direito & justiça 25/02/2016

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4 FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 [email protected] Pág. 7 Cônjuge traído poderá receber indenização por danos morais

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito & Justiça 25/02/2016

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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 [email protected]

Pág. 7

Cônjuge traído poderá receber indenização por danos morais

Page 2: Direito & Justiça 25/02/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 O ESTADO 2

T oda ação que é feita contra o Estado automaticamente, mes-mo que o ente governamental tenha o conhecimento que o direito é líquido e certo para a parte contrariada, ele recor-re; isto é cultural. Segundo o presidente da Associação dos

Magistrado do Ceará, “o Estado não cumpre a sua parte naquilo que lhe é devido, por isto abarrota de processos as secretárias dos fóruns. Ele é o maior cliente do Judiciário”. Em entrevista na página 03 o juiz Antônio Araújo afirma ainda que os juízes cearenses vão, a maioria, à exaustão para dar conta das atividades, acumulando o serviço de três comarcas, não ganhando gratificações pelo exercí-cio acumulativo de funções. Quanto ao aumento exorbitante das custas, ele acredita que os carentes não sofrerão nenhum prejuízo porque a Defensoria Pública atende plenamente suas demandas.

O Tribunal Regional do Trabalho do Ceará – 7ª Região, en-cerrou o ano de 2015 com o acumulado de mais de 10 mil novas ações. Em comparação à 2014, o aumento foi de 20% ou seja, fo-ram protocolados 51.227 processos e no ano passado, o total foi de 61.456. Explica o especialista em direito do trabalho e previ-denciário João Ítalo Pompeu, na página 05, que alguns aumen-tos nos custos fixos de empresas e a diminuição nas vendas pro-vocaram demissões ou não cumprimento de responsabilidades do empresário, acarretando o aumento de ida dos trabalhadores a justiça, reivindicando seus direitos trabalhistas, previdenciá-rios e de consumidor.

Pais brasileiros estão mais perto de uma conquista esperada por muitos, a ampliação da licença-maternidade de cinco, para 20 dias. A medida faz parte do Marco Legal da Primeira Infân-

cia, aprovado no Senado Federal no início do mês. Para ter va-lidade, precisa ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Inicialmente, a mudança não será obrigatória, sendo possível apenas aos empregados de empresas que aderirem ao Progra-ma Empresa Cidadã. Generalizar é algo errado, mas, cultural-mente, a maioria do homens brasileiro não costumam ajudar em nada nos primeiros dias de nascimento de seu filho. Muito pelo contrário: ficam no botequim enchendo a cara e perturbando o sossego da criança e da mãe ao chegar em casa ou aproveitam a licença para realizar outros tarefas fora de casa. Os bebês e as mães terão pouco benefício com esta licença. Mais detalhes so-bre o tema na página 05.

Você já pensou na possibilidade de uma traição descoberta no casamento gerar indenização por danos morais? Desde que se comprove o dano sofrido, já existe um projeto de lei para tornar isso possível. O projeto é de autoria do Pastor Franklin (PT do B-MG) que acrescenta, em parágrafo único, a responsabilidade civil por violação dos deveres conjugais em forma de lei no Có-digo Civil. A iniciativa está entre os projetos de lei mais curiosos apresentados na Câmara dos Deputados no ano passado. Pelo texto, significa dizer que a separação por traição implica a obri-gação de indenização.

Mesmo não tendo sido ainda aprovada pelo Congresso, não há também um entendimento pacificado sobre o assunto. Juízes já decidiram indenizar por danos morais pessoas que foram tra-ídas e comprovaram o desgaste e a vida insuportável pelo ocor-rido, página 07.

Traição acarretará indenização por danos morais

EDITORIAL

FGTS e crédito consignado –é melhor não misturar

O jogo é um assunto difícil, pois mesmo jo-gando com moderação e somente de vez em quando, é um desper-dício de dinheiro, mas não necessariamente algo ligado ao “mal”. As pessoas desperdi-çam dinheiro em todo o tipo de atividades. Jogar é desperdiçar di-nheiro tanto quanto ver um filme (em muitos casos), gastar em uma

refeição desnecessariamente cara ou comprar algo de que não precisamos. Ao mesmo tempo, o fato de se desperdiçar dinheiro em outras coisas não justifica que joguemos. Não deveríamos .

: Os cassinos usam todo o tipo de estratégia de marketing para atrair o jogador, para que arris-que todo o dinheiro que puder. Frequentemente, oferecem bebidas a preços baixos ou mesmo de graça, levando os frequentadores à embriaguez,

para que diminuam sua capacidade de tomar decisões sensatas. Tudo em um cassino é perfei-tamente engendrado para tomar o dinheiro em grandes quantidades, sem nada oferecer em tro-ca, exceto prazer vazio e fugaz. As loterias ten-tam passar a imagem de que ajudam a sustentar a educação e programas sociais. Entretanto, estu-dos mostram que os que jogam na loteria, geral-mente, são aqueles que menos têm dinheiro para gastar nos bilhetes. O apelo do “enriquecimento rápido” é uma tentação forte demais e aqueles que estão desesperados acabam não resistindo. As chances de levar o prêmio são infinitesimais, o que resulta em ruína para muitas vidas.

Os jogos de azar com habilidade são aqueles que exigem um certo conhecimento e técnica por parte dos jogadores. Nessa categoria, temos os jo-gos de cartas, como o poker e o truco.

Já os jogos de puro azar são os bingos, os da-dos, as loterias e as máquinas caça-níqueis, pois, nesses jogos, o fato de você ganhar ou perder não depende de uma habilidade específica. Em mui-tos casos, os jogos de azar são determinados pela probabilidade de resultados favoráveis ou desfa-

voráveis. O fator preocupante nessa história é que muitas pessoas não sabem o momento de parar de jogar e acabam perdendo tudo nas mesas de jogos ou em loterias praticamente impossíveis de se ganhar. Os primeiros jogos de azar que temos conhecimento na história foram os dados. Esses pequenos objetos foram encontrados em 1920 por Sir Leonard Wolley nos túmulos reais de uma civilização sumeriana.

Certos lideres políticos justificam os jogos de azar com a alegação de que muitas obras sociais são realizadas com o dinheiro arrecadado dos jo-gos. Entretanto, deve-se notar que os governos, ao promoverem as loterias, apelam para uma das qualidades humanas mais baixas: a ganância. Na verdade, estão contribuindo para a corrupção, e não para a melhora da vida humana. Não se pode ignorar que a maioria dos apostadores é compos-ta por pessoas pobres, que, na ânsia de ganhar, arriscam o leite e o pão de seus filhos. Com isso, prejudicam os que lhes são caros. Alem disso, a ganância que envolve a jogatina é uma das causas primaria de grande parte dos crimes e da violên-cia que estão associados com serias operações.

O debate sobre o uso do FGTS para garantir o crédito consignado, con-forme vem demons-trando a intenção o Governo Federal, esconde uma série de riscos. A ideia é que o trabalhador possa disponibilizar 10% do que tem deposi-tado no seu fundo,

somados aos 40% de multa por ter sido des-pedido, como garantia ao financiamento que está contratando.

A proposta, que parece ser um benefício para população, esconde alguns problemas, pois é mais uma ferramenta de obtenção de crédito e que pode minimizar os ganhos da população no futuro.

O que as pessoas não percebem é que o FGTS é uma garantia para o futuro. E por isso, na maioria das vezes, só pode ser usado em situações específicas. O FGTS funciona como uma poupança forçada para o trabalha-dor, então, não vejo com bons olhos o uso dos recursos para a amortização de dívidas.

Avalio que o trabalhador deve enxergar o fundo como um investimento em longo prazo e respeitar o mesmo. Deve ser encarado como uma reserva estratégica em caso de aposen-taria ou demissão. Embora o rendimento seja o menor do mercado, o FGTS é uma forma de forçar o trabalhador a ter uma poupança. As pessoas esquecem a sua finalidade. É uma poupança que ninguém pega ou penhora. O pensamento sobre o FGTS não deve ser o mesmo que outro investimento.

Assim, atrelá-lo ao crédito consignado é perder garantias, lembrando que a realização dessa obtenção do crédito não deve ser bana-lizada, como ocorre atualmente. Hoje, o nú-mero de colaboradores de empresas, aposen-tados e pensionistas que pedem empréstimos com desconto em folha de pagamento, cresce consideravelmente.

O resultado é que os brasileiros estão ba-tendo recordes de inadimplência, por isso, muito cuidado! É importante que as pessoas tenham consciência na hora de utilizar essa linha de crédito. Pensando nisso, preparei dez orientações que devem ser levadas em conta:

1. Antes de tomar qualquer crédito, é im-portante conhecer a sua real situação finan-ceira, ou seja, fazer um diagnóstico financei-ro, descobrindo para onde vai cada centavo do seu dinheiro durante o mês, registrando também as dívidas, caso existam;

2. É muito importante não permitir que esse empréstimo e que os problemas financei-ros ref litam em seu desempenho profissional, pois será muito mais complicado pagar as contas sem nenhum salário;

3. Antes de buscar pelo crédito consignado, é importante tomar consciência que o custo de vida deverá ser reduzido em até 35%, isto porque a prestação deste será retirada direta-mente de seu salário ou benefício de aposen-tadoria;

4. É muito comum a utilização do crédito consignado para quitação de cheque especial, cartão de crédito e financeiras. Isso é reco-mendável, porém, a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento;

5. A linha de crédito consignado, sem dú-vida, se bem utilizada, é importante, mas não pode fazer parte da rotina de um assalariado ou aposentado, visto que sua utilização deve ser pontual para um objetivo relevante;

6. Tem sido comum o empréstimo do nome a terceiros por parte de aposentados e até mes-mo funcionários, mas este procedimento é prejudicial a todos, por isso não deve ser feito;

7. Caso encontre taxas de juros mais bai-xas, a portabilidade também deste crédito é necessária. Para os funcionários, o caminho será falar com a área de Recursos Humanos; para os aposentados, as possibilidades são inúmeras. É preciso pesquisar;

8. Recomendo para quem quer tomar o cré-dito consignado que, antes mesmo de assinar o contrato com a instituição financeira, faça uma boa ref lexão e analise se esse valor, que será descontado diretamente no salário ou benefício, não fará falta para os compromis-sos essenciais mensais;

9. Para concluir, o mesmo pode, sem dúvi-da, ser um grande aliado e não há problema se usado como estratégia para sair de linhas de créditos com juros mais altos, para adqui-rir algo de grande importância ou ainda em uma emergência. Porém, se apenas utilizá-lo de forma não consciente, pode se tornar mais um grande vilão em sua vida.

