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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO CERRADO GOIANO SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA. ORIENTADOR (A) PROF: Celso Sánchez POSSE – GO 2008. DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO

CERRADO GOIANO

SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA.

ORIENTADOR (A)

PROF: Celso Sánchez

POSSE – GO

2008.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO

CERRADO GOIANO

SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA

POSSE – GO

2008

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Educação Ambiental de Severina

Alves dos Santos Silva.

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Dedico esse trabalho a meu esposo

Claudionor, a meus filhos Caroline, Paulo Henrique e

Camila que foram presença, que compreenderam

minha ausência, dando-me o apoio necessário para

continuar nesta luta, suas companhias, seus

sorrisos, suas palavras e mesmo suas ausências

foram expressões de profundo amor nos méritos

desta grande conquista

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A Deus, que se fez presente em todos os momentos

passo a passo pude sentir a sua mão segurando a minha,

transmitindo-me a segurança necessária para enfrentar

meu caminho e seguir.

Aos meus colegas de trabalho que me incentivaram

para que pudesse alcançar a segunda vitória.

Ao professor Celso Sánchez, meu orientador, que

disponibilizou em ajudar-me todas as vezes que tive

dúvidas no decorrer do curso, o meu muito obrigado pelo

carinho e dedicação.

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“Não importa onde você parou. Em que momento

da vida você cansou. O que importa é que sempre é

possível e necessário Recomeçar”.

Carlos Drummond de Andrade.

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RESUMO

Indubitavelmente a sociedade atual caracteriza-se pelo avanço técnico-

científico e informacional que lhe confere peculiaridades nunca antes

imaginadas. É predominantemente urbana, da comunicação instantânea, das

distâncias reduzidas, da robótica, da cibernética. Em contrapartida, é a

sociedade do ter em detrimento do ser, da rapidez frenética, da competição

acirrada, e, porque não dizer, marcada por profundas crises.

Essas crises refletem objetivamente a esgotabilidade de um processo

produtivo que, ao expandir-se globalmente, escancara sua face perversa,

através de várias formas de degradação sócio-ambiental. Assim, há duas

questões-chave que se apresentam como os grandes desafios para a

sociedade do século XXI: produzir de forma sustentada, não esquecendo que

há o dever ético de garantir o abastecimento para as futuras gerações, e

distribuir de forma eqüitativa a produção.

O despertar da humanidade já se iniciou, pois é inegável que nas últimas

décadas demos alguns passos em direção a uma nova postura diante do

Planeta e seus recursos. Com certeza as questões ambientais ganharam

espaço no Primeiro Encontro Mundial sobre o Meio Ambiente em

Estocolmo, Suécia, em 1972, eclodindo na Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio -92

ou Cúpula da Terra. Esses encontros constituíram um marco definitivo na longa

batalha para aumentar a tomada de consciência internacional quanto à

verdadeira natureza e escala da crise ambiental, embora muitos estudiosos

afirmam que deram origem a acordos fracos e inexpressivos, incapazes de

mudar a conduta das nações.

No entanto, é fato que após a Rio -92, o mundo acordou para a

realidade de que o desenvolvimento está indissoluvelmente ligado às políticas

de conservação do meio ambiente e à administração planejada de nossos

recursos naturais.

Esse despertar talvez tenha sido o mais importante resultado da Rio -92,

como nos diz Oliveira e Machado (op. cit.): “da mesma forma que as primeiras

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fotos da Terra flutuando no espaço sobre o horizonte da Lua provocaram

profunda mudança na maneira de perceber nosso planeta, a Rio-92 provocou

profunda mudança na maneira pela qual as nações do mundo passaram a

encarar suas relações e responsabilidades mútuas”.

Estamos agora diante de um novo compromisso: avançar na questão

das políticas públicas praticando nossas decisões que devem sair dos papéis e

ser incorporada ao nosso cotidiano. Essa tarefa não é nada fácil, nem na

escala local, quiçá no plano mundial, já que os conflitos perceptivos são

profundos e resolvê-los implica, além de contrariar interesses, atribuir outro

valor à nossa própria vida no Planeta Terra, buscando romper os atuais

padrões civilizatórios.

Especificamente no Brasil não há dúvidas que a implantação da política

ambiental alcançou significativos resultados, todavia, apesar do enorme

potencial em biodiversidade - apontada por muitos estudiosos como a riqueza

estratégica para o futuro – o Brasil mantém seu secular modelo de

desenvolvimento econômico, baseado na exploração indiscriminada dos

recursos naturais e sem uma preocupação conservacionistas. Até mesmo o

recente estabelecimento de uma política de meio ambiente no Brasil se

assenta ainda no mito desenvolvimentista do pós-guerra.

Um bioma brasileiro de extrema importância, mas, muitas vezes

esquecido, é o Cerrado. Este ocupa cerca de 25% (equivalente a 2 milhões de

km2) do território nacional e é considerado a savana mais rica em

biodiversidade do mundo por apresentar cerca de 5% da fauna e flora mundiais

em seus domínios. É denominado, por isso, como sendo um hot spot (região

biologicamente rica, porém ameaçada). Apresenta ainda, diversos tipos de

fisionomias vegetais, desde campos abertos, como os campos limpos até

formações florestais, como os cerradões (Cavassan, 2002).

A degradação observada é resultado da falta de fiscalização dos órgãos

responsáveis e de uma legislação efetiva que vise à conservação e

recuperação do ecossistema. Se nada for feito neste sentido, daqui a alguns

anos não haverão mais áreas de cerrado. Muitas espécies estão correndo o

risco de extinção sem terem sido identificadas.

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Vale ressaltar também que qualquer estudo sobre o cerrado, deve

considerar o regime de fogo, intimamente associado a esta paisagem e que

ocorre naturalmente ou como conseqüência da ação humana.

A importância do fogo para o entendimento da ecologia desse ambiente

é ainda mal conhecida e, geralmente, marcada por questões mais ideológicas

que científicas.

Nesse contexto é que se tem buscado inserir a prática da Educação

Ambiental. Com ações organizadas e efetivas, a sociedade passa a refletir, se

questionar, mudar de comportamento e reconstruir valores sobre a relação

homem natureza, surgindo, portanto, a consciência de que as atitudes do

homem influenciam muito o ambiente e geram conseqüências às futuras

gerações. Surge, então, a busca pela harmonia entre a conservação dos

ambientes e a sustentabilidade da sociedade.

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METODOLOGIA

Pesquisa significa busca, inquirição, indagação, diligência (Caldas

Aulete, 1970, v.4, p.2793), já a extensão bibliográfica é termo derivado de

bibliografia, que significa descrição, conhecimento dos livros (Caldas Aulete,

1970, v.1, p.482). Pela interpretação das definições apresentadas na citada

obra de referência, o termo pesquisa bibliográfica pode ser entendido como o

ato de indagar, buscar explicações em documentos escritos sobre determinado

assunto.

A pesquisa bibliográfica é um dos procedimentos iniciais após a escolha

do tema da pesquisa, é a coleta de material para estudo. Para que isso se

desencadeie de forma ordenada e visando a obter a indicação precisa de todas

as fontes de consulta, é conveniente considerar algumas recomendações

essenciais (Eco, 1995; Minayo, 1994): Immanuel Kant (1689- 1755).

A metodologia a ser aplicada será a busca e a análise bibliográfica

capaz de direcionar a pesquisa no sentido de visualizar como a Educação

ambiental, fauna e flora do nordeste goiano são trabalhados nas escolas de

Ensino Fundamental. A bibliografia até aqui estudada será básica na

argumentação sem, contudo, deixar a possibilidade de consultar novas

bibliografias.

“... Os argumentos dedutivos ou, estão

corretos ou incorretos, ou as premissas sustentam de modo

completo a conclusão ou, quando a forma é logicamente incorreta,

não a sustentam de forma alguma; portanto, não há graduações

intermediárias. Contrariamente, os argumentos indutivos admitem

diferentes graus de força, dependendo da capacidade das premissas

de sustentarem a conclusão. Resumindo, os argumentos indutivos

aumentam o conteúdo das premissas, com sacrifícios da precisão,

ao passo que os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação do

conteúdo para atingir a ‘certeza’” (LAKATOS et. MARCONI, 1991,

p.57,58).

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Vive-se atualmente em um mundo que passa por grandes mudanças.

Nas estratégias geopolíticas dos dominantes, formam-se blocos econômicos

que integram mercados em uma nova ordem mundial, mas, ao permanecer a

lógica de acumulação e concentração de capital em escala ampliada, agravem-

se mundialmente as desigualdades sociais. O neoliberalismo em expansão,

que influencia hegemonicamente essa reestruturação mundial, confessa o

credo do mercado e destina-se apenas a quem for de interesse desse

mercado.

Educação Ambiental é uma forma de educar e aprender, tendo como

objetivo o próprio meio ambiente em que vivemos e a melhoria da qualidade de

vida. A Educação Ambiental inclui estudos de problemas ecológicos e regras

de conservação da natureza, ao mesmo tempo em que desenvolve tópicos de

outras matérias, buscando e aplicando toda aprendizagem no próprio ambiente

que envolve a classe. Através da Educação Ambiental você fará descobertas

valiosas, compreenderá melhor o meio em que vive e passará a admirá-lo e

protegê-lo mais.

Segundo o Diário O Popular Via Internet de 26/01/2005

“Os principais agentes causadores da

degradação do solo, segundo a ONU, são pastejo excessivo,

descuido das práticas de conservação do solo e desmatamento sem

critérios técnicos. No que diz respeito ao desmatamento, dados da

Embrapa, de 1996, informam que as florestas tropicais estão

reduzidas a 44% de sua área original e que o Brasil está entre os

países que mais desmatam suas florestas no mundo. O solo é um

dos recursos naturais mais duramente castigados pelo

desmatamento desordenado. As queimadas, quando praticadas em

larga escala, retiram os nutrientes do solo, desprotegendo e

diminuindo sua fertilidade e proporcionando as erosões. Estas, por

sua vez, causam assoreamento de rios, lagos e represas, causando

as inundações. As erosões podem ser classificadas em dois tipos.

Hídrica: causada pelas chuvas. É a forma mais comum de erosão.

Geralmente ocorrem pelo uso inadequado do solo, como

desmatamento e superexploração do solo. Pode evoluir para

voçorocas.

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As queimadas e desmatamentos deixam o solo desprotegido,

facilitando a erosão e provocam a perda de nutrientes, diminuindo a

fertilidade; O solo sem cobertura causa o assoreamento dos rios, o que

produz inundações; As represas recebem grande quantidade de terra,

sofrendo contínuo processo de assoreamento e prejudicando a vida

aquática; Formam-se novas ilhas nos santuários dos rios, impedindo a

subida dos peixes e dificultando o transporte fluvial.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................13

CAPÍTULO I Meio Ambiente e degradação do cerrado goiano e o que os

brasileiros pensam do meio ambiente, do desenvolvimento e da

sustentabilidade.................................................................................................19

CAPÍTULO II Onde existe cerrado no Brasil; tipos de cerrado, principais

reservas e frutos do cerrado goiano..................................................................42

CAPÍTULO III condições que se encontram o cerrado goiano; maiores

agressões sofridas e as ações que estão sendo desenvolvida para sua

preservação.......................................................................................................55

CONCLUSÃO..................................................................................61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................63

ANEXOS..........................................................................................66

FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................69

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho monográfico é Educação Ambiental e a

degradação do cerrado goiano. O foco deste trabalho está em saber se a

educação ambiental é uma das dimensões presentes na educação e quais as

conseqüências sofridas pelo homem e pelos animais com as queimadas e o

desmatamento do cerrado. Atualmente a questão Ambiental se impõe perante

a sociedade, a discussão sobre a relação educação e meio ambiente

contextualiza-se em um cenário atual de crise nas diferentes dimensões:

econômica, política, cultural, social, ética e ambiental.

