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1 Transversalidade e justiça de gênero: uma análise de políticas brasileiras de proteção social e enfrentamento da pobreza Documento para su presentación en el IX Congreso Internacional en Gobierno, Administración y Políticas Públicas GIGAPP. (Madrid, España) del 24 al 27 de septiembre de 2018. Autor(es): Calvi, Valéria Eger, Talita Jabs Email: [email protected] [email protected] Resumen/abstract: El objetivo aquí propuesto es contribuir al debate y perfeccionamiento de instrumentos de análisis de las políticas que incorporan la perspectiva de género. Para eso, nos fundamentamos sobre la Matriz propuesta por Benavente y Valdés (2014), analizando cualitativamente tres políticas dirigidas hacia los pobres, objetivando identificar i) en qué medida la perspectiva y la justicia de género se incluyen en sus directrices y ii) cómo esas políticas repercuten sobre la dimensión de género, aunque ésta no sea su prioridad. Para ello, seleccionamos una política elaborada en 1993 y que figura como un marco en el campo de la seguridad social en el país (Benefício de Prestação Continuada – BPC), y dos políticas elaboradas en la década de 2000, período en que Brasil asistió a un avance en el debate sobre la equidad de género, Programa Bolsa Familia (PBF) y Programa Mulheres Mil (PMM). Palabras clave: Análisis de políticas públicas; Transversalidad; Justicia de género; Políticas sociales; Pobreza. Nota biográfica: Calvi, Valéria: Doutoranda em Políticas Públicas e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa na área de Políticas Sociais, Atores e Participação, com ênfase em regimes de proteção social na América Latina, gênero e cuidado. Eger, Talita Jabs: Doutoranda em Políticas Públicas e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vinculada ao Núcleo de Pesquisa sobre Culturas Contemporâneas (NUPECS/UFRGS), ao Núcleo de Pesquisa em Gestão Municipal: capacidades estatais, federalismo e administração municipal para o desenvolvimento na América Latina (NUPEGEM/UFRGS) e integrante do Grupo de Antropologia da Economia e da Política (GAEP/UFRGS)

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Transversalidade e justiça de gênero: uma análise de políticas brasileiras de

proteção social e enfrentamento da pobreza

Documento para su presentación en el IX Congreso Internacional en Gobierno,

Administración y Políticas Públicas GIGAPP. (Madrid, España) del 24 al 27 de

septiembre de 2018.

Autor(es): Calvi, Valéria

Eger, Talita Jabs

Email: [email protected]

[email protected]

Resumen/abstract:

El objetivo aquí propuesto es contribuir al debate y perfeccionamiento de instrumentos de análisis de las políticas que incorporan la perspectiva de género. Para eso, nos fundamentamos sobre la Matriz propuesta por Benavente y Valdés (2014), analizando cualitativamente tres políticas dirigidas hacia los pobres, objetivando identificar i) en qué medida la perspectiva y la justicia de género se incluyen en sus directrices y ii) cómo esas políticas repercuten sobre la dimensión de género, aunque ésta no sea su prioridad. Para ello, seleccionamos una política elaborada en 1993 y que figura como un marco en el campo de la seguridad social en el país (Benefício de Prestação Continuada – BPC), y dos políticas elaboradas en la década de 2000, período en que Brasil asistió a un avance en el debate sobre la equidad de género, Programa Bolsa Familia (PBF) y Programa Mulheres Mil (PMM).

Palabras clave: Análisis de políticas públicas; Transversalidad; Justicia de género;

Políticas sociales; Pobreza.

Nota biográfica: Calvi, Valéria: Doutoranda em Políticas Públicas e mestre em Sociologia pela

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa na área de Políticas Sociais,

Atores e Participação, com ênfase em regimes de proteção social na América Latina, gênero e cuidado.

Eger, Talita Jabs: Doutoranda em Políticas Públicas e mestre em Antropologia Social pela Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vinculada ao Núcleo de Pesquisa sobre Culturas

Contemporâneas (NUPECS/UFRGS), ao Núcleo de Pesquisa em Gestão Municipal: capacidades estatais,

federalismo e administração municipal para o desenvolvimento na América Latina (NUPEGEM/UFRGS)

e integrante do Grupo de Antropologia da Economia e da Política (GAEP/UFRGS)

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1. Da construção da pobreza como um risco social à pauperização das mulheres

como agenda governamental

A pobreza e a desigualdade social não são problemas a serem enfrentados apenas

pelos países da América Latina, no entanto, é incontestável que nessa região seus efeitos

ganham novos contornos e intensidades. A América Latina, apesar das transformações

socioeconômicas ocorridas nas últimas décadas, continua sendo a região mais desigual

do mundo, tendo Coeficiente de Gini estimado em 0,5 (CEPAL: 2018). À desigualdade

de renda, medida pelo referido coeficiente, somam-se outras, constituindo um quadro

complexo e multifacetado para a formulação de políticas públicas. Uma das estratégias

encontradas para enfrentar essas condições é a formulação de políticas

interseccionalizadas com gênero e/ou raça/etnia para o acesso ao bem-estar social e

promoção da cidadania. O Brasil vai ao encontro dessas estratégias, promovendo,

principalmente nos anos 2000, políticas de enfrentamento à pobreza e garantias de

direitos sociais mínimos sob responsabilidade Estatal.

Até a década de 1930, a pobreza era compreendida como uma espécie de

disfunção individual e não como problema social; a política para seu enfrentamento era

o uso das forças repressivas Estatais. Com a crescente pauperização da força de trabalho

e o projeto de industrialização nas/das zonas urbanas do país, foram criadas as primeiras

iniciativas direcionadas à garantia de direitos sociais mínimos providos em maior

medida pelas associações profissionais – que arcavam com a previdência, moradia e

saúde -, e pela família e, em menor medida, pelo Estado. Estavam lançadas as bases

para o sistema de proteção social brasileiro, inicialmente vinculado ao trabalho formal e

urbano, o que significou, para as mulheres, a exclusão do mesmo, pois as que

trabalhavam o faziam majoritariamente em condições informais. Além disso, o sistema

corporativista contribuiu com a reprodução e o aprofundamento das desigualdades

sociais de forma geral (Soares, Sátyro, 2009:27).

A partir dos anos 1940, o Estado assume progressivamente a responsabilidade

pela Previdência Social, se fortalecendo como agente promotor de direitos sociais, sem,

contudo, desvinculá-los do sistema contributivo, e, por isso, da condição formal de

trabalho, dificultando o acesso à cidadania por parte da maioria da população. Durante a

ditadura militar o quadro se agrava, adquirindo os direitos sociais um caráter regressivo

que seria revertido apenas na redemocratização do país (Bichir 2010:1-2), período em

que há esforço para a garantia, universalização e efetivação desses direitos.

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A década de 1980 foi marcada pela crescente organização e luta de movimentos

sociais que extrapolavam as questões relativas à tensão entre capital e trabalho, dentre

eles o movimento feminista. Esses novos movimentos sociais possibilitaram a entrada

na agenda política de pautas candentes na sociedade como saúde, educação, emprego,

renda e desigualdades de gênero e raça. Os contornos da pobreza e do trabalho formal

como problemas sociais e políticos que precisam ser pensados também com relação às

mulheres encontram sua origem nesse processo.

O movimento feminista brasileiro se estrutura com base na experiência das

mulheres na luta armada pela democracia, na participação dos partidos de esquerda

clandestinos ou não e no exílio político, consolidando um feminismo marcado pela

afirmação da democracia enquanto valor social, crítica ao capitalismo e afirmação da

igualdade na diferença. Contribuiu para esta, o exílio de muitas feministas em países da

Europa e América do Norte, que alargaram a pauta feminista para além da questão

econômica, aprenderam a se relacionar com as instâncias institucionais em contextos

democráticos e alinharam o Brasil ao cenário internacional das políticas de gênero

(Pinto, 2006).

A contribuição das feministas a partir desses aprendizados pode ser percebida já

na formulação da Constituição Federal de 1988 (CF/88). O processo de feitura da CF/88

contou com uma metodologia inovadora que previa e requeria a participação da

população em geral e da sociedade civil organizada. Com isso, as organizações

feministas, articuladas com os partidos políticos progressistas e com todas as deputadas

constituintes - independentemente de suas posições ideológicas -, tiveram papel

extremamente atuante e definitivo na garantia dos direitos das mulheres em diversas

áreas. Para tanto, valeram-se do princípio da isonomia entre homens e mulheres para

assegurar igualdade jurídica a elas, e da igualdade na diferença para garantir

mecanismos e direitos que dissessem respeito a desigualdades específicas ao gênero

feminino.

