do romantismo ao 1920) · do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em...

55
Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade de Letras de Lisboa)

Upload: others

Post on 16-Feb-2020

19 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Do romantismo aomodernismo: a taxinomialiterária e o romance emPortugal e no Brasil (da

década de 1830 aos anos1920)

João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdadede Letras de Lisboa)

Page 2: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Estrutura

PARTE I (no Powerpoint)Introducão (taxinomia e periodizacão consagradas em histórias da literatura de referência;

metodologia da apresentacão)• 1. Romantismo• 2. Realismo e naturalismo• 3. Simbolismo-decadentismo• 4. Modernismo

• PARTE II (sem Powerpoint)• Como classificar as obras?• Casos de taxinomia híbrida• O caso de obras (quase) literalmente apagadas do arquivo

Page 3: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 4: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 5: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

https://books.google.pt/books?id=xcQYSXj0xN0C&pg=PA225&lpg=PA225&dq=romance+simbolista+portugal&source=bl&ots=mwf14fX1Er&sig=ACfU3U2EJ6yegY1lMgHzsaZmeYOB2t69NQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwjtpajtp4riAhX3D2MBHVWMC0AQ6AEwAXoECAkQAQ#v=onepage&q=romance%20simbolista%20portugal&f=false

Page 6: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

IV. O ROMANTISMO

Caracteres gerais, 91. A situação dos vários romantismos, 91. Temas, 93. O nível estético, 96. O Romantismo oficial no Brasil. Gonçalves de Magalhães, 97. Porto Alegre, 99. A historiografia, 100. Teixeira e Sousa, 101. A poesia. Gonçalves Dias, 104. O romantismo egótico: a 2* geração, 109. Álvares dé Aze vedo, 110. Junqueira Freire, 113. Laurindo Rabelo, 114. Casimiro de Abreu, 115. Epígonos, 117. Varela, 118. Castro Alves, 120. “Condores”, 124. Sousândrade, 125. A ficção, 126. Macedo, 130. Manuel Antônio de Almeida, 132. Alencar, 134. Sertanistas: Bernardo Guimarães, Taunay, Távora, 140. O teatro, 147. Martins Pena, 147. Gonçalves Dias, 151. Alencar, 152. Agrário de Meneses. Paulo Eiró, 153. A consciência histórica e crítica, 154. Tradicionalismo, 155. Radicalismo, 157. Permanência da Ilustração. J. Francisco Lisboa, 158.

V. O REALISMO

Um novo ideário, 163. A ficção, 169. Machado de Assis, 174. Raul Pompéia, 183. Aluísio Azevedo e os principais naturalistas, 187. Inglês de Sousa, 192. Adol fo Caminha, 193. O Naturalismo e a inspiração regional, 194. Manuel de Oliveira Paiva, 195. Naturalismo estilizado: “art nouveau”, 196. Coelho Neto, 198. Afrânio Peixoto, 205. Xavier Marques, 206. O regionalismo como programa, 207. Afonso Arinos, 209. Valdomiro Silveira, 211. Simões Lopes Neto, 212. Al cides Maya, 214. Hugo de Carvalho Ramos, 215. Monteiro Lobato, 215. A Poesia, 217. O Parnasianismo, 219, Alberto de Oliveira, 220. Raimundo Correia, 223. Olavo Bilac, 226. Outros parnasianos, 229. Francisca Júlia, 229. Artur Azevedo, 230. Vicente de Carvalho, 232. Neoparnasianos, 234. Raul de Leoni, 236. Teatro, 239. Artur Azevedo, 239. Machado de Assis, 242. Qorpo-Santo, Um corpo es tranho, 244. A consciência histórica e crítica, 245. Capistrano de Abreu, 246. Sílvio Romero, 248. Araripe Jr., 251. José Veríssimo, 252. As letras como instrumento de ação, 255. Rui Barbosa, 256.