A necessidade de se trabalhar Educação Ambiental e de formar

profissionais aptos para trabalhar com essa nova dimensão no processo

educativo nas escolas é decorrente dos aspectos legais e dos problemas

ambientais vivenciados por toda a sociedade.

Segundo a CI (Conservation Internacional), o cerrado já lista na relação

dos 17 ecossistemas mais degradados do planeta, carecendo urgentemente de

medidas que contemplem a preservação da camada nativa existente e

recuperação das áreas ilegalmente ocupadas, pois preservar a biodiversidade

do cerrado é com certeza assegurar novos remédios, fibras, alimentos e outras

matérias primas que bem aproveitadas pela tecnologia moderna trarão mais

conforto e bem-estar à humanidade. São, portanto, objetivos deste trabalho:

-Levar informações, orientar professores e todas as pessoas interessadas em

desenvolverem ações de preservação e conservação do meio ambiente para

resolver problemas atuais, pessoais e futuro,

-Identificar onde existe cerrado no Brasil

-Conhecer as principais reservas do cerrado Goiano

-Conhecer os frutos do cerrado goiano

-Saber em que condições se encontram o cerrado goiano e as ações que estão

sendo desenvolvidas.

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-Identificar as maiores agressões sofridas pelo serrado goiano

-Saber o que os brasileiros pensam do meio ambiente, do desenvolvimento e

da sustentabilidade?

A história da humanidade foi construída pelo conhecimento e pela

intenção, adequados a uma finalidade, tratando-se tanto da produção de bens

materiais como da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos,

atitudes e habilidades. E o processo de produção da existência humana (ou

sua história) foi construído e assimilado pela educação. Esta é, portanto, um

fenômeno próprio do seres humanos, sendo o ato de produzir direta e

intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida

histórica e coletivamente, pelo conjunto dos homens (Saviani, 1994)

Por ser um fenômeno próprio dos seres humanos, a educação é

fundamental no processo de conscientização, individual ou coletiva, tanto sobre

a problemática ambiental, quanto sobre suas causas e conseqüências na vida

do homem, possibilitando o surgimento de novos comportamentos/atitudes.

E este pensamento sobre mudança de atitude frente à questão

ambiental não é atual. Há muito tempo existe a preocupação de manter uma

relação saudável, sustentável e harmônica entre o homem e a natureza.

Podemos identificar o surgimento do ambientalismo na década de 60, época

marcada por diversas manifestações, grandes movimentações sociais, políticas

e culturais, que questionavam os valores da sociedade, a emergência de

processos de degradação do ambiente, o desenvolvimento do modo de

produção capitalista e o risco de guerra nuclear entre as superpotências da

época (Cascino, 2000).

Estes questionamentos aliados aos avanços tecnológicos, à

crescente industrialização e à conseqüente deterioração da qualidade de vida

contribuíram para o início discussões e lutas mais consistentes e globais sobre

a questão ambiental, que enfatizavam a relação homem-natureza e buscavam

propostas para a formação de um ser humano mais consciente de seus limites

e possibilidades (Cascino, 2000).

Segundo Saviani (1994), para sobreviver, o homem necessita

extrair da natureza, ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência.

Desta forma, cria um mundo humano (o da cultura) ao transformar a natureza.

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Porém, as formas históricas dos processos de transformação e criação

antrópicas têm causado, principalmente após a Revolução Industrial, danos à

qualidade ambiental, a degradação de ecossistemas, assim como diversos

problemas à sobrevivência do próprio homem no planeta.

Devido ao caráter predatório desse modelo de desenvolvimento

da atividade humana na Terra, surgiu a necessidade de se criar uma nova

estratégia de educação, visando à sensibilização, a mudança de atitudes e a

participação na resolução dos problemas ambientais por parte de grupos sócio-

culturais a eles relacionados (Sato, 2002). Assim, o movimento ambientalista

criou como estratégia, a Educação Ambiental (EA). Pedrini (1997) a define

como sendo uma reivindicação legítima e um processo contínuo de

aprendizagem de conhecimentos para o exercício da cidadania. Deve capacitar

o cidadão para a leitura crítica da realidade e uma participação consciente no

espaço social.

Para se fazer EA deve-se, portanto, observar um conjunto de

relações sociais que refletem a dinâmica de mundo (Sato, 2002). Desta forma,

projetos de EA são necessários para fortalecer a consciência crítica,

habilitando a ação social de grupos (Cascino, 2000).

Para Ab’Saber (1994) a Educação ambiental tem como tarefa

garantir a existência de um ambiente sadio para toda a humanidade implica

uma conscientização realmente abrangente, que só pode ter ressonância e

maturidade através da educação ambiental. Um processo educativo que

envolva ciência e ética, e uma renovada filosofia de vida. Um chamamento à

responsabilidade planetária dos membros de uma assembléia de vida, dotados

de atributos e valores essenciais: capacidade de escrever sua própria História;

informar-se permanentemente do que está acontecendo em todo mundo; criar

culturas e recuperar valores essenciais da condição humana. E, acima de tudo,

refletir sobre o futuro do planeta.

No Brasil, as pesquisas e ações em Educação ambiental vêm

aumentando a cada ano. Em 1999, aprovou-se uma legislação que institui a

Política de Educação Ambiental. Esta afirma que a EA é:

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“... um componente essencial e permanente da educação

nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os

níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e

não-formal. Diz, também que esta atividade deve ser desenvolvida

como prática educativa, integrada, contínua e permanente em todos

os níveis e modalidades do ensino formal, sem, no entanto, ser uma

disciplina específica no currículo de ensino (MMA, 1999).

Ainda, pela lei 9.795, a EA é o processo pelo qual os indivíduos e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do ambiente.

A idéia de conservação é muito comentada e difundida hoje em dia no

Brasil, devido ao fato de nosso país deter grande parte da biodiversidade

mundial. Uma das “tarefas” da Educação Ambiental é contribuir para a

conservação da biodiversidade dos ecossistemas.

Um bioma brasileiro de extrema importância, mas, muitas vezes

esquecido, é o Cerrado. Este ocupa cerca de 25% (equivalente a 2 milhões de

km2) do território nacional e é considerado a savana mais rica em

biodiversidade do mundo por apresentar cerca de 5% da fauna e flora mundiais

em seus domínios. É denominado, por isso, como sendo um hot spot (região

biologicamente rica, porém ameaçada). Apresenta ainda, diversos tipos de

fisionomias vegetais, desde campos abertos, como os campos limpos até

formações florestais, como os cerradões (Cavassan, 2002).

A degradação observada é resultado da falta de fiscalização dos órgãos

responsáveis e de uma legislação efetiva que vise a conservação e

recuperação do ecossistema. Se nada for feito neste sentido, daqui a alguns

anos não haverão mais áreas de cerrado. Muitas espécies estão correndo o

risco de extinção sem terem sido identificadas.

Nesse contexto é que se tem buscado inserir a prática da Educação

Ambiental com ações organizadas e efetivas, a sociedade passa a refletir, se

questionar, mudar de comportamento e reconstruir valores sobre a relação

homem natureza, surgindo, portanto, a consciência de que as atitudes do

homem influenciam muito o ambiente e geram conseqüências às futuras

gerações. Surge, então, a busca pela harmonia entre a conservação dos

ambientes e a sustentabilidade da sociedade.

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A depredação Ambiental é grave, somente através de ações

desenvolvidas a partir da escola é que vamos encontrar um caminho para

amenizá-la.

A pequisa-ação-participativa, segundo Thiollent (2000) é:

“... um tipo de pesquisa social com base

empírica que é concebida e realizada em estreita associação

com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e

no qual os pesquisadores e os participantes, representativos

da situação ou do problema, estão envolvidos de modo

cooperativo ou participativo.”

Este tipo de pesquisa, também denominada alternativa, surgiu em

oposição à pesquisa tradicional, onde os grupos observados não têm nenhum

poder sobre a pesquisa feita sobre eles (e não com eles). São apenas objetos

de estudo (Demo, 1989).

Segundo Demo (1989) a pesquisa participativa procura levantar dados

junto aos objetos de pesquisa e não apenas sobre eles. É aproximativa,

podendo, de alguma forma, contribuir para transformar a realidade de um

grupo. Quando acontece de forma efetiva, proporciona percepção sobre fatos

ignorados anteriormente, planejamento e organização para lidar com o fato

descoberto.

É preciso que os seres humanos reaprendam a sua existência na Terra

para poder enxergar e entender que a teia da vida é um intricado movimento de

aprendizagem que vem ocorrendo há bilhões de anos e compreendam que são

mais um elo da corrente de subsistência da vida na terra e que suas

ediossincrasias sejam respeitadas. É preciso a realização da aplicação de

medidas de preservação e conservação, repensando o modelo de

desenvolvimento e criando políticas econômicas que conciliam prosperidade,

crescimento financeiro e preservação (desenvolvimento sustentável).

As queimadas e os desmatamentos desordenado, provocado pelo

homem contribuem para extinção do cerrado é preciso que as leis ambientais

sejam compridas na íntegra.

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No primeiro capítulo discutiremos sobre Meio Ambiente e degradação

do cerrado goiano e o que os brasileiros pensam do meio ambiente, do

desenvolvimento e da sustentabilidade, tendo como base, Mauro

Guimarães e Revista “Noções Básicas de Educação Ambiental

depoimentos e obra de Samuel Murgel Branco. e outros.

No capítulo dois, registraremos onde existe cerrado no Brasil e os tipos

de cerrado, principais reservas e frutos do cerrado goiano, IBAMA.

No terceiro capítulo discutiremos sobre as condições que se encontram

o cerrado goiano e identificaremos as maiores agressões sofridas e as ações

que estão sendo desenvolvida para sua preservação, Revista “Noções Básicas

de Educação ambiental” e outros.

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CAPÍTULO I

MEIO AMBIENTE E DEGRADAÇÃO DO

CERRADO GOIANO E O OS BRASILEIROS PENSAM

DO MEIO AMBIENTE, DO DESENVOLVIMENTO E DA

SUSTENTABILIDADE.

1.1 MEIO AMBIENTE E DEGRADAÇÃO DO CERRADO GOIANO

De acordo com a resolução CONAMA 306:2002: “Meio Ambiente é o

conjunto de condições, leis, influencia e interações de ordem física, química,

biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas”.

Meio ambiente “... um conjunto de fatores naturais, sociais e culturais

que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo

influenciado por eles” (LIMA-E-SILVA in TRIGUEIRO, 2005, 77).

Lima (1984) ressalta o paradoxo da EA diante de uma educação voltada

para objetivos essencialmente econômicos, por “postular a substituição do

valor competitividade por solidariedade”. Sobre essas colocações Lima (1984)

conclui:

(...) a educação ambiental exige uma

postura crítica e um corpo de conhecimento produzido a partir de

uma reflexão sobre a realidade vivenciada. Sendo uma proposta

essencialmente comunitária, materializa-se através de uma prática

cujo objetivo maior é a promoção de um comportamento adequado à

proteção ambiental. Comporta uma concepção desalienante,

porquanto pressupõe ações voltadas para o surgimento de novos

valores, onde a participação é um princípio fundamental.

(Guimarães, 1995, p. 23).

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Concluindo Gonçalves (1990) conceitua:

A EA é, então, um processo de aprendizagem logo é contínuo que:

1) Procura aclarar conceitos e fomentar

valores éticos, de forma a desenvolver atitudes racionais,

responsáveis, solidárias entre os homens;

2) Visa instrumentalizar os indivíduos,

dando-os de competência para agir consciente e responsavelmente

sobre o meio ambiente, através da interpretação correta da

complexidade que encerra a temática ambiental e da inter-relação

existente entre temática e os fatores políticos, econômicos e sociais

(Guimarães, 1995, p. 27).

