disserta o de mestrado a emiss o em ondas de r dio de sgra · perdeste o senso! e eu vos direi, no...
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A Emissão em Ondas de Rádio de SgrA*
Pedro Paulo Bonetti Beaklini
Orientadora: Profa. Dra. Zulema Abraham
Dissertação apresentada à UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
como requisito parcial para a obtenção do grau de MESTRE EM
CIÊNCIAS (ÁREA: ASTRONOMIA)
OUTUBRO DE 2008
ii
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso! E eu vos direi, no
entanto,Que, para ouví-las, muita vez
despertoE abro a janela, pálido de
espanto.”
Olavo Bilac
iv
Agradecimentos
Pelas discussões, paciência e incentivo, agradeço a Profa. Dra. Zulema Abraham,
que com excelente orientação contribuiu para o meu aprendizado, amadurecimento científico
e desenvolvimento deste trabalho.
Pela contribuição nos métodos estatísticos e aulas particulares extras, dadas no
momento em que começava no mestrado, agradeço ao Dr.o Anderson Caproni, com o qual
tive a felicidade de dividir a sala por um curto período.
Pela contribuição a melhoras na minha escrita, agradeço aos colegas Márcio Avellar
e Tatiana Laganá, que muito me auxiliaram com sugestões e críticas, além de terem ajudado
enormemente para que eu nunca perdesse a minha motivação, nem nos momentos mais
difíceis. Pelo auxílio ao uso de computadores e métodos estatísticos, agradeço ao Mairan
Teodoro e Oscar Cavicchia, além da Márcia e Rafael Leão pelos diferentes debates sobre
estatística, matemática, física e astronomia.
Agradeço a todos no Radiotelescópio do Itapetinga e da secretaria de astronomia e
da Pós-Graduação, em especial, a Marina Freitas, por nunca ter me esquecido em nenhum
ônibus e pelas conversas durante a manhã, sempre em que chegava de Curitiba. Agrdeço
também as agências CAPES, CNPq e FAPESP, pelas diferentes formas de financiamento
que permetiu com que a pesquisa fosse realizada.
Como todo trabalho depende de estabilidade emocional, agradeço ao meu tio,
Ronaldo Beaklini, que cumpriu com louvor o papel de padrinho, mesmo preferindo o caminho
do concurso à pós-graduação, sempre me apoiou, sabendo respeitar minhas opiniões. Da
mesma forma, agradeço todos os meus familiares, com destaque a minha avó Glória
Beaklini, e ao meu primo, o Prof o.Dr.o Alexandre José da Silva, sem eles, nunca teria
começado um mestrado.
Por todos os motivos já citados, além da amizade, compreensão e muito mais,
agradeço, às minhas amigas Pamela Piovezan e Graziela Keller, aos meus quase irmãos
Rodrigo Vieira e Patríca Cruz Gamba , e ao meu querido colega de sala, que me ajudou mais
do que eu merecia, Tiago Vechi Ricci. Sem vocês, São Paulo seria uma cidade muito triste.
Por fim, não há palavras que possam agradecer, ou mesmo descrever, todo o
auxílio, amor e compreensão que recebi de minha namorada, Emanuelle Fernanda Sotoski,
não só durante o mestrado, mas em todo o período acadêmico. Agradeço não só os
sentimentos, mas todas as conversas e atitudes, que envolve debates sobre física quântica e
teatro francês, até poesia e romantismo ao som da música popular brasileira.
E, como não poderia faltar, agradeço a minha mãe Maria Constança Bonetti Beaklini
e ao meu irmão Rodrigo Bonetti Beaklini, pela convivência, carinho, orgulho e apoio
financeiro dado em todos esses anos e ao meu falecido pai, Ricardo Beaklini, depois de uma
década, agradeço por ter me dado os ideias e princípios com os quais sigo até hoje. Espero
ser metade do que você foi em vida e lamento não lhe ter ao meu lado, me aconselhando,
me ajudando e me amando.
v
Resumo
SgrA* é uma rádio fonte compacta, com raio menor que 1 UA. Sua posição coincide com a
localização do centro dinâmico de um aglomerado de estrelas girando em torno do buraco
negro de massa da ordem de 4 milhões de massas solares no centro da nossa galáxia.
SgrA* está embebida em um complexo de regiões HII, de morfologia complicada, conhecido
como SgrA. Variabilidade em sua emissão foi observada em diferentes comprimentosde
onda, como ondas de rádio, infravermelho e raios-X, em escalas de tempo de horas até
meses. Observações recentes utilizando técnicas interferométricas reportaram uma
periodicidade na curva de luz em ondas de rádio. Neste trabalho é apresentado o resultado
de observações em 43 GHz realizadas com o Radiotelescópio do Itapetinga, localizado no
munípio de Atibaia com o objetivo de detectar a variabilidade e verificar a suposta
periodicidade. As medidas forão realizadas intercalando observações da fonte Sgr B2, uma
região HII muito próxima de SgrA*, a fim de, por comparação, eliminar efeitos de
variabilidade externos à fonte principal. A curva de luz apresentada é compatível com as
observações já existententes na literatura, confirmando o aumento da variabilidade com a
freqüência. Em particular, foi encontrado a variabilidade em escalas de tempo de um dia,
compatível com o que vem sido observado em 7 mm utilizando técncias de VLBI. A suposta
periodicidade de 106 dias não foi encontrada utilizando o método estatístico de Jurkevich,
que indicou a existência de um período de 90 dias, porém, as observações em 7 mm
moduladas em períodos de 106 dias obtiveram um comportamento semelhante ao das
observações em 1.3 cm. Considerando que as observações em 7 mm não cobrem todas as
partes do ciclo, tanto para o período de 90 como para o período de 106 dias são necessárias
mais observações para confirmar a suposta periodicidade.
vi
Abstract
SgrA* is a compact radio source, with radius smaller than 1 AU. Its position is coincident with
the dynamic center of a star cluster that orbits the 4 million solar mass supermassive black
hole found in the center of the Milk Way. SgrA* is surrounded by a complex of HII regions,
with complex morphology, named SgrA. The variability of the SgrA* emission was observed
at different wavelengths, as radio, infrared and X-rays, with timescales that range from hours
to months. Recent observations using interferometric techniques have detected a quasi-
periodicity in the radio light curve from SgrA*. In our work, we present the result of 43 GHz
observations obtained with the Itapetinga radiotelescope, located in Atibaia, which aimed to
detect this variability and verify the existence of a periodicity. Sgr B2, an HII complex near
SgrA*, was used as a calibrator to eliminate any extrinsic variability. The obtained light curve
is consistent with previous results reported in the literature, confirming the increase in the
amplitude of the variability with frequency. Particularly, daily variability was found that is
compatible with what was reported at 7 mm using VLBI techniques. The expected 106 days
periodicity was not found in our data by the Jurkevich statistic method, which instead
indicated the existence of a 90 day period. However, the superposition of the 7 mm data on a
106 day look similar to what was found from the 1.3 cm observations. Considering that the
observations at 7 mm do not cover all the phases in the full cycle, more observations are
needed to confirm the existence of a periodicity in the light curve.
vii
Índice
Resumo v
Abstract vi
Índice vii
Capítulo 1
Introdução 1
Capítulo 2
As Características Observacionais de SgrA* 4
2.1 O Centro Galáctico 4
2.2 Massa, Posição e Movimento Próprio de SgrA* 8
2.3 Observações em ondas de rádio em SgrA* 13
2.3.1 O espectro em ondas de rádio de SgrA* 13
2.3.2 O tamanho intrínseco SgrA* em ondas de rádio 15
2.3.3 A Variabilidade em Ondas de rádio 17
2.4 Observações de SgrA* no infravermelho e em raios-X 21
Capítulo 3
A origem da emissão de SgrA* 24
3.1 Acresção quase-esférica em SgrA* 24
3.2 ADAF e RIAF 29
3.3. Modelos de Jato 33
3.4 Modelo de Halo 37
Capítulo 4
Observações em ondas de rádio 42
4.1 O Radiotelescópio do Itapetinga 42
4.2 Receptores de Radiação 44
4.3 Métodos de Observação 46
4.4 Calibrações 48
viii
Capítulo 5
Procedimento Observacional e Resultados 51
5.1 Observações e Redução de dados de SgrA* 51
5.2 Resultados e Discussão 63
5.2.1O teste de Kolmogorov-Smirnov 68
5.2.2 Método de Jurkevich 72
5.3 Observações de Sgr B2 76
Capítulo 6
Conclusões 81
Capítulo 7
Referências Bibliográficas 84
1
Capítulo 1
Introdução
O centro da nossa galáxia apresenta uma superposição de rádio fontes térmicas,
emitindo através do processo bremsstrahlung, e não térmicas, emitindo radiação synchrotron
(Melia & Falcke 2001). Uma destas fontes é SgrA* (Balick & Brown 1974), associada com o
buraco negro supermassivo (~106 M�) localizado no centro dinâmico da galáxia (Melia & Falcke
2001, Broderick & Narayan 2006). A coincidência entre eles foi medida com precisão de 10
mas de arco (0.07 pc), através da posição de SgrA* relativa a uma fonte maser de SiO
presente numa estrela visível também no infravermelho (Mentel et al. 1997; Reid et al. 2003a).
A existência de buracos negros supermassivos, com massas entre 107 e 109 M�, é bem
conhecida nos núcleos ativos de galáxias (AGN’s), (Shields 1999). Ao contrário dos buracos
negros de origem estelar, cuja origem é o resultado da evolução de estrelas massivas, a
formação de buracos negros supermassivos não é bem entendida. Dentre as possibilidades
propostas estão: colisões de galáxias (Barnes & Hernquist 1991; Mihos & Hernquist 1994);
colapso de um grupo de estrelas de nêutrons seguido de um longo período de acresção de gás
(Begelman et al. 1984; Dokuchaev 1991; Ilyin et al. 2004; Dokuchaev et al. 2007); e colisões
entre buracos negros de origem estelar (Dokuchaev et al. 2007) seguidos de acresção de
bárions ou de matéria escura (Tyler et al. 2003). Apesar da Via Láctea não ser um AGN, SgrA*
é uma importante fonte de informação para a melhor compreensão das propriedades dos
buracos negros supermassivos, já que é o buraco negro mais próximo do Sol.
Os buracos negros são objetos não luminosos e o principal método para encontrá-los é
através dos efeitos gravitacionais que eles produzem (Collin 2006). No entanto, a existência de
um objeto supermassivo não é o suficiente para classificá-lo como buraco negro. Para tanto,
seu raio tem que ser menor do que o raio de Schwarzschild, definido pela equação 1.1.
2
2GM
cRs = (1.1)
Para um AGN como 3C 273, localizado a 45,4 Mpc e com um buraco negro central de
aproximadamente 109 M�, o raio de Schwarzschild resulta Rs = 20 UA, sendo o tamanho
aparente de 7.6 x 10-9 segundos de arco. Para SgrA*, a uma distância de 8 kpc, massa do
buraco negro de 106 M�, Rs = 0.02 UA, sendo seu tamanho aparente de 1.3 x 10-7 segundos de
arco. Por tanto, a proximidade de SgrA* e sua massa fazem com que ele tenha o maior
tamanho aparente entre todos os candidatos a buracos negros conhecidos. Como um buraco
2
negro age como uma lente gravitacional, produzindo uma sombra maior do que seu raio de
Schwarzschild (Huang et al. 2007), espera-se que, com um pequeno aumento na resolução dos
interferômetros em ondas de rádio, atualmente em 10-5 segundos de arco, a sombra de SgrA*
possa ser detectada.
Os tamanhos medidos em ondas de rádio são fortemente influenciados pelo
espalhamento interestelar (Lo et al. 1998; Bower et al. 2004), sendo necessárias observações
simultâneas em vários comprimentos de onda para poder descontar os efeitos da cintilação.
Mesmo depois de feita esta correção, o tamanho encontrado para SgrA* é diferente nos
distintos comprimentos de onda (1UA para 3.5 mm e 2 UA para 7mm), possivelmente devido à
mudança na profundidade óptica da região de emissão (Shen et al. 2005, Prescher & Melia
2005).
Outra forma de estimar o tamanho da fonte é relacionando o tamanho R da região
emissora com a escala de tempo de variabilidade através de:
tcR ∆= γ (1.2)
onde γ é o fator de Lorentz, dado por:
2/1
2
2
1−
−=
c
υγ (1.3)
e υ é a velocidade de região emissora.
Nas AGN`s, a emissão em ondas de rádio é produzida, principalmente, nos jatos
relativísticos, sendo o fator de Lorentz determinado pela velocidade do jato com relação ao
observador. No caso de SgrA*, que é uma fonte de baixa luminosidade, este método não pode
ser utilizado, pois, apesar da variabilidade em ondas de rádio já ter sido observada (Falcke
1999; Zhao et al. 2001; Herrnstein et al. 2004), ainda não foi detectada a presença de jatos,
mesmo que alguns modelos sugiram sua existência (Falcke 1996; Falcke & Markoff 2000).
A escala de tempo da emissão variável de SgrA* compreende de horas até meses,
sendo a amplitude da variabilidade maior para as freqüências maiores. Observações realizadas
com o VLA em 1.3, 2.0 e 3.6 cm, detectaram a existência de um possível ciclo quase-periódico
de 106 dias, sendo a maior amplitude de variabilidade observada em 1.3 cm. Observações em
7 mm utilizando o VLBI detectaram uma amplitude da variabilidade ainda maior na densidade
de fluxo neste comprimento de onda, variando entre um mínimo de 0.63 ± 0.06 Jy até um
máximo de 1.86 ± 0.16 Jy. Os resultados indicam haver uma correlação nas curvas de luz nos
diferentes comprimentos de onda em rádio (Falcke 1999; Zhao et al. 2001; Melia & Falcke
2001; Herrnstein et al. 2004).
O espectro em ondas de rádio de SgrA* pode ser representado por duas leis de
potência (Falcke et al. 1998; An et al. 2005), apresentando uma polarização linear de 1%
3
(Ekers et al. 1975; Aitken et al. 2000) e uma polarização circular de 0.5% (Melia & Falcke
2001). O espectro possui ainda um excesso de emissão em comprimentos de ondas
submilimétricos com polarização linear de 10% (Aitken et al. 2000).
Neste trabalho apresentamos a curva de luz de SgrA* em 43 GHz (7 mm) obtida com o
Radiotelescópio do Itapetinga (13,7 m), entre Junho de 2006 e Abril de 2008. Ela foi obtida com
o objetivo de detectar variabilidade e verificar a possível existência do ciclo quase-periódico de
106 dias. Devido à baixa resolução do Radiotelescópio do Itapetinga quando comparado com
medidas interferométricas, desenvolvemos uma metodologia que permite, além de separar as
distintas componentes extensas de SgrA*, utilizá-las como calibradoras instantâneas.
No Capítulo 2 serão descritas as principais características observacionais de SgrA*,
incluindo sua variabilidade em ondas de rádio e a suposta periodicidade. No Capítulo 3 serão
apresentados e discutidos os modelos sobre a origem da emissão em SgrA*. No capítulo 4 é
feita uma breve descrição sobre as técnicas de radioastronomia e das características do
Radiotelescópio do Itapetinga. No capítulo 5 serão apresentados o procedimento
observacional, a técnica de redução de dados e os resultados obtidos no trabalho. Por fim, no
capítulo 6 têm-se as conclusões e as perspectivas.
4
Capítulo 2
As Características Observacionais de SgrA*
A rádio fonte SgrA* foi descoberta por Balick e Brown em 1974 utilizando um
interferômetro formado por 3 telescópios de 26 m e um telescópio de 14 m do NRAO (National
Radio Astronomy Observatory), operando simultaneamente em 2 e 8 GHz. A denominação da
rádio fonte provém do fato de ser a fonte mais intensa na direção de Sargittarius, sendo usado
o símbolo “ * ” para distingui-la do complexo de rádio fontes extensas no centro da galáxia.
Na seção 2.1 serão descritas as principais fontes de rádio do centro galáctico e serão
mostrados mapas em diferentes comprimentos de onda. Na seção 2.2 serão discutidas a
localização do centro dinâmico da Galáxia e sua coincidência com SgrA*, além da
determinação do movimento próprio e da massa do buraco negro. A seção 2.3 será destinada
às observações em ondas de rádio de SgrA*, a determinação do seu espectro e de seu
tamanho observado e intrínseco. Serão mostradas também as diferentes curvas de luz obtidas
da literatura que sugerem a existência de uma possível periodicidade. Por fim, a seção 2.4 será
destinada a uma breve descrição das observações de SgrA* em outros comprimentos de onda.
2.1 O Centro Galáctico
O centro da nossa Galáxia está localizado a 8 kpc de distância do Sol, não sendo
observado no visível devido à grande quantidade de poeira existente no disco galáctico. SgrA*
está localizado no interior de um complexo de gás quente de morfologia complicada, conhecido
como SgrA. Na parte oeste deste complexo (SgrA West), existe uma região com formato
espiral, composta de poeira e gás ionizado, que rodeia SgrA* (Ekers et al. 1983; Lo & Clauseen
1983; Paumard et al. 2005). Na parte leste (SgrA East), existe uma remanescente de
supernova que está associada com uma nuvem molecular próxima do centro galáctico (Maeda
et al. 2002; Park et al. 2004; Tsuboi et al. 2006). Na figura 2.1 é apresentado o mapa da região
de SgrA em 2 cm, abrangendo uma região de 2pc x 2pc (Yusef-Zadeh & Wardle, 1993), e na
figura 2.2, o mapa em 6 cm, abrangendo uma região de ~ 12pc x 12 pc (Yusef-Zadeh et al.
2000), ambos foram obtidos utilizando o VLA (Very Large Array).
O meio interestelar no centro galáctico pode ser separado em um meio quente (T~107-
108 K), detectado através de observações em raios-X e raios-γ, e em um meio frio (15~150K),
formado por nuvens moleculares extensas (Dieh et al. 1993; Koyama et al. 1996). Na interface
destes meios, existe uma região ionizada que pode ser observada através da emissão em
5
ondas de rádio, no contínuo e em linhas de recombinação do hidrogênio (Altenhoff et al. 1979,
Rodríguez-Fernández & Martin-Pintado 2005). Esta região ionizada é turbulenta, com
velocidade de 20 km s-1, capaz de espalhar grande parte da radiação originada no processo de
acresção do buraco negro (Lazio & Cordes 1998; Macquart & Bower 2006; Bower et al. 2006).
Em escalas maiores, o complexo de fontes mais próximo de SgrA (~90 pc) é conhecido
como SgrB, sendo subdividido em duas regiões, Sgr B1 e Sgr B2. Esta última foi utilizada como
calibradora secundária durante nossas observações de SgrA*. Sua emissão integrada é de 31
Jy em 90 cm (Law et al. 2008) e não se sabe ainda se existe e como ocorre uma possível
interação entre SgrB e as componentes do complexo SgrA, porém já existem indícios de
relação entre Sgr B2 e a remanescente de supernova em SgrA leste (Fryer et al. 2006; Tsuboi
et al. 2006).
A região do centro galáctico onde estão localizadas SgrA e Sgr B2 pode ser vista no
mapa obtido com o Radiotelescópio do Itapetinga em 22 GHz (Tateyama et al. 1986), com
resolução de 4.1 minutos de arco, apresentado na figura 2.3. Aproveitando a existência de um
mapa com a mesma resolução angular em 5 GHz (Whiteoak & Gardner 1973), os autores
obtiveram também o mapa de índices espectrais de toda esta região, apresentado na figura
2.4, onde é possível localizar várias fontes compactas não térmicas.
Figura 2.1: Mapa 2pc x 2pc do Centro Galáctico em 2 cm obtido com o VLA. SgrA* encontra-se
no centro da figura e SgrA Oeste é a grande estrutura em espiral (Yusef-Zadeh & Wardle
1993).
6
Figura 2.2: Mapa do Centro Galáctico ( 5’ x 5’ ) em 6cm obtido com o VLA mostrando as
regiões de emissão térmica e não térmica do centro galáctico (Yusef-Zadeh et al. 2000).