EDITORA Solange Palhano REPÓRTER Anatália Batista GESTÃO COMERCIAL Glauber Luna DESIGNER GRÁFICO J. Júnior DESIGNER CAPA Vladimir Pezzole FOTOS Beth Dreher, Iratuã Freitas e Nayana Melo www.oestadoce.com.br

Jogo de azar

Atualidade no serviço públicoA prestação do

serviço público de maneira adequada significa atender ple-namente à satisfação dos usuários, ou seja, da sociedade. Além das características inerentes a qualquer atividade estatal, tais como a regularidade, continuidade, eficiên-cia, segurança, gene-ralidade e cortesia, a

execução do serviço público deve, ainda, ob-servar o requisito essencial da atualidade, que representa o encargo da administração pública em zelar pela modernidade das técnicas, equi-pamentos e instalações, bem como sua conser-vação, melhoria e ampliação. Concretizando esse propósito metodológico, foi publicada a Lei nº 13.243/16, dispondo sobre várias me-

didas de incentivo ao desenvolvimento cien-tífico, pesquisa, inovação, capacitação cientí-fica e tecnológica. A transformação na ordem jurídica ocorreu em resposta a veiculação da Emenda Constitucional nº 85/15, fortalecendo a presença governamental nesse importante segmento, renovando a necessidade de uma capacitação permanente do setor público. En-tre o conjunto de legislações alteradas, está a Lei nº 8.666/93, principal espécie normativa responsável pela regulamentação das licitações e contratos administrativos em nosso país.

A principal novidade ficou por conta da modificação do texto da 21ª modalidade de dispensa licitatória. Vejamos como ficou a nova redação: é dispensável a licitação para a aquisição ou contratação de produto para pes-quisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e serviços de engenharia, a 20 por cento do valor de que trata o art. 23, I, b da Lei nº 8.666/93. Pela leitura do dispositivo, é possível visualizar duas regras incluídas. Uma ampla,

para compras e serviços em geral, outra espe-cífica para obras e serviços de engenharia. Na primeira, o valor para a dispensa é ilimitado: sendo identificado aquele produto ou serviço como destinado à pesquisa e desenvolvimento, estará configurada a dispensa, independente-mente da quantia. Na segunda, o valor para a dispensa é limitado: sendo identificada aquela obra ou serviço como destinado à pesquisa e desenvolvimento, estará configurada a dis-pensa, limitado, porém, a quantia de R$ 300 mil. Assim, até o limite dessa cifra há contra-tação direta, sem necessidade de licitar, ultra-passando este dígito, há procedimento admi-nistrativo regular.

Andou bem o legislador, pois desburocra-tizou o rito nesse setor estratégico e dilatou a margem de atuação estatal no tocante ao incentivo à pesquisa, não ficando a dispensa mais restrita às aquisições com recursos con-cedidos por instituições credenciadas para esse fim específico.

Súmulas Eleitorais XIAo comentar a Sú-

mula nº 9 (TSE), foi afirmado ali se tratar de tema relacionado aos art. 14, § 3º e art. 15, da CF/88, inclusi-ve o enunciado dizen-do respeito à hipótese de suspensão de di-reitos políticos, tudo também relacionado ao art. 1º, inciso I, alí-nea “e”, da Lei Com-plementar nº 64/90.

Pois bem: a alínea “e” da lei das inele-

gibilidades (LC nº 64/90) dispõe que os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial cole-giado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes taxativamente previstos na alínea, estarão em condição de inelegibilidade. O dispositivo, então, prevê diversas hipóteses de crimes que atribuem ao político/cidadão a condição de “ficha suja”, destacando-se, entre

outros, os atos criminosos contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público, contra o meio ambien-te e a saúde pública, de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores e os crimes eleito-rais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade.

Especificamente para os crimes eleitorais, a lei prevê que, apenas nas hipóteses em que a norma comine pena privativa de liberdade é que se estará diante de inelegibilidade, des-tacando-se disposição do Código Penal, no art. 32, afirmativo de que as penas podem ser privativas de liberdade, restritivas de direito e multa. Com efeito, a primeira citada previ-são (as penas privativas de liberdade) diz res-peito às penas que têm como objetivo privar o condenado do seu direito de locomoção (ir e vir) recolhendo-o à prisão, estando as pri-vações subdivididas em detenção e reclusão, admitindo-se para o cumprimento da sanção de reclusão os regimes fechado, semiaberto ou aberto, ao passo que para a detenção, prevê-se o regime semiaberto ou aberto.

Assim, não existindo para a ocorrência do tipo penal eleitoral, na legislação eleitoral, seja

no Código Eleitoral, seja na legislação esparsa, a reprimenda de detenção ou de reclusão, es-pecificamente para o tema, não há que se falar em inelegibilidade. No entanto, registre-se para a situação no sentido de que a “substituição da pena de reclusão pela restritiva de direito e prestação de serviços à comunidade, por igual período, não afasta a inelegibilidade, estando o candidato ainda sob os efeitos da condena-ção” [TSE. Ac. de 7.10.2004 no AgRgREspe no 23.685, rel. Min. Luiz Carlos Madeira]

Mais: “O crime de injúria tem repercussão especial nas campanhas eleitorais”, de modo que “tal hipótese se enquadra na previsão do art. 1o, I, e, da LC no 64/90 e independe da de-claração de inelegibilidade constar da senten-ça” (TSE. Ac. de 24.8.2004 no REspe no 21.983, rel. Min. Luiz Carlos Madeira). E, ainda acerca do tema, “a propositura de revisão criminal não suspende a inelegibilidade”, nas hipóteses pre-vistas para o art. 1o, I, e e g, da LC no 64/90 (TSE. Ac. de 1o.10.2002 no AgRgREspe no 19.986, rel. Min. Luiz Carlos Madeira). Já a Sú-mula nº 10 trata da forma de contagem de prazo para recurso em registro de candidatura, sobre o que se falará em março do corrente ano.

ROSSANA BRASIL KOPF ADVOGADA

RODRIGO CAVALCANTESECRETÁRIO

DE CONTROLE INTERNO

NO TRE/CE

MARCO PRAXEDESANALISTA

JUDICIÁRIO

REINALDO DOMINGOS

MESTRE EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Page 3: Direito & Justiça 25/02/2016

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 3

JUIZ ANTÔNIO ARAÚJO

“O Estado é o maior cliente do Poder Judiciário, o que é inconcebível”

Em seu último ano como presidente da Associa-ção Cearense de Ma-gistrados (ACM), cargo

em que deixará de exercer em janeiro de 2017, o juiz o Antô-nio Alves de Araújo comemora uma conquista antiga: vencer a defasagem de magistrados no Ceará. Ao assumir a pre-sidência, em 2014, o Estado estava com uma carência de 107 juízes, agora, após a no-meação de 76 magistrados, ele afirma que o déficit ficará, no máximo, de 35 vagas. “Em matéria de juízes, o Estado do Ceará vai ficar relativamente confortável. Vai dar para ame-nizar bem”, garante.

Ao caderno Direito & Justi-ça, do jornal O Estado, o ma-gistrado afirma que a maior dif iculdade que enfrenta, atualmente, é na ordem orça-mentária. Para Araújo, apesar de expressivo, o aumento nas custas judiciais para ingresso de ações na Justiça do Es-tado do Ceará é necessário. Segundo ele, a defasagem orçamentária do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) é desde 2003, e não há outra saída.

O presidente da ACM, de-fende que as pessoas passem a acreditar nas audiências de mediações como forma de evitar o ingresso de novos processos e critica que o Esta-do é o maior responsável pelo o acúmulo de processos no Ju-diciário. Confira a entrevista.

Direito & Justiça: Dr. Antônio, quando o senhor assumiu, reclamou da pre-cariedade da estrutura fí-sica de alguns fóruns pelo Estado. Passado dois anos, a reclamação é a mesma ou algo melhorou? Qual sua perspectiva?

Antônio Araújo: Quando nós assumimos, havia uma carência muito grande de pes-soal, de juízes, de estrutura fí-sica e equipamento, de modo que tem se tornado difícil nos-so caminhar para atingir me-tas almejadas. Ano retrasado, um grupo de 30 magistrados assumiu e, agora, mais 76 se-rão empossados. Em matéria de juízes, o Estado do Ceará vai ficar relativamente confor-tável. Quanto aos servidores e as outras necessidades, essa situação se perdura. Estamos trabalhando, temos consegui-do alguma coisa, mas ainda com dificuldade.

Direito & Justiça: Mesmo com as nomeações de novos juízes que ocorreram agora, de quanto ainda é o déficit?

