarelas de sua Universidade so desniveladas.

    J E5 relata problemas srios de acessibilidade em sua Universidade

    e d um exemplo, fazendo uma crtica s polticas dentro das Universidades.

    Resposta de E5 para a pergunta 23: s vezes difcil outro dia cai num

    estacionamento de bicicletas. Ele no tem acessibilidade alguma.

    Tinha que ser reconstrudo ou totalmente reformulado com

    rampas, elevadores etc. embora isto seja lei, no acredito que

    ocorrer num curto mdio intervalo de tempo pelo simples

    motivo que a pessoa com deficincia no prioridade por no

    ser um nmero significativo. E como tudo gira em torno de

    nmeros, votos etc, eles no faro, embora prometam.

    O E6 relata que no incio de seus estudos, existiam diversas caladas

    quebradas e com buracos em sua Universidade, e que, para minimizar as

    consequncias, nunca usava sandlias e procurava sempre andar

    acompanhada.

  • 49

    Seo 5.5.2 - Barreira atitudinais

    Em diversas questes de outros blocos as barreiras atitudinais de

    carter negativo acabaram aparecendo. Vamos resgat-las aqui.

    Resposta parcial de E1 para a pergunta 1: Durante a pr-adolescncia, tive

    um pouco de baixa-autoestima j haviam muitos insultos. No

    entanto, logo no me importava mais com isso. Praticamente

    toda minha infncia e quase toda a minha adolescncia, vivi

    dentro de casa para no correr riscos de machucar.

    O entrevistado 4 (E4), por exemplo alega falta de boa vontade por

    parte do corpo docente, pois no h compreenso das necessidades que esse

    aluno possui.

    Resposta parcial de E4 para a pergunta 8: Falando das dificuldades na

    graduao, alguns professores se preocupavam sim, mas outros

    parecem que faziam (fazem) questo de "esnobar" ainda o

    problema. E procuram dificultar mais ainda questes que

    poderiam se resolver facilmente e com um pouquinho de boa

    vontade.

    E6 deixa transparecer atitudes discriminatrias de seus colegas,

    quando relata:

  • 50

    Resposta parcial de E5 para a pergunta 15: ... gente que diga "-Ah, mas s

    trs anos com baixa viso, pouco tempo para esquecer muita

    coisa..."

    J E3 bastante enftico quando aborda a discriminao:

    Resposta de E3 para a pergunta 7: Sempre as maiores barreiras eram

    atitudinais em relao a professores e colegas de classe. Haviam

    muitos insultos e apelidos de inicio o que me constrangia. Mas, a

    medida que fui crescendo, isso diminuiu.

    e que as barreiras atitudinais influenciavam em seu aprendizado

    Resposta parcial de E3 para a pergunta 8: Tive professores (e tenho) que

    alegavam que aumentar o tamanho da fonte no quadro

    prejudicaria a "didtica" da aula dele. Da, eu pedia o material

    impresso ou as notas de aula para eu seguir e a resposta eram as

    seguinte: "no uso notas. Tiro da minha cabea". Ou "pode ficar

    tranquilo", ou "depois voc copia".... na maioria das vezes,

    tenho, at hoje, que emprestar caderno (de quem tem as maiores

    letras) para copiar. ;(As vezes tenho que tirar cpias de

    cadernos em folhas A3. Isso gera um enorme gasto de tempo

    para mim).

    Nas perguntas referentes infraestrutura da Universidade, aspectos

    atitudinais apareceram na pergunta: O que voc encontrou de mais positivo

  • 51

    na universidade com relao as suas necessidades especiais?. Com isso, as

    respostas que refletiam aspectos de barreiras atitudinais neste bloco tiveram

    carter positivo.

    E1 ressalta que as atitudes mais positivas foram a de seus colegas.

    Alguns professores tambm tiveram boas atitudes, estando sempre a

    disposio para que ele se sentisse includo na Universidade.

    Resposta de E1 para a pergunta 24: mais positivo foram meus colegas

    somados alguns professores que sempre tiveram disposio para

    me incluir na universidade ...