Figura 2.3: Mapa do centro Galáctico observado em 22GHz utilizando o Radiotelescópio do
Itapetinga (Tateyama et al. 1986).
7
Figura 2.4 Mapa de índice espectral da região do centro galáctico para intensidades em 5 e 22
GHz (Tateyama et al. 1985).
Além dos diferentes complexos de fontes de rádio, existe no centro galáctico um
aglomerado de estrelas massivas jovens, localizadas entre aproximadamente 1 e 10 pc de
SgrA*, cuja origem ainda não é bem compreendida (Allen & Sanders 1986; Alexander 2005; Lu
et al. 2005; Genzel & Karas 2006). Entre os diversos grupos de estrelas deste aglomerado,
dois deles dominam o vento galáctico (Cuedra et al. 2006; Mościbrodzka et al. 2006), são eles:
IRS 16, que se movimenta em sentido horário ao redor do centro dinâmico da galáxia; e IRS
13, que se movimenta em sentido anti-horário (Lu et al. 2005). Como são grupos estelares
jovens, eles possuem uma grande quantidade de estrelas azuis variáveis e de estrelas Wolft-
Rayet que apresentam alta taxa de perda de massa. Por isso, os ventos estelares originados
por estas estrelas são bastante massivos e interagem com os componentes de SgrA, podendo
influenciar a taxa de acresção do buraco negro supermassivo central (Melia 1994; Coker et al.
1999; Cuedra et al. 2006; Mościbrodzka et al. 2006), essa questão será discutida no Capítulo 3.
Junto com as estrelas jovens, são observadas estrelas de tipo tardio (supergigantes
vermelhas e estrelas AGB`s) que também contribuem para a formação do vento na região
central (Genzel et al. 1996, Genzel & Karas 2006). A existência de duas populações estelares
no centro galáctico indica que ocorreram duas fases de formação estelar nesta região. As
estrelas do tipo tardio devem ter a idade do disco galáctico enquanto as estrelas azuis parecem
ter sido originadas em um episódio de nucleossíntese mais recente (Rodríguez-Fernández &
Martin-Pintado 2005). Na figura 2.5 é apresentada uma imagem combinada no infravermelho
(1.6, 2.2 e 3.7 µm) da região de SgrA*; o mapa (~40 x 40 pc), obtido utilizando óptica
adaptativa com o VLT (Very Large Telescope), tem resolução de 0.05 segundos de arco e
mostra claramente as duas populações.
8
Figura 2.5: Imagem no limite da difração do centro galáctico em comprimentos de onda de
1.6/2.2/3.7 µm com resolução de 0.05 segundos de arco; SgrA* encontra-se no centro da
figura (Genzel & Karas 2006).
Além das componentes já descritas, o centro galáctico possui uma grande quantidade
de filamentos com emissão não térmica em ondas de rádio, a maioria localizados a uma
distância projetada ≳ 800 pc de SgrA* (Law et al. 2008). Nessa distância qualquer influência
na emissão de SgrA* se torna improvável. Existe, porém, uma grande concentração destes
filamentos, sob a forma de um arco, perpendicular ao plano galáctico e mais próximo de SgrA
(< 40 pc). Parece existir uma interação entre este arco e o complexo SgrA, mas ainda não se
sabe se esta interação pode influenciar a emissão de SgrA* (Yusef-Zadeh et al. 1984; Morris &
Serabyn 1996).
2.2 Massa, Posição e Movimento Próprio de SgrA*
A dinâmica das estrelas e do gás na região mais interna de uma galáxia está
diretamente influenciada pelo potencial gravitacional do buraco negro supermassivo. Por isso, é
possível determinar a massa do buraco negro a partir da dispersão de velocidades das
estrelas do bojo da galáxia hospedeira (Kormendy & Richstone 1995; Ferrarese & Merit 2000;
Tremaine et al. 2002). A dispersão de velocidades das nuvens de gás não é utilizada, pois o
movimento delas pode sofrer efeitos diferentes dos gravitacionais como a influência dos ventos
galácticos, ao contrário do que acontece com as estrelas (Melia & Falcke 2001).
9
Como as estrelas localizadas no bojo da nossa galáxia não podem ser observadas no
visível, foram necessárias observações no infravermelho para determinar suas velocidades
radiais e obter uma medida da dispersão de velocidades (Genzel & Eckart 1999; Ghez et al.
1999). Como somente é possível a determinação da componente radial da velocidade, a
dispersão de velocidades é utilizada como uma forma de compensar a ausência de outras
componentes. A dispersão de velocidades encontrada para SgrA* utilizando estrelas
pertencentes ao grupo IRS 16 é apresentado na figura 2.6. A linha contínua é previsão para
movimento kepleriano, supondo órbitas circulares e uma massa de 2.6 x 106 M� concentrada
dentro de um raio de 0.01 pc (Genzel et al. 1996, Ghez et al. 1999, 2005).
Figura 2.6: Dispersão da velocidade estelar projetada pela distância de SgrA*. A linha contínua
é o movimento Kepleriano para o caso de uma massa concentrada em 0.01 pc. Dados obtidos
pelo telescópio Keck (Ghez et al. 1999).
Na figura 2.7 é apresentado o resultado do cálculo da massa interna para diferentes
distâncias à SgrA*. Quanto maior à distância à SgrA*, maior a quantidade de estrelas e por
tanto, é maior a massa interna. Para os menores raios, o número de estrelas diminui e, a partir
de um raio crítico, o número de estrelas é tão escasso que a soma de suas massas torna-se
desprezível quando comparada à massa do buraco negro, e o valor da massa interna torna-se
igual à massa de SgrA*. A linha contínua na figura é o valor esperado para o caso em que a
massa central esteja concentrada sob a forma de um objeto compacto, enquanto a linha
pontilhada representa a hipótese da massa central ser extensa, com densidade de 2.2 x 1012
M� pc-3 , sendo que o mesmo é válido para a linha tracejada, porém, para uma densidade de 4
x 106 M� pc-3. O gráfico indica a presença de uma massa compacta de 2.61 x 106 M
�, que é
atribuída à SgrA* (Genzel & Eckart 1999, Genzel et al. 2003a).
10
Figura 2.7: Quantidade de massa compacta contida num raio de 0.01 pc da galáxia. A linha
contínua é o previsto para a concentração da massa em um ponto, a linha pontilhada para uma
concentração de massa de densidade de 2.2 x 1012 M� pc-3 e a linha tracejada para 4 x 106 M
�
pc-3 (Genzel & Eckart 1999).
Observações do movimento próprio de estrelas no centro galáctico são capazes
também de mostrar que a posição de SgrA* é coincidente com a do centro dinâmico da galáxia.
Isso é possível por causa da existência de uma supergigante tipo M, estrela pertencente ao
grupo IRS 7 (a fonte mais intensa no centro galáctico em 2.2 µm). Esta estrela possui um
maser de SiO na região mais interna do seu envelope e, por tanto, é possível identificá-la num
mapa em ondas de rádio e determinar sua distância à SgrA*. Dessa forma, a posição de SgrA*
coincide com à do centro dinâmico com uma precisão de 30 milisegundos de arco (Mentel et al.
1997). O mesmo procedimento foi realizado utilizando outras estrelas menos intensas no
infravermelho próximo, que também possuem fontes maser (de SiO e H2O) nos seus
envelopes. Foi determinado o movimento próprio destas estrelas e, da mesma maneira, foram
utilizados os masers para identificar a posição de SgrA* no mapa em ondas de rádio,
encontrando o centro dinâmico dentro de 10 milesegundos de arco da posição de SgrA* (Reid
et al. 2003a; 2003b). Na figura 2.8 é apresentado á órbita da estrela mais próxima à SgrA*,
obtida através de observações astrométricas e na figura 2.9 é apresentado o mapa em 2.2 µm
do centro da Galáxia, onde os círculos em amarelo indicam as estrelas utilizadas para fazer o
alinhamento rádio/infravermelho e as setas indicam o movimento próprio das estrelas relativo à
SgrA*, localizado dentro do quadrado amarelo.
11
Figura 2.8: Órbita de S2 relativa à posição de SgrA* (denotada por um círculo) medida entre
1992 e 2002. Os erros são provenientes das incertezas de observações astrométricas em
infravermelho (Schödel et al. 2002, Eisenhauer et al. 2003).
Figura 2.9: Imagem (40” x 40” ≈ 90 x 90 pc ) mostrando a posição da rádio fonte SgrA*
coincidente com o centro dinâmico. Os círculos em amarelo indicam as fontes masers nos
envelopes estelares utilizadas para fazer o alinhamento rádio/infravermelho. As setas indicam o
movimento próprio das estrelas relativo à SgrA*, que está dentro do quadrado tracejado (Reid
et al. 2003a).
12
No cálculo da posição relativa de SgrA* em relação ao centro dinâmico, foi assumido
que o movimento próprio desta fonte fosse zero. Não é possível calcular o movimento próprio e
a velocidade peculiar de SgrA* através do estudo das estrelas localizadas no centro da galáxia,
pois as mesmas estão se movimentando no disco galáctico e não poder ser usadas como
referência. Para isso, foi determinada a posição de SgrA* relativa à rádio fonte extragaláctica
J1745-283, que, devido à grande distância do Sol, não possui movimento próprio. Na figura
2.10 (a) é apresentado o mapa em 90 cm mostrando a posição de SgrA* relativa a duas fontes
extragalácticas e na figura 2.10 (b) a variação da distância de SgrA*, com relação a J1745-283,
como função do tempo (Reid et al. 1999; 2003b).
Figura 2.10: (a) Mapa em 90 cm obtido com o VLA (La Rosa et al. 2000) mostrando a posição
relativa de SgrA* em relação a duas fontes extragalácticas, com a flecha em amarelo indicando
o seu movimento próprio. (b) Variação da distância no plano do céu entre SgrA* e J17455-283.
A linha pontilhada é a variância do melhor ajuste do movimento próprio e a linha contínua é a
orientação do plano galáctico (Reid et al. 2003a). SgrA* é representado por uma elipse devido
ao seu formato observado pelo VLA, como será explicado em detalhes na seção seguinte.
A maior contribuição do movimento próprio (µ) de SgrA* é devida à órbita do Sol ao
redor do centro galáctico. Para calcular a velocidade peculiar de SgrA* (VSgrA*) no plano da
galáxia é necessário descontar o movimento do Sol através da equação (Reid et al. 1999;
2003b):
0
Sol0*SgrA R
VV
+Θ+=µ (2.1)
13
onde Θ0 é a velocidade do padrão de repouso (LSR – local standard of rest), sendo
10 220 −≈Θ kms ; VSol é a velocidade peculiar do Sol em relação a LSR (≈ 20 km s-1) e R0 é a
distância do Sol ao centro galáctico (8 Kpc). A velocidade aparente de SgrA* no eixo z
(perpendicular ao disco galáctico) é igual à velocidade peculiar do Sol no eixo z (Vz�). Para
determiná-la é necessária observar o movimento próprio de uma grande quantidade de estrelas
na vizinhança solar. Isso foi feito utilizando o catálogo de Hipparcus, o que resultou em Vz�
=
7.16 ± 0.38 km s-1, na direção do pólo norte galáctico (Dehnen & Binney 1998). A velocidade
peculiar estimada do movimento de SgrA* é de 5 ± 3 km s-1 (Reid et al. 2003b).
2.3 Observações em ondas de rádio em SgrA*
SgrA* é uma fonte fraca, apesar da grande quantidade de gás emitido por ventos
estelares na vizinhança que poderiam servir como combustível para o aumento da
luminosidade do centro galáctico (ver seção 3.1). Sua luminosidade bolométrica (~1036 erg s-1)
é ~8.5 ordens de magnitude menor do que a dada pelo limite de Eddington para um buraco
negro de massa ~4 X 106 M�
(Melia & Falcke 2001). Desde sua descoberta (Balick & Brown
1974), SgrA* tem sido intensamente estudada em ondas de rádio, desde que, observações no
infravermelho apenas fornecem limites superiores para a emissão de SgrA* e observações em
raios-X são mais complexas e por isso, mais escassas (ver seção 2.4).
2.3.1 O espectro em ondas de rádio de SgrA*
A forma do espectro em ondas de rádio fonte SgrA*, obtido através de observações
simultâneas em comprimentos de ondas milimétricos e centimétricos utilizando os
interferômetros VLA (Very Large Array) e BIMA (Berkeley-Illinois-Maryland Array) e os
telescópios de 45 m de Nobeyama e de 30 m do IRAM (Institut de Radioastronomie
Millimetrique), pode ser descrita por duas leis de potência com índices espectrais diferentes
para as freqüências abaixo e acima de 10 GHz, como pode ser visto na Figura 2.11 (Serabyn et
al. 1997; Falcke et al. 1998). A densidade de fluxo medida em 2 e 3 mm não está de acordo
com nenhuma das duas leis de potência do espectro, sendo os valores obtidos mais elevados
do que o previsto e por isso, é esta região do espectro é conhecida como o excesso
submilimétrico ( An et al. 2005).
Em geral, o espectro apresenta uma alta polarização circular e uma baixa polarização
linear, a não ser na região do excesso submilimétrico, que possui uma alta polarização linear.
Isso poderia indicar que a emissão de SgrA* é formada por duas componentes, sendo uma
polarizada e outra não polarizada (Eikers et al. 1975; Aitken et al. 2000, Bower et al. 2003,
2005; Marrone et al. 2006; Liu et al. 2007).
14
Figura 2.11: Espectro de SgrA* observado com os interferômetros VLA e BIMA e observações
single dish com os telescópios de Nobeyama e BIMA. O espectro pode ser descritos através de
duas leis de potências, havendo um excesso nas medidas de 2 e 3 mm (Falcke et al. 1998).
Considerando que, regiões do plasma em acresção ao redor do buraco negro
localizadas a distâncias diferentes emitem em freqüências diferentes, a existência de duas leis
de potências indica que, para grandes raios, as características da região do plasma (como
densidade e campo magnético) diferem significativamente das características encontradas em
pequenos raios (Loeb & Waxman 2007).
Outra peculiaridade observada no espectro em ondas de rádio de SgrA*, é que sua
densidade de fluxo é variável com o tempo. Conjuntos de observações simultâneas realizadas
em 1975 e 2003 mostram que SgrA* apresentou uma densidade de fluxo maior na segunda
época para freqüências abaixo de 1GHz, como observado na figura 2.12 (An et al. 2005; Loeb
& Waxman 2007). A região do espectro acima de 100 cm apresenta um corte atribuído à
absorção livre-livre que provavelmente ocorre em uma camada de gás ionizado localizada em
SgrA Oeste (Davies et al. 1976; An et al. 2005). A diferença de luminosidade é atribuída a uma
diminuição na densidade de coluna dessa camada de gás, não sendo considerada como um
efeito intrínseco à emissão de SgrA*. As curvas da figura 2.12 são o ajuste do modelo de
absorção livre-livre para as observações das duas épocas, variando a densidade de coluna de
uma época para outra, sendo a opacidade em 30 cm 9 vezes maior no ano de 1975 do que em
2003.
15
Figura 2.12: Diferença de luminosidade entre duas épocas distintas no espectro de SgrA* para
freqüências menores do que 1 GHz. A curva contínua é o ajuste do modelo para absorção free-
free para 2003 e a pontilhada para 1975 (An et al. 2005).
2.3.2 O tamanho intrínseco SgrA* em ondas de rádio
Como SgrA* está rodeado por um meio interestelar turbulento (seção 2.1), a
determinação do seu tamanho em ondas de rádio é fortemente influenciada pelo espelhamento
da radiação no meio, como já citado na introdução. Através de observações interferométricas
em diferentes comprimentos de onda, é possível determinar que SgrA* possui uma forma
elíptica com o tamanho aparente θ proporcional a λ2, exatamente como o previsto pelo modelo
de espalhamento interestelar (Lo et al. 1998; Kirchbaum et al. 1999; Bower et al. 2004, 2006;
Shen et al. 2005, Shen 2006). O formato de elipse ocorre porque o espalhamento atua de
maneira diferente para as diferentes orientações. O espalhamento na direção do eixo menor é
metade do espalhamento do eixo maior; em contrapartida, como os interferômetros estão todos
situados no hemisfério norte e SgrA* é uma fonte do hemisfério sul, medidas do eixo menor,
localizado aproximadamente no sentido norte-sul, possuem uma imprecisão maior do que as
medidas do eixo maior, localizado no sentido leste-oeste (Lo et al. 1998; Bower et al. 2004).
Como o espalhamento é menor para comprimentos de onda mais curtos, medidas em
comprimentos milimétricos são necessárias para encontrar o tamanho intrínseco de SgrA*.
Observações simultâneas do eixo menor e maior em diversos comprimentos de onda mostram
que, para freqüências maiores do que 43 GHz, o tamanho observado do eixo menor (θmenor)
não obedece mais a proporcionalidade com λ2, indicando ser uma medida do tamanho
intrínseco de SgrA* (Lo et al. 1998; Bower et al. 2004, 2006). Na figura 2.13 são apresentadas
as medidas do eixo maior e menor; a reta que melhor ajusta os valores do eixo maior é dada
por θmaior = (1.43 ± 0.02)λ1.99±0.03 mas, estando em acordo com a dependência em λ2 dada pela
teoria de espalhamento. A reta que melhor ajusta os dados do eixo menor, considerando todos
os pontos é dada por θmenor = (1.06 ± 0.10)λ1.76±0.07 mas, ou seja, uma dependência menos
16
íngreme do que a dada ela teoria de espalhamento. Quando não é considerada a observação
em 7 mm, recupera-se a dependência em λ2, como pode ser visto na figura 2.13 (linha
pontilhada). O tamanho intrínseco em 7mm obtido através deste método foi θint = (0.45 ± 0.11)
mas, o equivalente a 72 raios de Schwarzschild (equação 1.1) para um buraco negro de massa
de ~106 M� localizado a 8 kpc de distância (Lo et al. 1998).
Figura 2.13: Tamanho angular observado de SgrA* versus comprimento de onda. Os círculos
abertos são medidas do eixo maior e os círculos fechados do eixo menor. O melhor ajuste para
o eixo maior é θmaior = (1.43 ± 0.02)λ1.99±0.03 mas e para o eixo menor de θmenor = (0.87 ±
0.23)λ1.87±0.16 mas, não considerando a medida em 7mm, cujo desvio do tamanho observado é
interpretado como uma medida do tamanho intrínseco de SgrA*. As observações foram
realizadas com NRAO, VLBA e VLA (Lo et al. 1998).
Este tamanho intrínseco encontrado não é consenso e outras observações divergem
deste resultado. Primeiramente, o fato da observação em 7 mm estar em desacordo com a lei
de λ2, não significa que a cintilação interestelar seja inexistente neste comprimento de onda,
apenas que a contribuição dada pelo espalhamento ao tamanho medido não é dominante,
mas, mesmo assim, deve ser descontada. Para tanto, novas observações do eixo maior de
SgrA* foram realizadas utilizando o VLBA e o tamanho de espalhamento, previsto através de
um modelo de propagação de ondas de rádio em um plasma turbulento descrito por Narayan &
Goodman (1989 a,b), foi descontado da seguinte maneira:
2esp
2obsint θθθ −= (2.2)
17
onde θint é o tamanho intrínseco, θobs é o tamanho observado e θesp o tamanho de
espalhamento previsto, obtendo um tamanho intrínseco de (72 ± 15) Rs, (24 ± 2) Rs e (6 ± 5) Rs
para 1.35, 0.69 e 0.35 mm, respectivamente (Bower et al. 2004).