Antônio Araújo: Vamos ficar com um déficit de apro-ximadamente 30 unidades, 35, no máximo.

Direito & Justiça: Ainda continuará o acúmulo de mais de uma comarca?

Antônio Araújo: Tem juí-zes, no interior do Estado, que respondem por quatro ou cin-co comarcas. Isso é uma per-versidade. A demanda cresceu muito, nossos juízes traba-lham na exaustão. A maioria vai à exaustão para dar conta das atividades. A sociedade cearense deve, ao final, agra-decer penhoradamente pelo empenho desses juízes que, por mais de dois anos traba-lharam, muitas vezes, sem ter a remuneração para tal, porque, aqui no Ceará, os magistra-dos não ganham gratificação por exercício acumulativo de função, mas ainda assim exer-

cem essas atividades. Com a aquisição dos novos, esses que respondiam por mais de três comarcas, irão responder por duas, de qualquer maneira, já é muita coisa diante a situação em que se conviveu.

Direito & Justiça: O que o senhor poderia destacar de conquista nessa gestão?

Antônio Araújo: Em nos-so primeiro ano de gestão, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) estava sob a presidência do desembar-gador Brígido, nosso relacio-namento com o tribunal era muito difícil. Depois que a desembargadora Iracema do Vale assumiu, o clima mudou, passou a ser bom e cordial. Porém, as dificuldades que se impõem impedem que a gente, mesmo com esse correlaciona-mento, avance mais nas nossas conquistas.

Direito & Justiça: Quais as dificuldades?

Antônio Araújo: O Fórum de Fortaleza está com pre-cárias condições de trabalho tanto o prédio como pessoal e de equipamentos. Há várias comarcas do interior na mes-ma situação. Estava prevista a construção de fóruns em algu-mas cidades do Estado, tem até cronograma mas, por falta de recursos, até o momento nada foi feito. A população do Ceará cresceu e, junto com ela, as demandas, mas o orçamento

do tribunal está com uma base de 2003, ou seja, o percentual da receita do TJCE é a mesma de foi editada a primeira Lei de Diretriz Orçamentária. Estamos trabalhando com investimento zero, o que é pés-simo. Como podemos evoluir se não temos recursos?

Direito & Justiça: Os cea-renses iniciaram o ano com o aumento nas custas judiciais, o senhor como magistrado, o que acha desse aumento?

Antônio Araújo: As custas judiciais estavam bastante defasadas, há anos não havia um incremento nessa receita. Depois de muitas negociações com a OAB, a Defensoria Pú-blica e o Poder Executivo, foi aprovada uma mensagem de lei, em julho do ano passado, em que traz esse incremento realmente significativo para o custeio do Poder Judiciário, entretanto, a própria OAB está questionando, hoje, essa lei, achando que algumas taxas de emolumentos estão elevadas, mas a salvação para o Poder Judiciário é a manutenção dessas custas.

Direito & Justiça: Esse au-mento absurdo é realmente necessário?

Antônio Araújo: Esse au-mento é significativo e neces-sário.

Direito & Justiça: Mas não vai dificultar o acesso à Justi-

ça pela população?Antônio Araújo: Acredito

que não, pelo seguinte: temos que admitir que as pessoas que não têm condições de ingressar na Justiça utilizam a defensoria pública. Essa está funcionando plenamente, e se tem deficiência no interior do estado, em Fortaleza está mais ou menos suprida. Segundo, os percentuais em que houve aumento nas custas não foram nas bases, naquelas de meno-res valores.

Direito & Justiça: Então, irá refletir apenas para gran-des ações?

Antônio Araújo: Exata-mente. Nas grandes ações é que essas taxas, que antes eram cobradas por um único teto, passaram a ser escalonadas, e realmente tem valores, de certa forma, mais significativos.

Direito & Justiça: O siste-ma judiciário passou a adotar a audiência de custódia, que consiste na apresentação rá-pida do preso ao juiz . Qual sua opinião sobre esse tema, e avaliação, sobretudo, em relação à demanda e o quadro de juízes no Ceará?

Antônio Araújo: A audiên-cia de custódia é um instituto inovador no Brasil, e o Ceará foi um dos pioneiros em sua implementação. A primeira aqui implantada foi em agosto do ano passado. Estamos mar-chando para sua otimização.

Teve algumas dificuldades no início, até porque custódia cerca-se de vários outros atos. É necessário que haja coleta de dados das pessoas, tem a questão de transporte de presos, que não depende do Poder Judiciário, fica a cargo da Secretaria de Justiça e/ou da Secretaria de Segurança Pública. Essas deficiências, realmente, houve no início. Está havendo mutirão para que se coloque em dia, e a perspectiva é que a partir do dia 1º de março, as audiências em Fortaleza estejam funcio-nando plenamente. O prédio do Governo do Estado está sendo reformado, próximo à Delegacia de Capturas, onde a audiência de custódia deverá funcionar, para facilitar o tras-lado do preso. Essa logística vai se tornar muito mais fácil. Em relação ao interior, o tribunal formou uma comissão que tem tido todo o esforço em ver esse projeto funcionando plenamente, mas o que se sabe é que deve ser implantado de forma gradativa. Inicialmen-te, nas comarcas maiores. À medida que se tornar efetiva e eliminar todas as arestas, tiver funcionando plenamen-te, vai se avançando interior a fora. Na verdade, não temos estrutura para montar audi-ências de custódia de um dia para outro, e não podemos também exigir um sacrifício a mais dos que fazem a Jus-tiça – juízes, servidores, pro-motores e defensores. Acho que poucos estados do Brasil teriam condições.

Direito & Justiça: Muitos especialistas, estudiosos, re-clamam que existem pessoas que buscam o judiciário com o objetivo de obter vantagem financeira sobre alguma cau-sa. O senhor concorda? Há muitas ações desnecessárias?

Antônio Araújo: Costumo dizer que a Justiça é o último bastião em defesa da socie-dade. Você pode comparar uma vara ou um tribunal a um hospital, em que você pro-cura quando alguma doença está lhe afligindo. Da mesma maneira, você procura o fó-rum quando está com uma doença de natureza social, que é a mulher que vai atrás de pensão alimentícia quando foi abandonada pelo marido; é a mãe que vai atrás do filho porque praticou um assalto e foi preso; um homem que vai pedir providência para que se prenda o assassino de sua esposa, mas também é o local onde se pede providên-cia sobre uma telefônica ou uma empresa concessionária de serviço público que não atendeu aquela prestação. Como também é o local em que um grande comerciante vai exigir de alguém o cum-primento no contrato que foi firmado. Enfim, o Poder Judiciário é um local onde todas as pendências de ordem social são resolvidas. Agora, temos que ver também que no Brasil, existe a chamada cultura da judicialização, inclusive, há um trabalho hoje no sentido de que as pessoas passem a acreditar mais na mediação e, desta forma, não abarrotar tanto o judiciário. Outro grande cliente do Poder Judiciário é o próprio Estado, o que é inconcebível. Como é que o Poder Judiciário é do Estado e tem demandas e demandas do Estado? Por que isso ocorre? Porque, na verdade, a gente

sabe que o Estado não cumpre a sua parte naquilo que lhe é devido. Não cumpre sua parte no contrato celebrado. Esta é a razão também porque o judici-ário é abarrotado de processos, porém, é de se imaginar que essa cultura da judicialização seja substituída pela cultura da conciliação e mediação.

Direito & Justiça: Mas o senhor percebe que no Ceará está havendo mais esse estí-mulo de mediação?

Antônio Araújo: Já há um incentivo muito forte, o Poder Judiciário tem incen-tivado muito isso. Mas, se é uma questão cultural, não dá para mudar de um dia para o outro. Há esse esforço, e a gente vai começar a ver os resultados daqui a uns três a quatro anos. À medida que os resultados positivos forem sendo demonstrados é que novas situações vão parar de ocorrer. Se você é muito arraigado à cultura da judicia-lização, ainda não confia em resolver uma questão através da mediação. É preciso que as mentes mais ousadas para lá se dirijam com suas pen-dências, que os resultados sejam satisfatórios, para que vá abrindo caminho, e outras pessoas possam para lá correr. Já houve um grande começo, e a tendência é se aperfeiçoar.

Direito & Justiça: Dr. Araú-jo, queria que o senhor co-mentasse sobre a questão da adoção. A gente percebe que o processo, hoje, ainda é muito demorado. Por que essa demora? Quais os entraves?

Antônio Araújo: Esses entraves geralmente são cria-dos, não pelo Poder Judici-ário, mas no ordenamento jurídico. Essa questão legis-lativa, que não compete ao judiciário mudar. Como se trata de uma questão muito importante, até porque ado-ção tem a pessoa ali por trás, uma criança, uma infância, uma adolescência, então o juiz jamais vai, por con-ta própria, suprimir certos procedimentos legislativos. Muitas vezes, ele tem a inten-ção, o desejo, de que a coisa se torne mais rápida, mas é impelido ou dificultado pelo próprios trâmites da lei e não tem muito o que fazer. Mui-tos processos, não só relacio-nados a adoção, poderiam ter uma solução mais rápida e a formalidade impede.

Direito & Justiça: Confor-me a legislação, as crianças em abrigos, devem voltar à família antes de serem colo-cadas para adoção. O senhor concorda?

Antônio Araújo: A ordem natural é que a pessoa seja educada por seus familiares. Uma terceira família, o des-locamento de sua família para outra, é só quando fica prova-do que a família original não tem condições de cumprir aquela tarefa de dar educação.