    E3 destaca a ao do departamento de assistncia social.

    Resposta de E3 para a pergunta 24: O departamento de assistncia social do

    campus tem procurado alternativas que tm me beneficiado em

    muitos aspectos.

    Para o entrevistado 5, a clareza e atitude das pessoas, em especial

    dos alunos que constituem as atitudes positivas. Desta forma a

    Universidade se torna ...outro mundo em comparao ao fora dela . Aqui

    todos me compreendem, no fazem perguntas simples sobre a deficincia,

    no poderia trabalhar num local melhor em termos atitudinais de algumas

    pessoas. H outras (universidades) como alguns colegas que reproduzem

    um modelo de preconceito. Justamente os mais estudados.

  • 52

    E6 relata que os professores e estudantes do curso tiveram muito boa

    vontade em ajuda-lo enfatizando a fase inicial do curso, quando ainda no

    tinha material de apoio.

    Resposta parcial de E6 para a pergunta 24: Embora tenha demorado muito

    tempo para conseguir equipamentos de apoio, notei que os

    professores e estudantes do curso ... tiveram muito boa vontade

    em ajudar-me.

    Seo 5.5.3 - Barreira de comunicao e informao

    A falta de acesso s informaes das disciplinas, contidas nos livros,

    notas de aula, ambientes virtuais das disciplinas, entre outros, afasta o aluno

    com deficincia do conhecimento, fazendo com que ele dependa dos demais

    colegas ou amigos para poder concluir as disciplinas. O fato de o aluno com

    deficincia visual estar impedido de ter acesso a informaes de carter

    grfico, figuras e representaes matemticas, devido a falta de recursos da

    instituio, um exemplo de barreira de comunicao, pois impede que este

    aluno participe efetivamente das aulas e atividades de fsica.

    O E3 reclama de vrios aspectos sobre barreiras de comunicao.

    Resposta de E3 para a pergunta 21: Faltam livros com letras grandes na

    biblioteca embora a universidade disponibilize uma lupa

    eletrnica para uso dentro do campus. Os quadros de

  • 53

    informaes no so acessveis, desde a placa com nome de

    professores em portas, ao cardpio na parede do restaurante

    acadmico.

    E4 aponta aspectos de tecnologia assistiva e o apoio do Ncleo de

    acessibilidade:

    Resposta de E4 para a pergunta 22: Sim. Os monitores do laboratrio de

    informtica so de tela grande e posso utilizar os recursos de

    acessibilidade que desejar, pois quando fao o login com meu

    usurio, esto todos os recursos acessveis ao uso j

    configurados. E tambm a (Universidade) conta com o Ncleo de

    Acessibilidade que nos d grande apoio.

    E5 relata que sua Universidade est iniciando a questo de

    acessibilidade.

    Resposta de E5 para a pergunta 21: aqui na (Universidade) est comeando

    agora a ques~tao da acessibilidade com compra de scaner e

    telelupas. O aparelho Vitor que comentei emprestado deles.

    Mas at ento no havia este tipo de estrutura.

    E6 relata que quando ingressou na Universidade no havia nenhum

    recurso. E s muito tempo depois que foi montada uma sala de recursos na

    Universidade.

  • 54

    Segundo Camargo e colaboradores (2010), a criao de canais de

    comunicao adequados possibilitaria a incluso de alunos com deficincia

    dentro das aulas de fsica, pois possibilitaria a formulao de hipteses e

    possveis solues por troca de ideias e informaes. Na ausncia desse

    canal, o aluno acaba excludo, mesmo localizado dentro da sala de aula. Os

    autores concluem que o canal de comunicao a varivel central para

    ocorrncia de incluso escolar, acreditando que os alunos tero uma

    condio mnima de participao no processo de ensino aprendizagem.

  • 55

    Captulo 6 - ESTUDO DE CASO - MINHA TRAJETRIA

    A seguir apresentamos o estudo de caso de minha trajetria como

    estudante com deficincia visual cursando o ltimo semestre do curso de

    Licenciatura em Fsica.