A promulgação da CF/88 também foi importante para alterar os rumos do

enfrentamento à pobreza e da garantia de direitos sociais no Brasil. Foram consolidados,

nesse sentido, aspectos essenciais para a construção de um novo sistema de proteção

social - agora, pautado pela cidadania em direção à universalização -, elevando o status

da assistência social ao de outras políticas sociais universalizadas, a saber, saúde e

educação. Da garantia de direitos via contribuição previdenciária, foram reconhecidos o

direito à aposentadoria não integralmente contributiva aos(às) trabalhadores(as) rurais e

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instituindo uma renda de solidariedade a idosos(as) e pessoas com deficiência que

viviam em condições de vulnerabilidade econômica - o Benefício de Prestação

Continuada (BPC). O sistema de proteção social brasileiro deixa de ser, portanto,

vinculado apenas à contribuição previdenciária, e passa a prever direitos aos(às)

cidadãos(às) que não podem fazer uso da sua força de trabalho. Foi nesse contexto que

se passou a discutir sobre os riscos sociais associados à pobreza, bem como sobre a

necessidade de criação de estratégias para enfrentá-la (Soares, Sátyro 2009:28).

Se o aumento do papel do Estado enquanto pilar do bem-estar social aumentou

com a CF/88 e a universalização dos direitos sociais pareceu se estabelecer como

horizonte, ambos encontram nas limitações orçamentárias (Silva e Silva et al, 2009) e

no Consenso de Washington - cujas diretrizes de desenvolvimento social para os países

latino-americanos pressupunham a garantia de direitos sociais mínimos via políticas

públicas focalizadas nos mais pobres – fortes barreiras para sua efetivação. Essa foi a

conjuntura que permitiu, no final da década de 1990, a criação dos programas de

transferência condicionada de renda (PTCR) associados à educação e à saúde no Brasil.

Nesse último campo, inserem-se os Programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação que

junto ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do Auxílio Gás e do

Cartão Alimentação, que antecederam aquele que seria considerado uma das principais

políticas de enfrentamento à pobreza no Brasil, o Programa Bolsa Família (PBF).

Em nível internacional e fruto da militância feminista, a pauperização das

mulheres ganhou reforço enquanto pauta política e de governo com a Conferência de

Beijing, em 1995, que colocava como questões a serem enfrentadas pelo Estado a (i)

pauperização das mulheres, (ii) a desigualdade no acesso à educação e capacitação

profissional e (iii) a desigualdade relacionada à participação das mulheres nas estruturas

econômicas, atividades produtivas e acesso a recursos. O Brasil foi signatário do

documento produzido pela Conferência, bem como da Estratégia de Montevidéu para a

Implementação da Agenda Regional de Gênero no Marco do Desenvolvimento

Sustentável até 2030, assinada em 2016, cujo objetivo número um é o fim da pobreza.

Porém, ainda que a igualdade de gênero tenha ganhado cada vez mais espaço na agenda

do governo federal já nas décadas de 1980 e 1990, apenas na década de 2000 ela veio a

ser incorporada institucionalmente na esfera federal através da criação da criação da

Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM-PR), em 2004.

Vinculada à Presidência da República e, por isso, sem orçamento próprio, a

SPM-PR nasceu com o objetivo de institucionalizar e sistematizar a perspectiva de

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gênero nas políticas públicas do país, atuando, para isso, de forma transversal a todos os

ministérios do governo. Se gênero é categoria interseccional, as respostas às

desigualdades de gênero, também precisam ser, de modo que a transversalidade se

configura enquanto a melhor estratégia para a promoção da igualdade de gênero no país

(Bandeira e Almeida, 2013). O objetivo da SPM-PR não era centralizar todas as

questões de gênero em um único órgão, mas fazer com que a perspectiva da igualdade

de gênero estivesse presente nas formulações de todas as políticas públicas, em todos os

ministérios (Bandeira, 2005). A SPM-PR produziu três Planos Plurianuais de Políticas

para as Mulheres (PNPMs), tendo as três políticas aqui analisadas sido contempladas

em um ou mais PNPMs.

O avanço das políticas de gênero na América Latina, de modo geral, e no Brasil,

especificamente, possibilitaram não só a estruturação de novos direitos e conquistas

para as mulheres, como também a avaliação das estratégias adotadas para isso. É nesse

contexto que a Matriz de Análise para identificar políticas justas de igualdade de gênero

é elaborada (Benaventes, Valdés, 2014). Surgida da crítica à perspectiva de gênero, a

matriz propõe o conceito de justiça de gênero como instrumento teórico empregado na

formulação de políticas públicas transversalizadas.

1.1 Aspectos conceituais

A partir do programa da Divisão de Assuntos de Gênero da Comissão

Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), o Observatório de Igualdade de

Gênero da América Latina e Caribe, em 2010, inicia o processo de identificação de boas

práticas estatais na formulação de políticas públicas que representassem avanços na

igualdade de gênero. É desse trabalho que surge a matriz em questão como instrumento

de análise e sistematização de políticas públicas de gênero que considerem a igualdade

de gênero não apenas como objetivo final, mas também como elemento que deve estar

presente em todo o ciclo de políticas públicas, desde a formulação até a avaliação da

política. Além disso, diferentemente da perspectiva de gênero - que acabou sendo

incorporada como sinônimo para toda e qualquer política que tivesse mulheres como

público-alvo e carecia de critérios objetivos para mensurar o sucesso das políticas -, a

matriz propõe como instrumento conceitual e de medição a justiça de gênero. Na sua

utilização, portanto, não basta apenas analisar se a perspectiva de gênero foi incorporada

na formulação de uma política, é necessário observar se ela, efetivamente, contribuiu

para a promoção da justiça de gênero, que pode ser medida por indicadores segundo seu

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caráter. A seguir, passamos à explicação dos conceitos implicados na matriz de análise e

à articulação entre eles.

A matriz considera as políticas públicas como ferramentas estatais que podem

ser utilizadas para a diminuição das brechas de gênero, sendo essas definidas como

desigualdades entre homens e mulheres passíveis de mensuração. Dada a

interseccionalidade entre gênero e outros marcadores sociais, as brechas dizem respeito

a diversas áreas da vida das mulheres, exigindo, por isso, políticas transversalizadas

com outros marcadores como raça, etnia, território e classe social. A interação entre

ministérios ou outros órgãos estatais se torna necessária na busca por soluções para a

situação das mulheres e, a isso chamamos transversalização de políticas públicas.

A construção patriarcal dos papeis e expectativas sobre homens e mulheres fez

com que a elas coubesse uma cidadania e uma individuação de segunda ordem, ou seja,

sempre atreladas ao papel que cumprem com relação a outrem como, por exemplo,

mães, esposas e filhas. As desigualdades de gênero impedem, por isso, a autonomia das

mulheres - a autodeterminação enquanto indivíduo portador de cidadania -, fazendo com

que o fechamento ou diminuição de brechas de gênero representem ganhos na promoção

da autonomia feminina. A autonomia, embora interseccionalizada com outras

categorias, pode ser de três tipos: econômica, física e política. A cada um deles

corresponde um tipo de política pública. Políticas que visem à promoção da autonomia

física consideram a subordinação cultural e social das mulheres, exigindo a

reestruturação das relações de reconhecimento por meio da valorização das mulheres

enquanto indivíduos em padrões culturais mais igualitários. Têm, portanto, caráter de

reconhecimento. Já a autonomia econômica está ligada a padrões de desigualdade de

rendimentos e acesso ao mercado de trabalho entre homens e mulheres, exigindo do

Estado seu padrão redistributivo como garantidor da igualdade. Políticas que visem à

promoção da autonomia econômica tem caráter redistributivo. Por fim, a autonomia

política se refere à condição que as mulheres possuem de ingerir sobre as fórmulas

normativas do Estado, fazendo-se presentes enquanto sujeitos políticos ativos. Essa

autonomia exige que o Estado reconheça as desigualdades de gênero implicadas na

estruturação de normas, leis e promova a reformulação das mesmas com a participação

das mulheres. Essas políticas têm caráter representativo.