Direito & Justiça: Depen-de do juiz em ter essa sensi-bilidade, principalmente se a criança vem de família cujos pais são usuários de drogas ou violentos?

Antônio Araújo: O juiz tem treinamento e discerni-mento para isso. Jamais vai permitir que uma criança seja criada por um casal completa-mente desajustado, porque aí ela não vai ser educada, diga-mos assim, e sim, deseducada.

FOTO BETH DREHER

Juiz Antônio Alves de Araújo comemora uma conquista antiga: vencer a defasagem de magistrados no Ceará

A gente sabe que o Estado não cumpre a sua parte naquilo que lhe é devido. Não cumpre sua parte no contrato celebrado. Esta é a razão também por que o Judiciário é abarrotado de processos, porém, é de se imaginar que essa cultura da judicialização seja substituída pela cultura da conciliação e mediação.

O aumento das custas não vai dificultar o acesso à Justiça. As pessoas que não tem condições de ingressar na Justiça utilizam a defensoria pública. Essa está funcionando plenamente, e se têm deficiência no interior do Estado, em Fortaleza está mais ou menos suprida.

A demanda cresceu muito, nossos juízes trabalham na exaustão. A maioria vai à exaustão para dar conta das atividades. A sociedade cearense deve, ao final, agradecer penhoradamente pelo empenho deles. No Ceará, os juízes não ganham gratificação por exercício acumulativo de função.

Page 4: Direito & Justiça 25/02/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 O ESTADO 4

Patrono da Academia Pau-lista de Letras, advogado, po-eta, jornalista e um dos mais famosos abolicionistas da história do Brasil, Luís Gama foi uma figura importante de nossa história no século XIX e dono de uma carreira brilhante e renomada. Entre-tanto, ele tinha tudo para não ser nada disso: negro, filho de mãe africana, ele foi escravo na infância. Já adulto, lutou para impedir que outros sofressem o mesmo que ele.

Em 1864, Luís Gama, jun-to ao caricaturista Ângelo Agostini, fundou aquele que seria considerado o primeiro jornal ilustrado humorístico de São Paulo. Ali começava sua carreira como poeta satí-rico, escrevendo sob os pseu-dônimos de Afro, Getulino e Barrabás. Suas sátiras, de

cunho progressis-ta, miravam a aristocracia e os pode-r o s o s d a época.

E n -q u a n -t o i s s o , Gama, um autodidata, dedicava-se ao estudo das leis. Ele havia tent ado e s t ud a r formalmente, no Curso de Direito do Largo do São Francisco (hoje em dia, a Fa-culdade de Direito da USP), porém, devido à cor de sua pele, ele enfrentou a hosti-lidade de seus colegas e dos próprios professores. Assim, Luís acabou não se formando, porém, isto não o impediu

Luís Gama (1830-1882)ADVOGADO, POETA E JORNALISTA

de que, na década se-guinte, ele atuas-

se como um dos mais ferrenhos

defensores do abolicionismo no Brasil.

E s t i m a --se que Luís Gama, graças

à sua atuação como advogado,

tenha libertado mais de 500 escra-

vos no Brasil. Para isto, ele tinha a seu favor uma ora-tória impecável e um imenso conhecimento jurídico. Sua luta ao lado dos escravos pela libertação dos mesmos lhe garantiram apelidos como o “amigo de todos” ou o “após-tolo negro da abolição”.

Luís Gama faleceu aos 52 anos, em 24 de agosto de

1882 – quase seis anos antes da Lei Áurea, que encerrou a escravidão no Brasil. Consta que o cortejo de cortejo que carregou seu corpo pelas ruas de São Paulo reuniu uma verdadeira multidão. Pessoas de todas as classes disputavam a chance de carregar seu esquife.

Mesmo sem ter visto a abolição da escravatura, Luís Gama ainda permaneceu como um dos maiores defen-sores dos direitos dos negros, dos pobres e dos escravos no Brasil. E, apesar de não ter completado o curso de Di-reito, sua atuação incansável a favor dos mais humildes inspirou e inspira jovens advogados até os dias de hoje.

Fonte: Blog Juris Correspondente

GRANDES NOMES DO DIREITO

A Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 133/2015, que torna imunes do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) os imóveis alugados a templos religiosos e utilizados para a realização de cultos. O autor da proposta, senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), explicou que o texto consti-tucional já prevê a imunidade tributária desses templos, mas se torna necessário explicitar que a medida vale também na

hipótese de a entidade religiosa não ser a proprietária do imó-vel onde exerce suas atividades. “Como se sabe, os contratos de locação costumam conter previsão de transferência da responsabilidade de pagamen-to do IPTU do locador para o locatário. Em razão disso, as entidades religiosas, embora imunes a impostos, acabam suportando o peso do referido imposto nos casos em que não têm a propriedade dos imó-veis”, esclareceu.

Fonte: Agência Senado

O Senado do estado de Mississippi, nos EUA, deverá aprovar, em breve, um projeto de lei que torna a violência doméstica um dos fundamen-tos para a vítima conseguir o divórcio na Justiça. O projeto, que foi aprovado pelo Comitê Judiciário do Senado estadu-al nesta semana, estabelece que basta um incidente de violência doméstica para dar o direito à vítima. Nos EUA, cada estado tem sua própria legislação para regulamen-tar o divórcio – e também o

casamento. Mas, em todos os estados, uma pessoa precisa declarar a razão do pedido de divórcio – e fundamentá-la – para poder mover a ação em um tribunal. Alguns estados requerem que marido e mu-lher tenham vivido separados por períodos que variam de seis meses a um ano, antes de protocolar o pedido de divór-cio na Justiça. Em outros esta-dos, a separação por qualquer período não é fundamento para a ação de divórcio.

Fonte: Conjur

Deputados e senadores lan-çaram, na última quinta-feira (18), a Frente Parlamentar Mista pelo Aperfeiçoamen-to da Justiça Brasileira. O objetivo, segundo o autor do pedido para registro da frente, deputado Valtenir Pereira (PMB-MT), é aperfeiçoar a legislação para que a Justiça possa funcionar de manei-ra mais eficiente. Pereira afirmou que os parlamentares vão trabalhar para acelerar a aprovação de matérias importantes para o Judiciário brasileiro. Segundo o pro-curador geral do Trabalho,

Ronaldo Fleury, o primeiro passo para melhorar a Justiça já foi dado pelo Congresso Nacional ao aprovar o novo Código de Processo Civil. Fleury defendeu a diminuição no número de recursos como forma de dar mais celeridade aos processos judiciais.

A Frente Parlamentar Mista pelo Aperfeiçoamento da Jus-tiça Brasileira deve se reunir periodicamente com repre-sentantes do Poder Judiciário para discutir o assunto. O pri-meiro encontro está marcado para o dia 2 de março.

Fonte: Agência Câmara

Está pronta para avaliação do Plenário do Conselho Nacional de Justiça proposta de resolução para regulamentar o teletraba-lho de servidores dos tribunais brasileiros. A ideia é exigir que existam critérios objetivos para selecionar quem poderá traba-lhar sem sair de casa — haverá prioridade para servidores com deficiência ou em “situações familiares especiais”, por exem-plo. O texto passou por consulta pública, recebendo cerca de 180 sugestões, e foi aprovado pela Comissão de Eficiência Ope-

racional e Gestão de Pessoas do CNJ. Caberá aos tribunais definirem metas de produti-vidade. “Recebemos sugestões para definir limites mínimos ou máximos de metas para os teletrabalhadores. Optamos por deixar que o tribunal defina se realmente deve estabelecer ou não uma meta de desempenho superior, por exemplo, para quem trabalha de casa em rela-ção a quem trabalha na unidade judiciária”, diz o conselheiro.

Fonte: Agência CNJ de Notícias

Não pode haver diferença salarial entre vendedores que trabalham em lojas de shopping centers ou outlets da mesma em-presa. Esse foi o entendimento firmado pela 1ª Turma do Tribu-nal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG) ao modificar de-cisão de primeira instância que indeferiu o pedido de comissões formulado por um vendedor que trabalha em outlet. Na petição inicial, o reclamante alegou que passou a ser vendedor em junho de 2013, recebendo R$ 785 mensais fixos, sem o incremento das comissões sobre vendas, apesar da previsão convencional. Acrescentou ainda que os vende-dores que trabalham em outras lojas da ré recebem salário fixo

mais comissão de 4% sobre as vendas. De acordo com as ponderações do magistrado, se o produto vendido nas lojas outlets tem preço inferior aos produtos novos, o valor das comissões também será menor, o que torna injusto que alguns vendedores recebam comissão pelas vendas, e outros não. Assim, como pontuou o relator, o que se dis-cute é o direito de o reclamante receber comissões, conforme condição de trabalho observada em relação aos vendedores que trabalham em lojas distintas, não cabendo qualquer discussão em relação ao fato de o produto ser originals, performance ou factory/outlet.

Fonte: TRT-3

Imóvel alugado para templo religioso poderá ficar isento de IPTU

Violência doméstica pode se tornarfundamento para divórcio nos EUA

Lançada Frente Parlamentar Mista peloAperfeiçoamento da Justiça Brasileira

CNJ votará regras para servidor do Judiciário trabalhar a distância

Diferença salarial entre vendedores de shopping e outlet é ilegal

Na hora de colocar o imóvel para lo-cação comercial, é importante ter co-

nhecimento de que, para determinadas atividades, o estabelecimento terá con-dições especiais quando for rescindir contrato. Quem explica é o advogado Sérgio Eduardo Martinez, especia-lista em Direito Imobiliário.