    Durante a graduao eu tive vrios momentos em que fui obrigado a

    parar e pensar como o assunto da aula poderia ser estudado de uma maneira

    didtica e inclusiva ao mesmo tempo. Desse modo, foram surgindo ideias e

    alternativas para contornar a deficincia na viso e transformar o contedo

    que era predominantemente visual para algo mais concreto e perceptvel a

    pessoas que no enxergam.

    Quando cursava o terceiro semestre no curso de Licenciatura em

    Fsica foi aberto um edital junto a Pr-Reitoria de Graduao com a

    finalidade de selecionar monitores especficos para auxiliar um aluno com

    deficincia visual em suas atividades acadmicas. Entre as atribuies do

  • 56

    monitor estava a produo de materiais manipulativos que garantissem ao

    aluno com deficincia a oportunidade de estudar com certa autonomia.

    Vrias estratgias foram propostas e testadas, utilizando na maioria das

    vezes materiais de fcil acesso para o monitor. Muitas destas estratgias

    apresentaremos a seguir.

    Este captulo composto por trs sees. Na primeira mostrarei

    meus passos nesta trajetria, falando um pouco da famlia, amigos e

    professores. Na segunda seo falarei de adaptaes que julgo necessrias

    para garantir o ensino inclusivo, enfatizando a participao dos monitores ao

    longo do curso. Das adaptaes apresentadas indico minhas crticas e

    sugestes, com o objetivo de subsidiar a confeco de futuros materiais

    acessveis. Na terceira explorarei a linguagem matemtica para alunos com

    deficincia visual. Nela utilizaremos como exemplo uma disciplina com

    carter mais formal do curso de Licenciatura em Fsica, a disciplina de

    Mecnica Quntica.

    Seo 6.1 - Minha Trajetria

    Minha trajetria para me tornar um aluno com deficincia visual na

    Licenciatura em Fsica da Universidade Federal de Lavras comeou quando

    tinha 18 anos e j tinha perdido boa parte da viso.

  • 57

    O problema que tenho e que causou cegueira a Retinose Pigmetar.

    Manifestada desde os 14 anos, fui perdendo gradativamente a viso at os 18

    anos de idade.

    Com 18 anos e concluindo o ensino bsico, pensava como seria

    minha vida e resolvi que deveria estudar para o meu desenvolvimento

    acadmico e crescimento social. Durante dois anos fiz um cursinho

    preparatrio para o vestibular na minha cidade, Santo Andr no estado de

    So Paulo. Durante o cursinho desenvolvi e aprendi mtodos diferenciados

    para estudar, pois havia perdido a viso recentemente. Foi l que aprendi a

    utilizar monitorias e treinava, por meio de simulados, como administrar o

    tempo de realizao das provas dentro do estabelecido.

    A famlia foi importante nesse momento pelo apoio e acreditando

    que eu conseguiria alcanar meus objetivos. Por exemplo, eu tinha duas tias

    que frequentavam minha casa para ler as apostilas para mim e me auxiliar

    nos exerccios. Estas tias auxiliavam mais na rea de humanas. Nas

    apostilas de exatas tambm tinha o auxlio de um primo que havia feito um

    curso tcnico de qumica.

    Paralelamente a todo esse processo eu fiz o curso de orientao e

    mobilidade e introduo ao braile no Centro de Referncia de Pessoas com

    Deficincia (CRPD) em Santo Andr. Essa escola foi de muita ajuda, pois

    foi l que tive a primeira impresso real de como seria uma vida sem o

    sentido da viso.

  • 58

    No final do segundo ano do cursinho fiz o vestibular da UFLA. A

    comisso do vestibular COPESE dava a opo para candidatos de fora do

    estado de Minas Gerais fizer a prova em So Paulo. Na ocasio solicitei a

    presena de um ledor para transcrever a prova para mim e um tempo extra

    para realizao da prova. Fui atendido em todas as minhas solicitaes e no

    dia 19 de dezembro de 2008 fui aprovado em oitavo lugar no curso de

    Licenciatura em Fsica da Universidade Federal de Lavras. Foi um momento

    de alegria para todos os envolvidos no processo, amigos e familiares. A

    confiana que senti de todos que eu seria capaz de estudar em uma cidade

    diferente com pessoas diferentes foi muito importante.