A correção das desigualdades entre homens e mulheres - brechas de gênero -

promovem a justiça de gênero, condição necessária para a igualdade nesses termos. A

justiça de gênero está, portanto, diretamente vinculada à autonomia das mulheres e, por

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isso, também diz respeito à redistribuição, reconhecimento e representatividade. No

caso da justiça redistributiva, questão implicada nas políticas que serão aqui analisadas,

a mesma pode ser medida, por exemplo, pela diminuição das diferenças de renda entre

homens e mulheres, de qualidade do vínculo empregatício ou de acesso ao mercado de

trabalho por meio da qualificação profissional - sendo renda e qualificação profissional

focos do PBF e PMM, respectivamente.

Há, portanto, conforme a matriz de análise, um fluxo que vai da intervenção

estatal - por meio de políticas públicas tendo a igualdade de gênero como processo e fim

-, à justiça de gênero - como critério de medição do sucesso ou não dessas políticas. A

intervenção visa ao fechamento das brechas de gênero e a consequente promoção da

autonomia e justiça de gênero. Por fim, cabe dizer que a justiça de gênero, para além de

sua tipificação, possui um duplo caráter: justamente por ser representativa, de

reconhecimento e redistributiva, ela contém o princípio da igualdade para que mulheres

sejam consideradas em igualdade com os homens, sem desconsiderar, contudo, o

histórico de submissão e desvantagens que as mulheres ainda enfrentam. Isso posto,

compreendemos, que a justiça de gênero almeja a igualdade entre homens e mulheres,

considerando no processo ações afirmativas que abarquem as construções de gênero

historicamente desiguais. Assim, ela diz respeito à igualdade enquanto fim, e à

igualdade na diferença, enquanto processo.

1.2 Aspectos metodológicos

A matriz para análise qualitativa de políticas justas de igualdade de gênero

compreende as três fases do ciclo de políticas públicas - formulação, implementação e

avaliação e monitoramento -, acrescida de uma fase anterior destinada a analisar como o

problema a que se refere determinada política pública se originou na sociedade e como

foi, por ela, interpretado. A cada uma dessas fases corresponde um conjunto de

perguntas norteadoras que, desde a gestão do problema, já apontam à justiça de gênero e

à participação social na construção da política. A seguir, passamos à breve explicação

da matriz por fases.

A fase A, identificação do problema, é aquela em que se analisa a definição das

agendas social, política e governamental. Aqui, importa qual é o problema a ser

enfrentado; como ele foi definido e interpretado em cada um desses âmbitos; que atores

participaram do processo de definição do problema; que injustiças pretende se combater

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e que injustiças de gênero vivem as mulheres nesse contexto. A fase B, formulação da

política, se destina a apreender os objetivos da política pública e seu público-alvo; o seu

marco normativo; os atores político-sociais envolvidos, bem como alianças e conflitos

entre eles. A transversalidade entra como questão central aqui, pois que as alianças e

conflitos envolvem atores estatais de diferentes áreas. A fase C diz respeito à

implementação da política pública e, portanto, como a transversalidade é

operacionalizada. Devido aos limites deste artigo não nos deteremos sobre essa fase,

haja vista que é uma das que apresenta o maior número de componentes a serem

analisados. Do mesmo modo, dada a forma como as políticas sociais são implementadas

no Brasil desde a CF/88, para analisar o processo de implementação de pelos menos

duas das políticas aqui mencionadas (PBF e PMM), fazer-se-ia necessário debruçarmo-

nos sobre os contextos municipais, lócus da execução dessas políticas. Por fim, a fase D

diz respeito à avaliação e monitoramento da política. No monitoramento são relevantes

questões referentes à elaboração ou não de indicadores para mensurar o impacto da

política e, se existe - e em que grau de formalização - o diálogo entre Estado e sociedade

civil que permita acompanhar e garantir o cumprimento dessas ações. Na avaliação, são

analisados e comparados os objetivos e metas traçados com aqueles que foram

efetivamente alcançados; que injustiças de gênero foram corrigidas e quais não foram

ou tornaram-se relevantes no processo; se a política é focalizada ou universal e como se

dá a difusão das informações à ela relacionadas. Identificar se houve ou não produção

de informação pública e de que forma ela foi difundida; se a sociedade civil participou

desse processo e se tem como exigir informações sobre a política caso o Estado não as

forneça, configuram-se como questões igualmente relevantes.

Há questões presentes na matriz que justificam nossa escolha pelas política. Em

primeiro lugar, em todo o processo da política pública a matriz atenta para a

participação ou não da sociedade civil e para a transversalidade implicada nessa

política, estando ela presente tanto na interação entre atores políticos e sociais, quanto

na relação entre diferentes setores governamentais e entes federativos. Considerando-se

que a SPM-PR, órgão responsável por garantir institucionalmente a transversalidade de

gênero nas políticas brasileiras, passa a existir em 2003, é interessante averiguar se há

diferença nesse aspecto entre políticas criadas antes da SPM-PR (BPC) e políticas

criadas quando a mesma já existia (PBF e PMM). Em segundo, a matriz permite seu uso

tanto para políticas que já têm nos seus objetivos a justiça de gênero, quanto para

aquelas que não os consideram, mas podem impactar mulheres. O BPC não faz

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distinção entre homens e mulheres nos seus objetivos, o PBF, embora também não o

faça, dados os objetivos voltados à família garante às mulheres a titularidade na

transferência de renda e o PMM tem como foco principal as mulheres. Assim, é

interessante comparar políticas cujas justiças de gênero não aparecem no início com

outras em que elas estão presentes, o que nos leva ao terceiro motivo pelo qual

escolhemos essas políticas.

O Brasil é o país mais desigual do mundo (Pesquisa Desigualdade Mundial,

2018), com 27,8% da renda do país nas mãos do 1% mais rico da população. Entre

homens e mulheres recai sobre elas, interseccionalizadas com etnia, raça e território, os

piores índices. Renda, portanto, é fundamental quando se pensa em corrigir brechas de

gênero e promover a autonomia de mulheres no país. Não por acaso Astelarra (2004)

aponta a estratégia de igualdade no mundo público como a mais comum dos países

latino-americanos no que diz respeito às políticas públicas de gênero. A diminuição da

concentração de renda e o aumento da renda das mulheres são, portanto, fundamentais

não podendo ser desconsideradas das análises a justiça redistributiva. Tanto o BPC

quanto o PBF são programas destinados à garantia de renda para aqueles(as)

impossibilitados(as) de garantirem seu sustento no mercado de trabalho e/ou

considerados(as) pobres, nos termos de cada um dos programas. O PMM, por sua vez,

ao promover qualificação das mulheres por meio da educação profissional, procura

garantir a elas condições para melhor colocação no mercado de trabalho e,

consequentemente, o aumento da sua renda. Por isso, a nossa escolha recai sobre essas

políticas.

2. Políticas de enfrentamento à pobreza no Brasil: renda e educação como

mecanismos para reduzir as desigualdades sociais

2.1 Benefício de Prestação Continuada (BPC)

Previsto pela CF/88 e instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS

[Lei nº 8.742/93]), o Benefício de Prestação Continuada (BPC) destina-se à garantia de

benefício financeiro no valor de um salário mínimo mensal à pessoas com deficiência

que tenham impedimentos de longo prazo para trabalhar e ao(às) idoso(as) com 65 anos

ou mais que comprovem não possuir renda própria ou oriunda da família para o seu

sustento, constituindo-se no programa de assistência social brasileiro com o maior

volume de gastos e o segundo maior programa não contributivo de transferências do

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país, sendo menor apenas que o Bolsa Família. O benefício é concedido à pessoas que

comprovem renda mensal familiar per capita inferior a ¼ (um quarto) do salário

mínimo em vigor e que estejam devidamente cadastradas no Cadastro Único para

Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). Figura, ainda, como objetivo dessa

política, a promoção da autonomia da pessoa com deficiência e da pessoa idosa, de

modo a colaborar na identificação e garantia de outras necessidades básicas além da

renda.

