diretrizes e direcionamentos para a rede marista de solidariedade

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O documento tem como objetivo apresentar as diretrizes e direcionamentos de solidariedade do Grupo Marista para a RMS. Apresenta os principais conceitos acerca do posicionamento da rede com relação às temáticas sociais e ao foco de abordagem.

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Page 1: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

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Page 2: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

2 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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A Igreja exorta-nos, desde o Concílio Vaticano II, a que, em todo trabalho evangeli-zador, estejamos sempre atentos aos “sinais dos tempos”, pois é necessário conhecer e entender o mundo, os espaçotempos no qual vivemos.

O Instituto Marista, fiel ao Evangelho, à Igreja e ao legado de seu fundador, Marcelino Champagnat, reconhece-se vocacionado a ler esses sinais dos tempos e buscar, com au-dácia, empreendedorismo e vitalidade, novos métodos para tornar Jesus Cristo conhe-cido, amado e seguido. O XXI Capítulo Geral nos exorta: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”; e isso nos faz olhar para nossas estruturas como meios dinâmicos e potenciais que primam pela excelência administrativa, educacional, social e pastoral com a finalidade de garantir a vitalidade e viabilidade da missão Marista.

Nesse contexto, nossas frentes apostólicas são concebidas como “campos de aplicação e vetores de multiplicação” do carisma marista. São meios nos quais a identidade institu-cional é vivenciada e pelos quais chegamos com maior eficiência às crianças e aos jovens com a finalidade de ajudá-los a desenvolverem-se em todas as suas dimensões. Por isso mesmo, acreditamos que a dinâmica evangélico-pastoral perpassa todas as nossas ins-tâncias, dá significado aos processos desenvolvidos e é responsabilidade de todos.

Considerando esses pressupostos, a Província Marista Brasil Centro Sul, sensível ao sopro do Espírito e com a responsabilidade de zelar e dinamizar o processo evange-lizador na Província, empenha-se por desenvolver uma proposta de atualização da ação pastoral em nossas iniciativas de forma co-responsável, organizada, sistemáti-ca e orgânica e, ao mesmo tempo, dinâmica, criativa e inovadora.

Nossa gratidão a todos que contribuíram no processo de elaboração das Diretrizes da Ação Evangelizadora. O documento foi concebido e construído a partir de muitas mãos, mentes e corações. Agradecemos em especial aos pastoralistas, educadores, colabora-dores, gestores e jovens que estiveram presentes nos espaços de construção coletiva: Assembleia Provincial de Pastoral, Escola de Pastoral, Grupos de Trabalho para elabo-ração dos elementos inculturadores e Direcionamentos Pastorais, videoconferências com representantes das Unidades. Ainda ressaltamos a participação e colaboração de todos os setores provinciais, dos revisores teológico-pastorais e gramaticais.

Rogamos a todos que compõem a Província Marista Brasil Centro Sul as bênçãos de Deus, por intercessão de Maria, nossa Boa Mãe, e de São Marcelino Champagnat.

APRESENTAÇÃO

Ir. Adriano Brollo

Diretor do Setor de Pastoral

Ir. Davide Pedri

Provincial

Page 4: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

1 Introdução: Nossa História, Nossa Caminhada ...7

2 Conceitos Fundamentais ...23

3 Elementos Inculturadores ...43

4 Direcionamentos Pastorais ...83

Referências Bibliográficas ...109

Índice Geral ...114

índiceSetor de Pastoral

Ir. Adriano Brollo

Bruno Manoel Socher

César Leandro Ribeiro

Daiane Meger

Diogo Luiz Santana Galline

Dyógenes Philippsen Araújo

Marilúcia Antônia de Resende

Coordenação Editorial

(pesquisa, redação, padronização e revisão)

César Leandro Ribeiro

Dyógenes Philippsen de Araújo

Revisão ortográfica:

Rosemary Lima – Elo Cultural Comunicação

Projeto Gráfico e Diagramação:

Rodolfo Ribeiro e Hermano Pellegrini

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja : Cristianismo 253.78

Diretrizes da ação evangelizadora / Província Marista Brasil Centro-Sul . -- 1. ed. --

São Paulo : FTD, 2011. ISBN 978-85-322-8051-0 1. Evangelismo - Ensino bíblico 2. Missão da Igreja

3. Teologia pastoral I. Província Marista Brasil Centro-Sul.

11-12940 CDD-253.78

Província Marista Brasil Centro-Sul 54 Diretrizes da Ação Evangelizadora

Page 5: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

Introdução:Nossa História,

Nossa Caminhada

1

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.

Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos po-bres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a ver-dade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.

Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então ve-remos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a es-perança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.

(1 Coríntios 13)

Província Marista Brasil Centro-Sul 76 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[5]. Sua linguagem é recorrentemente pastoral, de fácil assimilação pelos pastoralistas, embora a preocupação fosse também fazê-la compreensível às lideranças estra-tégicas de nossa Província – nem sempre familiarizadas com conceitos teológico--pastorais. Afinal, caberá a esse grupo de pessoas, com formações e experiências tão diversificadas, interpretar o conteúdo aqui reunido e promover os devidos desdobra-mentos às realidades diversas, com as traduções necessárias, sem perder a essência.

1.1 Contextualização

[6]. A Congregação dos Pequenos Irmãos de Maria, conhecida como Instituto dos Irmãos Maristas, foi idealizada pelo Pe. Marcelino José Bento Champagnat (1879-1840) em 1817, na pequena cidade de La Valla. O episódio fundante remonta à experiência pastoral de Champagnat junto ao leito de morte de um jovem cam-ponês, da família Montagne. O Instituto surgia da indignação do padre frente à miséria e, sobretudo, da sua esperança cristã, em promover a cidadania, a forma-ção religiosa e intelectual de crianças e jovens empobrecidos e embrutecidos em meio ao caos social, econômico, político e religioso da França.

[7]. Desde o início, o Instituto foi audaz ao alargar a visão evangelizadora, aliando fé, educação, solidariedade e compromisso social. Logo soube ultrapassar as fron-teiras geográficas para dedicar-se à humanidade como um todo. Em 2 de janeiro 2017, celebraremos os duzentos anos de fundação do Instituto dos Irmãos Maris-tas, motivo de ação de graças e renovação de nossa missão, pois, como acreditava Champagnat, “o progresso do Instituto deveria ser obra de Deus e não nossa. É à proteção de Maria, portanto, que devemos esta bênção e todo o sucesso”2.

[8]. Hoje, o Instituto Marista está presente e atuante em 79 países espalhados pelos cinco continentes. Nossa missão pode ser assim definida: “Ser presença solidária e evan-gelizadora fortemente significativa entre as crianças e jovens pobres, buscando esti-los novos e criativos de educar e de defender os seus direitos”. E é missão da comu-nidade marista – Irmãos, Leigas e Leigos – “tornar Jesus Cristo conhecido e amado”3 pela atuação apostólica legada pelo fundador e pela mística de inspiração marial.4

2 - Cf. Marcelino Champagnat na carta escrita a Dom Pompallier, em 23 de maio de 1838. (MARCELINO CHAMPAGNAT. Insti-tuto dos Irmãos Maristas (Org.). Cartas.)

3 - Para Marcelino Champagnat, esse é substancialmente o núcleo de nossa missão. São palavras suas, proferidas para os irmãos e registradas em cartas em inúmeras ocasiões: “Não posso ver uma criança sem sentir o desejo de dizer-lhe o quanto Jesus a ama.” (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatutos, p. 254, art. 2.)

4 - O termo “marial” designa um conjunto de virtudes e valores presentes na tradição católica, cuja origem é atribuída à Maria, a mãe de Jesus.

1. Nossa História, Nossa Caminhada1

[1]. As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista do Brasil Centro-Sul nascem com a motivação de animar e orientar as ações pastorais em todos os nos-sos campos de atuação. Para tanto, o presente documento reafirma e atualiza os principais ideais e processos pastorais construídos na última década, resultantes de uma caminhada sólida e comunitária de muitos evangelizadores que não pou-param esforços em semear e cultivar de maneira criativa e contextualizada a boa notícia de Jesus Cristo.

[2]. A expressão “diretrizes” designa um conjunto de princípios, conceitos, ideias, as-pirações e direcionamentos que contribuem para qualificar os esforços pastorais da Província Marista Brasil Centro Sul (PMBCS), gerando sinergia, proporcio-nando uma visão clara e compartilhada em relação à missão, apontando, desse modo, as prioridades da missão da PMBCS até 2017. Essas Diretrizes buscam res-ponder ao apelo do XXI Capítulo Geral que nos desafia a “avançar depressa, com Maria, para uma nova terra”.

[3]. A construção desse documento sustenta-se nas permanentes e ricas contribui-ções dos Núcleos de Pastoral, dos Setores Provinciais, dos Irmãos Maristas que compõem nossa Província, das orientações do governo geral do Instituto Maris-ta, da Comissão Nacional de Evangelização - UMBRASIL, nos documentos ecle-siais e institucionais (internacionais, nacionais e provinciais) e nas lideranças de todas as nossas frentes apostólicas. O documento também procura lançar um olhar atento às transformações da sociedade, às novas tecnologias, assim como absorver as ideias e inspirações originadas na convivência com as novas gera-ções: as crianças e os jovens. Desse modo, a proposta aqui registrada está sempre receptiva às novas contribuições.

[4]. O conteúdo ressalta aspectos essenciais da tradição eclesial ao se fundamentar nos princípios do Evangelho, do magistério da Igreja e do Instituto Marista. Tam-bém introduz na reflexão aspectos inovadores, propondo a adequação dos referi-dos princípios às realidades atuais, nem sempre facilmente compreensíveis num mundo marcado por profundas e velozes transformações.

1 - Entenda-se essa Introdução como uma breve recapitulação de nossa história, que pretende contextualizar o presente documento dentro de um processo de evangelização institucional, que tem como ponto de partida a criação da PMBCS, em 2002.

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cleo foi renomeado como Setor de Pastoral8 da PMBCS. Em sintonia com os demais Setores Provinciais criados na mesma época, a sua atuação foi desenhada de modo a torná-lo uma instância de animação, formação e profissionalização de pastoralis-tas, formação de Leigas e Leigos e de planejamento orgânico em evangelização.

[13]. O recém-criado Setor de Pastoral coordenou9, a partir de 2003, a construção do primeiro plano orgânico de pastoral, publicado três anos depois com o título de Plano Provincial de Pastoral10. À luz dos desafios da época, o documento objeti-vava a organização e a unificação da caminhada pastoral diante dos novos cená-rios que se apresentavam, possibilitando uma nova visão pastoral, melhorando a organicidade e fortalecendo a identidade institucional no cenário eclesial. O pro-cesso favoreceu, em todas as frentes apostólicas, a identificação de pistas de ação, programas e projetos que ampliassem a ação evangelizadora.

[14]. Destacavam-se no Plano Provincial de Pastoral seis programas: o Programa Ma-rista de Formação; o Programa Marista de Humanização; o Programa Marista de Cultura da Solidariedade; o Programa Marista de Espiritualidade; o Programa de Animação Vocacional Marista; e o Programa de Pastoral Juvenil Marista. Os pro-gramas alavancaram um leque diversificado de projetos, fomentaram estruturas e contribuíram na otimização das ações pastorais. Os Núcleos Locais de Pastoral atenuaram seu caráter personalista para tornarem-se mais orgânicos e alinhados às aspirações da Província.

[15]. Desde então, a prática pastoral na PMBCS vem se aperfeiçoando, juntamente com as estruturas de suporte, sobretudo na qualificação dos Irmãos e colabora-dores dedicados à evangelização. O tempo e o acúmulo de experiências foram re-velando acertos e pontos de revisão do processo. Outros contextos de mundo e a própria reestruturação do modelo organizacional da PMBCS trouxeram à pauta outros desafios, como o novo desenho de atuação do Setor de Pastoral, que a par-tir de 2008 passa a operar com outras responsabilidades, no âmbito estratégico e de assessoramento ao Conselho Provincial. Para acompanhamento dos projetos in loco foi criada a Assessoria de Pastoral nos Negócios. As frentes apostólicas, já com um arcabouço de experiências consistentes, sinalizavam a necessidade de

8 - A equipe do primeiro triênio estava assim constituída: Ir. João Carlos do Prado (Coordenador), Ir. João Batista Pereira (Vice-coordenador), Adalgisa de Oliveira Gonçalves (Assessora), Clélia Peretti (Assessora), Fabiano Incerti (Assessor), Ney Guimarães (Assessor) e Soeli Terezinha Pereira (Assessora).

9 - Ao mesmo tempo, optando por uma metodologia participativa, o Setor promoveu relatórios, reuniões, discussões, re-flexões, assembleias e planejamentos participativos, contratações de pastoralistas, qualificação de Pessoas, criação de estruturas para a evangelização.

10 - PMBCS. Setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral, 2006. Ressaltamos que até a publicação oficial, o Plano Pro-vincial de Pastoral foi implementado com base em versões encadernadas, abertas a contribuições e aperfeiçoamentos.

[9]. Há mais de um século5 no Brasil, os Irmãos Maristas têm se dedicado ao generoso serviço da evangelização por meio da educação e do atendimento social, contri-buindo efetivamente na formação de bons profissionais, de cidadãos virtuosos e de cristãos comprometidos na construção de uma sociedade sustentável, justa e solidária. Atualmente o Brasil é um dos campos de missão mais representativos, compreendendo aproximadamente 30%6 da presença marista no mundo.

[10]. Desde 2002, a Instituição Marista está organizada em nosso país a partir de qua-tro Unidades Administrativas, chamadas de Províncias: a Província Marista Brasil Centro-Norte – PMBCN; a Província Marista Brasil Centro-Sul – PMBCS; a Província Marista do Rio Grande do Sul – PMRS; e o Distrito Marista da Ama-zônia – DMA. A União Marista do Brasil – UMBRASIL, criada em 2005, com sede em Brasília, é uma associação formada pelas mantenedoras destas provín-cias, com a missão de articular e potencializar a ação marista no Brasil.

[11]. A Província Marista Brasil Centro-Sul, criada em julho de 2002 pela junção da Província de Santa Catarina e de São Paulo, já nascia com uma estrutura admi-nistrativa complexa. Suas frentes de atuação incluíam: o ensino básico, o atendi-mento na área social, a promoção vocacional, o ensino superior, o ensino técnico, o atendimento na área da saúde, a comunicação de massa e um conjunto de es-truturas e iniciativas voltadas à promoção e defesa dos direitos das infâncias e juventudes. Um cenário amplo e promissor, mas com grandes desafios, tanto da perspectiva da missão como da sustentabilidade. Para que a Instituição pudesse ser gerida de modo eficiente, era necessário que o Conselho Provincial encontras-se um modelo organizacional e administrativo adequado aos novos tempos.

[12]. Naquele momento, para responder ao desafio da evangelização, o Conselho Provin-cial inaugurou o Núcleo Provincial de Pastoral e o incumbiu de fazer o diagnóstico da ação pastoral-evangelizadora em todos os campos de missão7. Em seguida, o Nú-

5 - Em 15 de outubro de 1897, os Irmãos Maristas enviados da França desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro, de onde se deslocaram para Congonhas do Campo, Minas Gerais, formando a primeira comunidade marista em terras brasileiras. Em seguida, 1900, chegaram mais irmãos em Bom Princípio, Rio Grande do Sul. Três anos depois, outros fixaram residência em Belém do Pará. Assim começa a trajetória marista no Brasil. Ver CAVALCANTI. Presença marista: os caminhos da educa-ção e da solidariedade, 2010.

6 - Atualmente, segundo o relatório da UMBRASIL, o Instituto conta com 26 mil Irmãos, Leigos e Leigas, proporcionando educação para 200 mil crianças e jovens no Brasil e beneficiando mais de 350 mil pessoas no total, por meio de 74 colégios, 3 universidades – sendo uma compartilhada com outras quatro congregações – 2 faculdades e 109 unidades sociais, 6 hospitais, 3 editoras e 13 veículos de comunicação. (UMBRASIL. Disponível em: <http://www.umbrasil.org.br>)

7 - Por “campos de missão”, “frentes apostólicas” ou simplesmente “negócios” designamos as iniciativas específicas dessa Província, que são: primeiramente as mantenedoras (ABEC-UCE, APC e FTD) que têm a responsabilidade de gerir e subsidiar as Escolas, Centros Sociais, Universidades, Redes de comunicação, Hospitais, Editoras, comunidade dos Irmãos Maristas, Centro de Espiritualidade e Vivência Marista e demais negócios suplementares.

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[18]. Recentemente, em 2009, o XXI Capítulo Geral16, cujo tema foi “Corações novos para um mundo novo”, apontou novas perspectivas para o Instituto, por meio do apelo fundamental, que assim refletia: “Sentimo-nos impulsionados por Deus a sair para uma nova terra, que favoreça o nascimento de uma nova época para o carisma marista. Isso supõe que estejamos dispostos a mover-nos, a desprender--nos e a assumirmos um itinerário de conversão, tanto pessoal quanto institucio-nal, nos próximos anos.”17 E o capítulo concluía convocando a todos: “Com Maria, ide depressa para novas terras”.

1.2 Princípios basilares

[19]. A caridade, o Evangelho e a fé constituem os princípios basilares, que forjam nos-so ser-cristão e nos movem a agir e consagrar nossas vidas.

[20]. Mas o que é a caridade? Nas escrituras sagradas ouvimos dizer que “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece com Deus, e Deus permanece com ele”18. Na mística cristã, esse amor assume a forma de cháris (gratuidade), donde deriva caritas (caridade). Caridade é o amor-gesto, amor-doação, ação que cria vínculos, solidariza e transforma realidades de sofrimento. Ou seja, amor e caridade são sinônimos. E Jesus Cristo nos apresenta, por sua vida e missão, o amor como sín-tese de toda a Lei”19, apontando-o como juízo de valor universal e definitivo. Desta forma, no cristianismo, a caridade apresenta-se não apenas como a plenitude da lei, mas como o sentido da vida humana, constituindo-se em primazia tanto para a vida do cristão, quanto para a ação pastoral da Igreja. É neste contexto que so-mos desafiados a assimilar o ensinamento de São Marcelino Champagnat, que dizia: “para bem educar é preciso, antes de tudo, amar”.

[21]. A caridade é o sinal visível da fidelidade do cristão e do dever da Igreja, pois como disse Jesus, “sempre que fizestes isto [a caridade] a um destes meus pequeninos, a mim mesmo que o fizeste”20. A caridade não é um discurso vazio. É uma dispo-sição prática, que requer empenho no aqui e agora, pois ela é o amor em/na ação.

16 - O Capítulo Geral dos Irmãos Maristas é uma assembleia representativa de todo o Instituto, realizada a cada oito anos, geralmente na Casa Geral, em Roma. Nesse evento elege-se o Superior Geral e os oito membros do Conselho Superior, que se ocupam do governo, da renovação das prioridades e da atualização de questões relacionadas à missão do Instituto no cenário global. Com centralidade em Jesus Cristo e sob a mística de Maria, desenvolve-se o aspecto místico e missionário do Capítulo, onde todos são convidados a discernir e perceber as moções do Espírito Santo em seus corações, e estarem atentos aos novos desafios apostólicos que se apresentam.

17 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 19.

18 - 1 João 4, 16.

19 - Mateus 22, 36-40.

20 - Mateus 25, 40.

pensar seu processo de evangelização a partir da expertise de cada negócio. A questão – “Para onde devemos caminhar? Como os negócios poderiam melhor contribuir com a missão institucional a partir de sua vocação específica?” – foi respondida através da profunda reflexão que culminou na primeira versão do documento denominado Direcionamentos Pastorais para as Mantenedoras e Negó-cios da Província Marista Brasil Centro-Sul11.

[16]. Ao passo que ainda se consolidam alguns processos de animação e governo, pode-mos afirmar que a PMBCS tem conseguido implementar com êxito seu novo mo-delo organizacional. Em seu Plano Estratégico12, a missão da Província consiste em “Formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários para a transformação da so-ciedade, por meio de processos educacionais fundamentados nos valores do Evan-gelho, do jeito marista.”13 Para tanto, três objetivos fundamentais foram delineados:

• Oferecer excelência educacional na formação de crianças e jovenspara a autonomia e cidadania, comprometidos com a promoção da vida e da sociedade.

• OportunizaraformaçãoeoengajamentodeIrmãos,LeigaseLeigos,para a vivência de sua vocação, do desenvolvimento profissional e o exercício da missão marista.

• PerenizaravitalidadedamissãoeaviabilidadeeconômicadaInsti-tuição.14

[17]. Com o intuito de tornar o carisma marista uma realidade ainda mais compartilha-da, foi definido pelo Conselho Provincial um núcleo de valores inspirado no espírito do fundador: homem forte, empreendedor, ousado e, ao mesmo tempo, compassi-vo, terno e agregador. Esse núcleo de valores está assim constituído: Simplicidade, Amor ao trabalho, Justiça, Espiritualidade, Espírito de família e Presença signifi-cativa. O conjunto de valores escolhido não esgota outros valores maristas, que são muitos. Ao lado das pequenas virtudes15, eles apontam para o tempo presente um ethos que anima e orienta todas as nossas relações de convívio e trabalho.

11 - PMBCS. Setor de Pastoral. Direcionamentos Pastorais para as Mantenedoras e Negócios da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2009.

12 - PMBCS. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2010. [Documento Interno.]

13 - PMBCS. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, p. 6.

14 - PMBCS. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, p. 6.

15 - As “pequenas virtudes” encontram-se em Avis, Leçons, Sentençes et Instructions. Trata-se da publicação (1927) das anotações feitas pelo Ir. Jean Baptiste Furet acerca dos ensinamentos proferidos pelo Pe. Champagnat nos encontros de formação dos Irmãos.

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à natureza do Reino de Deus. De modo complementar, para os apóstolos, a Boa Nova é a pregação do acontecimento salvífico, que é o próprio Jesus de Nazaré. O Evangelho constitui o cerne do que a tradição cristã chama de Palavra de Deus.

[24]. Com apresentações e ângulos diferentes, todos os Evangelhos têm em seu centro um mesmo objetivo: promover o encontro com Cristo. Pelo encontro com Jesus Cristo, o ser humano se renova permanentemente e se constitui num sujeito novo chamado a evangelizar. Como afirma Bento XVI: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um aconteci-mento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orien-tação decisiva”27. A adesão a Cristo é, ao mesmo tempo, condição para o exercício pessoal do apostolado e critério último de qualificação para a ação evangelizadora.

[25]. Acolhendo a Boa Nova de Jesus Cristo nos irmanamos no amor, no projeto do reino de Deus e na fração do pão. Formamos em torno da Eucaristia a Igreja, promotora de vida e do Reino de Deus para cada pessoa e para toda a sociedade. Portanto, “tornar Jesus Cristo conhecido e amado” supõe viver, testemunhar e proclamar a mensagem contida no Evangelho. Essa aproximação com Jesus Cristo, essa experiência apostó-lica encanta o coração, nos faz discípulos e amplia nossa compreensão do amor.

[26]. São Marcelino Champagnat, mencionando o Salmo 127, repetia continuamente aos Irmãos seu versículo predileto: “Se o Senhor não edifica a casa, em vão tra-balham os que a constroem”. Portanto, pela fé, somos constantemente desafiados a permanecer solidamente edificados em Deus, vivenciando os ensinamentos de Cristo em comunidade. Nossa fé significa que cremos em Jesus Cristo como filho de Deus encarnado, cuja morte e ressurreição nos abriram as portas do Reino de Deus. Ele é nossa Páscoa definitiva – mistério de comunhão e aliança – presen-te em cada Eucaristia celebrada. Pela fé em Cristo (confiança filial), aderimos ao projeto de Deus. Nossa fé passa pela razão (adesão intelectual), embora frequen-temente a supere (dom sobrenatural), vinculando-se à esperança que nos incen-tiva a prosseguir, com projetos novos e vindouros.

[27]. A fé é irmã da esperança. A esperança é a força que motiva as pessoas e comu-nidades a interpretarem a realidade em que vivem, apontando para um futuro promissor, que se concretizará à medida que o construímos juntos. Assim, a es-perança se torna virtude universal: fortalece vínculos entre crentes e não crentes em prol de causas coletivas, para o bem de todos (horizonte da ética) e o testemu-nho do Evangelho (horizonte da fé).

27 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 243.

E o amor encontra no caráter social a sua manifestação mais clara e eficaz, na medida em que nos faz sair de si para ir ao encontro do outro. Sobretudo, quando esse outro é aquele que se encontra empobrecido, violentado em sua dignidade ou fragilizado. Esse princípio deve nortear nossa missão evangelizadora, nossas propostas educativas, nosso agir cotidiano21.

O amor – caritas – será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar su-pérfluo o serviço do amor. Quem desfazer-se do amor, prepara-se para desfazer-se do ser humano enquanto ser humano. [...] A afirmação de que as estruturas justas tornariam supérfluas as obras de caridade esconde, de fato, uma concepção materialista do ser humano: o preconceito segun-do o qual o ser humano viveria “só de pão” (MT 4, 4; cf. Dt 8,3)22.

[22]. Embora o amor apareça, muitas vezes, como um termo banalizado, é importante lembrar que “[...] o amor é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta”23. É o “dom maior que Deus concedeu aos homens” . Sendo assim, o amor “é o princí-pio não só das microrrelações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorrelações, como os relacionamentos sociais, eco-nômicos, políticos”25. Neste contexto, todos nós somos constituídos “sujeitos de caridade, chamados a nos fazermos instrumentos da graça, para difundir o amor de Deus e tecer redes de caridade”26.

[23]. O Evangelho – os evangelhos – expressa o testemunho apostólico sobre a pessoa de Jesus, o Filho de Deus, o Cristo. Esse texto sagrado relata a vida, a atuação pú-blica, o que Jesus disse, o que proclamou e mandou que se proclamasse ao mun-do, a sua morte na cruz e ressurreição. Etimologicamente, Evangelho significa “boa notícia”, “boa nova”. Jesus utilizou a expressão para se referir aos sinais e

21 - Mas quem são os sujeitos ou agentes da caridade? Todos os seres humanos. A caridade é um princípio/valor semeado por Deus no coração humano – logo, devemos aceitar que não se trata de uma prerrogativa unicamente cristã –, portanto, podemos reconhecer seus frutos em cada cultura e em cada religião que busca sinceramente a verdade. A caridade é a sín-tese de todas as dimensões do amor (eros, filia e agápe), pois “todas essas formas de amor, no fim das contas unificam-se, sendo o amor, apesar de toda a diversidade de suas manifestações, em última instância, um só”. (BENTO XVI. Deus caritas est, n. 2.) Enfim, o amor é o princípio humanizador universal.

22 - BENTO XVI. Deus caritas est, n. 28b

23 - BENTO XVI. Deus caritas est, n. 05.

24- Cf. 1 João 4, 8-16.

25 - BENTO XVI. Deus caritas est, n. 5.

26 - BENTO XVI. Deus caritas est, n. 5.

Província Marista Brasil Centro-Sul 1716 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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evangelização são as crianças, os adolescentes, os jovens de nossas unidades de ensino, os educadores, os administradores, os Irmãos, os Leigos e Leigas, os cola-boradores contratados, os expectadores das redes de comunicação, os pacientes hospitalares, os parceiros e demais agentes do humanismo cristão.

[32]. Em nossa Instituição, evangelizar é, portanto, missão de todos. Acolhemos a to-dos, segundo suas vocações específicas, com seus modos de vida, com as peculia-ridades culturais e contextuais oriundas das múltiplas experiências de vida. A corresponsabilidade e a complementaridade são riquezas que nos possibilitam novos relacionamentos e novas metodologias.

[33]. Enquanto PMBCS, em comunhão com a União Marista do Brasil (UMBRASIL) e demais Províncias e Distrito, afirmamos nossa identidade cristã, católica e ma-rista. Como Igreja, reconhecemos nossa responsabilidade junto ao processo de evangelização e a reafirmamos como a razão maior e finalidade última de todas as nossas iniciativas. Sob o legado do carisma marista, vivenciamos o apostolado de modo mais intenso entre as crianças e jovens, sobretudo as mais pobres. Disse-minamos o Evangelho, a Palavra de Deus, em todos os nossos espaços de atuação.

1.4 Orientações para a leitura e o estudo

[34]. Até o momento, nesse preâmbulo ao leitor (Parte 1), desenvolvemos um retros-pecto histórico, com a finalidade de contextualizar a fundação do Instituto Maris-ta, sua presença no mundo e no Brasil e a ação evangelizadora em nossa Provín-cia, sobretudo nessa última década. De modo conciso, seguimos recapitulando os princípios basilares que constituem a razão de nossa caminhada cristã – a Cari-dade, o Evangelhoe a Fé –, que são pressupostos pastorais para a compreensão da proposta evangelizadora em sua integralidade; enfatizamos que somos herdeiros do um legado espiritual de Marcelino Champagnat, herança carismática capaz de congregar em torno de uma missão comum os Irmãos Maristas, os Leigos e Leigas na Igreja e demais pessoas de boa vontade. No desencadeamento, veremos esse documento estruturado em mais três partes.