VI. O SIMBOLISMO

Caracteres gerais, 263. O Simbolismo no Brasil, 267. Poesia. Antes dos “Broquéis”, 270. Cruz e Sousa, 270. Alphonsus de Guimaraens, 278. A difusão do Simbolismo, 281. Augusto dos Anjos, 287. A prosa de ficção, 292. O pensamento crítico, 295. O Simbolismo e o “renouveau catholique”, 297. Farias Brito, 298.

VII. PRÉ-MODERNISMO E MODERNISMO

Pressupostos históricos, 303. Pré-modemismo, 306. Euclides da Cunha, 307. O pensamento social, 312. Um crítico independente: João Ribeiro, 314. O romance so cial: Lima Barreto, 316. Um espirito aberto: Graça Aranha 324. O Modernismo: um clima estético e psicológico, 331.0 Modernismo: a “Semana”, 337. Desdobramentos: da Semana ao Modernismo, 340. Grupos modernistas nos Estados, 344. Os Autores e as Obras, 345. Mário de Andrade, 346. Oswald de Andrade, 355. Manuel Bandeira, 360. Cassiano Ricardo, 365. Menotti dei Picchia, 367. Raul Bopp, 369. Plínio Salgado, 370. Guilherme de Almeida, 371. O prosador do Modernismo paulista: Alcântara Machado, 374. Dois ensaístas: Sérgio Milliet e Paulo Prado, 375.

VIII. TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS O Modernismo e o Brasil depois de 30, 383. Dependência e superação, 385. Dois momentos, 385. A ficção, 388. As trilhas do romance: uma hipótese de trabalho, 390. José Américo de Almeida, 395. Raquel de Queirós,

Page 7: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Hannoosh, M. (2011). Romanticism: Art, literature, and history. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 450-460). Cambridge: Cambridge University Press

Lucey, M. (2011). Realism. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 461-470). Cambridge: Cambridge University Press.

McGuinness, P. (2011). Symbolism. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 479-487)

White, N. (2011). Naturalism. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 522-530)

Lethbridge, R. (2011). Impressionism: Art, literature, and history, 1870–1914. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature(pp. 531-540).

Thompson, H. (2011). Decadence. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 541-548)

Conley, K. (2011). Avant-garde: Text and image. In W. Burgwinkle, N. Hammond, & E. Wilson (Eds.), The Cambridge History of French Literature (pp. 549-557).

Page 8: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Metodologia da apresentacão

Síntese cronológica

Fixacão do conceito do movimento-escola na história da literatura

Textos doutrinários do movimento-escola ao tempo da sua formacão

Práticas textuais nas obras do movimento-escola

Resumo das características (genéricas, narrador, accão, tempo, espaco, linguagem…)

Page 9: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

1. Romantismo

Page 10: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

CRONOLOGIA

Década de 1790 a 1830

Início e consolidacão do romantismo na Alemanha, na Inglaterra e na Franca;

Sturm und drang alemão;

Voga do romance histórico popularizada pelo romancista Walter Scott (Ivanhoe, 1819):

Hernani, de Victor Hugo (1830).

Anos 1830-1850

Desenvolvimento dos primeiros movimentos do Romantismo em Portugal e no Brasil;

Comeco da vaga de romances históricos em Portugal, desde os de Herculano e Garrett a autores menores como Rebelo da Silva ou Andrade Corvo

1844

Alexandre Herculano publica Eurico, o presbitero

Joaquim Manuel de Macedo publica o romance A MORENINHA

Page 11: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

1845

Almeida Garrett publica O arco de Sant’Ana

1847

Almeida Garrett publica Viagens na minha terra

1857

O Guarani, romance indianista de José de Alencar

1862

Camilo Castelo Branco, Amor de perdicão

1867

José de Alencar publica o romance indianista IRACEMA

Page 12: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 13: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 14: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 15: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 16: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 17: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 18: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 19: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 20: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

- desalinho formal contra as regras clássicas ou outras - individualidade e originalidade - autenticidade emocional - Imaginacão acentuada - exarcebacão do sentimento e melodramatismo - ideologia quer democrática e progressiva quer

reaccionária e conservadora - medievalismo - indianismo - fundacão da nacionalidade e nacionalismo - exotismo - horror - sub-géneros (romance histórico, indianista, gótico, de

aventuras, cor-de-rosa…) - tendência para o narrador em primeira pessoa

(autodiegético), mas também acolhe o narrador em terceira pessoa e heterodiegético