A trajetória do BPC inicia no final dos anos 1980, quando o Brasil enfrentava

grave crise econômica e social ao mesmo tempo em que se preparava para voltar à

democracia. Esse período foi marcado por intensa mobilização social em torno de

direitos que a população almejava fossem incluídos na Constituição nascente.

Objetivava-se, sobretudo, assegurá-los institucionalmente, estruturando um arranjo de

bem-estar social sob o resguardo do Estado. Dentre os direitos demandados estava a

renda mínima necessária para garantir a cidadania econômica e social.

Sendo uma política que diz respeito à proteção social de pessoas que, por

alguma razão, estão impossibilitadas de trabalhar, o BPC assume o amplo objetivo de

garantir autonomia econômica e física, promovendo assim justiça redistributiva e de

reconhecimento para ambos os sexos. No ano de 1996, cerca de 304.227 pessoas com

deficiência recebiam o BPC, em 2015, 2.323.794 na mesma situação eram beneficiadas

pela política, representando um aumento de 764% em 9 anos. Com relação aos(às)

idosos(as), em 1996, 41.992 eram beneficiados(as) pelo BPC, já em 2015, 1.918.903

idosos(as) recebiam os recursos financeiros oriundos do programa, registrando, em

menos de 10 anos, um aumento de 1225%. Os dados aqui mencionados dão a dimensão

da importância do benefício para a população brasileira. Especificamente com relação

às mulheres, em 2015 cerca de 1.095.528 beneficiárias viviam com algum tipo de

deficiência, enquanto outras outras 2.219.770 eram idosas. Wajnman, Marri e Turra

(2009) afirmam que o benefício destinado às mulheres idosas representa, muitas vezes,

a principal renda familiar, sendo imprescindível para que muitas delas, bem como seus

dependentes, não vivam abaixo da linha da pobreza.

Quanto à formulação do BPC, a CF/88 estabeleceu o tripé da seguridade social -

saúde, assistência e previdência -, ficando a cargo da assistência social a formulação

dessa política que fora, mais tarde, incluída no texto da LOAS. A elaboração da Lei

Orgânica da Assistência Social foi um processo tenso, marcado por inúmeras disputas

acerca da extensão e caráter dos benefícios a ela vinculados. Do processo constituinte

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participaram não apenas os(as) deputados(as) federais e senadores, mas houve também

participações individuais e da sociedade civil organizada. A metodologia participativa

utilizada na feitura da CF/88 foi inovadora e representou grande momento de

mobilização e participação política da sociedade brasileira. Com a estruturação da

política de Assistência Social a partir dela, o BPC teve garantida a sua implementação.

Entre os atores envolvidos nesse processo estavam, de uma lado, os órgãos relacionados

à categoria profissional dos(as) assistentes sociais, a Frente Nacional dos Gestores

Municipais e Estaduais, o movimento feminista, o Movimento pelos Direitos da Pessoa

com Deficiência, dos(as) idosos(as), das crianças e adolescentes de um lado e, de outro,

o governo federal. Reforçamos, desse modo, o fato de que a LOAS e, consequentemente

o BPC, são fruto da estreita interação entre sociedade civil organizada e o Estado.

No que tange à sua implementação, na medida em que os(as) demandantes

devem estar cadastrados(as) no CadÚnico, cabe aos Centros de Referência de

Assistência Social (CRAS), vinculados às Secretarias Municipais de Assistência Social

(SMAS) ou órgão correspondente, conduzi-los ao cadastramento. No caso das pessoas

com deficiência, para que se possa iniciar o processo de solicitação do benefício, é

preciso que se dirijam ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), vinculado ao

Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) com laudo médico que comprove

a deficiência e a impossibilidade para o trabalho. Nesse caso, a concessão do benefício

só é feita após o(a) requerente passar pela avaliação dos(as) médicos(as) do INSS.

Os(as) idosos(as), à semelhança daqueles(as) que vivem com alguma deficiência física

ou mental, também devem solicitar a concessão ao INSS. Em ambos os casos, faz-se

necessário comprovar a renda familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo em

vigor.

O processo de avaliação, controle e vigilância do BPC envolve os três entes

federativos, sendo financiado pela União, todo o seu recurso proveniente do Fundo

Nacional da Assistência Social (FNAS), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento

Social (MDS). Segundo o artigo 21 da LOAS, a cada 2 anos deve ser verificado se o(a)

beneficiário(a) continua atendendo aos critérios para o recebimento do benefício.

Cabendo aos CRAS, munidos de formulários padrão utilizados em todo o território

nacional, realizar a visita domiciliar aos(às) beneficiários(as) para averiguação. Todo o

processo de revisão do benefício é informatizado, tendo o DATAPREV, em parceria

com o MDS e o INSS, desenvolvido um sistema para isso - o Sistema de Revisão de

Avaliação Social (REVAS). Para o acompanhamento dos(as) beneficiários(as), foi

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desenvolvido o Programa Nacional de Monitoramento e Avaliação do BPC, sob

coordenação e responsabilidade da Secretaria Nacional de Assistência Social

(SNAS/MDS), cujo objetivo é registrar o acompanhamento dos beneficiário e sua

família no âmbito do SUAS, por meio de um banco de dados, de forma a permitir o

acesso a outras políticas. Havendo, nesse caso, razoável nível de desagregação dos

dados por sexo, tipo de benefício, tipo de deficiência, distribuição por estados e

municípios e séries históricas. Os dados também são produto da interação entre União,

Estados, Municípios e Distrito Federal (DF), estando disponíveis no site do MDS eles

podem ser acessados pelo público em geral, valendo o mesmo para os dados

orçamentários.

2.2 Programa Bolsa Família (PBF)

O PBF, instituído em 2003, é um programa de transferência direta de renda com

condicionalidades e se constitui como uma política intersetorial, haja vista que articula,

no que concerne às contrapartidas a que seus(suas) beneficiários(as) estão sujeitos(as),

várias políticas sociais à transferência de renda. Na prática, a transferência direta de

renda significa que o valor mensalmente repassado aos(às) seus(suas) beneficiários(as) é

depositado em uma conta bancária particular na Caixa Econômica Federal (CEF), não

havendo, portanto, intermediários entre o benefício monetário e o sujeito-alvo da

política. Tendo o PBF unificado outros programas de transferência de renda existentes à

época de sua criação, a ausência de quaisquer intermediações no processo de repasse do

benefício fora considerada um dos principais avanços por ele promovidos (Eger: 2013;

Eger e Damo: 2014).

Criado em um contexto de maior interferência do Estado brasileiro sobre as

políticas sociais, o programa procurou efetivar, ainda que tardiamente, alguns direitos

sociais constitucionalmente previstos, instituindo uma renda mínima não contributiva,

focalizada em famílias pobres e extremamente pobres. O PBF destina-se, assim, à

superação do ciclo de reprodução intergeracional da pobreza (BRASIL, 2006), objetivo

que deve ser alcançado através da promoção do alívio imediato da pobreza

(transferência de renda); do reforço ao exercício de direitos básicos nas áreas de saúde,

educação e assistência social (condicionalidades) e da promoção de oportunidades para

o desenvolvimento das famílias (inclusão social através do acesso a bens e serviços).

Considerado uma das mais importantes políticas sociais beneficiou, em agosto de 2018,

Page 13: Documento para su presentación en el IX Congreso ... · Esses novos movimentos sociais possibilitaram a entrada na agenda política de pautas candentes na sociedade como saúde,

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beneficiou quase 14 milhões de famílias, cujo valor médio dos benefícios foi de R$

188,16, alcançando um valor total de R$ 2.625.161.695,00 no mês (MDS, 2018). Ao

longo de sua implementação, o programa não apenas reajustou o valor dos benefícios,

como também ampliou sua cobertura. De 6.571.839 famílias beneficiadas em 2004, o

PBF passa a beneficiar 13.569.576 de famílias em 2016 (MDS, 2017).

A fonte de financiamento do PBF é nacional, sendo os recursos orçamentários

direcionados ao pagamento dos benefícios oriundos do Tesouro Nacional. No entanto,

recursos injetados por organismos internacionais, como o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial, foram utilizados, principalmente, para

financiar pesquisas de avaliação de impacto e capacitações aos(às) técnicos(as) que

atuam na gestão do programa. De modo que duas avaliações de impacto foram

produzidas para verificar as mudanças socioeconômicas proporcionadas pelo programa

(Cedeplar/UFMG: 2007; FUNDEP/UFMG: 2012). Do ponto de vista da divulgação de

informações, além das inúmeras pesquisas realizadas em âmbito governamental e

acadêmico (Medeiros et al: 2008; Soares e Sátyro: 2009; Cotta e Paiva: 2010; Eger;

2013; Eger e Damo: 2014), o programa conta com um dos sistemas informacionais mais

completos e atualizados do governo brasileiro.