    No incio de 2009 ingressei na UFLA sabendo que eu tinha

    condies de enfrentar as dificuldades. Eu tinha certeza que teria muitas

    dificuldades, pois era um curso novo e provavelmente poucos professores

    haviam trabalhado com um estudante cego.

    O apoio que encontrei na cidade foi aumentando com o passar do

    tempo. Tive suporte da igreja que frequento, dos meus amigos que moraram

    comigo durante toda essa jornada e do Centro de Educao e Apoio s

    Necessidades Auditivas e Visuais (CENAV). O CENAV foi importante na

    minha formao. Este centro, desde que comecei a frequentar, me ensinava a

    convivncia com outras pessoas com deficincia visual. L tambm recebi

    suporte para continuar o estudo do braile e mtodos para utilizao do

  • 59

    soroban para clculos. Atualmente estamos trabalhando com planilhas e

    tabelas utilizando leitor de tela.

    O curso de Licenciatura em Fsica era semestral e a cada perodo que

    se iniciava era um novo desafio. Nas disciplinas que eram comuns a cursos

    de exatas, como Calculo 1, 2 e 3, minha dificuldade foi a falta de material

    acessvel, mas frequentando regularmente as monitorias consegui ter ritmo

    de estudo e, consequentemente, obtive sucesso nas disciplinas. J nas fsicas

    bsicas j havia carncia de monitores, surgindo a necessidade de se criar um

    monitor especfico para auxiliar alunos com deficincia visual. Vale lembrar

    que esses monitores foram alternando ao longo do curso. No total tive oito

    monitores que fizeram parte da minha histria dentro do curso de fsica. Suas

    atribuies esto detalhadas na seo seguinte.

    Nas aulas de laboratrio, alguns professores fizeram com que eu

    participasse das aulas separando um tempo para explicar os experimentos e

    explorando meu sentido do tato, ou seja, tocava nos equipamentos e

    conhecia a sequencia dos acontecimentos que estava programada pelo

    roteiro. As medidas eram feitas pelos meus colegas e fazamos juntos os

    relatrios necessrios pra cumprir o planejamento das disciplinas. Apenas

    alguns professores se preocupavam em dar essa ateno diferenciada.

    Nas aulas de fsica terica eu tinha dificuldade, pois os clculos

    eram extensos e meu leitor de tela no era capaz de traduzir em voz

  • 60

    equaes, grficos e figuras. Essa dificuldade era diminuda com a

    participao dos monitores.

    Quanto acessibilidade, tive muita dificuldade no incio do meu

    curso, pois as barreiras arquitetnicas eram grandes e no conhecia os

    prdios de aulas, biblioteca e passeios. Na medida em que o tempo passava,

    me acostumava aos buracos e irregularidades no acesso aos departamentos.

    Fez parte da minha histria a falta de espao fsico para estudo. No

    incio no havia um lugar reservado para pessoas com deficincia estudar.

    Nesta poca criou-se naturalmente um grupo de estudo formado pelos meus

    colegas, dentro do centro acadmico de fsica, uma vez que estavamos

    fazendo as mesmas disciplinas. O contedo de disciplinas como Fsica

    Matemtica, Mecnica Terica, Mecnica Quntica, Mecnica Estatstica,

    Teoria Eletromagntica e tica era muito extenso. O grupo tinha um bom

    ritmo de estudo e havia uma forte cumplicidade para sustentar, durante essa

    fase de dificuldade, tanto a falta de viso, quanto, principalmente, o

    contedo, difcil por natureza. Essa questo melhorou a partir da metade do

    curso devido a presena do Ncleo de Acessibilidade da UFLA. Hoje os

    alunos com deficincia tem uma sala dentro da biblioteca reservada para

    estudos e podem fazer uso das dependncias do Ncleo.