Como a determinação do tamanho de SgrA* através da equação 2.2 depende de uma
componente teórica, resultado de modelos de cintilação, é possível obter medidas de tamanho
diferentes da encontrada caso seja utilizado outros métodos para a determinação de θesp. Com
a finalidade de obter vínculos observacionais para o valor de θesp, medidas do eixo maior foram
realizadas em diversos comprimentos de onda de milímetros e centímetros em três épocas
diferentes (porém próximas), de modo que os tamanhos medido nos comprimentos de ondas
maiores foram usados para ajustar o tamanho de espalhamento e dessa maneira, obter o
tamanho intrínseco de SgrA*. O resultado encontrado para 0.35 cm foi de SR7.61.33.13 +
− (Bower
et al. 2006), e para 7 mm, foi de 25 ± 2 SR . (Shen 2005; Shen et al. 2005). Dentro da margem
de erro, tanto a previsão através de modelo para θesp como através de observações em multi-
freqüências, concordam com o valor de θint para 7 e 3.5 mm.
O tamanho intrínseco de SgrA* é importante para a compreensão da origem da
emissão do buraco negro supermassivo. Simulações numéricas indicam que o tamanho
observado por SgrA* é consistente com a existência de um jato e/ou um disco de acresção
emitindo pelo processo RIAF (Radiative Inefficient Accretion Flow), esta questão será discutida
mais detalhadamente no capítulo 3.
2.3.3 A Variabilidade em Ondas de rádio
O espectro de SgrA* é variável em escalas de tempo que podem ser curtas (horas e
dias) ou longas (semanas e meses). Variações na densidade de fluxo em escalas de dias e
horas ocorrem em todos os comprimentos de onda nos quais SgrA* foi observado: ondas de
rádio, onde o fluxo em 3 mm pode variar até 40% em algumas horas (Mauerhan et al. 2005);
infravermelho (Genzel et al. 2003b; Ghez et al. 2004); e raios-X (Baganoff et al. 2001a,
2001b,2003). Variações na densidade de fluxo em longas escalas de tempo somente foram
detectadas em comprimentos de ondas de centímetros e milímetros (Zhao et al. 1989,1992).
Assim como as medidas de tamanho, medidas de variabilidade também são fortemente
afetadas pelo espalhamento interestelar. A cintilação é capaz de explicar a rápida variabilidade
observada em quasares em comprimentos de onda de centímetros (Witzel et al. 1986;
Heeschen et al. 1987; Kedziora-Chudczer et al. 1997; Bignall et al. 2007), porém não explica
variabilidade em escalas de tempos longas, nem grandes variações de fluxo (Zhao et al. 1992;
Falcke 1999). Por isso, a variabilidade diária de 20% de SgrA*, com picos que podem chegar
até a 40%, é um forte argumento a favor de que a variabilidade encontrada em SgrA* é um
fenômeno intrínseco à fonte (Mauerhan et al. 2005)
Recentemente, Macquart e Bower (2006), desenvolveram um modelo de cintilação
interestelar que seria capaz de explicar a variabilidade de longo período de SgrA*. Neste
18
modelo, o plasma turbulento onde ocorreria o espalhamento seria o mesmo que produz o
formato elíptico em SgrA*. Os autores analisaram dois modelos de espalhamento, em um deles
a cintilação ocorreria em uma fina camada do plasma turbulento e no outro em um meio
extenso. Apenas o segundo modelo foi capaz de prever a amplitude de variabilidade observada
em SgrA*.
Mesmo prevendo a amplitude média da variação na emissão em ondas centimétricas,
existem alguns aspectos que o modelo de cintilação proposto por Macquart e Bower (2006) não
conseguem explicar, como a existência de grandes aumentos no fluxo, assim como ocorre em
escalas de tempo curtas (Zhao et al. 1992) e, principalmente, uma suposta periodicidade, que
favorecem a hipótese de variabilidade intrínseca (Falcke 1999; Zhao et al. 2001; Herrnstein et
al. 2004).
A primeira determinação de periodicidade em SgrA* foi obtida utilizando o GBI (Green
Bank Interferometre). Após dois anos de contínuo monitoramento da densidade de fluxo em 2.3
e 8.3 GHz, foi detectado um comportamento quase-periódico de 57 dias, observado apenas na
freqüência mais baixa (Falcke 1999). A detecção de períodos longos (semanas e meses) é
complicada, pois precisa da observação de um grande número de ciclos. Esse problema pode
ser contornado de diferentes maneiras, uma delas é utilizando a função estrutura D(τ), dada
pela equação 2.3, onde a existências de mínimos indica um comportamento periódico (Falcke
1999):
2)]()([)( ττ νν ±−= tStSD (2.3)
onde )(tSν e )( τν ±tS são, respectivamente, o fluxo medido em um certo tempo t e t + τ. A
figura 2.14 mostra as curvas de luz e suas respectivas funções estrutura obtidas com o GBI em
2.3 e 8.3 GHz. A linha contínua na curva de luz mostra a média de 3 dias de observação, onde
a amplitude de variabilidade é maior para 8.3GHz. A função estrutura traçada para 8.3 GHz não
apresenta mínimos que indicariam comportamentos periódicos, enquanto que, a função
estrutura para 2.3 GHz, apresenta estes mínimos, indicando uma quase-periodicidade de 57
dias (Falcke 1999).
Observações realizadas em 3.6, 2.0 e 1.3 cm com o VLA durante 20 anos, nas
décadas de 80 e 90, foram analisadas com a finalidade de detectar possíveis ciclos com escala
de tempo de meses utilizando transformada de Fourier (Zhao et al. 2001). O resultado indica a
presença de um ciclo quase-periódico de 106 dias, aproximadamente o dobro do período de 57
dias encontrado inicialmente, que pode ser um harmônico do período maior (Herrnstein et al.
2004). Na figura 2.15 é apresentada a modulação de 13 ciclos obtidos durante um período de
3 anos, sendo o zero definido como o fluxo médio de SgrA*.
19
Figura 2.14: (Coluna da Esquerda) Curva de luz obtida para SgrA* em 2.3 (acima) e 8.3 GHz. A
linha contínua é a média de 3 observações. (Coluna da direita) Função estrutura traçada com a
equação 2.4. Os mínimos existentes na função estrutura de 2.3 GHz indicam um
comportamento quase-periódico de 57 dias (Falcke 1999).
O ciclo de 106 dias de SgrA* pode ser dividido em duas partes, na primeira delas, a
emissão de SgrA* atravessa um estado de alta atividade, em que seu fluxo pode atingir valores
até 3 vezes maiores do que a média, e, na segunda parte, a emissão de SgrA* atravessa um
estado de baixa atividade, em que a amplitude de sua variação é pequena (Tsutsumi et al.
2002). A fase de maior atividade do ciclo é coincidente nos três comprimentos de onda e a
amplitude de variabilidade aumenta com a freqüência observada.
Novas observações utilizando o VLA, entre os anos 2000 e 2003, foram realizadas em
2.0, 1.3 e 0.7 cm, sendo confirmado o aumento da amplitude com a freqüência, porém, como
as observações foram muito espaçadas, não foi possível ser confirmada a periodicidade. Na
figura 2.16 pode ser vista a curva de luz encontrada, onde as setas indicam o momento da
ocorrência de flares em raios-X. O aumento do fluxo em rádio e estes flares podem estar
correlacionados. A densidade de fluxo variou entre 0.63 ± 0.06 e 1.87 ± 0.16 Jy; 0.60 ± 0.06 e
1.64 ± 0.10 Jy; 0.62 ± 0.05 e 1.32 ± 0.08 Jy para 0.7, 1.3 e 2.0 cm, respectivamente (Herrnstein
et al. 2004).
Recentemente, SgrA* foi monitorado em um período compreendido entre 14 e 30 de
março, utilizando o VLBI, com o objetivo de detectar a variação da densidade de fluxo de dias
muito próximos. Na figura 2.17 é apresentado o resultado obtido, é possível notar a existência
20
de dois dias cuja densidade de fluxo foi abaixo da média. SgrA* variou entre 1.59 e 2.03 Jy. (Lu
et al. 2008)
Figura 2.15: O ciclo quase-periódico de 106 dias de SgrA*. O zero é a densidade de fluxo
média de SgrA*. As figuras apresentam 13 ciclos modulados e é possível notar o aumento da
amplitude de variabilidade com freqüência.(Zhao et al. 2001).
Figura 2.16: Curvas de luz observadas por Herrnstein et al. (2004) em diferentes configurações
do VLA durante o período de 2000 até 2003 em quatro épocas distintas de observação. A
densidade de fluxo média medida em 2.0, 1.3 e 0.7 cm foi de 0.834 ± 0.005 Jy, 0.926 ± 0.005
Jy e 1.001 ± 0.008 Jy respectivamente. As flechas indicam flares ocorridos em raios-X.
A existência do suposto ciclo não pode ser explicada pela presença de um objeto
eclipsante, pois não existe evidência de um objeto que pudesse provocar um ciclo de 106 dias
em nenhum dos comprimentos de onda no qual a região do centro galáctico já foi observado
(Bower & Backer 1998; Zhao et al. 2001). A variabilidade na emissão de SgrA* também não
21
pode ser afetada pela presença próxima da estrela S2, pois nenhuma evidência de
periodicidade relacionada com a órbita de 15 anos da estrela foi encontrada (Chang & Choi
2003). O espectro em rádio de SgrA* e suas características são mais consistentes com a
existência de um gás magnetizado quente, orbitando a ~10 Rs de SgrA* (Liu & Melia 2002).
Detalhes sobre a origem da emissão de SgrA* serão discutidos no capítulo seguinte.
Figura 2.17: Curva de Luz de SgrA* em 7 mm obtida com o VLBI mostrando a variação diária
de SgrA*. Do lado direito, a curva de luz está normalizada com os valores obtidos para
NRAO530, fonte utilizada como calibradora.
2.4 Observações de SgrA* no infravermelho e em raio s-X
SgrA* é uma fonte difícil de ser detectada em qualquer comprimento de onda com
exceção das ondas de rádio e sua observação no infravermelho e em raios-X só foi possível
com o surgimento de novas técnicas de observação. SgrA* só foi detectado no infravermelho
recentemente, quando foram obtidas imagens no limite da difração com o VLT, utilizando óptica
adaptativa (Genzel et al. 2003b; Ghez et al. 2004), enquanto que em Raios-X, SgrA* foi
observado pelo observatório Chandra (Baganoff et al. 2001a; 2001b; 2002; 2003). Na figura
2.18 é apresentado o espectro em todos os comprimentos de onda
Devido à fraca intensidade e o alto avermelhamento provocado pela poeira do disco
galáctico, observações de SgrA* no infravermelho somente conseguem inferir limites
superiores para a sua luminosidade (Lacy et al. 1980; Narayan et al. 1998a). A detecção de
SgrA* só é possível durante ocorrência de flares, onde a alta densidade de fluxo permite sua
detecção (Genzel et al. 2003b). A ocorrência de flares no infravermelho e em raios-X parece
estar correlacionada (Hornstein et al. 2007, Yusef-Zadeh et al. 2008a).
Enquanto os flares em ondas de rádio, na maioria das vezes, não alcançam o dobro da
emissão média de SgrA* e ocorrem em escalas de tempo que varia de horas até dias (Zhao et
al. 2003, Herrnstein et al. 2004; Mauerhan et al. 2005), os flares em raios-X podem atingir até
160 vezes o fluxo médio de SgrA* em apenas algumas horas, e ocorrem aproximadamente
22
uma vez por dia (Baganoff et al. 2001b; 2002; Goldwurm et al. 2003; Porquet et al. 2003). Já no
infravermelho, a emissão é variável em escalas de tempo de minutos e horas enquanto a
densidade de fluxo pode aumentar entre 15 e 40%. Tanto na emissão em raios-X como no
infravermelho parece existir uma oscilação quase-periódica (QPO`s – quasi periodic
oscilations) na ocorrência dos flares, com período de 16 ± 2 minutos para a emissão no
infravermelho (Genzel et al. 2003b) e de diferentes períodos (~100, 219, 692, 1130 e 2178 s)
para a emissão em raios-X (Aschenbach et al. 2004).
Figura 2.18: Espectro de SgrA* (a) Espectro de SgrA* mostrando a emissão em ondas de rádio
(losângulos por Falcke et al. (1998) e triângulos por Zhao et al. (2003); infravermelho (Serabyn
et al. 1997; Hornstein et al. 2002) e Raios-X (Bagnoff et al. 2001; 2003). As curvas mostram
exemplos de modelos de estado de baixa atividade de SgrA* (linha pontilhada) e considerando
componentes varáveis como emissão síncrotron – linha contínua – e síncrotron self-compton –
linha tracejada (Yuan et al. 2003, 2004; Ghez et al. 2004). (b) Espectro mostrando apenas a
emissão em ondas de rádio e o limite em infravermelho com medidas realizadas até 1997
(Davidson et al. 1992; Gezari 1992; Herbst et al. 1993; Gezari et al. 1994; Telesco et al. 1996;
Stolovy et al. 1996; Mentel et al. 1997). A linha contínua mostra o modelo apresentado por
Falcke et al. (1996) e a linha pontilhada o modelo de Narayan et al. (1995) (Serabyn et al.
1997). (c) Média temporal do espectro de SgrA* em ondas de radio até infravermelho (Melia &
Falcke 2001), dados de Zhao et al. (2001); Falcke et al (1998) e Zylka et al. (1995).
23
Em 2004, foi detectada a ocorrência simultânea de um flare no infravermelho e em
raios-X, utilizando o VLT e o observatório Chandra (Eckart et al. 2004). O flare foi precedido por
um aumento no fluxo em 3.4 mm, detectado durante observações utilizando o interferômetro
BIMA (Berkeley-Illinois-Maryland Association). Mais recentemente, foi detectado um flare quase
simultâneo no infravermelho, em raios-X e em ondas de rádio (Eckart el al. 2006). Essa
coincidência de flares em diferentes comprimentos de onda pode ser explicada através de
modelos como o de emissão síncrotron self-compton de SgrA* ou o modelo de plasma em
expansão (Eckart et al. 2006, Bittner et al. 2007) e fornecem informações para a compreensão
da variabilidade rápida de SgrA*.
24
Capítulo 3
A origem da emissão de SgrA*
Neste capítulo serão discutidos os diferentes modelos que tentam explicar o espectro
de SgrA* e suas variações. Os modelos devem considerar os resultados observacionais
descritos no capítulo anterior, como o espectro nos diferentes comprimentos de ondas, o
excesso submilimétrico, a polarização e a variabilidade. Ainda não existe um modelo capaz de
explicar todas as características observadas e, por tanto, a origem da emissão de SgrA* ainda
é incerta. Porém, alguns resultados observacionais já podem ser mais bem compreendidos,
como será visto nas próximas seções.
Na seção 3.1 será discutida a acresção quase-esférica; na seção 3.2 os modelos de
emissão ADAF (Advection-Dominated Accretion Flow) e RIAF (Radiatively Inefficient Accretion
Flow) e nas seções 3.3 e 3.4 serão discutidos respectivamente, a hipótese de existência de um
jato e de uma possível precessão induzida em um disco de acresção.
Todos os modelos descritos neste capítulo conseguem explicar somente alguns
aspectos e o mais provável é que seja necessário mais de um modelo para explicar a emissão
de SgrA*. Por exemplo, o modelo de acresção quase-esférica é o único que consegue explicar
a origem do disco de acresção (Melia 1994), porém falha em prever a emissão em rádio,
melhor explicada pelos modelos de jato e halo (Falcke & Markoff 2000; Prescher & Melia 2005).
No final das seções 3.3 e 3.4 será discutida a possibilidade de modelos diferentes co-existirem.
Além dos modelos apresentados neste capítulo, existem outros que já foram
abandonados, pois não explicam observações mais recentes, como por exemplo, o modelo de
disco fino (Esin et al. 1997), que previa uma luminosidade várias ordens de grandeza acima do
observado.
3.1 Acresção quase-esférica em SgrA*
Observações de linhas atômicas e moleculares em distintos comprimentos de onda na
vizinhança do centro galáctico mostram evidências da presença de um vento de 3x10-3 M⊙/ano
originado pelas estrelas dessa região (Geballe et al. 1991). Os principais indícios da existência
do vento são a presença de linhas do He I, Brα e Brγ em emissão nas proximidades dos grupos
estelares, emissão no contínuo em ondas de rádio da estrela supergigante IRS 7 e a detecção
da linha do H2 em SgrA West, característica de gás molecular formado no choque do vento com
o meio interestelar circundante.
25
Parte do espectro de SgrA* pode ser explicado como resultado da acresção esférica de
Bondi-Hoyle deste vento pelo buraco negro supermassivo (Melia 1992, 1994). A acresção
Bondi-Hoyle ocorrerá sempre que a energia cinética do gás em acresção for mais baixa do que
sua energia gravitacional. Estas condições são satisfeitas em SgrA*, desde que a velocidade
do vento é da ordem de 700 km s-1.
Como visto no capítulo anterior, IRS 16 é o complexo estelar mais próximo de SgrA*,
localizado a 0.08 pc do centro dinâmico (Lu et al. 2005), e por tanto deveria ser o principal
fornecedor de gás via vento estelar para o processo de acresção. Entretanto, a massa e a
velocidade do vento de IRS 13 fazem com que seja a fonte dominante (Rockefeller et al. 2004;
Mościbrodzka et al. 2006).
Diversas simulações foram realizadas para tentar reproduzir o espectro de SgrA*,
sendo considerados os processos de emissão bremsstrahlung e bremsstrahlung magnético. O
bremsstrahlung magnético representa a emissão de elétrons com distribuição térmica de
energia se movimentando em torno das linhas de campo magnético. A região do espectro
abaixo de 1012 Hz é dominada por este último processo, enquanto que para freqüências
maiores, o espectro é dominado pela emissão bremsstrahlung originada da interação elétron-
íon e elétron-elétron (Melia 1994).
A existência de um pequeno, porém não nulo, momento angular nos ventos, impede
uma queda completamente esférica do gás – como previsto pelo modelo de acresção Bondi-
Hoyle (Edgar 04) – e resulta na formação de um disco de acresção. Como, neste modelo, o
plasma em acresção quase-esférica se torna opticamente fino a partir do infravermelho
distante, o disco poderia ser observado no óptico e no ultravioleta se não fosse pela extinção
no plano galáctico (Melia 1994; Hollywood & Melia 1995; Coker & Melia, 1996, 1997).
Quando o momento angular é não nulo, a velocidade radial do gás em acresção pode
ser escrita como (Melia 1994):
5.0
g2
5.0
g
r1
r
−
−≡
rrcr λυ (3.1)
onde c é a velocidade da luz, r é o raio, rg é o raio gravitacional e λ é definido como:
gcr
L≡λ (3.2)
onde L é o momento angular específico do gás em acresção. Para λ diferente de zero, o gás
forma um disco antes de atingir o buraco negro. A temperatura eletrônica depende da taxa de
resfriamento pelos processos de emissão bremsstrahlung e bremsstrahlung magnético. Estes,
por sua vez, dependem do campo magnético, quanto maior o campo, maior o resfriamento.
26
Considerando eqüipartição entre a energia magnética e gravitacional, a dependência do campo
magnético (B) com o raio (r) é dada por:
5.0
g2
25
22
r1
−•
−
=
r
r
r
r
cMB g
g
λ (3.3)
onde •
M é a taxa de acresção, considerada independente do raio. Dessa forma, é possível
obter a temperatura eletrônica para diferentes raios. Na figura 3.1 é apresentado o perfil de
temperatura eletrônica com momento angular igual a zero (λ = 0), e com dois momentos
angulares não nulos (λ = 2 e λ = 5).
Figura 3.1: Perfil de temperatura para diferentes momentos angulares no gás em acresção em
SgrA*. Curva (a) para λ = 0, curva (b) para λ = 2 e curva (c) para λ = 5. As curvas (b) e (c)
atingem o disco de acresção primeiramente, antes de r = 0 (Melia 1994).
Na figura 3.2 é apresentado o espectro obtido do modelo com λ = 2, onde é possível
perceber que o excesso submilimétrico não é ajustado. O aumento do fluxo nestes
comprimentos de onda é atribuído à região mais interna do disco de acresção, onde também
haveria uma distribuição térmica de elétrons emitindo pelo processo síncrontron, porém o
campo magnético seria originado pelo efeito dínamo (Melia et al. 2001a).