Uma organização é responsável pelo meio ambiente que a cerca,

devendo, portanto, respeitá-lo, agir como não poluente e cumprir as legislações

e normas pertinentes (ISO 14001).

No Art. 225 da Constituição Federal há a seguinte frase: “Todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do

povo e essencial à qualidade de vida impondo-se ao Poder público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações”.

Segundo Emídio (2006),

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“a sociedade como um todo é

responsável pela preservação do meio ambiente, então, é preciso

agir da melhor maneira possível para não modificá-lo de forma

negativa, pois isso terá conseqüências para a qualidade de vida da

atual e das futuras gerações, entendendo que: “O meio ambiente

concebido, inicialmente, como as condições físicas e químicas,

juntamente com os ecossistemas do mundo natural, e que constitui o

habitat do homem, também é, por outro lado, uma realidade com

dimensão do tempo e espaço. Essa realidade pode ser tanto

histórica (do ponto de vista do processo de transformação dos

aspectos estruturais e naturais desse meio pelo próprio homem, por

causa de suas atividades) como social (na medida em que o homem

vive e se organiza em sociedade, produzindo bens e serviços

destinados a atender “as necessidades e sobrevivência de sua

espécie” (p.127).

O cerrado é um bioma ainda pouco estudado, o que não o impediu que

sofresse recentemente uma vertiginosa destruição. O processo de

modernização da agricultura, intensificado nas décadas de 1980 e 1990 avança

sobre as veredas, as matas ciliares e as nascentes, especialmente nas áreas

mais planas, substituindo a vegetação nativa por imensos “mares” de soja.

Outro grande risco para o cerrado é a expansão do atual modelo energético,

que ameaça seus rios com a construção de barragens para a geração de

energia. A proposta de construção de oitenta barragens nos rios de Goiás, se

concretizada, provocará desastre no ambiente e na sociedade, com efeitos

irreversíveis a curto, médio e longo prazo.

O Cerrado brasileiro, localizado basicamente no Planalto Central é o

segundo maior bioma do país em área. Apresenta aproximadamente 2 milhões

de Km2 que correspondem a 23% do território nacional. Denominado por

alguns como savana2, devido à relação ecológica e fisionômica existente, sua

fauna é bastante rica em espécies nativas. Sua flora, também muito rica,

possui uma fisionomia única, que tem sido atribuída a fatores decorrentes da

ação combinada do fogo e de deficiências pedológicas, além do que, em menor

grau, da deficiência hídrica em alguns períodos do ano (CAMARGO, 1962 in

FERRI, 1976).

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Na Região Centro-Oeste estão localizadas as áreas nucleares do Bioma

Cerrado, onde se concentram as principais nascentes das grandes Bacias

Hidrográficas Brasileiras, que junto às veredas e o cerrado, formam o berço

das águas do continente Sul Americano. Mas as águas do cerrado estão

ameaçadas, tanto quantitativas, quanto qualitativamente pela ação antrópicas,

através dos desmatamentos descontrolados, destruição e utilização indevida

das veredas, a irrigação clandestina com pivôs centrais, uso indiscriminado de

agrotóxicos, lançamento direto de efluentes químicos, industriais e esgotos

urbanos sem tratamento. E potencializando estes efeitos negativos, a

construção de barragens para fins de geração de energia elétrica cria

ambientes artificiais, alterando drasticamente a qualidade hídrica, físico-

química e biológica, comprometendo as águas do cerrado.

O atual modelo energético brasileiro, unimodal, dependente das

hidrelétricas é altamente predatório para a natureza e para a sociedade. Além

disso, a expansão das hidrelétricas não resolve a questão da vulnerabilidade

do setor, concentrado apenas em uma matriz energética.

A preocupação com os impactos regionais sobre os meios natural e

social vem crescendo à medida que se conhecem os exemplos de barragens já

construídas no Estado de Goiás, com destaque para Serra da Mesa e Cana

Brava.

É no ambiente de cerrado, ecossistema marginalizado pelas leis

ambientais e pelos diversos programas governamentais, que vários projetos

estão em fase de estudo, licenciamento e de construção, especificamente para

geração de energia elétrica, tais como: AHE de Nova Aurora, Goiandira, Serra

do Paredão II e Foz da Laje II no Rio Veríssimo; Serra do Facão, Paraíso,

Paulistas e Mundo Novo no Rio São Marcos; Serra da Bocaina no Rio

Paranaíba; Corumbá II, Corumbá III e Corumbá IV no Rio Corumbá; Farofa,

Rancho, Quilombo e Tabocas no Rio Meia Ponte. Estamos na iminência de

vivermos um brutal desastre ambiental se alguma medida não for tomada em

defesa do ambiente e da sociedade.

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Metade dos municípios goianos (132 de um total de 246) possui menos

de 20% de cobertura nativa de cerrado, percentual de devastação considerado

crítico e a partir do qual se torna quase impossível reverter o quadro de perda

da diversidade de espécies animais e vegetais. Em Goiás, apenas seis

municípios ainda possuem mais de 80% de suas áreas preservadas. Os dados

são do Sistema Integrado de Alerta ao Desmatamento (Siad), da Secretaria

Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), que utiliza imagens

de satélite para visualizar as regiões mais devastadas.

O monitoramento permite traçar um mapa do desmatamento no estado,

delimitando os pontos onde ainda existe concentração de mata nativa. Entre os

mais preservados estão os municípios da região do Nordeste Goiano, como

Teresina de Goiás (98,4% de área de vegetação nativa remanescente),

Cavalcante (95,9%) e Colina do Sul (88,5%). Em contrapartida, as cidades de

Goianira, na Região Metropolitana de Goiânia, e Damolândia, na Região

Central, estão quase que totalmente devastadas, com zero por cento de

cobertura vegetal nativa. É ainda nesta região que se encontram 11 dos 15

municípios mais degradados.

Os dados também revelam que o processo de urbanização e ocupação

demográfica das cidades goianas se dá num processo inversamente

proporcional à preservação do meio ambiente. As cidades mais populosas do

estado - Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis - apresentam baixos índices

de cobertura vegetal nativa - 3,45%, 9,46% e 3,84%, respectivamente. É

justamente nesses locais que o processo de industrialização se encontra em

ritmo mais acelerado.

Metade dos municípios goianos está em situação crítica de degradação.

Mapa do desmatamento revela pontos onde praticamente não há mais

vegetação nativa

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Fonte: http://www.tribunadoplanalto.com.br

O que impulsionou a inserção dos cerrados nas áreas produtivas, e

conseqüentemente o desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste, foram

alguns programas específicos implementados nessa região. Dentre os

principais, pode-se destacar o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento

dos Cerrados) e o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para

Desenvolvimento dos Cerrados). O POLOCENTRO foi criado em 1975 e teve

como objetivo o desenvolvimento e a modernização das atividades

agropecuárias da região Centro-Oeste e do oeste do estado de Minas Gerais,

mediante a ocupação racional de áreas com características dos cerrados e seu

aproveitamento em escala empresarial. O programa selecionou áreas

específicas para atuação e, posteriormente, forneceu crédito altamente

subsidiado a todos os produtores que desejassem investir em exploração

agropecuária empresarial (GOBBI, 2004).

Apesar de o POLOCENTRO ter sido um programa voltado para abertura

de fronteira agrícola, as políticas favoreceram os grandes e médios produtores

em detrimento dos pequenos. Na realidade, foi um programa para o estímulo

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da média e da grande agricultura empresarial, mediante o fornecimento de

crédito subsidiado, de assistência técnica e da remoção do obstáculo ao seu

funcionamento. A pequena agricultura das áreas atingidas quase não foi

beneficiada. Os objetivos do POLOCENTRO, “enunciados nos seus

documentos básicos, foram desvirtuados pela ação de setores influentes, que

conseguiram voltar à administração do programa a seu favor” (MULLER, 1990,

p.55).

O maior impacto do POLOCENTRO na região Centro-Oeste ocorreu no

estado de Goiás, especificamente em Rio Verde, onde segundo Muller (1990),

42% da área dos cerrados foram incapacitadas ao processo produtivo, com

destaque para a soja.

Nesse contexto, o recente desenvolvimento do estado de Goiás, deve

ser compreendido dentro do próprio processo de crescimento da região Centro-

Oeste, que é um território do qual se pode afirmar que o auge da sua ocupação

econômica é bastante recente, o que significa que seus potenciais de

desenvolvimento ainda estão sendo definidos. A região Centro-Oeste vem se

consolidando nos últimos trinta anos, com uma economia baseada na pecuária

de corte e de leite extensiva, na produção intensiva de grãos, especialmente

milho e soja, e, ultimamente, na agroindústria que se utiliza dessa matéria-

prima - carne e grãos.

A produção de grãos se destaca, na microrregião do sudoeste goiano,

que desde a década de 1960 sofreu uma forte e acelerada mudança em sua

base produtiva, com o importante apoio do Estado, como provedor das políticas

públicas e dos fundos necessários para essa execução.

No entanto, essa modernização agrícola, ao mesmo tempo em que

inseriu a região Centro-Oeste na nova dinâmica econômica do trouxe drásticas

conseqüências para deterioração do meio ambiente e social.

Alguns exemplos desta realidade são: a perda da biodiversidade, a

erosão e compactação dos solos, o êxodo rural, a concentração de renda e

muitos outros problemas relacionados ao desenvolvimento urbano.

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As regiões e/ou municípios que se beneficiam são aquelas que possuem

certa infra-estrutura, e produzem matéria-prima relacionada com o que a

empresa deseja transformar, ou seja, que atendam o modelo econômico

vigente, e os municípios que realmente precisam se desenvolver se tornam

vulneráveis ao modelo capitalista.

As políticas públicas, quando executadas corretamente, são de extrema

importância para o desenvolvimento regional, uma vez que muitas regiões não

se desenvolvem por falta de infra-estrutura básica.

Para Sawyer (2002, p. 292), a construção de uma visão integrada que

estabelece sinergismos positivos entre população, meio ambiente e

desenvolvimento, evitando a degradação do ambiente e dos seres humanos,

implica, necessariamente, mudar as políticas públicas. Lista-se a seguir, alguns

processos significativos:

1.1.1 Causas da Degradação Ambiental

Industrialização e Crescimento Económico

A Industrialização e o aumento da poluição

O processo de industrialização e o consequente crescimento explosivo

da população, em resultado da redução das taxas de mortalidade, fizeram

aumentar de forma exponencial:

-A Poluição: as actividades humanas lançam para a atmosfera uma grande

diversidade de gases. Os países industrializados do Norte são os principais

produtores mundiais e também os mais poluentes.

-O consumo dos recursos do nosso planeta (água-energia-minerais): O

crescimento económico ilimitado determinou níveis de consumo de recursos

insustentáveis.

-A Produção alimentar: aumenta todos os anos para satisfazer uma população

em crescimento. A prática da agricultura intensiva e o aumento das áreas

cultivadas têm reflexos negativos no ambiente acelerando o esgotamento dos

solo e a desflorestação.

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O nível de desenvolvimento e os impactos ambientais:

O Impacto ambiental do crescimento económico reflecte-se de modo

diferente de acordo com o desenvolvimento económico dos países.

Países Industrializados: Podem atenuar os efeitos da

industrialização:

-Utilização de novas tecnologias, que têm conduzido à desaceleração do

consumo de recursos escassos e à redução dos níveis de poluição.

-Utilização, com grau crescente de importância, de novos materiais e energias

alternativas, em resultado de investimentos consideráveis e de longos períodos

de análise e pesquisa.

A aposta na investigação e utilização de novos materiais e fontes de

energia, reflecte uma nova atitude ecológica por parte dos governos nacionais

e das instituições internacionais.