[35]. Na Parte 2, serão apresentados três conceitos fundamentais para o entendimento da ação evangelizadora em nossa Província: a) O que é evangelização, e quais são os conceitos teológicos e magistrais subjacentes a este âmbito; b) O que é pasto-ral, e o conjunto de processos que caracterizam a organização pastoral em nossa Província (apostolado, planejamento, organicidade, flexibilidade metodológica, atenção aos sinais dos tempos e recursos); c) O carisma, enquanto aspecto místico para a formação da identidade em meio às diferentes maneiras de ser Igreja.

1.3 Nossa missão compartilhada

[28]. Para o Ir. Séan Sammon, Superior Geral (SG) de 2001 a 2009, a circunstância secular e plural em que se encontra a humanidade hoje nos desafia a assumirmos novas e cria-tivas estratégias evangelizadoras. Em suas palavras: “[...] precisamos estar atentos aos movimentos contemporâneos e, de modo especial, analisar os valores que neles se ma-nifestam. Qualquer omissão de nossa parte nesse sentido pode nos atrelar ao passado, no preciso momento em que um mundo novo se anuncia”28. Nesse sentido, é necessá-rio pensar o carisma institucional como um aspecto dinâmico, que faz contrabalançar os elementos da tradição com os dilemas de um mundo em rápida transformação.

[29]. O presente documento situa-se no desdobramento dessa importante reflexão. Lo-gicamente, ele estabelece um recorte: debruça-se sobre as questões que dizem res-peito ao processo de evangelização, desde sua organização até a visão de futuro. Não há dúvidas de que vivemos agora, em nossa Província, o tempo oportuno de fazermos um balanço de nossa caminhada pastoral e da vitalidade de nossa missão.

[30]. Devemos fazer um esforço sincero de abertura de coração e flexibilização de pensamento se quisermos realmente dar novos passos na Igreja e no Instituto Marista. Sammon concluía dizendo que “[...] nossos corações devem estar aber-tos à mudança, mas, ao mesmo tempo, precisam absorver a melhor herança do passado. Uma renovação genuína jamais o descarta, ainda que procure libertá-lo das armadilhas da história”29. Neste contexto, espera-se que este documento de diretrizes seja produto de escolhas e decisões influenciadas pelas experiências significativas do passado e pela interpretação do momento que vivemos hoje.

[31]. E já não são poucos os agentes da mudança: hoje, Irmãos, Leigas e Leigos são aqueles que compõem a grande mesa dos vocacionados maristas30, apóstolos de Cristo que atuam em muitas frentes de trabalho, com diferentes responsabilida-des, mas com um só coração e uma só missão. É por esse motivo que o presente documento assume a todos como sujeitos da evangelização, que se colocam em disposição de diálogo com muitos interlocutores. Os sujeitos e interlocutores da

28 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Corações novos para um mundo novo, p. 20.

29 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Corações novos para um mundo Novo, p. 12.

30 - O sentimento de pertença ao Instituto e de compartilharmos uma missão tem se fortalecido após o 19º Capítulo Geral e da Assembleia Internacional da Missão Marista, em Mendes, 2007. Recentemente, em 2009, a Comissão Internacional do Laicato Marista amplia, juntamente com o Conselho Geral, todas essas reflexões no documento Em torno da mesma mesa. A vocação dos Leigos Maristas de Champagnat. Mais elementos sobre o laicato na PMBCS podem ser aprofundados no documento: PMBCS. Setor de Vida Consagrada e Laicato. Vida marista: Irmãos, Leigas e Leigos: diretrizes do Setor de vida consagrada e laicato, 2010.

Província Marista Brasil Centro-Sul 2120 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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Conceitos Fundamentais

2

[36]. Após a apresentação dos conceitos fundamentais, o documento aprofunda alguns Elementos Inculturadores do Evangelho (Parte 3). Os Elementos Inculturadores são aspectos positivos da cultura geral e institucional, que abrem portas para o diálogo entre o ethos e os valores do Evangelho. São eles: a dignidade humana, a educação emancipadora, a espiritualidade, a alteridade, a solidariedade socioambiental, a ca-tequese, as infâncias e juventudes e os valores maristas.

[37]. Por fim, o documento apresenta os Objetivos de Animação Pastoral do Conselho Geral, Direcionamentos Pastorais Transversais e por Frentes Apostóli cas (Parte 4). Os Dire-cionamentos ganham contornos a partir do discernimento da vocação própria de cada frente apostólica, permitindo que estas potencializem sua missão específica e, ao mes-mo tempo, compreendam-se cada vez mais integradas e corresponsáveis pela missão institucional. É a maneira pela qual se preservam as identidades e a cultura das frentes apostólicas, engendram-se novas estratégias pastorais e as maneiras peculiares de con-tribuir na evangelização e missão marista.

[38]. Ao estudar as páginas que seguem, esperamos que todos se sintam coautores e prota-gonistas na missão de evangelizar. Esta é a principal intenção. Sabemos que uma Insti-tuição em pastoral nasce do esforço coletivo-comunitário, e é sempre consequência de uma adesão pessoal e intransferível. Com Maria, nosso modelo de seguimento de Jesus Cristo, e com Marcelino Champagnat, nosso fundador e inspirador, sigamos depressa para fazer do Evangelho uma realidade mais presente no mundo.

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[41]. Para o Instituto Marista, a promoção do Reino de Deus se dá pela forma de exer-cer sua missão na educação, no cuidado, na promoção e defesa das crianças e jo-vens, preferencialmente os empobrecidos. Sempre fiéis ao carisma de Marcelino Champagnat e criativamente sensíveis aos sinais dos tempos, à luz do Evangelho.

[42]. O processo evangelizador se torna real em nosso meio pelo testemunho autêntico da fé, da esperança e da caridade35; pelo serviço a todas as pessoas e aos povos36; pela promoção da solidariedade, da justiça, da paz e do bem comum37; pelo diálogo e promoção da unidade entre as culturas, as religiões e os saberes38; pela oração, ação litúrgica e sacramental; pelo anúncio ou proclamação do Evangelho, da vida e missão de Cristo; e pela catequese e demais formas de aprofundamento da fé39.

[43]. Todos nós, que aderimos à missão, estamos sob o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a todo criatura”40. Portanto, torná-lo conhecido e amado, sobretudo entre as crianças e jovens, fazendo com que sua proposta de vida seja assumida é nosso objetivo permanente, pois “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”41. Todos nós, embora com funções e graus de envolvimento diferenciados somos responsáveis pelo processo evangelizador.

[44]. Somos desafiados a tornar atual essa missão evangelizadora42 de modo a buscar as respostas próprias aos desafios que marcam nossas realidades. Neste empre-

35 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatutos, n. 86, 1º parágrafo.

36 - De acordo com o Documento de Aparecida, o serviço aos povos no contexto da evangelização “[...] envolve assumir ple-namente a radicalidade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na cruz [...] o amor de plena doação, como solução ao conflito, deve ser o eixo cultural ‘radical’ de uma nova sociedade”. (CELAM. Documento de Aparecida, n. 543.)

37 - Em Redemptor hominis, n. 15, João Paulo II apresenta a justiça “[...] como elemento essencial da missão da Igreja, in-dissoluvelmente unido a ela.”; A mesma dimensão da justiça é prevista nas Constituições e estatutos, n. 86 , 3º parágrafo.

38 - Que se fundamenta em Redemptoris missio, n. 52, Evangelii nuntiandi, n. 20 e Christifideles laici, n. 44. (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão Educativa Marista, n. 83 e 84.)

39 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatutos, n. 86, 2º parágrafo.

40 - Marcos 16, 15.

41 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 29.

42 - O fundamento da evangelização é o próprio Deus Trindade, pois é Ele o seu autor primeiro. Por desígnio do Pai, existimos em Deus e somos convidados a participar ativamente de seu projeto: a vida digna dos seres humanos em comunhão consigo mesmos, com a natureza e com o próprio Deus. Por Jesus Cristo o propósito divino se torna real em nosso meio. É por meio Dele, Nele e com Ele que nos tornamos partícipes da divindade. Por sua vida e missão, o rosto misericordioso do Pai se torna acessível a nós. E é pela ação permanente do Espírito Santo que a obra iniciada por Cristo se perpetua no tempo, como Igreja, entre os diversos povos, contextos e culturas. A evangelização, portanto, é um processo que encontra a sua essência na dinâmica do próprio Deus Trindade, que é comunhão, diversidade, partilha, doação e amor. Em comunhão com Ele os batizados participam do desígnio divino. Pertencendo, portanto, ao Corpo Místico de Cristo, são sujeitos do processo evangelizador. Como Igreja, são dotados por Deus pela diversidade de dons e carismas; e se organizam em ministérios, em vista do serviço ao próximo.

2. Conceitos Fundamentais

“Quem escuta minhas palavras e as põe em prática parece-se com uma pessoa prudente que construiu a casa sobre a rocha”. (Mateus 7, 24)

2.1 Evangelização

[39]. Por evangelização entendemos a missão global da Igreja que, fiel ao projeto de Cristo, empenha-se incansavelmente na promoção do Reino de Deus31, tornando--se presente entre as pessoas e as culturas32 de maneira significativa, a fim de pro-movê-las em dignidade, à luz da fé33. Assim, a evangelização serve ao desenvolvi-mento humano integral, com ações plurais e complementares, na diversidade das comunidades cristãs. A força evangelizadora da Igreja se edifica na comunhão dos fiéis que, juntos, aderem ao projeto de amor de Deus-Pai, vivem os valores da “vida nova” que Jesus nos legou com sua morte e ressurreição, e se deixam guiar e renovar pelo Espírito Santo – força dinamizadora da missão.

[40]. O Reino de Deus constitui o núcleo central da pregação de Jesus34. Portanto, é obje-to e objetivo de toda a ação da Igreja. É possível perceber o Reino de Deus aconte-cendo no mundo por meio de “sinais do Reino”. Os principais sinais são: as atitudes de amor, de perdão, de misericórdia, de justiça, de paz, de solidariedade, de unida-de, de respeito, de fraternidade. Por outro lado, sinais de violência, de egoísmo, de destruição, entre outras, equivalem a sua negação. É tarefa fundamental da Igreja mostrar às pessoas que o Reino de Deus constitui uma dimensão real da existência humana e que é possível vislumbrar em todas as culturas as sementes desse Reino.

31 - A expressão Reino de Deus representa realeza eterna de Deus e sua ação salvífica na história, por meio de Cristo. Por isso, o Reino designa tanto a dimensão presente como as realidades futuras. O documento Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, apresenta a relação entre Igreja e Reino de Deus em duplo movimento. De um lado, ela é o Reino de Deus pre-sente já em mistério; de outro, deve servir ao Reino de Deus pela proclamação da Palavra, pelo testemunho de comunhão e pela prática da caridade.

32 - Paulo VI, em Evangelii nuntiandi, n. 19: “Para a Igreja não se trata de pregar o Evangelho em faixas geográficas sempre mais vastas ou a populações sempre maiores, mas também de atingir e como que revolucionar, pela força do Evangelho, os critérios de julgamento, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspirado-ras e os modelos de vida da humanidade, que contrastam com a Palavra de Deus e com o projeto da salvação”. Sobre essa temática – a Igreja e as culturas – consultar ainda Gaudium et spes, n. 57 a 62. No âmbito do Instituto Marista, consultar também as Constituições e estatutos do Instituto dos Irmãos Maristas, n. 91.

33 - Paulo VI, em Evangelii nuntiandi, n. 17: “Nenhuma definição parcial e fragmentária pode dar conta da realidade rica, complexa e dinâmica, como é a da evangelização, sem correr o risco de empobrecê-la e até mutilá-la. É impossível entendê--la se não se busca abranger com o olhar todos os elementos essenciais”. O Documento 71 da CNBB, Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora no Brasil, 2003 -2006, evidencia ainda que a evangelização é um processo no qual a culminância é sempre a anúncio e conhecimento explícito de Cristo, sendo antes, no entanto, precedido ou acompanhado pelas exigên-cias da presença, do testemunho, do serviço, do diálogo.

34 - Ver Marcos 1, 15 e Lucas 4, 16-19.

Província Marista Brasil Centro-Sul 2726 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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2.2 Pastoral

[47]. Por Pastoral compreendemos o agir organizado da Igreja no mundo47. Caracteriza--se pelo cuidado na condução48 do processo de evangelização49, para que este se desenvolva de forma sistematizada50, orgânica, progressiva e permanente, apro-priando-se de metodologias diversificadas, com a finalidade de tornar a mensagem cristã significativa e eficaz em cada realidade e junto a interlocutores variados.

[48]. Na Igreja em geral, o agir pastoral é realizado em diversas instâncias. É a incum-bência primeira do Colégio Episcopal51 sob a orientação do Papa. Embora atuem em meio a diferentes culturas e etnias, os demais bispos formam um núcleo de comunhão em torno da autoridade do Papa. “Unidade na diversidade”, como um corpo saudável, “formado de diferentes membros”52. Assim, os bispos têm a res-ponsabilidade primeira de organizar a ação evangelizadora nas dioceses espa-lhadas pelo mundo, a fim de atender necessidades específicas, como as de ordem eclesial, espiritual, vocacional, educativa, de ação social, entre outras; ou para atender demandas de determinados grupos de interlocutores, como das famílias, dos educadores, dos jovens, dos idosos, das crianças, dos enfermos, entre outros.

[49]. Em comunhão com o magistério eclesial, diversos carismas que compõem a vida da Igreja são reconhecidos e incentivados. Como instâncias legitimamente auto-

47 - LIBÂNIO, João Batista. O que é pastoral, 1986. Este mesmo conceito é desenvolvido na obra de JULIATTO, Ir. Ivo Clemen-te. Um Jeito próprio de evangelizar: a pastoral na PUCPR, 2008.

48 - Segundo o Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid – na sua coluna periódica à revista eletrônica Amai-vos –, na cultura bíblica, o pastoreio, embora fosse uma profissão vital, era pouco apreciada pelas elites pela rudeza do trabalho, no qual os pastores eram obrigados a se sujar, impregnando-se com o cheiro do rebanho. Foi exatamente este o modelo vital com que Cristo quis se identificar: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10, 11). Colocou-se como aquele que zela pelas ovelhas de seu rebanho, dando a vida se necessário for para que elas vivam. A partir dessa referência, a atividade do pastoreio remete sempre ao cuidado, ao carinho, à presença e, ao mesmo tempo, à perspicácia, à organização e à coragem. (Disponível em: <http://amaivos.uol.com.br>.)

49 - Segundo Antonio Alves de Melo, a ação pastoral desenvolve-se, pois, em três campos: edificação da comunidade, com-paixão da esperança, luta pelos valores do reino. Desenvolvendo-se em tamanha amplitude, a pastoral faz com que as dimensões da vida eclesial penetrem nas diferentes situações humanas. Também fazem parte da pastoral os projetos operacionalizáveis – planos, diretrizes e opções – que, em cada época e lugar, promovem o encontro entre a intenção de Jesus e a ação da Igreja. Tais projetos nascem do empenho dos fiéis – religiosos e leigos – na obra comum da evangeliza-ção. (Ver MELO, Antônio Alves de. A evangelização no Brasil, 1996.)

50 - O desenvolvimento da concepção de pastoral se deu em concomitância com a discussão em torno da necessidade de um planejamento pastoral [...]. Posto em prática, o planejamento pastoral foi sendo relativizado, até que se alcançou a ne-cessária compreensão de seus valores, riscos e limitações. Hoje, o planejamento pastoral ocupa o lugar que lhe é devido. (Ver MELO, Antônio Alves de. A evangelização no Brasil, 1996.)

51 - Há outras expressões análogas, como “ordem episcopal” ou “corpo de bispos”. Significa a unidade estável (institucio-nal, constitucional e hierárquica) dos bispos com o papa. Isto é, um grupo de sucessores dos apóstolos, cuja liderança é exercida pelo pontífice romano, que, na tradição católica, é considerado o legítimo sucessor de Pedro.

52 - Cf. Romanos 12.

endimento, estamos cientes de que, acima de todos os nossos esforços intelectuais e operacionais, o protagonista maior do processo que nos propomos a perpetuar no tempo e no espaço é o Espírito Santo. Como frisou o Ir. Emili Turu – atual SG: “a evangelização é obra do Espírito Santo e de que, sem sua ação, tudo se resume apenas à palavras e fogos de artifício”43. Desta forma, nossa atitude é de abertura e discernimento; queremos ser terra fértil para a Sua ação sempre renovadora e ousada, geradora de vitalidade, força, ternura e paz: “Envias o teu Espírito, as criaturas florescem e a terra inteira se renova!”44. Alicerçados no próprio Cris-to, rocha firme, buscamos inculturar o Evangelho em nosso meio45, qualificando nossa presença entre as pessoas.

[45]. O encontro pessoal com Cristo se dá de formas diversificadas e por caminhos nem sempre previsíveis. Campos privilegiados para esse encontro, dentre ou-tros, são a escuta atenta e a celebração da Palavra; a vivência sacramental, so-bretudo eucarística e da reconciliação; a vida de oração; a vivência pastoral e comunitária; a leitura orante da Bíblia, a presença significativa entre os mais necessitados; a comunhão com as infâncias e juventudes; o trabalho digno e sus-tentável; a construção do conhecimento enquanto busca da verdade e sabedoria; e a vivência da espiritualidade marial. Esse encontro com Cristo se dá em meio ao dia a dia, junto às pessoas e acontecimentos comuns. O que torna esse encon-tro possível é sempre o sentido, o porquê e a finalidade que damos para todas as nossas ações, bem como a dignidade que adotamos ao vivenciá-las.

[46]. Nessa caminhada, temos em nosso meio a constante presença de Maria, Nossa Boa Mãe. Nos seus passos, descobrimos em cada dia o nosso jeito de ser. Com Champagnat, a consideramos a nossa primeira superiora. Na presença de Ma-ria estamos mais firmemente unidos ao seu filho, Nosso Senhor. Dela aprende-mos, no cotidiano, a “caminhar depressa”, sempre em busca de “novas terras”, junto aos jovens e às crianças, bem como das pessoas atendidas por nossas obras. Dela ouvimos o convite decisivo, a respeito de seu filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser”46.

43 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, p. 10.

44 - Salmo 104, 30.

45 - Enquanto comunidade de fé, a Igreja encontra na Palavra de Deus, contida na Sagrada escritura e na Sagrada Tradição, a fonte primeira na qual se edifica para o fortalecimento da fé e da esperança. A partir dessa fonte inesgotável, a Igreja aprofunda a sua caridade, celebrando e rezando o Mistério Pascal de Cristo, sobretudo por meio da Liturgia, fonte e ápice da vida cristã; e tornando vida as promessas das bem-aventuranças.

46 - João 2, 5.

Província Marista Brasil Centro-Sul 2928 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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necessidade de compartilhar com os outros a alegria de ser enviado, de ir ao mun-do para anunciar Jesus Cristo”54 e tornar realidade o amor e o serviço. Natural-mente, uma das expectativas do apostolado é contagiar novos corações, suscitar novos discípulos missionários para o serviço ao mundo.

Jesus, enviado do Pai, é a fonte e o modelo de nosso apostolado. Pela encarnação, ele se une, de certo modo, a cada homem. Consa-grado e enviado pelo Espírito Santo, anuncia a Boa Nova do Rei-no. Faz-se servidor de seus irmãos até o dom total da vida. Morre para congregar na unidade a família de Deus. Ressuscitado, con-sagra toda a criação e a conduz à plenitude55

[54]. Muitos apóstolos e discípulos de Jesus são amplamente conhecidos por marcarem o estilo e espiritualidade de nossa Igreja. Maria, João, Pedro, Paulo, Francisco de Assis, Clara de Assis, Inácio de Loyola, Vicente de Paulo, João Batista de La Sal-le, o Cura d’Ars e tantos outros ainda nos fascinam, atraem e nos ensinam pelo testemunho vivo da virtude e da fidelidade. Tanto que o Documento de Aparecida reconhece que “nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, re-conhecem o testemunho cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as sementes do Evangelho”56. Ainda enfatiza que o exemplo de vida e santidade dessas pessoas constitui um presente e estímulo para que outros cris-tãos possam “imitar suas virtudes nas novas expressões culturais da história”57.

[55]. O Irmão Seán Sammon aprofunda a discussão afirmando que o apostolado é um serviço que apresenta três aspectos característicos: a) O compromisso fundamen-tal de tornar Jesus cristo conhecido e amado. Pois não é suficiente que nossas fren-tes apostólicas apenas sejam reconhecidas por serem centros de excelência, mas também por serem lugares onde o Evangelho é proclamado e testemunhado. To-davia, é possível que crianças e jovens de outras crenças estejam sob nossa res-ponsabilidade. Nesse caso, em situações de pluralismo religioso, testemunhamos nosso compromisso de fé encorajando-as a praticarem também a sua própria fé, de acordo com sua herança religiosa. b) Todos os nossos esforços apostólicos devem ter em vista algum benefício às crianças e jovens. Diversos institutos foram criados para trabalhar com diferentes grupos humanos. O nosso foi fundado para atender

54 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 278e.

55 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatuto. n. 78. Apud CONCÍLIO VATICANO II. PAULO VI. Gaudium et spes, n. 22.

56 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 275.

57 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 275.

rizadas pela Santa Sé, os Institutos Religiosos também se organizam para atender demandas específicas. Reúnem em si especialistas em determinadas áreas para que sejam o mais possível assertivos na realização da missão. Nosso Instituto está inserido nesse contexto.

[50]. A partir das deliberações e conclusões dos Capítulos Gerais realizados no Institu-to Marista, a nossa ação evangelizadora é organizada pastoralmente com o intuito de atender as crianças e os jovens por meio da educação cristã. Irmãos, Leigas e Leigos, sejam esses colaboradores, familiares, jovens, adolescentes ou crianças, todos formamos comunidades maristas com caráter educativo-evangelizador.

[51]. Em nossa Província, a ação evangelizadora envolve todos e cada um tem sua res-ponsabilidade na proposta pastoral que busca atualizar-se permanentemente. Com uma missão compartilhada, Irmãos, Leigas e Leigos assumimos a proposta pastoral deliberada pelo Conselho Provincial e a tornamos viva em todas as di-mensões de nossas ações. Perpassando todas as nossas instâncias, a vitalidade pastoral se dá, basicamente, por duas formas: a) de forma explícita, em iniciativas de anúncio, aprofundamento e ou vivência da fé; b) em processos inculturados de forma transversal nas dimensões educativas, sociais, de comunicação, saúde e gestão que compõem o nosso dia a dia.

[52]. Para que a ação pastoral seja desenvolvida de forma sistematizada e orgânica, ela deve compreender alguns requisitos: ter caráter permanente de apostolado; ser planejada de acordo com as realidades nas quais está inserida; comportar orga-nicidade das ações, gerando sinergia e comunhão entre os organismos existentes e parceiros; gerar flexibilidade metodológica para que a criatividade e inovação ganhem espaços e permitam o respeito à diversidade; e buscar ser resposta aos sinais dos tempos. Desta forma, é oportuno compreender o conceito de pastoral integrando as características que seguem.

2.2.1 Apostolado

[53]. O apostolado cristão é compreendido como a participação dos fiéis na missão de Jesus – à semelhança dos apóstolos que Ele enviou – tendo em vista a afirmação da vida, da dignidade humana, da justiça e da paz, num mundo em permanente transformação. Aquele que vive o apostolado é alguém que se descobre apaixona-do por Jesus Cristo, a quem reconhece como mestre e irmão que o acompanha”53. Na medida em que vai discernindo o projeto do Reino, o discípulo “experimenta a

53 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 277.

Província Marista Brasil Centro-Sul 3130 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[60]. Para responder às necessidades e atender as novas demandas do processo de sistematização e de organização da ação evangelizadora em nossa Província, buscou-se, desde o início, privilegiar um processo de planejamento participativo; esse compreendido como processo político, no qual sujeitos interagem em função das necessidades, interesses e objetivos comuns. Quando acolhemos os sujeitos comprometidos com a Instituição e os convidamos a participar, oportunizamos relações dialogais, ao mesmo tempo que sinalizamos a pessoa como valor essen-cial e imprescindível do processo.

[61]. Um bom planejamento pastoral requer o conhecimento da realidade, da missão da Instituição e a clareza de onde se quer chegar. Três questões essenciais orien-tam o planejamento: primeiro, a utopia: o que se quer alcançar? Em segundo, o diagnóstico: a que distância se está daquilo que se quer alcançar? Em terceiro, a ação programada: o que fazer concretamente para diminuir essa distância? Por-tanto, planejar é optar por uma direção; ter clareza do cenário; organizar a ação; implantar um processo intencional de intervenção na realidade; realizar um con-junto de ações e propostas para aproximar uma realidade de um ideal; pôr em ação um conjunto de técnicas e recursos para atingir objetivos.62

[62]. O XXI Capítulo Geral conclama: “Com Maria, ide depressa para uma nova ter-ra!”. Tal apelo fundamental desafia-nos a pensar o modo como estamos evange-lizando, o processo, o planejamento e as estruturas pastorais de nossa província. Partimos da constatação de que há um “horizonte”, um lugar profético para o qual somos convidados a caminhar. Há também o “tempo presente” como mo-mento histórico-cultural que necessita ser constantemente interpretado. Há um tempo para viver, um caminho para percorrer e um lugar para se chegar.

2.2.3 Organicidade

[63]. Um dos critérios inerentes ao seguimento de Jesus Cristo é a unidade na diversi-dade: somos ramos diferentes da videira (Cristo), animados pela seiva vivificante (Espírito Santo), para produzir bons frutos (evangelização) – conforme lemos em João 15, 1-8. O apóstolo Paulo amplia esta perspectiva: somos Igreja-Corpo, na varie-dade de carismas e ministérios, articulados por “juntas e ligaduras”63. Com funções diversificadas de modo a tornar nossas iniciativas abrangentes, formamos um agir harmônico, complementar e, consequentemente, mais eficaz. As “juntas e ligadu-ras” se referem às instâncias de discernimento e deliberação, que servem ao agir

62 - Cf GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo, p. 18-19.

63 - Cf. Ef 4, 15-16.

crianças e jovens. O que não significa excluir, em situações especiais, outros traba-lhos, assim como fez o próprio fundador58, desde que esses esforços não desviem nosso foco. c) Somos chamados para trabalhar com os empobrecidos e excluídos.

[56]. No cumprimento dessa missão apostólica, Maria ocupa uma posição privilegiada na vida dos maristas de Champagnat, posição plenamente confirmada pelo XXI Capítulo Geral. Maria é modelo também de apostolado, é caminho que nos con-duz a Jesus Cristo, na medida em que suas virtudes inspiram nosso modo de ser59 e agir e nos desafiam a caminhar rumo a novas formas de serviço. Com Maria nos sentimos amparados e encorajados.

[57]. O apostolado marista é caracterizado, ainda, por uma relação de parceria e com-plementaridade entre Irmãos, Leigas e Leigos, respeitando-se os estados de vida e expressões da vida cristã, onde se inclui a vida consagrada e o laicato. No caso dos Leigos e Leigas, são eles “cristãos e cristãs que atenderam ao chamado de Deus para viver o carisma de Champagnat e a ele respondem a partir de seu es-tado de vida laical”60. A natureza e especificidade que caracteriza cada um desses apostolados encontra-se muito bem contextualizada no documento Em torno da mesma mesa e Vida Marista: Irmãos, Leigas e Leigos61.

2.2.2 Planejamento

[58]. Planejar é necessidade vital para a eficácia de qualquer missão. No caso da ação evangelizadora, esta também deve se dar de forma planejada. A ação pastoral, en-quanto cuidado, acompanhamento, organização e sistematização do processo evan-gelizador, tem, entre outras atribuições, a função de planejar iniciativas evangeliza-doras, considerando realidades e interlocutores diversificados. Neste contexto, há que se compreender o planejamento como algo aberto, que agregue e gere espaço para o desenvolvimento de iniciativas diversas. O grande autor da evangelização em nosso meio é o Espírito Santo e, nesse sentido, planejar deve ser compreendido como uma iniciativa que visa acolher o sopro do Espírito, de forma dinâmica.

[59]. O planejamento pastoral é um recurso importante na otimização dos esforços para a construção do Reino de Deus. Essa foi a grande tônica do primeiro Plano Provincial de Pastoral. Planejar pressupõe desenhar trajetórias, assumir respon-sabilidades, compartilhar sonhos, racionalizar recursos, comprometer-se voca-cionalmente com decisões e ações que impactam a vida pessoal e comunitária.

58 - MARCELINO CHAMPAGNAT. Instituto dos Irmãos maristas (Org.). Cartas, n. 27.

59 - Para aprofundar ver INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatutos, n. 4; n. 48; n. 84.

60 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Em torno da mesma mesa. A vocação dos Leigos Maristas de Champagnat, n. 12.

61 - PMBCS. Setor de Vida Consagrada e Laicato. Vida Marista: Irmãos, leigas e leigos, 2010.