- interlocucao do narrador com os leitores - accão marcada por aventuras e entrecortada por lances

inesperados, fantásticos, dramáticos e\ou sublimes - tendência para diegeses cujo tempo se situa na Idade

Média ou no passado, embora haja igualmente narrativas localizadas na contemporaneidade

- espacos variados, desde as urbes burguesas a lugares campestres e exóticos

- Estilo retórico e empolado com adjectivacao e adverbializacao constantes

- léxico e sintaxe menos distanciados da linguagem corrente na esfera burguesa, mas sem demasiada aproximacão à oralidade popular

Page 21: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

2. Realismo e naturalismo

Page 22: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 23: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 24: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

• O escritor Álvares de Azevedo, embora ultra-romântico, escrevia estaslúcidas linhas no drama Macário: “Falam nos gemidos da noite no sertão, nas tradições das raças perdidas das florestas, nas torrentes das serranias, como se lá tivessem dormido ao menos uma noite […]. Mentidos! Tudo issolhes veio à mente lendo as páginas de algum viajante que esqueceu-se talvez de contar que nos mangues e nas águas do Amazonas e do Orenocohá mais mosquitos e sezões do que inspiração: que na floresta há insetosrepulsivos, répteis imundos, que a pele furta-cor do tigre não tem o perfume das flores—que tudo isto é sublime nos livros mas é soberanamente desagradável na realidade.”

• P. 94-5 da hclp (Eca, Conferencias do casino)

Page 25: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 26: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 27: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 28: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 29: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 30: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 31: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 32: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 33: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

- aversão ao idealismo e à imaginacão dominantes no romantismo

- ideologia positivista, predomínio da razão e confianca na ciência

- foco na observacão, no facto e no documento

- forte crítica social e de costumes

- intuitos pedagógicos e profilácticos (sobretudo acentuados no naturalismo)

- predileccão por temas como o adultério, o sacedórcio, a educacão romântica ou religiosa, alcoolismo, a prostituicão, a loucura ou a homosexualidade, entendidos como patologias sociais ou fisiológicas a corrigir

- possível tipologia ou sub-géneros (realismo urbano, realismo psicológico, romance de família, romance cíclico, romance de aprendizagem, romance fisiológico…)

- predomínio acentuado do narrador em terceira pessoa, heterodiegético, omnisciente e supostamente imparcial (sobretudo no naturalismo), mas havendo também outros tipos de narrador que podem chegar aos de primeira pessoa e homodiegéticos no realismo

- accão menos permeável às aventuras e aos excessos da intriga no romantismo: maior concentracão no trivial e no linear

- foco no tempo contemporâneo

- predomínio do espaco urbano e dos meandros burgueses, mas alargando-se às camadas populares (sobretudo no naturalismo)

- recusa do estilo retórico e empolado do romantismo; estilo mais direto e conciso

- vocabulário menos prolixo e mais próximo dos meandros burgueses, embora tendendo ao uso de linguagem técnico-científica retirada da medicina ou outras disciplinas (sobretudo no naturalismo)

- exacerbacão do método e da tese científica no âmbito do romance naturalista mais ortodoxo

Page 34: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

3. Simbolismo-

decadentismo

Page 35: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Década de 1870

Entre outras, as obras de Nietzsche e o livro Da contingência nas leis da natureza, de Émile Boutroux, traduzem a desconfianca na ciência, na razão e no progresso

1884

Huysmans, escritor frances que fazia parte do círculo naturalista de Zola, publica o romance A rebours (Ao revés), no qual se destaca o herói decadentista Des Esseintes

1886

Manifesto Simbolista de Jean Moréas, publicado em 1886, no jornal Le Figaro

1889

Bergson publica o livro Ensaio Sobre os Dados Imediatos da Consciência, valorizando a intuicão, a imaginacão e o tempo psicológico