Países em Desenvolvimento:

-As indústrias que mais se apoiam nos recursos naturais e que são fortemente

poluentes aumentam rapidamente nestes países.

-Deslocalização de indústrias feita pelos países industrializados;

-Necessidade de crescimento destes países.

-A degradação ambiental é mais visível e dramática.

-A redução dos efeitos secundários revela-se mais difícil nos países cujo

domínio das tecnologias ainda não foi conseguido.

Os impactos ambientais são mais violentos devido à sua incapacidade

tecnológica para fazer face à adversidade.

-A inserção dos países do Sul na lógica da DIT dificulta a sua própria

capacidade para reduzir o impacto ambiental das actividades humanas, na

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medida em que eles surgem como fornecedores de matérias-primas e mão-de-

obra.

A degradação dos termos de troca, provocando um aumento da dívida

externa, leva a tentativas desesperadas de aumentar as receitas que passam,

inevitavelmente, pela sobreexploração dos solos e pela delapidação dos

recursos do subsolo.

Embora as causas possam ser diversas e a sua origem geográfica muito

distante, as consequências da acção do homem reflectem-se em todo o

planeta, destruindo ecossistemas e pondo em causa o equilíbrio bioclimático

global.

A problemática da contabilização dos custos da poluição:

A atitude de desresponsabilização dos actos de degradação ambiental

assumida pelos governos e instituições internacionais um pouco por todo o

mundo, tem-se revelado preocupante.

A não contabilização dos custos de poluição no cálculo dos custos de

produção reflecte a irresponsabilidade de quem tem de definir as políticas

ambientais e económicas a seguir em cada país, com prejuízos para as futuras

gerações.

-O alastramento e agudização da crise ambiental constituem uma ameaça à

segurança nacional – e até à sobrevivência – mais perigosa do que podem vir a

ser nações vizinhas com arsenal bélico considerável e mau génio.

Um pouco por todo o planeta surgem focos de tensão política e social,

em resultado da degradação ambiental.

-As despesas com a defesa continuam a ocupar uma parcela significativa dos

orçamentos dos Estados, comprometendo o processo de desenvolvimento,

nomeadamente na sua vertente ecológica:

-Redução dos níveis de consumo dos recursos;

-Redução da emissão de gases e outras formas de poluição.

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Crescimento Demográfico e Urbano

Impacto ambiental do Crescimento populacional:

-O crescimento explosivo da população constitui um dos principais problemas

no início deste século.

O extraordinário crescimento demográfico, que os países em

desenvolvimento têm conhecido no último século, ultrapassa largamente a

estagnação demográfica recente dos países industrializados e tem

determinado uma taxa de crescimento populacional global muito elevada.

-O crescimento da população mundial aumentou o consumo dos recursos do

planeta, na medida em que cada pessoa necessita de satisfazer as suas

necessidades básicas.

Danos nos ecossistemas resultantes das actividades humanas:

-desflorestação;

-poluição (industrial, agrícola e doméstica);

-contaminação de águas e solos;

-esgotamento dos solos resultante de práticas agrícolas e da pressão

alimentar;

-diminuição do número de efectivos de algumas espécies e extinção de outras,

resultante da pesca e caça excessiva.

-Quanto maior o número de habitantes, maiores as exigências impostas ao

meio ambiente, não só ao nível da exploração dos seus recursos, mas também

no modo como serão absorvidos pela biosfera as grandes quantidades de

resíduos e gases poluentes.

Impacto ambiental das elevadas concentrações urbanas:

Apesar da diversidade de situações o crescimento urbano não foi

acompanhado, na maioria dos países, por um investimento do Estado na

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organização de sistemas eficazes de fornecimento de água limpa, de esgotos,

de transportes e de escolas.

Países desenvolvidos:

-A taxa de urbanização é maior.

-O crescimento urbano estagnou há já alguns anos, o que de algum modo

permituiu atenuar ou diminuir os níveis de poluição registados.

-A inovação tecnológica, a produção de legislação restritiva e os investimentos

significativos contribuíram para melhorar a qualidade do ar.

-No entanto, os padrões de vida e o domínio tecnológico elevado acabam por

implicar a utilização de quantidades de energia muitas vezes superiores às dos

PED.

-O desemprego, a deterioração das infra-estruturas, a decadência dos bairros

centrais e dos subúrbios e a própria degradação ambiental, podem conduzir à

inversão do processo de desenvolvimento, ao declínio económico e à

decadência das cidades.

-O problema do tratamento e armazenamento dos resíduos sólidos atinge uma

dimensão preocupante.

-O controlo da poluição resultante do aumento dos resíduos sólidos requer

grandes investimentos. A aplicação de novos sistemas de armazenamento e

tratamento de lixos tem sido realizada de forma muito lenta.

-Há ainda uma elevada percentagem de resíduos sólidos que são incinerados

ou lançados em lixeiras a céu aberto sem qualquer tratamento.

-A compostagem ou os aterros sanitários, como formas de armazenamento dos

lixos, e a reciclagem de materiais, como processo de tratamento e

reaproveitamento do lixo, representam valores relativamente baixos apesar da

evolução considerável nos últimos anos.

Países em Desenvolvimento:

-Verifica-se um forte êxodo rural devido à procura de melhores condições de

vida e bem-estar.

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-A progressão das taxas de urbanização é mais elevada nestes países, pelo

que os efeitos ambientais são mais gravosos, particularmente em relação ao

saneamento e à poluição atmosférica.

-O problema da poluição do ar e da água, os ruídos e a poluição por resíduos

sólidos assumem assim nestes países maior gravidade.

-A expansão descontrolada das cidades, a insuficiência das infra-estruturas

essenciais e o seu estado avançado de degradação dão origem à proliferação

de doenças.

-A deterioração das canalizações e da rede de esgotos contamina a água

potável.

-As indústrias lançam os seus resíduos para os rios sem qualquer tratamento,

em redor dos quais se amontoa uma parte considerável da população, que vive

assim numa grande promiscuidade, em terrenos que ninguém quer.

-Os lixos acumulam-se nas ruas ou em lixeiras a céu aberto sem preocupações

especiais com a impermeabilização dos solos. A recolha e tratamento dos

resíduos sólidos é

-O crescimento urbano tem vindo a fazer-se em terrenos de boa aptidão

agrícola.

-Inexistência de uma estratégia explícita que possa controlar o crescimento das

megacidades, a degradação urbana e o aumento da poluição.

1.1.2 A Abrangência dos Problemas Ambientais

Por vezes com origens ou causas bem definidas/localizadas, a

degradação ambiental multiplica-se a um ritmo mais acelerado; as suas

consequências são imprevisíveis mas estão em marcha e não deixarão de

afectar todos os países sem excepção.

Com as catástrofes locais de amplas consequências percebemos que os

problemas ambientais ignoram as fronteiras nacionais afectando vastas regiões

do planeta.

Quase todos os países industrializados se debatem com um conjunto

de fenómenos de degradação ambiental resultantes do aumento da poluição:

-contaminação das águas e inquinação de toalhas freáticas;

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-saturação dos solos por excesso de utilização de fertilizantes e pesticidas;

-urbanização intensa de regiões ecologicamente frágeis como as zonas

costeiras;

-chuvas ácidas resultantes das emissões de CO₂, metano ou ácido sulfúrico

para a atmosfera;

-produção de resíduos nocivos e o seu lançamento no solo, no ar e na água.

Nos países em desenvolvimento a degradação do ambiente

generaliza-se atingindo dimensões consideráveis tais como:

-desertificação

-desflorestação

-erosão e salinização dos solos

-inundações

-urbanização selvagem das áreas periféricas das megacidades envolvidas por

uma atmosfera irrespirável constituída por dióxido de enxofre, CO e NO₂

(causadores de doenças respiratórias, cardíacas, cerebrais e depressivas).

A consciencialização da globalização dos fenómenos é fundamental.

O perigo da ruptura definitiva dos equilíbrios bioclimáticos é real.

Grau de interdependência entre os fenómenos locais e globais:

-Os problemas ambientais ignoram as fronteiras nacionais.

-Os problemas ambientais globais resultam do somatório de desiquilíbrios

ecológicos à escala global.

-A dinâmica de funcionamento do planeta Terra distancia espacialmente a

origem, da zona ou região onde se repercutem com maior intensidade os

fenómenos de degradação ambiental.

Os problemas globais que perturbam o planeta mostram-nos a

precaridade desses equilíbrios, pela complexidade e generalização dos

fenómenos que hoje afectam a «nossa casa», tais como:

-intensificação do efeito de estufa devido ao aumento das emissões de CO₂;

-contaminação da cadeia alimentar e redução da diversidade de espécies;

-redução da espessura da camada de ozono, nomeadamente sobre a

Antárctida.

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1.2 O OS BRASILEIROS PENSAM DO MEIO AMBIENTE, DO DESENVOLVIMENTO E DA SUSTENTABILIDADE.

1.2.1 O desenvolvimento sustentável

Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades

do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações

futuras atenderem as suas próprias necessidades. Ele contém dois

conceitos-chaves: conceito de necessidades... sobretudo as

necessidades dos pobres do mundo, que devem receber a máxima

prioridade; noção das limitações que o estágio da tecnologia e da

organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender

às necessidades presentes e futuras.. (. Nosso Futuro Comum. - Rio

de Janeiro - FGV 91 - Comissão Mundial sobre meio ambiente e

desenvolvimento)

O processo de caminhar para um desenvolvimento sustentável

subentende que é preciso minimizar os impactos adversos sobre a qualidade

do ar, da água e de outros elementos naturais, a fim de manter a integridade

global do ecossistema.

O desenvolvimento sustentável também requer a promoção de valores

que mantenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades

ecológicas a que todos podem aspirar. 18

Este tipo de desenvolvimento é mais do que crescimento. Ele exige uma

mudança no teor qualitativo do crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo

de matérias-primas e de energia, e mais eqüitativo em seu impacto.

As representações sobre o meio ambiente são múltiplas. O que

aceitarmos como verdadeiro e adequado às circunstâncias locais, determinará

nossas ações no campo das relações que se estabelecem entre o ser humano

e a natureza, mediatizada pelos complexos sistemas sociais. A natureza nunca

pode ser separada de alguém que a percebe, ela nunca pode existir

efetivamente em si porque suas articulações são as mesmas de nossa

existência e porque ela se estabelece no fim de um olhar ou ao término de uma

exploração sensorial que a investe de humanidade. Nesta medida, toda

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percepção é uma comunicação ou uma comunhão, a retomada ou o fim para

nós de uma intenção estranha ou, inversamente, a realização fora de nossas

forças perceptivas e como que um acasalamento de nosso corpo com as

coisas (Merleau-Ponty, 1971).

Todavia, reconhecemos que cada pessoa ou grupo social pode ter a sua

própria representação, ou a sua própria trajetória. O que é inadmissível é que

as pessoas livrem-se do poder da criticidade e reproduza discursos e práticas

orientadas para uma desmobilização da EA, ora como gestão ambiental, ora

como somente uma prática educativa qualquer.

Silva (2006) define Desenvolvimento Sustentável como

“o processo político, participativo que

integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial, social e

cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o alcance

e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de

disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo

como perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e

as gerações” (132).

1.2.2 IDEC entrevista a secretária executiva do ISER- Samyra

Crespo( O que os brasileiros pensam do meio ambiente e do

desenvolvimento sustentável)

Uma das principais pesquisas do Instituto de Estudos da Religião (Iser),

"O que os brasileiros pensam do meio ambiente e do desenvolvimento

sustentável?", feita em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), já

revelou muitas mudanças no país. Se, em 1992, 46% das pessoas não citariam

um problema ambiental de sua cidade ou bairro, em 2005 esse índice se

reduziu a 11%. O Idec, inclusive, já foi citado entre as principais organizações

que defendem o meio ambiente. Criado em 1970, o Iser é uma das ONGs mais

antigas e atuantes do Brasil. Na direção da organização atualmente, a cientista

social Samyra Crespo foi quem concebeu o programa de meio ambiente do

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Iser, há 14 anos. Em meados de setembro, ela concedeu esta entrevista à

Revista do Idec, por e-mail

Idec: A Amazônia continua sendo o centro das atenções, seja da população,

do governo, da mídia ou de entidades ambientalistas. Por que outros biomas

também importantíssimos, como o Cerrado ou os manguezais, são

praticamente esquecidos?