Quanto aos critérios de elegibilidade, para participar do PBF, as famílias

precisam realizar a inscrição no CadÚnico, devendo possuir uma renda mensal familiar

per capita inferior a R$ 170,00. Na medida em que o principal critério de seleção

dos(as) beneficiários(as) é a renda familiar, o Bolsa Família baseia-se em um processo

de triagem orientado pelo princípio da focalização, segundo o qual são determinadas

duas linhas de elegibilidade: Linha de Pobreza e Linha de Extrema Pobreza. Enquanto

a primeira diz respeito às famílias que possuem renda mensal familiar per capita entre

R$ 89,01 e R$ 178,00, a segunda refere-se à famílias que possuem renda mensal

familiar per capita de até R$ 89,00. Os valores dos benefícios, por sua vez,

correspondem às linhas de pobreza e extrema pobreza e possíveis variações na

composição familiar, de modo que i) a presença de gestantes, nutrizes, crianças e

adolescentes até 15 anos, jovens entre 16 e 17 anos permite que as famílias acumulem

até 3 benefícios variáveis no valor de R$ 41,00 cada um e, ii) a presença de jovens entre

16 e 17 anos, permite que as famílias recebam até 2 benefícios variáveis no valor R$

46,00 cada. Assim, os valores atuais do Bolsa Família, uma vez que as famílias podem

acumular até 5 benefícios variáveis ao valor base, variam entre R$ 41,00 e R$ 304,00.

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Soma-se à transferência de renda, a participação obrigatória dos(as)

beneficiários(as) em ações das áreas da educação, saúde e assistência social, de forma

que as condicionalidades tornam-se um elemento importante do processo de

implementação do programa. Sendo assim, no campo da educação, cabe às famílias

beneficiárias manterem as crianças entre 6 e 15 anos matriculadas e com frequência

escolar mensal mínima de 85% da carga horária, enquanto os(as) adolescentes, entre 16

e 17 anos, devem ter frequência mínima de 75%. Quanto à saúde, as famílias se

comprometem em acompanhar o cartão de vacinação e o crescimento e

desenvolvimento – através de pesagem e medição de altura – das crianças menores de 7

anos. As meninas, após os 7 anos, permanecem cumprindo a condicionalidade da saúde,

assim como as mulheres em idade fértil até os 49 anos de idade e, quando gestantes e/ou

nutrizes, devem realizar periodicamente o pré-natal e acompanhamento da saúde do

bebê. E, por fim, em relação à assistência social, é dever das famílias beneficiárias do

PBF encaminhar (e possibilitar a permanência de) crianças e adolescentes com até 16

anos de idade que se encontram em risco - ou tenham sido retirados(as) do trabalho

infantil - aos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), obtendo uma frequência mínima

de 85% da carga horária mensal. Devem, ainda, participar das atividades ofertadas pelos

Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e/ou Centros de Referência

Especializada de Assistência Social (CREAS) e realizar o recadastramento a cada dois

anos (prazo máximo), levando a documentação completa de todos os integrantes do

grupo familiar.

Em termos institucionais, o PBF, seguindo a lógica de descentralização das

políticas sociais, tal como instituído pela CF/88, é executado e gerido de forma

descentralizada e compartilhada, de modo que os distintos entes federados atuam de

forma corresponsável em sua implementação e execução. Compete, portanto, ao

governo federal, entre outras coisas, normatizar os procedimentos de gestão e execução

do CadÚnico; apoiar financeiramente os estados, municípios e Distrito Federal (DF)

para a efetiva implementação do PBF e do CadÚnico; realizar o pagamento mensal de

benefícios às famílias beneficiadas, etc. Enquanto aos governos estaduais, compete a

constituição de coordenação intersetorial responsável pelo PBF; a gestão intersetorial

em nível estadual do programa; disponibilizar equipamentos estatais vinculados às

condicionalidades, etc. Aos municípios e ao DF, por sua vez, inscrever as famílias de

baixa renda no CadÚnico e atualizar suas informações a cada dois anos; realizar o

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controle social do PBF; promover a intersetorialidade em nível local; acompanhar e

fiscalizar as ações do programa junto aos(às) seus(suas) beneficiários(as) e ofertar os

equipamentos estatais necessários para oferta das ações relacionadas às

condicionalidades (educação, saúde e assistência social).

Apesar do evidente foco sobre as dimensões de gênero (mulheres gestantes ou

nutrizes) e geração (crianças e/ou adolescentes), conforme podemos observar a partir do

direcionamento das condicionalidades (Klein, 2003), o PBF destina-se, sobretudo ao

alívio da extrema pobreza e ao rompimento do ciclo intergeracional da pobreza em

âmbito familiar. O conceito de família adotado pelo programa é bastante amplo e

incorpora todos(as) aqueles(as) que vivem sob o mesmo teto e dividem, entre si, seus

ganhos e recursos. Desse modo, um dos avanços promovidos pelo Bolsa Família, em

relação aos outros programas de transferência de renda também destinados às famílias,

que foram por ele incorporados, encontra-se no fato de garantir-se, a partir dele, uma

renda mínimo também àquelas famílias consideradas extremamente pobres que não

tenham sob seus cuidados crianças e/ou adolescentes. Com isso, casais, homens e/ou

mulheres sozinhos(as) e pessoas em situação de rua, na medida em que atendam aos

critérios de elegibilidade quanto à extrema pobreza, podem ser beneficiados(as) pelo

programa.

De um modo geral, contudo, é importante mencionar que mais de 90% dos

titulares do cartão do programa são mulheres, sendo que, entre essas, quase 70% são

negras. Schwarzstein (2017), menciona os comentários feitos em 2013 pela, então,

ministra da SPM-PR, Eleonora Menicucci acerca do papel desempenhado pelo PBF em

relação a autonomia financeira das beneficiárias: “[...] o programa assegurou a

autonomia econômica de milhões de brasileiras para gerir os recursos e mostra que a

igualdade de gênero foi colocada no centro das políticas públicas [...]” (Portal Brasil,

2013 apud Schwarzstein, 2017). A referida autonomia aludida pela ex-ministra não

constava, contudo, entre os objetivos do Bolsa Família, sendo, no entanto, apresentada,

no que concerne à primeira avaliação de impacto do programa, como um de seus

resultados positivos. Schwarzstein (2017) chama atenção para o fato de que no relatório

fruto dessa primeira avaliação de impacto, afirma-se que a entrega direta do benefício

financeiro às mulheres, implica em uma melhoria nas condições de vida daqueles(as)

considerados(as) mais vulneráveis no seio familiar, não implicando, porém, no aumento

do bem-estar das próprias mulheres que eram agentes responsáveis por essas mesmas

melhorias.

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Quanto ao seu principal objetivo, redução da pobreza extrema, dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) apontam que, desde a

criação do PBF em 2003 até 2014, o número de indivíduos extremamente pobres foi

diminuindo progressivamente. Em 2003 eram 26.242.672 indivíduos e, em 2014,

8.191.008. O mesmo se verifica com relação aos indivíduos pobres: de 61.814.129

indivíduos em 2003 para 25.888.565 em 2014. Ambos os cálculos consideram as

necessidades calóricas como critério.

Não obstante, as críticas que o programa vem recebendo ao longo de sua

existência, é inegável que a ampliação da proteção social no Brasil através de estratégias

como o Bolsa Família, foi fundamental para a redução da pobreza, mas principalmente,

para a redução da miserabilidade no Brasil.