Apesar do modelo de acresção quase-esférica explicar o espectro de SgrA*, ele não
consegue prever sua baixa luminosidade. De fato, a luminosidade observada deveria ser
27
algumas ordens de grandeza maior do que a luminosidade atual de SgrA* (Cuedra et al. 2006).
Porém, a presença de uma grande quantidade de estrelas jovens muito próximas de SgrA*
(Schödel et al. 2003; Ghez et al. 2003, 2005; Eisenhauer 2005) poderia explicar este déficit de
luminosidade. Estas estrelas teriam utilizado para a sua formação parte do gás que serviria
como combustível para o buraco negro, deixando-o menos luminoso do que o previsto pela
teoria (Quataert et al. 1999; Nayakshin et al. 2007).
Figura 3.2: O espectro de SgrA* (Melia 1994) – linha contínua, comparado com os dados
observacionais. Os dados nas freqüências mais altas são limites superiores.
A origem destas estrelas é incerta, mas pode estar ligada com a origem do disco de
acresção, através de duas possibilidades: (i) as estrelas surgiram de uma região de
instabilidade provocada pela fragmentação do disco de acresção a grandes raios, em escalas
de subparsec (Shakura & Sunyaev 1973; Gammie 2001; Paumard et al. 2006; Nayakshin et al.
2007) e (ii) o fluído em queda livre teria ganhado seu momento angular e originado o disco de
acresção após a colisão com uma nuvem molecular responsável pela formação das estrelas
(Yusef-Zadeh & Wardle 2008, Wardle & Yusaf-Zadeh 2008, Yusef-Zadeh et al. 2008b).
Após o processo de formação do disco de acresção e das estrelas próximas, a
interação entre ambos continua. As novas estrelas fornecem gás através de ventos estelares
relativamente uniformes, continuando o processo de acresção quase-esférica,
28
simultaneamente com o já existente disco de acresção (Coker et al. 1999; Mościbrodzka et al.
2006).
Simulações numéricas mostram o processo quase-esférico ocorre para grandes
distâncias de SgrA* enquanto que nas regiões mais próximas se forma o disco de acresção
(Coker et al. 1999). Além disso, é possível que parte do gás, com momento angular igual a
zero, não sofra o processo de acresção e forme um halo ao redor de SrgA* (Mościbrodzka et
al. 2006), o que seria capaz de explicar, em conjunto com a precessão do disco, a possível
periodicidade em ondas de rádio, como será visto na seção 3.4 (Zhao et al. 2001, Herrnstein et
al. 2004; Prescher & Melia 2005).
Apesar do sucesso do modelo de acresção-esférica em explicar diversos aspectos da
emissão de SgrA*, o ajuste do espectro, apresentado na figura 3.1, ainda é controverso. O
modelo é simplificado, as estrelas são consideradas fixas, não respeitando a distribuição em
dois discos reportada por Genzel et al. (2003c) e somente são considerados ventos estelares
intensos (Cuadra et al. 2006; Moscibrodzka et al. 2006).
Figura 3.3: Ajuste do modelo de Bondi-Hoyle mais detalhado no espectro de SgrA* para
diferentes momentos angulares do gás em acresção. O modelo é incapaz de ajustar a emissão
em ondas de rádio da fonte.
Simulações mais detalhadas, levando em conta o movimento das estrelas e ventos
estelares menos intensos, reproduzem as observações mais recentes obtidas em raios-X e no
infravermelho, mas não conseguem reproduzir o espectro em ondas de rádio, como pode ser
visto na figura 3.3 (Cuadra et al. 2006; Moscibrodzka et al. 2006). O problema pode ser
29
resolvido com a inclusão de uma distribuição de elétrons não térmicos (Yuan et al. 2003), na
forma de um jato (seção 3.3) ou na forma de um halo (seção 3.4).
3.2. ADAF e RIAF
Outro modelo que pode ser aplicado à SgrA* é o modelo ADAF (advection-dominated
accretion flow), especialmente apropriado para buracos negros de baixa luminosidade. A
geometria do modelo é esférica (similar a acresção Bondi-Hoyle) e as velocidades radiais do
gás no disco de acresção são muito próximas às de queda livre, havendo um raio sônico
localizado a poucos raios de Schwarzschild do objeto central. Na região do disco interna ao raio
sônico (a localização do raio sônico depende da viscosidade do gás), o plasma em acresção
atinge velocidades acima da velocidade do som no meio (Narayan et al. 1998b, Narayan &
McClintok 2008).
O processo ADAF ocorre quando a taxa de energia gerada pela viscosidade do fluído
do disco for maior do que a taxa de energia perdida pelos processos de emissão. Desse modo,
a energia de viscosidade é transferida para o buraco negro, e pouca energia é perdida pelo
resfriamento radiativo, e por isso, a fonte apresenta uma baixa luminosidade (Narayan et al.
1998b).
A principal diferença entre o modelo ADAF e o de acresção Bondi-Hoyle (Bondi 1952)
está no disco de acresção. Mesmo que um pequeno momento angular no gás em acresção
possa produzir um disco, transformando o processo Bondi-Hoyle em acresção quase-esférica
como visto na seção anterior, a dinâmica do gás neste disco será bem diferente da dinâmica no
modelo ADAF. Neste último, a dinâmica do disco permite que o fluído atinja o infinito com
energia positiva e seja ejetado, o que permite a existência de jatos simultaneamente com o
modelo ADAF. Além disso, o modelo consegue explicar a baixa luminosidade de SgrA*, o que
não acontece com o modelo de acresção quase-esférica (Narayan & Yi, 1994; 1995; Narayan
et al. 1998b; Yuan 2000; Yuan et al. 2002, 2003; Yuan 2006).
O modelo ADAF possui 4 soluções descritas na tabela 3.1. Como SgrA* encontra-se no
regime sub-Eddington, o seu espectro é mais bem explicado pela solução opticamente fina,
onde íons e elétrons possuem temperaturas diferentes (Melia & Falcke 2001; Yuan 2007).
Nesta solução, os elétrons e íons do plasma somente interagem através de colisões
coulombianas e não existe acoplamento térmico entre eles. Os íons são muito mais quentes do
que os elétrons e também possuem uma maior energia de viscosidade turbulenta. O espectro
resultante para esta solução do modelo ADAF pode ser dividido em duas partes: a emissão em
ondas de rádio até os comprimentos de onda de raios-X duro são produzidos por elétrons via
processo Synchrotron, Compton inverso e bremsstrahlung enquanto a radiação em raios-γ é
resultado do decaimento de píons neutros criados em colisões próton-próton. A figura 3.4
mostra esquematicamente os vários elementos do espectro ADAF ao redor do buraco negro
(Narayan et al. 1998b).
30
A figura 3.5 mostra o melhor ajuste do modelo ADAF ao espectro observado de SgrA*.
As linhas pontilhadas correspondem ao modelo de disco fino e a linha contínua ao modelo
opticamente fino (duas temperaturas). A massa assumida para o buraco negro é 2.6 x 106 M�
(Schödel et al. 2002; Ghez et al. 2003) e a taxa de acresção é variável, dependente do fluxo
em raios-X (Quartet et al. 1999; Loeb 2004). O resultado do modelo reproduz o espectro em
altas freqüências, mas subestima o fluxo em ondas de rádio (Yuan et al. 2003).
Tabela 3.1: Soluções do modelo ADAF
Solução Características Princi pais Referências
Disco Fino O gás em acresção forma um disco opticamente
espesso e geometricamente fino, produzindo um
espectro próximo ao de corpo negro
Shakura & Sunyaev
(1973); Novikov &
Thorn (1973);
Lynden-Bell &
Pringle (1974)
ADAF Quente O gás em acresção é formado por um plasma com
duas temperaturas diferentes, sendo a temperatura
iônica mais elevada do que a temperatura eletrônica.
O gás é opticamente fino e produz um espectro de
lei de potência na faixa de raios-X e raios-γ do
espectro.
Shapiro et al.
(1976); Björnsson &
Svensson (1991);
Luo & Liang (1994)
ADAF
opticamente
espesso
Presente quando a taxa de acresção é super-
Eddington. A profundidade óptica é elevada e
grande parte da radiação não escapa do potencial
gravitacional do buraco negro.
Katz (1977);
Begelman (1978);
Abramowicz et al.
(1988); Eggum et al.
(1988)
ADAF
opticamente fino
(Duas
Temperaturas)
Presente quando a taxa de acresção é sub-
Eddington. O gás em acresção tem uma baixa
densidade e uma alta viscosidade com a energia
térmica sendo irradiada. O gás é opticamente fino
sendo adotada a configuração com duas
temperaturas.
Ichimaru (1977);
Rees et al. (1982);
Narayan & Yi;
(1994, 1995);
Abramowicz et al.
(1995)
O modelo ADAF considera a taxa de acresção constante com o raio do disco – apesar
de simulações numéricas mostrarem que para grandes raios apenas uma pequena fração da
massa do gás disponível sofre a acresção do buraco negro (Stone et al. 1999; Hawley & Balbus
2002) – e não consegue explicar a polarização do espectro de SgrA* (Yuan et al. 2003; Yuan
2007).
Para resolver o problema, Yuan et al. (2003) introduziram uma distribuição de elétrons
não-térmicos no plasma em acresção, transformado o modelo ADAF em um novo modelo,
denominado RIAF (radiatively inefficient accretion flow). No modelo RIAF, a densidade do gás
31
próximo ao buraco negro é menor do que nos modelos ADAF e de acresção quase-esférica e,
por tanto, a taxa a de acresção é menor. A baixa polarização linear detectada é atribuída a esta
baixa densidade do gás nos raios mais próximos do buraco negro (Igumenshchev & Narayan
2002; Yuan et al. 2003).
Figura 3.4: Espectro esquemático do processo ADAF ao redor de um buraco negro. S, C e B
referem-se ao processo de emissão, por radiação synchrotron, Compton inverso e
bremsstrahlung, respectivamente. A linha contínua corresponde à baixa taxa de acresção de
massa, a linha tracejada a taxa intermediária e a linha pontilhada a alta taxa de acresção de
massa. A emissão de raios-γ é devido ao decaimento de píons (Narayan et al. 1998b).
Figura 3.5 (a) O espectro do modelo ADAF de duas temperaturas para SgrA* (linha contínua).
A linha pontilhada mostra o espectro de acordo com o modelo de disco de acresção fino na
mesma taxa de acresção. (b) A linha pontilhada corresponde ao modelo ADAF com uma
temperatura. A linha contínua é o modelo padrão de duas temperaturas (Narayan et al. 1998b).
32
O efeito dos elétrons não-térmicos melhora o ajuste do espectro em baixas
freqüências (Mahadevan 1998; Öziel et al. 2000; Wardzinski & Zedarski 2001; Yuan et al. 2003;
Yuan 2007). Porém a taxa de acresção considerada pelo modelo RIAF é de 3 x 10-6 M ano-1, o
que é duas ordens de magnitude maior do que o limite superior imposto pelas observações da
polarização em ondas de rádio (Yuan et al. 2003).
Na figura 3.6 é apresentado o ajuste do modelo RIAF ao espectro de SgrA*. Ele ajusta
bem o espectro em rádio e respeita os limites superiores das observações no infravermelho. Os
elétrons não térmicos são responsáveis pela emissão em ondas de rádio e infravermelho
enquanto os elétrons térmicos são responsáveis pelo excesso submilimétrico e por flares em
raios-X. (Yuan et al. 2004; Yuan 2006). O modelo RIAF permite também a existência de um
jato para explicar o espectro em ondas de rádio (Yuan et al. 2002; Yuan 2007).
Figura 3.6: Ajuste do modelo ADAF/RIAF no espectro de SgrA* (Yuan 2007). A linha
pontilhada/tracejada é a emissão synchrotron e synchrotron self-compton dos elétrons térmicos
enquanto que a linha tracejada é a emissão synchrotron dos elétrons não térmicos. A linha
contínua é a soma das duas contribuições. Os dados em rádio são os observados por Falcke et
al. (1998; círculos abertos) e Zhao et al. (2003; círculos fechados); os dados em infravermelho
são de Serabyn et al. (1997) e Hornstein et al. (2002); e a emissão em raios-X foi observada
por Baganoff et al. (2003).
Simulações considerando o efeito do espalhamento interestelar na imagem de SgrA*,
caso o processo de acresção seja descrito pelo modelo RIAF, produzem um resultado
consistente com o tamanho observado em 7 e 3.5 mm por Shen et al. (2005), sendo este um
forte argumento em favor do modelo RIAF (Yuan et al. 2006). Entretanto, um trabalho
equivalente simulando a imagem de SgrA* considerando a existência de jatos também obteve
33
valores consistentes as observações (Markoff et al. 2007). Os dois modelos não são
excludentes e um modelo simbiótico poderá explicar o espectro de SgrA*, como será discutido
a seguir.
3.3. Modelos de Jato
A existência de jatos já foi verificada em buracos negros supermassivos e de origem
estelar. Jatos são compactos e sofrem o processo de auto-absorção em baixas freqüências,
sendo a emissão variável e correlacionada entre os comprimentos de onda de rádio e raios-X
(Fender et al. 2003). Evidências da presença desses jatos em fontes de baixa luminosidade
fortalecem a hipótese da existência de um jato em SgrA*. Estudos de XRBA0620-00, um
buraco negro de origem estelar cuja emissão rádio foi detectada recentemente (Gallo et al.
2006), mostra a produção de um jato na fonte cuja luminosidade em raios-X não excede
Edd-9 L 10 x 5 , muito próxima da encontrada em SgrA*, onde a luminosidade em raios-X é de
Edd-10 L 10 x 4 (Predehl & Zinnecker 1996; Markoff et al. 2007).
Resultados de imagens construídas em 7 mm obtidas de simulações numéricas,
baseadas em diferentes modelos de jatos que reproduzem o espectro de SgrA*, indicam que
seu tamanho intrínseco medido (Shen et al. 2005; Bower et al. 2004; 2006) pode ser
conseqüência da existência destes jatos (Markoff et al. 2007). Além disso, uma recente
correlação entre a variabilidade no infravermelho de SgrA* e a de uma extensa região de
poeira localizada a 75 mas, na região ao sudoeste de SgrA*, foi interpretada como sendo a
colisão de um jato com o meio interestelar do centro galáctico (Clénet et al. 2005).
No modelo para SgrA*, o jato é dividido em uma série de seções cilíndricas e sua
emissão total é calculada levando-se em conta a contribuição de cada componente. Para cada
segmento, a profundidade óptica para absorção síncrontron é dada por (Falcke et al. 1993,
Falcke & Markoff 2000):
isin)(
θπατ ν
ν D
zr= (3.4)
onde να é o coeficiente de absorção, )(zr é o raio do jato como função da distância z até sua
origem e D é o fator Doppler, considerando a aberração angular devido ao movimento
relativístico do jato, o fator Doppler é dado por:
)cos-1(1
iθβγ=D (3.5)
34
onde γ é o fator de Lorentz, θi é o ângulo do jato com a linha de visada e cυβ = , onde υ é a
velocidade do jato. Considerando a emissão isotrópica, o fluxo é dado por:
2
2
4)sin(2
)(gcd
DzFDrobsF i
πθ ν
ν = (3.6)
O termo zDr i )sin(2 θ é a área projetada aproximada do cilindro de emissão e dgc é a
distância até o centro galáctico, considerada de 8.5 kpc. O ângulo utilizado para reproduzir o
espectro da figura 2.1 foi oi 57=θ , por ser o ângulo mais comum encontrado para fontes com
orientação aleatória, porém, um maior ou menor valor de iθ não pode ser completamente
excluído (Fabio & Markoff 2000, Jolley & Kuncic 2008).
Figura 3.7: Ajuste do espectro de SgrA* através do modelo de Falcke & Markoff (2000), cujos
parâmetros livres estão presentes na figura. Os pontos são o resultado do fluxo medido
simultaneamente por Falcke et al. (1998) com pontos adicionais nas altas freqüências
observados por Serabyn et al. (1997).
O espectro obtido neste modelo é apresentado na figura 3.7. O modelo de jato explica
o espectro em rádio e em raios-X além do excesso submilimétrico, porém não está claro se a
emissão em raios-X é originada no jato ou no disco de acresção. O baixo fluxo observado pelo
satélite ROSAT, ~1034 erg s-1 (Predehl & Zinnecker 1996), sugere que a componente
Synchrotron Self-Compton seja a mais importante entre os processos de emissão, entretanto, a
forma íngreme do espectro não descarta a possibilidade de que a emissão bremsstrahlung
térmica do disco de acresção seja uma componente importante.
35
Apesar do sucesso do modelo de jato para explicar o espectro, sua presença ainda não
foi detectada diretamente. Acredita-se que os jatos possam sempre existir simultaneamente
com o disco de acresção, porém são mais facilmente detectados em fontes de alta
luminosidade como quasares e outras AGN`s (Markoff et al. 2007, Jolley & Kuncic 2008). Além
disso, a detecção depende diretamente da orientação do jato com a linha divisada para uma
mesma luminosidade, um posicionamento paralelo a linha de visada ( oi 0=θ ) torna a
observação mais difícil do que a de um jato na posição perpendicular ( oi 90=θ ).
Outros argumentos em favor do modelo de jato para SgrA* são a variabilidade em
ondas de rádio e a polarização em comprimentos de ondas submilimétricos, similares aos das
AGN`s de baixa luminosidade (Nagar et al. 2002; Nagar et al. 2005), além de um curto atraso
detectado (de 0.5 a 1 hora) na variabilidade em 22 GHz com relação à de 43 GHz. Este atraso
na variabilidade é consistente com a expansão de bolhas adiabáticas, como seria esperado no
caso da existência de um jato (Yusef-Zadeh et al. 2006, Yusef-Zadeh et al. 2008a).
O espectro pode também ser representado por um modelo simbiótico de disco com
jato. Nestes casos, são utilizados modelos de acresção de baixa eficiência para o disco, como
por exemplo, o ADAF ou a acresção quase-esférica (Falcke 1999; Yuan et al. 2002).
Figura 3.8: Modelo de jato para SgrA* Falcke (1999). A linha continua é a soma das
contribuições do jato e do nozzle. Os dados em rádio são os obtidos por Falcke et al. (1998).
Nos modelos de jato puro, a região onde o jato se forma (nozzle) é a responsável pela
emissão submilimétrica (Falcke 1999; Yuan et al. 2006), como pode ser visto na figura 3.8
(onde a linha contínua é a contribuição da emissão do jato somada à contribuição do nozzle).
Nos modelos simbióticos, o jato é formado na região mais interna do disco de acresção,
36
próximo ao objeto compacto (Falcke & Biermann 1995), sendo o disco responsável pela
emissão submilimétrica (Yuan et al. 2006).
Nestes modelos jato-disco, é assumido que o fluxo observado em ondas de rádio é
igual à potência emitida pelo jato, o que permite obter um limite inferior para a potência do jato.
Assumindo que metade da energia liberada pelo disco de acresção é usada para produzir o
jato, é necessária uma taxa de acresção mínima de 5 x 10-8 M� (Falcke 1999). Com esta taxa
de acresção, o disco deve ser radiativamente ineficiente (ADAF ou RIAF) para não produzir
uma emissão no infravermelho maior do que os limites observacionais (Narayan & Mahadevan
1995; Falcke 1999; Falcke & Biermann 1999; Donea et al. 1999).
Figura 3.9: Espectro previsto pelo modelo jato-ADAF, A linha contínua é a soma dos espectros
do modelo ADAF representado pela linha pontilhada e do jato, representada pela linha
tracejada (Yuan 2000).
No modelo jato-ADAF, para freqüências abaixo de uma freqüência crítica )(Rvc ,os
fótons emitidos pelo processo synchrotron no disco de acresção (responsáveis pelo espectro
em rádio), sofrem auto-absorção. Para freqüências acima )(Rvc , o gás se torna opticamente
fino e o espectro total resultante seria um ADAF “truncado”, ou seja, um espectro ADAF sem o
espectro em rádio como pode ser visto na Figura 3.9 (Yuan 2000; Yuan et al. 2002).