Samyra Crespo: A atenção dada aos biomas ameaçados é pautada pela mídia

nacional e pela internacional. Desde os anos 80, com Chico Mendes, a

Amazônia virou hotspot [ou área prioritária] de conservação e nunca mais

deixou de ser. Ao contrário, sua importância aumenta para o Brasil e para o

mundo, pois é a última grande floresta tropical, com uma das bacias de água

doce mais expressiva em termos de extensão e volume. Além disso, a

Amazônia está no imaginário dos brasileiros desde os anos 70, com a política

de desbravamento e ocupação dos militares. Toda a nossa concepção de selva

e natureza está ligada à Amazônia. Com relação à Mata Atlântica, nossa

relação com ela foi utilitária. Até há pouco tempo, aterrar manguezais era

comum. Parte da cidade do Rio de Janeiro é território conquistado ao mar. A

alfabetização ecológica de nossa população é recente, e a concepção de que

cada ecossistema tem sua função e sua vulnerabilidade não está na

consciência do cidadão comum. Quando olho a agenda ambiental de hoje, sou

da opinião de que somos poucas organizações para dar conta de um país tão

grande e diverso como o nosso. Quanto ao Estado, ele só se move quando

pressionado. Ainda é assim, apesar de já haver muitas lideranças

ambientalistas em governos.

Idec: Você acha que a pesquisa do Iser "O que os brasileiros pensam do meio

ambiente e do desenvolvimento sustentável?", em alguma medida, pauta ações

de governos?

SC: Sem dúvida. A idéia inicial da série era justamente realizar uma pesquisa

que pudesse ser reconhecida como séria e útil tanto pelo governo quanto pela

sociedade civil. Ela é mencionada na maioria dos documentos do governo

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[federal]. Também tem servido de modelo para muitas outras pesquisas.

Idec: Como os resultados da pesquisa evoluíram no decorrer de suas quatro

edições?

SC: O resultado mais expressivo que a pesquisa mostra é o seguinte: em

1992, 46% da população não conseguiam, espontaneamente, citar nenhum

problema ambiental na sua cidade ou no seu bairro. Na segunda edição, em

1997, esse percentual caiu para 36%. Em 2001, diminuiu para 27%, e em

2005, para 11%. Quando olho esse gráfico, meu coração acelera. É

impressionante.

Idec: A pesquisa revela que houve avanços. Mais brasileiros também

conhecem termos como biodiversidade ou transgênico, e mais pessoas

consideram que a destruição das florestas ou a poluição dos rios são um

grande problema. Por outro lado, o levantamento verifica que, embora aumente

a consciência ambiental, as pessoas não mudam os hábitos. A teoria ainda

está longe da prática?

SC: A teoria, na prática, é outra, diz um ditado maroto. Mas isso não diz

respeito somente ao meio ambiente. Há estudos mostrando que a informação

não é suficiente para mudar hábitos arraigados. Veja, por exemplo, o que

acontece com o tabagismo e o controle de doenças mortais como o HIV.

Depois de um período intenso de campanhas públicas mostrando o perigo do

tabagismo e do sexo inseguro, a taxa de fumantes, sobretudo entre jovens,

volta a crescer. E a taxa de Aids também, sobretudo fora dos chamados grupos

de risco. Com relação ao meio ambiente se dá coisa parecida. As pessoas se

assustam com o desmatamento da Amazônia, mas quem foi à Amazônia? É

longe e é caro ir lá. Ela é desconhecida, está longe dos nossos olhos. E se a

madeira que consumimos vem de lá, como saber? O lixo também é um bom

exemplo. As pessoas já sabem que dá para reciclar boa parte, que existe uma

economia do lixo etc. Mas as nossas cidades são sujas, as pessoas jogam lixo

nas ruas e geram uma quantidade de lixo absurda. Porém, não podemos

desconsiderar o fato positivo de que o aumento progressivo e expressivo da

consciência dos brasileiros, em relação à necessidade de adotar padrões mais

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responsáveis com o uso dos recursos naturais, terá conseqüências virtuosas.

A médio e longo prazo, em comportamentos e hábitos de consumo. Uma mídia

global e a importância do tema, que agora está "bombando" com o

aquecimento global, vão ajudar a acelerar essa consciência.

Idec: Entre as ações pessoais citadas por uma parcela dos entrevistados,

estão à separação do lixo para reciclagem e a redução do consumo de água.

Você sabe dizer quanto da população brasileira efetivamente adota esse tipo

de prática?

SC: Não, pois a pesquisa não mede quanto da população efetivamente faz o

que considera ético ou simpático. O que a pesquisa quer mostrar é o enorme

potencial de adesão que as campanhas contra o desperdício teriam se levadas

a cabo por governos e organizações. O potencial de adesão varia de 60 a 70%,

o que é bastante alto para estes itens citados: água e energia.

Idec: De qualquer maneira, a adoção de práticas ecologicamente corretas não

depende só do consumidor. Ele precisará dispor de um destino para o lixo

reciclável, por exemplo. Ou ter acesso a produtos fabricados de maneira

sustentável. Assim, em que medida é realmente possível consumir

sustentavelmente no Brasil?

SC: Um consumo 100% sustentável não existe em nenhum lugar do mundo,

nem em comunidades isoladas. A sustentabilidade é um conceito complexo e

deve ser buscada na cadeia produtiva. Dificilmente um serviço ou um produto é

inteiramente sustentável. Até porque ainda estamos na era dos combustíveis

fósseis, não é? Mas o consumo consciente, que é praticado ainda por uma

pequena parcela da população - urbana em sua maioria, e bem posicionada

economicamente -, é crescente. E já viabiliza uma série de negócios,

estruturando mercados que não existiam no Brasil há 15 anos, como o de

alimentos orgânicos, ervas medicinais, equipamentos ecoeficientes, biodiesel

etc.

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Idec: É certo que o poder público e as empresas, por sua vez, já sabem que

precisam mudar algumas práticas. No entanto, às vezes é difícil para o cidadão

diferenciar entre o discurso e a realidade. Isto é, vê-se muita propaganda

carregada na maquiagem. Você acha que, ainda assim, esses agentes estão

avançando no sentido de uma atuação ambientalmente mais sustentável?

SC: As empresas estão fazendo uma revolução em suas práticas. De novo, é

uma pequena elite de grandes empresas globalizadas, antenadas com as

novas tendências do mercado e que pensam em longo prazo. A maquiagem

verde ou marketing ecológico existe, sim, e se caracteriza quando uma

empresa faz menos do que diz, ou nem faz. Há também propagandas

enganosas. Cito a que vi na televisão outro dia, dos postos Ipiranga, em que

induzem o consumidor a acreditar que, ao consumir gasolina em um posto da

rede, ele entrará em um programa de "carbono zero". O narrador da

propaganda fala que, para cada compra de gasolina, uma árvore será plantada.

Todos sabem que não neutralizaremos as emissões assim (veja matéria

“Neutra em culpa”).

Idec: Você conhece mudanças de hábitos ligados ao meio ambiente devida a

alguma pressão financeira?

SC: No caso do consumidor individual, vejo as pessoas migrando para os

aparelhos que economizam energia. Já as empresas só passaram a responder

à legislação ambiental com seriedade quando passaram a pagar pesadas

multas e indenizações.

Idec: Você já trabalhou na implementação da Agenda 21 em prefeituras e no

governo federal. Qual é a situação do documento, que propõe ações para o

estabelecimento de um padrão de desenvolvimento sustentável, hoje em dia?

SC: A Agenda 21 é uma das minhas grandes paixões. Vejo, na sua

metodologia e nos arranjos institucionais que ela sugere, muitas virtudes. Ela

foi um roteiro excelente para ser adotado por países, cidades e organizações

que buscam a sustentabilidade. Mas acredito que em 1992, quando foi

elaborada, o contexto não favoreceu. Trazia uma visão em longo prazo para

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uma sociedade que não estava madura para tal. Por incrível que pareça, hoje,

15 anos após a Rio-92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente], é que a Agenda 21 começa a ganhar a importância que merece. A

dificuldade é que ela carrega a idéia da democracia participativa, e isso

definitivamente não é simpático para muita gente, especialmente para o tipo de

poder tradicional, pouco transparente, que vigora na maioria dos municípios

brasileiros. Na maioria das cidades onde eu pude acompanhar processos de

elaboração da Agenda 21 local, o que ocorreu foi um esforço de elefante para

parir ratos. Com relação à Agenda 21 brasileira, acho que está na hora de se

fazer uma revisão. Entre os acertos e defeitos, foi elaborada uma agenda, mas

não um sistema de monitoramento. Temos aí oportunidades, não considero

correto jogar a criança junto com a água do banho. A Agenda 21 encerra

processos interessantíssimos de formação de lideranças locais, de

envolvimento da população nos problemas e soluções de suas cidades ou

comunidades, e merece ser mais bem avaliada. Tenho conversado com os

técnicos do MMA sobre a necessidade de se eleger indicadores para avaliar

quanto têm sido efetivas as ações que são realizadas com o nome de Agenda

21.

Idec: Considerando os problemas ambientais, o que é preciso solucionar mais

urgentemente nas cidades?

SC: Disposição de lixo, pois a maioria das cidades não tem mais espaços para

aterros sanitários. Saneamento básico, o que inclui fornecimento de água de

boa qualidade e esgotamento sanitário. Com o aquecimento global em nossos

calcanhares, destaco também a necessidade de se controlar as emissões,

taxando a frota de veículos particulares de um lado, pressionando as

montadoras de outro, e o governo de outro, para que programas como o

Proconve [Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores]

cumpram suas metas.

Idec: E no meio rural?

SC: Controlar os agro químicos e a conversão de mata nativa em lavoura. O

terceiro problema é a erosão dos solos.

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Idec: O Iser existe há 37 anos e deve ter uma boa noção da atuação das

ONGs no Brasil. Como elas vêm evoluindo?

SC: Eu acho, pela minha atuação em ONGs há mais de 20 anos, que estamos

vivendo uma crise de identidade e uma crise de modelo. A crise de identidade

é vivida por uma tipologia cada vez mais variada de organizações que surgem

para prestar serviços sociais, sem ter necessariamente uma história política

que lastreie suas ações. E a crise do modelo é vivida pela necessidade cada

vez maior de atuarmos em escala, o que é difícil com organizações pequenas

com eterna dificuldade de se financiarem em longo prazo. O marco regulatório

brasileiro não ajuda na transferência de recursos para as organizações sociais.

Em nome da necessidade de se combater a corrupção e o desvio de dinheiro

público, estão sendo criados um cipoal jurídico e uma série de

constrangimentos às ONGs. Acho que estamos muito passivos diante de

problemas que só têm feito piorar. Enfim, este é um tema que mobiliza e

preocupa.

Idec: Os graves problemas sociais do Brasil influenciam muito o perfil das

organizações não-governamentais?

SC: É claro. As organizações sociais surgem como respostas à necessidade

de organizar demandas, advogarem direitos ou prestar serviços onde o Estado

está ausente ou é insuficiente. Eu diria que houve três grandes ondas na

criação de ONGs. Uma primeira surgiu para promover a democratização e lutar

contra o Estado autoritário (anos 60 e 70). Uma segunda onda surgiu para

organizar demandas da sociedade urbana complexa, como o acesso a serviços

básicos e o direito das minorias (anos 80 e 90). E uma terceira surgiu a partir

de 2000, com foco especial no combate à pobreza e na inclusão social. O

boom das organizações ambientalistas só ocorreu após a Rio-92. A

globalização e a conexão em tempo real pela internet também modificaram

bastante o perfil de atuação das ONGs.