2.3 Programa Mulheres Mil (PPM)

O Programa Mulheres Mil (PMM), nacionalizado em 2011, tem por objetivo

oferecer formação profissional, tecnologia e certificação de saberes populares à

mulheres em situação de vulnerabilidade social. Além disso, visa a redução do

analfabetismo entre as mulheres, criando mecanismos para vincular as participantes do

Programa que são analfabetas ao EJA. O PMM foi elaborado na intersecção entre

combate à pobreza, igualdade de gênero e demanda por formação profissional, o que fez

com que ao MEC se juntassem, em âmbito federal, mesmo antes da criação do

Programa, a SPM-PR, que já incluía nos seus PNPMs a formação profissional e o

combate ao analfabetismo das mulheres como eixo temático. Como a elaboração desses

Planos contava com a participação das mulheres e organizações feministas em nível

municipal, estadual e federal, não é equivocado afirmar que, nesse sentido, a sociedade

civil participou da construção da política ao menos na definição do problema, objetivos,

metas e linhas de ação para enfrentá-lo. Também é visível a contribuição da Secretaria

na escolha do público-alvo: além de serem mulheres em situação de vulnerabilidade, a

preferência seria dada àquelas que fossem vítimas de violência doméstica. Tendo em

vista a intersetorialidade presente em seu desenho institucional, a base legal do

programa respalda-se, portanto, sobre portarias e leis da área da educação e gênero,

sendo previsto em planos da educação, do trabalho, assistência social e políticas para

mulheres.

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De caráter redistributivo, o programa integra as estratégias desenvolvidas no

país para a promoção do acesso e permanência das mulheres no mercado de trabalho

com vistas à autonomia econômica. A inserção das mulheres no mercado de trabalho

formal é um fenômeno que se inicia, no Brasil, na década de 1970 e se consolida nos

anos 2000, sendo considerada irreversível, pois que a participação feminina nessa área

cresce apesar de cenários econômicos recessivos ou expansivos (Sorj, 2004). Passa-se,

por exemplo, de 52,2% de mulheres economicamente ativas em 1996 para 59% da

população feminina em 2006, período em que a taxa de população masculina

economicamente ativa apresentou tendência de queda (II PNPM). Ao mesmo tempo, o

nível de escolarização formal das mulheres aumentou e, atualmente, elas possuem mais

anos de estudo que os homens, sendo a maioria da população matriculada no ensino

básico.

Se por um lado o cenário parecia favorável à elas, por outro, ainda persistiam - e

persistem - barreiras à plena integração das mulheres ao mercado de trabalho de formal.

Embora tenha aumentado a população feminina economicamente ativa (PEA), essa

ainda era bastante inferior à masculina, que em 2006 era de 82,2%. Do mesmo modo,

mesmo com maior nível de escolaridade, as mulheres seguiam ocupando a maioria dos

postos informais de trabalho, recebendo salários menores que os homens para o mesmo

tipo de ocupação e ocupando a maioria das vagas em empregos de meio turno ou com

jornadas reduzidas dado o forte familismo no regime de proteção social brasileiro. O

resultado era, e continua sendo, o menor rendimento feminino em comparação ao

masculino, dificultando a autonomia econômica das mulheres e representando uma

injustiça de gênero de caráter redistributivo. Em 2006, por exemplo, o rendimento

auferido pela população feminina era de R$504 ao passo que o masculino era R$ 774,

ou seja, o rendimento mensal de uma mulher correspondia a 65% do rendimento mensal

de um homem. Somam-se a isso o aumento do número de famílias chefiadas por

mulheres - e, consequentemente, dependentes da renda feminina -, e o persistente

analfabetismo entre os adultos no Brasil.

Com relação à chefia familiar, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD) aponta que entre 2001 e 2009 o percentual de famílias brasileiras chefiadas

por mulheres subiu aproximadamente de 27% para 35%. Em termos absolutos eram

quase 22 milhões de famílias que identificavam como principal responsável alguém do

sexo feminino (PNAD 2009 – Primeiras análises: Investigando a chefia feminina de

família). Esse crescimento foi verificado também em casas em que o marido estava

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presente. Das mulheres no papel de cônjuge, 73% ganhavam menos que seus maridos.

Com relação ao analfabetismo, em 2009 o Brasil possuía 14.104.984 de analfabetos,

9,7% da população. A taxa de analfabetismo entre as mulheres era de 9,6% e entre os

homens, 9,8%. É nesse cenário de urgência com relação às mulheres e ao mercado de

trabalho formal que o Programa Mulheres Mil é elaborado, em 2007, e replicado

nacionalmente, em 2011, significando, com isso, sua entrada na agenda dos governos

federais do Partido dos Trabalhadores (PT), marcadamente progressistas com relação às

políticas sociais, de modo geral, e àquelas destinadas às mulheres, de modo específico.

No que tange à sua execução, faz-se necessário que o município interessado

adira ao PMM via Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) ou órgão

correlato. A Rede Socioassistencial (RSA) local em parceria com a equipe

multidisciplinar do ofertante (Instituto Federal [IF]) mapeia os territórios e faz a busca

ativa das mulheres que almejam participar dos cursos. O acompanhamento das

participantes e seu percurso formativo deve ser realizado em conjunto entre a RSA e a

equipe técnica da unidade ofertante. A articulação com outras políticas públicas de

trabalho e emprego, ou de outras necessidades identificadas, é de responsabilidade dos

CRAS/SMAS. A sua implementação, porém, ganhou contornos distintos ao longo do

tempo.

Entre 2007 e 2011, por exemplo, o PMM era desenvolvido como projeto-piloto

na região nordeste com apoio técnico da cooperação internacional Brasil-Canadá. Os

financiadores e executores brasileiros foram à Agência Brasileira de Cooperação

(ABC), a SETEC/MEC e à Rede Norte/Nordeste de Educação Tecnológica. Os

canadenses, à Association of Canadian Community Colleges (ACCC), à Canadian

International Development Agency (CIDA) e às universidades canadenses. Ao Brasil,

nesse contexto, cabia o fornecimento de infraestrutura e equipes profissionais para o

desenvolvimento dos cursos, ao Canadá, a metodologia e capacitação das equipes.

Nesse período, o público-alvo do PMM eram mulheres nordestinas em situação de

vulnerabilidade social. Já em 2011, com a nacionalização do PMM, o programa tornou-

se responsabilidade da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

(SETEC/MEC). Tornaram-se instituições parceiras, em âmbito federal, a SPM-PR a

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o MDS e o Conselho

Nacional de Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica

(CONIF) (ALMEIDA, 2014). Ampliou-se o público-alvo, considerando as mulheres em

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situação de vulnerabilidade social, priorizando-se, contudo, àquelas que eram vítimas de

violência doméstica.

Em 2013, atendendo a pedidos dos IFs, o MEC vinculou o PMM ao Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC/MEC), sendo o

custeio da implementação do Programa garantido pela Bolsa Formação do

PRONATEC. A Bolsa garantia verba para todas as despesas de custeio de vagas

(mensalidades, material didático, encargos educacionais e fornecimento de alimentação

e transporte aos e às estudantes). No início de 2014, contudo, o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e o MEC firmaram parceria,

integrando o PMM ao PRONATEC no âmbito do Plano Brasil Sem Miséria

(Pronatec/BSM), cujo recorte mantinha-se específico para pessoas em situação de

vulnerabilidade social, ampliando-o, no entanto, àquelas mulheres que eram vítimas de

violência doméstica e/ou beneficiárias do PBF.

Em relação ao monitoramento do PMM, esse é realizado através do Sistema

Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC/MEC). O

SISTEC é alimentado pelas unidades de ensino ofertantes dos cursos, que fornecem

dados sobre os cursos que são disponibilizados, quantas mulheres foram/estão

matriculadas, sobre evasão, conclusão, desligamentos e trocas de curso. Não há,

contudo, campo para o preenchimento do quesito raça/cor. O programa, em nível

federal, dispõe de um amplo aparato para divulgação de informações pertinentes à sua

condução. Especificamente sobre a quantidade de mulheres formadas pelo PMM, pode-

se acessar os Relatórios Anuais de Avaliação do PPA, que estão disponíveis à

população via acesso on line e, também, um blog que fora produzido quando o

programa era ainda um projeto-piloto, no qual se encontram algumas publicações sobre

a política e o testemunho das participantes. Porém, em nível local, não foram

desenvolvidos muitos mecanismos de acompanhamento da implementação e, uma vez

que esses ficam a cargo dos municípios, ao contrário do que acontece com o BPC, são

pouco padronizados.