Conforme o advogado, a Lei do Inquilinato (8.245/91) estabelece determinados privilégios em locações de imóveis para funcionamento de escolas, hospitais, asilos, entidades religiosas ou uni-dades sanitárias oficiais.

A legislação prevê três ti-pos de contrato de locação: o residencial; o não residencial e o por temporada. Quando expirado o prazo contratual de 30 dias, o dono do imóvel pode solicitar a desocupação do mesmo. Porém, se o local

foi alugado para as entidades especiais citadas acima, não poderá ser rescindido da mesma forma. “Esse pedi-do [de devolver o prédio] é chamado, vulgarmente, de denúncia vazia, que é um desprovimento sem moti-vação. Nesse tipo de locação que estamos falando, essa de-núncia vazia não é permitida em razão do interesse público que deve prevalecer em decor-rência das atividades que são desenvolvidas nos imóveis lo-cados. Evidentemente, quando loca-se um imóvel para um hospital ou igreja, de ante, mão sabemos que os direitos não serão os mesmos de uma locação para uma empresa qualquer”, explica Sérgio.

Nestes casos, o contrato só poderá ser rescindindo se: por mútuo acordo; prática de infração; falta de pagamento; rea l ização de reparações urgentes determinadas pelo

poder público ou pedido do proprietário para demolição; ou reforma que resulte em um aumento mínimo de 50% da área útil do imóvel.

Atividades finsDe acordo com o advo-

gado, a lei é clara ao definir que as condições especiais só prevalecem se, realmente, os prédios funcionarem para a atividade fim. Se o espaço foi alugado para resolver somen-te atividades administrativas de um hospital, por exemplo, sem haver consultórios mé-dicos nem atendimento, os privilégios da locação não têm validade.

Decisão no STJPara exemplificar melhor,

o especialista cita recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que restringiu o alcance do dispositivo legal a setores administrativos de

estabelecimentos de saúde. A d isputa judicia l em

questão envolvia a locação de imóvel não residencial utilizado por hospital para a marcação de consultas e captação de clientes, não sendo essa a atividade fim desenvolvida pelo estabele-cimento de saúde, pois não se destinava ao atendimento aos pacientes, exames, inter-nações ou cirurgias. “Penso que agiu com absoluta justiça a decisão, pois não tem qual-quer sentido a preservação de determinado benefício de exceção para restringir o direito do locador e manter a locação de imóvel utiliza-do para fins administrati-vos e burocráticos”, explica Sérgio. Sendo assim, o que importa realmente para a lei ser aplicada não é apenas a qualificação do locatário, mas a própria utilização do imóvel locado.

Hospitais, igrejas e escolas têm condições especiais de contrato

ALUGUEL COMERCIAL

Sérgio Eduardo Martinez explica que condições diferenciadas têm o objetivo de preservar a atividade desenvolvida no local

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Page 5: Direito & Justiça 25/02/2016

OTribunal Regional do Trabalho do Ceará – 7ª Região, encerrou o ano de 2015 com o

acumulado de mais de 10 mil novas ações. Em 2014, foram protocolados 51.227 proces-sos, e no ano passado o total foi de 61.456. Para especialis-tas, o aumento da demanda de processos trabalhistas é reflexo do momento de ins-tabilidade financeira enfren-tado, atualmente, pelo País e segue a mesma tendência de outros tribunais brasileiros. Em São Paulo, por exemplo, o aumento chegou a 100%, de 204.908, em 2014. Somente no primeiro semestre de 2015, o TRT da 2ª Região protocolou cerca de 222.085 novas ações.

Na avaliação de João Ítalo Pompeu, especialista em di-reitos trabalhistas e previden-ciários, alguns fatores como o aumento do salário mínimo, alto preço da energia e de impostos foram responsáveis pelo impacto no estreitamento entre o lucro e o prejuízo das empresas, sobretudo, das pe-quenas, responsáveis por me-tade da obra formal do País. “O reflexo disso é lógico; de-missões ou não cumprimento com as responsabilidades do empregador, acarretando, obviamente, o aumento das demandas trabalhistas pelos trabalhadores, que, justifica-damente, buscam a Justiça como método para garantir seus direitos”, analisa.

O advogado percebe, con-

tudo, que o aumento de ações não tem sido somente refe-rente aos direitos trabalhistas. Ele cita crescimento também nas demandas de cunho pre-videnciário, assistencial e do consumidor. “Um dos grandes problemas é que muita gente, ao não ver expectativas de ga-nhos financeiros no mercado de trabalho, arriscam sua sor-te em aventuras judiciais, bus-cando ações sem cabimento, lotando o judiciário e criando falsas expectativas”, critica.

AcordosIndagado sobre a procura

de acordos para manter o emprego, em tempos de crise, o especialista explica que, pelo fato de a maioria das empresas serem de pequeno porte, é mui-to difícil ocorrer negociação. Ele destaca que a irredutibili-dade salarial, salvo em casos de convenção ou acordo coletivo,

é proibida perante a Constitui-ção Federal, e por não poderem reduzir o salário, o que resta para as empresas é a demissão de alguém e contratação de outro funcionário mais barato.

Ainda conforme João Ítalo, o aconselhável é estimular mediações entre empregadores e funcionários como forma de evitar o abarrotamento de processos na Justiça do Traba-lho. Ele pontua a medida como necessária e essencial. “Não há caixa nas empresas e redução de custos, a tendência é ou poster-gar processualmente ao máximo possível, ou, em grande parte dos casos apenas não ter como pagar os encargos ao final do processo, trazendo prejuízo para ambas as partes. É importante haver uma sensibilidade da empresa em fazer o máximo esforço possível para pagar os encargos trabalhistas de seus colabo-radores, e, dos trabalhadores

de sentir a situação financeira da empresa”, ressalta.

Abaixo, algumas dicas que podem evitar empre-gadores e ex-empregados à Justiça: • Estabelecer boa relação com sindicatos, conhecer e cumprir a legislação tra-balhista leva a empresa a encontrar boas saídas em caso de necessidade de demissões e contribuem para não abalar a relação com os colaboradores;• Promova os Diálogos de Segurança, visando sem-pre a atitudes seguras dos colaboradores e, com isso a preservação do ambien-te saudável, o que evitará acidentes; • Exija exames admis-sionais bem feitos, não deixando passar condi-ções que comprometam a saúde do funcionário para cada função. Os exames clínicos complementares e os monitoramentos de-vem ser feitos conforme os riscos aos quais os fun-cionários serão expostos; • Se necessário, contrate um profissional que ana-lise processos jurídicos. Esta ação visa preservar a empresa e garante que a documentação seja apresentada nas confor-midades da lei, em caso de demissões.

P ais brasileiros estão mais perto de uma conquista esperada por muitos, a amplia-

ção da licença-paternidade de cinco para 20 dias. A notícia gerou inúmeros compartilha-mentos nas redes sociais, mas ainda causa dúvidas. A medi-da faz parte do Marco Legal da Primeira Infância, aprovado no Senado Federal no início do mês. Para ter validade, precisa ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Inicialmente, a mudança não será obrigatória, sendo pos-sível apenas aos empregados de empresas que aderirem ao Programa Empresa Cidadã, o mesmo que estende a licença--maternidade para seis meses. O ponto forte é que o benefício contempla aos pais adotivos.

De acordo com o texto, o privilégio poderá ser solicitado até dois dias úteis após o parto desde que comprovada a par-ticipação do pai em programa ou atividade de orientação sobre paternidade responsá-vel. Assim como na licença--maternidade, os pais também terão direito ao salário integral. A medida, no entanto, deter-mina que durante o período de licença, os pais não podem exercer qualquer atividade re-munerada e a criança deve ser mantida sob os cuidados deles junto com a mãe.

AvançoA advogada Yara Sousa, que

atua na seara dos direitos de família, considera a aprovação da licença-paternidade um grande avanço para o Brasil. Segundo salienta, demonstra que o Estado está preocupado com o bem-estar social, além de privilegiar a família. “O

papel do pai, hoje, na família já não é mais aquele de mero provedor. Temos pais que participam ativamente da vida do filho, e essa convivência paterna na primeira infân-cia (zero a seis anos) é um grande fator positivo para o desenvolvimento da criança, assim a ampliação da licença--paternidade atende à função paterna na família, estimulan-do o exercício da paternidade responsável”, ressalta.

VantagensA licença prorrogada tam-

bém favorece as empresas. Ins-critas no programa, poderão deduzir dos impostos federais o total da remuneração do funcionário nos dias de prorro-gação da licença-paternidade. A advogada ressalva que o benefício só vale para empresas que têm tributação sobre lucro real. As empresas podem fazer o pedido de adesão no site da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

OpiniõesNas ruas, as opiniões são

divergentes. Para o motorista Marcelo Matos, pai de dois filhos, 20 dias ainda não é nada. “As crianças também precisam do pai em casa e a mulher precisa de ajuda den-tro de casa, para ir a um médi-co, enfim”, defende. Já Rafaela Ferreira, auxiliar adminis-trativa, mãe de uma menina de três anos, reclama: “não concordo se os pais ausentes forem permitidos a usufruir. Eu sei que tem pais que real-mente ajudam as mães, mas quem não é um pai presente vai ficar em casa reclamando, no lugar de ajudar, pode até atrapalhar”, critica.

Sobre o Marco O Marco Legal da Primeira

Infância é um conjunto de ações voltadas à promoção do desenvolvimento infantil, desde a concepção até os seis anos de idade. Incluindo todas as esferas da Federação com a participação da sociedade, o Projeto de Lei do Marco Legal da Primeira Infância prevê a criação de políticas, planos, programas e serviços

que visam garantir o desen-volvimento integral dos 20 milhões de crianças que estão neste período da vida.