Idec: Em sua opinião, uma ONG pode ter ligações com empresas? Isso não

pode acabar por desvirtuá-la de sua função?

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SC: Depende da ligação. Acho a parceria entre ONGs e empresas bastante

saudável para ambas, e totalmente virtuosa para a sociedade, que precisa

tanto da expertise das ONGs quanto do recurso das empresas. Além do mais,

em parcerias sérias, ONGs e empresas aprendem umas com as outras. A

cooptação não precisa necessariamente acontecer em uma parceria ONG -

empresa ou ONG - poder público. Mas se isso ocorre é por falta de caráter e de

ética, não porque a parceria em si seja questionável. A desconfiança que

imperava entre empresas e ONGs tem erodido e dado origem a experiências

muito interessantes. O Iser mesmo tem explorado essa possibilidade há cinco

anos, no campo da responsabilidade social e ambiental. Para nós, tem sido

uma experiência positiva.

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CAPÍTULO II

ONDE EXISTE CERRADO NO BRASIL; TIPOS DE

CERRADO; PRINCIPAIS RESERVAS, O CERRADO

GOIANO E SEUS FRUTOS.

ONDE EXISTE CERRADO NO BRASIL

É caracterizado pela formação vegetal típica do Brasil Central. Impressiona

pelas árvores e arbustos retorcidos, caules recobertos de espessas cascas e

folhas grossas, brilhantes ou revestidas por um denso conjunto de pêlos. A

aparência do Cerrado não decorre da falta de água, mas sim dos solos

profundos de baixa fertilidade e alta permeabilidade, aliados à topografia plana

e períodos secos e chuvosos bem definidos.

O Cerrado ocupa originariamente cerca de um quarto do território

brasileiro e é um dos mais ricos ecossistemas do planeta. Situa-se no Planalto

Central Brasileiro, estendendo-se pelos estados de Goiás, Tocantins, Distrito

Federal e parte dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas

Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Pará, Rondônia, Amapá e São Paulo.

Segundo o ecólogo Leopoldo Magno Coutinho, "estima-se que a área "core" ou

nuclear do Domínio do Cerrado tenha aproximadamente 1,5 milhão de km². Se

adicionarmos as áreas periféricas, que se acham encravadas em outros

domínios vizinhos e nas faixas de transição, este valor poderá chegar a 1,8 ou

2,0 milhões de km²". Porém, por ser desconhecido foi alvo de exploração

indiscriminada, dando lugar a monoculturas como soja, cana-de-açúcar e

pastagem. Menos de 3% do Cerrado está protegido por Unidades de

Conservação, o que torna vulnerável a parte desprotegida.

O desmatamento do Cerrado goiano vem ocorrendo devido à ação de

um conjunto de variáveis indutoras, tais como fatores naturais, principalmente

relacionadas ao tipo de relevo, e fatores que beneficiam a implantação de

atividades econômicas, tais como disponibilidade de infra-estrutura para

deslocamento de mercadorias e insumos, necessários para a prática de

agricultura e pecuária, somados à proximidade de centros consumidores

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economicamente desenvolvidos e com grande quantidade de população. Essas

variáveis acabam por induzir ao desmatamento, pois, de um lado, aumentam o

interesse na construção do espaço de produção econômica e, por outro lado,

esta construção faz com que o espaço (antes ocupado pelo cerrado nativo)

passe a ter maior valor de mercado (Miziara & Ferreira, 2006).

TIPOS DE CERRADO

Fisionomia do Cerrado - A maior ou menor densidade de árvores e

arbustos diferencia os tipos de cerrado:

• Campo cerrado - caracteriza-se por vegetação

predominante rasteira com ocorrência de árvores e arbustos bastante

espaçados entre si.

• Cerrado - Apresenta vegetação retorcida de até 05 metros,

revestida de casca espessa, galhos baixos, e copas assimétricas.

• Cerradão - É uma formação florestal constituída por três

estratos distintos: Superior, com árvores esparsas que podem atingir de

06 a 12 metros, predominando as de madeira dura; intermediário com

árvores e arbustos retorcidos; e inferior constituído por vegetação

rasteira.

• Campo sujo - possui cerca de 15% de árvores e arbustos,

os quais concentram-se geralmente em "ilhas" de vegetação chamados

de campos de murundus.

• Campo limpo - com vegetação de gramíneas.

PRINCIPAIS RESERVAS (GOIÁS)

Reserva Biológica Lagoa Grande criada em 1976 no município de São Miguel

do Araguaia.

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Reserva Florestal Nacional de Serra Dourada, ocupa 144 ha. de área dos

municípios de Goiás e Mossâmedes.

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961 com 65.515 ha

nos municípios de Alto Paraíso e Cavalcante.

Parque Estadual de Terra Ronca, criado em 1989 com 14.493 ha. no município

de São Domingos.

Parque Estadual dos Pirineus, criado em 1987 no município de Pirinópolis.

Parque Nacional das Emas, criado em 1961 com 131.868 ha. nos municípios

de Aporé e Mineiros.

Reserva Biológica Estadual de Parúna, criada em 1979 com 2.812 ha. no

município de Paraúna.

Parque Estadual da Serra de Caldas, criado em 1970 com 12.315 ha. no

município de Caldas Novas.

O Cerrado Goiano

O Sistema Biogeográfico dos Cerrados abrange área de uma grandeza

espacial, que recobre quase dois milhões de quilômetros quadrados. A área

contínua dos cerrados inclui praticamente a totalidade dos Estados de Goiás e

Tocantins, oeste de Minas Gerais e Bahia, leste e sul de Mato Grosso, quase a

totalidade do Estado do Mato Grosso do Sul, sul dos estados do Maranhão e

Piauí.

O que se procura definir com o termo cerrado não é apenas um tipo

vegetação, mas um conjunto de tipos fisionomicamente distribuídos dentro de

um gradiente que temos como limites, de um lado o campo limpo e de outro

lado o cerradão. Nesse contexto, podem ser agregadas as linhas de matas e

matas galerias, integrantes decisivas desse ecossistema.

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Ao estudar a ecologia dos cerrados que uma das características mais

marcantes de sua biocenose é a dependência de alguns de seus componentes

dos ecossistemas vizinhos. Muitos animais têm seu nicho distribuído entre o

subsistema do cerrado propriamente dito e das matas podem, por exemplo,

passar grande parte do dia no cerrado e abrigar-se à noite nas matas, ou vice-

versa.

Não se pode levar adiante qualquer estudo sobre os cerrados, se não se

tomar em consideração o fogo, elemento intimamente associado a esta

paisagem. Apesar de sua importância para o entendimento da ecologia desse

ambiente enquanto conjunto biogeográfico, a ação do fogo nos cerrados é

ainda mal conhecida e geralmente marcada por questões mais ideológicas do

que científicas.

O estudo do fogo como agente, será mais completo se também se

observar a comunidade faunística e os hábitos que certos animais

desenvolveram e que estão intimamente associados à sua ação, cuja

assimilação, sem dúvida, necessita de arranjos evolutivos caracterizados por

tempo relativamente longo. De algumas observações constata-se, por exemplo,

que a perdiz só faz seu ninho em macegas, tufos de gramíneas queimadas no

ano anterior. Da visita a várias áreas do cerrado imediatamente após grande

queimada, tem-se constatado que apesar das características das árvores e

arbustos enegrecidos superficialmente, estes continuam com vida, ostentando

ainda entre a casca energecida e o tronco, intensa microfauna. Fenômeno

semelhante acontece com o estrato gramíneo: poucos dias após a queimada,

mostra sinais de rebrota, que constitui elemento fundamental para

concentração de certas espécies animais. O fogo, portanto, é um elemento

extremamente comum no cerrado, e de tal forma antigo, que a maioria das

plantas parece estar adaptada a ele.

A diversificação em variados ambientes é que atribui ao Sistema dos

Cerrados o caráter fundamental da biodiversidade. Compreender a distribuição

dos elementos da flora e fauna pelos diversos subsistemas e seu ciclo anual é

muito importante para uma visão de globalidade.

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No que se refere à frutífera, o Sistema dos Cerrados se apresenta como

um dos mais ricos, oferecendo uma grande quantidade de frutos comestíveis,

alguns de excelente qualidade, cujo aproveitamento por populações humanas,

se dá desde os primórdios da ocupação e, em épocas atuais são aproveitados

de forma artesanal. Associados aos frutos, outros recursos vegetais de caráter

medicinal, madeireiro, venífero, etc., podem ser listados em grande quantidade.

Alguns desses recursos, frutíferos ou não, constituem potenciais fontes de

exploração econômica de certa grandeza, cuja pesquisa e o desenvolvimento

de tecnologias podem viabilizar seu aproveitamento em curto prazo.

O sistema dos Cerrados também apresenta uma fauna variada

representada essencialmente por animais de médio e pequeno porte. A

distribuição dos recursos vegetais, principalmente os frutos, tem sua maior

concentração nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Época que

coincide com auge da estação chuvosa. Essa concentração diminui

proporcionalmente à medida que se distância da época chuvosa. Todavia, com

exceção de maio, os meses que correspondem à época seca, mesmo em

quantidade menor, apresentam certa quantidade de recursos.

Embora possam ser visíveis durante todo ano, os mamíferos

campestres estão mais concentrados nos meses de setembro à janeiro. Esta

época coincide com as floradas e rebrota dos pastos afetados por queimadas,

naturais ou antrópicas do ano anterior, coincide também, principalmente, a

partir de novembro com a época de maturação dos frutos. As espécies,

insetívoras também encontram, nesta época, farto recurso, proporcionado pela

revoada e multiplicação de certas espécies de insetos.

Os Carnívoros também estão mais concentrados em setembro, outubro,

novembro, dezembro e janeiro, acompanhado a concentração dos mamíferos

campestres. Os mamíferos habitantes do bioma ribeirinho, podem ser mais

visíveis e concentrados nos meses secos, principalmente junho, julho, agosto e

setembro. A maior parte das aves do Sistema dos Cerrados põe seus ovos

durante a estação seca mais especificamente em junho, julho e agosto. As

aves campestres estão mais concentradas no início da estação chuvosa.

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Frutos do cerrado

Pequi - Caryocar brasiliense Camb.

Nomes populares: pequi, piqui, grão-de-cavalo, amêndoa-de-espinho, piquiá-bravo, pequiá, pequiá-pedra, pequerim, suari e piquiá. Nome científico: Caryocar brasiliense Camb.

O pequizeiro é uma planta típica do Cerrado, que consiste num bioma

de grande variedade de sistemas ecológicos, tipos de solo, clima, relevo e

altitude, e com uma vegetação caracterizada por coberturas rasteiras, arbustos,

árvores esparsas e tortuosas, de casca grossa, folhas largas e raízes

profundas, formando desde paisagens campestres a florestas.Com uma vida

útil estimada de aproximadamente 50 anos, o pequizeiro atinge até 10 m de

altura. Sua fase reprodutiva inicia-se a partir do oitavo ano, com floração

ocorrendo normalmente entre os meses de setembro a novembro.

A frutificação acontece de outubro a fevereiro, produzindo frutos por 20 a

40 dias em média, com produção variável podendo chegar a 1000 frutos por

pé.

O fruto do pequizeiro apresenta gosto inconfundível tendo seu nome

ligado às suas características botânicas, e etimologicamente ligado à língua

tupi: py = casca e qui = espinho (Simões, 2005).