Década de1890

Oaristos, de Eugénio de Castro, o primeiro livro de poesia simbolo-decadentista em Portugal;

Broquéis, de Cruz e Sousa, sai em 1893 e constitui um marco do simbolismo no Brasil;

Publicacão de revistas e livros de ficcão de índole simbolista e\ou decadentista em Portugal, de entre os quais se destaca História de um palhaco, de Raul Brandão. (1895):

Eca publica o ensaio Idealismo e positivismo num jornal carioca, em 1893

Décadas de 1900 e 1910

Livros de prosa simbolista e\ou decadentista publicados em Portugal e no Brasil, com destaque para os romances Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro (1912), e Húmus, de Raul Brandão (1917)

Page 36: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

https://books.google.pt/books?id=xcQYSXj0xN0C&pg=PA225&lpg=PA225&dq=romance+simbolista+portugal&source=bl&ots=mwf14fX1Er&sig=ACfU3U2EJ6yegY1lMgHzsaZmeYOB2t69NQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwjtpajtp4riAhX3D2MBHVWMC0AQ6AEwAXoECAkQAQ#v=onepage&q=romance%20simbolista%20portugal&f=false

Page 37: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

Em literatura, estamos assistindo ao descrédito do naturalismo. O romance experimental, de observaçãopositiva, todo estabelecido sobre documentos, findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria), e o próprio mestre donaturalismo, Zola, é cada dia mais épico, à velha maneira de Homero. A simpatia, o favor, vão todos para o romance deimaginação, de psicologia sentimental ou humorista, de ressurreição arqueológica (e pré-histórica!) e até de capa eespada, com maravilhosos embróglios, como nos robustos tempos de d’Artagnan.

Quais são as causas, quais as conseqüências desta revolta? A causa é patente, está toda no modo brutal erigoroso com que o positivismo científico tratou a imaginação, que é uma tão inseparável e legítima companheira dohomem, como a razão. O homem desde todos os tempos tem tido (se me permitem renovar esta alegoria neoplatônica)duas esposas, a razão e a imaginação, que são ambas ciumentas e exigentes. [...] O positivismo científico, porém,considerou a imaginação como uma concubina comprometedora, de quem urgia separar o homem; - e, apenas se apossoudele, expulsou duramente a pobre e gentil imaginação, fechou o homem num laboratório a sós com a sua esposa clara efria, a razão. O resultado foi que o homem recomeçou a aborrecer-se monumentalmente e a suspirar por aquela outracompanheira tão alegre, tão inventiva, tão cheia de graça e de luminosos ímpetos, que de longe lhe acenava ainda, lheapontava para os céus da poesia e da metafísica, onde ambos tinham tentado vôos tão deslumbrantes.

Mas tudo isto são temerosas questões. Descendo delas, mais especialmente para este renascimento espiritual,este nevoeiro místico que em França e em Inglaterra está lentamente envolvendo a literatura e a arte, eu penso que eleserá benéfico –benéfico como todos os nevoeiros, repassados de fecundo orvalho e donde as flores emergem com maisviço, mais cor, mais graça e mais doçura de aroma. Nunca mais ninguém, é certo, tendo fixo sobre si o olho rutilante eirônico da ciência, ousaráacreditar que, das feridas que o cilício abria sobre o corpo de S. Francisco de Assis,brotavamrosas de divina fragrância. Mas também, nunca mais ninguém, com medoda ciência e das repreensões da fisiologia,duvidará em ir respirar, pela imaginação,e se for possível colher, as rosas brotadas do sangue do santo incomparável.E istoé para nós, fazedores de prosa ou de verso, um positivo lucro e um grande alívio.(Eca de Queiroz, Positivismo e idealismo, 1893)