    Sendo um curso de licenciatura, tive disciplinas especficas para o

    Ensino de Fsica. Nas oportunidades em que eu era o aluno, meus

    professores foram flexveis nas questes de tempo para produo de material

  • 61

    didtico e apresentao de trabalhos, pois necessitava de auxlio de

    monitores e tambm eu sempre necessitava mais tempo para confeccionar os

    materiais. Acredito que a compreenso por parte dos professores me deu a

    garantia necessria para eu me sentir includo nestas disciplinas.

    No final de cinco anos estou prximo da concluso do meu curso.

    Penso que minhas experincias podem contribuir para outros alunos que

    tenham deficincia visual e gostam de fsica e matemtica e ainda no

    conhecem estratgias de ensino diferenciadas. Minhas experincias podem

    tambm servir de subsdio para professores que no tiveram experincias

    com alunos cegos, na criao de mtodos diferenciados para uso em sala de

    aula.

    No incio de minha trajetria contei muito com o apoio dado pela

    minha famlia e amigos. No decorrer do curso, com o apoio de novos amigos

    daqui da UFLA, da casa que morei e de professores que sempre lutaram ao

    meu lado.

    A partir da metade do curso conheci minha namorada que tanto me

    apoiou durante as fases crticas do curso e participou de todos os momentos

    de vitrias e derrotas. Sua famlia teve uma importncia muito grande pela

    assistncia dada e acolhimento nos momentos que mais precisei.

    Penso que a soma de todos os envolvidos na minha trajetria foi

    relevante para minha pesquisa. Eles fizeram com que fosse possvel

  • 62

    permanecer em um curso com dificuldades naturais e acrescentado alguns

    ajustes de uma pessoa que tem deficincia visual.

    Seo 6.2 - Materiais confeccionados - crticas e sugestes

    No decorrer do perodo de graduao foram realizadas atividades

    com o objetivo de auxiliar um estudante com deficincia visual. As

    atividades e materiais apresentados tiveram a participao de um monitor.

    Todo trabalho foi feito em parceria entre o monitor e o aluno, principal

    beneficiado com a confeco desse tipo de material. Isso garantiu a maior

    eficincia do material produzido. Esta parceria foi crucial em atividades

    acadmicas com apresentaes de trabalhos, aulas e seminrios e tambm

    auxiliando na apropriao dos contedos ministrados. A seguir veremos

    alguns exemplos.

    Seo 6.2.1 - Tecnologias aplicadas educao.

    A estrutura curricular do curso de Licenciatura em Fsica da UFLA

    (currculo 2009-2) apresentava disciplinas que tinham por objetivo produzir

    materiais didticos para serem utilizados nas disciplinas de Fsica das

    escolas de Ensino Mdio. Na disciplina Informtica Aplicada Educao,

    dentre as diversas atividades, foi elaborado um curso de eletrosttica em

    udio, utilizando recursos tecnolgicos, para ser utilizado por alunos do

    Ensino Mdio com deficincia visual. A escolha do trabalho foi feita em

  • 63

    conjunto por mim e o professor. As estratgias desenvolvidas para a

    elaborao deste curso foram baseadas em minha experincia acadmica.

    Para que eu pudesse estudar e dominar o assunto, a bibliografia

    escolhida foi toda gravada em udio por um monitor com a descrio das

    imagens. As faixas de udio foram divididas por seo. De posse da

    bibliografia em udio, eu selecionei as partes principais, identificando os

    trechos que ficaram confusos e adequando-os para um melhor

    aproveitamento do curso. Eu tambm selecionei os melhores exerccios que

    poderiam ser descritos claramente e compreendidos.

    A estrutura do texto em udio deve ser adequada para um usurio

    com deficincia visual. O material desenvolvido tinha um formato

    semelhante ao utilizado com leitores sem deficincia visual, possuindo

    ttulos, subttulos, tabela, figura, fotografia, objetos com legendas, entre

    outros. No caso de legendas, interessante cit-las identificando o objeto a

    que pertence antes que apaream no texto, para que o usurio fique ciente do

    que vir na sequncia, direcionando sua ateno da melhor maneira.