Contém normalmente entre 1 a 4 caroços, cientificamente chamados de

putâmens. No Norte de Minas Gerais já foram encontrados frutos contendo até

7 caroços.

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O caroço é composto por um endocarpo lenhoso com inúmeros

espinhos, contendo internamente a semente, ou castanha, e envolta por uma

polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo.

Características Físicas do Pequi Parâmetros média

Peso por fruto (g) 76,41 Peso de caroço por fruto (g) 30,75 Peso de polpa por fruto (g) 7,41 Peso das sementes por fruto (g) 22,87 Diâmetro longitudinal (mm) 32,17 Diâmetro equatorial (mm) 41,16 Rendimento de polpa (%) 8,98 Rendimento de caroço (%) 28,81 Rendimento em casca (%) 61,66

Características Químicas da polpa do Pequi

Parâmetros Quantidade por porção de 100 g de polpa

Umidade (%) 50,61 Proteínas (%) 4,97 Gordura (%) 21,76 Cinza (%) 1,1 Fibra (%) 12,61 Carboidratos (%) 8,95 Calorias Kcal/100g 251,47 Cálcio (mg/100g) 0,1 Fósforo (mg/100g) 0,1 Sódio (mg/100g) 9,17 Vitamina C (mg/100g) 103,15

Fonte: Relatório Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, 2003.

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Uma das maiores virtudes do Cerrado brasileiro é a diversidade

biológica deste bioma, representado por uma série de espécies vegetais que

produzem frutos utilizados na alimentação humana, podendo-se destacar o

pequi. Espécies medicinais e outras plantas úteis vêm sendo largamente

utilizadas no cotidiano da população local, constituindo uma reserva

farmacológica, nutricional e utilitária de riqueza inigualável para os povos das

regiões ocupadas pelo Cerrado (Simões, 2005).

Assim como numerosos e exuberantes estames em sua flor, múltiplas

são as formas de uso e significado do pequi para esses povos.

Elemento de base de a cultura alimentar de várias regiões brasileiras, o

fruto do pequi, compõe receitas tradicionais, como o Arroz com Pequi,

Galinhada, alguns doces, licores, sorvetes, caracterizando fortemente, junto a

outras especiarias, o bouquet de sabores das culinárias regionais aonde ele se

encontra.

Popularmente, seu uso fototerápico é apontado em diversos

tratamentos, pelo uso do seu óleo, flores e folhas.

Baru - Dpyteryx alata Vog.

Nomes populares: Castanha de baru, cumbaru, cumaru, castanha de burro, viagra do cerrado, coco barata, coco feijão. Nome científico: Dipteryx alata Vog

Ocorrência

Ocorre nas matas e cerrados do Brasil Central,

envolvendo terras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais,

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e

Distrito Federal.

Aspectos botânicos e ecológicos

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Leguminosa arbórea da família Fabaceae.

Árvore de grande porte chegando a medir 25 metros de altura, podendo

atingir 70 cm de diâmetro com vida útil em torno de 60 anos.

O baru está ameaçado de extinção em função da procura pela madeira e

pelo nível de desmatamento do Cerrado.

Ocorre corte indiscriminado do baru para fabricação de carvão vegetal,

instalação de cercas (moirões), indústria moveleira, construção civil, entre

outros usos.

O baru é encontrado em terras férteis e seus ecossistemas de

ocorrência têm sido massivamente desmatado em função do avanço da

fronteira agropecuária sobre o Cerrado.

Crescimento rápido sendo importante para fixação de carbono da

atmosfera.

Ingá (Ingá edulis)

Muito comum nas margens de rios e lagos, é muito procurada pela fauna e pelo

homem por suas sementes com arilo branco e adocicado. Existem várias

espécies, que se diferenciam pelo tamanho do fruto. Costuma apresentar

floração mais de uma vez por ano, porém a mais forte é entre Setembro e

Outubro.

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Pitanga do mato

Árvore frutífera nativa de médio porte, encontrada na região com pouca

freqüência. Da família das Myrtaceae, é chamada popularmente de Pitanga do

mato. Suas principais características são o tronco com cascas finas se soltando

como papel, folhas levemente pubescentes, fruto pequeno, parecido com uma

pitanga menor e mais comprida. Quando maduro fica de cor preta. Comestível

e muito procurado pela fauna, tem um sabor acido levemente adstringente não

muito agradável. Possivelmente seria a Myrcia crocea.

Gabiroba

A gabirobeira pertence à família Myrtaceae, a mesma da goiabeira, e ao

gênero Campomanesia, que apresenta 25 espécies distribuídas do México à

Argentina sendo 15 delas nativas do Brasil. A espécie C. xanthocarpa

subdivide-se atualmente em duas variedades: xanthocarpa e littoralis. O nome

Campomanesia é uma homenagem ao naturalista espanhol Rodrigues de

Campomanes e xanthocarpa é uma palavra grega que significa fruto (carpos)

amarelo (xanthos). O nome gabiroba tem suas raízes na língua tupi-guarani e

significa casca amarga. Dentre os seus nomes vulgares, destacam-se

guavirova, guabiroba-miúda e guabirobeira-do-mato.

Marmelada bola (Alibertia edulis) Família Rubiaceae

Árvore de baixo a médio porte. Seus frutos se assemelham ao marmelo,

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ficando roxos quando maduros. São comestíveis e atraem a fauna. Também

conhecida como Marmelada de cachorro.

Araçá

Nome popular: Araçá; araçazeiro; araçá-verdadeiro.

Nome científico: Psidium araçá Raddi

Família botânica: Myrtaceae

Origem: Brasil (Amazônia), Guianas até São Paulo.

Características da planta: Árvores que podem variar de 70 cm a 10 m de

altura, de casca lisa escamosa e copa esparsa. Folhas geralmente

avermelhada quando jovens. Flores são branco-esverdeadas.

Fruto: Arredondado, de coloração verde, amarela ou vermelha de acordo

com a espécie. Polpa branco-amareladas ou avermelhadas, mucilaginosa,

aromática, contendo muitas sementes.

Cultivo: Encontrado no Brasil em estado silvestre. Prefere solos secos e

não é exigente quanto ao clima, resistindo a geadas.

Propaga-se Dor sementes e enxertia. Frutifica de janeiro a maio.

Cagaita

Eugenia dysenterica

Já o nome cagaita refere-se ao sintoma provocado

pelo consumo excessivo dessa pequena fruta amarelada

e arredondada. Exposta ao sol, ela sofre fermentação,

que pode estimular excessivamente a função intestinal e

causar uma sensação parecida à embriaguez. Por isso, é

recomendada moderação ao saboreá-la. É uma fruta de

sabor agradavelmente ácido e refrescante devido a seu

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teor de aproximadamente 90% de suco. Para suprir o desconforto do consumo

in natura, ela pode ser preparada como doce, suco, geléia, sorvete e licor.

Do topo de altas árvores são retiradas pencas de

buriti, um coquinho de cor marrom com escamas dura e

que, ao amadurecer, escurecem. Para retirar a polpa é

necessário amolecer as escamas imergindo em água ou

abafando em sacos plásticos. Ela representa em torno de

30% do peso do fruto seco e contém 23% de óleo. Possui,

ainda, grandes quantidades de ácidos graxos instaurados e é rica em pró-

vitamina A. A polpa amarelo-ouro pode ser consumida in natura ou usada na

preparação de óleo, compotas, sorvetes e, especialmente, na forma de doce,

bem conhecido na região.

O jatobá é uma fruta de rígida casca marrom, tendo em seu interior uma

polpa branca amarelada e farinácea

envolvendo poucas sementes. Para obtê-la,

é necessário utilizar um martelo ou pedra

para quebrar o fruto. Raspando a semente, é

obtida uma farinha granulada adocicada e de

sabor característico e forte, que, após ser

peneirada, pode ser usada na preparação de

pães, bolos, biscoitos, geléias e licores.

Foram também os índios que

identificaram e deram nome à mangaba,

cujo significado é “coisa boa de comer”.

Trata-se de uma fruta de cor amarelo-

avermelhado, delicada e viscosa. Sua

polpa branca e fibrosa recobre as

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sementes arredondadas. Deve ser consumida somente após cair das árvores

(mesmo que na árvore pareça madura), sob o risco de causar problemas de

saúde. O fruto apresenta cheiro apreciável e um sabor exótico. Tem boa

aceitação mercadológica para consumo in natura e para uso da indústria na

elaboração de doces, sucos, licores e sorvetes, auxiliando no sustento informal

de muitas pessoas. Traz, ainda, grandes quantidades de vitaminas A, B1, B2,

bem como ferro, fósforo, cálcio, em poucas calorias (43 kcal/100g). Seu teor de

vitamina C permite considerada fonte desse nutriente.

Há, ainda, o araticum, que significa “fruto mole”, justamente o aspecto

que essa fruta de casca escamosa apresenta

após amadurecer. No seu interior há uma

polpa mole, com cerca de 52 kcal/100g, que

envolve várias sementes marrom escuras. É

a polpa que define a qualidade: a rosada é

mais doce e macia, enquanto a amarelada é

mais firme e um pouco ácida. Pode ser

consumida in natura ou como doces, batidas,

licores, sorvetes, geléias. Ela exala um aroma característico forte ao cair das

árvores, podendo denunciar a presença da fruta a certa distância. Estudos têm

sido conduzidos para aproveitamento da semente (parte geralmente

desprezada) para produção de óleo, já que ela contém 84% de ácidos graxos

insaturados, sendo 50% de ácido oléico e 34% de linoléico.

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CAPÍTULO III

CONDIÇÕES EM QUE SE ENCONTRA O CERRADO

GOIANO E AS AÇÕES QUE ESTÃO SENDO

DESENVOLVIDAS PARA SUA PRESERVAÇÃO

Devido à intensa ocupação do Cerrado goiano, houve também uma

intensa fragmentação da vegetação nativa, resultando em uma grande

quantidade de pequenos fragmentos que, por muitas vezes, estão localizados

próximos de áreas já antropizadas, como é o caso das rodovias e das

localidades de grande densidade populacional, elevado índice de

desenvolvimento humano e alto produto interno bruto. Tais áreas podem ainda

apresentar um relevo favorável às prática agro-pastoris. Desta forma, 86% dos

fragmentos de Cerrado remanescente em Goiás estão correndo altos risco de

serem desmatados.

Isto equivale a uma área aproximada de 105.612,30 Km2. Somente

14% do Cerrado goiano estão em localidades que não atendem a todos

os critérios considerados nesta análise e, portanto, correm baixo risco de

serem desmatados.

Sob uma perspectiva regional (mesorregiões), a situação da vegetação

nativa em Goiás é bastante crítica.

Mapa do Potencial de Regeneração da Cobertura Vegetal Nativa do

Estado de Goiás.

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Em todo o Estado de Goiás, 87.189,17 Km2 (ou 25,21%) apresenta alto

potencial de regeneração da cobertura vegetal nativa, seguido por 192.785,95

Km2 (ou 55,75%) com médio potencial de regeneração e, finalmente,

65.847,76 Km2 (ou 19,04%) com baixo potencial de regeneração. Ainda

com base no mapa da figura 6, é possível observar que as regiões norte e

nordeste de Goiás apresentam as maiores áreas com alto potencial de

regeneração.

Contudo, na porção central e sul do estado, onde a agricultura é mais

intensa, estão as maiores áreas com baixo e médio potencial de regeneração.

Na Tabela pode-se observar o potencial de regeneração da cobertura

vegetal por mesorregiões no Estado de Goiás.

Os levantamentos de áreas desmatadas a partir de imagens de satélite

tiveram início no final da década de 1970, principalmente na floresta amazônica

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(Ferreira et al., 2007). No bioma Cerrado, os levantamentos de desmatamentos

começaram de forma mais intensa nos últimos anos (Ferreira et al., 2006; Sano

et al., 2006).