Page 38: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

P. 2, coveiro, cova….aliteracaoP. 132 sinestesia…visao, audicao, tacto

Page 39: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

“Singulares criaturas devem nascer por este fim de século, em que a metafísica de novo predomina e a asa do Sonho outra vez toca os espíritos, deixando-os alheados e absortos. A necessidade do Desconhecido de novo se estabelece. A Ciência, que por vezes arrastara a Humanidade, que a supunha capaz de ir até ao fim – bateu num grande muro e parou. Que importa o princípio e o fim? Ora é exatamente o princípio e o fim que importam. O caminho é estéril, seco e aborrecido. Para lá do muro é que está a Verdade e o Belo – Deus” (Brandão, 1896, p. 138-139)

Page 40: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 41: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 42: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

• impugnacão do positivismo, desvalorizacão da razão e relativismo da ciência

• arte pela arte e estetizacão da vida

• valorizacão da imaginacão, do sonho, da religião e do misticismo

• Importâcia dos símbolos, dasimagens e das analogias

• prioridade para os meandros do intimismo e da psicologia

• desconfianca face ao progresso, sentimento de decadência, pessimismo, tédio, narcisismo e niilismo

• dandismo e diletantismo

• instabilidade genológica• prosa poética, ritmo e retorno

periódico

• sinestesia, diálogo com as artes plásticas e com a música

• domínio do narrador em primeira pessoa (auto ou homo-diegético) e subjectividade

• Dinâmica de diluicão, circularidade e retardamento da accão

• Diluicão do tempo cronológico e linear; importância do tempo psicológico

• Esbatimento frequente do espaco físico e social, sendorecorrentes as atmosferaspoentes, nebulosas, efabuladase indefinidas

• Linguagem rara, escolhida e elevada, com termos recolhidosda heráldica, da ourivesaria oude outros saberes e artes

Page 43: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

4. Modernismo

Page 44: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

1909

O Manifesto Futurista é publicado por Marinetti no kornal Le Figaro

1910

"Mafarka il futurista", romance africano, sai em Paris

1912

Manifesto tecnico da literatura, de Marinetti.

1913

Marcel Proust publica Du cotê de chez Swan, primeiro volume de À la recherche du temps perdu

1915

A revista Orpheu marca o início do modernismo em Portugal

1917

Sai a revista Portugal Futurista, cujo primeiro e único número é imediatamente apreendido pela polícia. A revista continha a ficcão modernista Saltimbancos, de Almada Negreiros;

Almada Negreiros, publica as novelas A Engomadeira e K4 O Quadrado Azul

1922

Em fevereiro, a Semana de Arte Moderna realiza-se em São Paulo, marcando o comeco do modernismo brasileiro

James Joyce publica Ulysses

1924

Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, torna+se um marco do romance modernista no Brasil

Segunda metade dos anos 20

São publicados diversos livros de ficcão modernista noem Portugal e no Brasil, entre os quais se destaca Macunaima, de Mário de Andrade

Ler Bosi 332-3

Page 45: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 46: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 47: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 48: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 49: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 50: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 51: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

• Torna-se lógico que o estilo dos escritores acompanhe a evolução emocionaldos surtos humanos. Se no meu foro interior, um velho sentimentalismoracial vibra ainda nas doces cordas alexandrinas de Bilac e Vicente de Carvalho, não posso deixar de reconhecer o direito sagrado das inovações, mesmo quando elas ameaçam espedaçar nas suas mãos hercúleas o ouroargamassado pela idade parnasiana. VAE VICTIS! Esperemos com calma os frutos dessa nova revolução que nos apresenta pela primeira vez o estilotelegráfico e a metáfora lancinante.

• Quanto à glótica de João Miramar, à parte alguns lamentáveis abusos, eu a aprovo sem, contudo, adotá-la nem aconselhá-la. Será esse o Brasileiro do Século XXI? Foi como ele a justificou, ante minhas reticências críticas. O fatoé que o trabalho de plasma de uma língua modernista nascida da mistura do português com as contribuições das outras línguas imigradas entre nós e contudo tendendo paradoxalmente para uma construção de simplicidadelatina, não deixa de ser interessante e original. A uma coisa apenas oponholegítimos embargos — é à violação das regras comuns da pontuação

Page 52: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

• 2. ÉDEN • A cidade de São Paulo na América do Sul não era um livro que tinha cara de

bichos esquisitos e animais de história. • Apenas nas noites dos verões dos serões de grilos armavam campo

aviatório com os berros do invencível São Bento as baratas torvas da sala de jantar.