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[68]. Tantas quantas forem as necessidades e formas de vida humana, tantos devem ser os métodos a serem empreendidos tendo em vista a evangelização. A partir da pedagogia de Jesus, aprendemos que o ponto de partida é sempre o contexto da-quele que se apresenta diante dos projetos como interlocutor. Com cada pessoa ou grupo o próprio Cristo utilizava abordagens diversificadas, respeitando sempre a linguagem e os interesses de cada um. Essa forma de agir é o que caracteriza a dinamicidade do Espírito Santo que sempre suscita novas formas de evangelizar.

[69]. No entanto, é possível identificar nas ações de Jesus alguns elementos constantes, que são oportunos também hoje a nós. Por métodos variados, buscava sempre envolver as pessoas na proposta do Reino, tornando-as protagonistas, parceiras. Não utilizava respostas preestabelecidas, mas procurava contribuir para que cada um pudesse tornar significativo para seu próprio contexto as verdades da fé. Nos passos de Cristo, também Champagnat e os primeiros Irmãos souberam permanentemente se adaptar ao seu tempo de forma flexível, mantendo, no en-tanto, a preocupação de garantir às crianças e jovens um processo educativo que lhes envolvesse de forma integral.

[70]. A flexibilidade sempre foi uma característica presente no modo de agir do Insti-tuto Marista. Em meio aos inúmeros desafios advindos da Igreja e do Estado no período da França revolucionária, o fundador vislumbrava possibilidades que superavam a visão de muitos dos seus contemporâneos. “O seu cristianismo era prático: era capaz de encontrar soluções para os problemas que surgiam e ainda tirar o melhor proveito deles. E quando as dúvidas e preocupações lhe sobrevinham, sua simplicidade, a crença inabalável na presença de Deus e a confiança em Maria e sua proteção o sustentavam.”65 Talvez por isso Cham-pagnat e os primeiros Irmãos não estivessem muito preocupados em criar uma nova teoria pedagógica, mas em se apropriar, com discernimento e fidelidade aos seus princípios, daquilo que de melhor já havia na época. Tal flexibilida-de de pensamento permitiu que os Irmãos focassem nos métodos66 que melhor respondessem às necessidades de educação e evangelização, não se apegando excessivamente às fórmulas prontas. Buscavam estar sensíveis “[...] às necessi-dades da idade infantil, os meios de satisfazê-las e os segredos para conquistar

65 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 45.

66 - Ver em Guia das escolas o modo como os Irmãos avaliavam os sistemas gerais de ensino da época: o individual, o si-multâneo e o mútuo. Depois de analisar as vantagens e desvantagens de ambos, e percebendo a inviabilidade do método individual, chega-se à conclusão de que “é fácil conjugar os métodos simultâneo e mútuo e aproveitar as vantagens de ambos. [...] Os dois métodos assim combinados formam o que se chama de ensino simultâneo-mútuo [...] que julgamos ser o mais apropriado [...]”.(INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria 1852-1853-1854. Guia das Escolas, p. 151).

corporativo. Focados numa evangelização orgânica, como Instituto Marista, busca-mos criar sinergia entre as orientações do magistério eclesial, os direcionamentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e entre nossas próprias forças inter-nas, como as demais províncias e UMBRASIL, conjugando funções e expertises.

[64]. Atualmente, no Brasil, os Maristas estão organizados em três Unidades Admi-nistrativas, a saber, as Províncias: Brasil Centro-Norte, Brasil Centro-Sul e Rio Grande do Sul. Também atuam em território amazônico, no denominado Distrito da Amazônia. Todas essas Unidades Administrativas formam uma aliança atra-vés da União Marista do Brasil (UMBRASIL), que é o organismo que articula, integra e potencializa a atuação Marista no país. A partir dessa instância, o tra-balho em rede, para a ampliação dos resultados e seus impactos, passa a ser uma necessidade vital para nossa Instituição.

[65]. Quando se pensa a partir da abrangência territorial e da complexidade das estru-turas, percebemos que a tarefa é desafiadora, mas não impossível. A Província Brasil Centro-Sul abrange os estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, bem como o Distrito Federal, com várias frentes de atua-ção: Ensino Fundamental, Ensino Superior, Educação Profissional, Comunica-ção, Solidariedade, Saúde, Editora FTD e estruturas de formação e residências dos Irmãos Maristas.

[66]. Em todas essas frentes a pastoral deve empenhar-se para gerar processos que congreguem os esforços educativos, de gestão, solidariedade e assistência social, comunicação, cuidado em saúde, tendo em vista os mesmos fins, sendo o prin-cipal “tornar Jesus Cristo conhecido e amado, sobretudo entre as crianças e os jovens”. Em rede, somos desafiados a cultivar iniciativas interligadas, sejam in-ternamente ou em parceria com instâncias eclesiais diversas ou setores da socie-dade em geral. No agir orgânico é que se constrói uma instituição em pastoral, na qual as iniciativas sejam sinérgicas, de forma a atingir o mesmo fim.

2.2.4 Flexibilidade metodológica

[67]. O Documento 94 da CNBB afirma aquilo que, de certa maneira, já vínhamos constatando pelas nossas experiências em evangelização: “Instrumentos e mé-todos que deram certo em outros momentos históricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem não apresentar, em nossos dias, condições de transmitir e sustentar a fé”64.

64 - CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2011-2015. Doc. 94, n. 25.

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tâncias latino-americanas e mundiais”70. Somos, assim, orientados a assumir os contornos da América Latina e acolher às culturas e aos cenários que a compõem.

[74]. O cenário contemporâneo é marcado por realidades complexas, além do já co-nhecido embate entre as cosmovisões da modernidade e pós-modernidade71. Segundo o Ir. Seán Sammon, a modernidade que teve início com o Iluminismo, ganhou envergadura com a Revolução Industrial e permaneceu forte até meados do século XX. “Essa época foi marcada por um rápido progresso científico e pela crença de que a razão humana, e apenas ela, seria capaz não apenas de explicar a natureza, mas de melhorá-la. O individualismo, uma grande confiança na razão científica e a crença ilimitada no progresso material seriam os aspectos caracte-rísticos da modernidade.” Tal cosmovisão deslocou a religião para a esfera subje-tiva, tornando o simbolismo, a fé e o mistério elementos secundários da vida.

[75]. Nesse tempo alguns setores mais conservadores da Igreja apenas se defende-ram72 diante das mudanças que se anunciavam. A Igreja tendeu fechar-se em sua própria estrutura, até que, corajosamente, o Concílio Vaticano II abriu novas ja-nelas e portas com a Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Moderno, intitu-lada “Alegria e esperança” (Gaudium et spes). O Concílio Vaticano II foi um sinal claro de que a Igreja finalmente aceitava dialogar com modernidade. No entanto, quando a Igreja decidiu enfrentar a modernidade, os princípios que a sustenta-vam passam a ser questionados pelo pensamento pós-moderno.

[76]. Embora difícil de ser definida com clareza, a cosmovisão pós-moderna, a pós--modernidade, caracteriza-se por não aceitar verdades acabadas; por colocar em cheque a razão como forma legítima de apreensão da realidade; por não aceitar a ciência como verdade absoluta, levando em conta a sua contextualidade e provi-soriedade; por promover a tolerância, acolher a diversidade e a pluralidade; pelo retorno à religião e à espiritualidade, especialmente entre os jovens. A pós-mo-dernidade abre muitas portas, porém, apresenta outros desafios à Igreja: “Inau-gurou, por exemplo, a cultura de relativismo moral e da fragmentação social e in-dividual. Demonstra, igualmente, impaciência com explicações muito detalhadas acerca da realidade e dá pouca atenção a compromissos”73.

70 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 11.

71 - Ver a diferenciação entre modernidade e pós-modernidade trazida no documento preparatório para o XXI Capítulo Geral. (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Corações novos para um mundo novo, n. 4 e 8.)

72 - Vale ressaltar que outros setores da Igreja foram na direção contrária: citamos, por exemplo, o movimento bíblico, movimento ecumênico, movimento catequético, movimento litúrgico, movimento patrístico e movimento missionário. A esses seis moveres é atribuído o estopim para o Concílio Vaticano II. O Vaticano II foi resultado de passos anteriores, de amplos setores que não se fecharam na autodefesa eclesial. Daí as temáticas dos principais documentos do Concílio: Dei Verbum, Unitatis redintegratio, Sacrosanctum concilium, Ad gentes, Nostra aetate e Gaudium et spes.

73 - NSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Corações novos para um mundo novo, p. 19.

seus corações, orientá-las para o bem, inspirar-lhes a piedade e formar-lhes as faculdades da alma”67.

[71]. Ao contemplarmos o tempo presente, nosso desafio consiste em discernir a efi-ciência das linguagens que utilizamos para “comunicar” Jesus Cristo. É indis-pensável a elaboração de modos que facilitem a descoberta das pessoas de hoje em relação ao Evangelho. Eles necessitam perceber e experienciar a verdade cristã fecundando seu ambiente, apontando valores perenes e orientando pro-jetos de vida. Se diferentes grupos têm sua linguagem própria, sua maneira de pensar, de viver, de comunicar, do mesmo modo, todos eles necessitam de uma mediação pastoral que lhes é específica. O conteúdo do Evangelho é sempre o mesmo – “verdade sempre antiga e sempre nova”–, mas as formas e métodos de transmiti-los são sempre dinâmicos e fluidos.

[72]. Em nossa Província, as ações pastorais buscam a transversalidade, adaptando-se aos respectivos contextos nas quais se incultura. A linguagem adotada é sempre apropriada à Instituição e às particularidades das pessoas e estruturas envolvi-das. Como interlocutor e protagonista do Reino, cada um é convidado a enrique-cer o diálogo com sua inteligência, com sua experiência de vida e fé, de modo que todos são convidados a tornarem-se sujeitos nos processos pastorais.

2.2.5 Atenção aos sinais dos tempos

[73]. Há “sinais dos tempos”68 que precisam ser discernidos à luz do Espírito, que atua na história – enfatizava João Paulo II. Se, por um lado, reconhecemos que a Boa Nova é portadora de valores imutáveis, por outro, também compreendemos que os métodos e as estratégias de evangelização precisam responder aos novos de-safios que vão se apresentando na história. A eficácia de uma “nova evangeliza-ção”69 depende dessa capacidade de fazermos a leitura crítica da realidade, leitura atenta dos “sinais dos tempos”, suscitada ao povo de Deus, que no conjunto dos seus ministérios se constitui em Igreja de comunhão. O documento conclusivo da Conferência de Aparecida reconhece tal necessidade, acentuando que “a Igreja é chamada a repensar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circuns-

67 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria 1852-1853-1854. Guia das Escolas, p. 149.

68 - Cf. JOÃO PAULO II. Transcrição da homilia feita na Polônia em junho de 1979. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

69 - A expressão “Nova Evangelização” foi utilizada publicamente pelo Papa João Paulo II em homilia proferida na Polônia, em junho de 1979. A partir de 1984, em Santo Domingo, o projeto para uma nova evangelização passa a ser compromisso assumido pela Igreja. Ganha força a percepção de que o Evangelho tem que se apresentar como mensagem salvadora para cada geração e, para isso, deve responder aos desafios dentro de um contexto histórico-social, momento em que se faz necessário desenvolver a “Criatividade catequética”.

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educativo. Por isso, todos os agentes envolvidos no desenvolvimento dos processos sociais, educativos, de gestão, de comunicação, de saúde e tantos outros merecem receber sólida formação, tendo em vista o desenvolvimento humano, profissio-nal, cristão e marista. Respeitando as dimensões pessoais e as características das diferentes frentes apostólicas que compõem nossa Província, o carisma marista deve ser um dom partilhado com todos que compõem nossas comunidades. Deve ser fonte de inovação, constante qualificação, bem como proporcionar abertura ao mundo das ciências, da cultura, com visão sempre ampliada e intenção agregadora.

[82]. Compreendemos que os recursos econômicos também são instrumentos a ser-viço da missão. Segundo Bento XVI, a “área econômica não é nem eticamente neutra nem de natureza desumana [...]. Pertence à atividade do homem; e, preci-samente porque humana, deve ser eticamente estruturada e institucionalizada”75. Portanto, ela está inserida num contexto da vida humana e, por consequência, no contexto da evangelização. É a provisão necessária para a caminhada, para a potencialização e expansão da missão. Os recursos devem ser administrados por pessoas qualificadas tanto nas competências técnicas como morais. Buscamos a inserção assertiva no mundo da economia, pois “cada decisão econômica tem consequências de caráter moral”76. Por isso, temos um compromisso claro com o “uso evangélico dos bens”77.

[83]. Marcelino Champagnat, desde a fundação do Instituto, zelava muito pela ga-rantia de estruturas físicas adequadas para potencializar a realização do traba-lho cotidiano. Os recursos físicos ou estruturais também são importantes para o desenvolvimento de nossos processos, desde que a organização dessas coisas subordinem-se à ordem das pessoas e não ao contrário. São meios – como espa-ços físicos (capelas, salas para encontros ou reuniões, auditórios, etc.), recursos didáticos, estruturas e serviços, novas tecnologias – que melhoram as condições de trabalho, da educação, da integração, do bem-estar, do serviço e da participa-ção. Do ponto de vista estético, bem como do funcional, devem tornar-se meios acolhedores e eficientes, colocados a serviço da missão.

2.3 Carisma

[84]. O termo “carisma” é incorporado à tradição cristã a partir do Novo Testamento, sobretudo quando Paulo apóstolo dirige-se à comunidade de Corinto para ilus-trar a existência de muitos dons espirituais, dádivas distribuídas por Deus aos

75 - Bento XVI. Caritas in Veritate, n. 36.

76 - Bento XVI. Caritas in Veritate, n. 37.

77 - Vide mais reflexões sobre o tema em: OST, Ir. Pedro. Uso evangélico dos bens, 2009.

[77]. Nosso carisma sempre ousou capturar e responder ao conjunto de necessidades do seu tempo. Hoje, necessitamos desenvolver uma nova inteligência e sensibilidade para interagir com o mundo em seus diferentes contextos. A “atenção aos sinais dos tempos” revela nossa preocupação com uma ação evangelizadora historicamente situada. Desenvolvemos tal característica à medida que nos esforçamos para desen-volver competências que nos ajudem a ler as transformações do mundo (as análises de conjuntura, as análises situacionais, os clamores sociais e do povo oprimido), a avaliar tendências, desafios e oportunidades, sem perder de vista nossa essência.

[78]. Como aconteceu em outros momentos históricos – com seus respectivos paradig-mas – também o atual milênio nos oferece, ao mesmo tempo, crises e oportunida-des. Urge discernir e agir conjuntamente com as ciências, com as novas tecnologias, com as demais religiões organizadas, abrindo o tesouro do Evangelho aos novos ce-nários sem sentimento de culpa ou constrangimentos. “A pessoa versada nas coisas do Reino é como alguém que sabe tirar de seu tesouro coisas novas e antigas”74.

[79]. Desse modo, olhando para a nossa realidade e responsabilidade apostólica, é pre-ciso que nos perguntemos sempre: Como tal realidade toca nossa missão? Quais são os desafios aos quais devemos fazer frente nesse momento da história? Como é possível nos apropriarmos desses traços da contemporaneidade no intuito de aperfeiçoarmos nossas estratégias de evangelização?

2.2.6 Recursos

[80]. Nas variadas instâncias da organização há pessoas e ou setores com a responsa-bilidade de animar, articular, empreender, gerir, planejar e acompanhar as ações, de modo a garantir o alinhamento, a sinergia, a disseminação dos valores, o com-prometimento e a espiritualidade. Esse movimento só se torna possível com a gestão qualificada dos recursos. Em nossa Província, todos os esforços são dire-cionados para o melhor cumprimento da missão, que é eminentemente educati-vo-evangelizadora. Na ação pastoral os recursos – humanos, econômicos, estru-turais e comunicacionais – tornam-se propulsores da missão. Nossa identidade cristã deve também ser compreendida como dimensão de empreendimento, na medida em que empreendemos ações para um mundo melhor, com mais justiça e dignidade para todos.

[81]. A literatura da administração e governança é unânime ao apontar o “capital huma-no” como o elemento mais precioso em uma organização, seja ela de qualquer na-tureza. Essa afirmação deve ser elevada ao quadrado nas organizações de caráter

74 - Mateus 13, 52.

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que “a maioria raramente se considera portador de um dom especial do Espírito a ser colocado a serviço do bem de todos”82. Na segunda perspectiva, quando utiliza-do para referir-se a um instituto religioso, o carisma institucional assume sentido diferenciado daquele atribuído a uma só pessoa. Há duas razões para isso: geral-mente, o carisma de um instituto é constituído pela influência de muitas pessoas, o que lhe favorece uma longa permanência no tempo. Permanência no tempo e a construção coletiva são fatores que transferem o carisma do domínio individual para o domínio coletivo, que é o domínio da comunidade-Igreja83.

[88]. Marcelino Champagnat foi um homem marcado pela fé em Jesus Cristo, pela devoção à Maria Santíssima – a quem carinhosamente intitulava Boa Mãe – e pelo contato com o sofrimento humano vivenciado, sobretudo, no atendimento pastoral-sacramental. Como sabemos, a fundação do Instituto Marista tem como marco desencadeador a experiência de sofrimento e morte do pobre jovem Jean--Baptiste Montagne. Diante dos olhos de Champagnat, o Espírito lhe fazia ver que Montagne era a imagem de milhares de jovens camponeses que viviam sob as mesmas condições de pobreza, de ignorância intelectual e religiosa. E os primei-ros Irmãos foram seduzidos pela experiência carismática de Champagnat, pelo seu caráter firme, pelo seu projeto de sociedade e Igreja, cuja transformação pas-sava audaciosamente pela educação com característica mariana. Daí, maristas.

[89]. Ainda pequena, a comunidade dos Irmãos Maristas vivia sob um encantamento místico, que delineava aos poucos a identidade daquele grupo, suas caracterís-ticas operacionais e suas estratégias de atuação, embora, muitas vezes, fossem guiados pela intuição. Tem-se em torno da figura do fundador uma tradição religiosa em constituição. Num segundo momento, quando os Irmãos Maristas tornaram-se numerosos, foi necessário que a tradição se institucionalizasse em regras84 e hábitos, com o intuito de gerir a unidade e identidade do grupo.

[90]. É incontestável o fato de que as estruturas mudem ao longo do tempo, sobretudo em resposta às novas conjunturas e cenários de mundo. A sociedade sustenta--se a partir de paradigmas. Paradigmas são sistemas de ideias e valores que nos ajudam a tomar consciência de nossa vida. São úteis na medida em que ajudam

82 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 28.

83 - O Ir. Seán Sammon enfatiza que os carismas institucionais apresentam características peculiares, como “fidelidade ao Senhor, atenção aos sinais dos tempos, iniciativas ousadas, doação pessoal persistente, humildade para lidar com as diversidades e desejo de fazer parte da Igreja.” (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo co-nhecido e amado, p. 29).

84 - Referimo-nos, por exemplo, às Regras de Vida dos Pequenos Irmãos de Maria em Constituições e estatutos, de 1837. Com o passar do tempo é comum que os carismas gerem estruturas em vista da necessidade de garantir uma identidade. Por vezes, os carismas também acabam por se confundir com a própria identidade da Instituição.

homens e mulheres. Paulo proclama que “existem carismas diferentes, mas um único Espírito; existem ministérios diferentes, mas um único Senhor; existem atividades diferentes, mas um único Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dado uma manifestação do Espírito para o bem comum”78. A ideia da existência de carismas diferenciados tornou-se um elemento importante para a animação pastoral na história cristã.

[85]. Paulo VI, ao escrever para o Concílio Vaticano II, enfatizou a importância da di-versidade dos carismas no dinamismo da ação evangelizadora da Igreja79, prefe-rindo relacioná-lo à missão. Mais tarde, João Paulo II optou por aproximá-lo do termo consagração. Estas palavras (carisma, missão e consagração) às vezes se equivalem, embora, de modo geral, compreenda-se o carisma como “um dom do Espírito oferecido para o bem da Igreja, que se estende a toda a humanidade”80.

[86]. O carisma é o efeito da presença do Espírito no meio do povo. O Concílio Va-ticano II enfatizava que é impossível impedir a ação do Espírito Santo ou, pela razão humana, impor limites à generosidade de Deus à humanidade. Como bem sabemos, o carisma parece manifestar-se com mais força na história justamente nas condições de maior adversidade. Portanto, não nos soa estranho o fato de que Marcelino Champagnat tenha fundado o Instituto e o feito progredir num dos cenários políticos mais anticlericais e antirreligiosos da história do Ocidente. Desse modo, entendemos que “o carisma do Instituto é nada mais nada menos do que a presença do Espírito Santo”81 atuando na humanidade por meio de pessoas aparentemente comuns.

[87]. Uma magnífica reflexão sobre carisma e as implicações desse na Instituição religio-sa foi tecida na Circular Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, do Ir. Séan Sammon. Para Sammon, é necessário, porém, distinguir o carisma em duas perspectivas: o carisma pessoal e o institucional. Na primeira perspectiva, cada pessoa é desafiada a discernir a maneira pela qual Deus escolheu agir por intermédio da subjetividade em benefício do coletivo. Ou seja, o modo pelo qual cada um é capaz de reconhecer--se como instrumento nas mãos de Deus, diante de um projeto que transcende sua individualidade. Numa cultura de tendência individualista o desafio está no fato de

78 - I Cor 12, 1-7.

79 - Paulo VI na exortação apostólica Evangelica Testificatio versa sobre a Renovação da Vida Religiosa segundo os ensina-mentos do Concílio Vaticano II. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

80 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 28.

81 - A vida do fundador oferece mitos exemplos da presença do Espírito: a maneira com encarava os fracassos e sucessos pelos olhos da fé, por isso assumia riscos quando os incrédulos aconselhavam prudência; o surgimento de duas vocações dois meses após chegar em La Valla; a crise de vocações e construção de Hermitage; a confiante proteção em Maria, par-ceira na obra de fé. (Cf. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 30).

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Elementos Inculturadores

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a compreender a realidade. Quando isso não mais ocorre, é natural que um novo sistema de ideias e valores force um movimento de revisão, favorecendo a ocor-rência de “transições paradigmáticas”85.

[91]. Se o paradigma que orienta nossa missão está mudando, a expressão de nosso carisma também é inexoravelmente forçada a mudar. Diante disso, algumas ins-tituições mudam de maneira lenta e resistente, outras progressivamente, e outras por meio de rupturas inesperadas. Isso nos desafia, como Instituição, a fazermos um duplo movimento: de um lado, retornar ao espírito original para descobrir sua essência carismática mais pura; de outro, ressignificar o carisma à luz dos sinais dos tempos. Na prática, carisma é aquilo que define o estilo de ser e atuar de uma pessoa ou instituição. Portanto, conhecer e aderir a um carisma é funda-mental para a efetividade de qualquer missão dentro da Igreja.

[92]. Desse modo, define o Ir. Séan Sammon, “o carisma oferecido à Igreja e ao mundo por mediação de Marcelino Champagnat é, portanto, muito mais que um con-junto de trabalhos considerados coerentes com sua visão original, um estilo de oração referente a uma determinada espiritualidade – por mais importante que isso possa ser – ou um conjunto de qualidades marcantes da vida do fundador”86. Portanto, “não é possível reduzir carisma apenas à tradição. O carisma de todo Instituto, o nosso incluído, é sempre vibrante e inspirador. Constitui-se uma tra-dição que vai se atualizando ao longo do tempo, cujas raízes se fixam na interação entre a tradição do passado e o apelo do Espírito Santo para assumir os desafios do presente e do futuro.”87. É preciso então “ressignificar o carisma, renovando-o à luz dos sinais dos tempos.”88. É nessa perspectiva que o Instituto tem se posicio-nado nas últimas décadas.

[93]. Portanto, Por meio do Instituto Marista a Igreja intensifica a sua presença no mun-do. A partir do carisma herdado de São Marcelino Champagnat, a ação evangeliza-dora eclesial se faz presente de modo específico e mais eficaz no âmbito da educa-ção de crianças e jovens. A missão marista, como expressão significativa do rosto marial da Igreja, é dom de Deus concedido à humanidade. Como comunidade ma-rista, somos convidados a partilhar nossa experiência de fé com todas as pessoas, independente de suas condições sociais, econômicas, religiosas ou culturais.

85 - Seán Sammon assim descreve as transições paradigmáticas: “O teólogo Juan Sobrino às compara às dobradiças de uma porta. Há momentos de crise e perturbação quando dobradiças velhas e enferrujadas não suportam o peso da porta. Essa situação impõe a criação de novas dobradiças para que a porta volte a abrir e fechar bem.” (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 33).

86 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 29.

87 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 34-35.

88 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Seán Sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, p. 34.

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a um projeto de mundo melhor, com “vida em abundância” para todos, muito em-bora tais grupos formulem seus sonhos com linguagens e expressões que lhes são próprias. Parece haver, entre as pessoas de boa vontade, muito mais uma dificul-dade de comunicação dos projetos comuns a todos do que um problema de apatia ou desesperança em relação à humanidade. O Documento de Aparecida pontua que, “em geral, na pastoral, persistem também linguagens pouco significativas para a cultura atual e em particular para os jovens. [...] as linguagens utilizadas parecem não levar em consideração a mutação dos códigos existencialmente re-levantes nas sociedades influenciadas pela pós-modernidade”93.

[97]. Somos Igreja peregrina, que a exemplo de Cristo, caminha ao encontro das pes-soas para anunciar a Boa Nova, seja nos campos ou nas cidades, seja nos espaços mais inusitados ou desafiadores. As pessoas as quais a Igreja vai ao encontro po-dem ser das massas populares, das elites dominantes, podem ser os intelectuais, os artistas, as crianças e os jovens, os comunicadores midiáticos, os não crentes. Também podemos encontrá-las em meio às novas tecnologias, no ambiente das ciências, nos espaços políticos de tomada de decisão, nos espaços onde as pesso-as sofrem pela omissão, violência ou ignorância. Não obstante, “a inculturação é algo a se fazer inclusive na própria sociedade cristã”94 com o intuito de reanimar os cristãos que se encontram desmotivados ou fragilizados na fé. Nessa peregri-nação ao encontro do outro, devemos reconhecer e exaltar os valores que conver-gem e/ou coincidem com a mensagem do Evangelho, promovendo nas culturas aquilo que elas têm de melhor e mais autêntico.

A inculturação do Evangelho é um processo que supõe reconheci-mento dos valores evangélicos que se têm mantido mais ou menos puros na atual cultura; e o reconhecimento de novos valores que coin-cidem com a mensagem de Cristo. [...] assumindo o que de bom existe nelas [nas culturas], e renovando-as a partir de dentro.95

[98]. No presente documento, os Elementos Inculturadores estão assim representa-dos: a dignidade humana; a educação emancipadora; a espiritualidade; a alteri-dade; a solidariedade socioambiental; a catequese; as infâncias e juventudes; e os valores maristas. Cremos que esse conjunto, que reflete alguns aspectos favorá-veis em meio a tantos outros possíveis, permite ampliar nosso modo de ver a cul-tura, a pessoa humana, a sociedade e conexões relevantes para a ação pastoral.

93 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 100b.

94 - Cf. CELAM. Documento de Santo Domingo, n. 119.

95 - Cf. CELAM. Documento de Santo Domingo, n. 230.

3. ELEMENTOS89 INCULTURADORES

“A pessoa versada nas coisas do Reino é como alguém que sabe tirar de seu tesouro coisas novas e antigas”. (Mateus 13,52)

[94]. Chamamos de Elementos Inculturadores90 a um conjunto de componentes interde-pendentes (que podem ser interpretados como conceitos-chave, espaços, temas ou dimensões) que julgamos ser prioritários para a dinamização da ação evan-gelizadora na cultura atual. Acreditamos que os Elementos Inculturadores fa-vorecem o diálogo entre os princípios e valores do Evangelho com as culturas contemporâneas, sustentando um processo de evangelização historicamente contextualizado. Portanto, são respostas possíveis aos desafios que emergem na realidade de mundo e da nossa Província.

[95]. O documento conclusivo da Conferência de Santo Domingo91 é lembrado por inaugurar o princípio teológico da inculturação como referencial metodológico salutar para a evangelização na contemporaneidade, de modo que a linguagem e os métodos pastorais possam melhor se aproximar das novas realidades cultu-rais e existenciais. Tal princípio está relacionado ao projeto de uma Nova Evan-gelização: “A Nova Evangelização tem como ponto de partida a certeza de que em Cristo há uma riqueza insondável (Ef 3, 8) que nenhuma cultura, de qualquer época, extingue, e à qual nós, seres humanos, sempre poderemos recorrer para enriquecer-nos”92.