Além do modelo jato-ADAF, existem outras possibilidades de modelos simbióticos para
explicar a emissão de SgrA, como o modelo jato-RIAF com acoplamento magnético. Neste
modelo, a estrutura radial do disco é modificada por um torque magnético responsável pela
formação do disco (Kuncic & Bicknell 2004; 2007a); este acoplamento magnético entre o disco
relativístico e jato resulta em um disco menos luminoso do que um disco sem jato para a
mesma taxa de acresção (Kuncic & Bicknell 2007b; Jolley & Kuncic 2008). Na figura 3.10 é
37
apresentado o resultado do modelo, considerando o ângulo oi 57=θ e dois valores extremos
para o spin de SgrA*: 0=a e 99.0=a . O resultado dos dois casos é semelhante e
satisfatória, só que, em nenhum deles é possível explicar o excesso submilimétrico como
sendo intrínseco à fonte.
Apesar do modelo de jato-disco explicar o espectro de SgrA*, existem algumas
características observacionais que contradizem este modelo. Os jatos produzidos como
resultado dos modelos presentes nas figura 3.7 (jato puro) e 3.10 (jato-disco) predizem a
dependência do tamanho intrínseco de SgrA* com o comprimento de onda como 1.1int λθ ∝
(Shen et al. 2005), enquanto que o resultado encontrado é 6.1int λθ ∝ (Bower et al. 2004,
2006). Além disso, não foi encontrada uma correlação entre as curvas de luz em ondas de
rádio e em raios-X, como esperado no modelos de jato (Körding et al. 2006; Merloni et al.
2006), apesar de já haver sido reportado um aumento no fluxo em ondas de rádio simultâneo
com a ocorrência de flares em raios-X, como pode ser visto na Figura 2.16 (Herrnstein et al.
2004; Zhao et al. 2004; Eckart et al. 2006; Marrone et al. 2007).
Figura 3.10: Modelo jato-RIAF acrescentando o acoplamento magnético entre disco e
jato (Jolley & Kincic 2008).
3.4 Modelo de Halo
Este modelo explica a variabilidade quase-periódica em ondas de rádio. Ele prevê a
precessão do disco induzida pelo momento angular do buraco negro, sendo a sombra deste
disco projetada em um halo de partículas não térmicas. Na figura 3.11 é apresentado o
modelo, o disco precessiona como um corpo rígido sendo completamente opaco, enquanto o
halo é opticamente fino para comprimentos de onda menores que 1 cm. Conforme o disco se
movimenta, ele muda a inclinação em relação à linha de visada, sendo observado um mínimo
na curva de luz quando o disco tem sua máxima projeção no plano do céu e um máximo no
caso contrário (Liu & Melia 2002; Prescher & Melia 2005; Rockefeller et al. 2005).
38
Para uma distribuição de elétrons como função da energia da forma:
dEENdEEN p−= 0)( (3.7)
O coeficiente de absorção do halo é dado por (Prescher & Melia 2005):
( ) 32
540
4
sin6
−= vBcm
Ne φπ
αν (3.8)
Onde 2=p , E é a energia e N0 é a densidade de partículas, B é a intensidade do campo
magnético, φ é o ângulo entre a velocidade do elétron e o vetor campo magnética. A carga do
elétron, a massa e a velocidade da luz são representado pelos seus símbolos usuais.
Figura 3.11: Modelo de precessão do disco, onde dR é o raio do disco de acresção e hR é o
raio do halo de partículas não térmicas. O vetor spin do buraco negro é designado por S ,
enquanto L é o vetor momento angular do disco de acresção, formando ângulos α, β e γ com
os eixos x, y e z respectivamente (Prescher & Melia 2005).
O modelo pode explicar o aumento da amplitude da variabilidade com a freqüência,
mencionada na seção 2.3.3. Como o halo vai se tornando opticamente espesso para os
maiores comprimentos de onda, a maior parte da região de emissão do halo que pode ser
observada encontra-se na frente do disco de acresção e por isso não é afetada pela sombra do
disco. Por isso, medidas em 7 mm e 1.3 cm são mais afetadas pela sombra do disco do que
medidas em 2.0 e 3.6 cm. Na figura 3.12 é possível ver o resultado do modelo de precessão do
39
disco (linha contínua) sobreposto às observações. O modelo é calculado para um raio do halo
de sh RR 5.21= e para um raio do disco de sd RR 5.17= . Na parte (a) da figura, o halo possui
uma distribuição uniforme de partículas e na parte (b) a distribuição é proporcional a r -1. O
modelo ajusta bem a curva e luz observada para comprimentos de onda de 1.3 cm e 2.0 cm,
mas o mesmo não ocorre para 3.6 cm. Para este comprimento de onda, o fluxo previsto é
menos intenso do que o observado, pois o modelo considera o volume do halo constante com
o comprimento de onda, o que não acontece na realidade.
Figura 3.12: Modelo de precessão do disco comparado com o fluxo observado de SgrA* por
Zhao et al. (2001). Parâmetros utilizado pelo modelo: sh RR 5.21= ; sd RR 5.17= e distribuição
de partículas em (a) é uniforme e em (b) é r1 (Prescher & Melia 2005).
Como a precessão do disco é a responsável pela existência do ciclo, é possível
compreender porque o período é o mesmo para diferentes comprimentos de ondas, mas ainda
não está claro se o período de 106 dias corresponde a todo o movimento ou apenas a metade
dele. A detecção dos períodos harmônicos de 57 e 106 dias (Falcke 1999; Zhao et al. 2001)
pode indicar que o primeiro corresponda ao semi-período da precessão, enquanto o segundo
ao movimento completo (Prescher & Melia 2005).
O modelo está de acordo com a hipótese da emissão de SgrA* ser formada por duas
componentes (Liu et al. 2007), sendo elas o halo e o disco. Como o halo é opticamente fino
para comprimentos de onda abaixo de 7 mm, é possível observar a emissão do disco enquanto
para freqüências mais altas, apenas a componente do halo é detectada (Melia et al. 2001; Liu
& Melia 2002).
40
Apesar de o modelo explicar a variabilidade de SgrA*, é necessário verificar se o disco
movimenta-se como um corpo rígido. Um buraco negro em rotação produz o arrasto do espaço
em torno dele, de tal forma que uma partícula numa órbita inclinada com relação ao eixo de
rotação sofre um torque que origina sua precessão (Lense & Thirring 1918). No caso de um
disco, formado por uma grande quantidade de partículas, o efeito Lense-Thirring em conjunto
com a viscosidade do fluído tende a produzir o alinhamento da região mais interna do disco
com o equador do buraco negro enquanto o restante permanece desalinhado, produzindo uma
deformação no disco de acresção (Barden & Peterson, 1975), como apresentado na figura
3.13.
Figura 3.13: Resultado de simulação mostrando um disco de acresção com 5=M ,
onde ocorre o efeito Barden-Peterson (Nelson & Papaloizou 2000).
O tempo de alinhamento e o raio da região interna alinhada ao equador (raio de
Bardeen-Peterson) dependem da viscosidade do fluído, que pode ser descrita pelo número de
Mach, definido como
scM
υ= (3.9)
onde υ é a velocidade do fluido e sc é a velocidade do som no meio. Fluídos com números de
Mach pequenos são mais viscosos e por isso apresentam um maior raio de Bardeen-Peterson.
Simulações numéricas indicam que em discos de acresção com números de Mach 5≤M , o
raio de Barden-Peterson é maior do que o raio do disco, o que produz um alinhamento sem
deformação em uma escala de tempo longa (Nelson & Papaloizou 2000). Para o caso de
SgrA*, o número de Mach previsto é 3~M , não havendo tempo suficiente para que ocorra o
alinhamento (Kumar & Pringle 1985; Ivanov & Illarionov 1997), de modo que o disco
apresentado na figura 3.14, precessiona como um corpo rígido (Rockefeller et al. 2005).
O modelo de precessão explica a variabilidade do espectro em ondas de rádio e sua
suposta periodicidade, mas é necessário um modelo de emissão do disco para explicar o
restante do espectro. Entretanto, como visto na seção 3.1, o modelo de acresção quase-
esférica consegue prever o espectro apenas para freqüências maiores do que as ondas de
rádio, pois não possui uma distribuição de partículas não térmicas (Yuan et al. 2003;
41
Mościbrodzka et al. 2006). Dessa forma, assim como o modelo simbiótico jato-RIAF consegue
explicar melhor o espectro de SgrA* do que ambos isoladamente, o modelo de precessão de
disco e acresção quase-esférica devem atuar simultaneamente para explicar a totalidade do
espectro (Cuedra et al. 2006). De fato, como visto na seção 3.1, simulação de acresção de
ventos estelares de IRS 13 por SgrA* através do modelo quase-esférico, indicou que pode
existir um resíduo de partículas sem momento angular que seria responsável pela formação de
um halo (Mościbrodzka et al. 2006).
Figura 3.14: Simulação onde é construído um disco usando a temperatura do gás e a
densidade vinculados com as observações. O disco é espesso e o efeito Barden-Peterson é
suprimido (Rockefeller et al. 2005).
42
Capítulo 4
Observações em ondas de rádio
Neste capítulo serão mostradas as características do radiotelescópio utilizado para as
observações e o seu funcionamento (seção 4.1), seguido das propriedades do receptor
utilizado (seção 4.2) e dos métodos de observação (seção 4.3). Em seguida, serão explicadas
as calibrações em fluxo e do equipamento (seção 4.4).
4.1 O Radiotelescópio do Itapetinga
As observações foram realizadas utilizando o radiotelescópio do Itapetinga, mostrado
na figura 4.1. Ele é formado por uma antena de 13,7 metros, coberta por uma redoma que a
protege de instabilidades dinâmicas produzidas pelo vento e de variações de temperatura. A
redoma é formada por painéis triangulares, cujas formas e distribuição são aleatórias, cobertos
por um plástico laminado e por uma película muito fina de Tedlar branco, que contribui para
rejeição do ultravioleta. Está localizado no município de Atibaia, 60 km ao norte da cidade de
São Paulo (φ = -23o11’ e λ = 46o33”), a uma altitude de 900 m acima do nível do mar, em um
vale natural cercado por montanhas que o protegem de interferência.
Figura 4.1: Antena de 13,7m do Radio Observatório do Itapetinga, localizado na cidade de
Atibaia. A imagem foi registrada durante o processo de construção da redoma.
43
A antena, inaugurada em 1972, possui precisão para ondas milimétricas, podendo
operar entre 10 e 100 GHz (Kaufmann 1971). Atualmente, o radiotelescópio possui dois
receptores para observação no contínuo, em 22 e 43 GHz, com largura de banda de 1 GHz. A
redoma, apesar de proteger a antena, pode introduzir outros problemas como a atenuação do
sinal observado, o aumento da temperatura do sistema, e a interferência por ondas
estacionárias, além do acúmulo de umidade na sua superfície, este último efeito pode ser
contornado realizando calibrações que utilizam fontes de ruído com temperatura conhecida e
absorvedores a temperatura ambiente (Abraham & Kokubun 1992). O fator de transmissão da
redoma é da ordem de 0.8 para a freqüência de 43 GHz.
A antena possui montagem alto-azimutal com foco Cassegrian e seu movimento é
controlado por computadores, seguindo uma série de operações. Primeiramente, é realizada a
leitura da hora sideral – através de um GPS ligado diretamente ao computador responsável
pelo rastreio – simultaneamente com a leitura da posição da antena, dada em elevação e
azimute pelos codificadores. Depois, é calculada a posição da fonte em termos de elevação e
azimute a partir de suas coordenadas equatoriais (ascensão reta e declinação) através das
equações:
)sin()cos()cos()sin( hElAz δ−= (4.1)
)cos()cos()sin()sin()cos()cos()cos( hElAz δλδλ −= (4.2)
)cos()cos()cos()sin()sin()sin( hEl δλδλ += (4.3)
onde δ é a declinação, h é a ângulo horário dado por α−= HSh , sendo HS a hora sideral e
α a ascensão reta, e λ é a latitude do centro da antena. Por fim, é enviado um comando para
quatro pares de motores, que executam os movimentos em elevação e azimute corrigindo a
diferença entre as posições da antena e da fonte.
O feixe do radiotelescópio é formado por um lóbulo principal, onde o ganho é máximo,
e por lóbulos secundários, conseqüência do fenômeno de difração. O feixe principal, mostrado
na figura 4.2, pode ser representado por uma gaussiana, quanto menor a largura a meia
potência HPBW (Half Power Beam Width), maior o poder de resolução da antena.
O feixe do radiotelescópio do Itapetinga possui um HPBW de 2.2’ em 43 GHz, sendo
determinado através de observação de fontes pontuais. As constantes de apontamento da
antena foram determinadas utilizando medidas de diversas fontes pontuais com posições bem
conhecidas, localizadas em diferentes posições da esfera celeste. Durante os dois anos de
observações, foram determinadas novas constantes para melhorar o apontamento, e por isso,
os dados coletados estão divididos em duas épocas: 2006 e 2007/2008. A precisão na
determinação da posição das fontes astronômicas é de milésimos de graus.
44
Figura 4.2: Modelo de Feixe para a antena. P(θ) é a potência observada pelo lóbulo principal
(Kraus 1966).
4.2 Receptores de Radiação
A finalidade de um receptor é detectar e amplificar a radiação recebida pela antena. Os
sinais de fontes astronômicas possuem potência muito baixa, da ordem de 10-16 W para a
emissão no contínuo e de 10-20 W para linhas espectrais. Devido à baixa potência do sinal
astronômico, o ganho do receptor deve ser elevado. Para tanto, são utilizadas cascatas de
amplificadores, onde o ganho total está relacionado com o ganho em cada estágio de
amplificação. O problema de amplificadores em cascatas é a instabilidade, pois,
freqüentemente, parte da potência é perdida e pode ser injetada novamente no sistema,
introduzindo grandes oscilações. Para corrigir o problema de maneira mais efetiva, muda-se a
freqüência de saída, de maneira a evitar a re-alimentação do receptor, utilizando o método
super-heteródino. Neste método, o sinal detectado é misturado com outro sinal, de freqüência
diferente, introduzido por um oscilador local.
Na figura 4.3 é apresentado um esquema de um receptor em ondas de rádio e a forma
do sinal em volts em cada etapa. Ele é formado por uma corneta receptora, seguido de um filtro
que define a banda passante, um misturador e um oscilador local, além de um amplificador, um
detector quadrático e um filtro passa baixa.
O sinal detectado e o sinal do oscilador local são convertidos em outra freqüência
através do misturador. Em um misturador, a voltagem de entrada (composta pela soma dos
sinais detectado e local) está relacionada através de uma função não linear com a voltagem de
saída, sendo utilizado o elemento quadrático devido a sua simplicidade. A voltagem de saída
será uma superposição de componentes de diferentes freqüências, relacionadas com as
freqüências do sinal detectado pelo receptor e do sinal local. Após esta etapa, a presença de
45
um filtro apropriado seleciona apenas uma das componentes, que resulta na saída de uma
freqüência intermediária, indicada por “i.f.” na figura. A freqüência intermediária resultante é
dada pela seguinte relação:
lsif vvv −= (4.4)
onde ifv , sv e lv são respectivamente, as freqüências intermediária, do sinal detectado e do
sinal local.
Figura 4.3: Esquema do receptor da antena de Itapetinga. À direita, a forma do sinal resultante
de cada elemento.
A relação 4.4 pode ser obtida de duas maneiras: com a freqüência do oscilador local
superior ou inferior à freqüência do sinal detectado e, por isso, o detector é conhecido como de
banda dupla. A potência de saída na freqüência intermediária é proporcional a potência do
oscilador local e por isso o misturador é considerado um elemento linear. Para aumentar o
ganho total do sistema, poderia se elevar a potência do oscilador local, no entanto, potências
46
muito altas podem produzir altas variações no ganho devido à falta de estabilidade, sendo
necessário encontrar um termo médio entre o alto ganho e a estabilidade do oscilador local.
Após a etapa do misturador, o sinal pode passar pela cascata de amplificadores sem o
risco de uma re-alimentação provocada por perdas de potência do sistema, pois a freqüência
de saída do misturador (~ 10 - 30 MHz) é baixa o suficiente para que não seja coletada pela
corneta. O ganho final, após a passagem pelos amplificadores, é de ~80-100 dB e o sinal de
freqüência intermediária passa por um detector quadrático onde a voltagem de saída é o
quadrado da voltagem de entrada com o objetivo de tornar a voltagem do sinal completamente
positiva. Finalmente, o sinal atravessa um filtro passa-baixa, onde as freqüências maiores são
retiradas, e sua voltagem é medida por um voltímetro digital para, então, ser armazenada no
computador responsável pela aquisição de dados. A voltagem medida (Vd) é transformada em
temperatura de antena (TA) através da equação:
dA CVT = (4.5)
A temperatura de antena é definida como a temperatura de um resistor com potência de ruído
equivalente a potência do sinal medido pelo detector, sendo facilmente relacionada com a
densidade de fluxo através de observações de fontes calibradoras com densidade de fluxo
conhecida (seção 4.4). A constante C é a constante radiométrica e será discutida na seção
seguinte.
A temperatura mínima (Tmín) que pode ser detectada por um receptor é aquela que
produz uma resposta igual à introduzida pela flutuação rms do ruído do sistema, dado pela
equação:
τv
TT sis
mín ∆= (4.6)
onde v∆ é a largura de banda, τ é o tempo de integração e sisT é a temperatura do sistema. A
temperatura do sistema é dada pela temperatura de antena somada à temperatura produzida
pela emissão térmica do receptor, sendo ~ 700K para o receptor de 43 GHz, utilizado para as
observações de SgrA*. Por tanto, o receptor é capaz de observar fontes radio astronômicas
com temperaturas de antena ≳ 10-2 K após um tempo de integração de 5 segundos.
4.3 Métodos de Observação
As observações de fontes astronômicas podem ser realizadas utilizando apenas uma
corneta, como no método de varredura, ou duas cornetas (observações com chaveamento)
como nos métodos ON-ON e ON-OFF (ON – observação da fonte, OFF – observação do céu).
47
Os métodos são semelhantes quando as condições atmosféricas são boas e as fontes não são
muito fracas. A vantagem do método de varreduras é poder visualizar a fonte através da forma
do feixe e as condições atmosféricas através da linha de base. Esta possibilidade faz com que
o método de varreduras seja o mais adequado para observações de fontes cujas intensidades
são próximas à sensibilidade do sistema. Nesta seção haverá uma breve introdução aos
métodos de chaveamento e uma descrição mais detalhada do método de varredura, utilizado
para o monitoramento de SgrA*.
Nos métodos em que se utilizam duas cornetas, uma delas recebe o sinal da fonte
mais o sinal do céu, e a outra recebe apenas o sinal do céu, estando separadas por uma
distância pelo menos duas vezes maior do que o tamanho do feixe. As cornetas são colocadas
no plano horizontal, isto é, na mesma elevação, de maneira a variar somente o azimute. Como
o receptor recebe os sinais das duas cornetas, é necessário um detector sincrônico, que ligado
a uma chave que comuta os feixes, subtrai os sinais de ambas as cornetas. No método ON-
OFF, uma pequena diferença de ganho entre as cornetas interfere na subtração do sinal do
céu, produzindo um erro na determinação da temperatura de antena da fonte.
O método ON-ON tenta solucionar este problema, alternando as cornetas depois de
um certo intervalo de tempo. Se, em um dado momento, uma corneta está apontada para fonte
e a outra está apontada para o céu, no momento seguinte elas trocam, repetindo este
procedimento até o fim da observação. Existe ainda o método ON-OFF sincrônico, onde
durante um minuto, uma das cornetas aponta para a fonte e a outra aponta para o céu, na
mesma configuração do ON-OFF comum, e posteriormente, as duas cornetas apontam para o
céu no lugar onde a fonte estava no minuto anterior, com o objetivo de eliminar possíveis
ondas estacionárias.