• 3 . GARE DO INFINITO • Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro

ficava esperando no jardim. Levaram-me para uma casa velha que faziadoces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira najanela.

• No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscarpara a reza do Anjo que carregou meu pai.

Page 53: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

52. INDIFERENÇA

Montmartre

E os moinhos do frio

As escadas atiram almas ao jazz de pernas nuas

Meus olhos vão buscando lembranças

Como gravatas achadas

Nostalgias brasileiras

São moscas na sopa de meus itinerários

São Paulo de bondes amarelos

104. CARTÃO POSTAL

"De passeio em Pôrto-Fino na Itália, de barca a gasolina, saúdovos. Nair."

147. O ANTÍPODA

"Sr. Dr. Joãozinho

Nós aqui estamos satisfeito por saber que vão todos bem nós aqui vamos indo Regular o Dito da Belmira está muito crescido e experto, moram agora na cedade. Nós estamos só aqui e eu vou moral na Estação. Comprei um lote de terra de Sociedade e vou fazer uma casa para moral. Desponha

do Amigo que lhe estima

Minão da Silva."

156. BATEM SINOS POR D. CÉLIA

"Faleceu anteontem, na fazenda dos Bambus, comarca de Pindobaville, na juvenil idade de 28 anos, sucumbido a uma terrível peneumonia, a Exma. Sra. D. Célia Cornélia da Cunha. A extinta que era filha do saudoso paulista Coronel Belarmino Elesbão Arruda da Cunha e da falecida Sra. Condessa Gabriela Chelinini, foi sempre figura de relevo na nossa sociedade e primava por seus dotes de espírito e coração, sendo muito estimada no largo círculo de suas relações. Era cunhada do distinto capitalista carioca Sr. Carlos Bretas, irmã do Sr. José Elesbão da Cunha, comerciante em Antuérpia, das Sras. D. Nair da Cunha Bretas e D. Maria dos Anjos da Cunha Meireles e prima do nosso eloqüente confrade e ilustre geógrafo, Dr. Pôncio Pilatos da Glória. Foram baldados todos os recursos da ciência médica para. salvá-la. Pêsames à distinta família enlutada,"

Page 54: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade
Page 55: Do romantismo ao 1920) · Do romantismo ao modernismo: a taxinomia literária e o romance em Portugal e no Brasil (da década de 1830 aos anos 1920) João Marques Lopes (CLEPUL-Faculdade

- acento na recusa do passado estético-literário - optimismo quanto ao progresso industrial, técnico e

científico - valorizacão da vida nas grandes cidades com a aceleracão

do trânsito automóvel, dos estímulos audio-visuais e das indústrias pesadas e de ponta

- revolucão estrutural da poesia e da prosa (a forma dos romances e das novelas incorpora a fragmentacão extrema, técnicas como a colagem, o recurso a renovacões tipográficas na página e no corpo dos textos…)

- instabilidade genológica, havendo tendência a fusões entre conto, novela, romance, prosa e poesia

- primitivismo, neo-indianismo e anti-colonialismo (no caso do Brasil)

- tendência ao sintetismo - mistura do alto e do baixo no universo cultural, social e

linguístico - instabilidade do narrador - tendência acentuada para a perda do sentido e da

linearidade da accão, muitas vezes diluída pela forma tortuosa ou fragmentária da narracão

- predomínio da contemporaneidade e favorecimento do tempo não-linear e psicológico

- instabilidade e transmutacões dos espacos físicos e sociais, havendo influência acentuada do espaco psicológico nalgumas obras

- revolucão da linguagem com uma oralizacão próxima da fala popular, com o desrespeito da sintaxe (casos de ausência total de pontuacão) e com o recurso aos carateres tipográficos ou a outros recursos para quebrar a homogeneidade da escrita