[96]. Ocorre, porém, que a riqueza contida no Evangelho nem sempre é comunicada de maneira suficientemente compreensível. Nem sempre somos capazes de tra-duzir a essência da mensagem de Jesus Cristo de modo assertivo, para iluminar as problemáticas dos contextos nos quais atuamos. Cristãos, crentes de outras religiões e até não crentes compartilham de expectativas semelhantes em relação

89 - O termo “elemento” designa a “parte constitutiva de um todo”, que em sua natureza singular possui a potencialidade de se ligar a outros elementos de diversas maneiras, tanto para formar “estruturas” simples, como estruturas complexas. “O todo sem a parte não é todo. A parte sem o todo não é parte. Mas se a parte faz o todo sendo a parte, não se diga que é parte, sendo todo.” (Gregório de Matos – século XVII)

90 - O entendimento sobre o significado e abrangência de cada um dos elementos inculturadores foi delineado por Gru-pos de Reflexão, representativos de todas as frentes apostólicas. Houve um esforço por fazer com que cada realidade de atuação pudesse se reconhecer no texto, de modo a torná-lo significativo e inspirador para a prática pastoral cotidiana.

91 - A Conferência de Santo Domingo ocorreu na República Dominicana, de 12 a 28 de outubro de 1992. Foi convocada e inaugurada por João Paulo II. Seu tema foi “Nova Evangelização, promoção humana, cultura cristã.” Seu lema: “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre.”

92 - CELAM. Documento de Santo Domingo, n. 24.

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[101]. Ademais, qual é o fundamento da inviolabilidade de alguns direitos humanos? Nós cristãos dizemos que é a Criação100: “O humano, criado à imagem e semelhança de Deus101, é capaz de conhecer e amar o seu criador e as demais criaturas” 102, logo, a pessoa humana “está em relação constante com quantos se encontram revestidos da mesma dignidade”103. E é por compreendermos que alguns direitos são inalienáveis que podemos estabelecer barreiras morais e exigir limites a certos comportamentos.

[102]. No cenário inter-religioso, marcado pelo diálogo fraterno entre diferentes cren-ças e igrejas, tem crescido a preocupação em afirmar e defender a dignidade hu-mana, especialmente frente às ameaças e violências oriundas do sectarismo, da perseguição étnica e do terrorismo. Lideranças mundiais indicam que tal violên-cia tem agravantes, que além de motivações de credo, são econômicos, territo-riais, culturais. Entre os esforços inter-religiosos para afirmação da dignidade humana estão o Diálogo de Civilizações (ONU), o Programa Justiça, Paz e Integrida-de da Criação (Conselho Mundial de Igrejas), o Parlamento Mundial das Religiões (WPR), as Jornadas de Assis pela Paz (Santa Sé) e a recente diretriz internacional Testemunho Cristão em um Mundo Multirreligioso - Recomendações para a Conduta (Conselho Mundial de Igrejas e Santa Sé). Essas iniciativas oferecem também coordenadas éticas, antropológicas e religiosas para nosso apostolado, tendo em vista a convivência cidadã e fraterna entre os povos e credos diferenciados.

[103]. Quanto ao diálogo com os não crentes, sobretudo em tempos de relativismo éti-co, a questão básica consiste em saber qual é o núcleo de valores verdadeiramente inalienáveis, capaz de ser compartilhado numa sociedade plural e que, portanto, assumem valoração sagrada, pétrea. Nesse caso, a doutrina cristã propõe que o nú-cleo seja a centralidade da defesa da vida. De acordo com Ratzinger, “[...] a atenção à defesa da vida humana, hoje, é maior que no passado e, nesse sentido, também há

100 - Aqui parece haver um ponto de discordância entre crentes e não crentes, apontado por D’Arcais, que podemos resu-mir no seguinte problema: quando se estabelece que o núcleo intocável de valores e o fundamento dos direitos/deveres sociais é a Criação, corremos o risco de nos apoiar num princípio religioso que não se sustenta numa sociedade laicizada. A Criação é uma certeza apenas para quem crê. Nesse caso, numa sociedade pluralista na qual muitos não aderiram a nenhuma das religiões monoteístas ou deístas, o fundamento da dignidade deve estar além do conceito de Criação. A fé não pode pretender ser a culminância da razão. Aquilo que chamamos de “direitos humanos”, deveríamos ter a coragem de chamá-los de “direitos civis”, encarando-os como escolhas negociadas, racionalizadas sobre o modo como desejamos fundamentar nossa convivência. Não são direitos naturais, uma vez que o homem viveu milhares de anos sem eles, mas consubstanciais à natureza social do homem, o que não os torna menores. (RATZINGER, Joseph; D’ARCAIS, Paolo F. Deus existe? p. 72-73)

101 - Gênesis 1, 26-28

102 - PAULO VI. Gaudium et Spes, n. 12.

103 - JOÃO PAULO II. Mensagem para Celebração do XXXII Dia Mundial da Paz, 1º de Janeiro de 1999. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

Os Elementos Inculturadores estão em sintonia com as exigências objetivas da fé cristã, com a tradição pastoral institucional e as aspirações humanas universais. Portanto, conclamamos que os Elementos Inculturadores sejam absorvidos, enri-quecidos e enaltecidos por todas as frentes apostólicas durante a concepção de seus projetos e ações, fomentando novas conectividades e a criatividade evangelizadora.

3.1 Dignidade humana96

[99]. Existe o absolutamente sagrado valor da vida humana, e esse é um princípio fun-damentalmente religioso, ao qual a Igreja nomeia princípio da dignidade inaliená-vel da pessoa humana. A dignidade diz respeito à consciência da pessoa quanto ao seu valor inestimável e universal. Não se trata de uma concessão social, mas “a dignidade da pessoa humana é um valor transcendente, e como tal, será sempre reconhecida por todos aqueles que se entregaram sinceramente à busca da verda-de”97. Portanto, a vida humana e a sua dignidade transcendente são ontológica e moralmente inseparáveis. Essa é a premissa básica da antropologia cristã.

[100]. A Declaração Universal dos Direitos Humanos98 promulgada pela ONU, tam-bém reconhece a dignidade inerente a todos os membros da família humana, os seus direitos iguais e inalienáveis pautados nos princípios da liberdade, da justiça e da paz. Sob o enfoque do direito, a Declaração representa um grande avanço no campo ético e político das relações humanitárias globais. Portanto, deve ser acolhida, amparada e defendida como valor universal por todos os po-vos e nações. Não obstante, mesmo ao ratificarmos a Declaração e a ela dedicar-mos esforços efetivos, é preciso enfatizar que o humano é criatura sagrada, an-terior a qualquer credo, nacionalidade ou legislação. Tal compreensão religiosa nos suscita a denunciar que é injusta e inaceitável toda lei que se oponha a essa inviolabilidade da dignidade humana, ou quando aquela despreza os direitos que resultam dessa dignidade, ainda que a lei em questão tenha sido deliberada pelos meios políticos formais99.

96 - Contribuíram nessa reflexão: Ana Cristina de Carvalho (TECPUC), Carolina Feltrin (APC – Diretoria de Recursos Huma-nos), Ione Anhaia dos Santos (Centro Social Ir. Walmir – Criciúma), Juliana Schwarz (ABEC-UCE – Recursos Humanos), Maria Helena Negrão (Colégio Marista de Londrina – PR), Marco Aurélio Ghislandi (DERC), Raimundo Policarpo de Souza (APC – Logística), Tupiná Machado (Aliança Saúde) e Vera Lúcia Costa da Silva (PUCPR – Núcleo de Pastoral).

97 - JOÃO PAULO II. Mensagem para o XXXII Dia Mundial da Paz, 1º de Janeiro de 1999, n. 2. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

98 - Adotada e proclamada pela resolução 217 (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.

99- Na época de debate que deu origem ao livro, Joseph Ratzinger era prefeito da Pontifícia Congregação para a Doutrina daF é. Por tal motivo, ao citar os escritos em questão, não nos referiremos à sua pessoa como Papa Bento XVI. (RATZINGER, Joseph; D’ARCAIS, Paolo F. Deus existe?, p. 66-67.)

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dade110; e o princípio da solidariedade. Esses princípios nos conduzem a outros com-plementares111, primazias que ajudam a orientar a vida pessoal e as relações sociais.

[107]. De modo geral, a dignidade das pessoas que integram a Instituição Marista tor-na-se mais evidente:

a) Na primazia da pessoa em relação ao cargo ou atividade que exerce.

b) Na valorização de seu empenho profissional, apostólico, estudantil e solidário.

c) Pelo reconhecimento dos dons e talentos colocados a serviço da missão.

d) Ao acolherem-se Irmãos, Leigas e Leigos em “torno da mesma mesa”, como partícipes de uma mesma comunidade de fé e esperança.

e) Ao focarmos as crianças, adolescentes e jovens, sobretudo os mais po-bres, como prioridade em nossas decisões. Ao formarmos os jovens mais abastados para a consciência do serviço à sociedade e ao próxi-mo, e não para servirem-se da sociedade.

f) Ao propiciarmos espaços acolhedores para todos.

g) Na sensibilidade em ajudar as pessoas a superar suas dores e limita-ções. E, por outro lado, na celebração por suas conquistas e alegrias.

3.2 Educação emancipadora112

“Ninguém é tão pequeno que não possa ensinar, nem tão grande que não possa aprender.” (Cora Coralina)

[108]. A educação é um processo histórico-cultural e exigência constitutiva do ser huma-no. Por ela se desenvolvem as capacidades e os fatores de apreensão da realidade, da criação de saberes e valores, as sensibilidades éticas e estéticas, as habilidades críticas e analíticas, as competências técnicas e relacionais, as motivações pesso-

111 - Por exemplo: a primazia da destinação universal dos bens sobre a apropriação individual alerta-nos que os bens, criados por Deus ou pelo trabalho humano, devem visar o benefício de toda família humana. A apropriação individual – chamado direito de propriedade – é uma via legítima para realizar essa destinação desde que, situada à luz do princípio, ela seja entendida como um tipo de responsabilidade social e não como privilégio excludente, pois devemos lembrar que “sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social” (JOÃO PAULO II. Laborem Exercen, n. 11); a primazia do tra-balho sobre o capital assegura que o capital “só é legítimo na medida em que serve ao trabalho” (JOÃO PAULO II. Laborem Exercens, n. 14).

112 - Contribuíram nessa reflexão: Ascânio Sedrez (Colégio Arquidiocesano – SP), Elaine Nascimento (TECPUC), Ir. Lauro Pa-zeto (LUMEN), Luiza Helena Giraud (APC – Aliança Saúde), Mari Anastácio (PUCPR – Projeto Comunitário), Neuzita de Paula Soares (DEAS), Silmara de Souza (APC – Diretoria de Comunicação e Marketing) e Viviane Flores Bazzoli (FTD).

uma característica específica de nosso século, no qual vivemos, aliás, também uma crueldade e um desprezo pelo ser humano que deveriam nos fazer despertar”104.

[104]. Nosso primeiro Plano Provincial de Pastoral (2003-2011) já enfatizava que o Evan-gelho de Jesus Cristo é, certamente, o melhor norteador pedagógico da humani-zação, pois anuncia de maneira clara os preceitos e valores fundamentais para o equilíbrio das relações humanas. Portanto, “contemplando a vida de Jesus, apre-endemos os valores essenciais que fundamentam um projeto de humanização adaptado a nossa realidade, [...] em sociedade justa, fraterna e solidária”105, donde resulta “[...] a felicidade, a vida em abundância para todos”106.

[105]. O ser humano deve estar no centro de todo planejamento e desenvolvimento da sociedade, pois “nada é tão fundamental na perspectiva de um desenvolvimento integral como colocar o ser humano em primeiro plano, possibilitando-lhe, ao lado do progresso técnico, uma descoberta de seu valor como pessoa”107. Sen-do assim, uma sociedade justa só pode ser realizada no respeito pela dignidade transcendente da pessoa, “portanto, a ordem social e seu progresso devem orde-nar-se incessantemente ao bem das pessoas, pois a organização das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não ao contrário”108.

[106]. O princípio da dignidade inalienável da pessoa humana encontra-se no cerne da vi-são cristã do ser humano e do seu desenvolvimento. É um tronco a partir do qual vão se desdobrar todos os demais princípios e conteúdos da Doutrina Social da Igreja, dentre os quais destacamos o princípio do bem comum109; o princípio da subsidiarie-

104 - RATZINGER, Joseph; D’ARCAIS, Paolo F. Deus existe? p. 70.

105 - Cf. PMBCS. Setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral, p. 145.

106 - PMBCS. Setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral, p. 145.

107 - ANTONCICH, Ricardo; SANS, José Miguel M. Ensino social da Igreja, p. 98.

108 - PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Refere-se à Gaudium et spes, ns. 26, 58, 1046 e 1047.

109 - O princípio do bem comum convoca a todos a empenharem-se por uma ordem justa. A conciliação entre o bem comum e o bem particular se dá pela via da caridade, que supera o egoísmo e possibilita a experiência da gratuidade e da justiça em relação às necessidades e direitos. O bem comum difere do interesse geral e interesse particular. O interesse geral, por vezes, pode subentender o sacrifício e exclusão de alguns, geralmente os mais fracos, em detrimento de outros. Já o bem comum visa envolver todos os indivíduos, de acordo com as possibilidades específicas de cada um.

110 - O princípio da subsidiariedade fundamenta-se na premissa de que Deus, em sua sabedoria infinita, não quis exercer sozinho o governo de todas as coisas que criou. O Criador confiou a cada criatura um conjunto diversificado de dons, os quais são exercidos segundo a sua natureza e discernimento. O princípio da subsidiariedade incentiva que a pessoa (ou nação, no sentido macro) desempenhe seu papel social com amor, responsabilidade e solicitude. Por exemplo, num siste-ma hierárquico, organizacional, ou político, uma “instância superiora” (uma autoridade constituída, de maior força, um intelecto desenvolvido, uma pessoa/organização/nação com melhores recursos ou maior poderio econômico) não deve intervir autoritariamente na vida de outrem. A intervenção das instâncias superiores deve ser supletiva e respeitosa, no sentido de assegurar a vida, a criatividade, a solidariedade, o bem comum e a dignidade. (PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja.)

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para com os outros e para com o mundo. Sem sombra de dúvidas, o caráter emancipador da educação é aquilo que devemos enaltecer e propagar em nossos esforços cotidianos.

[112]. A educação emancipadora é aquela que concede ao indivíduo a oportunidade de reconhecer a si e ao outro como sujeitos autônomos e interdependentes num processo gerador de humanização. Nesse sentido, “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” – defendia Freire. A educação assume caráter emancipador quando cria oportunidades para os sujeitos desenvolverem suas potencialidades e seu livre pensar, incorporando diferentes saberes, conhecimentos técnicos, linguagens e tecnologias na promoção da investigação, da reflexão, no posicionamento crítico frente à realidade, fomentando o protagonismo e a solidariedade, considerada a virtude cristã de nosso tempo.

[113]. A emancipação não deve ser considerada subproduto do processo educativo, mas sim a sua prerrogativa definidora. A emancipação deve valer para todas as dimensões da educação: a acadêmica, a espiritual, a afetiva, a corporal, a re-ligiosa, a social, a cultural. Temos assim, uma educação integral/integradora, que corresponda aos anseios da vida plena (vida em abundância), tema central da evangelização.

[114]. Do ponto de vista pastoral, evangelização e educação formam um continuum onde se fomentam os valores humanos e cristãos, bem como a integração entre fé e vida. Ter uma visão integradora da pessoa e do seu desenvolvimento significa concebê-la em sua inteireza. Por isso, para Bento XVI, a educação deve ser con-siderada “um dos desafios mais urgentes que a Igreja e suas instituições estão chamadas a enfrentar”. Foi nesse sentido que o XX Capítulo Geral também quis reafirmar a “educação como espaço privilegiado de evangelização e promoção humana.”. Nesse caso, é dever institucional oportunizar a educação em amplitu-de, intencionalmente evangelizadora e adequada às questões contemporâneas.

[115]. Educar para a vida significa enaltecer a vida como valor universal, respeitar e de-fender a dignidade do ser humano como premissa da educação, proporcionando a cada indivíduo a oportunidade de autoconhecimento, de constatar as diferen-ças interpessoais e culturais e acolher o outro como verdadeiro outro, com suas limitações, crenças e idéias. Talvez o maior desafio da educação emancipadora resida na dificuldade de superar o utilitarismo economicista que lhe dá contor-nos para permeá-la de valores humanos. Ou seja, de como se incorporam à edu-cação os valores positivos, construídos, aprimorados ou revelados por Deus ao longo da evolução humano-social.

ais e coletivas, a subjetividade e, em síntese, toda cultura em sua complexidade. O termo educação é, certamente, algo amplo, podendo englobar expressões técnicas como “formação”, “instrução”, “treinamento”, “desenvolvimento de pessoas” e outras terminologias usadas segundo processos educativos específicos.

[109]. A Instituição Marista, pelo caráter educativo que lhe é intrínseca, concebe a edu-cação como um processo amplo, contínuo e integrado ao cotidiano das pessoas. Se, comumente, a ideia de educação foi delimitada às estratégias de aprendiza-gem escolar-acadêmica, há hoje uma percepção mais abrangente de processos, mediações, meios e espaços que educam. A educação não apenas se reserva aos ambientes formais (a sala de aula, os eventos acadêmicos, os curso, etc.), mas é algo que perpassa todas as relações estabelecidas no ambiente de trabalho, no ambiente hospitalar, na relação entre parceiros e clientes, na comunicação veicu-lada nos meios de comunicação social e mídias. Desse modo, há uma predisposi-ção educacional em tudo aquilo que fazemos.

[110]. Toda educação leva em conta o tipo de ser humano que se pretende formar e que tipo de sociedade que se pretende construir. Pode-se afirmar que a educação é sempre um processo intencional de orientação dos sujeitos e que, portanto, não se isenta das relações de poder, podendo cumprir tanto um papel alienador (con-formador ou deturpador da realidade) quanto de emancipação dos sujeitos nela implicados. Especial cuidado devemos ter com os processos de educação dema-siadamente verticalizados, quando cabe somente a “uns a autoridade de ensinar” e a “outros a obediência de aprender”. Quando há uma inteligência privilegiada sobrepondo-se arbitrariamente à outra inteligência, estamos favorecendo situa-ções de embrutecimento113. Nesse tipo de relação geralmente unilateral, embora possa ter havido ensino, nem sempre é possível atestar que houve emancipação. Se não considerarmos o sujeito interlocutor como protagonista de sua educação, certamente corremos o risco de favorecer situações de manipulação ou domesti-cação, justificadas por interesses pessoais ou ideológicos.

[111]. Emancipar os sujeitos significa conduzi-lo a usar sua própria inteligência com liberdade, a descobrir seus potenciais e suas responsabilidades para consigo,

113 - Ranciere é propagador das ideias do pedagogo francês Joseph Jacotot, do início d século XIX. O que Jacotot chamou de embrutecimento, no Brasil, aproxima-se da ideia de “educação bancária” que Freire acusou ser uma educação domesti-cadora, que prega o conformismo, que treina o educando para o desempenho de suas destrezas. Nessa relação educativa, o professor é um ser superior que ensina a ignorantes, o dono da verdade dotado de um saber que deve “depositar” no aluno, que se tornam recipientes passivos do depósito do educador. Contrariando a esta concepção, a educação libertado-ra percebe a ação educativa como um processo dialético, fruto de uma práxis, onde professor e alunos conscientizam-se de sua realidade histórica e num processo crítico de construção e reconstrução da mesma, atuam nela com criticidade (RANCIERE, Jacques. O mestre ignorante, 2002). A mesma lógica pode ser aplicada à educação evangelizadora.

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[118]. Há várias definições para “espiritualidade”. Numa visão ampla, a espiritualidade pode ser entendida como o dinamismo que motiva e qualifica por inteiro a vida do ser humano, ora enraizada na pessoa, ora na relação com uma fonte trans-cendente – um ser superior, ou outras compreensões. A espiritualidade se fará visível num projeto compartilhado (instituição religiosa), no comprometimento ético ou na consagração da vida por uma causa altruísta. Neste sentido, podemos dizer que este mover-se por uma causa que nos arrasta para além da superfície material, para além de nosso limite cotidiano, é uma característica intrínseca ao gênero humano, indiferente de credos ou culturas. Há, portanto, um sentido an-tropológico de espiritualidade, anterior ao seu sentido religioso.

[119]. De modo geral, em diferentes aspectos da vida o ser humano tende a transcen-der, a ultrapassar o limite do mundo concreto e material – “imanente” em sentido lato. Neste nível antropológico, a espiritualidade não está ligada necessariamente à confessionalidade religiosa, pois ela pode ser pura expressão do espírito huma-no, em sua natureza própria, independente de ter recebido influência de ensina-mentos ou doutrinas. O ser humano é, por natureza, homo religiosus que se religa ao transcendente e, assim, relê continuamente a si mesmo e ao mundo onde se insere (religio vem justamente de relegere: religar e/ou reler).

[120]. Contudo, há de se reconhecer uma riqueza antiga e sempre nova que emana das espiritualidades confessionais históricas. As grandes tradições religiosas têm muito a ensinar ao mundo atual, pois conservam em seu bojo incontáveis lega-dos espirituais, filosóficos e simbólicos: virtudes morais, elementos identitários, cosmologias, celebração do tempo e dos ciclos naturais, entendimento da nature-za e seus poderes, respostas às angústias e sofrimentos humanos. Sem contar o princípio ético áureo compartilhado entre as grandes religiões: “não faze ao pró-ximo o que não queres que te façam”. A partir do legado de um líder inspirador (profetas, ancestrais, avatares, santos ou heróis) surgem nuances possíveis que dão à espiritualidade horizontes diferenciados no tempo e no espaço, com linhas muitas vezes convergentes e complementares. O diálogo fraterno com tantas tra-dições religiosas é sinal de maturidade e respeito.

[121]. No âmbito cristão, o termo espiritualidade tem sua raiz etimológica na palavra spiritus (em latim), como tradução da palavra grega, pneuma - usada no Novo Tes-tamento. Esta, por sua vez, não se fixa no horizonte filosófico dos gregos, mas é uma versão do termo hebraico ruah - que significa sopro, vento, fôlego e respira-ção. Na tradição judaico-cristã, ruah habita o universo como um todo e também cada criatura; é respiro que move a matéria e vivifica o corpo; é vento que espalha sementes no deserto, fazendo os oásis florescerem. Ruah é vínculo, dinamismo e fecundidade. É promotor e aliado da vida humana, planetária e cósmica. Por isso

[116]. Face ao relativismo das sociedades atuais, os valores educacionais, sociais, po-líticos, morais e religiosos estão continuamente sendo contestados, postos em dúvida e até mesmo substituídos por contravalores. Tal situação desafia-nos a comunicar a perenidade dos valores cristãos de modo eficiente e contextualiza-do114, sobretudo testemunhando-os na prática.

[117]. Iniciativas pastorais organizadas sob a lógica da educação emancipadora devem atentar aos seguintes pontos:

a) Privilegiar temáticas contemporâneas, que ajudem a compreender e solu-cionar os dilemas reais da vida e contribuam no desenvolvimento de uma visão ampla de pessoa humana.

b) Optar por metodologias que propiciem o diálogo aberto, a participação, a fala esclarecedora, privilegiando reflexões que ajudem as pessoas a reco-nhecerem os problemas sob diferentes perspectivas: da ciência, da fé e da doutrina cristã.

c) Orientar a educação evangelizadora como um processo dialógico supõe superar a ideia de que trabalhamos com “públicos” ou “destinatários da evangelização”. É tarefa difícil evangelizar o outro, de modo unilateral, embora seja possível criarmos as condições internas e externas de abertu-ra de coração para evangelizamo-nos mutuamente. Portanto, no processo evangelizador é preferível encontrar “interlocutores”. Para tanto, é neces-sário ter escuta sensível, evitando que o ponto de partida do diálogo seja a verdade acabada, o fundamento da autoridade constituída.

d) Adequar a linguagem sem perder a essência da mensagem original. A edu-cação evangelizadora orienta-se a partir da cultura e seus elementos simbó-licos, introduzindo nela novos significados, levando em conta as caracterís-ticas geracionais, regionais, profissionais, sociais e morais.

3.3 Espiritualidade115

“Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.” (Tei-lhard de Chardin)

114 - BUARQUE, Cristóvam; VERVIER, Jacques. Fé, política e cultura: desafios atuais, 1992.

115 - Contribuíram nesta reflexão: Ana Lang (PUCPR – Núcleo de Pastoral), Iliana Biscaia (TECPUC), Ir. Luiz Adriano Ribeiro (Centro Social Ir. Justino – SP), Ir. Roque Brugnara (Colégio Marista de Joaçaba – SC), Marco Aurélio Ghislandi (DERC), Mari-lúcia Resende (Setor de Pastoral), Telma Argolo (APC – Diretoria de Recursos Humanos) e Vanessa Ruthes (Gerência Setor de Humanização – Aliança Saúde).

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[125]. Na medida em que integramos as coisas cotidianas ao nosso projeto de vida, vai se formando o que entendemos por espiritualidade. “A espiritualidade constrói o modo como compreendemos o mundo, as pessoas, Deus, e como nos relacionamos com eles.”118 Quando dizemos “eu sou marista”, afirmamos possuir uma espiritualidade específica, que nos conecta a um conjunto de pessoas (espírito de família) e define nosso ser-em-missão. Portanto, é uma espiritualidade que se identifica com a tradi-ção de Marcelino. Daí vem nosso amor por Jesus, por Maria e pelas crianças e jovens.

[126]. Nossa espiritualidade é apostólica. Isso significa dizer que existimos para tor-nar Jesus Cristo conhecido entre as crianças e jovens, por meio dos processos educativos, de forma sempre dinâmica, atualizada e fiel à Igreja. Marcelino dizia com frequência: “Não posso ver uma criança, sem sentir o desejo de ensinar-lhe o catecismo, sem desejar fazer-lhe compreender quanto Jesus Cristo a amou”. In-cansavelmente, buscamos proporcionar às crianças e aos jovens espaços e opor-tunidades em que possam desenvolver a espiritualidade e os valores relacionados ao conhecimento, à liberdade, à responsabilidade, à transcendência, a fim de se tornarem “bons cristãos e virtuosos cidadãos”.

[127]. Nossa espiritualidade é também mariana. Marcelino denominou-nos maristas por reconhecer em Maria um modelo de seguimento a Jesus. Ela foi considerada pelo fundador como sendo a Primeira Superiora do Instituto, a conselheira que apontava sempre o caminho a ser seguido. Por isso, também hoje, Maria deve ser considerada como um dos principais legados da nossa herança espiritual, uma vez que continua apontando para o essencial, para o centro, para Jesus Cristo, se-gundo nos ensinou Marcelino: Maria nos leva para Jesus, pois está sempre com o Filho, ou nos braços ou no coração. Isso inspira uma maneira própria de acolher e ouvir o chamado de Deus.

Dando-nos o nome de Maria, o Padre Champagnat quis que vi-vêssemos do seu espírito. Convencido de que ela tudo fez entre nós, chamava-a Recurso Habitual e Primeira Superiora. Contem-plamos a vida de nossa Mãe e Modelo para impregnar-nos de seu espírito. Suas atitudes de perfeita discípula de Cristo inspiram e pautam nossa maneira de ser e de agir. Havendo Deus dado seu Filho ao mundo por Maria, queremos torná-la conhecida e amada como caminho que leva a Jesus. Atualizamos assim nosso lema: “Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para Jesus”119

118 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da rocha, p.14.

119 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS, Constituições e Estatutos, pág. 23.

vem simbolizado pelos elementos naturais, como vento, fogo e água. Esta com-preensão de ruah foi sedimentada na tradição judaica e passou a ser traduzida, no Novo Testamento, como o Espírito Santo – chamado de Fogo, Vento e Água Viva.

[122]. No cristianismo, a espiritualidade tem base trinitária: a partir da vida de Jesus Cristo, o Filho que revela o rosto de Deus como Pai, e o Espírito Santo que sus-cita carismas, dons e talentos para o serviço do Reino. Portanto, “quando men-cionamos a espiritualidade cristã, referimo-nos ao fogo inextinguível que arde em nós e nos impregna da paixão pela construção do Reino de Deus”116. Para os cristãos, o sentido da espiritualidade será sempre assimilar Jesus e seu Evange-lho, onde se inclui também a ação prática, o investimento pessoal no projeto de uma “nova humanidade”.

[123]. A partir dessa referência, a espiritualidade cristã diz respeito a uma vivência co-tidiana que se concretiza como doação e serviço ao próximo, sobretudo aos mais necessitados, em seguimento de Jesus Cristo que, sendo Senhor e Messias, lavou os pés dos apóstolos e se fez servidor de todos.117 A partir da liberdade dos filhos de Deus, aderir e vivenciar a espiritualidade cristã significa aceitar a proposta de Cristo de servir com amor incondicional:

Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me vi-sitastes; estava na prisão e viestes a mim. [...] Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? [...] todas as vezes que deixastes de fazer isso a um des-tes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. (Mt 25, 42-46).

[124]. O carisma marista, ao lado de tantos outros, compõe o variado mosaico multicor da fé cristã e católica. São Marcelino Champagnat foi um homem profundamen-te aberto às necessidades concretas de seu tempo. Soube transmitir esse legado aos seus Irmãos, a quem chamava de “maravilhosos companheiros”. Portanto, tendo no Evangelho a sua pedra fundamental, a espiritualidade marista emer-ge na Igreja a partir do fundador, Marcelino Champagnat, com a missão de ser vida plena entre as crianças e jovens, por meio de processos educativos. O caráter apostólico e marial constituem o diferencial dessa espiritualidade marista, pro-fundamente prática, com o olhar fitando o futuro e, ao mesmo tempo, centrada na solidez de Jesus Cristo.