• Atender ao interesse supe-rior da criança e à sua con-dição de sujeito de direitos e cidadã;• Incluir a participação da criança na definição das ações que lhe dizem respei-to, em conformidade com suas características etárias e de desenvolvimento;• Respeitar a individualidade e ritmos de desenvolvimen-to das crianças e valorizar a diversidade das infâncias brasileiras, assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e culturais;• Reduzir as desigualda-des no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança na Pri-meira Infância, priorizando o investimento público na pro-moção da justiça social, da equidade e da inclusão sem discriminação das crianças;• Articular as dimensões ética, humanista e políti-ca da criança cidadã com as evidências científicas e a prática profissional no atendimento da primeira infância;• Adotar uma abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio de suas organizações representati-vas, os profissionais, os pais e as crianças, no aprimo-ramento da qualidade das ações e na garantia da ofer-ta dos serviços;• Articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e integrado;• Descentralizar as ações en-tre os entes da Federação;• Promover a formação de uma cultura de proteção e promoção da criança, com o apoio dos meios de comuni-cação social.

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 5

Dez mil novas ações trabalhistas foram iniciadas em 2015 no Ceará

Mudança não será obrigatória e depende da adesão pela empresa

PROCESSOS

LICENÇA-PATERNIDADE

João Ítalo Pompeu - “muita gente, ao não ver expectativas de ganhos finan-ceiros no mercado de trabalho, arriscam sua sorte em aventuras judiciais”

Yara Sousa - “Temos pais que participam ativamente da vida do filho e essa convivência paterna na primeira infância é um grande fator positivo para o desenvolvimento da criança”

FOTO BETH DREHER

FOTO ARQUIVO PESSOAL

CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

Interiorização dos benefícios foi destaque durante Colégio de Presidentes da OAB/CE

Discutida majoração das custas processuaisem audiência do Conselho Seccional

Reflexo de comprometimento

O presidente, vice--presidente e o tesoureiro da Nova CAACE, Erinaldo Dantas, Waldir Xavier e Fernando Martins, respec-tivamente, participaram no dia 19 de fevereiro, em Sobral, do primeiro Colégio de Presidentes das Subse-ções da OAB/CE em 2016.

Em discurso, Erinaldo destacou que a interiori-zação dos benefícios da caixa está sendo o objetivo primordial da gestão. “So-mos um só grupo e essa é a diferenciação do nosso trabalho. Cada proposta salientada nesta reunião

é buscando valorizar efetivamente a advocacia cearense”.

No mesmo pensamento, o vice-presidente ressaltou os projetos e realizações para o próximo triênio. “Em breve, iniciaremos a construção da nova sede da caixa de assistência, que, com toda a certeza, proporcionará mais serviços aos associados e dependentes. Não por me-nos, estamos com grandes projetos para o interior do Estado, pois nossa missão está em fortalecer a advo-cacia cearense de maneira uniforme”, finalizou.

A diretoria da Nova CA-ACE participou, no dia 4 de fevereiro, de audiência extraordinária do Conse-lho Seccional da OAB-CE para discutir a majoração das custas processuais. De

forma unânime, a direto-ria entende que os valores precisam ser imediata-mente revistos sob pena de violação ao direito constitucional de acesso à Justiça.

A Nova CAACE não para de crescer e, em apenas 45 dias de gestão, já ultrapas-samos o número de 3.100 advogados e advogadas associados. A quantidade de adesões reflete o com-prometimento da diretoria em busca de fortalecer os serviços já existentes e conquistar ainda mais benefícios.

O tesoureiro da enti-dade, Fernando Martins, destaca a alegria em obter esse resultado em pouquís-simo tempo. “A advocacia cearense está confiando em nosso trabalho e, com toda a certeza, não iremos decepcionar. Já estamos completamente focados em realizar diversas ações e melhorias”.

Page 6: Direito & Justiça 25/02/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 O ESTADO 6

José Iná cio Linhares, Rafael Ponte sendo empossa-do e José Luís Lira

Mesa Diretora dos trabalhos

Presidente do TCE, Edilberto Pontes, outorga a Medalha Mé rito de Contas para Paulo Bonavides

Juarez Freitas em seu discurso

Leônidas Cristino, José Iná cio Linhares, Rafael Ponte e José Luis Lira

Prefeito Clodoveu Arruda, discursa

Marcelo Mota, Rafael Ponte, José Luis Lira e José Iná cio Linhares

Gladson Mota, Marcell Feitosa e José Luis Lira

Fernando Ximenes, Paulo Bonavides, Edilberto Pontes, Juarez Freitas e Paulo Bonavides

Mesa de Autoridades

Paulo Bonavides agradece a Medalha Mé rito de Contas

Eduardo de Souza Lemos, Soraya Victor e Câ ndido Albuquerque

Sessã o Solene

Rholden Botelho de Queiroz, Juvê ncio Viana e Marcelo Mota

Acadê micos da Aslejur presentes à solenidade Secretário geral Victor Vasconcelos faz a leitura do conteú do do diploma

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Medalha Mérito de Contas

Solenidade

Por proposição do conselheiro Edilberto Pontes, presidente do Tribunal de Contas do Estado – TCE, o jurista Paulo Bonavides recebeu a Medalha Mérito de Contas - TCE, mais alta comenda daquela corte. A saudação ao homenageado foi feita pelo vice-presidente da corte, conselheiro Rholden Queiroz.

O advogado Rafael Ponte foi empossado durante solenidade como presidente da subsecção da OAB-CE de Sobral. Durante o evento, o novo presidente também recebeu da Academia Sobralense de Letras Jurídicas o diploma de presidente de honra da entidade.

Manual do Controle Concentrado de Inconstitucionalidade por Omissão - Inovações Participativas

As omissões inconstitucionais revelam-se uma realidade complexa na atual sistemática de vários ordenamentos jurídicos. A previsão de atuação legislativa infraconstitucional na regulamentação

de preceitos constitucionais, alguns na categoria de direitos fundamentais, aliada à inércia do Poder Legislativo e à também previsão de atuação do Poder Judiciário constituem elementos su� ciente para gerar crises, críticas e discussões in� ndáveis.

AUTOR: ERIK KIRKEDITORA: JURUÁPREÇO: R$ 54,70PÁGINAS: 180

Autonomia para Morrer2ª Edição

A presente obra estuda minuciosamente os seguintes temas: em busca dos fundamentos da autonomia para morrer: moralidade e pessoalidade; pessoalidade,

dignidade humana e os direitos da personalidade; vida, sobrevida e morte: aspectos problemáticos de uma constante dialogicidade; liberdade e igualdade: da crise de titularidade dos direitos à superação da inacessibilidade dos seus objetos; o modo de encarar a morte na visão das grandes religiões do mundo; a autonomia para morrer no direito comparado e a busca pela efetivação normativa da autonomia para morrer.

AUTOR (ES): MARIA DE FÁTIMA FREIRE DE SÁ E DIOGO LUNA MOREIRAEDITORA: DEL REYPREÇO: R$ 68,00PÁGINAS: 218

DIV

ULG

ÃO

DIREITO E LITERATURA

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O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 7

Cônjuge traído poderá receber indenização por danos morais

Bancos são obrigados a ressarcir cheques e cartões fraudados

PUNIÇÃO

CONSUMIDOR

Você já pensou na pos-sibi l idade de uma traição descoberta no casamento gerar in-

denização por danos morais? Pois isso pode ser possível, desde que se comprove o dano sofrido. E existe até projeto para tornar lei.

Apesar de não ser comum nem de haver um entendi-mento pacificado sobre o as-sunto, o judiciário brasileiro já julgou algumas ações em que a pessoa traída, ao com-provar o desgaste e vida insu-portável pelo ocorrido, conse-guiu indenização por danos morais. Mas, a proposta do Pastor Franklin (PTdoB-MG) é acrescentar, em parágrafo único, a responsabilidade civil por violação dos deveres conjugais em forma de lei no Código Civil. A iniciativa está entre os projetos de lei mais curiosos apresentados na Câ-mara dos Deputados no ano passado. Pelo texto, significa dizer que a separação por traição implica a obrigação de indenização.

O pastor defende que o projeto, vulgarmente deno-minado “dor de corno”, visa concretizar o dever constitu-cional de proteção à família por parte do Estado. “Nos termos do caput, do artigo 226, da Constituição Federal, fortalecendo o casamento,

na qualidade de principal instituto jurídico eleito para a efetividade deste compromis-so constitucional, por meio da caracterização de uma nova espécie de responsabilidade civil, em particular, a decor-rente da violação dos deveres conjugais”, justifica.

Na justificativa do texto, o parlamentar fundamenta--se nas normas do artigo 1.566, do Código Civil, o qual elenca como obrigações aos cônjuges: a fidelidade re-cíproca; vida em comum no domicílio conjugal; mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos; e res-peito e consideração mútuos. Segundo ressalta, o objetivo de tornar a indenização uma obrigação seria de impor fun-ção pedagógica em respeito a esses deveres. “Este projeto de lei pretende incrementar o ferramental da tutela civil, no aspecto do delineamento normativo do casamento, através do reconhecimento de que a subversão a qualquer dos mencionados deveres presume, para fins jurídicos, a ocorrência de dano moral em prejuízo ao cônjuge oposto, titularizando-o no direito de obter a consequente indeni-zação, ainda que de índole marcadamente compensató-ria, ante a impossibilidade da reparação in natura do

evento danoso dos deveres conjugais”, afirma.