No método de varreduras é possível separar com mais precisão a contribuição da
temperatura do céu do sinal da fonte. Neste método, o radiotelescópio varre uma região do céu
centrada na coordenada da fonte. A amplitude e a duração de cada varredura são
determinadas pelo observador, sendo que a amplitude deve ser muito maior do que o tamanho
do feixe para o caso de fontes pontuais e maior do que o tamanho aparente da fonte para o
caso de fontes extensas.
Para as observações de SgrA*, cada varredura é feita em 20 segundos, dois quais 15
segundos são utilizados para aquisição de dados e 5 segundos são necessários para a antena
estabilizar e começar a varredura seguinte na direção oposta. Devido a este movimento, dos
30’ de amplitude utilizadas para observações em 43 GHz, apenas 24’ são utilizados na medida.
As varreduras podem ser repetidas quantas vezes forem necessárias para se obter uma alta
razão sinal ruído, sendo somados os sinais obtidos no fim da observação.
Em cada varredura é medido o fluxo em 81 pontos igualmente espaçados em tempo,
localizados nos 24’ de amplitude da varredura. Todos os pontos são distribuídos de maneira
eqüidistante e ao final das varreduras tem-se o valor médio de fluxo para cada ponto. Na figura
4.4 é mostrado o resultado de 90 varreduras em uma fonte pontual (Virgo A) onde é possível
notar o formato gaussiano do feixe.
48
Figura 4.4 Observação de 90 varreduras em azimute com duração de 20 segundos de Virgo A,
uma rádio fonte pontual, mostrando o formato do feixe. A linha de base, em verde, mostra as
condições atmosféricas no momento da observação. Virgo A é utilizada como calibradora
primária do radiotelescópio do Itapetinga.
4.4 Calibrações
O sinal da fonte é detectado em Volts, sendo determinada sua temperatura de antena
através da equação:
dA CVT = com ( ) céucéuNS
NS
VVV
TC
−+= (4.7)
onde NST é a temperatura da fonte de ruído conhecida, sendo NSV e céuV as voltagens medidas
da fonte de ruído e do céu respectivamente.. O fluxo da fonte está relacionado com a
temperatura de antena através de:
06-07-2006
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
-12 -8 -4 0 4 8 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
T = 0.103 ± 0.003HPBW = 2.4
Virgo AScan AzHS 11:18
49
effR
A
A
kTS
η2
= (4.8)
onde Rη é o coeficiente de absorção da redoma e effA é a área efetiva dada por GAAeff = ,
sendo G o ganho e A a área física. A constante effRA
k
η2
é determinada através de observações
de fontes pontuais com densidade de fluxo conhecida. A temperatura de antena medida deve
ser corrigida para compensar a absorção atmosférica, de modo que:
)secexp()( zzTT AFFO τ= (4.9)
FAF CVzT =)( (4.10)
onde )(zTAF é a temperatura observada e FOT é a temperatura da fonte fora da atmosfera;
FV é a voltagem medida para fonte. A opacidade da atmosfera e o ângulo zenital são
representados por τ e z respectivamente. Um método para calcular a absorção atmosférica,
não considerando a presença da redoma, é medindo a temperatura de antena do céu, )(zTAC ,
na elevação da fonte e a temperatura de antena de uma carga a temperatura ambiente ALT .
Utilizando as equações:
[ ] céuatmAC CVzTzT =−−= )secexp(1)( τ (4.11)
LAL CVT = (4.12)
onde atmT é a temperatura de antena da atmosfera e LV é a voltagem medida para o
absorvedor. Subtraindo as equações 4.11 e 4.12:
[ ] )()secexp(1)( céuLAtmALACAL VVCzTTzTT −=−−−=− τ (4.13)
Supondo que a temperatura da carga é igual à temperatura da atmosfera:
)()secexp()( céuLALACAL VVCzTzTT −=−=− τ (4.14)
logo
50
)()secexp(
céuL
AL
VVC
Tz
−=τ (4.15)
substituindo as equações 4.15. e 4.12. em 4.9:
)()(
)()(
céuL
ALF
céuL
ALFFO VV
TzV
VVC
TzCVT
−=
−= (4.16)
Na presença da redoma, a constante radiométrica não é cancelada e deve ser determinada. A
equação 4.9, considerando a redoma, é escrita como:
[ ] céuRatmRAC CVTzTzT =+−−= )secexp(1)( τη (4.17)
onde Rη é o coeficiente de absorção da redoma e RT é sua temperatura da antena. Como a
medida da emissão do absorvedor não sofre a influência da redoma, a constante C não é
cancelada, de modo que (Abraham & Kokubun 1992):
)()()(
)secexp()(
céuL
ALF
RFFO VV
TzVzK
zzCVT
−==
ητ
(4.18)
sendo
( ))(
11)(céuL
ALR VVC
TzK
−−−= η (4.19)
Este cálculo consta apenas por completeza do assunto. Para as observações de
SgrA*, como a determinação da densidade de fluxo é obtido por comparação com Sgr B2,
estas correções não são necessárias. A constante de transformação de temperatura de antena
a para a densidade de fluxo na equação 4.8 é obtida das observações de Virgo A, que possui
uma densidade de fluxo de 11 Jy em 43 GHz (Baars et al. 1977; Ott et al. 1994).
51
Capítulo 5
Procedimento Observacional e Resultados
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos neste trabalho. Na seção 5.1
será mostrado o procedimento observacional utilizado nas observações de SgrA*, enquanto na
seção 5.2 será apresentada a curva de luz obtida com o Radiotelescópio do Itapetinga para
SgrA* em 7 mm e será discutida a existência de uma suposta periodicidade através da
utilização de métodos estatísticos. Na seção 5.3 serão discutidos os resultados das
observações de Sgr B2 Main e de PMNJ 1747-2823.
5.1 Observações e Redução de dados de SgrA*
SgrA* foi monitorado em 43 GHz nos últimos dois anos em diferentes períodos de
observação, divididos em duas épocas distintas: 2006 e 2007/2008. Problemas meteorológicos
impossibilitaram uma maior quantidade de dias de observação. A divisão em duas épocas se
deve a duas principais mudanças: a alteração das constantes de apontamento para obter
melhor precisão nas observações de SgrA*, sendo realizadas diversas observações de fontes
pontuais para encontrar as novas constantes (as observações foram realizadas nos meses de
julho e agosto de 2007); e uma mudança na escolha da fonte calibradora secundária, como
será explicado a seguir. Nas tabelas 5.1 e 5.2 são apresentados os tempos de integração
utilizados para SgrA* e para as fontes calibradoras em cada dia de observação.
O método utilizado para as observações foi o rastreio por varreduras em ascensão
reta. Cada observação consiste de 30 varreduras com amplitude de 30’ e duração de 20
segundos, durante um dia são realizadas aproximadamente 28 observações, sendo 14 de
SgrA* alternadas com 14 de Sgr B2, que foi utilizada como calibradora secundária. As
observações são interrompidas quando as fontes encontram-se a uma elevação superior a 75o,
devido aos altos erros no rastreio do azimute, sendo calibrado o equipamento a cada duas
observações. Cada dia de observação é, então, dividido em duas partes, antes e depois da
passagem das fontes pelo meridiano. Não foram realizadas observações em baixas elevações,
na maioria dos dias, as observações começavam após ambas as fontes encontrarem-se acima
de 40o de elevação e terminavam antes de atingirem os mesmos 40o. Em elevações muito
baixas, a radiação emitida pela fonte deve atravessar uma extensa camada de ar até chegar ao
radiotelescópio, aumentando a energia perdida no trajeto. Durante a primeira época, as
observações de Sgr B2 foram centradas na fonte mais intensa em 5 GHz: PMNJ 1747-2823,
uma região HII localizada ao sul de Sgr B2, enquanto na segunda época as observações foram
52
centradas em Sgr B2 Main, localizada em uma região mais central do complexo, como será
discutido em detalhes na seção 5.3.
Tabela 5.1: Dias de observação durante a primeira época, mostrando o tempo de observação
em minutos de SgrA* e de PMNJ 1747-2823
Dia Tempo (SgrA*) Tempo(PMN) Dia Tempo (SgrA*) Tempo(PMN) 21-06-2006 80 80 25-07-2006 120 120 28-06-2006 100 80 26-07-2006 60 60 29-06-2006 120 90 27-07-2006 130 130 30-06-2006 120 120 28-07-2006 50 40 04-07-2006 110 110 09-08-2006 100 70 05-07-2006 120 80 10-08-2006 90 100 06-07-2006 130 120 11-08-2006 100 80 18-07-2006 100 110 12-08-2006 140 140 19-07-2006 110 110 16-08-2006 130 130 24-07-2006 100 100 21-08-2006 130 130 25-07-2006 120 120 23-08-2006 110 110 26-07-2006 60 60 24-08-2006 110 90
Tabela 5.2: Dias de observação durante a segunda época, mostrando o tempo de observação
em minutos de SgrA* e de Sgr B2 Main.
Dia Tempo (SgrA*) Tempo(Main) Dia Tempo (SgrA*) Tempo(Main) 11-09-2007 130 80 09-11-2007 50 50 12-09-2007 60 60 21-11-2007 120 110 13-09-2007 110 120 22-11-2007 140 110 14-09-2007 130 140 27-11-2007 140 130 20-09-2007 170 140 28-11-2007 140 140 04-10-2007 100 110 29-11-2007 150 140 05-10-2007 130 110 30-11-2007 70 60 06-10-2007 110 120 03-12-2007 150 150 07-10-2007 140 130 04-12-2007 110 100 08-10-2007 60 80 05-12-2007 60 70 09-10-2007 50 50 10-12-2007 80 70 10-10-2007 140 140 11-12-2007 90 80 11-10-2007 140 100 12-12-2007 80 80 12-10-2007 130 130 11-01-2008 70 80 13-10-2007 140 180 16-01-2008 80 70 29-10-2007 80 100 05-03-2008 100 120 30-10-2007 140 130 07-03-2008 70 60 31-10-2007 80 100 25-03-2008 120 80 01-11-2007 60 60 26-03-2008 120 120 02-11-2007 60 40 25-04-2008 120 100 06-11-2007 80 60 29-04-2008 150 140 07-11-2007 120 140 30-04-2008 120 130
53
Figura 5.1: Mapa em 6 cm da região do complexo de SgrA ( 5’ x 5’ ) na qual é detectada a
região varrida pelo feixe do radiotelescópio. SgrA* está no interior da região vermelha mais
intensa (Yusef-Zadeh et al. 2000). As linhas vermelhras representam o tamanho do feixe do
Radiotelescópio do Itapetinga.
Na figura 5.1 é apresentado o mapa do complexo de SgrA, obtido em 6 cm (Yusef-
Zadeh et al. 2000), no qual está contida a fonte SgrA* e a região que a rodeia, sendo o
tamanho do feixe da antena representado pelas linhas vermelhas. Como pode ser visto, o
radiotelescópio detecta, junto com SgrA*, a região extensa que deve ser subtraída. Para poder
calcular a contribuição de cada componente nas observações com o radiotelescópio do
Itapetinga, foram adicionadas todas as observações de SgrA* ( 236 para a primeira época e
378 para a segunda época, separadamente). Os perfis das regiões observadas em 43 GHz,
apresentadas nas figuras 5.2 e 5.3 para as duas épocas, são ajustadas por pelo menos duas
gaussianas, sendo que SgrA* representa uma terceira fonte, embebida nas outras mais
intensas, para a qual foi ajustada uma terceira gaussiana com largura igual à largura do feixe.
Os parâmetros das três gaussianas são apresentados nas tabelas 5.2 e 5.3 para as primeira e
segunda época respectivamente, enquanto as figuras 5.3 e 5.4 mostram os ajustes realizados.
Das regiões mais extensas, a gaussiana mais intensa e de menor HPBW é chamada
de SgrA (1) e corresponde a região interna do complexo de SgrA, representada em azul claro,
54
com extensão de 3’ na figura 5.1, enquanto que a gaussiana de maior HPBW, chamada de
SgrA(2) corresponde à região em azul escuro na figura, com extensão maior que 5’. A
gaussiana menos intensa é identificada como SgrA*M e encontra-se na região vermelha, mais
intensa na emissão em 6 cm. Sua temperatura de antena, apresentada na tabela 5.2,
representa o valor médio em 0.7 cm de todo o período de observação. Após a conversão dos
valores da temperatura de antena para a densidade de fluxo, como será visto na seção
seguinte, os resultados obtidos para as intensidades coincidem, em ordem de grandeza, com
os valores medidos utilizando interferômetros (Herrstein et al. 2004, Lu et al. 2008).
Os procedimentos utilizados no estudo de Sgr B2 Main e PMNJ 1747-2823 são
semelhantes. Na figura 5.4 é apresentado um mapa da região calibradora Sgr B2 (Mehringer et
al. 1993) onde são mostradas as posições das duas fontes, que diferem em 1’ em declinação.
Ao contrário da emissão em 5 GHz, na qual PMNJ 1747-2823 é a fonte mais intensa do
complexo de Sgr B2, as observações em 43 GHz mostram que a emissão em Sgr B2 Main é
mais intensa neste comprimento de onda. A região entre as linhas vermelhas é a detectada
quando a observação pelo método de varredura em ascensão reta está centrada em Sgr B2
Main, e a região entre as linhas azuis é a detectada quando a observação pelo mesmo método
está centrada em PMNJ 1747-2823. Sgr B2 Main está indicada pelo número 4, enquanto Sgr
B2 North e SgrB2 South, estão indicadas como fontes 3 e 5 respectivamente. As fontes 1, 2 e
10 são regiões HII menos intensas do que Sgr B2 Main e também são detectadas pelo feixe do
Radiotelescópio.
Observações centradas em PMNJ 1747-2823, em 5 GHz, com resolução de 4’,
apresentadas no catálogo PMN (Parkes-MIT-NRAO), fornecem o fluxo total das regiões
listadas de 1 a 10, presentes na figura. As observações com o radiotelescópio do Itapentiga,
em 43 GHz, conseguem diferenciar algumas dessas regiões, sendo que a intensidade medida
foi maior nas observações centradas em Sgr B2 Main do que em PMNJ 1747-2823. Através da
figura 5.4, é possível compreender porque em 43 GHz, na composição de gaussianas que
ajustam à observação centrada em PMNJ 1747-2823 apresentada na figura 5.5, a gaussiana 1
é menos intensa do que a centrada em Sgr B2 Main. A posição de PMNJ 1747-2823 coincide
com a de Sgr B2 South, indicada na figura como fonte 5. Quando a varredura em ascensão
reta está centrada em PMNJ 1747-2823, a fonte 3 (Sgr B2 North), não é detectada pelo feixe
do radiotelescópio, o que explica a diferença de intensidade. Por outro lado, a fonte 9, não
detectada quando a observação é centrada em Sgr B2 Main, mas contribui para a amplitude de
PMN (2).
Nas figuras 5.5 e 5.6 são apresentados os resultados observacionais. Para ambas as
fontes, a combinação de duas gaussianas representa muito bem os dados. Os parâmetros
encontrado para as gaussianas são apresentados nas tabelas 5.5 e 5.6.
55
Tabela 5.3: Valores obtidos apos ajuste da média de todas as observações de 2006
para SgrA*
SgrA* Amplitude (K) HPBW ( ‘ ) X0
SgrA*M 0.020 2.20 0.00
SgrA(1) 0.176 2.59 0.47
SgrA(2) 0.053 6.95 0.22
SgrA* 2006
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
SgrA*scan α
Figura 5.2: Ajuste da média de todas as observações de SgrA em 2006. A linha vermelha é a
soma das 3 gaussianas enquanto a linha preta é o ajuste da emissão variável de SgrA*. O erro
é calculado através do desvio médio quadrático dos resíduos.
56
Tabela 5.4: Valores obtidos apos ajuste da média de todas as observações de 2007
para SgrA
SgrA* Amplitude (K) HPBW ( ‘ ) X0
SgrA*M 0.020 2.20 0.00
SgrA(1) 0.145 2.59 0.54
SgrA(2) 0.046 7.30 0.74
SgrA*
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
SgrA*scan α
Figura 5.3: Ajuste da média de todas as observações de SgrA em 2007. A linha vermelha é a
soma das 3 gaussianas enquanto a linha preta é o ajuste da emissão variável de SgrA*. O erro
é calculado através do desvio médio quadrático dos resíduos.
57
Figura 5.4: Mapa do complexo de Sgr B2 em 6m. A região entre as linhas vermelhas é a
detectada quando a observação está centrada em Sgr B2 Main e a região entre as linhas azuis
é a detectada quando a observação está centrada em PMNJ 1747-2823 (Mehringer et al.
1993).
58
Tabela 5.5: Parâmetros das gaussianas obtidos após ajuste da média de todas as
observações de 2006 para SgrB2
PMNJ 1747-2823 Amplitude (K) HPBW X0 PMN(1) 0.135 2.45 -0.02 PMN(2) 0.024 6.10 0.43
PMNJ 2006
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
PMNJ 1747-2823scan α
Figura 5.5: Ajuste da média de todas as observações de Sgr B2 em 2006. A linha vermelha é a
soma das 2 gaussianas. O erro é calculado através do desvio quadrático médio dos resíduos.
59
Tabela 5.6: Parâmetros das gaussianas obtidos após ajuste da média de todas as observações
de 2007 para SgrB2
PMNJ 1747-2823 Amplitude (K) HPBW X0
Main (1) 0.167 2.52 0.00
Main (2) 0.015 8.45 0.85
Sgr B2 Main
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
Sgr B2 Mainscan α
Figura 5.6: Ajuste da média de todas as observações de Sgr B2 em 2007. A linha vermelha é a
soma das 2 gaussianas. O erro é calculado através do desvio quadrático médio dos resíduos.
60
Uma vez obtido o valor médio das temperaturas de antena das distintas componentes
de SgrA, SgrB2 Main e PMNJ 1747-2823, é possível estudar a variabilidade de SgrA* com
relação a seu valor médio utilizando as observações individuais. Isso é feito normalizando as
observações diárias através das componentes não variáveis para eliminar a influência da
atmosfera e as variações de ganho do receptor. Este procedimento foi realizado com as duas
componentes não variáveis de SgrA, assim como as componentes de PMNJ 1747-2823 e Sgr
B2 Main. Para tanto, foram mantidos constantes as larguras obtidas das tabelas 5.2 a 5.5, a
relação entre as intensidades de SgrA(1) e SgrA(2) e das gaussianas de Sgr B2 e suas
posições relativas. Para cada dia de observação eram determinados a intensidade de SgrA(1)
e de SgrA* e a intensidade de PMN (1) ou Main (1), dependendo da época.
As gaussianas mais intensas de SgrA e Sgr B2 foram utilizadas na normalização, de
forma que:
)()()( ** tTtDtT OSgrAi
NSgrA = (5.1)
onde )(* tT NSgrA é a temperatura normalizada e )(* tT O
SgrA é a temperatura observada. A
constante )(tDi com 2,1=i é obtida de
)()(
)1(
)1(1
tT
TtD
oSgrA
MSgrA= (5.2)
onde MSgrAT )1( é o valor médio de SgrA(1) apresentado na tabela 5.2. Da mesma forma
)()(
)1(
)1(2
tT
TtD
oPMN
MPMN= para as observações de 2006, (5.3)
)()(
)1(
)1(2
tT
TtD
oMain
MMain= para as observações de 2007/2008 (5.4)
onde M
PMNT )1( e MMainT )1( são as temperaturas médias apresentadas nas tabelas 5.4 e 5.5. A
diferença entre )(* tT NSgrA encontrada através de )(1 tD e de )(2 tD é uma medida do erro no
valor da temperatura de antena. Nas figuras 5.7 e 5.8 e nas tabelas 5.7 e 5.8 são dados
exemplos do ajuste na emissão de SgrA* para um único dia.
61
Tabela 5.7: Valores do ajuste de SgrA* para o dia 14 de setembro de 2007. Os
parâmetros encontrados foram a amplitude de SgrA(1) e SgrA*O e o X0 de SgrA(1),
estando os outros vinculados a estes.