116 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da rocha, p. 14.

117 - Cf. João 13.

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um inferno para o eu - parafraseando “O inferno são os outros” de Sartre –, mo-tivo de inúmeros conflitos, ódio e intolerância.

[131]. A alteridade é formulada frente à percepção da existência da diversidade, de que o mundo é diverso em suas configurações e manifestações. A diversidade foi engen-drada por Deus e é, portanto, expressão da sua infinita sabedoria. Ele mesmo se revela como variedade de três Pessoas na comunhão da única divindade – Pai e Fi-lho, no Espírito Santo. Como cristãos, acolhemos a Criação e as criaturas, ao passo que procuramos desenvolver as sensibilidades necessárias para escutar e acolher o outro em sua dignidade, como ser legítimo e autêntico, com suas crenças, ideias, limitações e potencialidades. Não obstante, posicionamo-nos de maneira profética e educativa diante das crenças que ameaçam o valor da vida ou promovem a injustiça.

[132]. No âmbito social, temos a percepção de que a sociedade na qual vivemos hoje é muito mais plural e diversificada do que foi no passado. A dinâmica social é marcada con-tundentemente pelos efeitos da globalização econômico-cultural e informacional.

Reconhecemos igualmente que a globalização permitiu à huma-nidade avançar no campo das comunicações, o que supõe maior abertura para conhecer outras realidades, ultrapassar fronteiras e sentir que o planeta no qual vivemos é a “casa de todos”. [...] Além disso, ficou mais fácil trabalhar em rede, em âmbitos como a defesa da vida, da saúde, dos direitos humanos e do cuidado com o meio ambiente. Finalmente podemos dizer que hoje conquis-taram maior visibilidade algumas realidades humanas que não eram reconhecidas nem aceitas.122

[133]. Se, por um lado, o mundo tornou-se bem menor nas distâncias, por outro, o mun-do tornou-se vasto e complexo nas suas expressões e valores culturais. Essa flui-dez de coisas, de ideias, comportamentos e valores vai, naturalmente, provocando a dissolução de uma aparente ordem tradicional, causando-nos medo e inseguran-ça. O Ir. Sammon diria que vivemos num momento de “transição paradigmática”, fenômeno que gera crise em muitas instituições, sobretudo as religiosas.

[134]. Emerge também no cenário das ciências humanas e políticas as questões da di-ferença: o diferente não mais visto como ameaça ou abominação, mas como ser legítimo em seu tempo e contexto. As diferenças encaradas como aspectos cons-

122 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 7.

[128]. Pela espiritualidade marista, alicerçada no Evangelho, encontramos o sentido para todas as nossas iniciativas. Ela abrange todos os âmbitos de nossa vida. Se-ria impossível defini-la sem deixar ainda muito a dizer. Ela é também mistério, habitada pela graça de Deus, embora profundamente humana. Ao vivê-la, no entanto, ela também deve ser encarnada, atualizada, inculturada; ou seja, deve responder aos desafios do tempo presente e ser, o quanto possível, a realidade que nos une, que aproxima as diferenças, que cria sinergia e dá vigor ao nosso existir pessoal e comunitário.

3.4 Alteridade120

“Ou aprendemos a viver como irmãos, ou vamos morrer juntos como idiotas.” (Martin Luther King)

[129]. O termo de alteridade nos remete à atitude do sujeito (ou da Instituição) em se abrir ao diálogo respeitoso e ao acolhimento fraterno da diferença do outro, na qual a diferença é percebida como possibilidade de enriquecimento dos signifi-cados da vida e do mundo. A alteridade, seja motivada pelo senso de cidadania ou pela virtude religiosa, opõe-se à atitude arrogante que por vezes limita nossa capacidade de reconhecer no outro a sua dignidade, de identificar significados e sentidos na existência do outro.

[130]. A questão da alteridade vem ganhando terreno em muitos âmbitos da sociedade, no meio educacional, político, filosófico ou teológico. Boas contribuições emer-gem do pensamento do filósofo judeu Emmanuel Levinás. Sobretudo em sua obra intitulada Totalidade e Infinito121, Levinás aborda alternativas para se pensar a subjetividade no mundo contemporâneo: não mais pensar o outro a partir da centralidade do eu, mas pensar o lugar do outro em minha vida, na experiência vital em geral. A partir de sua diferença, ou mesmo de sua indigência, o rosto do outro se apresenta como revelação, como uma epifania. A atitude que fundamen-talmente nos humaniza é o acusativo “Eis-me aqui”: a sensibilidade e responsa-bilidade que sentimos pelo outro, a disposição para colocarmo-nos a serviço do outro. Certamente a revelação cristã se identifica e se aproxima dessas ideias, da abertura solidária e disponível para um serviço que, muitas vezes, pode ir até as últimas consequências. Sendo assim, jamais o outro poderia ser concebido como

120 - Contribuíram nessa reflexão: Ascânio Sedrez (Colégio Arquidiocesano – SP), Elaine Nascimento (TECPUC), Ir. Lauro Pa-zeto (LUMEN), Luiza Helena Giraud (APC – Aliança Saúde), Mari Anastácio (PUCPR – Projeto Comunitário), Neuzita de Paula Soares (DEAS), Silmara de Souza (APC – Diretoria de Comunicação e Marketing) e Viviane Flores Bazzoli (FTD).

121 - LEVINAS, Emmanuel. Ética do infinito, 1992; LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito, 1992.

Província Marista Brasil Centro-Sul 5958 Diretrizes da Ação Evangelizadora

Page 32: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

[137]. Mas, qual é o papel da evangelização na compreensão das diferenças? O primeiro passo do discípulo, sem sombra de dúvidas, é seguir o exemplo de Jesus, que saía sem reservas ao encontro do outro. Portanto,

As atitudes de alteridade e gratuidade marcam a vida do discípulo missionário de todos os tempos. Alteridade se refere ao outro, ao próximo, àquele que, em Jesus Cristo, é meu irmão ou minha irmã, mesmo estando do outro lado do planeta. É o reconhecimento de que o outro é diferente de mim e esta diferença nos distingue, mas não nos afasta. As diferenças nos atraem e nos complementam, convidando ao respeito mútuo, ao encontro, ao diálogo, à partilha e ao intercâmbio de vida e solidariedade.127 Gratuidade e alterida-de são, portanto, modos de compreender o que há de mais decisi-vo em Jesus Cristo.128

[138]. Nossa Instituição pode ser pensada como um lugar que permite vivermos como sujeitos em busca de sentido para suas vidas, que trazem em si sentimentos, crenças, pensamentos e práticas. Desse modo, devemos levar em consideração a existência da diversidade étnica, cultural e religiosa no seio da Instituição. Essa diversidade se encontra no âmbito restrito do ambiente de trabalho, no âmbito Provincial e, de maneira mais marcante, na internacionalidade do Instituto Ma-rista. Para tanto, o XXI Capítulo reforça que devemos nos esforçar em “promover o diálogo intercultural e inter-religioso, baseado no respeito, crescimento mútuo e nas relações em pé de igualdade entre diferentes culturas, etnias e religiões”129.

[139]. Precisamos fomentar um projeto evangelizador que transcenda as preocupações dogmatizantes e seja capaz de dialogar com a ciência, com diferentes campos do conhecimento, com as demais religiões, a fim de redescobrir quais são as raízes morais e éticas da sociedade que nos ensinam a conviver fraternalmente. Mas isso não se faz sem antes nos abrirmos a uma revolução interior, a uma revolução do coração. Se quisermos modificar o coletivo, devemos começar por modificar as nossas percepções interiores, a nossa maneira de pensar o outro, a nos dispor-mos a aprender uma linguagem inteiramente nova, pois alterações superficiais do pensamento não geram transformação profunda, não convencem, não modi-ficam o ethos social.

127 - CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2011-2015, n. 8.

128 - CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2011-2015, n. 12.

129 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 15.

tituintes da formação humana e da construção social e histórica. O ser humano é mais propriamente alguém cujo sentido só pode ser encontrado na sua relação com o outro. É nesse conjunto de discussões características da pós-modernidade que se insere também o problema da alteridade, do caráter do que é outro, da diversidade em todas as suas nuances.

[135]. No geral, na contemporaneidade, a diversidade cultural é um problema que as-sume relevante importância. A pensadora Danah Zohar123 assevera que, ao ser-mos perturbados pelas relações de diferença124, geralmente lançamos mão de três estratégias: a primeira estratégia consiste na dominação, na total eliminação das diferenças por um processo de colonização, na qual os dominadores impõem, por vezes com violência, sua concepção de mundo aos dominados; a segunda es-tratégia consiste no apartheid, quando se erguem barreiras físicas, jurídicas ou morais para excluir o outro como indesejável, impuro, não semelhante em digni-dade; a terceira estratégia é a coexistência liberal, que considera a possibilidade de tolerar o outro como diferente na esfera privada, enquanto é igual na esfera pública. A coexistência pacífica depende da disposição que temos em tolerar e, em troca, sermos também tolerados.

[136]. A alteridade nos remete ao paradigma da multiculturalidade125, a qual propõe que não só os sujeitos sejam respeitados em suas diferenças, mas que todas as cons-truções culturais sejam consideradas autênticas, opondo-se a uma visão cultural hegemônica ou homogeneizante. “O multiculturalismo passou a ser a realidade comum em muitas partes do mundo e isso tem contribuído para a valorização das diferenças, que vão deixando de ser uma ameaça e passam a se tornar uma opor-tunidade”126. Uma cultura, ao se fechar em si mesma, deixa de compreender que é fundamental acolhermos os iguais, mas também os diferentes de nós, mesmo no campo das divergências. A disposição ao diálogo é sempre a melhor solução para aproximar as pessoas e favorecer a unidade social em meio às diferenças.

123 - Autora de O ser quântico, Sociedade quântica, que propõe aplicar os princípios da física quântica na compreensão da consciência humana, da psicologia e da organização social. Também autora de Cérebro corporativo, QS: Inteligência espiritual e Capital espiritual.

124 - ZOHAR, Danah. Sociedade quântica, 2000.

125 - De acordo com o Projeto educativo para o Brasil Marista (PEBM), “O multiculturalismo consiste em um movimento que afirma a necessidade de incorporar [à nossa visão de mundo] variados cenários – sociais, culturais e políticos – as tra-dições culturais (saberes, fazeres, gostos, estéticas, identidades, subjetividades, visões de mundo, linguagens) de dife-rentes grupos sociais.“ (UMBRASIL. Projeto educativo para o Brasil marista, p. 33, apud SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo, 1999).

126 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 7.

Província Marista Brasil Centro-Sul 6160 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[143]. Para a Igreja, o Evangelho é como um fermento, capaz de elevar em qualquer cul-tura aquilo que ela tem de melhor e mais autêntico. Mas efeito contrário pode ocor-rer quando os evangelizadores, em nome da verdade, desprezam a necessidade da escuta sensível e da alteridade. Nesse sentido, é um cuidado pastoral promover o diálogo, possibilitando a inclusão de todos e todas em comunidades de esperança com propósitos éticos, onde todos possam aprender a experimentá-los juntos.

3.5 Solidariedade135 socioambiental136

“Solidariedade é a determinação firme e perseverante de se em-penhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.” (João Paulo II)

[144]. O tema da solidariedade transita por diversos campos de sentido, nem sempre li-gados à base etimológica solidum (em latim), cujo significado aproxima-se de con-solidar, confortar. Nos últimos anos o Instituto Marista tem se empenhado para alinhar a compreensão do tema, como também das políticas que tornam a prática da solidariedade mais efetiva e sistêmica, sobretudo em relação ao seu caráter de assistência social, promoção e defesa das infâncias e juventudes. Na PMBCS, o Setor de Assistência Social (SAS) tem zelado para que a solidariedade incorpore--se à cultura institucional, ajuste-se ao marco legal e seja expandida através das redes de solidariedade, de maneira a concretizar a missão institucional que se expressa tanto na evangelização quanto na promoção social. Para a Rede Marista de Solidariedade, “a solidariedade é um convite pessoal e coletivo, que usualmen-te se traduz em uma causa de interesse comum que congrega pessoas e recursos, a fim de melhorar a “casa de todos”137. Em consonância com esse conjunto de re-flexões, o sentido que pretendemos abordar no presente documento se refere ao caráter virtuoso, ético e espiritual da solidariedade.

[145]. Observa-se que o empenho para promover a cultura da solidariedade em tempos atuais aponta, em geral, para dois caminhos complementares: no primeiro, temos a relação de cooperação dos sujeitos entre si, entre as comunidades e nações. Ou

135 - O conceito institucional de solidariedade é definido pelos documentos oriundos do Setor de Assistência Social da PMBCS e Documento Interamericano de Solidariedade (no prelo).

136 - Contribuíram nessa reflexão: Ana Cristina de Carvalho (TECPUC), Carolina Feltrin (APC – Diretoria de Recursos Huma-nos), Ione Anhaia dos Santos (Centro Social Ir. Walmir – Criciúma), Juliana Schwarz (ABEC – UCE – Recursos Humanos), Maria Helena Negrão (Colégio Marista de Londrina – PR), Marco Aurélio Ghislandi (DERC), Raimundo Policarpo de Souza (APC – Logística), Tupiná Machado (Aliança Saúde) e Vera Lúcia Costa da Silva (PUCPR – Núcleo de Pastoral).

137 - PMBCS. Setor de Assistência Social. Diretrizes de Solidariedade (no prelo).

[140]. À luz da fé, as novas realidades, os novos cenários culturais e do conhecimento são “novos areópagos”130 para os quais a atenção evangelizadora deve estar sensí-vel. Os novos areópagos também são os cenários organizacionais da Instituição, os centros de decisões, os quais precisam ser animados pelos valores maristas e humano-cristãos, e assim, possam desempenhar com fidelidade sua missão.

[141]. A Instituição Marista, embora de explícita identidade cristã e católica, não coloca obstáculos à diversidade religiosa. Ao contrário, defendemos a fé e a espiritua-lidade como dimensões constitutivas do ser humano. A diversidade religiosa é uma das facetas da alteridade, que, portanto, nos convida ao diálogo. Nesse sen-tido, respeitamos e incentivamos que as pessoas vivam a sua fé com fidelidade e coerência. No diálogo ecumênico e inter-religioso é necessário levar em conta que os sistemas religiosos estão fundados em tradições e experiências religiosas milenares, que já consolidaram ritos, doutrinas, conteúdos simbólicos, visões de mundo, crenças em relação ao sentido da vida, do sofrimento, morte e além--morte. No entanto, apesar de distintas, há valores e princípios que permitem um núcleo comum de atuação entre os crentes, como o amor, a sacralidade da vida, a responsabilidade para com os mais fracos, a vocação transcendente da pessoa humana, etc. As possíveis tensões produzidas pela diversidade serão certamente amenizadas pela solidariedade.

[142]. Importa recordar, ainda, que a abertura dialógica a outros sujeitos e culturas não é negação do Evangelho, mas exercício de seus valores, destinados a “todas as na-ções”131. Isto se verifica claramente no dia de Pentecostes, quando o discurso de Pe-dro é compreendido na multiplicidade de idiomas e culturas132. Nosso encontro com o diverso, com o outro, se baseia na encarnação da palavra de Deus em Jesus Cris-to, o Verbo que ilumina toda a humanidade, além de nossas fronteiras habituais133. Longe de qualquer relativismo, trata-se de uma nova via de testemunho cristão134.

130 - Enquanto os apóstolos pregavam na região da Palestina, Paulo, cumprindo o mandato de ser testemunha de Cristo até os extremos da terra (cf. At 1, 8), deparou-se com a cultura helênica. Depois de pregar com vigor em praças públicas, foi conduzido ao Areópago de Atenas pelos filósofos epicuristas e estoico que queriam compreender um pouco mais de sua nova doutrina, que aparentava ser loucura para os padrões gregos. Paulo foi astuto, pois, em meio à diversidade cultural, anunciou Jesus e a Ressurreição. “Atenienses, percebo que sois extremamente religiosos. Pois andando e observando os seus lugares de culto, encontrei um altar com essa inscrição: Ao Deus Desconhecido. Pois bem, eu vos anuncio aquele que venerais sem conhecer. É o Deus que fez o céu, a terra e tudo que eles contêm. Ele é o Senhor do céu e da terra...” (At 17, 25-25).

131 - Mateus 28, 19.

132 - Cf. Atos 2, 5-11.

133 - Cf. João 1, 9.

134 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 239.

Província Marista Brasil Centro-Sul 6362 Diretrizes da Ação Evangelizadora

Page 34: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

[149]. Em relação à preocupação da Igreja diante das causas sociais, o Papa Paulo VI exortava:

Nosso primeiro dever neste campo é afirmar os princípios, obser-var e analisar as necessidades, declarar os valores primordiais, apoiar os programas sociais e técnicos verdadeiramente úteis e marcados com o selo da justiça, em seu caminho rumo a uma ordem nova e ao bem comum, formar sacerdotes e leigos no co-nhecimento dos problemas sociais, encaminhar os leigos bem preparados para a grande obra da solução de tais problemas, con-siderando tudo sob a luz cristã que nos faz descobrir o homem em primeiro lugar e os demais bens subordinados à promoção total do homem no tempo é à salvação na eternidade.143

[150]. Ao anunciar o seu conceito de solidariedade, o Papa João Paulo II a designava como “determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos”144. Essa ideia é inovadora no pensamento cristão con-temporâneo, na medida em que

[João Paulo II] distingue solidariedade-fato (todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos) de solidariedade-dever (determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem co-mum). Está claro que, para João Paulo II, a solidariedade é uma virtude cristã muito próxima da caridade, e que, pela fé, pode revestir-se de dimensões especificamente cristãs.145

[151]. Gutierrez, teólogo, expressa uma compreensão do tema muito próxima à de João Paulo II: “Enquanto o papa sugere uma firme determinação em favor da comu-nhão, Gutierrez propõe um ‘amor eficaz’”146. De certa forma, é análoga à percep-ção de Champagnat ao afirmar que “para bem educar, é necessário amar”, ou seja, que o amor é precondição para a eficácia da educação, da solidariedade, da catequese e demais aspectos da atuação apostólica.

143 - Discurso de S. S. Paulo VI na Abertura da II Conferência Episcopal Latino Americana em Medelín. III – Orientações Sociais. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

144 - JOÃO PAULO II. Sollicitudo rei socialis, n. 38.

145 - ALMEIDA, João Carlos. Teologia da solidariedade, p. 235.

146 - ALMEIDA, João Carlos. Teologia da solidariedade, p. 236.

seja, nesse caso, a ênfase da solidariedade recai nas relações humanas; no segun-do caminho, vemos ênfase nas relações de simbiose e interdependência entre os seres, ou seja, da relação que se estabelece entre os seres humanos com a nature-za e demais seres que compartilham do mesmo ecossistema. Não obstante, nada impede que as duas perspectivas caminhem juntas, de maneira complementar. Sendo assim, desejamos fomentar uma cultura de solidariedade de caráter social e ambiental, favorecendo as condições pastorais necessárias para a constituição dos sujeitos solidários, tanto nas relações humanas como nas relações com a na-tureza e seus sistemas. Solidariedade, no sentido de “cuidado com o planeta”, nunca deve prescindir do “cuidado com os pobres, oprimidos, excluídos”138.

[146]. O termo solidariedade ganha maior relevância a partir do século XX. Não é um vocábulo encontrado nas escrituras sagradas, embora sua semântica coincida com a prática da caridade, da generosidade, da fraternidade e amor ao próximo, lições recorrentes nos textos sagrados, sobretudo no Evangelho. Neste sentido, a solidariedade é uma tradução recente daquilo que o Evangelho propõe como prática das “bem-aventuranças”.

[147]. Na Doutrina Social da Igreja, a solidariedade aparece como “a virtude cristã dos nossos tempos, um imperativo moral para toda a humanidade”139 ou seja, é um princípio ético cuja aplicabilidade vale analogicamente para todas as relações so-ciais concretas. Somente pelo caminho da solidariedade é possível integrarmos as pessoas, as nações e a natureza como partícipes do banquete da vida apregoa-do por Jesus Cristo, para o qual todos são igualmente convidados.

[148]. O princípio da solidariedade – maneira como é comumente abordada na Doutri-na Social da Igreja – assevera que o ser humano cresce em valor e dignidade na medida em que investe suas capacidades e seu dinamismo na promoção do ou-tro, na dignificação do próximo. Desenvolver a “pessoa solidária”140 como projeto para a nova humanidade é um dos objetivos centrais da antropologia cristã. É pela solidariedade que se chega à justiça, pois “não há pessoa solidária sem com-promisso com a vida de todos, particularmente dos pobres”141. Dessa maneira, “a pessoa solidária é o sujeito, o cidadão, o cristão protagonista que enxerga as situações de injustiça e se mobiliza efetivamente em prol de causas”142.

138 - BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 133 e 140.

139 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão Educativa Marista, n. 153.

140 - ANTONCICH, Ricardo; SANS, José Miguel M. Ensino social da Igreja, p. 14.

141 - ANTONCICH, Ricardo; SANS, José Miguel M. Ensino social da Igreja, p. 87.

142 - PMBCS. Setor de Assistência Social. Diretrizes de Solidariedade (no prelo).

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bilidade e da justiça socioambiental. Como salienta o Documento de Aparecida151, na crise ambiental ouvimos o clamor da Criação pelo respeito e manutenção da biodiversidade152, como também ouvimos o clamor dos povos ribeirinhos, dos indígenas, das sociedades extrativistas e outras, frente a um sistema econômico voraz. Todos eles dependem da preservação dos recursos naturais para sua so-brevivência, manutenção de suas identidades e culturas.

[156]. Da posição de dominadores – resultado, talvez, de uma interpretação equivocada do mandato “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra...”153 –, passamos pouco a pouco ao paradigma do ser humano “cuidador”, desafiado a desenvolver em sua ética a sensibilidade do cuidado com a vida154. A natureza, além de sagrada, é um grande sistema vivo que interliga155 de maneira complexa e complementar todos os seres que a habitam. O ser humano, imagem e semelhança de Deus, é parte desse grande e complexo sistema. Isso pressupõe o desenvolvimento de uma consciência de justiça, e não de superioridade diante da diversidade planetária.

[157]. O cuidado é um paradigma de inspiração bíblica: “Deus plantou um jardim em Éden e ali colocou o ser humano para cultivar e guardá-lo”156. A dimensão do cui-dado, tão apregoada atualmente, precisa ultrapassar a visão afetiva ou meramen-te mítica da natureza e do planeta. A consciência de que habitamos uma casa--comum (oikos, em grego) pede revisão de comportamentos, educação ambiental e investimentos que priorizem o meio ambiente. Unem-se, portanto, três aspectos de nossa coabitação terrestre: o ecológico, que pressupõe o respeito às lógicas da

151 - Ver CELAM. Documento de Aparecida, ns. 83 a 87.

152 - Cf. Romanos 8, 20-25.

153 - Disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre os animais selvagens e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”. 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele o criou homem e mulher. 28Deus abençoou-os, dizendo: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra”. 29Disse Deus: “Dou-vos todas as plantas com semente que existem em toda a superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que se movem na terra dou as plantas verdes como alimento”. E assim sucedeu. (Gn 1, 26-30)

154 - Para Leonardo Boff, “cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. [...] O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. O modo-de-ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano”. Cf. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 33-34.

155 - Capra aprofunda essa ideia no que ele chama de “paradigma da ecologia profunda”. (Cf. CAPRA, Fridjof. Ateia da vida, p. 25).

156 - Gênesis 2, 15.

[152]. O sentido de amor eficaz nos impele, enquanto PMBCS, a otimizar investimentos e recursos na ampliação e qualificação do atendimento social, na oferta da educa-ção formal, na educação profissionalizante, no apoio socioeducativo, no atendi-mento à saúde, no monitoramento, promoção e defesa dos direitos das crianças, jovens, além de iniciativas de suporte à suas famílias e comunidades. Multipli-cam-se, em todas as nossas frentes apostólicas, os projetos de voluntariado que favorecem a imersão de jovens e pessoas de boa vontade no atendimento huma-nitário. Há também apoio institucional a um conjunto significativo de iniciativas governamentais e não governamentais que visam a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Isso porque compreendemos que “o resgate da dignidade humana não pode limitar-se à assistência emergencial, mas exige a transforma-ção da sociedade, numa ordem voltada para o bem comum”147.

[153]. Tanto no sentido ético quanto político, podemos afirmar que o ser humano é de-safiado a assumir sua “cidadania planetária”, ou seja, assumir o “compromisso ético-político com uma prática sociocultural que respeita a vida em toda a sua complexidade e diversidade, orientando para a construção da cidadania terrena e para a criação de um sentimento de pertença, de que somos partícipes de uma comunidade planetária”148. Nesse caso, o nosso outro, ou seja, o nosso próximo – conforme aprendemos no Evangelho segundo Lucas 10, 29 - não poderia também ser a natureza em suas incontáveis expressões vitais?

[154]. “O movimento ecologista, diante das destruições do mundo e dos perigos que nos espreitam, entendeu o seguinte: que a natureza nos traz uma mensagem, e temos de prestar atenção a essa mensagem da natureza.”149 É visto que a natureza tam-bém clama por justiça e se expressa, por vezes, de modo não verbal, de maneira a impor limites às nossas ambições. As novas gerações já têm entendido tal recado, tendo acolhido a ideia do planeta como casa-comum150, como comunidade am-pliada onde tudo de bom ou ruim é compartilhado globalmente. Nesse sentido, fomentar uma cultura solidária de caráter ambiental vem tornando-se um impe-rativo vital para o mundo globalizado.

[155]. Harmonizando fé e razão, os cristãos são desafiados a desenvolver uma consciên-cia ecológica e a assumirem uma posição mais contundente em prol da sustenta-

147 - CNBB. Exigências Evangélicas e Éticas de Suspensão da Miséria e da Fome, n. 20.

148 - UMBRASIL. Projeto educativo para o Brasil marista, p. 18.

149 - RATZINGER, Joseph; D’ARCAIS, Paolo F. Deus existe?, p. 78.

150 - Cf. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 27.

Província Marista Brasil Centro-Sul 6766 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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d) Aperfeiçoar pessoas, espaços e direcionar recursos para projetos de solidariedade consistentes.

e) Fomentar a formação de voluntários e/ou projetos de voluntariado em nível local, regional, interprovincial e internacional.

3.6 Catequese159

“Fale-me e esquecerei; mostre-me e lembrarei; envolva-me e, en-tão, entenderei.” (Confúcio)

[161]. No amplo processo de evangelização, a catequese desponta como a dimensão de educação e amadurecimento continuado da fé. Sua especificidade é transmitir ou ecoar fielmente a Palavra de Deus na comunidade de discípulos – que é a Igreja. Daí o caráter essencialmente confessional e eclesial da catequese. Assim, pela ca-tequese a Igreja deve tornar a fé viva, explícita e prática, conduzindo cada batiza-do “à maturidade cristã”160.

[162]. A palavra “catequese” deriva do verbo grego katechein (kata-ecein) que indica a ação de ressoar, ou seja, soar novamente, fazer eco (katechêo = catequese). Ela deve ser entendida como uma continuação do keryssein, do anunciar a Palavra (keryg-ma = anúncio). Ela necessita do didaskein, do ensinar, mas não se limita a ele e deve, por fim, levar ao martýresthai, ao testemunhar a Palavra. Temos, portanto, um itinerário pedagógico intrínseco à catequese: anúncio da Palavra (kerygma); ressoar da Palavra nos corações (katechein); aprendizado continuado da Palavra (didaskalia); testemunho prático da Palavra (martyria).

[163]. Percebe-se, assim, que a catequese não se constitui um simples ensino. Ela ne-cessita de técnicas que a auxiliem161, mas não se limita a elas. Não se constitui um primeiro anúncio, contudo, na sociedade laical, necessita também suscitar a fé162. Não é o testemunho da Palavra, mas deve levar a este163. Como uma ação eclesial,

159 - Contribuíram nesta reflexão: Ana Lang (PUCPR – Núcleo de Pastoral), Iliana Biscaia (TECPUC), Ir. Luiz Adriano (Centro Social Ir. Justino – SP), Ir. Roque Brugnara (Colégio Marista de Joaçaba – SC), Marco Aurélio Ghislandi (DERC), Marilúcia Resende (Setor de Pastoral), Telma Argolo (APC – Diretoria de Recursos Humanos) e Vanessa Ruthes (Gerência Setor de Humanização – Aliança Saúde).

160 - SANTA SÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 21.

161 - Cf. JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 46; CNBB. Diretório Nacional da Catequese, n. 151.

162 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 29.

163 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 34.