    Antes dos ttulos tambm importante a identificao de sua

    hierarquia no texto. Por exemplo, se for iniciado um captulo, antes da leitura

    de seu ttulo inserimos a palavra captulo, se for uma seo, a palavra

    seo. Desta forma o usurio consegue se situar e ter uma noo mais

    global ou especfica do contedo.

  • 64

    Do material desenvolvido em udio foi feito um resumo escrito,

    incluindo as identificaes de captulo citadas anteriormente e a seleo dos

    exerccios. Com este recurso do resumo escrito, alm do trabalho em udio,

    o usurio pode acessar o resumo do curso e os exerccios utilizando um leitor

    de tela.

    Os programas leitores de tela, apesar de muito teis, podem se tornar

    cansativos para textos longos. A proposta de gravao em udio por um

    humano proporciona maior conforto e rendimento ao usurio com

    deficincia visual.

    Incluindo todas as nomenclaturas, identificaes, descries e o

    corpo do texto em si, todo o trabalho foi gravado com xito. Por se tratar de

    um contedo repleto de figuras, o texto foi totalmente adaptado com

    descries. Em alguns casos, descries de figuras foram suprimidas por

    estarem confundindo mais o usurio, sendo utilizada a descrio no prprio

    corpo do texto.

    Um procedimento que foi adotado e que altamente aconselhvel

    a elaborao de material ttil para o usurio com deficincia visual. O uso

    desse material esclarece as descries feitas e gera uma melhor

    compreenso. Para as ilustraes de eletrosttica, foram utilizadas linhas de

    nilon, bolas e placas de isopor, palitos de churrasco e tinta relevo para

    verificar figuras.

  • 65

    Embora todos os cuidados na elaborao desse curso, eu identifiquei

    uma falha na execuo que considerei grave. Ocorreram gravaes de sees

    extensas e todos os exerccios foram gravados em uma nica faixa de udio.

    Uma pessoa com deficincia visual no tem o recurso de procurar e

    ir diretamente a determinada parte do texto com facilidade. interessante

    fracionar sees extensas e gravar cada exerccio em uma faixa de udio

    distinta, pois assim o usurio conseguir acessar com facilidade um exerccio

    especfico. Apesar de apresentar falhas, o curso de eletrosttica em udio

    teve um saldo positivo e pode ser desenvolvido para outros contedos,

    fazendo-se as devidas correes para as falhas observadas.

    Seo 6.2.2 - Estgios, Seminrios e Apresentaes.

    Entre as atividades do curso de Licenciatura existe a necessidade de

    ministrar aulas, tanto nos estgios como nas aulas com prticas de ensino, ou

    apresentar seminrios. A preparao prvia para estas atividades a mesma

    que de outros alunos, incluindo a leitura da teoria e a resoluo de alguns

    exerccios. Para a apresentao, o principal recurso utilizado foram slides.

    Em diversas ocasies tambm foram utilizados materiais manipulativos.

    Na preparao da aula de ptica, por exemplo, foram utilizados

    palitos de churrasco para representar os raios; canetas e tampinhas de canetas

    representando os objetos e suas respectivas imagens; uma fita com vrias

    camadas de papel curvada para representar os espelhos curvos; e um cabo

  • 66

    determinando o eixo focal. Uma sugesto de aprimoramento para esse

    exemplo o uso de uma placa de isopor e alfinetes para fixar melhor os

    materiais, substituir os palitos de churrasco por barbantes para uma maior

    flexibilidade e utilizar esses palitos para objetos, pois so materiais baratos e

    pode-se quebrar para modificar o tamanho das imagens formadas, usar uma

    tira de papelo para substituir a fita de papel citada, para dar flexibilidade ao

    moldar o espelho esfrico.