SgrA* Amplitude (K) HPBW X0
SgrA*O 0.020 2.20 0.05
SgrA(1) 0.152 2.59 0.52
SgrA(2) 0.048 6.95 0.27
14-09-2007
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
SgrA*scan α
Figura 5.7: Ajuste de SgrA* para o dia 14 de setembro de 2007. Os parâmetros encontrados
pelo ajuste estão na tabela 5.4
62
Tabela 5.8: Valores do ajuste de Sgr B2 para o dia 14 de setembro de 2007.
Os parâmetros encontrados foram a amplitude e o X0 de Main(1), os outros valores estão
vinculados a estes.
PMNJ 1747-2823 Amplitude (K) HPBW X0 Main (1) 0.168 2.52 -0.06 Main (2) 0.015 8.45 0.79
14-09-2007
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
SgrB2 Mainscan α
Figura 5.8: Ajuste de SgrB2 Main para o dia 14 de setembro de 2007. Os parâmetros
encontrados pelo ajuste estão na tabela 5.5
63
5.2 Resultados e Discussão
As curvas de luz de SgrA* obtidas com o Radiotelescópio do Itapetinga encontram-se
nas figuras 5.9 e 5.10, para a primeira e segunda época respectivamente. Nas tabelas 5.9 e
5.10 são apresentados os valores diários encontrados para as fonte calibradoras (seja SgrA,
PMNJ 1747-2823 ou Sgr B2 Main), e para SgrA*. O erro apresentado na tabela é calculado a
partir dos mínimos quadrados dos resíduos do ajuste, e como o ajuste de SgrA* e SgrA são
simultâneos, o erro é o mesmo para ambos. Esta medida de erro é, quase sempre,
insignificante quando comparada com o erro encontrado através da média das duas
calibrações, porém, nos dias em que o erro calculado através dos resíduos for maior, ele será
considerado como erro da medida.
Os valores obtidos para SgrA* após a médias das duas calibrações (utilizando )(1 tD e
)(2 tD ) variaram entre 0.876 ± 0.026 e 1.197 ± 0.030 em relação à média de SgrA* para a
primeira época; e 0.757 ± 0.014 e 1.260 ± 0.030 para a segunda época. Os valores obtidos
após a calibração com PMNJ 1747-2823 (primeira época) variaram entre 0.843 ± 0.039 e 1.192
± 0.041, e após a calibração com Sgr B2 Main (segunda época), variaram entre 0.770 ± 0.014 e
1.311 ± 0.024.
A forma semelhante das duas curvas de luz obtidas com as duas calibrações diferentes
demonstra a eficiência do método utilizado. As curvas de luz apresentadas nas figuras 5.9 e
5.10 são resultado das médias das calibrações, sendo os valores mostrados nas tabelas 5.11 e
5.12. As curvas de luz mostram a existência de variabilidade na emissão de SgrA* em 7mm. A
fonte variou em torno de 20% em relação ao seu fluxo médio, havendo variações da ordem de
30% em um dia, nos dias 12 de setembro de 2007 (4355) e 5 de março de 2008 (4529). Os
altos picos detectados não podem ser explicados por efeitos de cintilação (seção 2.3.3) e
então, a variabilidade encontrada é atribuída à própria fonte.
O resultado obtido com o radiotelescópio do Itapetinga está em acordo com o
encontrado utilizando técnicas interferométricas. A amplitude de variação encontrada em dias
sucessivos, da ordem de 0,01 K ou 1 Jy, como visto nos dias 8 e 9 de novembro de 2007, é
semelhante a variabilidade detectada entre os dias 16 e 17 de março, utilizando técnicas de
VLBI (Lu et al. 2008). A variabilidade na emissão de SgrA* em períodos menores de um dia
não pode ser detectada devido ao longo tempo de integração necessário para obter uma boa
relação sinal ruído.
A existência de variabilidade não implica na existência de um comportamento quase-
periódico, sendo necessário uma análise estatística nos dados obtidos para verificar a
periodicidade. Para tanto, foram utilizados dois métodos distintos: o método de Kolmogorov-
Smirnov, que indica a probabilidade da curva de luz obtida com o Radiotelescópio do Itapetinga
estar correlacionada à curva de luz obtida com o VLA em 1.3, 2.0 e 3.6 cm (Zhao et al. 2001); e
o método Jurkevich, com o objetivo de detectar por periodicidade.
64
Tabela 5.9: Valores obtidos de temperatura de antena (Kelvin) para SgrA*, SgrA (1) e PMNJ
1747-2823 (1), observados durante a primeira época.
Dia TsgrA* O TsgrA(1) Erro Tpmnj(1) Erro 3907 0,021 0,196 0,002 0,150 0,002 3914 0,021 0,168 0,002 0,115 0,002 3915 0,021 0,180 0,002 0,133 0,003 3916 0,021 0,187 0,003 0,126 0,003 3921 0,021 0,184 0,003 0,141 0,003 3922 0,021 0,179 0,003 0,150 0,003 3923 0,024 0,170 0,002 0,133 0,002 3935 0,019 0,177 0,002 0,135 0,002 3936 0,023 0,172 0,003 0,134 0,002 3941 0,021 0,194 0,002 0,135 0,002 3942 0,020 0,154 0,002 0,127 0,002 3943 0,021 0,176 0,002 0,141 0,002 3944 0,025 0,171 0,002 0,141 0,002 3945 0,021 0,165 0,003 0,137 0,004 3956 0,019 0,177 0,003 0,148 0,003 3957 0,020 0,161 0,003 0,134 0,003 3958 0,020 0,170 0,003 0,134 0,003 3959 0,022 0,171 0,003 0,132 0,003 3963 0,021 0,169 0,002 0,134 0,003 3968 0,020 0,163 0,003 0,130 0,003 3970 0,019 0,175 0,002 0,138 0,003 3971 0,021 0,165 0,002 0,130 0,003
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
1,1
1,2
1,3
3850 3900 3950 4000 4050 4100 4150 4200 4250
JD-2450000
Tsg
rA*O
/Tsg
rA*M
Figura 5.9: Curva de luz para SgrA* em 7mm para a primeira época, obtida através da média
dos valores encontrados utilizando as duas calibrações diferentes.
65
Tabela 5.10: Valores obtidos de temperatura de antena (Kelvin) para SgrA*, SgrA ( 1) e SgrB2
Main (1), observados durante a segunda época.
Dia TsgrA* O TsgrA(1) Erro TMain(1) Erro 4354 0,020 0,145 0,002 0,184 0,002 4355 0,023 0,137 0,003 0,157 0,003 4356 0,021 0,142 0,002 0,182 0,002 4357 0,020 0,152 0,002 0,168 0,002 4363 0,019 0,152 0,002 0,170 0,002 4377 0,020 0,139 0,002 0,150 0,002 4378 0,021 0,129 0,002 0,162 0,002 4379 0,015 0,131 0,002 0,156 0,002 4380 0,016 0,156 0,002 0,180 0,002 4381 0,019 0,155 0,004 0,183 0,004 4382 0,020 0,139 0,003 0,150 0,003 4383 0,022 0,145 0,003 0,178 0,002 4384 0,018 0,150 0,002 0,169 0,003 4385 0,021 0,157 0,003 0,184 0,003 4386 0,020 0,152 0,002 0,167 0,002 4402 0,020 0,148 0,003 0,175 0,003 4403 0,020 0,142 0,002 0,173 0,002 4404 0,022 0,161 0,003 0,175 0,003 4405 0,021 0,131 0,003 0,158 0,003 4406 0,021 0,155 0,003 0,176 0,004 4410 0,020 0,151 0,003 0,176 0,003 4411 0,022 0,136 0,002 0,173 0,002 4412 0,019 0,147 0,004 0,189 0,004 4413 0,020 0,139 0,003 0,146 0,003 4425 0,021 0,144 0,002 0,172 0,002 4426 0,021 0,147 0,002 0,169 0,002 4431 0,021 0,149 0,002 0,165 0,002 4432 0,019 0,139 0,002 0,156 0,002 4433 0,021 0,140 0,002 0,158 0,002 4434 0,020 0,134 0,002 0,148 0,003 4437 0,022 0,134 0,002 0,166 0,002 4438 0,020 0,137 0,002 0,151 0,002 4439 0,020 0,147 0,004 0,169 0,003 4444 0,020 0,141 0,003 0,194 0,003 4445 0,021 0,132 0,003 0,162 0,003 4446 0,020 0,153 0,004 0,159 0,004 4476 0,018 0,161 0,005 0,167 0,003 4481 0,020 0,133 0,003 0,174 0,003 4529 0,023 0,130 0,003 0,147 0,002 4531 0,021 0,147 0,003 0,164 0,003 4549 0,018 0,153 0,003 0,200 0,003 4550 0,021 0,136 0,002 0,166 0,002 4580 0,019 0,133 0,004 0,179 0,003 4584 0,021 0,144 0,003 0,174 0,003 4585 0,019 0,160 0,003 0,186 0,003
66
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
1,1
1,2
1,3
1,4
4300 4350 4400 4450 4500 4550 4600 4650
JD-2450000
Tsg
rA*O
/Tsg
rA*M
Figura 5.10: Idem à figura 5.7 para a segunda época.
Tabela 5.11: Valores médios de TsgrA*(dia)/TsgrA*(médio), após as duas calibrações para a
primeira época.
Dia Auto-
Calibração Calibração
PMN Média Erro 3907 0,876 0,894 0,885 0,009 3914 1,044 1,192 1,118 0,074 3915 0,970 1,020 0,995 0,025 3916 0,929 1,069 0,999 0,070 3921 0,939 0,953 0,946 0,007 3922 0,990 0,921 0,955 0,034 3923 1,161 1,155 1,158 0,003 3935 0,896 0,914 0,905 0,009 3936 1,120 1,115 1,118 0,002 3941 0,880 0,984 0,932 0,052 3942 1,065 1,007 1,036 0,029 3943 0,976 0,951 0,963 0,013 3944 1,197 1,132 1,165 0,033 3945 1,040 0,978 1,009 0,031 3956 0,906 0,843 0,875 0,032 3957 1,048 0,982 1,015 0,033 3958 0,991 0,981 0,986 0,005 3959 1,054 1,063 1,059 0,005 3963 1,013 0,996 1,004 0,008 3968 1,031 1,001 1,016 0,015 3970 0,907 0,899 0,903 0,004 3971 1,039 1,025 1,032 0,007
67
Tabela 5.12: Idem a 5.11 para a segunda época.
Dia Auto-
Calibração Calibração
Sgr B2 Média Erro 4354 0,988 0,919 0,954 0,035 4355 1,186 1,215 1,201 0,015 4356 1,065 0,981 1,023 0,042 4357 0,954 1,018 0,986 0,032 4363 0,911 0,956 0,933 0,022 4377 1,021 1,112 1,066 0,045 4378 1,180 1,106 1,143 0,037 4379 0,801 0,792 0,797 0,004 4380 0,757 0,770 0,764 0,007 4381 0,889 0,888 0,888 0,001 4382 1,047 1,140 1,094 0,047 4383 1,072 1,031 1,052 0,021 4384 0,856 0,892 0,874 0,018 4385 0,971 0,975 0,973 0,002 4386 0,950 1,013 0,982 0,031 4402 0,985 0,977 0,981 0,004 4403 0,982 0,950 0,966 0,016 4404 0,980 1,059 1,019 0,040 4405 1,127 1,100 1,113 0,013 4406 0,989 1,021 1,005 0,016 4410 0,929 0,941 0,935 0,006 4411 1,164 1,077 1,121 0,044 4412 0,941 0,858 0,899 0,041 4413 1,047 1,178 1,112 0,066 4425 1,021 1,005 1,013 0,008 4426 1,006 1,024 1,015 0,009 4431 0,996 1,061 1,028 0,033 4432 0,987 1,035 1,011 0,024 4433 1,055 1,092 1,073 0,019 4434 1,095 1,165 1,130 0,035 4437 1,168 1,112 1,140 0,028 4438 1,026 1,091 1,059 0,032 4439 0,976 0,999 0,987 0,012 4444 1,028 0,876 0,952 0,076 4445 1,135 1,085 1,110 0,025 4446 0,936 1,060 0,998 0,062 4476 0,821 0,929 0,875 0,054 4481 1,054 0,947 1,001 0,053 4529 1,260 1,311 1,285 0,025 4531 1,019 1,073 1,046 0,027 4549 0,863 0,776 0,819 0,044 4550 1,097 1,053 1,075 0,022 4580 1,047 0,912 0,979 0,067 4584 1,027 0,997 1,012 0,015 4585 0,848 0,857 0,852 0,005
68
5.2.1 O teste de Kolmogorov-Smirnov
O teste de Kolmogorov (Kolmogorov 1933) verifica o quanto uma função contínua se
aproxima de uma função de distribuição de dados empíricos. É um teste bastante utilizado na
astronomia óptica, pois é capaz de verificar a qualidade de um ajuste realizado, fornecendo a
probabilidade de uma função contínua representar um conjunto discreto de n dados. O teste
tenta responder a seguinte pergunta: quando o valor de n for muito grande, é possível igualar
a função de distribuição empírica )(xfn a uma função contínua )(xf ? (Stephens 1992). Para
tanto, é necessário definir a grandeza estatística D como o máximo valor da diferença
absoluta entre )(xfn e )(xf , dado pela equação:
)()(max xfxfD nx
−=∞<<∞−
(5.5)
Quanto menor o valor de D , mais próxima a função de dados empíricos aproxima-se
da função contínua. Então, a probabilidade Prde )(xf representar )(xfn deve tender a 1 se,
∞→n , e 1<<D . A probabilidade é encontrada através do teorema I do teste de
Kolmogorov, dado pela equação:
222)1()()/Pr( ξξξ k
k
keQnD −∞
−∞=∑ −==< (5.6)
A prova do teorema é complicada (Kolmogorov 1933, von Mises 1964, Stephens 1992)
e não será desenvolvida. O teorema fornece a probabilidade de D ser muito pequeno se n
tender a infinito, por isso a dependência contrária de D com n , sendo que a raiz quadrada em
n é necessária para que não haja a mesma dependência de D com ξ .
O teste de Kolmogorov foi adaptado por Smirnov (1948), com o objetivo de comparar
duas distribuições empíricas, em vez de uma empírica e uma curva contínua. A única diferença
entre o teste de Kolmogorov original do teste adaptado por Smirnov é a existência de dois
valores 1n e 2n de modo que, em vez de nξ na equação 5.6 tem-se ( )21 nn +ξ .
Como o objetivo é comparar os dados de duas curvas empíricas, o teste utilizado foi o de
Kolmogorov-Smirnov.
O teste foi realizado utilizando a rotina proposta pelo livro Numerical Recipes (Press et
al. 1986). O programa calcula os valores de D , 1n e 2n e os substitui em ξ , para obter o
valor de )(ξQ . Desta forma, o resultado fornecido pelo programa é a probabilidade do maior
(porém ainda pequeno) valor de D a ser encontrado caso 1n e 2n tendam para infinito. Na
69
prática, o resultado indica a probabilidade dos dois conjuntos de dados, no caso, as duas
curvas de luz, estarem relacionadas.
Para realizar o teste, foi considerado como dia zero do ciclo o mesmo dia utilizado por
Zhao et al. (2001), ou seja, o dia 4 de dezembro de 1992, e dessa forma, foi calculado que dia
do ciclo corresponderia aos dias de observações com o Radiotelescópio de Itapetinga. O teste
de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado entre a curva de luz em 7mm e os três diferentes
comprimentos de onda (1.3, 2.0 e 3.6 cm) no qual SgrA* foi observado utilizando o VLA. Como
as curvas de luz apresentam diferentes amplitudes, é necessária uma normalização nos dados,
de maneira que todas as curvas de luz variem em um mesmo intervalo de densidade de fluxo.
Os dados foram normalizados pela diferença entre o valor máximo e mínimo medido para a
densidade de fluxo em cada curva de luz. O teste foi realizado para diferentes períodos,
variando entre 105 e 107 dias, sendo o melhor resultado obtido com o período 106,04. O
resultado, como mostrado na tabela 5.13, indica uma probabilidade de 49% da curva de luz
obtida em 7 mm estar correlacionada com a curva obtida em 1.3 cm.
Na figura 5.11 é mostrada a curva de luz obtida com o Radiotelescópio do Itapetinga,
sendo o resultado de 5 diferentes períodos de monitoramento do suposto ciclo, superpostos
com os dados em 1.3 cm obtidos com o VLA. Algumas regiões do ciclo parecem estar
correlacionadas, o que favorece a hipótese de existência do ciclo, que neste caso deveria ser
de 106,5 dias. Na figura 5.12 são apresentados os dados de 5 ciclos observados supondo este
período. As cores azul, roxo, verde, amarela e vermelha correspondem aos ciclos de 1 a 5,
respectivamente. Os dados em azul e roxo foram obtidos no ano de 2006, durante a primeira
época, e os demais foram obtidos em 2007 (verde e amarelo) e 2008 (amarelo e vermelho).
Verificamos que existe uma superposição pequena entre as distintas fases, especialmente
durante a última fase do ciclo, o que pode mascarar a existência de um período.
Uma diferença significativa entre as curvas de luz, é que a observada em 7 mm
apresenta seqüência de dias com alta variabilidade, ou seja, dias muito próximos apresentam
medidas de densidade de fluxo muito diferentes. Em princípio, é esperada uma maior amplitude
na variação da densidade de fluxo para comprimentos de onda menores, porém, é também
necessário considerar que o VLA utilizou dados de 20 anos de monitoramento, o que pode
eliminar a presença de oscilações de curto período. A superposição da componente de
variabilidade rápida na curva de luz em 7mm também dificulta a determinação de um possível
período.
Uma parte do ciclo que parece bem correlacionada é a compreendida entre 60 e 106
dias, porém a cobertura dos dados de 7 mm não é completa, havendo somente uma
observação durante o máximo principal. Mesmo esta observação pode ser questionada desde
que pode representar uma flutuação de curto período.
Na figura 5.13 é apresentado o resultado das observações em 7 mm sobreposto com a
forma da curva de luz prevista pelo modelo de precessão do disco e com as observações em
1.3 cm. Apesar dos pontos de menor densidade de fluxo seguirem o comportamento previsto
70
pelo modelo, se esperaria um máximo mais pronunciado para a emissão em 7 mm, o que não
é verificado.
-0,2
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0 20 40 60 80 100 120
Dia
∆∆ ∆∆S
(Jy)
1.3
cm
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
∆∆ ∆∆S
(Jy)
0.7
cm
Figura 5.11: Em azul, observações de SgrA* realizadas com o VLA (eixo principal) Em
vermelho, observações de SgrA* em 7 mm realizadas com o radiotelescópio do Itapetinga (Eixo
secundário).
Tabela 5.13: Resultado do teste de Kolmogorov-Smirnov na comparação entre a curva de luz
em 7mm e as curvas de luz obtidas com o VLA.
Itapetinga VLA Probabilidade 7 mm 3.6 cm 0% 7 mm 2.0 cm 44% 7 mm 1.3 cm 49%
71
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
0 20 40 60 80 100 120
Dia
∆∆ ∆∆S
(Jy
)
Figura 5.12: Quatro diferentes períodos de observação do suposto ciclo de 106 dias.
Figura 5.13: Comportamento da curva de luz prevista pelo modelo de precessão do disco com
halo de partículas não térmicas (Prescher & Melia 2005) e os dados em 1.3 cm obtidos com o
VLA e em 7 mm obtidos com o Radiotelescópio do Itapetinga. Ambas as curvas possuem
comportamento semelhantes, porém os dados em 7 mm são mais ruidosos devido a poucas
quantidades de ciclos observados.
72
5.2.2 Método Jurkevich
Como mencionado anteriormente, a determinação de um ciclo de 106 dias é
complicada devido ao grande número de observações necessárias para que se obter medidas
de um grande número de períodos. Por isso, os métodos utilizados para a detecção de
períodos existentes na literatura, através da função estrutura e análise de Fourier, possuem
imprecisões que provocam questionamentos sobre a veracidade do ciclo. Neste trabalho é
utilizado o método de Jurkevich (Jurkevich 1971) como método alternativo para a detecção de
um suposto comportamento periódico.