Casa-Terra; o econômico, que defende a prioridade da Casa-Terra sobre outros interesses de mercado; e o ecumênico, que apregoa a concórdia dos habitantes para o bem da Casa-Terra. Note-se que estes três aspectos da vida humana/pla-netária deviram do mesmo termo oikos, casa.

[158]. A missão da PMBCS é bastante assertiva ao propor “formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários, em vista da transformação da sociedade, fundamenta-dos nos valores do Evangelho, do jeito Marista”157. Como Maristas, inspirados no modelo de Maria que é mãe e mulher, a lógica do cuidado e da solidariedade não nos parece nada estranha. A dimensão da solidariedade (Maria que visita sua prima Isabel) e a dimensão do cuidado (Maria que traz o Menino Jesus em seus braços) constituem nosso alicerce pedagógico.

[159]. A solidariedade é, portanto, uma experiência espiritual, expressão da fé cristã encarnada, na medida em que não envolve apenas conhecer a realidade do outro, intervir na realidade do outro, mas também amar o outro. Pressupõe agir com compaixão, dedicar amor, partilhar o pão. A Palavra de Deus nos desafia a nos colocarmos em ação junto à realidade das pessoas mais fragilizadas. Nesse ponto, até os céticos158 reconhecem que o Evangelho é uma importante fonte de inspira-ção, que traz algo de altruísta, que permite ampliar o núcleo de valores comuns entre crentes e não crentes.

[160]. São grandes desafios, oportunidades e perspectivas para colarmos a termo uma solidariedade ampliada, de caráter interpessoal, social e ambiental. Para tanto, nos projetos e ações pastorais faz-se necessário:

a) Fomentar práticas solidárias no âmbito interno e externo da Instituição Marista, com ênfase em ações sociais emancipatórias e comunitárias.

b) Formar redes de solidariedade com o intuito de agregar forças trans-formadoras construtivas, engajadas em causas sociais e humanitárias.

c) Educar para as escolhas de consumo que impactem o mundo de ma-neira menos predatória e mais sustentável, assegurando melhores condições de vida para as futuras gerações.

157 - PMBCS. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2010.

158 - Intelectuais não crentes, como D’Arcais, reconhecem que “carecer de fé torna muito mais difícil a capacidade de re-nunciar ao egoísmo, de sacrificar-se pelos outros”. A pedra de tropeço dos céticos é, sem dúvida, a dificuldade em superar o individualismo, de sacrificar a si para ter fé no outro. (RATZINGER, Joseph; D’ARCAIS, Paolo F. Deus existe?, p. 81.)

Província Marista Brasil Centro-Sul 6968 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[166]. A catequese possui diferentes interlocutores: crianças, adolescentes, jovens e adultos, tornando-se importante levar em conta os aspectos antropológicos, psi-cológicos e teológicos, a fim de melhor integrá-los no caminho de fé179.

[167]. A partir desta perspectiva comunitária, é fundamental ressaltar que a “liturgia é fonte inesgotável da catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade”180. Ela é “o cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana a sua força”181, é através dela que “Deus fala a seu povo [...] e esse responde com cânticos e orações”182, tornando-se portanto um itinerário de formação na fé. Pois, a proclamação da Palavra, a homi-lia, as oblações, orações, ritos sacramentais, a vivência dos diferentes tempos litúr-gicos e solenidades se constituem momentos de aprofundamento na fé.

[168]. A catequese pode apresentar-se de diferentes formas: como um processo de ini-ciação à fé; como um processo permanente, com o intuito de receber os sacramen-tos de iniciação cristã; realizada de forma ocasional; e no âmbito familiar. Assim, para uma melhor compreensão da dinâmica catequética, se torna importante compreender, na sequência, cada uma dessas formas.

[169]. Catequese como processo de iniciação à vida de fé: a iniciação religiosa é uma prática que remonta às antigas culturas, seu objetivo é inserir o fiel em um itine-rário de vida e fé, que gere uma adesão às verdades que este confessa. A catequese como iniciação não se constitui uma “supérflua introdução na fé, um verniz ou um cursinho de admissão à Igreja”183, é muito mais do que ensinar uma doutrina, pois ultrapassa uma mera compreensão racional da fé, tratando-se de uma ade-são a Jesus Cristo. A iniciação deve ser compreendida como um processo a ser percorrido, com metas, exercícios e ritos. É um itinerário prolongado de prepara-ção e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé, dos misté-rios e da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia. Esse deve ser estruturado de forma elementar e coerente integrando as seguintes dimensões183: antropológica, afetivo-interpretativa, cristológica, pneumatológica, celebrativa, comunitário-participativa, sociotransformadora e inculturada, intelectual, ecu-mênica e ecológica.

179 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 180.

180 - CNBB. Catequese Renovada, n. 89; Cf. PAULO VI. Sacrosanctum Concilium, n. 14.

181 - PAULO VI. Sacrosanctum Concilium, n. 10.

182 - PAULO VI. Sacrosanctum Concilium, n. 33.

183 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 37.

184 - Cf. CNBB. Diretório Nacional para a Catequese, n. 38.

deve estar unida à Igreja particular164, para que possa realizar o processo grada-tivo de formação e de inserção nos mistérios de fé165. Assim, a catequese pode ser compreendida como uma ação eclesial, que se constitui ministério da Palavra, que a partir das fontes da Revelação (Sagrada Escritura e Tradição) busca gerar um aprofundamento gradativo na fé que leve o catequizando a “conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus”166.

[164]. A catequese, portanto, se constitui em processo gradativo de formação na fé, “trata, de forma sistemática, de um todo elementar e coerente, que forneça base sólida para a caminhada rumo a maturidade em Cristo”167. Ela se estabelece um itinerário “prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé, da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na li-turgia”168. Algumas passagens da Sagrada Escritura são ilustrativas neste senti-do, em especial a passagem dos discípulos de Emaús. Nela encontram-se todos os elementos necessários para compreender a catequese como itinerário: O cami-nho169; O aproximar-se de Jesus170; A formação que é feita enquanto caminham171; A necessidade de pertença172; A celebração como fecundidade da vida de fé173; O testemunho como impulso de ardor e zelo174.

[165]. Todos esses elementos permeiam o itinerário catequético e partir deles, com o auxílio das ciências pedagógicas175, deve-se estruturar “um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento”176. A variedade de métodos é grande177, mas todos eles devem estar pautados na pedagogia divina. A finalidade última de todo processo catequético é o encontro existencial com Jesus Cristo em meio à comunidade de fé178.

164 - Cf. SANTA SÉ. Diretório Geral para a catequese, n. 265; CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 231-232.

165 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 233.

166 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 43.

167 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 38.

168 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 37.

169 - Lucas, 24, 13.

170 - Lucas, 24, 15.

171 - Lucas, 24, 25-27.

172 - Lucas, 24, 29.

173 - Lucas, 24, 30-31.

174 - Lucas.,24, 32-33.

175 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 150.

176 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 41.

177 - Cf. JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 51; CNBB. Diretório Nacional de Catequese, ns. 152-164.

178 - Cf. CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 144.

Província Marista Brasil Centro-Sul 7170 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[173]. Catequese familiar: a família é considera a “Igreja Doméstica”192, “é a escola de fé”193 portanto “os pais devem ser para seus filhos os primeiros mestres da fé”194, ser os doadores dos primeiros fundamentos da consciência religiosa195. Assim é necessário, por parte da Igreja, não só orientar os pais para “darem uma for-mação consciente e cristã aos filhos, mas para eles mesmos crescerem em seu compromisso cristão”196. Um dos grandes desafios da atualidade é a crise (estru-tural e de fé) pela qual as famílias estão passando, sendo, portanto, importante criar estratégias de ação pastoral integradas e efetivas, pois, não se pode abrir mão da importância dessas no processo de educação na fé, tendo em vista que a “catequese familiar, precede, acompanha e enriquece todas as outras formas de catequese”197.

[174]. Em nossa Província, a ação catequética contempla formas elementares: sistemá-tica, sacramental, de iniciação, ocasional e familiar. Pela ação pastoral, ela deve estar presente em nossas iniciativas apostólicas: nas homilias proferidas em nas celebrações, nos momentos formativos realizados com alunos, educadores, cola-boradores, familiares e ou Leigos maristas em geral; nas ocasiões comemorativas realizadas permanentemente; e nas ocasiões específicas de imersão na vivência sacramental. Enquanto processo permanente, é necessário compreender a cate-quese em nossa Província como uma ação eclesial que deve focar a vivência co-munitária “além-fronteiras”.

[175]. As nossas frentes apostólicas são tidas como espaços privilegiados de educação da fé, embora tendo muitos de seus interlocutores em caráter de transitoriedade. Desta forma, a ação pastoral e catequética por nós realizada deve levar os interlo-cutores à imersão na comunidade eclesial em geral, seja ela de caráter paroquial ou diocesano. A dimensão permanente de catequese implica um processo forma-tivo na fé realizado por cada interlocutor até o fim de sua vida. E isso se dá no seio da Igreja, em suas mais diversas instâncias evangelizadoras.

[176]. Outro aspecto catequético que nos desafia enquanto comunidades educativas é a dimensão da linguagem. Em nossa Província a catequese deve ser realizada de

192 - PAULO VI. Lumem Gentium, n. 11.

193 - CELAM. Documento de Aparecida, n. 114.

194 - PAULO VI. Gaudium et Spes, n. 2.

195 - SANTA SÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 255.

196 - CNBB. Catequese Renovada, n. 123.

197 - JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 68.

[170]. Catequese como processo permanente: outra compreensão da catequese é de que deve ser um processo permanente. O papa João Paulo II ressaltou que ela deve possuir um sentido lato, ou seja, um sentido amplo, pois se constitui o aprofun-damento das verdades que tocaram o coração humano no querigma (kerygma = anúncio do Evangelho). Esse não está em contradição com o sentido estrito de ca-tequese entendido como iniciação; mas dela é prolongamento, visando uma for-mação contínua dos fiéis: um aprofundamento contínuo da fé185, como também um revigoramento desta186. Essa forma de catequese pode ser reconhecida por meio dos cursos de formação para leigos, círculos bíblicos, grupos de reflexão, grupos de oração e vivência e tantas outras formas que buscam um aprofunda-mento permanente de sua fé. Cabe ressaltar que esse processo catequético deve procurar unir: “fé e vida; dimensão pessoal e comunitária; instrução doutrinária e educação integral; conversão a Deus e atuação transformadora da realidade; celebração dos mistérios e da caminhada com o povo”187.

[171]. Catequese ocasional: a catequese nem sempre é sistemática, pois existem algu-mas ocasiões propícias nas quais se pode evangelizar188, principalmente quando se trata de adultos. Assim, busca-se interpretar e viver as diversas circunstâncias da vida pessoal (aniversário), familiar (casamentos, funerais, etc.), social (visita aos enfermos) e eclesial (festas litúrgicas), a partir da perspectiva da fé189.

[172]. Catequese sacramental: a catequese esta intrinsecamente ligada com a ação litúr-gica e com os sacramentos190. Contudo, a sua finalidade não é “recepção sacra-mental” como objetivo final, mas sim, ser um processo que “conduz a entrega do coração a Deus, à comunhão com a Igreja e à participação em sua missão”191. A catequese sacramental não se fixa no rito, mas quer levar ao discipulado nutrido pelos sacramentos. Assim, percebe-se a necessidade de mudança de uma concep-ção sacramentalista de catequese para uma concepção iniciática.

185 - No Brasil essa concepção se tornou clara em 1983 com a publicação do Documento Catequese Renovada, que de-monstrando as modificações ocorridas no século XX, ressalta a necessidade de “um tipo de catequese que, além de uma sólida fundamentação da fé, seja capaz de ajudar o cristão a converter-se e a comprometer-se no seio de uma comunidade cristã para a transformação do mundo”. (CNBB. Catequese Renovada, n. 19).

186 - Cf. JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 25; CELAM. Documento de Aparecida, n. 295-299.

187 - CNBB. Catequese Renovada, n. 29.

188 - JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 21.

189 - Cf. SANTA SÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 71.

190 - Cf. JOÃO PAULO II. Catechesi tradendae, n. 23.

191 - CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 43.

Província Marista Brasil Centro-Sul 7372 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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materializa, sobretudo, na oferta da educação cristã, na catequese, na solidarie-dade, na defesa, promoção e garantia dos direitos desses sujeitos.

[180]. As Constituições Maristas conclamam: “Vamos aos jovens lá onde eles estão. Va-mos com ousadia aos ambientes, talvez inexplorados, onde a espera de Cristo se revela na pobreza material e espiritual”199. Mesmo quando não é possível estar presencialmente nos lugares onde eles se encontram, é nossa missão oportunizar às crianças e aos jovens, através de nossas escolhas administrativas, um variado leque de produtos e serviços, ações e projetos, experiências e espaços que lhes imprimam os valores cristãos e humanitários, e que promovam o sentido de sua dignidade. É nosso dever empenharmo-nos por melhorar as condições políticas, econômico-sociais, ambientais, cognitivas e afetivas que impactam positivamen-te no desenvolvimento das infâncias e juventudes.

[181]. Por infância compreendemos “o espaço-tempo200 da construção das culturas in-fantis, da produção de conhecimentos, de posicionamento no mundo pelos peque-nos e pelas pequenas”201. Desta forma, amplia-se a visão de que a infância é apenas uma fase da vida na qual a criança se apresentava passiva no processo de constitui-ção de si, passando a ser reconhecida como “um ser capaz de produzir ideias, cul-tura, objetos concretos e simbólicos; de desenvolver sentimentos que serão válidos por toda a vida; de questionar a realidade que a cerca e a que está distante no tempo e no espaço; de produzir significados sobre si, sobre o outro e sobre o mundo”202.

[182]. Os novos cenários globais e locais nos desafiam a lançar um olhar mais aguçado sobre esse universo diversificado. As crianças e jovens protagonizam processos sociais extremamente complexos, conforme os espaços, tempos e contextos em que estão inseridos. Diferentes segmentos juvenis geram demandas diferencia-das, constroem novas identidades, respostas e caminhos específicos. Nesse sen-tido, é prudente que reconheçamos a pluralidade dos modos de ser203 da criança e do jovem. Somos instigados a concebê-los no plural, como infâncias e juventudes, respeitando sua complexidade e dinamicidade.

199 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e estatutos, n. 83.

200 - “Espaçotempo” é um termo elementar do Projeto Educativo do Brasil Marista. Deve ser concebido como um conti-nuum que se refere ao espaço e ao tempo de modo inter-relacionado. Nessa perspectiva, se pensam fatos, processos, fenômenos e situações-problema de modo inter-relacionado, considerando simultaneamente suas especificidades espa-ciais e temporais. Ver UMBRASIL, 2011. p. 26.

201 - PMBCS. DERC. Projeto Marista para a Educação Infantil. p. 51.

202 - PMBCS. DERC. Projeto Marista para a Educação Infantil. p. 49.

203 - Ver UMBRASI. Projeto educativo para o Brasil Marista, p. 56 e 57.

forma inculturada, buscando a aproximação dos conteúdos fundamentais da Sa-grada Escritura e do magistério eclesial às realidades de nossos educandos, fami-liares, educadores, colaboradores e Leigos Maristas em geral. Essa dimensão de inculturação é realizada tanto na dimensão catequética propriamente dita, com caráter explícito, como quando considerada instância de diálogo cultural.

[177]. Nos processos catequéticos explícitos, buscamos tornar evidentes os elementos doutrinais confessionais católicos próprios daqueles que já abraçaram essa confis-são de fé. Essa dimensão catequética é sempre opcional, pois necessita em si mesma de uma prévia adesão de resposta afirmativa do interlocutor ao anúncio evangeliza-dor realizado a partir da Igreja de forma geral. E mesmo aos que livremente aderem à fé católica, a catequese deve ser profundamente significativa. Deve ser também resposta aos anseios das pessoas de hoje, com suas expectativas próprias de um contexto global, com pertinência planetária, e em constante e acelerada mutação.

[178]. Nos processos educativos em geral, buscamos identificar os elementos que são comuns entre a educação formal e a educação na fé, e reforçamos aqueles que promovem a dignidade humana em sua totalidade. A doutrina cristã e a vivên-cia das comunidades de fé têm muito a contribuir com a cultura, a ciência e os interesses éticos que compõem a sociedade atual. Neste âmbito, o respeito aos membros de nossas comunidades educativas que processam outras confissões religiosas é também um indicador e objetivo da educação católica. Como Maris-tas, temos a ação catequética como vocação, sobretudo quando realizada entre as crianças e os jovens.

3.7 Infâncias e juventudes198

“Acreditamos que estamos convidados a nos tornarmos uma re-ferência da Igreja, no que se refere à evangelização de crianças e jovens pobres, onde quer que eles estejam.” (Emili Turu – SG)

[179]. Precisamos nos indagar com certa regularidade sobre o lugar reservado às crian-ças e jovens em nossas prioridades. Lembremos que eles estão no cerne de nossa missão, são eles os sujeitos para os quais Marcelino Champagnat dedicou toda a sua obra apostólica. Hoje, nosso compromisso com as infâncias e juventudes se

198 - Contribuíram nessa reflexão: Caroline Fagundes (LUMEN), Diogo Galline (Setor de Pastoral), Eduardo de Oliveira Filho (Aliança Saúde), Fernanda Mazzolli (PUCPR – Núcleo de Pastoral), Glaucio Luiz Mota (DEAS), Osmar Rezende (Colégio Maris-ta Glória – SP), Pollyana Nabarro (ABEC¬ – UCE – Marketing) e Renata Alessandra Bueno (FTD).

Província Marista Brasil Centro-Sul 7574 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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-nos a uma constante vigilância para que a vontade de Deus e os sinais dos tempos sejam respondidos de modo adequado, princi-palmente em uma época de mudanças.209

[186]. Ouse saber!210 Encontramos nessa expressão um ponto de partida para pensar nossos jovens, pois a ousadia e a vontade de conhecer parecem ser qualidades próprias das juventudes, que se expressam no desejo de liberdade, customização, ceticismo, colaboração, inovação e velocidade211. Um grande desafio das institui-ções que lidam com jovens refere-se à incapacidade de acolher, entender e inte-grar as novidades que as juventudes apresentam. Afinal, novidade é o atributo que melhor os definem enquanto sujeitos cuja busca é entender a si, pertencer a um grupo (identidade), mudar o mundo, dar sentido para a vida e ser feliz.

[187]. Nossa sociedade, cada vez mais urbana e globalizada, assim como tem padroni-zado processos produtivos e econômicos, tem buscado desenvolver um discurso homogeneizador para definir a infância e a juventude. Há sempre o risco de que comportamentos artificializados, mitos e preconceitos sejam absorvidos por nós como modelos legítimos para ambas, por parecerem cientificamente plausíveis ou de apelo midiático.

[188]. Nesse sentido, o documento Evangelizadores entre os jovens alerta:

É difícil, para nós, conceituar a juventude, pois é impossível abranger as diversas situações que os jovens vivem, dependendo de suas raízes e origens étnicas, das influências culturais de seus meios ou das diferentes condições políticas, sociais e econômicas. Os jovens não constituem uma categoria homogênea.212

[189]. Um possível risco de desencontro ocorre quando nos aproximamos dos jovens a partir de ideologias prontas. Portanto, acolhemos a contribuição dos discursos que categorizam as gerações de maneira equilibrada, com entusiasmo e modera-ção. Assim, entender a dinâmica geracional e intergeracional é fundamental na aproximação com as juventudes. Por outro lado, leva-se em conta que existem anseios inerentes ao ser humano que extrapolam a historicidade das gerações.

209 - CNBB. Evangelização da juventude, n. 4.

210 - O filósofo Immanuel Kant na reflexão intitulada O que é o esclarecimento? propõe-nos um lema instigante: sapere aude! (ouse saber!).

211 - TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital, p. 91-119.

212 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 13.

[183]. Reconhecemos que existem muitos abismos estruturais que colocam as juventu-des em mundos antagônicos. Se observarmos com atenção nossos espaços de atu-ação, veremos jovens em condições economicamente favoráveis, que vão poster-gar seus compromissos adultos (independência econômica, trabalho, casamento e outros) para depois dos 30 anos; enquanto outros, ainda na infância, já precisam trabalhar ou encontrar meios próprios de sobrevivência, abreviando essa fase tão salutar para o desenvolvimento corpóreo, cognitivo e afetivo. A criança e o jovem pobre não dispõem do mesmo tempo e das oportunidades de que dispõem os jo-vens das classes economicamente privilegiadas. Essa falta de equidade é conside-rada uma das principais causas do empobrecimento. Portanto,

Seguindo Jesus e vivendo a missão, somos inspirados pela paixão e pelo estilo prático de Marcelino. Com um coração dedicado às crianças e aos jovens pobres, os apóstolos Maristas procuram dar respostas concretas à dolorosa condição em que essas crianças e jovens vivem.204

[184]. Num mundo fragmentado e com forte tendência ao individualismo, somos todos desafiados a formar “[...] pessoas integradas e de esperança, com profundo senso de responsabilidade social”205. Como bem orienta o XXI Capítulo Geral, devemos ser “uma presença fortemente significativa entre as crianças e jovens pobres”206, uma vez que, somos para elas muitas vezes o único sinal de esperança.

[185]. O documento Evangelização da juventude - Desafios e perspectivas pastorais207, nos apresenta a novidade de considerar o jovem como um lugar teológico na Igreja. “Reconhecendo a juventude como lugar teológico, o nosso amor a ela é gratuito, independente do que possa nos oferecer”208. Portanto, como instituição católica e Marista, queremos também

renovar a opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juventude na busca conjunta de propostas concretas que favoreçam uma ver-dadeira evangelização desta parcela da sociedade. A responsabi-lidade de anunciar Jesus Cristo e seu projeto aos jovens convoca-

204 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da rocha, p. 76.

205 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, p. 39.

206 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 25 e 26.

207 - Documento oficial aprovado na 45º Assembleia Geral da CNBB, em 2007. Refere-se à evangelização da juventude. Ver CNBB. Evangelização da juventude, Doc. 85.

208 - CNBB. Evangelização da Juventude, n. 248

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[193]. Em relação aos espaços ocupados por crianças e jovens, é mister destacar a im-portância que as tecnologias da comunicação assumem na vida desses sujeitos. São ferramentas e espaços que constituem os novos areópagos217 dessa geração. Observamos com entusiasmo a democratização quase universalizada do acesso amplo à informação entre os mais jovens. No entanto, o maior desafio parece ser integrar na informação um processo de educação imbuída de valores.

[194]. No ambiente virtual, transmitir informações significa, com frequência, inseri-las e intercambiá-las em redes sociais, devido à vontade das pessoas em interagir. Elas já estavam interagindo antes das tecnologias digitais por outras vias, nem melhores, nem piores. Ocorre que hoje elas podem fazer isso mais rápido e en-curtando distâncias. Também é necessário avaliar os novos riscos218, advindos da utilização inapropriada dessas novas ferramentas. Esta dinâmica contribuiu para uma nova avaliação do papel da comunicação, considerada primeiramente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações sociais.

[195]. Do ponto de vista evangelizador, justifica-se, portanto, o interesse em reconhecer e problematizar cada vez mais o potencial educativo das tecnologias da comuni-cação. Desconsiderar essa a influência constitui um equívoco histórico e estraté-gico, sobretudo ao se pensar o processo de desenvolvimento integral dos sujeitos. Tal percepção nos convida a aprofundarmos a reflexão sobre o papel do comu-nicador-educador. O conceito educomunicação subentende certa capacidade de intervenção transformadora por intermédio dos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, interessa sabermos até que ponto nós, profissionais da comunica-ção, reconhecemo-nos como agentes provocadores da reflexão dos diversos temas que afetam a vida, tendo em vista a formação do sujeito crítico que almejamos.

[196]. Há uma expectativa institucional em relação aos profissionais da comunicação do Grupo Marista, cuja orientação ética baseia-se no valor da educação como instrumento de emancipação dos sujeitos. Necessitamos de educomunicadores produtores e multiplicadores de conteúdo relevante que gerem impacto positivo, adesão e interação, com consequente aprendizado e respeito interpessoal nas di-ferentes tecnologias da comunicação que dispomos. O grande desafio parece ser o modo como comunicamos os valores cristãos de modo eficiente para nossos interlocutores. Comunicar o Evangelho significa não só inserir conteúdos reli-

217 - Carta do Papa Bento XVI para o 45º dia Mundial das Comunicações. Disponível em:<http://www.vatican.va>.

218 - Pirâmide de segurança digital: O que é uma pirâmide de confiança? Disponível em: <http://www.miudossegurosna.net/artigos/2007-02-27.html>.

[190]. Assim como fez Jesus Cristo ao perguntar aos companheiros de Emaús: “O que é que vocês andam conversando pelo caminho?”213, as instituições devem fazê-lo, num processo dialogal com os jovens, obtendo-se por eles um termômetro da vida e da sociedade. “O percurso que Jesus faz com os dois discípulos, no caminho de Emaús, é um paradigma para a evangelização juvenil hoje”214. O apelo capitular para “olharmos o mundo com os olhos das crianças [e jovens]” propõe que nos despojemos de nossas posições (intelectuais, hierárquicas, ideológicas, etc.) para absorvermos as expectativas que eles têm em relação a nós. Essa parece ser uma importante chave de leitura para compreendermos profundamente quem são os jovens e quais são seus principais anseios. “Conhecer o jovem é condição prévia para evangelizá-los”215 – afirma a Igreja. Do mesmo modo, o documento Evangeli-zadores entre os jovens216 destaca o interesse do Conselho Geral de situar a evangeli-zação dos jovens no coração de nossa prática pastoral e, assim, tornarmo-nos uma referência para a Igreja.

[191]. Devemos estar muito mais atentos às situações reais que afetam a dignidade das juventudes do que aos discursos legitimantes e ideológicos que as enquadram em categorias pré-formatadas. Na perspectiva da “presença significativa entre os jovens”, as juventudes tornam-se objeto de estudo e acompanhamento prático. Precisamos entender melhor os sentidos do que é ser jovem segundo os próprios jovens, para rever muito do que se tem dito sobre eles, colaborando para a supe-ração de todo tipo de preconceitos que se inscrevem na ideia de juventude. Por-tanto, as ações pastorais junto às juventudes precisam considerar quem são esses jovens e qual a melhor forma de aproximar-se deles, agregando os recursos que utilizam, as ideias que os movem.

[192]. Abre-se diante de nós a questão de como nos posicionamos em relação à inclu-são de crianças e jovens nos espaços e fóruns que lhes são de direito, e que dizem respeito à promoção de sua dignidade e desenvolvimento integral da pessoa: citamos o acesso à educação de qualidade, às oportunidades de participação so-cial ampla, à formação para o trabalho, à formação em valores que contribuem na constituição de seu caráter, à saúde, etc., constituindo-se em preocupação de cada um de nós e das autoridades governamentais quanto à definição de políti-cas públicas específicas.

213 - Lucas 24, 17.

214 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 171.

215 - CNBB. Evangelização da juventude, n. 10.

216 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, 2011.

Província Marista Brasil Centro-Sul 7978 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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e) Ajudá-los a crescer na relação consigo, com Deus, com a natureza e com os demais. Educação da fé e do caráter cidadão.

f) Trabalhar mais profundamente a dimensão vocacional e o encontro com Cristo, sobretudo com a PJM.

g) Potencializar a vivência em grupo, como primeiro ambiente eclesial.

h) Estudar sistematicamente os fenômenos que impactam as infâncias e juventudes.

3.8 Valores maristas222

“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais.” (Charles Chaplin)

[200]. A palavra “valor” é adotada de maneira ampla na cultura atual. Ela é facilmente empregada em campos diversificados: filosóficos, sociológicos, econômicos, éti-cos, religiosos, dentre outros. De modo geral, os valores podem ser compreendi-dos como um conjunto de pontos de vista, deveres, julgamentos, preferências e padrões de associação que determinam a visão de mundo de um indivíduo. Sua importância reside no fato de que, uma vez internalizado, torna-se, consciente ou inconscientemente, um padrão ou critério de conduta.

[201]. Muitas instituições que vêm se consolidando na história possuem um conjunto de valores que orientam suas ações, potencializando a realização de sua missão. Desta forma, os valores se fazem presentes no mundo organizacional, com o pro-pósito tanto de servirem como base para a estruturação das formas de atuação e do próprio sistema de gestão, quanto de tornarem o trabalho mais significativo. Espera-se que os mesmos possam ser traduzidos para todos os negócios, setores, processos e, principalmente, para todas as pessoas envolvidas. Entretanto, um valor só ganha, de fato, a vida quando é legitimado socialmente por seus mem-bros, ao perceberem que sua utilização garantirá resultados positivos.

222 - Contribuíram nessa reflexão: Elizabeth Mendes Loureiro (FTD – Desenvolvimento de Pessoas), Eneida Ribas (TECPUC), Ernesto Siena (PUCPR – Núcleo de Pastoral de São José dos Pinhais), Guilherme Lorenzi (Aliança Saúde – Plano de Saúde Ideal), Hélio Amaral (APC – AIDN), José Leão Cunha (Colégio Maristão – DF) e Nanci Alexandra Prochnow (Centro Social de Pouso Redondo – SC).

giosos nas plataformas dos diversos meios, mas também testemunhar com coe-rência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar, escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele. Aliás, em qualquer espaço, não pode haver anúncio de uma mensagem sem um testemunho coerente por parte de quem anuncia.