Lei desnecessáriaPara a especialista em di-

reito de família, a advogada Adriana Balbino, a criação de uma lei seria desnecessária e acredita que o dispositivo po-deria vir a ser utilizado como arma de vingança. Segundo ela, as ações já julgadas pela Justiça referente ao tema, encontram fundamento em base ao que diz o Código Civil e Constituição Federal, de que qualquer pessoa que ocasionar dano a outro, ainda que moral, tem o dever de indenizar.

Pelo fato de que o adultério deixou de ser considerado crime passível de detenção, pelo Código Penal Brasileiro, em 2005, a advogada defende que a traição por si, não ense-ja a obrigação de reparar, esta surge pelas consequências, quando o fato gera traumas, depressões e prejudica a vida familiar, social e profissional. “Vale ressaltar que o casa-mento é um comum acordo, voluntário entre duas pesso-as, que se caracteriza pelo res-peito mútuo, solidariedade, companheirismo, lealdade, fidelidade, estando os deveres dos cônjuges elencados no artigo 1.566 do Código Civil. Desta feita, o projeto de lei

requer a presunção do dano moral quanto à violação dos deveres dos cônjuges, impli-cando na obrigação de inde-nizar. Quanto à violação da fidelidade, cumpre expor que a presunção do dano moral acarretaria uma generaliza-ção e banalização do instituto indenizatório, haja vista que esse só deve ser arbitrado no caso de comprovação do dano de fato sofrido pela pessoa traída, e não em in re ipsa”.

Adriana frisa que a maioria das demandas indenizatórias são desfavoráveis, “sob a fun-damentação de que o simples fato de trair não é passível de indenização, sendo necessá-ria a comprovação do dano sofrido”, reitera.

CompensaçãoAo criticar a não necessi-

dade do projeto, a advogada entende que a reparação por traição é um dano ex-trapatrimonial que afeta a psique da pessoa, portanto, não há como mensurar o dano sofrido, a indenização funciona apenas como uma compensação.

Para ingressar com ação atualmente, é importante guardar provas como fotos, vídeos, mensagens, docu-mentos e ter testemunhas que comprovem o constrangi-mento e humilhação sofrida.

T er um cheque frau-dado ou um cartão de crédito clonado é motivo de muita an-

gústia e preocupação para o consumidor. Além do pre-juízo f inanceiro, resolver o problema requer tempo e pac iênc ia . S eg u ndo o Indicador Serasa Experian de Tentativas de Fraudes, o setor bancário foi o ter-ceiro do ranking que mais sofreu tentativas de fraudes em 2015, com o registro de 389.205 ocorrências, o que corresponde a 20% do total, que foi 1.944.200, entre ser-viços de telefonia e serviços em geral.

O avanço da tecnologia e modernização de máquinas de impressão é o que tem facilitado a ação dos cri-minosos que clonam folhas e ta lões de cheques para pagamentos no varejo. A fraude pode ser feita tanto a mão, com a alteração de algum dado da folha, ou por impressão a laser em nomes de usuários que podem ser reais ou não. Apesar de os órgãos de proteção ao con-sumidor atentarem, cons-tantemente, para a lguns cuidados no manuseio das formas de pagamento, se o consumidor foi vítima de fraude, no cheque ou car-tão, o banco é responsável.

De acordo com a ad-vogada Fabiana Oliveira, especialista em Direito do Consumidor, a responsabi-lidade é prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC). “O artigo que fala dos fornecedores, prevê que são responsáveis pelo risco da atividade, o banco e a administradora do cartão.

Quando oferecem o cartão ou cheque para o consu-midor precisam garantir toda segurança necessária. Uma vez a segurança sendo burlada, quem suporta são os bancos, as administra-doras ou o próprio comer-ciante, quando não confere os documentos do cartão”, afirmou.

ProcedimentosConforme a especialista

ressa lta, o consumidor é vulnerável diante o golpe. Na maioria das vezes, custa a tomar conhecimento de que foi v ít ima. Portanto, deve ficar isento de paga-mentos, quando não tiver rea l izado as compras ou ter o dinheiro devolvido. A averiguação deve ser reali-zada pelo banco, a dica é re-

alizar o registro de boletim de ocorrência a partir do momento em que ficar cien-te do problema. “O registro do boletim de ocorrência é a forma de dizer que houve a fraude, um crime a ser apurado, que envolveu o nome dele com o cartão ou cheque que estava usando. A pessoa noticia isso, in-forma à administradora e ao banco que não efetuou essa compra e quem tem o ônus de provar é o banco e administradora do cartão”, salienta.

Após o boletim de ocor-rência, o segundo passo é acionar o banco novamente sobre o não recon hec i-mento, para que seja res-guardado da cobrança. “O procedimento mais correto do banco é suspender a co-

brança, fazer a averiguação necessária da fraude para que o consumidor não seja compelido a pagar o que não usou”, explica Fabiana.

De acordo com as normas do Banco Central do Brasil, no ato de sustação, o cor-rentista deve apresentar a ocorrência policial que será devolvido por folha rouba-da e sustada (motivo 28) ou cheque roubado e sustado (motivo 29). “Conforme o caso, o banco estará proi-bido de fornecer qualquer informação ao portador. Nesse caso, o correntista fica liberado do pagamento das taxas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacio-nal e, no caso de ter sido incluído indevidamente no CCF, da tarifa pelo serviço de exclusão do seu nome

do cadastro. No entanto, o banco pode cobrar tarifa pela sustação do cheque, cujo valor deve constar da tabela de serviços prioritá-rios da instituição”, diz as normas do Banco Central.

Independente se o cliente possui seguro contra roubo, o banco deve oferecer um novo cartão e imediatamen-te cancelar o antigo. Tam-bém é aconselhável realizar a troca de conta corrente.

Sem soluçãoQuando o problema não

é resolvido administrati-vamente, o correntista tem duas opções: entrar com ação no Procon ou Decon, para tentativa de acordo, com previsão de multa às operadoras, ou ingressar no Poder Judiciário, para

pleitear a devolução de va-lores pagos indevidamente e solicitar indenização por danos morais.

Como forma de se precaver de futuros transtornos, mesmo a responsabilidade sendo do banco, o Instituto Brasileiro de Defesa do Con-sumidor (Idec) dá algumas dicas: Evite emitir o cheque para pessoas e estabeleci-mentos não conheci-dos; sempre cruze o cheque e preencha o nome do favorecido mesmo para valores baixos; não deixe espaços vazios, nem rasuras; preencha e guarde os controles de cheques; prefira estabelecimentos que pedem documento de identificação; hum mil é sempre melhor do que mil; desconfie de canetas oferecidas por estranhos; trans-porte apenas a quan-tia de folhas que vai usar; confira nome, número da conta cor-rente e CPF e a quan-tidade de cheques ao receber novo talão; destaque a folha de requisição e guarde separadamente; nun-ca deixe requisições ou cheques assinados no talão; e comuni-que imediatamente à agência bancária e faça um boletim de ocorrência, no caso de roubo ou extravio.

Para Adriana Balbino a criação de uma lei seria desnecessária e acredita que o dispositivo poderia vir a ser utilizado como arma de vingança

Fabiana Oliveira – “Quando oferecem o cartão ou cheque para o consumidor, tem de garantir toda a segurança necessária”

FOTO ARQUIVO PESSOAL

FOTO BETH DREHER

Page 8: Direito & Justiça 25/02/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 O ESTADO 8

Depois de 15 anos em tramitação, no Con-gresso Nacional, enfim, foi aprovada a Lei Bra-

sileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI). Com a nova legislação, que começou a vigorar no dia 2 de janeiro, os estabelecimentos de saúde, edu-cação, trabalho e infraestrutura são obrigados a efetivarem os direitos das pessoas com defici-ência, agora, ampliados. Além disso, estão previstas punições para atos discriminatórios.

A lei, antes chamada de Esta-tuto da Pessoa com Deficiência, foi sancionada em julho do ano passado. Alguns vetos foram cri-ticados por parlamentares. Entre eles, estava indicada a reserva de 10% das vagas para estudantes em seleção para cursos técnicos de nível médio e graduação e a adoção de desenho universal no Minha Casa, Minha Vida. Mesmo com os vetos, as de-mais medidas aprovadas estarão beneficiando o equivalente a 23,9% da população brasileira. Segundo o Censo 2010, do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de brasileiros declararam ter algum tipo de deficiência.

Após quase dois meses em vigor, a LBI ainda é comemo-rada. No Ceará, a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos de Pessoas com Deficiência, da OAB-CE, Liduína Carneiro, observa que as modificações refletem o reconhecimento da Declaração Universal dos Di-reitos Humanos pelo Brasil, ao afirmar que todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. “Isso vem nos ensinar que as pessoas com deficiência precisam ser consi-deradas como agentes e autores de suas vidas”, destaca a advo-gada. “A LBI prevê adequações

necessárias ao nosso ingresso num mundo melhor e mais rico. Uma consciência cidadã, o exer-cício da solidariedade em nossos diversos núcleos de vivência”, completa.

Educação • Proibição a escolas pri-vadas de cobrar a mais de alunos com deficiên-cia;• Oferta de profissionais de apoio escolar;• Obrigação de disci-plinas com conteúdos sobre deficiência em cursos superiores;• Escolas de idiomas, informática e outros cursos livres são obriga-dos a oferecer material acessível.

Previdência e assistência Social• Mudanças no critério de renda para receber o BPC;• Serviços e equipamen-tos do SUS e suas de-vem ter olhar integrador das políticas públicas.