O método Jurkevich é adequado para verificação de periodicidades em situações onde
existem observação que não estão igualmente espaçadas (Stellingwerf 1978), como é o caso
do monitoramento de SgrA* com o Radiotelescópio do Itapetinga. O procedimento estatístico
utilizado no método é simples, um conjunto de valores ( Ni ,1= ) de uma determinada
grandeza ( ix ) com variância 2σ , definida como
1
)( 22
−−
= ∑N
xxiσ sendo N
xx i∑= (5.7)
é subdividido em m grupos, cada qual com uma variância 2
js ( mj ,1= ) e sendo 2s a
média ponderada de todos os js , dado por
∑∑
−−
=Mn
sns
j
jj2
2)1(
(5.8)
A subdivisão é feita de modo que todos os valores de um mesmo grupo possuem similares
vetores de fase iφ , sendo iφ dado por:
−=P
t
P
t iiiφ (5.9)
onde it é o tempo no qual a observação foi feita e P é o período proposto, sendo o termo
entre colchetes a parte inteira. Desse modo, o conjunto inicial de valores é divido em M
grupos, cada qual com sua variância 2
js de x. Caso o período proposto não seja real, os
grupos serão divididos de maneira aleatória, e a variância 2
js de cada grupo deve ser próxima
73
da variância total da amostra 2σ . Se, ao contrário, o período proposto for real, cada grupo terá
uma variância muito pequena, pois seus elementos correspondem à mesma fase do suposto
ciclo, de modo que a grandeza 2s será muito menor do que σ2. Dessa forma, define-se a
variância normalizada como:
2
22
σν s
n = (5.10)
e calcula-se 2
nν para diferentes períodos propostos. Quando o valor obtido por 2
nν for
próximo de 1, 22 σ≅s , e não existe período, e quando o valor de 2
nν apresentar um mínimo,
é possível que exista periodicidade.
Como qualquer método estatístico, o Método Jurkevich também podem detectar falsos
períodos. Para verificar se o período encontrado é real, é utilizado o teste-F (Kidger et al.
1992), onde se calcula a redução fracional da variância ( f ) dada pela equação:
2
21
n
nfν
ν−= (5.11)
Um valor de f menor que 0.25 significa que o mínimo encontrado não é um bom
candidato a período, caso contrário, existe grande possibilidade do período ser real. Caso
5.0>f , existem fortes características periódicas e o período é considerado indubitável
(Kidger et al. 1992). Nas figura 5.14 e 5.15 estão os resultados do método de Jurkevich (linha
azul) e do teste-F (linha vermelha) aplicado aos dados de SgrA*. O teste foi realizado para
6e5=m .
Figura 5.14: Método de Jurkevich para determinação de periodicidade utilizando 5=m .
74
Figura 5.15: Método de Jurkevich para determinação de periodicidade utilizando 6=m .
O método foi aplicado aos dados binados, ou seja, foi imposto o critério de que quando
a diferença de fase dada pela equação 5.9, correspondesse a intervalos de tempo menores
que um dia, seria utilizada a densidade de fluxo média. O resultado do método de Jurkevich
para o conjunto de medidas de ambas as épocas mostra a existência de um mínimo em 90 ± 8
dias e outro em 210 ± 8 dias, com um máximo na função 5.0>f . As observações foram
divididas em 4 novas épocas e colocadas em fase, com o objetivo de reproduzir períodos
próximos a 90 dias. O resultado apresentado na figura 5.16 mostra a existência de certas fases
com um grande número de pontos e outras vazias, pondo em dúvida a veracidade do ciclo.
Em resumo, os resultados dos métodos estatísticos não são conclusivos com relação à
existência de períodos e mais observações seriam necessárias obter resultados mais robustos.
indicam não haver características periódicas em escalas de tempo de 106 dias na emissão em
7mm de SgrA*.
O resultado encontrado pelo método de Jurkevich, mostra também a existência de um
período de 210 dias, um harmônico superior ao ciclo de 106 dias. Para verificar a veracidade
deste período, os dados foram colocados em fase e representados na figura 5.17. Neste caso,
não é possível verificar a existência do período pois não há dias coincidentes entre as
diferentes fases.
75
0,700
0,800
0,900
1,000
1,100
1,200
1,300
1,400
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Dia
Tsg
rA*O
/Tsg
rA*M
Figura 5.16: Ciclo de 88 dias. Cada símbolo corresponde a uma nova época de observação.
0,700
0,800
0,900
1,000
1,100
1,200
1,300
1,400
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Dia
Tsg
rA*O
/Tsg
rAM
Figura 5.17: Ciclo de 210 dias. Cada símbolo corresponde a uma época de observação
diferente.
76
5.3 Observações de Sgr B2
Apesar de Sgr B2 ter sido usado como fonte calibradora, sua observação em 7 mm
resultou em informações inéditas sobre a fonte, como será mostrado nesta seção. Como já
visto, Sgr B2 é uma nuvem molecular, localizada a uma distância projetada de
aproximadamente 90 pc de SgrA*, sendo dividida em 3 grandes regiões : Sgr B2 North, Sgr B2
Main e Sgr B2 South (Mehringer et al 1993, Gaume at al. 1995, La Rosa et al. 2000). Ao todo, a
nuvem é composta por por 49 fontes ultracompactas de HII (Gaume et al. 95), que estão
distribuídas em 12 grupos, onde já foram observadas, tanto emissão no contínuo como em
linhas, além de masers de H20 e OH encontrados nas vizinhanças das regiões HII (Reid et al.
1988a, 1988b, de Pree et al. 1996, Hoffman et al. 2007) . A emissão no contínuo é atribuída a
gases ionizados localizados próximos a sítios de formação de estrelas supermassivas (Benson
& Johnson 1984, Hollis et al. 2007, Law et al. 2008), enquanto a emissão em linhas é atribuída
a níveis de transições energéticos de moléculas como H3O+ e C2H3CN (Snyder et al. 94, Liu &
Snyder 1999, Hollis et al. 2003, van der Tak et al. 2006). A rádio fonte PMNJ 1747-2823,
escolhida inicialmente como calibradora secundária, está centrada em SgrB2 South, sendo sua
emissão em 5GHz de 37 Jy (Griffith et al. 1994).
As observações de Sgr B2, utilizando o Radiotelescópio do Itapetinga, foram realizadas
no método de varredura em ascensão reta, durante todos os dias de observação de SgrA* no
ano de 2007. Entretanto, observações utilizando o método de varredura em declinação foram
realizadas durante 4 dias, anteriores às observações de SgrA*, com o objetivo de verificar o
procedimento observacional utilizado na primeira época de observações.
No mês de agosto de 2007, foram realizadas 59 observações em 4 dias, com 30
varreduras em declinação, com duração de 20 segundos cada, todas centradas em PMNJ
1747-2823. A média de todas as observações, apresentado na figura 5.18, mostra a existência
de um excesso, localizado a ~3’ da região de emissão mais intensa. O melhor ajuste destas
observações foi obtido utilizando duas gaussianas, uma mais intensa, correspondente às
emissões de Sgr B2 South e de Sgr B2 Main, e uma menos intensa, localizada a cerca de 3’ do
centro da gaussiana mais intensa. A tabela 5.14 mostra os parâmetros das duas gaussianas
que melhor ajustam as observações.
A existência deste excesso, pode ser atribuída à emissão de uma nuvem extensa de
HII, localizada ao sul de Sgr B2, como pode ser visto na figura 5.19 (c), no mapa em 6 cm.
Porém, as fontes indicadas nesta região (6 a 9) são fontes fracas em 6 cm (todas < 1 Jy) e nem
todas estão presentes no mapa da mesma região em 2cm, mostrado na figura 5.19(a)
(Mehringer et al. 1993). A região designada por AA na figura 5.18(a), possui intensidade ~ 0.1
Jy, tanto em 6 cm como em 2 cm, e a antena do radio observatório de Itapetinga não teria
sensibilidade para detectar uma fonte desta intensidade. Apesar de existir uma possibilidade da
emissão no contínuo desta região ser mais intensa em 43 GHz, tal fato não é provável, até
porque, não parece existir uma grande quantidade de fontes fracas capaz de produzir uma
emissão da ~3 Jy como indicada pelo excesso.
77
Outra possibilidade para explicar o excesso na observação de PMNJ 1747-2823, é a
existência de uma fonte não térmica, localizada a cerca de 3’ ao sul de Sgr B2. A emissão no
contínuo em 22 e 43 GHz de Sgr B2 é térmica, produzidas nas regiões HII pelo processo de
emissão livre-livre. Uma fonte não térmica foi detectada em 1.4 e 2.4 GHz, utilizando o ATCA
(Australia Telescope Compact Array), porém, pouco se sabe sobre ela desde que foi reportada
por Jones et al. (2008a) como sendo objeto de um estudo ainda em andamento (Jones et al.
2008b). Na figura 5.20 é apresentada a localização da fonte não térmica em relação à Sgr B2,
sendo representado por N, M, S, as regiões North, Main e South respectivamente. O contorno
ao fundo, mostra o mapa de NH3 detectado ao redor de Sgr B2 (Protheroe et al. 2008).
De fato, a existência de uma fonte não-térmica ao sul de Sgr B2 já havia sido
reportada, em observações de 22 GHz, utilizando o radiotelescópio de Itapetinga (Tateyama et
al. 1986). No mapa de índices espectrais, apresentado na figura 5.21, a fonte designada como
G065-017, está a aproximadamente 2’ ao sul de Sgr B2 e seu índice espectral é negativo,
indicando se tratar de uma fonte não térmica. É provável esta fonte seja a mesma encontrada
recentemente em 1.4 e 2.4 GHz utilizando o ATCA, e seja a responsável pelo excesso na
densidade de fluxo observada na varredura em declinação centrada em PMNJ 1747-2823.
Tabela 5.14:Valores obtidos apos ajuste da média de todas as varreduras em declinação de
PMNJ 1747-2823
PMNJ 1747-2823 Amplitude (K) HPBW ( ‘ ) X0
PMN(1) 0.173 3.08 0.50
PMN(2) 0.043 4.55 -2.65
78
PMNJ 1747-2823
-0,25
-0,20
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12
Position (arc min)
TA
(K
) ..
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Res
idua
ls
PMNJ 1747-2823scan δ
Figura 5.18: Resultado de 59 observações de 30 varreduras em declinação, centrada em PMNJ
1747-2823. A esquerda da gaussiana mais intensa, existe um excesso no qual foi ajustado
uma segunda gaussiana.
79
Figura 5.19: Imagens (declinação versus ascensão reta) de Sgr B2 em escala de cinza em
diferentes comprimentos de onda é possível identificar as 3 regiões de Sgr B2, além de outras
fontes próximas. PMNJ 1747-2823 está em Sgr B2 South, identificada como fonte 12 na figura
(d), enquanto Sgr B2 Main é identificada como fonte 4 na figura (c).(a) Imagem em 3.6 cm
(Mehringer et al. 1993); (b) imagem em 1.3 cm (Gaume et al. 95); (c) imagem em 6 cm
(Mehringer et al. 1993); e (d) Imagem (b) superposta com a emissão em Raios-X (2-10 KeV),
onde estão identificadas as 3 regiões de Sgr B2 (Takagi et al. 2002). As fontes estão
identificadas nos respectivos trabalhos.
80
Figura 5.20: Localização da fonte não térmica em relação ao complexo molecular de Sgr B2. A
fonte está localizada a ~3’ de Sgr B2, próximo da localização do excesso observado pelo
método de varredura em declinação em 43 GHz, utilizando o radiotelescópio de Itapetinga. O
eixo horizontal é a ascensão reta e no vertical a declinação (Protheroe et al. 2008).
Figura 5.21: Mapa de índices espectrais da região do centro galáctico. A linha pontilhada
mostra as principais características do mapa presente na figura 2.3, obtido com o
Radiotelescópio de Itapetinga em 22 GHz. A linha contínua mostra as regiões de índice
espectral negativo entre 5 GHz (Whiteoak & Gardner 1973) e 22 GHz (Tateyama et al. 1986),
indicando serem fontes não térmicas. É possível localizar G065-017 abaixo da estrutura chama
de Sgr B2 na figura 2.3 (Tateyama et al. 1986).
81
Capítulo 6
Conclusões
Neste trabalho foi apresentada a curva de luz da rádio fonte SgrA*, obtida em 43 GHz
com o radiotelescópio do Itapetinga no período de junho de 2006 a abril de 2008. Para as
observações foi utilizado o método de varreduras em ascensão reta, sendo estas realizadas
quase simultaneamente com Sgr B2, fonte utilizada como calibradora secundária. Como SgrA*
está embebida em um complexo de regiões HII, foi possível utilizá-lo como calibrador
simultâneo, sendo a diferença entre as duas calibrações uma medida do erro.
A calibração simultânea só foi possível utilizando o ajuste em 3 gaussianas para
separar a contribuição do complexo de fontes de SgrA da emissão de SgrA*. Este método é
inédito e obteve uma medida média de 2 Jy para sua densidade de fluxo, compatível com as
observações interferométricas (Zhao et al. 2001; Herrstein et al. 2004; Lu et al. 2008). O
equipamento foi calibrado a cada 20 minutos, após uma observação de SgrA* e uma de Sgr
B2. O monitoramento ocorreu durante dois anos, com diferentes intervalos entre as
observações, sendo estas divididas em duas épocas. Durante a primeira época, a observação
da fonte calibradora secundária foi centrada em PMNJ 1747-2823, localizada ao sul de Sgr B2
e cuja emissão é mais intensa em 5 GHz (Wright et al. 1996); durante a segunda época, as
observações foram centradas em Sgr B2 Main, localizado na região central do complexo e de
emissão mais intensa em 43 GHz.
As observações pelo método de varredura em declinação de Sgr B2, utilizadas para
verificar o apontamento, apresentam um excesso, localizado a ~3‘ ao sul da região mais
intensa, que foi atribuído a uma fonte não térmica, não pertencente ao complexo de Sgr B2.
Um mapa de índices espectrais da região do centro galáctico, obtido em 22 GHz utilizando o
radiotelescópio do Itapetinga, indica se tratar da fonte G065-017 (Tateyama et al. 1986).
A curva de luz obtida, apresentada no capítulo 5, mostra a existência de variabilidade
diária em SgrA*, provavelmente intrínseca à fonte. A amplitude da variação na densidade de
fluxo é da ordem de 1 Jy, compatível com os dados obtidos na literatura utilizando técnicas
interferométricas (Herrstein et al. 2004; Lu et al. 2008). O fluxo médio observado também está
em acordo com medidas anteriores, não sendo possível detectar a variabilidade no decorrer de
um dia devido ao longo tempo de integração necessário para obter uma boa razão sinal ruído.
Para verificar a existência da periodicidade foram utilizados dois métodos estatísticos
distintos. O método de Kolmogorov-Smirnov indica uma probabilidade de 49% da curva de luz,
modulada em um período de 106 dias, estar correlacionada com o ciclo já é reportado na
82
literatura (Zhao et al. 2001) enquanto o método de Jurkevich indicou uma característica
periódica de 90 e 210 dias na curva de luz obtida.
Considerando a emissão intrínseca à fonte, existem vários modelos que tentam
explicar a origem da emissão, dentre os quais: o modelo de acresção quase-esférica; o modelo
ADAF/RIAF; o modelo de jatos; e o modelo de precessão do disco com halo. Nenhum dos
modelos explica, isoladamente, todas as observações de SgrA*, como luminosidade, espectro,
polarização e variabilidade, sendo necessária uma combinação de um ou mais modelos para
compreender a emissão de SgrA*.
O modelo de acresção quase esférica consegue explicar a origem do disco de
acresção e, apesar de reproduzir bem grande parte do espectro de SgrA*, falha ao prever uma
luminosidade maior do que a observada. A emissão em ondas de rádio também não é bem
compreendida, sendo necessária uma distribuição não térmica de elétrons que podem estar
localizados em um jato ou em um halo (Melia 1994, Cuadra et al. 2006; Moscibrodzka et al.
2006).
O modelo ADAF explica muito bem fontes no regime sub-Eddington e logo consegue
reproduzir a luminosidade encontrada em SgrA*. O modelo também explica grande parte do
espectro, inclusive o excesso submilimétrico, mas não reproduz a polarização observada e,
assim como o modelo de acresção quase-esférica, também necessita uma distribuição de
partículas não térmicas. O modelo RIAF introduz o efeito destas partículas e consegue resolver
o problema da polarização, porém a emissão em ondas de rádio parece melhor explicada pela
existência de um jato simultaneamente com o disco (Narayan & Yi, 1994; 1995; Narayan et al.
1998b; Yuan 2000; Yuan et al. 2002, 2003 Yuan 2006).
O modelo de jato puro reproduz o espectro em ondas de rádio de SgrA*, porém a
ausência de medidas mais precisas que correlacionam à emissão em diferentes comprimentos
de ondas, além da ainda não detecção deste de jato são os pontos fracos do modelo.
Entretanto, por se tratar de uma fonte de baixa luminosidade, o jato pode ser apenas difícil de
ser detectado. De fato, resultados de simulações mostram que o formato intrínseco de SgrA*
em ondas de rádio pode ser produzido pela existência de um jato. Outras simulações obtiveram
o mesmo resultado para o modelo RIAF e um modelo simbiótico jato-RIAF parece o mais
adequado para explicar todas as observações (Falcke et al. 1993, Falcke 1999, Falcke &
Markoff 2000, Markoff et al. 2007, Jolley & Kuncic 2008).
O modelo de precessão do disco prevê uma distribuição de partículas não térmicas sob
a forma de um halo, opticamente espesso para freqüências acima de 1 cm. Conforme o disco
opticamente espesso precessiona, induzido pelo spin do buraco negro, ele muda sua sombra
projetada no halo, produzindo a variabilidade observada e uma suposta periodicidade na
emissão em comprimentos de onda abaixo de 1 cm. Porém, a precessão deve ocorrer
simultaneamente com o a acresção quase-esférica, de modo a reproduzir melhor todo o
espectro de SgrA*(Liu & Melia 2002; Prescher & Melia 2005; Rockefeller et al. 2005).
Entre os dois principias modelos simbióticos estão o modelo jato-RIAF e o modelo
acresção quase esférica-Halo. A comprovação, ou não, do comportamento periódico pode ser
83
fundamental para a escolha do modelo adequado à SgrA*. De qualquer modo, uma suposta
periodicidade não inviabiliza o modelo jato-RIAF, que também pode ser explicada por
diferentes orientações do jato conforme o disco precessiona (Caproni et al. 2004). Além disso,
a existência de um jato não exclui a possibilidade da emissão do disco ser explicada
simultaneamente pelo processo de acresção quase- esférica, único que pode explicar a origem
do disco de acresção.
A variabilidade diária de SgrA*, ao contrário da ocorrida em escalas de tempo de
semanas e meses, é pouco entendida e quase não há modelos capazes de explicar suas
características. Além disso, são poucas observações em ondas de rádio que monitoraram a
variação em escalas de tempo de dias. As observações com o Radiotelescópio do Itapetinga
detectaram esta variação e podem contribuir para um melhor entendimento da emissão de
SgrA*.
A precessão do disco reproduz a dependência da amplitude de variabilidade com a
freqüência e a observação do período de 106 dias encontrados na literatura, porém não é
compatível com os dados obtidos com o Radiotelescópio do Itapetinga em 7 mm.
As perspectivas do trabalho é continuar o monitoramento e analisar a variabilidade
existente em períodos menores que dia, comparando-a com a variabilidade encontrada em
Raios-X, utilizando o monitoramento do ASM (All Sky Monitor) do satélite RXTE entre 2-10 kev,
para tentar medir um possível atraso entre as curvas de luz, impondo limites para os modelos
propostos.
84
Capítulo 7
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