A título de resultados, a meta do PMM era de formar 100 mil mulheres de 2012

a 2014. Segundo o Relatório Anual de Avaliação do PPA 2012-2015 com ano-base

2014, o PMM tinha formado, até 31/12/2014, 75.064 mulheres em todo o território

nacional. Dados sobre a inserção ou não delas no mercado de trabalho e sobre o impacto

do programa nas suas vidas, na vida de suas família e comunidade - dimensões

também previstas nos objetivos do Programa - não foram encontrados.

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2.4 Políticas brasileiras de combate à pobreza: considerações à luz da matriz

analítica para identificar políticas justas à igualdade de gênero

Neste momento, retomamos as três políticas voltadas ao enfrentamento da

pobreza aqui apresentadas, com o objetivo de refletir sobre elas à luz da matriz analítica

desenvolvida por Benaventes e Valdes (2014) para identificar políticas públicas justas à

igualdade de gênero. Dessa forma, não obstante a complexidade e a peculiaridade de

cada uma das ações governamentais sobre as quais nos debruçamos, focaremos em

alguns pontos: i) interconexão com outras políticas; ii) interseccionalidade com outros

marcadores sociais; iii) transversalidade da SPM-PR e as políticas de enfrentamento à

pobreza por nós analisadas; iv) participação da sociedade civil; v) o conceito de

vulnerabilidade social que fundamenta cada uma dessas políticas; vi) os objetivos

relativos à justiça de gênero; vii) avaliação e produção de dados sobre essas políticas e,

por fim, viii) a aplicação dessa matriz às políticas de gênero que não tenham as

mulheres como foco.

No que diz respeito ao primeiro ponto - a interconexão entre o BPC, o PBF e o

PMM com outras políticas -, chamamos atenção para o fato de que, uma vez que essas

políticas, apesar de não se constituírem como ações governamentais universais,

possuem uma ampla cobertura e desenhos institucionais bastante complexos, não seria

possível implementá-las desconsiderando a existência de outras políticas - executadas

em âmbito municipal, estadual e federal - que, igualmente, visam garantir um vasto

leque de direitos. Compreendemos, portanto, que há uma clara tentativa do Estado

brasileiro no sentido de se estruturar enquanto promotor de bem-estar social, ainda que

atuando, preponderantemente, de maneira focalizada com relação à justiça

redistributiva. No caso do PMM, por exemplo, a existência de outras políticas de base

educacional (como Pronatec e IFs), foi imprescindível para sua viabilidade e

exequibilidade em território nacional.

Essa, no entanto, não é uma realidade para todas as dimensões em torno da

justiça e autonomia de gênero aqui abordadas. Há que se considerar, nesse sentido, que

não são feitas menções, nos documentos governamentais oficiais, à relação dessas

políticas com outras ações direcionadas a gênero, como àquelas de enfrentamento à

violência contra a mulher - situação vivida por muitas brasileiras e que, por sua

complexidade, exige respostas ancoradas nos mais diversos setores sociais e

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governamentais. A autonomia física, como se sabe, é condição necessária para uma vida

digna e essa só consta como elemento a ser considerado nas preferências de público-

alvo do PMM - mulheres vítimas de violência doméstica -, não havendo, contudo,

desdobramentos no que diz respeito à sua promoção por meio do encaminhamento à

políticas específicas. O que mostra a pouca articulação entre muitas dessas ações

governamentais, haja vista que a autonomia física, tal como promovida pela Lei Maria

da Penha (2006), constitui-se como um direito estendido a todas as mulheres devendo,

portanto, ser resguardado.

Considerando, ainda, o princípio da focalização como um importante aliado para

alcançar grupos minoritários, a falta de interseccionalidade entre essas políticas com

outros marcadores sociais, aponta para necessidade de prudência quanto aos seus

méritos. No contexto brasileiro, raça e/ou cor importa. Quando, a partir da noção de

gênero, observamos o cenário em torno das mulheres, são visíveis as diferenças entre

brancas e negras. Enquanto as mulheres negras têm os piores rendimentos, os piores

níveis de escolarização e são as que mais sofrem violência doméstica, sendo, por essa

razão, as que se encontram em maior situação de vulnerabilidade social, o PMM e o

PBF não prevêem produção de dados que considerem a categoria raça como um

instrumento para direcionar ações a esse contingente populacional. O PMM, embora

promova formação sobre direitos sociais, não toca na questão de raça e o BPC, por sua

vez, mesmo contando com bom nível de desagregação de dados, não permite verificar a

distribuição do benefício segundo essa categoria. Ao observamos a atuação pública

sobre as especificidades de outras etnias, o quadro tende a piorar. De forma, que são as

mulheres indígenas as mais vulneráveis dentre todas as brasileiras, sendo, igualmente,

as que menos têm direitos sociais garantidos pelo Estado, ainda que apareçam nos

PNPMs.

Constar como prioridade nos PNPMs não garante, portanto, a presença em

planos de outras áreas. Seguindo nessa linha, apontamos para a pouca formalização da

transversalidade entre a SPM-PR e as políticas aqui analisadas. A SPM-PR, ao longo de

sua existência, não angariou recursos financeiros e políticos suficientes para se fazer

presente e participar ativamente nas duas maiores políticas assistenciais do país - em

termos de volume de gasto e cobertura -, o BPC e o PBF. Possivelmente, pese, nesse

caso, o fato da SPM-PR ser um órgão que não conta com orçamento próprio, o que

inviabiliza seu potencial em termo de negociações interministeriais e intersetoriais.

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O quarto ponto que consideramos fundamental para compreender o

direcionamento das políticas em direção a justiça e equidade de gênero é a garantia de

participação da sociedade civil em seus processos decisórios. Essa é uma dimensão que,

ainda incipiente, parece ter sido mais intensa no momento da colocação das demandas

sociais na agenda política da CF/88, que resultaram, entre outras coisas, na formulação

da LOAS/1993 e na criação das bases legais necessárias à posterior formulação do

PMM e do PBF. Embora as Conferências de Políticas para as Mulheres, das quais os

PNPMs são o produto, contem com participação de mulheres nos níveis municipal,

estadual e federal, ela acaba ficando restrita à identificação de prioridades, o que não

garante participação na formulação da política. No entanto, com relação ao

monitoramento das políticas pela sociedade civil, o PBF é o que mais avança nesse

sentido, prevendo a participação social através dos Conselhos nos três níveis

federativos. Na prática, porém, essa participação ainda é frágil, principalmente nos

municípios, pois que as realidades locais no Brasil são muito díspares. Há aqueles,

portanto, em que a sociedade civil é bastante organizada e atuante, enquanto, em outros,

ela não chega a assumir um papel significativo.

Avançamos, pois, para o quinto ponto de nossa análise - o conceito de

vulnerabilidade social presente no BPC, no PBF e no PMM. Infelizmente, apesar da

amplitude do conceito de vulnerabilidade, no escopo das políticas aqui analisadas, esse

é considerado apenas como sinônimo de carência material. Há, no entanto, a dimensão

psico-social da vulnerabilidade que precisa ser considerada no desenho dessas políticas,

haja vista que o Brasil é o país com maior número de casos de depressão da América

Latina (5,8%) e com maior incidência de ansiedade do mundo (9,3%) (OMS, 2018),

sendo ambas as enfermidades mais significativas na população feminina. A título de

exemplo e em relação direta com uma das políticas aqui analisadas, apontamos para o

fato de que depressão e ansiedade foram identificadas como os principais empecilhos

para a conclusão dos cursos do PMM no município de Tubarão, em Santa

Catarina/Brasil. É importante, portanto, lembrar que muitas vezes - e principalmente na

população de baixa renda - o único tratamento é a medicalização, que pode não ser

adequada e não necessariamente prescrita por médico especialista nas Unidades Básicas

de Saúde - porta de entrada da população à garantia do direito universal e gratuito à

saúde. Assim, políticas focalizadas na vulnerabilidade social não podem prescindir da

questão psico-emocional.