Comunicação, cultura e lazer• Garantia de acessibi-lidade nos serviços de telefonia;• Poderão escolher lo-cais acessíveis em casas de shows e espetáculos, que devem acomodar também grupos comuni-tários e familiares dessas pessoas;• Salas de cinema terão de exibir semanalmente ao menos uma sessão em Libras, legenda closed caption e audiodescrição;• Hotéis deverão ofe-recer ao menos 10% de dormitórios acessíveis;• As editoras não pode-rão usar nenhum argu-mento para negar a ofer-ta de livro acessível.

Trabalho• Criação do direito ao auxílio-inclusão, benefício de renda complementar ao trabalhador com defi-ciência que ingressar no mercado de trabalho;• Estímulo à capacitação simultânea à inclusão no trabalho;

• Trabalhador com deficiência ou seu de-pendente poderá sacar o FGTS para comprar cadeira de rodas, órte-ses, próteses e materiais especiais.

Habitação• Reserva de 3% das uni-dades habitacionais;• Criação de moradias para vida independente; • Condomínios deverão oferecer um percentual mínimo de unidades intei-ramente acessíveis, a ser regulamentado por lei.

Direitos e ações de combate ao preconceito• Pessoas com defici-ência intelectual terão direito ao voto, ao casa-mento e a ter filhos;• Harmonização com o Código Penal de penas relacionadas ao precon-ceito, discriminação e abuso contra a pessoa com deficiência;• Garantia de acessibili-dade no acesso à Justiça para todos os envolvidos no processo;• Proibição a planos de saúde de cobrar a mais de pacientes com deficiência.

GarantiaLiduína Carneiro garan-tiu que é compromisso, nacionalmente, da OAB, atuar em defesa dos Direitos Humanos e da democracia, promovendo o cumprimento das leis e a igualdade social. Ela salientou que “a OAB se apresenta disposta a de-fesa de todos os segmen-tos sociais para garantia de mais cidadania e efeti-vação de direitos”.

Estabelecimentos sofrerão punições ao desrespeitarem direitos

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Liduína Carneiro garante que a OAB/CE estará disposta a defender e garantir a efetivação de todos os direitos

FOTO: DIVULGAÇÃO

OAB Ceará renova biblioteca digital

Lançado, oficialmente, o “Ano Clóvis Beviláqua”

OAB vai ao STF contra o aumento das custas judiciais no Ceará

Presidente participa de lançamento decomitês contra o caixa 2 de campanhas

A OAB Ceará renovou, com a Editora Fórum, mais dois anos de assinatura da Biblioteca Digital Fórum do Advogado. Composta por sete periódicos e os prin-cipais códigos, com acervo superior a 160 volumes publicados pela editora, a biblioteca disponibiliza ao advogado acesso ilimitado e simultâneo a todo o conteú-do. “É nosso objetivo ampliar

cada vez mais a gama de benefícios que a OAB ofe-rece ao advogado. Com essa renovação, continuaremos a trazer, de forma gratuita, uma biblioteca de qualidade, com os melhores acervos”, destaca o presidente Marcelo Mota. A parceria já existe há dois anos. A ideia é manter o advogado atualizado, in-vestindo na sua capacitação continuada.

A OAB Ceará lançou oficialmente o “Ano Clóvis Beviláqua”, uma homenagem ao jurista autor do projeto do primeiro Código Civil Brasileiro, em 1916. A sessão foi conduzida pelo presidente da Ordem cearense, advogado Marcelo Mota. A solenidade contou com a presença de con-selheiros estaduais, federais, advogados, advogadas e do desembargador aposentado Ademar Mendes Bezerra.

“É com muita alegria e prazer que tivemos uma sessão solene para declarar o Ano Clóvis Beviláqua, um cearense notável, homem multicultural que contribuiu em várias fren-tes para a sociedade”, disse o

presidente ao fazer referência à obra de Beviláqua, o Código Civil brasileiro, que ficou em vigor até 2002.

O presidente da OAB-CE disse ainda que Clóvis não era somente um jurista, mas um humanista, “um homem à frente do seu tempo”, destacou ao lembrar que o homenagea-do foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Durante a solenidade, o diretor da Escola Superior da Advo-cacia (ESA), Marcell Feitosa, anunciou a programação do ano dedicada a Clóvis Bevilá-qua. Ao longo dos meses, a ESA promoverá ações culturais, pa-lestras e eventos voltados para a vida e obra de Beviláqua.

O Conselho Federal da OAB protocolou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), no Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de limi-nar para suspender os efeitos da Lei nº 15.834/2015, que aumenta o valor das custas judiciais no Ceará. O relator é o ministro Teori Zavascki. “Em decisão soberana, o Con-

selho Seccional deliberou pelo ajuizamento da ação e agora a advocacia cearense aguarda a manifestação do ministro a respeito do pedido de liminar. O aumento implementado pela lei é exorbitante, despro-porcional e fere o princípio constitucional de Acesso à Justiça”, explicou o presidente da OAB Ceará, Marcelo Mota.

O Conselho Seccional da OAB Ceará aprovou, por unanimidade, a instalação permanente de comissões temáticas. A medida atende ao requerimento protocola-do pela vice-presidente da OAB-CE, Roberta Vasques. “Ao assumir a coordenação das comissões verifiquei que algumas comissões eram de caráter temporário, mas com uma importância vital para a OAB e para a sociedade”, disse a vice-presidente e coordenadora de comissões

da OAB-CE. As comissões criadas foram

a Comissão de Controle Social dos Gastos Públicos; Direito Bancário; Defesa dos Direitos dos Animais; Direito Maríti-mo, Portuário, Aeroportuário e Aduaneiro; Direito Mu-nicipal; Direito Processual; Especial de Direito e Infraes-trutura; Especial de Mediação, Conciliação e Arbitragem; Idoso; Mulher Advogada; Ma-trizes Energéticas, Mercado de Capitais e Commodities e Po-líticas Públicas sobre Drogas.

Ampliar as competên-cias da Justiça Militar da União pode ser um dos caminhos para

desafogar as varas federais e dar celeridade ao Judiciário brasileiro. É o que já vem sendo defendido, há algum tempo, pelo Superior Tribunal Militar (STM), ministros e especialistas, que estudam a possibilidade de julgamentos para além de ações penais cri-minais referentes aos militares.

Atualmente, cabe à Justiça Militar processar e julgar cri-mes militares definidos pelo Código Penal Militar, quando cometidos por militares das Forças Armadas ou por civis. Ao caderno Direito & Justiça, do jornal O Estado, o minis-tro do STM, Nicácio Silva, afirmou que outras ações judi-ciais relativas à administração militar e aos regulamentos disciplinares poderiam ser deslocadas para o ramo do judiciário especializado, que é a Justiça Militar, “dotada de maior compreensão do juízo quanto às peculiaridades da vida na caserna”.

Entre as ações, hoje julgadas nas varas federais, que pode-riam ser apreciadas na Justiça Militar, o ministro aponta: a forma de ingresso ou incorpo-rações para o serviço militar obrigatório; a matrícula nas escolas de formação; as nome-

ações às graduações e postos dos diversos Corpos, Quadros, Armas e Serviços; os pressupos-tos para cargos militares (idade, capacitação etc.); o regime estatuário (promoção, remune-ração, férias); e os regulamentos disciplinares (condutas não permitidas e penalidades). “Re-comendações nesse sentido vêm sendo elencadas em diversos fó-runs e grupos de trabalho, pelo reconhecimento da afinidade e especialidade da Justiça Militar com a temática e pelos evidentes benefícios que dessa iniciativa poderão decorrer para o Poder Judiciário e para a sociedade como um todo”, disse.

Justiça AvançadaDe acordo com o ministro

Nicácio, o relatório Justiça em

Números 2015 demonstra que a Justiça Militar tem obtido ele-vados índices de produtividade nos últimos anos, alcançando a conclusão de 2.800 processos relativos ao crime militar. O que, segundo avalia, apresenta aptidão para lidar com um número crescente de encargos.

O ministro do STM destacou ainda que a Justiça Militar no Brasil é uma das mais avança-das no mundo. “É estruturada como ramo especializado do Poder Judiciário, contemplada na Constituição Federal vigente e com alcance e rito processuais perfeitamente definidos em lei, organizada em forma de esca-binato e dotada de acusação e defesa independentes, atenden-do ao preconizado como ‘ga-rantias individuais’ nos tratados

internacionais que o nosso país escolheu ao seu ordenamento jurídico”, avaliou.

EstudosA possibilidade de am-

pliação das competências está sendo estudada através de um Grupo de Trabalho, instituído pelo Conselho Na-cional de Justiça (CNJ) em junho de 2015, composto por representantes CNJ, Justiça Militar da União, integrantes do Ministério Público Militar, da Justiça Militar Estadual e das Forças Armadas.

O ministro frisou que o tema segue em franco debate no âmbito do Grupo de Tra-balho, no entanto, adianta que essa nova competência conferiria maior tecnicidade ao julgamento, desafogaria as varas federais e respeitaria a tendência atual de especiali-zação das causas judiciais. “É possível evidenciar que o aco-lhimento dessa proposição ob-jetiva a inclusão no âmbito de competência da Justiça Militar das causas judiciais que afetem diretamente as funções pri-mordiais das Forças Armadas, uma vez que se caracterizam em ações específicas e de alta complexidade, nas quais de-vem ser analisados, inclusive, os reflexos das decisões na vida da caserna e nos princípios que a regem”, concluiu.

STM defende ampliação de competências para dar celeridade ao judiciário brasileiro

JUSTIÇA MILITAR

Nicácio Silva adianta que essa nova competência conferiria maior tecnicidade ao julgamento, desafogaria as varas federais e respeita-ria a tendência atual de especialização das causas judiciais

FOTO ASSESSORIA_STM