[197]. Uma comunicação integradora pode favorecer o protagonismo infanto-juvenil, como é forma de posicionamento cristão no mundo. Entre eles, as propostas evangelizadoras mais eficazes parecem ser aquelas com forte “expressão viven-cial”219. Assim, a PMBCS fortalece a construção das Orientações da Ação Pastoral na Educação Infantil e a Pastoral Juvenil Marista com o objetivo de estabelecer um processo de formação integral de crianças e jovens.

[198]. “A PJM é um meio privilegiado para essa evangelização, embora, seguramente, não seja o único meio”220. Além da PJM, outras iniciativas de promoção e evange-lização juvenil são apoiadas e incentivadas pela PMBCS, segundo as necessida-des específicas de cada realidade.

[199]. “O que os jovens esperam de nós?”221. Essa pergunta nos leva a refletir sobre o que as crianças e jovens esperam de nós, a partir do trabalho realizado pela PMBCS. Assim, elegemos alguns apelos que nos parecem ir ao encontro de seus anseios:

a) Receptividade em relação às propostas e anseios das infâncias e juven-tudes: escuta sensível e canais de participação.

b) Acompanhá-los em seu caminho e em suas escolhas vocacionais, ge-rando oportunidades para que possam vislumbrar um futuro além das próprias fronteiras.

c) Promover trabalhos voluntários na comunidade local, favorecendo o en-contro grupal e a solidariedade. Formar jovens com ardor missionário.

d) Ocupar os espaços de definição de políticas públicas para as infâncias e juventudes, tendo em vista um mundo mais justo e ético.

219 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 23.

220 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, p. 11.

221 - Cf. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Evangelizadores entre os jovens, n. 43.

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DirecionamentosPastorais

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[202]. As instituições visionárias que se perpetuaram na história foram capazes de realizar permanentemente um duplo dinamismo: de um lado, possuírem um conjunto cla-ro de missão e valores e a eles foram fiéis; do outro, conseguiram concretizar esses mesmos ideais em ações inovadoras, eficientes e eficazes aos desafios de cada época.

[203]. A missão de uma Instituição anuncia seus valores. A partir do momento que os va-lores se apresentam como base para o modo de conhecer e manusear conhecimento, aumentam as chances de que os processos e atos sejam autênticos e convincentes. Quando isso ocorre, é possível observar a intenção que conecta as decisões e as pes-soas. É à percepção clara dessa conexão que chamamos de equilíbrio e coerência entre teoria e prática. Noutras palavras, a missão vai realizando-se e renovando-se.

[204]. Em nossa Instituição, existe um estilo de condução dos processos variados ba-seada em valores próprios do Evangelho e do carisma marista, herdado de São Marcelino Champagnat e dos primeiros Irmãos. Consiste na preservação do nú-cleo referencial dos valores que é, ao mesmo tempo, estímulo ao autodesenvolvi-mento e ao alto desempenho organizacional. É missão de cada um de nós sermos, para o mundo, o testemunho vivo do Evangelho em tudo o que realizarmos.

[205]. Muitos são os valores que emergem da missão e identidade cristã e marista. Eles são descobertos no dia a dia de cada um de nós, em meio aos desafios e às ativida-des. Como Organização, na dimensão corporativa – depois de um grande proces-so participativo e reflexivo, com o envolvimento dos irmãos e de representantes de todas as frentes apostólicas –, a PMBCS optou por tornar evidente seis valores que nos são referenciais. São um recorte dos inúmeros valores possíveis que fa-zem parte do Evangelho e da vida marista. Acreditamos que, ao focar esse núcleo valorativo possamos desenvolver de forma mais eficaz nossas ações cotidianas: Simplicidade; Amor ao Trabalho; Justiça; Espiritualidade; Espírito de Família (Sensi-bilidade Comunitária); e Presença Significativa.

[206]. Os valores são complementares e interdependentes entre si, e iluminando as escolhas em saberes, comunicam nossas crenças. A intenção maior consiste em possibilitar o desenvolvimento e o cultivo de uma cultura organizacional marista forte, fiel às origens e condizente com o caráter visionário, empreendedor e trans-formador do próprio fundador. Empreender em estilo marista é dar testemunho profético ao mundo: é possível empreender com sucesso negócios iluminados por princípios oriundos do Evangelho. Cremos ser possível organizar negócios que se tornem sustentáveis, onde as pessoas se realizem no presente e vislumbrem futuro não apenas do ponto de vista material, como também, e principalmente, espiritual. Buscamos, antes de tudo, impactar positivamente o público final de nossas iniciativas, colaborando para que todos sejam protagonistas na constru-ção de uma sociedade mais humana, justa, ética e solidária.

Província Marista Brasil Centro-Sul 8382 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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[208]. Os Direcionamentos transversais referem-se a orientações pastorais válidas para todas as frentes apostólicas, independendo a especificidade:

a) Centralidade em Jesus Cristo, expressão máxima da pessoa inteira e inte-grada.

b) Apropriação e disseminação do legado de Marcelino Champagnat, por meio da espiritualidade mariana e vivência dos valores institucionais.

c) Ação evangelizadora assumida como finalidade primeira de todas as frentes apostólicas que compõem a PMBCS.

d) Evangelização e sua organização pastoral assumidas como processos que perpassam todas as estruturas da organização, e assumidas como res-ponsabilidade de todos.

e) Todas as Frentes Apostólicas (Negócios) são campos de evangelização e vetores de multiplicação da missão marista.

f ) Inculturação do Evangelho de acordo com a identidade, linguagem e mis-são de cada frente apostólica, a partir das potencialidades e necessidades de seus interlocutores.

g) Desenvolvimento contínuo de pessoas, em todos os níveis hierárquicos, para atuação com visão e competência evangelizadora.

h) Investimento financeiro parametrizado em processos evangelizadores.

i) Comunhão com a Igreja e articulação com organismos e redes eclesiais nos níveis local, nacional e internacional.

j) Comunhão e sinergia com as diversas instâncias institucionais (Casa Ge-ral; Secretariado de Missão; União Marista do Brasil; Setores Provinciais, Mantenedoras e Negócios).

k) Foco preferencial na evangelização e promoção das infâncias, adolescên-cias e juventudes.

4.2 Direcionamentos Transversais4.1 Objetivos De Animação Pastoral Do Conselho Geral223

[207]. O Conselho Geral, no que se refere à atuação pastoral, guiar-se-á nos próximos anos segundo os seguintes objetivos:

a) Favorecer o desenvolvimento do “rosto mariano” da Igreja para que esta se faça mais próxima dos jovens e das necessidades do mundo de hoje.

b) Promover no Instituto um estilo de liderança participativa, de maneira que cada membro possa melhor exercer a autoridade que lhe compete, a serviço da missão do Instituto.

c) Acompanhar o discernimento nas Unidades Administrativas e nas regi-ões com vistas a descobrir o alcance do “ir para uma nova terra” em seu próprio contexto.

d) Favorecer aos Irmãos o reencontro e encanto com a própria vocação, a fim de vivê-la e testemunhá-la com radicalidade, abertura e alegria na Igreja e no mundo de hoje.

e) Suscitar e/ou acompanhar novas formas de viver o carisma marista, tan-to entre Irmãos quanto entre os Leigos e promover o desenvolvimento da vocação do Leigo Marista, construindo uma nova relação que nos enriqueça mutuamente e reconheça a fecundidade atual da herança de Champagnat.

f ) Continuar desenvolvendo a missão marista, como parte de nossa iden-tidade e alimento de nossa espiritualidade, especialmente em três dos aspectos destacados pelo Capítulo Geral: maior proximidade às crianças e jovens pobres; a evangelização; e a defesa dos direitos das crianças e jovens.

g) Promover maior compreensão e apreço da internacionalidade e multi-culturalidade, vivendo a globalização de maneira alternativa, e favore-cendo uma maior disponibilidade missionária para responder à novas necessidades.

h) E, finalmente, dar continuidade à promoção e aplicação do “Uso evan-gélico dos bens” e ao exercício da solidariedade em todos os níveis do Instituto.

223 - Disponível no site oficial do Instituto marista: <http://www.champagnat.org/pt/610.php?caso=view_1909&num=1775>.

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tabelecido em nossa Província, cabe a atribuição de tornar esses direcionamentos presentes na cultura organizacional, nos processos e operações já estabelecidos, e a implantação de novas iniciativas, quando necessárias.

4.3.1 ÁREA CORPORAtIVA

[214]. As áreas corporativas das mantenedoras APC, ABEC-UCE e FTD cumprem seus objetivos de apoiar, orientar e controlar os Negócios a elas ligados, alicerçados nos princípios que fundamentam a missão marista.

[215]. Desta forma, inspiradas nos ideais da educação marista e nos valores institucio-nais, empenham-se por atingir a excelência técnica, profissional e humana, com caráter pastoral em todas as suas ações e processos por meio de alguns posicio-namentos organizacionais:

Área Corporativa alicerçada nos valores institucionais

[216]. Os valores institucionais – justiça, sensibilidade comunitária, presença significa-tiva, amor ao trabalho, espiritualidade e simplicidade227 – são difundidos entre os colaboradores da Instituição e traduzidos em suas ações cotidianas.

[217]. Além disso, aqueles que recebem o cargo de gestão empenham-se por incorpo-rar em suas práticas o estilo marista próprio de administrar, com força e ter-nura. Sem prescindir da competência técnica, e exercendo a sua função com profissionalismo, cabe a estes alinhar as dimensões técnicas e profissionais à missão e valores institucionais e oportunizar às suas equipes de trabalho con-dições de engajamento.

Políticas e processos organizacionais alinhados aos valores institucionais

[218]. Ao lado do potencial humano, técnico e profissional dos colaboradores e gesto-

227 - Os valores aqui apresentados foram escolhidos por um grupo de trabalho aprovado pelo Conselho Provincial e com-posto por colaboradores das áreas de RH das mantenedoras ABEC-UCE, APC e FTD, do Setor de Pastoral e por alguns Irmãos Maristas dos Setores Provinciais. A partir do estudo detalhado de fontes maristas, o referido grupo providenciou a concei-tuação de cada um dos valores e a tradução dos mesmos em comportamentos mensuráveis, preocupando-se em utilizar uma linguagem apropriada para a área corporativa. A finalidade maior desse trabalho consiste em orientar os colaborado-res de nossas Mantenedoras e Negócios no exercício de nossa missão marista de servir às crianças e jovens, ajudando-os a enriquecer o significado de suas ações. Aos gestores maiores de nossa Instituição cabe a responsabilidade de difundir esses valores na corporação, tornando-os pertinentes ao cotidiano, sobretudo por meio dos processos de gestão de RH.

4.3 Direcionamentos Pastorais Para As Frentes Apostólicas

[209]. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja nos exorta a que, em todo trabalho evan-gelizador, estejamos sempre atentos aos “sinais dos tempos”, pois “é necessário conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole”224.

[210]. O Instituto Marista, fiel ao Evangelho, à Igreja e ao legado de seu fundador, Mar-celino Champagnat, reconhece-se vocacionado a ler os sinais dos tempos e bus-car, com audácia, empreendedorismo e vitalidade, sempre novos métodos para tornar Jesus Cristo conhecido, amado e seguido. O XXI Capítulo Geral nos exor-ta: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”; e isso nos faz olhar para nossas estruturas como meios dinâmicos e potenciais que primam pela excelên-cia administrativa, educacional, social e pastoral com a finalidade de garantir a vitalidade e viabilidade da missão marista.

[211]. Nesse contexto, nossos “espaços”225 são concebidos como “campos de aplicação e vetores de multiplicação do carisma marista”. São meios nos quais a identidade institucional é vivenciada e pelos quais chegamos com maior eficiência às crian-ças e aos jovens com a finalidade de ajudá-los a serem pessoas plenas em todas as suas dimensões – psíquica, física, social e espiritual. Por isso mesmo, acredita-mos que a dinâmica evangélico-pastoral perpassa todas as nossas instâncias, dá significado aos processos desenvolvidos e é responsabilidade de todos.

[212]. Considerando esses pressupostos, o Setor Provincial de Pastoral, sensível ao sopro do Espírito226 e com a responsabilidade de zelar e dinamizar o processo evangelizador na Província Marista do Brasil Centro-Sul, propôs a atualização da ação pastoral em nossos espaços de forma corresponsável, organizada, sis-temática e orgânica e, ao mesmo tempo, dinâmica, criativa e inovadora. Assim, apresenta o horizonte pastoral para as iniciativas das mantenedoras.

[213]. Trata-se de direcionamentos que devem iluminar ações e dinamizar os esforços, bem como servir de base para as necessárias elaborações ou atualizações dos planejamentos dos negócios e áreas corporativas das mantenedoras e dos planos específicos de pastoral. Aos responsáveis maiores, conforme o fluxo de gestão es-

224 - PAULO VI. Gaudium et Spes, n. 4.

225 - Mantenedoras – Área Corporativa, Negócios e Unidades.

226 - “O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João 3, 8).

Província Marista Brasil Centro-Sul 8988 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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Processos organizacionais alinhados aos valores institucionais

[221]. Rigor absoluto à ética e à adequação permanente da evolução do marco legal e normativo, desempenhando seus processos produtivos de forma eficiente, por meio de pessoas competentes, comprometidas, empreendedoras. Agilidade, fle-xibilidade, adaptabilidade, permeabilidade e sintonia com a sociedade, visando entrega de produtos e serviços inovadores desenvolvidos para satisfazer suas ne-cessidades e expectativas alinhadas à identidade e aos valores maristas.

Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual

[222]. Como prestadora de serviços, produtora e fornecedora de produtos para a socie-dade, atendendo às comunidades interna e externa à organização, a área de Ne-gócios Suplementares deve buscar a vocação e a oportunidade de atingir escala comercial, visando sustentabilidade e viabilidade econômica de cada infraestru-tura já existente ou, quando convir, propor a agregação de novas estruturas para atender novas demandas.

[223]. Os valores cristãos e maristas devem ser explicitados: no relacionamento com o cliente, oferecendo-lhe atendimento individual e respeitoso; na relação com os alunos, contribuindo na realização de seus objetivos pessoais, oferecendo cursos preparatórios, áreas de estágio e materiais didáticos modernos e com qualidade; quer promovendo a contextualização do ensino, da pesquisa e da extensão em sin-tonia com os avanços tecnológicos das ciências; quer como pessoas que necessi-tam de recuperação de documentos e informações armazenados em bases confiá-veis; como também por meio de venda de produtos de forma sustentável e justa.

Produtos e serviços específicos para a evangelização dos colaboradores

[224]. Fazer com que o trabalho seja produtivo e o trabalhador possa se realizar como pessoa, alinhado ao compromisso social, fortalecendo valores pessoais e desen-volvendo habilidades e mecanismos de comunicação e relacionamento com as diversas áreas e Unidades da Instituição, com conhecimento da dinâmica e opor-tunidades do ambiente de negócios sempre atualizados.

[225]. Desenvolver a cultura da solidariedade, fazendo com que os benefícios conquis-tados pelos negócios sejam revertidos para a consecução da missão. Criar siner-gia com os setores, buscando desenvolver ações conjuntas que possam apoiar o desenvolvimento de ações sociais, de educação formal, saúde e comunicação.

res, todos os processos de Gestão de RH – “atração, retenção, desenvolvimento, avaliação, motivação e rescisão”228 – devem estar permanentemente alinhados aos valores institucionais.

Identidade marista como fonte de sinergia e qualificação da cultura organizacional

[219]. Todo empenho por alinhar o trabalho cotidiano à missão marista é refletido na cultura e clima organizacionais. Neste âmbito, a vivência do carisma herdado de Champagnat exige de todos a sensibilidade comunitária, que pode ser permanen-temente dinamizada por momentos significativos de convivência e celebração da vida229. Essa postura intensifica a sinergia entre as diversas áreas e enriquece o sentido das relações humanas. A organização há que ser atrativa aos colabora-dores, bem como cada colaborador evidenciar os valores institucionais como um diferencial da Instituição para que seja atrativo à organização.

4.3.2 NEGóCIOS SuPLEmENtARES

[220]. A área de Negócios Suplementares tem por missão colaborar para a sustentabi-lidade, melhoria dos processos educacionais e expansão da Instituição, por meio da disponibilização de infraestrutura de excelência e da viabilização de modelos inovadores de negócio. Partindo da identidade institucional, deve alinhar-se ao Plano Estratégico dos Negócios das mantenedoras APC, ABEC e UCE, utilizan-do prioridades baseadas no âmbito da cultura organizacional, que são:

228 - Esses processos podem ter os seguintes detalhamentos: Admissão de colaboradores/Atração: Solicitação de pes-soal, Acompanhamento de processos estratégicos. Manutenção dos colaboradores/Retenção: Avaliação de desempenho, Programa Trainee, Avaliação de Potencial, Movimentação Interna, Benefício, Clima Organizacional, Indicadores da DRH, Planejamento Pessoal, Minimizar riscos trabalhistas, Advertência e Suspensão. Desenvolvimento dos colaboradores/Trei-namento: Gestão por competência, Transição por liderança, LNT – Avaliação de desempenho, Coaching, Desenvolvimento de equipe, Planejamento e Sucessão. Reconhecimento/Motivação: Políticas de Graduação e Pós, Meritocracia, Programa de valorização de Funcionários, Gestão Social Corporativa. Rescisão: Programa de Preparação e aposentadoria, Entrevista de desligamento, Relatórios estatísticos de desligamento.

229 - Os momentos celebrativos aqui referidos compreendem: a) Pequenas comemorações no cotidiano dos colaborado-res: por ocasião de aniversários, maternidades e ou paternidades, premiações ou conquistas de pessoas ou grupos, etc. b) Comemorações de datas significativas para o Instituto Marista: Dia do Marista, Dia de Champagnat, ou por orientações dos Conselhos Gerais e ou Provincial, conforme momentos próprios da caminhada marista. c) Comemorações significativas para nossos âmbitos de atuação: Dia do Professor, Dia do Médico, Dia do Estudante, Dia do Comunicador, etc. d) Come-morações significativas para a família humana em geral: Dia do Pais, Dias das Mães, Dia Internacional da Mulher, etc. e) Celebrações do Ano Litúrgico da Igreja: Páscoa, Natal, Assunção de Nossa Senhora, etc.

Província Marista Brasil Centro-Sul 9190 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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para ser comunidade pressupõe que o trabalhador não deva ser concebido como um passivo executor de tarefas ou vil instrumento para o lucro234. Deste modo, favorece-mos o entendimento daquilo que seria uma autêntica “cultura do trabalho”235, fator que ajuda os trabalhadores a se desenvolverem de modo plenamente humano, seja coletivamente no mundo do trabalho ou em sua atividade profissional individual.

Desenvolvimento integral do sujeito

[230]. Embora enfatize um conjunto de competências específicas o exercício da profissão escolhida, a educação integral para o trabalho visa a formação do sujeito em sua totalidade. Isso consiste, por um lado, em ensinar-lhe objetivamente o ofício, as tec-nologias, as habilidades e competências necessárias para o eficiente desempenho da função. Por outro lado, cabe também conscientizá-lo do valor das subvenções sociais; das responsabilidades profissionais amplas; da ética profissional (deontolo-gia), social e ecológica; dos valores religiosos universais; do caráter moral e da busca pela justiça. Educar para o trabalho, nesse sentido, significa oferecer muito mais do que os conhecimentos técnicos inerentes à tarefa produtiva: significa educar o indi-víduo trabalhador na sua integralidade, sobretudo no reconhecimento da própria dignidade, dos direitos humanos e das habilidades sociais que constituirão o seu diferencial, tanto no campo das relações humanas como no mundo do trabalho.

Pastoral transversal, integrada aos processos da Educação Profissional

[231]. A pastoral, entendida como “ação evangelizadora”, é mais que o Núcleo de Pas-toral do Centro de Educação Profissional TECPUC. A pastoral busca integrar-se transversalmente aos processos pedagógicos, administrativos e de gestão, carac-terizando uma “escola em pastoral”236, na qual todos se sentem corresponsáveis em evangelizar. A pastoral tem reflexos na tradução dos valores cristãos e insti-tucionais para a comunidade educativa.

234 - Cf. LEÃO XIII. Rerum Novarum, n. 13.

235 - Cf. JOÃO PAULO II. Centesimus Annus, n. 15.

236 - O desafio pastoral da escola católica consiste em compreender-se na complexidade de seu conjunto: ela é um corpo com diferentes órgãos que, embora cada qual tenha diferentes funções, harmonizam-se em função dos mesmos objeti-vos. Assim deve ser a sua organicidade pastoral. “A Escola católica existe para evangelizar. Como instância avançada da Igreja no campo da cultura, no mundo da educação, e sem em nada diminuir a sua função humanizadora [...] a escola cató-lica é a própria Igreja em Estado de missão, sinal de presença de Deus no amadurecimento humano” (PANINI, Joaquim. Ca-dernos da AEC do Brasil, n. 67, p. 21). Para maiores referências, ver PANINI; CUNHA, 1999, n. 65.; PANINI. A pastoral da escola católica, n. 69. Ver também “Universidade em pastoral” em Carta de Betânia: uma Universidade Católica em ‘pastoral´. In CNBB, 1988,p. 333-335 (Documento conclusivo do I Encontro nacional dos Grupos de PU das IESCs, realizado em Campinas, na Casa Betânia Franciscana, de 6 a 10/09/ 1987).

4.3.3 EDuCAçãO PROFISSIONAL

[226]. A área da Educação Profissional na PMBCS é representada pelo Centro de Edu-cação Profissional TECPUC, sendo gradativamente ampliada para as unidades educacionais da ABEC-UCE. Assim, somos desafiados a integrar a excelência educacional com missão institucional. Ao final de uma trajetória de estudos, al-mejamos que os alunos egressos da Educação Profissional tenham desenvolvido seu juízo crítico, tenham compreendido os valores humanos integrados aos con-teúdos que estudam230 e sejam reconhecidos como profissionais diferenciados.

[227]. Atendendo a esta demanda importante e crescente, a PMBCS vem ampliando suas estruturas físicas, de atendimento à comunidade, à formação continuada dos professores e educadores para consolidar os processos educacionais nesta modalidade de ensino.

[228]. Compreendemos a Educação Profissional como uma oportunidade ímpar para o aperfeiçoamento da integralidade do ser humano e da sensibilização para relações sociais mais abrangentes e solidárias. Formamos, portanto, cidadãos éticos e de esperança, encorajando-os no esforço de superação pessoal e para serem protago-nistas no progresso231 da sociedade. Fiéis à missão evangelizadora marista, conce-bemos a Educação Profissional como “educação integral com ênfase no trabalho”.

Educação para a “cultura do trabalho”

[229]. Os ambientes que educam para o trabalho são espaços privilegiados de relaciona-mento, desenvolvimento humano e conscientização social. Conforme assevera a Mater et magistra232, cabe também à empresa esforçar-se para ser comunidade nas suas relações, funções e situações. Tal perspectiva se torna mais evidente na medida em que houver o empenho conjunto das pessoas233 que convivem nesses espaços de trabalho – não importando, nesse caso, distinguir os níveis hierárquicos dos sujei-tos que trabalham – pela busca da justiça, da caridade e do bem comum. Educar

230 - Cf. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, n. 135-136.

231 - “Paulo VI tinha uma visão articulada do desenvolvimento. Com o termo “desenvolvimento”, queria indicar, antes de mais nada, o objetivo de fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças endêmicas e do analfabetismo. Isto significa, do ponto de vista econômico, a sua participação ativa e em condições de igualdade no processo econômico internacional; do ponto de vista social, a sua evolução para sociedades instruídas e solidárias; do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de assegurar a liberdade e a paz.” (Cf. BENTO XVI. Caritas in veritate, n. 21)

232 - JOÃO XXIII. Mater et magistra, n. 53.

233 - Desse modo, evidenciamos a necessidade de uma educação que favoreça relações coerentes entre empresários e/ou dirigentes, por um lado, e trabalhadores, por outro. Relações mediadas pela ética, pelo respeito, pela estima, pela com-preensão, pela solidariedade e apreço pelo bem comum.

Província Marista Brasil Centro-Sul 9392 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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Maria – sua inspiração educativa –, está convicta de que devemos “[...] ver o mun-do com os olhos das crianças e jovens pobres e assim mudar nossos corações e atitudes [...]”244, consolidando nossa missão educativa e a comunhão com a Igreja, frente aos desafios da contemporaneidade. Para referendar essa proposta temos como base os referenciais dos direitos humanos, eclesiais e das políticas nacio-nais245, pautando-os à luz da Palavra de Deus.

[235]. A realização da missão marista requer empenho dos educadores em oferecer uma educação integral e promover a justiça social246. Efetivamos a missão, a partir do exemplo de Champagnat, tornando Jesus Cristo conhecido e amado247, por meio da formação contínua de nossos educadores e do desenvolvimento apostólico da Identidade Marista nas Unidades Sociais. Sendo assim, sinalizamos os seguintes Direcionamentos Pastorais:

Processo educativo-evangelizador visando o protagonismo socio-político-eclesial

[236]. A ação pastoral empenha-se na educação para a solidariedade, apresentando-a como a virtude cristã dos nossos tempos, um imperativo ético para toda a hu-manidade.248 Para isso, a pastoral suscita a formação de novas lideranças cristãs, favorecendo o protagonismo sociopolítico-eclesial, por meio das ações pastorais da Igreja, da incidência política em espaços de promoção e defesa de direitos, e o exercício da cidadania, para educandos, educadores e comunidade. “Desta for-ma, respaldados e apoiados, eles poderão erguer a voz, mobilizar as forças e lutar pelo sagrado direito de viver com dignidade e esperança.”249 Neste sentido, bus-camos integrar fé e política250 como dimensões essenciais da evangelização.

244 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 25.

245 - Referenciais: A Declaração Universal de 1948, a Declaração dos Direitos da Criança de 1959, a Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, a Convenção Ibero-Americana sobre os Direitos da Juventude de 2005 e a Carta da Terra. A Doutrina Social da Igreja é assumida como um dos principais referenciais teóricos da ação social para a Rede Marista de Solidariedade, pois compreende documentos que posicionam a igreja na perspectiva evangelizadora, missionária, ecu-mênica e sociotransformadora. A Consituição Federal e o o Estatuto da Criança e do Adolescente preconizam a “Doutrina da Proteção Integral” ao reconhecer toda criança e adolescente como sujeito de direitos e em situação peculiar de de-senvolvimento.

246 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, n. 204.

247 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, n. 69.

248 - JOÃO PAULO II. Sollicitudo rei socialis. Apud INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, n. 153.

249 - CNBB. Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome, p. 18.

250 - CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, n. 115 e 201.

4.3.4 uNIDADES SOCIAIS DA REDE mARIStA DE SOLIDARIEDADE237

[232]. Para responder concretamente às principais necessidades das crianças e dos jo-vens, nas suas mais variadas realidades sociais, “a Educação Marista ultrapas-sou as fronteiras da educação escolar formal, concretizando-se em outras obras, estruturas e ações educacionais de natureza pastoral e social”238 . Dessa forma, renovamos nossa opção pela educação solidária e pela ação pastoral e social emancipatória, tendo as Unidades Sociais239 como um dos principais lugares para efetivar tal intencionalidade.

[233]. As Unidades Sociais da Rede Marista de Solidariedade são lugares autênticos de expressão da missão e da vivência da Espiritualidade Cristã240, sendo conside-radas espaçotempos241 do carisma marista, pois são iniciativas que evidenciam a opção originária do Instituto em evangelizar crianças e jovens, sobretudo os que estão em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Nestas Unidades, a ação pastoral é um processo efetivo que integra a proposta socioeducativa242, empode-rando243 seus envolvidos para o senso crítico propositivo, para o protagonismo e para a participação, na perspectiva socioambiental e política.

[234]. A Educação à solidariedade promovida pelas Unidades Sociais, além de apre-sentar uma irrestrita identidade com o legado de Champagnat e com o estilo de

237 - A Rede Marista de Solidariedade tem foco de atuação: I) na promoção dos direitos das crianças e dos jovens: refere--se ao atendimento direto, com qualidade e continuado; II) na defesa dos direitos das crianças e dos jovens: acontece no âmbito da articulação em rede, com outros atores e organizações sociais, na participação e representação em espaços de formulação e controle de políticas públicas; III) na educação à solidariedade: consiste em desenvolver projetos volta-dos para os públicos internos, sejam colaboradores e aqueles que utilizam nossos serviços, com o intuito de promover o compromisso com os pobres, aproveitando os diversos espaços educativos existentes nas múltiplas Frentes Apostólicas do Grupo Marista.

238 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, p. 14.