Normalmente, os levantamentos das áreas desmatadas têm como

objetivo principal quantificar as áreas convertidas, por exemplo, em agricultura,

pastagem e área urbana, sem, no entanto, realizar análises sobre os impactos

causados aos remanescentes de vegetação, ao solo e aos demais elementos

físicos da paisagem.

Figura 4: Mapa de risco de desmatamentos.

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A partir dos mapeamentos sobre o risco de desmatamentos da

vegetação nativa no Estado de Goiás, obteve-se um mapa que qualifica o risco

de desmatamento do Cerrado goiano em alto e baixo, conforme ilustrado na

figura acima.

Quadro 1- Políticas Públicas para o desenvolvimento sustentável no Cerrado

Nome/ sigla do programa Objetivos a serem alcançados

Grupo de Trabalho de Cerrado e

Pantanal

Autorizado pelo Ministério do Meio

Ambiente (MMA), tem como objetivo

elaborar um plano de ação e uma

estratégia ambiental integrada para o

Cerrado e Pantanal, atualmente em

desenvolvimento por meio de um

Grupo de Trabalho que inclui

representantes da sociedade indicados

pela Rede Cerrado de ONGs.

GEF

O governo brasileiro sinalizou que

pretende apresentar um projeto de

U$150 milhões ao GEF para o

Cerrado. Além do MMA, a elaboração

da proposta concreta e sua execução

dependerão muito dos Estados e da

sociedade na região.

PPP – Programa de Pequenos

Projetos

Esse programa do GEF e PNUD

apoiou 51 projetos de entidades não

governamentais no Cerrado. O valor

máximo é de U$30 mil. Os projetos

visam principalmente à identificação e

replicação de meios de vida

sustentáveis (GEF, PNUD e ISPN,

1999).

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Programa Pantanal

É um programa de desenvolvimento

sustentável que conta com recursos do

Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID) e do Governo

japonês, num total previsto de U$400

mil, não se restringe ao Pantanal, mas

inclui toda a bacia do Alto Paraguai.

Lei do Cerrado

O Secretário de Biodiversidade do

MMA propõe às ONGs “cerradistas” a

elaboração de uma Lei do Cerrado

semelhante à Lei da Mata Atlântica,

que regulamenta o uso do bioma.

ICMS Ecológico

Goiás e Mato Grosso estão

implantando o ICMS ecológico, no qual

as transferências dos Estados para os

municípios são feitas segundo critérios

ambientais, a exemplo do que já foi

feito em MG e PR. A idéia poderia ser

estendida a outros Estados.

Sistemas Agros ambientais

O Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de

Reforma Agrária estão buscando

programar um modelo de sistemas

agro ambientais entre assentados da

reforma agrária e outros agricultores

familiares, a começar por Goiás.

Comissão Estadual de Agricultura

Orgânica em Goiás

O estado de Goiás formou uma

comissão para regulamentar a

agricultura orgânica, na qual os

representantes da sociedade estão

incluindo a produção extrativa vegetal

e a criação de animais silvestres, além

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da lavoura e da pecuária.

Hidrovia Araguaia-Tocantins

O projeto está parado na justiça por

causa de decisões decorrentes de

questionamentos por parte de ONGs a

respeito dos estudos de impacto

ambiental e dos impactos das obras

sobre populações indígenas. Deveria

ser considerado, também, o impacto

regional.

FCO - Fundo Constitucional do

Centro-Oeste

Conta com 1,5% da arrecadação

federal, podendo ser um instrumento

de desenvolvimento sustentável no

Cerrado, como também a eventual

recriação da SUDECO, desta vez, se

possível, com o propósito de

desenvolvimento sustentável.

Fonte: SAWYER/2002, pg. 292- 294

Org.; PEDROSO, I. L. P. B/2004.

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CONCLUSÃO

Chaves (2003, p.27) ressalta: “de alguma forma, o argumento da

necessidade do progresso tem sobrepujado os limites ecossistêmicos,

dissociando as práticas produtivas do potencial ecológico e das questões

sociais e culturais”.

Talvez a maior dificuldade para o pleno funcionamento da Política

Nacional de Meio Ambiente está no fato de que ela exige uma articulação entre

os organismos públicos que a compõem. No plano concreto das ações,

verifica-se que são fornecidas ao órgão executor e aos órgãos seccionais

muitas atribuições sem o correspondente apoio técnico e logístico.

Chaves (op.cit, p.31) destaca que há enorme dificuldade de se formular

uma política ambiental de caráter nacional. Não existe um efetivo plano de

ação governamental integrando a União, os Estados e os Municípios, com

vistas à preservação do meio ambiente. Tal dificuldade suscita conflitos de

competência de gestão sempre que qualquer tipo de estudo, laudo técnico ou

análise de impacto ambiental é solicitado.

A esse conflito de competência, soma-se ainda o despreparo técnico e

até mesmo teórico e metodológico das instituições destinadas a administrar as

questões ambientais. Incontáveis são os Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(2):

81-86, dezembro - 2004 (ISSN 1678—698X)

Deve-se ter claro que desenvolvimento almejamos e, mais ainda, se

buscamos o desenvolvimento qualitativo ele é fruto de uma complexa equação

entre as instituições públicas e privadas, os valores, a educação e a saúde, as

políticas públicas e as comunidades locais e nenhum setor, isoladamente, será

capaz de promovê-lo e se não houver uma mudança de postura os pobres

continuarão pobres, o planeta mais degradado e o crescimento cada vez mais

insustentável.

Essa é a realidade que temos que enfrentar no século que se inicia,

partindo da concepção que onde o significado do meio ambiente não for

atribuído adequadamente, o desenvolvimento com sustentabilidade fracassará.

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Finalizando esta reflexão, gostaríamos de levantar uma questão: “qual a

esperança que podemos ter para o futuro da humanidade?”. Em nossa opinião

a resposta mais inspiradora a essa questão existencial foi dada por Capra

(2002, p.273):

“O tipo de esperança sobre a qual penso freqüentemente,...

compreendo-a acima de tudo como um estado da mente, não um estado do

mundo. Ou nós temos a esperança dentro de nós ou não temos; ela é uma

dimensão da alma, e não depende essencialmente de uma determinada

observação do mundo ou de uma avaliação da situação... (A esperança) não é

a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas

têm sentido, como quer que venha a terminar.”

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63

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ANEXO

Publicado em: 13/01/2008

Febre amarela e desequilíbrio ambiental

Os últimos noticiários são ricos de fatos e ocorrências a respeito da

febre amarela. Em Goiás, meia centena de municípios está sob suspeita de

mortes de animais silvestres, como macaca, pelo vírus causador da doença.

Ao mesmo tempo, a imprensa nos informa que carvoeiros instalam, em alta

escala, fornos para produzir carvão a partir do Cerrado nativo. Em média, 70

mil hectares do Cerrado goiano são transformados anualmente em carvão

para abastecer as siderúrgicas mineiras. Mais de 40% dos municípios goianos

sequer possuem os 20% de reserva legal. O Cerrado nativo desaparece a

olhos vistos, estando confinado às regiões norte e nordeste do Estado de

Goiás.

O trabalhador rural que morreu no último dia 4de janeiro sob suspeita de febre

amarela, morava em Aparecida de Goiânia e estava trabalhando em Uruaçu,

onde realizava o serviço de desmatamento de uma fazenda, quando contraiu a

doença. A manifestação desta endemia explicita fatores ambientais

relacionados ao avanço do surto de doenças que se julgava controladas. Isto

nos requer algumas reflexões em torno da relação entre elas e a degradação

socioambiental.

O desafio da atualidade consiste na construção histórica de sociedades

com desenvolvimento sócio-ambiental, fundadas na eqüidade social e na

relação sustentável com o meio. Esse desafio já demonstra avanços, mas

carece ainda de maior consideração da sociedade contemporânea para com a

saúde e o meio ambiente. Assiste-se historicamente à ampliação das

populações potencialmente expostas aos riscos, como os casos de

trabalhadores rurais, em áreas endêmicas, que são picados pelo mosquito

silvestre, transmissor do vírus da febre amarela, contraem a doença e podem ir

a óbito. As pessoas infectadas migram para as cidades e os mosquitos,

transmissores urbanos, disseminam o agente etiológico para novas populações

e estratos sociais.

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Os efeitos agressivos do desequilíbrio ambiental podem deflagrar

processos à primeira vista imperceptíveis, complexos, sinérgicos e letais. São

claros exemplos deste fenômeno o desmatamento, a simplificação do ambiente

e a elevação da temperatura que promovem a migração de populações de

espécies vetores, hospedeiras e reservatórias de agentes patogênicos, como o

vírus da febre amarela, os insetos transmissores do tipo silvestre e urbano, e

os macacos, expondo populações humanas a maiores incidências de

patogenias.

As ameaças à saúde pública, decorrentes dos desequilíbrios do ambiente, são

causadas pelo próprio homem. A reflexão teórico-conceitual e o conhecimento

destinam-se a resolver/solucionar problemas como este, estabelecer

prioridades, definir indicadores e dar praticidades às decisões. O nosso país

está experimentando mudanças ambientais enormes, ainda que estas estejam

ocorrendo de maneira diferenciada conforme a cidade, o estado ou a região. O

aumento no número de casos de doenças relacionado ao desequilíbrio

ambiental vem merecendo preocupações crescentes. As mudanças climáticas

podem agravar as ameaças de doenças infecciosas. Em primeiro lugar, devido

ao aumento das temperaturas, muitas doenças e seus vetores podem surgir e,

em segundo lugar, o aumento da poluição e a destruição dos biomas naturais

podem causar o ressurgimento de doenças recentes e antigas.

Podemos destacar a ligação entre febre amarela, dengue, entre outras

doenças, ao desmatamento e seus efeitos imprevistos. Os desmatamentos,

construção de estradas e de barragens podem freqüentemente destruir

sistemas florestais e fluviais, alterando hábitats dos mosquitos vetores da

doença. A migração de trabalhadores para áreas previamente inacessíveis

também faz aumentar a população de risco.

Percebe-se a complexa relação entre mudanças ambientais e a

ocorrência de doenças emergentes no Brasil. Grandes epidemias urbanas da

atualidade, como tuberculose, hanseníase, dengue, febre amarela urbana, são

doenças infecciosas enquadradas como emergentes. Elas têm em comum o

fato de serem ocasionadas por parasitas, que são agentes etiológicos vivos

adquiridos, em algum momento, pelos hospedeiros (no caso, o homem) a partir

do meio ambiente externo.

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O desmatamento causa desequilíbrio na interação entre patógeno e seu

ambiente, proporciona a proliferação de vetores e parasitas e cria oportunidade

para as epidemias. As doenças infecciosas são, portanto, marcadores de

processos ecológicos nas quais participam ao menos duas populações, a do

hospedeiro e do parasita e, freqüentemente, várias outras, entre vetores e

reservatórios.

Apesar da contribuição da tecnologia médica moderna na redução das

doenças infecciosas, a forma da organização social brasileira e a ocupação do

território determinam que certas doenças encontrem espaço para emergirem

ou adquirirem novas faces. As previsões de que a medicina erradicaria essas

doenças não se confirmaram em função das alterações dos ambientes

naturais. A sociedade precisa se conscientizar a respeito dos impactos

causados à saúde pública pelo desequilíbrio do meio ambiente.

Osmar Pires Martins Júnior é biólogo, mestre em Ecologia, professor

da disciplina Saneamento Ambiental do curso de Especialização em Saúde

Pública do CEEN/UCG e da disciplina Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária

do curso de Enfermagem da UNIP.

Texto: Osmar Pires Martins Júnior

Fonte: Viva Cerrado - Foto: Desmatamento ilegal do cerrado (divulgação

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO

CERRADO GOIANO

SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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