    Aps a abordagem dos contedos e a seleo de quais seriam os

    contedos de cada slide, a implementao da apresentao no computador

    ficava mais sob a responsabilidade do monitor, visto que essa parte se refere

    somente formatao, planos de fundo e disposio de textos e figuras na

    apresentao. Aps algumas apresentaes, um procedimento foi

    acrescentado, que contribuiu para melhorar as apresentaes. Foi

    acrescentada em cada slide a gravao da descrio do slide em uma faixa de

    udio separada. Desta forma, um apresentador com deficincia visual pode

    se preparar sozinho para as aulas e seminrios. No incio de cada slide

    tambm importante identificar qual a numerao do mesmo com a

    expresso: Slide X ttulo do slide. Observa-se que so vrias etapas at

    que uma apresentao adequada esteja finalizada, consumindo um tempo de

    preparo bem maior do que o de um aluno sem deficincia visual. Em geral os

    professores no consideravam este aspecto na definio do prazo

    disponibilizado ao aluno.

  • 67

    Seo 6.2.3 - Leitura de textos tericos.

    Durante o curso de licenciatura, o aluno deve ler vrios textos de

    carter terico. Para o aluno com deficincia visual, textos longos dificultam

    releituras e revises, pois para encontrar no texto os trechos de interesse, o

    aluno no pode fazer uma busca rpida com os olhos. Para agilizar os

    processos de releitura, o indicado que os professores evitarem

    disponibilizar um nico texto extenso. Os textos podem ser disponibilizados

    na forma de udio, com o apoio do monitor. Durante a gravao deve-se

    tomar cuidado para evitar rudos. Estes rudos algumas vezes so devidos a

    defeitos dos aparelhos utilizados na gravao, outros so externos, causados

    por conversas, animais, automveis etc. Textos gravados com rudos

    equivalem a textos em folhas sujas ou amassadas, o que torna a leitura mais

    desagradvel.

    As sees no devem ser grandes e a identificao das partes

    constituintes do texto se mantm necessria. Um procedimento adotado por

    monitores e que diminui a monotonia do texto a interao direta com o

    ouvinte. Isto pode quebrar o ritmo e chamar a ateno do aluno com

    deficincia de volta ao texto. Essa interao pode ser relacionada ao

    contedo, dando opinies e sugestes, ou em intervalos entre sees, com o

    intuito de descansar antes de entrar em outra parte do contedo.

    Com o recurso da gravao, o aluno tem acesso a vrios materiais

    em udio, na hora que julgar necessrio, sem passar pelo constrangimento de

  • 68

    ter sempre que solicitar para algum para fazer a leitura de algum material

    escrito em tinta.

    Seo 6.2.4 - Resumos e Anlises Crticas.

    Em muitas ocasies o aluno com deficincia visual precisa elaborar

    um resumo e/ou uma anlise crtica do contedo lido. Neste caso, a exemplo

    de material didtico utilizado, mais conveniente faz-lo de forma

    fracionada. Esta forma garante um melhor aproveitamento do contedo e o

    aluno contorna a dificuldade de visualizao de forma generalizada. A cada

    pargrafo pode-se fazer uma breve discusso e anotar os pontos principais,

    para posteriormente elaborar todo o corpo do resumo com as devidas

    anlises.

    Seo 6.2.5 - Expresses Matemticas

    Na gravao de textos em udio que, alm dos aspectos citados

    anteriormente, incluam expresses matemticas, deve-se ter alguns cuidados

    adicionais. O aluno com deficincia necessita de referncias explicitas para a

    compreenso destas expresses, o uso de parnteses fundamental.

    Por exemplo, uma pessoa sem deficincia visual enquanto observa

    uma expresso matemtica pode express-la oralmente da seguinte forma:

    raiz de dois mais trs. Esta mesma expresso pode ser dita em voz alta para

  • 69

    mais de uma expresso matemtica, que correspondem a operaes com

    resultados diferentes.

    Na leitura em voz alta para uma pessoa com deficincia visual, a

    presena de parnteses essencial para a diferenciao dessas expresses.