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Em relação ao sexto ponto - objetivos relativos à justiça de gênero -, esses são

claramente explícitos apenas no PMM, política que tem as mulheres como público-alvo

e, também, aquela em que mais se verificou a presença da SPM-PR, mencionada em

documentos oficiais como parceira do MEC. O BPC, embora fundamental para a

autonomia econômica feminina e para que muitas famílias se mantenham acima da linha

da pobreza, não tem objetivos específicos para o público feminino. Enquanto o PBF,

por sua vez, mesmo sendo o maior programa social de transferência de renda, sendo as

mulheres mais de 90% das titulares do benefício, não possui objetivos relacionados

especificamente às mulheres e à autonomia econômica e empoderamento (Schwarzstein,

2017). As mulheres são mencionadas no escopo do programa enquanto mães e

responsáveis pelo cuidado familiar, o que pode reforçar a divisão sexual do trabalho

(Klein, 2003). Não queremos dizer, com isso, que o PBF impede o avanço da justiça

redistributiva de gênero - ou outra - e autonomia financeira das mulheres. Os dados

sobre o aumento do trabalho remunerado entre as beneficiárias indicam que são

possíveis mudanças nesse sentido. Porém, isso ocorre de forma não intencional, o que

demonstra que, dada a envergadura dessa política, poder-se-ia avançar muito na

dimensão de justiça e equidade de gênero tendo o PBF como aliado.

Quanto à avaliação e o monitoramento dessas políticas, é indiscutível que esses

instrumentos de gestão pesam muito sobre os CRAS, estruturas municipais ainda

fragilizadas. Isso, de modo geral, compromete o avanço e correções de rota nas

políticas. Ademais, apesar do avanço experimentado nos últimos anos em torno da

construção de dados e indicadores em torno das políticas brasileiras, é preciso qualificar

sua produção em termos qualitativos, permitindo, assim, estudos longitudinais sobre as

mulheres que são beneficiadas por políticas como as que analisamos aqui e,

possibilitando avaliações sobre a promoção da cidadania através dessas ações

governamentais. Com relação às estatísticas de gênero, por exemplo, a SPM-PR criou

em 2006 o Sistema Nacional de Informações de Gênero (SNIG), cujo objetivo era

produzir relatórios e sobre a situação das mulheres a partir dos censos do IBGE. Desde

2013, o IBGE seguindo recomendação das Nações Unidas desenvolve e realiza pesquisa

com um conjunto de indicadores de gênero, disponibilizando os bancos de dados, notas

técnicas e publicações no seu site. Não há, contudo,cruzamento entre esses indicadores

e as metas estabelecidas por políticas como o Mulheres Mil.

Por fim, e à guisa de conclusão, apontamos para a dificuldade de aplicar a matriz

analítica às políticas de gênero que não tenham mulheres como foco, como é o caso das

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políticas relacionadas a homens e cuidado, por exemplo. Os pontos levantados pela

matriz conduzem as análises para a consideração das mulheres como sujeitos-alvo de

políticas públicas e a sua colocação na esfera pública. Porém, dado que gênero é

categoria relacional, é necessário analisar, também, como os homens estão sendo

considerados nos processos com vistas à igualdade de gênero. Políticas que incentivam,

por exemplo, o cuidado paterno na esfera privada, contribuem para a reorganização da

divisão sexual do trabalho e se apresentam, consequentemente como uma questão

positiva à vida das mulheres. Talvez a pouca visibilidade de políticas desse tipo -

familiares e voltadas para o cuidado paterno e parental - seja reflexo das estratégias para

a igualdade de gênero latinoamericanas que, em comparação com as europeias, focam

menos nesse aspecto e mais nas políticas de oportunidades em âmbito público.

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Page 26: Documento para su presentación en el IX Congreso ... · Esses novos movimentos sociais possibilitaram a entrada na agenda política de pautas candentes na sociedade como saúde,

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Anexos

Quadro 1: Quadro comparativo da matriz de análise para identificar políticas justas de

igualdade de gênero

BPC PBF PMM

Fo

rmu

laçã

o d

a p

olí

tica

Ano de criação 1993.

Operacionalizaçã

o em 1996

2003 Nacionalizado

em 2011

Problema Desproteção

social de pessoas

impossibilitadas

de buscar a

provisão do seu

bem-estar no

mercado

Pobreza e

extrema pobreza

Brecha

econômica entre

homens e

mulheres e

analfabetismo na

população

feminina adulta

Objetivo Garantia de renda

mínima para

pessoas

impossibilitadas

de fazer uso da

sua força de

trabalho

Enfrentamento

da pobreza

intergeracional e

desenvolviment

o das famílias

em situação de

vulnerabilidade

econômica

Inserção e

permanência das

mulheres no

mercado de

trabalho e

diminuição da

taxa de

analfabetismo

entre mulheres

Desenho da

política

Focalizada -

redistributiva

Focalizada -

redistributiva

Focalizada -

redistributiva

Público-alvo Pessoas com

deficiência que

impossobilite o

trabalho a longo

prazo e idoso/a

com 65 anos ou

mais. Benefício

condicionado à

renda.

Famílias pobres

e extremamente

pobres

Mulheres em

situação de

vulnerabilidade

social e

preferencialment

e beneficiárias do

PBF

Operacionaliza

ção em nível

federal

Atores

governamentai

s envolvidos

Minstério do

Bem-estar Social

(equivalente,

hoje, ao MDS),

MTPS

SENARC MEC, MDS,

SPM-PR

Sociedade Civil Movimentos em

prol da pessoa

com deficiência,

idosos, feminista,

criança e

adolescente,

órgãos da

categoria dos/as

assistentes sociais

Conselhos de

Assistência

Social,

Educação e

Saúde

Organizações

Feministas

Órgão Federal

responsável

pela política

MDS MDS MEC

Orçamento FNAS/MDS Tesouro

Nacional/IGD

FUNDEB/MEC

Marco Legal Lei nº 8.742/1993

: Lei Orgânica da

Assistência

Social;

Lei n º

836/2004:

criação do

Programa Bolsa

Portaria nº 1.015,

de 2011

(instituição

nacional do

Page 27: Documento para su presentación en el IX Congreso ... · Esses novos movimentos sociais possibilitaram a entrada na agenda política de pautas candentes na sociedade como saúde,

27

Lei 10.741/2003 :

Estatuto do Idoso;

Lei nº

13.146/2015:

Estatuto da

Pessoa com

Deficiência;

Família Programa

Mulheres Mil);

Portaria MEC nº

168/2013 (dispõe

sobre a oferta da

Bolsa-Formação

no âmbito do

Programa

Nacional de

Acesso ao Ensino

Técnico e

Emprego

[Pronatec]);

Plano Brasil Sem

Miséria/MDS;

Plano Nacional

de Educação

(PNE); Plano

Plurianual

Federal (PPA

2012/2015); III

PNPM

Imp

lem

enta

ção

da

po

líti

ca

Operacionalizaç

ão em nível

federal

Atores

governamentai

s envolvidos

MDS, MTPS Conselho Gestor

Interministerial,

CEF, MS, MEC,

MDS

MEC e MDS

Sociedade Civil Não prevê Conselho

Nacional de

Assistência

Social

não prevê

Operacionalizaç

ão em nível

municipal

Atores

governamentai

s envolvidos

Rede de

Assistência Social

,Coordenadorias

ou Secretarias

Municipais da

Pessoa com

Deficiência, do

Idoso e das

Mulheres

(participação e

existência sujeita

aos arranjos

institucionais do

município).

Secretarias

Municipais de

Educação,

Saúde e

Assistência

Social; Rede de

Educação, de

Saúde e

Assistência

Social

Rede de

Assistência

Social, IFs.

Coordenadoria

ou Secretaria

Municipal das

Mulheres

(participação e

existência sujeita

aos arranjos

institucionais do

município)

Sociedade Civil Não prevê Conselhos

Municipais de

Educação,

Saúde e

Assistência

Social; Rede de

Proteção

Socioassistencia

l não

governamental

Não prevê

Mo

nit

ora

me

nto

e

av

ali

açã

o d

a

po

a

Produção e

divulgação de

informações

Programa

Nacional de

Monitoramento e

Avaliação do

BPC/MDS em

parceria com o

Relatório de

Informação

Social/MDS

SISTEC/MEC

(dados não

públicos),

Relatórios

Anuais de

Avaliação dos

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INSS/MTPS PPAS (dados

públicos)

Resultados

alcançados pela

política

1.095.528

mulheres com

deficiência física

e 2.219.770

idosas recebiam o

benefício em

2015

Todos os meses

são pagos mais

de R$ 2,4

bilhões para

cerca de 13,8

milhões de

famílias

75.064 mulheres

formadas em

todo o território

nacional