239 - Centros Sociais e ProAção (ABEC-UCE / APC) integram a Rede Marista de Solidariedade e desenvolvem projetos de educação básica e assistência social a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e social. O Centro Marista de Defesa da Criança (APC) atua na defesa dos direitos de crianças e jovens no desenvolvimento de projetos que analisam a situação das infâncias e juventudes no país, na articulação em rede e na representação em espaços de controle e for-mulação de políticas públicas.

240 - A Espiritualidade Cristã é fonte geradora de esperança para transformar a sociedade à luz da Palavra de Deus.

241 - UMBRASIL. Projeto educativo do Brasil marista, p. 53.

242 - Ação fundamentada em pesquisas teóricas e na investigação prática, por meio da formação continuada dos educa-dores, a partir da construção coletiva de saberes e fazeres da ação social em desenvolvimento (PMBCS. Projeto marista para o ofício de aluno, p. 7).

243 - Da expressão empowerment, utilizada em escritos de Paulo Freire, como um processo de ação social em que indivídu-os tomam posse de poder gerando consciência crítica e ações efetivas que transformam a sociedade.

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formação, ambientes de valorização e rotinas que promovam um comporta-mento que traduza os valores no cotidiano.

Atendimento multiprofissional e humanizado ao paciente

[242]. Compreendendo o ser humano como multidimensional (bio-psico-sócio-espiri-tual), afirmamos que o atendimento humanizado ao paciente é a razão de todos os nossos processos. Para que ele possa caracterizar-se como tal é necessário que a abordagem multiprofissional seja efetiva e eficaz. Portanto, a constituição de equipes e protocolos multiprofissionais é fundamental.

Abordagem educativo-humanizadora (bioética e humanização)

[243]. Possuindo em nossa Organização Unidades Hospitalares Universitárias, é nos-sa missão desenvolver uma atividade educativo-humanizadora com os médicos residentes e corpo clínico. Estes também são sujeitos importantes do jeito pró-prio de cuidar que constitui o nosso diferencial. Para tanto, é indispensável o ali-nhamento aos valores institucionais, a criação de espaços de debate de temas do âmbito da bioética e da humanização, a fim de gerar uma reflexão comum. Neste processo, a partir de seus profissionais, a Aliança Saúde busca expressão signi-ficativa junto à sociedade adequando-se aos documentos da Política Nacional de Humanização, bem como às orientações do MS, SESA e do SMS; e tornando-se proativa em processos educacionais.

Educação para prevenção e promoção à saúde

[244]. Iluminados pelo legado de Marcelino Champagnat, somos impelidos a desempe-nhar um serviço de prevenção em saúde junto à sociedade, com caráter educati-vo. Quando os conhecimentos construídos por nossos profissionais da saúde são partilhados com a população, sobretudo com as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade, além de ser um serviço de prevenção em saúde, é promoção da cidadania.

Eclesialidade

[245]. Como parte do Instituto Marista, a Aliança Saúde está em comunhão com a Igreja e a ajuda, por meio da difusão da saúde, no processo de edificação do Rei-no de Deus. Para isto, em todas as suas unidades promove espaços de vivência espiritual e religiosa, como também precisa atuar em níveis eclesiásticos local, regional e nacional.

Pastoral transversal, integrada a todos os processos das unidades Sociais

[237]. A ação pastoral deve integrar transversalmente todos os processos da unidade social, configurando um ambiente no qual todos os educadores se sentem corres-ponsáveis pela evangelização. Sinalizamos a importância da organicidade pastoral nos projetos socioeducativos, na acolhida, no diálogo ecumênico e inter-religioso, no uso evangélico dos bens e na reflexão dos demais valores humano-cristãos, aju-dando a comunidade educativa a conviver com base no amor e na justiça.

Promoção e defesa da vida na perspectiva do direito

[238]. A ação profética na promoção e na defesa dos direitos das infâncias e das juventu-des contribui na edificação do Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo. Na Rede Marista de Solidariedade a ação profética se materializa no atendimento de quali-dade nos projetos socioeducativos. A defesa dos direitos das crianças e dos jovens acontece por meio da denúncia diante das violações dos direitos, na articulação em rede e na representatividade nos espaços de formulação de políticas públicas.

4.3.5 ÁREA DA SAúDE

[239]. Os hospitais que compõem a Aliança Saúde, por sua identidade cristã, católica e marista, dedicam-se à promoção da vida humana, por meio do serviço da saúde, com caráter educativo. A harmonia entre os conhecimentos produzidos, as tec-nologias disponíveis, o potencial humano e profissional e a espiritualidade insti-tucional é a fonte de vitalidade e o diferencial de nossas ações.

[240]. Desta forma, em todos os processos que dinamizam a Aliança Saúde, do ponto de vista pastoral, alguns posicionamentos são permanentemente implementados:

Valores institucionais assumidos transversalmente como fonte de vitalidade

[241]. A transversalidade da ação evangelizadora do Instituto exige que nossas lide-ranças exerçam suas funções a partir de valores éticos, cristãos e maristas. Isto é necessário para que o processo de gestão das relações, processos e procedi-mentos sejam permeados pelo caráter humanizador dos valores institucionais. Encontramos nas pessoas do Pe. Champagnat e do Ir. Francisco modelos de inspiração. Além das lideranças é necessário que todos os colaboradores que atuam na área da saúde fundamentem suas relações, processos e procedimen-tos nos valores institucionais. Para tanto é imprescindível a criação espaços de

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sociedade. Desta forma, sob a inspiração do legado de Marcelino Champagnat, elas garantem espaços de reflexão, debate, intercâmbios de experiências, partici-pação e protagonismo social, com a finalidade de gerar lideranças jovens criati-vas, empreendedoras, com consciência cristã solidária, sensibilidade ecológica e comprometimento sociotransformador.

Extensão do conhecimento – além-fronteiras

[251]. A comunidade acadêmica se dedica à busca da verdade e está comprometida com a justiça. A diversidade dos saberes constitui-se em um grande dom que, profeti-camente, está a serviço da dignidade do ser humano e da sua libertação integral. Por isso, estende os conhecimentos produzidos em seu seio à sociedade e à Igre-ja, por meio de eventos formativos251, projetos socioeducativos emancipatórios e missões “além-fronteira”252.

Comunhão eclesial

[252]. As IES maristas estão em comunhão com a Igreja local, contam com o serviço eclesial oferecido pela Paróquia Universitária Jesus Mestre, no caso da PUCPR, em Curitiba; e com as parcerias diversas realizadas com as arqui/dioceses, nos demais campi, bem como nas Unidades de Santa Catarina. Enquanto comunida-des educativas de Ensino Superior católicas, oferecem a seus membros a dinami-zação dos sacramentos, da liturgia e orientação espiritual, cultivando sobretudo na Eucaristia a Sabedoria que fundamenta nossa ação educativa.

4.3.7 LumEN

[253]. Os meios de comunicação social [MCS / mass media] estão diretamente relacio-nados ao desenvolvimento tecnológico. Tais tecnologias, caracterizadas pelos no-vos meios de comunicação, estabelecem profundas mudanças na cultura e nas relações humanas. Sobretudo hoje, torna-se quase impossível pensar a humani-dade sem eles. Além do rádio e da TV, a expansão e aperfeiçoamento da internet – na sua competência de fazer convergir todos os meios e linguagens da comu-nicação – consolida-se como ferramenta de grande relevância social, afetando de modo imensurável as gerações contemporâneas e futuras, especialmente as crianças e jovens – que são caras ao nosso carisma – e que crescem em estreito

251 - Por exemplo, cursos específicos de extensão para agentes de pastoral, lideranças juvenis, comunidades do entorno, dentre outros.

252 - Por “missões além-fronteiras” consideramos as iniciativas que ultrapassam as possíveis barreiras que podem ser constituídas nos âmbitos pessoal, cultural, geográfico, político e religioso.

4.3.6 ENSINO SuPERIOR

[246]. A Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, por sua identidade cris-tã, católica e marista, assim como o Instituto Católico de Santa Catarina, têm a missão de dedicar-se sem reservas, por meio da educação, à causa da verdade. Por isso, tornam-se espaços nos quais os conhecimentos são partilhados, confron-tados, sistematizados, constituídos em sabedoria, e colocados a serviço da vida. Como universidades católicas, primam pela formação de um ser humano integral e de uma sociedade justa, ética e solidária, tendo o Evangelho como referência.

[247]. Desta forma, ao lado do empenho pela excelência profissional-acadêmica, para a realização de sua missão, cabe às Instituições de Ensino Superior (IES) maristas priorizar alguns posicionamentos evangélico-pastorais:

Comunidade acadêmica em que o Evangelho e os valores institucionais são vitais

[248]. As IES maristas empenham-se permanentemente por constituir-se em comuni-dades nas quais o Evangelho e o carisma marista sejam traduzidos à linguagem e aos desafios acadêmicos. Estes elementos são vitais e orientam permanente-mente os seguintes âmbitos: nosso ideal de ser humano e de sociedade; nosso jeito de educar, de pesquisar, de aprender e de partilhar o conhecimento; nossos processos pedagógicos, de planejamento, de formação e avaliação; nossos posi-cionamentos políticos, opções estratégicas e sociais; nosso jeito de administrar, de conviver e de se relacionar com a pluralidade; nosso jeito de celebrar e de dar sentido à vida em suas diversas dimensões.

Dinamização da relação da fé com a cultura e os diversos saberes

[249]. A comunidade acadêmica centrará esforços para a promoção, articulação e dina-mização do diálogo entre Fé, Ciência e Cultura, considerando as diversas áreas de conhecimento. Com isso, ela oferece ao público acadêmico, à sociedade e à Igreja, de forma coerente e atualizada, reflexões devidamente fundamentadas sobre a convergência entre fé e razão, sobre os desafios relacionados à defesa da vida, sobretudo das infâncias e juventudes. Nesse processo, a “cátedra do professor” é o lugar por excelência da promoção do diálogo entre fé e ciência.

Espaço privilegiado para o desenvolvimento integral dos jovens

[250]. Em todo seu empenho educativo, as IES maristas consideram como sua riqueza maior os jovens universitários e valorizam o seu potencial de transformação da

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Produtos e serviços específicos para a evangelização

[256]. “O anúncio de Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conhecimento profundo das mesmas para se chegar à sua conveniente utilização”255. O LUMEN constitui-se como um “dom de Deus para a sociedade”256, na medida em que co-munga com o Instituto Marista da mesma missão e se faz reconhecido pela sua excelência técnica e estética. Da mesma maneira, com o intuito de potencializar as ações pastorais da Igreja e demais segmentos maristas, coloca sua expertise a ser-viço, no suporte e na elaboração de produtos específicos257 para a evangelização.

4.3.8 EDItORA FtD

[257]. A Editora FTD, no contexto do Instituto Marista, está inserida na missão de edu-car, em busca da formação de um ser humano pleno e de uma sociedade justa, ética e solidária. Por meio da excelência na criação, produção e distribuição de subsídios de qualidade, apoia o educador e seus processos educacionais.

[258]. Para que isso aconteça, algumas prioridades no âmbito da cultura organizacio-nal, a partir da identidade institucional, são estabelecidas:

Desenvolvimento integral do colaborador

[259]. Fazer com que o trabalho seja produtivo e o colaborador possa se realizar como pessoa, alinhado ao compromisso social, fortalecendo valores pessoais e desen-volvendo habilidades, competências e mecanismos de comunicação e relaciona-mento com as diversas áreas e unidades da instituição, com conhecimento da dinâmica e oportunidades do ambiente de negócios sempre atualizado.

[260]. Desenvolver a cultura da solidariedade, fazendo com que os benefícios conquis-tados pelos negócios sejam revertidos para a consecução da missão. Criar siner-gia com os setores, buscando desenvolver ações conjuntas que possam apoiar o desenvolvimento de ações sociais, de educação formal, saúde e comunicação.

255 - BENTO XVI. Caritas in veritate, n. 73.

256 - Cf. Mensagem do Papa Bento XVI para o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais: Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade. 24 maio 2009. Disponível em: <http://www.vatican.va>.

257 - Por serviços e produtos específicos entende-se: assessoria técnica em tecnologias da comunicação, edição de víde-os, documentários, spots de TV, spots de rádio e similares.

contato com o mundo digital, com a comunicação midiática e todo seu potencial educativo. A Igreja reconhece o potencial extraordinário dessas novas tecnolo-gias253. Diante dessas considerações, a ação pastoral no LUMEN leva em conta:

Ação educativo-pastoral ampliada

[254]. Os Meios de Comunicação Social maristas precisam ser reconhecidos como ins-trumentos que influenciam de maneira contundente a dimensão ético-cultural. Por isso, ao lado da qualificação técnica que caracteriza a expertise do LUMEN, a sua missão educativo-pastoral o desafia a ser espaço de conscientização, de de-senvolvimento do senso crítico, de sensibilidade planetária, de solidariedade, da cultura do diálogo e da amizade, do advocacy254, tendo em vista a aproximação da grande família humana. Bem usadas, estas tecnologias são um verdadeiro dom para a humanidade.

Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas

[255]. É insuficiente, sob o ponto de vista cristão, restringir os meios de comunicação à sua competência de interligar as pessoas, de informar, de entreter, de fazer circu-lar ideias, de vender produtos e serviços. A coerência ética do LUMEN confere--lhe o papel de promover o ethos da sociedade por meio da difusão dos valores cristãos e maristas, na busca do bem comum e daquilo que é justo. Nesse sentido, a tradução, a compreensão de nossa história e o acolhimento dos valores institu-cionais se efetivam na medida em que eles se encarnam em nossos produtos, no conteúdo veiculado, no nosso modo de empreender e passam a ser percebidos e reverenciados pelo público externo.

253 - Cf. BENTO XVI: “Dada a importância fundamental que [os meios de comunicação] têm na determinação de alterações no modo de ler e conhecer a realidade e a própria pessoa humana, torna-se necessária uma atenta reflexão sobre a sua in-fluência principalmente na dimensão ético-cultural da globalização e do desenvolvimento solidário dos povos. [...] devem ser buscados no fundamento antropológico. Isto quer dizer que os mesmos podem tornar-se ocasião de humanização, não só quando, graças ao desenvolvimento tecnológico, oferecem maiores possibilidades de comunicação e de informa-ção, mas também e sobretudo quando são organizados e orientados à luz de uma imagem da pessoa e do bem comum que traduza os seus valores universais. [...] é preciso que estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos, animados expressamente pela caridade e colocados ao serviço da verdade, do bem e da fraternidade natural e sobrenatural. [...] Os mass media podem constituir uma válida ajuda para fazer crescer a comunhão da família humana e o ethos das sociedades, quando se tornam instrumentos de promoção da participação universal na busca comum daquilo que é justo.” (BENTO XVI. Caritas in veritate, n. 73.

254 - Advocacy, em linhas gerais, equivale à expertise do Instituto em aturar na defesa de algum dos direitos humanos. Por exemplo: da parte do Instituto Marista, o interesse maior se dirige à promoção e defesa dos Direitos da Criança. O termo já aparece nessa mesma grafia – advocacy, sem tradução para o português – em alguns documentos e orientações institucionais.

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que harmoniza fé, cultura e vida”260. É lugar que deve propiciar um processo edu-cacional coerente com a visão que temos do ser humano na sua integralidade. Deste modo, como escola católica, cumpre-nos estabelecer um processo pedagó-gico-pastoral que seja coerente com a visão de ser humano que temos, onde as crianças, adolescentes, jovens e demais participantes da comunidade educativa sejam parte ativa do processo261, favorecendo assim a promoção de sujeitos ci-dadãos, capazes de serem fermento na comunidade humana, tendo em vista a construção do Reino de Deus”262. Isso será plenamente possível, na medida em que nossos colégios estabeleçam uma cultura organizacional participativa, que cause entre todos os envolvidos um sentimento de pertença e corresponsabilidade quanto à proposta pedagógico-pastoral, favorecendo uma ação educativa-evange-lizadora, coerente, planejada e organizada.

Desta forma, comprometidos com a realização da missão legada por Champag-nat, a Rede de Colégios Marista sinaliza as seguintes prioridades:

um processo educativo-pastoral que promova o conhecimento, a vida e os valores inerentes ao Evangelho

[265]. A partir de uma proposta pedagógico-pastoral que permite a articulação de con-teúdos educativos-pastorais, em projetos e ações elaborados e desenvolvidos de forma integrada e integradora, favorecendo o espírito crítico, a participação, a liberdade, a responsabilidade, a espiritualidade e a solidariedade dos envolvidos, somos convidados a ter um constante olhar sobre os movimentos da realidade es-colar, abrindo caminho para que a dimensão da fé apareça sempre articulada com os demais saberes de modo orgânico e não impositivo. Por isso, a comunidade educativa empenha-se para que a proposta pedagógico-pastoral seja assimilada como instância fundamental ao desenvolvimento integral do sujeito.

uma escola acolhedora e fraterna

[266]. No contexto pluralista de nossas escolas, apresentamos Jesus Cristo e a Igreja de maneira atualizada como itinerários capazes de orientar uma vida plena. Para tanto, sinalizamos a importância da acolhida, do diálogo ecumênico e inter-reli-gioso, que permita a valorização da identidade de cada sujeito, ajudando a comu-nidade educativa a conviver com respeito e paz, aproveitando as potencialidades

260 - Cf. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Missão educativa marista, n. 126.

261 - PMBCS. DERC. Projeto marista para o ofício de aluno, p. 146-153.

262 - Cf. PAULO VI. Gravissimum Educationis, n. 1517.

Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual

[261]. Como difusora do conhecimento junto à sociedade, por meio da criação, produ-ção e distribuição de subsídios didáticos de qualidade, a Editora FTD encara suas tecnologias como um verdadeiro dom para a humanidade, pelo qual presta servi-ço a todas as comunidades.

[262]. Os valores corporativos da FTD – conduta ética, credibilidade, integração, au-tonomia responsável, compromisso com a sustentabilidade, espiritualidade e inovação, fundamentados nos valores cristãos e maristas da justiça, sensibi-lidade comunitária, presença significativa, amor ao trabalho, espiritualidade e simplicidade – são traduzidos nas dimensões ética e estética com a finalidade de tornar presentes em suas publicações a opção pela vida em sua integralidade, o desenvolvimento da autonomia do sujeito, sobretudo das crianças e dos jovens, a promoção da solidariedade, da alteridade, da sensibilidade ecológica e da aproxi-mação da grande família humana.

Produtos e serviços específicos para a evangelização

[263]. A autêntica educação visa ao aprimoramento da pessoa humana em relação a seu fim último e ao bem das sociedades. Neste processo, a educação cristã tem muito a contribuir, beneficiando particularmente os jovens, que constituem a esperança da sociedade.258 Compreendendo a sua missão, a FTD constitui-se como um dom de Deus para a sociedade, na medida em que se faz reconhecida por sua excelên-cia técnica e, na sua abrangência, vai além dos limites das unidades maristas. Por isso, compromete-se também em elaborar produtos e prestar serviços específicos para a evangelização259, com a finalidade de potencializar as ações pastorais da PMBCS, do Instituto Marista e da Igreja.

4.3.9 REDE DE COLéGIOS

[264]. O documento Missão Educativa Marista, bem como outros documentos institu-cionais (Projeto Educativo do Brasil Marista), afirma de forma contundente que “um Colégio Marista é um centro de aprendizagem, de vida e de evangelização,

258 - Cf. PAULO VI. Gravissimum Educationis, ns. 1503 a 1505.

259 - Serviços de diagramação, desenvolvimento de arte e impressão de materiais didáticos – livros, cadernos, coleções, jogos interativos, etc. – com a finalidade de apoiar iniciativas pastorais nos seguintes âmbitos de atuação: catequese, pastorais de juventude, pastorais que atuam com crianças e adolescentes, pastoral da Educação, pastoral da Cultura e equivalentes.

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entre os participantes da comunidade educativa a fim de que todos possam ser considerados corresponsáveis no processo de evangelização.

[270]. Em particular, para aqueles que possuem interesse e possibilidade de aprofun-dar o carisma marista,264 é necessário assegurar o acesso à qualificação perma-nente, valorizando iniciativas e o empenho dos colaboradores que comunicam e vivem o carisma institucional com profissionalismo e coerência.

4.3.10 PAStORAL JuVENIL mARIStA – PJm

[271]. A Pastoral Juvenil Marista (PJM) tem por objetivo estabelecer um processo de formação integral que desenvolva os aspectos da espiritualidade, da eclesiali-dade, da autonomia, do aprofundamento no carisma marista, do protagonismo juvenil e da intervenção na sociedade. É uma proposta educativo-evangelizado-ra265 que almeja, por meio da escuta e participação dos jovens, capacitá-los para encontrar respostas autênticas aos anseios e necessidades fundamentais das juventudes e da evangelização. “Ao contemplar os horizontes da Pastoral Juve-nil Marista sonhamos com uma juventude solidária, protagonista, com valores evangélicos, comprometida com a cidadania e com o conhecimento científico, in-serida na realidade, portadora de esperança e transformadora da sociedade”266. A PJM é uma proposta que busca desenvolver:

O processo de amadurecimento na fé267 e o desenvolvimento humano

[272]. A fundamentação e a mística da PJM propõem um processo a ser percorrido em grupos. Os grupos de PJM nascem com a finalidade de ser lugar em que o jo-vem possa se expressar, entrar em contato com outros jovens, criar e recriar sua identidade e, dessa maneira, vivenciar experiências que proporcionam o ama-durecimento na fé e o crescimento enquanto pessoa, permitindo-lhes ampliar o sentido da vida. Todo o processo vivido contribui para que o jovem perceba sua importância na transformação do mundo e descubra sua vocação.

264 - Conforme a política de formação em identidade institucional, que está organizada em quatro níveis: integração, imersão, aprofundamento e adesão.

265 - INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS, 2003.

266 - UMBRASIL. Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista, n. 368.

267 - UMBRASIL. Caminho da educação e amadurecimento na fé; a mística da pastoral Juvenil Marista 2008.

desta diversidade no processo educativo-pastoral, onde a evangelização aproxi-me as pessoas em torno do mesmo Deus, e que nos ensina a ver na comunhão um profundo gesto de amor, que promove relações mais justas e fraternas. Uma es-cola que internamente fortifique os vínculos entre seus sujeitos com perspectiva de que tal atitude seja realizada e ampliada também externamente.

Formação das infâncias e juventudes tendo em vista o protagonismo eclesial e político

[267]. Reconhecemos que as crianças e jovens estão em processo de amadurecimento na fé e discernimento de seu papel social e político. Por isso, devemos cuidar para que as experiências promovidas sejam cada vez mais participativas desde sua concepção, fazendo com que a dimensão pessoal, comunitária e social encontre maior significado para eles. Assim, respeitamos os tempos do desenvolvimento das infâncias e juventudes, ajudando-lhes a formar um caráter ético e colaboran-do no discernimento de sua vocação.

Pastoral transversal, integrada e integradora diante dos processos da escola

[268]. A pastoral, entendida como “ação evangelizadora”, é mais que uma área da esco-la. Ela busca integrar-se transversalmente aos processos pedagógicos, adminis-trativos e de gestão, caracterizando uma “escola em pastoral”263, na qual todos se sentem corresponsáveis em evangelizar. A pastoral tem reflexos na tradução dos valores cristãos e institucionais para a comunidade educativa, tanto quando pro-põem, como quando partilha de processos articulados por outras áreas da escola.

Formação contínua e conjunta

[269]. A escola marista deve promover, indistintamente, formação para os sujeitos de sua comunidade educativa, de maneira orgânica e processual, conforme a rea-lidade em que está inserida. Deve zelar para que, de modo coerente, a formação favoreça o reconhecimento e aprimoramento da proposta pedagógico-pastoral

263 - O desafio pastoral da escola católica consiste em compreender-se na complexidade de seu conjunto: ela é um corpo com diferentes órgãos que, embora cada qual tenha diferentes funções, harmonizam-se em função dos mesmos objeti-vos. Assim deve ser a sua organicidade pastoral. “A Escola Católica existe para evangelizar. Como instância avançada da Igreja no campo da cultura, no mundo da educação, e sem em nada diminuir a sua função humanizadora [...] a escola cató-lica é a própria Igreja em estado de missão, sinal da presença de Deus no amadurecimento humano”. (PANINI, 1999a, n. 67, p. 21. Para mais referências, ver: PANINI; CUNHA, 1999, n. 65.; PANINI, 1999b,n. 69.) Ver também “Universidade em pastoral” em: Carta de Betânia: uma Universidade Católica em ‘pastoral’. In CNBB, 1988. p. 333-335.

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Referências Bibliográficas

O protagonismo juvenil

[273]. Em sua essência, a PJM promove a participação do jovem e do adulto como cor-responsáveis de um processo pastoral, com a cara do jovem, com a sua linguagem e jeito de ser. Para ser efetiva, a ação evangelizadora deve favorecer o protagonis-mo em diferentes âmbitos, dentre os quais enfatizamos: a) a participação eclesial: no envolvimento com a Igreja local, despertando o jovem para encontrar nela es-paços de referência da vivência comunitária da fé, partindo do pressuposto de que o projeto de Jesus é um projeto de fraternidade; b) a participação político-social: inserção em espaços nos quais o jovem tenha a possibilidade de vivenciar a cida-dania, sendo semente de transformação social, participando de espaços democrá-ticos de decisão, reconhecendo-se como sujeito de direitos.

A formação integral

[274]. A PJM é organizada de maneira a dialogar com a dinâmica do desenvolvimento dos adolescentes e jovens e com as dimensões da vida. Sua proposta dá suporte aos grupos para que seus participantes possam trilhar uma caminhada de vida baseada nas descobertas e nas relações consigo, com os outros, com Deus, com a sociedade e com a natureza.

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Província Marista Brasil Centro-Sul 113112 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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Índice Geral

Província Marista Brasil Centro-Sul 115114 Diretrizes da Ação Evangelizadora

Apresentação ...31 Introdução: Nossa História, Nossa Caminhada ...72 Conceitos Fundamentais ...19

2.1 Evangelização ...262.2 Pastoral ...29

2.2.1 Apostolado ...302.2.2 Planejamento ...322.2.3 Organicidade ...332.2.4 Flexibilidade metodológica ...342.2.5 Atenção aos sinais dos tempos ...362.2.6 Recursos ...38

2.3 Carisma ...39

3 Elementos Inculturadores ...433.1 Dignidade Humana ...483.2 Educação Emancipadora ...513.3 Espiritualidade ...543.4 Alteridade ...583.5 Solidariedade Socioambiental ...633.6 Catequese ...693.7 Infâncias e Juventudes ...743.8 Valores Maristas ...81

4 Direcionamentos Pastorais ...834.1 Objetivos de Animação Pastoral do Conselho Geral ...864.2 Direcionamentos Transversais ...874.3 Direcionamentos Pastorais Para As Frentes Apostólicas ...88

4.3.1 ÁREA CORPORATIVA ...89Área Corporativa alicerçada nos valores institucionais ...89Políticas e Processos organizacionais alinhados aos valores institucionais ...89Identidade marista como fonte de sinergia e qualificação da cultura organizacional ...90

4.3.2 NEGóCIOS SUPLEMENTARES ...90Processos organizacionais alinhados aos valores institucionais ...91Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual ...91

4.3.3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ...92Educação para a “cultura do trabalho” ...92Desenvolvimento integral do sujeito ...92Pastoral transversal, integrada aos processos da Educação Profissional ...93

Índice Geral

Page 60: Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade

4.3.4 UNIDADES SOCIAIS DA REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE ...96Processo educativo-evangelizador visando o protagonismo sociopolítico-eclesial ...97Promoção e defesa da vida na perspectiva do direito ...98

4.3.5 ÁREA DA SAúDE ... 98Valores institucionais assumidos transversalmente como fonte de vitalidade ...98Atendimento multiprofissional e humanizado ao paciente ...99Abordagem educativo-humanizadora (bioética e humanização) ...99Educação para prevenção e promoção à saúde ...99Eclesialidade ...99

4.3.6 ENSINO SUPERIOR ...100Comunidade acadêmica em que o Evangelho e os valores institucionais são vitais ...100Dinamização da relação da fé com a cultura e os diversos saberes ...100Espaço privilegiado para o desenvolvimento integral dos jovens ...100Extensão do conhecimento – além-fronteiras ...101Comunhão eclesial ...101

4.3.7 LUMEN ...101Ação educativo-pastoral ampliada ...102Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas ...102Produtos e serviços específicos para a evangelização ...103

4.3.8 EDITORA FTD ... 103Desenvolvimento integral do colaborador ...103Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual ...104Produtos e serviços específicos para a evangelização ...104

4.3.9 REDE DE COLÉGIOS ...104Um processo educativo-pastoral que promova o conhecimento, a vida e os valores inerentes ao Evangelho ...105Uma escola acolhedora e fraterna ...105Formação das infâncias e juventudes tendo em vista o protagonismo eclesial e político ...106Pastoral transversal, integrada e integradora diante dos processos da escola ..106Formação contínua e conjunta ...106

4.3.10 PASTORAL JUVENIL MARISTA – PJM ...107O processo de amadurecimento na fé e o desenvolvimento humano ...107O protagonismo juvenil ...108A formação integral ...108

Referências Bibliográficas ...109

116 Diretrizes da Ação Evangelizadora

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