    Devemos proceder da mesma forma para derivadas, integrais etc.,

    eliminando expresses com dupla interpretao.

    No caso de fraes, deve-se ler todo o numerador para em seguida

    ler o denominador, indicando as expresses entre parnteses para evitar

    dvidas. Quanto mais explicado e claro, mais proveitoso ser o aprendizado.

    Seo 6.2.6 - Figuras

    A descrio das figuras constitui uma das tarefas mais difceis ao

    leitor que ir gravar o contedo, mas essa dificuldade amenizada com a

    prtica. importante expor os pontos principais e buscar evidenciar a

    inteno e associao das figuras com as matrias abordadas. O leitor deve

    ponderar at que ponto o uso de detalhes benfico, pois o uso em excesso

    de detalhes e uma descrio extensa podem confundir o ouvinte. Detalhes

    desnecessrios para a compreenso completa da figura podem, ou at mesmo

    devem, ser suprimidos para uma melhor compreenso por parte do ouvinte.

    Durante a descrio das figuras deve haver, se possvel, a interao entre o

    leitor e o ouvinte, para saber se o entendimento por parte deste est sendo

    eficaz.

  • 70

    Seo 6.2.7 - Filmes e Vdeos

    Da mesma forma que a descrio das figuras, a descrio de filmes e

    vdeos deve passar por uma seleo de detalhes. A descrio deve incluir

    tudo que o ouvinte precisa para compreender o que est acontecendo no

    filme, mas deve ser sucinta o suficiente para no confundir pelo excesso de

    informaes. Uma precauo adicional deve ser no sobrepor a descrio s

    partes de udio importantes do prprio vdeo. Para evitar esse problema,

    sugere-se pausar o vdeo quando necessrio para descrever o que est

    ocorrendo ou aproveitar cenas mudas ou com udios irrelevantes para a

    compreenso.

    Seo 6.3 - Linguagem matemtica para pessoas com deficincia visual

    A matemtica tem um papel fundamental para o ensino da fsica. Por

    meio dela possvel a descrio da natureza [PIETRICOLA, 2002]. Para

    pessoas com deficincia visual necessria uma adaptao para trabalhar

    com o formalismo matemtico presente na maioria das disciplinas, pois a

    escrita matemtica fortemente dependente do sentido da viso. A proposta

    dessa seo mostrar que existem algumas possibilidades para auxiliar uma

    pessoa com deficincia visual no estudo da fsica utilizando a matemtica

    como ferramenta, mesmo sem o recurso da viso, atravs de materiais

    acessveis a sua realidade, ou seja, materiais que possibilitem que o aluno

  • 71

    estude conceitos fsicos atravs de uma representao matemtica utilizando

    os recursos sensoriais que possui.

    A disciplina escolhida como exemplo da linguagem matemtica foi

    Mecnica Quntica, cujo contedo tem uma base matemtica muito forte.

    A produo e anlise do material didtico desenvolvido para esta

    disciplina foi feita durante o semestre em que eu estava matriculado na

    disciplina. Apresentaremos detalhes de como estes materiais foram

    produzidos, sua aplicabilidade e por fim as consideraes do autor em

    relao a eles.

    O professor responsvel pela disciplina, quando soube que teria um

    aluno com deficincia visual em sua turma, comeou a preparar o material

    que eu usaria usaria durante o curso. Para adaptar a linguagem matemtica

    do contedo de mecnica quntica, o professor transcreveu todas as

    equaes de seu material por extenso, possibilitando que o leitor de tela

    fizesse a leitura. O material foi testado por mim antes do incio da disciplina.

    Uma dificuldade encontrada foi a incompatibilidade entre o

    compilador do texto e o leitor de tela, acarretando erro na leitura de alguns

    caracteres, tornando a leitura do contedo prejudicada. Com o compilador

    utilizado para transform-lo em PDF, todos os caracteres acentuados, por

    exemplo, acabavam sendo lidos, pelo leitor de tela, de forma errada,

    comprometendo completamente o entendimen